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FISIOLOGIA ARTICULAR A minha mulher A. I. KAPANDJI Ex-Interno dos Hospitais de Paris Ex-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traurnatologia (S.O.F.C.O. T.) Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (GEM.) FISIOLOGIA ARTICULAR ESQUEMAS COMENTADOS DE MECÂNICA HUMANA VOLUME I 5ª edição MEMBRO SUPERIOR I. - O OMBRO 11. - O COTOVELO 111.- A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO IV. - O PUNHO V. - A MÃO Com 550 desenhos originais do autor ~ ~r MALOINE Título do original em francês PHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 1. Membre Supérieur © Éditions MALOL'lE. 27, Rue de l'École de Médecine. 75006 Paris. Tradução de Editorial Médica Panamericana S.A. Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta ISBN (do volume): 85-303-0043-2 ISBN (obra completa): 85-303-0042-4 © 2000 Éditions 1\IALOINE. 27, rue de l'École de Médecine. 75006 Paris. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.> K26f v.1 Kapandji, A. L (Ibrahim Adalbert) Fisiologia articular, volume 1 : esquemas comentados de mecânica humana / A. L Kapandji ; com desenhos originais do autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica Panamericana S.A. ; revisão científica e supervisão por Soraya Pacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000 : 550 il. Tradução de: Physio1ogie articulaire, 1 : membre supérieur Inclui bibliografia Conteúdo: V.l. Membro superior: O ombro - O cotovelo - A pronação-supinação - O punho - A mão ISBN 85-303-0043-2 l. j\!ecânica humana. 2. Articulações - Atlas. 3. Articulações - Fisiologia - Atlas. L Título. 00-1623. 231100 241100 CDD 612.75 CDU 612.75 009947 Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Excetuando críticas e resenhas científico- literárias. nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas computadorizados ou transmitida de nenhuma forma e por nenhum meio, sejam eletrônicos, mecânicos, fotocopiadoras, gravadoras ou qualquer outro, sem a prévia pennissão deste Editor (Medicina Panamericana Editora do Brasil Ltda.) Medicina Panamericana Editora do Brasil LIDA. Rua Butantã, 500 - 10º Andar - CEP 05424000 - Pinheiros - São Paulo - Brasil Distribuição exc1usi\'a para a língua portuguesa por Editora Guanabara Koogan S.A. Travessa do Ouvidor, 11 - Rio de Janeiro - RJ - 20040-040 Te!.: 21-2221-9621 Fax: 21-2221-3202 www.editoraguanabara.com.br Depósito Legal: M-53.355-2001 Impreso en Espana ADVERTÊNCIA DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este livro, inspirado principalmente por Duchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permâneceufiel a si mesmo, exceção feita por algumas pequenas correções. Neste momento. na oportunidade do aparecimento da quinta edição, achamos necessário incluir modificações importantes. em especial no que se refere à mão. De fato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto ao conhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à lu: de recentes trabalhos, temos escrito e desenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articu- lação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica de maneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan; assim mesmo, se es- clarece afunção da articulação metacalpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetos e, enfim, a função da articulação intelfalangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre a polpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas às ações está ilustrada com novos desenhos. Temos apelfeiçoado a definição das distintas posições fun- cionais e de imobilização. Porfim, com o objeti,'o de estabelecer um balanço funcional rápido da mão, propõe-se uma série de provas de movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as va- lorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mÚsculo,faci- litam uma apreciação sintética do valor da utilização da mão. No final do livro suprimimos alguns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse, e substituímos por um modelo da mão que explica. neste caso de maneira satisfatória, a oposição do polegar. Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade. 1- --- PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu- mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores de todo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos, fisioterapeutas e cirurgiões. O fato de que continue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é o ensino do funcionamento do Aparelho Locomotor de maneira atrativa, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio é explicar uma Única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensão definitims. O fato de que estes livros não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valor intrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos mÚsculos e das articulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as três dimensões do espaço, mas também uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcional está viva e, conseqüentemente, móvel- isto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica da Mecânica propriamente dita, ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo- lutivas, que se mod!ficám segundo os contratempos e evolu,em em função das necessidades, capazes de renovar-se constantemente para compensar o desuso. E uma mecânica sem eixo materializado, móvel inclusive no percurso do movimento. As suas supeifícies articulares integram um jogo mecâni- co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi- clOnazs. Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aos outros métodos de ensino para o futuro. Este é, na verdade, o segredo da sua perenidade. A. I. KAPANDJI ÍNDICE o OMBRO FÍsiologia do ombro A flexão-extensão e a adução A abdução A rotação do braço sobre o seu eixo longitudinal Movimentos do coto do ombro no plano horizontal Flexão-extensão horizontal O movimento de circundução O "paradoxo" de Codman Avaliação dos movimentos do ombro Movimentos de exploração global do ombro O complexo articular do ombro As superfícies articulares da articulação escápulo-umeral Centros instantâneos de rotação A cápsula e os ligamentos do ombro O tendão da porção longa do bíceps intra-articular Função do ligamento glenoumeral O ligamento córaco-umeral na flexão-extensão A coaptação muscular do ombro A "articulação" subdeltóide A articulação escápulo-torácica Movimentos da cintura escapular Os movimentos reais da articulação escápulo-torácica A articulação estemocostoclavicular (As superfícies articulares) A articulação estemocostoclavicular (Os movimentos) A articulação acrômio-clavicular Função dos ligamentos córaco-claviculares Músculos motores da cintura escapular O supra-espinhal e a abdução Fisiologia da abdução As três fases da abdução As três fases da flexão Músculos rotadores A adução e a extensão o COTOVELO Flexão-extensão O cotovelo: Articulação de separação e aproximação da mão 12 14 16 18 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 62 64 68 70 74 76 78 80 82 84 8 ÍNDICE As superfícies articulares A paleta umeral Os ligamentos do cotovelo A cabeça radial A tróclea umeral As limitações da flexão-extensão Os músculos motores da flexão Os músculos motores da extensão Os fatores de coaptação articular A amplitude dos movimentos do cotovelo As referências clínicas da articulação do cotovelo Posição funcionale posição de imobilização Eficácia dos grupos flexor e extensor A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO Significado Definição Utilidade da pronação-supinação Disposição geral Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar superior Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior Dinâmica da articulação rádio-ulnar superior Dinâmica da articulação rádio-ulnar inferior O eixo de pronação-supinação As duas articulações rádio-ulnar são co-congruentes Os motores da pronação-supinação: os músculos As alterações mecânicas da pronação-supinação Compensações e posição funcional O PUNHO Significado Definição dos movimentos do punho Amplitude dos movimentos do punho O movimento de circundução O complexo articular do punho As articulações rádio-carpeanas e médio-carpeanas Os ligamentos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana Função estabilizadora dos ligamentos A dinâmica do carpo O par escafóide-semilunar O carpo de geometria variável 86 88 90 92 94 96 98 100 102 104 104 106 106 108 110 112 114 116 118 122 124 128 132 134 136 138 140 142 144 146 148 150 152 154 158 162 164 As alterações patológicas Os músculos motores do punho Ação dos músculos motores do punho A MÃO A sua função Topografia da mão Arquitetura da mão O maciço do carpo A escavação palmar As articulações metacarpofalangeanas O aparelho fibroso das articulações metacarpofalangeanas A amplitude dos movimentos das articulações metacarpofalangeanas As articulações interfalangeanas Sulcos ou canais e bainhas dos tendões tlexores Os tendões dos músculos flexores longos dos dedos Os tendões dos músculos extensores dos dedos Músculos interósseos e lumbricais A extensão dos dedos Atitudes patológicas da mão e dos dedos Os músculos da eminência hipotenar O polegar Geometria da oposição do polegar A articulação trapézio-metacarpeana A articulação metacarpofalangeana do polegar A interfalangeana do polegar Os músculos motores do polegar As ações dos músculos extrínsecos do polegar As ações dos músculos intrínsecos do polegar A oposição do polegar A oposição e a contra-oposição Os tipos de preensão As percussões - O contato -=- A expressão gestual Posições funcionais e de imobilização As mãos ficções A mão do homem Modelos de mecânica articular para cortar BIBLI OG RAFIA ÍNDICE 9 166 168 170 174 176 178 182 184 186 190 194 196 200 202 206 208 210 214 216 218 220 222 238 246 248 252 254 258 264 266 284 286 288 290 292 296 10 FISIOLOGIA ARTICULAR \ - Fig.1-1 1. ME\fBRO SUPERIOR 11 12 FISIOLOGIA ARTICULAR FISIOLOGIA DO OMBRO o ombro, articulação proximal do mem- bro superior (fig. 1-1, pág. 11), é a mais móvel de todas as articulações do corpo humano. Possui três graus de liberdade (fig. 1-2), o que permite orientar o membro superior em re- lação aos três planos do espaço, graças a três.... eixos pnnClpals: 1) Eixo transverso, incluído no plano frontal: Permite movimentos de fIexão-exten- são realizados no plano sagital (ver figo 1-3 e plano A da figo 1-9). 2) Eixo ântero-posterior, incluído no plano sagital: Permite os movimentos de abdução (o membro superior se afasta do plano de simetria do corpo), adução (o membro superior se aproxima ao plano de sime- tria) realizados no plano frontal (ver figs. 1-4 e 1-5 e plano B da figo 1-9). 3) Eixo vertical, determinado pela inter- secção do plano sagital e do plano frontal: Corresponde à terceira dimensão do es- paço; dirige os movimentos de fIexão e de extensão realizados no plano hori- zontal, o braço em abdução de 90° (ver também figo 1-8 e plano C da figo 1-9). O eixo longitudinal do úmero (4) permite a rotação externalinterna do braço e do mem- bro superior, de duas maneiras diferentes: a rotação voluntária (também deno- minada "rotação adjunta') que utiliza o terceiro grau de liberdade e não é possível se,não for em articulações de três eixos (as enartroses). Deve-se à contração dos.músculos rotadores; a rotação automática (também deno- minada "rotação conjunta") que apa- rece sem nenhuma ação voluntária nas articulações de dois eixos, ou nas arti- culações de três eixos quando funcio- nam como articulações de dois eixos. Mais adiante trataremos o paradoxo de CODMAN. A posição de referência é definida como decrevemos a seguir: O membro superior pende ao longo do corpo, verticalmente, de maneira que o eixo longitudinal do úmero (4) coincide com o eixo vertical (3). Na posição de abdução a 90° o ei- xo longitudinal (4) coincide com o eixo trans- versal (1). Na posição de fIexão de 90°, coinci- de como o eixo ântero-posterior (2). Portanto, o ombro é uma articulação com três eixos principais e três graus de liberdade; o eixo longitudinal do úmero pode coincidir com um dos dois eixos ou se situar em qual- quer posição intermédia para permitir o movi- mento de rotação externa/interna. 2-4. -.,,-II,i/0I, J\ ( I (, Fig.1-2 1. MEMBRO SUPERIOR 13 14 FISIOLOGIA ARTICULAR A FLEXÃO-EXTENSÃO E A ADUÇÃO Os movimentos de flexão-extensão (fig.1-3) se realizam no plano sagital (plano A, figo 1-9), ao redor de um eixo transversal (1, figo 1-2): a) extensão: movimento de escassa ampli- tude, 45 a 50°; b) flexão: movimento de grande ampli- tude, 180°; observar que a mesma posição de flexão a 180° pode ser definida também como uma abdução de 180°, próxima à rotação longitudinal (ver mais adiante o paradoxo de CODMAN). Com freqüência se utilizam, embora de modo errôneo, os termos de antepulsão para se referir à flexão e retropulsão para a extensão. Isto leva a uma confusão com os movimentos do "coto" do ombro no plano horizontal (pág. 18) e por isso é preferível não utilizá-los quan- do nos referimos aos movimentos do membro supenor. A partir da posição anatômica (máxima adução), a adução (fig. 1-4) no plano frontal é mecanicamente impossível devido à presença do tronco. A partir da posição anatômica, não é pos- sível a adução se não for associada com: a) uma extensão: adução muito leve; b) uma flexão: a adução alcança de 30 a 45°. A partir de qualquer posição de abdução, a adução, neste caso denominada "adução relati- va", é sempre possível no plano frontal, até a posição anatômica. Fig. 1-3 L MEMBRO SUPERIOR 15 b a Fig.1-4 b 16 FISIOLOGIA ARTICULAR AABDUÇÃO A abdução (fig. 1-5), movimento que afasta o membro superior do tronco, se realiza no plano frontal (plano B, figo 1-9), ao redor do eixo ântero-posterior (fig. 1-2, eixo 2). A amplitude da abdução alcança os 180°: o braço está em posição vertical por cima do tronco (d). Duas advertências: - a partir dos 90°, a abdução aproxima o membro superior ao plano de simetria do corpo; também é possível chegar à posição final de abdução de 180° me- diante um movimento de flexão de 180°; - do ponto de vista das ações musculares e do jogo articular, a abdução, a partir da posição anatômica (a), passa por três fases: (b) abdução de 0° a 60°, que unicamen- te pode se realizar na articulação es- cápulo-umeral; (c) abdução de 60° a 120° que necessita da participação da articulação escá- pulo-torácica; (d) abdução de 120° a 180° que utiliza, além das articulações escápulo- umeral e escápulo-torácica, a incli- nação do lado oposto do tronco. Observar que a abdução pura, descrita uni- camente no plano frontal, é um movimento pou- co comum. Pelo contrário, a abdução associada com uma fiexão determinada, isto é, a elevação do braço no plano da escápula, formando um ângulo de 30° em sentido anterior com relação ao plano frontal, é o movimento mais utilizado, principalmente para levar a mão até a nuca ou à boca. .\ / a / \ 1/\ c Fig.1-5 b d 1. J\IEMBRO SUPERIOR 17 18 FISIOLOGIA ARTICULAR A ROTAÇÃO DO BRAÇO SOBRE O SEU EIXO LONGITUDINAL A rotação do braço sobre o seu eixo longi- tudinal (fig. 1-2, eixo 3) pode ser realizada em qualquer posição do ombro. Trata-se da rotação voluntária ou adjunta das articulações com três eixos e três graus de liberdade. Em geral, esta rotação se medena posição anatõmica do braço que pende verticalmente ao longo do corpo (fig. 1-6, vista superior). a) Posição anatômica, denominada rota- ção externa/interna 0°: para medir a am- plitude destes movimentos de rotação, o cotovelo deve estar necessariamente jle- xionado a 90° de maneira que o antebra- ço esteja no plano sagital. Se não toma- mos esta precaução, à amplitude dos movimentos de rotação externa/interna do braço se somaria à dos movimentos de pronação-supinação do antebraço. Esta posição anatõmica, o antebraço no plano sagital, se utiliza de maneira total- mente arbitrária. Na prática, a posição de partida mais utilizada, porque se cor- . responde com o equilíbrio dos rotadores, é a de rotação interna de 30° com relação à posição anatõmica, de maneira que a mão fica na frente do tronco. Poder-se-ia se denominar posição de referência fi- siológica. b) Rotação externa: a sua amplitude é de 80°, jamais alcança os 90°. Esta amplitu- de total de 80° normalmente não é utili- zada nesta posição, com o braço vertical ao longo do corpo. Pelo contrário, a ro- tação externa mais utilizada, portanto a mais importante do ponto de vista fun- cional, é o setor compreendido entre a posição anatõmica fisiológica (rotação externa -30°) e a posição anatõmica clássica (rotação 0°). c) Rotação interna: a sua amplitude é de 100 a 110°, Para conseguir realizar essa rotação, o antebraço deve passar ne- cessariamente.por trás do tronco, o que exige um certo grau de extensão do om- bro. A liberdade deste movimento é in- dispensável para que a mão possa che- gar até as costas. É a condição para se poder realizar a higiene perineal poste- rior. Com relação aos primeiros 90 graus de rotação interna, é exigida ne- cessariamente uma flexão do ombro sempre que a mão estiver na frente do tronco. Os músculos motores da rotação longitudi- nal serão estudados na página 78. No que se re- fere à rotação longitudinal de braço nas outras posições que não seja a anatõmica, não é possí- vel medir de maneira precisa se não for median- te um sistema de coordenadas polares (ver pág. 26). Os músculos rotadores intervêm de manei- ra diferente em cada posição, uns perdem a sua ação rotadora, enquanto outros a adquirem. Isto é um exemplo da lei da inversão das ações mus- culares segundo a posição. MOVIMENTOS DO COTO DO OMBRO NO PLANO HORIZONTAL Estes movimentos desencadeiam a ação da articulação escápulo-torácica (fig. 1-7): a) posição anatômica; b) retroposição do coto do ombro; c) anteposição do coto do ombro. Observar que a amplitude da anteposição é maior do que a da retroposição. Ação muscular: Anteposição: peitoral maior, peitoral me- nor, serrátil anterior. Retroposição: rombóides, trapézio (por- ção média), grande dorsal. o a Fig.1-6 c 1. MEMBRO SUPERIOR 19 a Fig.1-7 c 20 FISIOLOGIA ARTICULAR FLEXÃO-EXTENSÃO HORIZONTAL É o movimento do membro superior no pla- no horizontal (fig. 1-8 e plano C da figo 1-9) ao redor do eixo vertical ou, mais exatamente, em tomo de uma sucessão de eixos verticais, dado que o movimento se realiza não só na articula- ção escápulo-umeral (fig. 1-2, eixo 4), mas tam- bém na escápulo-torácica (ver figo 1-37). Posição anatõmica: o membro superior está em abdução de 90° no plano frontal, o qual provoca a contração da seguinte musculatura: - deltóide (principalmente a sua porção acromial, figo 1-65, IIl), - supra-espinhal, - trapézio: porções superior (acromial e clavicular) e inferior (tubercular), - serrátil anterior. Flexão horizontal, movimento que associa a flexão e a adução de 140° de amplitude, ativa os seguintes músculos: deltóide (fascículos ântero-intemo I e ântero-extemo II em proporção variá- vel entre eles e com o fascículo IIl), subescapular, peitorais maior e menor, serrátil anterior. Extensão horizontal, movimento que as- socia a extensão e a adução de menor amplitude, 30-40°, ativa os seguintes músculos: deltóide (fascículos póstero-extemos IV e V, e póstero-intemos VI e VII em proporção variável entre eles e com o fascículo IIl), , supra-espinhal, infra-espinhal, redondos maior e menor, rombóides, trapézio (fascículo espinhal que se so- ma aos outros dois), grande dorsal (em antagonismo-siner- gismo com o deltóide que anula o im- portante componente de adução do grande dorsal). A amplitude total deste movimento de fle- xão-extensão horizontal alcança quase os 180°. Da posição extrema anterior à posição extrema posterior se ativam, sucessivamente, como se fosse uma escala musical de piano, as diferentes porções do deltóide (ver pág. 70), que é o prin- cipal músculo deste movimento. 1. MEMBRO SUPERIOR 21 a b c Fig.1-8 22 FISIOLOGIA ARTICULAR o MOVIMENTO DE CIRCUNDUÇÃO A circundução combina os movimentos elementares ao redor de três eixos (fig. 1-9). Quando esta circundução alcança a sua amplitu- de máxima, o braço descreve no espaço um co- ne irregular: o cone de circundução. Este cone delimita, na esfera cujo centro é o ombro e cujo raio é igual à longitude do membro superior, um setor esférico de acessibilidade, em cujo interior a mão pode pegar objetos sem deslocar o tron- co, para eventualmente levá-Ios à boca. Neste esquema, a curva representa a base do cone de circundução (trajetória da extremida- de dos dedos), percorrendo os diferentes setores do espaço determinados pelos planos de referên- cia da articulação: a) plano sagital (ftexão-extensão), b) plano frontal (adução-abdução), c) plano horizontal (ftexão horizontal ou extensão horizontal). A partir da posição de referência - repre- sentada por um ponto espesso - a curva passa sucessivamente (para o membro superior direi- to) pelos setores: lU - abaixo, na frente e à esquerda; II - acima, na frente e à esquerda; VI - acima, atrás e à direita; V - abaixo, atrás e à direita; VIII - abaixo, atrás e à esquerda, em um trajeto muito curto, porque a extensão-adu- ção tem pouca amplitude (no esquema o se- tor VIII se localiza por baixo do plano C, por trás do setor III e à esquerda do setor V. O setor VII, não visível, se situa por cima). A seta, prolongamento da direção do braço, indica o eixo do cone de circundução e a sua orientação no espaço se corresponde levemente com a definida como posição funcional (ver figo 1-16), mas neste caso o cotovelo se encontra em extensão. O setor V que inclui o eixo do cone de circundução é o ~etor de acessibilidade prefe- rencial. A orientação para a frente do eixo do cone de circundução r.esponde à necessidade de proteger as mãos que trabalham sob o controle visual. O cruzamento parcial e para frente dos dois setores de acessibilidade dos membros su- periores obedece à mesma necessidade, permi- tindo que ambas as mãos trabalhem simultanea- mente sob controle visual, cooperem entre si e, se for necessário, se substituam uma à outra; de modo que o conjunto dos dois setores esféricos de acessibilidade dos membros superiores é con- trolado pelo campo visual dos olhos até seus movimentos extremos, mantendo a cabeça fixa no plano sagital. Os campos visuais e os setores de acessibilidade das mãos se superpõem quase completamente. É necessário ressaltar que esta disposição só é possível no percurso da filogenia graças ao deslocamento para baixo do forame occipitaL permitindo assim que a superfície possa se diri- gir para a frente e que o olhar adote uma dire- ção perpendicular ao eixo longitudinal do cor- po, enquanto nos quadrúpedes o olhar está diri- gido em direção ao eixo do corpo. 1. MEMBRO SUPERIOR 23 VI V I IV Fig.1-9 I 11 111 B 24 FISIOLOGIA ARTICULAR o "PARADOXO" DE CODMAN Quando, a partir da posição anatômica (fig. 1-10, a e b), o membro superior vertical ao lon- go do corpo, a palma da mão girada para den- tro, o polegar apontando para a frente (a), pedi- mos a um sujeito que realize, com o seu mem- bro superior, um movimento de abdução de +180° no plano frontal (c), seguido por um mo- vimento de extensão relativa de -180° no plano sagital (d), o membro superior se encontra no- vamente vertical ao longo docorpo mas com a palma da mão girada para fora e o polegar apontando para trás (e). Também é possível realizar o ciclo inverso: flexão de 180° e, a seguir, uma adução de 180°, mas os sinais estão invertidos e obtemos uma rotação externa de 180°. É fácil constatar que a palma da mão modi- fica a sua orientação, provocando um movimen- to de rotação longitudinal de 180°. Neste duplo movimento de abdução segui- do por uma extensão, se produz AUTOMATI- CAMENTE uma rotação interna de 180°: um movimento sucessivo em tomo de dois dos eixos do ombro dirige mecanicamente e involuntaria- mente um movimento ao redor do eixo longitu- dinal do membro superior. É o que Mac Conaill denominou rotação conjunta, que aparece num movimento diadocal, isto é, realizado sucessiva- mente em tomo dos dois eixos de uma articula- ção com dois graus de liberdade. Neste exem- plo, a articulação do ombro, que possui três graus de liberdade, é utilizada como uma articu- lação de dois eixos. Se utilizamos o terceiro eixo para realizar, voluntária e simultaneamente, uma rotação inver- sa de 180°, desta vez, a mão retoma à posição de partida, o polegar apontando para a frente, depois de descrever um ciclo ergonômico; tais ciclos se utilizam com freqüência nos gestos profissionais ou esportivos repetidos, por exemplo na natação. Esta rotação longitudinal voluntária que Mac Co- naill denomina rotação adjunta, só é viável em articulações com três graus de liberdade e é indis- pensável durante o ciclo ergonômi€o. Isto fica de- monstrado na seguinte experiência: a partir da po- sição anatômica, em rotação interna, com a palma da mão girada pará fora e o polegar para trás, ab- dução até os 180°, a partir dos 90° de abdução, o movimento fica bloqueado e é necessário realizar uma rotação externa voluntária para continuar. De fato, causas anatômicas, tensão ligamentar e mus- cular, não permitem que a rotação conjunta conti- nue no sentido da rotação interna e é necessário recorrer a uma rotação adjunta externa para anular a rotação conjunta interna e finalizar o ciclo ergo- nômico. Isto explica a necessidade de uma articu- lação de três eixos na raiz dos membros. Em resumo, o ombro é capaz de realizar dois tipos de rotação longitudinal: a rotação vo- luntária ou adjunta e a rotação automática ou conjunta. Em todo momento estas duas rotações se somam algebricamente: - se a rotação voluntária (adjunta) é nula, a rotação automática (conjunta) aparece com claridade: é o (pseudo) paradoxo de Codman, - se a rotação voluntária tem a mesma di- reção que a rotação automática, ela se amplifica, - se a rotação voluntária tem direção con- trária, esta diminui ou até mesmo anula a rotação automática: é o ciclo ergonô- mlCO. 1. MEMBRO SUPERIOR 25 c +1800 b a d Fig.1-10 e 26 FISIOLOGIA ARTICULAR AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS DO OMBRO A avaliação dos movimentos e das posi- ções nas articulações com três eixos principais e três graus de liberdade, como o ombro, repre- senta uma dificuldade, porque existem ambigüi- dades. Por exemplo, se de maneira geral defini- mos a abdução como um movimento de separa- ção do membro superior do plano de simetria, esta definição só é válida até os. 90°, já que, a partir daí, o membro superior se aproxima do plano de simetria por cima e, contudo, continua- mos com a denominação de abdução; para ava- liar a rotação longitudinal o problema é ainda mais árduo. Embora seja simples avaliar um movi- mento quando o membro se desloca no plano de referência, frontal ou sagital, sem dúvida sele- cionado arbitrariamente, a questão é mais com- plicada quando nos referimos aos setores inter- médios; são necessárias pelo menos duas coor- denadas angulares que utilizam um sistema de coordenadas retangulares, ou um sistema de coordenadas polares. No sistema de coordenadas retangula- res (fig. 1-11), medimos o ponto de projeção do eixo longitudinal do braço, pelo menos em dois dos três planos de referência: frontal, F, sagital, Se trans\erso, T, localizando o "centro" do om- bro na interseção O dos três planos. A projeção do ponto P no plano frontal F em M e no plano sagitalAS em Q permite medir o ân~ulo de abdu- ção SO?vle o ângulo de flexão SOQ. Observar que a posição do ponto N, projeção de P no plano transverso T, pode ser definido sem ambigüidade a partir do momento em que conhecemos M e Q. Contudo, neste sistema, não existe nenhum modo de avaliar a rotação sobre o eixo longitudinal OP. No sistema das coordenadas polares (fig. 1-12) ou acimutais, se define a direção do braço pela posição que ocupa o cotovelo P nu- ma esfera cujo centro é o ombro O e o raio OP equivale à longitude do úmero. Do mesmo mo- do que no globo terráqueo, a posição do ponto P se define mediante dois ângulos, a longitude e a latitude. O ponto P se localiza na interse- cção de um grande círculo cuja lqngitude pas- sa pelos dois pólos e de um círculo pequeno de latitude cujo plano é paralelo ao do Equador, representado aqui J?elo grande círculo do plano sagital S. A linha dos pólos é a interseção do plano frontal F e do plano transversal T, o me- ridiano O é o semicírculo inferior do plano frontal F. Mede-se aflexão como uma longitu- de contada para a frente, ou como o ângulo BÔL (L é a intersecção do meridiano que pas- sa por P e do Equador), e a abdução como uma latitude, isto é, o ângulo AÔK, ou melhor ain- da o seu suplementar BÔK. Além disso é viá- vel avaliar a rotação longitudinal do úmero co- mo um cabo em relação com um meridiano vertic~l BPA que passe por P: este cabo é o ân- gulo C determinado a partir de AP. Portanto, este sistema de avaliação é bem mais preciso e completo que o primeiro; in- clusive é o único que permite representar o cone de circundução como uma trajetória fechada na esfera, embora se utilize menos na prática devi- do à sua complexidade. Apresenta uma diferença importante com o sistema de coordenadas retangulares (fig. 1-13): se o ângulo de flexão BÔL é o mesmo, o ângu- lo de abdução BÔK é diferente de BÔM (em coordenadas retangulares) e esta diferença é mais importante quanto mais se aproxime a fle- xão aos 90°. De fato, para uma flexão de 90° o ponto P se situa no meridiano horizontal que passa por E. O ângulo BÔM, então, é sempre igual a 90°, enquanto o ângulo AÔK pode variar de O a 90°. Fig.1-11 Fig.1-12 Fig.1-13 1. ME\IBRO SUPERIOR 27 28 FISIOLOGIA ARTICULAR MOVIMENTOS DE EXPLORAÇÃO GLOBAL DO OMBRO Primeiro movimento de exploração glo- bal do ombro (fig. 1-14) a) pentear-se; b) levar a mão à nuca. Quando está livre e a sua amplitude é nor- lal, este movimento dirige a mão em direção à °elhaoposta e da parte superior da região esca- r'ular contralateral. Este movimento realizado com o cotovelo em flexão explora tanto a abdução (120°) quan- to a rotação externa (90°). Segundo movimento de exploração glo- bal do ombro (fig. 1-15) Vestir um casaco: - o braço que se introduz na primeira manga (braço esquerdo na figura) rea- liza um movimento de flexão-abdução; - o braço que vai procurar a segunda manga (braço direito na figura) realiza um movimento de extensão-rotação in- terna, a mão entra em contato com a re- gião lombar. Quando está livre e a sua amplitude é nor- mal, este movimento dirige a mão até a parte in- ferior da região escapular contralateral. Posição funcional do ombro (fig. 1-16) O eixo longitudinal do braço está em flexão de 45° e abdução de 60°, isto é, se encontra no plano vertical formando um ângulo diedro de 45° com o plano sagital (ou frontal) e o braço es- tá em rotação interna de 30-40°. Esta posição se corresponde com o estado de equilíbrio dos músculos periarticulares do ombro: por isso se utiliza esta posição para a imobilização das fraturas da diáfise umeral já que, nestas condições, o fragmento inferior, o único sobre o qual podemos atuar, se encontra no eixo do fragmento superior sobre o qual atuam os músculos periarticulares. Corresponde-se também com o eixo do co- ne de circundução (fig. 1-9). a Fig.1-16 Fig.1-14 Fig.1-15 1. MEMBRO SUPERIOR 29 30FISIOLOGIA ARTICULAR o COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO o ombro não está constituído por uma arti- culação, mas por cinco articulações que confor- mam o COMPLEXO ARTICULAR DO OM- BRO (fig. 1-17), cujos movimentos com relação ao membro superior acabamos de explicar. Estas cinco articulações se classificam em dois grupos: Primeiro grupo: duas articulações: 1) Articulação escápulo-umeral Articulação verdadeira do ponto de vista anatômico (contato de duas su- perfícies cartilaginosas de desliza- mento) Esta articulação é a mais importante do grupo. 2) Articulação subdeltóide ou "segun- da articulação do ombro" Do ponto de vista estritamente anatô- mico não se trata de uma articulação; contudo podemos considerar do pon- to de vista fisiológico, devido ser composta por duas superfícies que deslizam uma sobre a outra. A articu- lação subdeltóide está mecanicamente unida à articulação escápulo-umeral: qualquer movimento na articulação escápulo-umeral provoca um movi- mento na subdeltóide. Segundo grupo: três articulações. 3) Articulação escápulo-torácica Neste caso se trata outra vez de uma articulação fisiológica e não anatômi- ca. É a articulação mais importante do grupo, contudo não pode atuar sem as outras duas, já que está mecanicamen- te unida a elas .. 4) Articulação acrômio-clavicular Articulação verdadeira, localizada na porção externa da clavícula. S) Articulação esternocostoclavicular Articulação verdadeira, localizada na porção interna da clavícula. Em geral, o complexo articular do ombro pode ser esquematizado da seguinte maneira: Primeiro grupo: uma articulação verdadeira e princi- pal: a articulação escápulo-umeral; uma articulação "falsa" e acessória: a articulação subdeltóide. Segundo grupo: uma articulação "falsa" e principal; a articulação escápulo-torácica; duas articulações verdadeiras e aces- sórias: a acrômio-clavicular e a es- tem o-costo-cIavicular. Em cada um dos grupos, as articulações es- tão unidas mecanicamente, isto é, atuam neces- sariamente ao mesmo tempo. Na prática, os dois grupos também funcionam simultanearnente, se- gundo proporções variáveis no percurso dos mo- vimentos. De maneira que podemos afirmar que as cinco articulações do complexo articular do ombro funcionam simultaneamente e em pro- porções variáveis de um grupo ao outro. 1. MEMBRO SUPERIOR 31 32 FISIOLOGIA ARTICULAR AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO ESCÂPULO-UMERAL Superfícies esféricas, características de uma enartrose e, portanto, articulação de três ei- xos e com três graus de liberdade (fig. 1-18). a) Cabeça umeral Orientada para cima, para dentro e trás, po- de ser comparada com um terço de esfera de 30 mm de raio. Na verdade, esta esfera está longe de ser regular devido a seu diâmetro vertical ser 3 a 4 mm maior do que o seu diâmetro ântero- posterior. Além disso, num corte vértico- frontal (quadro) podemos comprovar que o seu raio de curva diminui levemente de cima para baixo e que não existe um único centro da curva, mas uma série de centros de curva alinhados ao lon- go de uma espiral. Portanto, quando a parte su- perior da cabeça umeralentra em contato com a glenóide, a região de apoio é maior e a articula- ção é mais estável, quanto mais tensos estejam os fascículos médio e inferior do ligamento gle- noumeral. Esta posição de abdução de 90° co- rresponde à posição de bloqueio ou close-pac- ked position de Mac Conaill. O seu eixo forma com o eixo diafisário um ângulo denominado "inclinação" de 135° e, com o plano frontal, um ângulo denominado "decli- nação" de 30°. Está separada do resto da epífise superior do úmero pelo colo anatômico, cujo plano está inclinado 45° com relação à horizontal (ângulo suplementar do ângulo de inclinação). Contém duas proeminências nas quais se inserem os músculos periarticulares: - tuberosidade menor ou troquino, ante- rior, I - tuberosidade maior ou troquino, externa. b) A cavidad'e glenóide da escápula Localizada no ângulo superior-externo do corpo da escápula, se orienta para fora, para a frente e levemente para cima. É côncava em am- bos os sentidos (vertical e transversal), mas a sua concavidade é irregular e menos acentuada do que a convexidade da cabeça. Está rodeada pela proeminente margem glenóide, interrompida pela incisura glenóide na sua parte ântero-superior. A sua superfície é menor que a da cabeça umeral. c) O lábio glenóide Trata-se de um anel fibrocartilaginoso lo- calizado na margem glenóide, de maneira que ocupa a incisura glenóide e aumenta ligeiramen- te a superfície da glenóide, embora, principal- mente, acentua a sua concavidade restabelecen- do a congruência (coincidência) das superfícies articulares. Triangular, quando está seccionado, apre- senta três superfícies: - uma superfície interna que se insere no contorno glenóide; - uma superfície periférica onde se inse- rem algumas fibras da cápsula; - uma superfície central (ou axial) cuja cartilagem é um prolongamento da gle- nóide óssea e que entra em contato com a cabeça umeral. 1. MEMBRO SUPERIOR 33 Fig.1-18 34 FISIOLOGIA ARTICULAR CENTROS INSTANTÂNEOS DE ROTAÇÃO o centro da curva de uma superfície articu- lar não necessariamente coincide com o centro de rotação porque, além da forma da superfície, intervêm também o jogo mecânico da articula- ção, a tensão dos ligamentos e a contração dos músculos. No que se refere à cabeça umeral, não exis- te, como se acreditava durante muito tempo quando se comparava a sua forma com uma por- ção de esfera, um centro fixo e imutável durante o movimento, mas sim, como demonstraram os recentes trabalhos de Fischer e cols., uma série de centros instantâneos de rotação (CIR) que se correspondem com o centro do movimento rea- lizado entre duas posições muito próximas entre elas. Estes pontos se determinam mediante a análise informática de uma série de radiografias suceSSivas. Assim sendo, durante o.movimento de ab- dução considerado plano, isto é, mantendo uni- camente o componente de rotação de úmero no plano frontal, existem dois grupos de CIR (fig. 1-19) dentre os quais aparece uma descontinui- dade (3-4) até hoje sem explicação viável. O pri- meiro grupo se localiza num "círculo de disper- são" C1, situado perto da parte inferior-interna da cabeça umeral, cujo centro é o baricentro dos CIR e cujo raio é a média das distâncias desde o baricentro até cada um dos CIR. O segundo gru- po se situa em outro "centro de dispersão" C2, situado na metade superior da cabeça. Os dois círculos estão separados pela descontinuidade. Com relação ao movimento de abdução, podemos comparar a articulação escápulo-ume- ral (fig. 1-20) com duas articulações: - no início do movimento até os 500, a ro- tação da cabeça umeral se realiza ao re- dor de um ponto situado em algum lu- gar do círculo Ci; - no fim da abdução entre 50 e 900, o cen- tro de rotação se localiza no círculo C2; - ao redor dos 500, a descontinuidade do movimento acontece cujo centro se lo- caliza claramente por cima e por dentro da cabeça. Durante o movimento de flexão (fig. 1-21, vista externa) a mesma análise demonstra que não existe uma grande descontinuidade na tra- jetória dos CIR, o que corresponde a um único "círculo de dispersão" centrado na parte infe- rior da cabeça à mesma distância de ambas as margens. Por último, durante o movimento de rota- ção longitudinal (fig. 1-22, vista superior), o cír- culo de dispersão se localiza perpendicularmen- te à cortical diafisária interna e à mesma distân- cia das duas margens da cabeça. 3-4 Fig.1-21 Fig.1-19 Fig. 1-20 '00 Fig.1-22 1. MEMBRO SUPERIOR 35 36 FISIOLOGIA ARTICULAR A CÁPSULA E OS LIGAMENTOS DO OMBRO As superfícies articulares e a bainha cap- sular (fig. 1-23, segundo Rouviere). a) A cabeça wneral (vista interna) Rodeada pela cápsula como se fosse uma gorjeira (1) na qual se distingue: os "frenula capsulae" (2) por baixo do pólo inferior da cabeça; trata-se de pregas sinoviais elevadas por fibras recorrentes da cápsula; o engrossamento formado pelo fascí- culo superiordo ligamento gle- noumeral (3). Dentro da cápsula podemos ver o tendão sec- cionado da porção longa do bíceps (4). Por fora da cápsula podemos apreciar a sec- ção do músculo subescapular (5), perto de sua in- serção na tuberosidade menor. b) A cavidade glenóide (vista externa) Com o lábio g1enóide (1) que passa por cima da incisura glenóide formando uma ponte (2) e cu- jo pólo superior serve de inserção para as fibras da porção longa do bíceps (intracapsular) (3), neste caso seccionado. Com a cápsula (4) e os seus reforços ligamen- tares: raco-umeral fecha, na parte de cima, a incisura intertuberositária, por onde o tendão da porção longa do bíceps sai da articulação: este percorre o sul- co intertuberositário, convertido em canal pelo ligamento umeral trans- verso (8). ligamento glenoumeral, com os seus três fascículos, superior supragleno- supra-umeral (9), médio suprag1eno- pré-umeral (10) e inferior pré-g1e- nossubumeral (11). O conjunto forma um Z expandido sobre a su- perfície anterior da cápsula. Entre os três fascículos existem pontos fracos: Forame de Weitbrecht (12) e forame de Rou- viere (13), por onde a sinovial articular pode-se co- municar com a bolsa serosa subcoracóide. - a porção longa do tríceps (14). Vista posterior da articulação escápulo- umeral (fig. 1-24 bis, segundo Rouviere) Na parte posterior da cápsula, abrimos uma "janela" e a cabeça umeral foi removida (1). A las- sidão da cápsula permite separar 3 cm das superfí- cies articulares no cadáver, de maneira que pode- mos distinguir: os fascículos médio (2) e inferior (3) do ligamento glenoumeral (vistos des- de a sua superfície profunda); ligamento córaco-umeral (4), ao qual está unido o ligamento córaco-gle- nóide (5), que não possui função me- cânica; a parte intra-articular da porção longa do bíceps (6); a cavidade glenóide (7) e o lábio gle- nóide (8); dois ligamentos que não possuem ação mecânica: o ligamento coracóide (9) e o ligamento espinho-g1enóide (10); as inserções dos três músculos pe- riarticulares: o supra-espinhal (11), o infra-espinhal (12) e o redondo me- nor (13). 4 3 5 Fig.1-23 1. .\1E~'1BRO SUPERIOR 37 8 14 Fig.1-24 . ! 9 10 5 Fig. 1-24bis 11 12 13 38 FISIOLOGIA ARTICULAR o TENDÃO DA PORÇÃO LONGA DO BÍCEPS INTRA-ARTICULAR Em corte frontal da articulação escápulo- umeral (fig. 1-25, segundo Rouviere), podemos observar: - as irregularidades da cavidade glenóide ós- sea desaparecem na cartilagem glenóide; - margem cotilóide (2) acentua a profundi- dade da cavidade glenóide; contudo, o en- caixe desta articulação não é muito com- pacto, o qual explica as freqiientes luxa- ções. Na sua parte superior (3) a margem glenóide não está totalmente fixa: a sua margem central cortante fica livre dentro da cavidade, como se fosse um menisco; - na posição anatômica, a parte superior da cápsula (4) está tensa, enquanto a inferior (5) apresenta pregas: esta "elasticidade" capsular e o "despregamento" dos frenula capsulae (6) possibilitam a abdução; - tendão da porção longa do bíceps (7) se insere no tubérculo subglenóide e no pólo superior do lábio glenóide. Para sair da ar- ticulação pela incisura intertuberositária (8) se desliza por baixo da cápsula (4). Corte que mostra as conexões do tendão com a sinovial (quadro): Na cavidade alticular o tendão da porção lon- ga do bíceps pode estabelecer ligações com a si- novial mediante três posições diferentes: 1) aderido à superfície profunda da cápsula (c) pela sinovial (s); 2) a sinovial forma duas pequenas pontas (fundos de saco) entre a cápsula e o ten- dão que, desta maneira, se une à cápsula mediante um fino septo denominado me- sotendão; 3) estando dois "fundos de saco" unidos de tal maneira que desaparecem, o tendão fi- ca liberado, mas envolvido por uma pe- quena lâmina sinovial. Normalmente, estas três disposições po- dem observar-se de dentro para fora à medida que se afastam da inserção tendinosa. Mas, em todo caso, o tendão, embora intracapsular, permanece extra-sinovial. N a atualidade sabemos que o tendão da porção longa do bíceps desempenha um papel im- portante na fisiologia e na patologia do ombro. Quando o bíceps se contrai 'para levantar um objeto pesado, as suas duas porções desem- penham um papel muito importante para manter a coaptação simultânea do ombro: a porção curta e1e\"a o úmero com relação à escápula e se apóia sobre o processo coracóide; assim sendo, junto com os outros músculos longitudinais (porção longa do tríceps, coracobraquial, deltóide), impe- de a luxação da cabeça umeral para baixo. Simul- taneamente, a porção longa coapta a cabeça ume- ral na glenóide; isto é exatamente assim no caso da abdução do ombro (fig. 1-26), porque a porção longa do bíceps também forma parte dos abduto- res: quando sofre mptura a força da abdução dimi- nui 29%. O grau de tensão inicial da porção longa do bíceps depende da longitude do trajeto percorri- do pela porção horizontal intra-articular (fig. 1-27, vista superior). Esta longitude é máxima em posi- ção intermédia (A) e em rotação externa (B): nes- te caso a eficácia da porção longa é máxima. Pelo contrário, em rotação interna (C) o trajeto intra-ar- ticular é o mais curto e a eficácia da porção longa é mínima. Também podemos compreender, conside- rando a reflexo do tendão da porção longa do bí- ceps na incisura intertuberositária, que neste pon- to ele sofre uma grande fadiga mecânica à qual não pode resistir se o seu trofismo não é excelen- te, considerando que isto também se acentua pelo fato de não contar com um sesamóide neste pon- to crítico. Se, com a idade, aparece a degeneração das fibras colágenas, o tendão termina se rompen- do pela sua porção intra-articular, na entrada do sulco ou canal bicipital, inclusive com um esforço mínimo, produzindo um quadro clínico caracterís- tico das periartrites escápulo-umerais. 8 7 4 3 1 1 Fig.1-26 Fig.1-25 1. MEMBRO SUPERIOR 39 32Z//////~c 2~ S~.:.I B Fig.1-27 40 FISIOLOGIA ARTICULAR FUNÇÃO DO LIGAMENTO GLENOUl\:1ERAL Durante a abdução (fig. 1-28) a) posição anatõmica (as franjas tracejadas representam os fascículos médio e infe- rior do ligamento); b) durante a abdução podemos comprovar como estão tensos os fascículos médio e inferior do ligamento glenoumeral, en- quanto o fascículo superior e o ligamen- to córaco-umeral - não representado no desenho - se distendem. A tensão máxi- ma dos ligamentos, associada à maior superfície de contato possível das carti- lagens articulares (o raio da curva da ca- beça umeral é ligeiramente maior em ci- ma que embaixo) fazem da abdução a posição de bloqueio do ombro, a close- packed position de Mac Conaill. Outro fator limitante é o impacto da tu- berosidade maior do úmero contra a parte supe- rior da glenóide e da margem cotilóide. A rota- ção externa desloca a tuberosidade do úmero para trás no fim da abdução, que se encontra por baixo da abóbada acrõmio-coracóide e a in- cisura intertuberositária, e distende ligeiramen- te o fascículo inferior do ligamento glenoume- ral de maneira que consegue retardar o impac- to. Assim sendo, a amplitude da abdução é de 90°. Quando a abdução se realiza com uma fle- xão de 30°, no plano do corpo da escápula, a tensão do ligamento glenoumeral é retardada, permitindo que a abdução atinja uma amplitu- de de 110° na articulação escápulo-umeral. Durante a rotação (fig. 1-29) a) a rotação externa provoca a tensão dos três fascículos do ligamento g1enoume- ral, b) a rotação interna os distende. 1. MEMBRO SUPERIOR 41 a Fig.1-28 b a Fig.1-29 b 42 FISIOLOGIA ARTICULAR o LIGAMENTO CÓRACO-UMERAL NA FLEXÃO-EXTENSÃO Em vista esquemática extema (fig. 1-30) podemos observar a tensão relativa dos dois fascí- culos do ligamento córaco-umeral: a) posição anatômica mostrando o ligamen- to córaco-umeral com os seus dois fascí- culos (tuberosidade maior do úmero por trás e tuberosidade menor do úmero pela frente); b) tensão predominante sobre o fascículo da tuberosidade menor do úmero durante a ex- tensão; c) tensãopredominante sobre o fascículo da tuberosidade maior do úmero durante a fiexão. A rotação intema do úmero que aparece no fim da flexão distende os ligamentos córa- co-umeral e glenoumeral, possibilitando uma maior amplitude de movimento. 1. MEMBRO SUPERIOR 43 c b Fig.1-30 a 44 FISIOLOGIA ARTICULAR A COAPTAÇÃO MUSCULAR DO OMBRO Os músculos periarticulares transversais (fig. 1-31), verdadeiros ligamentos ativos da ar- ticulação, proporcionam a coaptação das super- fícies articulares: encaixam a cabeça umeml na cavidade glenóide: a) vista posterior, b) vista anterior, c) vista superior. Nestes esquemas podemos observar os se- guintes músculos: 1) supra-espinhal, 2) subescapular, 3) infra-espinhal, 4) redondo menor, 5) tendão da porção longa do bíceps. Quan- do este músculo se contrai, o tendão, su- jeito ao tubérculo supraglenóide, desloca a cabeça para dentro. Alguns autores mencionam um papel coaptador da pressão atmosférica, que não atua na glenóide, mas por baixo da camada dos mÚs- culos periarticulares (ver também figs. 1-33 e 1- 34). Os mÚsculos longitudinais do braço e da cintura escapular (fig. 1-32) impedem, median- te a sua contração tônica, que a cabeça umeral se luxe por baixo da glenóide sob tração de uma carga mantida na mão ou o próprio peso do membro superior. Esta luxação inferior se ob- serva na síndrome do "ombro caído" quando, por qualquer motivo, os mÚsculos do braço e do ombro se paralisam. Contudo, recentes trabalhos eletromiográficos demonstram que só intervêm ativamente quando o membro superior suporta grandes cargas, desempenhando o papel de su- porte em situação normal e não, como se acre- ditava até então, ô ligamento córaco-umeral, clássica faixa de fixação de Farabeuf, mas a porção inferior da cáp·sula, como se demonstra nos trabalhos de Fischer e cols. Contudo, a presença da abóbada acrômio- coracóide acolchoada pela porção final do su- pra-espinhal impede e limita a luxação da cabe- ça para cima, sob influência de uma potente contração destes músculos longitudinais. Quando é destruída esta abóbada acolchoada pela terminação do supra-espinhal, a cabeça umeral realiza um impacto direto contra a su- perfície inferior do acrômio e do ligamento acrômio-coracóide, e isto é a causa das dores da periartrite escápulo-umeral ou, mais concreta- mente, da síndrome da ruptura da bainha rota- tória. a) vista posterior, b) vista anterior. Nos desenhos podemos observar: (5') a porção curta do bíceps, (6) o córaco-braquial, (7) a porção longa do tríceps, (8 e 8') fascículos do deltóide, (9) o fascículo clavicular do peitoral maior. (A seta preta indica a tração para baixo.) 1. MEMBRO SUPERIOR 45 c Fig.1-31 Fig. 1-32 46 FISIOLOGIA ARTICULAR A "ARTICULAÇÃO" SUBDELTÓIDE Articulação subdeltóide aberta (fig. 1-33, segundo Rouviere) O deltóide está seccionado horizontalmen- te e deslocado para um lado (1), permitindo,~ desta maneira, a vista da "superfície" profunda do plano de deslizamento anatômico subdeltói- de, constituído por: - extremidade superior do úmero (2); - bainha dos músculos periarticulares: su- pra-espinhal (3), infra-espinhal (4), re- dondo menor (5). O subescapular não está representado no desenho, contudo, podemos claramente distinguir o tendão da porção longa do bíceps (6) ao sair do canal bicipital. Entre a superfície descrita e a abóbada acrômio-coracóide formada pela superfície infe- rior do acrômio e do ligamento acrômio-cora- cóide que se prolonga pela frente ao tendão do córaco-bíceps, o plano de deslizamento anatô- mico celular adiposo contém uma bolsa se rosa subdeltóide (7), aberta no desenho. Outros músculos visíveis no desenho são: o redondo maior (8), a porção longa do tríceps (9), a porção lateral do tríceps (10), o córaco-bra- quial (11), a porção curta do bíceps (12), o pei- toral menor (13) e o peitoral maior (14). Em corte vertical-frontal do coto do om- bro (fig. 1-34) , a) com o braço vertical ao longo do corpo podemos distinguir: o supra-espinhal (1), que se desliza para baixo da articula- ção acrômio-clavicular (2) para se inserir na tuberosidade maior do úmero, e o del- tóide (4) acima do qual se situa a bolsa serosa suldeltóide (5). b) durante a abdução: o infra-espinhal (1) desloca a tuberosidade maior do úmero (3) para cima e para dentro, de maneira que: - o fundo superior da bolsa se desloca e se situa debaixo da articulação acrômio-clavicular (2), - a lâmina profunda da bolsa se des- loca para dentro com relação à lâ- mina superficial (6), que se enruga. Desta forma, a cabeça umeral pode- se deslizar por baixo da abóbada acrômio-deltóide. Por outro lado, o fundo da bolsa inferior da articulação escápulo-umeral (7) se desdobra e está tenso. Porção longa do tríceps (8). 7 L \ \,~'-"""'''WIl:l:b..~~U;;;hj//.J 3 4 ~ •. ~-~ •• ~fl"~ 'J>,,;:,,:;',~ \ 1,\,' ", '/, ,..--','/ ~ '5 " - , ,/;.,",' ,,-' 2,.,/1. I' ~ ./~--' ~ jl//i ..• ! •• _.\,\\\\ •••. 13 9 v///' -.~ g-'"""--\T" - 6 . - .. '"" 111' / / / \ 12 8 1('(1-= -rr;:;--~,·",\'~'I!S;:.. H,IU~"':'~:',',/"" ; 11 .14 9 10 Fig.1-33 5 4 3 Fig.1-34 b 48 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA É fácil entender a articulação escápulo-to- rácica num corte horizontal do tórax (fig. 1-35). Na metade esquerda do corte (posição ana- tômica), podemos observar as duas zonas de deslizamento desta falsa articulação: 1) Zona escápulo-serrática, compreendi- da entre: - por trás e por fora: a escápula reco- berta pelo músculo subescapular; - pela frente e por dentro: a camada muscular do serrátil anterior, que se estende da margem interna da escápu- Ia até a parede ântero-Iateral do tórax. 2) Zona tóraco-serrática ou parieto-ser- rática, compreendida entre: - por dentro e pela frente: a parede to- rácica (costelas e músculos intercos- tais); - por trás e por fora: o serrátil anterior. N a metade direita do corte (estrutura fun- cional da cintura escapular), podemos compro- var que: - a escápula não se localiza no plano fron- tal, mas no plano oblíquo de dentro pa- ra fora e de trás para adiante, formando com o plano frontal um ângulo diedro de 30°, aberto para fora e para a frente; - a direção geral da clavícula é oblíqua para fora e atrás e forma com o plano da escápula um ângulo de 60° aberto para dentro. I Em vista posterior do tórax (fig. 1-36) é possível localizar a éscápula. A escápula, em posição normal, se estende da 2a à 7a costela. Com relação à linha dos pro- cessos espinhosos (linha média): - seu ângulo superior-interno se corres- ponde com o 1.° processo espinhoso to- rácico; - seu ângulo inferior ao 7.° ou 8.° proces- so espinhoso torácico; - a porção interna da espinha da escápula (ângulo constituído pelos dois segmen- tos da margem interna) ao 3.° processo espinhoso torácico. A margem interna ou espinhal da escápula se situa a 5 ou 6 cm da linha dos processos es- pinhosos. Fig. 1-35 Fig.1-36 50 FISIOLOGIA ARTICULAR MOVIMENTOS DA CINTURA ESCAPULAR Moyimentos de deslocamento lateral da escápula (fig. 1-37, corte esquemático hori- zontal) 1) Lado direito do corte: quando a escápula se desloca para dentro: - tende a orientar-se no plano frontal; - a cavidade glenóide está dirigida mais diretamente para fora; - a porção externa da clavícula se dirige para dentro e atrás; - ângulo entre a clavícula e a escápula mostra tendência a abrir-se. 2) Lado esquerdo do corte: quando a escápu- Ia se desloca para fora: - tende a se orientar no plano sagital; - a porção externa da clavícula está diri- gida para fora e para frente e o seu ei- xo longitudinal tem a tendência de es- tar no plano frontal; assim sendo, o diâmetro transversal dos ombros chega até a sua máxima amplitude; - o ângulo entre a clavícula e a escápula tende afechar-se. Entre estas duas posições extremas, o plano da escápula forma um ângulo diedro de 40 a 45°, que corresponde à amplitude global da mudança de orientação da glenóide no plano horizontal, isto é, em tomo de um eixo vertical fictício. Moyimentos de translação lateralda es- cápula (fig. 1-38; vista superior) 1) Lado direito: translação interna (obser- var uma ligeira basculação). 2) Lado esquerdo: translação externa. 3) A amplitude total entre estas duas posi- ções extremas é de 15 cm. I Moyimentos de translação yertical da es- cápula (fig. 1-39) 1) Lado direito: descenso. 2) Lado esquerd0: ascenso. 3) Amplitude total: 10 a 12 cm. Estes movimentos verticais vão acompanha- dos, necessariamente, de uma certa basculação. Moyimentos denominados "sino" ou basculação da escápula (fig. 1-40) Rotação da escápula ao redor de um eixo perpendicular ao plano da escápula localizado ligeiramente por baixo da espinha; não muito longe do ângulo superior-externo. 1) Lado direito: rotação "para baixo" (no caso da escápula direita, no sentido dos pontei- ros do relógio): o ângulo inferior se desloca pa- ra dentro, o ângulo superior e externo para bai- xo e a glenóide tem a tendência a se dirigir para baixo. 2) Lado esquerdo: rotação "para cima": movimento inverso, a glenóide é orientada mais diretamente para cima e o ângulo externo se eleva. 3) Amplitude total: 60°. 4) Deslocamento do ângulo inferior: 10 a 12 cm; do ângulo superior-externo: de 5 a 6 cm. Fig.1-40 1. MEMBRO SUPERIOR 51 Fig.1-37 Fig.1-38 Fig.1-39 52 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MOVIMENTOS REAIS DA ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA Antes existia uma descrição dos movi- mentos elementares da articulação escápulo-to- rácica, mas, na atualidade, sabemos que durante os movimentos de abdução ou de fiexão do membro superior estes movimentos diferentes elementares se combinam em um grau variável. Graças a uma série de radiografias (fig. 1-41) realizadas no percurso do movimento de abdu- ção, J. '{ de Ia Caffiniere pôde, comparando-as com fotografias da escápula "seca" em diferen- tes atitudes, estudar os componentes do seu mo- vimento real; as vistas em perspectiva do acrô- mio (fig. 1-42), da coracóide e da glenóide (fig. 1-43) permitem estabelecer que, durante a abdu- ção ativa, a escápula realiza quatro movimentos: - um ascenso de 8 a 10 cm aproximada- mente sem ter associado, como classica- mente é afirmado, um deslocamento pa- ra frente. - um movimento de sino de progressão praticamente linear, de 38° quando a ab- dução do membro superior passa de O a 145°. A partir de 120° de abdução, a ro- tação angular é igual na articulação es- cápulo-umeral e na escápulo-torácica. - um movimento de basculaçc70 ao redor de um eixo transversal, oblíquo de den- tro para fora e de trás para diante, deslo- cando a ponta da escápula para a frente e para cima, enquanto a porção superior do osso se desloca para trás e para bai- xo, movimento que imita o de um ho- mem inclinado para trás para olhar o to- po de um arranha-céus. A sua amplitude é de 23° durante a abdução de O a 45°. - um movimento de "pÍvô" ao redor de um eixo vertical cuja característica é a de ser difásico: • no primeiro momento, durante a abdu- ção de O a 90°, a glenóide tende parado- xalmente a orientar-se para trás seguin- do um ângulo de 10°, • a seguir, a partir dos 90° de abdução, a glenóide tende a recuperar a orientação para cima seguindo um ângulo de 6°; em realidade, não recupera a sua orien- tação inicial no plano ântero-posterior. No percurso da abdução, a glenóide so- fre um deslocamento complexo, ascendendo e aproximando-se da linha média, ao mesmo tempo que realiza uma mudança de orientação de tal maneira que a tuberosidade maior do úmero "escapa" pela frente do acrômio para se deslizar para baixo do ligamento acrômio-co- racóide. Fig.1-43 I I I I I Fig.1-41 1. MEMBRO SUPERIOR 53 145 Fig.1-42 54 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR (As superfícies articulares) Estas duas superfícies articulares (fig. 1- 44), representadas aqui em separado, têm afor- ma de uma sela usada para cavalgar (superfície "toróide negativa", ver mais adiante quando mencionarmos a articulação trapézio-metacar- peana), com uma curva dupla, mas no sentido inverso; são convexas num sentido e côncavas no outro. Da curva côncava um eixo perpendi- cular no espaço corresponde ao eixo da curva convexa; estes dois eixos se localizam em um e noutro lado da superfície com forma de sela. A de menor superfície (1) é c1avicular, a de maior superfície (2) é esternocostal. Na verdade, a su- perfície c1avicular (1), mais estendida horizon- talmente que verticalmente, ultrapassa pela fren- te e, principalmente, para trás, os limites da su- perfície esternocostal (2). A superfície c1avicular encaixa com facili- dade (fig. 1-45) na superfície esternocostal, da mesma maneira que o cavaleiro se adapta à sela e esta, por sua vez, ao cavalo. A curva côncava da primeira e a curva convexa da segunda encai- xam-se perfeitamente. Os dois eixos de cada uma das superfícies coincidem de dois em dois, de maneira que o sistema só possui dois eixos perpendiculares no espaço, representados no de- senho em perspectiva: - eixo 1 se corresponde com a concavi- dade da superfície c1avicular e permite os moviméntos c1a\'iculares no plano horizontal; - eixo 2 se corresponde com a concavi- dade da superfície esternocostal e per- mite os movimentos c1aviculares no plano vertical. Portanto, esta articulação possui dois eixos e dois graus de liberdade. O seu mode- lo mecânico é o "CARDÃO", Contudo, existe um movimento de rotação longitudinal (ver pág. 56). A articulação esternocostoc1avicular direi- ta está representada aberta na sua superfície an- terior (fig. 1-46). A porção interna da c1a\'ícula (1), cuja su- perfície articular podemos observar (2), foi re- movida depois da secção do ligamento superior (3), do ligamento anterior (-1.) e do ligamento costoc1avicular (5), o mais poderoso. Só se conserva o ligamento posterior (6). A superfí- cie esternocostal (7) se vê nitidamente junto com as suas duas curvas: concavidade no sen- tido vertical e convexidade no sentido ântero- posterior. 1. MEMBRO SUPERIOR 55 Fig.1-44 2 423 Fig.1-45 Fig.1-46 56 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR (Os movimentos) Vista composta da articulação esternocosto- clavicular (fig. 1-47, segundo Rouviere). - Metade direita: corte vértico-frontal no qual podemos observar: -ligamento costoclavicular (1) que, a par- tir de sua inserção na superfície superior da primeira costela se dirige para cima e para fora, em direção à superfície infe- rior da clavícula; - com freqüência, as duas superfícies arti- culares não têm os mesmos raios de cur- va; um menisco (3) reestabelece a con- cordância, como a sela entre o cavaleiro e o cavalo. Este menisco subdivide a ar- ticulação em duas cavidades secundá- rias, que podem ou não se comunicar entre elas, dependendo se o menisco es- tá ou não perfurado na sua parte central; -ligamento estemoc1avicular (4), ligamento superior da articulação, está recoberto por cima pelo ligamento interclavicular (5). - Metade esquerda: "istaanteriorque mostra: -ligamento costoc1avicular (1) e o múscu- lo subclávio (2); - eixo X, horizontal e levemente oblíquo para a frente e para fora, se corresponde com os movimentos da clavícula no pla- no vertical. Amplitude: elevação 10 cm; descenso 3 cm; - o eixo Y, localizado no plano vertical, oblíquo para baixo e levemente para fo- ra, passando pela parte média do liga- mento costoclavicular, se corresponde com os movimentos da clavícula no pla- no horizontal. Amplitude: • anteposição da porção externa da cla- vícula: 10 cm; • retroposição da porção interna da cla- vícula: 3 cm. Do ponto de vista estritamente mecânico, o verdadeiro eixo (Y') deste movimento é paralelo ao eixo Y; mas está situado por dentro da articula- ção (ver eixo 1, figo 1-45). - também existe um terceiro movimento, a rotação longitudinal da clavícula de 30° de amplitude. Até agora acreditava- se que isso era possível graças ao jogo mecânico da articulação, devido à lassi- dão ligamentar. Porem, é mais que pro- vável que, como todas as articulações de dois graus de liberdade, a esternocos- toclavicular realizeuma rotação con- junta durante a rotação ao redor de dois eixos. Isto se confirma pelo fato de que, na prática, á rotação longitudinal da cla- vículajamais aparece isolada fora de um movimento de élevação-retroposição ou descenso-anteposição. Movimentos da clavícula no plano hori- zontal (fig. 1-48, vista superior) - posição média da clavícula (traço escuro); - o ponto Y' se corresponde com o eixo mecânico do movimento; - as duas cruzes representam as posições extremas da inserção clavicular do liga- mento costoclavicular. No quadro: corte no nível do ligamento costoclavicular mostrando sua tensão nas posi- ções extremas. - a anteposição está limitada pela tensão do ligamento costoclavicular e do ligamento anterior (1); - a retroposição está limitada pela tensão do ligamento costoclavicular e do ligamento posterior (2). Movimentos da clavícula no plano frontal (fig. 1-49, vista anterior) - a cruz se corresponde com o eixo X; - quando a porção externa da clavícula se eleva (traço escuro), sua porção interna se desliza para baixo e para fora (seta bran- ca). O movimento está limitado pela ten- são do ligamento costoclavicular (faixa tracejada) e pelo tônus do músculo sub- clávio (seta grande estriada); - quando a clavícula descende, a sua porção interna se eleva. O movimento está limi- tado pela tensão do ligamento superior e pelo contato da clavícula com a superfí- cie superior da primeira costela. Fig.1-48 Fig.1-47 1. MEMBRO SUPERIOR 57 2 y' Fig.1-49 58 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR Em vista póstero-externa da articulação acrômio-clavicular (fig. l-50) estão separados artificialmente a escápula e a clavícula, uma da outra. De tal modo que podemos observar: - a espinha da escápula (1) prolongada para fora pelo acrômio (2) que possui uma superfície articular plana e ligeira- mente convexa na sua margem ântero- interna - esta articulação é uma artró- dia ~ orientada para a frente, para den- tro e para cima; - a clavícula (3), cuja porção extema está seccionada à custa de sua superfície in- ferior por uma superfície articular (5) plana ou ligeiramente convexa "orienta- da" para baixo, para trás e para fora; - da base do processo coracóide (6) par- tem dois potentes ligamentos: • o ligamento conóide (7) que se insere na superfície inferior da clavícula no tubérculo conóide, próximo a sua mar- gem posterior; • o ligamento trapezóide (8) que se diri- ge obliquamente para cima e para fora, em direção à tuberosidade coracóide, zona mgosa e triangular que prolonga o tubérculo conóide para a frente e para fora, na superfície inferior da clavícula; - fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle- nóide (10). O plano vertical P secciona a articulação acrômio-clavicular pela sua parte média. Este corte representado no quadro permite localizar os diferentes elementos já descritos e, além dis- so, observar: - a existência de uma cápsula reforçada por cima por um potente ligamento acrômio-clavicular (15); , - a presença - num terço dos casos - de uma fibrocártilagem interarticular (11) que restabelece a congruência das su- perfícies articulares. É excepcional que esta fibrocartilagem chegue a constituir um me'nisco completo; - a obliqÜidade do plano articular: a claví- cula está como "pousada" sobre o acrô- nuo. A vista anterior do processo coracóide direi- to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco- c1aviculares. - o ligamento conóide (C), que se insere no vértice da dobra do processo coracói- de, com forma de leque de vértice infe- rior, situado no plano frontal; - o ligamento trapezóide (T), que se insere na margem intema do segmento horizon- tal do processo, dirigindo-se para cima e para fora, lâmina fibrosa com forma de quadrilátero, orientada obliquamente de tal maneira que a sua superfície ântero-in- tema esteja dirigida para dentro, para a frente e para cima e a sua superfície póste- ro-externa para trás, para fora e para baixo. A margem posterior do ligamento trapezóide faz contato com o ligamento conóide e, em geral, no nível de sua margem externa. Estes ligamentos estão dispostos em dois planos mais ou menos perpendiculares e formam um ângulo diedro aberto para a frente e para dentro. 58 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR Em vista póstero-externa da articulação acrômio-cIavicular (fig. l-50) estão separados artificialmente a escápula e a clavícula, uma da outra. De tal modo que podemos observar: - a espinha da escápula (I) prolongada para fora pelo acrômio (2) que possui uma superfície articular plana e ligeira- mente convexa na sua margem ântero- interna - esta articulação é uma artró- dia - orientada para a frente, para den- tro e para cima; - a clavícula (3), cuja porção externa está seccionada à custa de sua superfície in- ferior por uma superfície articular (5) plana ou ligeiramente convexa "orienta- da" para baixo, para trás e para fora; - da base do processo coracóide (6) par- tem dois potentes ligamentos: • o ligamento conóide (7) que se insere na superfície inferior da clavícula no tubérculo conóide, próximo a sua mar- gem posterior; • o ligamento trapezóide (8) que se diri- ge obliquamente para cima e para fora, em direção à tuberosidade coracóide, zona rugosa e triangular que prolonga o tubérculo conóide para a frente e para fora, na superfície inferior da clavícula; - fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle- nóide (10). O plano vertical P secciona a articulação acrômio-clavicular pela sua parte média. Este corte representado no quadro permite localizar os diferentes elementos já descritos e, além dis- so, observar: - a existência de uma cápsula reforçada por cima por um potente ligamento acrômio-cIavicular (15); , - a presença - num terço dos casos - de uma fibrocdrtilagem interarticular (11) que restabelece a congruência das su- perfícies articulares. É excepcional que esta fibrocartilagem chegue a constituir um me·nisco completo; - a obliqÜidade do plano articular: a claví- cula está como "pousada" sobre o acrô- mIO. A vista anterior do processo coracóide direi- to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco- claviculares. - o ligamento conóide (C), que se insere no vértice da dobra do processo coracói- de, com forma de leque de vértice infe- rior, situado no plano frontal; - o ligamento trapezóide (T), que se insere na margem interna do segmento horizon- tal do processo, dirigindo-se para cima e para fora, lâmina fibrosa com forma de quadrilátero, orientada obliquamente de tal maneira que a sua superfície ântero-in- tema esteja dirigida para dentro, para a frente e para cima e a sua superfície póste- ro-externa para trás, para fora e para baixo. A margem posterior do ligamento trapezóide faz contato com o ligamento conóide e, em geral, no nível de sua margem externa. Estes ligamentos estão dispostos em dois planos mais ou menos perpendiculares e formam um ângulo diedro aberto para a frente e para dentro. 1. MEMBRO SUPERIOR 59 Fig. 1-50 c T Fig.1-51 60 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLAVICULAR (continuação) Em vista póstero-externa da articulação acrômio-clavicular direita (fig. 1-52, segundo Rouviere) - o plano superficial do ligamento acrô- mio-clavicular (11) está seccionado para mostrar o seu plano profundo que reforça a cápsula; - além dos ligamentos conóide (7) e tra- pezóide (8), podemos observar o liga- mento córaco-clavicular interno (12), também denominado ligamento bicor- ne de CALDANI; - o ligamento acrômio-coracóide (13), que não tem ação mecânica, contribui- para formar o canal do supra-espinhal (ver fig. 1-49); - superficialmente se localiza a camada aponeurótica do deltóide e do trapézio, não representada no desenho, constituí- da por fibras aponeuróticas que unem as fibras musculares do deltóide e do trapé- zio. Esta formação recentemente descri- ta desempenha um papel importante na coaptação da articulação, e é o único fa- tor limitante da amplitude da luxação acrômio-clavicular. A clavícula aparece "em laço" na sua por- ção interna (fig.l-53, vista inferior-externa, se- gundo Rouviere). Podemos observar novamen- te os elementos antes descritos e o ligamento coracóide (14) que se estende de uma margem a outra da incisura coracóide, carente de ação mecânica. Fig.1-52 1. MEMBRO SUPERIOR 61 Fig.1-53 62 FISIOLOGIA ARTICULAR FUNÇÃO DOS LIGAiVIENTOS CÓRACO-CLAVICULARES Vista superior esquemática da articulação acrômio-clavicular (fig. 1-54) que mostra a fun- ção do ligamento conóide: - em pontilhado, a escápula vista desde Cima; - em traços descontínuos, a silhueta da cla- vícula em posição de partida; - em traços contínuos, posição extrema da clavlcula. Este desenho mostra como quando o ângulo formado pela clavícula e a escápula se abre, o li- gamento conóide (as duas faixas tracejadas repre- sentam a suas duas posições sucessivas) está ten- so e limita o movimento. Uma vista semelhante (fig. l-55) mostra a função do ligamento trapezóide. Quando o ângulo formado pela clavícula e a escápula sefecha, o ligamento trapezóide está ten- so e limita o movimento. O movimento de rotação axial na articu- lação acrômio-clavicular (fig. 1-56) se vê com clareza nesta vista ântero-intema: - a cruz representa o centro de rotação da articulação; - os traços contínuos, a posição inicial da escápula (cuja metade inferior foi remo- vida); - a superfície tracejada representa a posi- ção final da escápu1a após ter osciJado na extremidade da clavícula, como no caso de urna pá de debulhadeira no ex- tremo do cabo. Podemos có'mprovar a tensão dos liga- mentos conóide (faixa tracejada) e trapezóide (pontilhado). A amp1itude desta rotação (30°) se sorna à rotação de 30° da articulação ester- nocostoclavicular para possibilitar os 60° de amplitude dos movimentos de "sino" da escá- pula. Um estudo recente realizado por Fischer e co1s. demonstra, graças a uma série de fotogra- fias, a complexidade dos movimentos da arti- culação acrômio-clavicular, artródia debilmen- te encaixada. Durante a abdução, tornando como ponto de referência fixo a escápula, podemos com- provar: - urna elevação de 10° da porção interna da clavícula; - urna abertura até 70° do ângulo escápu- lo-clavicular; - e urna rotação longitudinal de 45° da clavícula para trás. Durante a flexão os movimentos elemen- tares são semelhantes, embora um pouco me- nos acentuados no que diz respeito à abertura do ângulo escápulo-clavicular. Durante a extensão, o ângulo escápulo- clavicular se fecha 10°. Durante a rotação interna, o ângulo escá- pulo-clavicular só se abre 13°. Fig.1-56 I. MEMBRO SUPERlOR 63 Fig.1-54 64 FISIOLOGIA ARTICULAR MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR Neste esquema do tórax (fig. l-57) a meta- de direita representa uma vista posterior: 1) Trapézio: dividido em três porções cu- jas ações são diferentes: Porção superior (1); acrômio-clavicular. Ação: - eleva o coto do ombro, evita a sua queda sob o peso de uma carga; - hiperlordose cervical + rotação da ca- beça para o lado contrário, quando este fascículo toma o ombro como ponto fixo. Porção média (1'); espinhal. Direção transversal. Ação: - aproxima de 2 a 3 cm a margem inter- na da escápula à linha dos processos es- pinhosos, encaixa a escápula no tórax; - desloca o coto do ombro para trás. Porçcio inferior (1"). Direção oblíqua para baixo e para dentro. Ação: - desloca a escápula para baixo e para dentro. Contração simultânea das três porções: - desloca a escápula para dentro e para trás; - gira a escápula para cima (20°): desem- penha um modesto papel na abdução, embora importante na hora de levar car- gas pesadas; - impede a queda do braço e o descola- mento da escápula. 2) Rombóide: direção oblíqua para cima e para dentro. Ação: - desloca o ângulo inferior para cima e para dentro, de maneira que: • eleva a escápula; • gira a escápula para baixo: a glenóide fica orientada para baixo; • fixa o ângulo inferior da escápula con- tra as costelas; a sua paralisia provoca um "descolamento" das escápulas. 3) Angular: direção oblíqua para cima e para dentro. Ação (parecida 'com a dos rombóides): - desloca o ângulo superior interno pa- ra cima (2 a 3 cm) e para dentro (ação de levantar os ombros). Contrai-se quando seguramos algo pesado. A paralisia deste músculo provoca a queda do coto do ombro; - leve rotação da glenóide para baixo. 4) Serrátil anterior: (Yerfigo l-58). A metade esquerda (fig. l-57) representa uma vista anterior. 5) Peitoral menor: direção oblíqua para baixo, para frente e para dentro. Ação: - descende o coto do ombro, deslocan- do a glenóide para baixo. Esta ação é exercida, por exemplo, nos movi- mentos que realizamos nas barras paralelas; - desliza a escápula para fora e para a frente, descolando a sua margem pos- terior. 6) Subclávio: direção oblíqua para baixo e para dentro, quase paralela à clavícula. Ação: - descende a clavícula e, portanto, o coto do ombro; - encaixa a porção interna da clavícula contra o manúbrio esternal de manei- ra que coapta a articulação ester- nocostoclavicular. Fig. 1-57 1. l\IEMBRO SUPERIOR 65 66 FISIOLOGIA ARTICuLAR MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR (continuação) No esquema do tórax visto de perfil (fig. l-58), podemos observar com nitidez o mús- culo serrátil anterior com as suas duas por- ções: - porção superior: direção geral horizon- tal para frente. Ação: o dirige a escápula de 12 a 15 cm para a frente e para fora, ao mesmo tempo que a impede de retroceder quando empurra- mos um objeto pesado para a frente (prova de paralisia: ao realizar esta ação a margem interna se "descola"); - porção inferior: direção geral oblíqua para a frente e para baixo. Ação: • realiza a basculação da escápula para ci- ma: a glenóide tem a tendência a se orientar para a frente. Esta ação inter- vém na flexão, na abdução, no transpor- te de cargas pesadas, mas só quando a abdução do braço ultrapassa os 30° (é o caso de transporte de um balde cheio de água). Neste corte horizontal do tórax (fig. l-59), podemos observar: - do lado esquerdo: ação dos músculos trapézio (porção média), angular, rom- bóides, todos eles adutores da escápula: a aproximam da linha média. Também são, em conjunto (com exceção da por- ção inferior do trapézio), elevadores da escápula; - do lado direito: ação dos músculos ser- rátil anterior e peitoral menor como ab- dutores da escápula: a afastam da linha média. Por outro lado, o peitoral menor e o subc1ávio descendem pela cintura es- capular. Fig.1-58 I. MEMBRO SUPERIOR 67 Fig.1-59 68 FISIOLOGIA ARTICULAR o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO o canal do supra-espinhal (representado por uma estrela) comunica a fossa supra-es- pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista externa da escápula) e está limitada: - por trás, pela espinha da escápula e do acrômio; - pela frente, pelo processo coracóide; - por cima, pelo ligamento acrômio-cora- cóide. Acrômio, ligamento e coracóide constituem uma abóbada ósteo-liga- mentar: a abóbada acrômio-coracóide. Este canal do supra-espinhal forma um anel rígido e sem possibilidade de estender; se o ten- dão do músculo aumenta em volume, devido a uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o nódulo consegue vencer a dificuldade, o movi- mento de abdução pode continuar com um res- salto: é o fenômeno, não muito freqüente, do ombro em ressalto. Nas perfurações da bainha rotatória, o ten- dão do supra-espinhal degenerado e roto já não se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O contato direto da cabeça umeral e da abóbada acrômio-coracóide durante a abdução é, para muitos autores contemporâneos, a causa das do- res da "síndrome de ruptura da bainha". Em vista ântero-superior da escápula (fig. 1-62), podemos observar como o supra-espinhal, que se estende da fossa supra-espinhal até a tu- berosidade maior do úmero, se desliza por baixo do ligamento acrômio-coracóide. Os quatro músculos responsáveis da ab- dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista posterior da escápula e do úmero, são os seguintes:• o deltóide; • o supra-espinhal; estes dois músculos for- mam um par funcional, motor da abdu- ção da articulação escápulo-umeral; • o serrátil anterior; • o trapézio; estes dois músculos formam um par funcional, motor da abdução da articulação escápulo-torácica. Sem representar no esquema, mas não por isso menos úteis para a abdução segundo con- ceitos recentes, participam também os músculos subescapular, infra-espinhal e redondo menor. Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para dentro, formando junto com o deltóide um se- gundo par funcional responsável pela abdução da articulação escápulo-umeral. Por último, o tendão da porção longa do bí- ceps é também motor da abdução, já que a sua ruptura produz uma perda de 20% da força da abdução. J I I I I I I I I I 1~ I Fig.1-59 Fig.1-58 1. MEMBRO SUPERIOR 67 68 FISIOLOGIA ARTICULAR o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO o canal do supra-espinhal (representado por uma estrela) comunica a fossa supra-es- pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vista externa da escápula) e está limitada: - por trás, pela espinha da escápula e do acrômio; - pela frente, pelo processo coracóide; - por cima, pelo ligamento acrômio-cora- cóide. Acrômio, ligamento e coracóide constituem uma abóbada ósteo-liga- mentar: a abóbada acrômio-coracóide. Este canal do supra-espinhal forma um anel rígido e sem possibilidade de estender; se o ten- dão do músculo aumenta em volume, devido a uma cicatriz ou um processo inflamatório, já não pode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se o nódulo consegue vencer a dificuldade, o movi- mento de abdução pode continuar com um res- salto: é o fenômeno, não muito freqÜente, do ombro em ressalto. Nas perfurações da bainha rotatória, o ten- dão do supra-espinhal degenerado e roto já não se interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. O contato direto da cabeça umeral e da abóbada acrômio-coracóide durante a abdução é, para muitos autores contemporâneos, a causa das do- res da "síndrome de ruptura da bainha". Em vista ântero-superior da escápula (fig. 1-62), podemos observar como o supra-espinhal, que se estende da fossa supra-espinhal até a tu- berosidade maior do úmero, se desliza por baixo do ligamento acrômio-coracóide. Os quatro músculos responsáveis da ab- dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vista posterior da escápula e do úmero, são os seguintes: • o deltóide; • o supra-espinhal; estes dois músculos for- mam um par funcional, motor da abdu- ção da articulação escápulo-umeral; • o serrátil anterior; • o trapézio; estes dois músculos formam um par funcional, motor da abdução da articulação escápulo-torácica. Sem representar no esquema, mas não por isso menos úteis para a abdução segundo con- ceitos recentes, participam também os músculos subescapular, infra-espinhal e redondo menor. Deslocam a cabeça umeral para baixo e· para dentro, formando junto com o deltóide um se- gundo par funcional responsável pela abdução da articulação escápulo-umeral. Por último, o tendão da porção longa do bí- ceps é também motor da abdução, já que a sua ruptura produz uma perda de 20% da força da abdução. Fig.1-60 Fig.1-62 1. MEMBRO SUPERIOR 69 Fig.1-61 ----------~---- 70 FISIOLOGIA ARTICULAR FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO À primeira vista, a fisiologia da abdução parece simples: é o resultado da ação de dois músculos, o deltóide e o supra-espinhal. Contu- do, não existe uma opinião unânime sobre o pa- pel que desempenha cada um deles, nem sobre as suas ações recíprocas. Recentes estudos ele- tromiográficos realizados por J.J. Comtet e Y. Auffray (1970) aportam uma nova visão a res- peito. Papel do deltóide Para Fick (1911) podemos distinguir sete porções funcionais no deltóide (fig. 1-65, corte esquemático horizontal, parte inferior): - fascículo anterior, clavicular, inclui dois: I e lI; - fascículo médio, acromial, só um: III; - fascículo posterior, espinhal, quatro: IV, V, VI e VII. Considerando estas porções com relação à sua localização em função do eixo de abdução puro AA' (fig. 1-63, vista anterior e figo 1-64, vista posterior), podemos comprovar que algu- mas delas são em princípio abdutoras, como é o caso de todo o fascículo acromial (III), a parte mais externa da porção II do fascículo clavicular e a porção IV do fascículo espinhal, porque es- tão situadas por fora do eixo (fig. 1-65). Pelo contrário, as outras restantes (I, V, VI e VII) são adutoras quando o membro superior pende ao longo do corpo. Por isso, estas porções do del- tóide são antagonistas das primeiras. Elas vão, se convertindo em abdutoras à medida que o movimento de abdução as desloca para fora do eixo sagital. De maneira que, no que se refere a estas porções, podemos ver uma inversão de sua ação dependendo da posição de início do movi- mento. De todas as maneiras, algumas permane- cem como adutoras (VI e VII) seja qual for o grau de abdução. Em linhas gerais, Strasser (1917) está de acordo com este conceito, embora ressalte que, no caso da abdução realizada no plano da escá- pula, isto é, com uma flexão de 30° ao redor de um eixo BB' (fig. 1-65) perpendicular ao plano da escápula, quase todo o fascículo clavicular é, de aferência, abdutora. Os estudos eletromiográficos demons- tram que as diferentes porções atuam sucessiva- mente à medida que a abdução progride, com um intervalo de tempo maior quanto mais adu- toras sejam no início do movimento, como se fossem dirigidas pôr um quadro de comandos. Por isso, as porçõe.s abdutoras não estão restringidas pelas antagonistas. Neste caso se trata de um exemplo do fenômeno de inervação recíproca de Sherrington. Durante a abdução pura, a ordem de en- trada em ação é a seguinte: - fascículo acromial III; - porções IV e V quase imediatamente de- pOIS; - por último, a porção II a partir dos 20-30°. Durante a abdução associada a uma fle- xão de 30°: - as porções III e II atuam imediatamente; - as porções IV e V cada vez mais tarde. como a porção L Quando a rotação externa do úmero se associa com a abdução: - a porção II se contrai desde o primeiro momento; - as porções IV e V nem sequer intervêm no fim da abdução. Quando a rotação interna do úmero se associa com a abdução: - se observa o mecanismo inverso. Em resumo, o deltóide, ativo desde o iní- cio da abdução, pode realizar a abdução sozinho até a sua máxima amplitude. A sua atividade máxima se estabelece ao redor dos 90° de abdu- ção. Para Inman, sua força seria equivalente a 8,2 vezes o peso do membro superior. Fig.1-63 1. MEMBRO SUPERIOR 71 Fig.1-64 Fig.1-65 72 FISIOLOGIA ARTICULAR FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO (continuação) I Papel dos músculos rotadores Depois de fazer com que a sinergia deltói- de supra-espinhal desempenhe um papel impor- tante, inclusive fundamental, parece agora que os outros músculos da bainha são indispensáveis para a eficácia do deltóide (Inman). De fato, durante a abdução (fig. 1-66), a de- composição da força do deltóide D provoca a aparição de um componente longitudinal Dr, que, diminuído do componente longitudinal Pr do peso P do membro superior (atuando sobre o centro de gravidade), se aplica como força R ao centro da cabeça umeral. Contudo, esta força R pode, por sua vez, se decomponer em uma força Rc que encaixa a cabeça na glenóide, e em oura força Ri, mais potente, que tem a tendência de provocar uma luxação para cima e para fora. Se os músculos rotadores (infra-espinhal, subesca- pular, redondo menor) se contraem neste preci- so momento, a sua força global Rm se opõe di- retamente ao componente de luxação Ri e a ca- beça não pode luxar-se para cima e para fora (quadro em destaque). Desta maneira, a força descendente Rm dos músculos rotadores cria, com a força de elevação Dt do deltóide, um par de rotação que dá origem à abdução. A força dos músculos rotadores é máxima aos 60° de abdu- ção. A eletromiografia (Inman) confirma dita ati- vidade máxima no caso do infra-espinhal. Papel do supra-espinhal Até então, o músculo supra-espinhal era considerado como o iniciador da abdução (o "abductor starter"dos autores anglo-saxões). A "deixada de escanteio" do supra-espinhal me- diante bloqueio anestésico do nervo supra-esca- pular (B. Van Linge e l.D. Mulder) possibilita demonstrar que ele não é indispensável para realizar a abdução, nem sequer para iniciá-la isoladamente abdução; o deltóide não é sufi- ciente para obter uma abdução completa. Contudo, e ao contrário, o supra-espinhal é capaz de realizar uma abdução da mesma am- plitude que a do deltóide (experiência de excita- ção elétrica de Duchenne de Boulogne e obser- vações clínicas da :earalisia isolada do deltóide). A eletromiografia demonstra que ele se con- trai ao longo de toda a abdução e que a sua ativi- dade máxima aparece aos 90° de abdução, como no caso do deltóide. No início da abdução (fig. 1-67) o seu com- ponente tangencial Et é proporcionalmente mais forte que o do deltóide Dt, embora o seu braço de alavanca seja mais curto. O seu componente ra- dial Er encaixa com força a cabeça umeral sobre a g1enóide e contribui vigorosamente para evitar a sua luxação para cima e sob ação do componente radial Dr do deltóide. Assim sendo, desempenha um papel coaptador idêntico ao dos músculos ro- tadores. De igual maneira, provoca a tensão da parte superior da cápsula e se opõe à subluxação inferior da cabeça umeral (Dautry e Gosset). Desse modo, o supra-espinhal é sinérgico dos outros musculos da bainha, os músculos ro- tadores. Ajuda com força e eficácia ao deltóide que, quando atua isoladamente, se fatiga com ra- pidez. Em resumo, a sua ação é ao mesmo tempo qualitativa sobre a copatação articular, e quanti- tativa sobre a resistência e potência da abdução. A sua fisiologia, bastante simples, se opõe à do deltóide, já complexa por si mesma. Sem dar o título de abductor-starter que teve até hoje, po- demos afirmar que é útil e eficiente principal- mente no início da abdução. 3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 71 Fig.2-27 4 5 13 2 5 3 6 10 11 12 4 2 3 4 72 FISIOLOGIA ARTICULAR INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO SOBRE AS ARTICULAÇÕES DA CINTURA PÉLVICA Em posição ortostática simétrica, as arti- . culações da cintura pélvica são solicitadas pelo peso do corpo. O mecanismo destas pressões se pode analisar em uma vista lateral (fig. 2-29), na qual o osso ilíaco, supostamente transparente, permite ver o fêmur. O conjunto formado pela co- luna vertebral, sacro, osso ilíaco e membros infe- riores constitui um sistema articulado: por um la- do, na articulação coxofemoral e, por outro, na ar- ticUlação sacroilíaca. O peso do tronco (seta P), ao recair sobre a face superior da primeira vérte- bra sacral, tem a tendência de deslocar o promon- tório para baixo. Portanto, o sacro é solicitado no sentido da nutação (NJ Este movimento é rapi- damente limitado pelos ligamentos sacroilíacos anteriores, o freio de nutação, e principalmente, pelos dois ligamentos sacrociáticos que impedem a separação do vértice do sacro com relação à tu- berosidade isquiática. Simultaneamente, a reação do chão (seta R), transmitida pelos fêmures e exercida no nível das articulações coxofemorais, forma, com o peso do corpo sobre o sacro, um par de rotação, que tem a tendência de bascular o osso ilíaco para trás (se- ta NJ Esta retroversão da pelve acentua mais a nutação nas articulações sacroilíacas. Embora esta análise trate dos movimentos, na verdade, deveria referir-se às forças que os provocam, visto que os movimentos são quase nulos; se trata mais de tendência de movimentos, do que movimentos propriamente ditos, porque os sistemas ligamentares são extremamente po- tentes e impedem imediatamente qualquer deslo- camento. Em apoio monopodal (fig. 2-30), e em cada passo durante a marcha, a reação do chão (seta R), transmitida pelo membro que suporta o peso, levanta a articulação coxofemoral corresponden- te, enquanto do outro lado, o peso do membro em suspensão tem a tendência de fazer descer a coxo- femoral oposta. Isto provoca uma compressão em cisalhamento da sínfise púbica que apresenta a tendência de levantar o púbis do lado que suporta , o peso (A) e a descer o púbis do lado em suspen- são (B). Normalmente, a solidez da sínfise púbica impede qualquer deslocamento nesta articulação, porém quando está deslocada, se pode ver como aparece um desnível (d) na margem superior de cada um dos púbis durante a marcha. Do mesmo modo, se pode entender que as articulações sacro- ilíacas se solicitem de forma oposta em cada pas- so. A sua resistência aos movimentos se deve à força dos seus ligamentos, mas quando uma das sacroilíacas está lesada por um deslocamento traumático, aparecem movimentos que provocam dor em cada passo. A solidez mecânica do anel pélvico condiciona assim tanto a posição ortostá- tica quanto a marcha. Em decúbito, as articulações sacroilíacas se solicitam de diferente maneira (fig. 2-33) depen- dendo se os quadris estão em flexão (A) ou em extensão (B). Quando os quadris estão estendidos (fig. 2-32), a tração sobre os músculos flexores (seta branca) bascula a pelve em anteversão, ao mes- mo tempo em que o vértice do sacro está impul- sado para a frente. Produz-se uma diminução da distância entre o vértice do sacro e a tuberosida- de isquiática e, simultaneamente, uma rotação na sacroilíaca no sentido da contranutação (a seta 2 indica o movimento do osso ilíaco ao redor do ei- xo de nutação). Esta posição corresponde ao iní- cio do parto e a contranutação, que alarga a aber- tura superior da pelve, favorece a descida da ca- beça letal em direção à escavação pélvica. Quando os quadris estão flexionados (fig. 2-31), a tração dos músculos ísquio-tibiais (seta I) tem a tendência de bascular a pelve em retrover- são com relação ao sacro. Isto constitui, então, um movimento de nutação (a seta 1 indica o movi- mento do osso ilíaco com relação ao sacro); este movimento diminui o diâmetro ântero-posterior da abertura superior da pelve e aumenta os dois diâmetros da abertura inferior da pelve. Esta posi- ção adotada durante o momento expulsivo do par- to favorece, assim, a saída da cabeça letal duran- te a sua passagem pela abertura inferior da pelve. Durante a mudança de posição entre a exten- são e a flexão das coxas, a amplitude média do deslocamento do promontório é de 5,6 mm. As mudanças de posição das coxas modificam, nota- velmente, as dimensões da escavação pélvica pa- ra facilitar a passagem do feto durante o parto. 1- Pr 1. MEMBRO SUPERIOR 73 Fig.1-67 74 FISIOLOGIA ARTICULAR AS TRÊS FASES DAABDUÇÃü Primeira fase da abdução (fig. 1-68): de O a 90° Os músculos motores desta primeira fase são principalmente: - deltóide (1); - supra-espinhal (2). Estes dois músculos formam o par da abdu- ção da articulação escápulo-umeral. De fato, nes- ta articulação é onde se inicia o movimento de abdução. Esta primeira fase finaliza perto dos 90°, quando a articulação escápulo-umeral se bloqueia devido ao impacto da tuberosidade maior do úmero contra a margem superior da glenóide. A rotação externa, e também uma ligei- ra ftexão, desloca a tuberosidade maior do úme- ro para trás e atrasa dito bloqueio. Com Steind- ler, podemos considerar que a abdução associada com uma ftexão de 30° no plano do corpo da es- cápula é a verdadeira abdução fisiológica. Segunda fase da abdução (fig. 1-69): de 90 a 150° Com a articulação escápulo-umeral blo- queada, a abdução só pode continuar graças à participação da cintura escapular: - movimento pendular da escápula, rota- ção no sentido inverso aos ponteiros do relógio (no caso da escápula direita) que dirige a glenóide mais diretamente para cima; sabemos que a amplitude deste movimento é de 60°; - movimento de rotação longitudinal, do ponto de vista mecânico, das articula- ções esternocostoclavicular e acrômio- clavicular, cuja amplitude de movimen- to é de 30° cada uma; - os músculos motores desta segunda fase são: • o trapézio (3 e 4); • o serrátil anterior (5). Constituem o par ~bdutor da articulação es- cápulo-torácica. O movimento está limitado perto dos 150° (90° + 60° de amplitude do mo\"imento pendularda escápula) pela resistência dos músculos adu- tores: grande dorsal e peitoral maior. Terceira fase da abdução (fig. 1-70): de 150° a 180° É necessário que a coluna vertebral parti- cipe deste movimento para chegar à vertical. Se só um braço realiza a abdução, basta uma inclinação lateral sob ação dos músculos espinhais do lado contrário (6). Se os dois braços realizam a abdução, não podem estar paralelos se não estiverem emfte- xão máxima. Para chegar à vertical é necessária uma hiperlordose lombar, também sob depen- dência dos músculos espinhais. Esta descrição da abdução em três fases é, naturalmente, esquemática: em realidade, as participações musculares estão inter-relaciona- das e "encadeadas intimamente"; é fácil com- provar que a escápula começa um "giro" antes que o membro superior chegue a uma abdução de 90°. Igualmente, a coluna vertebral começa a se inclinar antes de chegar a uma abdução de 150°. No fim da abdução, todos os músculos mo- tores da abdução estão contraídos. J I) Fig.1-68 Fig.1-70 ( / Fig.1-69 1. MEMBRO SUPERIOR 75 76 FISIOLOGIA ARTICULAR AS TRÊS FASES DAFLEXÃO Primeira fase da flexão (fig. 1-71): de 0° a 50-60° Os músculos motores desta primeira fase são: - fascículo anterior, c1avicular, do del- tóide (1); - córaco-braquial (2); - fascículo superior, clavicular, do peito- ral maior (3). Estafiexão está limitada na articulação es- cápulo-umeral por dois fatores: - a tensão do ligamento córaco-umeral (ver figo 1-30, c); - a resistência dos músculos redondo me- nor, redondo maior e infra-espinhal. Segunda fase da flexão (fig. 1-72): de 60° a 120° Função da cintura escapular: - rotação da escápula 60° mediante um movimento pendular que orienta a gle- nóide para cima e para a frente; - rotação axial, do ponto de vista mecâni- co, das articulações esternocostoc1avi- cular e acrômio-clavicular, cuja ampli- tude é de 30° cada uma. Os músculos motores são os mesmos que participam da abdução: - trapézio (4 e 5); - serrátil anterior. Esta flexão escápulo-umeral está limitada pela resistência do músculo grande dorsal e da porção inferior do peitoral maior. Terceira fase da flexão (fig. 1-73): de 120° a 180° O movimento de flexão está bloqueado pe- la articulação escápulo-umeral e a intervenção da coluna vertebral na escápulo-torácica é ne- cessária. Se a flexão é unilateral, é possível finalizar o movimento realizando uma abdução máxima do braço e, a seguir, uma inclinação lateral da coluna. Se a flexão é bilateral, o fim do movimen- to é idêntico ao da abdução associada a uma hiperlordose por ação dos músculos lombares (7). I Fig.1-71 Fig.1-72 1. J\'lEMBRO SUPERIOR 77 Fig.1-73 78 FISIOLOGIA ARTICULAR MÚSCULOS ROTADORES a) Vista superior esquemática (Fig. 1-74) da articulação escápulo-umeral, que mostra os músculos rotadores; b) Rotadores internos (desenho): 1) grande dorsal; 2) redondo maior; 3) subescapular; 4) peitoral maior. c) Rotadores externos (desenho): 5) infra-espinhal; 6) redondo menor. Diante da quantidade e da potência dos rota- dores internos, os rotadores externos são fracos; contudo, são indispensáveis para a correta utiliza- ção do membro superior, porque só eles podem afastar a mão da superfície anterior do tronco, deslocando-a para a frente e para fora; este movi- mento da mão direita de dentro para fora é im- prescindível para a escritura. Observe-se que, embora estes dois músculos possuam um nervo diferente (nervo supra-escapu- lar no caso do infra-espinhal e nervo circunflexo no caso do redondo menor), ambos os nervos têm origem na mesma raiz (Cs) do plexo braquial, de maneira que podem paralisar-se simultaneamente nos alongamentos do plexo braquial nas quedas sobre o coto do ombro (acidente de motocicleta). Mas a rotação da articulação escápulo- umeral não é suficiente para completar a máxi- ma rotação do membro superior: é necessário acrescentar modificações na orientação da escá- pula (e da glenóide) durante os movimentos de translação lateral da articulação (ver figo 1-37); esta mudança de orientação de 40° a 45° aumen- ta. na mesma medida, a amplitude da rotação. Os músculos motores são: - no caso da rotação externa (adução da escápula): rombóide e trapézio; - no caso da rotação interna (abdução da es- cápula): serráti1anterior e peitoral menor. , I b 2 Fig.1-74 1. MEMBRO SUPERIOR 79 5 6 c 80 FISIOLOGIA ARTICULAR AADUÇÃO E A EXTENSÃO Os músculos adutores são representados em vista anterior (fig. 1-75) e em vista póstero- externa (fig. 1-76). Números comuns para ambas as figuras: (1) redondo maior; (2) grande dorsal; (3) peitoral maior; (4) rombóide. No quadro: esquemas que explicam o fun- cionamento dos dois pares musculares da adução: a) par rombóide (1) redondo maior (2) A ação sinérgica destes dois músculos é indispensável para a adução. De fato, se o redondo maior se contrai sozinho, o membro superior resiste à adução e a es- cápula gira para cima sobre o seu eixo (representado por uma cruz). A contração do rombóide evita esta rota- ção e possibilita a ação adutora do re- dondo maior. b) par porção longa do tríceps (4) grande dorsal (3) A contraç~o do grande dorsal, músculo adutor muito potente, tende a luxar a ca- beça umeral para baixo (seta preta); A porção longa do tríceps, que é ligeira- mente adutora, quando se contrai simul- taneamente, se opõe a esta luxação e ele- va a cabeça umeral (seta branca). Os músculos extensores estão representa- dos em vista póstero-extema (fig. 1-77). Extensão da articulação escápulo-wne- ral: - redondo maior (1); - redondo menor (5); - porção posterior, espinhal, do deltóide (6); - grande dorsal (2). Extensão da articulação escápulo-toráci- ca, por adução da escápula: - rombóide (4); - porção média, transversal, do trapézio (7); - grande dorsal (2). Fig.1-75 Fig.1-76 82 FISIOLOGIA ARTICULAR FLEXÃO-EXTENSÃO Anatomicamente O cotovelo só contém uma articulação: de fato, só existe uma cavidade articular. Contudo, a fisiologia permite distinguir duas funções diferentes: - a pronação-supinação, que envolve a articulação rádio-ulnar superior; - a f1exão-extensão, que precisa da ação de duas articulacões: • a articulação úmero-ulnar; • a articulação úmero-radial. Neste capítulo, será analisada únIca e exclusivamente a função da FLEXÃO- EXTENSÃO. 1. MEMBRO SUPERlOR 83 84 FISIOLOGIA ARTICULAR o COTOVELO: ARTICULAÇÃO DE SEPARAÇÃO E APROXIMAÇÃO DA MÃO o cotovelo é a articulação intermédia do membro superior: ao realizar a união mecânica entre o primeiro segmento - o braço - e o segun- do - o antebraço - do membro superior, possi- bilita, orientado nos três planos do espaço graças ao ombro, deslocar mais ou menos longe do corpo a sua extremidade ativa: a mão. O homem pode levar os alimentos à boca graças à flexão do cotovelo. Quando pegamos um alimento com extensão-pronação (fig. 2-1), este é levado à boca mediante um movimento de flexão-supinação; assim sendo, podemos afirmar que o bíceps é o músculo da alimen- tação. o cotovelo constitui junto com o braço e o antebraço um compasso (fig. 2-2, a) que possi- bilita a aproximação, até quase tocar, do punho P ao ombro O (a distância que os separa é o que mede o punho), de maneira que a mão chega com facilidade ao ombro e à boca. Na mon- tagem telescópica (fig. 2-2, b) a mão não pode alcançar a boca porque o comprimento mínimo é a soma da longitude L de um segmento e da coaptação necessária para manter a rigidez da montagem. No caso do cotO\elo, a solução tipo "compasso" é mais lógica e melhor em com- paração com a do tipo "telescópico", supondo que esta última seja viável. 1. 11EMBRO SUPERIOR 85 Fig.2-1 a Fig.2-2 . b 86 FISIOLOGIA ARTICULAR AS SUPERFÍCIES ARTICULARES (as explicações são as mesmas para todas as figuras) No nível da porção inferior do úmero: duas superfícies articulares (figo 2-3, segundo Rouviere): - a tróclea umeral (2), em forma de polia ou diabolô (fig. 2-3, a), com urna gargan- ta que se localiza no plano sagital, entre duas"superfícies articulares" convexas; - côndilo umeral, superfície esférica (3), situada por fora da tróclea. Podemos comparar o conjunto côndilo-tró- elea com a associação (figo2-4) de um diabolô e de wna bola, atravessados por um mesmo eixo. Este eixo representa - numa primeira aproxima- ção - o eixo de flexão-extensão do cotovelo. São necessárias duas observações: - o côndilo não é uma esfera completa, mas sim uma hellliesfera (a metade an- terior da esfera) "localizada" pela frente da porção inferior do úmero. Conse- qÜentemente, o côndilo, ao contrário da tróclea, não existe na parte posterior; se interrompe na extremidade inferior do osso sem ascender para trás; - no espaço (4) situado entre o côndilo e a tróc1ea (figo 2-4), existe urna zona de transição, a superfície ou canal côndilo- trodear (figo 2-3), com forma de cone cuja base maior se apóia na superfície articular externa da tróclea. Mais adian- te esclareceremos a utilidade desta zona côndilo-troclearo No nível da porção superior dos dois os- sos do antebraço, duas superfícies correspon- dentes: - a grande cavidade sigmóide da ulna (fig. 1-3) que se articula com a tróc1ea, de modo que a sua conformação é in- versa, isto é, que apresenta urna crista romba longitudinal (10) que finaliza, por cima, com o bico do olécrano (11), por baixo e pela frente com o bico do processo coronóide (12); a cada lado da crista,. que se corresponde com a gar- ganta da tróclea, se localizam duas ver- tentes côncavas (13), que se correspon- dem com as "superfícies articulares" trocIeares. A forma geral desta superfí- cie articular é_,comparáve1(fig. 2-4, b) à superfície de urna prancha de ferro on- dulada, da que só.tomamos um elemen- to (seta branca): uma nervura (10) e dois canais (11). - a abóbada radial (fig. 1-3), superfície su- perior da cabeça radial, cuja concavidade (14) possui a mesma curva que o côndilo (3) sobre a qual se adapta. Está limitada por uma margem (ver pág. 93) que se ar- ticula com a zona côndilo-troclear. Estas duas superfícies constituem um con- junto único graças ao ligamento anular (16). As figuras 2-5 e 2-6 mostram o encaixe das superfícies articulares. Figura 2-5, vista ante- rior (lado direito) com: a fosseta coronóidea (5) por cima da tróclea, e a fosseta supracondilar (6), a epitróclea (7) e o epicôndilo (8). Figura 2- 6, vista posterior (lado esquerdo), que também mostra a fosseta olecraniana (17) receptora do bico do olécrano (20). Na secção vértico-frontal da articulação (fig. 2-7, segundo Testut), podemos observar co- rno a cápsula (17) constitui só urna cavidade arti- cular para duas articulações funcionais: (fig. 2~8, corte esquemático) a articulação de flexão-exten- são (traços verticais) com a interlinha trócleo-ul- nar (18) (fig. 2-7) e a interlinha côndilo-radial (19) e a articulação rádio-ulnar superior (traços hori- zontais) no caso da pronação-supinação. Também podemos distinguir o bico do olécrano (11) que, na extensão, ocupa a fosseta olecraniana. Fig.2-5 b Fig.2-4 12 13 Fig.2-3 14 15 16 2 8 Fig.2-6 \1 ~~ 8 3 17 14 "'('111.·':~,i~~.ltlflUJJ//~ 20 19 Fig.2-8 18 88 FISIOLOGIA ARTICULAR A PALETA UMERAL Denomina-se paleta umeral à porção infe- rior do úmero (fig. 1-12, vista anterior e figo2- 13, vista posterior), plana de diante para trás e em cuja margem inferior se localizam as super- fícies articulares, tróclea e côndilo. É importante conhecer a estrutura e a forma desta paleta umeral para compreender a fisiolo- gia do cotovelo. 1) a paleta umeral possui a estrutura de uma forquilha que suporta entre os seus dois ramos o eixo das superfícies articu- lares (fig. 2-14), como se fosse uma for- quilha de bicicleta. De fato, na sua parte central, a paleta ume- ral apresenta duas cavidades: - pela frente, a fosseta supratroclear, re- ceptora do bico do processo coronóide durante a flexão (fig. 2-11); - por trás, a fosseta olecraniana, recep~ tora do olécrano durante a extensão (fig. 2-9). Estas duas fossetas são imprescindíveis pa- ra que o cotovelo tenha uma determinada ampli- tude de flexão-extensão: atrasam o momento em que os bicos da coronóide ou do olécrano im- pactam contra a paleta. Sem elas, a grande cavi- dade sigmóidea da ulna, que realiza um arco de 180°, só percorreria um trajeto muito curto sobre a tróclea, ao redor da posição média (fig. 2-10). Em algumas ocasiões, ditas fossetas são tão profundas que a fina lâmina óssea que as separa se perfura: neste moemento é quando entram em contato entre si. Seja como for, a sólida estrutura da paleta se localiza a cada lado das fossetas, conforman- do dois pilares divergentes (fig. 1-13) que finali- zam por dentro da epitróclea, por fora do epi- côndilo e que, no seu intervalo, contêm o con- junto articular côndilo-troclear. Esta estmtura em forquilha é a que faz a redução tão delicada e, principalmente, a correta imobilização das fraturas da porção inferior do úmero. 2) a paleta umeral, em conjunto, se encon- tra deslocada para a frente (fig.2-15, a). O plano da paleta forma um ângulo de aproximadamente 45° com o eixo da diáfise. Esta ..configuração tem uma con- seqüência mecânica: toda a tróclea se si- tua pela frente do eixo diafisário. Igualmente, a grande cavidade sigmóide da u/na, orientada para frente e para cima se- guindo um eixo inclinado 45° sobre a horizontal (a), também se situa totalmente pela frente do eixo diafisário da ulna. Isto está esquematizado em (b). O deslocamento das superfícies articulares para frente junto com sua orientação de 45° fa- vorece a flexão por dois motivos (e): I) o impacto do bico coronóide não ocorre até que os dois ossos estejam paralelos (flexão teórica: 80°); 2) inclusive em flexão máxima, persiste uma separação (seta dupla) entre os dois ossos, o que permite paIpar as massas musculares. Se estas duas condições mecânicas não existissem (f), é fácil entender: - que a flexão estaria limitada a 90° devi- do ao impacto coronóide (g); - e, supondo que não existisse tal impac- to (como seria o caso de uma perfura- ção importante da paleta), os dois os- sos entrariam em contato durante a fle- xão sem deixar lugar para as massas musculares (h). Fig.2-9 Fig.2-13 Fig.2-10 Fig.2-11 1. MEMBRO SUPERIOR 89 Fig.2-14 Fig.2-12 a b c d e Fig.2-15 9 o h 90 FISIOLOGIA ARTICULAR OS LIGAMENTOS DO COTOVELO (as explicações são as mesmas para todas as figuras) Os ligamentos da articulação do cotovelo têm a função de manter as superfícies articitla- res em contato. São autênticos tensores, dispos- tos a cada lado da articulação: o ligamento late- ral interno (fig. 2-16, segundo Rouviere) e o li- gamento lateral externo (fig. 2-17, segundo Rou- viere). Em conjunto, têm a forma de um leque fi- broso que se estende de cada uma das duas proe- minências para-articulares - epicôndilo por fora, epitróc1ea por dentro -, onde o vértice do leque se fixa num ponto que se corresponde, aproxi- madamente, com o eixo xx' de flexão-extensão (fig. 2-18, segundo Rouviere), até o contorno da grande cavidade sigmóide da ulna onde se inse- re a periferia do leque. Por isso, podemos imaginar o modelo mecânico do cotovelo como vemos a seguir (fig. 2-19): - na parte superior, a forquilha da paleta umeral, suporte da polia articular; - na parte inferior, um semi-anel (a gran- de cavidade sigmóide) unido ao braço de alavanca antebraquial e que se encai- xa na polia; - o sistema ligamentar está representado por dois tensores unidos ao "talo" que simula o antebraço, e que se articula com os dois extremos do eixo da polia. É fácil entender que estes "tensores" late- rais desempenhem um duplo papel (fig. 2-20, a): - manter o semi-anel encaixado na polia (coaptação articular); - impedir qualquer movimento de latera- lidade. Basta (fig. 2-20, b) a ruptura de um dos ten- sores, por exemplo o interno (seta branca), para que possa produzir o movimento de lateralidade para o lado oposto (seta preta) e para que as su- perfícies articulares percam contato: é o meca- nismo habitual da luxação do cotovelo,que nu- ma primeira fase, é uma entorse grave do coto- velo (ruptura do ligamento lateral i~terno). Particularidades: - o ligamento~ lateral interno (LU) está constituído por três fascículos (fig. 2-16): • um fascículo anterior (1), cujas fibras mais anteriores reforçam (fig. 2-17) o ligamento anular (2); • um fascículo médio (3), o mais potente; • um fascículo posterior (4), ou liga- mento de Bardinet, reforçado pelas fibras transversais do ligamento de Cooper (5). Além disso, neste esquema podemos dis- tinguir: a epitróc1ea (6), de onde sai o leque do LU, o olécrano (7), a corda de Weit- brecht (8), o tendão do bíceps (9) que se in- sere na tuberosidade bicipital do rádio. - o ligamento lateral externo (LLE), constituído também por três fascículos (fig. 1-17): • um fascículo anterior (10), que refor- ça o ligamento anular pela frente; • um fascículo médio (11), que reforça o ligamento anular por trás; • um fascículo posterior (12). Epicôn- dilo (13). - a cápsula se encontra reforçada, pela frente, pelo ligamento anterior (14) e o ligamento oblíquo anterior (15). Por trás, está reforçada por fibras transver- sais úmero-umerais e por fibras úmero- olecranianas. 1. MEMBRO SUPERIOR 91 b a X' 15 Fig.2-17Fig.2-16 Fig.2-19 Fig.2-18 Fig.2-20 92 FISIOLOGIA ARTICULAR A CABEÇA RADIAL A forma da cabeça radial está totalmente condicionada pela sua função articular: - função de rotação axial (ver capítulo IIl: pronação~supinação): é cilíndrica; - função de flexão-extensão em tomo ao eixo xx' do côndilo: • em primeiro lugar, a cabeça radial de- ve-se adaptar (fig. 2-21) à forma esfé- rica do côndilo umeral (A): por isso, a sua superfície superior (B) é côncava, é a abóbada radial. Para que isto aconteça basta remover (C) um cas- quete esférico, cujo raio de curva seja igual ao do côndilo; de modo que du- rante a pronação-supinação a abóbada radial possa pivotar sobre o côndilo umeral seja qual for o grau de flexão- extensão do cotovelo; • porém o côndilo umeral se encontra limitado (fig. 2-22), por dentro, por uma superfície troncocônica, a zona côndilo-troclear (A). Desta forma, du- rantea flexão-extensão, para que pos- samos realizar a adaptação da cabeça radial, é necessário que uma "esqui- na" (C) do contorno interno dela de- sapareça, como se um plano (B) tan- gente ao tronco do cone tivesse sepa- rado uma porção da margem da abó- bada; • por último, a função da cabeça radial não consist_~unicamente em se desli- zar sobre o côndilo e a zona côndilo- troclear girando em tomo ao eixo xx', mas pode girar ao mesmo tempo em tomo de seu eixo vertical yy' , durante a pronação-supinação (B); a secção praticada no contorno da abóbada (C) se estende sobre uma porção de sua circunferência, como se, no percurso desta rotação (B), uma navalha tivesse recortado uma lâmina espiral no bor- do (fig. 2-23). Ligações articulares da abóbada radial nas posições extremas (fig. 2-24): - em extensão máxima (a), só a metade an- terior da abóbada se articula com o côndi- 10; de fato, a superfície cartilaginosa do côndilo se interrompe no limite inferior da paleta umeral e não ascende para trás; - emjlexão máxima (b), O contorno da ca- beça radial ultrapassa, por cima, a super- fície do côndilo e se introduz na fosseta supracondilar (ver figo 2-5), muito me- nos profunda que a fosseta supratroclear ou coronóide. A B x 1. MEMBRO SUPERIOR 93 c Fig.2-21 Fig.2-22 Fig.2-23 b a Fig.2-24 94 FISIOLOGIA ARTICULAR A TRÓCLEA UMERAL (variações) A primeira vista, afirmamos anteriormente (pág. 86) que a garganta da tróclea se localiza no plano sagital. A realidade é bastante mais com- plexa. De fato, a garganta da tróclea não é verti- cal, mas é oblíqua; além disso, esta obliqÜidade varia segundo o sujeito. A figura 2-25 é um re- sumo destas situações diferentes e as suas con- seqüências do ponto de vista fisiológico: 1) Caso mais freqüente (fileira superior) De frente (a), a garganta da tróclea é verti- cal: por trás, a parte posterior da garganta (b: vis- ta posterior) é oblíqua para baixo e para fora. Em conjunto (c), a garganta da tróclea se enrola em espiral em tomo do eixo. As conse- qüências fisiológicas são as seguintes: - em extensão (d) (esquema inspirado em Roud), a parte posterior da garganta faz conexão com a cavidade sigmóidea; de modo que a sua obliqüidade provoca a do antebraço; portanto, o antebraço se posiciona levemente oblíquo para baixo e para fora e o seu eixo não prolonga o do braço, porque forma com ele um ân- gulo obtuso aberto para fora, claramen- te definido na mulher e denominado val- go fisiológico (fig. 2-26); - em ftexão, é a parte anterior da gargan- ta a que determina a direção do antebra- ço e, como esta parte da garganta é ver- tical, durante a ftexão (e), o antebraço acaba-se projetando exatamente pela frente do braço. 2) Caso menos freqüente (fileira inter- média) De frente (a), a garganta da tróclea é oblí- qua para cima e para fora. A parte posterior da garganta (b) é oblíqua para baixo e para fora. Em conjunto (c), a garganta descreve uma autêntica espiral em tomo do eixo. Durante a extensão (d), o antebraço fica oblíquo para baixo e para fora: é a ulna em val- go fisiológico, como no caso anterior. Durante a ftexão (e), a obliqüid~de da parte anterior da garganta determina a obliqüidade do antebraço: este último se projeta levemente por fora do braço. 3) Caso muito rar~ (fileira inferior) De frente (a), a garganta da tróclea é oblí- qua para cima e para dentro. A parte posterior da garganta (b) é oblíqua para baixo e para fora. Em conjunto (c), a garganta da tróclea des- creve um círculo, cujo plano é oblíquo para baixo e para fora, ou uma espiral muito fechada e incli- nada para dentro. Conseqüências fisiológicas: - na extensão (d): valgo fisiológico; - na ftexão (e): o antebraço se projeta por dentro do braço. Outra conseqüência desta fOffi1a em espiral da garganta é que não existe um eixo da tróclea, mas uma série de eixos instantâneos entre duas posições extremas (fig. 2-27): - um eixo naflexão (traço contínuo): é per- pendicular à direção do antebraço ftexio- nado (aparece ilustrado o caso mais fre- qüente: ver I); - um eixo na extensão (traço descontínuo): é perpendicular ao eixo do antebraço es- tendido. A direção do eixo de ftexão-extensão varia continuamente entre duas posições extremas, durante os movimentos de ftexão-extensão do cotovelo, diz-se que o eixo é evolutivo. A figura 2-28 ilustra estas duas posições extremas no es- queleto. 1. MEMBRO SUPERIOR 9S a d '''\\ \ \ \ \ \ \ \ \ ~ I II II I L._J 111 -•..•. lU Fig.2-28 /';9.2-27 ~ \ Fig.2-26 \ \ b c a d '" e II Fig.2-25 96 FISIOLOGIA ARTICt:LAR AS LIMITAÇÕES DA FLEXÃÜ-EXTENSÃü A limitação da extensão (fig. 2-29) se deve a três fatores: 1) o impacto do bico olecraniano no fundo da fosseta olecraniana; 2) a tensão da parte anterior da cápsula articular; 3) a resistência que opõem os músculos flexores (bíceps, braquial anterior e braquirradial). Se a extensão continua. um dos menciona- dos ji-eios se rompe: ~ fratura do olécrano (1) (fig. 2-30), segui- da de desgane capsular (2); -o olécrano (1) resiste (fig. 2-31), mas a cápsula (2) e os ligamentos se rompem, e se produz uma luxação posterior (3) do cotovelo. Os músculos, em geral, p<.:rmanecemintatos. Contudo, a artéria umeral pode romper-se ou, pelo menos, sofrer uma contusão. A limitação da flexão é diferente, depen- dendo de ser uma flexão ativa ou passiva. Se a flexão é atim (fig. 2-32): - o primeiro fator de limitação é o con- tato das massas musculares (1) do compartimento anterior do braço e do antebraço, endurecida pela contração. Este mecânismo explica que a flexão ativa não pC!de ultrapassar os 145°, fato que se acentua quanto mais mus- culoso é o indivíduo. - os outros fatores, impacto ósseo (2) e tensão capsular (3), quase não inter- vêm. Se a flexão é passiva (fig. 2-33) pela ação de uma força (seta preta) que "fecha" a articu- lação: - as massas musculares sem contrair(1) podem - se achatar ltma contra a outra de modo que a flexão possa ultrapassar os 145°; - neste momento aparecem os outros fatores limitantes: • impacto da cabeça radial contra a fosse- ta supracondílea e do processo coro- nóide contra a fosseta supratroclear (2); • tensão da parte posterior da cápsula (3); • tensão passiva do tríceps braquial (4). Nestas condições, a flexão pode alcançar os 160°. felipe Highlight 1 Fig.2-29 Fig.2-32 1. MEMBRO SUPERIOR 97 Fig.2-31 Fig.2-33 98 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS MOTORES DA FLEXÃO Os músculos motores da ftexão do cotove- lo são essencialmente três: - o braquial anterior (1) que se estende do tubérculo do processo coronóide da ulna até a superfície anterior do úmero (fig. 2-34): mono articular, é exclusiva- mente ftexor do cotovelo; é um dos raros músculos do corpo que realizarp uma única função; - o braquiorradial (2) que se estende do processo estilóide do rádio até a mar- gem externa do úmero (fig. 2-34): a sua função principal é a fiexão do cotovelo. Como músculo acessório e só na prona- çâo máxima se converte em supinador, igualmente é pronador na supinação má- XIma; - o bíceps braquial (3) é o fiexor princi- pal (fig. 2-35). A sua inserção inferior se localiza na tuberosidade bicipital do rá- dio. As suas inserções superiores não se situam no úmero (se trata de um múscu- lo biarticular), mas na escápula median- te duas porções: • (I porção longa (3') no tubérculo su- praglenóide após ter atravessado a ar- ticulação (ver capítulo I: o ombro); • a porçâo curta (3") no bico do pro- cesso coracóide. Mediante as suas duas inserções superiores, o músculo bíceps coapta o ombro e sua porção longa o abduz. A sua ação principal é a ftexão do cotovelo. A sua ação secundária, porém importante, é a supinação (ver capítulo III: a pronação-supina- ção), máxima quando o cotovelo está fiexionado a 90°. Com o cotovelo fiexionado, o bíceps tende a luxar o rádio (ver pág. 102). A eficácia dos músculos fiexores é máxima com o cotovelo fiexionado a 90°. De fato, quando o cotovelo está estendido (fig. 2-36), a direção da força muscular é quase paralela (seta branca) à direção do braço de ala- vanca. O componente centrípeto ç dirigido ao centro da articulação é preponderante, mas ine- ficaz. O componente tangencial ou transversal T, o único realmente éncaz, é relativamente insig- nificante, quase nulo. Contudo, na semifiexão (fig. 2-37), a força muscular está perpendicular à direção do braço de alavanca (seta branca: bíceps, seta preta: bra- quirradial), o componente centrípeto se anula e o componente tangencial se confunde com a própria força muscular: assim, toda a força mus- cular se utiliza na ftexão. Este ângulo de máxima eficácia se situa en- tre os 80 e 90° no caso do bíceps. Com relação ao braquirradial, a 90° a força muscular não se confunde com o componente tangencial; isso não se apresenta até os 100- II 0°, isto é, numa fiexão mais acentuada que a do bíceps. A ação dos músculos fiexores se realiza se- gundo o esquema das alavancas de terceiro gê- nero: de modo que favorece a amplitude e a ra- pidez dos movimentos a expensas de sua potên- CIa. Músculos ftexores fundamentalmente aces- sórios: - extensor radial (RI): debaixo do bra- quirradial (fig. 2-37); - pronador redondo: sua retração, provo- cada pela síndrome de Volkmann, cons- titui uma corda que impede a extensão completa do cotovelo. felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight 1. MEMBRO SUPERIOR 99 Fig.2-35 Fig.2-37 T Fig.2-34 Fig.2-36 100 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS MOTORES DA EXTENSÃO A extensão do cotovelo se deve à ação de só um músculo: o tríceps braquial (fig. 2-38); de fa- to, a ação do ancôneo (A), embora notável para Duchenne de Boulogne, não vale a pena tratar no plano fisiológico devido à debilidade do seu mo- mento de ação. ° tríceps braquial está constituído por três corpos carnosos que finalizam num tendão co- mum que se insere no olécrano. Os três corpos musculares do tríceps têm uma inserção superior diferente: - a cabeça (ou porção) medial (1) se fixa na superfície posterior do úmero, para baixo do canal ou sulco do nervo radial; - a cabeça (ou porção) lateral (2) se fixa sobre a margem externa da diáfise ume- ral, principalmente por cima do canal do nervo radial; Portanto, estas duas porções são monoarti- culares. - a porção longa (3), que não se insere so- bre o úmero, mas sobre a escápula, no tu- bérculo subglenóide: de modo que esta porção é um músculo biarticular. A eficácia do tríceps é diferente dependen- do do grau de flexão do cotovelo: - em extensão completa (fig. 2-39), a força muscular se decompõe em: • um componente centrífugo C, que ten- de a luxar a ulna para trás; • um componente tangencial ou transver- sal T, o único eficaz e predominante; - em ligeira flexão (fig. 2-40), entre 20 e 30°, o componente radial (anteriormente centrífugo) se anula, e o componente efi- caz se confunde com a força muscular: é a posição na qual o músculo desenvolve a sua máxima eficácia; - em conseqüência (fig. 2-41), quanto mais aumenta a flexão mais diminui o compo- nente eficaz T em benefício do compo- nente centrípeto C; -na flexão completa (fig.2-42), o tendão tri- cipital se reflete na superfície superior do olécrano, como se fosse uma polia, o que contribui a compensar a sua perda de efi- cácia. Por outro lado, com as fibras muscu- lares em máxima tensão, a sua potência de contração é máxima de mopo que se trans- forma em outro fator de compensação. A eficácia da porção longa do tríceps e, conseqüentementé, todo o músculo, também de- pende da posição do ombro: este fato deriva de sua natureza biarticulâr (fig. 2-43). É fácil comprovar que a distância que sepa- ra os dois pontos de inserção da porção longa do tríceps é maior na posição de flexão de 90° que na posição vertical do braço (o cotovelo perma- nece no mesmo grau de flexão). De fato, os cen- tros dos dois círculos "traçados" pelo úmero (1) e pela porção longa do tríceps (2) estão separa- dos. Se a longitude do tríceps não varia, se situa- ria em O', mas como o olécrano se encontra em 02' necessariamente, o músculo se alonga passi- vamente uma distância 0'02' De modo que a força do tríceps é maior quando o ombro está flexionado. A porção longa do tríceps reforça uma parte da potência dos mús- culos flexores do ombro com o cotovelo estendi- do (fascículos claviculares do peitoral maior e do deltóide); este é um exemplo do papel que desem- penham os músculos biarticulares. Também é maior para o movimento que associa a extensão do cotovelo e a extensão do ombro (a partir da po- sição de flexão de 90°), como é o caso do movi- mento do lenhador ao bater com o machado. Pelo contrário, a força do tríceps é menor quando o movimento que associa a extensão do cotovelo com a flexão do ombro, como por exemplo dar um soco para a frente (a porção longa do tríceps fica "cercada" entre dois impe- rativos contraditórios: alongar (flexão), encurtar (extensão do cotovelo). É bom lembrar que a porção longa do tríceps constitui junto com o grande dorsal um par adu- tor do ombro (ver pág. 80). felipe Highlight felipe Highlight 1. MEMBRO SUPERIOR 101 Fig.2-38 b T 0'\ I I Fig.2-40 c Fig.2-39 \ \ \ Fig.2-41 Fig.2-42 102 FISIOLOGIA ARTICULAR OS FATORES DE COAPTAÇÃO ARTICULAR A coaptação longitudinal impede que a articulação do cotovelo em extensão se deslo- que: • tanto quando se exerce uma força para baixo (fig. 2-44, vista externa e figo2A5, vista interna), como quando transporta- mos um balde de água; • quanto quando exercemos uma força pa- ra cima (figs. 2-47 e 2-48), como acon- tece na queda com as mãos para a frente e os cotovelos em extensão. 1) Resistência à tração longitudinal O fato de que a grande cavidade sigmóide não ultrapasse os 180° de arco faz com que a tró- clea não fique fixa mecanicamente devido à au- sência de partesmoles. A coaptação é assegura- da por: -ligamentos: LU (1) e LLE (2); - os músculos: não unicamente os do bra- ço: tríceps (3), bíceps (4), braquial (5), mas também os do antebraço: braquirra- dial (6), músculos epicondilares (7), músculos epitrocleares (8). Em máxima extensão, o bico do olécrano se engancha por cima da tróclea na fosseta ole- craniana, o qual proporciona à articulação úme- ro-ulnar certa resistência mecânica em sentido longitudinal. Contudo, é preciso ressaltar que a articula- ção côndi10-radial está mal disposta para resis- tir às forças de tração: a cabeça radial se luxa para baixo com relação ao ligamento anular: é o mecanismo desencadeado no caso da "pronação dolorosa das crianças". O único elemento anatô- mico que impede o "descenso" do rádio com re- lação à ulna é a membrana interóssea. 2) Resistência à pressão longitudinal , Só a resistência óssea intervém mecanica- mente: - no rádio: é a cabeça a que transmite as forças de pressão e a que se fratura (fig. 2-47); - na ulna, é o processo coronóide o que transmite as pressões, daí vem a deno- minação processo consolador que o de- ra Henle. Se fratura por efeito do impac- to, permite a luxação posterior da ulna. Devido a isso, a luxação é irredutível (fig. 2-48). Coaptação em flexão (fig. 2-46) Na posição de ftexão de 90°, a ulna é per- feitamente estável (a) porque a grande cavidade sigmóide está limitada pelas duas potentes inser- ções musculares do tríceps (3) e do braquial an- terior (5) que mantêm o contato entre as superfí- cies articulares. Contudo (b), o rádio tende a se luxar para cima sob a tração do bíceps (4). Somente o liga- mento anular evita esta luxação. Quando o liga- mento se rompe, a luxação do rádio para cima e para a frente acontece com a menor tentativa de flexão do cotovelo (contração do bíceps). Fig.2-44 Fig.2-45 1. MEMBRO SUPERIOR 103 a Fig.2-46 104 FISIOLOGIA ARTICULAR A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DO COTOVELO A posição de referência (fig. 2-49) é defi- nida da seguinte maneira: o eixo do antebraço se localiza no prolongamento do eixo do braço. A extensão é o movimento que dirige o antebraço para trás. A posição de referência corresponde à extensão completa (fig. 2-49); por definição, não existe amplitude no caso da extensão do cotovelo, menos em alguns sujei- tos que possuem uma grande lassidão ligamen- tar, como as mulheres e as crianças, que podem alcançar de 5 a 10° de hiperextensão do cotove- lo (fig. 2-50, z). Contudo, a extensão relativa sempre é viá- vel em qualquer posição de flexão do cotovelo. Quando a extensão é incompleta se mede negativamente; por exemplo, uma extensão de - 40° corresponde a um déficit de extensão de 40°, estando o cotovelo flexionado em 40° quan- do tentamos estender o mesmo completamente. Neste esquema (fig. 2-50), o déficit de ex- tensão é -y, a flexão + x (Df representa então o déficit de flexão) e a amplitude útil de flexão-ex- tensão é x - y. A flexão é o movimento que dirige o ante- braço para diante, de tal maneira que a superfí- cie anterior do antebraço entra em contato com a superfície anterior .do braço. A amplitude dafiexão ativa é de 145° (fig. 2-51). A amplitude da fiexão passiva é de 160° (a distância entre o coto do ombro e o punho corres- ponde à medida de lima mão fechada: o punho não entra em contato com o ombro. AS REFERÊNCIAS CLÍNICAS DA ARTICULAÇÃO DO COTOVELO \ Os três pontos de referência, visíveis e pal- páveis, do cotovelo são: - o olécrano (2), proeminência do coto- velo, na linha média; - a epitróclea (1), por dentro; - o epicôndilo (3), por fora. Em posição de extensão (fig. 2-52), estes três pontos de referência estão alinhados na ho- rizontal. Entre o olécrano (2) e a epitróclea (1) se localiza o canal epitrócleo-olecraniano, por onde passa verticalmente (seta tracejada) o ner- vo ulnar ou cubital: um impacto violento neste ponto provoca uma dor de tipo elétrico que se irradia por toda a zona ulnar (borda interna da mão). No lado externo, por baixo do epicôndilo, podemos palpar o giro da cabeça radial durante os movimentos de pronação-supinação. Em posição de flexão (fig. 2-53), estes três pontos de referência formam um triângulo eqÜi- látero (b), situado no plano vértico-frontal tan- gente à superfície posterior do braço (a). Nas luxações de cotovelo estas conexões se alteram: - em extensão, o olécrano ascende por ci- ma da linha epicôndilo-epitroclear (lu- xação posterior); - em flexão, o olécrano recua para trás do plano frontal (luxação posterior). felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight Fig.2-51 Fig.2-52 Fig.2-50 Fig.2-53 • ~/ 3 1. MEMBRO SUPERIOR lOS 1 ./ Fig.2-49 3 106 FISIOLOGIA ARTIClJLAR POSIÇÃO FUNCIONAL E POSIÇÃO DE IMOBILIZAÇÃO A posição funcional do cotovelo e a sua po- sição de imobilização se definem como segue (fig. 2-54): - fiexão de 90°; - pronação-supinação neutra (mão no pla- no vertical; ver capítulo IlI). EFICÁCIA DOS GRUPOS FLEXOR E EXTENSOR lU Em conjunto, os flexores são um pouco mais eficazes que os extensores: em posição de relaxamento, braço pendente ao longo do corpo, o cotOl'elo ligeiramente fiexionado, proporcio- nalmente mais flexionado quanto mais musculo- so seja o indivíduo. A força dos flexores é diferente dependen- do da posição de pronação-supinação: - a força de flexão em pronação é maior que - a força de flexão em supinação. De fato, o bíceps está mais alongado e, por- tanto, é mais eficaz quando o antebraço está em pronação. A relação entre ambas as potências é de: 5 (F em pronação) 3 (F em supinação) Por último, a força dos grupos musculares é diferente, dependendo da posição do ombro: isto se sintetiza no esquema da figura 2-55: 1) Braço vertical por cima do ombro (O) - a força de extensão (seta 1), como no ca- so do levantamento de pesos, é de 43 kg; - a força de flexão (seta 2), como quan- do elevamos um corpo em suspensão, é de 83 kg. 2) Braço em flexão de 90° (AV): - a força de extensão (seta 3), como quan- do empurramos um objeto pesado para frente, é de 37 kg; - a força de fiexão (seta 4), como quando remamos, é de 66 kg. 3) Braço vertical ao longo do corpo (B): - a força de fiexão (seta 5), como para le- vantar um objeto pesado, é de 52 kg; - a força de extensão (seta 6), como a que realizamos ao levantarmos para cima em barras paralelas, é de 51 kg. De modo que existem posições preferen- ciais nas que a eficácia dos grupos é máxima: - no caso da extensão, para baixo (seta 6); - no caso da fiexão, para cima (seta 2). Isto significa que a musculatura dos mem- bros superiores está totalmente adaptada para trepar (fig. 2-56). felipe Highlight Fig.2-54 1. .MEMBRO SUPERIOR 107 Fig.2-56 108 FISIOLOGIA ARTICULAR SIGNIFICADO A pronação-supinação é o movimento de rotaçc7odo antebraço ao redor do seu eixo lon- gitudinal. Este movimento precisa da intervenção de DUAS ARTICULAÇÕES MECANICAMEN- TE UNIDAS (fig. 3-1): - a articulaçc70 rádio-ulnar superior (RUS), que pertence anatomicamente à articulação do cotovelo; - a articulaçc70 rádio-ulnar inferior (RUI) que é diferente anatomicamente da articulação rádio-carpeana. Esta rotação longitudinal de antebraço in- troduz um terceiro grau de liberdade no com- plexo articular do punho. Deste modo, a mão, como "extremidade realizadora" do membro su- perior, pode-se situar em qualquer ângulo para poder pegar ou segurar um objeto. Se refletimos corretamente, a presença de uma articulação ti- po enartrose com três graus de liberdade no pu- nho, complicaria extraordinariamente os proble- mas mecânicos: neste caso seria necessário "ins- talar" na extremidade móvel, o carpo por exem- plo, proeminências apofisiárias que pudessem serÚr como braço de alavanca aos músculos ro- tadores; além disso, seria mecanicamente im- possível que os tendões dos músculos do ante- braço "franqueassem" o punho, devido à torção que realizaria sobre si mesmo durante a rotação ao redor do seu eixo longitudinal; conseqüente- mente a maiorparte dos músculos extrínsecos se encontrariam na mão de tal maneira que a sua potência diminuiria e a mão seria pesada e volu- mosa. Esta rotação longitudinal no antebraço é a solução lógica e elegante, cuja única conseqüên- cia é complicar um pouco o esqueleto deste seg- mento, introduzindo um segundo osso, o rádio, que suporta a mão e a ulna gira ao seu redor, gra- ças às duas articulações rádio-ulnares. Esta estrutura do segundo segmento do membro apareceu na filogenia a 400 milhões de anos atrás, quando alguns peixes abandonaram o mar e colonizaram a terra se convertendo em an- fíbios tetrápodes. felipe Highlight Fig.3-1 1. MEMBRO SUPERlOR 109 110 FISIOLOGIA ARTICULAR DEFINIÇÃO Só é possível analisar a pronação-supina- ção com o cotovelo flexionado a 90° e encosta- do no corpo. De fato, se o cotovelo está estendi- do, o antebraço se encontra no prolongamento do braço e na rotação longitudinal do antebraço se acrescenta a rotação do braço ao redor do seu eixo longitudinal, graças aos movimentos de ro- tação externa e interna do ombro. Com o cotovelo em flexão de 90°: - a posição de supinação (fig. 3-2) se realiza quando a palma da mão se dirige para cima com o polegar para fora; - a posição de pronação (fig. 3-3) se rea- liza quando a palma da mão "se orienta" para baixo e o polegar para dentro; - a posição intermédia (fig.3-4) é deter- minada pela direção do polegar para ci- ma e da palma para dentro, ou seja, nem pronação, nem supinação. As amplitu- des dos movimentos de pronação-supi- nação se medem a partir desta pósição intermédia ou posição zero. De fato, quando observamos o antebraço e a mão alinhados e de frente, quer dizer, no pro- longamento do eixo longitudinal: - a mão em posição intermédia (fig. 3-5) se situa no plano vertical, paralela ao plano sagital, plano de simetria do corpo; - a mão em posição de supinação (fig. 3-6) se situa no plano horizontal; assim sendo, a amplitude de mm'imento de supinação é de 90°. - a mão em posição de pronação (fig. 3-7) só chega até o plano horizontal; a ampli- tude de pronação é de 85° ( mais adian- te poderemos ver por que não chega até os 90°) Em resumo, a amplitude total da verdadei- ra pronação-supinação, isto é, quando unica- mente participa a rotação axial do antebraço, é de aproximadamente 180°. Quando também participam os movimentos de rotação do ombro, com o cotovelo em exten- são total, esta amplitude total alcança: - 360° quando o membro superior está vertical ao longo do tronco; - 360° quando o membro superior está em abdução de 90°; - 270° em flexão de 90° e em extensão de 90°; - ultrapassa um pouco os 180° quando o membro superior está vertical, em posi- ção de máxima abdução. Isto confirma que o ombro tem uma amplitude de ro- tação axial quase nula em abdução de 180°. felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight . 1. MEMBRO SUPERIOR 111 Fig.3-4 Fig.3-7 Fig.3-3 1 Fig:--3-5Fig.3-6 Fig.3-2 112 FISIOLOGIA ARTICULAR UTILIDADE DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO r-- Dos sete graus de liberdade que comporta a cadeia articular do membro superior, começan- do pelo ombro e terminando na mão, a prona- ção-supinação é um dos mais importantes, porque é indispensável para o controle da atitu- de da mão. De fato, este controle permite que a mão esteja perfeitamente colocada para alcançar um objeto num setor esférico de espaço centra- lizado no ombro e levá-Io à boca (função de ali- mentação). Também permite que a mão chegue a qualquer ponto do corpo com a finalidade de proteção ou higiene (função de limpeza). Além disso, a pronação-supinação desempenha um papel essencial em todas as ações da mão, prin- cipalmente durante o trabalho. Graças à pronação-supinação, a mão pode (fig 3-8) segurar uma bandeja ou um objeto, em supinação, ou comprimir um objeto para baixo e inclusive se apoiar em pronação. Também permite que se realize um movi- mento de rotação nas preensões centradas e ro- tativas, como no caso em que utilizamos uma chave de fenda (fig. 3-9) na qual o eixo do uten- sílio coincide com o eixo de pronação-supina- ção. Por causa da obliqiiidade da preensão com toda a palma da mão em contato com o cabo (fig. 3-10), a pronação-supinação modifica a orientação da ferramenta através do mecanismo da rotação cônica: como conseqüência da assi- metria da mão, o cabo pode-se situar no espaço sobre um segmento de cone centralizado pelo eixo de pronação-supinação, de modo que o martelo bate no prego sob uma incidência regu- lável. Neste caso, podemos comprovar um dos aspectos do encaixe funcional entre a pronação- supinação e a articulação rádio-carpeana, onde podemos observar outro exemplo na variação da abdução-adução do punho em função da prona- ção-supinação: a atitude normal da mão em pro- nação ou em posição intermédia é o desvio ulnar que "centraliza" a pinça tridigital sobre o eixo da pronação-supinação, enquanto na supinação a mão se coloca mais em desvio radial, favore- cendo a preensão de sustentação, como quando carregamos uma bandeja. Este encaixe funcional obriga a integração fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior com a do punho, embora mecanicamente esteja unida à articulação rádio-ulnar superior. 1. MEMBRO SUPERIOR 113 Fig.3-8 Fig.3-9 Fig. 3-10 114 FISIOLOGIA ARTICULAR DISPOSIÇÃO GERAL Em posição de supinação (figs. 3-11, 3-12 e 3-13 e diagramas a e b, figo3-17): A ulna e o rádio estão um ao lado do outro, a ulna por dentro e o rádio por fora. Os seus ei- xos longitudinais são paralelos (fig. 3-17, a). Po- demos observar: - no esquema frontal (fig. 3-11), onde ve- mos: • a membrana interóssea, com a camada superior (1) cujas fibras são oblíquas para baixo e para dentro e sua camada posterior (2) de obliqüidade inversa, realiza o principal da ligação mecâni- ca em sentido longitudinal e transver- sal: impede o deslocamento do rádio para baixo, porque o deslocamento pa- ra cima é bloqueado pelo côndilo ume- ral, e inclusive após uma secção dos li- gamentos das duas articulações rádio- ulnares, é por si mesma suficiente para manter os dois ossos em contato. De modo que é a grande desconhecida do antebraço; • a corda de Weitbrecht (3), elemento fi- broso; • o ligamento anterior da articulação rá- dio-ulnar inferior (4). Estes três elementos estão em ten- são durante a supinação e a limitam; • o ligamento anular (5), reforçado pelo • fascículo anterior do ligamento lateral externo do cotovelo (6) (LLE) e pelo • fascículo anterior do ligamento lateral interno do cotovelo (7) (LLI); • ligamento triangular (8) visto em sec- ção; - no esquema dorsal (fig. 3-11): • a membrana interóssea (1) com suas duas camadas; • ligamento posterior da articulação rá- dio-ulnar posterior (2); • ligamento anular (3) reforçado pelo fas- cículo médio do LLE do cotovelo (4); - em vista externa (fig. 3-13) o rádio ocul- ta em parte a ulna, e podemos compro- var que há uma leve concavidade ante- rior do rádio, acentuada no desenho e esquematizada no diagrama b da figura 3-17. Em posição de pronação (figs. 3-14, 3-15 e 3-16 e diagramas c e d da figo3-17): A ulna e o rádio não estão paralelos, mas estão cruzados: isto pode ser apreciado tanto no esquema frontal (fig. 3-14) quanto no dorsal (fig. 3-15), e está esquematizado no diagrama da figura 3-17. Em pronação (fig. 3-17, d) o rá- dio está: - por cima, externo com relação à ulna, e - por baixo, interno com relação à ulna. Em vista de perfil externo (fig. 3-16) pode- mos observar que o rádio é deslocado pela fren- te da ulna. A sua concavidade, dirigida para trás, lhe permite "cavalgar" literalmente sobre a ul- na. Ver esquema do diagrama c da figura 3-17. Assim sendo, podemos entender que a pro- nação só pode~se aproximar de 90° de amplitu- de, sem conseguir alcançar esta cifra, graças à curva do rádio no plano sagital. Também pode- mos entender que os músculos flexores, que se localizam pela frente do esqueleto na supinação (fig. 3-18, a), se interpõem entre o rádio e a ul- na (fig. 3-18, b) durante a pronação, para cons- tituir, aofinal desta (fig. 3-18, c), um "colchão" que amortece o contato entre ambos os ossos. Simultaneamente a membrana interóssea se en- rola ao redor da ulna, de modo que, junto com o "acolchoado" muscular, desloca a ulna por trás do rádio, produzindo a subluxação poste- rior da cabeça ulnar no fim da pronação. felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight 1. MEMBRO SUPERIOR 115 Fig.3-16 Fig.3-13 4 3 d I b c Fig.3-17 Fig.3-12 2 Fig.3-15 Fig.3-14 7 a Fig.3-18 116 FISIOLOGIA ARTICULAR ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR (os números das explicações se correspondem em todas as figuras) A ,articulação rádio-ulnar superior é uma TROCOIDE, as suas superfícies são cilíndricas e possui só um grau de liberdade: rotação ao re- dor do eixo dos dois cilindros encaixados. Pode- mos comparar, em mecânica, com um simples amortecedor ou, melhor ainda, com um verda- deiro rolamento de bolas (fig. 3-20). Portanto, está constituída por duas superfí- cies cilíndricas: - a cabeça radial (fig. 3-21) com o seu contorno cilíndrico (1) preenchido de cartilagem, mais ampla pela frente e por dentro e que se corresponde com o anel central (1) do amortecedor ou rolamen- to de bolas. Outras particularidades: • a abóbada (2), côncava, que se articula (fig. 3-25, secção sagital) com o côndilo umeral (9). Dado que o côndilo não se expande para trás, a abóbada entra em contato com ele durante a extensão só pela metade anterior da sua superfície; • o biseI (3) do contorno (ver figo3-21). - um anel osteofibroso, claramente visí- vel na figura 3-19 (segundo Testut), no qual a cabeça radial está removida. Se corresponde com o anel periférico (5 e 6) do rolamento de bolas (fig. 3-20) e es- tá constituído por: • pequena cavidade sigmóide da ulna (6) preenchida de cartilagem, côncava de diante para trás, separada da grande cavidade (8) por uma crista romba (7): • ligamento anular (5), intato na figura 3-19 e seccionado na figura 3-21. Fai- xa fibrosa inserida nas margens ante- rior e posterior da pequena cavidade sigmóide, a sua superfície interna está preenchida por uma cartilagem, pro- longamento da pequena cavidade que ao mesmo tempo é: * um meio de união: rodeia a cabeça ra- dial e a encaixa contra a pequena cavi- dade sigmóide; * uma superfície articular: se articula com o contorno da cabeça radial e ao revés da pequena cavidade sigmóide, se deforma. O ligamento quadrado de Dénucé (4), segundo meio de união, está seccionado na fi- gura 3-21, intato na figura 3-22 (ligamento anular seccionado e rádio deslocado, segundo Testut) e na figura 3-23 (vista superior, olécra- no e ligamento anular seccionados, segundo Testut). É uma faixa fibrosa que se insere na margem inferior da pequena cavidade sigmóide da ulna e na base do contorno interno da cabe- ça radial (fig. 3-24, secção central). Estas duas margens estão reforçadas (figs. 3-21 e 3-22) por fibras originadas da margem superior do li- gamento anular. O ligamento quadrado representa um refor- ço da parte inferior da cápsula; o resto desta (10) une as articulações do cotovelo em um conjunto anatômico. 1. MEMBRO SUPERIOR 117 6 Fig.3-232 Fig.3-21 Fig.3-25 Fig.3-22 5 Fig.3-20 5-6 1 5 Fig.3-19 2 1 118 FISIOLOGIA ARTICULAR ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR (estrutura e constituição mecânica da porção inferior da ulna) Como a articulação rádio-ulnar superior, a articulação rádio-ulnar inferior também é uma trocóide: as suas superfícies são cilíndricas e so- mente possui um grau de liberdade, ou seja, a rotação em tomo ao eixo dos dois cilindros en- caixados. A primeira destas superfícies cilíndricas (tig.3-26) está presa pela cabeça da ulna. Pode- mos considerar que a porção inferior da ulna es- tá formada (a) pela penetração de um cilindro diatisário (1) num cone epitisário (2). Mas, é ne- cessário ressaltar que o eixo do cone está deslo- cado para fora com relação ao do cone do cilin- dro. Por cima desta sólida composição (b), o plano horizontal (3) desprende um tronco de co- ne (c) e forma a superfície inferior (4) da cabe- ça da ulna. A seguir (d), um segundo cilindro se- cante (5) desprende uma meia-lua sólida (6) e determina (e) a formação da superfície cilíndri- ca (7) da cabeça da ulna. É necessário destacar que o cilindro secante (5) não é concêntrico ao cilindro diatisário (1), nem ao cone epitisário (2), estando deslocado para fora. Isto explica a forma da superfície articular: uma meia-lua "en- rolada" num cilindro, com uma haste pela fren- te e outra por trás, que "limitam" o processo es- tilóide da ulna (8), deslocado-a em direção pós- tero-interna da epítise. Na verdade, esta superfí- cie não é totalmente cilíndrica (tig. 3-27) já que o seu gerador está levemente convexo para fora, o que lhe dá uma forma de barrilÚnho inclinado para baixo e para dentro, embora esteja inscrita num cone de vértice inferior cujo eixo é parale- lo ao eixo diatisário da ulna d. A superfície peri- férica da cabeça da ulna (A, vista de perfil, B, vista anterior) apresenta uma altura máxima (h) para frente e levemente para fora. A superfície inferior da cabeça da ulna (D) apresenta uma superfície semilunar cuja largu- ra máxima corresponde com o ponto de máxi- ma altura (h) da superfície periférica. Desta maneira, sobre o plano de simetria (seta) estão alinhados: a inserção do LU da rádio-ulnar (quadrado) sobre o processo estilóide, a inser- ção principal do vértice do ligamento triangu- lar (estrela), o centro da curva da superfície pe- riférica (cruz) e o ponto de máxima altura do contorno. 1. MEMBRO SUPERIOR 119 \ 8~ c Fig.3-26 B A Fig.3-27 120 FISIOLOGIA ARTICULAR ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR (continuação) (as explicações são as mesmas para todas as figuras) A segunda superfície, a cavidade sigmóide do rádio (3), está presa pela epífise do rádio (figs. 3-28 e 3-29), onde está incluída nos ramos de desdobramento da margem interna (2). Esta superfície (3) está "orientada" para dentro (fig. 3-29), é côncava de diante para trás, plana ou le- vemente côncava de cima para baixo, está ins- crita na superfície de um cone de vértice inferior (fig. 3-27, c). A sua máxima altura se localiza na parte média e se articula com a superfície cilín- drica (4) da cabeça radial. Na sua margem inferior se insere o liga- mento triangular (5) situado no plano horizon- tal (fig. 5-30, secção frontal). O seu vértice se in- sere por dentro, em três níveis: - a fossa localizada entre o processo es- tilóide e a superfície inferior da cabeça da ulna; - a superfície externa do processo estilói- de da ulna; - a superfície profunda do LU da articu- lação rádio-carpeana. Assim sendo, o ligamento triangular ocupa o espaço entre a cabeça da ulna e o piramidal, constituindo uma "almofada elástica" que se comprime no curso da adução do punho. As suas margens anterior e posterior são mais espessas, apesar de a secção ser bicôncava (fig. 3-29, vis- ta ântero-superior interna). A sua superfície su- perior, preenchida de cartilagem, prolonga a ca- vidade glenóide do rádio (8) para dentro, limita- da por fora pelo processo estilóide radial (1), e se articula com o côndilo carpeano (13). Desta forma, o ligamento triangular ao mesmo tempo é: - um meio de união da articulação rádio- ulnar inferior; - uma supeifície articular; acima se arti- cula com a cabeça ulnar e abaixo com o côndilo carpeano. Devemos ressaltar que a cabeça ulnar não se articula com o côndilo carpeano; - um septo entre a articulação rádio-ulnar inferior (acima) e a articulação rádio- carpeana (abaixo) (fig. 3-30), que são anatomicamente diferentes, menos nos casos em que: • o ligamento triangular, muito bicônca- vo, esteja perfurado no seu centro; • a inserção da sua base esteja incomple- ta (figs. 3-28 e 3-29) e .deixe uma pe- quena fenda (6), mais freqüente com a idade, o que, para alguns autores, seria a prova de sua origem atrófica. Forma uma cavidade receptora (fig. 3-29) para a cabeça radialjunto com a cavidade sig- móide do rádio. Parte desta cavidade receptora tem a propriedade de se deformar. Funcionando como um autêntico "menisco suspenso" entre a articulação rádio-cubital infe- rior e a rádio-carpeana, o ligamento triangular está submetido a importantes forças (fig. 3-31): tração (seta horizontal), compressão (setas verti- cais), movimento de ziguezague (setas horizon- tais) Freqüentemente, estas forças se combinam. Fig.3-28 1. MEMBRO Sl.JPERIOR 121 5 Fig.3-29 Fig.3-31 Fig.3-30 122 FISIOLOGIA ARTICULAR DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR (nas figuras 3-32, 3-33, 3-34 e 3-35, a fileira superior (a) corresponde à supinação, a inferior (b) à pronação; os números das explicações são os mesmos) o movimento principal (fig. 3-32) é um movimento de rotação da cabeça radial (1), ao redor do seu eixo xx', no interior de um anel (2) osteofibroso, ligamento anular-pequena cavida- de sigmóide. Este movimento está limitado (fig. 3-33) pela tensão do ligamento quadrado de Dé- nucé (3) que, desta forma, atua como freio. Por outro lado, não é cilíndrica, mas leve- mente ovalada: o seu eixo maior (fig. 3-34, a), oblíquo de diante para trás, mede 28 mm, em comparação com os 24 mm do eixo menor. Isto explica que o anel que aperta a cabeça radial não pode ser ósseo, rígido. Está constituído, nas suas três partes, pelo ligamento anular, flexível, o que permite que se deforme, ao mesmo tempo que proporciona à cabeça radial uma fixação permanente. Os movimentos secundários são quatro: 1) abóbada radial (1) gira ao contato do côndilo umeral (fig. 3-36); 2) o bisel radial (2) (ver pág. 92) se desliza por baixo da cabeça conóide (fig. 3-36); 3) o eixo da cabeça radial se desloca para fora durante a pronação (fig. 3-35). Este fato se deve à forma "ovalada" da cabe- ça radial: na pronação (b) o eixo maior da abóbada está transversal, deslocando o eixo xx' para fora, a uma distância (e) igual à metade da diferença entre os dois eixos da abóbada e equivalente a 2 mm. A importância deste deslocamento me- cânico é primordial: permite que o rádio se afaste da ulna no momento ideal para que a tuberosidade bicipital possa pas- sar pela fossa supinadora (nela se inse- re o músculo supinador). A seta branca da figura 3-32, b, indica esta insinuação da tuberosidade bicipital "entre" o rádio e a ulna. 4) o plano da superfície da cabeça radial se inclina para baixo e para fora, duran- te a pronação (fig. 3-37). Isto se deve ao movimento de rotação do rádio ao redor da ulna durante a pronação: - no início do movimento, em supina- ção (a), o eixo diafisário do rádio é vertical e paralelo ao da ulna; - no fim do movimento, em pronação (b), o eixo do rádio é oblíquo para baixo e para dentro: o plano da abó- bada radial, que é perpendicular a es- te eixo, se inclina para baixo e para fora e forma um ângulo (y) com o plano horizontal. Neste movimento, o eixo diafisário do rá- dio "varre" uma porção da superfície cônica cu- jo eixo (pontilhado fino) é o eixo comum para as duas articulações rádio-ulnares. Observamos também que a ulna valga (ver também figo 3-26, pág. 95) que, em supinação aparece claramente (c), pode desaparecer em pronação (d) devido à mudança de obliqüidade do eixo diafisário do rádio: em pronação, o eixo global do antebraço se localiza no prolonga- mento do eixo do braço. 1. MEMBRO SUPERIOR 123 a ~ b Fig.3-35 a Fig.3-34 2 b b Fig.3-37 Fig.3-33 X' Fig.3-32 2 124 FISIOLOGIA ARTICULAR DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR Podemos começar pensando que a nIna permanece fixa e que só o rádio é móvel. Nes- te caso (fig. 3-38), o eixo de pronação-supina- ção na mão se localiza no nível do lado ulnar e do quinto dedo (o eixo está indicado por uma cruz preta). Isto acontece quando o antebraço, apoiado sobre uma mesa, realiza movimentos de pronação-supinação sem perder o contato com a mesa. O principal movimento (fig. 3-39) é uma translação circunferencial da porção inferior do rádio ao redor da ulna. - supinação: rádio e ulna vistos de baixo após ablação do carpo e do ligamento triangular. Amplitude de 90°. - pronação: amplitude de 85°. Este movimento de translação circunferen- cial fica explícito quando o rádio é comparado a uma manivela (figs. 3-40 e 3-41): a trajetória de um ramo (o outro permanece fixo) é uma trans- lação circunferencial: - o deslocamento circular (seta tracejada, figo 3-40, manivela em supinação) em torno de um cilindro, que corresponde à cabeça ulnar; - rotação sobre si mesma, manifestada pe- la mudança de direção da seta branca (fig. 3-41): o processo estilóide radial "se orienta" para fora durante a supina- ção e para dentro durante a pronação. Quando o rádio gira ao redor da ulna, pas- sando da supinação à pronação, a congruência articular (concordância geométrica das superfí- cies) varia. Isto é devido a: - por um lado, as superfícies articulares não são superfícies de revolução; o seu raio de curva varia: é mais curto no cen- tro que nas extremidades; - por outro lado, o raio de curva da cavi- dade sigmóide é levemente maior que o da cabeça ulnar. SUPINAÇÃO PRONAÇÃO Fig.3-39 1. 1-lEMBRO SUPERIOR 125 Fig.3-38 Fig.3-40 I -- I Fig.3-41 126 FISIOLOGIA ARTICULAR DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR (continuação) Portanto, existem posições incongruen- tes (fig. 3-42), em supinação (B), a cabeça ulnar só entra em contato com a cavidade sigmóide através de uma pequena parte da sua superfície e os raios de curva são pouco concordantes, daí vem esta escassa congmência; e em máxima pronação (C), está agravada por uma verdadeira subluxação posterior da cabeça ulnar, e uma po- sição de máxima congruência que, em geral se corresponde com a posição intermédia ou posi- ção zero (nula): a máxima altura da superfície periférica coincide com a altura máxima da ca- vidade sigmóide de maneira que, simultanea- mente, o contato entre as superfícies é máximo enquanto coincidam os raios da curva. Durante os movimentos de pronação-su- pinação, o ligamento triangular "varre" literal- mente a superfície inferior da cabeça ulnar (fig. 3-43) como se fosse um limpador de pára-brisas, mas o que provoca a descentralização do seu ponto de inserção ulnar é o que proporciona a notável variação do seu estado de tensão: - a tensão é mínima em máximas supina- ção e pronação (B e C); - pelo contrário, a tensão é máxima na posição de máxima congruência, que se corresponde com a maior altura da su- perfície periférica da cabeça ulnar, porque o ligamento "percorre" o cami- nho mais longo entre a sua inserção e o contorno da cabeça (D). De maneira que podemos nos referir a uma posição de estabilidade máxima da articulação rádio-ulnar inferior, que se corresponde, em ge- ral, co~ a posição intermédia de pronação-supi- nação. E o que denominamos "c1ose-packed po- sition" de Mac Conai11: congmência máxima das superfícies associada com tensão ligamentar máxima. Neste caso não é uma posição de blo- queio intermédio, embora possamos observar a distribuição de funções entre o ligamento trian- gular e a membrana interóssea: - em máximas pronação e supinação, o li- gamento triangular está estendido, po- rém a membrana interóssea está tensa. Observamos que os ligamentos anterior e posterior da articulação rádio-ulnar in- ferior, pequenos espessamentos capsu- lares, não desempenham nenhuma fun- ção nem na coaptação, nem na limitação dos movimentos; - em posição de estabilidade máxima, perto da posição intermédia, o ligamen- to triangular está tenso e a membrana interóssea está distendida, a menos que os músculos que se inserem nela provo- quem a sua tensão novamente. Em resumo, podemos afirmar que a coapta- ção da articulação rádio-ulnar inferior está fixa por duas formações anatômicas desconhecidas freqüentemente no tratamento das lesões trau- máticas desta zona: a membrana interóssea, cu- ja função é primordial, e o ligamento triangular. A pronação está limitada pelo impacto de rádio contra a ulna, daí vem a importância da le- ve concavidadeda diáfise radial para frente, de maneira que atrasa o contato. A supinação está limitada pelo impacto do extremo posterior da cavidade sigmóide contra o processo estilóide ulnar através do tendão do ex- tensor ulnar do carpo. Nenhum ligamento pode deter este movimento que, apesar disso, consegue amortecer o tônus dos músculos pronadores. A 1. MEMBRO SUPERIOR 127 B Fig.3-42 c B D A Fig.3-43 128 FISIOLOGIA ARTICULAR o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO Até agora tratamos a fisiologia da articula- ção rádio-ulnar inferior (RUI) isoladamente, mas é fácil compreender que existe um par fun- cional entre a articulação rádio-ulnar inferior e a superior, porque estas duas articulações estão mecanicamente unidas de maneira que uma não pode funcionar sem a outra. Este par funcional se encontra em dois ní- veis: o dos eixos e o da congruência. As duas articulações rádio-ulnares são co- axiais: o seu funcionamento normal necessita de que o eixo de uma seja o prolongamento do eixo da outra (fig. 3-44) sobre uma mesma reta XX' que constitui a charneira de pronação-supinação e passa pelo centro das cabeças ulnar e radial. Durante o seu movimento com relação à ul- na, ao redor deste eixo, o rádio se desloca sobre um segmento de superfície cônica, aberto por trás, de base inferior e cujo vértice se situa no ní- vel da articulação côndilo-radial. Estando a cabeça ulnar fixa, a pronação-su- pinação se realiza por rotação da epífise radial inferior ao redor do eixo da articulação rádio-ul- nar inferior que também é o da rádio-ulnar supe- rior. Esta situação é a única em que o eixo de pronação-supinação se confunde com a chernei- ra de pronação-supinação. As duas articulações rádio-ulnares são co- axiais igual às duas dobradiças de uma porta (fig. 3-45): os seus eixos estão sobre uma mes- ma reta. Neste caso a porta pode-se abrir sem di- ficuldade (a). Quando estas duas articulações deixam de ser co-axiais, devido a uma fratura mal reduzi- da de um ou de ambos os ossos, a pronação-su- pinação se encontra comprometida dado que não existem duas charneiras para o mesmo segmento móvel: é o caso de uma porta cujas dobradiças deixam de estar alinhadas e que ne- cessitaria se partir em duas para poder abrir to- talmente. Se a pronação-supinação se realiza ao re- dor de um eixo que passa pela coluna do pole- gar, o rádio gira ao redor do processo estilóide radial (fig. 3-46), ao redor de um eixo que não é a charneira da pronação-supinação, e a extre- midade inferior da ulna sofre urna translação seguindo um semicírculo que a desloca para baixo e para fora, sem deixar de permanecer paralela a si mesma. O componente vertical deste movimento pode-se explicar por um mo- vimento de extensão seguido por um movi- mento de flexão na articulação úmero-ulnar. Com relação ao deslocamento para fora, pare- ce difícil, em vista da sua amplitude (quase duas vezes a amplitude do punho) explicar, co- mo fazemos até agora, por um movimento de lateralidade numa articulação troclear tão fe- chada quanto a da úmero-ulnar. M.C. Dbjay propôs recentemente uma explicação mais me- cânica e satisfatória: a rotação externa asso- ciada com o úmero sobre o seu eixo longitudi- nal (fig. 3-47) que provoca o deslocamento ex- terno da cabeça ulnar (A) enquanto o rádio gi- ra sobre si mesmo (B). 1. MEMBRO SUPERIOR 129 Fig.3-46 B Fig.3-45 A Fig.3-44 130 FISIOLOGIA ARTICULAR o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO (continuação) Para confirmar esta hipótese seriam neces- sárias radiografias precisas ou registros eletro- miográficos dos rotadores, para ser objetivos, demonstrando que a sua amplitude é de 5° a 20°. Se a experiência a confirmasse, esta hipótese so- mente seria válida no caso da pronação-supina- ção com o cotovelo flexionado em um ângulo reto, quando alcança a sua amplitude máxima (supinação de 90° e pronação de 80-85°). Com o cotovelo em extensão total, a ulna está imobili- zada devido ao encaixe do olécrano na sua fossa e se o cotovelo for imobilizado com firmeza po- demos comprovar que a pronação é quase nula, enquanto a supinação se mantém intata em toda a sua amplitude. A pronação perdida é compen- sada por uma rotação interna do úmero. No cur- so da extensão do cotovelo existiria um "ponto de transição" no qual a rotação associada com o úmero seria nula. Que podemos dizer sobre a limitação da pronação em 45° com o cotovelo completamen- te tlexionado? Parece que o úmero não pode gi- rar sobre o seu eixo longitudinal, de maneira que é necessário um deslocamento para fora da ca- beça ulnar mediante um movimento de laterali- dade externa na tróc1ea do cotovelo. Entre os dois casos extremos, em que o ei- xo de pronação-supinação passa pelo lado ulnar ou pelo lado radial do punho, a pronação-supi- nação normal baseada na preensão tridigital (fig. 3-48) se realiza ao redor de um eixo inter- mediário que passa pela epífise inferior do rádio, perto da cavidade sigmóide (fig. 3-49): o rádio gira sobre si mesmo aproximadamente 180° e a ulna desloca, sem nenhuma rotação, por uma trajetória em arco de círculo de igual centro, in- tegrando um componente de extensão E e um componente de lateralidade externa L. O eixo de pronação-supinação ZZ', sem materializar, é na verdade totalmente diferente da charneira de pronação-supinação (fig. 3-50) que, deslocado de XX' para YY' pela cabeça ul- nar descreve um segmento de superfície cônica cuja cavidade está "orientada" para frente. Definitivamente, não existe uma pronação- supinação, mas várias pronações-supinações, das quais a mais comum se realiza sobre um ei- xo que passa pelo rádio e ao redor do qual "gi- ram" os dois ossos. O eixo de pronação-supina- ção, geralmente diferente da charneira de pro- nação-supinação, é um eixo sem materializar, variável e evolutivo. O fato de que este eixo de pronação-supina- ção esteja sem materializar e não esteja fixo não significa de jeito nenhum que não exista; neste caso também não existiria o eixo de rotação da Terra. O fato de que a pronação-supinação seja uma rotação permite deduzir exatamente que o eixo de pronação-supinação existe, real embora imaterial, e que se confunde com a chameira de pronação-supinação excepcionalmente, mas a sua posição com relação ao esqueleto depende tanto do tipo de pronação~supinação quanto do seu estado em cada instante. Fig.3-48 L ~111111111111111111111111111111l~i 1I I I ,III I I Fig.3-49 1. MEMBRO SUPERIOR 131 s Y' Z''f p Fig.3-50 132 FISIOLOGIA ARTICULAR AS DUAS ARTICULAÇÕES RÁDIO-ULNAR SÃO CO-CONGRUENTES o par funcional das articulações rádio-ul- nar se destaca pela sua congruência simultânea: a posição de estabilidade máxima da articulação rádio-ulnar inferior (RUI) e a da articulação rá- dio-ulnar superior (RUS) se consegue com o mesmo grau de pronação-supinação (fig. 3-51). Ou seja, quando a cabeça da ulna se situa na sua altura máxima (h) na éavidade sigmóide do rá- dio, o contorno da cabeça radial também alcan- ça a sua altura máxima (y) na pequena cavidade sigmóide da ulna. O plano de simetria da cavi- dade sigmóide do rádio (s) e o da cabeça radial (T), que passam pelo ponto de maior altura do contorno, formam um ângulo diedro para dentro e para frente ou um ângulo de torção do rádio igual ao ângulo de torção da ulna determinado da mesma maneira pelo plano de simetria da ca- beça ulnar (passando pelo ponto de maior altura do contorno) e pelo da pequena cavidade sig- móide da ulna. Porém, este ângulo varia dependendo de cada pessoa (fig. 3-52). Para se convencer é su- ficiente observar uma ulna "em escapada" pela sua extremidade inferior. Dependendo da posição do estilóide ulnar e do ponto de máxima altura no contorno da cabe- ça, podem aparecer três casos: a) o processo estilóide está situado exata- mente por trás: o plano de simetria (S) da cabeça ulnar coincide com o plano sa- gital (F), que contém a crista romba da grande cavidade sigmóide. Não existe nem "avanço" nem "atraso" para a pro- nação e a posição de estabilidade máxi- ma coincide com a posição intermédia de pronação-supinação;b) o processo estilóide está situado por trás e levemente para dentro: o plano de si- metria da cabeça ulnar (S) forma um ân- gulo aberto para frente e para fora de 20° com o plano sagital (F). Se avalia em -20° e se diz que existe um "atraso de 20° da pronação". A posição de estabili- dade máxima não coincide com a posi- ção intermédia. Está em supinação de 20° de maneira que a pronação completa é menos ampla que no caso anterior; c) o processo estilóide está situado por trás e levemente para fora: desta vez existe um ângulo de "avanço da pronação", por exemplo de 15°, avaliado +15°, e a posição de estabilidade máxima é a de 15° de pronação, e a amplitude da pro- nação máxima é maior que nos dois ca- sos anteriores. Para cada um dos três casos existe um ân- gulo diferente de torção da ulna, sendo mais agudo quanto mais acentuado seja o "avanço da pronação". Embora em todos os casos o ângulo de torção da ulna (u) seja igual ao ângulo de tor- ção do rádio (r), o que determina a congruência simultânea das duas articulações rádio-ulnares. Um estudo estatístico sobre numerosos ca- sos permitiria, sem dúvida, conhecer as varia- ções e as distribuições dos ângulos. B B t) A Fig.3-51 SnF A Fig.3-52 1. MEMBRO SUPERIOR 133 Fn +150 c 134 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MOTORES DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO: OS MÚSCULOS Para poder compreender a forma de atuar dos músculos rotadores devemos analisar, desde um ponto de vista mecânico, a forma do rádio (fig. 3-53). Este osso está constituído por três segmen- tos cuja união representa, de maneira aproxima- da, uma manivela. - o colo (segmento superior, oblíquo para baixo e para dentro) forma com o seg- mento médio (porção média da diáfise, oblíqua para baixo e para fora) um ângu- lo obtuso aberto para fora, cujo vértice (seta 1) está ocupado pela tuberosidade bicipital, inserção do bíceps. Estes dois segmentos descrevem, em conjunto, a "curva supinadora" do rádio; - o segmento médio constitui, com o seg- mento inferior (oblíquo para baixo e pa- ra dentro), um ângulo obtuso aberto pa- ra dentro, cujo vértice (seta 2) é o ponto de inserção do pronador redondo. Am- bos os segmentos descrevem, em con- junto, a "curva pronadora" do rádio. É preciso ressaltar que a "manivela radial" é oblíqua com respeito ao seu eixo (esquema pe- queno): de fato, este eixo xx', que é o eixo de pronação-supinação, passa pelos extremos dos ramos e não pelos próprios ramos. De maneira que os vértices das duas curvas se localizam a um lado e a outro do eixo. O eixo xx' é comum para as duas articula- ções rádio-ulnares; esta coincidência dos dois ei- xos é indispensável para poder realizar a prona- ção-supinação. Isto requer que os dois ossos es- tejam íntegros, sem fraturas, seja em conjunto ou em separado. Existem duas formas de mover essa mani- vela (fig. 3-54): - "desenrolar" um tracionador enrolado em um dos ramos (seta 1); ~ puxar do vértice de uma das curvas (seta 2). Esta é a forma de atuar dos músculos prona- dores-supinadores. Os músculos pronadores-supinadores são quatro, associados de dois em dois. Para cada um dos movimentos existem: , - um músculo curto e plano, cuja ação é a de "desenrolar" (ver seta 1); - um músculo longo que se insere no vérti- ce de uma curva (ver seta 2). Músculos motores da supinação (figs. 3-55 e 3-56; secções, lado direito, vista do frag- mento inferior). São os seguintes: 1) o supinador (1), enrolado em tomo do co- lo do rádio (fig. 3-56, a): atua ao "desenro- lar-se"; 2) o bíceps (2), que se insere no vértice da curva supinadora no nível da tuberosidade bicipital (fig. 3-56, b): atua por tração e mostra a sua máxima eficácia quando o co- tovelo está em ftexão de 900• E o músculo mais potente de todos os que intervêm na pronação-supinação, o que explica que se enrole como um parafuso "supinando", com o cotovelo ftexionado. Músculos motores da pronação (figs. 3-57 e 3-58). São os seguintes: 1) o pronador quadrado (1), enrolado ao re- dor da extremidade inferior da ulna: atua "desenrolando" a ulna com relação ao rá- dio (fig. 3-58, vista inferior, lado direito); 2) o pronador redondo (2), que se insere no vértice da curva pronadora, atua por tra- ção, mas o seu momento de ação é fraco, especialmente com o cotovelo em exten- são. Os músculos pronadores são menos potentes que os supinadores: na tentativa de desaparafusar um parafuso bloqueado, é necessária a ajuda da pronação obtida mediante a abdução do ombro. Apesar do seu nome, o braquiorradial não é supinador, mas ftexor do cotovelo. Não é supina- dor inclusive na posição zero, a não ser a partir da pronação completa. Paradoxalmente, a partir da supinação completa, é pronador até a posição zero. Existe somente um nervo para a pronação: o mediano. Dois nervos para a supinação: o radial é o músculo-cutâneo (no caso do bíceps). felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight felipe Highlight Fig.3-54 Fig.3-56 1. tvfEMBRO SUPERIOR 135 Fig.3-57 Fig.3-58 136 FISIOLOGIA ARTICULAR AS ALTERAÇÕES MECÂNICAS DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO Fraturas dos dois ossos do antebraço (figs. 3-59 e 3-60, segundo Merle D'Aubigne). O deslocamento dos fragmentos é diferente dependendo da localização das linhas de fratura; está condicionado pelas ações musculares. 1) se a linha de fratura radial se localiza no terço superior (fig. 3-59), separa fragmentos sobre os que atuam múscu- los com a mesma função: supinadores no fragmento superior, pronadores no frag- mento inferior. Neste caso, o desloca- mento (rotação dos fragmentos um com relação ao outro) será máximo: o frag- mento superior estará em pronação má- xima e o inferior em supinação máxima; 2) se a linha de fratura radial se localiza na porção média (fig. 3-60), o deslocamento será normal. De fato: - a pronação do fragmento inferior é realizada exclusivamente pelo prona- dor quadrado; - a supinação do fragmento superior é moderada pelo pronador redondo. O deslocamento fica reduzido pela me- tade. A redução deve corrigir o desvio angular e também restabelecer as curvas de ambos os ossos, principalmente do rádio: - curva no plano sagital, de concavidade anterior. Se desaparece ou fica invertida, a pronação é menos ampla; ~ curvas no plano frontal, na prática a CUI- va pronadora, sem a qual a pronação fi- ca limitada pela ineficácia do pronador redondo. Luxações das articulações rádio-ulnares 1) luxação da articulaçãorádio-ulnar inferior Pode ocorrer de forma isolada ou associa- da com uma fratura da diáfise radial. O seu tratamento é complicado e pode pro- vocar a ressecção da cabeça ulnar (opera- ção de Darrach) ou a sua reposição. Somente podemos repor e fixar com para- fuso se provocamos uma pseudo-artrose intencionada por ressecção segmentária da ulna, pela parte de cima (fig. 3-61) (operação de M. Kapandji e Sauvé); 2) luxação da cabeça radial Associa-se com freqüência (fig. 3-62) a uma fratura por impacto direto (seta bran- ca) da ulna (fratura de Monteggia). A lu- xação da cabeça radial para cima (seta preta) se produz quando o bíceps se con- trai (seta tracejada): para realizar a opo- nência desta ação luxante do bíceps, é ne- cessário reconstruir cirurgicamente um li- gamento anular. Fraturas da porção inferior do rádio Durante as fraturas da porção inferior do rá- dio (fig. 3-63), a basculação externa da epífise ra- dial (A) provoca uma incongruência da articula- ção rádio-ulnar inferior e uma tensão exagerada do ligamento triangular. Se não reduzimos o des- locamento com precisão e se a consolidação se realiza com um calo vicioso, a pronação-supina- ção pode estar gravemente alterada. Quando o traumatismo é suficientemente in- tenso para arrancar o ligamento triangular, fato que observamos em radiografias, o resultado é o mesmo. Em alguns casos (B), o ligamento triangular arranca a sua inserção interna, isto é, a estilóide ra- dial (fratura de Gerard-Marchant). Isto provoca duas conseqüências: - uma luxação da articulação rádio-ulnar inferior com diástase, limitada unicamen-te pela membrana interóssea; - uma entorse grave do ligamento lateral interno da articulação rádio-carpeana. A basculação posterior das fraturas da porção inferior do rádio (fig. 3-64) também prejudica a pronação-supinação: a) em estado normal os eixos das superfícies radial e ulnar se confundem; b) quando o fragmento epifisário inferior do rádio realiza a basculação para trás, o eixo da superfície radial forma com o da super- fície ulnar um ângulo aberto para baixo e para trás: a congruência das superfícies ar- ticulares desaparece. Fig.3-61 Fig.3-62 Fig.3-63 p .•..••..•"1I, fIIIII II s Fig.3-59 138 FISIOLOGIA ARTICULAR COMPENSAÇÕES E POSIÇÃO FUNCIONAL "A supinação se realiza com o antebra- ço" (fig. 3-65) De fato, como a posição normal do membro superior é ao longo do corpo com o cotovelo fle- xionado, não existe outra possibilidade de reali- zar a supinação se não for nas articulações rádio- ulnares exclusivamente: verdadeira supinação. . É o movimento que se realiza quando abri- mos uma fechadura com chave. O fato de que o ombro não intervém na supi- nação explica a dificuldade para compensar a para- lisia da supinação. Contudo, isto se atenua porque a paralisia completa da supinação é rara, porque o bíceps possui uma inervação diferente (nervo mús- culo-cutâneo) da do supinador (nervo radial). "A pronação se realiza com o ombro" (fig. 3-66) Porém, no caso da pronação, a ação dos músculos pronadores puros pode-se ampliar com relativa facilidade ou pode-se compensar com uma abdução do ombro. É O movimento realizado para virar o conteúdo de uma panela. Posição funcional Esta posição se situa entre: - a posição intermédia (fig. 3-67) utilizada, por exemplo, para segurar um martelo; - e a posição de semi-pronação (figs. 3-68 e 3-69): segurar uma colher ou escre- ver. A posição funcional corresponde a um es- tado de equilíbrio natural entre os grupos musculares antagonistas e, portanto, com o mí- nimo gasto muscular possível. O movimento de pronação-supinação é im- prescindível para levar os alimentos à boca. De fato, quando pegamos um alimento de um plano horizontal (uma mesa ou o chão), a mão realiza a sua aproximação em pronação, para pegar o ob- jeto por cima e o cotovelo se estende. Para levar o alimento até a boca é necessário flexionar o co- tovelo ao mesmo tempo que se apresenta o ali- mento realizando um movimento de supinaçâo. É necessário fazer duas advertências: - a supinação "poupa" a flexão do co- tovelo: se fosse necessário levar o mesmo objeto até a boca mantendo uma atitude de pronação, para realizar este gesto precisamos de uma maior flexão do cotovelo; - o bíceps é o músculo que melhor se adapta a este movimento "alimen- tar", já que é flexor do cotovelo e su- pinador. felipe Highlight felipe Highlight 1. MEMBRO SUPERIOR 139 Fig.3-68 ~. Fig.3-69 Fig.3-66 Fig.3-67 140 FISIOLOGIA ARTICULAR SIGNIFICADO o punho, articulação distal do membro su- perior, permite que a mão - segmento realiza- dor - se coloque numa posição ótima para a preensão. De fato, o complexo articular do punho possui dois graus de liberdade. Com a prona- ção-supinação, rotação do antebraço sobre o seu eixo longitudinal, a mão pode-se orientar em qualquer ângulo para pegar ou segurar um ob- jeto. O complexo articular do punho compreen- de duas articulações: - a rádio-carpeana, que articula a glenóide antebraquial com o côndilo carpeano; - a médio-carpeana, que articula entre elas as duas fileiras dos ossos do carpo. 1. MEMBRO SUPERIOR 141 142 FISIOLOGIA ARTICULAR DEFINIÇÃO DOS MOVIMENTOS DO PUNHO Os movimentos do punho (fig. 4-1) se rea- lizam em torno de dois eixos, com a mão em po- sição anatômica, isto é, em máxima supinação: -.- um eixo AA', transversal, que pertence ao plano frontal (tracejado vertical). Es- te eixo condiciona os movimentos de ftexão-extensão que se realizam no pla- no sagital (tracejado horizontal): • flexão (seta 1): a superfície anterior ou palmar da mão se aproxima da super- fície anterior do antebraço; • extensão (seta 2): a superfície poste- rior ou dorsal da mão se aproxima da superfície posterior do antebraço. É preferível não utilizar os termos fte- xão dorsal e, com maior motivo, fte- xão palmar, por tratar-se de uma tau- tologia. - um eixo BB', ântero-posterior que per- tence ao plano sagital (tracejado hori- zontal). Este eixo condiciona os movi- mentos de adução-abdução que se reali- zam no plano frontal (tracejado verti- cal): • adução ou desvio ulnar (seta 3): a mão se aproxima do eixo do corpo e o seu lado interno - ou lado ulnar (do dedo mínimo) -, forma, com o lado interno do antebraço, um ângulo obtuso aber- to para dentro; • abdução ou desvio radial (seta 4): a mão se afasta do eixo do corpo e o seu lado externo - ou lado radial (do po~ legar) -, forma, com o lado externo do antebraço, um ângulo obtuso aber- to para fora. 1. MEMBRO SUPERIOR 143 f\g.4-"\ ---------- \ - - _- -.- - ~._---~-~------------~- 144 FISIOLOGIA ARTICULAR AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DO PUNHO I Movimento de abdução-adução (fig. 4-2) A amplitude dos movimentos é medida a partir da posição de referência (a): o eixo da mão, representado pelo terceiro metacarpeano e terceiro dedo, se localiza no prolongamento do eixo do antebraço. A amplitude do movimento de abdução ou desvio radial (b) não excede os 150• A amplitude de adução ou desvio ulnar (c) é de 450, quando medimos o ângulo na linha que une o centro do punho com a porção distal do terceiro dedo (linha tracejada). Contudo, esta amplitude é diferente depen- dendo do que consideramos: - o eixo da mão: em cujo caso é de 300; - o eixo do dedo médio: em cujo caso é de 550• Isto se deve a que a adução da mão se asso- cia com a adução dos dedos. Todavia, na prática, podemos considerar que a amplitude da adução é de 450• Devemos ressaltar vários fatos: - o desvio ulnar é de duas a três vezes mais amplo do que o desvio radial; - o desvio ulnar é mais amplo em supina- ção que em pronação (Sterling Bunnel), quando não ultrapassa os 25-300; - em geral, a amplitude dos movimentos de adução-abdução é mínima em flexão forçada ou em extensão do punho, posi- ções nas quais os ligamentos do carpo estão tensos. É máxima na posição de referência ou em leve flexão, porque os ligamentos se distendem. Movimentos de flexão-extensão (fig. 4-3) A amplitude dos movimentos é medida a partir da posição de referência (a): punho alinhado, superfície dorsal da mão no pro- longamento da superfície posterior do ante- braço. A amplitude da flexão (b) é de 850, isto é, que não alcança os 900• A amplitude da extensão (c), incorreta- mente denominada "flexão dorsal", também é de 850, de modo que também não alcança os 900• Como no caso dos movimentos laterais, a amplitude dos movimentos depende do grau de distensão dos ligamentos do carpo: - a flexão-extensão é máxima quando a mão não se encontra nem em abdução nem emadução; -- a flexão-extensão é de menor amplitude quando o punho está em pronação. b a Fig.4-2 1. MEMBRO SUPERIOR 145 c b a Fig.4-3 c 146 FISIOLOGIA ARTICULAR o MOVIMENTO DE CIRCUNDUÇÃO o movimento de circundução se define co- mo a combinação dos movimentos de flexão-ex- tensão com os movimentos de adução-abdução. Então, é um movimento que se realiza, si- multaneamente, com relação aos dois eixos da ar- ticulação do punho. Quando o movimento de circundução alcan- ça a sua máxima amplitude, o eixo da mão des- creve uma superfície cônica no espaço, denomi- nada "cone de circundução" (fig. 4-4). Este cone tem um vértice O, localizado no "centro" do punho, e uma base, representada na figura pelos pontos F, R, E, C, que descrevem a trajetória que segue a ponta do dedo médio duran- te o movimento de máxima circundução. Além disso, o citado cone não é regular, a sua base não é circular. Isto se deve a que a am- plitude dos diferentes movimentos elementares não é simétrica com relação ao prolongamento do eixo do antebraço 00'. Sendo a amplitude máxima no plano sagita! FOEe mínima no plano frontal ROC, o cone é achatado no sentido transversal e podemos com- parar a sua base com uma elipse (fig. 4-5, c) com um eixo maior ântero-posterior FE. Inclusive está deformada pela parte interna C, devido à maior amplitude do desvio ulnar. Por conseguinte, o eixo do cone de circundução OA não se confunde com 00', mas que se encontra em desvio ulnar de 15°. Por outro lado, a posição da mão em adução de 15° corresponde à posição de equilíbrio entre os músculos que dirigem o desvio. É um elemento da posição funcionaL A figura 4-5 mostra a parte da base do co- ne de circundução (c): - o corte do cone pelo plano frontal (a) com a posição de abdução R-adução C e o eixo do cone de circundução OA; - o corte do cone pelo plano sagital (b) com a posição de flexão F e a posição de extensão E. A amplitude dos movimentos do punho é menor em pronação do que em supinação, de modo que o cone de circundução é menos "aberto" em pronação. Contudo, graças aos movimentos asso- ciados de pronação-supinação, o achatamento do cone de circundução pode-se compensar de certo modo, e o eixo da mão pode ocupar to- das as posições no interior de um cone cujo ângulo de abertura é de 160 a 170°. Além disso, como em todas as articula- ções com dois eixos e dois graus de liberdade, do mesmo modo que vamos expor mais adian- te ao falar da articulação trapézio-metacarpea- na, um movimento simultâneo ou sucessivo em torno de dois eixos ocasiona uma rotação automática ou inclusive uma rotação conjunta (Mac Conaill) em torno do eixo longitudinal do segmento móvel, a mão, que orienta a pal- ma em direção oblíqua com relação ao plano da superfície anterior do antebraço. Isto não está claro, salvo nas posições de extensão-adu- ção e de flexão-adução, embora não tenha a mesma importância funcional que no caso do polegar. r R o a /• / O' c R E Fig.4-5 1. MEMBRO SUPERIOR 147 Fig.4-4 E E 148 FISIOLOGIA ARTICULAR o COMPLEXO ARTICULAR DO PUNHO o complexo articular do punho (fig. 4-6) inclui duas articulações: 1) a articulação rádio-carpeana entre a porção inferior do rádio e os ossos da fi- leira superior do carpo; 2) a articulação médio-carpeana entre a fileira superior e a fileira inferior do carpo. A articulação rádio-carpeana A articulação rádio-carpeana é uma articu- lação condilar (fig. 4-7): a superfície do côndi- 10 carpeano, considerada como um bloco, apre- senta duas curvas convexas: - uma curva transversal (seta 1), de raio R e cujo eixo BB' é ântero-posterior: es- ta curva se corresponde com os movi- mentos de adução-abdução; - uma curva ântero-posterior (seta 2), de raio r (menor que R) e cujo eixo AA' é transversal: esta curva se corresponde com os movimentos de flexão-extensão. No esqueleto: - eixo AA' de f1exão-extensão passa pela interlinha semilunar-osso capitato; - eixo BB' de adução-abdução passa pela cabeça do osso capitato, perto de sua superfície articular. Os ligamentos da articulação rádio-car- peana se organizam em dois sistemas: Os ligamentos laterais (fig. 4-8): 1) o ligamento lateral externo, que se esten- de do processo estilóide radial até o esca- fóide; 2) o ligamento lateral interno, que se esten- de do processo estilóide ulnar ao pirami- dal e ao pisiforme. A inserção inferior destes dois ligamentos se localiza, aproximadamente, no ponto de "iní- cio" do eixo AA' de flexão-extensão. Os ligamentos anterior e posterior (fig. 4-11, vista externa esquemática) que serão estu- dados com detalhe mais adiante: 3) o ligamento anterior (ou melhor, sistema ligamentar anterior) se insere no lado an- terior da glenóide radial e do colo do osso capitato; 4) o ligamento (ou complexo ligamentar) posterior, que também constitui uma faixa posterior. Os dois ligamentos anterior e posterior se fi- xam no carpo nos pontos de "início" do eixo BB' de abdução-adução. Sempre considerando, numa primeira apro- ximação, que o carpo constitui um bloco único, o que está longe de ser verdade como veremos mais adiante, a entrada em ação dos ligamentos da rádio-carpeana se decompõe da seguinte manei- ra: - nos movimentos de adução-abdução (figs. 4-8, 4-9 e 4-10, vistas anteriores), são os ligamentos anteriores os que tra- balham. Partindo da posição de repouso (fig. 4-8), podemos observar que: - durante a adução (fig. 4-9), o liga- mento externo está tenso e o interno está distendido; - durante a abdução (fig. 4-10), se pro- duz o fenômeno inverso. O ligamento anterior, fixo perto do centro de rotação, participa pouco. Nos movimentos de flexão-extensão (figs. 4-11, 4-12 e 4-13, vistas laterais), são, principal- mente os ligamentos anterior e posterior os que mais trabalham. Partindo da posição de repouso (fig. 4-11), podemos observar que: - o ligamento posterior está tenso durante a f1exão (fig. 4-12); - o ligamento anterior está tenso durante a extensão (fig. 4-13). Os ligamentos laterais participam pouco. A Fig.4-7 A' Fig.4-9 I Fig.4-13Fig.4-11 4~4J.·L3 .... - .... -.... = Fig.4-12 150 FISIOLOGIA ARTICULAR AS ARTICULAÇÕES RÁDIO-CARPEANAS E MÉDIO-CARPEANAS As superfícies articulares da rádio-carpeana são (figs. 4-14 e 4-15): o côndilo carpeano e a gle- nóide antebraquial. Na vista anterior do carpo (fig. 4-15), pode- mos observar como o côndilo carpeano é formado pela justaposição da superfície superior dos três os- sos da fileira superior que são, de fora para dentro: -- o escafóide (1), o semilunar (2), o pirami- dal (3), unidos entre si pelos ligamentos escafo-Iunar (el) e piramido-Iunar (pl). Observar que o pisiforme (4) não participa da formação do côndilo carpeano, e com mais razão os ossos da fileira inferior, o trapézio (5), o trape- zóide (6), o capitato ou grande (7) e o hamato ou ganchoso (8), unidos entre si pelos três ligamentos trapézio-trapezóideo (tt), trapézio-osso capitato (toc) e hamato-osso capitato (hoc). A superfície superior do escafóide, do semilu- nar e do piramidal tem uma camada de cartilagem, igual aos ligamentos que unem estes três ossos en- tre si, formando uma superfície contínua. Numa vista da articulação aberta (fig. 4-14, se- gundo Testut), podemos observar, além do côndilo carpeano com as superfícies articulares do escafóide (1), do semilunar (2) e do piramidal (3), a superfície côncava da glenóide antebraquial constituída por: - porção inferior do rádio (9), por fora, cu- ja superfície inferior, côncava e coberta com cartilagem fica dividida por uma cris- ta romba em duas superfícies articulares que se correspondem aproximadamente com o escafóide (10) e o semilunar (11); - superfície inferior do ligamento triangular (12), côncavo e coberto com cartilagem, o seu vértice se insere no processo estilóide ulnar (13); a cabeça ulnar (14) o ultrapas- sa levemente pela frente e por trás; algu- mas vezes, a sua base não se insere total- mente, provocando o aparecimento de uma pequena fenda (15) que comunica a rádio-carpeana com a rádio-ulnar inferior. A cápsula (16), desenhada intata na sua parte posterior, une o côndilo com a glenóide. A médio- carpeana (fig. 4-16, segundo Testut: representada ,aberta por sua superfície posterior), situada entre as duas fileiras do ossos do carpo, compreende: - a superfície superior, em vista póstero- inferior. Está constituída de fora para den- tro por: • escafóide, com: duas superfícies articu- lares inferiores, levemente convexas, uma (1) para o trapézio, outra (2), por dentro, para o trapezóide; uma superfície articular interna (3), de concavidade acentuada, para o osso capitato; • superfície articular inferior do semillllzar (4), côncava abaixo, que se articula com a cabeça do osso capitato; • superfície articular inferior do piramidal (5), côncava abaixo e para fora, que se articula com a superfície superior do os- so hamato. O pisiforme, articulado sobre a superfície an- terior do piramidal, não participa na formação da interlinha médio-carpeana. - a superfície inferior, em vista póstero-su- perior. Está constituída de fora para dentro por: • superfície articular superiordo trapé:.:io (6) e do trapezóide (7); • cabeça do osso capitato (8), que se arti- cula com o escafóide e o osso capitato; • superfície superior do osso hamato (9), sua maior parte se articula com o piramidaL e uma pequena superfície articular (I O) que entra em contato com o semilunar. Considerando que cada uma das fileiras do carpo formam um bloco, podemos comprovar que a interlinha médio-carpeana está constituída por duas partes: - uma parte externa, formada por superfí- cies articulares planas (trapézio e trape- zóide sobre a base do escafóide), articula- ção tipo artródia; - uma parte interna, constituída pela super- fície convexa, em todos os sentidos, da ca- beça do osso capitato e do osso hamato, que se encaixa na superfície côncava dos três ossos da fileira superior: é uma articulação condilar. Os movimentos numa articulação deste tipo estão condicionados pela maior ou menor elastici- dade dos ligamentos que permite um determinado 'jogo" mecânico. São os movimentos de flexão-ex- tensão, de desvio lateral e de rotação em tomo do eixo longitudinal. Mais adiante poderemos estudá- los mais detalhadamente. Fig.4-14 Fig.4-16 . 10 I Fig.4-15 14 1. MEMBRO SUPERIOR 151 152 FISIOLOGIA ARTICULAR OS LIGAMENTOS DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-CARPEANA E DA MÉDIO-CARPEANA Usamos como referência a N. Kuhlmann (1978) pa- ra ressaltar os elementos novos na descrição dos ligamen- tos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana. Como poderemos ver mais adiante, este conceito moder- no do aparelho ligamentar pennite explicar muito melhor o papel que desempenha na estabilidade do carpa e, na verdade, na sua adaptação às alterações que derivam dos movimentos do punho. Em vista anterior (fig. 4-17), se distinguem: - os dois ligamentos laterais da rádio-carpeana: • o ligamento lateral interno, que se origina no processo estilóide ulnar e se entrelaça com a inserção do triangular (1), no nível de seu vér- tice. A seguir, se divide num fascículo poste- rior estilo piramidal (2) e um fascículo ante- rior estilo-pisiforme (3); • o ligamento lateral externo, também constituí- do por dois fascículos que se originam no pro- cesso estilóide radial: um fascículo posterior (4), que se expande do vértice do processo esti- lóide até a superfície extema do escafóide para inserir-se por baixo da superfície articular supe- rior, e umfascículo anterior (5), muito espesso e resistente que se estende do lado anterior do processo estilóide até o tubérculo do escafóide; - o ligamento anterior da rádio-carpeana, consti- tuído por dois fascículos: • por fora, o fascículo rádio-lunar anterior (6), que se estende obliquamente por baixo e por dentro do lado anterior da glenóide radial até o haste anterior do semilunar; daí vem a denomi- nação de freio anterior do lunar; ••por dentro, ofascículo rádio-piramidal anterior (7), recentemente individualizado por N. Kuhl- mann; suas inserções superiores ocupam a me- tade interna do lado anterior da glenóide e todo o lado anterior da cavidade sigmóide do rádio, onde se entrelaça com as inserções radiais do li- gamento anterior (8) da rádio-ulnar inferior; es- te ligamento, de forma triangular, forte e resis- tente, se dirige para baixo e para dentro para in- serir-se na superfície anterior do piramidal, por fora da sua superfície articular junto com o pisi- forme; constitui a parte anterior da "tira do pira- midal", que voltaremos a ver mais adiante; - os ligamentos da médio-carpeana: • o ligamento rádio-capital (9), que se estende obliquamente por baixo e por dentro da parte externa do lado anterior da glenóide até a su- perfície anterior do osso capitato. Está incluído no mesmo plano fibroso que 9s fascículos rá- dio-lunar e rádio-piramidal. E um ligamento anterior da rádio-carpeana e da médio-carpea- na ao mesmo tempo; • o ligamento lunatocapital (10), que se estende verticalmente desde o haste anterior do semilu- nar à superfície anterior do colo do osso capita- to, prolonga para baixo o ligamento rádio-lunar; • o ligamento triqueto-capital (11), que se esten- de obliquamente por baixo e por fora da super- fície anterior do piramidal ao colo do osso capi- tato onde constitui, com os dois ligamentos pre- cedentes, um autêntico aparelho ligamentar; • o ligamento trapézio-escaf6ide (12), curto, mas largo e resistente, une o tubérculo do esca- fóide com a superfície anterior do trapézio, por cima da sua crista oblíqua; • o ligamento triqueto-ganchoso (ou triqueto-ha- mata!) (13), verdadeiro ligamento lateral inter- no da médio-carpeana; • finalmente, os ligamentos pisiunciforme (14) e pisimetacarpeano (15), este último participa na articulação carpometacarpeana. Em vista posterior (fig. 4-17 bis), podemos localizar: - o ligamento lateral externo da rádio-carpeana, pelo seu fascículo posterior (4); - o ligamento lateral interno da rádio-carpeana, também pelo seu fascículo posterior (2), cujas inserções estão entrelaçadas com o vértice do li- gamento triangular (1); - o ligamento posterior da rádio-carpeana constituído por dois fascículos oblíquos para baixo e para dentro: • ofascículo rádio-lunar posterior (16), ou freio posterior do lunar; • o fascículo rádio-piramidal posterior (17), cu- jas inserções são mais ou menos simétricas com as do seu homólogo anterior, incluída a sua união com a terminação do ligamento posterior da rádio-ulnar inferior (18) sobre o lado poste- rior da cavidade sigmóide do rádio: este fascí- culo posterior completa a "tira do piramidal"; - as duas faixas transversais posteriores do carpo: • afaixa da primeira fileira (19), que se esten- de transversalmente da superfície posterior do piramidal até a do escafóide, para se inse- rir no haste posterior do lunar e enviando uma expansão (20) ao ligamento lateral ex- terno e uma expansão (21) ao ligamento rá- dio-piramidal posterior; • afaixa da segunda fileira (22) que se estende obliquamente por fora e levemente por baixo da superfície posterior do piramidal à do trape- zóide (23) e a do trapézio (24), passando por trás do osso capitato; - por último, o ligamento triqueto-hamatal (13), cuja parte posterior se insere na superfície poste- rior do piramidal que, de tal forma desempenha, para a parte posterior do carpa, o papel de segu- rar o ligamento atribuído ao colo do osso capita- to na sua superfície anterior. Fig.4-17 6 9 4 5 10 12 8 1. MEMBRO SUPERIOR 153 I - Fig. 4-17 bis 154 FISIOLOGIA ARTICULAR FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS Estabilização no plano frontal A primeira função dos ligamentos do punho é a de estabilizar o carpo nos dois planos frontal e sagita!. No plano frontal, o papel que desem- penham os ligamentos é necessário, devido à orientação da glenóide antebraquial (fig. 4-18, vista anterior esquemática) que "se orienta" para baixo e para dentro, de tal modo que pode pare- cer, no seu conjunto, com um plano oblíquo de cima para baixo e de dentro para fora, formando com a horizontal um ângulo de 25 a 30°. Sob a pressão das forças musculares longitudinais, o carpo alinhado tende a deslizar para cima e para dentro, no sentido da seta branca. Contudo, (fig. 4-19) se o carpo se aduz aproximadamente 30°, a força da compressão de origem muscular se exerce perpendicularmente ao plano de deslizamento descrito anteriormen- te, o que estabiliza e centraliza novamente o côndilo carpeano na glenóide. Além disso, esta posição em leve adução é a posição natural do punho, a posição funcional, que coincide com a sua máxima estabilidade. Pelo contrário (fig. 4-20), quando o carpo se abduz, por escassa que seja a abdução, a com- pressão de origem muscular acentua a instabili- dade e acarreta urna tendência ao deslocamento do côndilo carpeano para cima e para dentro. Os ligamentos laterais da rádio-carpeana não são suficientes para "atrapalhar" este movi- mento devido à sua direção longitudinal. Corno o demonstrara N. Kuhlmann, esta função é pró- pria (fig. 4-21) dos dois ligamentos rádio-pira- midais anterior e posterior cuja direção oblíqua para cima e para forapermite centralizar de no- vo e de maneira permanente o côndilo carpeano de modo que evita o seu deslocamento para dentro. Em vista póstero-interna (fig. 4-22) da por- ção inferior do rádio, após ter sido removida a porção inferior da ulna, de modo que podemos observar a cavidade sigmóide do rádio (1) e o piramidal (2), acompanhado pelo pisiforme (3), e removidos também os outros ossos do carpo, se observa que o piramidal se une com o rádio mediante os dois ligamentos rádio-piramidal an- terior (4) e posterior (5). Constituem em conjun- to uma "faixa ligamentar" que dirige perma- nentemente o piramidal para cima e para dentro. Também desempenham, como veremos mais adiante, urna função importante na mecânica in- terna do carpo durante a abdução. Fig.4-18 Fig.4-20 3 1. MEMBRO SUPERIOR 155 Fig.4-19 156 FISIOLOGlAARTICULAR FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS (continuação) Estabilização no plano sagital No plano sagital, as condições são muito parecidas. Devido à orientação para baixo e para dian- te da glenóide (fig. 4-23, vista esquemática de perfil), o côndilo carpeano tem a tendência de "escapar" para cima e para frente, na direção da seta branca), deslizando-se sobre o "plano" da glenóide que forma um ângulo de 20 a 25° com a horizontal. A flexão do punho de 30 a 40° (fig. 4-24) orienta o deslocamento ósseo, sob pressão das forças musculares, perpendicularmente ao "pla- no" da glenóide, o que estabiliza e centraliza no- vamente o côndilo carpeano. Assim sendo, a função dos ligamentos (fig. 4-25) se reduz relativamente: os ligamentos an- teriores, distendidos, não intervêm; pelo contrá- rio, o freio posterior do lunar e a faixa transver- sal da primeira fileira se encontram tensos, o que coapta o semilunar na glenóide radial. Em posição de alinhamento (fig. 4-26), a tensão dos ligamentos anteriores e posteriores se equilibra, estabilizando o côndilo na glenóide. Pelo contrário, em extensão (fig. 4-27), a tendência a que o côndilo carpeano escape para cima e para diante se reforça. A função dos ligamentos (fig. 4-28) é essen- cial, não tanto a dos ligamentos posteriores, que permanecem distendidos, mas a dos anteriores, cuja tensão é proporcional ao grau de extensão. Pela sua superfície profunda, comprimem o se- milunar e a cabeça do osso capitato para cima e para trás, produzindo ao mesmo tempo a estabi- lização e a recentralização do côndilo carpeano; o que corresponde à posição de tensão ligamen- tar e de máxima compressão articular, ou tam- bém "close packed position" de Mac Conaill. Fig.4-24 Fig.4-23 Fig.4-26 1. MEMBRO SUPERIOR 157 Fig.4-28 158 FISIOLOGIA ARTICULAR A DINÂMICA DO CARPO I Coluna do semilunar Se é conveniente, numa primeira aproxima- ção, considerar o maciço do carpa como um blo- co imutável, os recentes trabalhos de anatomia funcional mostram que este conceito monolítico já não corresponde à realidade: é melhor ter em mente um carpo de geometria variável no qual se produzem, por ação de pressões ósseas e de resistências ligamentares, movimentos relativos dos ossos no interior do carpa que modificam sensivelmente a sua forma. N. Kuhlmann estudou recentemente estes movimentos elementares, principalmente no que se refere à coluna média do semilunar e do osso capitato, além da coluna externa do escafóide e do par trapézio-trapezóide. A dinâmica da coluna média depende da forma assimétrica do semilunar, mais avultado, mais espesso pela frente que por trás: depen- dendo dos casos, a cabeça do osso capitato está coberta por um capuz frígio (fig. 4-29), um bo- né de cossaco (fig. 4-30) ou um turbante (fig. 4- 31); é raro que esteja coberto por um bicorne "primeiro império" (fig. 4-32) simétrico e neste caso, a cabeça do osso capitato é assimétrica, mais oblíqua pela frente. Aproximadamente na metade dos casos, o "capuz frigia" se coloca en- tre o osso capitato e a glenóide radial, como se fosse uma cunha curva. Conseqüentemente, esta distância útil entre a cabeça do osso capitato e a glenóide radial varia dependendo do grau de fle- xão-extensão do punho. Em posição de alinhamento (fig. 4-33), a distância útil corresponde à espessura média do semilunar. Na extensão (fig. 4-34) esta distância útil diminui já que corresponde à menor espessura do semilunar. Pelo contrário, esta aumenta na flexão (fig. 4-35), já que se interpõe a maior espessura da ,cunha lunar. Contudo, a obliqüidade da glenóide se combina com esta variação da distância útil, o que anula, em parte, os efeitos: deste modo, em alinhamento, o centro da cabeça do osso capita- to é o mais afastado do fundo da glenóide, no sentido do eixo longitudinal do rádio. Em ex- tensão (fig. 4-34), a "subida" do centro da cabe- ça do osso capitato se anula em parte pela "des- cida" do lado posterior da glenóide. Em flexão (fig. 4-35), sua descida se anula, em parte, pela "subida" do lado anterior da glenóide. Porém, o centro da cabeça do osso capitato se localiza, em ambos os casos, aproximadamente no mes- mo nível h por cima de sua posição de alinha- mento. Por outro lado, em flexão (fig. 4-35), este centro se submete a um deslocamento anterior a igual a mais de duas vezes a retrocessão r asso- ciada à extensão (fig. 4-34), o que modifica ao contrário o grau de tensão e o momento de ação dos flexores em relação aos extensores. Tradicionalmente, a flexão é maior na rá- dio-carpeana (50°) que na médio-carpeana (35°), e ao contrário, a extensão é maior na médio-c ar- peana (50°) que na rádio-carpeana (35°). Isto é correto para as amplitudes extremas, mas nos setores de escassa amplitude, o grau de flexão ou de extensão é mais ou menos o mesmo em cada uma das articulações. A assimetria do semilunar faz com que a estática do carpo seja muito sensível à sua posi- ção relativa na cadeia articular. Se, a partir da posição de alinhamento (fig. 4-36) que corres- ponde a um adosamento normal do semilunar pelos seus dois freios anterior e posterior, se in- troduz, sem nenhuma flexão-extensão do osso capitato com relação ao rádio, uma basculação do lunar para frente (fig. 4-37), ou uma bascula- ção para trás (fig. 4-38), podemos constatar que o centro da cabeça do osso capitato se desloca para cima (e) e respectivamente para trás (c) ou para frente (b): a instabilidade localizada do se- mil~tnar, por ruptura ou distensão do freio ante- rior (fig. 4-37) ou do freio posterior (fig. 4-38), repercute, mediante o osso capitato, em todo o carpa. 1. MEMBRO SUPERIOR 159 I Fig.4-34 c VFig.4-30 VFi9.4-31 a Fig.4-36 b VFí9.4-32 Fig.4-35 Fig.4-38 160 FISIOLOGIA ARTICULAR A DINÂMICA DO CARPO (continuação) Coluna do escafóide A dinâmica da coluna externa depende da forma e orientação do escafóide. De perfil (fig. 4-39), o escafóide possui uma silhueta renifonne, ou em forma de feijão, a parte mais alta, arredondada, corresponde à superfície superior convexa, articulada com a glenóide ra- dial, a parte inferior representa a parte alta do tu- bérculo escafóide, em cuja superfície inferior se articulam o trapezóide e o trapézio; só este último está representado aqui; situa-se claramente mais para frente que o trapezóide e o osso capitato, já que, com ele, se inicia a anteposição da coluna do polegar com relação ao plano da mão. Deste mo- do, o escafóide fica intercalado obliquamente en- tre o rádio e o trapézio, embora esta obliqüidade esteja mais ou menos acentuada dependendo da sua forma. Assim sendo, podemos encontrar esca- fóides renifonnes "deitados" (fig. 4-39), escafói- des dobrados "sentados" (fig. 4-40) e escafóides quase erguidos "em pé" (fig. 4-41). Nos esque- mas está representado o escafóide "deitado" por tratar-se do mais freqüente. A forma alongada do escafóide permite ob- servar dois diâmetros (fig. 4-42), os diâmetros maior e menor, que aparecem, dependendo da po- sição, em contato com a glenóide radial e a super- fície articular superior do trapézio; isto determina as variações do "espaço útil" entre estes dois os- sos. Em posição neutra ou de "alinhamento" (fig. 4-43) é quando a distânciaé maior entre o rádio e o trapézio; o contato entre o escafóide e a glenói- de radial se localiza nos dois pontos correspon- dentes a a e a', e entre o ponto central g da super- fície superior do trapézio e o escafóide em b. Em extensão (fig. 4-44), a distância útil dimi- nui enquanto o escafóide se "ergue" e o trapézio se desloca para trás; o contato entre a glenóide e o escafóide se produz nos pontos homólogos c e c' , e entre o trapézio e o escafóide nos pontos de g. Em fiexão (fig. 4-45), a distância rádio-trapé- zio também diminui quando o escafóide está total- mente deitado e o trapézio se desloca para frente; os pontos de contato se situam em e, e' eJ, g. Isto envolve três observações: 1) os pontos de contato se deslocam sobre a glenóide radial e o escafóide (fig. 4-46): - na glenóide radial, o contato em ex- tensão c' se localiza pela frente do pon- to de contato em posição de alinha- mento a', e estes dois últimos pela fren- te do ponto de contato em flexão e'; - no escafóide: • no nível da supeifície superior, o contato em flexão e é anterior, o contato em extensão c é posterior, e o contato em posição de alinhamen- to a entre ambos; • no nível da supeifíGie infe ri01; a or- dem dos pontos correspondentes f para a flexão, d para a extensão, b para a posição de alinhamento é a mesma (j para diante, d para trás e b entre ambos). 2) os diâmetros úteis no escafóide ab, cd e eJ, que correspondem respectivamente à posição de alinhamento, à de extensão e à de flexão, são quase paralelos e prati- camente iguais: - cd e ef são paralelos; - ab e ef são iguais, cd é levemente mais curto. 3) deslocamento do trapézio com relaçâo ao rádio (fig. 4-47) As posições de alinhamento A, de flexão F e de extensão E, se realizam pratica- mente num círculo concêntrico com curva ântero-posterior da glenóide radial, en- quanto o trapézio realiza uma rotação so- bre si mesmo, aproximadamente igual ao ângulo do arco que descreve: dito de outra forma, a sua superfície articular superior se dirige para o centro do círculo C. Toda esta dinâmica se refere aos movimentos simultâneos do escafóide e do trapézio. Mais adiante exporemos o resultado dos movimentos isolados do escafóide. 1. MEMBRO SUPERIOR 161 Fig.4-44 Fig.4-43 Fig.4-45 162 FlSIOLOGIA ARTICULAR o PAR ESCAFÓIDE-SEMILUNAR \ Nos movimentos de flexão-extensão do punho, N. Kuhlmann distingue quatro setores (fig. 4-48): - o setor de adaptação pennanente (I) até 20°: as amplitudes dos deslocamentos elementares são escassas e difíceis de apreciar; os ligamentos estão distendi- dos e a pressão sobre as superfícies arti- culares é mínima. Os movimentos mais.. comuns e que preCIsam necessanamen- te restabelecer a sua mobilidade após uma intervenção cirúrgica ou traumatis- mo se realizam neste setor; - o setor de mobilidade comum (lI) até 40°; o jogo ligamentar começa a se ma- nifestar e as pressões articulares se no- tam. Até este ponto, as amplitudes na rádio-carpeana e na médio-carpeana são quase iguais; - o setor de alteração fisiológica mo- mentânea (IlI) até 80°; as tensões liga- mentares e as pressões articulares al- cançam o seu ponto máximo, para rea- lizar no fim do trajeto a posição de blo- queio ou dose packed position (Mac Conaill); - O setor de alteração patológica (IV) su- perior aos 80°: a partir deste ponto, a continuação do movimento ocasiona obrigatoriamente umà ruptura ou uma distensão ligarnentar que, lamentavel- mente, passa despercebida com freqüên- Cia, provocando uma instabilidade do carpo, ou uma fratura ou luxação, como veremos mais adiante. O fato de se repetir a idéia do bloqueio ar- ticular foi necessário para esclarecer o assincro- nismo do bloqueio em extensão das colunas do semilunar e do escafóide. De fato, o bloqueio em extensão da coluna do escafóide (fig. 4-49), causado pela tensão máxima dos ligamentos rádio-escafóide (1) e trapézio-escafóide (2), provoca um autêntico en- caixamento do escafóide entre o trapézio e a gle- nóide radial, que acontece antes do bloqueio em extensão da coluna do semilunar (fig. 4-50): neste bloqueio intervêm não só a tensão dos li- gamentos rádio-lunar anterior (3) e lunatocapital (4), mas também o impacto ósseo da superfície posterior do colo do osso capitato contra o lado posterior da glenóide; de modo que o movimen- to de extensão continua na coluna do semilunar, enquanto já está parado na do escafóide. Se partirmos da posição de flexão (fig. 4-51) (vista conjunta de perfil do semilunar e do esca- fóide), num primeiro momento (fig. 4-52), a ex- tensão arrasta simultaneamente o escafóide e o semilunar, a seguir (fig. 4-53) o escafóide se de- tém, enquanto o semilunar continua a sua bascu- lação anterior 30° mais, graças à elasticidade do ligamento interósseo escafolunar. Assim sendo a amplitude total do movimento do semilunar é 30° maior que a do escafóide. Fig.4-48 Fig.4-51 1. MEMBRO SUPERIOR 163 3 Fig.4-50 164 FISIOLOGIA ARTICULAR o CARPO DE GEOMETRIA VARIÁVEL A abdução-adução Mais que como um bloco monolítico, o carpo deve ser con- siderado uma bolsa de bolinhas de gude, principalmente no que se refere aos movimentos de abdução-adução no percurso dos quais a sua forma se modifica sob pressões ósseas e tensões ligamentares. O estudo minucioso das radiografias frontais em abdução e em adução permite constatá-lo: os esquemas desta página correspon- dem a este estudo. Durante a abdução (fig. 4-54), num primeiro momento, o carpo gira em conjunto em tomo de um centro situado na cabeça do osso capitato, a fileira superior se desloca (seta 1) para cima e para dentro de tal maneira que a metade do semilunar se situa abaixo da cabeça ulnar e o piramidal, no seu movi- mento para baixo, aumenta o espaço que o separa. Mas a tensão do ligamento lateral interno (LU) e principalmente a "faixa" do piramidal (C) detêm muito cedo este deslocamento, transformando o pi- ramidal num bloco contra o qual impacta o semilu- nar. Como a abdução continua, a segunda fileira é a única que continua o seu movimento: - o trapézio e o trapezóide ascendem (seta 2), diminuindo o espaço útil entre o trapézio e o rádio, por efeito da compressão entre o trapézio (2) e o rádio (3), o escafóide perde a sua altura "encostando-se" por flexão (f) na rádio-carpeana (fig. 4-56), enquanto a médio-carpeana se estende (e); - o osso capitato "desce" (seta 4), aumentando o espaço útil do semilunar; retido pelo seu freio anterior. de modo que pode bascular (fig. 4-57) para trás por flexão (f) na rádio- carpeana, apresentando a sua maior espessu- ra; simultaneamente, o osso capitato se aco- pIa (e) na médio-carpeana; a diminuição da altura do escafóide permite um deslizamen- to relativo do osso capitato e do osso hama- to por baixo da primeira fileira (setas pretas): o piramidal, retido pelos seus três ligamen- tos, "sobe" pela rampa do osso hamato em direção à cabeça do osso capitato. Como os movimentos relativos dos ossos do carpa es- tão esgotados. o conjunto constitui um bloco travado em abdução (close packed position). Durante a adução (fig. 4-55), num primeiro momento, o carpo gira em conjunto, mas desta vez, a primeira fileira se desloca para baixo e para fora, de modo que o semilunar se desliza totalmente por baixo do rádio, enquanto o trapézio e o trapezóide descem (seta 1) aumentando o espaço útil para o es- cafóide. Este, deslocado para baixo pelo ligamento trapézio-escafóide, se endireita (fig. 4-58) em exten- são (e) da rádio-carpeana, de modo que ganha altura e preenche o espaço que estava vazio debaixo do rá- dio. Simultaneamente, o trapézio se desliza em fle- xão (f) da médio-carpeana debaixo do escafóide; quando a descida do escafóide (seta 2) fica inter- rompida pelo ligamento lateral externo (LLE), a ab- dução continua na segunda fileira; provocando um deslizamento relativo em relação à primeira fileira (setas pretas): a cabeça do osso capitato se afunda na superfície côncava do escafóide, o semilunar se des- liza sobre a cabeça do osso capitato e toca o osso ha- mato, o piramidal"desce" pela rampa do osso hama- to. Ao mesmo tempo, o piramidal sobe (seta 3) em direção à cabeça ulnar que constitui um topo, me- diante o ligamento triangular, transmitindo as forças que provêm do antebraço para os dois raios internos da mão; o osso capitato ascende (seta 5) reduzindo o espaço útil para o semilunar, o qual, graças à disten- são do seu freio anterior pode bascular para frente (fig. 4-59) em extensão (e) na rádio-carpeana, de modo que apresenta a sua menor espessura, enquan- to o osso capitato se flexiona (f) na médio-carpeana. Também neste caso, por ter esgotado todos os movimentos relativos dos ossos do carpo, o conjun- to constitui um bloco travado em adução (close packed position). Em resumo, se compararmos (esquema em detalhe) o par escafóide-semilunar em abdução (cor cinza) e em adução (cor cla- ra), podemos comprovar que cada um dos dois ossos se transforma ao contrário: em abdução, o escafóide diminui de superfície e o se- milunar aumenta; em adução ocorre o contrário. Esta "metamorfo- se" se deve aos movimentos de f1exão-extensão nas duas articula- ções do carpo: - em abdução (figs. 4-56 e 4-57), a f1exão na rádio-carpea- na desaparece devido à extensão na médio-carpeana; - em adução (figs. 4-58 e 4-59), ao contrário, a extensão na rádio-carpeana se compensa pela f1exão na médio-car- peana. Por lógica, se considerarmos a proposta recíproca, podemos afirmar que: - a f1exão de punho se associa com uma abdução da rádio- carpeana e uma adução da médio-carpeana; - a extensão de punho provoca uma adução da rádio-car- peana e uma abdução da médio-carpeana. Deste modo, se confirma o mecanismo descrito por Henke. Fig.4-58 Fig.4-54 U Fig.4-57 Fig.4-56 1. MEMBRO SUPERIOR 165 Fig.4-55 166 FISIOLOGIA ARTICULAR AS ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS Os dois movimentos cujo esforço máximo gera mais desgastes anatômicos são a abdução e a extensão, com freqüência associados. A abdução levada além da posição de blo- queio pode provocar dois tipos de lesões: - umafratllra da porção inferior do rádio (fig. 4-60): a pressão do escafóide sobre a SALIÊNCIA externa da glenóide ra- dial fratura a epífise mais frágil devido à osteoporose do indivíduo de idade avan- çada; o deslocamento se realiza para fo- ra e se associa com uma basculação pos- terior pela extensão do punho (fig. 4-61). Este tipo de fratura permite notar a resis- tência do escafóide, sem dúvida bem protegido quando está "ftexionado" (fig. 4-61), situado totalmente debaixo do processo estilóide radial; também indica a resistência dos ligamentos anteriores; o processo estilóide ulnar sob tração asso- ciada do ligamento triangular e do liga- mento lateral interno da rádio-carpeana se fratura com freqüência na sua base; - ou umafratura do escafóide (fig. 4-62): o escafóide, desta vez se encontra em extensão e se localiza, em toda a sua longitude, debaixo da saliência da gle- nóide radial; por conseguinte, o proces- so estilóide radial impacta contra a su- perfície externa do corpo do osso que se fratura neste ponto devido ao cisalha- mento. A extensão exagerada acarreta, com muita freqüência, como' acabamos de comentar (fig. 4- 61), uma fratura de Pouteau-Colles. Muito pou- cas vezes provoca desgastes ligamentares cujo primeiro momento é a ruptura do ligamento lu- natocapital; em segundo lugar podem existir duas possibilidades: - o osso capitato ascende em extensão e a sua cabeça se encaixa por trás da haste posterior do semilunar que permanece no lugar: é a lllxação retrollll1ar do car- po (fig. 4-64): - o freio posterior do semilunar, solicitado pela hiperextensão e a cabeça do osso capitato, se desprende, provocando a enucleação para frente do lunar que, ao ficar fixo pela sua haste anterior, realiza uma rotação sobre si mesmo de 90 a 120° em tomo de um eixo transversal, de modo que a sua superfície inferior se dirige para cima; então, a cabeça do os- so capitato ascende por baixo da glenói- de, deslocando o lunar para frente no ca- nal carpeano onde comprime o nervo mediano. É a lllxação anterior do semi- lunar (fig. 4-65). ------- 1. MEMBRO SUPERIOR 167 Fig.4-64 ~Fig.4-63 . Fig.4-60 ~------- 168 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO I Em vista anterior do punho (fig. 4-66), podemos observar: - o palmar maior (1) que, após ter per- corrido um canal especial por baixo do ligamento anular anterior do carpa, se insere na superfície anterior da base do segundo metacarpeano e, de maneira acessória, no trapézio e base do tercei- ro metacarpeano; - o palmar menor (2), menos potente, entrelaça as suas fibras verticais com as fibras transversais do ligamento anular anterior do carpo e envia quatro faixas pré-tendíneas que se inserem na superfí- cie profunda da dermis da palma da mão; - o flexor ulnar do carpo (3) que, após ter passado pela frente do processo esti- lóide ulnar, se insere no pólo superior do pisiforme e, de maneira acessória, no ligamento anular, osso hamato e o quar- to e quinto metacarpeanos. Para não sobrecarregar este esquema, não desenhamos os tendões flexores dos dedos que passam pelo canal carpeano junto com o nervo mediano: - os quatro tendões flexores profundos; - os quatro tendões flexores superficiais; - o flexor longo próprio do polegar. Estão representados no corte (fig. 4-71). Em vista posterior do punho (fig. 4-67), podemos observar: - o extensor ulnar do carpo (4) que, após passar por trás do processo estilói- de ulnar, se insere na supeifície poste- rior da base do quinto metacarpeano; - os dois extensores radiais longo e cur- to do carpo (5 e 6) que, após percorrer a parte superior da tabaqueira anatômi- ca, se inserem, o primeiro (6) na base do segundo metacarpeano e o segundo (5) na base do terceiro metacarpeano. Para simplificar, nesta vista posterior não se representaram: - os quatro tendões extensores comuns; - o tendão do extensor p~óprio do dedo in- dicador; - o tendão do extensor próprio do dedo mínimo. Poderemos ver mais adiante no corte (fig. 4-71). Numa vista do lado interno do punho (fig. 4-68), podemos observar os tendões: - do flexor ulnar do carpo (3), a sua in- serção, deslocada para frente pelo pisi- forme, aumenta a sua eficácia; - do extensor ulnar do carpo (4). Estes dois tendões delimitam lateralmente o processo estilóide ulnar. Numa vista do lado externo do punho (fig. 4-69), podemos observar os tendões: - do extensor radial longo (6) e curto (5) do carpo; - do abdutor longo do polegar (7), que se insere na parte externa da base do primeiro metacarpeano; - do extenso r curto do polegar (8), que se insere na superfície dorsal da base da primeira falange do polegar; - do extenso r longo do polegar (9), que se insere na segundafalange do polegar. Tanto os extensores radiais quanto os mús- culos do polegar delimitam o processo estilóide radial. O tendão do extensor longo do polegar constitui o limite posterior da tabaqueira anatô- mim. Os tendões do abdutor longo e do extensor curto do polegar constituem o seu limite anterior. 1. MEMBRO SUPERIOR 169 Fig.4-68 Fig.4-69 170 FISIOLOGIA ARTICULAR AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO Na superfície posterior do punho, os ten- dões extensores passam por baixo do ligamento anular dorsal do carpo (fig. 4-70; as explicações são as mesmas para a figura seguinte) por seis túneis osteofibrosos acompanhados de seis bainhas sinoviais. São de dentro para fora: - o túnel do extensor ulnar do carpo; - o do extensor próprio do dedo mínimo; - o dos quatro extensores comuns e o do extensor próprio do dedo indicador; - - o do extensor próprio do polegar; - o dos dois extensores radiais; - o do abdutor longo e o do extensor cur- to do polegar. O ligamento anular e os túneis osteofibro- sos constituem para os tendões polias de refle- xão quando o punho se encontra em extensão. Tradicionalmente, os músculos motores do punho se classificam em quatro grupos. O esquema 4-71 representa esta classificação em relação aos dois eixos do punho: - o eixo AA': flexão-extensão; - o eixo BB':adução-abdução. (O esquema representa um corte do punho direito, parte inferior do corte, pelo qual B' na frente, B por trás, A' por fora e A por dentro. Os tendões assombreados são os motores do punho, os brancos são os motores dos dedos.) 1.0 grupo: o fiexor ulnar do carpo (1) é: - flexor do punho (localizado para dian- te do eixo AA') e - adutor (localizado para dentro do eixo BB'), mas em menor grau que o extensor ulnar do carpo. Exemplo de flexão-adu- ção: mão esquerda tocando o violino. 2.° grupo: o extensor ulnar do carpo (6) é: - extensor do punho (localizado por trás do eixo AA'); - adutor (localizado por dentro do eixo BB'). 3.° grupo: os palmares, o maior (2) e o menor (3), são: - flexores do punho (localizados pela frente do eixo AA'); - abdutores (localizados por fora do eixo BB'). I 4.° grupo: os extensores radiais do carpo, o longo (4) e o curto (5), são: - extensóres do punho (localizados por trás do eixo AA'); - abdutores do punho (localizados por fora do eixo BB'). Pela sua situação com relação aos dois eixos da rádio-carpeana, nenhuma ação dos músculos motores do punho é pura, o qual significa que pa- ra obter uma ação pura será sempre necessária a ação simultânea de dois grupos para anular um componente: este é um exemplo de relação anta- gonismo-sinergia muscular. - Flexão (a): 1.0 (flexor ulnar do carpo) e 3.° grupos (palmares); - Extensão (b): 2.° (extensor ulnar do carpo) e 4.° grupos (radiais); -Adução (c): 1.°(flexorulnar do carpo) e 2.° grupos (extensor ulnar do carpo); -Abdução (d): 3.° (palmares) e 4.° grupos (radiais). Na verdade, estas ações estão mais matiza- das. As experiências de excitação elétrica de Du- chenne de Boulogne (1867) demonstraram que: - só o extensor radial longo (4) é extensor- abdutor; o extensor radial curto é direta- mente extensor, daí vem a sua importân- cia fisiológica; - palmar menor é diretamente flexor; o pal- mar maior é também diretamente flexor; e também flexiona o segundo metacarpeano sobre o camo de maneira que prona a mão. Portanto, o palmar maior excitado de ma- neira isolada não é abdutor, e se se con- trai durante a desvio radial, é para contra- balançar o componente extensor do radial longo, principal motor da abdução. - --- ----------------------- r Fig.4-70 4 1. MEMBRO SUPERIOR 171 172 FISIOLOGIA ARTICl.JLAR AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO (continuação) - Os músculos motores dos dedos não po- dem mover o punho se não for em deter- minadas condições: Os flexores dos dedos, flexores comuns profundos (7), flexores comuns superfi- ciais (12) e o flexor longo próprio do po- legar (13) só são flexores do punho se a flexão dos dedos se detém antes do que o trajeto dos tendões se esgote: por exemplo, se a mão segura um objeto vo- lumoso, como uma garrafa, a flexão do punho pode ser ajudada com a flexão dos dedos. Assim sendo, os extensores dos dedos, os extensores curtos (8), o extensor pró- prio do dedo mínimo (14) e o extensor próprio do dedo indicador (15) partici- pam na extensão do punho quando a mão está fechada. - O abdutor longo (9) e o extensor curto do polegar (10) se converiem em abdu- tores do punho se a sua ação não é con- trabalançada pela do extensor ulnar do carpo. Se o extensor ulnar do carpo se contrai simultaneamente, a abdução iso- lada do polegar se realiza por ação do abdutor longo. De modo que a ação si- nérgica do extensor ulnar do carpo é in- dispensável para a abdução do polegar. Neste caso, podemos inclusive afirmar que o extensor ulnar do carpo estabiliza o punho. - O extensor longo do polegar (11), que realiza uma extensão e uma retropulsão do polegar, pode acarretar uma abdução e uma extensão do punho se o flexor ul- nar do carpo está distendido. - Outro estabilizador do punho, o exten- sor radial longo do carpo (4), é impres- cindível para manter uma posição corre- ta da mão: a sua paralisia provoca um desvio ulnar pemwnente. A ação sinérgica e estabilizadora dos músculos do punho (fig. 4-72): - os músculos extensores do punho são sinérgicos dos flexores dos dedos (a): ao estender o punho, os dedos se flexio- nam automaticamente, para estender os dedos nesta posição, é necessária uma ação voluntária. Além disso, nesta posição de extensão do punho, os flexores possuem a sua má- xima eficácia, porque os tendões flexo- res são relativamente mais curtos que na posição de alinhamento do punho e, con- seqüentemente, em flexão do punho: a força dos fiexores dos dedos, medida com o dinamômetro é, em fiexão do punho, a quarta parte da que desenvolvem em ex- tensão. - os músculos flexores do punho são si- nérgicos dos extensores dos dedos (b): quando se flexiona o punho, a extensão da primeira falange dos dedos é auto- mática; é necessária uma ação voluntá- ria para flexionar os dedos sobre a pal- ma da mão e esta flexão carece de for- ça. Assim sendo, a tensão dos flexores dos dedos limita a flexão do punho; é suficiente estender os dedos para que a flexão do punho aumente 10°. Este delicado equilíbrio muscular pode- se alterar com facilidade: a deformação de uma fratura de Pouteau-Colles sem reduzir não só determina uma mudança de orientação da glenóide antebraquial, mas também provoca um alongamento relativo dos extensores do punho, de mo- do que repercute na eficácia dos flexores dos dedos. A posição funcional de punho (fig. 4-73) se corresponde com a máxima eficácia dos mús- culos motores dos dedos, e sobretudo, dos flexo- res. Esta posição funcional é definida como: - leve extensão do punho, de 40-45°; -leve adução (desvio u1nar), de 15°. Nesta posição do punho é que a mão se adapta melhor para realizar apreensão. 1. MEMBRO SUPERIOR 173 I . Fig.4-72 Fig.4-73 174 FISIOLOGIA ARTICULAR A SUA FUNÇAO A mão do homem é uma ferramenta mara- vilhosa, capaz de executar inumeráveis acões graças à sua função principal: a preensão. E "o instrumento dos instrumentos" como disse Aris- tóteles. Está dotada de uma grande riqueza funcio- nal que lhe proporciona uma superabundância de possibilidades nas posições, nos movimentos e nas ações. Esta função de preensão pode-se encontrar desde a pinça do caranguejo à mão do símio, mas em nenhum outro ser, que não seja o ho- mem, alcança este grau de perfeição. Isto se de- ve à posição peculiar que apresenta o polegar de poder opor-se a todos os outros dedos. Em ma- cacos avançados, o polegar é oponente, mas a amplitude desta oposição jamais alcança a do polegar humano. Ao mesmo tempo, a ausência de especiali- zação da mão do homem é um fator de adapta- bilidade e de criatividade. Do ponto de vista fisiológico, a mão repre- senta a "extremidade realizadora" do membro superior que constitui o seu suporte e lhe permi- te adotar a posição mais favorável para uma ação determinada. Porém, a mão não é unica- mente um órgão de execução, também é um re- ceptor funcional extremamente sensível e preci- so, cujos dados são imprescindíveis para a sua própria ação. Por último, graças ao conheci- mento da espessura e das distâncias que lhe proporciona o córtex cerebral, a mão é a educa- dora da visão, permitindo-lhe controlar e inter- pretar as informações: sem ela a nossa visão do mundo seria plana e sem relevo. Ela constitui a base deste sentido tão específico que é a este- reognosia, conhecimento do relevo, da forma, da espessura, em resumo, do espaço. Também é a educadora do cérebro devido às noções de su- perfície, peso e temperatura. É capaz, por si mesma, de reconhecer um objeto, sem sequer re- correr à vista. I Portanto, a mão constitui junto com o cére- bro um par funcional indissociável, onde cada termo reage logicamente sobre o outro, e é gra- çasà proximidade desta inter-relação que o ho- mem pode modificar a natureza segundo os seus desígnios e ser superior a todas as espécies terres- tres viventes. ------~-----------~--------~- --------- Renato Lira Texto digitado f Renato Lira Texto digitado Capitulo 3 Prono??o - Supino??o 1. MEMBRO SUPERIOR 175 176 FISIOLOGIA ARTICULAR TOPOGRAFIA DA MÃO Podemos estudara topografia das duas superfícies da mão: a palmar e a dorsal. A superfície palmar (fig. 5-1), ou anterior da mão, consta de duas partes possíveis de descrever: a palma e a superfície palmar dos dedos. Assim sendo, a palma da mão inclui três partes: - no centro, a palma propriamente dita (1), o "oco" da mão, que corresponde à cela palmar média com os tendões flexores, os vasos e os nervos, limitada por duas pregas transversais: a prega palmar inferior (2), que se correspon- de com as três últimas articulações metacar- pofalangeanas e a prega palmar média (3), que corresponde, por fora, com a metacarpo- falangeana do dedo indicador; - por fora, uma zona especialmente convexa, car- nosa, contígua à base do polegar, a eminência tenar (4), limitada por dentro pela prega palmar superior (5), também denominada prega de opo- sição do polegar, inclui os músculos tenares que são motores intrínsecos do polegar; na sua por- ção superior, a palpação indica a proeminência óssea dura do tubérculo do escafóide (1); - por dentro, a eminência hipotenar (7), menos proeminente que a anterior, inclui os músculos hipotenares, que são motores intrínsecos do dedo mínimo: a palpação permite localizar na sua parte superior a proeminência dura do pisi- forme (8), lugar de inserção da corda tendínea do ulnar anterior. Acima da palma, o punho se corresponde com o maciço do carpo, a articulação rádio-carpeana no nível da prega de fiexão do punho (9), sobre o qual finalizam perpendicularmente o tendão do palmar maior (10); que limita por dentro o canal do pulso (11), o ligamento anu- lar anterior do carpo que forma um septo transversal nesta zona e a porção superior da palma. A supeifície palmar dos dedos tem origem na pre- ga dígito-palmar (12) localizada de 10 a 15 mm abaixo da metacarpofalangeana. Os quatro últimos dedos estão separados entre si pela segunda, terceira e quarta comis- suras (13), menos profundas que na superfície dorsal. A prega defiexão da inteifalangena proximal (14) é dupla e se situa um pouco acima da sua articulação; separa a primeirafalange (15) da segunda (16); a prega de fiexão da inteifalangeana distal é simples (17), também locali- zada um pouco acima da sua articulação; constitui o li- mite superior da polpa do dedo (18), superfície anterior da terceira falange. O polegar, situado na base do lado externo da mão está separado pela primeira comissura (19), ampla e profunda; está unido à eminência tenar mediante duas pregas de fiexão do polegar com a palma (20) que estão ao redor da sua metacarpofalangeana; a primeirafalange (21) está separada da polpa do polegar (22), superfície anterior da segunda falange, pela prega da inteifalangeana (23) localizada um pouco acima da sua articulação. A superfície dorsal (fig. 5-2), ou posterior da mão, também compreende duas regiões, a superfície dorsal da mão e a dos dedos. A supeifície dorsal da mão, coberta com uma pele fina e móvel, percorrida pela rede venosa que drena todo o sangue da mão e dos dedos, elevada pelos tendões ex- tensores (24), está limitada por baixo por três eminências duras e arredondadas, qu·e correspondem às cabeças dos metacarpeanos (25), e pelas três comissuras interdigitais (26) profundamente marcadas na superfície dorsal. Por dentro, o bordo ulnar da mão (27) está acol- choado pelo adutor do dedo mínimo. Por fora (fig. 5-3), se localizam a primeira comis- sura (19) e a tabaqueira anatômica (28); esta última li- geiramente côncava, situada na união do punho com o polegar, está limitada pelos tendões do abdutor longo adosado ao do extensor curto (29) e pelo do extenso r longo do polegar (30); no fundo da tabaqueira anatômi- ca se situam de cima para baixo o processo estilóide ra- dial, a articulação trapézio-metacarpeana (31) e a arté- ria radial; os tendões convergem sobre a superfície dor- sal do primeiro metacarpeano (32) no nível da metacar- pofalangeana do polegar (33). Na parte interna da superfície dorsal do punho apa- rece, só na pronação, a proeminência dura e arredonda- da da cabeça ulnar (34). A superfície dorsal dos dedos está indicada pelas pregas de extensão da inteifalangeana proximal (35) que correspondem à sua articulação. A última e terceira falange contém a unha, inserida no limbo periungueal (37). A zona situada entre a unha e as pregas da interfa- langeana distal cobre a matriz ungueal (38). A topografia funcional (fig. 5-4) permite ~ividir a mão em três partes dependendo da sua utilização: O polegar (I) que representa por si mesmo quase todas as funções da mão, graças à sua propriedade de oposição em relação aos outros dedos; O dedo indicador e o médio (lI) que constituem junto com o polegar as preensões de precisão, as pinças do polegar com os dedos, bidigitais ou tridigitais; O anular e o dedo mínimo (III) que, com o res- to da mão, são indispensáveis para as preensões palma- res, porque bloqueiam as preensões dos cabos das fer- ramentas pelo lado ulnar, mantendo, dessa forma, a fir- meza do punho. Fig.5-1 Fig.5-2 1. MEMBRO SUPERIOR 177 Fig.5-4 178 FISIOLOGIA ARTICULAR ARQUITETURA DA MÃO Para pegar objetos a mão deve adaptar a sua forma. Numa superfície plana, um vidro por exemplo (fig. 5-5), a mão se estende e se aplai- na, entrando em contato (fig. 5-6) com a eminên- cia tenar (1), a eminência hipotenar (2), a cabeça dos metacarpeanos (3) e a superfície palmar das falanges (4). Só a parte inferior-externa da palma permanece à distância. Quando desejamos pegar um objeto volu- moso, a mão se escava e se formam uns arcos orientados em três direções: - no sentido transversal (fig. 5-7): o arco do carpo XOY que corresponde à conca- vidade do maciço do carpo. Prolonga-se para baixo mediante o arco metacarpea- DO, no qual se alinham as cabeças meta- carpeanas. O eixo longitudinal do canal do carpo passa pelo semilunar, o osso ca- pitato e o terceiro metacarpo; - no sentido longitudinal (figs. 5-7 e 5-8): os arcos carpometacarpofalangeanos que assumem uma posição radiada do maciço do carpo e estão constituídos, em cada dedo, pelo metacarpeano e as falan- ges correspondentes. A concavidade des- tes arcos se orienta para a frente da palma e a chave da abóbada se localiza na arti- culação metacarpofalangeana: um dese- quilíbrio muscular neste ponto provoca uma ruptura da curva (ver figo 5-98, b, pág. 215). Os dois arcos longitudinais mais importantes são: • arco do dedo médio OD3 (fig. 5-7), arco axial, porque prolonga o eixo do canal do carpo, e especialmente • arco do dedo indicador OD2 (fig. 5-8) que é o que se opõe com maior fre· qüência ao do polegar; - no sentido oblíquo (figs. 5-7, 5-8 e 5-9). os arcos de oposição do polegar com os outros quatro dedos: • o mais importante destes arcos oblí- quos une é opõe o polegar e o dedo in- dicador: D1-D2 (fig. 5-8); • mais extremo dos arcos de oposição passa pelo polegar e o dedo mínimo: D -D (figs. 5-7 5-8 e 5-9)1 s ' . Em conjunto, quando a mão se "escava", forma um canal de concavidade anterior, cujas margens estão limitadas por três pontos: - o polegar (D), que constitui por si mes- mo a superfície externa; - o dedo indicador (D2) e o dedo mínimo (Ds)' que limitam a superfície interna. Os quatro arcos oblíquos de oposição se localizam entre ambas as superfícies. A direção geral, oblíqua, deste canal pal- mar - representado pela seta enorme que man- tém a mão (figs. 5-8 e 5-9) - está cruzada com re- lação aos arcos de oposição: se localiza em uma linha que se estende da base da eminência hipo- tenar (X) (fig. 5-7) - onde podemos palpar o pi- siforme - à cabeça do segundo metacarpo (2) (fig. 5-7). Esta direção se obtém, na palma da mão, pela parte média da prega de oposição do polegar ("linha da vida"). Também é a direção que segue um objeto cilíndrico segurado com to- da a mão, como por exemplo o cabo de um ins- trumento. Fig.5-7 Fig.5-9 1. MEMBRO SUPERIOR 179 2 Fig.5-6 180 FISIOLOGIA ARTICULAR ARQUITETURA DA MÃO (continuação) Quando os dedos se separam, vollmtaria- mente (fig. 5-10), o eixo de cada um deles con- vergecom a base da eminência tenar, num ponto que cOlTesponde aproximadamente ao tubérculo do escafóide, fácil de palpar. Na mão, os movi- mentos dos dedos no plano frontal normalmente não se realizam com relação ao plano de simetria do corpo (movimentos de adução-abdução), mas sim em relação ao eixo da mão, constituído pelo terceiro metacarpeano e o dedo médio; assim sendo nos referimos aos movimentos de separa- ção (fig. 5-10) e de aproximação (fig. 5-12) dos dedos. Durante estes movimentos, o dedo médio permanece praticamente imóvel. Porém, é possí- vel que realize movimentos voluntários para fora (verdadeira abdução, em relação ao plano de si- metria) e para dentro (autêntica adução). Quando se aproximam voluntariamente os dedos uns dos outros (fig. 5-12), os eixos dos de- dos não são paralelos, mas convergem num pon- to bastante afastado, que se localiza fora da ex- tremidade da mão. Isto se deve ao fato de que os dedos não são cilíndricos, sendo de calibre de- crescente da base até a ponta. Quando permitimos que os dedos assu- mam uma posição natural (fig. 5-11) - posi- ção a partir da qual podemos realizar os movi- mentos de separação ou aproximação - ficam ligeiramente afastados entre si, mas os seus ei- xos não convergem todos num único ponto. No exemplo que se expõe, existe um paralelismo entre os três últimos dedos e uma divergência entre os três primeiros, sempre considerando que o médio constitui o eixo da mão e serve de zona de transição. Quando fechamos a mão com as articula- ções interfalangeanas distais estendidas (fig. 5-13), os eixos das duas últimas falanges dos quatro últimos dedos e o eixo do polegar, me- nos a sua última falange, convergem num ponto situado na parte inferior do canal do pul- so. Observe-se que desta vez, o eixo longitudi- nal é o do dedo indicador, enquanto os eixos dos três últimos dedos são mais oblíquos quanto mais se afastam do dedo indicador. Mais adiante poderemos ver (pág. 198) a uti- lidade e o motivo desta flexão oblíqua dos dedos. Fig.5-11 \.' ''-.~ \ \ -~ \ Fig.5-10 Fig.5-13 Fig.5-12 1. ':'IEMBRO SUPERIOR 181 182 FISIOLOGIA ARTICULAR o MACIÇO DO CARPO o maciço do carpo constitui um corredor de concavidade anteri07; convertida em canal pelo ligamento anular anterior do carpo, que se estende de lado a lado do corredor. Esta disposição em forma de sulco ou canal pode ser apreciada com bastante evidência quando observamos o esqueleto da mão, com o punho em hiperextensão (fig. 5-14). Nesta posi- ção, a direção do olhar se encontra exatamente no eixo do canal do carpo, cujas margens pode- mos distinguir facilmente: - por fora: o tubérculo do escafóide (1) e a crista do trapézio; - por dentro: o pisiforme (3) e o processo unciforme do osso hamato (4) (estas anotações levam a mesma numeração nas figuras seguintes). Uma radiografia especial permite tanto ob- servar o mesmo aspecto em sulco quanto encon- trar as mesmas referências. Dois cortes horizontais confirmam esta for- ma em sulco: - o primeiro (fig. 5-15) passa pela fileira sllperi07; nível A (fig. 5-13): se distin- guem, de fora para dentro, o escafóide (1), a cabeça do osso capitato (5), limi- tada pelos dois comas do semilunar, o piramidal (7) e o pisiforme (3); - o segundo (fig. 5-16) passa pela fileira inferior, nível B (fig. 5-13): de fora para dentro se localizam o trapézio (2), o tra- pezóide (6), o osso capitato (5) e o osso hamato (4). Nestes dois cortes, o ligamento anular ante- rior do carpo está representado por uma linha tracejada. Durante os movimentos de "escavação da palma da mão", a concavidade do túnel do car- po se aumenta ligeiramente graças aos pequenos movimentos de deslizamento nas artródias que se localizam entre os diferentes ossos do carpo. A cavidade glenóide do escafóide se desliza so- bre a convexidade da cabeça do osso capitato num movimento de "parafuso" para baixo e pa- ra frente; o piramidal e o osso ):1amatose deslo- cam simetricamente para frente, e especialmen- te o trapezóide e o trapézio se deslizam sobre as duas superfícies articulares inferiores do esca- fóide: o trapézio, em particular, percorre para frente e para dentro da superfície articular de forma cilíndrica que se estende até a superfície inferior do tubérculo do escafóide. Os motores destes movimentos são os músculos tenares (se- ta X) e hipotenares (seta Y) cujas inserções su- periores provocam a tensão do ligamento anular (fig. 5-16), de modo que os dois lados se aproxi- mam (representação em pontilhado). No sentido longitudinal, podemos conside- rar que o maciço do carpo (fig. 5-17) está cons- tituído por três colunas (fig. 5-18): - a coluna externa (a) (traços verticais): a mais importante, por se tratar da co- luna do polegar de Destot. Está consti- tuída pelo escafóide, o trapézio e o pri- meiro metacarpo; - a coluna média (b) (traços oblíquos): constituída pelo semilunar, o osso capi- tato e o terceiro metacarpo, e forma, como mencionado anteriormente, o ei- xo da mão; - a coluna interna (c) (traços horizon- tais): desemboca nos dois últimos de- dos. Está constituída pelo pir~midal e o osso hamato, que se articula com o quarto e o quinto metacarpeanos. O pi- siforme se desloca pela frente do pira- midal, de modo que não intervém na transmissão de forças. I 3 Fig.5-17 ~A 3 1. MEMBRO SUPERIOR 183 Fig.5-16 184 FISIOLOGIAARTICliLAR A ESCAVAÇÃO PALMAR A escavação da palma se deve principal- mente aos movimentos dos quatro últimos meta- carpeanos (por enquanto se exclui o primeiro metacarpeano) em relação ao carpo. Estes movi- mentos, realizados nas articulações carpometa- carpeanas, consistem em movimentos de fle- xão-extensão de escassa amplitude, como acontece com todas as artródias. Porém, dita amplitude vai aumentando do segundo ao quin- to metacarpo: - quando a mão está plana, as cabeças dos quatro últimos metacarpeanos es- tão alinhadas numa mesma reta AB (fig. 5-20: mão "em pé"); - quando se torna "oca", a cabeça dos três últimos metacarpeanos "vão para fren- te" (fig. 5-19), quanto mais se aproxima do quinto metacarpeano. Assim as cabe- ças dos metacarpeanos se dispõem ao longo de uma linha curvaA'B (fig. 5-20): o arco transversal metacarpeano. É necessário salientar duas observações: a) a cabeça do segundo metacarpeano B quase não avança: os movimentos de fie- xão-extensão na articulação trapez.óide- segundo metacarpeano são, praticamen- te, inexistentes; b) a cabeça do quinto metacarpeano A, do- tada do movimento mais amplo, se deslo- ca não somente para frente, mas também ligeiramente para fora, até a posição A' . Isto conduz ao estudo da articulação osso hamato-quinto metacarpeano: Trata-se de uma artródia (fig. 5-22) cujassu- perfícies são ligeiramente cilíndricas e cujo eixo XX' apresenta uma dupla obliqüidade. Esta dupla obliqüidade explica os deslocamentos da cabeça do metacarpeano no sentido lateral externo. I) quando se observa a superfície inferior do maciço do carpo (fig. 5-21), o eixo XX' da superfície articular interna (indi- cado com uma cruz) do osso hamato es- tá claramente oblíquo em relação ao plano frontal (traço preto): está oblíquo de fora para dentro e de trás para diante. Qualquer movimento de flexão ao redor deste eixo desloca, logicamente, a cabe- ça do quinto metacarpeano para frente e para fora (direção da seta branca); 2) o eixo XX' desta articulação não é estri- tamente~perpendicular ao eixo diafisário OA do quinto metacarpeano, mas forma um ângulo XOA um pouco menor que o ângulo reto (fig. 5-18). Esta disposição também contribui para deslocar a cabeça do quinto metacarpo para fora, pelo me- canismo de rotação cônica: - quando um segmento OA (fig. 5-23) gi- ra ao redor de um eixo perpendicular YY', o ponto A descreve um círculo de centro 0, incluído no plano P perpendi- cular ao eixo YY' (rotação plana); - após certo grau de rotação, o ponto A se situa em A'; - se este segmento OA gira ao redor de um eixo XX' não perpendicular, já não descreve um círculo, e sim um cone de vértice 0, tangencial ao plano P em re-lação ao segmento OA. Após o mesmo grau de rotação, o ponto A se localiza num ponto A' da base do cone (rotação cônica), e este ponto A' se situa, em re- lação ao plano P, do mesmo lado que o ângulo agudo que formam o eixo XX' e o segmento OA. Se transportarmos esta demonstração geo~ métrica ao esquema da articulação (fig. 5-22), en- tendermos que a cabeça do metacarpeano sai do plano sagital para situar-se ligeiramente para fora. Este movimento do quinto metacarpo para frente e para fora ao mesmo tempo que realiza uma ligeira supinação por rotação longitudinal automática pode ser semelhante a uma oposição em direção ao polegar, participando na oposição simétrica do quinto dedo. 1. MEMBRO SUPERIOR 185 ~XI Fig.5-20 XI X XI Fig.5-21 Fig.5-22 Fig.5-19 186 FISIOLOGIA ARTICULAR AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS As articulações metacarpofalangeanas são de tipo condilar (fig. 5-24). Possuem dois graus de liberdade: - fiexão-extensão, no plano sagital, em tomo do eixo transversal yy'; - desvio lateral, no plano frontal, em tor- no do eixo ântero-posterior xx'. A cabeça do metacarpeano possui uma superfície articular A, o côndilo, convexa em ambos os sentidos e mais extensa e larga pela frente que por trás. A base da primeira falange está "escava- da" por uma superfície B, a cavidade glenóide, côncava em ambos os sentidos, de menor super- fície que a cabeça do metacarpeano. Prolonga-se pela frente mediante uma superfície de "apoio": afibrocartilagem glenóide (2), pequena lingüeta fibrosa inserida no bordo anterior da base falan- geana, com uma pequena incisura (3) que lhe serve de charneira. De fato (fig. 5-25), na extensão (a), a super- fície profunda e cartilaginosa da fibrocartilagem se encontra em contato com a cabeça do meta- carpo. Enquanto na flexão (b), a fibrocartilagem ultrapassa a cabeça e, pivotando em tomo da sua chameira, desliza sobre a superfície anterior do metacarpeano, o que é possível graças à sua flexibilidade. A fibrocartilagem permite conci- liar dois imperativos aparentemente contraditó- rios: uma superfície de máximo contato entre as duas extremidades ósseas e a ausência de pico, limitando o movimento. A liberdade de movi- mento da flexão-extensão é possível graças à ponta arredondada posterior (4) e anterior (5) da cápsula. A profImdidade da ponta arredondada anterior é indispensável para o deslizamento da fibrocartilagem gle.nóide. Na parte posterior da base falangeana, se insere a lingüeta profunda (6) do tendão extensor. A cada lado da articulação se estendem dois tipos de ligamentos: - um ligamento metacarpoglenóide (ver mais adiante) que controla os movimen- tos da fibrocartilagem glenóide; - um ligamento lateral, mostrado num corte (1) da figura 5-24. Os dois liga- mentos laterais mantêm as superfícies articulares em contato e limitam os mo- vimentos. Na cabeça metacarpeana (fig. 5-26, segun- do Dubousset), a inserção proximal A do liga- mento lateral não se situa no centro da curva ar- ticular, estando claramente por trás; por outro lado, existe toda uma série de centros de Cllrra que formam uma espiral, o que indica a variação do raio de curva da cabeça metacarpeana. Deste modo, a distância entre o ponto de inserção pro- ximal A e o ponto de inserção distal B na pri- meira falange em extensão e B' em flexão passa de 27 mm a 34 mm. Por conseguinte, o ligamen- to lateral se distende na extensão e está tenso na jlexão. 2 3 Fig.5-24 6 A X' 5 Fig.5-26 6 4 1. MEMBRO SUPERlOR 187 Fig. 5-25 a 188 FISIOLOGIA ARTICULAR AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS ! (continuação) r Assim sendo, é fácil entender (fig. 5-27, corte frontal) que na extensão (a) a distensão dos ligamentos laterais permite os movimentos de lateralidade (b): um está tenso, enquanto o outro se distende. Por isso, a estabilização da metacarpofa- langeana se mantém na flexão pelos ligamentos laterais e na extensão pelos músculos interós- seos. Outra conseqüência importante desta con- sideração é que as metacarpofalangeanas ja- mais devem imobilizar-se em extensão a não ser em caso de rigidez quase impossível de re- cuperar: a distensão dos ligamentos laterais permite a sua retração, algo que não pode acon- tecer na flexão. A forma das cabeças metacarpeanas (figs. 5-28, 5-29, 5-30 e 5-31, cabeças dos metacar- peanos lI, IlI, IV e V do lado direito) e a longi- tude dos ligamentos, bem como a sua direção, desempenham um papel essencial, por uma par- te, na flexão oblíqua dos dedos (ver mais adian- te) e, por outra parte, segundo R. Tubiana, no mecanismo das inclinações ulnares durante o seu processo reumático. A cabeça do II metacarpeano (fig. 5-28) é claramente as simétrica devido à sua grande su- perfície posterior-interna e ao seu aplainamento externo; o ligamento lateral interno é mais gros- so e mais longo que o externo cuja inserção é mais posterior. A cabeça do III metacarpeano (fig. 5-29) possui uma assimetria similar à do II metacarpo. embora menos acentuada; os seus ligamentos possuem características idênticas. A cabeça do IV metacarpeano (fig. 5-30) é mais simétrica com superfícies dorsais iguais: os ligamentos laterais são de espessura e obliqüida- de idênticos, sendo o externo ligeiramente mais longo. A cabeça do V metacarpeano (fig. 5-31) possui uma assimetria inversa à do dedo indica- dor e à do médio; os ligamentos laterais se apre- sentam como os da IV cabeça. Fig.5-27 Fig.5-28 Fig.5-30 1. MEMBRO SUPERIOR 189 Fig.5-29 Fig.5-31 190 FISIOLOGIA ARTICULAR o APARELHO FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS Os ligamentos laterais da metacarpofalangea- na se integram num aparelho fibroso mais com- plexo que levanta e "centra" os tendões extensores e ftexores. Numa vista em perspectiva posterior, superior e lateral da articulação (fig. 5-32), podemos observar os seguintes tendões: - o extensor comum (1), que, na superfície dorsal da cápsula dirige a sua expansão profunda (a) para a base da primeira falan- ge na qual se insere; a seguir, o tendão se divide numafaixa média (b) e duas faixas laterais (c), que recebem as expansões dos interósseos (não representadas nas figu- ras). Pouco antes da separação da expan- são profunda, podemos observar como se desprendem das margens laterais do exten- sor umas faixas sagitais (d), supostamente transparentes nos desenhos, que atra- vessam as margens laterais da articulação para inserir-se no ligamento transverso in- tercarpeano (4); deste modo, o tendão ex- tensor se mantém no eixo sobre a superfí- cie dorsal convexa da cabeça metacarpea- na, no percurso da ftexão da articulação; - os flexores, o profundo (2) e o superficial (3), se introduzem na polia metacarpeana (5) que tem origem nafibrocartilagem gle- nóide (5) e se prolonga (5) sobre a superfí- cie palmar da primeira falange: neste ponto, o ftexor superficial se divide em suas duas faixas (3') antes que o tendão do ftexor pro- fundo o perfure (2). Também podemos observar o aparelho cápsu- lo-ligamentar: - a cápsula articular (7) reforçada por: • ligamento lateral que se insere no tubér- culo lateral (8) da cabeça metacarpeana, deslocada por trás da linha dos centros de curva (ver antes) e se divide em três partes: - um fascículo metacarpofalangeano (9) oblí- quo para baixo e para frente em direção à ba- se da primeira falange; mencionado anterior- mente; - o fascículo metacarpoglenóide (10), que se dirige para frente para inserir-se nas margens da fibrocartilagem glenóide (6) que o adapta contra a cabeça de metacarpeano de modo a manter a sua estabilidade; - o fascículo falangoglenóide (11) mais fino, que realiza a "chamada" da fibrocartilagem glenóide durante a extensão; • ligamento transverso intermetacarpea- no (4) se insere nas margens adjacentes das fibrocartilagens glenóides vizinhas, de tal forma que as suas fibras se estendem de um ládo ao outro da mão, no nível das ar- ticulações metacarpofalangeanas com as que delinlitam túneis osteofibrosos por cu- jo interior passam os tendões dos interós- seos (sem representaçãonas figuras); pela frente do ligamento transverso se desliza o tendão do músculo lumbrical (sem repre- sentação nas figuras). Deste modo, a polia metacarpeana (5), que se insere nas superfícies laterais da fibrocartilagem, fica literalmente suspensa na cabeça metacarpeana me- diante o fascículo metacarpoglenóideo e a fibrocarti- lagem glenóide. Este dispositivo desempenha um papel muito importante durante a flexão da metacarpofalan- geana: - em estado normal (fig. 5-33), a polia, cujas fibras se '·arregaçam" distalmente, transmite todo o "componente de decolagem" (seta) à cabeça do metacarpeano, através do fascícu- lo glenóide: os tendões ftexores permane- cem aderidos ao esqueleto e a base falangea- na fica estável; - em estado patológico (fig. 5-34), quando os fascículos do ligamento lateral se distendem até destruir-se por um processo reumático, o "componente de decolagem" (seta), provo- cado pela tração dos ftexores, já não se exer- ce sobre a cabeça do metacarpeano, mas sim sobre a base da primeira falange que se luxa anteriormente e para cima, de modo que pro- voca uma proeminência acentuada da cabe- ça do metacarpeano; - a correção de tal situação (fig. 5-35) pode- se conseguir, em certa medida, mediante uma remoção da parte proximal da polia metacarpeana, mas em detrimento da eficá- cia dos ftexores. Fig.5-33 M Fig.5-35 1. MEMBRO SUPERIOR 191 2 Fig.5-34 ]92 FISIOLOGIA ARTICULAR o APARELHO FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS (continuação) Os tendões extensores comuns (fig. 5-36) que convergem na superfície dorsal do punho são extremamente solicitados para dentro (se- tas brancas) do bordo ulnar, devido ao "ângulo de distração" formado entre o metacarpeano e a primeira falange, mais acentuado no caso do dedo mínimo (14°) e do anular (13°) que no ca- so do dedo indicador (8°) e especialmente do médio (4°). Unicamente a faixa sagital do ex- tensor, situada no bordo radial, se opõe a este componente de luxação ulnar do tendão exten- sor sobre a superfície dorsal convexa da cabe- ça do metacarpeano. No curso de um processo reumático (fig. 5-37, vista em corte das cabeças metacarpea- nas), as lesões degenerativas destroem não so- mente os ligamentos laterais (10), o que "de- sengancha" a placa palmar (6) ou fibrocartila- gem glenóide na qual se insere a polia meta- carpeana (5) que inclui os flexores profundo (2) e superficial (3), mas também distendem ou despegam a faixa sagital (d) do bordo ra- dial, permitindo assim o deslocamento do ten- dão extensor (1) do bordo ulnar e a sua "luxa- ção" nos "vales" intermetacarpeanos. Em con- dições normais, este espaço intermetacarpeano só contêm os tendões dos interósseos (12) pe- la frente do ligamento intermetacarpeano (4), enquanto o tendão do lumbrical (13) se locali- za por trás. Fig.5-36 1. MEj\1BRO SUPERIOR 193 Fig.5-37 194 FISIOLOGIA ARTICULAR A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS A amplitude da flexão (fig. 5-38) é aproxi- madamente de 90°; todavia, é necessário ressal- tar que, embora alcance os 90°justos no caso do dedo indicador, aumenta progressivamente até o quinto dedo. Além disso, a flexão isolada de um dedo (neste caso o dedo médio) está limitada pe- la tensão do ligamento palmar interdigital. A amplitude da extensão ativa varia em cada indivíduo: pode atingir de 30 a 40° (fig. 5- 40). A extensão passiva pode atingir quase os 90° em indivíduos com uma grande lassidão li- gamentar (fig. 5-41). De todos os dedos (exceto o polegar), o dedo indicador é o que possui (fig. 5-42) a maior amplitude de movimento em direção la- teral (30°) e, como é fácil movê-l o de forma isolada, podemos nos referir à abdução (A) e adução (B). O dedo indicador deve a sua deno- minação, índice = indicador, à esta mobilida- de privilegiada. Combinando movimentos em diferentes graus (fig. 5-43) de abdução (A)-adução (B) e de extensão (C)-flexão (D), o dedo indicador pode realizar movimentos de circundução. Estes movimentos se limitam ao interior do cone de circundução definido pela sua base (ACBD) e o seu vértice (articulação metacarpofalangeana). Este cone está achatado transversalmente devido à maior amplitude dos movimentos de flexão- extensão. O seu eixo (seta branca) representa a posição de equiltbrio - tamb~m denominada funcional - da articulação metacarpofalangeana do dedo indicador. As articulações de tipo condilar não pos- suem normalmente p terceiro grau de liberdade (rotação longitudinal). É o caso das articulações metacarpofalangeanas dos quatro últimos dedos que não possuem rotação longitudinal ativa. Contudo, a laxitude ligamentar permite cer- ta amplitude de rotação axial passiva. A sua amplitude é de 60° aproximadamente (Roud). É necessário ressaltar que no caso do dedo indicador, a amplitude da rotação axial passiva interna - ou pronação - é muito maior (45°) que a amplitude da rotação axial externa - supinação - quase nula. Se não possuem movimento de rotação longitudinal ativa individualizada, as metacar- pofalangeanas possuem, porém, devido à assi- metria do côndilo metacarpeano e da desigual- dade de tensão e de comprimento dos ligamen- tos laterais, um movimento de rotação longi- tudinal automática no sentido da supinação. Este movimento cujo mecanismo é idêntico ao da interfalangeana do polegar é mais acentuado quanto mais interno seja o dedo, de modo que é máximo no caso do dedo mínimo onde se in- tegra no movimento de oposição simétrica ao do polegar. --------. -----.-- Fig.5-38 Fig.5-40 1. MEMBRO SUPERIOR 195 I Fig.5-42 Fig.5-41 Fig.5-43 ----------~ ----- ---------- s 196 FISIOLOGIA ARTICULAR ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS I·· As articulações interfalangeanas são do tipo troclear: possuem só um grau de liber- dade: - a cabeça da falange (fig. 5-44 e figo5-45, A) tem a forma de uma polia e possui só um eixo XX', transversal, em tomo do qual se realizam os movimentos de fie- xão-extensão, no plano sagital; - a base da falange distal (B), que lhe corresponde (fig. 5-45), está escavada por duas pequenas cavidades glenóides que se encaixam sobre as duas superfí- cies articulares da tróclea. A crista rom- ba que separa ambas as cavidades gle- nóides se aloja na garganta da polia. Como no caso das articulações metacar- pofalangeanas, e pelas mesmas razões me- cânicas, existe uma fibrocartilagem glenóide (2) (os números cOlTespondem aos da figura 5-24). Em fiexão (fig. 5-46), a fibrocartilagem gle- nóide desliza sobre a superfície anterior da fa- lange proximal. Em vista lateral (fig. 5-47), podemos distin- guir, além dos ligamentos laterais (1), as expan- sões do tendão extensor (6) e os ligamentos fa- langoglenóides (7). É necessário ressaltar que os ligamentos la- terais estão mais tensos na fiexão que no caso das articulações metacarpofalangeanas: de fato (fig. 5-45), a polia falangeana (A) se alarga no- tavelmente para frente, de modo que a tensão dos ligamentos aumenta e proporciona um apoio mais amplo para a base da falange distal. Portan- to, os movimentos de lateralidade não existem no caso da fiexão. Também estão tensos durante a máxima ex- tensão que representa uma posição de estabilida- de lateral absoluta. Contudo, estão distendidos na posição de fiexão intermédia, que jamais deye ser uma posição de imobilização porque favore- ceria a sua retração e uma rigidez posterior. Outro fator de rigidez em fiexão está cons- tituído pela retração dos "freios da extensão". O autores anglo-saxões recentemente decreve- ram estas estruturas nas articulações interfalan- geanas proximais (fig. 5-48, vista palmar exter- na e superior de uma articulação interfalangeana proximal) com a denominação ,de "check rein li- gaments": estão constituídas por um fascículo de fibras longitudinais (8) localizado na superfí- cie anterior da placa palmar (2) em um e noutro lado dos tendões fiexores profundo (11) e super- ficial (12), entre a 'inserção da polia da segunda falange (10) e a da primeira (sem represen- tação), formando o limite lateral das fibras dia- gonais(9) da polia da interfalangeana proximal. Estes freios da extensão impedem a hiperexten- são da interfalangeana proximal e, pela sua re- tração, são uma causa primordial da rigidez em ftexão; de modo que devem remover-se cirurgi- camente. Em resumo, as interfalangeanas, especial- mente as proximais, devem ser imobilizadas nu- ma posição próxima à extensão. A amplitude dafiexão nas articulações inter- falangeanas proximais (fig. 5-49) ultrapassa os 90°: por conseguinte. F e F formam entre si umI _ ângulo agudo (neste esquema, as falanges não se \"êmexatamente de perfil, o qual faz com que os ângulos pareçam obtusos). Como no caso das metacarpofalangeanas, esta amplitude de fiexão aumenta progressivamente do segundo ao quin- to dedo, para alcançar os 135° no dedo mínimo. A amplitude da fiexão nas articulações in- terfalangeanas distais (fig. 5-50) é ligeiramente inferior a 90° (o ângulo entre F2 e F3 permanece obtuso). Como no caso anterior, esta amplitude aumenta do segundo ao quinto dedos, para atin- gir os 90° no dedo mínimo. A amplitude da extensão ativa (fig.j-51) nas articulações interfalangeanas é: - inexistente nas articulações proximais (P); - inexistente ou muito pequena (5°) nas articulações distais (D). 1. MEMBRO SUPERIOR 197 Fig.5-45 Fig.5-49 9 t P D Fig.5-46 • XI Fig.5-47 1 2 7 8 Fig.5-48 12 11 Fig.5-50 198 FISIOLOGIA ARTICULAR ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS (continuação) r Com relação à extensão passiva (fig. 5- 52), esta é inexistente na interfalangeana pro- ximal (P), mas bastante acentuada (30°) na in- terfalangeana distal (D). As articulações interfalangeanas possuem só um grau de liberdade, nesse caso não exis- tem movimentos ativos de lateralidade. Se existem alguns movimentos passivos de late- ralidade no caso da interfalangeana distal (fig. 5-53), pelo contrário, a interfalangeana proximal é bastante estável lateralmente, o que explica o transtorno que traz uma ruptura de um ligamento lateral neste nível. Um ponto importante é o plano no qual se realiza a flexão dos quatro últimos dedos (fig. 5-54): - o dedo indicador se flexiona diretamente no plano sagital (P), em direção à base da eminência tenar (seta branca grande); - porém, vimos anteriormente (ver figo 5-13) que, na flexão dos dedos, os seus eixos convergem num ponto situado na parte inferior do canal do pulso. Portan- to, para que isto aconteça, é necessário que os três últimos dedos se flexionem, não como o dedo indicador no plano sa- gital, mas sim numa direção mais oblí- qua quanto mais interno seja o dedo; - com relação ao dedo mínimo, esta dire- cão, oblíqua ao máximo, está representa- da no esquema pela seta branca pequena. A importância deste tipo de flexão "oblí- qua" é que permite que os dedos mais internos realizem o movimento de oposição ao polegar do mesmo modo que o faz o dedo indicador. Como é possível esta flexão "oblíqua"? Um esquema simples (fig. 5-55) e um encaixe (ver no final deste volume) facilitam a com- preensão: - uma tira estreita de papelão (a) repre- senta a cadeia articular de um dedo: o metacarpeano (M) e as três falanges (FI' F2 e F); - se a dobra, que representa o eixo de fle- xão de uma interfalangeana, é perpendi- cular (xx') ao eixo longitudinal da tira, a falange vai se flexionar diretamente no plano sagital (d) e vai cobrir exatamen- te a falange suprajacente; - pelo contrário, se a dobra é levemente oblíqua para dentro (xx'), a flexão já não se produz no plano sagital e a fa- lange flexionada (b) desdobrará para fora a falange suprajacente; - basta uma leve obliqüidade do eixo de flexão, já que se multiplica por três (xx', yy', zz'), para que o dedo míni- mo totalmente flexionado (c), sua obli- qüidade lhe permita atingir o polegar: - esta demonstração é válida, em graus decrescentes, para o anular e o médio. Na realidade, os eixos de flexão das meta- carpofalangeanas e das interfalangeanas não são fixos nem imutáveis: perpendiculares em máxima extensão, se tornam progressivamente oblíquos no decurso da flexão; assim, dizemos que são evolutivos. A evolução dos eixos de flexão das articu- lações dos dedos se deve à assimetria das su- perfícies articulares metacarpeanas (ver aci- ma) e falangeanas e à tensão diferencial dos li- gamentos laterais, como teremos ocasião de comprovar no caso da metacarpofalangeana e interfalangeana do polegar. Fig.5-52 Fig.5-53 I - \' ---n .111 /"" Fig.5-54 y z· M a y' z' b Fig.5-55 c ~...•............ ,: : :F~1\ x@lx. d I 200 FISIOLOGIA ARTICULAR SULCOS OU CANAIS E BAINHAS DOS TENDÕES FLEXORES Para percorrer as porções côncavas da sua trajetó- ria, os tendões devem estar ligados ao esqueleto median- te sulcos ou canais fibrosos, porque senão, a tensão pro- vocaria que seguissem a corda do arco do esqueleto, de modo que seriam ineficazes devido ao relativo alonga- mento em relação ao esqueleto. Entre as duas margens do canal do carpo (fig. 5- 56) se estende uma faixa fibrosa, o ligamento anular anterior do carpo (1). Assim, se constitui um primeiro sulco osteofibroso, o canal do carpo (fig. 5-57, segundo Rouviere) pelo qual passam (seta branca) todos os ten- dões flexores que se dirigem do antebraço à mão. No corte do canal do carpo (fig. 5-58), podemos observar os dois planos dos tendões flexores superficiais (2) e profundos (3), bem como o tendão do flexor longo próprio do polegar (4). O tendão do palmar maior (5) passa por um compartimento especial do canal do carpo para inserir-se no segundo metacarpeano (fig. 5-57). O nervo mediano (6) também passa pelo canal, onde, em determinadas circunstâncias, pode ficar comprimido, o qual não acontece com freqÜência no caso do nervo ul- nar (7) que, acompanhado da sua artéria, passa por um canal especial, o canal de Guyon, pela frente do liga- mento anular. Os tendões flexores estão mantidos por três polias fibrosas em cada dedo (figs. 5-56 e 5-59): a primeira (8) ligeiramente acima da cabeça do metacarpeano, a segun- da (9) na superfície anterior da primeira falange, a tercei- ra (10) na superfície anterior da segunda falange. Desse modo, com a superfície anterior ligeiramente côncava das falanges, as polias constituem (destaque na figo5-56) autênticos canais osteofibrosos. Entre estes três canais, os tendões estão mantidos por um sistema de fibras tan- to oblíquas quanto cruzadas (11) que passam "em fan- farra", diante da articulação metacarpofalangeana e in- terfalangeana proximal. As bainhas serosas permitem o deslizamento dos tendões no interior dos sulcos, como se fossem as bainhas dos cabos de freio. As bainhas digitais têm a estrutura mais simples no caso dos três dedos médios (fig. 5-60, esquema sim- plificado): o tendão (para simplificar só está representa- do um deles) está envolvido numa bainha serosa (uma parte do qual foi removida no esquema) constituído por duas lâminas: uma lâmina "visceral" (a) em contato com o tendão e uma lâmina "parietal" que recobre a su- perfície profunda do sulco osteofibroso. Entre estas duas lâminas se encontra uma cavidade virtual fechada (c), porque as duas lâminas continuam uma com a outra for- mando dois recessos peritendinosos (d); o corte A cor- responde a esta disposição simples. Quando o tendão se desloca no seu sulco, a lâmina visceral, lubrificada por uma pequena quantidade de líquido sinovial, desliza so- bre a lâmina parietal (semelhante ao movimento da cor- rente de um trator). Se, por conseqüência da infecção de uma bainha, as duas lâminas se aderem entre si, o tendão já não pode deslizar pelo seu canal, fica "entalado" co- mo se fosse um cabo de freio enferrujado: deixa de fun- cionar. Em algumas zonas (corte B) vasos destinados ao tendão deslocam arÍlbas as lâminas, de modo que cons- tituem um "mesotendão" (e), os vincula tendinorum, es- pécie de septo longitudlnal que parece manter o tendão no interior da cavidade sinovial (c). Trata-se de uma des- crição bastante simplificada, principalmente com rela- ção aos recessos (ver a descrição num tratado de anato- mia). Na palma da mão,os tendões deslizam por três bainhas carpeanas (fig. 5-56) que são, de fora para dentro: - a bainha rádio-carpeana (13), que envolve o tendão do flexor longo do polegar e se continua com a bainha digital do polegar; - a bainha média (12), anexa ao tendão flexor profundo do dedo indicador; - a bainha ulnocarpeana (14), que desloca três recessos para frente, para trás e entre os tendões superficiais e profundos (fig. 5-58) e se prolon- ga com a bainha digital do quinto dedo. No plano topográfico, é importante ressaltar: 1) as pontas superiores das bainhas do carpo ultrapassam amplamente por cima do liga- mento anular, em direção ao antebraço (fig. 5-56); 2) as bainhas digitais dos três dedos médios ascen- dem quase até a metade da palma e as suas pon- tas superiores se correspondem com a prega pal- mar inferior (ppi) para o terceiro e quarto dedo e com a prega palmar média (ppm) para o se- gundo (fig. 5-56), 3) as pregas palmares (setas pretas) de flexão dos dedos (fig. 5-59) são - salvo a prega superior - suprajacentes às articulações corresponden- tes; neste caso a pele entra diretamente em con- tato com a bainha que pode ser inoculada por uma injeção séptica. Observar também que as pregas dorsais (setas brancas) são suprajacentes à sua articulação. r ppi B Fig.5-60 ) J ---..... Fig.5-59 1. MEMBRO SUPERIOR 201 Fig.5-57 202 FISIOLOGIA ARTICULAR OS-TENDÕES DOS MÚSCULOS FLEXORES LONGOS DOS DEDOS o corpo carnoso dos músculos flexores dos dedos se localiza no compartimento anterior do antebraço: portanto, se trata de músculos ex- trínsecos, com relação à mão. Após haver estu- dado o seu trajeto no punho e na palma da mão, resta considerar de que maneira finalizam e que ação realizam. O músculo mais superficial - o flexor co- mum superficial dos dedos (sem tracejar, figo 5- 61, a) - deve terminar antes (em F) que o múscu- lo mais profundo - o flexor comum profundo dos dedos (tracejado, figo5-61, a). De modo que é ne- cessário que estes dois tendões se Cnlzem no es- paço e de forma simétrica a não ser que seja in- troduzido um componente lateral prejudicial. A única solução é que um dos tendões passe atra- -résdo outro. Mas, qual dos dois deve perfurar o outro? Podemos entender com facilidade que o profundo é o que perfura o supe1jicial. Os esque- mas tradicionais de anatomia (fig. 5-61) mostram as diferentes modalidades do cruzamento: - o tendão superficial (b) se divide em duas lingüetas no nível da articulação metacar- pofalangeana; ditas lingüetas rodeiam as margens do tendão profundo (c) antes de reunir-se na articulação FoF para se inse-" 1 rir nas superfícies laterais de F2• Isto fica claro nos cortes e na vista em perspectiva (fig. 5-62), na qual podemos observar também os mesotendões (ver figo5-60). Estes vincula tendinorum asseguram a vas- cularização dos tendões, segundo Lundborg e cols., conforme dois sistemas (fig. 5-62): - o sistema do flexor comum superficial, por dois aportes: • proximal, para a zona A, pelos micro- vasos longitudinais intrínsecos (1) e os vasos da ponta proximal da bainha si- novial (2); • distal, para a zona B, pelos vasos do vinculum brevis (3) nas inserções das faixas laterais da segunda falange; Entre as duas zonas, existe um segmento avascular (4) que se corresponde com a divi- são das faixas. I - o siste~ma do flexor comum profundo, por três aportes: • proximal, para a zona A, com os dois tipos de vasos (5) e (6) comparáveis aos do flexor superficial; • intermédio, para a zona B, pelos va- sos do vinculum longus (7) dependen- te por sua vez do vinculum brevis do flexor superficial; • distal, para a zona C, pelos vasos do vinculum brevis, que se insere na ter- ceira falange (8). No caso do flexor profundo, existem três zonas avasculares: - um segmento (9) entre as zonas A e B; - um outro segmento (10) entre as zonas B e C; - e por último, no nível da "terra de nin- guém", na frente da interfalangeana proximal, urna zona periférica (11) de um milímetro de espessura, ou seja a quarta parte do diâmetro do tendão. O conhecimento desses sistemas de vas- cularização tendinosa é indispensável para o cirurgião da mão, se ele não quiser comprome- ter ou destruir os aportes vasculares necessá- rios para o bom trofismo dos tendões. Além disso, as zonas avasculares têm o maior risco de desco1amento das suturas. 1. MEMBRO SUPERIOR 203 cb Fig.5-62 Fig.5-61 a 204 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TENDÕES DOS MÚSCULOSFLEXORES LONGOS DOS DEDOS (continuação) Poderíamos conceber uma disposição mais simples na qual os tendões não deveriam se cruzar (o tendão que termina em Fo seria profundo e o que se insere em F3 seria süperfi- cial) de modo que seria útil perguntar: qual é a necessidade mecânica deste cruzamento tão complicado? Sem cair na posição finalista, é conveniente assinalar (fig. 5-63) que permane- cendo superficial quase até a sua terminação o tendão flexor da segunda falange forma com esta um ângulo de tração ou ângulo de aproxi- mação. maior que se estivesse em contato com o esqueleto; isto aumenta a sua eficácia e pode- mos dar uma explicação lógica ao fato de que o tendão superficial e não o profundo é o que é perfurado. A ação destes dois músculos se pode dedu- zir pela sua inserção: - o flexor comum superficial dos dedos (fig. 5-63) que se insere, como foi com- provado anteriormente, na segunda fa- lange, é fiexor da segunda falange: • naturalmente, está privado de ação so- bre a terceira falange; • é pouco flexor da primeira falange e in- clusive é necessário que a segunda es- teja completamente flexionada; • a sua eficácia é máxima quando a pri- meira falange está estendida pela con- I - tração do extensor comum (antagonis- mo-sinergia) , • seu ângulo de aproximação, e portanto a sua eficácia, aumenta progressiva- mente à medida que F2 se flexiona. - flexor comum profundo dos dedos (fig. 5-64); que se insere na base da terceira falange, é antes de tudo flexor da terceira falange: • mas esta flexão de F3 se associa rapida- mente com a flexão de Fo, porque não existe extensor seletivo de Fo capaz de realizar a oposição a esta flexão. Para explorar a força do flexor profundo é necessário manter manualmente F2 em extensão; • quando FI e F2 se colocam manualmen- te em flexão de 900, o flexor profundo é incapaz de flexionar F3: fica distendi- do demais e, portanto, é ineficaz; • a sua eficácia é máxima quando a pri- meira falange se mantém em extensão por contração do extenso r comum (an- tagonismo-sinergia) . Apesar dessas limitações, se pode demons- trar a importante função do flexor profundo. Os extensores radiais longo e curto do carpo (Rs)e o extensor comum (EC) são sinérgicos dos fiexores (fig. 5-65). Fig.5-65 Fig.5-63 Fig.5-64 • 1. MEMBRO SUPERIOR 205 EC EC ~EC Rs 206 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TENDÕES DOS MÚSCULOS EXTENSORES DOS DEDOS Os músculos extensores dos dedos também são músculos extrínsecos. Percorrem os sulcos, mas como o seu trajeto é, em conjunto, convexo, são menos numerosos. Só existem no punho, único ponto onde o trajeto dos tendões se trans- forma em côncavo durante a extensão. Neste ca- so, o sulco osteofibroso está constituído pela porção inferior dos dois ossos do antebraço e pe- lo ligamento anular posterior do carpo (fig. 5- 66). Este sulco, por sua vez, está subdividido em seis túneis por septos fibrosos que se esten- dem da superfície profunda do ligamento anular ao esqueleto. Podemos observar, de dentro para fora (de esquerda à direita no esquema), os tú- neIS: 1) do extensor ulnar do carpo; 2) do extensor do dedo mínimo cujo tendão se une mais abaixo com o do extensor co- mum destinado também ao quinto dedo; 3) dos quatro tendões do extensor comum, acompanhado em profundidade pelo tendão do extensor próprio do dedo indi- cador, que se une um pouco mais abaixo do tendão do extensor comum destinado ao dedo indicador; 4) do extensor longo próprio do polegar; 5) dos extensores radiais longo e curto do carpo; 6) do extensor próprio curto do polegar e do abdutor longo dopolegar. Nestes sulcos osteofibrosos, os tendões ex- postos estão envolvidos por bainhas serosas (fig. 5-67) que passam por cima do ligamento anular dorsal e se estendem bastante abaixo so- bre a superfície dorsal da mão. Do ponto de vista fisiológico, o extenso r comum dos dedos é, principalmente, o exten- sor da primeira falange sobre o metacarpeano. Esta ação se manifesta com força e evidên- cia, seja qual for a posição do punho (fig. 5-69). Transmite-se à primeira falange pela expansão profunda (1), longa de 10 a 12 mm, que se des- cola da superfície profunda do tendão, diferente da cápsula da metacarpofalangeana, para inserir- se junto com a cápsula na base de FI: em uma vista dorsal (a), um segmento de tendão removi- do deixa ver esta expansão profunda (1). Pelo contrário, a ação sobre a segunda falange - através da lingüeta média (2)- e so- bre a terceira falange - através das duas lingüe- tas laterais (3) - depende do grau de tensão do tendão e, por conseguinte, da posição do punho (fig. 5-69), e também do grau de fie- xão da metacarpofalangeana: - só é relevante quando o punho está fle- xionado (A); - é parcial e incompleta em posição de alinhamento (B); - é inexistente quando o punho está esten- dido (C). De fato, a ação do extensor comum sobre as duas últimas falanges depende do grau de ten- são dos flexores: - se os tendões estão tensos devido à exten- são do punho ou da metacarpofalangea- na, o extensor comum é incapaz, por si só, de estender as duas últimas falanges; - se, pelo contrário, os tendões estão dis- tendidos devido à flexão do punho ou da metacarpofalangeana (ou por sua sec- ção), o extensor comum pode estender facilmente as duas últimas falanges. O tendão do extensor próprio do dedo in- dicador e o do dedo mínimo possuem a mesma fisiologia que o tendão correspondente do exten- sor comum com o qual se confundem. Permitem a extensão isolada do dedo indicador e do quin- to dedo (gesto de "pôr chifres"). De maneira acessória, no caso do dedo indi- cador, os tendões extensores têm, segundo Du- chenne de Boulogne, uma ação de lateralidade (fig. 5-70): o extensor próprio (EP) realiza a "adução" e o extensor comum (EC) a "abdução". Esta ação aparece quando a flexão das duas últi- mas falanges e a extensão da primeira anulam a ação dos interósseos correspondentes. 1. MEMBRO SUPERIOR 207 Fig.5-67 Fig.5-69 - J Fig.5-66 Fig.5-70 a Fig.5-68 b EP EC ----- .----------------------------- 208 FISIOLOGIA ARTICULAR MÚSCULOS INTERÓSSEOS E LUMBRICAIS Não descreveremos de novo as inserções dos in- terósseos; e:'.tão resumidas nas figuras 5-71, 5-72 e 5- 73. Estas inserções não interessam se não for para escla- recer as ações musculares. No plano fisiológico, os interósseos possuem dois tipos de ações: ação de lateralidade e ação sobre a fle- xão-extensão. Sua ação de lateralidade sobre os dedos está de- terminada pela inserção de uma parte do tendão termi- nal sobre o tubérculo lateral da base da primeirafalan- ge (1); esta ação é tão diferente que esta inserção inclu- sive se cOlTesponde, às vezes, com um corpo muscular diferente (disposição encontrada no primeiro interósseo dorsal, segundo Winslow). O sClllido do movimento de lateralidade está regu- lado pela direção do corpo muscular: - quando se dirige em direção ao eixo da mão (terceiro dedo) - é o caso dos interósseos dor- sais (traços verticais, figs. 5-71 e 5-73) - o músculo ordena a separação dos dedos (setas brancas, figo 5-71). É evidente que, se o segundo e o terceiro inte- rósseos se contraem simultaneamente, a sua ação de lateralidade sobre o médio se anula. Com relação ao quinto interósseo, a separação é realizada pelo adutor do quinto (5) (fig. 5- 72), que equivale a um interósseo dorsal. No polegar, a escassa separação que produz o ab- dutor curto do polegar (6) está compensada pe- la realizada pelo abdutor longo que age sobre o primeiro metacarpeano; - quando se afasta do eixo da mão - é o caso dos interósseos palmares (traços horizontais, figs. 5-72 e 5-73) - o músculo dirige a aproximação dos dedos (setas brancas, figo 5-72); - os interósseos dorsais são mais volumosos e portanto mais potentes que os pa1mares, o que explica que estes últimos sejam menos eficazes quanto à aproximação dos dedos; - os tendões dos interósseos, envolvidos em for- mações fibroaponeuróticas anexadas ao liga- mento transverso intermetacarpeano, não po- dem se luxar para frente durante a flexão das metacarpofalangeanas, porque o ligamento transverso, localizado na frente deles, os man- tém no seu lugar. Não é o caso do primeiro in- terósseo dorsal que carece deste mecanismo: quando a faixa fibrosa que o mantém seguro se distende por um processo reumático, o seu ten- 1-- dão se desloca para frente e perde a sua ação de abdução para se converter em flexor. A sua ação sobre a flexão-extensão não pode ser entendida sem descrever previamente a estrutura da aponeurose dorsal do dedo (figs. 5- 74, 5-75 e 5-76): - após ter emitido a sua inserção (1) para o tubér- culo lateral de FI' o tendão do interósseo cons- titui uma lâmina fibrosa que,' passando sobre a superfície dorsal de F. vai continuar na sua ho- móloga cOfltralateral:' se trata da correia dos interósseos (2). Vista pela sua superfície pro- funda (foram removidas as falanges), a apo- neurose dorsal·(fig. 5-75) permite observar es- ta cOlTeia formada de uma parte relativan1ente espessa (2) e de uma parte mais fina (2'), fibras oblíquas que se expandem em direção às lin- gÜetas laterais (7) do extensor comum. A parte espessa (2) desliza sobre a superfície dorsal de FI e da articulação metacarpofalangeana me- diante uma pequena bolsa selvsa (9), debaixo da qual se descola a lingÜeta profunda (4) do extensor comum; - uma terceira expansão do tendão do interós- seo constitui uma fina lingÜeta (3) que se di- rige em dois contingentes de fibras para o ex- tensor: • algumas fibras oblíquas (10) para a lingÜeta média constituem a lâmina triangular; • a maior parte das fibras se fundem com a lin- gÜeta lateral pouco antes da sua passagem pe- la interfalangeana proximal, para formar uma faixa (12), que vai inserir-se sobre F, com a sua homóloga contralateral: ' • observar (fig. 5-76) que a faixa lateral (12) não passa exatamente pela superfície dorsal da interfalangeana proximal, mas sim ligeira- mente sobre o lado onde está colada à cápsu- la por algumas fibras transversais, a expan- são capsular (11): - os quatro lumbricais (fig. 5-77), numerados de fora para dentro. se inserem nas margens dos tendões fiexores profundos, principal- mente na margem radial. O seu tendão (13) se dirige para baixo e volta para dentro. Em primeiro lugar o ligamento transverso inter- metacarpeano o separa do tendão do interós- seo (fig. 5-76), dando-o, assim, uma posição mais palmar. A seguir (figs. 5-75 e 5-76), se funde com a terceira expansão do interósseo, mais abaixo do que a correia. Fig.5-77 Fig.5-76 Fig.5-75 1. MEMBRO SUPERIOR 209 Fig.5-74 210 FISIOLOGIA ARTICULAR A EXTENSÃO DOS DEDOS A extensão dos dedos se deve à ação combinada do extensor comum (EC), dos interósseos (Is), dos lum- bricais (Ls) e também em certa medida, do flexor super- ficial (FCS); todos estes músculos intervêm nas liga- ções de sinergia-antagonismo variáveis dependendo da posição da articulação metacarpofalangeana (MP) e do punho. Acrescente-se a ação totalmente passiva do liga- mento retinacular, que coordena a extensão das duas últimas falanges. O extensor comum Já vimos anteriormente (pág. 206) que o extensor comum não é verdadeiro extensor salvo no caso da pri- meirafalange (F) e que não atua sobre F2 e F3se os flexo- res não estão distendidos (flexão do punho, flexão da me- tacarpofalangeana, secção dos flexores). Numa peça ana- tômica. a tração do extensor comum determina uma exten- são completa da FI e incompleta de F2 e F3 (fig. 5-69, C). O grau de tensão das diferentes inserções do extensor comum depende praticamente da flexão das falanges: - a flexão isolada de F, (fig.5-78) distende 3 rum a faixa média e a expansão profunda; de modo que o extensor co- mum já não atua diretamente sobre F, e F,; - a flexão de F, (fig. 5-79) tem duas conseqüências: • distende 3 rum as faixas laterais (a) graças à "derrapa- gem" das faixas que deslizam em posição palmar, atraí- das pela expansão capsular (fig. 5-75, 11). Durante a ex- tensão de F, voltam à sua posição dorsal devido à elasti- cidade da lâmina triangular (fig. 5-75, 10); • distende de 7 a 8 rum a expansão profunda (c) o que anu- la a ação direta sobre F, do extensor comum. Porém, po- de estender indiretamente F, através de F" se esta última está estabilizada em flexão pelo flexor comum superfi- cial' que desempenha assim um papel coadjuvante do ex- tensor comum na extensão da metacarpofalangeana (fig. 5-80): e" e f" se anulam, e' e f" se somam e se decom- põem sobre FI em A, componente axial e em B, compo- nente de extensão, incluindo uma parte da ação do flexor comum superficial (R. Tubiana e P. Valentin). Os interósseos Os interósseos são flexores de FJ e extensores de F2 e F3, mas a sua ação sobre as falanges depende do grau de flexão da metacarpofalangeana e do estado de tensão do extensor comum: - se a metacarpofalangeana está estendida (fig. 5- 81) por contração do extensor comum; - se a correia se desloca (a) por cima da metacar- pofalangeana em direção à superfície dorsal do primeiro metacarpo (Sterling Bunnel); - deste modo, as expansões laterais podem estar tensas (b) e produzir a extensão de FI e F2; - se a metacarpofalangeana se flexiona (fig. 5-82) por distensão do extensor comum (a) e contração do lumbrical (sem representação na figura); - a correia desliza sobre o dorso de FI (b); o seu trajeto é de 7 rnm (Sterling Bunnel); - a contração dos interósseos (c) atuando sobre a correia flexiona com potênc~a a metacarpofalan- geana; - embora, por este fato, as expansões laterais, man- tidas pela correia, se distendessem (d) e a sua ação extensora sobre FI e F2 desaparecesse, quanto mais flexionada estiver a metacarpofalangeana; - contudo, neste preciso momento é quando o ex- tensor comum é eficaz sobre FI e F2• Portanto existe, cómo o demonstrara Sterling Bun- nel, um balanço sinérgico na ação de extensão do exten- sor comum e dos interósseos sobre FI e F2 (fig. 5-89): - metacarpofalangeana flexionada 90°: ação máxi- ma do extensor comum sobre F2 e F3; ação máxi- ma dos lumbricais estando as faixas laterais ten- sas outra vez (fig. 5-84), sendo ineficazes os inte- rósseos; - metacarpofalangeana em posição intermédia: ação complementar do extensor comum e dos in- terósseos; - metacarpofalangeana estendida: ação inexistente do extensor comum sobre F2 e F,; ação máxima dos interósseos estando as faixas laterais tensas outra vez (fig. 5-81, b). Os lumbricais Flexores de FI e extensores de F2 e F3 possuem, ao contrário dos interósseos, estas funções seja qual for a flexão da metacarpofalangeana. São músculos extrema- mente importantes para os movimentos dos dedos. Devem esta eficácia a duas disposições anatôrnicas: - a sua localização mais palma/; pela frente do li- gamento transverso intermetacarpeano, lhes ou- torga um ângulo de aproximação de 35° com FI (fig. 5-83): deste modo, podem flexionar a metacarpofalangeana inclusive se está hiperes- tendIda. São, assim, os "iniciadores" da flexão de FI (flexor-starters), os interósseos atuam se- cundariamente sobre a correia; - a sua inserção distal se localiza (fig. 5-84) nas ex- pansões laterais debaixo do nível da correia. Ao não estar mantidos por este último, podem tensio- nar de novo o sistema extensor de F2 e F3seja qual for o grau de flexão da metacarpofalangeana. 1. MEMBRO SUPERIOR 211 EC Ec a Fig.5-82 Fig.5-81 Fig.5-83 Fig.5-85 b Fig.5-84 Fig.5-86 Fig.5-87 Fig.5-88 1------- I 212 FISIOLOGIA ARTICULAR A EXTENSÃO DOS DEDOS (continuação) - Eyler e Marquée, e Landsmeer demonstraram que em certos indivíduos os interósseos possuem duas porções, uma porção para a correia e outra porção para a expansão lateral; - para Recklinghausen, os lumbricais facilitam a extensão de F2 e F3 (fig. 5-85) produzindo a dis- tensão da porção distal dos tendões do fiexor co- mUln superficial (a) nos quais se localiza a sua in- serção superior (b). Graças a este sistema diago- naI, a contração dos lumbricais desloca funcio- nalmente a inserção teI1lÚnal do flexor comum superficial da superfície palmar à superfície dor- sal de F3' transformando-o num extensor, equiva- lente a um interósseo; este sistema é semelhante, em eletrônica, a um transistor que troca a passa- gem da corrente num sentido ou outro dependen- do do seu estado de excitação. Este "efeito tran- sistor" conduz, graças a uma baixa potência - a do lumbrical -, à derivação de uma forte potên- cia - a do flexor comum profundo - para o siste- ma extensor; - por último, os lumbricais, possuidores de nume- rosos receptores proprioceptivos, recolhem in- fOlmações essenciais para coordenar o tônus dos extensores e dos flexores entre os quais es- tão tensos formando uma diagonaI. O ligamento retinacular (LR) O ligamento retinacular (Landsmeer, 1949) está constituído por fibras (fig. 5-86) que partem da superfície palmar (a) de F, e se projetam (b) sobre as faixas laterais do extensor comum e, através destas, sobre F). Todavia, é necessário ressaltar como algo essencial o fato de que, ao contrálio das faixas laterais do extensor comum, as fibras do ligamento retinacular cruzam a interfalangeana proxi- mal (IFP) pela frente do seu eixo (c), isto é, em posição palmar. Então podemos deduzir que (fig. 5-87) a exten- são da interfalangeana proximal provoca a tensão das fibras do ligamento retinacular e produz a extensão da interfalangeana distal(IFD) na metade do seu recorrido, passando de uma flexão de 80° a uma flexão de 40°. Esta tensão do ligamento retinacular pela extensão da interfa- langeana proximal é fácil de comprovar (fig. 5-88): se seccionarmos o ligamento retinacular em B, a extensão da F, já não se associa com a extensão automática de F3 ' enqllamo é possível observar a separação de uma distân- cia CD (D representa a posição final de B, ponto do liga- mento retinacular que gira em tomo de A, enquanto C re- presenta a posição final de B, ponto de Fogirando em tor- no de O) das duas margens do ligamentõ retinacular. Ao contrário, é possível obter, mediante uma flexão passiva da interfalangeana distal, e estando intacto o liga- mento retinacular, a flexão automática da interfaIangeana proximal. Em caso de patologia, a retração do ligamento reti- nacular: - instaura a deformação do dedo denominada "em casa de botão", devido à ruptura da aponeurose dorsal; - provoca a hiperextensão da interfalangeana distal na doença de Dupuytren nO,seu terceiro grau. Resumo das ações musculares para a flexão-ex- tensão dos dedos Extensão simultânea de Fj + F2 + FJ (fig. 5-89, A): Sinergia EC + Is + Ls. Ação passiva e automática do ligamento retinacular. Extensão isolada de Fj: EC. + Flexão F : FCS ) (coadjuv~nte do EC) relaxamento dos Is + Flexão F): FCP + Flexão F2: FCS (Id.) + Extensão F3: Ls + Is (esta última ação é muito difícil). Flexão isolada de FI: Ls (starters) + ls (antagonis- mo EC/Is: relaxamento EC). + Extensão F, e F, (fig. 5-89, C): Ls (extensores em qualquer põsição da metacarpofalangeana) + ba- lanço sinérgico EC + Is (fig. 5-89, B). + Flexão F,: FCS. + Extensão F}: Ls (ação difícil porque a ftexão das interfalangeanas proximais distende as faixas late- rais). + Flexão F,: FCS. + Flexão F3: FCP (a sua ação está facilitada pela "derrapagem das faixas laterais devido à ftexão da interfalangeana proximal "). Os movimentos habituais dos dedos ilustram as seguintes si- tuações: - os movimentos que se realizam durante a escritura (Du- chenne de Boulogne): - quando empurramos o lápis para frente (fig. 5-90), o interósseo flexiona F, e estende F, e F,; - quando conduzimos novamente o lápis para trás (fig. 5-91), o extensor comum estende F, e o tlexor comumsuperficial tlexiona F,: - os movimentos dos dedos em gancho (fg. 5-92): o fle- xor comum superficial e o flexor comum profundo se contraem e os interósseos se relaxam. Este movimento é indispensável para o alpinista que se agarra a uma pare- de rochosa vertical; - os movimentos dos dedos em martelo (fig. 5-93): o ex- tensor comum intervém para estender FI enquanto o fle- xor comum superficial e o flexor comum profundo fle- xionam F, e F, . É a posição inicial dos dedos do pianis- ta. O dedo percute a tecla por contração dos interósseos e dos lumbricais que tlexionam a metacarpofalangeana quando o extensor comum se relaxa. ,------ I I I - 1. i\IEMBRO SUPERIOR 213 Fig.5-89 214 FISIOLOGIAARTIClJLAR ATITUDES PATOLÓGICAS DA MÃO E DOS DEDOS A insuficiência ou o excesso de ação de qualquer dos músculos que acabamos de expor pode desenca- dear múltiplas atitudes ,iciosas. Entre as atitudes viciosas dos dedos (fig. 5-94), devemos conhecer: a) a ruptura da aponeurose dorsal, na lâmina triangular, que se estende entre as duas faixas laterais e cuja elasticidade é necessária para que estas faixas voltem à posição dorsal quan- do a interfalangeana proximal se estenda de novo. Neste caso. a superfície dorsal da articu- lação produz uma hérnia na fenda aponeuróti- ca, e as faixas se luxam sobre as suas superfí- cies laterais; se mantém assim em semi-fiexão, enquanto a interfalangeana proximal está em hiperextensão. Esta mesma atitude denomina- da "em casa de botão" aparece ante uma sec- ção do extensor na interfalangeana proximal; b) a ruptura do tendão extenso r imediata- mente anterior à sua inserção em F} provo- ca a fiexão de F,. que pode reduzir-se de for- ma passiva, mas não ativa. A flexão se deve à tonicidade do flexor comum profundo não compensada pelo extensor comum; a defor- mação se denomina "dedo em martelo" (ou mallet finger); c) a ruptura do tendão do extenso r longo por cima da metacarpofalangeana se deve àfie- xão da metacarpofalangeana sob a ação pre- dominante da correia dos interósseos; esta ati- tude "intrínseca plus" se observa quando os interósseos predominam sobre o extensor co- mum, d) a ruptura ou a insuficiência do flexor co- mum superficial determina uma hiperexten- são da interfalangeana proximal sob a influên- cia predominante dos interósseos. Esta atitude "em inversão" da interfalangeana proximal se associa com uma ligeira flexão da interfalan- geana distal devido ao encurtamento relativo do flexor comum profundo (por hiperextensão da interfalangeana proxirnal), daí a sua deno- minação de deformação "em pescoço de cis- ne"; e) a paralisia ou a secção do tendão do flexor comum profundo conduz à impossibilidade de flexionar ativamente a última falange; f) a insuficiência dos interósseos, implica uma hiperextensão de M/FI sob a ação do extensor comum e por uma fiexão acentuada das duas últimas falanges sob a ação do fle- xor comum superficial e do flexor comum profundo. Deste modo, a paralisia dos mús- culos intrínsecos rompe o arco longitudinal na "chave" da sua abóbada. Esta atitude, de- nominada "em garra" (fig. 5-96) ou "intrín- seca menos", aparece principalmente na pa- ralisia dó nervo ulnar - que inerva os inte- rósseos - e é a razão pela qual também se de- nomina garra ulnar. Acompanha-se de uma atrofia da eminência tenar e dos espaços in- terósseos. A perda dos extensores do punho e dos dedos, com freqüência no curso de uma paralisia radial, determina uma atitude caraterística de "mão caÍda" (fig. 5-95) com flexão acentuada do punho e flexão das articulações metacarpofalangeanas, estando as duas últimas falanges estendidas pelos interósseos. Na doença de Dupuytren (fig. 5-97), a retra- ção das faixas pré-tendíneas da aponeurose palmar média acarreta umafiexão irredutível dos dedos so- bre a palma: flexão da metacarpofalangeana e da in- terfalangeana proximal e extensão da interfalangea- na distal. Freqüentemente, esta atitude viciosa é mais acentuada nos dois últimos dedos, o dedo indi- cador e o médio se afetam posteriormente e poucas vezes afeta o polegar. A doença de Volkmann (fig. 5-98) se deve à retração isquêmica dos músculos fiexores e determi- na uma atitude em garra dos dedos, muito nítida na extensão do punho (a), e menos visível na flexão (b), que distende os flexores. Outra atitude en garra (fig. 5-99) que se corres- ponde com a inflamação da bainha ulnocarpeana. A garra é mais acentuada quanto mais interno é o de- do (atinge o seu máximo no quinto dedo). Qualquer tentativa de reduzir esta garra resulta muito dolorosa. Por último, a atitude em "rajada ulnar" (fig. 5-100, segundo o quadro de G. La Tour, "Briga de mendigos") se caracteriza pelo desvio simultâneo dos quatro últimos dedos em direção à superfície in- terna da mão; também podemos apreciar a proemi- nência anormal das cabeças metacarpeanas. Este conjunto de deformações permite considerar o diag- nóstico (retrospectivo) de poliartrite reumatóide. 1. MEMBRO SUPERIOR 215 - Fig.5-98 Fig.5-95 Fig.5-100 ~/rc ~~~c.~ d e ~ Fig.5-94 216 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS DA ElVIINÊNCIA HIPOTENAR A eminência hipotenar está composta por três mÚsculos (fig. 5-101): 1) o flexor curto do quinto dedo (1); se in- sere abaixo, no tubérculo interno da ba- se de FI' a sua direção é oblíqua para ci- ma e para fora em direção à sua inserção carnosa na superfície anterior do liga- mento anular e do processo unciforme; 2) o adutor do quinto dedo (2); adutor em relação ao plano de simetria do corpo. termina abaixo como um interósseo no tubérculo lateral de F (com o fiexor CUf-I to), por uma correia comum com o quar- to interósseo palmar e por uma expansão para a faixa lateral do extensor comum. Por cima, se insere na superfície anterior do ligamento anular e no pisiforme; 3) o oponente do quinto dedo (3) se inse- re abaixo na superfície interna do quinto metacarpeano, rodeia a sua margem (fig. 5-88) para se dirigir (seta branca) para cima e para fora em direção à margem inferior do ligamento anular e do proces- so unciforme, no qual se insere. No plano fisiológico O oponente (fig. 5-102) fiexiona o quinto metacarpeano sobre o carpo, em tomo do eixo XX", o qual o desloca para frente (seta 1) e pa- rafora (seta 2). Esta direção oblíqua é a do cor- po muscular (seta branca). Mas, ao mesmo tempo, proporciona ao quinto metacarpeano um movimento de rota- ção em torno ao seu eixo longitudinal (repre- sentado por uma cruz) no sentido da seta 3, em supinação, isto é, de tal maneira que a parte anterior do metacarpeano se orienta para fo- ra, em direção ao polegar. Portanto, o oponen- te merece a sua denominação porque realiza a oposição do dedo mínimo com relação ao po- legar. O fle_xor curto (1) e o adutor do quinto de- do (2) exercem em conjunto uma ação quase idêntica (fig. 5-103): - o fiexor curto (1) fiexiona a primeira fa- lange sobre o metacarpeano e separa o quinto dedo em relação ao eixo da mão; - o adutor (2) possui a mesma ação: de modo que é abdutor com relação ao ei- xo da mão (terceiro dedo) e pode ser considerado equivalente a um interós- seo dorsal. Como os interósseos, fle- xiona a primeira falange, por ação da correia, e estende duas falanges por ação de sua expansão lateral. 1. MEMBRO SUPERIOR 217 Fig.5-102 1- Fig.5-103 218 FlSIOLOGIAARTICULAR o POLEGAR o polegar ocupa uma posição e desem- penha uma função à parte na mão, porque é in- dispensável para realizar as pinças polegar-digi- tais com cada um dos outros dedos, e principal- mente com o dedo indicador, e também para a constituição de uma preensão de força com os outros quatro dedos. Também pode participar em ações associadas às preensões que se refe- rem à própria mão. Sem o polegar, a mão perde a maior parte de suas capacidades. O polegar deve esta função eminente, por uma parte, à sua localização para frente tanto da palma da mão quanto dos outros dedos (fig. 5-104) que lhe permite, no movimento de opo- sição, se dirigir aos outros dedos, de forma iso- lada ou global, ou se separar pelo movimentode contra-oposição para relaxar a preensão. Por outro lado, deve a sua função à grande flexibili- dade funcional que lhe proporciona a organiza- ção tão peculiar da sua coluna articular e dos seus motores musculares. A coluna ósteo-articular do polegar (fig. 5-105) contêm cinco peças ósseas que consti- tuem o raio externo da mão: - o escafóide (esc); - o trapézio (T) que os embriologistas con- sideram equivalente a um metacarpeano; - o primeiro metacarpeano (Mr); - a primeira falange (F); - a segunda falange (F). O polegar anatomicamente só possui duas falanges, mas, o que é importante, a sua coluna se articula com a mão num ponto muito mais proximal que no caso dos outros dedos. A sua coluna é claramente mais curta e o seu extremo só alcança a parte média da primeira falange do dedo indicador. Este é o seu comprimento per- feito porque: - maiS curto, como seria o caso após uma amputação falângica, perde as suas possibilidades de oposição por não ter suficiente longitude, nem sufi- ciente separação, nem suficiente fle- xão global; - mais longo, como seria o caso de uma malfor,mação congênita com três fa- langes, a oposição fina ponta do dedo- ponta do ~edo (término-terminal) po- de se ver perturbada pela flexão insu- ficiente da interfalangeana distal do dedo ao qual se opõe. Então, isto é um exemplo do princípio de economia universal (princípio de OCCAM). segundo o qual qualquer função está assegura- da pela mínima estrutura e organização: para uma função ótima do polegar, são necessárias e suficientes cinco peças. As articulações da coluna do polegar são quatro: - a trapéÚo-escafóidea (TE) artródia que, como já vimos, permite que o tra- pézio realize um curto deslocamento para frente sobre a superfície articular inferior, a qual se apóia sobre o tubér- culo do escafóide: neste caso se esbo- ça um movimento de flexão de escas- sa amplitude; - a trapéÚo-metacarpeana (TM) dotada de dois graus de liberdade; - a metacarpofalangeana (MF) que pos- sui dois graus de liberdade; - a interfalangeana (IF) com só um grau de liberdade; ou seja, em total, CINCO GRAUS DE LIBERDADE necessários e suficientes para se realizar a oposição do polegar. Fig.5-105 TOTAL: 5 GRAUS ,_1F:10 1. MEMBRO SUPERIOR 219 Fig.5-104 220 FISIOLOGIA ARTICULAR GEOMETRIA DA OPOSIÇÃO DO POLEGAR Desde um ponto de vista estritamente geo- métrico (fig. 5-106), a oposição do polegar con- siste em que, num ponto dado A' , a polpa do po- legar seja tangente à polpa do outro dedo, como por exemplo o dedo indicador, num ponto A: is- to é, fazer coincidir no espaço num único ponto A + A' os planos das polpas tangentes A e A' . Para começar, para coincidir dois pontos no espaço (fig. 5-107) são necessários três graus de liberdade segundo as coordenadas x, y e z. A se- guir, são necessários mais dois graus de liberda- de para que possam coincidir os planos das pol- pas, plano sobre plano e direção sobre direção, por rotação em tomo aos eixos teu (como as pol- pas não podem entrar em contato pela superfície dorsal, é inútil um terceiro grau em tomo de um eixo y e perpendicular aos dois precedentes). Em resumo, a coincidência dos planos das polpas necessita de cinco graus de liberdade: - três para que coincidam os pontos de contato; - dois para que coincidam mais ou menos os planos das polpas. Como podemos demonstrar de forma sim- ples que cada eixo de uma articulação constitui um grau de liberdade que se soma aos outros pa- ra contribuir para o resultado final, podemos de- duzir que os cinco graus de liberdade da coluna do polegar são imprescindíveis e suficientes pa- ra se realizar a oposição. Se considerarmos, unicamente no plano (fig. 5-108), o movimento dos três segmentos móveis M , F e F da coluna do polegar em tor-1 1 2 no dos três eixos de flexão yy' para a TM, fi pa- ra a MF e f, para a IF, podemos constatar que são necessários dois graus para situar o extremo de F2 num ponto H do plano: se se bloqueia fi ou f:. só existe uma forma para ambos os casos alcan- çarem o ponto H. Porém, introduzir um terceiro grau permite chegar a H com diferentes incidên- cias: estão representadas na figura duas orienta- ções O e O' da polpa, de modo que podemos constatar como este mecanismo necessita de três graus de liberdade no plano. No espaço (fig. 5-109), se acrescenta um quarto grau de liberdade, em tomo do segun- do eixo xx' da TM, permitindo uma orientação adicional da polpa que "se orienta" numa dire- ção diferente, a qual autoriza uma verdadeira escolha da oposição com um determinado dedo do dedo indicador ao dedo mínimo. Um quinto grau de liberdade (fig. 5-110) conseguido graças ao segundo eixo da MF me- lhora ainda mais a coincidência dos planos das polpas, permitindo uma rotação limitada de um plano sobre outro em torno do ponto de tangên- cia. De fato, podemos comprovar que o eixo de flexão f da MF não é estritamente transversal 1 a não ser no curso da flexão direta; na verdade. durante a maior parte do tempo é oblíquo num sentido ou outro: - oblíquo em f' 1: a flexão se associa com um desvio ulnar e com uma supinação: - oblíquo em f" 1: neste caso se associa com um desvio radial e com uma pro- nação. [ y Fig.5-106 x Xl Xl X Fig. 5-110 z Fig.5-107 H Fig.5-108 1. MEMBRO SUPERIOR 221 tI y Fig.5-109 222 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-META CARPEANA Topografia das superfícies A articulação trapézio-metacarpeana (TM) se localiza na base da coluna móvel do polegar e desempenha um papel primordial dado que as- segura a sua orientação e participa de maneira preponderante no mecanismo da oposição. Os anatomistas a denominam articulação por encaixamento recíproco, o que não significa muito, ou também articulação selar (fig. 5-111), o que parece mais correto porque esta última de- nominação lembra a forma de sela de cavalgar, côncava num sentido e convexa no outro. Exis- tem duas superfícies em sela, uma no trapézio e a outra na base do primeiro metacarpeano que só se correspondem por causa de uma rotação de 90° que faz coincidir a curva convexa de uma com a curva côncava da outra e vice-versa. A topografia exata das superfícies desta ar- ticulação tem sido causa de numerosos estudos e debates. A descrição mais precisa foi exposta re- centemente por K. Kuczynski (1974). Com a trapézio-metacarpeana aberta (fig. 5-112) e a ba- se do primeiro metacarpeano deslocada para fo- ra, as superfícies articulares do trapézio T e do primeiro metacarpeano M1 apresentan as seguin- tes particularidades: - a superfície do trapézio T apresenta uma crista média CD ligeiramente curva se- guindo uma concavidade orientada para dentro e para frente. A parte dorsal C desta crista é claramente mais convexa que a sua parte palmar F que é quase plana. Esta crista aparece deprimida na sua parte média por um sulco AB que a cruza transversalmente e se estende da margem dorsal externa A à margem pal- mar interna B onde é evidentemente mais escavada. Um fato importante é que este sulco é curvo e apresenta uma convexidade ântero-externa. A parte posterior-externa E é quase plana; - a superfície metacarpeana M) se forma ao contrário, apresentando uma crista A'B' que corresponde ao sulco AB da superfície do trapézio e um sulco C'D' que encaixa sobre a crista do trapézio CD. - Encaixada sobre a superfície do trapézio (fig. 5-113), a metacarpeana a ultrapassa por ambos os extremos a e b do sulco. Além disso, num corte (fig. 5-114) se pode observar que a concordância das duas superfícies não é absolu- ta. Porém, encaixadas com firmeza uma contra a olltra, "o encaixamento" das superfícies não permite nenhuma rotação sobre o eixo longitu- dinal do primeiro metacarpo, sempre segundo Kuczynski. A causa da curva da sela sobre o seu eixo longitudinal, Kuczynski a compara com uma se- la (mole) colocada sobre o lombo de um "cava- lo com escoliose" (fig. 5-115). Também pode- mos compará-Ia com um desfiladeiro (fig. 5- 116) entre duas montanhas, percorrido por uma rodovia curva: a direção do caminhão que sobe pela rodoviaforma um ângulo r com a do ca- minhão que desce por ela. Para Kuczynski, este ângulo que atinge os 90° entre os pontos a e b do sulco do trapézio explicaria a rotação do primei- ro metacarpo sobre o seu eixo longitudinal no percurso da oposição. Todavia, para que isto se- ja assim, seria necessário que a base de M) per- corresse (como o caminhão no desfiladeiro) to- do o sulco do trapézio, o que requereria uma lu- xação completa da articulação num sentido e/ou no outro, enquanto o deslocamento só é parcial: o importante desta rotação longitudinal se reali- za, então, segundo a nossa opinião, graças a ou- tro mecanismo que será exposto mais adiante. 1. MDIBRO SUPERIOR 223 224 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO- METACARPEANA (continuação) Coaptação A cápsula da articulação trapézio-metacar- peana é conhecida pela sua lassidão, de modo que permite um importante jogo mecânico, que, segundo os autores clássicos e inclusive segundo os modernos, origina a rotação do pri- meiro metacarpeano sobre o seu eixo longitudi- nal, o que, como se poderá comprovar mais adiante, é falso. De fato, a lassidão capsular só tem como efeito, na prática, permitir o deslocamento da superfície metacarpeana sobre a do trapézio, mas esta articulação trabalha em compressão, semelhante a um pivô (fig. 5-117), permitindo assim orientar o primeiro metacarpeano em to- das as direções do espaço, como se se tratasse de uma capa cuja orientação se pode variar modificando a tensão das cordas representadas neste caso pelos músculos tenares. Estes asse- guram a coaptação articular em qualquer posi- çao. Os ligamentos da trapézio-metacarpeana dirigem o movimento e asseguram, segundo o seu grau de tensão, a coaptação em cada posi- ção. A sua descrição e a sua função foram recen- temente particularizados por J.Y. da Caffiniere (1970) que diferencia quatro (figs. 5-118, vista anterior, e 5-119, vista posterior). - o ligamento intermetacarpeano (UM). Ramo fibroso, espesso e curto, se esten- de das bases do primeiro e do segundo metacarpeanos até a parte superior da.. . pnmelra cormssura; - o ligamento oblíqUf( póstero-interno (LOPI), descrito pelos clássicos, se trata de uma faixa larga mas fina que envolve a articulação por trás como uma grava- ta, para se enrolar por dentro da base do primeiro rnetacarpeano se dirigindo pa- ra frente; - o ligamento oblíquo ântero-interno (LOAI) se estende da parte distal da crista do trapézio até a zona justaco- missural da base do primeiro metacar- peano, cruza a superfície anterior da articulação se enrolando no sentido in- verso ao precedente; - o ligamento reto ântero-externo (LRAE) se estende diretamente entre o trapézio e a base do primeiro metacar- peano até a superfície ântero-externa da articulação, o seu claro e agudo limite interno delimita um hiato capsular por onde passa uma bolsa serosa para o ten- dão do abdutor longo (AbL). Para J.Y. de Ia Caffiniere, estes ligamentos podem se associar de dois em dois: - UM e LRAE, a abertura da primeira co- missura no plano da palma da mão é li- mitada pelo LIM e o seu fechamento pe- lo LRAE; - LOPI e LOAI são solicitados principal- mente durante a rotação do primeiro metacarpeano sobre o seu eixo longitu- dinal. O LOPI limita a pronação e o LOAI a supinação . I• Fig.5-118 Fig.5-117 UM • 1. 1IEMBRO SUPERIOR 225 AbL Fig.5-119 226 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-lVIETACARPEANA (continuação) Função dos ligamentos Segundo a nossa opinião, estes fenômenos são algo mais complexos, já que precisamos descrever a ação dos ligamentos em relação aos movimentos de anteposição e retroposição, e de flexão e extensão do primeiro metacarpeano tal como serão definidos mais adiante. No curso dos movimentos de anteposição e retroposição podemos observar: - numa vista anterior (fig. 5-120) em ante- posição, como o LOAI está tenso e se distende o LRAE ao passo que para trás (fig. 5-121) o LOPI está tenso; - numa vista anterior (fig. 5-122) em re- troposição, como o LRAE está tenso e se distende o LOAI, ao passo que para trás (fig. 5-123) se distende o LOPI; -. com relação ao UM (fig. 5-124, vista anterior), como está tenso, tanto em an- teposição (AP), onde "traciona" a base de M1 para ;"12, quanto em retroposição (RP) onde "retém" a base de M1 ante- riormente subluxada pelo trapézio. Dis- tende-se em posição intermédia. No curso dos movimentos de flexão-exten- são podemos observar: - como na extensão (fig. 5-125) os liga- mentos anteriores LRAE e LOAI estão tensos e o LOPI se distende; - como naflexão (fig. 5-126) se produz a situação contrária: distensão dos LRAE e LOAI e tensão do LOPI. Ao estar enrolados em sentido contrário so- bre a base de M1 (fig. 5-127, vista axial de M1 so- bre o trapézio e M2M) o LOPI e o LOAI contro- lam a estabilidade rotatória de M sobre o seu 1 eixo longitudinal. - o LOAI está tenso durante a pronação; de modo que a sua tensão isolada acar- retaria urna supinação; - o LOPI é solicitado durante a supinação; podemos afirmar que a sua tensão inde- pendente dos outros acarretaria uma pronação do primeiro metacarpeano. Na oposição que associa a anteposição e a flexão, todos os ligamentos (UM, LOAI, LOPI) estão tensos exceto o LRAE, o que é normal porque este ligamento é paralelo aos músculos contraídos (abdutor curto, oponente, flexor cur- to). É notável que o mais tenso seja o LOPI que assegura deste modo a estabilidade da articula- ção para trás. A oposição se corresponde então com a close packed position, como já havia res- saltado Mac Conaill: é a posição na qual as su- perfícies articulares estão mais firmemente en- caixadas uma contra a outra, o que, somado ao fato de que os dois ligamentos oblíquos estão si- multaneamente tensos, exclui toda rotação so- bre o eixo longitudinal do primeiro metacar- peano que corresponderia a um jogo mecânico entre as superfícies articulares. Na posição intermédia, que será definida mais adiante, todos os ligamentos estão disten- didos e, conseqüentemente, o jogo mecânico é máximo, o qual não aporta nenhuma vantagem com relação à rotação longitudinal de M. Na contra-oposição, a tensão quase isolada do LOAI é capaz de produzir certo grau de supi- nação de M1 sobre o seu eixo longitudinal. 1. MEMBRO SUPERIOR 227 ."-t> RETROPOSIÇÃO Fig.5-122 LRAE$ LOPI ffi LOAI8 ~ ANTEPOSIÇÃÓ LOPI e UM EB <}---' RETROPOSIÇÃO Fig.5-123 Fig.5-120 ~ ANTEPOSIÇÃO Fig.5-125 LOPI EB LRAE 8 LOAI e Fig.5-126 Fig.5-127 228 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA (continuação) Geometria das superfícies Se a rotação do primeiro metacarpeano so- bre o seu eixo longitudinal não se pode explicar nem pelo jogo mecânico nem pela ação dos liga- mentos, a única explicação que resta é pelas pro- priedades das superfícies articulares (além dis- so, esta explicação não foi contestada no caso do quadril). As superfícies selares possuem, como afir- mam os matemáticos, uma curva negativa, isto é que sendo convexas num sentido e côncavas no outro, não podem fechar-se sobre si mesmas, como seria o caso da esfera, exemplo perfeito de curva positiva. Tentaram comparar estas superfí- cies selares a um segmento hiperbolóide de re- volução (fig. 5-128) como Bausenhart e Littler, ou com um segmento hiperbolóide parabólico (fig. 5-129, a hipérbole H se apóia sobre uma pa- rábola P), ou inclusive hiperbólico (fig. 5-130, a hipérbole H se apoia sobre outra hipérbole H'). No nosso caso, parece mais interessante compa- rá-Ias com um segmento axial de superfície tóri- ca (fig. 5-131): na parte central de uma câmara de ar, que representa o toro ou bocel, existe uma curva côncava cujo centro é o eixo da roda O e uma curva convexa cujo centro é o eixo da "mol- dura" (na verdade, existem uma série de eixos p, q, s, etc ... um dos quais, q, corresponde à posi- ção média). Esta superfície selar ou "toróide ne- gativa" possui dois eixos principais ortogonais e, por conseguinte, dois graus de liberdade. Se considerarmos a descrição de K. Kuczynski, com a curva lateralda crista da sela (o "cavalo com escoliose"), este segmento axial de superfí- cie tórica deve delimitar-se assimetricamente (fig. 5-132) sobre o toro, como se a sela se tives- se deformado, deslizando lateralmente sobre o lombo de um cavalo normal. O eixo maior lon- gitudinal (a crista) da sela nm está curvado late- ralmente de tal modo que os raios li, v, \1', que passam por cada ponto da crista, convergem num ponto O' situado no eixo xx' do tara para fora do seu plano de simetria. Esta superfície se- lar sempre é uma superfície, toróide negativa com dois eixos principais ortogonais e dois graus de liberdade. Claro que isto só é certo pa- ra um pequeno segmento de superfície, porque, caso contrário, a multiplicidade dos eixos con- verteria em "caduca" a comparação. De fato, en- quanto a superfície for pequena, os eixos suces- sivos (p, q, s, etc ... ) estarão suficientemente pró- ximos entre si para que o jogo mecânico com- pense as discordâncias. É o caso das superfícies do trapézio e das metacarpeanas cujas curvas são relativamente moderadas, menos acentuadas que nos esquemas. Nestas condições, é totalmente lógico e lí- cito modelar a articulação trapé::.io-metacar- peana do mesmo modo que os biomecânicos modelam o quadril, como se se tratasse de uma articulação "de patela", embora saibamos de so- bra que a cabeça femoral não é uma esfera per- feita. o modelo mecânico de uma articulação de dois eixos é o "Cardão" (fig. 5-133): dois eixos xx' e yy' perpendiculares e concorrentes que permitem movimentos em dois planos perpendi- culares AB e CD. Do mesmo modo, duas super- fícies selares A e B situadas uma sobre a outra (fig. 5-134) permitem, uma em relação à outra (fig. 5-135), movimentos AB e CD em dois pla- nos perpendiculares. Porém, o estudo da mecânica do cardão mostra que as articulações de dois eixos pos- suem uma possibilidade adicional, a rotação au- tomática do segmento móvel sobre o seu eixo longitudinal, neste caso o primeiro metacarpo. Fig.5-128 x ® o Fig.5-129 1. MEMBRO SUPERIOR 229 . ® Fig.5-130 x Fig.5-131 ,...- .... ,, ", ,I '- \ \ \ \III ,:, II, \ \ \\, /" '",.•.... -, Fig.5-134 " ,,,, \ \ \ \ \ Fig.5-133 Fig.5-132 Fig.5-135 230 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA (continuação) A rotação sobre o eixo longitudinal É fácil construir um cardão cortando e co- lando (fig. 5-136): sobre as duas superfícies de um círculo a, colar os semicírculos de duas tiras b e c pregadas em ângulo reto em 1-2 e 3-4, de tal maneira que as pregas sejam perpendiculares. Este cardão de demonstração (faça-o!) permiti- rá materializar a rotação automática em torno ao eixo longitudinal do segmento móvel. Em primeiro lugar, podemos constatar (fig. 5-137), que estando um dos segmentos fixos, pode mobilizar o segundo ao redor dos dois ei- xos do cardão; seja em torno do eixo 1-2 num movimento a no curso do qual permanece no mesmo plano, ou ao redor do eixo 3-4 num mo- vimento b que faz formar um ângulo diedro com a sua posição inicial. Se considerarmos (fig. 5-138) o primeiro movimento em torno do eixo 1-2, sem que se realizem flexão ou extensão prévias em torno do eixo 3-4 que permanece perpendicular ao seg- mento móvel, podemos constatar, que este "se orienta" sempre na mesma direção, indicada pe- las setas: é uma rotação plana, igual às que se observam nas articulações de charneira onde o eixo é perpendicular ao segmento móvel. Se anteriormente (fig. 5-139), o segmento móvel realiza uma flexão b, inferior a 90°, em torno do eixo 3-4, a rotação a em torno do eixo 1-2 provoca uma mudança de orientação do seg- mento móvel, representado nesta figura pelas se- tas que apontam para um ponto P situado no pro- longamento do eixo 1-2. Esta troca de orienta- ção do segmento móvel no curso de uma rota- ção cônica realiza uma rotação automática so- bre o eixo longitudinal que Mac Conaill deno- mina rotação conjunta. Esta existe nas articula- ções de charneira cujo eixo é oblíquo em relação ao segmento móvel; é de valor constante. Existe principalmente nas articulações de dois eixos nas quais é variável em função do grau de flexão prévia. Podemos calcular com uma fórmula tri- gonométrica simples considerando as duas rota- ções. Um caso particular interessante desta rota- ção conjunta automática, ocorre durante a rota- ção cilíndrica (fig. 5-140): sendo de 90° a flexão prévia sobre o eixo 3-4, toda rotação a em torno do eixo 1-2 produz uma mudança de orientação grau a grau do segmento móvel; neste caso, a ro- tação automática é máxima. Claro que entre a rotação conjunta automá- tica nula da rotação plana e o máximo da rotação cilíndrica, são viáveis todos os valores intern1é- dios nas articulações de dois eixos de tipo car- dão. É possível encontrar de novo esta rotação cilíndrica (fig. 5-141) se se articulam ao cardão três segmentos pelo eixo 3-4, paralelos aos ou- tros dois 5-6 e 7-8. A flexão de 90° sobre o eixo 3-4, podemos, então, distribuir sobre os três ei- xos, o que faz com que o último segmento seja paralelo ao eixo 1-2. Observamos como a rota- ção conjunta automática aumenta do primeiro ao último segmento para atingir o seu valor máxi- mo no segmento distal. Isto modela a coluna do polegar articulada na sua base por um cardão e cuja segunda falange sofre uma rotação conjun- ta automática sem que em nenhum momento in- tervenha qualquer jogo mecânico na trapézio- metacarpeana. Graças à ação coordenada das três articula- ções trapézio-metacarpeana, metacarpofalan- geana e interfalangeana se realiza a rotação do polegar sobre o seu eixo longitudinal, mas é a trapézio-metacarpeana, "a rainha", a que inicia o movimento. Esta demonstração pode se reproduzir com o modelo mecânico da mão mostrado ao final deste volume. a ~ Fig.5-137 I I ~ I I I, I I \ Fig.5-139 Fig.5-136 ---------------- ----- 1. MEMBRO SUPERIOR 231 I Fig.5-140 Fig.5-141 232 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA (continuação) r Os movimentos do primeiro metacarpeano o primeiro metacarpeano pode realizar, de forma isolada ou simultânea, movimentos em tomo de dois eixos ortogonais e um movimento sobre o seu eixo longitudinal que deriva dos movimen- tos precedentes. Resta definir a posição no espaço de dois eixos principais da trapézio-metacarpeana. Numa peça anatômica (fig. 5-142), se inserirmos um espeto metálico no centro da curva média de cada uma das superfícies do trapézio e do metacarpeano, podemos materializar: - na base do primeiro metacarpeano, o eixo xx' que corres- ponde à curva côncava do trapézio; - no trapézio, o eixo yy' que corresponde à curva côncava da sela metacarpeana. Claro que na realidade viva, estes eixos não são imutáveis mas sim móveis, evolutivos no curso mesmo do movimento, o es- peto representa uma posição média. Contudo, numa primeira apro- ximação. podemos considerá-Ios, com objetivo de modela1; isto é, de representar parcialmente a realidade para facilitar a compreen- são de um fenômeno complexo, como os dois eixos da trapézio- metacarpeana. Constituem o que os mecânicos denominam um cardão porque são ortogonais, ou seja, perpendiculares entre si no espaço. Portanto, a articulação possui as propriedades de um car- dcio. Além disso, observamos duas características importantes: - por uma parte, o eixo xx' é paralelo aos eixos de flexão- extensão da metacarpofalangeana fi e da interfalangeana f" fato que se poderá ver as conseqüências; - por outra parte, o eixo xx', ortogonal a yy', também o é ao fi e f, e, portanto, está incluído no plano de flexão da primeira e da segunda falange; isto é, no plano de flexão da coluna do polegar. Por último, como fato essencial, os dois eixos xx' e yy' da trapézio-metacarpeana são oblíquos em relação aos três planos de referência frontal (F), sagital (5) e transversal (T). Podemos dedu- zir que os movimentos puros do primeiro metacarpeano se realizam nos planos oblíquos em relação aos três planos de referência clás- sicos e não podemos designá-los pelos termos inventados pelosan- tigos anatomistas, ao menos quanto à abdução cujo plano é frontal. Desse modo, podemos definir os movimentos pu- ros do primeiro metacarpeano (fig. 5-143) no sistema de referência do trapézio: - em torno do eixo XX' que se denominará prin- cipal, porque graças a este eixo o polegar "es- colhe" o dedo ao qual vai se opor, se realiza um movimento de anteposição-retroposição no percurso do qual a coluna do polegar suposta- mente estendida se desloca num plano AOR perpendicular ao eixo xx' e que inclui a unha do polegar. A retroposição R dirige a unha do polegar para trás para conduzi-Io ao plano da palma da mão, afastado aproximadamente 60° do segundo metacarpeano. A anteposição A di- rige o polegar para frente, quase perpendicular ao plano da palma da mão, numa posição que os autores da língua inglesa denominam abdu- ção (o que não contribui para esclarecer muito); - em tomo ao eixo yy' que, por referência ao pri- meiro, se denominará secundário, se realiza um movimento de flexão-extens&o num plano FOE perpendicular ao eixo yy' e ao plano precedente. A extensãç E dirige o primeiro metacarpeano para cima, para trás e para fora e se prolonga pela extensão da primeira e da segunda falan- ges, conduzi na o a coluna do polegar quase ao plano da palma da mão. Aflexão F dirige o primeiro metacarpeano pa- ra baixo, para frente e para dentro, sem ultra- passar nesta direção o plano sagital que passa pelo segundo metacarpeano, embora prolon- gando-se através da f1exão das falanges que faz com que a polpa contate com a palma da mão no nível da base do dedo mínimo. Assim, a noção de f1exão-extensão do primeiro metacarpeano é perfeitamente justificada por- que se complementa com o movimento homó- logo nas outras duas articulações da coluna do polegar. Além destes movimentos puros de ante-retroposi- ção e de flexão-extensão, todos os outros movimentos do primeiro metacarpeano são movimentos complexos que associam, em diversos graus, movimentos em tomo dos dois eixos, sucessivos ou simultâneos e que integram, co- mo ficou demonstrado anteriormente, uma rotação auto- mática ou uma rotação conjunta sobre o eixo longitudi- naL Esta, como teremos ocasião de comprovar, desem- penha uma função essencial na oposição do polegar. Os movimentos de f1exão-extensão e de ante-re- troposição do primeiro metacarpeano se originam na posição neutra ou de repouso muscular do polegar (fig. 5-144), como a definiram C. Hamonet e P. Valentin, se correspondendo com a posição de "silêncio" eletromio- gráfico: nenhum dos músculos do polegar, em estado de descontração, libera potencial de ação. Esta posição N é importante nas radiografias: a projeção sobre o plano frontal de Mj com M2 forma um ângulo de 30°. No pla- no sagital, o mesmo ângulo é de 40°. Devemos lembrar que esta posição N corresponde à distensão dos ligamentos e à máxima congruência das superfícies articulares que, neste caso, se recobrem to- talmente. I Fig.5-143 Fig.5-144 1. MEMBRO SUPERIOR 233 Fig.5-142 234 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA (continuação) Avaliação dos movimentos do primeiro metacarpeano Após definir os movimentos reais do pri- meiro metacarpeano, convém explicar corno avaliá-Ias na prática. Existem três sistemas, o que não ajuda a esclarecer o problema. O primeiro sistema que poderia se deno- minar clássico (fig. 5-145): o primeiro meta- carpeano evolui num triedro de referência re- tangular constituído pelos três planos perpendi- culares. transversal T, frontal F e sagital S, es- tes dois últimos se cortam no eixo longitudinal do segundo metacarpeano e a intersecção dos três planos se situa na trapézio-metacarpeana. A posição de referência se consegue quando o primeiro metacarpeano está "colado" ao segun- do no plano da palma da mão, a grosso modo o plano F. Convém ressaltar duas observações: esta posição não é natural e o primeiro meta- carpeano não pode ser estritamente paralelo ao segundo. A abdução (seta 1) é a separação do pri- meiro em relação ao segundo metacarpeano no plano F, a adução ou aproximação, o movimen- to contrário. A flexão (seta 2), ou avanço, é o movi- mento que dirige o primeiro metacarpeano pa- ra frente, a extensão ou retrocesso, o movimen- to contrário. A posição do primeiro metacarpeano se define mediante dois ângulos (ilustração menor): a abdução a e a flexão b. Este sistema apresenta dois inconvenientes: - medir projeções sobre p'lanos abstratos e não sobre ângulos reais; -- não avaliar a rotação sobre o eixo longi- tudinal. ~ O segundo sistema, que poderia se denomi- nar moderno (fig. 5-146), proposto por J. Du- pare, J.Y de Ia Caffiniere e H. Pineau, não defi- ne movimentos, mas sim, posições do primeiro metacarpeano seguindo um sistema de coorde- nadas polares. A localização do primeiro meta- carpeano se define pela sua posição sobre um cone cujo eixo se confunde com o eixo longitu- dinal do segundo metacarpeano e o vértice se si- tua na trapézio-metacarpeana. O semi-ângulo no vértice do cone (seta 1) é o ângulo de separação a, válido quando o primeiro metacarpeano se desloca sobre a superfície do cone. A sua posi- ção se particulariza sem ambigüidade alguma, graças ao ângulo (seta 2) que forma o plano que passa pelo eixo dos dois primeiros metacarpea- nos com o plano frontal. Este ângulo b é deno- minado por alguns autores "ângulo de rotação espacial", o que é urna tautologia porque qual- quer rotação somente pode ocorrer no espaço. Assim sendo, seria mais indicado denominá-Io ângulo de circundução, já que o deslocamento do primeiro metacarpeano sobre a superfície do cone é uma circundução. O mais interessante deste sistema de avalia- ção é que estes dois ângulos são bastante fáceis de medir com um esquadro. r T Fig.5-146 1. MEMBRO SUPERIOR 235 s 236 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO-META CARPEANA (continuação) o sistema do trapézio Porém, o maior inconveniente destes siste- mas de avaliação, é que medem movimentos complexos da trapézio-metacarpeana integran- do obrigatoriamente um componente de rotação longitudinal, produto das rotações em tomo dos dois eixos da articulação. O terceiro sistema que se propõe é um sis- tema de referência do trapézio que só pode ex- plorar-se com radiografias em incidências espe- cíficas: - quando colocamos a coluna do polegar de frente (fig. 5-147), a curva côncava do trapézio e a curva convexa do pri- meiro metacarpo se vêm estritamente de perfil, sem nenhum efeito de pers- pectiva. Se realizamos uma radiografia em retroposição e outra em anteposi- ção e se constata que: • a retroposição de 15 a 25° de amplitu- de conduz o eixo do primeiro metacar- peano a estar quase paralelo ao do se- gundo, enquanto a sua base se "sublu- xa" por fora da superfície do trapézio; • a anteposição de 25 a 35° de amplitu- de "abre" o ângulo entre os dois pri- meiros metacarpeanos até 65°, enquan- to a base do primeiro desliza por den- tro em direção a do segundo. Estes deslocamentos da base do primei- ro metacarpo sobre a sela do trapézio se entendem perfeitamente como o resulta- do de uma rotação em tomo centro da curva côncava do trapézio, projeção na base de M] do eixo principal xx' da trapézio- metacarpeana. - quando se dispõe a coluna do polegar de perfil (fig. 5-148), a curva convexa do trapézio e a curva côncava do metacar- peano se vêm sem nenhuma defomlação em perspectiva. Uma radiografia da co- luna do polegar em máximafiexão e ou- tra em extensão permitem constatar que: • afiexão de 20 a 25° de amplitude colo- ca quase paralelo o eixo dos dois pri- meiros metacarpeanos; • a extensão de 30 a 45° de amplitude faz com que o eixo do primeiro metacar- peano forme um ângulo de 65° com o do segundo. Também, neste caso, o deslizamento da superfície basal côn- cava do primeiro metacarpeano sobre o trapézio se entende perfeitamente co- mo o resultado de uma rotação em tor- no do centro da curva convexa do trapézio, se projetando no trapé~io co- mo o eixo secundário YY' da trapézio- metacarpeana. Em resumo, a amplitudedos movimentos na trapézio-metacarpeana é mais reduzida do que podíamos pensar pela grande mobilidade da coluna do polegar: - trajeto de 40 a 60° entre a anteposição e retroposição máximas; - trajeto de 50 a 70° entre a flexão e a ex- tensão máximas. Só a realização de radiografias em incidên- cias específicas da trapézio-metacarpeana, co- locando a coluna do polegar de frente e de per- fil, permite explorar convenientemente a fisiolo- gia desta articulação e apreciar as limitações (Kapandji, 1980). 1. MEMBRO SUPERIOR 237 Fig.5-148 ANTEPOSIÇÃO- RETROPOSIÇÃO = 40-60' Fig.5-147 FLEXÃO-EXTENSÃO = 50-70' 25-85° 238 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO lVIETACARPOFALANGEANA DO POLEGAR Os anatomistas consideram a articulação metacarpofalangeana uma condilar, uma ovóide, como denominam os autores ingleses. Portanto, possui, como todas as condilares, dois graus de liberdade, a flexão-extensão e a lateralidade. Na verdade, a sua complexa biomecânica associa um terceiro grau de liberdade, a rotação da pri- meira falange sobre o seu eixo longitudinal, se- ja em supinação ou em pronação, movimento não somente passivo, mas principalmente ativo indispensável na oposição. Com a metacarpofalangeana aberta pela frente (fig. 5-149) e a primeira falange desloca- da para trás, a cabeça do metacarpeano (1) apa- rece convexa em ambos os sentidos, mais longa que larga, prolongada para frente por dois espal- dões assimétricos, o interno (a) mais proeminen- te que o externo (b). A base da primeirafalange está ocupada por uma superfície cartilaginosa (2) côncava nos dois sentidos e a sua margem anterior serve de inserção àfibrocartilagem gle- nóide (3) ou placa palmar que contém, próxi- mos à sua margem inferior, os dois ossos sesa- móides internos (6) e externos (7). O corte da cápsllla (8) se caracteriza, de um lado ao outro, pelo espessamente que formam os ligamentos metacarpoglenóides interno (9) e externo (10). Podemos observar os recessos capslllares ante- rior (11) e posterior (12), bem como os liga- mentos laterais, o interno (13) mais curto e que está tenso antes que o externo (14). As setas xx' representam o eixo de fiexão-extensão e a seta yy' o eixo de lateralidade. Em vista anterior (fig. 5-150), podemos ob- servar os mesmos elementos: o metacarpeano (15) abaixo, a primeira falange (16) acima, embo- ra se distingam muito melhor os detalhes da pla- ca palmar com a fibrocartilagem glenóide (3), o sesamóide interno (4) e o externo (5) unidos pelo ligamento intersesamóide (17) e fixos à cabeça metacarpeana pelos ligamentos metacarpoglenói- des interno (18) e externo (19) e à base da primei- ra falange pelas fibras falango-sesamóides diretas (20) e cruzadas (21). Os músculos sesamóides in- ternos (6) se inserem no sesamóide interno e en- viam uma expansão (22) à base da falange ocul- tando parcialmente o ligament0 lateral interno (13). Está seccionada a expansão falangeana (23) dos sesamóides externos (7) para poder observar melhor o ligameÍlto lateral externo (14). Em vista lateral interna (fig. 5-152) e em vista lateral externa (fig. 5-153) podemos obser- var também o recesso capsular posterior (24) e o anterior (25), bem como a inserção do tendão do extensor curto próprio do polegar (26), e é pre- ciso ressaltar a inserção do metacarpo claramen- te descentrada dos ligamentos laterais interno (13) e externo (14) e dos ligamentos metacar- poglenóides (18) e (19). Também podemos constatar que o ligamento lateral interno (fig. 5- 152), mais curto, está tenso antes que o externo (fig. 5-153), o que provoca um deslocamento mais limitado da base da falange sobre a mar- gem interna da cabeça do metacarpeano que so- bre a margem externa. Uma vista esquemática superior (fig. 5-157, página 241) da cabeça do metacarpeano (tracejada) explica como este des- locamento diferencial, I para dentro, L para fora, provoca uma rotação longitudinal em pronação da base da falange, especialmente quando os se- samóides externos (SE) se contraem mais vigo- rosamente que os internos (SI). Este fenômeno se acentua ainda mais pela assimetria da cabeça do metacarpeano (fig. 5- 151, vista de frente), onde o espaldão ântero-in- terno (a) mais proeminente desce menos que o externo (b): no lado externo a base da falange se desloca mais para frente e para baixo o que, na flexão, provoca uma pronação e um desvio ra- dial da primeira falange. 1. MEMBRO SUPERIOR 239 23 -14 20 _21 ~19 17 23 7 Fig.5-150 Fig.5-151 b 15 5 10 6 8 7 13 14 21_ 20~ 22 4 18 b 10 11 a Fig.5-149 2 6 4 9 3 9 8 a 12 13 1 1~~!;;/A\:nr~ 2220_21""lU,. ~~~n~_ 2626." . \, L& 34 14 24_L~ I~-:.J\'Hf.,\18 l.~:o-:r. 1.\--2423 ~ 20-21 3 ~~~·~~~rgA"" 19 6 - 16 ~ / .Ç:;: ~,y 25 Fig.5-152 7 Fig.5-153 r- I 240 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR (continuação) As possibilidades de inclinação e de rota- ção longitudinal da falange dependem de seu grau de flexão. Em posição de alinhamento ou de extensc70 (fig. 5-154) os ligamentos laterais estão disten- didos, mas o sistema da placa palmar e dos liga- mentos metacarpoglenóides está tenso (como as superfícies articulares condilares do joelho em extensão), o que impede a rotação longitudinal e a lateralidade. É a primeira posiçc7o de bloqueio, em extensão. Em posição intermédia ou de sel71ifle:rc7o (fig. 5-155), os ligamentos laterais ainda estão distendidos, o externo mais que o interno, e o sistema da placa palmar se distende, devido à basculação dos sesamóides debaixo dos espal- dões anteriores da cabeça do metacarpeano. Tra- ta-se da posição de máxima mobilidade na qual os movimentos de lateralidade e rotação longitu- dinal são viáveis pela ação dos músculos sesa- móides: a contração dos internos determina um desvio ulnar e uma leve supinação e a dos exter- nos um desvio radial e uma pronação. Em posição de fiexc70 máxima Oli de blo- queio (fig. 5-156), o sistema da placa palmar se distende, mas os ligamentos laterais estão tensos ao máximo, o que acarreta um deslocamento da base da falange em desvio radial e pronação. A articulação fica literalmente bloqueada pela ten- são dos ligamentos laterais e o recesso dorsal numa posição de oposição máxima pela ação predominante e quase exclusiva dos músculos tenares externos. É a dose packed position de Mac Conaill. Trata-se da segunda posição de bloqueio, em flexão. ' Em resumo (Kapandji, 1980), a metacarpo- falangeana do polegar pode realizar dois tipos de movimentos a partir da posição de alinha- mento (fig. 5-158, vista posterior da cabeça do metacarpeano com os eixos de diferentes movi- mentos): - afiexc70 plira (seta 1) em tomo de um ei- xo transversal fi' por ação equilibrada dos músculos sesamóides externos e in- ternos até a semiflexão; - os movimentos complexos de fiexão- desvio-rotação longitudinal: • seja a fiexc7o-desvio ulnar-supinação (seta 2) ao redor de um eixo oblíquo (e evolutivo) f" o que produz uma rotação cônica. Este movimento se deve à ação predominante dos sesamóides internos; • seja a fiexc7o-desvio radial-pronação (seta 3) em tomo de outro eixo oblíquo no outro sentido (e também evolutivo) de obliqÜidade mais acentuada f3'Tam- bém neste caso se trata de uma rotação cônica e o movimento se deve à ação predominante dos sesamóides externos. A máxima flexão sempre conduz ao desvio radial-pronação devido à forma assimétrica da cabeça do metacarpeano e à tensão desigual dos ligamentos laterais. Fig.5-154 Fig.5-155 1. MEMBRO SUPERIOR 241 Fig.5-156 Fig.5-157 r Fig.5-158 242 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEAN~ DO POLEGAR (continuação) Os movimentos Aposição de referência da metacarpofalan- geana do polegar é a posição de alinhamento (fig. 5-159): o eixo da primeira falange se loca- liza no prolongamento do eixo do primeiro me- tacarpeano. A partir desta posição, a extensão num indivíduo normal, seja ativa ou passiva, é inexistente. A fiexão ativa (fig. 5-160) é de 60- 70°, afiexão passiva pode atingir 80° e inclusive 90°, As amplitudes dos diferentescomponentes do movimento na metacarpofalangeana podem ser observadas, fixando sobre a superfície dorsal do polegar, de um lado e outro da articulação, um triedro de referência construído com fósfo- ros, de tal modo que na posição de alinhamento sejam paralelas (ou no prolongamento uma da outra) (fig. 5-161). Dessa forma, podemos evi- denciar os componentes de rotação e desvio. [ -- Em posição de semifiexão podem-se con- trair tanto os sesamóides internos quanto os ex- ternos. A contração dos sesamóides internos (fig. 5-162, vista distal com o polegar em leve ante- posição e figo5-163, vista proximal com o pole- gar em retroposição no plano da palma) leva a um desvio ulnar de alguns graus e a uma supina- ção de 5 a r A contração dos sesamóides externos (fig. 5-164, vista distal e figo5-165, vista proximal) produz um desvio radial, muito visível na vista proximal, claramente maior que o desvio ulnar precedente e uma pronação de 20°. Poderemos ver mais adiante toda a impor- tância deste movimento de fiexão-desvio radial- pronação na oposição do polegar. Fig.5-162 Fig.5-165 Fig.5-160 1. MEMBRO SUPERIOR 243 '~ '" \ \' Fig. 5-161\ , ~ ~ Fig.5-163 Fig.5-164 244 FISIOLOGIA ARTICULAR A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR (continuação) r n Os movimentos Nas preensões cilíndricas com toda a pal- ma da mão, a ação dos músculos sesamóides ex- ternos sobre a metacarpofalangeana é a que as- segura o bloqueio da preensão. Quando o pole- gar não intervém (fig. 5-166) e permanece para- lelo ao eixo do cilindro, a preensão não é blo- queada e o objeto pode cair facilmente pelo es- paço que fica livre entre os dedos e a eminência tenar. Se, por outro lado, o polegar se dirige aos outros dedos (fig. 5-167), o cilindro já não pode cair: o desvio radial da primeira falange, clara- mente visível no desenho, completa o movimen- to de anteposição do primeiro metacarpeano. Desta maneira, o polegar percorre o caminho mais curto em tomo do cilindro, isto é, o círcu- lo gerado (f), enquanto sem desvio radial segui- ria um trajeto elíptico mais longo (d). Portanto, o desvio radial é indispensável para o bloqueio da preensão, cada vez melhor quanto mais fechado esteja o anel formado pelo polegar e o dedo indicador que segura o objeto e percorre na sua superfície o trajeto mais curto (fig. 5-168): da posição onde o polegar está si- tuado ao longo de um gerador do cilindro e pela qual se rompe o anel da preensão, passando pe- las posições sucessivas b-c-d-e pelas quais o anel vai se fechando progressivamente até che- gar, finalmente, à posição f onde o polegar segue o círculo gerador, o que fecha totalmente o anel e dá firmeza à preensão. Além disso, a pronação da primeira falan- ge (fig. 5-169), visível pelo ângulo de 12° forma- do pelos dois pontos de referência transversais, permite que o polegar entre em contato com o objeto com a máxima superfície da sua superfí- cie palmar e não com a sua margem interna. Au- mentando a superfície de contato, a pronação da primeira falange é um fator de consolidação da preensão. Quando, por causa do diâmetro mais redu- zido do cilindro (fig. 5-170). o polegar cobre parcialmente o dedo indicador, o anel da preen- são é ainda mais estreito, o bloqueio é absoluto e a preensão é mais firme. A fisiologia peculiar da metacarpofalan- geana do polegar e dos seus músculos motores se adapta notavelmente à função de preensão. A estabilidade da metacarpofalangeana do polegar não somente depende de fatores ar- ticulares, mas também de fatores musculares. Normalmente, no movimento de oposição do polegar (fig. 5-171), as duas cadeias articulares do dedo indicador e do polegar se estabilizam pela ação de músculos antagonistas (representa- dos por pequenas setas pretas). Em alguns casos (fig. 5-172, segundo Sterling Bunnel), podemos constatar como "se inverte a metacarpofalangea- na" em extensão (seta branca): 1) quando uma insuficiência do abdutor curto e do flexor curto provoca um des- locamento da falange: 2) quando uma retração dos músculos do primeiro espaço interósseo aproxima o primeiro metacarpeano do segundo; 3) quando uma insuficiência do abdutor longo impede a abdução do primeiro metacarpeano. Fig.5-166 Fig.5-169 Fig.5-171 Fig.5-168 1. MEMBRO SUPERIOR 245 Fig.5-170 Fig.5-172 246 FISIOLOGIA ARTIClJLAR A INTERFALANGEANA DO POLEGAR À primeira vista, a articulação interfalan- geana do polegar não tem mistério: de tipo tro- clear, possui só um eixo transversal e fixo, que passa pelo centro da curva dos côndilos da pri- meira falange, ao redor do qual se realizam os movimentos de fiexão-extensão. Flexão (fig. 5-173) ativa de 75 a 800, passi- va de 900• Extensão (fig. 5-174) ativa de 5 a 10°, mas é especialmente notável a hiperextensão passiva (fig. 5-175) que pode ser muito pronunciada (30°) em alguns profissionais, como é o caso dos escultores que utilizam o polegar como espátula para trabalhar a argila. A realidade é muito mais complexa porque, à medida que se fiexiona, a segunda falange roda longitudinalmente no sentido da pronação. Numa peça anatômica (fig. 5-176), após haver inserido dois espetos paralelos, a na cabe- ça da primeira falange e b na base da segunda, em máxima extensãCY.a fiexão da interfalangea- na produz a aparição de um ângulo de 5 a 100, aberto do lado interno. no sentido da pronação. A mesma experiência, realizada no ser vivo com fósforos colados paralelos entre si na super- fície dorsal de F e F . conduz ao mesmo resul- I 2 tado: a segunda falange do polegar realiza a pro- nação de 5 a 10° no curso da sua fiexão. A explicação deste fenômeno se consegue com argumentos puramente anatômicos: com a articulação aberta pela sua superfície dorsal (fig. 1- -- 5-177), podemos observar as diferenças entre ambos os côndilos: o interno é mais proeminen- te, se estende mais para frente e para dentro que o externo. O raio de curva do externo é menor, embora a sua parte anterior "desça" de forma mais abrupta em direção à superfície palmar. Assim sendo, podemos deduzir que o ligamento lateral interno (LU), que está rapidamente mais tenso que o externo durante a fiexão, freia a par- te interna da falange, enquanto a parte externa da base da falange continua o seu trajeto. Em outros termos (fig. 5-178), o trajeto per- corrido AA' sobre o côndilo interno é levemente mais curto que o trajeto sobre o externo BB', o que acarreta a rotação longitudinal da pequena falange. De modo que podemos afirmar que não existe um eixo de fiexão-extensão, mas sim, uma série de eixos instantâneos e evolutivos entre a posição inicial i e a posição final.f Se temos a intenção de modelar esta articu- lação, sobre uma lâmina de papelão, por exem- plo, (fig. 5-179), basta traçar uma prega de fie- xão, que não seja perpendicular ao eixo longitu- dinal do dedo, mas sim inclinada uns 5-10°: a pequena falange descreverá o seu trajeto em fie- xão corno uma rotação cônica provocando uma mudança de orientação proporcional ao grau de fiexão. Este componente de pronação na interfa- langeana se integra, como poderemos conferir mais adiante, na pronação global da coluna do polegar no percurso da oposição. [ LU Fig.5-177 Fig.5-179 Fig.5-174 Fig.5-178 1. MEMBRO SUPERIOR 247 Fig.5-175 Fig.5-176 248 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR o polegar possui nove músculos motores: esta riqueza muscular, que ultrapassa com evidência à dos outros dedos, condiciona a mobi- lidade superior e a principal função deste dedo. Estes músculos se classificam em dois grupos: a) os músculos extrínsecos, ou músculos longos, são quatro e se localizam no an- tebraço. Três são abdutores e extensores e se utilizam para soltar a preensão, o úl- timo é flexor e a sua potência se utiliza para o bloqueio das preensões de força; b) os músculos intrínsecos, incluídos na eminência tenar e no primeiro espaço interósseo, são cinco. Participam na rea- lização de diferentes preensões e em par- ticular na oposição. Não se trata de mo- tores de potência. mas de precisãoe coordenação. Para entender a ação dos motores sobre o conjunto da coluna do polegar, é necessário si- tuar o seu trajeto em relação aos dois eixos teó- ricos da trapézio-metÇlcmpeana (fig. 5-180): o eixo yy' de flexão-extensão, paralelo aos eixos fi' e f2 de f1exão da metacarpofalangeana e da interfalangeana, e o eixo xx' de anteposição e retroposição delimitam entre eles quatro qua- drantes: - um quadrante x'y' localizado atrás do eixo yy' de f1exão-extensão da trapézio- metacarpeana e diante do eixo xx' de an- tepu1são/retropulsão, ocupado pelo ten- dão de só um músculo, o abdutor longo (1), que se localiza muito perto deste úl- timo eixo xx'. Isto explica a escassa im- portância do seu componente de antepo- sição e a sua forte ação de extensão so- bre o primeiro metacarpeano (fig. 5-181, vista externa e proximal do punho em posição de fuga); - um quadrante x'y situado por trás do ei- xo xx' e por trás do eixo yy', que inclui os dois tendões extensores: • o extensor:.curto (2), • o extensor longo (3); - um quadrante Xy localizado pela frente do eixo yy' e por trás do eixo xx', ocu- pado por dois músculos situados no pri- meiro espaço e que produzem uma retro- posição associada a uma ligeira f1exão na trapézio-metacarpeana: • o adutor com os seus dois fascículos (8), • o primeiro interósseo palmar (9) quan- do existe. Estes dois músculos são adutores do pri- meiro metacarpeano: fecham a primeira comis- sura. aproximando o primeiro metacarpeano do segundo (fig. 5-182); - um quadrante xy' situado pela frente dos dois eixos xx' e yy' que inclui os princi- pais músculos da oposição, por reali- zarem ao mesmo tempo uma f1exão e uma anteposição do primeiro metacar- peano: • o oponente (6), • o abdutor curto (7). Com relação aos dois últimos: • o flexor longo próprio do polegar (4), • e o flexor curto (5). Situam-se no eixo xx' e, portanto, são f1e- xores puros da trapézio-metacarpeana. [ Fig.5-181 Fig.5-182 Fig.5-180 1. MEMBRO SUPERIOR 249 y' 250 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR (continuação) Uma breve lembrança de anatomia esclare- ce a fisiologia dos músculos motores do polegar. Músculos extrÍnsecos (fig. 5-183, vista an- terior e 5-184, vista externa): - o abdutor longo do polegar (1) se insere na parte ântero-externa da base do pri- meiro metacarpeano; - o extensor curto do polegar (2) paralelo ao anterior (fig. 5-184) se insere na par- te dorsal da base da primeira falange; - o extenso r longo do polegar (3) se inse- re na parte dorsal da base da segunda fa- lange; Com relação a estes três músculos pode- mos constatar duas observações: • no plano anatômico: estes três ten- dões, visíveis na superfície dorsal e ex- terna do polegar, delimitam entre si um espaço triangular de vértice inferior, a tabaqueira anatõmica, em cujo fundo deslizam os tendões paralelos do pri- meiro (10) e segundo radial (11); • no plano "funcional: cada um deles é motor de um segmento do esqueleto do polegar e os três em conjunto no senti- do da extensão; - o fiexor próprio do polegar (4) corre pe- lo túnel do carpo, passa entre os dois fas- cículos musculares do flexor curto, des- liza entre os dois ossos sesamóides (fig. 5-183) para se inserir na superfície pal- mar da base da segunda falange. Músculos intrínsecos (figs. 5-183 e 5-184). Classificam-se em dois grupos: O grupo externo contêm três músculos, inervados pelo mediano, que são, da profundida- de à superfície: - o fiexor curto (5) constituído por dois fascículos, um se fixa no fundo do canal do carpo e o outro na margem inferior do ligamento anular e do tubérculo do trapézio; terminam mediante um tendão comum no sesamóide externo e no tu- bérculo externo da base da primeira fa- lange; direção oblíqua para cima e para dentro; - o oponente (6) se insere na parte externa da superfície anterior do metacarpeano, se dirige pata cima, para dentro e para frente para se inserir na metade externa da super- fície anterior'do ligamento anular; - o abdutor curto (7) se fixa no ligamento anular, acima do anterior e sobre o tubér- culo do escafóide, constituindo o plano superficial dos músculos tenares e se in- sere no tubérculo externo da primeira fa- lange; uma expansão dorsal forma um espaldão com o primeiro interósseo pal- mar (9), este músculo não se localiza pa- ra fora, mas para frente e para dentro do primeiro metacarpeano, e se dirige, co- mo o oponente, para cima, para dentro e para a frente. Estes três músculos constituem o grupo ex- terno porque se inserem na parte e:rterna do me- tacarpeano e da primeira falange. O flexor cur- to e o abdutor curto formam os sesamóides ex- temos. O grupo interno contém dois músculos inervados pelo ulnar que se inserem na margem interna da articulação metacarpofalangeana: - o primeiro interósseo palmar (9), cujo tendão se insere no tubérculo interno da base da primeira falange e envia uma ex- pansão dorsal; - o adutor do polegar (8), cujos dois fas- cículos oblíquo e transverso se inserem no sesamóide interno e no tubérculo in- terno da base da primeira falange. Por motivo de simetria, estes dois músculos constituem os sesamóides internos. São sinérgi- cos-antagonistas dos sesamóides externos. Fig.5-186 1----- Fig.5-183 Fig.5-185 252 FISIOLOGIA ARTICULAR AS AÇÕES DOS MÚSCULOS EXTRÍNSECOS DO POLEGAR o abdutor longo do polegar (AL) (fig. 5-187) desloca o primeiro metacarpeano para fora e para frente. Portanto, não só é abdutor mas também an- tepulsor do metacarpeano, especialmente quando o punho está em flexão leve. Este componente ante- rior se deve ao fato de que o tendão do abdutor lon- go é o mais anterior dos tendões da tabaqueira ana- tômica (ver figo 5-184). Quando o punho não está estabilizado pelos extensores radiais - principal- mente o curto - o abdutor longo também éfiexor do punho. Quando o punho está estendido, o abdutor longo se transforma em retropulsor do primeiro me- tacarpeano. No p/ano funcional, o par abdutor longo e músculos do grupo externo desempenha um papel primordial na oposição. De fato, para que o polegar se coloque em oposição, é necessário que o primei- ro metacarpeano se desloque perpendicularmente pela frente do plano da palma da mão, com a emi- nência tenar formando um cone proeminente por ci- ma da margem externa da palma da mão. Esta ação é o resultado do funcionamento do par funcional (figs. 5-185 e 5-186, página anterior: o primeiro me- tacarpeano aparece estilizado): - primeira fase (fig. 5-185): o abdutor longo (]) estende o metacarpeano, para frente e para fora, da posição I à posição II; - segunda fase (fig. 5-186): a partir desta po- sição II, os músculos do grupo externo, fle- xor curto e abdutor curto (5 e 7) e oponente (6) deslocam o metacarpeano para frente e para dentro (posição lU) e o rodam sobre o seu eixo longitudinal. Para maior comodidade da descrição vamos expor as duas fases de maneira sucessiva. Na verdade, são simultâneas e a posição final lII do metacarpeano é o resultado da ação sincrôni- ca dos dois elementos do par funcional. O extensor curto do polegar (EC) (fig. 5-188) possui duas ações: a) estende a primeirafalange sobre o metacar- peano; b) desloca o primeiro metacarpeano e, por conseguinte o polegar, diretamente para fora: se trata do verdadeiro abdutor do polegar, o que corresponde a uma extensão e a uma retro- posição da trapézio-metacarpeana. Para que esta abdução se relize de maneira isolada, é ne- cessário estabilizar o punho mediante a contra- ção sinérgica do flexor ulnar do carpo e princi- palmente do extensor ulnar do carpo, caso contrário, o extensor curto também realiza a abdução do punho. O extensor longo do polegar (EL) (fig. 5-189) tem três ações: a) estende a segundafa/ange sobre a primeira: b) estende a primeirafalange sobre o metacar- peano; c) desloca o metacarpeano para dentro e para trás: • para dentro: "fecha" o primeiro espaço interósseo, de modo que é adutor do pri- meiro metacarpeano; • por trás do plano da mão: é retropulsor do primeiro metacarpeanograças a sua reflexão sobre o tubérculo de Lister (fig. 5-181). Devido a isto, o extensor longo é um antagonista da oposição: contribui a aplanar a palma da mão; a polpa do pole- gar se orienta para frente. O extensor longo forma um par antagonista- sinérgico com o grupo externo dos mLÍsculos tena- res: de fato, quando queremos estender a segunda falange sem deslocar o polegar para trás, é necessá- rio que o grupo tenar externo estabilize o metacar- peano e a primeira falange pela frente. O grupo te- nar externo atua como moderador do extenso r lon- go do polegar: quando os músculos tenares se para- lisam, o polegar se desloca irresistivelmente para dentro e para trás. De maneira acessória, o extensor longo também é extenso r do punho quando esta ação não está anulada pela contração do palmar maIOr. O flexor longo próprio do polegar (FL) (fig. 5-190) é fiexor da segunda falange sobre a primei- ra, e de maneira acessória flexiona levemente a pri- meira falange sobre o metacarpeano. Para que a fle- xão da segunda falange se realize de maneira isola- da, o extensor curto, mediante sua contração, deve impedir a flexão da primeira (par sinérgico). Mais adiante poderemos analisar o papel in- discutível que desempenha o fiexor longo do polegar na preensão terminal (ver figs. 5-211 e 5-212). AL EC Fig.5-187 EL Fig.5-189 254 FISIOLOGIA ARTICULAR AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR ,---- Grupo interno dos músculos tenares, também denominados músculos sesamóides in- ternos: O adutor do polegar (fig. 5-191), com os seus dois fascículos (I, fascículo transverso; 1', fascículo oblíquo), estende sua ação sobre as três peças ósseas do polegar: a) no primeiro metacarpeano (esquema, figo5-192), a contração do adutor deslo- ca o primeiro metacarpo para uma posi- ção de equilíbrio ligeiramente para fora e para frente do segundo metacarpeano (posição A), embora o sentido do movi- mento dependa da posição inicial do metacarpeano (segundo Duchenne de Boulogne): • o adutor é realmente adutor se o meta- carpeano parte de uma posição de má- xima abdução (posição 1); • mas se transforma em abdutor se o me- tacarpeano está, no ponto de partida, em máxima adução (posição 2); • se o metacarpeano está em máxima re- tropulsão, sob a influência do extensor longo próprió (posição 3), o adutor se transforma em antepulsor; • ao contrário, se o metacarpeano é colo- cado previamente em anteposição pelo abdutor curto (posição 4), se transfor- ma em retropulsor; (R indica a posição de repouso do pri- meiro metacarpeano); Recentes estudos eletromiográficos de- monstraram que o adutor do polegar não intervém ativamente durante a adu- ção somente, mas também durante a re- tropulsão do polegar, durante a preen- são com toda a palma e no percurso da preensão subterminal (pulpar) e princi- palmente subterminal-lateral (pulpar- lateral). Durante a oposição do polegar aos outros dedos, intervém mais ativa- mente quanto mais o polegar realiza a oposição a um dedo mais interno. Por- tanto, sua ação é máxima para a opo- sição polegar/dedo mínimo. O adutor não intervém na abdução, na antepulsão, na preensão tetminal-termi- nal (pulpoungueal). Posteriores -trabalhos eletromiográficos confirmaram que "a sua atividade se ma- nifesta principalmente no movimento que aproxima o polegar do segundo me- tacarpeano, e isto em todos os setores da oposição. Sua atividade é menor num trajeto maior que em outro menor" (fig. 5-193, esquema de ação do adutor se- gundo Hamonet, de Ia Caffiniere e Opso- mer). b) na primeira falange (fig. 5-191) a ação é tripla: ligeira fiexão, inclinação sobre a margem interna (margem ulnar), rota- ção longitudinal em supinação (rotação externa) (seta preta); c) na segllndafalange: extensão, na medi- da em que as inserções terminais do adu- tor são comuns com as do primeiro inte- rósseo. O primeiro interósseo palmar possui uma ação muito semelhante: - adllção (aproximação do primeiro meta- carpeano ao eixo da mão); - fiexão da primeirafalange pelo espaldão; - extensão da segunda por expansão lateral. A contração global dos músculos do grupo tenar interno provoca que a polpa do polegar en- tre em contato com a superfície externa da pri- meira falange do dedo indicador e, ao mesmo tempo, uma supinação da coluna do polegar (fig. 5-191). Estes músculos são indispensáveis para segurar com firmeza os objetos entre o polegar e o dedo indicador. Fig.5-191 1. MEMBRO SUPERIOR 255 ~~~p @ ~~~ Fig.5-192 I 256 FlSIOLOGIAARTICULAR AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR (continuação) Grupo externo dos músculos tenares (fig.5-194) O oponente (2) possui três ações, simétricas às do oponente do quinto (ver figo 5-102); o dia- grama eletromiográfico (fig. 5-195, mesma ori- gem) ressalta os setores: - antepulsão do primeiro metacarpeano sobre o carpo, principalmente no maior trajeto; - adução, aproximando o primeiro metacar- peano ao segundo nas posições extremas; - rotação longitudinal no sentido da prona- ção. Sendo estas três ações simultâneas necessárias para a oposição, este músculo faz jus ao seu nome. De modo que o oponente intervém ativamente em qualquer tipo de preensão que necessita da inter- venção do polegar. Além disso, a eletromiografia demonstra sua atuação paradoxal na abdução, no curso da qual desempenharia uma função estabili- zadora sobre a coluna do polegm: O abdutor curto (3) afasta o primeiro meta- carpeano do segundo no final da oposição (fig. 5-196, esquema eletromiográfico; mesma origem): - desloca o primeiro metacarpeano para frente e para dentro no percurso do maior trajeto da oposição, durante a máxima se- paração do segundo; - jfexiona a primeira falange sobre o meta- carpeano,provocando: • um movimento de desvio radial (sobre a margem externa) e • uma rotação longitudinal no sentido da pronação (rotação interna) (seta preta) - por último, estende a segunda falange so- bre a primeira mediante a sua expansão ao extensor longo. Quando se contrai de maneira isolada (exci- tação elétrica), o abdutor curto desloca a polpa do polegar em oposição com o dedo indicador e o médio (fig. 5-194). Portanto, se trata de um mús- culo essencial na oposição. Já vimos anteriormen- te (figs. 5-185 e 5-186) que constitui, com o abdu- tor longo, um par funcional indispensável para a oposição. O flexor curto (4) participa na ação geral dos músculos do grupo externo (fig. 5-197). Porém, quando se contrai de maneira isolada (experiências de excitação elétrica de Duchenne de Boulogne), podemos constatar que a sua ação de adução é mui- to mais pronunciada, porque desloca a polpa do po- legar em oposição com os dois ú\timos dedos. Pelo contrário, sua ação de antepulsão do primeiro meta- carpeano (projeção para frente) é menos ampla, porque o seu fascículo profundo (4') realiza a opo- sição neste ponto ao superficial (4). Possui uma ação de rotação longitudinal muito acentuada no sentido da pronação. A concentração dos potenciais sobre o seu fas- cículo superficial (fig. 5-198, esquema segundo a mesma origem) mostra que existe uma atividade se- melhante à do oponente: sua ação máxima se reali- za durante o maior trajeto da oposição. Este também é fiexor da primeira falange so- bre o metacarpeano, porém o abdutor curto. com o qual forma o grupo dos sesamóides externos. e o primeiro interósseo palmar que fonna o espaldão da primeira falange, também participam ajudando-o a realizar esta ação. A contração global dos músculos do grupo te- nar externo, reforçada pela do abdutor longo. reali- za a oposição do polegar. A extensão da segunda falange se realiza (experiências de Duchenne de Boulogne) por três músculos ou grupos musculares que intervêm em circunstâncias diferentes: 1) pelo extenso r longo próprio do polegar: se associa com uma extensão da primeira fa- lange e uma diminuição da eminência te- nar. Estas ações acontecem quando abri~ mos e aplanamos a mão; 2) pelos músculos do grupo tenar interno (primeiro interósseo palmar): se associa com uma adução do polegar. Estasações acontecem quando fazemos a oposição da polpa do polegar à superfície externa da primeira falange do dedo indicador (ver figo 5-214); 3) pelos músculos do grupo tenar externo (principalmente o abdutor curto) na ação de oposição da polpa (ver figo5-213). \. Fig.5-197 Fig.5-194 Fig.5-196 1. MEMBRO SUPERIOR 257 258 FISIOLOGIA ARTICULAR A OPOSIÇÃO DO POLEGAR A oposição é o principal movimento do po- legar: é a ação de deslocar a polpa do polegar em contato com a polpa de um dos outros qua- tro dedos para constituir uma pinça polegar-di- gital. Portanto, não existe uma única oposição, mas toda uma gama de oposições que realizam uma grande variedade de preensões e de ações dependendo do número de dedos envolvidos e de sua modalidade de associação. O polegar ad- quire todo o seu significado funcional em rela- ção aos outros dedos e vice-versa. Sem o pole- gar, a mão perde quase totalmente o seu valor funcional até o ponto que as intervenções cirúr- gicas complexas planejam a sua reconstrução partindo dos elementos remanescentes: se trata das operações de "polegarização" de um dedo e atualmente, de transplante. Todos os tipos de oposição estão incluídos no interior de um setor cônico de espaço em cu- jo vértice se localiza a trapézio-metacarpeana, o cone de oposição. Na verdade, este cone é bas- tante deformado porque a sua base está limitada pelos "trajetos maior e menor de oposição". O trajeto maior (fig. 5-199) descrito perfeitamen- te por Sterling Bunnel durante a sua clássica ex- periência dos "fósforos" (fig. 5-203). O trajeto menor (fig. 5-200), no percurso do qual "o pri- meiro metacarpeano realiza num plano e de for- ma praticamente linear um movimento que des- loca progressivamente a sua cabeça pela frente do segundo metacarpeano", é, na verdade, uma reptação do polegar pela palma da mão, muito pouco utilizada e pouco funcional, que não me- rece a denominação de oposição porque não se associa praticamente com este componente de rotação que é, como já vimos, fundamental para a oposição. Por outra parte, esta reptação do po- legar pelo interior da palma da mão se observa justamente nas paralisias da oposição por déficit do nervo mediano. Fig.5-199 Fig.5-200 1. MEMBRO SUPERIOR 259 260 FISIOLOGIA ARTICULAR A OPOSIÇÃO DO POLEGAR (continuação) Do ponto de vista mecânico, a oposição do polegar é um movimento complexo que associa, em diversos graus, três componentes: a anteposi- ção, a flexão e a pronação da coluna ósteo-articu- lar do polegar: - a anteposição ou projeção (fig. 5-201) é o movimento que desloca o polegar pa- ra frente com relação ao plano da pal- ma da mão, de modo que a eminência tenar constitui um cone no ângulo súpe- ro-externo da mão. Realiza-se principal- mente no nível da trapézio-metacarpea- na e de maneira acessória na metacar- pofalangeana, onde o desvio radial acentua o alinhamento da coluna do po- legar. Esta separação do primeiro metacarpeano com relação ao segundo se denomina abdução no caso dos auto- res ingleses, o que se contradiz com o segundo componente de adução que desloca o dedo para dentro. De modo que, se desejamos utilizar o termo de abdução, devemos reservá-lo para a se- paração do primeiro metacarpeano do segundo no plano fron tal; - a flexão (fig. 5-202) desloca toda a colu- na do polegar para dentro, e este é o motivo pelo qual se denomina adução na terminologia clássica. Participam as três articulações do polegar: • principalmente a trapézio-metacarpea- na, embora não possa deslocar o pri- meiro metacarpeano além do plano sa- gital que passa pelo eixo longitudinal do segundo. Trata-se de um movimento de flexão porque se continua com a fle- xão da segunda articulação; • a metacarpofalangeana que acrescenta sua flexão em diversos graus dependen- do do dedo "enfocado" pelo polegar no seu movimento de oposição; • por último, a interfalangeana se flexio- na para dar o "toque final" prolongando a ação da metacarpofalangeana de mo- do que atinja o seu objetivo; - a pronação (fig. 5-203), componente essencial da oposição do polegar, gra- ças a qual as polpas dos dedos podem tocar umas às outras, é definida como a mudança de atitude da última falan- ge do polegar que "se orienta" em di- reções diferentes dependendo do seu grau de rótação sobre o seu eixo longi- tudinal. A denominação de pronação se deve à analogia com o movimento do antebraço e se realiza no mesmo senti- do. Esta rotação da primeira falange sobre o seu eixo longitudinal é o resul- tado da atividade da coluna do polegar em conjunto, onde todas as articula- ções estão envolvidas em graus e por mecanismos diversos. A experiência "dos fósforos" de Sterling Bunnel (fig. 5-203) o comprova: após ter cola- do um fósforo transversalmente na ba- se da unha do polegar, e observando a mão "em pé", medimos um ângulo de 90 a 1200 entre a sua posição inicial A, mão plana, e a sua posição final B, po- sição de máxima oposição, polegar contra dedo mínimo. Em princípio, pensamos que a rotação da coluna do polegar sobre o seu eixo longitudinal se realizava graças à lassidão da cáp- sula da trapézio-metacarpeana. Porém, trabalhos recentes demonstram que durante a oposição é quando a articula- ção está mais "fechada" (close packed position) e que o jogo mecânico é me- nor. Hoje sabemos que se o essencial da ro- tação provém da trapézio-metacarpeana, é graças a outro mecanismo, o do "c ar- dão" desta articulação de dois eixos. Por conseguinte, uma prótese de dois eixos da trapézio-metacarpeana realizada se- guindo estes princípios desempenha per- feitamente a sua função, permitindo uma oposição normal. 1-···· A Fig.5-201 Fig.5-203 Fig.5-202 1. MEMBRO SUPERIOR 261 262 FISIOLOGIA ARTICULAR A OPOSIÇÃO DO POLEGAR (continuação) o componente de pronação A pronação da coluna do polegar provém de dois contingentes de rotação: - a rotação automática produzida pela ação da trapézio-metacarpeana, como se mencionou anteriormente (ver pág. 230), lembrando que as duas outras arti- culações metacarpofalangeana e interfa- langeana intervêm acrescentando a sua flexão à da trapézio-metacarpeana; isto faz com que o eixo longitudinal da se- gunda falange seja quase paralelo ao ei- xo principal xx' de anteposição e retro- posição, conseguindo que esta falange terminal realize uma rotação cilíndrica onde toda rotação da trapézio-metacar- peana ao redor deste eixo realize uma rotação igual, uma mesma mudança de atitude, da polpa do polegar. Este mecanismo é fácil de verificar graças ao modelo mecânico da mão (ver ao final deste volume). Da posição de partida (fig. 5-204) à posi- ção de chegada (fig. 5-205) a mudança de atitu- de da segunda falange e a sua oposição com a úl- tima falange do dedo mínimo se obtém median- te a mobilização em tomo dos quatro eixos xx', yy', fi e f2, sem necessidade de torcer o papelão que seria equivalente a "um jogo mecânico" nu- ma das articulações. Resumindo (fig. 5-206), basta realizar su- cessivamente (ou simultaneamente) as quatro operações seguintes: 1) rotação na trapézio-metacarpeana em tor- no do eixo xx' da peça inter,média do car- dão no sentido da anteposição (seta 1) des- locando o primeiro metacarpeano da posi- ção 1 à posição 2 e o eixo YIYI' a y2y2'; 2) rotação da trap~zio-metacarpeana da pri- meira falange em tomo do eixo fi; 3) flexão da metacarpofalangeana da pri- meira falange em torno do eixo fi; 4) flexão da interfalangeana da segunda fa- lange em tomo do eixo f2• Desse modo se demonstra, não mediante argumentos teóricos, mas por trabalhos práticos, a importante função do cardão da trapézio-meta- carpeana na rotação longitudinal do polegar. ~ a rotação "acrescentada" (fig. 5-207) que aparece com clareza após ter fixado os fósforos de referência transversais sobre os três segmentos móveis do pole- gar cuja posição é a máxima oposição. Assim, podemos constatar que a prona- ção aproximada de 30° que se soma à anterior se situa em dois níveis: • na metacarpofalangeana onde uma pro- nação de 24° é o resultado da ação dos músculossesamóides externos, abdutor curto e flexor curto. É uma rotação ati- va; • na inteifalangeana onde uma pronação de 7°, puramente automática, é o resul- tado do fenômeno de rotação cônica (ver figo 5-176). Fig.5-204 Fig.5-206 1. MEMBRO SUPERlOR 263 Fig.5-205 Fig.5-207 264 FISIOLOGIA ARTICULAR A OPOSIÇÃO E A CONTRA-OPOSIÇÃO Já mencionamos a função essencial que de- sempenha a trapézio-metacarpeana, "a rainha", poderíamos dizer, da oposição do polegar; só falta dizer que a trapézio-metacarpeana e a inter- falangeana permitem distribuir a oposição sobre cada um dos últimos quatro dedos. De fato, é graças ao grau de flexão mais ou menos acentua- do destas duas articulações que o polegar pode escolher o dedo que vai realizar a oposição. Na oposição polegar-dedo indicador, polpa contra polpa (fig. 5-208), a metacarpofalangea- na se ftexiona muito pouco sem nenhuma prona- ção nem desvio radial. É o seu ligamento lateral interno o que se opõe ao desvio radial do pole- gar sob o deslizamento do dedo indicador; a in- terfalangeana está estendida; mas existem outras formas de oposição polegar-dedo indicador, a ponta do dedo-ponta do dedo (término-terminal) por exemplo, onde, pelo contrário, a metacarpo- falangeana está totalmente estendida e a interfa- langeana ftexionada. Na oposição polegar-dedo mínimo térmi- no-terminal (fig. 5-208 bis), a metacarpofalan- geana se ftexiona com desvio radial e pronação, e a interfalangeana se flexiona. Na oposição da polpa, a interfalangeana está estendida. Portanto, é totalmente viável afirmar que a partir de uma posição de base do primeiro meta- carpeano em oposição, a metacarpofalangeana éa que permite escolher a oposição. A oposição, indispensável para pegar obje- tos, não serviria de nada sem a contra-oposição que permite soltá-Ios ou preparar a mão para ob- jetos mais volumosos. Este movimento (fig. 5- 209) é definido por três componentes a partir da oposição: - extensão; " - retroposição; - supinação da coluna do polegar. Os seus motores são: - o abdutor longo; - o abdutor curto; - e, principalmente, o extensor longo do polegar, que é o único capaz de deslocá- 10 em máxima retroposição, no plano da mão. Os nervos motores do polegar (fig. 5-210) são: - o radial no caso da contra-oposição; - o ulnar e especialmente o mediano para a oposição. Os testes de movimentos são: - a extensão do punho e das metacarpofa- langeanas dos quatro últimos dedos, a extensão e separação do polegar para a integridade do radial; - a extensão das duas últimas falanges dos dedos e separação e aproximação para o ulnar; - o fechamento da mão e a oposição do polegar para o mediano. Fig.5-208 Fig.5-209 Fig. 5-208 bis 1. MEMBRO SUPERIOR 265 Fig.5-210 266 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO A complexa organização anatõmica e funcional da mão con- verge na preensão; porém, não existe só um tipo de preensão, mas vá- rios tipos que se classificam em três grandes grupos: as preensões propriamente ditas, as preensões com a gravidade e as preensões com ação. Isto não resume todas as possibilidades de ação da mão: além da preensão, também pode realizar percussões, contato e expressão gestual. De modo que vamos analisar sucessivamente: a preensão, a percussão, o contato manual e a expressão gestual da mão. APREENSÃO As preensões propriamente ditas se classificam em três grupos: as preensões digitais, as preensões pal- mares, as preensões centradas. Todas têm um ponto em comum: ao contrário das que vamos expor a seguir, não necessitam da participação da gravidade. A) As preensões digitais se dividem por sua vez em dois subgrupos: as preensões bidigitais e as preensões pluridigitais: a) as preensões bidigitais constituem a clássica pinça polegar-digital, geralmente polegar-dedo indicador. Assim, são de três tipos, dependendo de que a oposição seja terminal, subterminal o subterminal-lateral: 1) a preensão por oposição terminal ou ter- minal-polpa (figs. 5-211 e 5-212) é a mais fina e precisa. Permite segurar um objeto de pequeno calibre (fig. 5-211) ou pegar um ob- jeto muito fino: um fósforo ou um alfinete (fig. 5-212). O polegar e o dedo indicador (ou o médio) realizam a oposição pela extre- midade da pàlpa e inclusive no caso de al- guns objetos extremamente finos (pegar um cabelo) com a ponta da unha. Portanto, pre- cisa de uma polpa elástica e corretamente terminada pela unha, cuja função é primor- dial neste tipo de preensão. Por este motivo, também podemos denominá-Ia preensão pulpoungueal. É a preensão mais fácil de ser prejudicada, mesmo com uma mínima al- teração da mão; de fato, precisa de um máxi- mo jogo articular (a fiexão é máxima) e prin- cipalmente necessita de que os grupos mus- culares e os tendões estejam íntegros, e espe- cialmente: - o fiexor profundo (lado dedo indicador), que estabiliza a pequena falange em fie- xão, daí a importância de uma reparação prioritária do fiexor comum profundo quando ambos os fiexores estão seccio- nados; - fiexor longo próprio do polegar (lado po- legar), pela mesma razão; I - 2) a preensão por oposição subterminal ou da polpa (fig. 5-213) é o tipo mais co- mum. Permite segurar objetos relativa- mente mais grossos: um lápis ou uma fol- ha de papel: o teste de eficácia da preen- são da polpa sub-terminal consiste em tentar arrancar uma folha de papel segura- do com firmeza pelo polegar e o dedo in- dicador. Se a oposição é boa, a folha não se pode arrancar. Também denominamos signo de Froment, que avalia tanto a po- tência do adutor quanto a integridade do nervo ulnar que o inerva. Neste tipo de preensão, o polegar e o dedo indicador (ou qualquer outro dedo) realizam a oposição pela superfície palmar da polpa. Naturalmente, o estado da polpa é importan- te, porém a articulação interfalangeana distal pode estar em extensão ou inclusive blo- queada em semifiexão mediante uma artro- dese. Os principais músculos deste tipo de preensão são: - o fiexor superficial (lado dedo indicador) para a estabilização em flexão da segun- da falange; - os músculos tenares fiexores da primeira falange do polegar: flexor curto, primeiro interósseo palmar, abdutor curto e espe- cialmente o adutor; 3) a preensão por oposição subterminal-Iate- ralou pulpolateral (fig. 5-214), como quan- do seguramos uma moeda. Este tipo de preensão pode substituir a oposição terminal ou a sub-terminal no caso de amputação das duas últimas falanges do dedo indicador: a preensão não é tão fina embora continue sen- do sólída. A superfície palmar da polpa do polegar entra em contato com a superfície externa da primeira falange do dedo indica- dor. Os músculos mais importantes deste ti- po de preensão são: - o primeiro interósseo dorsal (lado dedo indicador) para estabilízar o dedo indica- dor lateralmente (além de estar auxiliado pelos outros dedos); - o fiexor curto, o primeiro interósseo pal- mar e especialmente o adutor do polegar. A atividade deste último músculo está confirmada por eletromiografia. Fig.5-213 Fig.5-212 1. MEMBRO SUPERIOR 267 Fig.5-214 ------~ 268 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) 4) entre as preensões digitais, existe uma que não constitui uma pinça polegar-di- gital, se trata da: preensão interdigital lateral-lateral (fig. 5-215): é um tipo de preensão aces- sória: por exemplo segurar um cigarro. Geralmente, se realiza entre o dedo in- dicador e o médio, o polegar não inter- vém. O diâmetro do objeto que se dese- ja pegar deve ser pequeno. Os músculos que participam são os interósseos (se- gundos interósseos palmar e dorsal). É uma preensão débil e sem precisão, em- bora os indivíduos que tenham sofrido amputação do polegar a realizem de maneira surpreendente; b) as preensões pluridigitais provocam a participação, além do polegar, dos ou- tros dois, três ou quatro dedos. Permi- tem uma preensão muito mais firme que a bidigital que persiste como preensão de precisão; I) as preensões tridigitais envolvem o polegar, dedo indicador e o médio e são as que se utilizam com maior fre-qüência. Uma parte importante, para não dizer preponderante, da humani- dade que não usa o garfo, utiliza esta preensão para levar os alimentos à boca. É semelhante à preensão tridi- gital da polpa (fig. 5-216), que se uti- liza para segurar uma bola pequena em que o polegar realiza a oposição da sua polpa à do dedo indicador e à do médio com relação ao objeto. Por exemplo, para escrever com um lápis (fig. 5-217), necessitamos de uma preensão tridigital, da polpa, no caso do dedo indicador e do polegar, e do lateral para a terceirafalange do mé- dio que serve de suporte da mesma maneira que o fundo da primeira co- missura. Assim sendo, esta preensão é muito direcional e é semelhante às preensões centradas e às preensões ativas, que poderemos analisar mais adiante, já que a escritura não é so- mente o resultado dos m'Ovimentos do ombro e da mão que se desliza pela mesa sobre o seu bordo ulnar e o de- do mínimo, mas também dos movi- mentos dos .três primeiros dedos que provocam a participação do ftexor longo próprio do polegar e do ftexor superficial do dedo indicador para o vaivém do lápis e dos músculos sesa- móides externos e do segundo inte- rósseo dorsal para segurá-Io. A ação de desenroscar a tampa de uma garrafa (fig. 5-208) é uma preensão tri- digital, lateral para o polegar e a se- gunda falange do médio que realizam a oposição diretamente e da polpa pa- ra o dedo indicador que bloqueia o objeto sobre o terceiro lado. O dedo médio serve de pico, encaixado entre o anular e o dedo mínimo. O polegar aperta com força a tampa contra o mé- dio graças à contração de todos os músculos tenares; o bloqueio se inicia graças ao ftexor longo próprio e termi- na com o dedo indicador por ação do seu ftexor superficial. Quando abrimos a tampa, para desenroscar, não neces- sitamos de ajuda do dedo indicador, com o polegar e o médio: ftexão do po- legar, extensão do médio. Se no início a tampa não estiver muito apertada, podemos realizar apreensão tridigital da polpa para os três dedos com movimento de desenroscar por ftexão do polegar, extensão do médio e participação do dedo indicador em ab- dução (primeiro interósseo dorsal). Também é considerada como uma preensão ativa. / Fig.5-216 Fig.5-218 Fig.5-217 Fig.5-215 ,- I I I 270 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) 2) as preensões tetradigitais se utilizam quando um objeto é muito grande e deve ser segurado com maior firmeza. Então, a preensão pode ser: - tetradigital da polpa (fig. 5-219) quando pegamos um objeto esférico como uma bola de pingue-pongue. Neste caso podemos observar que o contato se faz com a polpa no caso do polegar, dedo indicador e médio, sen- do lateral no caso da terceira falange do anular, cuja função é evitar que o objeto escape para dentro da mão, - tetradigital da polpa-lateral (fig. 5- 220) quando desenroscamos uma tam- pa. Neste caso, o contato do polegar é amplo, abrangendo a polpa e a super- fície palmar da primeira falange, bem como sobre o dedo indicador e o mé- dio; é lateral e da polpa na segunda fa- lange do anular que bloqueia o objeto por dentro. "A volta" da tampa pelos quatro dedos produz um movimento em espiral sobre o segundo, o terceiro e o quarto dedos e podemos demons- trar que a resultante das forças que exercem se anula no centro da tampa, que se projeta para a metacarpofalan- geana do dedo indicador; - tetradigital da polpa do polegar-tridi- gital (fig. 5-221), como quando se mantém um crayon, um pincel ou um lápis: a polpa do polegar dirige e man- tém o objeto com força contra a polpa do dedo indicador, do médio e do anu- lar quase em máxima extensão. Tam- bém é a maneira como o violinista e o violoncelista seguram o seu arco. / I / Fig.5-219 1. MEMBRO SUPERIOR 271 Fig.5-221 \0;/; ( Fig.5-220 r- 272 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) 3) as preensões pentadigitais utilizam to- dos os dedos, o polegar realiza a opo- sição de forma variada com relação aos outros dedos. São utilizadas geralmente para pegar grandes objetos. Porém, quando se trata de um objeto pequeno, podemos pegar com urna preensão pen- tadigital da polpa (fig. 5-222), de modo que só o quinto dedo realiza um conta- to lateral. Se o objeto é um pouco mais volumoso, como urna bola de tênis, a preensão se converte em pentadigital polpa-lateral (fig. 5-223): os quatro primeiros dedos entram em contato com toda a sua superfície palmar e en- volvem o objeto quase totalmente, o po- legar realiza a oposição aos três outros dedos e o dedo mínimo evita, mediante sua superfície externa, qualquer possí- vel deslocamento do objeto para dentro e em sentido proximal. Embora não se trate de uma preensão palmar, a bola se localiza mais nos dedos que na palma da mão, também é uma preensão firme. Outra preensão pentadigital que poderia ser denominada pentadigital comissural (fig. 5-224) pega objetos grossos semi-esféricos, um prato de sobremesa por exemplo, envolvendo-o com a primeira comissura: polegar e dedo indicador amplamente estendidos e separados entram em contato com toda sua superfície palmar, o qual precisa de uma grande flexibilidade e possibili- dades normais de separação da primeira comis- sura. Este não é o caso após fraturas do primei- ro metacarpeano ou feridas do primeiro espaço que acarretam uma~retração da primeira comissu- ra. Além do mais, seg~ramos o prato (fig. 5-225) com os dedos médio, anular e mínimo, que só en- tram em contato por meio das suas duas últimas falanges. Portanto, se trata de uma preensão di- gital e não palmar. Apreensão pentadigital "panorâmica" (fig 5-226) permite pegar grandes objetos pla- nos, uma travessa, por exemplo. Para poder rea- lizá-Ia necessitamos de uma grande separação dos dedos, amplamente divergentes, o polegar se coloca em retroposição e em máxima extensão, de modo que é em máxima contra-oposição. A preensão se realiza diametralmente ao anular (setas brancas) com o qual tensiona um arco de 180° sobre o que se engancham o dedo indica- dor e o médio. O dedo mínimo "morde" o outro semicírculo de tal maneira que o arco estabele- cido entre ele e o polegar é de 215°; estes dois dedos, em máxima separação. uma oitava segun- do os pianistas, formam com o dedo indicador uma preensão "triangular" quase regular e, com os outros dedos, uma preensão tipo "gancho" da qual o objeto não pode escapar. Observamos que a eficácia desta preensão depende da integridade das interfalangeanas distais e da ação dos flexo- res profundos. Fig.5-222 Fig.5-224 Fig.5-223 Fig.5-225 1. MEMBRO SUPERIOR 273 Fig.5-226 r 274 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) B) Nas preensões palmares particIpam tanto os dedos quanto a palma da mão. São de dois tipos, dependendo da utili- zação ou não do polegar: a) apreensão digital-palmar (fig. 5- 227) realiza a oponência da palma da mão com os últimos quatro dedos. É um tipo de preensão acessória, mas utilizada com freqüência quando acio- namos uma alavanca ou seguramos um volante. O objeto, de escasso diâ- metro (de 3 a 4 cm), está segurado en- tre os dedos flexionados e a palma da mão, o polegar não participa: a preen- são, até certo ponto, só é firme no sen- tido distal; o objeto pode deslizar com facilidade em direção ao punho, porque a preensão não está bloquea- da. Além disso, podemos constatar que o eixo da preensão é perpendicu- lar ao eixo da mão e não segue a dire- ção oblíqua do sulco palmar. Esta preensão digital-palmar também pode ser utilizada para se pegar um objeto mais volumoso, um copo, por exem- plo, (fig. 5-228), mas quanto mais im- portante seja o diâmetro do objeto, menos firmeza possui apreensão. b) apreensão palmar com toda a mão ou toda a palma (figs. 5-229 e 5- 230) é a preensão de força para os objetos pesados e relativamente vo- lumosos. Um termo antigo e pouco usado, mão fechada, é idôneo para denominar este tipo de preensão e merece esta honra. A mão literalmen- te se fecha ao redor de objetos cilín- dricos (fig. 5-229); o eixo do objeto fica na mesma direção queo eixo do sulco palmar, isto é, oblíquo da base da eminência hipotenar à base do de- do indicador. Com relàção à base da mão e do antebraço, esta obliqüidade se corresponde com a inclinação do cabo das ferramentas (fig. 5-230) que forma um ângulo de 100 a 110°. É fá- cil constatar que é possível compen- sar com mais facilidade um ângulo muito aberto (120 a 130°) graças ao desvio ulnar do punho, do que um ân- gulo muito fechado (90°), já que o desvio radial é bastante menos am- plo. O volume do objeto que seguramos condiciona a força da preensão: é per- feita quando o polegar pode entrar em contato (ou quase) com o dedo indica- dor. De fato, o polegar constitui o úni- co elemento que realiza a oposição com relação à força dos outros quatro dedos, e sua eficácia é maior quanto mais flexionado esteja. O diâmetro dos cabos das ferramentas depende desta constatação. A forma do objeto que seguramos também não é indiferente e na atuali- dade se fabricam cabos que contêm as marcas dos dedos. Os principais músculos deste tipo de preensão são: - os flexores superficiais e profundos e especialmente os interósseos para a flexão potente da primeira falan- ge dos dedos; - todos os músculos da eminência te- nar,especialmente o adutor e o fle- xor longo próprio do polegar para bloquear a preensão graças à flexão da segunda falange. Fig.5-228 Fig.5-230 1. MEMBRO SUPERIOR 275 Fig.5-227 276 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) 1) Quando utilizamos apreensão palmar cilíndrica para objetos de diâmetro grande (figs. 5-231 e 5-232), apreensão é menos firme quanto maior seja o diâ- metro. De modo que o bloqueio depen- de, como já vimos anteriormente, da ação da metacarpofa1angeana que per- mite que o polegar percorra uma direção do cilindro, ou seja, um círculo, ou o ca- minho mais curto para dar a volta. Por outro lado, o volume do objeto exige a máxima liberdade de separação da pri-.. melra comlssura; 2) as preensões palmares esféricas po- dem envolver três, quatro ou cinco de- dos. Quando intervêm três (fig. 5-233) ou quatro dedos (fig. 5-234), o último dedo envolvido por dentro, seja o mé- dio na preensão esférica tridigital, ou o anular na preensão esférica tetradigi- tal, entram em contato com o objeto pe- la superfície lateral externa, constituin- do assim um elemento interno, reforça- do pelos outros dedos (dedo mínimo sozinho ou junto com o anular). Este elemento realiza a oposição à pressão do polegar de modo que o objeto fica bloqueado distalmente pelos "ganchos" dos dedos que mantêm um contato pal- mar com o objeto. ;- Fig.5-233 Fig.5-232 1. MEMBRO SUPERIOR 277 Fig.5-234 278 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) Na preensão palmar esférica pentadigi- tal (fig. 5-235) todos os dedos entram em conta- to com o objeto pela sua superfície palmar. O polegar realiza a oponência ao anular; em con- junto ocupam o maior diâmetro e o bloqueio da preensão está assegurada distalmente pelo dedo indicador e o médio e proximalmente pelaemi- nência tenar e pelo dedo mínimo. O objeto, se- gurado com firmeza por todos os dedos em for- ma de gancho, o que supõe tanto as máximas possibilidades de separação das comissuras quanto a eficácia dos f1exores superficiais e pro- fundos, entra em contato com toda a palma da mão. Esta preensão é muito mais simétrica que as duas anteriores e, assim sendo, constitui a transição para as seguintes. C) As preensões centradas realizam, de fa- to. uma simetria em tomo do eixo longitudinal que. em geral, se confunde com o eixo do antebra- ço. Isto é evidente no caso da batuta do maestro (fig. 5-236) cuja função é prolongar a mão e re- presenta uma extrapolação do dedo indicador com relação à sua função de assinalar. Isto é in- dispensável do ponto' de vista mecânico na preensão da chave de fenda (fig. 5-237) que se confunde com o eixo de pronação-supinação no ato de parafusar ou desparafusar. Também está bastante claro na preensão de um gaifo (fig. 5- 238) ou de uma faca que tem o objetivo de pro- longar a mão distalmente. Em todo caso, o objeto de forma alongada se agarra com firmeza mediante uma preensão palmar na qual participam o polegar e os últimos três dedos, o dedo indicador, neste caso, desem- penha uma função orientativa indispensável pa- ra dirigir o talher. As preensões centradas ou direcionais se utilizam com freqüência; requerem a integrida- de da flexão dos três últimos dedos, a extensão completa do dedo indicador cujos f1exores de- vem ser eficazes, e um mínimo de oposição do polegar para o qual a flexão da interfalangeana não é indispensável. Fig.5-235 Fig.5-238 1. MEMBRO SUPERIOR 279 Fig.5-236 I ( I) '-"------~-----.-r- \ \ Fig.5-237 280 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) Até aqui analisamos os tipos de preensão nos casos em que a gravidade não intervém, mas existem outros nos que a ação da gravidade é in- dispensável, de modo que não podem utilizar-se em meios sem gravidade, como é o caso de uma cápsula espacial. Nestas preensões em que a gravidade aju- da, a mão serve de suporte, como quando segura- mos uma travessa (fig. 5-239), o que supõe que podemos aplanar, com a palma da mão horizontal, orientada para cima (e, portanto, sem os dedos em forma de gancho) ou que podemos constituir um trípode debaixo do objeto que queremos segurar. Graças à gravidade, a mão também pode-se comportar como uma colher que contém grãos (fig. 5-240) ou um líquido. A escavação da pal- ma da mão se prolonga pela dos dedos aduzidos ao máximo, pela ação dos interósseos palmares, para evitar as possíveis fugas. O polegar, muito importante nesta ação, fecha o sulco palmar por fora: em semiflexão, se aproxima do segundo metacarpeano e da primeira falange do dedo in- dicador, pela ação do adutor. A aproximação das duas mãos "ocas" (fig. 5-241) em forma de dois semipratos fundos unidos pelo seu bordo ulnar pode constituir uma~cavidade muito mais ampla. Todos estes tipos de preensão de suporte necessitam de que a supinação esteja íntegra: de fato, sem ela, a palma da mão, única parte da mão capaz de constituir uma parede côncava, não pode orientar-se para cima. Desse modo, o teste da travessa permite constatar a recuperação da supinação já que não existe nenhuma possibi- lidade de compensação do ombro. A preensão de uma xícara com três dedos (fig. 5-242) utiliza a gravidade porque a sua circunferência está segurada por dois elemen- tos, constituídos pelo polegar e dedo médio, além de um gancho formado pelo dedo indica- dor. Esta preensão necessita de uma grande es- tabilidade do polegar e do médio, bem como a integridade do flexor profundo do dedo indica- dor cuja terceira falange mantém a margem da xícara. O adutor do polegar também é impres- cindível. As preensões em forma de gancho com um ou vários dedos, como quando se transpor- ta um balde ou uma mala ou, inclusive, no caso de se agarrar nas pontas de uma parede rochosa, também utilizam a ação da gravidade. 1. MEMBRO SUPERIOR 281 Fig.5-239 Fig.5-240 Fig.5-241 j Fig.5-242 282 FISIOLOGIA ARTICULAR OS TIPOS DE PREENSÃO (continuação) As preensões estáticas analisadas até aqui não bastam para esgotar todas as possibilidades da mão. A mão também é capaz de "atuar pegando algo". É o que se denominará de preensões ativas ou preen- sões-ação. Algumas destas ações são elementares como por exemplo lançar um pião (fig. 5-243) mediante uma preensão polegar-dedo indicador tangencial, ou também lançar uma bolinha de gude (fig. 5-244) mediante um impulso abrupto da segunda falange do polegar (ação do extensor longo); a bolinha de gude está mantida previamente na concavidade do dedo indicador totalmente ftexionado (ação do fte- xor profundo). Existem ainda outras ações mais complexas, nas quais a mão realiza uma ação reflexa sobre si mesma. Neste caso, o objeto que seguramos por uma parte da mão sofre uma ação que provém de outra parte. Estas preensões-ação em que a mão atua sobre si mesma são inumeráveis; podemos mencio- nar como exemplos: