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Módulo I - Introdução à Qualidade do Ar e Legislação Aplicada SUMÁRIO Aula 01 - Poluição Atmosférica 1.1 Atmosfera 1.1.1 Composição da atmosfera 1.1.2 Estrutura da Atmosfera 1.1.3 Definição de Poluição Atmosférica 1.1.4 Grandes Episódios de Poluição Atmosférica 1.2 Poluentes Atmosféricos 1.2.1 Fontes de Emissão 1.2.2 Classificação dos poluentes conforme sua emissão 1.2.3 Classificação dos poluentes atmosféricos conforme estado físico 1.2.4 Categorias de Fontes de Emissão 1.2.5 Principais Poluentes Atmosféricos 1.4 Poluição do ar e mudanças climáticas Referências Bibliográficas 1.4.1 Poluentes Climáticos de Vida Curta 1.4.2 Acordos, Protocolos e Convenções Internacionais sobre o clima global 1.4.3 Estratégias Nacionais e efeitos sobre o clima global 1.3 Impactos da poluição atmosférica à saúde humana, ao meio ambiente e à economia 1.3.1 O custo da poluição do ar 1.3.2 Valores Guia e Padrões da Qualidade do Ar Aula 02 - Emissões e Qualidade do Ar 2.1 Fatores que influenciam a Qualidade do Ar 2.1.1 Topografia e planejamento territorial urbano 2.1.2 Meteorologia 2.1.2.1 Diferença entre tempo meteorológico e clima 2.1.2.2 Clima e poluição do ar 2.1.3 Variáveis e perfis meteorológicos 2.1.4 Fontes de Dados Meteorológicos 2.1.5 Critérios para a medição dos parâmetros meteorológicos 2.2 Prevenção e controle das emissões de poluentes atmosféricos 2.2.1 Ações de prevenção da poluição 4 5 5 5 7 7 8 8 8 9 9 9 21 17 17 18 19 13 14 16 24 22 23 24 26 26 27 28 29 30 31 2.2.3 Licenciamento, fiscalização e controle das fontes de emissão 2.2.2 Ações de controle por fonte específica (fixas e móveis) 35 32 Referências Bibliográfica 3s 8 Aula 03 - Monitoramento da Qualidade do Ar 3.1 Histórico do Monitoramento da Qualidade do Ar no Brasil 39 40 3.3 Impactos da Degradação da Qualidade do Ar 3.4 Ciclo da gestão da qualidade do ar 47 3.5 Estudo de caso de monitoramento contínuo de poluentes e seus impactos 48 Referências Bibliográfica 5s 2 3.3.1 Panorama do monitoramento no Brasil 45 46 3.2 Conceito e objetivos do monitoramento da qualidade do ar 3.2.1 Métodos de Monitoramento 41 42 Aula 04 - Competências e Legislação Relacionadas à Qualidade do Ar no Brasil 4.1 Competências relacionadas à gestão da qualidade do ar no Brasil 4.1.1 Papel da sociedade civil e academia 4.2 Arcabouço jurídico referente à qualidade do ar no Brasi 4.2.1 Histórico 4.2.2 Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar 4.2.3 Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 4.2.4 Proconve e Promot 4.2.5 Inspeção Veicular Ambiental 4.3 Padrões de Qualidade do Ar - Resolução nº 491/2018 Referências Bibliográficas 53 54 55 56 56 57 57 57 59 60 65 4 AULA 01 MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA Gestão da Qualidade do ar 5 1.1.1 COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA 1.1 ATMOSFERA A atmosfera terrestre é composta basicamente de uma mistura de gases, sendo 78% de Nitrogênio, 21% de Oxigênio e 1% de Argônio. Além desses, são encontrados traços de neônio (Ne), hélio (He), criptônio (Cr), xenônio (Xe), hidrogênio (H 2 ), metano (CH 4 ), ozônio (O 3 ) e dióxido de nitrogênio (NO 2 ). A atmosfera é uma camada de ar formada por uma mistura de gases com espessura de 800 km que envolve completamente o planeta Terra e representa essencialmente uma mistura de nitrogênio e oxigênio. A atmosfera controla as condições de temperatura da superfície da Terra por meio de (i) absorção da radiação ultravioleta solar e (ii) manutenção das propriedades de “estufa”. A atmosfera é dividida comumente em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera - também conhecida como ionosfera - e exosfera (SENAI, 2014). 1.1.2 ESTRUTURA DA ATMOSFERA TROPOSFERA ESTRATOSFERA MESOSFERA TERMOSFERA OU IONOSFERA EXOSFERA 10 a 12 km de altitude acima da superfície (varia a espessura conforme latitude e época do ano); O ar atmosférico encontra-se na sua maioria (90%) nessa camada; Temperatura diminui com o aumento da altitude; Onde ocorrem os fenômenos climáticos da Terra (chuvas, geadas, ventos, neves, furacões entre outros). Camada mais espessa de ozônio que protege a Terra das radiações ultravioleta do sol; Temperatura se eleva com o aumento da altitude. Forte decréscimo da temperatura (temperaturas mais baixas da atmosfera); Ausência da absorção da radiação eletromagnética, ou por falta de espécies químicas que absorvem radiação, ou porque a radiação foi absorvida na termosfera. Temperatura volta a crescer em função da altitude; Importante para as telecomunicações. Camada superior da atmosfera, fica a mais ou menos 900 km acima da Terra; Ar muito rarefeito e as moléculas de gás se transformam em íons. A atmosfera é dividida em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera, apresentadas na figura 1. Seguem as principais características de cada uma dessas camadas. Gestão da Qualidade do ar 6 T E R M O S F E R A - 9 5 ° C 8 0 K M M E S O S F E R A - 9 0 ° C 5 0 K M E S T R A T O S F E R A - 5 5 º C 2 0 a 3 0 K M T R O P O S F E R A 1 1 K M S U P E R F Í C I E T E R R E S T R E 2 0 ° C E X O S F E R A + 1 0 0 0 ° C 6 5 0 K M R A I O S C Ó S M I C O S N A V E E M Ó R B I T A T E R R E S T R E M á x i m a c o n c e t r a ç ã o d a c a m a d a d e O z ô n i o C a m a d a d e O z ô n i o A I O S C Ó S M I C O SSO SO SOSO S S A V E E M Ó R B I T A E R R E S T R E A V E N A V T E C A M A D A S D A A T M O S F E R A D A T E R R A E S P A Ç O N U V E N S L U M I N E S C E N T E S F ig u r a 1 : C a m a d a s d a a t m o f e r a F o n t e :a d a p t a d o d e S e n a i, 2 0 1 4 Gestão da Qualidade do ar 7 1.1.3 DEFINIÇÃO DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA 1.1.4 GRANDES EPISÓDIOS DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA Qualquer forma de matéria em quantidade, concentração, tempo ou outras características, que tornem ou possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora, ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade ou às atividades normais da comunidade (CONAMA, 2018). Bélgica, no vale do Rio Meuse, 1930 Donora, Pensilvânia, Estados Unidos, 1948 Smog em Londres, 1952 Cubatão, 1980 Um severo episódio de poluição atmosférica ocorreu em Donora, na Pensilvânia, no perí- odo de 25 a 31 de outubro de 1948, devido às emissões de SO 2 , material particulado e CO, provenientes de fontes próximas à cidade. O episódio foi agravado por condições meteoro- lógicas adversas e causou a morte de 20 pessoas. Um grave evento de poluição do ar afetou a capital britânica no início de dezembro de 1952. Condições meteorológicas adversas combinadas com as emissões geradas pelas in- dústrias e pelos aquecedores domiciliares, que usavam carvão como combustível, forma- ram uma espessa camada de poluentes sobre a cidade. Foi possível verificar relação entre o aumento da concentração desses poluentes e o número de óbitos registrados. Relatórios médicos do governo nas semanas seguintes ao episódio estimaram que 4.000 pessoas morreram como resultado direto da poluição e mais de 100.000 ficaram doentes pelos efeitos da poluição no trato respiratório. Esses episódios foram denominados “big three”, e todos coincidiram com condi- ções meteorológicas conhecidas como inversão térmica. Normalmente, as massas de ar quente, localizadas próximo da superfície da terra, sobem; e o ar mais frio, prove- niente das camadas mais altas da atmosfera, desce, criando uma circulação natural que dispersa os poluentes atmosféricos. O fenômeno de inversão térmica ocorre quan- do o ar, nas camadas mais baixas da atmosfera, torna-se mais frio do que o ar sobre elas. A ineficiente circulação natural do ar prejudica a dispersão, o que mantém os po- luentes atmosféricos próximos ao solo, causando aumento significativo das concentra- ções e, consequentemente, episódios críticos de qualidade doar. (STERN, et al., 1984). No Brasil, em 1980, as indústrias localizadas em Cubatão (SP) lançavam no ar toneladas de partículas e gases tóxicos por dia na Vila Parisi, área residencial de baixa renda próxima a indústrias de petróleo, de fertilizantes e de metais. Crianças nasciam com graves malformações No início do século 20, a região compreendida entre as cidades de Huy e Liége era famo- sa pelo seu grande parque industrial. Em dezembro de 1930, com condições meteorológi- cas desfavoráveis associadas à grande quantidade de gases lançados na atmosfera pelas indústrias, uma espessa névoa cobriu essa zona industrial e a população foi acometida por sintomas como tosse, dores no peito, dificuldade em respirar, irritação na mucosa nasal e olhos. Ao final de cinco dias, cerca de 60 pessoas haviam morrido - a maioria idosos ou com doenças cardíacas ou pulmonares - e centenas de outras pessoas ficaram enfermas, como decorrência da combinação de vários poluentes gasosos associados à alta umidade relativa do ar. Foram formadas substâncias altamente tóxicas, como por exemplo o ácido sulfúrico (ALMEIDA, s.d.). Gestão da Qualidade do ar 8 1.2 POLUENTES ATMOSFÉRICOS 1.2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES CONFORME SUA EMISSÃO 1.2.1 FONTES DE EMISSÃO Existem dois tipos de fontes de emissões de poluentes para a atmosfera: Os poluentes reagem física e quimicamente na atmosfera, convertendo-se, às vezes, em outras formas ainda mais danosas, como, por exemplo, o ozônio - um composto formado na atmosfera a partir de hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio (NO x ) e luz solar. Emissões naturais Emissões antropogênicas Emissões primárias Emissões primárias Poluentes emitidos diretamente pelas fontes para a atmosfera: SO2; NO2 etc. Poluentes formados na atmosfera a partir da emissão de seus precursores: O3, aldeídos, H2SO4 etc. nos membros e no sistema nervoso e pelo menos 37 já nasceram mortas devido a problemas como a anencefalia - falta de cérebro. Apontada pela ONU como a cidade “mais poluída do mundo”, Cubatão ficou conhecida mundialmente como “Vale da Morte”. Além do ar, as indústrias também contaminavam a água e o solo da região, trazendo chuvas ácidas e deslizamentos na Serra do Mar (COSTA, 2017). Spray marinho, erupções vulcânicas, processos biológicos etc. Um vulcão em erupção emite material particulado e gases, como por exemplo: SO 2 , CO 2 e metano, que podem impactar o meio ambiente mesmo a distâncias consideráveis da fonte vulcânica. Esses poluentes podem permanecer na atmosfera durante longos períodos. A figura 2 mostra o Monte Saint Helens (Washington, USA), durante erupção em 1980. São provenientes de atividades humanas, como indústrias, transporte e geração de energia. Figura 2: Monte Saint Helens (Washington, USA), durante erupção em 1980. Fonte: STERN, 1984 Gestão da Qualidade do ar 9 1.2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES ATMOSFÉRICOS CONFORME ESTADO FÍSICO 1.2.4 CATEGORIAS DE FONTES DE EMISSÃO 1.2.5 PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS A análise das emissões procedentes de várias fontes proporciona informações sobre o tipo e a quantidade de poluentes primários emitidos por essas fontes, geralmente em termos de es- pécie química e de seu estado físico. Gases e vapores Gases e vapores Fontes Pontuais Fontes móveis - não se encontram fixas em um local. Referem-se aos meios de transporte, sendo: Fontes de emissões fugitivas Fontes volumes Também conhecidas como fontes fixas ou estacionárias – incluem refinarias, indústrias quí- micas, indústrias metalúrgicas, dentre outras. Os poluentes são emitidos por chaminés, vents (dutos de ventilação de processo) e flares (tochas que queimam correntes gasosas industriais em situação de emergência, como queda de energia). Monóxido de carbono (CO): combustão incompleta; Dióxido de enxofre (SO 2 ): queima de combustível contendo enxofre (S); São fontes tridimensionais de emissão. Essencialmente são fontes áreas com a terceira dimensão (altura). Exemplo de fontes volumes: tanques de estocagem de produtos líquidos e esteiras transportadoras (STERN, et al., 1984). Existem milhares de compostos químicos considerados poluentes atmosféricos, porém não é possível medir nem estudar todos eles. Desta forma e baseados em estudos científicos de toxicidade, os órgãos reguladores internacionais regulamentaram apenas alguns poluentes atmosféricos. Entre eles, destacam-se: CO (monóxido de carbono), CO 2 (dióxido de carbono), SO 2 (dióxido de enxofre), NO 2 (dióxido de nitrogênio) H 2 O(v) (água em forma de vapor); e Poeiras, fumos e névoas. Fontes móveis rodoviárias – são as emissões devido à queima de combustíveis por veículos que circulam nas ruas e rodovias, por exemplo: carros, motos e caminhões; Fontes móveis não rodoviárias – são os outros meios de transporte, com exceção de veícu- los que trafegam em rodovias. Incluem aviões, barcos, locomotivas etc. São as emissões atmosféricas resultantes de vazamentos em tubulações e equipamentos, tais como: suspiros de tanques de estocagem de produtos químicos; emissões em gaxetas, bombas, válvulas e flanges; e pontos de tomada de amostra nas indústrias. Poluentes formados na atmosfera a partir da emissão de seus precursores: O3, aldeídos, H2SO4 etc. Gestão da Qualidade do ar 10 A medição sistemática da qualidade do ar é, portanto, restrita a alguns poluentes, definidos em razão de sua importância e dos recursos disponíveis para seu acompanhamento (CETESB, s.d.). A interação entre as fontes de poluição e a atmosfera vai definir o nível de qualidade do ar, que determina, por sua vez, o surgimento de efeitos adversos da poluição do ar sobre os receptores, que podem ser o homem, os animais, as plantas e os materiais (CETESB, s.d.). A seguir são fornecidas mais informações sobre os poluentes atmosféricos de maior relevância: 0 5 10 15 20 25 30 35 5 10 15 20 25 O3 na superfície afeta a saúde humana e ecossistema O3 na Tropopausa é um gás de efeito estufa A lt it u d e (Q u ilô m et ro s) O3 na Estratosfera filtra 90%dos raios UV Ozônio (O3) Composto por três átomos de oxigênio, o ozônio (O 3 ) é um dos poluentes atmosféricos que causam mais danos à saúde humana. Por isso, sua presença no ar ambiente é atualmente uma das maiores preocupações quando se trata da qualidade do ar, principalmente nos grandes centros urbanos e suas proximidades, uma vez que são os veículos e as indústrias que emitem seus precursores - Compostos Orgânicos Voláteis e Óxidos de Nitrogênio. O ozônio é um gás reativo e oxidante, presente tanto na estratosfera quanto na troposfera. A figura 3 apresenta essa distribuição nas duas camadas. O ozônio é um componente natural na estratosfera e funciona como uma barreira para os raios ultravioleta. Porém, próximo da superfície, onde é produzido através de vários mecanismos, ele é muito prejudicial à saúde e ao meio ambiente. É um poluente de difícil controle, devido à complexidade de sua formação. A troposfera possui apenas 10% do ozônio total da atmosfera. É na estratosfera que são encontradas as altas concentrações de O 3 (NEVES, 2010). Figura 3: Concentrações e Efeitos do Ozônio em diferentes altitudes Fonte: Fonte: Slanina, Sjaak 2003 apud Neves, 2009. Representação MMA. Dióxido de nitrogênio (NO 2 ): processos de combustão; Ozônio troposférico (O 3 ); Materiais particulados; e Chumbo (Pb). Gestão da Qualidade do ar 11 Essas partículas existem em muitos tamanhos e formas e podem ser compostas por centenas de substâncias químicas diferentes. Por isso causam sérios impactos à nossa saúde (EPA, s.d.). Algumas são emitidas diretamente de uma fonte de emissão, tais como: canteiros de obras, estradas não pavimentadas, chaminés ou queimadas. A maioria das partículas se forma na atmosfera como resultado de reações complexas a partir de compostos químicos, como dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, quesão poluentes emitidos por usinas termoelétricas, indústrias e automóveis (EPA, s.d.). Material Particulado (MP) Monóxido de Carbono (CO) O material particulado é composto de uma mistura de partículas sólidas, inclusive metais e gotículas líquidas encontradas no ar. Algumas partículas, como poeira, sujeira, fuligem ou fumaça, são grandes ou escuras o suficiente para serem vistas a olho nu. Outras são tão pequenas que só podem ser detectadas com um microscópio eletrônico (EPA, s.d.). A poluição por partículas inclui: O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor e inodoro que pode ser prejudicial quando inalado em grandes quantidades. É formado por um átomo de carbono e um de oxigênio, sendo liberado durante a queima de combustíveis contendo carbono. As maiores fontes de CO As partículas inaláveis (MP10 e MP2,5) conseguem penetrar no nosso sistema respiratório, causando sérios impactos à nossa saúde, principalmente as partículas menores, pois conseguem alcançar as regiões mais internas do pulmão, como os alvéolos. Quanto menor o tamanho da partícula, maior a probabilidade de causar danos à saúde, devido à maior facilidade em penetrar o organismo pelas vias aéreas, podendo chegar até a corrente sanguínea. A figura 4 apresenta os impactos dos poluentes nas diferentes regiões do pulmão. Partículas Respiráveis MP1 (até alvéolos pulmonares) Partículas Inaláveis MP10 (até a laringe) Partículas Torácicas MP2.5 (além da laringe) Partículas Ultrafinas MP0,1 (até alvéolos circulatórios) Figura 4: Penetração das partículas de diferentes diâmetros no sistema respiratório. Fonte: Brito et al (2018) adaptado de Guarieiro et al (2011). Representação MMA. Partículas Totais em Suspensão: compreende as partículas cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a 50 µm. Elas não conseguem penetrar no nosso sistema respiratório. MP 10 : partículas inaláveis, com diâmetro menor que 10 micrômetros; e MP 2,5 : partículas inaláveis finas, com diâmetro menor que 2,5 micrômetros. Gestão da Qualidade do ar 12 são os carros, caminhões e outros veículos ou máquinas que queimam combustíveis (EPA, s.d.). Respirar o ar com uma alta concentração de CO reduz a quantidade de oxigênio que pode ser transportado na corrente sanguínea para órgãos essenciais como o coração e o cérebro (EPA, s.d.). A exposição à altas concentrações de CO pode causar tontura, confusão, inconsciência e até morte (EPA, s.d.). Com o avanço das tecnologias de controle das emissões veiculares, os níveis de CO reduziram-se muito, principalmente nos grandes centros urbanos. Monóxido de Carbono (CO) Dióxido de Nitrogênio (NO2) Composto por um átomo de enxofre e dois de oxigênio, o dióxido de enxofre é liberado para a atmosfera por fontes naturais, como por exemplo, erupções vulcânicas e por fontes antropogênicas, principalmente as relacionadas com atividades industriais que processam combustíveis contendo enxofre, como termelétricas, fabricação de fertilizantes, fundição de alumínio e aço, produção de ácido sulfúrico e papel (CETESB, 2012). O SO2 também está presente na emissão veicular como resultado da queima de combustíveis fósseis que possuem enxofre em sua composição. Da mesma forma que o CO, a concentração ambiental do SO2 vem decrescendo em razão do maior controle das emissões e da redução no teor de enxofre nos combustíveis (CETESB, 2012). O SO2 presente na atmosfera pode levar à formação de chuva ácida e é precursora dos sulfatos, um dos principais componentes das partículas inaláveis (MP10). Os sulfatos incorporados aos aerossóis são associados à acidificação de corpos d’água, redução da visibilidade, corrosão de edificações, monumentos, estruturas metálicas e condutores elétricos (CETESB, 2012). A exposição de curto prazo ao SO2 pode prejudicar o sistema respiratório e dificultar a respiração. Pessoas com asma, principalmente crianças, são mais sensíveis a esses efeitos (CETESB, 2012). O dióxido de nitrogênio faz parte de um grupo de gases altamente reativos conhecidos como óxidos de nitrogênio (NOx). Outros óxidos de nitrogênio incluem ácido nitroso e ácido nítrico. O NO2 é usado como o indicador para o grupo maior de óxidos de nitrogênio (EPA, s.d.). O NO2 se forma a partir da combustão de combustíveis em carros, caminhões, ônibus, usinas termoelétricas e equipamentos off-road devido à queima de combustível. O NO2 possui um átomo de nitrogênio e dois de oxigênio. Mesmo o gás natural, que é um combustível mais limpo, emite grandes quantidades de NO2 na queima, por isso é necessário controlar essas emissões usando queimadores “Low NOx”, dentre outros sistemas de controle disponíveis. Exposições a concentrações elevadas de NO2 podem contribuir para o desenvolvimento de asma e, potencialmente, aumentar a suscetibilidade a infecções respiratórias. Exposições por curtos períodos também podem agravar doenças respiratórias,particularmente asma, levando a sintomas, tais como: tosse, respiração ofegante ou dificuldade respiratória (EPA, s.d.). O NO2 pode, ainda, reagir com outros compostos no ar, por meio de reações fotoquímicas, formando o ozônio troposférico. Ambos também são prejudiciais quando inalados devido aos seus efeitos no sistema respiratório (EPA, s.d.). Gestão da Qualidade do ar 13 Fumaça (FMC) Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) Peroxiacetilnitrato (PAN) Chumbo A fumaça está associada ao material particulado suspenso na atmosfera proveniente dos processos de combustão. O método de determinação da fumaça é baseado na medida de refletância da luz que incide na poeira (coletada em um filtro). Esse parâmetro está diretamente relacionado ao teor de fuligem na atmosfera (CETESB, s.d.). São gases e vapores resultantes da queima incompleta e evaporação de combustíveis e de outros produtos orgânicos, sendo emitidos pelos veículos, pelas indústrias, pelos processos de estocagem e transferência de combustível etc. Muitos desses compostos participam ativamente das reações de formação do ozônio troposférico. Dentre os compostos orgânicos voláteis presentes na atmosfera urbana estão os compostos aromáticos monocíclicos, em particular: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos. Os COVs, além de causarem efeitos adversos à saúde, também participam de reações fotoquímicas para formação do ozônio (CETESB, s.d.). É uma ameaça não só para a saúde humana, mas também para a vegetação em muitas cidades do mundo. Foi identificado pela primeira vez na bacia aérea de Los Angeles, em 1940, onde ocorrem com frequência os episódios meteorológicos de estagnação das massas de ar. A poluição fotoquímica, como é denominada a produção de O3 e de outros oxidantes, é originada a partir das emissões de óxidos de nitrogênio e de hidrocarbonetos lançados na atmosfera pelos veículos e pelas indústrias (NEVES, 2010). No passado, os veículos eram os principais contribuintes de emissões de chumbo para o ar, devido sua adição como antidetonante na gasolina. Em 1989, o Brasil começou a retirar o chumbo de sua gasolina automotiva, eliminando totalmente essa prática em 1992. Essa conquista deu-se graças à substituição do chumbo pelo etanol anidro como aditivo à gasolina. Como consequência, a concentração de chumbo na atmosfera das áreas urbanas diminuiu significativamente. Atualmente, o chumbo é encontrado em maior concentração em locais específicos, como próximo a fundições de chumbo e indústrias de fabricação de baterias chumbo-ácido (CETESB, s.d.). 1.3 IMPACTOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA À SAÚDE HUMANA, AO MEIO AMBIENTE E À ECONOMIA O impacto adverso da poluição na saúde humana é o principal motivo para seu controle. A população em geral, principalmente a que vive nas zonas urbanas, sofre com os efeitos da poluição, mas, certamente, alguns subgrupos são mais sensíveis a esses impactos: Esses subgrupos mais sensíveis aos poluentes, em contato com a poluição, apresentam res- postas mais nocivas do que a população em geral.A poluição do ar afeta principalmente o sistema respiratório, circulatório e olfativo. Crianças muito novas, nas quais os sistemas respiratórios e circulatórios ainda estão em formação Pessoas idosas, nas quais esses sistemas não funcionam mais de forma eficiente; e Pessoas que têm doenças como asma, enfisema e doenças cardíacas Gestão da Qualidade do ar 14 Os poluentes afetam vários constituintes do sistema respiratório. As áreas mais sensíveis vão desde as membranas mucosas até os pulmões. Os gases solúveis como o dióxido de enxofre (SO 2 ) podem se dissolver nas mucosas e passar através das paredes dos alvéolos para a corrente sanguínea. Além dos problemas respiratórios causados pela exposição aos poluentes, outras áreas do corpo humano são afetadas, como os olhos, que são sensíveis a oxidantes como o peroxiace- tilnitrato (PAN), por exemplo. Porém, qualquer agente químico presente no ar exerce efeitos potencialmente danosos sobre as funções pulmonares e sobre todo o organismo. Quanto maior a concentração ou o tempo de exposição aos poluentes, maior será a pro- babilidade de causar danos à saúde. Outros efeitos da poluição atmosférica mais difíceis de mensurar são aqueles gerados no sistema imunológico, neurológico e reprodutivo. O sistema respiratório é dividido basicamente em três regiões, que são afetadas pela expo- sição aos poluentes Fonte: Cetesb, 2017 Figura 05: Diferentes impactos dos poluentes no corpo humano devido à sua solubilidade Local da ação Olhos Laringe Vias Respiratórias Brônquios Bronquíolos Bronquíolos Álveolos pulmonares Capilares Alta Solubilidade Composto NH 3 HCI HCHO S 2Cl 2 CH 2=CH-CHO S O2 Cl 2 Br 2 RCOCI R(NCO) 2 O3 O2 NO2 COCl 2 CDO Média Baixa 1.3.1 O CUSTO DA POLUÇÃO DO AR O Banco Mundial lançou em 2016 a publicação: “O Custo da Poluição do Ar”, na qual estimou os custos econômicos da mortalidade prematura devido à poluição do ar, buscando motivar os governos a reduzirem a poluição. Como principais conclusões, o estudo estimou que: Nasal (composta do nariz, boca e garganta); Traqueobrônquica (composta da traqueia, brônquios e saco alveolar); e Pulmonar (terminação dos brônquios e saco alveolar). A traqueia se ramifica nos brônquios direito e esquerdo. Em 2013, a exposição à poluição do ar ambiente e doméstico custou à economia mundial cerca de 5,11 trilhões de dólares em perdas de bem-estar. Em termos de magnetude, Gestão da Qualidade do ar 15 Por outro lado, nos Estados Unidos, entre os anos de 1970 e 2018 as emissões combinadas de seis poluentes (PM 2,5 e PM 10 ; SO 2 ; NOx, COV, CO e Pb) caíram 74%. Enquanto isso, no mesmo período, a economia dos Estados Unidos continuou a crescer, como apresenta o gráfico 1 - o Produto Interno Bruto aumentou 300% e a população aumentou 100%. O consumo de energia aumentou e a distância que os veículos percorreram (em milhas) também aumentou cerca de 200%. Entretanto, o aumento verificado nas emissões atmosféricas foi cerca de 20%, o que sig- nifica que, aplicando as tecnologias corretas, é possível desenvolver a economia e manter as emissões sob controle. Porém, se não forem considerados os métodos de controle de poluen- tes nem as leis ambientais, as consequências são muito graves, como apresentado no item 1.1.3, quando grandes episódios de poluição aconteceram, causando milhares de mortes, devasta- ção ambiental, impactos na saúde e na economia (EPA, 2019). Fonte: EPA, 2019. Gráfico 01: Comparação entre o aumento da população e do consumo e a queda das emissões atmosféricas entre 1970 e 2018 nos Estados Unidos 300% 200% 100% -100% M U D A N Ç A P E R C E N T U A L 1970 2000 2010 2018 0% Produto Interno Bruto (PIB) Veículos milhas percorridas População Consumo de Energia Emissões Agregadas (seis poluentes comuns) Emissão de CO2 as perdas de bem-estar no Sul da Ásia, no Leste Asiático e no Pacífico foram equivalentes a 7,4% e 7,5% do produto interno bruto (PIB) regional, respectivamente. Na extremidade inferior, as perdas ainda eram iguais a 2,2% do PIB no Oriente Médio e no Norte da África. A poluição do ar doméstico devido ao uso de carvão para cozinhar foi a maior causa de perdas no Sul da Ásia e na África Subsaariana. Em todas as outras regiões, as perdas foram causadas em grande parte pela poluição do ar ambiente por partículas finas (MP2,5). As perdas de renda do trabalho, embora fossem esperadas menores do que as perdas de bem-estar, foram substanciais em regiões com populações mais jovens. A renda perdida para os países do Sul da Ásia totalizou mais de 66 bilhões de dólares em 2013, o equivalente a quase 1% do PIB. Globalmente, as perdas de renda do trabalho totalizaram 225 bilhões de dólares em 2013. Crianças e as pessoas mais velhas continuam particularmente vulneráveis: em 2013, cerca de 5% das mortes de crianças menores de 5 anos e 10% das mortes de adultos com mais de 50 anos foram atribuídas à poluição do ar, em comparação com menos de 1% entre os adultos jovens. Esse padrão de mortalidade por idade permaneceu inalterado desde 1990 (WORLD BANK, 2016). Gestão da Qualidade do ar 16 POLUENTE ATMOSFÉRICO PERÍODO VALOR GUIA OMS (2005) EM µg/m3 Material Particulado - MP 10 Material Particulado - MP2,5 Dióxido de Enxofre – SO2 Dióxido de Nitrogênio - NO2 Ozônio – O3 Fumaça* Monóxido de Carbono – CO Partículas Totais em Suspensão PTS* Chumbo – Pb* 24 horas Anual 24 horas Anual 24 horas Anual 1 hora Anual 8 horas 24 horas Anual 8 horas 24 horas Anual Anual 50 20 25 10 20 - 200 40 100 50 20 9 ppm 240 80 0,5 Quadro 1: Valores Guia da OMS para os Poluentes Atmosféricos Fonte: CONAMA, 2018; OMS, 2006 *A O M S n ã o a p re s e n ta v a lo re s g u ia p a r a e s s e s p o lu e n te s . 1.3.2 VALORES GUIA E PADRÕES DE QUALIDADE DO AR Os Valores Guia não são padrões, nem critérios legais; seu objetivo é oferecer orientação na redução dos impactos da poluição do ar na saúde, com base na avaliação de especialistas e nas evidências científicas atuais. Devem ser aplicados em todas as regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS) e apoiar uma ampla gama de opções de políticas para a gestão da qualidade do ar. O conhecimento das propriedades perigosas dos poluentes e a indicação do risco relacionado à sua exposição resumidos nas diretrizes fornecem uma contribuição científica essencial para o desenvolvimento de estratégias de gestão da qualidade do ar (OMS, 2006). Os Valores Guia são baseados em extensas evidências científicas sobre a poluição do ar e suas con- sequências para a saúde. Embora essas informações tenham lacunas e incertezas, oferecem uma base sólida para as diretrizes. Algumas conclusões gerais da pesquisa precisam ser enfatizadas em relação às diretrizes. Entre elas, as evidências para ozônio e MP que mostram riscos à saúde em concentrações atualmente encontradas em muitas cidades de países desenvolvidos. Os estudos epidemiológicos tam- bém indicam que as diretrizes podem não fornecer proteção total à população, uma vez que não foram identificados limites abaixo dos quais os efeitos adversos não ocorrem (OMS, 2006). Em 2021, a OMS atualizou os valores guia para as concentrações máximas recomendadas para os principais poluentes atmosféricos, indicando os valores que trariam maior proteção à saúde humana. No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu novas diretrizes para os pa- drões de qualidade do ar com a publicação da Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018, a qual fixou limites mais restritivos e incluiu outros compostos na lista de poluentes regulados. Seguindo essa Resolução, o Conama delega aos órgãos ambientais estaduais e distrital a elaboração, em até 3 anos a partir da sua entrada em vigor, de um Plano Regional de Controle de Emissões Atmosféricas. Com base nesse plano e também nos Relatórios de Avaliação da Qualidadedo Ar elaborados pelos órgãos estadu- ais e distritais, serão adotadas as novas fases dos Padrões de Qualidade do Ar Intermediários (PI-1, PI-2, PI-3) e, na sequência, de forma conclusiva, será adotado o padrão de qualidade do ar final (PF). O quadro 1 apresenta o Padrão Final para os parâmetros regulamentados na Resolução Conama nº 491/2018. Gestão da Qualidade do ar 17 1.4 POLUIÇÃO DO AR E MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.4.1 POLUENTES CLIMÁTICOS DE VIDA CURTA Os poluentes climáticos de vida curta são forças climáticas poderosas que permanecem na atmosfera por um período muito mais curto do que o dióxido de carbono (CO 2 ), mas seu potencial para aquecer a atmosfera pode ser muito maior. Certos poluentes climáticos de vida curta também são poluentes atmosféricos perigosos, com efeitos prejudiciais para as pessoas, os ecossistemas e a produtividade agrícola. Dos poluentes climáticos de curta duração, carbono negro, metano, ozônio troposférico e hi- drofluorocarbonos são os contribuintes mais importantes para o efeito estufa global causado pelo homem depois do dióxido de carbono. Eles são responsáveis por até 45% do aquecimento global atual. Se nenhuma ação para reduzir as emissões desses poluentes for tomada nas pró- ximas décadas, é esperado que eles sejam responsáveis por até metade do aquecimento da atmosfera causado pela atividade humana. Segundo a Direção Geral do Ambiente da União Europeia, as reduções contínuas na poluição do ar e nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) são essenciais, pois ambos representam sérias ameaças à saúde das pessoas e ao meio ambiente. A gestão da qualidade do ar, alinhada com políticas climáticas eficientes, podem fornecer benefícios mútuos, tanto na mitigação dos efeitos adversos das mudanças climáticas como na redução da poluição do ar. De acordo com os pesquisadores, políticas de combate à poluição do ar local proporcionarão maiores benefícios, inclusive para a mitigação das mudanças climáticas. Os esforços de médio prazo para controlar a poluição do ar proporcionarão benefícios adicionais às estratégias de longo prazo que objetivam conter as mudanças climáticas (CCAC, s.d.). Carbono Negro Metano (CH 4 ) O carbono negro (fuligem) é um poderoso componente de material particulado resultante da combustão incompleta de combustíveis fósseis, madeira e outros combustíveis. A combustão completa transformaria todo o carbono do combustível em dióxido de carbono (CO 2 ), mas a combustão nunca é completa e o dióxido de carbono, monóxido de carbono, compostos orgâ- nicos voláteis, carbono orgânico e partículas de carbono negro são todos formados no proces- so. A mistura complexa de partículas resultantes da combustão incompleta é frequentemente denominada de fuligem. O carbono negro é um poluente climático de curta duração, com uma vida útil de apenas alguns dias a semanas, após a liberação na atmosfera. Durante esse curto período, o carbono negro pode ter impactos diretos e indiretos significativos no clima, regiões glaciais, agricultura e saúde humana (CCAC, s.d.). O metano é um poderoso gás de efeito estufa emitido por atividades humanas, como vaza- mento de sistemas de gás natural e criação de gado, bem como por fontes naturais como pân- tanos. Tem uma influência direta no clima. O metano é um poluente climático de curta duração com um tempo de residência na atmosfera de cerca de 12 anos. Embora sua vida útil na atmosfera seja muito mais curta do que o dióxido de carbono (CO 2 ), é muito mais eficiente na captura de radiação. Por unidade de massa, o impacto do metano nas mudanças climáticas ao longo de 20 anos é 84 vezes maior do que o CO 2 ; em um período de 100 anos, é 28 vezes maior (CCAC, s.d.). Gestão da Qualidade do ar 18 As negociações internacionais sobre mudança do clima têm como marco inicial a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), em 1992, que deu início às reuniões da Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês). A COP congrega anualmente os países-parte em conferências mundiais para tomar decisões coletivas e consensuais sobre temas relacionados à mudança do clima (ADAPTACLIMA, s.d.). O primeiro grande acordo das COPs foi criado em 1997 e entrou em vigor em 2005: o Protoco- lo de Quioto, tratado que definiu metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) para países desenvolvidos. Durante o primeiro período de compromisso, entre 2008-2012, 37 países se comprometeram a reduzir 5% das suas emissões em relação a 1990. No segundo pe- ríodo de compromisso, as Partes se comprometeram a reduzir, de 2013 a 2020, as emissões em pelo menos 18% dos níveis de 1990. O Brasil ratificou o documento em 2002 (ADAPTACLIMA, s.d.). Na 21ª reunião da Conferência das Partes (COP 21), em 2015, foi aprovado um novo acordo global, o Acordo de Paris, que contempla metas de redução de emissões de GEE para todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, definidas nacionalmente conforme as priorida- des e possibilidades de cada um. Além disso, foi determinado um objetivo global para aumen- tar a capacidade de adaptação, fortalecer a resiliência e reduzir as vulnerabilidades à mudança do clima (ADAPTACLIMA, s.d.). Nesse histórico das negociações sobre clima, o foco sempre foi mitigação das emissões de GEE e o papel da adaptação era muito pequeno. Porém, a partir dos anos 2000, a adaptação ganha cada vez mais espaço nos debates e decisões tomadas nas Conferências (ADAPTACLI- MA, s.d.). 1.4.2 ACORDOS, PROTOCOLOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE O CLIMA GLOBAL Hidrofluorcarbonos (HFCs) Ozônio Troposférico Hidrofluorcarbonos (HFCs) é um grupo de produtos químicos industriais usados principalmente para resfriamento e refrigeração. Os HFCs foram desenvolvidos para substituir as substâncias destruidoras da camada de ozônio estratosférica que estão atualmente sendo eliminadas de acordo com o Protocolo de Montreal. Muitos HFCs são gases de efeito estufa muito poderosos e um número substancial deles são poluentes climáticos de curta duração com uma vida útil de 15 a 29 anos na atmosfera. Embora os HFCs representem atualmente cerca de 1% do total de gases de efeito estufa, seu impacto no aquecimento global pode ser de centenas a milhares de vezes maior do que o dióxido de carbono por unidade de massa (CCAC, s.d.). O ozônio troposférico é um poluente climático de curta duração com uma vida atmosférica de horas a semanas. Não existem fontes de emissões diretas de O 3 - trata-se de um gás secundário formado pela reação da luz solar com hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio, que é emitido por veículos, usinas de combustível fóssil e outras fontes artificiais (CCAC, s.d.). Poluentes cli- máticos de vida curta como o ozônio troposférico e o carbono negro são perigosos poluentes atmosféricos responsáveis por mortes prematuras, por doenças cardíacas e pulmonares, der- rames, ataques cardíacos, doenças crônicas e respiratórias, como bronquite, asma agravada e outros sintomas cardiorrespiratórios. A redução dos poluentes climáticos de curta duração evitará milhões de mortes prematuras a cada ano devido à poluição do ar (OMS, 2015). Gestão da Qualidade do ar 19 Um grande marco ocorreu em 2010, com a adoção pelos países do Quadro de Adaptação de Cancun (Cancun Adaptation Framework - CAF, em inglês) na COP16. Nos acordos, as Partes afirmam que ações em adaptação devem ter o mesmo grau de prioridade que as de mitiga- ção. No que tange à implementação de ações em adaptação, o CAF propõe um processo para possibilitar que países menos desenvolvidos formulem e implementem Planos Nacionais de Adaptação, além de um programa de trabalho que considere abordagens para lidar com per- das e danos associados aos impactos da mudança do clima em países em desenvolvimento, os quais estão particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança do clima (UNFCCC,2011 apud ADAPTACLIMA, s.d.). No Brasil, entre os marcos em nível nacional do combate e adaptação aos impactos associa- dos à mudança do clima, cita-se como principal a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída em 2009. O órgão responsável por sua implementação é o Comitê Intermi- nisterial sobre Mudança do Clima (CIM). A partir da legislação, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) lidera a definição de estratégias e propõe políticas relacionadas ao monitoramento e à implementação dos planos setoriais de mitigação e adaptação contidos na PNMC (ADAPTACLI- MA, s.d.). O principal instrumento para levar adiante ações de adaptação é o Plano Nacional de Adapta- ção à Mudança do Clima (PNA), instituído em 2016. O PNA foi elaborado pelo governo federal em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais, e tem como objeti- vo promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima e realizar a gestão do risco associada a esse fenômeno (ADAPTACLIMA, s.d.). A importância da implementação do PNA foi reforçada na Contribuição Nacionalmente Deter- minada (Nationally Determined Contributions - NDC, sigla em inglês) declarada pelo Brasil no contexto internacional do Acordo de Paris. A NDC brasileira é um compromisso assumido pelo país que entrou em vigor em 2016 e que prevê metas de mitigação e ações em adaptação. A meta de redução de emissões de gases de efeito estufa é de 37% até 2025 e há o indicativo de redução de 43% até 2030, ambas comparadas aos níveis de 2005. O documento descreve como fundamental a realização de ações na agenda de adaptação, coloca a dimensão social (proteção às populações vulneráveis) no cerne da estratégia de adaptação brasileira, e afirma que “o PNA fornecerá as bases para que o Brasil reforce sua capacidade de adaptação, de avaliação de riscos climáticos e de gestão de vulnerabilidades nos níveis nacional, estadual e municipal” (República Federativa do Brasil, 2015 apud ADAPTACLIMA, s.d.). Segundo informações do Atlas Global do Carbono (2019) o Brasil é o décimo terceiro país do mundo que mais contribui para o aquecimento global. A maior parte dos gases de efeito estufa emitidos no Brasil tem relação com desmatamento para pastagens e plantações. No setor elé- trico, a falta de chuva obriga o governo a ligar as térmicas, aumentando a poluição, e a situação seria pior, se não fosse a queima de biomassa, como o bagaço de cana, e o crescimento na geração de energia eólica e solar. 1.4.3 ESTRATÉGIAS NACIONAIS E EFEITOS SOBRE O CLIMA GLOBAL Gestão da Qualidade do ar 20 O Ministério do Meio Ambiente criou o Sistema Nacional de Gestão da Qualidade do Ar - Monitor Ar e o Programa Nacional Ar Puro. O MonitorAr integra, consolida e disponibiliza dados atualizados gerados pelas estações de monitoramento da qualidade do ar localizadas nas Unidades Fede- rativas. Também nesse sentido, o MMA elaborou um Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar. Publicado em 2020, o Guia está entre as medidas complementares toma- das pelo Ministério do Meio Ambiente para trabalhar com entes públicos e setor privado pelo ar limpo nas cidades, levando sustentabilidade, mais saúde e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida a todos os brasileiros. Gestão da Qualidade do ar 21 ADAPTACLIMA. Página da internet - Acordos internacionais e políticas públicas, s.d. Disponível em: <http:// adaptaclima.mma.gov.br/acordos-internacionais-e-politicas-publicas>. Acesso em: 10 abr 2021. ALMEIDA, Ronei de. Controle Ambiental na Indústria de Alimentos. S.d. Disponível em: <https://educapes.capes. gov.br/bitstream/capes/433623/2/Poluição Atmosférica.pdf>. Acesso em: 10 abr 2021. BRITO, G. F. S.; SODRÉ, F. F.; ALMEIDA, F. V. O Impacto do Material Particulado na Qualidade do Ar. Revista Virtual de Química, 2018. Disponível em: <https://www.ufjf.br/baccan/files/2019/04/Brito-Gabriel-RVQ-NoPrelo.pdf>. Acesso em: 10 abr 2021. 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Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta na poluição. BBC News, 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39204054>. Acesso em: 10 abr 2021. EPA. Página da internet - Criteria Air Pollutants, s.d. Disponível em:<https://www.epa.gov/criteria-air-pollutants>. Acesso em: 10 abr 2021. EPA. Página da internet - Our Nation Air, 2019. Disponível em: <https://gispub.epa.gov/air/trendsreport/2019/#growth>. Acesso em: 10 abr 2021. GLOBAL CARBON ATLAS. Página da Internet, 2019. Disponível em: <http://www.globalcarbonatlas.org/en/CO2- emissions>. Acesso em: 10 abr 2021. NEVES, N. M. S. Formação e Dispersão de Ozônio na Região do Recôncavo Baiano, 2010. Tese de Doutorado UFBA. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11753>. Acesso em: 10 abr 2021. OMS – Organização Mundial da Saúde. Valores Guia OMS 2005, 2006. 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A magnitude do impacto na qualidade do ar em determinada região depende das condições atmosféricas responsáveis pelo transporte, transformação e dispersão dos poluentes emitidos, bem como pelas possíveis ocorrências de situações críticas de poluição do ar causadas, principalmente, pelas fontes de emissões industriais e veiculares. Conforme Gomes (2010), a meteorologia determina o que acontece com os gases emitidos na atmosfera desde o momento em que estes são emitidos até quando são detectados em qualquer outro lugar. Segundo a FEAM (2016) apud Raia e Reis (2006), o relevo é um fator determinante na qualidade do ar de uma região. O relevo ondulado, formado por áreas de serra, como ocorre em Minas Gerais, pode impactar de forma direta a dinâmica de alguns fenômenos climáticos, tais como a distribuição das chuvas, variação da temperatura, velocidade e direção dos ventos, entre outros (RIBEIRO et al, 2019). É recomendável observar não só a influência da topografia e meteorologia locais, mas também as características e a disposição das edificações para definir o melhor posicionamento de uma estação de monitoramento do ar. Nas áreas industriais a posição e dimensões dos prédios e a localização das chaminés devem ser avaliadas para evitar a ocorrência de “building downwash”, quando a turbulência aerodinâmica (fenômenos que acompanham todo movimento relativo entre um corpo e o ar que o envolve), provocada pelos edifícios próximos às chaminés, força a rápida mistura dos poluentes em direção ao solo, aumentando aí as concentrações, como mostra a figura 6: Tome nota O objetivo da gestão da qualidade do ar é controlar a poluição atmosférica, de forma a garantir o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada e ambientalmente sustentável. Essa gestão deve incluir o controle das fontes, especialmente em situações meteorológicas de dispersão desfavoráveis, como, por exemplo, a inversão térmica, ou ainda a desconcentração das fontes para reduzir as emissões e os impactos destes poluentes. Para tanto, é necessário adotar ações de monitoramento, prevenção e redução das emissões de poluentes. O produto da interação desse complexo conjunto de fatores é que irá assegurar a qualidade ambiental de uma determinada região (MMA, 2019). Figura 6: Downwash causado pelo prédio próximo da chaminé Fonte: Lakes Environmental Gestão da Qualidade do ar 24 A gestão de fontes estacionárias de poluição atmosférica engloba aspectos bastante amplos, que vão desde o planejamento para estabelecimento da localização geográfica de comunidades, núcleos industriais e sistemas viários, até ações diretas sobre as fontes de emissão. Por meio do zoneamento e do licenciamento ambiental o poder público pode evitar a instalação de fontes de poluição específicas em determinado local, bem como definir as medidas de controle para cada fonte poluidora, como a aplicação de limites de emissão e a exigência da melhor tecnologia disponível. Meteorologia é a ciência que estuda a atmosfera e seus fenômenos associados. Entre os vários campos de estudo, podem ser mencionados a meteorologia sinótica, física e dinâmica; a meteorologia aplicada à aeronáutica e marinha; a micrometeorologia e a previsão numérica. Um importante setor da meteorologia é o estudo e a previsão da evolução dos sistemas atmosféricos que definem o tempo e o clima de cada região. Mesmo mantidas as emissões, a qualidade do ar pode mudar em razão das condições meteorológicas que determinam uma maior ou menor diluição dos poluentes. É por isso que a qualidade do ar piora com relação aos parâmetros monóxido de carbono, material particulado e dióxido de enxofre durante os meses de inverno, quando as condições meteorológicas são mais desfavoráveis à dispersão dos poluentes. Já o ozônio apresenta maiores concentrações na primavera e verão, por ser um poluente secundário que depende, dentre outros fatores, da intensidade de luz solar para ser formado (CETESB, 2020). A dispersão atmosférica de poluentes é função de um conjunto de parâmetros meteorológicos que atuam simultaneamente no sentido de aumentar ou reduzir os níveis de poluição em uma determinada região. Saiba Mais O planejamento territorial urbano baseia-se no princípio do afastamento geográfico entre fontes de emissão e núcleos populacionais (receptores). Contudo, a proteção da população não é o único alvo da gestão atmosférica. Muitos outros fatores devem ser considerados na localização de um empreendimento potencialmente poluidor, como, por exemplo: a existência de reservas naturais, áreas agrícolas e mananciais nas proximidades; o tipo de poluente; a vazão; as características da geografia e dos ventos predominantes; e as condições de dispersão dos poluentes. Essa análise deve ser feita previamente pelos empreendedores e depois avaliada pelos órgãos ambientais competentes. Uma ferramenta importante é o estabelecimento de leis de zoneamento urbano, visando nortear o crescimento de municípios de forma ordenada, impedindo a proximidade entre fontes emissoras e os núcleos residenciais (FERNANDES, 2011) 2.1.1 TOPOGRAFIA E PLANEJAMENTO TERRITORIAL URBANO 2.1.2 METEOROLOGIA Gestão da Qualidade do ar 25 Os principais processos atmosféricos que determinam o potencial de dispersão estão associados a certas condições meteorológicas a partir da ação dos sistemas de larga escala como os anticiclones, as baixas pressões e os sistemas frontais. Cada sistema tem uma atuação maior ou menor sobre os continentes e oceanos, dependendo da época do ano, onde o seu deslocamento sazonal atua concentrando ou dispersando os níveis de poluição, sobretudo nas regiões industrializadas, cujo potencial emissor de poluentes para a atmosfera é mais significativo. Em uma escala local, o vento e a estabilidade atmosférica são os principais fatores que afetam o transporte e dispersão dos poluentes. A atmosfera está sempre em movimento, e o movimento do ar, tanto horizontal (o vento) quanto vertical (como a mistura vertical), está extremamente relacionado com a dispersão dos poluentes; a partir de sua fonte de emissão, o vento dilui os poluentes e também os dispersa rapidamente, como mostra a figura 7: A poluição do ar está diretamente relacionada ao comportamento diário das condições meteorológicas de uma determinada região urbana ou industrial, que são monitoradas através de diversos parâmetros meteorológicos, tais como: • Pressão atmosférica • Estabilidade atmosférica • Direção e velocidade do vento • Temperatura ambiente • Radiação solar • Umidade relativa do ar • Precipitação pluviométrica ou chuva • Perfil térmico da temperatura, dentre outros. Óxidos de enxofre e nitrogênio, provenientes de fábricas e escapamentos de veículos, “entram” na atmosfera H, SO2 e HNO3 “caem” como chuva ácida Reações químicas na atmosfera Gases e ácidos deterioram edifícios. Gases ácidos danificam as árvores Ácidos presentes no ar e na chuva prejudicam as pessoas Lagos são envenenados, matando plantas e animais aquáticos Solo se torna ácido Plantas absorvem substâncias venenosas Fonte: Adaptado de LOPES (2016) Figura 7: Transporte e Transformação das emissões na Atmosfera Gestão da Qualidade do ar 26 Na meteorologia, os conceitos de clima e tempo meteorológico têm significado diferentes. Figura 8: Perfil térmico da atmosfera 2.1.2.1 DIFERENÇA ENTRE TEMPO METEOROLÓGICO E CLIMA 2.1.2.2 CLIMA E POLUIÇÃO DO AR Clima Tempo meteorológico Constitui o estado médio e o comportamentoestatístico da variabilidade dos parâmetros do tempo (temperatura, chuva, vento etc.) de uma localidade em um período suficientemente grande. O período recomendado é de 30 anos, denominado “Normal Climatológica”. Conjunto de condições atmosféricas e fenômenos meteorológicos que afetam a biosfera e a superfície terrestre em um dado momento e local (horas, dia, dias). Temperatura, chuva, vento, umidade, nevoeiro, nebulosidade etc., formam o conjunto de parâmetros do tempo. Os fenômenos meteorológicos que afetam a superfície ocorrem, basicamente, na troposfera – camada da atmosfera que se estende da superfície até cerca de 11 km de altitude. A temperatura na troposfera decresce, em média, com a altitude, a uma taxa de 10ºC/km, no processo adiabático seco e cerca de 6,5ºC/km, no processo adiabático úmido. Essa variação de temperatura é denominada gradiente adiabático (seco/úmido). E nas outras camadas a temperatura varia bastante, como mostra a figura 8: Gestão da Qualidade do ar 27 2.1.3 VARIÁVEIS E PERFIS METEOROLÓGICOS Variáveis meteorológicas de superfície são os parâmetros apresentados a seguir: Direção e velocidade do vento Pressão Atmosférica Estabilidade atmosférica Temperatura ambiente Radiação Solar A atmosfera terrestre é constituída por uma mistura de vários gases que exercem sobre a superfície uma determinada força por unidade de área. Denomina-se pressão do ar atmosférico ou pressão atmosférica (PA) ao peso exercido por uma coluna de ar, com secção reta e de área unitária, que se encontra acima do observador, em um dado instante e local. Para essa circunstância, a pressão depende basicamente da altitude do local, porque, à medida que aumenta a altitude, o ar se torna mais rarefeito, isto é, menos denso e, portanto, a PA será cada vez menor (ALMEIDA, 2016). Existe uma relação direta entre a circulação do ar (e dos poluentes) e o estabelecimento de um gradiente de pressão atmosférica: quando uma região da Terra aquece, a pressão atmosférica nessa região diminui e o ar eleva-se. Isso cria uma diferença na pressão atmosférica, fazendo com que o ar no entorno, mais frio, se desloque da área de maior pressão para a área de menor pressão (João Paulo et al, 2016). A estabilidade atmosférica afeta o movimento vertical do ar. A convecção e turbulência aumentam quando o ar é instável e são inibidas quando o ar é estável. A estabilidade influencia a taxa com a qual os poluentes são misturados no ar limpo. Uma parcela de poluentes atmosféricos emitida quando o ar está instável é mais bem misturada com o ar limpo do que quando há estabilidade. A estabilidade inibe o transporte dos poluentes no ar (Theo Gabriel). A temperatura do ar é um dos efeitos mais importantes da radiação solar. O aquecimento da atmosfera próxima à superfície terrestre ocorre principalmente por transporte de calor, a partir do aquecimento da superfície pelos raios solares (Sentelhas e Angelocci, 2012). A temperatura do gás saindo da chaminé e sua relação com a temperatura do ar ambiente é mais importante do que as características de altura da chaminé para a sua dispersão, pois é a diferença entre essas duas temperaturas que determina a densidade da pluma, que por sua vez afeta a elevação da pluma. Radiação solar se refere à energia eletromagnética do espectro solar (comprimento de onda de 0.10 a 4.0 µm) (EPA, 2000). Quanto maior a radiação solar maior a instabilidade atmosférica e, consequentemente, a dispersão de poluentes é ampliada. Vento é o ar em movimento, que se desloca das regiões de alta pressão para as regiões de baixa pressão. A direção do vento, que é a orientação do vetor do vento na horizontal, é medida em graus e é definida como a direção de onde sopra o vento. Por exemplo, o vento Sul sopra da direção Sul. A velocidade do vento corresponde à sua intensidade, medida em metros/segundo pelo anemômetro. A direção do vento determina a direção do transporte das plumas emitidas pelas fontes de poluentes. Quanto maior for a velocidade do vento, mais rapidamente ocorre a mistura das plumas com o ar ambiente. Umidade relativa do ar É a quantidade de água presente no ar em relação ao seu ponto de saturação. Assim, quando a umidade relativa do ar é de 60%, significa que o ar está com 60% da sua capacidade máxima de água. A umidade do ar participa ativamente das reações químicas na atmosfera. Gestão da Qualidade do ar 28 Precipitação pluviométrica ou chuva As variáveis referentes ao ar superior são: perfiladores verticais de temperatura e vento, radiossonda e SODAR (Sonic Detection And Ranging). Os parâmetros meteorológicos variam com a altura e seu conhecimento ajuda a explicar os fenômenos que ocorrem nas camadas próximas ao solo, como as inversões térmicas, por exemplo. A figura 9 apresenta, a título de exemplo, o perfil horário vertical de temperatura, direção e velocidade horizontal do vento da cidade de Paulínia (SP), que foram medidas entre as 03:00 horas do dia 16/agosto/2016 até a 00:00 hora do dia 17/agosto/2016. Na figura 9, as áreas coloridas mostram a estrutura vertical de temperatura em graus Celsius (°C), onde as temperaturas aumentam das cores mais frias (roxo) para as cores mais quentes (vermelho). Pode-se observar que as temperaturas são menores nas camadas mais elevadas da atmosfera. A escala de temperatura é apresentada no canto superior direito. As setas indicam, para cada nível de altitude medido, a direção de onde o vento horizontal está soprando (por exemplo, a seta indicando para baixo, mostra que o vento é proveniente de norte e a seta indicando para cima, o vento é proveniente de sul) e o tamanho das setas indica a magnitude da velocidade do vento horizontal, em m/s. A referência da magnitude do vento é mostrada no canto inferior direito da figura (10 m/s) (CETESB, SODAR). No Brasil, nem sempre é fácil obter os dados meteorológicos, pois as pequenas cidades raramente possuem dados. As capitais são mais cobertas pelas estações meteorológicas, principalmente do Inmet. Apresenta-se a seguir, algumas fontes de dados disponíveis: 2.1.4 FONTES DE DADOS METEOROLÓGICOS Figura 09: Perfil horário vertical de temperatura, direção e velocidade horizontal do vento Fonte: CETESB / SODAR Gestão da Qualidade do ar 29 Importante Importante observar que, antes de utilizar os dados, eles devem ser avaliados por um meteorologista para verificar se existem falhas e para verificar a qualidade dos dados, inclusive a localização da torre meteorológica. 2.1.5 CRITÉRIOS PARA A MEDIÇÃO DOS PARÂMETROS METEOROLÓGICOS Para a confiabilidade dos dados meteorológicos é fundamental selecionar corretamente o local onde serão instalados os equipamentos. Além disso, é recomendável utilizar equipamentos certificados e que tenham um programa de manutenção preventiva e corretiva. E, caso os sensores meteorológicos estejam com defeito ou quebrados, é necessário fazer sua manutenção ou reposição. A Organização Meteorológica Mundial estabelece alguns critérios, padrões e recomendações para instalação de estações meteorológicas e leitura dos instrumentos. Esses procedimentos são adotados de maneira oficial no mundo inteiro, possibilitando uma conformidade nos dados meteorológicos observados em qualquer parte do planeta. A seguir são apresentados esses critérios: Localização da torre meteorológica • Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet: www.inmet.gov.br • Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br • Força Aérea Brasileira: www.redemet.aer.mil.br • Infraero: www.infraero.gov.br • Instituto Agronômico de Campinas – IAC: www.iac.sp.gov.br • Daesp: www.daesp.sp.gov.br • Cetesb: https://cetesb.sp.gov.br/ar/qualar/ Gestão da Qualidade do ar 30 A figura 10 apresenta os critérios para localização das torres meteorológicas. Observa-se que a torre deve estar situada em uma área plana, sem árvores altas ou outros prédios e a umadistância igual a dez (10) vezes a altura da torre. A presença desses obstáculos reduz a velocidade do vento devido ao seu atrito com as árvores e prédios, causando distorções nos resultados. Um meteorologista deve sempre orientar essa localização, pois existem muitas torres mal localizadas no Brasil e em outros países, o que tira a confiabilidade dos dados, causando erros nos resultados da modelagem. A gestão da qualidade do ar tem como objetivo controlar a poluição atmosférica para garantir o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada e ambientalmente sustentável. Figura 10: Critérios para localização da torre meteorológica Fonte: Adaptado de Organização Mundial de Meteorologia Critérios para medição de parâmetros meteorológicos de superfície A US EPA recomenda critérios para instalação dos sensores meteorológicos de superfície, que são apresentados no quadro 2. Quadro 2: Critérios para medição de parâmetros meteorológicos de superfície Fonte: Adaptado de US EPA, 2000 2.2 PREVENÇÃO E CONTROLE DAS EMISSÕES DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS Variáveis meteorológicas Distância do obstáculo Recomendação para cobertura do solo Vento Direção/ Velocidade Temperatura Radiação solar Pressão Atmosférica Precipitação 10x a altura do obstáculo 10 metros posicionamento padrão aberto, é de 10m acima do solo a superfície não pode ser de concreto ou asfáltica. Reflexão deste tipo de superfície afeta as medições sensor deve estar livre de obstáculos e de sombreamentos o local deve ser uniforme, com temperatura constante, protegido do sol e de aquecimento superfície de concreto ou asfáltica pode permitir o respingo de água para o pluviômetro 1,25 a 2 metros 2 a 10 metros 30 cm, mínimo 1 a 10 metros Alta em relação ao solo Observações grama ou cascalho terra natural, grama curta, sem irrigação sem requisitos sem requisitos vegetação natural ou cascalho 1,5x distante do mastro (torre) 2 metros 1 metro 2x a 4x a altura do obstáculo Gestão da Qualidade do ar 31 Para tanto, é necessário adotar ações de monitoramento, prevenção, combate e redução das emissões de poluentes. Existem dois métodos para garantir a qualidade do ar, quais sejam: (i) adoção de métodos de prevenção da poluição; e (ii) adoção de tecnologias de controle que removem os poluentes das fontes fixas e móveis. A prevenção da poluição inclui todas as práticas que reduzem, eliminem ou previnem a poluição na fonte, sendo denominada também como redução na fonte. E isso é muito mais interessante do que a reciclagem, ou tratamento e disposição final dos resíduos (EPA), pois, em geral, a prevenção possui melhor custo-benefício do que a aplicação de tecnologias de tratamento “fim de tubo” (end of pipe). Porém, em alguns casos, os métodos de controle são a única solução viável, como nas fábricas mais antigas, por exemplo (Cheremisinoff, 2002). Nos Estados Unidos, o Congresso aprovou a lei Pollution Prevention (P2) Act em 1990; desde então, foram identificadas inúmeras possibilidades para as indústrias reduzirem ou prevenirem, significativamente, a poluição na fonte por meio de mudanças nos seus processos produtivos, na operação e no uso de matérias primas. E essas mudanças oferecem às indústrias uma economia significativa no uso de menor quantidade de matérias primas, no controle da poluição, além de proteger o meio ambiente e reduzir os riscos referentes à saúde e segurança dos trabalhadores. Exemplo As emissões contribuem para as concentrações locais de poluentes, que ocorrem quando esses se acumulam em quantidades significativas em locais específicos, por exemplo, perto de estradas movimentadas, instalações industriais ou grandes operações agrícolas intensivas. A exposição a altas concentrações de poluentes resulta diretamente em impactos adversos, que são cumulativos, sendo necessário focar esforços na redução da exposição (DEFRA, 2018). 2.2.1 AÇÕES DE PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO A prevenção da poluição inclui uma série de medidas, que se iniciam no projeto das indústrias e equipamentos, tais como: • Utilização da melhor tecnologia disponível aprovada pelas agências reguladoras para atender aos padrões de produção de um processo específico, com a redução da poluição; • Uso de matéria prima de melhor qualidade; • Otimização dos processos de operação, de manutenção, de housekeeping, e outras práticas de gerenciamento; • Melhorias no processo de combustão; Gestão da Qualidade do ar 32 São diversos os instrumentos utilizados para gestão ambiental dentre os quais cita-se: os padrões de qualidade ambiental, os limites de emissão/lançamento, o zoneamento ambiental, o licenciamento ambiental, os programas de controle, as penalidades disciplinares, os inventários das fontes de poluição e os relatórios de qualidade ambiental. Os programas federais de controle da poluição do ar por veículos e por motocicletas - Proconve e Promot -, respectivamente, têm sido responsáveis por levar os fabricantes a adotar tecnologias progressivamente mais avançadas para atender aos limites de emissão de poluentes cada vez mais restritivos. Entretanto, mesmo com limites de emissão mais restritivos e a renovação natural da frota, a redução da carga de poluentes devido ao avanço tecnológico é influenciada por outros fatores, como o aumento da frota, as condições de manutenção dos veículos, o tipo de combustível e os congestionamentos. Desta forma, a redução dos níveis de poluição do ar não deve se basear, exclusivamente, em medidas tecnológicas para a redução das emissões dos veículos isoladamente, mas numa ação integrada dos diversos setores da sociedade. Existem equipamentos de controle para gases e para partículas; e para fontes fixas e móveis. O quadro 3 apresenta alguns equipamentos usados nas indústrias para controle de fontes fixas: Importante O controle de emissões consiste em procedimentos destinados à redução ou à prevenção da liberação de poluentes para a atmosfera e implantação de equipamentos de controle de poluição do ar, que são dispositivos que reduzem as emissões atmosféricas. Existe um número muito grande de equipamentos de controle da poluição do ar, mas a seleção do equipamento mais adequado deve ser realizada por especialistas, pois os equipamentos requerem investimento e custo de operação consideráveis. 2.2.2 AÇÕES DE CONTROLE POR FONTE ESPECÍFICA (FIXAS E MÓVEIS) • Controle dos produtos de combustão incompleta, com o uso adequado da taxa de injeção do ar; e • Uso de combustíveis mais limpos, que reduzem as emissões de partículas. Gestão da Qualidade do ar 33 Processos de Controle das Emissões Atmosféricas Poluente Controlado Funcionamento do Processo Filtro de mangas Lavador de Gases (Scrubber) Lavador de gases tipo Venturi Pré-aquecimento do ar de combustão Queimadores LowNOx Precipitador Eletrostático (ESP) Recirculação dos gases de combustão Redução não catalítica seletiva (SNCR) Torre de carvão ativado Redução catalítica seletiva (SCR) MP MP e SOx MP e SOx MP NOx NOx NOx NOx NOx HCT (COVs) Os filtros de mangas são feitos de recida poroso ou feltro através do qual os gases são forçados a passar para que as partículas sejam removidas. A utilização de um filtro de mangas requer a seleção de um material de filtração adequado às caracteristicas dos gases residuais e à temperatura máxima de operação. O Lavador tipo Venturi é concebido para utilizar a energia a partir do fluxo de entrada de gás para atomizar o líquido a ser usado para absorver e abater os poluentes. Um lavador tipo Venturi consiste em três seções: uma seção convergente, uma seção de garganta, e uma secção divergente. O ar de combustão passa por um pré-aquecimento por meio de trocadores de calor antes de ser inserido na câmara de combustão. Queimadores de combustíveis das chaminés e caldeiras, específi- cos para reduzir a emissão de NOx. Os precipitadores eletrostáticos funcionamde modo que as partícu- las são carregadas e separadas por influência de um campo elétrico. Podem funcionar numa gama variada de condições. Reinjeção dos gases do forno na chama, para reduzir o teor de oxigénio e, consequentemente, a temperatura da chama. Utilização de queimadores especiais que utilizam a recirculação interna dos gases de combustão para arrefecer a base das chamas e reduzir o teor de oxigénio na parte mais quente destas. Redução do NOx para nitrogênio em um leito catalítico, por meio de reação com amoníaco (regra geral, solução aquosa, a uma tempera- tura ótima de operação entre 300ºC e 450ºC). Podem ser aplicadas uma ou duas camadas de leito catalítico a fim de se obter uma redução maior de NOx. Redução de NOx para nitrogênio, por meio de uma reação com amônia ou ureia a alta temperatura. Para otimizar a reação, a temperatura deve ser mantida entre 900°C a 1050°C. Filtragem de carbono é um método de filtragem que utiliza um leito de carvão ativado para remover os contaminantes e impurezas, utilizando absorção química. O carvão ativado funciona por meio de um processo chamado de adsorção, em que as moléculas poluentes no líquido a ser tratado fiquem presas no interior da estrutura dos poros do substrato de carbono. Os compostos gasosos são dissolvidos em um líquido adequado (água ou solução alcalina). Pode-se efetuar a remoção simultânea de compostos sólidos e gasosos. A jusante do lavador, os gases liberados são saturados com água e é necessária uma separação das gotículas antes de descarregar os gases no ambiente. O efluente líquido resultante tem de ser tratado por um processo de tratamen- to de águas residuais e a matéria insolúvel é recolhida por sedimen- tação ou filtração. Quadro 3: Processos de Controle de Emissões de Fontes Fixas Fonte: Cetesb, 2017 As figuras 11 e 12 apresentam alguns dos equipamentos indicados no quadro 3, utilizados nos processos de controle da poluição. Esses são alguns exemplos de equipamentos de controle. Cada um deles possui uma eficiência de retenção dos poluentes. Esses equipamentos devem ter manutenção preventiva; e as emissões antes e após o controle devem ser medidas pelo menos duas vezes ao ano, para comprovar seu bom funcionamento. F ig u r a 1 1 : F il t r o d e M a n g a s F ig u r a 1 2 : L a v a d o r d e G a s e s ( S c r u b b e r ) F o n te : C e te s b , 2 0 1 7 F o n te : C e te s b , 2 0 1 7 Gestão da Qualidade do ar 34 Dentre os métodos de controle relacionados às fontes móveis, incluem-se: Um dos métodos de controle de partículas causadas pelo deslocamento de fontes móveis é a aspersão, ainda bastante usada no Brasil. Nos países que não dispõem de muita água, são usados polímeros para esse controle. A figura 13 apresenta aspersão usada nas vias internas de uma mina. • Implementar a inspeção veicular; • Fiscalizar a fumaça de veículos a diesel; • Promover a renovação de frota do transporte coletivo; • Limitar áreas de trânsito veicular; • Limitar a velocidade dos veículos; • Manter a limpeza das ruas; • Promover a melhoria da manutenção dos veículos a diesel; • Mitigar os congestionamentos; • Incentivar a adoção de práticas de gestão ambiental em organizações que possuam frotas de veículos; • Promover a renovação e reciclagem de veículos; • Promover a melhoria da eficiência energética veicular; • Promover medidas de intervenção urbana e no setor de transporte; • Avaliar a gestão da demanda e da oferta de transporte coletivo; • Implantar e/ou ampliar a malha urbana de ciclovias e integração intermodal; • Promover o uso de combustíveis alternativos; • Planejar o uso do solo e adoção de técnicas modernas e sistemas inteligentes para o gerenciamento da fluidez e segurança do trânsito; e • Incentivar alternativas para o transporte coletivo. Gestão da Qualidade do ar 35 Figura 13: Aspersão de vias não pavimentadas Foto: Neuza Neves, 2016. 1 2 3 4 Avaliar tecnicamente a viabilidade de empreendimentos com potencial poluidor; Identificar e caracterizar os impactos ambientais; e Implementar medidas de controle, mitigadoras, potencializadoras ou compensatórias Inserir as questões ambientais no contexto do projeto durante as suas fases de planejamento, implatação, operação e desativação do empreendimento; O processo de controle das fontes de emissões se inicia muito antes de sua operação, e ocorre na fase de planejamento dos empreendimentos, como fábricas ou rodovias; e também no seu licenciamento ambiental, procedimento pelo qual o órgão ambiental competente analisa a proposta apresentada para o empreendimento e a legitima, considerando as disposições legais e regulamentares aplicáveis e sua interdependência com o meio ambiente, emitindo a respectiva licença. Dentre os objetivos do licenciamenti incluem-se: O escopo básico do licenciamento é estabelecido pela Resolução Conama no 001/1986, nos roteiros detalhados dos fatores ambientais definidos pelos órgãos ambientais estaduais e no Termo de Referência aprovado pelo órgão ambiental estadual (Plano de Trabalho). Gestão da Qualidade do ar 36 O processo é extenso e detalhado, para cada impacto ambiental. Para avaliar os impactos na atmosfera é preciso elaborar o estudo de clima, de topografia, a modelagem matemática (desde o inventário de emissões), medir as concentrações dos poluentes de background, visando não permitir o aumento das concentrações e selecionar os equipamentos de controle que serão instalados. Dentro do licenciamento ambiental, o Estudo de Dispersão Atmosférica é uma ferramenta fundamental para antecipar e prevenir os efeitos negativos da implantação e operação de um empreendimento ou atividade, sendo que seu uso é requerido para o licenciamento de novas fontes e ampliação de fontes existentes. A seleção de equipamentos de controle é feita também com o auxílio da modelagem, um dos pontos fortes do estudo. Os empreendedores devem aplicar as legislações federal, estadual e municipal pertinentes que estabelecem os limites de emissões. No que diz respeito ao estabelecimento dos limites das emissões industriais, há a importante participação dos órgãos estaduais de meio ambiente na edição de regulamentações, tendo em vista seu papel preponderante no licenciamento e na fiscalização dessas atividades e o conhecimento empírico que detêm da realidade de seus territórios. Além disso, participam ativamente das discussões os representantes da indústria brasileira, dos governos municipais e da sociedade civil, propiciando resoluções baseadas na realidade do país e com a colaboração de todos os setores. O Ibama também possui importante papel no licenciamento ambiental, devendo alguns empreendimentos serem licenciados por este órgão, tais como: Tome nota Tanto a Resolução Conama nº 382/2006 como a Resolução nº 436/2011 atrelaram o uso dos limites de emissão à manutenção ou restauração da qualidade do ar, fazendo explícita menção à necessidade de que sejam associados à capacidade de suporte do meio. Essas resoluções explicitam que “O órgão ambiental licenciador poderá, mediante decisão fundamentada, determinar limites de emissão mais restritivos que os aqui estabelecidos em áreas onde, a seu critério, o gerenciamento da qualidade do ar assim o exigir” (IEMA, 2012). Áreas nas fronteiras do Brasil; Mar Territorial ou Plataforma Continental; Terras indígenas; Domínio da União; Localizado em dois ou mais Estados; Impacto direto ultrapassa um Estado ou limites territoriais do País; Relacionado com material radioativo; Gestão da Qualidade do ar 37 Saiba Mais O Ibama possui também o Guia de Emissões de Poluentes Atmosféricos para preenchimento do Cadastro Técnico Federal – CTF, que deve ser preenchido pelos estabelecimentos que emitiram poluentes atmosféricos por meio de uma chaminé e que exerceram pelo menos uma das atividades listadas no Anexo, no período de 1 de janeiroa 31 de dezembro do ano ao qual o relatório se refere (Instrução Normativa Ibama 06/2014, disponível em: https://servicos.ibama.gov.br/phocadownload/manual/guiageral_rapp_2014_v2.pdf) Utilização de energia nuclear e Empreendimentos militares. https://servicos.ibama.gov.br/phocadownload/manual/guiageral_rapp_2014_v2.pdf) Gestão da Qualidade do ar 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA H. 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Acesso em 15 jun. 2021. 39 AULA 03 MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR Gestão da Qualidade do ar 40 3.1 HISTÓRICO DO MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR NO BRASIL O marco inicial da regulamentação da poluição do ar no Brasil, de abrangência nacional, ocorreu com a Portaria do então Ministério do Interior n° 0231, de 27/4/76, que estabeleceu padrões de qualidade do ar para partículas totais em suspensão, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e oxidantes fotoquímicos, bem como os respectivos métodos de referência para realizar o monitoramento. Este primeiro fundamento legal fortaleceu as ações de monitoramento já existentes no Rio de Janeiro e em São Paulo, e estimulou a criação destas ações em outros centros urbano-industriais, propiciando, desta forma, o desenvolvimento dos primeiros planos e programas estaduais de monitoramento e controle da poluição do ar, que mais tarde inspirariam as regulamentações do governo federal. Com base nas disposições da Lei n. 6.938 de 1981, o Conama revisou a Portaria n. 0231, acrescentando os poluentes fumaça, partículas inaláveis e dióxido de nitrogênio. Foram estabelecidos também padrões primários e secundários para a exposição de curto e longo prazo para cada um dos poluentes, assim como seus métodos de referência. No Rio de Janeiro, segundo divulgado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEA), o monitoramento ocorre desde 1967, ano em que foram instaladas as primeiras estações manuais de amostragem de material particulado total (INEA, 2017). O monitoramento da qualidade do ar no Estado de São Paulo teve início em 1972, com a instalação de 14 estações manuais para medição diária dos níveis de dióxido de enxofre (SO2) e fumaça preta na Região Metropolitana de São Paulo. Em 1981, foi dado um salto qualitativo, com o início do monitoramento automático e a instalação de novas estações, para a avaliação de SO2, material particulado inalável (MP10), ozônio (O3), óxidos de nitrogênio (NO, NO2 e NOx), monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos não metânicos (NMHC), além dos parâmetros meteorológicos, como direção e velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar (CETESB, 2021). Na década de 80, a meteorologia evoluiu, sendo aprovados os primeiros modelos matemáticos, que simulavam a dispersão dos poluentes atmosféricos. Além disso, os métodos de amostragem e análise de poluentes foram aperfeiçoados e o monitoramento, tanto das fontes de emissão, quanto da qualidade do ar, foram disseminados pelo Brasil e pelo mundo, dada a enorme variedade de equipamentos de medição desenvolvidos para tal. Em 1989 foi criado o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (Pronar), pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da Resolução Conama nº 05 de 15 de junho de 1989. O estabelecimento do programa ocorreu devido à percepção do acelerado crescimento urbano e industrial brasileiro e da frota de veículos automotores; do progressivo aumento da poluição atmosférica, principalmente nas regiões metropolitanas; dos seus reflexos negativos sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente; das perspectivas de continuidade destas condições e, da necessidade de se estabelecer estratégias para o controle, preservação e recuperação da qualidade do ar, válidas para todo o território nacional. Novas redes foram criadas entre o fim da década de 80 e a década de 90, como a Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar do Polo Industrial de Camaçari (Bahia), financiada pelas empresas do Polo; da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), no Rio Grande do Sul, dentre outras. Gestão da Qualidade do ar 41 Tome nota O primeiro dispositivo legal decorrente do Pronar foi a Resolução Conama nº 03, de 28 de junho de 1990, que estabelecia os padrões nacionais de qualidade do ar. Esta resolução foi substituída em 2018 pela Resolução Conama nº 491, na qual o Art. 8o estabelece a elaboração do Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar, com o objetivo de uniformizar o monitoramentoda qualidade do ar no Brasil. O referido guia foi elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em conjunto com os órgãos ambientais estaduais e distrital, e apresenta todos os requisitos para instalação de uma rede de monitoramento da qualidade do ar. 3.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR O monitoramento da qualidade do ar é extremamente relevante, pois gera dados sobre a condição da qualidade do ar atual, constrói o histórico de dados e é a base para guiar o gerenciamento e avaliar a efetividade dos programas estabelecidos para gestão da qualidade do ar. Fazer monitoramento de emissões é avaliar e observar, continuamente, as variações da quantidade de determinado poluente que está sendo lançado na atmosfera, provenientes de fontes fixas e móveis. Com base nos resultados do monitoramento, podem ser tomadas decisões para melhorar a qualidade do ar e alertar a população sobre os riscos à saúde. Além do monitoramento, ressalta-se a transparência da informação, no que se refere aos resultados do monitoramento, pois é fundamental dar visibilidade aos problemas de poluição atmosférica e permitir que os diversos setores da sociedade os conheçam e se mobilizem pela melhoria da qualidade do ar (VORMITTAG et al, 2014). O monitoramento é um importante pilar da gestão da qualidade do ar, tornando possível a verificação do grau de exposição da população aos vários poluentes, além de propiciar o acompanhamento de tendências de médio e longo prazo para orientar a tomada de decisão e verificar a eficácia dos programas de controle e a necessidade de aprimoramentos (MMA, 2019). De acordo com o Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar (MMA, 2019), são dois os objetivos básicos de uma rede de monitoramento da qualidade do ar: Objetivo I Objetivo II Verificar o grau de exposição da população aos poluentes atmosféricos, considerando critérios de saúde pública Acompanhar tendências de médio e longo prazo para verificar a eficácia dos programas de controle, avaliando a necessidade de aprimoramentos. Para atingir esses objetivos, várias estratégias podem ser adotadas, tais como: Gestão da Qualidade do ar 42 Além destes, as redes de monitoramento podem incorporar outros objetivos e estratégias, de acordo com necessidades específicas, visando aprimorar o conhecimento da situação local. Existem vários métodos disponíveis para o monitoramento; sua seleção depende de muitos fatores, desde o objetivo do monitoramento, da capacidade de investir em sua aquisição e manutenção, até do modelo de gestão, que pode ter diferentes formatos, envolvendo os órgãos ambientais diretamente ou por meio do apoio financeiro do setor industrial, como ocorre no Polo Industrial de Camaçari, onde as empresas são responsáveis pela rede de monitoramento da qualidade do ar situada em seu entorno. Os principais métodos de monitoramento são: Exemplo Essas necessidades podem incluir, por exemplo, o levantamento de dados e informações sobre os fatores que influenciam na qualidade do ar, assim como os impactos da concentração de poluentes em populações vulneráveis, os efeitos na fauna, na vegetação, nos cultivos e nos materiais, entre outras variáveis relevantes. 3.2.1 MÉTODOS DE MONITORAMENTO Amostradores Passivos Dispositivos, em geral, na forma de tubos ou discos, que absorvem ou adsorvem poluentes específicos através de uma reação química. Após certo tempo de exposição (de poucas horas a um mês), a amostra é analisada em laboratório. Essa metodologia pode ser aplicada a uma grande variedade de poluentes como NH3, BTX (benzeno, tolueno e xileno), SO2, NOX, O3, HF, HCl, aldeídos e compostos orgânicos voláteis. Alocar instrumentos com o objetivo de determinar as concentrações mais altas de poluen- tes esperadas para a área de estudo, com a premissa de que o restante da população dessa área estará exposta a um ar com qualidade melhor do que a verificada no local de maior concentração; Verificar as características da área durante o planejamento, tais como reclamações da po- pulação, tamanho da frota de veículos e estimativas de emissões de fontes fixas; Determinar as concentrações representativas das áreas de maior densidade populacional, como forma de conhecer a qualidade do ar que a maior parte da população respira; Determinar os níveis gerais de concentração de poluentes na região, a chamada concen- tração de fundo ou, em inglês, background concentration. Gestão da Qualidade do ar 43 Figura 14: Amostradores passivos. Figura 15: Amostradores passivos em campos. Foto: Maxxam. Foto: Maxxam. Os três amostradores passivos apresentados na Figura 14, instalados dentro de um abrigo para protegê-los da chuva, são baseados em difusão molecular, segundo a Lei de Fick. Cada um deles serve para medir um poluente específico, e consiste em um corpo cilíndrico de polietileno, fechado no fundo para evitar transporte convectivo, que produz erros nas concentrações do gás amostrado. A figura 15 mostra os dispositivos instalados em campo. Suas principais vantagens são seu baixo custo, a existência de amostradores para uma vasta gama de poluentes, e o fato de não necessitarem de energia elétrica. Porém não possuem resolução temporal, ou seja, não fornecem dados para curtos períodos de exposição em tempo real. Biomonitores O biomonitoramento serve para avaliar o impacto dos poluentes no ambiente, e complementa as informações obtidas sobre a qualidade do ar. Fundamenta-se na capacidade que todo ser vivo tem de responder às alterações impostas pelo ambiente. Os biomonitores são organismos ou um conjunto de organismos que reagem às variações ambientais por meio de alterações em suas funções vitais ou composição química, podendo ser utilizados para a avaliação da extensão das mudanças em seu ambiente (Arndt e Schweizer, 1991). Gestão da Qualidade do ar 44 Os biomonitores são geralmente plantas sensíveis à concentração de determinados poluentes, que podem apresentar mudanças em sua coloração natural quando submetidas a diferentes concentrações. Como exemplo, a figura 16 apresenta uma folha de tabaco submetida a altas concentrações de ozônio. Sua resposta típica são as manchas brancas na folha, que são contadas para avaliar o impacto do poluente. Tabaco é um excelente bioindicador para ozônio. Figura 16: Folha de tabaco submetida a altas concentrações de ozônio Foto: Neuza Neves A bioindicação ou biomonitoramento é a única estratégia que permite a avaliação do efeito de poluentes nos sistemas biológicos, mas não exclui a necessidade de realização de análises físico-químicas. A figura 17 apresenta a exposição dos bioindicadores em campo. Figura 17: Exposição dos bioindicadores em campo Foto: Alessandra Argolo Carvalho. Métodos ativos ou manuais Diferenciam-se dos anteriores por requererem energia elétrica, necessária para bombear a amostra através de um meio de coleta, físico ou químico. Além disso, o tempo de amostragem é menor, variando de 24h a alguns dias. Poluentes gasosos usualmente reagem pela passagem da amostra em uma solução reagente, que é recolhida e analisada em laboratório através de técnicas como cromatografia gasosa ou espectrometria de massa. Essa técnica tem sido empregada para amostragem de SO2; NO2; amônia e H2S, porém são muito sujeitos a erros. A figura 18 apresenta um monitor manual, que pode medir os poluentes mencionados. Gestão da Qualidade do ar 45 Figura 18: Monitor manual Fonte: Energética Métodos automáticos ou contínuos São instrumentos que se baseiam nas propriedades físico-químicas dos poluentes (Ver Módulo III). A amostra é analisada em tempo real através de métodos óptico-eletrônicos como absorção de ultravioleta ou infravermelho, fluorescência, quimiluminescência etc. Além da análise imediata, esses monitores se diferenciam pela confiabilidade, acurácia, alto custo e por requererem alto padrão de manutenção,operação e controle de qualidade de procedimentos. A figura 19 apresenta um monitor automático de partículas. Figura 19: Monitor automático e contínuo para partículas PM10 Fonte: Enveea 3.3 IMPACTOS DA DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE DO AR A preocupação em monitorar a presença de poluentes no ar justifica-se pelos danos causados à saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 92% da população mundial vive em locais onde os níveis de qualidade do ar excedem os limites estabelecidos pela organização e três milhões de mortes por ano estão relacionadas à exposição à poluição do ar em ambientes Gestão da Qualidade do ar 46 externos, sendo que 90% delas ocorrem em países de baixa e média renda. O monitoramento da qualidade do ar no Brasil ainda é incipiente. Das 27 Unidades Federativas, apenas 12 (Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) realizam algum tipo de monitoramento e com grande variação da quantidade de estações em operação e dos poluentes monitorados. A distribuição das estações de monitoramento da qualidade do ar no país é apresentada na figura 20, de forma agregada e de forma regionalizada, a partir das informações obtidas junto aos órgãos gestores de cada Unidade Federativa. Saiba Mais Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima-se que cerca de 6 a 9 milhões de mortes prematuras ocorrerão por ano até 2060 em decorrência da poluição do ar. E de acordo com a OMS, apenas na Europa, a poluição atmosférica é responsável por um custo de 1,6 trilhão de dólares por ano em mortes e doenças, o que é equivalente a quase um décimo do produto interno bruto da região (ONU, 2015). Os números apresentados demonstram a importância do controle da qualidade do ar, que se inicia com o monitoramento, e dimensiona os impactos sociais e econômicos. 3.3.1 PANORAMA DO MONITORAMENTO NO BRASIL Figura 20: Distribuição das estações de monitoramento no Brasil e por região geográfica Elaboração MMA RS SC PR SP MS RJ Legenda Estação de monitoramento Limite estadual ES MG GO DF BA MT TO PE PI SE AL PB RN CEMA PA AP AM RR RO AC Legenda Região Sudeste Região Centro Oeste Região SulRegião Nordeste Estação de monitoramento Limite estadual BH SE AL PB PE RN PI MA CE RS SC PR RJ SP ES MG MT MS GO DF Gestão da Qualidade do ar 47 A representação especializada das estações de monitoramento permite constatar que há uma alta concentração na Região Sudeste, onde há uma maior concentração populacional e industrial. No Nordeste, três estados dispõem de estações de monitoramento (BA, CE e PE), assim como na região Centro-Oeste (DF, GO e MS). Na região Sul, dois estados fazem monitoramento (PR e RS), enquanto na região Norte nenhum estado dispõe de estação de monitoramento da qualidade do ar. Com o levantamento realizado pelo MMA em 2019, foi possível identificar 347 estações de monitoramento, distribuídas em 121 municípios. Comparando-se com os Estados Unidos, onde os dados sobre a qualidade do ar são disponibilizados aos cidadãos desde a década de 80 pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês, Environmental Protection Agency), em 2014 o país contava com cerca de 5.000 estações de monitoramento ativas. E na Europa, a Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA, em inglês, European Environment Agency) é o órgão ambiental que representa a União Europeia (UE), desde 1994. No ano de 2013 estavam mantidas 7.500 estações de monitoramento da qualidade do ar (VORMITTAG, 2014). Diante destes dados, ao estabelecer paralelo com políticas praticadas em outros países, verifica-se que no Brasil, o número de estações de monitoramento da qualidade do ar ainda é muito pequeno (SILVA e VIEIRA, 2017). A poluição do ar é um fenômeno dinâmico e complexo que apresenta, em geral, grandes variações no espaço e no tempo. Estas variações devem-se principalmente às condições meteorológicas que dispersam os poluentes, e que são, por sua vez, extremamente variáveis e influenciadas por outros fatores, como por exemplo, a topografia. Outra causa desta variação espaço-temporal é a variação na taxa de emissão dos diversos poluentes. Finalmente, as inúmeras transformações pelas quais os poluentes passam, seja sua reação com outros poluentes ou com a umidade ambiente, sedimentação, ou deposição, tornam este fenômeno ainda mais complexo. A gestão da qualidade do ar é, portanto, complexa, e envolve diagnóstico, planejamento e gerenciamento, em um ciclo que sempre se repete, pois, como mencionado anteriormente, a poluição do ar é um fenômeno dinâmico. As mudanças ocorrem devido à instalação de novas fontes, substituição de combustíveis, à situação econômica do Brasil e do mundo, que reduz ou aumenta a produção industrial, dentre outros. A gestão ambiental no Brasil teve seu início com o estabelecimento de legislações que evoluíram, passo a passo, dentro da realidade de cada época. Portanto, desde o licenciamento dos empreendimentos, conforme estabelece a Resolução Conama n. 1/1986, deve ser feita a gestão da qualidade do ar, sempre reavaliando o ciclo de sua gestão em busca da melhoria contínua. A figura 21 apresenta o ciclo da poluição do ar. 3.4 CICLO DA GESTÃO DA QUALIDADE DO AR Fonte de Emissão ReceptoresAtmosfera Poluentes Reações Químicas Diluição R e p r e s e n t a ç ã o M M A Figura 21: Ciclo da poluição do ar Gestão da Qualidade do ar 48 O ciclo da gestão da qualidade do ar deve atuar em todas estas fases, e sempre voltando às fontes de emissões, causa principal da poluição do ar. Os inventários de emissões devem ser sempre revistos, bem como a aplicação dos modelos matemáticos. A concentração de um poluente no ar é o resultado final de processos complexos, sujeitos a vários fatores, que compreendem não só a emissão pelas fontes como, também, suas interações físicas (diluição) e químicas (reações) na atmosfera. A caracterização climatológica da região de estudo é fundamental, uma vez que a interação entre as fontes de poluição e as condições atmosféricas é que define a qualidade do ar regional. O ciclo de gestão da qualidade do ar se inicia e se retroalimenta com o monitoramento da qualidade do ar, uma vez que essa é a grande ferramenta de avaliação das estratégias adotadas durante todo o processo de gestão. Como exemplos de sucesso internacional podem ser citados o caso da Airparif1 na França e o caso de redução de emissões veiculares em Londres. A Airparif é uma organização sem fins lucrativos credenciada pelo Ministério do Meio Ambiente francês para monitorar e avaliar continuamente a qualidade do ar na região de Paris. Seus objetivos principais são: Em Londres diversas medidas foram tomadas pelo governo local para reduzir as emissões e concentrações de poluentes atmosféricos devido à utilização de veículos, entre essas medidas pode-se destacar: Exemplo Como exemplo, no Polo Petroquímico de Camaçari, o inventário é revisado a cada dois anos para avaliar as mudanças que ocorrem na região, como a instalação de novas indústrias (novas fontes de emissões) ou fechamento de outras, a substituição de combustíveis, a instalação de equipamentos de controle, entre outros. A modelagem também é realizada a cada dois anos, para avaliar a localização das estações de monitoramento do ar, algumas delas, inclusive, já foram realocadas em função deste ciclo de gestão. 3.5 ESTUDO DE CASO DE MONITORAMENTO CONTÍNUO DE POLUENTES E SEUS IMPACTOS Taxa de congestionamento – a taxa de congestionamento é uma taxa diária de 15 libras, aplicável caso se dirija dentro da zona de taxa de congestionamento; Monitorar a qualidade do ar; Prever episódios de poluição; Avaliar o impacto das medidas de redução de emissões; e Informar as autoridades e os cidadãos (diariamente durante uma ocorrência). Gestãoda Qualidade do ar 49 Como já mencionado, a importância do monitoramento é enorme, pois é por meio deste que são registradas as tendências e a evolução das concentrações, demonstrando a necessidade de controle da poluição. Como exemplo nacional destaca-se o caso de monitoramento contínuo e o impacto da qualidade do ar do Município de Cubatão/SP, que já foi reconhecido como o lugar mais poluído do mundo, quando eram lançadas cerca de 1.000 toneladas de poluentes por dia no ar, especialmente partículas e SO2 (BBC, 2017), e hoje, graças à adoção de medidas corretivas e preventivas, como a proibição de instalar novas fontes de poluentes ou aumentar a produção industrial, reduziram muito as concentrações de poluentes no ar, como apresentam os gráficos 2 a 4 a seguir. “Tirar o Brasil do atraso”, este era o projeto a ser realizado pelo governo Juscelino Kubitschek a partir de 1956 em Cubatão, localizado na Região Metropolitana da Baixada Santista, próximo à Serra do Mar. Surgiram, então, muitas indústrias, responsáveis por transformações no ramo petroquímico, siderúrgico e de fertilizantes, que começaram a interferir, direta e indiretamente, na cidade, sem se preocupar com o meio ambiente e com a saúde da população. Desde então, a fonte de renda de Cubatão é o Polo industrial. Essa despreocupação com o entorno rendeu à cidade o cognome de “Vale da Morte”, principalmente a partir do início da década de 80, quando muitas crianças começaram a nascer anencefálicas em Cubatão. A cidade vivia um caos quando, em 1983, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) começou a promover ações a fim de recuperar a qualidade de vida na região. Entre as décadas de 80 e 90 as concentrações de poluentes caíram muito, graças aos Planos de Controle já consolidados, e as ações previstas no Plano de Redução das Emissões de Fontes Estacionárias (PREFE) (CHENG, 2015). Fonte: Protottipo, 2012. Figura 22: Indústria situada em Cubatão Zona de Baixa Emissão (LEZ, na sigla em inglês) – essa zona foi implantada para encorajar os veículos pesados a diesel, mais poluentes, que dirigem em Londres, a se tornarem mais limpos. Zona de emissão ultrabaixa (ULEZ, na sigla em inglês) – nessa zona são permitidos somen- te veículos com baixas emissões, auxiliando na redução das emissões veiculares na parte central de Londres. Gestão da Qualidade do ar 50 A qualidade do ar em Cubatão é determinada principalmente pelas fontes industriais. Atualmente as altas concentrações de PM10 são medidas em Cubatão, quase exclusivamente, na área industrial, medidas pela estação Cubatão – Vila Parisi, onde o padrão anual de 40 µg/ m3 ainda é ultrapassado. As concentrações na área urbana (estação Cubatão - Vale do Mogi) caíram muito, e atendem ao padrão anual desde 2016, como pode-se observar nos gráficos 2 a 4, e são semelhantes às concentrações medidas em alguns bairros da Região Metropolitana de São Paulo. O Gráfico 2 apresenta a evolução das concentrações médias anuais de MP10 para as estações da Baixada Santista, inclusive Cubatão - Vila Parisi e Cubatão - Vale do Mogi, para o período de 2010 a 2019, observa-se uma tendência de queda significativa das concentrações para este poluente nas duas estações de Cubatão e também nas demais estações. Somente na estação Cubatão – Vila Parisi, o padrão anual de 40 µg/m3 ainda é ultrapassado. Nos últimos três anos, as concentrações médias anuais destas duas estações mantiveram- se praticamente estáveis. A queda ocorrida nos anos anteriores, bem como a manutenção nos últimos pode estar relacionada às condições meteorológicas mais favoráveis observadas na região, bem como à manutenção da paralisação parcial de alguns processos industriais de empresas locais. Na área central de Cubatão, como apresenta o Gráfico 3, no ano de 2019, em 95,6% do ano a qualidade do ar foi Boa para PM10. Este percentual tem se mantido nesta faixa nos últimos 5 anos. Fonte: Cetesb, 2020 Gráfico2: Evolução das concentrações médias anuais de PM10 na Baixada Santista 2010 0 M P1 0( µ g/ m 3) 20 40 60 100 120 80 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Cubatão - Centro (A) Santos (A) Cubatão - Vale Mogi (A) Santos - Praia da Praia (A) Cubatão - Vale Parisi (A) Santos - Vincente de Carvalho (A) Gestão da Qualidade do ar 51 Gráfico 3: Distribuição Percentual de Partículas Inaláveis (PM10) em Cubatão - Centro Na área industrial, conforme demonstrado no Gráfico 4, a situação é diferente, apesar da melhora em relação aos anos de 2015 e 2016, em 2019, a qualidade do ar para Partículas Inaláveis (MP10) foi Boa em apenas 40% do tempo. 0% 25% 75% 50% 100% 2015 2016 2017 2018 2019 Boa Moderada Ruim 90% 10% 95,9% 3,8% 0,3% 97,2% 2,8% 98,9% 1,1% 95,6% 4,4% Fonte: Cetesb, 2020 Fonte: Cetesb, 2020 Gráfico 4: Distribuição Percentual de Partículas Inaláveis (PM10) em Cubatão - Vila Parisi 0% 25% 75% 50% 100% 2015 2016 2017 2018 2019 Boa Moderada Ruim Muito Ruim Ruim 44,8% 41,2% 1,1% 3,3% 24,7% 15,6% 17,1% 16,5% 17,7% 11,1% 16,7% 12,6% 30% 38,6% 41,2% 40% 42,5% 38,2% 39,1% 3,3% 3,5%3,5% 4,4%4,4% Gestão da Qualidade do ar 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNDT, U e SCHWEIZER, B. The use of bioindicators for environmental monitoring in tropical and subtropical countries. In: Ellenberg H, Arndt V, Bretthauer R, Ruthsatz B, Stenbing L (eds), Biological monitoring - signals from the environment, pp.199-260. 1991. BBC, BBC News Brasil. Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta na poluição, 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39204054. CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Qualidade do ar – Histórico. São Paulo, SP, 2021. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/ar/#:~:text=O%20monitoramento%20da%20qualidade%20do,SO2)%20 e%20fuma%C3%A7a%20preta. CHENG, M. S. C. Desafios da gestão da qualidade do ar: dinâmicas e padrões de qualidado do ar no Município de Cubatão e entorno. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo (USP), 2015. Disponível em: https://www. teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6139/tde-30082016-160115/publico/MonicaSilveiraECostaCheng.pdf. INEA, Instituto Estadual do Ambiente. Plano de Ação do Banco de Projetos Ambientais. Rio de Janeiro, RJ, 2017. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2020/08/Projeto.INEA_.01.17- Manuten%C3%A7%C3%A3o-da-rede-semiautom%C3%A1tica-de-monitoramento-da-qualidade-do-ar.pdf MMA, Ministério do Meio Ambiente. Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-de-conteudo/mma-guia-tecnico-qualidade- do-ar-pdf ONU, Organização das Nações Unidas. Poluição do ar custa US$ 1,6 trilhão por ano aos países da Europa, 2015. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2015/04/1510161-poluicao-do-ar-custa-us-16-trilhao-por-ano-aos- paises-da-europa PROTOTTIPO. Cubatão: do vale da morte ao vale da vida, 2012. Disponível em: https://protottipo.wordpress. com/2012/12/16/cubatao-do-vale-da-morte-ao-vale-da-vida/ SILVA, A.F. e VIEIRA, C.A. Aspectos da poluição atmosférica: Uma reflexão sobre a qualidade do ar nas cidades brasileiras, 2017. VORMITTAG, E. M. et al. Monitoramento da qualidade do ar no Brasil. São Paulo: Instituto Saúde e Sustentabilidade, 53 AULA 04 MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA COMPETÊNCIAS E LEGISLAÇÃO RELACIONADAS À QUALIDADE DO AR NO BRASIL Gestão da Qualidade do ar 54 4.1 COMPETÊNCIAS RELACIONADAS À GESTÃO DA QUALIDADE DO AR NO BRASIL É da competência da União o estabelecimento dos padrões nacionais da qualidade do ar, que são considerados como parâmetros mínimos a serem atendidos em todo o país, de acordo com a competência normativa constitucional concorrente sobre o meio ambiente (inciso VI do art. 24, CRFB/88). Os estados e o Distrito Federal têm o poder de estabelecer osseus próprios padrões de qualidade do ar, desde que mais restritivos do que os nacionais. No nível federal, compete ao CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), a definição e revisão dos padrões de qualidade do ar. O papel do Ministério do Meio Ambiente nesse processo se configura na formulação de políticas públicas e na coordenação de ações para produção de informações aplicáveis na gestão da qualidade do ar. O quadro 4 sistematiza as competências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no que se refere à gestão da qualidade do ar. Quadro 4: Competências em Relação à Gestão da Qualidade do Ar Entes Fedetativos Órgãos Atuação União Estado MMA CONAMA Órgão central, com a função de planejar, supervisionar e controlar as ações referentes à qualidade do ar em âmbito nacional; Consolidar as informações disponibilizadas pelos órgãos ambientais estaduais e distrital referentes ao Plano de Controle de Emissões Atmosféricas e Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar; Elaborar, em conjunto com os órgãos ambientais estaduais e distrital, guia técnico para fins de monitoramento da qualidade do ar; Elaborar relatório anual de acompanhamento e apresentá-lo na última reunião ordinária do Conama do ano; Divulgar, em sua página da internet, dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da qualidade do ar. IBAMA Promover a adequada gestão da qualidade do ar em seu território; Promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabele- cimento de padrões de qualidade do ar; Proceder o licenciamento ambiental com observância à LC nº 140/2011; Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais; Divulgar os dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da qualidade do ar; Executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Nacional do Meio Ambiente e demais políticas nacionais relacionadas à proteção ambiental; Formular, executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, os padrões de qualidade do ar; Promover, no âmbito estadual, a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pú- blica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental; Articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambien- te; Promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à qualidade do ar, divulgando os resultados obtidos; Formular, com a colaboração dos órgãos municipais, os Planos de Controle de Emissões Atmosféricas; Estabelecer critérios aplicáveis ao licenciamento ambiental observando, no mínimo, os padrões de qualidade do ar nacional constantes na Resolução CONAMA nº 491/2018; O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é autarquia federal, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente; Exercer o poder de polícia ambiental federal e executar ações de meio ambiente referentes às atribuições federais de licenciamento ambiental, controle da qualidade ambiental, autorização de uso dos recursos naturais e fiscalização, monitoramento e controle ambiental; Entidade responsável pelo gerenciamento do Pronar e pelo apoio na formulação dos programas de controle, avaliação e inventário que o instrumentalizam. Órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente; Definir e revisar os padrões de qualidade do ar. Órgãos Seccionais: entidades estaduais responsáveis pela execução ambiental nos estados, ou seja, as secretarias estaduais de meio ambiente e as instituições criadas para defesa ambiental Gestão da Qualidade do ar 55 Reprodução MMA 4.1.1 PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL E ACADEMIA A busca pela redução da poluição do ar em uma cidade ou região pode levar anos ou mesmo décadas, como ocorre em Cubatão (SP). É um desafio multidisciplinar, que envolve áreas diferentes como saúde pública, mobilidade urbana, planejamento urbano, além da comunicação, legislação e análises de dados, entre outras. Cada cidade ou região apresenta realidade específica sendo um grande desafio encontrar soluções particulares para cada local. Melhorar a qualidade do ar requer uma ação integrada entre diversos setores, como por exemplo, academia, institutos de pesquisa, setores público e privado, além da participação da sociedade civil. A sociedade civil atua na identificação de falhas nas políticas de qualidade do ar, enquanto a academia e institutos de pesquisa buscam conhecer e divulgar a real dimensão do problema, além de apontar as soluções. Se a multidisciplinaridade pode ser considerada um fator que dificulta a busca da redução da poluição do ar, ela também pode ser apontada como um ponto positivo quanto à oportunidade de criação de soluções para o problema, uma vez que seja superado o desafio da integração e articulação dos diversos grupos envolvidos com a questão ambiental. Tome nota O acesso a dados confiáveis, atualizados e compreensíveis é um desafio significativo, especialmente nos níveis municipal e estadual em relação à qualidade do ar e às fontes de emissões. Legislar sobre assuntos de interesse local observando, no mínimo, os padrões nacionais aplicáveis ao gerencia- mento da qualidade do ar; Suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber, quanto ao controle de emissões de poluentes; Promover o adequado gerenciamento da gestão da qualidade do ar em seu território; Promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabele- cimento de padrões de qualidade do ar; Proceder o licenciamento ambiental com observância à LC nº 140/2011; Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais. Elaborar e divulgar, anualmente, com a colaboração dos órgãos municipais competentes, o Relatório de Avalia- ção da Qualidade do Ar; Prestar informações à União para a consolidação das informações disponibilizadas; Elaborar, com base nos níveis de atenção, de alerta e de emergência, um Plano para Episódios Críticos de Polui- ção do Ar; Divulgar, em sua página da internet, dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da qualidade do ar e o Índice de Qualidade do Ar; Promover adequado gerenciamento da gestão da qualidade do ar em seu território; Promover adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabeleci- mento de padrões de qualidade do ar; Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais. Municípios Órgãos locais ou entidades municipais Gestão da Qualidade do ar 56 4.2 ARCABOUÇO JURÍDICO REFERENTE À QUALIDADE DO AR NO BRASIL 4.2.1 HISTÓRICO A preocupação em proteger a saúde pública dos efeitos causados pela poluição do ar é antiga no país. Existe desde 1941, quando a lei de Contravenções Penais – Decreto no 3.688 -, em seu artigo 38, já considerava uma violação “provocar abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou gás, que possa ofender ou molestar alguém”. Para alcançar seus objetivos, além de prever regras gerais sobre conservação e preservação da biodiversidade e controle de outras formas de poluição (hídrica e do solo), a PNMA traz as diretrizes gerais de suporte, direto ou indireto, àquelas que devem compor as principais medidas de gestão da qualidade do ar, tais como: monitoramento, padrões de qualidade do ar, zoneamento ambiental, recuperação de áreas degradadas, controle de fontes de emissão, desenvolvimento tecnológico-científico e informação ambiental. A PNMA também criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que deu origem à estrutura institucional sob a qual se dá o ordenamento da atuação dos órgãos ambientais da União, dos Estados e dos Municípios, e o Conselho Nacionalde Meio Ambiente (Conama), ao qual foi atribuído competências consultivas e normativas. As disposições da PNMA têm sido continuamente normatizadas por meio de Resoluções do Conama, das quais destacam-se como marcos para o controle da poluição do ar: Legislação Foi com publicação da Portaria nº 231, de 1976, do Ministério do Interior, que a legislação sobre a poluição do ar começou a ser implementada no território nacional, remetendo aos estados a responsabilidade de monitorar os poluentes para os quais foram estabelecidos padrões: partículas totais em suspensão, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e oxidantes fotoquímicos, bem como os respectivos métodos de referência para realizar o monitoramento. A proteção da qualidade do ar no país encontra respaldo legal tanto na Constituição Federal de 1988 quanto na legislação ordinária, tendo como corolário a Lei nº 6.938/1981 que delimita os objetivos, princípios e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). A Resolução nº 05/1989, que institui o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (Pronar); As Resoluções nº 382/2006 e nº 436/2011, que estabelecem os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas; Os Programas de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - Proconve (auto- móveis, caminhões, ônibus e máquinas rodoviárias e agrícolas) e por motociclos e veículos similares - Promot, que têm como objetivo reduzir e controlar a contaminação atmosférica Gestão da Qualidade do ar 57 4.2.2 PROGAMA NACIONAL DE CONTROLE DA POLUIÇÃO DO AR 4.2.3 RESOLUÇÕES CONAMA Nº 382/2006 E Nº 436/2011 Os itens seguintes fornecem mais informações sobre esses marcos para o controle da poluição do ar. A principal estratégia do Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (Pronar) é limitar, a nível nacional, as emissões por tipologia de fontes e poluentes prioritários. Na Resolução Conama nº 05/1989 (que trata do Pronar) os limites de emissão ganharam destaque por terem sido colocados como principal instrumento de controle da poluição atmosférica. Tais limites são regulados e detalhados pelas Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011, que tratam, respectivamente, dos limites aplicados às fontes novas e às fontes já existentes até 2007. As estratégias definidas no Pronar são as seguintes: estabelecimento de limites máximos de emissão; adoção de padrões nacionais de qualidade do ar; monitoramento da qualidade do ar; gerenciamento do licenciamento de fontes de poluição do ar; inventário nacional de fontes e poluentes do ar; gestões políticas; desenvolvimento nacional na área de poluição do ar; e ações de curto, médio e longo prazo. As Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 determinam ao órgão ambiental licenciador o atendimento a critérios mínimos para o estabelecimento dos limites de emissão para várias tipologias de fontes e poluentes. Anteriormente, vigorava, no nível federal, apenas a Resolução Conama nº 08/1990, restrita ao estabelecimento de limites de emissão para processos de combustão interna. As Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 atrelaram o uso dos limites de emissão à manutenção ou restauração da qualidade do ar, fazendo explícita menção à necessidade de que sejam associados à capacidade de suporte do meio. Por esse motivo, essas resoluções explicitam que “o órgão ambiental licenciador poderá, mediante decisão fundamentada, determinar limites de emissão mais restritivos que os estabelecidos na resolução em áreas onde, a seu critério, o gerenciamento da qualidade do ar assim o exigir”. O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) e o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) foram criados pelo 4.2.4 PROCONVE E PROMOT e a emissão de ruído por fontes móveis (veículos automotores), fixando prazos, limites má- ximos de emissão e estabelecendo exigências tecnológicas para veículos automotores, na- cionais e importados; A Resolução nº 491/2018, que revogou a Resolução nº 03/1990 e os itens 2.2.1 e 2.3 da Resolução Conama nº 05/1989, e que dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Gestão da Qualidade do ar 58 Conama por meio das Resoluções nº 18/1986 e nº 297/2002, respectivamente, que estabeleceram diretrizes, prazos e padrões legais de emissão para as diferentes categorias de veículos automotores (fontes móveis de emissões atmosférica), nacionais e importados, com o objetivo de contribuir para o atendimento aos padrões de qualidade do ar instituídos pelo Pronar. O vertiginoso crescimento do segmento das motocicletas e veículos similares nos últimos anos no país e seu perfil de utilização, especialmente no segmento econômico de prestação de serviços de entregas em regiões urbanas, tornou necessário o estabelecimento de um programa específico para o controle das emissões dessa categoria de veículo automotor, devido aos seus elevados fatores de emissão, quando comparados aos automóveis novos (MMA, 2013). Nas grandes metrópoles a preocupação com a poluição das motocicletas é ainda maior. Estima-se que, enquanto um carro percorre em média 30 quilômetros por dia, as motos de entrega percorrem até 180 quilômetros, poluindo tanto quanto 120 automóveis (MMA, 2013). Alguns dos principais resultados alcançados pelos programas Proconve/Promot são: Para atingir o objetivo de reduzir os níveis de emissão de poluentes pelos diferentes veículos comercializados no mercado brasileiro foram estabelecidos padrões de emissão, basicamente para: Tais padrões foram se tornando mais restritivos ao longo dos anos, agrupados nas denominadas “fases do Proconve”. As fases foram introduzidas em intervalos de tempo irregulares, tanto aquelas que estabeleciam as emissões dos veículos leves como as dos veículos pesados. Exemplo Para atender os limites de emissão em consonância com a evolução das fases de controle estabelecidas pelo Proconve, os veículos incorporaram uma série de itens tecnológicos, como por exemplo, a substituição do uso do carburador, dispositivo utilizado para a formação da mistura carburante (ar e combustível) nos veículos leves equipados com motores do ciclo Otto. Modernização do parque industrial automotivo brasileiro; Adoção, atualização e desenvolvimento de novas tecnologias; Melhoria da qualidade dos combustíveis automotivos; Diversificação do parque industrial; e Redução, na fonte, da emissão de poluentes (IBAMA, 2017). Veículos leves (L), que incluíam automóveis de passageiros e veículos leves comerciais, e Veículos pesados (P), que incluíam caminhões e ônibus. Gestão da Qualidade do ar 59 Em meados da década de 1990, para atender as fases L2 e L3 do Proconve, o carburador foi substituído pela injeção eletrônica, que proporciona uma dosagem mais precisa do volume de combustível disponibilizado na câmara de combustão do motor e em conjunto com a ignição eletrônica, um controle maior da queima da mistura e redução significativa das emissões. Esse controle permite o uso do catalisador, equipamento de tratamento dos gases da exaustão de alta eficiência que reduz de forma significativa a emissão dos veículos. Tecnologia similar foi adotada nos veículos pesados somente em meados dos anos 2000 (injeção de diesel com controle eletrônico) e, em 2012, adotou-se de forma generalizada o catalisador nessa categoria, com a utilização da tecnologia SCR (Selective Catalyst Reduction), responsável pela redução do principal poluente dos veículos diesel, o NOx. O Conama publicou em 2018 as Resoluções nº 490 e nº 492, que trazem as novas fases do Proconve L7 e P8, que entrarão em vigor a partir de 2022. A nova fase L7 trará redução significativa dos vapores de combustíveis que são emitidos para a atmosfera, enquanto a fase P8 deve reduzir significativamente a emissão dos óxidos de nitrogênio. Essas duas ações se complementam e devem contribuir para a redução daformação dos compostos de oxidação na atmosfera dos grandes centros urbanos, sobretudo do ozônio. A nova fase L8 vigorará a partir de 2025 e traz uma mudança metodológica para aprovação nos processos de licenciamento, que deixará de ser por modelo de veículo e passará a ser pela média corporativa, exigindo que os veículos comercializados de uma empresa apresentem uma média de emissão que atenda limites progressivamente mais restritivos. Assim, se induz à produção de veículos de emissão zero (como os veículos elétricos), que compensem a produção de veículos que sejam mais emissores.¹ A inspeção veicular ambiental é um dos programas de instrumentalização do Pronar. Este instrumento é voltado para a redução das emissões veiculares, e está previsto no artigo 104 da Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro: Saiba Mais Nos links a seguir podem ser acessadas as Informações Técnicas que detalham o escopo dessas resoluções, bem como as justificativas e estimativas do ganho ambiental a ser alcançado com a sua implementação. IT 10-18-ETH_ET – Análise proposta P8 aprovada no CONAMA IT 11-18-ETH_ET – Análise proposta L7 e L8 aprovada no CONAMA 4.2.5 INSPEÇÃO VEICULAR AMBIENTAL https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/p8.pdf https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/l7.pdf Gestão da Qualidade do ar 60 Legislação “Art. 104. Os veículos em circulação terão suas condições de segurança, de controle de emissão de gases poluentes e de ruído avaliadas mediante inspeção, que será obrigatória, na forma e periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN para os itens de segurança e pelo Conama para emissão de gases poluentes e ruído”. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) é o coordenador do Sistema Nacional de Trânsito e órgão máximo normativo e consultivo, tendo por finalidade estabelecer as normas regulamentares do Código de Trânsito Brasileiro e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito. O Ministério do Meio Ambiente integra o Contran, conforme lhe confere a Lei nº 9.503/1997, Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 10, VI. O Conama estabeleceu os critérios para a inspeção de emissão de poluentes por veículos na Resolução nº 418/2009, dispondo que os órgãos ambientais estaduais e do Distrito Federal devem elaborar Planos de Controle de Poluição Veicular (PCPV). A inspeção ambiental de veículos consiste na avaliação periódica, compulsória e vinculada ao licenciamento, realizada por profissionais especializados em instalações exclusivas, com equipamentos e sistemas especiais para a inspeção. Nessas instalações são verificados o estado de conservação, o funcionamento correto e as emissões de gases e fumaça dos veículos (CETESB, 2017). O programa pressupõe que o veículo que sofre manutenção e é inspecionado periodicamente tende a manter as emissões em níveis próximos aos especificados, ainda que se considere a deterioração natural dos componentes e o consequente aumento das emissões. O resultado esperado com a inspeção ambiental veicular é a redução da carga de poluentes lançada na atmosfera, correspondente àquela parcela gerada pela falta de manutenção dos veículos. Outro benefício é a manutenção de um perfil de emissões da frota conhecido e, portanto, mais suscetível à gestão por outros instrumentos, tais como a introdução de padrões mais restritivos, políticas com vistas à redução da média etária e à limitação da circulação em áreas específicas (CETESB, 2017). A inspeção ambiental é obrigatória em dezenas de países, com resultados estimados de redução das emissões na faixa entre 5% e 30% para hidrocarbonetos e monóxido de carbono e acima de 10% para NOx, conforme a sofisticação do programa (CETESB, 2017). Em 2019, uma pesquisa foi realizada pelo MMA demonstrando que 20 das 27 unidades da federação (74%) possuíam seus PCPV atualizados: Acre, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. A Resolução Conama nº 491/2018, que dispõe sobre padrões de qualidade do ar, revogou a Resolução nº 03/1990. De acordo com essa resolução, o padrão de qualidade do ar é um dos 4.3 PADRÕES DE QUALIDADE DO AR - RESOLUÇÃO Nº 491/2018 Gestão da Qualidade do ar 61 instrumentos de gestão da qualidade do ar, determinado como valor de concentração de um poluente específico na atmosfera, associado a um intervalo de tempo de exposição, para que o meio ambiente e a saúde da população sejam preservados em relação aos riscos de danos causados pela poluição atmosférica. As diretrizes recomendadas pela OMS levam em conta essa heterogeneidade e, em particular, reconhecem que, ao formularem políticas de qualidade do ar, os governos devem considerar cuidadosamente suas circunstâncias locais antes de adotarem os valores propostos como padrões nacionais (OMS, 2006). Devido a claras evidências dos danos que a poluição do ar inflige à saúde humana, a OMS publicou em setembro de 2021 novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar (AQG, na sigla em inglês). Novos valores-guia para partículas (PM2,5 e PM10), ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono recomendados foram ainda mais baixos que os anteriores. O progresso de melhoria da qualidade do ar pode ser gradual, marcado pelo cumprimento de metas provisórias, considerando como indicador crítico a melhoria das condições de saúde das populações. O objetivo final na implementação das diretrizes deve vislumbrar melhoria nos índices de qualidade do ar (OMS, 2019). Segundo a Resolução Conama nº 491/2018 os padrões nacionais de qualidade do ar são divididos em duas categorias: A Resolução traz ainda, em seu artigo 4º, a aplicação dos padrões de qualidade do ar ora estabelecidos: Tome nota Segundo a OMS, os padrões de qualidade do ar variam de acordo com a abordagem adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade técnica, considerações econômicas e vários outros fatores políticos e sociais que, por sua vez, dependem, dentre outras coisas, do nível de desenvolvimento e da capacidade nacional de gerenciar a qualidade do ar (OMS, 2006). Legislação “Art. 4º Os Padrões de Qualidade do Ar definidos nesta Resolução serão adotados sequencialmente, em quatro etapas. § 1º A primeira etapa, que entra em vigor a partir da publicação desta Resolução, compreende os Padrões de Qualidade do Ar Intermediários PI-1. § 2º Para os poluentes Monóxido de Carbono - CO, Partículas Totais em Suspensão - PTS e Chumbo - Pb será adotado o padrão de qualidade do ar final, a partir da publicação desta resolução. Padrões de qualidade do ar intermediários - PI: padrões estabelecidos como valores tem- porários a serem cumpridos em etapas; e Padrão de qualidade do ar final - PF: valores guia definidos pela OMS em 2005 Gestão da Qualidade do ar 62 § 3º Os Padrões de Qualidade do Ar Intermediários e Final - PI-2, PI-3 e PF serão adotados, cada um, de forma subsequente, levando em consideração os Planos de Controle de Emissões Atmosféricas e os Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar, elaborados pelos órgãos estaduais e distrital de meio ambiente, conforme os artigos 5º e 6º, respectivamente. § 4º Caso não seja possível a migração para o padrão subsequente, prevalece o padrão já adotado. § 5º Caberá ao órgão ambiental competente o estabelecimento de critérios aplicáveis ao licenciamento ambiental, observando o padrão de qualidade do ar adotado localmente.” Os parâmetros regulamentados pela legislação ambiental são: partículas totais em suspensão (PTS), fumaça, partículas inaláveis (MP10 e MP2,5), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2) e chumbo (Pb). A Resolução Conama nº 491/2018 instituiu o compromisso de redução gradativados padrões de qualidade do ar amparada em critérios técnicos, alinhado com a Organização Mundial da Saúde, adotando uma estratégia de implementação em quatro etapas, sendo três padrões intermediários e um padrão final. O quadro 5 apresenta os padrões de qualidade do ar nacionais estabelecidos na Resolução Conama nº 491/2018. Poluente Atmosférico Período deReferência Material Particulado - MP10 Material Particulado - MP2,5 Dióxido de Enxofre - MP2 Dióxido de Nitrogênio - NO2 Fumaça Monóxido de carbono - CO Partículas Totais em Suspensão - PTS Chumbo - Pb5 Ozônio - O3 24 horas Anual1 24 horas Anual1 24 horas Anual1 1 hora2 Anual1 24 horas Anual1 Anual1 24 horas Anual4 8 horas3 8 horas3 120 40 40 125 260 60 240 220 45 200 9 40 60 20 100 140 130 120 100 35 50 50 17 75 30 30 3050 37 15 10 50 20 120 40 100 35 75 30 50 20 20 20 - 240 - --- --- --- - - - - - - - - - - - - - -- 25 - - µg/m³ � PI - 1 µg/m³ � PI - 2 µg/m³ � µg/m³ � Ppm PFPI - 3 80 0,5 I - Média aritmética anual II - Média horária III - Máxima média móvel no dia IV - Média geométrica anual V - Medido nas partículas totais em suspensão Quadro 5: Padrões de Qualidade do Ar, Conforme Resolução CONAMA Nº 491/2018. Gestão da Qualidade do ar 63 Fonte: Resolução Conama nº 491/2018 Adicionalmente, a Resolução Conama nº 491/2018 prevê que os Padrões de Qualidade do Ar Intermediários e Final serão adotados, cada um, de forma subsequente e que o Ministério do Meio Ambiente deve consolidar as informações disponibilizadas pelos órgãos ambientais estaduais e distrital referentes ao Plano de Controle de Emissões Atmosféricas e Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar e apresentá-las ao Conama até o final do quinto ano da publicação da Resolução, de forma a subsidiar a discussão sobre a adoção dos padrões de qualidade do ar subsequentes. Os Planos de Controle de Emissões Atmosféricas a serem elaborados pelos órgãos ambientais estaduais e distrital, em até 3 anos a partir da entrada em vigor da resolução, devem considerar os Padrões de Qualidade e conter, minimamente: (i) a abrangência geográfica e regiões a serem priorizadas; (ii) a identificação das principais fontes de emissão e respectivos poluentes atmosféricos; e (iii) as diretrizes e ações com respectivos objetivos, metas e prazos de implementação. Acrescenta-se ainda que, a cada 3 anos, os órgãos ambientais estaduais e distrital devem elaborar relatório de acompanhamento do plano, indicando eventuais necessidades de reavaliação e garantindo a sua publicidade. A Resolução Conama nº 491/2018 fixa também os critérios para episódios agudos de poluição do ar, como apresenta o quadro 6. Ressalte-se que a declaração dos estados de “Atenção”, “Alerta” e “Emergência” requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes. Nivel Poluentes e concentrações Meterial Particulado SO µg/m³ (média de 24h) µg/m³ (média de 24h) µg/m³ (média de 24h) CO PPM µg/m³ (média móvel de 8h) O PPM µg/m³ (média móvel de 8h) NO PPM µg/m³ (média móvel de 8h) MP10 MP2,5 Atenção Alerta Emergência 800 1.600 2.100 250 420 500 125 210 250 15 30 40 200 400 600 1.130 2.260 3.000 Quadro 6: Níveis de atenção, alerta e emergência para os poluentes e suas concentrações Fonte: Resolução Conama nº 491/2018 Poluente Atmosférico Período deReferência Material Particulado - MP10 Material Particulado - MP2,5 Dióxido de Enxofre - MP2 Dióxido de Nitrogênio - NO2 Fumaça Monóxido de carbono - CO Partículas Totais em Suspensão - PTS Chumbo - Pb5 Ozônio - O3 24 horas Anual1 24 horas Anual1 24 horas Anual1 1 hora2 Anual1 24 horas Anual1 Anual1 24 horas Anual4 8 horas3 8 horas3 120 40 40 125 260 60 240 220 45 200 9 40 60 20 100 140 130 120 100 35 50 50 17 75 30 30 3050 37 15 10 50 20 120 40 100 35 75 30 50 20 20 20 - 240 - --- --- --- - - - - - - - - - - - - - -- 25 - - µg/m³ � PI - 1 µg/m³ � PI - 2 µg/m³ � µg/m³ � Ppm PFPI - 3 80 0,5 I - Média aritmética anual II - Média horária III - Máxima média móvel no dia IV - Média geométrica anual V - Medido nas partículas totais em suspensão Gestão da Qualidade do ar 64 SO2 = dióxido de enxofre; MP10 = material particulado com diâmetro aerodinâmico equiva- lente de corte 10µm; MP 25 = material particulado com diâmetro aerodinâmico equivalente de corte de 2,5 µm; CO = monóxido de carbono; O2 = Ozônio; NO2 = dióxido de nitrogênio µm/m3; ppm = partes por milhão. Gestão da Qualidade do ar 65 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Lei Nº 9.503, de 23 de Setembro de 1997. CETESB (São Paulo). PCPV: Plano de Controle de Poluição Veicular 2017- 2019; Elaboração Antônio de Castro Bruni [et al.]. - - São Paulo: CETESB, 2017. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/veicular/wp-content/uploads/ sites/6/2018/01/PCPV-2017-2019.pdf. Acesso em: 20 set. 2019. CONAMA. Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018. Dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Brasília, DF, 2018. IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores. Distrito Federal, 2017. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/ emissoes/veiculos-automotores/programa-de-controle-de-emissoes-veiculares-proconve>. Acesso em: 20 set. 2019. MMA. Ministério do Meio Ambiente. 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