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Fiel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE, como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili- dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren- tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e massificação dos computadores pessoais. Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede- ral e se articulam com as demandas de desenvolvi- mento das regiões do Ceará. P rin cí pi os d e Pa ra si to lo gi a Ciências Biológicas Ciências Biológicas U ni ve rs id ad e Es ta du al d o Ce ar á - U ni ve rs id ad e Ab er ta d o Br as il Lydia Dayanne Maia Pantoja Germana Costa Paixão Erika Helena Salles de Brito Charles Ielpo Mourão Princípios de Parasitologia ComputaçãoQuímica Física Matemática PedagogiaArtes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 Lydia Dayanne Maia Pantoja Germana Costa Paixão Erika Helena Salles de Brito Charles Ielpo Mourão Princípios de Parasitologia Ciências Biológicas 2ª edição Fortaleza - Ceará 2015 ComputaçãoQuímica Física Matemática PedagogiaArtes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará CEP: 60714-903 – Fone: (85) 3101-9893 Internet: www.uece.br – E-mail: eduece@uece.br Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais Fone: (85) 3101-9962 Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autori- zação, por escrito, dos autores. Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Presidente da CAPES Carlos Afonso Nobre Diretor de Educação a Distância da CAPES Jean Marc Georges Mutzig Governador do Estado do Ceará Camilo Sobreira de Santana Reitor da Universidade Estadual do Ceará José Jackson Coelho Sampaio Vice-Reitor Hidelbrando dos Santos Soares Pró-Reitora de Graduação Marcília Chagas Barreto Coordenador da SATE e UAB/UECE Francisco Fábio Castelo Branco Coordenadora Adjunta UAB/UECE Eloísa Maia Vidal Direção do CCS/UECE Glaúcia Posso Lima Coordenadora da Licenciatura em Ciências Biológicas Germana Costa Paixão Coordenadora de Tutoria e Docência em Ciências Biológicas Roselita Maria de Souza Mendes Editor da UECE Erasmo Miessa Ruiz Coordenadora Editorial Rocylânia Isidio de Oliveira Projeto Gráfico e Capa Roberto Santos Diagramador Marcus Lafaiete da Silva Melo Revisora Ortográfica Ana Cristina Callado Magno Conselho Editorial Antônio Luciano Pontes Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Francisco Horácio da Silva Frota Francisco Josênio Camelo Parente Gisafran Nazareno Mota Jucá José Ferreira Nunes Liduina Farias Almeida da Costa Lucili Grangeiro Cortez Luiz Cruz Lima Manfredo Ramos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Marcony Silva Cunha Maria do Socorro Ferreira Osterne Maria Salete Bessa Jorge Silvia Maria Nóbrega-Therrien Conselho Consultivo Antônio Torres Montenegro (UFPE) Eliane P. Zamith Brito (FGV) Homero Santiago (USP) Ieda Maria Alves (USP) Manuel Domingos Neto (UFF) Maria do Socorro Silva Aragão (UFC) Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça (UNIFOR) Pierre Salama (Universidade de Paris VIII) Romeu Gomes (FIOCRUZ) Túlio Batista Franco (UFF) Editora Filiada à P957 Princípios de parasitologia / Lydia Dayanne Maia Pantoja... [et al.] . – 2. ed. – Fortaleza : EdUECE, 2015. 155 p. : il. ; 20,0cm x 25,5cm. (Ciências Biológicas) Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7826-359-1 1. Parasitologia. 2. Parasitas. 3. Reino protista. 4. Reino animalia. 5. Parasitologia – Diagnóstico laboratorial. 6. Parasitologia – Técnicas de transmissão. I. Pantoja, Lydia Dayanne Maia. II. Paixão, Germana Costa. III. Brito, Erika Helena Sales de. IV. Mourão, Charles Ielpo. V. Título. CDD 616.96 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Francisco Welton Silva Rios – CRB-3 / 919 Bibliotecário Sumário Apresentação .................................................................................................... 5 Capítulo 1 – Parasitas e suas relações com o meio ambiente .................. 7 Introdução ............................................................................................................... 9 1. Conceito ecológico e bioquímico de parasitismo ..........................................10 2. Ciclos parasitários ............................................................................................13 3. Teoria dos focos naturais .................................................................................18 Capítulo 2 – Reino Protista ............................................................................25 1. Supergrupo Excavata ......................................................................................27 1.1. Doença de Chagas .................................................................................27 1.2. Leishmanioses .........................................................................................32 1.3. Giardíase ..................................................................................................38 1.4. Trichomoníase .........................................................................................40 2. Supergrupo Amoebozoa .................................................................................42 2.1. Amebas parasitas do homem .................................................................42 3. Supergrupo Chromalveolata ...........................................................................46 3.1. Toxoplasmose ..........................................................................................46 3.2. Malária ......................................................................................................50 Capítulo 3 – Reino Animalia ...........................................................................59 Introdução .............................................................................................................61 1. Filo Platyhelminthes .........................................................................................61 1.1. Fasciolíase ...............................................................................................62 1.2. Esquistossomíase ....................................................................................67 1.3. Hidatidose .................................................................................................73 1.4. Teníases ...................................................................................................76 1.5. Cisticercose ..............................................................................................79 2. Filo Nemathelminthes ......................................................................................81 2.1. Ancilostomíase .........................................................................................81 2.2. Ascaríase ..................................................................................................83 2.3. Enterobíase ..............................................................................................85 2.4. Larva migrans cutânea e visceral ...........................................................86 2.5. Filaríose ....................................................................................................883. Filo Arthropoda .................................................................................................91 3.1. Hemípteros: Triatomíneos e Percevejos .................................................93 3.2. Dípteros Nematóceros: Anofelinos e Culicíneos....................................96 3.3. Dípteros Braquíceros: Moscas e Mutucas .............................................99 3.4. Anopluros: os piolhos sugadores ...........................................................102 3.2. Dípteros Nematóceros: Anofelinos e Culicíneos....................................96 3.3. Dípteros Braquíceros: Moscas e Mutucas .............................................99 3.4. Anopluros: os piolhos sugadores ...........................................................102 Capítulo 4 – Diagnóstico Laboratorial na Parasitologia .........................109 Introdução ............................................................................................................111 1. Técnicas clássicas em Parasitologia ............................................................ 112 1.1. Exame parasitológico de fezes .................................................................. 112 2. Técnicas modernas em Parasitologia ..........................................................126 2.1. Diagnóstico molecular ............................................................................127 2.2. Diagnóstico sorológico ...........................................................................128 3. Principais métodos de estudos dos insetos .................................................132 4. Principais métodos de estudos dos moluscos .............................................135 Capítulo 5 – Técnicas de Transmissão do Conhecimento Parasitológico .....................................................................139 Introdução ...........................................................................................................141 1. Procedimentos de ensino ..............................................................................142 1.1. Aula expositiva ........................................................................................142 1.2. Seminário ................................................................................................143 1.3. Cartilha educativa ...................................................................................143 1.4. Modelos didáticos ...................................................................................145 1.5. Aulas práticas ..........................................................................................146 2. Metodologias inovadoras ...............................................................................147 2.1. Cordéis ....................................................................................................148 2.2. Jogos Eletrônicos ...................................................................................149 2.3. Blogs ........................................................................................................150 Sobre os autores............................................................................................155 Apresentação As relações harmônicas e desarmônicas entre os seres vivos são fascinantes e bastante complexas. A Parasitologia se dedica a estudar uma das principais relações existentes na natureza: o parasitismo. Seja com seres microscópi- cos, seja com seres macroscópicos, invertebrados ou cordados, as relações de parasitismo são verdadeiros jogos de "perde e ganha", em que o ganhador se beneficia em termos bioquímicos, ecológicos e/ou estruturais. Nesta obra, composta de cinco capítulos, apresentamos os principais con- ceitos relacionados à Parasitologia com ênfase nas relações ecológicas, sem contudo deixar de abordar aspectos clínicos, uma vez que os parasitas estão di- reta ou indiretamente associados a diversas doenças em humanos e demais animais. Ao longo dos quatro primeiros capítulos, discorremos sobre os princi- pais grupos de parasitas, sua morfofisiologia, habitats e vetores, epidemologia, além de abordar a profilaxia e o tratamento das doenças por eles causadas. No ultímo capítulo, visando a atender à proposta curricular do curso ao qual este material está vinculado, trazemos ainda um apanhado de propostas pedagógicas, sejam elas convencionais ou inovadoras, como forma de con- templar os métodos de transmissão do conhecimento parasitológico, e assim auxiliar o licenciando no seu papel de futuro educador. Longe de esgotarmos o assunto ou de elaborarmos um livro de referên- cia, propomo-nos apenas a despertar a curiosidade dos leitores acerca das prin- cipais doenças parasitárias do nosso país, a fim de que possam compreender a importância da adoção de medidas preventivas e da educação em saúde. Os autores CapítuloCapítulo 1Capítulo 1 Parasitas e suas relações com o meio ambiente 9Princípios de Parasitologia Objetivos l Compreender o objeto de estudo da Parasitologia e conceituar a relação ecológica de parasitismo. l Conhecer a terminologia básica da Parasitologia. l Classificar os ciclos parasitários. l Analisar a Teoria dos Focos Naturais. Introdução Ao longo dos últimos anos, a Taxonomia vem fornecendo ferramentas para esclarecer a evolução dos micro-organismos, assim como as suas inter-re- lações. Diariamente, novos micro-organismos são descobertos, e os taxono- mistas continuam a pesquisar um sistema de classificação natural que reflita as relações filogenéticas. Em virtude dessa rápida expansão e do crescente volume de informa- ções, hoje a Microbiologia é subdividida em cinco setores, que caminham lado a lado, mas que são independentes: Parasitologia1 (estudo dos protozoários, helmintos e artrópodes parasitas), Bacteriologia (estudo das bactérias), Mico- logia (estudo dos fungos), Ficologia (estudo das algas) e Virologia (estudo dos vírus). A presente obra contemplará o mundo parasitológico. O termo parasita é apresentado ao aluno durante o decorrer do Ensino Fundamental e/ou Ensino Médio, quando o definem como o ser que vive e se nutre em expensas de outrem, causando prejuízo ao seu hospedeiro. A Parasitologia provavelmente teve seu estudo iniciado mais cedo que a própria Microbiologia, visto que alguns parasitas são grandes, apresen- tam até metros de comprimento, não sendo, portanto, objeto de estudo da Microbiologia clássica. Na verdade, das três categorias de organismos pro- tozoários (Figura 1), helmintos (Figura 2) e artrópodes parasitas (Figura 3) estudados em um curso de Parasitologia, somente os protozoários se con- figuram em micro-organismos. Portanto, devido às técnicas mais rudimen- tares utilizadas no passado, era muito mais fácil estudar macro-organismos do que os micro-organismos. 1A Parasitologia é a ciência que estuda os parasitas, ou melhor, os parasitos. O termo parasito (latim parasitu e grego parasitos) se refere a um substantivo masculino, entretanto pelo uso corrente da palavra no feminino, este também é aceito pela literatura. 10 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Figura 1 – Esporozoítos do protozoário Plasmo- dium; comprimento aproximado de 10 µm. Fonte: PAPPAS; WARDROP apud CHIODINI; MOODY; MANSER, 2001. Figura 2 – Larva do helminto Strongyloides stercoralis Devido a seu esôfago ser do tipo filarioide, a larva é denominada filarioide. Fonte: CHIODINI; MOODY; MANSER, 2001. Figura 3 – Fêmea do artrópode carrapato-es- trela, a espécie Amblyomma americanum. Fonte: FLORIDA UNIV. INSTITUTE OF FOOD AND AGRI- CULTURAL SCIENCE, 2012. Nesse sentido, devido à diversidade de seres estudados, a Parasito- logia trata-se possivelmente de uma das ciências com mais incongruências taxonômicas, sendo uma delas a própria definição de parasita. 1. Conceito ecológico e bioquímico de parasitismo O parasita (do grego pará = ao lado de + sitos = alimento) é definido como um organismo quevive na superfície ou no interior de outro organismo vivo (hospedeiro), estreitamente associados aos aspectos biológicos e ecológicos, durante uma parte ou na totalidade de seus ciclos vitais. Nesse sentido, o parasita utiliza o organismo do hospedeiro como seu biótopo2 ou ecótopo, enquanto o hospedeiro tem a função de regular, parcial ou totalmente, suas relações com o meio ambiente. 2Biótopo: do grego bios = vida + topos = lugar, ou seja, lugar onde se encontra vida. Corresponde à menor parcela de um habitat que é possível discernir geograficamente. 11Princípios de Parasitologia Dentro desse contexto, o parasita não somente utiliza seu hospedeiro como “habitat3” temporário ou permanente, mas também se serve dele como fonte direta ou indireta de alimentos, seja utilizando para esse fim os mesmos tecidos do hospedeiro, seja usufruindo as substâncias que este prepara para sua própria nutrição. Saiba mais Uma abordagem histórica da trajetória da Parasitologia O texto relata os caminhos trilhados pela Parasitologia, uma ciência que emergiu no século 19, com o surgimento e o estabelecimento de várias áreas da medicina, entre elas, a medicina tropical. Essa ciência, segundo o sumário bibliográfico, foi indicada inicialmente como um ramo da história natural, sendo construída com a descoberta e posterior descrição de vários agentes patogênicos, responsáveis por alguns processos mórbidos, até então não atribuí- veis a organismos externos ao indivíduo. Alguns parasitologistas ao redor do mundo começaram a descrever, além dos agentes patogênicos, os vetores e os mecanismos de transmissão das diversas doenças causadas pelos parasitas. No Brasil, o histórico da Parasitologia margeia o trajeto da medicina tropical, com o constante embate entre os médicos da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e da Escola Tropicalista Baiana. Já em 1900, renomados médicos parasitologistas surgem no cenário brasileiro: Oswaldo Cruz e Carlos Chagas que, através de suas descobertas, impulsionaram a Parasitologia até os dias atuais... [...]. Fonte: MASCARINI, L. M. Uma abordagem histórica da trajetória da Parasitologia. Ciência e Saúde Coletiva. v. 8, n. 3, p. 809-814. 2003. Tal associação, sem prejuízo perceptível para o hospedeiro em certos casos, pode ser nociva em menor ou maior grau, sendo, em alguns casos, o parasita o agente causal de enfermidades. De modo geral, essa associação tende ao equilíbrio, pois a morte do hospedeiro implica a morte do parasita. Assim, nas espécies em que essa relação vem sendo mantida há milhares de anos, raramente o parasita leva o hospedeiro à morte, existindo uma espolia- ção constante, mas insuficiente para lesar gravemente o hospedeiro. Existem evidências evolutivas as quais apontam que o parasitismo pas- sou a ocorrer devido ao fato de os seres vivos, na natureza, apresentarem considerável inter-relacionamento. Diante dessas associações, um organis- mo menor pode se sentir beneficiado. Com o passar de milhares de anos, houve uma evolução à custa de adaptações para o melhor relacionamento, deixando o parasita cada vez mais dependente de seu hospedeiro, e tornando a adaptação a marca do parasitismo (NEVES; MELO; LINARDI, 2005). As adaptações à vida parasitária manifestam-se fundamentalmente se- gundo algumas tendências, a saber: morfológicas, fisiológicas e biológicas. 3Habitat: do latim ele habita, significa o espaço físico onde seres vivos habitam e se desenvolvem. 12 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Dentro destas, as principais são: a) Degenerações: representadas por perdas ou atrofias de estruturas corpo- rais. Exemplo: a Taenia solium (agente causador da teníase e cisticercose), em virtude dependência dos sucos digestivos de seus hospedeiros, não apresenta tubo digestivo; b) Hipertrofia: ocorrendo em especial nos órgãos de fixação, proteção e re- produção. Exemplo: na Taenia saginata (agente causador da teníase), suas proglotes podem aumentar consideravelmente o tamanho do útero, visando a armazenar até 160.000 mil ovos em cada proglote; c) Capacidade reprodutiva: sendo possível elevar a produção de ovos, cistos ou outras formas infectantes. Exemplo: Ascaris lumbricoides (popularmente conhecido como lombriga), uma fêmea fecundada é capaz de ovipar, por dia, cerca de 200.000 ovos não embrionados; d) Diversidade reprodutiva: uso de diferentes tipos de reprodução, objeti- vando a perpetuação da espécie. Exemplos: hermafroditismo4, partenogê- nese5, esquizogonia6, entre outras; e) Capacidade de resistência à agressão do hospedeiro: desde a produção de enzimas, indução de imunossupressão, até ao ato de burlar anticorpos e células de defesa. Exemplo: Necator americanus (causador do amarelão), este parasita é capaz de produzir uma cutícula, usada como tegumento protetor; f ) Tropismo: visam a facilitar a propagação, reprodução ou sobrevivência de um parasita. Exemplos: geotropismo (grego geo = terra + tropos = volta), termotropismo (grego thermós = quente), quimiotropismo (grego chyma = fundir, substâncias químicas), entre outros; g) Grande faixa de tolerância de pH: podendo algumas espécies sobrevive- rem a ambientes ácidos, básicos e/ou neutros. Exemplo: Strongyloides ster- coralis (agente etiológico da estrongiloidíase), em casos graves da doença, sua fêmea partenogênica pode ser encontrada na porção pilórica do estôma- go, mostrando adaptação ao ambiente ácido. Para compreender a natureza íntima do fenômeno parasitário, é ne- cessário chegar a um conhecimento tão completo quanto possível dessas adaptações indispensáveis ao parasita (REY, 2008). Entretanto, quando um parasita (ou qualquer outro ser vivo) é estudado isoladamente, sem considerar suas relações com o meio ambiente, com sua própria espécie e com outras espécies, somente uma parte de sua biologia está sendo considerada, logo sua abordagem é incompleta e leva a erros de análise. O sucesso evolutivo de cada parasita e de cada hospedeiro dependerá de suas relações e funções dentro dos ecossistemas. O estudo ecológico dos parasitas é desafiador, visto que depende de situações em si já muito complexas, tais como: 4Hermafroditismo: do latim hermaphroditus = filho de Hermes e Afrodite, trata-se de um ser que reúne caracteres dos dois sexos. 5Partenogênese: do grego parthenos = virgem, genesis = geração. Desenvolvimento de um ovo sem interferência de espermatozoides. 6Esquizogonia: do grego skhízein = fender e goneía = geração, trata-se de uma divisão celular, comum em protozoários (como no gênero Plasmodium, causador da malária), ocorre quando a divisão nuclear pode repetir- se numerosas vezes antes que ocorra a divisão do citoplasma. 13Princípios de Parasitologia a) A ecologia dos hospedeiros definitivos; b) A ecologia dos hospedeiros intermediários; c) As relações diretas com o meio exterior. Ademais, o fato de o parasita ter por “habitat” outro ser vivo implica algu- mas adversidades, como: a) Limitação de espaço para o parasitismo; b) Variações nas características do meio; c) Rapidez dos mecanismos adaptativos; d) Busca por êxito na transmissão do parasita a novos hospedeiros. A literatura ainda ressalta que a passagem do parasita de um hospedeiro a outro é um fenômeno complexo, pois envolve diferentes mecanismos, a saber: a) Transporte ou deslocamento até o novo hospedeiro; b) Reconhecimento em nível bioquímico; c) Busca por uma localização adequada; entre outros. Muitos autores confundem parasitismo com doença, isso se deve ao fato de que, no passado, algumas relações (parasita-hospedeiro) foram mais estudadas quando produziam consequências médicas e veterinárias, ocor- rendo interpretações e associações errôneas. Nesse sentido, a doença parasitária pode vir a ocorrer em consequên- cia de um desequilíbrio entre hospedeiro e parasita (NEVES; MELO; LINARDI 2005), e seu grau de intensidade depende de vários fatores, como: o número de formas infectantespresentes, a virulência da cepa, a idade, o estado nutri- cional do hospedeiro, os órgãos atingidos, a associação com outras espécies, o grau de resposta imune, entre outras. Dessa forma, observa-se que a ação patogênica7 dos parasitas é vari- ável, podendo se apresentar como uma ação espoliativa, tóxica, mecânica, traumática, irritativa, enzimática e anóxia. Em linhas gerais, parasitismo8 “é toda relação ecológica, desenvolvida en- tre indivíduos de espécies diferentes, em que se observa, além de associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica de grau variável” (REY, 2008). 2. Ciclos parasitários O ciclo vital ou ciclo biológico do parasita é uma sequência regular de acon- tecimentos, constituído por um programa de reações fisiológicas a estímulos e sinais determinados, seguidas de ações precisas e cronologicamente orde- nadas (REY, 2008). O ciclo de vida de determinado parasita pode envolver um ou mais hos- pedeiros9. Em situações em que existe mais de um parasita, o hospedeiro definitivo é definido como o hospedeiro que abriga o estágio adulto ou sexu- 7Ainda sobre o grau de intensidade da doença parasitária, a localização do parasita pode ser decisiva, como, por exemplo, no caso da Taenia solium um único cisticerco (estágio larvário) no cérebro ou no olho pode causar a morte ou a cegueira desse olho; mas quando os cisticercos se localizam na pele ou nos músculos, o quadro pode permanecer assintomático. 8Vetor é uma terminologia muito comum nos livros de Parasitologia e caracteriza- se como um artrópode, um molusco ou outro veículo que transmite o parasita entre ambientes e hospedeiros. Pode ser classificado em vetor mecânico (quando o parasita não se multiplica ou se desenvolve no vetor, apenas possui função de transporte) e vetor biológico (quando o parasita se multiplica ou se desenvolve no vetor, ajudando na replicação do parasita). 9Hospedeiro x Reservatório: o hospedeiro é um organismo que abriga outro em seu interior ou o carrega sobre si, seja este um parasita, um comensal ou um mutualista. Enquanto o reservatório é qualquer matéria inanimada ou animada na qual vive o parasita e ao qual é capaz de atingir outros hospedeiros. Para alguns autores, o conceito de reservatório vivo é relacionado com a capacidade de manter o parasitismo, sendo pouco patogênica para o reservatório. 14 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. ado do parasita, enquanto o hospedeiro intermediário abriga o estágio larvar ou assexuado do parasita. A terminologia citada é uma conveniência prática que surgiu na epide- miologia e é marcada por acentuado antropocentrismo. Em geral, o homem é dito como o hospedeiro definitivo e os demais seres vivos, como os hospedei- ros intermediários, transmissores ou vetores. Na malária, por exemplo, a fase sexuada ocorre no inseto (Anopheles), e a fase assexuada, no homem. Nesse caso, o homem deveria ser tratado como o hospedeiro intermediário, entretan- to, para alguns estudiosos, essa situação soa estranha, visando a contornar tais dificuldades, houve uma convenção de chamar de hospedeiro intermedi- ário o hospedeiro invertebrado do parasita. Em diferentes situações, o mesmo parasita pode associar-se a uma ou mais espécies de hospedeiros sem causar prejuízos, enquanto, em outras espécies, pode provocar injúrias de maior ou menor intensidade. Quando o hospedeiro não sofre com o parasitismo, existem evidências de uma relação ecológica de adaptação, permitindo ao parasita não só perpetuar sua espécie nesse hospedeiro, mas também usá-lo como fonte de infecção para outros hospedeiros. Neste caso, trata-se de um hospedeiro normal. Existe também aqueles hospedeiros que não apresentam mecanismos de adaptação, não existindo o equilíbrio ecológico, logo os hospedeiros se ressentem do parasitismo, e adoecem ou morrem. Indicativo de uma relação ecológica relativamente recente, entre as duas espécies, estes são denomi- nados hospedeiros anormais. O hospedeiro acidental ou ocasional é aquele que sofre com grande intensidade o parasitismo, sendo que essa relação não faz parte de seu ciclo vi- tal, ocorrendo de forma ocasional, assim não existem mecanismos adaptativos. De acordo com a localização ou com o habitat10 no organismo do hos- pedeiro11, os parasitas podem ser ordenados como: a) Ectoparasitas: são parasitas externos, que vivem na superfície do corpo do hospedeiro. Exemplos: artrópodes como ácaros, carrapatos e piolhos. b) Endoparasitas: são parasitas internos, localizam-se nos tecidos ou dentro das células. Exemplos: protozoários e helmintos. Paralelamente, por saber que o parasitismo é um fenômeno biológico multiforme, no qual há dependência, mais ou menos estrita, da vida parasitá- ria, é também possível estabelecer as seguintes categorias parasitárias: a) Parasitas facultativos: são organismos que podem ser parasitas, mas não têm que viver como parasitas, sendo assim, suas vidas parasitárias são consideradas reversíveis (parasitismo temporário). 10Parasita errático ou atópico: é o parasita que vive fora de seu habitat normal, encontrado em locais não típicos. 11Com relação à localização no hospedeiro outros grupos podem indicar o local parasitado, como hemoparasitas (quando se localizam no sangue), enteroparasitas (quando se localizam no tubo digestivo), hepatoparasitas (quando habitam o fígado), entre outros. 15Princípios de Parasitologia b) Parasitas obrigatórios: são organismos que, para sobreviverem, têm de ser parasitas, e sua vida parasitária é irreversível, pelo menos em alguma fase de seu ciclo vital (parasitismo permanente). Tanto nos casos de parasitismo facultativo como de parasitismo obriga- tório, o parasita pode completar seu ciclo vital12 exigindo um só hospedeiro ou mais de um hospedeiro para completá-lo, tratam-se dos parasitas monoxenos e heteroxenos, a saber: a) Parasitas monoxenos (monos = único e xenos = estrangeiro): são parasi- tas que completam seu ciclo biológico em um só hospedeiro, se bem que possam permanecer no meio ambiente em forma encistada, de ovo ou em estado larvário livre (Figura 4). b) Parasitas heteroxenos (heteros = outro e xenos = estrangeiro): são para- sitas que necessitam de mais de um hospedeiro para completar seu ciclo biológico (Figura 5). Evolutivamente, os ciclos monoxenos são mais primitivos que os ciclos heteroxenos, visto que os últimos representam as formas de evolução onto- gênica mais complexas, pois envolvem a participação de duas, três ou mais espécies de hospedeiros (REY, 2008). Figura 4 – Ciclo biológico do Ascaris lumbricoides (conhecido como lombriga), exemplo de um parasita monoxeno que completa seu ciclo em um só hospedeiro (o homem). Fonte: CDC, 2012 (adaptado). 12Os seres vivos podem apresentar propriedades que se modificam ciclicamente com o passar do tempo, em geral dentro do intervalo de tempo de cada geração. Trata-se de sua evolução ontogenética ou ontogênese (do grego ontos = ser, indivíduo e genos = origem), aquela que descreve a origem e o desenvolvimento de um ser desde o momento de sua fertilização até sua forma adulta. 16 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Figura 5 – Ciclo biológico do Schistosoma mansoni, exemplo de um parasita hetero- xeno que necessita de mais de um hospedeiro para completar seu ciclo, no caso o homem (hospedeiro definitivo) e o caramujo (hospedeiro intermediário). Fonte: CDC, 2012 (adaptado). Diante da especificidade parasitária, existem parasitas para os quais uma única espécie pode desempenhar a função de hospedeiro (estenoxe- nos), enquanto existem outros que admitem uma grande variedade de hos- pedeiros (eurixenos). a) Parasitas estenoxenos (stenos = estreito e xenos = estrangeiro): são os parasitas que em alguma de suas fases evolutivas, apresentam uma espe- cificidade estrita para o hospedeiro correspondente, sendo este hospedeiro da mesma espécie ou de espécies muitopróximas (Figura 6). b) Parasitas eurixenos (eurys = largo, amplo e xenos = estrangeiro): são os parasitas cuja especificidade é muito débil e podem alojar-se em variados hospedeiros, logo seu hospedeiro pode ser escolhido entre uma grande variedade de espécies (Figura 7). 17Princípios de Parasitologia Figura 6 – Ciclo biológico da Taenia saginata, classificado como um parasita hetero- xeno (precisa de mais de um hospedeiro) e estenoxeno (apresentam especificidade estrita para os hospedeiros). Fonte: CDC, 2012 (adaptado). Figura 7 – Ciclo biológico do Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), classificado como um parasita heteroxeno (precisa de mais de um hospedeiro, o ho- mem e o barbeiro) e eurixeno (variedades de espécies de hospedeiro intermediário, gêneros como Rhodnius, Triatoma, Panstrongylus, entre outros, e hospedeiro definiti- vo, como primatas, marsupiais, edentados, entre outros). Fonte: CDC, 2012 (adaptado). 18 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Com base nas classificações citadas anteriormente, constata-se que, mes- mo a terminologia dentro da Parasitologia sendo bastante extensa e abrangente, é necessário que o aluno guarde tais conceitos para facilitar seus estudos futuros. Saiba mais O livro negro dos seres vivos Eles podem controlar o seu cérebro, devorar você por dentro e até obrigá-lo a trocar de sexo. Saiba quais são, como vivem e o que fazem as 11 criaturas mais cruéis, nojentas e aterrorizantes do planeta... Entre eles, o verdadeiro dono do mundo (nome científico – Toxoplasma gondii). Lady Gaga. Barack Obama. A presidente do FMI. A criatura mais influente do mundo não é nenhu- ma dessas. É um protozoário minúsculo, mas com uma capacidade poderosíssima: transfor- mar mamíferos em zumbis. E isso inclui o ser humano. Tudo começa nas fezes. De gato. Quando um rato (ou um ser humano) entra em contato com elas e é infectado pelo Toxoplasma, seu comportamento muda... (continua). Fonte: Revista Superinteressante. Disponível em: http://super.abril.com.br/mundo-animal/livro-ne- gro-seres-vivos-638171.shtml. Publicado em ago/2011. 3. Teoria dos focos naturais A localização de um parasita é algo relevante e apresenta embasamento cien- tífico, visto que os parasitas não são encontrados em todos os lugares. A distri- buição ou a possibilidade de que uma espécie consiga instalar-se em regiões onde antes não era observada depende de condições particulares e comple- xas, indispensáveis para sua sobrevivência e propagação (REY, 2008). Nesse sentido, surge o conceito de foco natural13, que pode ser defi- nido como a área (paisagem geográfica) onde se encontra garantida a exis- tência e a transmissão do parasita, permitindo o pleno funcionamento do ciclo biológico (REY, 2008). Sabe-se que a população humana é parte integrante da paisagem ge- ográfica, uma vez que está submetida a determinadas condições, represen- tadas pelos tipos de relações que mantém com o ambiente. Por exemplo, a flora e a fauna têm sido indicadores da existência de fatores de agressão que, segundo Lacaz (1972), são responsáveis pela formação de “complexos pato- gênicos” de elevada importância em geografia médica. Sobre essa temática, surge a Teoria dos Focos Naturais, também de- nominada de Epidemiologia Paisagística. Esta foi criada pelo parasitologista russo Evgeny Pavlovsky14, que emitiu o seguinte conceito: 13O foco natural de uma parasitose é o espaço físico onde ela ocorre e se caracteriza por apresentar certo tipo de biótopo e por compreender uma biocenose, assegurando a transmissão do parasita. 14O parasitologista russo Evgeny Nikanorovich Pavlovsky (1884-1965) trabalhou no Instituto de Zoologia da Academia de Ciências da ex-União Soviética, onde realizou uma das mais importantes elaborações teóricas do conceito de espaço geográfico vinculado ao estudo de doenças transmissíveis, criando a Teoria do Foco Natural. Figura 8 – Evgeny Pavlovsky. Fonte: GOOGLE, 2012. 19Princípios de Parasitologia Um foco natural de doença existe quando há um clima, vegetação e solo es- pecíficos e microclima favorável nos lugares onde vivem vetores, doadores e recipientes de infecção. Em outras palavras, um foco natural de doenças é relacionado a uma paisagem geográfica específica, tais como a taiga com uma certa composição botânica, um quente deserto de areia, uma estepe etc., isto é, uma biocenose (s/d: 19 apud CZERESNIA; RIBEIRO, 2000, p. 5). A Teoria dos Focos Naturais teve grande influência no Brasil, principal- mente nos trabalhos de Samuel Pessoa e Luís Jacintho da Silva. No caso do parasitologista Samuel Pessoa, que criou uma escola de estudos em geogra- fia médica no Brasil, no contexto da chamada medicina tropical, destacam-se seus estudos em endemias brasileiras, como esquistossomose, doença de Chagas, malária etc. Enquanto Luís Jacintho da Silva fez uma análise bastante completa so- bre a evolução da doença de Chagas no estado de São Paulo, baseada numa releitura crítica do esquema conceitual de Pavlovsky, reformulada em termos de relação homem-meio, cuja análise recaiu no âmbito das ciências econômi- cas e sociais (FERREIRA, 1991). Portanto, com base nesses trabalhos, pode-se concluir que uma deter- minada parasitose apenas conseguirá se instalar e se propagar, se condições indispensáveis exigidas pelo parasita forem atendidas. Assim, para entender- mos quais as necessidades para a ocorrência de um foco natural, algumas condições são necessárias: a) Superposição das áreas habitadas pelos hospedeiros e vetores Os parasitas, vetores e hospedeiros devem encontrar-se no mesmo espaço e no mesmo tempo, isto é, tais organismos devem ocupar o mesmo habitat e compartilhar períodos (intervalo de tempo) de suas atividades, asse- gurando a transmissão do parasita dentro de um determinado ecossistema. Por exemplo, o causador da filaríose, a espécie Wuchereria bancrofti, que pode ser transmitida de pessoa para pessoa através da picada do mos- quito do gênero Culex, o qual realiza o repasto sanguíneo à noite, o que coinci- de com a presença de microfilárias (formas larvárias infectantes do mosquito) no sangue periférico do homem (tal presença ocorre apenas no período notur- no), logo os mosquitos de hábito diurno não participam desse ciclo biológico. b) Densidade populacional de hospedeiros e vetores Deve existir uma quantidade suficiente (estatisticamente provável) de hospedeiros definitivos e intermediários (se necessário) e de vetores para que o parasita possa circular entre eles. 20 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. c) Presença do parasita e sua virulência A introdução do parasita deve ocorrer em determinado ecossistema, a fim de dar início ao foco natural. Por exemplo, a esquistossomose não existia nas Américas antes da colonização europeia, entretanto devido ao tráfico de escravos, a espécie Schistosoma mansoni foi introduzida. d) Fatores limitantes da transmissão Fatores climáticos, como umidade, temperatura, altitude, pressão, entre outros, devem ser propícios para assegurar a transmissão do parasita. Com esses conceitos, pode-se entender a importância do estudo da Parasitologia pelos alunos em diferentes faixas etárias, bem como a ligação dos parasitas com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o caso do Brasil, uma vez que o parasita encontra-se intimamente ligado ao “status social” do ambiente em que vive. Síntese do capítulo Durante o capítulo 1, pôde-se compreender o objeto de estudo da Parasito- logia, o parasita, e conceituar a relação ecológica de parasitismo, que, em linhas gerais, trata-se de toda relação, desenvolvida entre indivíduos de espé- cies diferentes, em que se observa, além de associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica de grau variável. Foi possível conhecer a terminologia básica da Parasitologia (os dife- rentes tipos de parasitas, hospedeiros e vetores); também se classificou os ciclosparasitários (monoxeno, heteroxeno, estenoxeno e eurixeno) e, por fim, foi feita uma análise sobre a Teoria dos Focos Naturais. Atividades de avaliação 1. Com base numa interpretação ecológica e bioquímica, defina parasitismo. 2. Em um simpósio sobre o tema “Conceito ecológico e bioquímico de parasi- tismo”, um dos convidados resolveu iniciar a discussão com a definição de parasitismo: “[...] trata-se de uma relação maléfica e sem nenhum tipo de de- pendência metabólica”. Você concorda ou discorda? Explique sua resposta. 3. Com base no ciclo biológico do Ascaris lumbricoides, analise a imagem abai- xo e escolha a sentença que corresponde à classificação correta do ciclo. 21Princípios de Parasitologia Figura 9 – Ciclo biológico dos Ascaris lumbricoides a) Monoxeno e estenoxeno. b) Heteroxeno e estenoxeno. c) Monoxeno e eurixeno. d) Heteroxeno e eurixeno. 4. Com base no ciclo biológico do Toxoplasma gondii, analise a imagem abai- xo e escolha a sentença que corresponde à classificação correta do ciclo. Figura 10 a) Monoxeno e estenoxeno. b) Heteroxeno e estenoxeno. c) Monoxeno e eurixeno. d) Heteroxeno e eurixeno. 5. Descreva as condições necessárias para a existência de um foco natural. 22 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. 6. Você está participando de um estudo do impacto ambiental da constru- ção de uma hidrelétrica em um determinado município. Descreva como uma obra desse porte pode tornar o meio ambiente mais favorável à pre- sença de parasitas ou à transmissão de doenças parasitárias. Considere seu conhecimento sobre as condições necessárias para a existência de um foco natural. 7. Elabore um roteiro de peça teatral com o título: “Teoria dos Focos Naturais: passado, presente e futuro”. 8. Pesquise sobre a espécie Naegleria fowleri, descreva seu ciclo biológico e clas- sifique o hospedeiro homem como normal, anormal ou acidental. Justifique. 9. Confeccione uma cartilha educativa abordando a terminologia básica da Parasitologia (os diferentes tipos de parasitas, hospedeiros e vetores). 10. Escolha dois ciclos biológicos, descreva-os e, em seguida, classifique seu parasita, seus hospedeiros e vetores. Leituras, filmes e sites @ Leituras Guia de Bolso do Ministério da Saúde, intitulado: Doenças Infeccionas e Para- sitárias. 2004. Link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_bolso_4ed.pdf Filmes Documentário “Parasitas Assassinos” (6 DVDs – primeira temporada) – Dura- ção: 45 minutos. Discovery Channel. Documentário “Parasitas Assassinos” (6 DVDs – segunda temporada) – Dura- ção: 45 minutos. Discovery Channel. Sites Atlas de Parasitologia (online): http://www.slideshare.net/francielebioanalise/atlas- -de-parasitologia Atlas Virtual de Parasitologia Biomédica: http://www.pucrs.br/fabio/atlas/para- sitologia/ Biblioteca de Manguinhos: http://www.fiocruz.br/bibcb Biblioteca Virtual de Saúde: http://regional.bvsalud.org/php/index.php Biblioteca Virtual em Saúde Pública: http://www.saudepublica.bvs.br/php/index.php SCIELO Brasil – periódicos científicos: http://www.scielo.br 23Princípios de Parasitologia Referências BURTON, G. R. W.; ENGELKIRK, P. G. Microbiologia para as ciências da saúde. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. CHIODINI, P. L.; MOODY, A. H.; MANSER, D. W. Atlas of Medical Helmin- thology and Protozoology. 4 ed. New York: Churchill Livingstone, 2001. COURA, J. R. Dinâmica das doenças infecciosas e parasitárias. v. 1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 1132 p. CZERESNIA, D.; RIBEIRO, A. M. O Conceito de Espaço em Epidemiologia: uma Interpretação Histórica e Epistemológica. Cadernos de Saúde Pública. v. 16, n. 3, p. 595-617. 2000. FERREIRA, M. U. Epidemiologia e Geografia: O Complexo Patogênico de Marx Sorre. Cadernos de Saúde Pública. v. 7, n. 3, p. 301-309. 1991. FLORIDA UNIV. INSTITUTE OF FOOD AND AGRICULTURAL SCIENCE, Atlas. Disponível em: http://ifas.ufl.edu. Acesso em: 22 ago. 2012. LACAZ, C. da S. et al. Introdução à geografia médica no Brasil. São Paulo: Editora USP, 1972. NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M. Parasitologia humana. 11 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2005. 494 p. PAVLOVSKI, E. Natural nidality of transmissible disease. Moscou: Peace Publishers, 1965. REY, L. Parasitologia – parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópi- cos ocidentais. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 883 p. VIEITES, R. G.; FREITAS, I. A. de. Pavlovsky e Sorre: Duas importantes con- tribuições à geografia médica. Ateliê Geográfico. v. 2, n. 2, p. 187-201. 2007. CapítuloCapítulo 1Capítulo 2 Reino Protista 27Princípios de Parasitologia Objetivos l Apresentar os principais representantes do Supergrupo Excavata, com ên- fase nos gêneros Trypanosoma, Leishmania, Giardia e Trichomonas. l Descrever as principais espécies de amebas causadoras de doenças ao homem e animais. l Descrever os principais aspectos biológicos e epidemiológicos dos agentes de toxoplasmose e da malária. 1. Supergrupo Excavata 1.1. Doença de Chagas A doença de Chagas foi descrita pela primeira vez em abril de 1909 pelo médico sanitarista e cientista Carlos Ribeiro Justiniano Chagas (1878 - 1934). Carlos Chagas15 também identificou o agente causal da doença, o protozoário denomi- nado Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909), bem como o inseto que o transmite, o triatomíneo conhecido popularmente como “barbeiro” ou “chupança”. Essa doença é prevalecente em populações rurais e urbanas e esti- ma-se que há aproximadamente 12 a 14 milhões de pessoas infectadas na América Latina, sendo um problema de saúde pública. Entre as doenças infecto-parasitárias, a doença de Chagas é a quarta causa de morte no Bra- sil, sendo pessoas, na faixa etária acima de 45 anos, as mais atingidas. Um dado importante é que o Brasil é considerado isento de transmissão domici- liar por Triatoma infestans pela Comissão Intergovernamental do Cone Sul desde o ano de 2006. Os vertebrados são hospedeiros definitivos desse protozoário, tais como: seres humanos, animais silvestres e animais domésticos; já os triatomí- neos são hospedeiros intermediários. Transmissão O T. cruzi pode ser transmitido ao homem através, principalmente, da forma vetorial ou contaminativa (entre 70 e 90% dos casos), transfusional (1 a 20%) e congênita (0,5 a 10%). Nos últimos anos, a forma de transmissão oral vem merecendo atenção, devido a casos notificados envolvendo a cana-de-açú- car e o açaí, pois, em alguns estabelecimentos de condição higiênica precá- ria, a urina e as fezes dos barbeiros podem vir a contaminar tais alimentos e a chegar até o homem por meio da ingestão. 15O médico sanitarista e cientista Carlos Chagas foi consagrado como primeiro e o único cientista na história da medicina humana a descrever completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor, os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia. Figura 11 – Carlos Ribeiro Justiniano Chagas (1878 - 1934). Fonte: GOOGLE, 2012. 28 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Na transmissão vetorial, a contaminação16 ocorre após contato de mu- cosas íntegras com fezes e urina infectadas com triatomíneo e ainda com soluções de continuidade na pele. Cerca de 140 espécies de triatomíneos já foram descritas como potencialmente transmissoras do T. cruzi, sendo o Tria- toma infestans considerado o principal. A transmissão transfusional pode variar entre 12,5% e 25% para cada 500 mL de sangue total transfundido. Já a transmissão congênita ocorre prin- cipalmente após o segundo trimestre de gestação. Existem ainda outros mo- dos de transmissão, tais como: via digestiva (oral), acidental e por intermédio de transplantes de órgãos. Excepcionalmente, pode ocorrer a transmissão por via sexual e por vetores não triatomíneos, como Cimicídeos. Estágios evolutivos do T. cruzi Existem quatro formas evolutivas do T. cruzi: amastigota, esferomostigota, epi- mastigota e tripomastigota. Elas variam em aspectosmorfológicos, tanto nos organismos vertebrados como no inseto vetor. Depois que os tripomastigo- tas invadem as células (por fagocitose, endocitose ou penetração ativa), para não serem destruídos pelo sistema imune do hospedeiro, transformam-se nas formas amastigotas, que são encontradas em mamíferos. A epimastigota é a forma encontrada no intestino do inseto. A tripomastigota não se multiplica e é encontrada no inseto vetor (tripomastigota metacíclico), no sangue e no espaço intercelular do hospedeiro vertebrado e também na cultura de células. Morfologia As formas amastigotas intracelulares e as tripomastigotas presentes no san- gue, ambas encontradas no hospedeiro vertebrado, apresentam uma estrutu- ra chamada cinetoplasto, que é uma mitocôndria modificada. Os tripomastigo- tas são pleomórficos, apresentando formas delgadas e largas que diferem em características de patogenicidade. No hospedeiro invertebrado são encontradas as esferomastigotas que são formas arredondadas com flagelo circundando o corpo. São encontradas ainda formas epimastigotas e tripomastigotas. Ciclo biológico O ciclo biológico do T. cruzi é heteroxeno com uma fase de desenvolvi- mento no hospedeiro vertebrado e outra no inseto vetor. 16No dia 14 de abril de 1909, Carlos Chagas ao examinar uma criança febril, de 2 anos de idade, de nome Berenice, descobriu em seu sangue o mesmo protozoário encontrado nos barbeiros e em diversas espécies de animais examinados, sendo considerado o primeiro caso da doença registrado em humanos. A paciente Berenice faleceu em 1982 (73 anos de convivência com a infecção), e pelas investigações realizadas na época, constatou-se que ela não morreu pelo T. cruzi. Figura 12 – Carlos Chagas atendendo a menina Rita. Por muito tempo pensou-se que tal menina era Berenice, o primeiro caso identificado da nova doença. Ao fundo, vê-se o vagão da Estrada de Ferro Central do Brasil, que lhe servia de alojamento e laboratório em Lassance, em Minas Gerais. Fonte: Departamento de Arqui- vo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. 29Princípios de Parasitologia Ciclo do T. cruzi no hospedeiro vertebrado O triatomíneo infectado deposita suas fezes e/ou urina contaminadas com formas tripomastigotas, que não se replicam, no local da picada ao sugar o sangue. Geralmente, a picada provoca coceira, e o ato de coçar facilita a pe- netração do tripanossomo no local da picada. Já dentro do organismo do vertebrado, os tripomastigotas parasitam dife- rentes tipos de células, tais como fibras musculares (estriadas e lisas), macrófa- gos, células epiteliais e fibroblastos, transformando-se em formas amastigotas. As formas amastigotas separam-se por divisão binária, formam pseudocistos e se transformam em tripomastigotas que, após rompimento dos pseudocistos, são liberados e caem na circulação sanguínea, indo infectar novas células ou sendo ingeridos por triatomíneos (Figura 13). Figura 13 – Ciclo biológico do T. cruzi no hospedeiro vertebrado. Fonte: JUNQUEIRA et al., 2011 (adaptado). Ciclo do T. cruzi no hospedeiro invertebrado Ao picar os hospedeiros vertebrados infectados, os insetos sugam formas tripomastigotas presentes no sangue. As formas tripomastigotas, já no intes- tino do inseto, transformam-se em epimastigotas e esferomastigotas. As for- mas epimastigotas colonizam preferencialmente o intestino médio, em que se multiplicam intensamente. Alguns desses epimastigotas transformam-se em tripomastigotas na porção final do tubo digestivo, processo esse chamado metaciclogênese, e as formas resultantes são denominadas tripomastigotas 30 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. metacíclicas, que são infectantes, encontradas principalmente no reto do in- seto vetor, sendo, então, eliminadas pelas fezes ou pela urina (Figura 14). Ciclos Biológicos Os ciclos biológicos de transmissão do T. cruzi são três: ciclo silvestre, ciclo doméstico e ciclo paradoméstico (Figura 15). O ciclo silvestre ocorre em virtude da inserção do homem nesse ambiente, onde ele está em constante contato com triatomíneos da espécie Rhodnius brethesi. Já o ciclo domésti- co ocorre devido à domiciliação de triatomíneos, em habitações humanas que apresentam condições ideais de sobrevivência. Algumas espécies de triato- míneos passam a se alimentar do sangue de animais domésticos e, por isso, vivem em torno de habitações humanas, esse é o ciclo paradoméstico. Figura 14 – Principais formas do T. cruzi no hospedeiro invertebrado. Fonte: JUNQUEIRA et al., 2011 (adaptado). Figura 15 – Ciclos de transmissão do T. cruzi. Fonte: JUNQUEIRA et al., 2011. 31Princípios de Parasitologia A doença Apresenta uma fase aguda que pode ser sintomática ou assintomática. Elas estão diretamente relacionadas com o sistema imunológico do hospedeiro. A forma sintomática é caracterizada pela presença de febre, edema localizado e generalizado, poliadenia17, hepatomegalia18, esplenomegalia19, insuficiência cardíaca (coração chagásico) e perturbações neurológicas. Na fase crônica da doença pode haver comprometimento cardíaco (for- ma cardíaca), forma digestiva, ou ambas. Em geral, o coração hipertrofiado ou coração chagásico, bem como a presença de megacólon e megaesôfago nos pacientes, causa destruição da fibra muscular e substituição por fibrose cicatricial, como consequência haverá o aumento do órgão, e suas funções ficarão comprometidas. A doença de Chagas ainda não foi erradicada no Brasil, e o risco de transmissão desta tripanossomíase dentro da população humana permanece. Vale salientar que o mesmo tratamento é usado há 30 anos, e sua prescrição é limitada, visto que só há resultado de cura na fase aguda da doença (a doen- ça pode evoluir para uma fase crônica) e apresenta vários efeitos colaterais. Atualmente não existe vacina nem a perspectiva de um processo de imunização em larga escala num futuro próximo, sendo o controle de vetores e as transfusões de sangue, as ferramentas mais importantes para evitar a transmissão e a disseminação da doença de Chagas. As áreas infestadas são geralmente muito pobres, e medidas de con- trole constituem em usar inseticidas e em construir ou renovar moradias, tais como: revestir paredes e substituir tetos de palha por telhas, associadas à melhoria das condições socioeconômicas da população, com medidas edu- cativas de conscientização. Saiba mais Consumo de açaí e caldo de cana aumenta incidência de Doença de Chagas no Brasil Cerca de 20 milhões de pessoas sofrem de Doença de Chagas na América Latina. No Brasil, o número pode chegar a 5 milhões, e essas estatísticas crescem a cada ano. Segun- do dados do Ministério da Saúde, entre 2005 e 2008 foram registrados 453 novos casos em 11 Estados. “De lá para cá, esse número só aumentou. Em 2010, foram 300 novos ca- sos na região Norte. Caiu a contaminação pelo barbeiro, mas aumentou por ingestão oral, como o consumo de açaí e caldo de cana com as fezes do inseto, é a chamada Doença de Chagas Aguda”, explica Dirceu Rodrigues de Almeida, professor doutor em Medicina (Car- diologia) pela Universidade Federal de São Paulo e palestrante do Congresso. Cerca de 60% das pessoas infectadas não desenvolvem a doença, que se manifesta nos ou- tros 40% por meio do inchaço do coração, esôfago ou intestino. A Doença de Chagas acomete 17Poliadenia: polys = muito + adenos = glândula, significa aumento dos gânglios linfáticos. 18Hepatomegalia: aumento do volume do fígado. 19Esplenomegalia: aumento do volume do baço. 32 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. principalmente as pessoas jovens, mão de obra ativa que é obrigada a se aposentar precoce- mente, o que provoca um forte impacto econômico na sociedade. “Geralmente são pessoas de baixo poder aquisitivo”. O cardiologista revela ainda que no Estado de São Paulo, conside- rado polo de imigração, a Doença de Chagas é a terceira causa de insuficiência cardíaca [...] Fonte:http://www.congressosocesp.com.br. Acesso em: 5 out. de 2012. 1.2. Leishmanioses As leishmanioses são doenças parasitárias causadas por algumas espécies do gênero Leishmania, diferenciadas apenas por meio de características bioquími- cas, imunológicas ou mesmo patológicas. As espécies estão reunidas em três complexos: Leishmania brasiliensis, Leishmania mexicana e Leishmania donova- ni. Os parasitas do gênero Leishmania são protozoários da divisão Kinetoplastea, ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero Leishmania. Apresen- tam duas formas evolutivas no seu ciclo de vida: a forma promastigota, que é fla- gelada e extracelular, e a forma amastigota, que é intracelular e sem movimentos. Mamíferos silvestres são considerados reservatórios naturais para es- ses protozoários, e várias espécies de flebotomíneos, que são os vetores, estão envolvidos na transmissão da leishmaniose, constituindo, portanto, uma zoonose. As infecções humanas estão associadas a hábitos e atividades pri- márias ou secundárias de indivíduos que exploram ou habitam florestas, no entanto tem ocorrido aumento significativo nos casos de leishmanioses em áreas periurbanas de grandes cidades, particularmente no Brasil. Os vetores são dípteros da família Psychodidae, pertencentes aos gê- neros Phlebotomus (Velho Mundo) e Lutzomyia (Novo Mundo), com vasta distribuição nos climas quentes e temperados. Vale ressaltar que somente as fêmeas são hematófagas, por isso somente elas transmitem a leishmaniose. Nos mamíferos, as espécies do gênero Leishmania aparecem sob a forma de amastigotas. Elas ocorrem em macrófagos da pele ou de vísceras, em que se reproduzem por divisão binária. Já nos reservatórios silvestres, a infecção tende a ser benigna, sendo muitas vezes inaparente. A leishmaniose é uma doença que ocorre em climas equatoriais, tropi- cais e subtropicais, atingindo majoritariamente as populações menos favore- cidas e no Brasil ela apresenta alta incidência, sendo a leishmaniose cutânea a responsável pela maioria dos casos, no entanto ela é cíclica, podendo haver um número alto de registros em um ano, baixo no outro e alto novamente no seguinte. Todos os estados brasileiros são considerados endêmicos, sendo na Região Norte, Centro-oeste e Nordeste, onde estão os maiores números de detecção. Assim, como na forma tegumentar, a ocorrência da leishmanio- se visceral é cíclica, e cerca de mais de 70% dos casos ainda concentram-se no Nordeste. Entre cinco a dez mil indivíduos são atingidos anualmente no 33Princípios de Parasitologia país, dos quais, cerca de 10% não sobrevivem, em virtude do não diagnóstico e da falta de tratamento. Formas clínicas de Leishmanioses a) Leishmaniose Tegumentar Americana: apresenta as formas cutâneas e cutâneo-mucosa. O período de incubação dessa manifestação da doença é entre duas semanas e três meses. l Leishmaniose cutânea: esta variação da doença é caracterizada pelo de- senvolvimento de quadros clínicos desfigurantes de caráter crônico e la- tente. As lesões são ulcerativas e podem acontecer no local da inoculação (Figura 16) ou ainda podendo se manifestar de forma metastática cutânea, essa é chamada de Leishmaniose Cutânea Difusa. Figura 16 – Lesões de leishmaniose tegumentar. Fonte: www.dbbm.fiocruz.br (2012). l Leishmaniose cutâneo-mucosa: ocorre em virtude de o indivíduo apre- sentar imunidade celular exacerbada, promovendo assim lesões altamente destrutivas que causam deformações da região oral e nasofaríngea. Ge- ralmente essa manifestação aparece tardiamente, após a cicatrização das lesões primárias. É causada pela Leishmania brasiliensis. b) Leishmaniose visceral20: também chamada de calazar21. As leishmanio- ses viscerais causam febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado (hepatomegalia) e do baço (esplenomegalia). Os protozoários do complexo Leishmania donovani são os responsáveis por essa manifestação clínica, e as espécies envolvidas são L. donovani, L. infantum e L. chagasi. No Brasil o agente etiológico do calazar é a L. Chagasi, enquanto, na Europa, a etiolo- gia se deve a L. Donovani. As formas amastigotas do parasita se proliferam nas células do sistema fagocítico mononuclear principalmente do fígado, do baço, da medula óssea, dos linfonodos, dos rins, dos suprarrenais, dos intes- tinos, dos pulmões e da pele. 20 Canindé - CE foi contemplada com uma estratégia inédita no mundo para combater o avanço da leishmaniose visceral no Brasil. Trata-se do projeto-piloto do Programa Federal de Controle da Leishmaniose Visceral, cujo objetivo é um encoleiramento em massa de cães com coleiras impregnadas com deltametrina a 4%, principio ativo repelente e inseticida recomendado pela Organização Mundial da Saúde como uma das principais formas de controle da doença. A coleira é indicada para o controle dos insetos transmissores da leishmaniose (flebotomíneos), moscas e como auxiliar no controle de carrapatos e pulgas. O encoleiramento em Canindé teve início no dia 3 de setembro de 2012. As primeiras cidades que receberam o projeto foi Teresina/ PI e Montes Claros/MG. 21Em 1903, o inglês William Boog Leishman obteve uma biopsia de fígado de um soldado inglês morto pela doença “febre de dum-dum” ou kala-azar na Índia. No mesmo ano, Charles Donovan, também em biopsia do baço de outro soldado morto, descobriu independentemente o agente etiológico do calazar, que era semelhante ao parasita da tripanossomíase, em sua fase intracelular. Assim, a espécie Leishmania donovani trata-se de uma homenagem a esses pesquisadores. 34 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. As medidas de controle para essa variação da doença compreendem tra- tamento dos casos em massa, dos cães infectados e aplicação de inseticidas. Transmissão Os flebotomíneos são os principais envolvidos na transmissão da leishma- niose visceral, que acontece após os insetos se alimentarem do sangue de homens e animais infectados. O crescimento da forma flagelada, os promasti- gotas, no intestino médio e anterior do vetor, é suficiente para que esse inocule o protozoário em hospedeiros susceptíveis. Pode acontecer também, entre os animais, a transmissão direta, sem flebotomíneos, através do coito, visto que há o parasitismo da glande e da uretra de cães. A leishmaniose tegumentar parece ser uma zoonose de animais sil- vestres, cuja transmissão depende, em grande parte, de flebotomíneos que habitam florestas primitivas. A L. brasiliensis vem sendo isolada com frequên- cia de cães, equinos e muares, no entanto o papel destes como reservató- rios importantes continua aguardando confirmação de pesquisas. O ciclo de transmissão mais importante ocorre quando animais silvestres positivos são picados por flebotomíneos que posteriormente picam novos animais silves- tres. O homem e alguns animais domésticos são eventualmente infectados ao penetrarem no ambiente florestal. Morfologia As formas amastigotas (Figura 17) são ovais, esféricas ou fusiformes, apre- sentam núcleo grande e arredondado com cinetoplasto em forma de basto- nete e não possuem flagelo exteriorizado. As amastigotas se diferenciam das formas flageladas essencialmente pelo prolongamento e exteriorização do flagelo, as demais estruturas são semelhantes. As formas promastigotas (Figura 18), encontradas no intestino dos in- vertebrados, são formas alongadas, com um flagelo longo e livre, possuem núcleo arredondado que fica na região mediana do parasita. As promastigotas metacíclicas são alongadas e possuem flagelo muito longo, chegando a ser maior que o comprimento do corpo, possuem grande mobilidade e são as for- mas infectantes para o hospedeiro vertebrado. 35Princípios de Parasitologia Figura 17 – Formas amastigotas de Leishmania. Fonte: www.commons.wikimedia.org (2012). Figura 18 – Formas promastigotas de Leishmania. Fonte: www.uni-tuebingen.de (2012). Ciclo Biológico Os hospedeiros vertebrados são infectados quando formaspromastigotas metacíclicas são inoculadas pelas fêmeas dos insetos vetores, durante o repasto sanguíneo. As formas promastigotas, já no interior de macrófagos, transformam-se em amastigotas, que se multiplicam sucessivas vezes, sendo então liberadas, e parasitam novas células. As formas amastigotas se multipli- cam em macrófagos localizados na pele ou em mucosas por divisão binária, determinando a morte da célula hospedeira. 36 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Normalmente, a intensidade da proliferação que ocorre na derme de- pende da espécie do parasita e do estado imunológico do hospedeiro. Em pessoas imunocomprometidas, esta proliferação é muito intensa, podendo-se encontrar grande quantidade de parasitos livres no tecido conjuntivo da derme e também nas células parasitadas na epiderme. Quando o flebótomo, hospedeiro invertebrado, realiza o repasto sanguí- neo em um indivíduo infectado ou um hospedeiro reservatório, ingere macró- fagos parasitados ou formas amastigotas livres no sangue ou mesmo em teci- dos. As amastigotas, ao atingirem o intestino médio do inseto, transformam-se em promastigotas. Estas formas flageladas, após rápida multiplicação, convertem-se nos promastigotas infectantes e migratórios. Do intestino anterior são regurgitadas ou introduzidas na pele do próximo hospedeiro quando o inseto toma uma nova refeição de sangue (Figura 19). Figura 19 – Ciclo biológico da Leishmania sp. 1: Os flebotomíneos injetam no hospe- deiro as formas promastigotas de seus probóscides durante as refeições de sangue; 2: As formas infectantes atingem a corrente sanguinea; 3: As formas promastigotas são fagocitadas pelos macrófagos; 4: Promastigotas se multiplicam por divisão sim- ples e infectam outras células mononucleares fagocíticas; 5: Ao picar um hospedeiro infectado, o flebótomo também é contaminado; 6: Flebotomíneos são contaminados pela ingestão de células infectadas durante as refeições de sangue; 7: Agora no inte- rior dos flebotomíneos, formas amastigotas se transformam em promastigotas, e se desenvolvem no intestino do inseto; 8: As formas infectantes migram para o aparelho picador do flebótomo. Fonte: CDC, 2012 (com adaptado). 37Princípios de Parasitologia Profilaxia O controle da LTA nas vastas áreas florestais do Brasil é muito difícil. O diag- nóstico precoce e o tratamento adequado dos casos humanos são importan- te e de responsabilidade das Secretarias Municipais de Saúde. Medidas de proteção individual podem ser tomadas, como o uso de repelentes e a cons- trução de casas a uma distância mínima de matas. Não são recomendadas ações para o controle de animais silvestres e domésticos hospedeiros das espécies de Leishmania causadoras de LTA. Ainda estão sendo conduzidos estudos para a produção de uma vacina. Para a Leishmaniose visceral, a profilaxia consiste em: diagnóstico e tratamento de doentes; sacrifício dos cães22 com sorologia positiva; e com- bate às formas adultas do vetor. Existem ainda, no Brasil, duas vacinas para leishmaniose canina registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Saiba mais Coleiras com Deltametrina reduzem em 80% a incidência de Leishmaniose canina e humana Todos os anos, a doença é responsável por meio milhão de novos casos de infecção e de 60 mil mortes na população humana. A investigação conduzida pela Dra. Vera Camargo-Neves, em parceria com especia- listas da Universidade de São Paulo, teve como objetivo avaliar a eficácia das coleiras im- pregnadas de deltametrina a 4% no controle da Leishmaniose visceral. O estudo conduzido ao longo de dois anos no estado de São Paulo, Brasil, mostra uma redução de 80% do número de casos de Leishmaniose canina e humana por meio da aplicação destas coleiras nos cães, já recomendadas anteriormente pela Organização Mundial de Saúde. Em apenas 25 meses, as coleiras Scalibor promoveram uma diminuição dramática da incidência da doença e abriram a possibilidade de se alcançar um controlo mais eficaz: "o uso de coleiras impregnadas com deltametrina a 4% mostrou um efeito letal para as diferentes espécies de flebótomos". O tempo de repelência pode variar entre as 32 e as 36 semanas, explica a investigadora Vera Camargo-Neves. Os resultados indicam que o uso destas coleiras é eficaz no controlo da doença quando associado a outras medidas de prevenção, tais como evitar os passeios, sobretudo entre o entardecer e o amanhecer, pois corresponde ao período de atividade dos mosquitos. É importante assegurar um bom estado de saúde do animal, para proteger o seu sistema imunitário e manter uma boa alimentação, a vacinação em dia e a desparasitação regular, diz a especialista [...] Fonte: http://bicharada.net. Acesso em: 5 out. de 2012. 22Do ponto de vista epidemiológico, o calazar canino, no Brasil, é considerado mais importante que a doença humana, pois, além de ser mais prevalente, o grande contingente de animais infectados com parasitismo cutâneo, servindo como fonte de infecção para o inseto vetor Lutzomya longipalpis, caracteriza o cão como o principal elo doméstico na cadeia de transmissão da doença (NEVES; MELO; LINARD, 2005). 38 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. 1.3. Giardíase A giardíase é uma doença parasitária, causada por protozoários flagelados do gênero Giardia que parasitam o intestino delgado de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, sendo a espécie Giardia duodenalis a única que infecta humanos e alguns outros mamíferos domésticos e silvestres. Tem ampla distribuição mundial e é uma das principais causas de diarreia infecciosa em países em desenvolvimento, acometendo principalmente crianças, o que é preocupante, visto que pode impedir que o desenvolvimento físico infantil seja satisfatório. É uma doença que guarda estreita relação com a pobreza, com a falta de saneamento básico e com a qualidade da água que é consumida. Em 1961, Anton van Leewenhoek descreveu aquele que seria o pri- meiro protozoário intestinal humano, observado em suas próprias fezes, e em 1882, esse protozoário foi classificado como gênero Giardia. Três são as es- pécies de importância médica: Giardia duodenalis (infecta humanos, outros mamíferos, aves e répteis); Giardia muris (parasita roedores, aves e répteis); e Giardia agilis (infecta anfíbios). Morfologia A Giardia é um ser eucarionte que apresenta duas formas evolutivas, o tro- fozoíto e o cisto (Figura 20). O trofozoíto é o responsável pela manifestação clínica da doença, sendo encontrado no intestino delgado dos hospedeiros. Apresenta formato de pera com quatro pares de flagelos e uma ventosa na região ventral. Essa ventosa permite a adesão do parasita à mucosa intestinal, e são encontrados ainda dois núcleos no interior dessa forma evolutiva. A forma responsável pela transmissão da Giardia é o cisto, que pode ser oval ou elipsoide com dois ou quatro núcleos em seu interior. A sua parede, denominada parede cística, é formada por glicoproteínas e o torna resistente a variações de temperatura, de umidade e a certos produtos químicos. Figura 20 – Cisto (a) e trofozoíto (b) de Giardia. Fonte: cliciamarques.blogspot.com (2012). 39Princípios de Parasitologia O ciclo da Giardia (Figura 21) é monoxeno e direto. Os humanos se con- taminam por meio da ingestão de cistos, que, após ser ingerido, passa por um processo de desencistamento que começa com a ação dos ácidos do estômago e finaliza no duodeno e jejuno, ocorrendo a liberação de uma forma chamada excitozoíto, que se divide e gera quatro trofozoítos binucleados, os quais se mul- tiplicam por divisão binária e colonizam o intestino, ficando aderidos à mucosa. Estes são, então, encistados novamente no ceco e eliminados para o meio exterior junto com as fezes do hospedeiro, no qual podem permanecer viáveis por vários meses. Esse encistamento ocorre em virtude do trofozoíto secretar uma membrana cística resistente que o reveste e contémquitina na sua composição. Figura 21 – Ciclo biológico da Giardia. 1: Os cistos são resistentes e podem sobreviver vários meses na água fria. A infecção ocorre pela ingestão de cistos em água con- taminada, alimentos, ou por via fecal-oral (com as mãos ou fômites); 2: No intestino delgado, cada cisto produz dois trofozoítos; 3: Trofozoítos se multiplicam por fissão binária longitudinal, mantendo-se no lúmen do intestino delgado, em que eles podem ser livres ou ligados à mucosa; 4: Encistamento, no qual os parasitas vão para o cólon. Os cistos são comumente encontrados em fezes não diarreicas; 5: Os cistos podem ser eliminados e transmitidos para pessoas ou animais. Fonte: CDC, 2012 (adaptado). 40 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. Transmissão A transmissão ocorre por via fecal-oral. Os humanos e os animais são infec- tados ao ingerirem cistos. Estes cistos podem estar presentes na água, nos alimentos ou em ambiente contaminado com fezes. A água é considerada um importante veículo de transmissão, seja pela ingestão direta seja pelo consumo de alimentos e bebidas preparados com água contaminada. A contaminação acidental por atividades recreativas também pode ocorrer. A falta de higiene pode resultar em transmissão direta de pessoa para pessoa, por meio de mãos contaminadas. Acredita-se também que possa ocorrer transmissão zoonótica. A doença A maioria das infecções por Giardia é assintomática, e aqueles pacientes que desenvolvem sintomatologia apresentam quadro de diarreia aguda ou diarreia persistente com má-absorção e perda de peso. Em todos os casos, os indivíduos acometidos eliminam cistos pelas fezes. Vale salientar que, em 50% dos indiví- duos, a infecção é resolvida de forma espontânea. A diarreia aguda é acompa- nhada por odor fétido, gases, bem como por distensão e dores abdominais. Nos casos crônicos, a diarreia é contínua, intermitente ou esporádica, prejudicando a absorção de nutrientes, gorduras e vitaminas, podendo resul- tar em danos sérios às crianças. Diagnóstico O diagnóstico deve ser clínico e laboratorial por meio do exame microscópico de fezes em que são visualizadas as formas evolutivas do parasito, ou seja, os trofozoítos e cistos. Vale ressaltar que a liberação dos cistos não ocorre de forma contínua. Existem ainda técnicas imunológicas e moleculares, tais como o ELISA e PCR, respectivamente. Profilaxia Medidas de higiene pessoal, destino correto das fezes, proteção dos alimen- tos e tratamento da água são importantes medidas profiláticas. Os cistos são resistentes à cloração da água, mas são destruídos em água fervente. Contro- lar infecções por Giardia em animais domésticos, como cães e gatos, também é recomendável. O tratamento precoce de doentes bem como a detecção da fonte de infecção são importantes medidas de controle. 1.4 Trichomoníase A tricomoníase é a doença sexualmente transmissível (DST) não viral mais comum no mundo. Os parasitas envolvidos na tricomoníase são membros do filo Zoomastigina, classe Parabasalia, ordem Trichomonadida e família Tricho- monadidae, e as três espécies encontradas em humanos são Trichomonas 41Princípios de Parasitologia vaginalis, Trichomonas tenax, não patogênica encontrada na mucosa oral de seres humanos e outros primatas; e Trichomonas hominis, não patogênico que habita o trato intestinal de humanos. Trichomonas vaginalis23 Essa espécie, que é anaeróbia facultativa, habita o trato geniturinário de ho- mens e mulheres em que produz infecção. É importante frisar que esse parasita não sobrevive em outro ambiente. Sua multiplicação ocorre por divisão binária. A T. vaginalis24 está associada a várias complicações de saúde, contri- bui para a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e predis- põe mulheres a câncer cervical e infertilidade, podendo causar ainda partos prematuros, natimortos e morte neonatal. Morfologia Apresentam forma elipsoide, oval ou esférico, com capacidade de formar pseudópodes. Não formam cistos, apresentando somente o estágio de trofo- zoíto, que possuem quatro flagelos e uma membrana ondulante (Figura 22). Figura 22 – Trofozoíto de Trichomonas sp. Fonte: http://www.pet-informed-veterinary-advice-online.com (2012). Transmissão A tricomoníase é uma doença sexualmente transmissível25, sendo a trans- missão não sexual pouco comum, mas pode acontecer, o que explicaria a ocorrência em crianças, recém-nascidos e mulheres virgens. 23T. vaginalis foi descrita por Donné em 1836, isolando-a de uma mulher com vaginite e, em 1894, Marchand e Miura, observaram o flagelado em um homem com quadro de uretrite. 24A presença da T. vaginalis está associada a evoluções adversas na gravidez, em especial o rompimento prematuro de membranas, partos prematuros e baixo peso no nascimento. Esta associação é, sobretudo, importante nas mulheres sintomáticas. 25A transmissão sexual, curiosamente, só se dá através do sexo entre mulher/homem ou entre mulher/mulher, sendo a transmissão entre homens considerada rara (tal fato ainda não foi estudado profundamente). 42 PANTOJA, L. D. M., PAIXÃO, G. C., BRITO, E. H. S., MOURÃO, C. I. l A doença em mulheres: período de incubação varia de 3 a 20 dias, e o T. vaginalis infecta o epitélio do trato genital, provocando vaginite com corri- mento amarelo-esverdeado, bolhoso e de odor fétido. As mulheres acometi- das apresentam prurido e dores. l A doença em homens: geralmente é assintomática, mas pode apresentar- se como uma uretrite com secreção purulenta e sensação de prurido. Diagnóstico O diagnóstico da tricomoníase pode ser realizado pela junção dos aspectos clíni- cos com exames laboratoriais, sendo o exame microscópico baseado na obser- vação do protozoário móvel em esfregaços a fresco com auxílio da microscopia de campo claro e/ou campo escuro. Também pode ser realizado o cultivo. Técnicas imunológicas, como ELISA e a imunofluorescência, têm con- tribuído para confirmar resultados positivos, complementando os exames parasitológicos. Profilaxia Medidas preventivas que são tomadas no combate a outras doenças sexual- mente transmissíveis devem também ser adotadas para prevenir a tricomoní- ase, tais como: prática de sexo seguro, uso de preservativos, abstinência de contatos sexuais com pessoas infectadas, tratamento26 imediato e eficaz das pessoas positivas e dos parceiros sexuais destas. 2. Supergrupo Amoebozoa 2.1. Amebas parasitas do homem A amebíase é uma doença causada pela Entamoeba histolytica e pode ser sintomática ou assintomática. Esta doença parasitária causa alta mortalidade, por isso é um grave problema de saúde pública. A prevalência da amebíase é maior em regiões tropicais e subtropicais, mas varia de país para país, assim como, no Brasil, de região para região, isso porque é uma doença associada a precárias condições de higiene, educação sanitária e alimentação. A região brasileira com maior prevalência é a Amazônica, predominando no país a forma clínica de colites não disentéricas e os casos assintomáticos. Torna-se importante destacar que a E. histolytica é endêmica, portanto não cau- sa epidemias. É mais frequente em adultos e pode acometer cães, gatos, coe- lhos, porcos e primatas. 26O tratamento tem eficácia em 90% dos casos, sendo usado o metronidazol e o tinidazol. A literatura salienta a importância de tratar também o (a) parceiro (a), mesmo que esteja assintomático (a) para evitar a reinfecção. Cerca de 70% dos parceiros de um paciente infectado também estão infectados pelo parasita. 43Princípios de Parasitologia As amebas são classificadas como pertencendo ao Reino Protozoa, Filo Sarcomastigophora; Superclasse Sardocina, Classe Lobosea, Ordem Amoe- bida, Família Entamoebidae, Gênero Entamoeba. A maioria das espécies de Entamoeba vive no intestino grosso de homens bem como de animais, e as espécies podem variar em relação ao número de núcleos do cisto maduro. A E. histolytica e E. díspar apresentam
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