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Indaial – 2020 Controle SoCial, GeStão Do território e ViGilânCia SoCioaSSiStenCial Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Prof.ª Valquiria Viviani Rodrigues Backes Forster 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Prof.ª Valquiria Viviani Rodrigues Backes Forster Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: P618c Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann Controle social, gestão do território e vigilância socioassistencial. / Vera Lúcia Hoffmann Pieritz; Valquiria Viviani Rodrigues Backes Forster. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 193 p.; il. ISBN 978-65-5663-295-7 ISBN Digital 978-65-5663-290-2 1. Assistência social. - Brasil. 2. Controle social. – Brasil. I. Forster, Valquiria Viviani Rodrigues Backes. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 300 apreSentação “Pergunta-se frequentemente: qual é a real necessidade dos ex- cluídos? Aos pobres basta o alimento? Aos discriminados basta a lei? Às crianças basta o acesso à escola? É evidente que não. Essas medidas são fundamentais, mas não são suficientes. Os excluídos, como todos os homens, têm fome de dignidade”. (SAWAIA, 2003, p. 55) Caro acadêmico! Tudo bem com você? Esperamos que sim. Antes de iniciarmos os estudos da disciplina de Controle Social, Gestão do Território e Vigilância Socioassistencial, apresentaremos um breve currículo das profes- soras autoras deste livro de estudos. A professora Vera Lúcia Hoffmann Pieritz é doutora em gestão da saú- de pública, mestre em desenvolvimento regional, especialista em educação a dis- tância: gestão e tutoria; MBA profissional em gestão administrativa e marketing; direito empresarial e direito médico e hospitalar. Ela tem graduação em serviço social e em direito, possui experiência profissional em coordenação dos cursos de serviço social e das áreas do direito, além de docência no Ensino Superior e orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso. Assistente social do Artigo 170 – UNIEDU/UNIASSELVI. Foi a conselheira municipal dos direitos do idoso e dos direitos das crianças e dos adolescentes de Indaial (Santa Catarina), além de ser conselheira municipal da habitação do mesmo município. Ela é integrante do Nú- cleo de Educação Permanente das SUAS/SC. Advogada e consultora empresarial na área de gestão. Docente do curso de Introdução ao Exercício do Controle Social do SUAS (CapacitaSUAS), do Programa Nacional de Capacitação do SUAS do MDSA. Tem experiência na área de serviço social, estágio, consultoria e assessoria técnica de gestão, atuando principalmente nos seguintes temas: direito médico e hospitalar, economia solidária, redes, políticas públicas, gestão, autogestão, plane- jamento estratégico, organização empresarial, direito e serviço social. A professora Valquíria Viviani Rodrigues Backes Forster é especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes. Tem graduação em ser- viço social. Ela é assistente social da Secretaria Municipal de Assistência Social de Joinville e participante da Implantação do SUAS no município de Joinville (Santa Catarina). É conselheira do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) de Joinville. Coordenadora da área de vigilância socioassistencial de Joinville. Docente do curso de Introdução ao Exercício do Controle Social do SUAS e do curso de Vigilância Socioassistencial (CapacitaSUAS), do Progra- ma Nacional de Capacitação do SUAS do MDSA. Ela é professora tutora exter- na do curso de bacharelado de serviço social da UNIASSELVI e orientadora de Trabalho de Conclusão do Curso de bacharelado em serviço social. Iniciamos a disciplina de Controle Social, Gestão do Território e Vigilância Socioassistencial estudando, nesta Unidade 1, as questões relativas ao controle so- cial da política de assistência social, em que analisaremos a política de assistência so- cial, perpassando pela linha do tempo e marcos normativos, além de proporcionar a compreensão dos objetivos, princípio e diretrizes da política de assistência social. Também será discutido a questão dos movimentos sociais e a participação popular, como também verificaremos os marcos normativos do controle social da política de assistência social e o papel do controle social na política de assistência social. Na Unidade 2, estudaremos a gestão do território, verificando a fun- ção da gestão na política de assistência social. Estudaremos também sobre o conceito de território e o lugar do território na política de assistência social, para assim compreender a questão do cotidiano e lugar, sem esquecer de trabalhar as territorialidades, ou seja, os territórios em perspectiva. Na Unidade, 3 será discutido a questão da vigilância socioassistencial, sua função e área de atuação, também proporcionaremos uma discussão re- lativa ao papel da vigilância socioassistencial na política de assistência social. Além disso, não poderia faltar uma discussão a respeito dos concei- tos pertinentes à função de vigilância socioassistencial, tratando do risco e da vulnerabilidade. Será abordado, ainda, a questão dos indicadores sociais, das macro ativi- dades da vigilância socioassistencial, da organização, estruturação e padronização dos dados, do gerenciamento e consulta de sistemas informatizados, do monito- ramento e avaliação, do planejamento e organização de busca ativa e notificação de violências e violações de direito, estudaremos também a questão da elaboração de diagnósticos e estudos, do diagnóstico socioterritorial e do mapa falado. Prontos para começar a compreender o Controle Social, Gestão do Território e Vigilância Socioassistencial? Então vamos à luta, e bons estudos! Desejamos muito sucesso em sua vida profissional! Professora Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Professora Valquiria Viviani Rodrigues Backes Forster Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETESumário UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ............... 1 TÓPICO 1 — A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS ....................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 MARCOS NORMATIVOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NA LINHA DO TEMPO .............. 4 2.1 OBJETIVOS, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – PNAS .................................................................................................. 6 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 — MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR ................................ 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 MOVIMENTOS SOCIAIS ............................................................................................................... 27 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 — PRINCIPAIS MARCOS NORMATIVOS DO CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 44 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 47 TÓPICO 4 — O PAPEL DO CONTROLE SOCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ......................................................................................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 49 1.1 DESAFIOS DO CONTROLE SOCIAL ....................................................................................... 52 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 56 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 62 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 64 UNIDADE 2 — GESTÃO DO TERRITÓRIO ................................................................................. 67 TÓPICO 1 — A FUNÇÃO DA GESTÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ......... 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69 2 CONCEITO E INSTRUMENTOS DE GESTÃO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................................................................................................................ 69 2.1 PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ........................................................................................ 72 2.2 ORÇAMENTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................ 74 2.3 PLANO PLURIANUAL (PPA) .................................................................................................... 76 2.4 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO) ................................................................... 77 2.5 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA) .................................................................................... 78 2.6 FINANCIAMENTO DO SUAS ................................................................................................... 79 2.7 GESTÃO DA INFORMAÇÃO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ............................... 82 2.8 RELATÓRIO ANUAL DE GESTÃO........................................................................................... 86 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 2 — CONCEITO DE TERRITÓRIO ................................................................................. 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 CONCEITO DE TERRITÓRIO ....................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 100 TÓPICO 3 — O LUGAR DO TERRITÓRIO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ....................................................................................................................... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101 2 O COTIDIANO E O LUGAR......................................................................................................... 101 3 TERRITORIALIDADES: OS TERRITÓRIOS EM PERSPECTIVA ....................................... 103 4 TERRITORIALIZAÇÃO ................................................................................................................ 106 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 120 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 122 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 123 UNIDADE 3 — VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL – FUNÇÃO OU ÁREA .................. 125 TÓPICO 1 — O PAPEL DA VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL .................................................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127 2 MARCO NORMATIVO ................................................................................................................. 128 2.1 LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS ........................................................ 130 2.2 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – PNAS ............................................ 132 2.3 NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL– NOB/SUAS 2012 .......................................................................................................................... 135 3 ORGANIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL.............................................. 140 4 CONCEITOS PERTINENTES À FUNÇÃO DE VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL: RISCO E VULNERABILIDADE ................................................................................................... 143 4.1 VULNERABILIDADE SOCIAL ................................................................................................ 144 4.2 RISCO ........................................................................................................................................... 145 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 151 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 152 TÓPICO 2 — INDICADORES SOCIAIS ....................................................................................... 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 153 2 RECINHECENDO OS INDICADORES SOCIAIS ................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 162 TÓPICO 3 — AS MACROATIVIDADES DA VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL ....... 163 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 163 2 ORGANIZAÇÃO, ESTRUTURAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DOS DADOS ...................... 166 3 GERENCIAMENTO E CONSULTA DE SISTEMAS INFORMATIZADOS........................ 167 4 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ........................................................................................ 172 5 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE BUSCA ATIVA E NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES DE DIREITO ............................................................................. 175 6 ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICOS E ESTUDOS ............................................................... 175 6.1 DIAGNÓSTICO SOCIOTERRITORIAL ................................................................................. 176 6.2 MAPA FALADO ......................................................................................................................... 182 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 185 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 189 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 191 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 192 1 UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar os principais marcos normativos da Assistência Social brasileira; • constatar os objetivos, princípios e diretrizes da Política de Assis- tência Social; • refletir sobre a importância dos movimentos sociais e da partici- pação popular no Brasil; • reconhecer os principais marcos normativos e históricos e o papel do controle social na política de assistência social. 2 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR TÓPICO 3 – PRINCIPAIS MARCOS NORMATIVOS DO CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL TÓPICO 4 – O PAPEL DO CONTROLE SOCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — A UNIDADE 1 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS FIGURA 1 – PÚBLICO USUÁRIO DA POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FONTE: <https://bit.ly/32XFWpg>. Acesso em: 15 jun. 2020. 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, neste tópico, você terá a oportunidade de conhecer os principais momentos históricos e legislativos que permeiam a Política de Assistência Social no Brasil. Descreveremos um pouco dos movimentos populares tão impor- tantes para a organização e a aprovação da Assistência Social como política pública, ofertado pelo Estado em defesa e garantia de direitos dos cidadãos brasileiros. Nessa caminhada, você terá oportunidade de compreender como se organiza a estrutura da Política Pública de Assistência Social e seu papel na proteção social, bem como identificar como a vigilância socioassistencial interfere na formulação de novas estratégias de atendimento às expressões da questão social, a partir da análise quali- quantitativa. Se familiarizar com este tema é fundamental para você, acadêmico, pois, a Política de Assistência Social ainda é uma das maiores empregadoras dos profissionais de Serviço Social no nosso país, tanto na rede privada quanto na rede pública. Bons estudos! FIGURA 2 – CONTROLE SOCIAL FONTE: <https://bit.ly/2UFcNL9>. Acesso em: 15 jun. 2020. UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 4 2 MARCOS NORMATIVOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NA LINHA DO TEMPO Tendo seu ponto de partida nas ações caritativas, de benesse e assistencialismo, a Política de Assistência Social ganhou um lugar de destaque e discussão na década de 1980, quando a sociedade brasileira vivenciou um intenso momento de engajamento social da população, que se reunira reivindicando melhores condições sociais. FIGURA 3 – DIREITOS E POLÍTICAS SOCIAIS FONTE: https://bit.ly/3nBSFG4. Acesso em: 15 jun. 2020. Dessa luta, fortaleceram-se os movimentos sociais, que protagonizaram forte pressão popular que impulsionaram a discussão sobre direitos e políticas sociais, sendo estas incorporadas à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, também chamada de Carta Magna ou Constituição Cidadã, con- siderada a maior e mais abrangente legislação brasileira, reconhecida internacio- nalmente como uma das melhores e mais avanças legislações de um país. O marco normativo que apresentou a Assistência Social como política pública no Brasil, junto à Política de Saúde e a Previdência Social, formando o sistema brasileiro de seguridade social, foi a Constituição Federal de 1988 – CF/1988, que assim cita o Art. 194: “a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destina- das a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (EC no 20/98)” (BRASIL, 1988, p. 117). A Constituição Cidadã definiu em seu texto que o Poder Público ficaria responsável por regulamentar cada uma das áreas (Saúde, Previdência e Assis- tência Social) dispondo legislativamente como deveria ser sua organização, qual seu alcance e como as pessoas poderiam acessar seus direitos sociais. Discorreremos brevemente a seguir, sobre as três áreas que compõem o sistema de seguridade brasileiro, dando ênfase à Política de Assistência Social, nosso foco primordial durante todo este conteúdo. Com relação à Política Pública de Saúde, em seu Art. 196, a CF/1988 dis- põe: “a Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticasTÓPICO 1 — A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS 5 sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, p. 118). Dessa forma, a Carta Magna estabelece que todos brasileiros, independen- temente de sua classe social, local de moradia e condição socioeconômica, terão direito ao atendimento nas questões de saúde de forma gratuita, sob a responsabi- lidade precípua do Estado, ofertado por meio do Sistema Único de Saúde – SUS. No seu Art. 201, a Constituição Cidadã discorre sobre a Previdência Social, determinando que ela é uma Política Pública de caráter contributivo, devendo estar organizada em forma de regime geral. A Previdência Social deve fazer a cobertura aos contribuintes que estejam passando por situações de doenças, invalidez, morte, idade avançada, maternidade, entre outras previsões indicadas na legislação brasileira (BRA- SIL, 1988). Por fim, nossa Carta Magna, assim se profere sobre a Assistência Social: Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, p. 122). Como você observou até aqui, a Constituição Federal de 1988 apresentou uma série de direitos aos cidadãos os quais devem ser entregues à sociedade por meio de políticas públicas, sob a responsabilidade primeira do Estado, sem descartar a responsa- bilidade da sociedade, garantindo o atendimento às necessidades básicas dos cidadãos. Após a CF/1988, a Assistência Social passa a ser garantida em lei, tornan- do-se oficialmente uma política pública de direito, com caráter universal para quem dela precisar, sem a exigência de nenhuma contribuição. Após esse grande ganho garantidor de direitos, o segundo importante marco normativo da Assistência Social foi a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, denominada de Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. A LOAS regulamentou o texto da CF/1988 no que se refere à Assistência So- cial como um direito público de cidadania. A LOAS apontou, entre outras questões, os objetivos, princípios e diretrizes para a assistência social, os pilares organizativos e normativos da Assistência Social brasileira, os quais serão explorados mais adiante. UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 6 FIGURA 4 – LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL FONTE: <https://bit.ly/3nJ67rB>. Acesso em: 15 jun. 2020. Mais de dez anos depois da aprovação da LOAS, fora apresentado um novo marco normativo no país. Em 2004, o país conquistou a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que foi proposta pela Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) e pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). A PNAS é, também, o resultado das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em 2003, o que demonstra desde já a força dos movimentos sociais em busca de direitos. A PNAS é resultado da construção coletiva e participativa, de ações discu- tidas em eventos oficiais, como conferências, oficinas, seminários, rodas de con- versa, entre outros meios, pelos diversos Estados brasileiros, permitindo à po- pulação brasileira opinar e auxiliar nessa construção. Após intensas discussões, em setembro de 2004, o CNAS aprovou o texto que norteia e orienta as ações da Política de Assistência Social no país, o que festejado como uma grande conquista brasileira pelos atores sociais envolvidos nessa luta. Conheça a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) na íntegra e tenha a oportunidade de compreender como se dá a execução dessa política pública no nosso país. Acesse o link a seguir: https://bit.ly/38UCwaJ. DICAS 2.1 OBJETIVOS, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – PNAS Ao aprovar a PNAS, o Brasil passa a ter um norte para as ações de As- sistência Social em todo o território nacional, determinando o papel do Estado e afiançando a proteção social e a universalização dos direitos sociais aos cidadãos que estejam em situação de vulnerabilidade e/ou risco pessoal e/ou social. TÓPICO 1 — A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS 7 FIGURA 5 – USUÁRIOS DO SUAS FONTE: <https://bit.ly/3kLoWIU>. Acesso em: 15 jun. 2020. Sendo assim, é a PNAS que normatiza o proceder do Estado e da socie- dade civil na execução das ofertas socioassistenciais, isso equivale a dizer que é a PNAS quem baseia todas as demais normativas que foram aprovadas após o ano de 2004, por isso, para que você melhor compreenda os pontos principais da Po- lítica Social Pública de Assistência Social, detalharemos a seguir um pouco mais sobre o seu conteúdo. A PNAS tem como objetivos: • Prover serviços, programas, projetos e benefícios de prote- ção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem. • Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e gru- pos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços so- cioassistenciais básicos e especiais, em área rural e urbana. • Assegurar que as ações no âmbito da Assistência Social te- nham a centralidade na família, e que garantam a convivên- cia familiar e comunitária (MDS/CNAS, 2004, p. 33). Conforme observamos, a PNAS é bastante clara quanto ao provimento das ofertas socioassistenciais e prossegue reafirmando o que a LOAS já havia definido, apontando que a Assistência Social prestará proteção social a quem dela necessitar e estará organizada por meio de serviços, programas, projetos e benefícios, sendo que, cada uma dessas modalidades de serviço socioassistencial respeitará suas próprias características. A NOB/SUAS (BRASIL, 2005a, p. 90) define em breves linhas o que se espe- ra da proteção social ofertada pelo SUAS, apontando que a proteção social abran- ge um “conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para redução e prevenção do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo de vida, à dignidade humana e à família”. E, ainda, acrescenta que as ofertas socioassistenciais serão organizadas no SUAS por nível de proteção, sendo eles, a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial de Média ou de Alta Comple- xidade. Este conhecimento é importante para que você, acadêmico e futuro profis- sional da área do Serviço Social, consiga compreender o universo de discussões que são feitas sobre a Assistência Social, desde o seu planejamento, financiamento (ou sua execução), avaliação e monitoramento, os quais veremos mais adiante. UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 8 Passaremos agora a explorar um pouco sobre a organização do SUAS, que regula em todo território brasileiro a hierarquia, os vínculos e responsabilidades da Política de Assistência Social, respeitando a diversidade das regiões, de acordo com o porte dos Municípios e Estados, características culturais, políticas, sociais e econômicas (MDS, 2005). Segundo a LOAS (BRASIL, 1993), os serviços socioassistenciais se carac- terizam por terem caráter continuado intentando a melhoria de vida dos indivíduos e famílias, cujo contexto as coloquem em situação de demandatários da proteção da Assistência Social. Os serviços socioassistenciais estão definidos na Resolução CNAS nº 109/2009, chamada também de Tipificação Nacional de ServiçosSocioassistenciais, a qual organiza as ações a partir de sua complexidade, no entanto, é preciso ficar atento, pois a organização desta tão importante Política Pública pode ser melhorada, ampliada e novas ofertas socioassistenciais podem surgir no decorrer dos anos. Crus (et al., 2013, p. 106) colabora com o entendimento sobre serviços so- cioassistenciais, discorrendo: Serviços: reúnem um conjunto de atividades prestadas com intencio- nalidade e de forma continuada. Com oferta e metodologias de aten- dimento norteadas pela centralidade na família, são reconhecidos pela Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, que contempla a definição, objetivos, provisões, público, as situações atendidas e segu- ranças socioassistenciais a serem afiançadas por cada um dos serviços socioassistenciais para sua organização e oferta, os conceitos de vul- nerabilidade social e risco pessoal e social são basilares. Os serviços devem necessariamente ser conduzidos de forma planejada por pro- fissionais que atuem no SUAS com reconhecida competência para tal. Os autores deixam claro que a Tipificação Nacional dos Serviços Socioas- sistenciais é quem “dá o tom” sobre os serviços socioassistenciais, é ela quem dá as diretrizes detalhadas, pormenorizadas sobre as ofertas, e essas orientações de- vem ser seguidas por todos aqueles que se propõe a executar serviços socioassis- tenciais, tanto na execução governamental quanto na execução da sociedade civil. Caro acadêmico, convidamos você para conhecer a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais na íntegra, ela é o Norte para a execução dos serviços de Assis- tência Social, que pode ser encontrada no endereço a seguir: https://bit.ly/3lLqBiY. DICAS TÓPICO 1 — A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA – LINHA DO TEMPO E MARCOS NORMATIVOS 9 Já os programas socioassistenciais se diferenciam dos serviços pelo seu caráter e abrangência temporários e não continuados. Complementares aos servi- ços, devem ser analisados e definidos pelos Conselhos de Assistência Social res- peitando as características de acordo com as potencialidades existentes no territó- rio. Os mesmos autores colaboram com a descrição de programas assim expondo: Programas: norteados pelo princípio da intersetorialidade, articulam ações no SUAS e com outras políticas voltadas ao enfrentamento ou promoção de questões específicas, potencializando, dentre outros aspectos, as ações desen- volvidas pelos serviços e pelo âmbito da gestão (CRUS et al., 2013, p. 106). Nesse sentido, pode-se observar o caráter complementar e articulador que os Programas possuem, os quais tanto complementam os serviços socioassisten- ciais quanto articulam intersetorialmente com outras políticas afins. Também previstos nas normativas, há os projetos socioassistenciais, os quais tem uma caracterização bastante específica, pois, a modalidade foi desen- volvida como estratégia de enfrentamento a pobreza (vulnerabilidade econômica, ausência ou insuficiência de renda), por meio de investimentos técnico-financeiros nas iniciativas da população, objetivando a garantia de renda, a melhora no padrão de qualidade de vida e de subsistência. Possuem temporalidade e objetivos defini- dos e devem ser discutidos e analisados pelos Conselhos de Assistência Social. Ainda estão previstos para a Assistência Social os benefícios socioassistenciais, que se dividem em Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Benefícios Eventuais. Esses últimos carecem de legislação própria em cada município e estado, de acordo com as necessidades municipais e estaduais e se prestam a aliviar emergências, de- vendo ter caráter extraordinário. Os benefícios socioassistenciais se prestam a afiançar uma das principais seguranças previstas no SUAS, que é a segurança de sobrevivência ou rendimento e autonomia, que objetiva, resumidamente, através dos benefícios, o alcance de condições mínimas dignas de sobrevivência para os indivíduos. Visando colaborar com seu conhecimento sobre a proteção social que deve ser ofertada pela Política de Assistência Social, por meio do SUAS, passaremos a explorar como se dá a organização dessa política nos níveis de proteção que são: proteção social básica e proteção social especial de média e de alta complexidade. Na figura a seguir, podemos ter uma breve ideia de como se organiza a Política de Assistência Social na oferta de Proteção Social aos indivíduos que dela necessitam: UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 10 FIGURA 6 – NÍVEIS DE PROTEÇÃO SOCIAL DO SUAS FONTE: <https://bit.ly/3pIfM3C>. Acesso em: 15 jun. 2020. A Proteção Social Básica (PSB) tem como foco e objetivo principal reali- zar a prevenção de situações de risco à população que se encontra em situação de vulnerabilidade social, especialmente pela incidência ou por decorrência de pobreza, inexistência ou insuficiência de renda, inacesso ou acesso precário a po- líticas públicas, ausência ou fragilização de vínculos familiares ou comunitários. Deve ser ofertada nos territórios de moradia e/ou vivência dos usuários, de maneira articulada com as demais políticas públicas e com a Proteção Social Especial de Média e de Alta Complexidade, possibilitando que os indivíduos e famílias desenvolvam suas potencialidades, ampliem sua rede de proteção e es- tabeleçam relações e vínculos positivos, tanto com a família quanto com a comu- nidade e o território ondem vivem. A Proteção Social Básica pode ter execução direta (aquela que é ofertada pelo Estado em unidades públicas) ou indireta (que é executada pelas Organizações da Sociedade Civil – OSC’s). Já a Proteção Social Especial (PSE) de Média e de Alta Complexidade tem como destinatários dos seus atendimentos/acompanhamentos, segundo a PNAS: [...] famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pesso- al e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psí- quicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infan- til, entre outras (MDS, 2004, p. 37). A PSE é uma modalidade que requer mais atenção ao acompanhamento particularizado; tem estreita articulação e interface com o Sistema de Garantia de Direitos e, exige maior flexibilidade nas soluções protetivas. A PSE está sub- dividida em PSE de Média Complexidade e PSE de Alta Complexidade, ambas ofertando atenção especializada e sistemática. No que se refere às ofertas da PSE de Média Complexidade podemos dizer que, o esforço realizado na sua execução objetiva atender indivíduos e famílias 11 com direitos violados, com agravo, com vínculos familiares fragilizados, porém, ainda não rompidos. Já a PSE de Alta Complexidade está voltada aos usuários que necessitam de proteção integral, os quais se encontram sem vínculos familia- res ou cujos vínculos encontram-se temporária ou permanentemente rompidos. A seguir, você poderá conhecer uma pouco mais dos princípios, funções, diretrizes e objetivos da Assistência Social no Brasil. Em todos os níveis de proteção, a Assistência Social possui três funções precípuas, que são: a proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos e rege-se pelos seguintes princípios: I – upremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exi- gências de rentabilidade econômica. II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas. III – Respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu direi- to a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexa- tória de necessidade. IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais. V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo PoderPúbli- co e dos critérios para sua concessão (MDS, 2004, p. 32). Como pode-se observar, a PNAS apontou como princípio a exigência de equidade para todos os cidadãos que precisarem da Assistência Social, não de- vendo haver qualquer ação discriminatória por parte do Estado ou da sociedade. Os princípios esclarecem que essa é uma política de direito e deverá ser ofertada obrigatoriamente aos que dela precisarem, com qualidade, respeito, equidade, publicidade, fácil acesso, bem como propiciando a ampliação da auto- nomia e do acesso aos demais direitos. É imprescindível que o trabalho seja intersetorial, visando a integralida- de nos atendimentos aos usuários, para isso, deverá agir articuladamente com as diversas áreas que estão envolvidas no cotidiano dos cidadãos, como: saúde, habitação, lazer, cultura, segurança pública, trabalho, economia e tantas outras. Ao refletir sobre a organização da Política de Assistência Social, você deve lem- brar que ela provém de ações de benesse e de caridade, onde não havia profissiona- lização e as ações eram desprovidas de metodologia universalizada, também não se tinha a assistência como direito dos cidadãos e tampouco como dever do Estado; para superação dessas práticas a PNAS, com base na CF/1988 e na LOAS (BRASIL, 1993), constituiu parâmetros, objetivos, conceitos, princípios e diretrizes para a sua execução no país, com o intuito de fazer chegar aos cidadãos uma política pública de direito. 12 Para melhor compreensão sobre o que é o assistencialismo e quais as caracterís- ticas que o diferem da Política de Assistência Social, segue um quadro que apresenta, resumidamente, a essência de cada uma das duas vertentes. Lembre-se que o Assisten- te Social tem a Política de Assistência Social como área de intervenção, não devendo esse tornar-se assistencialistas no seu fazer profissional. Essa reflexão é pertinente neste momento, para que você, acadêmico, possa compreender as características da PNAS, que lhe são apresentadas nesta unidade, já com olhar crítico, necessário à profissão. QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS E DIFERENÇAS ENTRE A ASSISTÊNCIA SOCIAL E O ASSISTEN- CIALISMO Assistência Social Assistencialismo É uma Política Pública de direito dos cidadãos (que dela precisam) e dever do Estado. Refere-se à doação, troca de favores (que pode inclusive objetivar a manu- tenção de quem está no poder). É baseada em técnicas e cientificidade. Provoca dependência nos indivíduos de outrem. Objetiva o protagonismo, emancipação e a autonomia dos indivíduos e famílias. Tem cunho caritativo e de benesse. Oferta proteção social e defesa de direitos. É paliativo, ajuda pontual e momentânea. Está formalizada e regulamentada em leis. É informal e fragmentado. Tem natureza protetiva e preventiva. É ligado ao voluntariado. Possui ações projetadas para coletivi- dade, de forma territorializada. Ações projetadas para indivíduos. Promove protagonismo dos indivíduos. Prática de dominação. Seu resultado é a longo prazo. Ação baseada no imediatismo. FONTE: As autoras Como se pode ver no quadro apresentado, há diversas diferenças entre a Assistência Social e o Assistencialismo, cabendo aos profissionais do Serviço Social o discernimento, a reflexão e o cuidado para saber diferenciá-los e não cair nas ar- madilhas do assistencialismo, muitas vezes disfarçadas de assistência emergencial. Não obstante, não se pode deixar de refletir que, em alguns momentos, ações imediatistas são necessárias para o alívio pontual das necessidades urgentes dos indivíduos, no entanto, as ações emergenciais devem ser acompanhadas de ações socioeducativas, de proteção e de defesa de direitos, de cidadania e de incentivo a autonomia, diferenciando-se das ações assistencialistas, cujo objetivo não é emanci- patório, ao contrário, deixa ou leva os indivíduos ao lugar de sujeição ao poder. 13 FIGURA 7 – ASSISTÊNCIA SOCIAL X ASSISTENCIALISMO FONTE: <https://bit.ly/2UFiCrZ>. Acesso em: 15 jun. 2020. Tendo realizado esse recorte para refletir brevemente sobre as diferenças que existem entre assistência social e assistencialismo, retomamos agora para a apresentação da essência da Política de Assistência no Brasil, abordaremos, a se- guir, as diretrizes da PNAS, que definem, de maneira geral, como a Assistência Social será conduzida no território nacional. Apontaremos cada uma delas separadamente, de modo que você consiga apreender seu importante conteúdo. A primeira diretriz da PNAS é: Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respecti- vos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as ca- racterísticas socioterritoriais locais (MDS, 2004, p. 32). Essa diretriz aponta para a importância da organização do Estado em cada esfera de governo (Federal, Estadual, Distrito Federal e Municipal), as quais de- verão responder em Comando Único as ações de assistência social, ou seja, cada esfera deverá se responsabilizar por executar a Assistência Social de acordo com as normativas existentes, bem como criar mecanismos para atender às particulari- dades da população e do território sob sua responsabilidade. O Comando Único é um conceito muito importante e ele nos remete a saber que, todas as ações de As- sistência Social de cada esfera de governo, sejam elas de execução governamental ou não governamental deverão responder a esse Comando Único, que podem ser uma Secretaria, um Ministério, uma Diretoria, enfim, cada local definirá quem exerce o Comando Único de Assistência Social na sua jurisdição. Do Comando Único partirão as definições locais sobre a execução das ofertas socioassistenciais e a ele cabe também responder por todos os atos referentes à Assistência Social. A segunda diretriz apontada pela PNAS diz respeito à “participação da população, por meio das organizações representativas, na formulação das polí- 14 ticas e no controle das ações em todos os níveis” (MDS, 2004, p. 33). Essa dire- triz garante aos cidadãos participação ativa e efetiva em todos os momentos da assistência social, desde seu planejamento até a avaliação de sua execução, essa participação é denominada controle social. Essa é uma prerrogativa já apontada na Carta Magna e reforça a importân- cia de se incluir a população usuária das políticas públicas na formulação das ações, nas discussões sobre ampliação das ofertas e no planejamento dos investimentos para a área. Assim, é necessário que haja um esforço do Estado e da sociedade para que essa participação seja efetiva, ampliada e que os cidadãos compreendam essa diretriz como a possibilidade de atuação direta na formulação e avaliação das políticas públicas. É a oportunidade e o direito de interferência direta dos cidadãos usuários das políticas públicas e precisa ser defendido e difundido à sociedade pe- los profissionais de todas as áreas, em especial, do Serviço Social. Mais adiante você terá oportunidade de conhecer mais sobre o controle social na assistência social. ESTUDOS FU TUROS A terceira diretriz assevera a “Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo” (MDS, 2004, p. 33). Essa responsabilidade refere-se à condução, gerenciamento e planejamento do financiamento e da execução da Política de Assistência Social, ou seja, é do Esta- do (Governo) a função de garantir que a Assistência Social seja universal e que seus serviços sejam disponibilizados a quem esteja em situação de risco social. Dessa forma, ainda que as ações da Assistência Social possam ser execu- tadas de forma direta (pelo Estado) ou indireta (pelas OSC’s), é do Estado a res- ponsabilidade pelo conjunto das ofertas socioassistenciais, devendo partir dele o planejamento, a execução e a avaliação e o financiamento principal, respeitando- -see garantindo a participação popular. A quarta diretriz apontada pela PNAS (MDS, 2004, p. 33) diz respeito a “centrali- dade na família para a concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos”. Essa diretriz indica que todas as ações socioassistenciais devam ser focadas na família, que é considerada pela Política de Assistência Social como o “lócus” precípuo de possibilidade de proteção para os indivíduos que fazem parte desse núcleo. Diante dessa diretriz, é necessário refletir também sobre o conceito de família usado por esta importante Política Social Pública, pois, a família é uma instituição que vem passando por longas e diversas transformações ao longo do 15 tempo, e, essas transformações precisam ser consideradas no planejamento das ofertas socioassistenciais. Corrobora com esse pensamento a PNAS (MDS/CNAS, 2004, p. 41) que assim refere sobre as famílias brasileiras: [...] faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de prote- ção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta percep- ção é condizente com a tradução da família na condição de sujeito de direitos [...] A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o priva- do, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço con- traditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por confli- tos, e, geralmente, também, por desigualdades, além de que nas socie- dades capitalistas a família é fundamental no âmbito da proteção social. A citação anterior esclarece de forma magistral a importância que tem a família para as ações socioassistenciais, colocando-a num lugar de destaque e de demandatária da proteção do Estado sempre que ela própria não conseguir prover os cuidados necessários para os seus. Ainda para colaborar com nossa reflexão, apresento o conceito de família trazido pela PNAS (MDS/CNAS, 2004, p. 41, grifo nosso) que nos traz que, “[...] podemos dizer que estamos diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por lações consanguíneos, afetivos, e, ou de solidariedade”. Diante desse conceito, que deve- rá ser levado em conta sempre e em todas as ofertas de Assistência Social, devemos praticar uma reflexão ética e cuidadosa ao lidar com os diversos arranjos familiares que encontramos no cotidiano dos trabalhos realizados na Assistência Social. A centralidade na família proposta pela PNAS incentiva o trabalho realizado objetivando o empoderamento e a construção da autonomia dos grupos familiares, e, para isso, propõe que todo o esforço realizado pelos trabalhadores seja na direção de valorizar as potencialidades das famílias e investir na minimização das situações de risco e vulnerabilidades que se lhes apresentam. A Política de Assistência Social é uma política social pública, garantida em lei, com normativas próprias e organizada através do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Destinada para famílias e indivíduos que estejam em situação de risco pessoal e social e ou vulnerabilidade social, de acesso universal, não contributiva e que prevê a participação popular em todos os seus processos, no planejamento, execução, avalia- ção, monitoramento, construção das normativas, realizando o controle social. 16 FIGURA 8 – PARTICULARIDADES DO SUAS FONTE: <https://bit.ly/3lZ9GJK>. Acesso em: 15 jun. 2020. Caro aluno, durante a leitura realizada até aqui, você pode estar se per- guntando: existe diferença entre a Política de Assistência Social – PNAS e o Siste- ma Único de Assistência Social – SUAS? e mais: como surgiu e qual a importância do SUAS? Para auxiliar a sua compreensão, descreveremos a seguir como se deu o surgimento do SUAS, seus objetivos e seus princípios. Ao estudar sobre o tema é importante que você compreenda que não há diferenças entre a PNAS e o SUAS. De modo resumido, pode-se dizer que o SUAS foi constituído para organizar a execução de tudo o que foi anteriormen- te definido, ainda que, com necessidade de detalhamento, pela PNAS. O SUAS complementa algumas lacunas e define a operacionalização da Assistência Social em todo o país, oportunizando um fazer unificado em todo o território nacional, reservadas, é claro as particularidades regionais. O SUAS foi criado por meio da Resolução nº 130/2005 do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS BRASIL, 2005b), que aprovou a Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB/SUAS/2005. Esse Sistema é resultado de pouco mais de uma década de discussões na área da assistência social, da qual participaram e contribuíram os estados brasileiros, por meio das instituições, grupos e indivíduos interessados em construir um Sistema que unificasse a assistência social no solo bra- sileiro. Sua criação oportunizou a operacionalização das ofertas socioassistenciais de modo técnico, com objetivos, diretrizes, bases conceituais seguras e definidas. De 2005 a 2012, a Resolução CNAS nº 130/2005 (BRASIL, 2005b) definiu como se daria o SUAS no nosso país. No entanto, pela própria dinâmica da sociedade e pelas diversas necessidades de adequação e avanços, no dia 12 de dezembro de 2012, o CNAS aprovou a nova Norma Operacional Básica – NOB/SUAS, que revogou a NOB/SUAS an- terior e disciplinou a Assistência Social brasileira de maneira mais ampla. Conforme in- formam Tapajós, Colin e Campello (2012, p. 11-12) na apresentação da NOB/SUAS 2012: A nova norma foi elaborada a partir de um processo assentado em am- plo debate, iniciado em maio de 2010, em reunião realizada em Brasília, com a CIT e as Comissões Intergestores Bipartites (CIB), cujas contri- buições foram incorporadas à minuta preliminar, disponibilizada para 17 Consulta Pública. Além da Consulta, enriqueceram também a elabora- ção do documento as reuniões realizadas, em 2010, nos 26 Estados e Dis- trito Federal pelos Conselhos Estaduais, Municipais e do Distrito Fede- ral, CIBs, gestores e trabalhadores do SUAS. A participação de gestores, técnicos, conselheiros, acadêmicos e especialistas na área permitiu enri- quecer o texto inicial e concluir um processo marcado pelos princípios da democracia, da participação social e da transparência pública. [...] A NOB SUAS 2012 reafirma a política de assistência social como política de Seguridade Social, afiançadora de direitos, tal como consagrado pela Constituição Federal de 1988 e representa, sem dúvida, uma conquista do Estado, gestores, conselhos, trabalhadores, especialistas, e também da população brasileira, em especial, daquela atendida pelo SUAS. A citação anterior, retirada da apresentação da NOB/SUAS (2012), de- monstra que a necessidade de aprimoramento das normativas do SUAS foram discutidas coletivamente e apoiadas pelos Estados e Municípios, e foi uma gran- de conquista para os envolvidos com essa Política Social Pública, sejam usuários, gestores, trabalhadores, estudiosos e pesquisadores da área. Em seu contexto ge- ral, “a nova” NOB/SUAS imprimiu mecanismos de avaliação e controle e uma nova organização para o SUAS, adequando seu texto ao novo momento social vivido, e, incluindo novas estratégias de ação, financiamento e gestão. A seguir, apresentaremos a você a essência do SUAS, seus objetivos, princí- pios e diretrizes, assim como as seguranças por ele afiançadas e que devem chegar até os cidadãos que precisarem da Assistência Social. O SUAS tem como objetivos: I – consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a coo- peração técnica entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva e garantem os direitos dos usuários; II – estabelecer as responsabilidadesda União, dos Estados, do Dis- trito Federal e dos Municípios na organização, regulação, ma- nutenção e expansão das ações de assistência social; III – definir os níveis de gestão, de acordo com estágios de organiza- ção da gestão e ofertas de serviços pactuados nacionalmente; IV – orientar-se pelo princípio da unidade e regular, em todo o terri- tório nacional, a hierarquia, os vínculos e as responsabilidades quanto à oferta dos serviços, benefícios, programas e projetos de assistência social; V – respeitar as diversidades culturais, étnicas, religiosas, socioeco- nômicas, políticas e territoriais; VI – reconhecer as especificidades, iniquidades e desigualdades re- gionais e municipais no planejamento e execução das ações; VII – assegurar a oferta dos serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social; VIII – integrar a rede pública e privada, com vínculo ao SUAS, de ser- viços, programas, projetos e benefícios de assistência social; IX – implementar a gestão do trabalho e a educação permanente na assistência social; X – estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; XI – afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos como funções da política de assistência social (CNAS, 2012). 18 Os objetivos do SUAS devem ser respeitados em todo o território nacional e servem para direcionar os trabalhadores do SUAS na operacionalização da Política de Assistência Social de forma regular e sistemática, planejada e articulada. Esses objetivos visam a garantia de justiça social para a sociedade brasileira, especialmente, aos cidadãos sob os quais incidem as maiores desigualdades e processos de exclusão, inclusive apontando o compartilhamento das responsabilidades dos entes. Na organização do SUAS, fica estabelecido o monitoramento e a avaliação das ofertas socioassistenciais, com o objetivo de parametrizar as ações e resguar- dar a qualidade nas ofertas, isso significa que todas as ofertas socioassistenciais (executadas pelo Estado ou pelas OSCs) serão monitoradas para que não haja desvio no objetivo das ações desenvolvidas. O SUAS tem pretensão de incentivar nos indivíduos e famílias que estejam em situação de vulnerabilidade ou risco social, condição de exercerem sua autono- mia na busca pela cidadania. Para alcançar esse intento, por meio da proteção so- cial, trabalha para que os usuários da Assistência Social sejam protagonistas da sua própria história, não sendo submetidos a quaisquer situações de subalternização. A garantia de proteção social impressa no SUAS visa o favorecimento de condições dignas de vivência, fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, a criação e o fortalecimento de redes de apoio e a construção de projetos de vida, de acordo com a capacidade, limites e potencialidades dos indivíduos ou famílias. Segundo a NOB/SUAS (CNAS, 2012), são princípios éticos do SUAS para a oferta de proteção socioassistencial: I – defesa incondicional da liberdade, da dignidade da pessoa humana, da privacidade, da cidadania, da integridade física, moral e psicológica e dos direitos socioassistenciais; II – defesa do protagonismo e da autonomia dos usuários e a recu- sa de práticas de caráter clientelista, vexatório ou com intuito de benesse ou ajuda; III – oferta de serviços, programas, projetos e benefícios públicos gratui- tos com qualidade e continuidade, que garantam a oportunidade de convívio para o fortalecimento de laços familiares e sociais; IV – garantia da laicidade na relação entre o cidadão e o Estado na prestação e divulgação das ações do SUAS; V – respeito à pluralidade e diversidade cultural, socioeconômica, política e religiosa; VI – combate às discriminações etárias, étnicas, de classe social, de gê- nero, por orientação sexual ou por deficiência, dentre outras; [...] XII – acesso à Assistência Social a quem dela necessitar, sem discri- minação social de qualquer natureza, resguardando os crité- rios de elegibilidade dos diferentes benefícios e as especifici- dades dos serviços, programas e projetos; [...] XV – Simplificação dos processos e procedimentos na relação com os usuários no acesso aos serviços, programas, projetos e be- nefícios, agilizando e melhorando sua oferta; XVI – garantia de acolhida digna, atenciosa, equitativa, com qualida- de, agilidade e continuidade; 19 XVII – prevalência, no âmbito do SUAS, de ações articuladas e integra- das, para garantir a integralidade da proteção socioassistencial aos usuários dos serviços, programas, projetos e benefícios; XVIII – garantia aos usuários do direito às informações do respectivo histórico de atendimentos, devidamente registrados nos pron- tuários do SUAS. Como você pode perceber na citação anterior, a NOB/SUAS traçou de modo minucioso os procedimentos da política de assistência para seu público usuário. Sendo assim, cabe aos gestores, conselheiros, trabalhadores do SUAS, entre eles os assistentes sociais, conhecerem na íntegra essas normativas, de modo a executar um trabalho de qualidade e lutar por melhores condições de vida para todos os que da política de Assistência Social precisarem. Além dos objetivos e princípios éticos, a realização do trabalho no SUAS, deve estar apoiada nos princípios organizativos apontados pela NOB/SUAS (2012), que são: universalidade, gratuidade, integrali- dade da proteção social, intersetorialidade e equidade. A seguir, você poderá ob- servar o significado de cada um desses princípios organizativos: QUADRO 2 – PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS DO SUAS E SEUS SIGNIFICADOS Princípio organizativo Significado Universalidade Todos têm direito à proteção socioassistencial, prestada a quem dela necessitar, com respeito à dignidade e à autonomia do cidadão, sem discriminação de qualquer espécie ou comprovação vexatória da sua condição. Gratuidade A assistência social deve ser prestada sem exigência de contribuição ou contrapartida (observado o que dispõe o art. 35, da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 – Estatuto do Idoso). Integralidade da proteção social Oferta das provisões em sua completude, por meio de conjunto articulado de serviços, programas, pro- jetos e benefícios socioassistenciais. Intersetorialidade Integração e articulação da rede socioassistencial com as demais políticas e órgãos setoriais. Equidade Respeito às diversidades regionais, culturais, socioe- conômicas, políticas e territoriais, priorizando aque- les que estiverem em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social. FONTE: Adaptado de NOB/SUAS (2012) Como se pode verificar até aqui, os princípios organizativos acompanham e orientam a maneira como o SUAS deverá ordenar suas práticas para que seus objetivos sejam alcançados e seus princípios éticos sejam respeitados. Por fim, não poderíamos deixar de chamar sua atenção para as seguranças afiançadas pelo SUAS, pois, de maneira simplificada, na prática, são elas que são vi- venciadas pelos usuários do SUAS quando do seu atendimento/acompanhamento pe- 20 los serviços socioassistenciais. Apresenta-se, a seguir, na íntegra, o que declara a NOB/ SUAS (2012) no seu Art. 4º sobre as seguranças afiançadas pelo SUAS aos seus usuários: I – acolhida: provida por meio da oferta pública de espaços e servi- ços para a realização da proteção social básica e especial, devendo as instalações físicas e a ação profissional conter: a) condições de recepção; b) escuta profissional qualificada; c) informação; d) refe- rência; e) concessão de benefícios; f) aquisições materiais e sociais; g) abordagem em territórios de incidência de situações de risco; h) oferta de uma rede de serviços e de locais de permanência de indivíduos e famílias sob curta, média e longa permanência; II – renda: operada por meio da concessão de auxílios financeiros e da concessão de benefícios continuados, nos termos da lei, para ci- dadãos não incluídos no sistema contributivo de proteção social, que apresentem vulnerabilidades decorrentes do ciclo de vidae/ ou incapacidade para a vida independente e para o trabalho; III – convívio ou vivência familiar, comunitária e social: exige a oferta pública de rede continuada de serviços que garantam oportuni- dades e ação profissional para: a) a construção, restauração e o fortalecimento de laços de pertencimento, de natureza geracio- nal, intergeracional, familiar, de vizinhança e interesses comuns e societários; b) o exercício capacitador e qualificador de vínculos sociais e de projetos pessoais e sociais de vida em sociedade; IV – desenvolvimento de autonomia: exige ações profissionais e so- ciais para: a) o desenvolvimento de capacidades e habilidades para o exercício do protagonismo, da cidadania; b) a conquista de melhores graus de liberdade, respeito à dignidade humana, pro- tagonismo e certeza de proteção social para o cidadão e a cidadã, a família e a sociedade; c) conquista de maior grau de indepen- dência pessoal e qualidade, nos laços sociais, para os cidadãos e as cidadãs sob contingências e vicissitudes; V – Apoio e auxílio: quando sob riscos circunstanciais, exige a oferta de auxílios em bens materiais e em pecúnia, em caráter transitó- rio, denominados de benefícios eventuais para as famílias, seus membros e indivíduos. Diante do exposto, você pode perceber a grandeza e alcance do SUAS e sua capacidade de proteção aos indivíduos demandatários das ofertas socioassis- tenciais. No entanto, não podemos deixar de destacar que, apesar dos importan- tes pontos aqui elencados e tantos outros que compõem o direcionamento para a execução desse sistema, o sucesso do atingimento dos objetivos com eficiência, eficácia e efetividade depende daqueles direta ou indiretamente envolvidos no SUAS, assim como da participação popular por meio do controle social dessa fundamental política social pública. 21 O site da secretaria nacional de assistência social tem uma ampla biblioteca sobre a PNAS. Visite! Estude! Inteire-se! Acesse o site: https://bit.ly/3nJwga1. ATENCAO Caro acadêmico, para melhor compreensão do conteúdo, sugerimos a leitura do Dicionário crítico: política de assistência social no Brasil, das autoras Rosa M. Castilhos Fernandes e Aline Hellmann (Org.), publicado em 2016. FONTE: <https://www.ufrgs.br/cegov/files/pub_70.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2020. DICAS FIGURA – DICIONÁRIO FONTE: <https://bit.ly/3fdNaKK>. Acesso em: 15 jun. 2020. Para finalizar os estudos deste tópico, leia o texto a seguir: 22 Democracia representativa Democracia representativa é uma forma de exercício do poder político em que o povo de um país elege os seus representantes, por meio do voto, nas elei- ções. Os candidatos eleitos são legitimados como representantes do povo. Por ser uma forma de exercício indireto da democracia, por meio dos representantes es- colhidos, a democracia representativa também é chamada de democracia indireta. Como funciona a democracia representativa A escolha dos representantes dos cidadãos é feita através do voto direito e secreto, que é a forma de colocar em prática o sufrágio universal. O sufrágio é um direito garantido pela Constituição. A eleição acontece tanto para os represen- tantes do Poder Executivo (presidente, governadores e prefeitos), como para os representantes do Poder Legislativo (senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores). Esses representantes são eleitos para garantir e trabalhar pelos interesses dos cidadãos durante o seu mandato. Por exemplo: os deputados estaduais e os deputados federais representam os eleitores dos seus estados. Já os Senadores, tem como função principal trabalhar para garantir que as prioridades do estado que representam no Senado sejam colocadas em prática. Críticas à democracia representativa O sistema de democracia representativa recebe algumas críticas. A maior delas é ligada ao fato de que o poder sobre as decisões do país fica concentrado nas mãos de poucas pessoas. A concentração de poder pode gerar desvio nas finalidades dos cargos ou aproveitamento de vantagens em benefício próprio. Democracia participativa A democracia participativa é um sistema que tem características de demo- cracia indireta (eleição de representantes do povo) e democracia direta (quando o povo participa diretamente das decisões). Esse sistema também é chamado de de- mocracia semidireta. O Brasil adota a democracia participativa, já que em algumas situações a participação popular acontece. Os cidadãos são chamados para dar sua opinião na escolha de projetos e ideias, por meio da expressão da sua opinião sobre o que é mais importante ou que deve ser solucionado primeiro pelo governo. A participação popular pode acontecer de muitas formas: pela votação em referendos e plebiscitos ou participação em audiências públicas. Outra for- ma de contribuir é fazer a proposição de projetos de lei de iniciativa popular ou colaborar na votação e escolha das políticas públicas. LENZI, T. Democracia Representativa. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3nL1f5D. Acesso em: 21 dez. 2019. 23 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A Assistência Social teve seu nascimento em ações caritativas, de benesse e assistencialismo. • A Constituição Federal de 1988 foi o marco normativo principal para essa área, pois transformou a Assistência Social em política pública de direito. • Após a Carta Magna, outras normativas relacionadas à assistência social fo- ram aprovadas no Brasil. Dentre elas, estão: a Lei Orgânica de Assistência So- cial (BRASIL, 1993), a Política Nacional de Assistência Social (2004), a Norma Operacional Básica do SUAS (2005, que foi revogava pela nova NOB SUAS 2012) e a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009). • A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é quem norteia a execução da política de Assistência Social no Brasil e é organizada pelo Sistema Único de As- sistência Social (SUAS), que possui objetivos, diretrizes e princípios próprios. • O SUAS tem como prerrogativa colaborar com indivíduos e famílias para que te- nham uma vida autônoma, digna, com acesso aos direitos sociais previstos em lei. • O SUAS se operacionaliza com base nos objetivos, diretrizes, princípios orga- nizativos, princípios éticos, proteção socioassistencial e seguranças afiança- das, expostos na NOB/SUAS 2012. 24 1 Agora que você já teve a oportunidade de estudar sobre os marcos normativos e constitutivos da política de assistência social, retome o conteúdo estudado e responda à pergunta, seguida da afirmativa: “As políticas de proteção social, dentre as quais se incluem as que compõem a Seguridade Social brasileira – a saúde, a previdência e a assistência social – são consideradas produto histórico das lutas dos trabalhadores.” Quais as principais características de cada uma delas? E o que as diferencia entre si? 2 O Sistema Único de Assistência Social – SUAS, organiza a execução da Política de Assistência Social no Brasil. Esse sistema afiança aos seus usuários algumas “seguranças”. Discorra sobre elas. 3 A realização do trabalho no SUAS está apoiada nos objetivos, princípios éticos e princípios organizativos. Aponte quais são os princípios organizativos do SUAS discorrendo sobre eles. AUTOATIVIDADE 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR FIGURA 9 – MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR FONTE: <https://bit.ly/38YGrU0>. Acesso em: 15 jun. 2020. 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, você será convidado a refletir sobre a importância da participação popular e dos movimentos sociais na história do Brasil. Em breve, você poderá reco- nhecer alguns dos principais movimentos sociais brasileiros, em especial os chamados novos movimentos sociais (NMS), os quais tem íntima ligação com a luta e a conse- cução da ampliação de direitos sociais, com ênfase para as classes menos favorecidas. É importante lembrar que a participação social e o engajamento são im- portantes características do Serviço Social e que está no escopodas atribuições dos profissionais da área, incentivar e mobilizar os cidadãos para a participação popular social ativa, que é uma das formas de se exercer a democracia. A história dos movimentos sociais no Brasil é antiga, mas consta que eles se fortaleceram e melhor se organizaram a partir do resultado negativo do pro- cesso de urbanização e industrialização na vida da população menos favorecida, já que esses processos trouxeram consigo diversas transformações no campo eco- nômico e social, incidindo sobre as famílias e deixando grande parte delas em situação de vida precária, pela falta de emprego, falta de renda, exploração do trabalho, inclusive infantil, moradia insuficiente e insalubre, entre outras situa- ções que colaboravam para uma situação degradante às famílias. 26 UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Outro momento sócio-histórico que influenciou a narrativa dos Movimen- tos Sociais no Brasil, foi o período de Regime Ditatorial brasileiro, que se estendeu por 21 anos, de 1964 a 1985, e, foi marcado pelo autoritarismo e pela repressão do Governo (tortura, sequestro, execuções, censura, ataques a bomba, prisões arbitrá- rias, entre outros). Iniciou com o objetivo de derrubar o governo de João Goulart (chamado de Jango), conhecido como um presidente comunista, o qual tinha um projeto trabalhista e de promoção de bem-estar social e também a conhecida “Re- forma de Base”, que incluía reformas nas áreas de habitação, agrária, bancária, edu- cacional/universitária, petroleira, entre outras, as quais não encontravam aceitação de uma parcela da população, pois, mexia com grandes proprietários de terra, com o empresariado e diversos outros, entre eles, imprensa, grande parte da classe mé- dia brasileira, setores mais conservadores da sociedade, parte dos parlamentares do Congresso Nacional, Estados Unidos (que defendia o capitalismo em contrapar- tida da União Soviética que defendia o socialismo), cada qual com seus interesses. Assim, nas décadas de 1960 e 1970, acentuaram-se as lutas de cunho po- lítico contra o Regime Ditatorial que estava estabelecida no país. Essa busca pela democracia e pelo fim da repressão era feita pelas comunidades de base e pastorais sociais (ligadas à igreja), pelo sindicalismo combativo e pelo movimento estudantil. Este foi um período conhecido também como berço de legislações impor- tantes no país, pois, dos Movimentos Sociais, restaram legislações mais justas e voltadas aos direitos de todos, trazendo ao país muito mais segurança jurídica e a possibilidade de uma sociedade democrática, ao menos no papel. Prezado acadêmico! Os períodos em que o Brasil passou pelo chamado Regime Ditatorial são de extrema im- portância para compreendermos as lutas políticas e de classe presentes na nossa história atual. Faça uma pesquisa sobre o assunto e se inteire sobre esses momentos pelos quais passaram os brasileiros em tempos pretéritos, pois durante sua vida acadêmica e profis- sional, você terá necessidade de conhecer essa parte da nossa história, para compreender muitos outros conteúdos além da política de assistência social. NOTA TÓPICO 2 — MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR 27 2 MOVIMENTOS SOCIAIS FIGURA 10 – MOVIMENTOS SOCIAIS FONTE: <https://bit.ly/3lLsCfe>. Acesso em: 15 jun. 2020. Os movimentos sociais são compostos pela participação popular e tem nela sua iniciativa. Via de regra, originam-se das injustiças sociais, como forma de comba- tê-las. Montaño e Duriguetto (2011, p. 264), assim discorrem sobre Movimento Social: [...] caracteriza uma organização, com relativo grau de formalidade e de esta- bilidade, que não se reduz a uma dada atividade ou mobilização. [...] dentre outras determinações, é conformado pelos próprios sujeitos portadores de certa identidade / necessidade / reivindicação / pertencimento de classe, que se mobilizam por resposta ou para enfrentar tais questões – o movimento social constitui-se pelos próprios envolvidos diretamente na questão. O Movimento Social, via de regra, possui uma relação conflituosa com o Estado (porém, podem haver casos em que as lutas estão alinhadas e Movimento Social e Estado buscam a mesmo objetivo); os Movimentos Sociais sãos perme- ado por relações de tensão, com motivação para que haja transformação social, buscando equidade e melhor condição de vivência, minimizando as diferenças sociais entre indivíduos e grupos. São compostos por um projeto, que vai apontar os objetivos, a ideologia (quais causas são defendidas, qual a pauta de luta) e a hierarquia organizacional, de modo que tenha premissas a serem seguidas por todos os que dele participam, com foco no alcance das metas propostas. Segundo a estudiosa e autora do assunto, Maria da Glória Gohn, os movi- mentos sociais se formam a partir de quatro estágios, são eles: inquietação, exci- tação, formalização, institucionalização. Para Gohn (2011), os movimentos sociais possuem capacidade de produzir saber, fazer diagnóstico de realidades, mobilizar a sociedade para um fazer propositivo, por meio de jornadas de lutas, manifesta- ções, marchas, protestos, passeatas, mobilizações, concentração e podem se relacio- nar pelas redes sociais, redes institucionais, redes temáticas, entre outras formas. 28 UNIDADE 1 — CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FIGURA 11 – MOVIMENTOS SOCIAIS FONTE: <https://bit.ly/3fmicQH>. Acesso em: 15 jun. 2020. Montaño e Durigueto (2011) chamam a atenção para a diferença existente entre Movimento Social e mobilização social, já que a mobilização social é uma ati- vidade pontual que não tem organização contínua e nem exige formalidades. A mo- bilização social pode fazer parte do movimento social e pode mesmo se transformar formando um movimento social, mas, pela característica da informalidade e da pon- tualidade não é em si um movimento social (MONTAÑO; DURIGUETO, 2011). Sobre os movimentos sociais, vamos perceber que seu nascimento se deu atrelado às lutas imediatamente à esfera do trabalho, esses primeiros movimen- tos sociais são chamados de movimentos sociais tradicionais. No entanto, com o passar do tempo, surgiram os chamados Novos Movimentos Sociais (NMS). Esses novos movimentos têm os mais diferentes focos de lutas. Como pu- demos identificar anteriormente, a formação dos movimentos sociais, parte, via de regra, de pessoas que organizadas, lutam para enfrentar questões relacionadas à liberdade, aos direitos políticos e sociais que lhes afetam direta ou indiretamen- te e podem estar relacionados às mais diversas áreas e temas, por exemplo: • direto à terra; • à habitação de qualidade; • movimentos identitários; • questões políticas; • a políticas públicas que levem à equidade; • ao respeito pelo gênero, sexo, etnia, raça, cultura e religião; • ao trabalho e renda; • à educação de qualidade, mais creches e escolas públicas; em favor do meio ambiente, enfim, diversos são os âmbitos que podem envidar a constituição de um Movimento Social. Diante do conteúdo apresentado, é importante refletir sobre a notável relevância dos movimentos sociais na luta pelos direitos básicos dos cidadãos, TÓPICO 2 — MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO POPULAR 29 empreendendo força e foco para a garantia de que os direitos apontados pela Constituição Cidadã sejam uma realidade na vida de todos os brasileiros. Assista ao vídeo sobre movimentos sociais no link a seguir: https://bit.ly/33hgThl. DICAS Apresento a você, acadêmico, alguns dos prevalecentes tipos de movimen- tos sociais; são eles: reivindicatórios, políticos, de resistência e de classe. Para au- xiliar o seu conhecimento, demonstro, a seguir, alguns dos principais movimentos sociais brasileiros e lhe convido a, posteriormente, pesquisar mais sobre eles: • Movimentos dos Trabalhadores sem Terra (MST). • Movimento de Meninos e Meninas de Rua (MMMR). • Movimento LGBTQI+. • Movimento Mulheres em Luta. • Movimento Negro ou Afrodescendente. • Movimento de População em Situação
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