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CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a procura por consultas especializadas, como a gastrenterológica, tem aumentado. Os pacientes buscam atendimento queixando-se de dor, desconforto ou distensão abdominal, alterações no hábito intestinal — constipação ou diarreia e borborigmos. Contudo, para diagnóstico, esses sintomas de origem intestinal, individualmente, não possuem muita sensibilidade e especificidade. Sua combinação, por sua vez, torna-os mais sensíveis, o que pode identificar a presença de síndromes, quando caracterizados com limites apropriados de frequência. A síndrome do intestino irritável (SII) é a mais comum encontrada na prática clínica e faz parte de um grupo de condições atribuídas à disfunção intestinal conhecido como distúrbios intestinais funcionais (DIFs).1 A expressão intestino irritável parece ter sido mencionada pela primeira vez por Peters e Bargen2 em 1944; já os primeiros critérios para diagnóstico da doença foram introduzidos na década de 1970. A partir daí diversas pesquisas têm sido realizadas com objetivo de compreender essa síndrome e de melhorar sua definição, sua classificação, seu diagnóstico e seu tratamento. Somente nas últimas duas décadas, a SII ganhou atenção considerável no campo dos cuidados da saúde, por conta do aumento de sua prevalência e de seus sintomas (por vezes, debilitantes).3 A Organização Mundial da Saúde (OMS) deu à SII sua própria classificação na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), reconhecendo, portanto, sua importância.4 Embora não exista definição estabelecida para a SII, os diversos sintomas apresentados exercem importante impacto na qualidade de vida dos pacientes, prejudicando atividades rotineiras como trabalhar, estudar e se relacionar socialmente. Tal fato sugere que a SII requer atenção especial dos profissionais de saúde.5 A terapêutica da SII ainda representa um desafio para os profissionais, por ser um dos DIFs menos compreendidos e, consequentemente, por não possuir tratamento estabelecido e eficaz.5 Sabe-se que as abordagens para o tratamento nutricional irão depender dos sinais predominantes (diarreia, constipação ou a alternância desses dois [mista]); assim, concentra-se em normalizar a motilidade gastrintestinal e reduzir os sintomas. Esforços devem ser realizados para revisar, discutir e estabelecer medidas dietéticas que auxiliem no controle dos sintomas da SII em associação às terapias farmacológicas já estabelecidas, a fim de melhorar a qualidade de vida de seus portadores. 75 MONIQUE MARIA LUCENA SURUAGY DO AMARAL CUIDADOS NUTRICIONAIS A PACIENTES COM SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL | PRO NU TR I | C icl o 5 | V olu me 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de ■ identificar o conceito da SII e suas diferentes subclassificações; ■ reconhecer as causas e a epidemiologia da SII, bem como sua fisiopatologia; ■ identificar os critérios diagnósticos e sintomas da SII; ■ empregar, aos pacientes com SII, o tratamento nutricional e suas especificações de forma adequada. ■ ESQUEMA CONCEITUAL Conclusão Caso clínico Síndrome do intestino irritável: aspectos relevantes Epidemiologia Subclassifi caçãoDiagnóstico e classifi cação Tratamento multiprofi ssional e terapias complementares Etiologia e fi siopatologia Uso de probióticos Avaliação dietética Tratamento dietético Dieta restrita em FODMAPs Carboidratos de cadeias curtas Uso de FODMAPs Nutrição na síndrome do intestino irritável 76 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL: ASPECTOS RELEVANTES A SII atualmente é considerada um transtorno intestinal funcional crônico, recidivante, definido — na ausência de causas orgânicas detectáveis — por critérios diagnósticos baseados em sintomas. O quadro sintomático não é específico da SII, pois pode se apresentar ocasionalmente em qualquer indivíduo.6 A seguir, serão tecidas considerações pertinentes à epidemiologia, à etiologia e à fisiopatologia, bem como ao diagnóstico e à classificação da SII. EPIDEMIOLOGIA Avaliar a prevalência de SII é uma tarefa difícil para pesquisadores, uma vez que depende da clareza dos critérios para diagnóstico e de diferenciação dos vários distúrbios gastrintestinais crônicos.7 Um fator importante no diagnóstico de SII são os diferentes métodos utilizados, como os critérios de Roma8 e o questionário Manning.9 Segundo Grundmann e Yoon,7 a prevalência da SII na população norte-americana varia entre 3 e 20%, embora a maioria dos estudos aponte para 10 a 15%; em relação ao gênero, observa-se maior prevalência em mulheres (proporção de 2:1) e, quanto à idade, o início dos sintomas ocorre predominantemente em pacientes com menos de 45 anos, mas aumenta em idosos. Os dados epidemiológicos nacionais para SII ainda são escassos; porém, apesar das diferenças de estilo de vida, a prevalência em diferentes países situa-se em intervalo próximo.7 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A SII ocorre por conta de uma complexa conjunção de fatores. Sua causa e sua fisiopatologia ainda não são completamente compreendidas, embora evidências apontem para vários mecanismos que poderão estar implicados na sua gênese. Esses mecanismos interatuam e, por vezes, sobrepõem-se.6 77 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Além dos mecanismos propostos para a fisiopatologia da SII, seu nível de gravidade também depende de alguns fatores, como reações da imunidade intestinal após alteração da microbiota, hipersensibilidade visceral e permeabilidade alterada do intestino. Esses e outros aspectos estão mais bem explicados no Quadro 1.10 Quadro 1 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA GÊNESE DA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Fatores Descrição Alterações da motilidade intestinal ■■ Aumento (diarreia): ■• aumento de PCAPs; ■• atividade motora prolongada do retossigmoide; ■• hipersensibilidade retal. ■■ Redução (constipação): ■• aumento de contrações segmentares (não propulsivas); ■• diminuição de PCAPs; ■• redução da sensibilidade retal. Fatores genéticos ■■ Polimorfismos no gene do receptor da serotonina. ■■ Polimorfismos em genes envolvidos na ação da IL-10. ■■ Polimorfismos em genes envolvidos na ação dos receptores α-adrenérgicos α-2A e α-2C do TNF-α e do TGF-β. SII–PI ■■ Aumento do número de linfócitos-T, macrófagos e células enteroendócri- nas-l e da permeabilidade intestinal. Hipersensibilidade visceral ■■ Disfunção na interação entre células da mucosa entérica, do sistema imune e neurônios, levando à inflamação local. ■■ Fatores psicossociais. ■■ Alterações na função sensório-motora intestinal (sensibilização neuronal). Propulsão e expulsão anormais dos gases ■■ Resposta anormal do reflexo somático-intestinal (maior retenção de gases). Intolerância alimentar ■■ Intolerância a lipídios, glúten, lactose e outros CCCs. Inflamação local ■■ Presença de linfócitos ativos, mastócitos e aumento de citocinas pró-inflamatórias. Alterações da microbiota intestinal ■■ Hipercrescimento bacteriano. Desregulação do SNC ■■ Possível ativação alterada em determinadas áreas cerebrais em resposta a estímulos viscerais. Fatores psicossociais ■■ Transtornos do humor. ■■ Ansiedade em relação aos cuidados de saúde. ■■ Comportamentos neuróticos. ■■ Life-events adversos. ■■ Transtornos psiquiátricos (ansiedade e depressão). ■■ Estresse. PCAPs: propagação de contrações de alta amplitude; IL-10: interleucina-10; TNF-α: fator de necrose tumoral-α; TGF-β: fator transformador de crescimento β; SII–PI: síndrome do intestino irritável pós-inflamatória; CCCs: carboidratos de cadeia curta; SNC: sistema nervoso central. 78 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADES 1. Assinale a alternativaque corresponde a mecanismos implicados na gênese da SII ligados a alterações da motilidade intestinal. A) Aumento da propagação de contrações de alta amplitude. B) Polimorfismos no gene do receptor da serotonina. C) Ansiedade em relação aos cuidados de saúde. D) Presença de linfócitos ativos, mastócitos e aumento de citocinas pró-inflamatórias. Resposta no final do artigo 2. Sobre a SII, assinale a alternativa correta. A) Caracteriza-se por associação de sintomas ocasionados por alguma alteração orgânica, como inflamação e ulcerações, levando a dor abdominal, leve sangramento, diarreia e flatulência. B) É uma doença funcional em que há alteração na motilidade gastrintestinal e que se caracteriza clinicamente por dor ou desconforto abdominal, associada a anormalidades do hábito intestinal. C) Possui um quadro sintomático específico, pois os sintomas normalmente não se apresentam em outras patologias. D) Refere-se a uma associação de sintomas ocasionados por alguma alteração funcional no intestino, levando a dor abdominal e diarreia, sem ocorrência de constipação. Resposta no final do artigo 3. Em relação aos mecanismos envolvidos na gênese da SII, analise as afirmativas. I — Hipersensibilidade visceral e intolerância alimentar. II — Desregulação do SNC e fatores psicossociais. III — Alterações da microbiota e da motilidade intestinal. IV — Ulcerações com infiltração de macrófagos, giardíase e amebíase. Quais estão corretas? A) Apenas a I, a II e a III. B) Apenas a II e a III. C) Apenas a III e a IV. D) Apenas a II, a III e a IV. Resposta no final do artigo 79 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO O diagnóstico da SII é feito com base em dados clínicos, a partir de critérios estabelecidos por especialistas, resultantes de avaliações de estudos populacionais, uma vez que a doença não provoca alterações estruturais ou bioquímicas identificáveis. Diversos autores já desenvolveram pesquisas para estabelecer esses critérios.9,11 Objetivando criar um critério de diagnóstico utilitário, organizou-se em 1989 um grupo de especialistas de trabalho específico para os DIFs denominado Rome Foundation. Esse grupo, após consenso formal, sugeriu e definiu os critérios de Roma que, por sua vez, já foram revisados e possuem três versões (I, II e III). Os critérios de Roma III8 atualmente utilizados para a SII foram estabelecidos em 2006 e envolvem dor ou desconforto abdominal recorrente durante mais de três dias por mês, nos últimos três meses, em associação a pelo menos duas das seguintes características (cujo início dos sintomas deve ocorrer ao menos 6 meses antes do diagnóstico):8 ■ melhora com a defecação; ■ alterações na frequência das evacuações; ■ variações na forma das fezes. Na investigação inicial de um paciente com suspeita de SII, deve-se também afastar a possibilidade de doenças orgânicas. Os exames necessários para o diagnóstico diferencial irão depender de fatores ligados ao paciente, como a intensidade e as características dos sintomas, além da idade e do comprometimento do estado geral.12 Os principais dados clínicos que podem facilitar a distinção entre alterações funcionais e orgânicas podem ser visualizados no Quadro 2. Quadro 2 ASPECTOS CLÍNICOS DA DOENÇA FUNCIONAL E DA DOENÇA ORGÂNICA Doença funcional ■■ Início dos sintomas na adolescência ou na juventude. ■■ Dor abdominal que piora com as refeições, alivia com evacuações e não desperta o paciente durante o sono. ■■ Distensão abdominal. ■■ Fezes em cíbalos. ■■ Padrão estável de sintomas em cada paciente. ■■ Sintomas relacionados a problemas emocionais. ■■ Estado geral e peso corpóreo mantidos. Doença orgânica ■■ Início dos sintomas após a 4ª década de vida. ■■ Sintomas com curso progressivo e aparecimento de novos sintomas com o passar do tempo. ■■ Quadro doloroso desperta o paciente durante o sono. ■■ Sangramento vivo retal, excluindo-se patologia orificial (por exemplo, hemorroidas). ■■ Esteatorreia e outras evidências de malabsorção, como emagrecimento, desnutrição e outras condições clínicas. Fonte: Damião e Moraes-Filho (2001).12 80 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A As principais doenças orgânicas que devem ser afastadas para o estabelecimento do diagnóstico diferencial da SII e seus sintomas estão no Quadro 3. Quadro 3 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Diagnóstico Sintomas predominantes ■■ Apendicite, colecistite e litíase renal ■■ Diverticulite ■■ Deficiência de lactase ■■ Doença celíaca ■■ Retocolite ulcerativa ■■ Doença de Crohn ■■ Estrongiloidíase, giardíase ■■ Amebíase ■■ Dor abdominal e/ou lombar ■■ Dor abdominal ■■ Diarreia, distensão abdominal ■■ Esteatorreia, distensão abdominal ■■ Diarreia com muco, sangue e dor ■■ Diarreia ou esteatorreia e dor ■■ Diarreia, distensão e dor abdominal ■■ Diarreia com muco e sangue e dor Fonte: Damião e Moraes-Filho (2001).12 Para diagnosticar a SII, deve-se excluir o diagnóstico de intolerância à lactose e de doença celíaca. A deficiência de lactase é frequente na população com SII, ocorrendo malabsorção desse dissacarídeo, que difere de indivíduos com intolerância à lactose sem SII, pois nos primeiros os sintomas são mais intensos.13 Recentemente, estão sendo descritos pacientes com sintomas típicos de SII provocados pela ingestão de glúten, sem diagnóstico de doença celíaca. A expressão sensibilidade ao glúten não celíaca vem sendo utilizada para esses casos.14 Subclassificação A SII pode ser subclassificada de acordo com os sintomas predominantes, que estão relacionados basicamente às características das fezes. Assim, quando a presença de fezes amolecidas e duras é frequente (>25% do tempo), pode-se encontrar:15 ■ SII com predominância de constipação (SII–C); ■ SII com predominância de diarreia (SII–D); ■ SII com padrão misto ou cíclico (SII–M). A SII–D e a SII–C são os subtipos mais comuns da doença. A SII não classificável (SII–NC) é determinada quando são observadas fezes amolecidas ou duras e infrequentes (<25% do tempo).15 81 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A A subclassificação da SII (Quadro 4) não é, contudo, rígida, uma vez que é comum um paciente ser classificado ora em um subgrupo, ora noutro.6 Quadro 4 SUBCLASSIFICAÇÕES DA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL SII–C SII–D SII–M SII–NC Fezes duras* em >25% das defecações e fezes moles** em <25% das vezes Fezes moles** em >25% das defecações e fezes duras* em <25% das vezes Fezes duras* e moles** em >25% das vezes Alteração na consistência das fezes insuficiente para corresponder a SII–C, SII–D ou SII–M Até um terço dos casos Até um terço dos casos Mais comum entre mulheres Mais comum entre homens * Tipos 1–2 da escala de Bristol para forma das fezes;16 ** Tipos 6–7 da escala de Bristol para forma das fezes.16 Fonte: Adaptado de Longstreth e colaboradores (2006);15 Quigley e colaboradores (2009).17 Para identificar as subclassificações da SII, pode-se assumir que a forma e a consistência das fezes refletem o trânsito intestinal; assim, profissionais capacitados para tal podem considerar o uso da Escala de Bristol16 para forma das fezes para identificar a presença de constipação (tipos 1 e 2) ou de diarreia (tipos 6 e 7) (Figura 1). Tipo 1 Grumos duros, separados, como nozes, difíceis de eliminar Tipo 2 Fezes em formato de salsicha, porém grumosas Tipo3 Fezes em formato similar à salsicha, com rachaduras na superfície Tipo 4 Fezes em formato similar à salsicha ou cobra, lisas e macias Tipo 5 Fezes em formato similar a manchas macias, com bordas defi nidas Tipo 6 Peças disformes com bordas indefi nidas Fezes pastosas Tipo 7 Fezes aquosas, sem material sólido, totalmente líquidas Figura 1 – Sistema de classificação da forma de fezes (Escala de Bristol). Fonte: Lewis e Heaton (1997).16 82 CU IDADO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A Apesar das subclassificações da SII estarem bem-estabelecidas, ainda existem dúvidas e dificuldades para se determinar o padrão intestinal em que o portador de SII está inserido. Pacientes com SII apresentam grande variabilidade no horário da defecação e na consistência das fezes,18 e os sintomas geralmente flutuam com exacerbações, durando em média 5 dias.19 Nesse caso, um diário de duas semanas usando a Escala de Bristol pode ajudar a determinar o padrão intestinal predominante e, assim, orientar o tratamento específico para controle dos sintomas.1 Em alguns pacientes, os sintomas da SII podem se sobrepor aos característicos da constipação funcional e dificultar a determinação da subclassificação da SII, principalmente quando o sintoma predominante é a constipação. Assim, uma boa anamnese com identificação precisa dos critétios da SII pode ser determinante para o diagnóstico.20 A Figura 2 ilustra como a Escala de Bristol pode ser utilizada para identificar o padrão intestinal na SII. % Evacuações amolecidas ou líquidas 0 25 50 75 100 % E va cu aç õe s d ur as ou gr um os as 100 75 50 25 0 SII–C Tipos 1 e 2 SII–M SII–I SII–D Tipos 6 e 7 Figura 2 – Uso da Escala de Bristol para identificar SII–C, SII–D, SII–M e SII–NC. As formas fecais são ilustradas nos segmentos adequados do diagrama para indicar aquela predominante no momento da visita ou a partir de um diário. São necessárias observações seriadas para determinar o padrão alternante, em que o hábito intestinal se altera por semanas ou meses. Fonte: Marques (2002).6 TRATAMENTO MULTIPROFISSIONAL E TERAPIAS COMPLEMENTARES O aumento da prática de atividade física melhora os sintomas gastrintestinais em pacientes com SII. Indivíduos fisicamente ativos com SII têm alívio dos sintomas quando comparados àqueles inativos. Portanto, a atividade física deve ser usada como modalidade de tratamento primário em portadores de SII.21 Além disso, deve-se associar alimentação e atividade física ao tratamento medicamentoso, que deve ser direcionado ao subtipo da SII.6 Os profissionais têm sido frequentemente desafiados pela ausência de terapêuticas efetivas disponíveis para a SII, por isso tratamentos complementares vêm sendo investigados com o objetivo de minimizar os sintomas. As terapias alternativas e complementares são usadas continuamente, e existem relatados de benefício em pessoas com SII, embora sua eficácia não tenha sido bem estudada clinicamente. Vários estudos clínicos bem desenhados sobre ervas medicinais para o tratamento de SII foram recentemente descritos em uma revisão Cochrane e mostraram melhora dos sintomas da doença.22 Outro estudo realizado com uma variedade de ervas medicinais, sozinhas ou em combinação, também mostrou melhora significativa dos sintomas da SII.23 83 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ATIVIDADES 4. Na investigação inicial de um paciente com suspeita de SII, deve-se também afastar a possibilidade de doenças orgânicas. Alguns aspectos clínicos favorecem a presença de doença funcional, direcionando o diagnóstico. Assinale a alternativa que apresenta um aspecto clínico de doença funcional. A) Início dos sintomas após a quarta década de vida. B) Dor abdominal que piora com as refeições, alivia com evacuações e não desperta o paciente durante o sono. C) Sangramento vivo retal, excluindo-se patologia orificial. D) Quadro doloroso que desperta o paciente durante o sono. Resposta no final do artigo 5. Correlacione as colunas quanto a subclassificações e características para o reconhecimento da SII. (1) SII-C (2) SII–D (3) SII–M (4) SII–NC ( ) É caracterizada por fezes moles em >25% e fezes duras em <25% das defecações. ( ) Ocorre a eliminação de fezes duras em >25% e fezes moles em <25% das defecações. ( ) É caracterizada por fezes amolecidas ou duras infrequentes (<25% do tempo). ( ) Ocorre quando a presença de fezes amolecidas e duras é frequente (>25% do tempo). Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 4 — 2 — 3 — 1 B) 2 — 4 — 1 — 3 C) 2 — 1 — 3 — 4 D) 1 — 2 — 4 — 3 Resposta no final do artigo 6. De acordo com os critérios de Roma III, como pode ser identificada a presença da SII? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 84 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A 7. De acordo com a Escala de Bristol, fezes aquosas, sem material sólido e totalmente líquidas são classificadas como A) tipo 2. B) tipo 4. C) tipo 5. D) tipo 7. Resposta no final do artigo 8. Analise as afirmativas sobre a dor associada à SII. I — É intensificada pela defecação. II — Raramente desperta o paciente de seu sono. III — Varia quanto à qualidade, à intensidade e à duração. IV — Associa-se à mudança na frequência da defecação e à consistência das fezes. Quais estão corretas? A) Apenas a I, a II e a III. B) Apenas a II, a III e a IV. C) Apenas a II e a III. D) Apenas a III e a IV. Resposta no final do artigo ■ NUTRIÇÃO NA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Os itens a seguir dizem respeito a cuidados nutricionais a pacientes com SII. AVALIAÇÃO DIETÉTICA Os hábitos alimentares constituem o foco de vários estudos cujos objetivos são avaliar de forma quali e quantitativa o consumo alimentar de diferentes populações e observar a ingestão dos nutrientes e a sua relação com as morbidades. Poucos estudos, porém, avaliaram a ingestão alimentar de portadores de SII. Williams e colaboradores,24 utilizando um questionário de frequência alimentar (QFA), analisaram a ingestão alimentar de 104 portadores de diferentes subtipos de SII a compararam às recomendações dietéticas de energia e nutrientes do Reino Unido. Os autores chegaram à conclusão de que a subpopulação de portadores de SII parece ter ingestão adequada e equilibrada de macronutrientes, sem evidência de ingestão inadequada de micronutrientes. Portadores de SII tendem a fazer exclusões alimentares conforme os diferentes sintomas se manifestam. Esse fato pode favorecer a inadequação alimentar, como mostra o estudo de Ligaarden e colaboradores,25 que identificou baixo consumo de produtos lácteos e maior ingestão de bebidas carbonatadas nos pacientes com SII em comparação ao grupo-controle. 85 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A TRATAMENTO DIETÉTICO O Council on Health Promotion’s Nutrition Committee alerta sobre a necessidade de serem estabelecidas abordagens dietéticas emergentes que possam resolver os sintomas da SII antes de iniciar a utilização de medicamentos.26 Discute-se a dietoterapia para a SII com o objetivo de controlar os sintomas da doença, o que irá depender de sua natureza e sua intensidade, do grau de comprometimento funcional e de fatores psicossociais envolvidos. Portanto, se há prevalência de constipação, sugerem- se orientações nutricionais para tal sintoma; quando há prevalência de diarreia, indicam-se recomendações para essa condição.7 O consumo excessivo de cafeína e a alta ingestão de lactose e carboidratos de dificil digestão parecem contribuir para os sintomas no portador de SII–D.27,28 Nos últimos anos, o papel desses carboidratos tem sido bastante investigadocomo alimentos geradores dos sintomas da SII. Esses carboidratos são tratados como fermentáveis, oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis (FODMAPs, de fermentable, oligosaccharides, disaccharides, monosaccharides and polyols). A inatividade física, as deficiências alimentares, a falta ou o excesso de ingestão de fibra dietética e a ausência de tempo adequado para a defecação devem ser avaliados como fatores que contribuem para o desenvolvimento de SII, especificamente de SII–C.29 Assim, o aumento na ingestão de fibras alimentares e a prática de atividade física regular podem beneficiar pacientes portadores dessa doença.30 Pacientes com o subtipo SII–C possuem melhora significativa dos sintomas quando conseguem consumir de 20 a 30g de fibras durante o dia, especialmente fibra solúvel.31 Essas fibras são facilmente fermentadas pela microbiota do intestino grosso (por exemplo, pectinas, gomas, inulina e algumas hemiceluloses). Nesse ponto, vale salientar o papel dos prebióticos na SII, uma vez que os mais investigados (frutanos, inulina e fruto-oligossacarídeos) são classificados como FODMAPs, compostos já citados como geradores de sintomas da SII. Estudos mostraram que a utilização de baixas doses de alguns prebióticos poderia levar à melhora nos sintomas, porém o aumento na carga desses compostos poderia causar agravamento da percepção dos sintomas. Portanto, sugere-se a realização de mais pesquisas para determinar se realmente existem benefícios com o uso de prebióticos em portadores de SII.32 Recente revisão sistemática33 revelou que a suplementação de fibra é benéfica para a SII–C leve a moderada, embora tenha concluído que ensaios clínicos randomizados mais rigorosos e de longo prazo são necessários. Em termos gerais, muitos pacientes com SII queixam-se de intolerância alimentar e relacionam a exacerbação dos sintomas com a ingestão de determinados alimentos. Assim, uma abordagem progressiva de exclusão desses alimentos pode ser utilizada.34 Tal conduta, que vem sendo estudada nos últimos anos, leva em consideração o reconhecimento da piora dos sintomas com a ingestão de determinados alimentos. 86 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A Esse tipo de tratamento merece atenção especial do profissional de saúde e do paciente, uma vez que a aderência à dieta pode ficar comprometida e pode haver exclusão substancial de alimentos, o que pode comprometer o estado nutricional do portador de SII. Amarante,35 em sua investigação com 140 portadores de SII, observou que, 82,9% deles apresentavam, quando questionados, piora dos sintomas em relação ao consumo de determinados alimentos; contudo, 34,2% relataram não modificar ou excluir esses alimentos menos toleráveis da sua dieta. Os alimentos mais citados como deflagradores e/ou exacerbadores dos sintomas, em ordem decrescente de frequência, foram: ■ frituras em geral; ■ massas com molho; ■ feijão; ■ chocolate; ■ café; ■ pizza; ■ repolho; ■ tortas e outros doces. No estudo de Amarante,35 foi observada correlação positiva entre: ■ consumo de fritura e flatulência e estufamento abdominal; ■ consumo de chocolate, pizza e feijão e estufamento abdominal; ■ consumo de margarina e constipação; ■ consumo de tortas e doces e sensação de evacuação incompleta; ■ ingestão de leite e presença de muco nas fezes; ■ cosumo de pão branco com pirose retroesternal; ■ consumo de massas com molho e dor abdominal. Os alimentos fonte de carboidratos fermentativos (massas, feijão, chocolates, pizzas, tortas e doces) são os principais desencadeadores ou exacerbadores dos sintomas da SII.35 A cafeína é potente estimuladora da contração colônica, ou seja, pacientes com SII–D podem ter seus sintomas agravados com o consumo de café e de outros alimentos ricos em cafeína, como chá-mate, chá-preto e refrigerantes à base de cola, pois podem causar diarreia quando ingeridos em quantidade excessiva.36 USO DE FODMAPs Os FODMAPs são CCCs de difícil absorção que, por seu poder osmótico, aumentam o volume de líquido no lúmen intestinal e são fermentados pelas bactérias do intestino, produzindo sintomas como gases e distensão abdominal. 87 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Os FODMAPs incluem CCCs como a frutose e a lactose; fruto-oligossacarídeos e galacto- oligossacarídeos, como os frutanos e os galactanos; polióis como sorbitol, manitol e xilitol (Quadro 5).37 Quadro 5 DESCRIÇÃO DOS FODMAPs Tipo Descrição Fermentáveis Processo por meio do qual as bactérias anaeróbicas do intestino degradam os carboidratos não digeridos para produzir gases (hidrogênio, metano e dióxido de carbono) e ácidos graxos de cadeia curta (acético, butírico e propiônico). Oligossacarídeos Fruto-oligossacarídeos encontrados no trigo, no centeio, na cebola e no alho. Galacto-oligossacarídeos (GOSs) encontrados em legumes, feijões, lentilha e soja. Dissacarídeos Lactose encontrada no leite, no queijo macio e no iogurte. Monossacarídeos Frutose (em excesso de glicose) encontrada no mel, em maçãs e em xaropes de milho ricos em frutose. Polióis Polióis de açúcar (por exemplo, sorbitol, manitol e xilitol) usados como adoçantes artificiais e encontrados em algumas frutas e alguns vegetais (por exemplo, damascos, cerejas, nectarinas, pêssegos, ameixas e abacates). Fonte: Adaptado de Cadenhead e colaboradores (2005).26 A dieta restrita em FODMAPs é baseada na ideia de que os carboidratos fermentáveis pioram os sintomas dos DIFs, especialmente a SII, por serem osmoticamente ativos e rapidamente fermentados.38 Essa dieta tem sido investigada desde 2001, porém só atualmente vem ganhando destaque e atenção cada vez maiores no meio científico em todo o mundo.6 Evidências sugerem que os sintomas da SII podem ocorrer, em parte, por conta da malabsorção de CCCs. Assim, uma dieta restrita nesses carboidratos seria ferramenta em potencial para o tratamento dietético da SII.26 Carboidratos de cadeia curta Os frutanos, por conta da carência de hidrolase específica para quebrar as ligações frutose- frutose, são pouco absorvíveis e, portanto, podem ser fermentados no intestino. O trigo é a maior fonte de frutanos da dieta. Já os galactanos são formados por uma cadeia de galactose unida a uma molécula de frutose e atuam de modo semelhante aos frutanos.38 A frutose, quando presente em excesso em relação à glicose, é absorvida com dificuldade. A frutose livre é absorvida por meio do transportador GLUT-5 presente em todo o intestino delgado, porém essa absorção é limitada. Quando presente com a glicose, a frutose é absorvida de forma mais eficiente devido à inserção do transportador GLUT-2 na membrana apical do enterócito. Assim, a absorção da frutose melhora quando ingerida em proporções adequadas com a glicose, ou seja, na proporção de 1:1.38 A lactose é quebrada pela lactase, localizada na superfície das células intestinais, originando glicose e galactose, que também são absorvidas, porém indivíduos com SII comumente apresentam algum grau de intolerância a esse dissacarídeo. Já os polióis (sorbitol, manitol, xilitol) são adoçantes artificiais, possuem absorção lenta por meio de poros no epitélio intestinal e também podem ser fermentados. O sorbitol é o poliol mais comum na dieta.38 88 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A O Quadro 6 revela as principais fontes desses CCCs. Co nt eú do de F OD MA Ps Ol ig os sa ca ríd eo s Di ss ac ar íd eo s ( lac to se ) Mo no ss ac ar íd eo s ( fru to se ) Po lió is Al to ■ Fr uta no s: • alc ac ho fra ; • alh o,a lho -p or ó, as pa rg os , a bo br inh a, ce bo la; • qu iab o, be ter ra ba ; • trig o, ce nte io; • me lan cia , p inh a, cá qu i; • pê ss eg os br an co s. ■ Ga lac tanos : • br óc oli s e va ge m; • re po lho ; • co uv e e c ou ve -d e- br ux ela s; • er vil ha , fe ijã o e g rã o- de -b ico . ■ Le ite de va ca , ov elh a e ca br a ■ Ri co ta ■ Qu eij o c ot ta ge ■ Re qu eij ão ■ Iog ur te ■ So rve te ■ Ma çã ■ Pe ra ■ Ma ng a ■ Pê ss eg o ■ Da ma sc o ■ Am eix a ■ Fr uta s s ec as ■ Me l ■ Xa ro pe de m ilh o ■ Ma çã ■ Pe ra ■ Da ma sc o ■ Ce re ja ■ Am eix a ■ Ab ac ate ■ Co gu me los ■ Co uv e- fl o r ■ So rb ito l ■ Xi lito l ■ Ma nit ol Ba ixo ■ Ce no ur a ■ Ai po ■ Ce bo lin ha ■ Be rin jel a ■ Va ge ns ■ Al fac e ■ Ab ób or a ■ To ma te ■ Fe ijã o v er de ■ Ce re ais /pã es se m glú ten ■ Le ite se m lac tos e ■ Le ite de ar ro z ■ Qu eij o b rie ■ Iog ur te se m lac tos e ■ Ba na na , m irti lo ■ Uv a, me lão , la ra nja ■ Mo ra ng o, kiw i ■ Ma mã o, ma ra cu já ■ Ab ac ax i, l im ão ■ To ra nja ■ Xa ro pe de bo rd o ■ Ba na na , m irti lo ■ Uv a, me lão , la ra nja ■ Me lão , k iw i ■ Ma mã o, ma ra cu já ■ Lim ão , li ma ■ Fr am bo es a ■ Aç úc ar, gl ico se ■ Su cra los e, sa ca rin a, as pa rta me AL IM EN TO S CO M AL TO E B AI XO C ON TE ÚD O DE F OD MA Ps 89 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | Fo nt e: A da pt ad o d e G ibs on e Sh ep he rd (2 01 0) .39 Qu ad ro 6 CÓ PIA C ON TR OL AD A Dieta restrita em FODMAPs Recente ensaio clínico duplo-cego controlado com placebo, realizado por Biesiekierski e colaboradores,40 mostrou que o glúten não induziu quaisquer sintomas gastrintestinais específicos nos 37 participantes portadores de sensibilidade ao glúten não celíaca autorrelatada. No entanto, o fornecimento de dieta restrita em FODMAPs reduziu os sintomas em todos os participantes, levando a uma considerável melhora dos sintomas quando em comparação à dieta sem glúten habitual. Estudos recentes também afirmam o papel da restrição dos FODMAPs na melhora dos sintomas da SII. Staudacher e colaboradores,41 em investigação cujo objetivo foi determinar se uma dieta baixa em FODMAPs é eficaz para o controle dos sintomas em pacientes com SII, observaram que, no total, mais pacientes no grupo submetido à dieta com baixo teor de FODMAPs relataram satisfação com a resposta de sintomas (76%) como inchaço, dor abdominal e flatulência, em comparação com o grupo com dieta padrão (54%, p=0,038). Outros estudos também confirmam que a restrição de FODMAPs tem função importante na redução dos sintomas relacionados à SII, a exemplo de Pérez y López e colaboradores,42 que observaram melhora significativa nos sintomas da SII mais frequentes, como dor abdominal, inchaço e flatulência, com 70,9% de satisfação global do paciente. Gibson e Shepherd39 concluíram em sua investigação que uma dieta reduzida em FODMAPs fornece abordagem eficaz para o manejo de pacientes com sintomas intestinais funcionais com crescente base de evidências. Acrescentam, ainda, que é uma dieta a ser elaborada por nutricionista e que atinge elevado grau de cumprimento pelo profissional e pelo paciente, proporcionando alívio dos sintomas globais na maioria dos pacientes com SII, além de melhora dos sintomas intestinais em pacientes com doença inflamatória do intestino. Implementação O nutricionista tem papel fundamental na implementação e no acompanhamento de pacientes que realizam dietas restritas em FODMAPs.38 90 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A A estratégia para a implementação de dietas restritas em FODMAPs é sugerida por Gibson e Shepherd39 e pode ser visualizada na Figura 3. Restrição completa de FODMAPs Frutanos, galactanos, polióis, frutose e lactose 6 a 8 semanas Programa de reintrodução para determinar a dose tolerável Diagnóstico positivo de DIF Teste de hidrogênio expirado (lactose e frutose) Dieta Restrição de frutanos, galactanos e polióis Restrição de frutose, se malabsorção Restrição de lactose, se malabsorção Sim Não + + Figura 3 – Implementação da dieta restrita em FODMAPs. Fonte: Adaptada de Gibson e Shepherd (2010).39 Para realizar dieta restrita em FODMAPs, os autores orientam inicialmente o teste de hidrogênio expirado a fim de definir a capacidade de absorção completa de uma carga de lactose e frutose, o que pode reduzir a amplitude da restrição dietética necessária. Não é um teste indispensável, pois uma dieta totalmente restrita já pode ser iniciada, mas é um bom início para não incentivar restrições desnecessárias. A restrição total de FODMAPs é sugerida durante 6 a 8 semanas para, em seguida, iniciar lentamente a introdução de alimentos, a fim de determinar a dose tolerável de cada FODMAP.39 91 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Educação do paciente Segundo Gibson e Shepherd,39 estratégias de trabalho educacional em grupos de pacientes com SII, a fim de orientar sobre a dieta restrita em FODMAPs, podem ter sucesso, porém com cautela, pois os pacientes muitas vezes selecionam partes das informações que mais lhe interessam e ignoram outras. Deve-se definir qualitativamente as práticas alimentares e o estilo de vida dessa população, bem como reconhecer os prováveis FODMAPs de exposição diária pelo paciente por meio de anamnese alimentar completa. A estrutura fisiológica para a abordagem dietética (ou seja, a base científica da exposição aos FODMAPs, sua malabsorção e posterior fermentação) também deve ser explicada ao paciente, favorecendo sua compreensão e aumentando a probabilidade de adesão à dieta. Materiais contendo listas de alimentos com alto conteúdo em FODMAPs, orientações de como substitui-los e alternativas alimentares adequadas devem ser fornecidos ao paciente. O nutricionista deve também orientar quanto a situações em que o controle da preparação dos alimentos é limitado, como em restaurantes.39 Limitações e riscos Apesar dos efeitos positivos observados com o uso da dieta restrita em FODMAPs, ainda existem limitações para sua aplicabilidade na rotina do paciente, como a ausência de listas completas sobre o conteúdo de FODMAPs dos alimentos e a falta de clareza na definição dos níveis de corte de conteúdos de FODMAPs, que determinam classificação como “elevada” ou não. Os alimentos e as bebidas com as seguintes quantidades de FODMAPs foram considerados de risco para induzir sintomas de SII:39 ■ >0,5g de frutose por 100g do alimento, em excesso de glicose; ■ >3g de frutose em uma porção média, independentemente de quantidade de glicose; ■ >0,2g por porção de frutanos. A dieta restrita em FODMAPs limita a ingestão de fontes de fibras prebióticas, cujo consumo é reconhecidamente associado à melhora do funcionamento e da microbiota intestinal, por isso alguns estudos têm investigado a segurança na adesão a esse tipo de dieta. Staudacher e colaboradores43 investigaram como a dieta restrita em FODMAPs poderia influenciar a microbiota intestinal e verificaram que, após quatro semanas submetidos à dieta com baixo teor de FODMAPs orientada por nutricionista, os pacientes apresentaram redução na proporção e na concentração de bifidobactérias em suas fezes quando comparadas às de pacientes com dieta habitual. Os autores destacaram que, em portadores de SII, a microbiota intestinal pode estar alterada e com baixos níveis de bifidobactérias, o que pode se agravar com a dieta restrita em FODMAPs. 92 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A Staudacher e colaboradores43 relatam, porém, que não existem dados clínicos quanto à possibilidade de tal deficiência causar efeitos reais negativos e destacam que esse aspecto da segurança merece mais estudos. Nessa investigação,observou-se que não houve alteração no pH fecal ou no conteúdo de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) nos pacientes que aderiram à dieta restrita em FODMAPs. Não existe informação sobre os efeitos de dieta com baixo teor em FODMAPs e outros componentes do microambiente do cólon. Outra investigação elaborada por Halmos e colaboradores44 analisou os efeitos de uma dieta com baixo teor de FODMAPs sobre biomarcadores da saúde do cólon em comparação a uma dieta típica australiana. Foi verificado que dietas que diferem no seu teor de FODMAPs estão associadas a mudanças consideráveis na composição da microbiota fecal — uma dieta pobre nesses carboidratos reduziu a abundância bacteriana total, mas não teve efeito sobre a abundância relativa de bactérias positivamente associadas com a saúde do cólon e, assim como no estudo de Staudacher e colaboradores,43 não houve alteração nas concentrações de AGCCs fecais associados com diferenças na ingestão FODMAPs. Halmos e colaboradores44 concluíram que as dietas com diferentes teores de FODMAPs possuem efeitos sobre a composição da microbiota intestinal, porém as implicações da redução na ingestão desses alimentos em longo prazo requerem elucidação. Foi relatado ainda que, na fase inicial da dieta reduzida em FODMAPs, mais rigorosa, houve redução da ingestão de carboidratos totais, incluindo amido e açúcares totais, no entanto o valor energético e o consumo de proteína e gordura não mudaram em comparação a uma dieta habitual. Além disso, a ingestão de cálcio foi menor naqueles que seguiram dieta com baixo teor de FODMAPs durante quatro semanas. Apesar dos possíveis efeitos discutidos, espera-se que a adequação nutricional de pessoas que seguem dieta restrita em FODMAPs seja alcançada com a orientação de profissional habilitado, garantindo que o paciente encontre o nível mínimo de restrição de FODMAPs necessário para o controle dos sintomas da SII e, assim, alcance consumo de mais variedade de alimentos nessa dieta.37 USO DE PROBIÓTICOS O uso de probióticos, microrganismos vivos ou atenuados, também tem sido investigado na melhora dos sintomas da SII. A modulação da microbiota com o uso desses microrganismos parece ser um tratamento promissor. Os estudos voltam-se para o papel dos probióticos na redução global dos sintomas, como distensão, dor abdominal e flatulência. Duas recentes revisões sistemáticas com metanálise de ensaios clínicos randomizados investigaram e discutiram a eficácia do uso de probióticos na SII que mostraram melhoras modestas no inchaço, na distensão e na dor abdominal e na dificuldade de evacuação; porém, ensaios clínicos bem- desenhados ainda são necessários para confirmar a eficácia dos probióticos sobre os principais sintomas da SII e sobre a qualidade de vida do paciente.10,30 Nos artigos inclusos nessas revisões, foram utilizadas sobretudo as cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium e suas variações e, em menor número, cepas de Streptococcus, Escherichia e Enterococcus. 93 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Marques6 sugere mais pesquisas para definir estirpes e doses recomendadas para controle dos sintomas, uma vez que existem grande variedade e diferentes combinações e doses utilizadas nas investigações, o que dificulta o estabelecimento de qual seria mais eficaz e impede uma prescrição exata e correta dos probióticos. Theophilo e Guimarães45 concluíram, em sua revisão bibliográfica, que a administração de probióticos formulados a partir de cepas vivas de bactérias humanas têm efeitos positivos na melhora dos sintomas da SII, porém sugerem mais estudos para elucidar esses efeitos. Nessa revisão, os principais resultados obtidos na melhora dos sintomas gastrintestinais da resposta inflamatória e na qualidade de vida dos portadores da síndrome foram, em sua maioria, com o uso de probióticos na forma de cápsula, em concentrações entre 107 e 109 unidades formadoras de colônia (UFC) e os que utilizaram as cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium e suas variações. O uso de probióticos poderia também beneficiar aqueles portadores de SII que apresentam malabsorção de açúcares, como a lactose. Uma função vital das bactérias láticas na microbiota intestinal é produzir a enzima β-D-galactosidade, que auxilia na quebra de lactose no intestino. A produção da enzima β-D-galactosidade é fundamental, particularmente para indivíduos incapazes de digeri-la de forma adequada, o que resulta em desconforto abdominal.46 ATIVIDADES 9. Sobre aspectos nutricionais envolvidos na SII, analise as afirmativas. I — A eliminação de alimentos como leite e derivados, e pães e açúcares proporciona pouco alívio dos sintomas para pacientes com SII e intolerância à lactose. II — As exclusões alimentares, em geral feitas pelos portadores de SII, favorecem a inadequação alimentar. III – A dietoterapia para SII objetiva o controle dos sintomas. Qual(is) está(ão) correta(s)? A) Apenas a I. B) Apenas a I e a II. C) Apenas a II. D) Apenas a II e a III. Resposta no final do artigo 10. Embora ainda sejam necessários mais estudos, assinale a alternativa que apresenta opção de tratamento benéfica para casos de SII–C. A) Suplementação de fibras. B) Alta ingestão de lactose. C) Tratamento com FODMAPs. D) Consumo controlado de cafeína. Resposta no final do artigo 94 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A 11. A lactose encontrada no leite, no queijo macio e no iogurte corresponde a qual termo na definição de FODMAPs? A) Fermentáveis. B) Dissacarídeos. C) Oligossacarídeos. D) Monossacarídeos. Resposta no final do artigo 12. A avaliação dietética de paciente com SII normalmente revela A) adequação nutricional, pois são raros os casos de inadequação e intolerância alimentar. B) raras situações de exclusão alimentar, pois dificilmente algum alimento específico causa sintomas. C) situações de exclusão alimentar frequentes, pois muitos se queixam de exacerbação dos sintomas com a ingestão de determinados alimentos. D) queixas de intolerância alimentar pouco frequentes. Resposta no final do artigo 13. Sobre fatores que contribuem para o desenvolvimento da SII, especificamente aquela com predominância de diarreia, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Consumo excessivo de cafeína. ( ) Elevada ingestão de lactose. ( ) Consumo excessivo de carboidratos de difícil digestão. ( ) Falta de tempo adequado para a defecação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V — F — V — V B) F — V — F — F C) V — V — V — F D) V — V — F — V Resposta no final do artigo 14. A adesão a uma dieta restrita em FODMAPs por um portador de SII sem orientação profissional adequada pode expô-lo a A) elevado consumo de cálcio, o que pode levar à calcificação de artérias. B) alto consumo de fibras prebióticas, o que pode levar à flatulência. C) deficiências nutricionais derivadas de exclusões alimentares inadequadas. D) elevado consumo de frutose, o que pode aumentar o risco de doença crônica não transmissível. Resposta no final do artigo 95 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ CASO CLÍNICO S.M.L., 35 anos, branco, solteiro, peso atual 92kg, que se mantém há 5 anos, queixa-se de dor e desconforto abdominal que, quando iniciam, duram aproximadamente uma semana, repetem-se a cada um a dois meses, e surgiram há cerca de um ano. O paciente refere que tais sintomas melhoram quando defeca, sentindo sensação de alívio. Relata que essa dor abdominal se soma a alterações na consistência das fezes, que eram do tipo salsicha, lisa e macia, e passaram à consistência líquida, sem material sólido, indicadas após visualizar Escala de Bristol. Quando questionado sobre a frequência em que as fezes aparecem líquidas, o paciente relatou que evacua habitualmente quatro vezes por semana, sendo que, delas, em média três vezes são de forma líquida.Relata não apresentar sangramento retal e já ter realizado exames que excluíram o diagnóstico de diverticulite, DIF, intolerância à lactose e doença celíaca, bem como estrongiloidíase, giardíase e amebíase. Após análise dietética, chamou a atenção a ingestão habitual de uma xícara grande de café em quatro horários durante o dia; além disso, foram evidenciadas as seguintes preferências alimentares: ■ frutas — gosta de maçã, pera, melancia e não tem preferência por banana; ■ legumes e verduras — gosta da maioria, com exceção de chuchu; ■ arroz, pães, massas e tubérculos — prefere pão branco (tipo francês), biscoito salgado integral, batata-doce e inhame; ■ leguminosas — consome feijão mulatinho e não gosta de feijão verde; ■ leite e derivados — consome leite integral, iogurte de frutas integral e queijo muçarela ou cottage. ATIVIDADES 15. Que sintomas apresentados pelo paciente do caso clínico sugerem o diagnóstico de SII? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 16. Com base nos sintomas descritos no caso clínico, qual é o subtipo da SII apresentada pelo paciente? A) SII–D. B) SII–C. C) SII–M. D) SII–NC. Resposta no final do artigo 96 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A 17. Segundo pesquisadores que investigam alimentação e SII, que alimentos poderiam deflagrar e/ou piorar os sintomas relatados pelo paciente do caso clínico? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 18. Como se pode implementar a dieta restrita em FODMAPs para o paciente do caso clínico? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 19. Que orientações gerais e dietéticas devem ser transmitidas ao paciente do caso clínico? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo ■ CONCLUSÃO A SII possui etiologia e fisiopatologia ainda pouco esclarecidas, porém requer tratamento individualizado, em que o nutricionista tem papel fundamental no controle dos sintomas, na adequação da ingestão alimentar, recuperando ou adequando o estado nutricional; para isso, destaca-se a importância do estabelecimento do diagnóstico por profissional especializado. Ao receber um paciente com diagnóstico de SII, o nutricionista está diante de um grande desafio, uma vez que o cuidado nutricional direcionado a ele deve ser individualizado e pode ser dificultado pela necessidade de restrições alimentares específicas; assim, deve-se lançar mão de opções que substituam os alimentos restritos nos aspectos organolépticos e nutricionais, mantendo os princípios de qualidade, quantidade, adequação, harmonia e variedade. 97 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: A Comentário: Os mecanismos propostos implicados na gênese da SII ligados a alterações da motilidade intestinal são de aumento (diarreia) — que incluem aumento das PCAPs, atividade motora prolongada do retossigmoide e hipersensibilidade retal — e de redução (constipação), incluindo aumento de contra- ções segmentares (não propulsivas), diminuição das PCAPs e redução da sensibilidade retal. Atividade 2 Resposta: B Comentário: A SII é atualmente considerada um DIF crônico, recidivante, definido por critérios diagnósticos baseados em sintomas, na ausência de causas orgânicas detectáveis. A doença é caracterizada pela alteração na motilidade intestinal, evento considerado mecanismo proposto para a gênese da SII, e tem como sintomas principais dor e desconforto abdominal, flatulência e alterações na frequência das evacuações e na forma das fezes. Atividade 3 Resposta: A Comentário: Ulcerações com infiltração de macrófagos, giardíase e amebíase estão inseridas no grupo de doenças que devem fazer parte do diagnóstico diferencial da SII. Atividade 4 Resposta: B Comentário: Os aspectos clínicos que favorecem a doença funcional são início dos sintomas na adolescência ou na juventude; dor abdominal que piora com as refeições, mas não desperta o paciente durante o sono e alivia com evacuações; distensão abdominal; fezes em cíbalos; padrão estável de sintomatologia em cada paciente; sintomas relacionados a problemas emocionais; estado geral e peso corpóreo mantidos. Já os aspectos clínicos da doença orgânica são início dos sintomas após a 4ª década de vida; sintomas com curso progressivo e aparecimento de novos sintomas com o passar do tempo; quadro doloroso que desperta o paciente durante o sono; sangramento vivo retal, excluindo-se patologia orificial e esteatorreia e outras evidências de malabsorção, como emagrecimento, desnutrição, etc. Atividade 5 Resposta: C Comentário: A SII pode ser subclassificada em SII–C (ocorre eliminação de fezes duras em >25% e fezes moles em <25% das defecações), SII–D (fezes moles em >25% e fezes duras em <25% das defecações), SII–M (presença de fezes amolecidas e duras é frequente [>25% do tempo]) e SII–NC (fezes amolecidas ou duras são infrequentes [<25% do tempo]). Atividade 6 Resposta: Pode ser identificada a presença da SII quando o paciente apresenta dor ou desconforto abdominal recorrente durante mais de três dias por mês, nos últimos três meses, associado a, pelo menos, duas das seguintes características (presentes por pelo menos seis meses antes do diagnóstico): ■ melhora com a defecação, associada a alterações na frequência das evacuações; ■ variações na forma das fezes. 98 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A Atividade 7 Resposta: D Comentário: Para identificar as subclassificações da SII, pode-se assumir que a forma e a consis- tência das fezes refletem o trânsito intestinal; assim, profissionais capacitados podem considerar o uso da Escala de Bristol para formadas fezes para identificar a presença de constipação (tipos 1 e 2) ou de diarreia (tipos 6 e 7). Atividade 8 Resposta: B Comentário: A dor causada pela SII é aliviada pela defecação. Essa é uma das características que faz parte dos critérios diagnósticos de Roma III para a doença. Atividade 9 Resposta: D Comentário: Os hábitos alimentares constituem-se o foco de vários estudos com objetivos de avaliar de forma quali e quantitativa o consumo alimentar de diferentes populações e de observar a ingestão dos nutrientes e sua relação com as morbidades. Sobre a temática, poucos estudos avaliaram a ingestão alimentar de portadores de SII. Atividade 10 Resposta: A Comentário: Recente revisão sistemática revelou que a suplementação de fibra é benéfica para a SII–C de leve a moderada, embora tenha concluído que ensaios clínicos randomizados mais rigorosos e de longo prazo são necessários. Atividade 11 Resposta: B Comentário: Os FODMAPs são representados por: ■ fermentáveis (processo por meio do qual as bactérias anaeróbicas do intestino degradam os carboidratos não digeridos para produzir gases e AGCCs); ■ oligossacarídeos (fruto-oligossacarídeos encontrados no trigo, no centeio, na cebola e no alho; e GOSs, encontrados em legumes, feijões, lentilhas e na soja); ■ dissacarídeos (lactose encontrada no leite, no queijo macio e no iogurte); monossacarídeos (frutose [em excesso de glicose] encontrada no mel, em maçãs e em xaropes de milho rico em frutose); ■ polióis (de açúcar, como sorbitol, manitol e xilitol, usados como adoçantes artificiais e encontrados em algumas frutas e alguns vegetais, como damascos, cerejas, nectarinas, pêssegos, ameixas e abacates). Atividade 12 Resposta: C Comentário: Portadores de SII tendem a fazer exclusões alimentares conforme os diferentes sintomas se manifestam. Esse fato pode favorecer a inadequação alimentar nessa população. Normalmente, queixam-se de piora dos sintomas com a ingestão de alimentos específicos, como os que são fontes de gordura e CCCs. 99 | PR ON UT RI | Ci clo 5 | Vo lum e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Atividade 13 Resposta: C Comentário: Consumo excessivo de cafeína, alta ingestão de lactose e alto consumo de carboi- dratos de difícil digestão parecem contribuir para os sintomas no portador de SII–D. Já inatividade física, deficiências alimentares, falta ou excesso de ingestão de fibra dietética e tempo inadequado para defecação são fatores que contribuem para o desenvolvimento de SII, especificamente aquela com predominância de constipação. Atividade 14 Resposta: C Comentário: Deficiências nutricionais podem ser comumente observadas em caso de restrições alimentares inadequadas. Alguns estudos têm verificado a deficiência de cálcio e fontes de carboi- drato em pacientes com SII que aderem a dietas restritivas. Atividade 15 Resposta: O paciente apresenta critérios estabelecidos para SII, como dor ou desconforto abdominal recorrente durante mais de três dias por mês nos últimos três meses, associado a pelo menos duas das seguintes características: melhora com a defecação, alterações na frequência das evacuações e/ou variações na forma das fezes. Além disso, já haviam sido realizados exames excluindo doenças com sintomas similares, e o paciente não apresenta aspectos clínicos que favoreçam doenças orgânicas, como início dos sintomas após a 4ª década de vida, sintomato- logia com curso progressivo e aparecimento de novos sintomas com o passar do tempo, quadro doloroso que desperta o paciente durante o sono, sangramento vivo retal, eliminando-se patologia orificial, esteatorreia e outras evidências de malabsorção, como emagrecimento, desnutrição etc. Atividade 16 Resposta: A Comentário: O paciente relata apresentar fezes totalmente líquidas, sem material sólido (carac- terística de diarreia, segundo Escala de Bristol) em mais de 25% das evacuações (3 em cada 4 evacuações semanais), o que é característica da SII–D. Atividade 17 Resposta: Os alimentos mais citados em estudos como deflagradores e/ou exacerbadores dos sintomas são as frituras em geral, massas com molho, feijão, chocolate, café, pizza, repolho, tortas e doces. Destaca-se que são alimentos ricos em gordura e CCCs pouco absorvíveis e já conhecidos como geradores dos sintomas. Atividade 18 Resposta: Inicialmente, sugere-se a realização do teste de hidrogênio expirado para identificar se o paciente apresenta malabsorção de frutose e/ou lactose. Caso o teste tenha revelado malab- sorção de lactose somente, deve-se orientar adoção de dieta inicialmente restrita em lactose, oligossacarídeos (frutanos e galactanos) e polióis; caso seja identificada malabsorção de frutose, deve-se orientar a adoção de dieta inicialmente restrita em frutose, oligossacarídeos (frutanos e galactanos) e polióis. Caso se observe malabsorção tanto de lactose quanto frutose, ou o teste de hidrogênio expirado não esteja disponível, deve-se restringir as fontes alimentares de todos os FODMAPs. Após o início da etapa de restrição, que deve durar aproximadamente 6 a 8 semanas, deve-se iniciar a fase de reintrodução gradativa das fontes de cada FODMAP de forma isolada, para determinação da dose tolerável pelo paciente. 100 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L | CÓ PIA C ON TR OL AD A Atividade 19 Resposta: Quanto a orientações gerais e dietéticas ao paciente do caso clínico, em primeiro momento, a base científica da exposição aos FODMAPs e sua malabsorção e posterior fermenta- ção devem ser explicadas, o que aumenta a probabilidade de adesão à dieta. Além disso, devem ser fornecidos materiais com listas de alimentos que contenham alto conteúdo em FODMAPs e transmitidas orientações de como substituir esses alimentos, bem como alternativas alimentares adequadas ao paciente. Deve-se também orientar quanto a situações em que o controle da prepa- ração dos alimentos é limitado. O nutricionista também pode ser formular e entregar, junto com o plano alimentar individualizado, orientações para que o paciente: ■ evite alimentos que contêm frutose livre, em excesso de glicose (a menos que a absorção completa da frutose tenha sido demonstrada em testes de hidrogênio expirado); ■ escolha alimentos em que a frutose e a glicose estão “em equilíbrio”, utilizando listas que revelam a proporção entre glicose e frutose nos alimentos; ■ consuma, caso necessário, alimentos com glicose livre junto com alimentos com excesso de frutose livre para favorecer equilíbrio; ■ limite a carga de frutose dietética (sob a forma de frutose livre ou sacarose) em qualquer refeição; ■ evite alimentos importantes fontes de frutanos e galactanos (fazendo uso da lista de alimentos fontes de FODMAPs); ■ restrinja alimentos contendo lactose, se a malabsorção foi observada no teste de hidrogênio expirado ou no teste de tolerância à lactose; ■ evite o consumo de alimentos com alto teor de polióis (fazendo uso da lista de alimentos fontes de FODMAPs). ■ REFERÊNCIAS 1. 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In: Associação Brasileira de Nutrição; Hordonho AAC, Coppini LZ, Fidelix MSP, organizadoras. PRONUTRI Programa de Atualização em Nutrição Clínica: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2017. p. 75–104. (Sistema de Educação Continuada a Distância; v. 4). 104 CU IDA DO S N UT RIC ION AIS A PA CIE NT ES CO M SÍN DR OM E D O I NT ES TIN O I RR ITÁ VE L|