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, Sociologia Criminal UNIDADE 1 - A origem da sociologia criminal Introdução A criminologia positiva inaugurou um importante traço do pensamento criminológico: o estudo empírico dos aspectos do crime. Nesse contexto, surgem campos de análise diferentes, dentre os quais é possível citar a sociologia e a antropologia criminal. A antropologia criminal estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos, enquanto a sociologia criminal investiga os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais. O estudo das principais diferenças e semelhanças entre estes dois ramos de investigação é indispensável para conhecer o surgimento e evolução da sociologia criminal e identificar as principais características dela. Vamos lá? Antropologia e sociologia criminal: noções gerais A história da criminologia traz em seu seio as bases da estrutura teórica da sociologia e da antropologia criminal. Apesar de serem campos de estudos completamente diferentes, muitos doutrinadores ainda se confundem com estes conceitos. Por esta razão, passaremos a analisar, sinteticamente, os dois ramos do estudo da criminologia. Antes de tudo, importa traçar um panorama geral sobre a criminologia, ao passo que foi a partir do surgimento desta ciência que os doutrinadores passaram a estudar os motivos da prática do crime e as classificações dos criminosos. Em sua etimologia, a palavra “criminologia” é originada do latim, crimino, sujo sentido é “crime”, e do grego, logos, que significa “estudo”, formando o termo cujo significado é “estudo do crime”. O termo “criminologia” foi usado pela primeira vez por Paul Topinard, em 1883, se popularizando internacionalmente em 1885, por Raffaele Garófalo, doutrinador que publicou o livro Criminologia no mesmo ano (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). Alguns doutrinadores, semelhantemente ao que se vê na etimologia da palavra, defendem que a criminologia deve ser considerada como a ciência que estuda os crimes e os criminosos. Contudo, o campo de atuação da criminologia é amplo: abarca também as circunstâncias sociais, a vítima, o criminoso, o prognóstico delitivo, dentre outros (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). A criminologia pode ser conceituada como a ciência empírica e interdisciplinar, que tem por objeto analisar o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo e da vítima, e o controle social das condutas criminosas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). A criminologia é uma das ciências do “ser”, portanto, empírica, haja vista que seu objeto está, claramente, no mundo real, não apenas no dos valores, diferentemente das ciências do “dever- ser”, que podem ser, por exemplo, normativas e valorativas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). Em razão da necessidade do estudo do objeto da criminologia, que é uma ciência que analisa os fatos ocorridos e o status quo social, tornou-se necessário traçar alguns parâmetros para investigar os aspectos do crime. Nesse contexto, a criminologia positivista passou a investigar as causas da criminalidade, fato que lhe conferiu a qualidade de ter iniciado o paradigma etiológico, ou seja, o estudo das causas de um fenômeno, pois foi imprescindível que os motivos de as pessoas cometerem crimes passassem a ser a pauta dos seus estudos (GONZAGA, 2018, p. 50). Assim, surgem campos de análise diferentes, dos quais decorrem dois principais ramos de investigação autônomos: a sociologia e a antropologia criminal, que são indispensáveis para a compreensão dos fatores criminológicos. Se os estudos dos fatores do crime forem feitos em função da personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos, teremos caracterizado um estudo da antropologia criminal. Por sua vez, se analisarmos os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, teremos outro ramo de investigação: a sociologia criminal. Para muitos, o conjunto desses estudos particulares do delito, sob as óticas explicadas, compõe a criminologia. Antropologia e sociologia criminal: interpretação e aprofundamento A criminologia positivista deu origem ao pensamento criminológico moderno, ao passo que ela embasou a investigação, principalmente empírica, dos motivos do crime. O intuito desta corrente, que fundamentou a criminologia como um todo, é a busca pelas causas da criminalidade, abstraindo-se da análise puramente legalista feita pelas antigas teorias. Sinteticamente, pode-se afirmar que a escola positiva (criminologia positivista) teve três fases: 1. A antropológica, com Lombroso como o principal teórico. 2. A sociológica, com Ferri como principal teórico. 3. E a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 33). A sociologia criminal, em suas bases, confundiu-se com certos preceitos da antropologia criminal, na medida em que buscava a gênese delituosa nos fatores biológicos, em certas anomalias cranianas e na “disjunção” evolutiva (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). Exatamente por isso, traçar uma comparação entre a antropologia criminal e a sociologia criminal é indispensável para o aprofundamento nesse último ramo de análise criminológica. Com o intuito de identificar as bases (motivos) e aspectos dos crimes, Cesare Lombroso, considerado por muitos como o “pai da criminologia”, em sua obra O homem delinquente, publicado em 1876, afirmou que certos fatores biológicos deveriam ser levados em consideração para aferir o surgimento do crime e do criminoso (GONZAGA, 2018, p. 51). Lombroso, também considerado o pai da antropologia criminal, levou em conta algumas ideias e teorias dos fisionomistas para traçar um perfil dos criminosos (PENTEADO FILHO, 2020, p. 34), considerando os aspectos físicos e biológicos para delimitar o perfil do criminoso. Traços como fronte fugidia, zigomas salientes, lábios grossos, mãos grandes, orelhas grandes, insensibilidade à dor, vaidade, crueldade e tendência à tatuagem denotam a pessoa do criminoso na visão de Lombroso (GONZAGA, 2018, p. 51). Evidentemente, a teoria de Lombroso possui inúmeras “falhas” que devem ser levadas em consideração. Contudo, a relevância deste doutrinador para a base do pensamento criminológico é inegável, razão pela qual urge frisar que toda a doutrina da criminologia deve à teoria de Lombroso a investigação empírica do crime. Em breve síntese, a criminologia antropológica, de modo semelhante à teoria de Lombroso, é um ramo de investigação da criminologia, cujo objeto é a criação de perfil de criminoso, considerando os liames existentes entre a natureza de um crime e a personalidade ou aparência física do criminoso. O próprio Lombroso, no fim dos seus dias como teórico, estabeleceu o pensamento de que o crime não só o crime surge das degenerações, mas também de certas transformações sociais que afetam os indivíduos, desajustando-os (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). Mesmo com a contribuição dos teóricos como Lombroso, foi Ferri que mais se destacou no campo da sociologia criminal. Atualmente, este ramo de investigação se preocupa com os fatores sociais e as suas relações com os crimes, analisando as chamadas teorias macrossociológicas, sob enfoques consensuais ou de conflito (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). Dessa forma, percebe-se que, apesar da íntima relação de origem existente entre a antropologia criminal e a sociologia criminal, fica evidente as grandes diferenças entre estes dois ramos de investigação. Antropologia e sociologia criminal: aplicação prática Nos moldes do que já foi discutido, é possível ressaltar que existem na criminologia dois principais ramos de investigação autônomos, a sociologia criminal e a antropologia criminal, que são indispensáveis para a compreensão dos fatores criminológicos. Se o crime for analisado sob a ótica da personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos, teremos caracterizado um estudo da antropologia criminal. Se analisarmosos crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, teremos outro ramo de investigação, a sociologia criminal. Levando em conta o que já foi visto, passaremos a analisar os seguintes exemplos: 1. Surgiu no Brasil uma nova teoria macrossociológica, com o estudo das influências políticas e ideológicas e a sua relação com o aumento da prática de certos crimes como porte ilegal de arma, agressão, tentativa de homicídio, dentre outros. 2. Novos estudos estão investigando a existência de um gene denominado XVR no corpo de alguns homens; ele ampliaria a possibilidade da prática de crimes violentos e da construção de um transtorno psicopático. 3. Após análises teóricas da criminologia, nasceu uma nova teoria para explicar o aumento da criminalidade em alguns países. De acordo com esta corrente, existe correlação entre o “perfil criminoso” traçado pela mídia e a imputação da característica de “inimigo do Estado” sobre certos grupos sociais. Por isso, estes grupos, colocados à margem da sociedade, sem oportunidades, passaram a cometer crimes com maior frequência. No primeiro caso, identifica-se o estudo sob a ótica da sociologia criminal. Esta afirmação decorre do fato do objeto de análise da nova teoria, na medida em que se debruçou sobre as influências políticas e ideológicas (aspectos sociais) para o aumento da criminalidade. No segundo caso, por sua vez, facilmente se identifica o estudo sob a ótica da antropologia criminal, haja vista que fatores biológicos, mais especificamente genéticos, estão sendo relacionados à prática de crimes e à construção de perfis psicopáticos. Contudo, esta teoria se afasta da concepção original criado por Lombroso, de que seriam fatores físicos (aparentes) que identificariam um potencial criminoso. As análises mais atuais da antropologia criminal, também denominada de biologia criminal, investigam outros fatores biológicos e a relação destes com o aumento da criminalidade. Por fim, analisando o terceiro exemplo, percebe-se claramente o estudo com enfoque na sociologia criminal. Investiga-se o perfil criminal a partir de um conflito existente entre o “quarto poder” social (a mídia) e alguns grupos sociais marginalizados. Por essa razão, percebe-se mais claramente que a sociologia criminal não analisa apenas os conflitos sociais existentes entre grupos sociais, mas também entre poderes, oficiais ou não, e a sociedade. Da mesma forma, este ramo da criminologia também analisa a existência das chamadas “teorias de consenso”, nas quais não há, necessariamente, a existência de conflitos sociais. Videoaula: Antropologia criminal e sociologia criminal Nesta videoaula, trataremos mais profundamente do conceito de antropologia criminal e de sociologia criminal, identificando os pontos comuns de origem e de “separação” destes dois ramos. Ademais, estabeleceremos as principais semelhanças e diferenças entre a antropologia criminal e a sociologia criminal, com enfoque em alguns exemplos práticos sobre esses ramos. Saiba mais A criminologia possui em seu seio dois grandes ramos de investigação empírica da criminalidade, a antropologia criminal e a sociologia criminal. Entender as principais diferenças e semelhanças entre esses ramos é indispensável. Os links a seguir auxiliarão a maior compreensão do tema: • O vídeo Pensar o Crime ou o Criminoso? possibilita o aprofundamento no tema antropologia criminal. • O vídeo Sociologia do Crime - Coringa (2019) possibilita o aprofundamento no tema sociologia criminal a partir da análise do filme Coringa. • O vídeo Introdução à sociologia criminal possibilita o aprofundamento no tema sociologia criminal. • • Introdução • • A história da criminologia, desde a sua concepção até o seu amadurecimento científico, é um dos principais pontos que devem ser abordados no estudo da sociologia criminal. Isto porque este ramo de investigação surgiu com o avanço científico da criminologia, mais especificamente com a utilização de métodos empíricos que investigam a relação entre as relações sociais e os fatores criminológicos, isto é, que circundam a prática criminal. • O estudo do surgimento e evolução da criminologia como ciência, bem como das escolas científicas da criminologia, é indispensável para conhecer o desenvolvimento da sociologia criminal e identificar suas principais características. • Vamos lá? • https://www.youtube.com/watch?v=HyIIJdPlbhs https://www.youtube.com/watch?v=qxi2z2ffOdw https://www.youtube.com/watch?v=3pnj4LTDmQI • História da criminologia: noções gerais • • A história da criminologia, em especial as teorias criadas e desenvolvidas pelas escolas criminológicas, foi de suma importância para o surgimento da sociologia criminal, que nada mais é do que o ramo empírico de análise da criminologia, cujo objeto é a investigação das circunstâncias dos crimes com enfoque nas relações sociais. • Por esta razão, traçar um breve histórico da criminologia e, mais profundamente, entender o funcionamento e principais características das escolas criminológicas é indispensável para a compreensão da sociologia criminal. • Para que se chegasse à maturidade teórica da criminologia contemporânea, esta ciência passou por longa evolução, marcada por atritos teóricos irreconciliáveis, principalmente no período conhecido como “disputas de escolas” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 26). • No que tange à origem da ciência criminológica, parte da doutrina se inclina para afirmar que o fundador da criminologia moderna foi Cesare Lombroso, teórico que não se dizia, contudo, criminólogo, ao publicar, em 1876, de seu livro O homem delinquente (PENTEADO FILHO, 2020, p. 26). • Para outros doutrinadores, só se pode falar em criminologia a partir do antropólogo Paul Topinard que, em 1879, empregou pela primeira vez a palavra “criminologia”, enquanto alguns defendem a tese de que foi Rafael Garófalo, em 1885, a usar o termo como nome de um livro científico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 26). • Independentemente do momento da formação da criminologia como ciência, desde os tempos da antiguidade se realizavam discussões sobre os crimes e criminosos, ou seja, antes do marco teórico para o início do estudo criminológico como ciência estruturada. • Exatamente por isso, é possível falar em criminologia pré-científica, ou seja, teorias que surgiram antes do advento das escolas criminológicas e do pensamento científico estruturado da criminologia. • A criminologia pré-científica pode ser dividida em algumas etapas: a) antiguidade; b) teólogos; c) filósofos e humanistas; d) penólogos; e) ocultismo; f) frenólogos; g) psiquiatras; e h) médicos e cientistas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). • Destaque-se que, dentro da fase do ocultismo, ainda é possível reconhecer diferentes teorias: • a) astrologia, que consiste no estudo do destino do homem pelo zodíaco; • b) oftalmoscopia, que estudava o caráter do homem pelo tamanho dos olhos; • c) metoposcopia, com o exame do caráter pelas rugas do homem; • d) quiromancia, que tentava examinar o passado e futuro pelas linhas das mãos; • e) fisiognomonia, ou seja, o estudo do caráter das pessoas pelos traços da fisionomia; e • f) demonologia, que investigava as pessoas “possuídas pelo demônio” e que apresentavam em sua face a “marca do mal” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). • A fase pré-científica pode ser reconhecida por dois enfoques muito evidentes. Em primeiro plano, os clássicos, influenciados pelo Iluminismo, com seus métodos dedutivos e lógico- formais, e, de outro lado, os empíricos, que investigavam a origem delitiva por meio de técnicas fracionadas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 30). • Esses dois grandes ramos culminaram nos chamados clássicos e positivistas, que, seja na fase pré-científica, ou com o desenvolvimento das escolas científicas, deram origem ao que se entendeu por “luta de escolas” ou “disputas de escolas”(PENTEADO FILHO, 2020, p. 30). • A sociologia criminal surge com o desenvolvimento da criminologia como ciência, em especial com o avanço da utilização de métodos empíricos para o estudo dos fatores criminológicos e suas relações com os aspectos sociais. • História da criminologia: interpretação e aprofundamento • • Nos moldes do que foi discutido anteriormente, foi a partir do surgimento e desenvolvimento das escolas criminológicas que se deu o início do caráter científico da criminologia e a sua consequente estruturação como ciência. • Primeiramente, a escola clássica ou criminologia clássica foi a grande responsável por estabelecer uma sistematização sobre a problemática do crime, elegendo-o como o seu objeto de estudo, o que lhe permitiu ser chamada de ciência autônoma (GONZAGA, 2018, p. 47). • É relevante destacar que não existiu uma escola clássica propriamente dita, ao passo que ela foi denominada assim pelos positivistas, principalmente Ferri, em tom pejorativo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 31). • A fase clássica partiu de duas teorias distintas: a) o jusnaturalismo, resultado da natureza eterna e imutável do ser humano; e b) o contratualismo, no qual o Estado surge a partir de um grande pacto entre os homens, estes que cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva (PENTEADO FILHO, 2020, p. 31 e 32). • Assim, os fatores do crime eram estudados sob estas duas visões, o jusnaturalismo e o contratualismo, investigando como estas características poderiam afetar a prática criminal. • Os princípios fundamentais da Escola Clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 32). • A escola positiva, por sua vez, possuiu três fases: • a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; • b) a sociológica, com Ferri como principal teórico; e • c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 33). • A aclamação e consolidação da escola positiva ocorreu no final do século XIX, com a atuação destacada de Lombroso, Ferri e Garófalo, considerados como principais expoentes da escola positiva italiana (PENTEADO FILHO, 2020, p. 35). • Enrico Ferri, que foi genro e discípulo de Lombroso (considerado por muitos o pai da criminologia), foi o criador da chamada sociologia criminal (PENTEADO FILHO, 2020, p. 37). Ferri considerava que a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais (PENTEADO FILHO, 2020, p. 37). • Como forma de sistematizar o estudo, em síntese, é possível afirmar que os principais postulados da escola positiva são: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). • Destaque-se que, para muitos doutrinadores, existe a chamada escola científica, que foi um desdobramento da escola positiva, a partir de um aprofundamento dos métodos científicos já utilizados na escola positiva. Contudo, este posicionamento a respeito da existência e consolidação de uma escola científica não possui grande força no seio da doutrina criminológica. • Por fim, a criminologia crítica, também denominada como “marxista”, “nova criminologia” e até como “criminologia radical”, aborda os fatores do crime como criminalização, que se explicaria por processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de alguns grupos criminalizados. História da criminologia: aplicação prática Conforme já estudado, a “luta de escolas” ou “disputas de escolas” surgiram dos embates teóricos existentes principalmente entre os clássicos e positivistas, em especial na fase das escolas criminológicas. As escolas da criminologia são o grande marco da construção da criminologia como ciência, esta que agora possui objeto fixo de estudo e método bem definido de investigações e análises. A partir deste desenvolvimento foi possível que ocorresse o amadurecimento do pensamento criminológico. Quando se fala em história da criminologia, é possível reconhecer uma fase pré-científica, que possuiu inúmeros desdobramentos, e uma fase científica, com o surgimento e desenvolvimento das escolas. Diante do exposto, devemos pensar nos seguintes exemplos: 1. Surgiu no Brasil uma nova teoria da criminologia, segundo a qual, por meio do raciocínio lógico e do uso da dedução, foi estabelecida a premissa de que o ser humano é um delinquente nato, e que, a depender do estado de necessidade e da situação social, o crime ocorrerá inevitavelmente. 2. Nos Estados Unidos da América, surgiu uma teoria criminológica, por meio da qual, a partir da análise de dados estatísticos, investigação de campo e análise social, foi possível estabelecer um liame entre o estado de necessidade na situação social com a prática recorrente de crimes. 3. Reconheceu-se, no Japão, a existência de um novo vírus que ataca o sistema nervoso central do ser humano. Um dos sintomas da infecção pelo novo vírus reconhecido é o aumento da agressividade. Os criminológicos estão se debruçando sobre o estudo da relação entre esta nova doença e a maior prática de crimes. No primeiro exemplo, apesar de existir uma relação de estudo entre o estado de necessidade e a situação social com a prática de crimes, não é possível enquadrar o estudo no âmbito da sociologia criminal. Isso se explica em razão de o método sociológico possuir um caráter empírico, na medida em que surgiu com a escola positiva, cuja maior característica é o uso do método empírico para a análise dos fatores criminais. No exemplo, a teoria que surgiu no Brasil utiliza o método e raciocínio lógico-dedutivo, estabelecendo uma relação dedutiva entre o estado natural do homem (jusnaturalismo) e os fatores de cometimento do crime. O segundo exemplo, por sua vez, apresenta a teoria na qual se analisam dados estatísticos, se realiza investigação de campo e análise social. Ele pode ser enquadrado, dessa forma, no campo da escola positiva, mais especificamente na sociologia criminal. Por fim, o terceiro caso aborda o estudo de fatores biológicos externos que podem afetar o cometimento de crimes, isto é, um novo vírus reconhecido. Esta teoria se afasta um pouco da antropologia criminal pensada originalmente pela escola positiva, apesar de existir evidente estudo biológico do tema. Dessa forma, é mais prudente enquadrar o exemplo na escola científica, que consiste em um desdobramento natural (pelo aprofundamento) do estudo biológico da escola positiva. Videoaula: Evolução histórica da criminologia Nesta videoaula, trataremos, com profundidade, da evolução histórica da criminologia e de todos os seus impactos para o surgimento e desenvolvimento da sociologia criminal. Ademais, estudaremos as principais escolas do pensamento criminológico: a escola clássica e a escola positiva. Por fim, apresentaremos as principais características da escola científica e da escola crítica. Saiba mais A história do surgimento e amadurecimento da criminologia como ciência é indispensável para a construção da sociologia criminal. Os links a seguir auxiliarão a maior compreensão do tema: • O vídeo Surgimento da criminologia (Série Criminologia – EP 01) possibilita o aprofundamento no tema surgimento da criminologia. • O vídeo escolas Criminológicas – Introdução à Criminologia possibilita o aprofundamento no tema escolas criminológicas. https://www.youtube.com/watch?v=pRIfTgGf8Jw https://www.youtube.com/watch?v=B2Lr-kWrtEo• O vídeo Escolas positivistas de criminologia: Lombroso, Ferri e Garófalo (Série criminologia – EP 04) possibilita o aprofundamento no tema escola positiva. • • Introdução • • Compreender a origem e o desenvolvimento da sociologia criminal é indispensável para o melhor entendimento sobre o tema, haja vista que, a partir desta análise, é possível reconhecer as raízes deste campo de investigação. • Antes do marco doutrinário inicial desta forma de analisar o crime, já existiam teorias sociológicas para explicá-lo; por exemplo: as de Émile Durkheim, Karl Marx e Paulo Egídio. • O estudo destas correntes de pensamento é indispensável para conhecer o surgimento e evolução da sociologia criminal e identificar suas principais características. • Vamos lá? • • História da sociologia criminal: noções gerais https://www.youtube.com/watch?v=GeTHXw6rM-E https://www.youtube.com/watch?v=GeTHXw6rM-E • • Antes da doutrina de Ferri, que deu início à sociologia criminal da forma como conhecemos hoje, com a aplicação de métodos de estudos empíricos, já existiam teorias sociológicas para explicar o crime. • Conhecer o marco inicial da sociologia criminal e como se deu o seu desenvolvimento é de suma importância para a ampla compreensão do tema. A seguir, passaremos a delimitar o início da sociologia criminal e o que os autores clássicos teorizavam sobre o tema. • Dito isso, inicialmente, é importante estabelecer o marco zero para a sociologia criminal como campo de estudos estruturado. A escola positiva da criminologia possuiu três fases: a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; b) a sociológica, com Ferri como principal teórico; e c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 33). • Enrico Ferri, que foi genro e discípulo de Lombroso, pode ser considerado o “pai” da sociologia criminal (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38), na medida em que foi ele o primeiro a estabelecer os passos para o pensamento do referido campo de análise. Para ele, a criminalidade se derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais; não seria possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). • Ele entendeu que a responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é a defesa social (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). Por meio dos seus estudos, foi possível classificar os criminosos em: a) natos; b) loucos; c) habituais; d) de ocasião; e e) por paixão (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). • Contudo, antes do marco inicial para a sociologia criminal bem estruturada com métodos científicos para investigação, já existiam teóricos da sociologia que tentavam explicar a origem e os aspectos do crime. • Os primeiros sociólogos, conhecidos como clássicos da sociologia, em especial Marx, Durkheim e Weber, desenvolveram os principais fundamentos das teorias sociológicas do crime e da justiça (MACHADO, 2008, p. 96). • Os dois primeiros autores, Marx e Durkheim, se debruçaram sobre o fenômeno criminal propriamente dito, enquanto Max Weber focou a sua atenção na moderna burocracia das sociedades industriais, lançando as bases da atual sociologia do direito e da administração da justiça (MACHADO, 2008, p. 96). • Émile Durkheim tratou do crime de modo sistemático, estabelecendo que ele é normal em qualquer sociedade, e defendendo que “não há fenómeno que apresente de maneira mais irrefutável todos os sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado às condições de qualquer vida colectiva” (MACHADO, 2008, p. 104). • Durkheim foi um doutrinador importante para a sociologia, para o direito e para a criminologia, apresentando o impacto das forças sociais na conduta humana, nomeadamente na ocorrência do crime, o que foi bastante revolucionário para a sua época. História da sociologia criminal: interpretação e aprofundamento Dentre os clássicos da sociologia, sem dúvida, Karl Marx é um dos mais importantes, tanto para a sociologia clássica, quanto para a abordagem sociológica do crime. Por esta razão, traçaremos o cerne principal do estudo de Marx. O autor se delimita a explicar a ocorrência do crime na sociedade capitalista, defendendo que haverá a redução sistemática do crime ou, mesmo, o seu desaparecimento depois de instaurado o socialismo com a subsequente redução ou eliminação da desigualdade na distribuição da riqueza e consolidação da estabilidade econômica (MACHADO, 2008, p. 99). A partir da análise de Marx, que já apresentava um teor sociológico, mas não empírico, para explicar a ocorrência do crime, outros doutrinadores passaram a defender conceitos semelhantes para investigar as circunstâncias do crime. Durkheim é um dos nomes mais importantes destes “novos” doutrinadores. A abordagem de Durkheim se fundamenta no conceito de anomia. Este termo, em sua etimologia, significa a “ausência de normas” e a inexistência de referência a regras práticas de vida em sociedade (MACHADO, 2008, p. 104). A teoria da anomia, pensada por Émile Durkheim, aponta as tensões socialmente estruturadas que induzem à ocorrência do crime e à consequente adopção de soluções desviantes, procurando, assim, descobrir de que modo o sistema social produz o crime como resultado normal do seu próprio funcionamento (MACHADO, 2008, p. 104). O conceito de anomia assume grande importância na linha das teorias sociológicas funcionalistas, mais especificamente no trabalho de Robert Merton e de Talcott Parsons (MACHADO, 2008, p. 104). No Brasil, a teoria de Durkheim encontra forte relação com os estudos do doutrinador Paulo Egídio. Paulo Egídio foi considerado pelos doutrinadores da sua época como um dos mais importantes pensadores da época, se firmando como estudioso da “sociologia”, termo que, na sua concepção, englobava desde autores que hoje reconhecemos como “clássicos” dessa área do conhecimento até autores que atualmente não são considerados como parte da história da disciplina (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 102 e 103). Diferentemente do que a maior parte dos autores faziam na época de Paulo Egídio, isto é, se dedicavam a divulgar as ideias de crime de Lombroso (para muitos o pai da criminologia), o doutrinador brasileiro se firmou ao analisar Émile Durkheim, que na época era pouco visitado pelos estudiosos brasileiros (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103). Paulo Egídio se preocupou com um dos principais pontos de discussão de Durkheim: o problema do caráter normal ou patológico do crime (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103). Para tanto, Egídio centrou as suas pesquisas em três etapas (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103 e 104): 1. Estudar a teoria do método objetivo em Durkheim e como ele o aplica ao conceito de crime. 2. Retificar os argumentos do sociólogo francês, ao criticar as conclusões a que este chegou sobre o caráter normal do crime. 3. Discutir se a relação entre o progresso e o aumento da criminalidade, também defendida por Durkheim, pode ser confirmada pela análise de dados estatísticos referentes a diversos países, incluído o Brasil. Apesar da sua evidente relevância para a construção da sociologia criminal brasileira, Paulo Egídio foi por muitos “esquecido”, na medida em que, apesar das suas contribuições, muitas vezes ele é sequer citado. História da sociologia criminal: aplicação prática Conforme já abordado, para Ferri, a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais, não sendo possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade. As suas teorias se afastam dos “clássicos” da sociologia que analisaram o crime, na medida em que os seus estudos se utilizaram o método empírico, diferentemente da abordagem da escola clássica, que lançava mão do método dedutivo. Nesse diapasão, na prática, percebe-se que, apesar de ser considerado um “clássico” que tratou da ideia docrime, já era possível estabelecer em Paulo Egídio as características do estudo da escola positiva. Como dito, Paulo Egídio, na última etapa das suas pesquisas sobre os fatores do crime, se preocupou em discutir se a relação entre o progresso e o aumento da criminalidade, também defendida por Durkheim, pode ser confirmada pela análise de dados estatísticos referentes a diversos países, incluído o Brasil (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103 e 104). Importa, dessa forma, relembrar as características da escola positiva da criminologia: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). Paulo Egídio, para confrontar a teoria de Durkheim, aplicou em seus estudos os diversos métodos da escola positiva, inclusive o método indutivo-experimental, ao tentar confirmar a tese de Émile Durkheim pela análise de dados estatísticos referentes a diversos países, incluído o Brasil. Para aprofundar os conhecimentos, imagine os seguintes exemplos: 1. Na sociedade fictícia do país Relher, chegou-se a um governo totalmente anárquico, com a derrubada de todas as regras impostas e, consequentemente, de todas as leis estabelecidas no país. Por isso, se percebeu uma manutenção dos índices criminais, mesmo com a ausência total de normas. 2. A sociedade fictícia do país Relher está em constante progresso, em razão do aumento do produto interno bruto do Estado. Contudo, percebeu-se um aumento também nos índices criminais. 3. Na sociedade fictícia do país Relher, o maior partido socialista chegou ao poder, estabelecendo um governo totalmente voltado para os valores da igualdade da melhor doutrina socialista. Percebeu-se, depois deste fato, uma redução dos índices criminais. Ao ver o primeiro exemplo sob a ótica da tese de Émile Durkheim, percebe-se que o crime cumpre uma função social, ou seja, são praticados normalmente em uma sociedade, independentemente da existência ou total ausência de normas. Da mesma forma, considerando o segundo exemplo e analisando-o sob a ótica de Durkheim, o progresso de uma sociedade resulta no inevitável aumento da criminalidade, o que explicaria a ocorrência. Por fim, o exemplo três pode ser explicado pela tese sobre o crime de Karl Marx, ao defender que haverá redução sistemática do crime ou, mesmo, o seu desaparecimento depois de instaurado o socialismo com a subsequente redução ou eliminação da desigualdade na distribuição da riqueza e a consolidação da estabilidade económica. Videoaula: Concepções sobre o crime dos clássicos da sociologia Nesta videoaula, abordaremos as concepções sobre o crime dos clássicos da sociologia, dentre os quais pode-se citar Karl Marx. Além disso, vamos nos aprofundar na sociologia criminal em Émile Durkheim, com ênfase no conceito de anomia. Por fim, trataremos da doutrina de Paulo Egídio e a sociologia criminal em São Paulo. Saiba mais Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: • O artigo Paulo Egídio e a sociologia criminal em São Paulo possibilita o aprofundamento na doutrina de Paulo Egídio. • O artigo O crime e a pena no pensamento de Émile Durkheim possibilita o aprofundamento na doutrina de Émile Durkheim. • O artigo O Pensamento de Karl Marx e a Criminologia Crítica: Por uma Criminologia do Século XXI possibilita o aprofundamento na doutrina de Karl Marx. • • Introdução • • A escola sociológica alemã teve como precursores Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von Hammel, criadores da União Internacional de Direito Penal, em 1888. Apesar da relevância https://nev.prp.usp.br/publicacao/paulo-egdio-e-a-sociologia-criminal-em-so-paulo/ http://www.revistaintellectus.com.br/artigos/14.150.pdf https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista67/revista67_356.pdf https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista67/revista67_356.pdf de Prins e Hammel, é impossível retirar de Franz von Lizst o destaque na moderna escola alemã, ao passo que ele foi o responsável pelo surgimento dela e desenvolvimento dos seus principais postulados. • O estudo da escola sociológica alemã, de seus principais postulados e das contribuições de Franz von Lizst para a sociologia criminal é indispensável para conhecer o surgimento e evolução da sociologia criminal e identificar suas principais características. • Vamos lá? • Escola sociológica alemã: noções gerais • • Dentro das “novas” escolas da criminologia (isto é, as que sucederam a clássica e a positiva), merece realce a escola de política criminal, também denominada de moderna escola alemã e de escola sociológica alemã, que traçaram importantes avanços na doutrina da sociologia criminal. • A escola sociológica alemã tem como seus principais expoentes Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von Hammel, que foram criadores, além de teorias extremamente relevantes para a sociologia criminal, da União Internacional de Direito Penal, em 1888 (PENTEADO FILHO, 2020, p. 39). • Contrariando as doutrinas vigentes, que exaltavam o purismo da ciência penal, corporificado no excessivo apego à razão abstrata, a escola sociológica alemã pronunciava-se a favor da investigação sociológica e do uso dos seus conhecimentos para o enfrentamento da criminalidade (VIANA, 2018, p. 98). • Diferentemente da doutrina de Ferri, que evidentemente serviu como base para os estudos desta nova escola, na medida em que teorizava a criminalidade como derivada de fenômenos antropológicos, físicos e culturais e não considerava o livre-arbítrio como base da imputabilidade (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38), o foco maior da escola sociológica alemã foi a busca do enfrentamento desta criminalidade, não apenas de sua explicação. • A moderna escola alemã nega a determinação do positivismo italiano, bem como desenvolve um olhar sociológico do delito, ao mesmo tempo em que mantém o seu estudo dogmático (VIANA, 2018, p. 98). • Em um primeiro momento, é possível reconhecer que a escola sociológica alemã conserva a diferença existente entre a imputabilidade e a inimputabilidade, bem como substitui o critério do livre arbítrio, pensado pelos clássicos da sociologia criminal, pelo critério da normalidade (VIANA, 2018, p. 98). • Ademais, a moderna escola alemã mantém a pena vinculada à culpabilidade; e, no contexto da medida de segurança, desenvolve a noção de periculosidade do agente, também denominada de estado perigoso (VIANA, 2018, p. 98). • Esta “nova” escola da sociologia criminal, em síntese, pode ser descrita pela sua postura eclética, como atitude de apartamento tanto da metafísica dos clássicos, quanto dos extremismos unilaterais do positivismo criminológico, especialmente de Lombroso, autor que se centrou mais na antropologia criminal (VIANA, 2018, p. 98 e 99). • O caráter sociológico do pensamento alemão se deve especialmente a Franz von Liszt, um dos maiores nomes da moderna escola alemã, cuja aula inaugural em Marburgo, denominada A ideia de fim do Direito Penal, ministrada em 1882 (e mais tarde chamada de Programa de Marburgo), também dá nome à escola (VIANA, 2018, p. 99). • Percebe-se claramente que, apesar de sua postura eclética, que toma como fonte os clássicos e os positivistas da antropologia criminal, a escola sociológica alemã é uma das importantes correntes da sociologia criminal moderna. • O caráter sociológico do pensamento de Franz von Liszt enquadrou a escola dentro da sociologia criminal, na medida em que tenta explicar o crime partindo de concepções sociológicas vigentes nas sociedades. Escola sociológicaalemã: interpretação e aprofundamento Conforme já mencionado, o doutrinador Franz von Liszt foi um dos grandes nomes da escola sociológica alemã, sendo possível afirmar que o caráter sociológico da escola se deve aos seus ensinamentos. A aula inaugural em Marburgo, denominada de A ideia de fim do Direito Penal, ministrada em 1882 por Franz von Liszt (mais tarde, ela foi chamada de Programa de Marburgo), foi um divisor de águas para o surgimento e desenvolvimento da moderna escola alemã. Importando a “ideia de fim” de Rudolf von Ihering, outro grande nome do direito penal e da criminologia alemã, Franz von Liszt abre um novo e importante caminho para a ciência penal da Alemanha (VIANA, 2018, p. 99). O pensamento de Liszt se propagou por meio de importantes publicações e iniciativas, tais como a publicação do seu Tratado, em 1880; a fundação da Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft; e a criação da União Internacional de Direito Penal, que possuía o intuito, nos moldes do artigo 1º do seu estatuto, de ressaltar a necessidade de investigações sociológicas e antropológicas, com o aprofundamento na investigação científica do crime, suas causas e meios para combatê-lo (VIANA, 2018, p. 99). Foi na doutrina de Liszt que ocorreram os primeiros passos da escola sociológica alemã como corrente de pensamento, sendo possível traçar, como marco inicial, a publicação da sua primeira obra com caráter sociológico criminal. Apesar de ser influenciado pela doutrina sociológica de Ferri, Liszt não admite a possibilidade de um tipo de delinquente, como pretendido por Lombroso e aceito por Ferri (VIANA, 2018, p. 100). Na escola sociológica alemã, mais especificamente na doutrina de Liszt, ocorre a elevação do fator social ao patamar de causa determinante da criminalidade, ao passo que, segundo ele, a sociedade não só desenvolve como produz a criminalidade (VIANA, 2018, p. 100). Portanto, como outros autores do positivismo criminal, a preocupação maior da escola sociológica alemã é a explicação da origem do crime e os fatores que levam um agente a transgredir. Liszt classifica os crimes em: 1. Delitos de ocasião: nos quais o agente se submete a impulsos exteriores que dão causa ao crime, sendo arrebatado por uma excitação repentina e apaixonada, ou sob a influência de uma opressiva necessidade. 2. Delitos crônicos ou por natureza: nos quais o agente é predisposto à delinquência, ao passo que comete crimes de ocasião externa fútil (VIANA, 2018, p. 100). Com o intuito de sistematizar o aprendizado, urge destacar os principais postulados da escola sociológica alemã: 1. O método indutivo-experimental para a criminologia. 2. A distinção entre imputáveis e inimputáveis, com a aplicação de pena para os imputáveis e medida de segurança para os inimputáveis, considerado por eles como “perigosos”. 3. O crime como fenômeno humano-social e como fato jurídico. 4. A função finalística da pena, como prevenção especial. 5. A eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração (PENTEADO FILHO, 2020, p. 39). Percebe-se que, apesar de se afastar das obras de Lombroso e também da concepção original de Ferri, desenvolvendo a sua teoria, a escola sociológica alemã possui grande importância para a sociologia criminal, sendo indispensável o seu estudo. Escola sociológica alemã: aplicação prática Em primeiro plano, importa destacar que existem diferenças consideráveis entre a escola positivista e a escola sociológica alemã, sendo esta última considerada um desdobramento daquela, com ênfase na sociologia criminal. Nesse diapasão, urge relembrar os principais postulados da escola positiva: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo- experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). Percebe-se a existência de grandes semelhanças entre a escola positiva e a escola sociológica alemã; por exemplo: o uso do método indutivo-experimental, que revolucionou a criminologia como um todo. Contudo, por ser um desdobramento da escola positiva, apesar da existência de semelhanças entre as duas, reconhecem-se importantes contribuições particulares da moderna escola alemã; por exemplo: a distinção entre imputáveis e inimputáveis, com a aplicação de pena para primeiros e medida de segurança para os segundos, considerados por eles como “perigosos”. Ademais, nos moldes do que já foi destacado, Franz von Liszt, o maior doutrinador da escola sociológica alemã, classifica os crimes em: a) delitos de ocasião, nos quais o agente se submete a impulsos exteriores que dão causa ao crime; e b) delitos crônicos ou por natureza, nos quais o agente é predisposto à delinquência. Nesse contexto, analisaremos os seguintes exemplos: 1. Pedro, maior de idade e capaz, submetido a um forte estresse emocional, entrou em uma briga de trânsito com José. Ocorre que Pedro atacou ferozmente José, levando-o ao hospital e, posteriormente, ao óbito. 2. Cláudio, psicopata já diagnosticado, praticou o crime de homicídio com extrema crueldade. Não satisfeito, ele passou a matar outras pessoas adotando o mesmo padrão, chegando ao total de quinze mortes. 3. Protásio, maior e capaz, se envolveu com o crime desde a adolescência, praticando roubos sequencialmente e com grande crueldade. No primeiro caso, percebe-se a prática de um delito de ocasião, haja vista que, submetido principalmente a impulsos exteriores, Pedro praticou um crime, razão pela qual não é possível imputar-lhe a prática de delitos crônicos, também porque não há a predisposição à delinquência. No segundo exemplo, é possível reconhecer facilmente a prática de delitos por natureza, na medida em que o psicopata é um agente predisposto à violência, não sendo possível, no sistema jurídico brasileiro, considerá-lo inimputável. Por fim, no terceiro exemplo, se considerarmos apenas o enquadramento da moderna escola alemã, é clara a classificação dos crimes de Protásio como delitos crônicos. Não existe nenhum impulso externo constante capaz de possibilitar a prática recorrente dos crimes. Na atualidade da sociologia criminal, é possível lançar mão de outras teorias sociológicas para explicar os crimes de Protásio, contudo, este não é o objeto desta aula. Videoaula: Origem e desenvolvimento da escola sociológica alemã Nesta videoaula, aprofundaremos nosso estudo da origem e do desenvolvimento da escola sociológica alemã, em especial da doutrina de Franz von Liszt, considerado o mais importante estudioso desta escola criminológica. Além disso, abordaremos os principais postulados da escola sociológica alemã, comparando-os com os da escola positiva. Nesse contexto, entenderemos quais são as teorias para a origem do crime e da formação do agente. Saiba mais Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: • O artigo Lições de Franz Von Liszt possibilita o aprofundamento na doutrina desse estudioso. • O artigo Ensinar criminologia: entre von Liszt e Baratta possibilita uma comparação entre esses dois teóricos. https://canalcienciascriminais.com.br/licoes-de-franz-von-liszt/ https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/download/6818/5123 • O artigo Franz von Liszt e a Política Criminal possibilita o aprofundamento na política criminal alemã. • • A origem da sociologia criminal • • Quando se fala em origem da criminologia e no seu desenvolvimento, muitos confundem a concepção da antropologia criminal e a da sociologia criminal. Alguns autores emblemáticos da antropologia criminal, e da criminologia como um todo (porexemplo, Lombroso), estabeleceram concepções e estudos nestas duas áreas. • A antropologia criminal, campo de análise da criminologia que surgiu na escola positiva, estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos. Na concepção original de Lombroso, esta análise poderia ser feita com base na investigação fenotípica das pessoas. • A sociologia criminal, por sua vez, é o campo de análise da criminologia que também surgiu na escola positiva e investiga os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, com o uso de métodos empíricos. • A criminologia pré-científica pode ser dividida em algumas etapas: a) antiguidade; b) teólogos; c) filósofos e humanistas; d) penólogos; e) ocultismo; f) frenólogos; g) psiquiatras; e h) médicos e cientistas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). • Os princípios fundamentais da escola clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser https://sites.usp.br/cienciascriminais/franz-von-liszt-e-a-politica-criminal/ embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 32). • A escola positiva, por sua vez, possui como principais postulados: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). • A escola científica, desconsiderada por muitos doutrinadores, pode ser tratada como um desdobramento da escola positiva, a partir de um aprofundamento os métodos científicos já utilizados nela. • A criminologia crítica aborda os fatores do crime como criminalização, que se explicaria por processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de alguns grupos criminalizados. • Outro grande doutrinador da sociologia que contribuiu para a construção da criminologia foi Émile Durkheim. A sua obra foi centrada na ideia de anomia, defendendo quanto ao crime, dentre outras coisas, que “não há fenómeno que apresente de maneira mais irrefutável todos os sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado às condições de qualquer vida colectiva” (MACHADO, 2008, p. 104). • Paulo Egídio, muitas vezes sequer citado pelos doutrinadores da criminologia, foi um importante estudioso brasileiro na área, sendo o responsável por fortalecer a sociologia criminal em São Paulo. Ele foi indispensável por, de forma quase inédita no Brasil, apresentar críticas à obra de Émile Durkheim. • Por fim, a escola sociológica alemã foi uma importante escola da criminologia, elevando o pensamento da escola positiva e sendo um desdobramento desta, mais especificamente da sociologia criminal. • • Videoaula: Revisão da unidade • Nesta videoaula, revisaremos a história da sociologia criminal, estabelecendo as principais diferenças e as origens deste campo de análise da criminologia e a antropologia criminal. Estudaremos mais sobre as escolas da criminologia, em especial a escola clássica, a escola positiva e a escola sociológica alemã, também denominada de moderna escola alemã. • • Estudo de caso • • Imagine que você é professor universitário e ministra a aula de criminologia na universidade em que trabalha. Um dos alunos da sua turma o procurou para sanar algumas dúvidas. • Segundo ele, é impossível saber “decorar” e diferenciar tantas escolas da criminologia, razão pela qual não estava conseguindo aprender a matéria. Ao procurar o conteúdo no livro, o aluno se deparou com extensa teoria sobre o assunto, mas não a entendeu muito bem. • Por isso, ele o procurou para saber as principais diferenças entre a escola positiva e a escola clássica, que, segundo ele, são as mais importantes da criminologia. • Além disso, ele perguntou se a sociologia criminal é a mesma coisa que a escola sociológica alemã. • _______ • Reflita • Frente ao exposto, você, enquanto professor universitário, precisa responder: quais são as principais características da escola clássica? Quais são as principais características da escola positiva? Quais são as diferenças entre estas escolas? A sociologia criminal é a mesma coisa que a escola sociológica alemã? • • Videoaula: Resolução do estudo de caso • Na situação em tela, você é professor universitário e ministra a aula de criminologia na universidade em que trabalha. Um dos alunos da sua turma o procurou para sanar algumas dúvidas. • Em primeiro plano, importa destacar que não existiu uma escola clássica propriamente dita, ao passo que ela foi denominada assim pelos positivistas, principalmente por Ferri, pai da sociologia criminal, em tom pejorativo. • Os princípios fundamentais da escola clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo. • A escola positiva, por sua vez, foi marcada pela utilização de métodos científicos e empíricos para o estudo do crime. Assim, foi possível se afastar do uso do método e raciocínio lógico- dedutivo, que era comumente utilizado pela escola clássica. • A escola positiva possuiu três fases: a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; b) a sociológica, com Ferri como principal teórico; e c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico. Foi com Ferri que se deu a origem da sociologia criminal, na medida em que se passou a lançar mão do método empírico para estudar os fatores sociais ligados à criminalidade. • Assim, é impossível falar que a sociologia criminal é o mesmo que a escola sociológica alemã. • Os principais postulados da escola positiva são: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo- experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo. • Por fim, a escola sociológica alemã pronunciava-se a favor da investigação sociológica e do uso dos seus conhecimentos para o enfrentamento da criminalidade. Contudo, apesar de utilizar a doutrina de Ferri como referência, a moderna escola alemã elevou o estudo da investigação social da criminalidade, sendo considerada um desdobramento da escola positiva no contexto da sociologia criminal. • Resumo Visual • • • Entender a história da sociologia criminal é um divisor de águas para o estudioso da criminologia. As características desse campo de análise da criminologia surgiram, em grande parte, com a evolução e maturação histórica do estudo do crime. A figura a seguir visa a resumir os principais aspectos da história da sociologia criminal vistos nesta Unidade. • • A antropologia criminal, campo de análise da criminologia, que surgiu na escola positiva, estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos. • • A sociologia criminal é o campo de análise da criminologia que investiga os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, com o uso de métodos empíricos. • • A escola clássica usava, majoritariamente, o método lógico-indutivo para analisar o crime. • • A escola positiva, por sua vez, passou a usar o método indutivo-experimental para estudar o crime. • • A escola positiva possuiu três fases: a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; b) a sociológica, com Ferri como principalteórico; e c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico. • Resumo visual do conteúdo estudado na Unidade 1. Fonte: elaborada pelo autor. • A escola sociológica alemã surge como um desdobramento da sociologia criminal da escola positiva, na medida em que elevou o estudo sobre as influências sociais na prática criminal. • UNIDADE 2 - Modelos sociológicos de consenso e conflito • Introdução A exclusão social, ou a simples desigualdade entre grupos, é um relevante fator social que explica parte da prática criminal. Esta exclusão gera como consequência o crime, ao passo que a falta de oportunidades para alguns grupos sociais resulta no cometimento de crimes. Da mesma forma, a prática de crimes também resulta, em razão do sistema punitivo vigente, em outro processo de marginalização de grupos sociais, o que também culmina no aumento da criminalidade. Estudar como esse processo de estigmatização pode gerar o aumento da criminalidade e a formação dos grupos criminosos é indispensável para compreender, identificar e diferenciar os modelos sociológicos de consenso e os modelos sociológicos de conflito. Vamos lá? Noções gerais A sociologia criminal é, na atualidade, um dos principais campos de análise da criminologia, haja vista que, por meio dela, pode-se explicar e investigar as causas de um crime, bem como as suas circunstâncias. É cabível reconhecer na doutrina de Enrico Ferri o início da sociologia criminal (ainda que não do pensamento sociológico do crime), ao passo que, em seus estudos, foi possível a aplicação de métodos científicos (empíricos, por exemplo), na interpretação do crime sob a ótica social. Para Ferri, conforme já tratado, a criminalidade se derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais, não sendo possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). Ele entendeu que a responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é a defesa social (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). O crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, causa da exclusão social de determinados grupos. Isto ocorre porque, nos moldes das atuais teorias do consenso e do conflito, ou seja, das teorias macrossociais, é possível reconhecer que a exclusão de grupos sociais gera o inevitável aumento da criminalidade. Da mesma forma, com o cometimento do crime, tratando sob a visão dos atuais sistemas punitivos, em especial o brasileiro, o indivíduo já excluído passa por um segundo processo de exclusão, principalmente quando consideramos as penas privativas de liberdade. Os transgressores, dessa forma, antes e depois da pena, passam a compor verdadeiras organizações sociais paralelas, identificadas comumente como “organizações criminais”. A autora Alba Zaluar, que publicou obras de extrema relevância entre os anos de 1983 e 1990, foi uma das primeiras doutrinadoras a pesquisar e defender a chamada “organização social do crime”, abordando as identidades dos tipos criminosos, as suas organizações, a entrada de mulheres e jovens nas atividades ilegais (sobretudo no tráfico de drogas), as mudanças na “subcultura criminosa” considerando as novas referências ao mundo do trabalho, etc. (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 153). Zaluar, em um importante balanço bibliográfico sobre crime e violência nas ciências sociais no Brasil, sem se referir de forma explícita ao tráfico de drogas, identificava este crime como expressão do crime organizado que assumia proporções em escala mundial, com estruturas complexas, e mobilizava grandes quantidades de dinheiro (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 153). A organização social dos grupos criminosos marginalizados gera a consequente formação de inúmeros outros grupos criminosos. Além disso, se considerarmos a “organização social central”, ou seja, a organização social oficial de um Estado, percebe-se claramente que há a exclusão e marginalização de grupos sociais que, inevitavelmente, passarão a cometer crimes. É impossível estudar a prática criminal e a existência das organizações sociais paralelas sem entender e investigar o crime sob a ótica das organizações sociais centrais dos Estados. Interpretação e aprofundamento Conforme já destacado, o crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, causa da exclusão social de determinados grupos. Se analisarmos friamente as sociedades vigentes, é possível depreender que o processo de exclusão e marginalização de determinados grupos gera como consequência a criminalidade. Da mesma forma, a penalização dos indivíduos que cometem crimes, nos sistemas penais vigentes, é uma forma de acentuar ainda mais a exclusão. Por esse motivo, é possível conceber que estes grupos excluídos passaram a integrar verdadeiras organizações sociais paralelas, também reconhecidas como organizações criminais. Na sociologia criminal brasileira, é preciso destacar que não houve uma preocupação em usar de forma precisa os conceitos como: organização criminosa, crime organizado, organização social do crime, crime negócio (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 155). Essas expressões são, na prática, comumente utilizadas para se referir ao tráfico de drogas, sobretudo à parte dos grupos e atividades que operam no varejo desse comércio, e, consequentemente, reconfiguram as formas de vida e sociabilidades no espaço urbano (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 155). Da mesma forma, também se percebe a realização e reconhecimento destas organizações sociais nos sistemas carcerários brasileiros. Contudo, mesmo diante da carência de investigações sob o prisma da formação da organização social, existem fortes teorias que tratam do processo de rotulação e estigmatização dos grupos sociais. Nesse contexto de rotulação e exclusão de determinados grupos, importa citar uma importante teoria macrossocial do consenso: a teoria do etiquetamento ou teoria da rotulação social. A teoria do labelling approach (“abordagem do etiquetamento”, em inglês), também conhecida como teoria do etiquetamento, uma das mais importantes teorias de conflito, surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos, tendo como principais expoentes Erving Goffman e Howard Becker (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Segundo essa teoria, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, não é inerente ao ser humano, mas sim a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade”, ou seja, ocorre uma estigmatização social (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). O criminoso, dessa forma, se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe, isto é, o indivíduo excluído e marginalizado vai, com maior facilidade, participar da prática criminal (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Por essa razão, o tema central desse enfoque é o processo de interação em que o indivíduo é chamado de criminoso (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Destaque-se que, em razão do aumento dos processos informacionais e desenvolvimento do meio ambiente digital, temos na atualidade um novo processo de exclusão social, que culmina em um maior cometimento de crimes. A desigualdade tecnológica é, nos dias atuais, um forte vetor do aumento da criminalidade. Isto porque a habilidade tecnológica é uma ferramenta indispensável para o alcance de oportunidades de aquisição de renda. Por isso, o indivíduo sem essa habilidade está passando, cada vez mais, por um processo de exclusão social. Nesses casos, apesar de ser a ultima ratio, o ingresso na criminalidade é encarada por alguns indivíduos como a única fonte possível de sustento. Aplicação prática Nos moldes do que já foi estudado, o crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, causa da exclusão social de determinados grupos. As organizações sociais da criminalidade surgem como consequência deste processo de estigmatização individual, ao passo que, muitas vezes, a participação nestasorganizações é a única forma de aquisição de renda. Esta exclusão pode acontecer de inúmeras formas (como a digital e a tecnológica), sendo um forte vetor do aumento da desigualdade social e, consequentemente, da maior prática criminal. Nesse sentido, analisaremos os exemplos que seguem: 1. Maria, mulher, capaz e mãe solteira, sem conseguir nenhum emprego, não possui renda para manter a sua vida e a da sua filha pequena. Por essa razão, procurou o grupo organizado para o tráfico de drogas da sua comunidade, com o intuito de conseguir “trabalho”. Foi então que Maria passou a praticar crimes. 2. Na comunidade fictícia denominada Postus da Pátria, há grande miserabilidade. Isto ocorre, pois os poderes estatais, com o apoio de grande parte da população, “isolaram” grupos sociais já excluídos, como forma de “maquiar” a cidade e reduzir a criminalidade. Ocorre que estes grupos isolados da comunidade Postus passaram a cometer crimes de forma organizada em outras localidades. 3. Fábio, programador, passou a praticar crimes on-line. Ocorre, que, após cometer um descuido, Fábio foi “pego em flagrante”, sendo preso logo depois. No sistema penitenciário, Fábio passou a integrar um grupo criminoso, com medo das ameaças que estava sofrendo de membros de outros grupos. No primeiro exemplo, fica claro o processo de marginalização de determinados indivíduos, que, por não conseguirem, de nenhuma forma, trabalho para se manterem, passam a participar ativamente da prática criminosa. Maria, por não conseguir se manter, em razão do processo de marginalização sofrido, que a repeliu do sistema social central, passou a integrar uma organização social paralela, isto é, uma organização criminosa. Da mesma forma, percebe-se que, nos moldes do segundo exemplo, a exclusão de grupos sociais pode causar um efeito drástico para a sociedade, isto é, o aumento da criminalidade. Estes grupos excluídos passam a compor ou formam organizações sociais paralelas, comumente denominadas de organizações criminais. Ademais, percebe-se facilmente a comprovação da chamada teoria do labelling approach, ou teoria do etiquetamento, na medida em que o grupo rotulado e marginalizado passou, em razão da falta de oportunidades, a cometer mais crimes. Por fim, percebe-se, no terceiro exemplo, outro processo de composição de uma organização social paralela (organização criminal). Fábio, que já cometia crimes, em razão da pena imposta pelo sistema jurídico-penal vigente, foi obrigado a participar de uma organização criminosa. No sistema penitenciário brasileiro, é possível reconhecer a existência de inúmeras organizações sociais paralelas, cada uma com estruturação própria, normas particulares e lideranças próprias. Videoaula: Crime, sistema punitivo vigente e organização social Nesta videoaula, trataremos mais da relação entre o crime, o sistema punitivo vigente e a organização social como principal causadora do aumento da prática criminal. Entenderemos como o processo de rotulação social, de estigmatização e de exclusão de alguns grupos sociais pode resultar no aumento da criminalidade. Por fim, estudaremos como a desigualdade social e tecnológica podem ser considerados fatores da criminalidade. Saiba mais Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: • O artigo O crime organizado entre a criminologia e a sociologia possibilita o aprofundamento no tema da formação dos grupos criminosos. • O artigo Controle social estatal e organização do crime em São Paulo possibilita o aprofundamento no tema da formação da organização criminal em São Paulo. • O artigo Teoria da rotulação: O aumento da criminalidade e a não ressocialização dos apenados à luz da teoria do Labelling Approach possibilita o aprofundamento no tema teoria da rotulação. https://www.scielo.br/j/ts/a/K7HHBqvBchTkKdwLVjybDwb/?lang=pt&format=pdf https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7246 https://jus.com.br/artigos/82004/teoria-da-rotulacao-o-aumento-da-criminalidade-e-a-nao-ressocializacao-dos-apenados-a-luz-da-teoria-do-labelling-approach https://jus.com.br/artigos/82004/teoria-da-rotulacao-o-aumento-da-criminalidade-e-a-nao-ressocializacao-dos-apenados-a-luz-da-teoria-do-labelling-approach • Introdução • • A rotulação de determinados grupos como criminosos gera uma carga jurídica muito forte, na medida em que estes grupos etiquetados deixam de ter acesso à segurança jurídica em igualdade de condições com outros grupos. • O direito penal do inimigo surge nesse contexto, por pregar o “endurecimento” do sistema punitivo e por desconsiderar os direitos e garantias individuais no processo de criminalização do “inimigo” do Estado. • Estudar como esse processo de estigmatização pode gerar o aumento da criminalidade e a formação dos grupos criminosos, e como a mídia é um relevante vetor para a construção da estereotipação do criminoso, é indispensável para compreender, identificar e diferenciar os modelos sociológicos de consenso e os modelos sociológicos de conflito. • Vamos lá? Noções gerais As sociedades atuais sempre convergem para a construção de um inimigo estatal, que pode ser externo ou interno. A prática criminal resulta em uma construção de uma estereotipação do criminoso, para tentar “rotular” ou “etiquetar” determinados grupos como tal. Importa lembrar que a teoria do labelling approach, também conhecida como teoria do etiquetamento, define que a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, não é inerente ao ser humano, mas sim a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade”; ou seja, ocorre uma estigmatização social (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Assim, um indivíduo ou grupo criminal estigmatizado passará a ter que cometer crimes. Nesse contexto, urge destacar o direito penal do inimigo, que, conforme a doutrina de Gunther Jakobs (considerado o seu criador), se preocupa com a preservação do Estado e propõe tratamento gravoso aos criminosos que violam bens jurídicos mais importantes, como a vida, a liberdade e a dignidade sexual (PENTEADO FILHO, 2020, p. 122). Contudo, da mesma forma que se prega um aumento da punibilidade de alguns grupos, o direito penal do inimigo gera como consequência a criação de um “padrão de criminoso” e a rotulação de determinados grupos como criminosos. Destaque-se que, com viés extremamente punitivo e sem observância das garantias processuais, o direito penal do inimigo almeja punir aquele que viola as expectativas sociais e põe em risco toda a coletividade (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122). Contudo, nem sempre esse “inimigo” criado é realmente a pessoa que comete crime ou, em situações de igualdade de condições sociais, cometeria crimes. No direito penal do inimigo, o “inimigo” é aquele que não respeita o Estado de Direito, praticando condutas criminosas que ameaçam todos os direitos sociais (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122). Esse inimigo, por desrespeitar as leis e a constituição social, não deve ser tratado de forma igual às “outras pessoas”, que não atingem os bens citados. Todavia, este processo de estigmatização extrema pode causar um efeito rebote. A marginalização de determinados grupos, com as consequentes rotulações dos seus indivíduos como “criminosos”, cria verdadeiros ordenamentos jurídicos paralelos e organizações sociais autônomas, reconhecidas por muitos como organizações criminosas. Essas organizações criminosas criam códigos e normas próprios, ou seja, sistemas jurídicos autônomos, paralelos ao vigente (o estatal). Isso resulta no aumento da criminalidade, ao passo que, no próprio seio da organização paralela criada, existe a prática constante de crimes violentos. É relevante realçar, por fim, que essa rotulação criminal se dá, principalmente, pela forte cultura de padronização social,sendo a população de classes menos abastadas preconcebidas como originárias do crime e da violência, ideia defendida por muitos no momento de propor ações para a redução da violência. Interpretação e aprofundamento Na sociedade brasileira, existe uma visão padronizada das características de um delinquente, mesmo que sem consciência ou sem um completo conhecimento sobre a criminalidade do país. Assim, pode-se falar de uma indução dessa ideia por alguém sem total entendimento sobre o assunto, o que gera um pensamento preconceituoso e sem fundamento. As características de um transgressor, para a sociedade brasileira dominante, se resumem a uma determinada classe, de uma determinada etnia, de uma determinada localidade e, principalmente, de um determinado gênero; em geral, o criminoso é estereotipado como homem, negro, morador de favela e pobre. Sobre isso, Darcy Ribeiro (1995) afirma que “apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente contrastantes são os de natureza social” (RIBEIRO, 1995). Isso evidencia que, além dos tantos preconceitos sociais existentes, o prejulgamento social é um dos que mais segrega. Segundo Lemert, de uma pessoa estereotipada como transgressora só se espera a transgressão, reduzindo assim as chances de este indivíduo agir contra este rótulo e criando uma predisposição ao desvio, formado, muitas vezes, por carreiras criminosas (LEMERT, 1951). Segundo esse pensamento, a estereotipação criminal pode ser de grande prejuízo ao bom convívio social, pois forma uma parcela da sociedade propensa à transgressão. Segundo Budó (2008), junto ao sistema penal, os meios de comunicação de massa exercem um importante papel de controle social. De acordo com ela, existe uma relação entre o punitivismo penal e a espetacularização da mídia, fazendo com que as opiniões dos meios comunicativos sejam de extrema importância para o direito penal (BUDÓ, 2008). Ademais, pode-se falar que a mídia é forte influenciadora de pensamentos, razão pela qual deve existir grande responsabilidade por parte dos integrantes do “quarto poder”. Com isso, se as mídias sociais utilizarem conceitos infundados, podem se tornar grandes malfeitoras sociais, pois podem incutir na sua audiência ideologias tendenciosas, como a rotulação de certos indivíduos como criminosos. Nesse contexto, destaque-se que a realidade social surge da interação entre os membros de uma comunidade, sendo os atos desviantes só concebidos como errados se a sociedade assim entender. Desse modo, a população tende a julgar os atos transgressores, assim como rotular os indivíduos que praticam essas ações. Existe também o fato de que, mesmo com tantos meios repressores, o sistema penal não possui competência para agir contra todos os casos, dando preferência aos de indivíduos estereotipados. Com isso, gera-se um sistema carcerário com predominância de uma classe social específica (BUDÓ, 2008). A mídia, ao mesmo tempo que é forte influenciadora de pensamentos, é uma construção social, razão pela qual os valores dominantes, em geral, podem ser divulgados e incorporados por ela. Assim, se existe uma padronização da estereotipação (rotulação) do criminoso, a mídia incorpora esse padrão em seus canais de divulgação, o que aumenta ainda mais a concepção da existência de um grupo rotulado como criminoso e, consequentemente, o aumento da criminalidade. Aplicação prática Nos moldes do que já foi destacado, o direito penal do inimigo se preocupa com a preservação do Estado e propõe tratamento gravoso aos criminosos que violam bens jurídicos mais importantes, como a vida, liberdade, dignidade sexual. Contudo, esta mesma teoria cria uma “padronização” da figura do inimigo estatal, o que resulta em um processo de rotulação em massa, imputando a determinados grupos de indivíduos a “etiqueta” de criminosos. Para uma noção mais precisa da visão de Jakobs, criador do direito penal do inimigo, devemos imaginar o caso do terrorista que não respeita os direitos de outra nação e que mata, ou tenta matar, milhares de inocentes. Considerando a referida teoria, não há como aplicar as normas jurídico-penais vigentes de um Estado, ao passo que o “inimigo” deverá ser tratado de maneira mais dura, sem a consideração dos seus direitos e garantias fundamentais. Contudo, em alguns Estados, como no Brasil, por exemplo, o “inimigo” é estigmatizado de forma errada, o que causa um efeito rebote ao pretendido, ou seja, o aumento da criminalidade, em especial crimes com alto grau de crueldade. Os Estados Unidos da América, por exemplo, aplicam claramente a ideia de direito penal do inimigo para os terroristas que ameaçam diariamente a paz social dos seus cidadãos (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122). Lá foi cunhado o chamado Ato Patriótico, que permite, dentre outras coisas, a interceptação de e- mail e telefones sem nenhuma autorização judicial, bastando que haja indícios de que o indivíduo esteja conspirando para fazer algum ataque àquele país (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122), em evidente desrespeito aos direitos fundamentais. Quando levamos em conta a realidade brasileira, percebe-se que há, extraoficialmente, a aplicação do direito penal do inimigo nos atos policiais e nos aclames de parte da sociedade vigente. O indivíduo estereotipado, rotulado ou etiquetado como criminoso, no Brasil, é majoritariamente o homem, negro, morador de favela e pobre. Assim, práticas policiais mais duras e abusivas comumente atingem esse padrão de indivíduo, mesmo que a pessoa nunca tenha cometido um crime. A criminalidade surge como consequência do processo de estigmatização destes grupos; esse processo conta, muitas vezes, com o apoio da mídia, em especial dos denominados “programas policiais”. Para a compreensão do tema, imagine o seguinte exemplo: • Pedro, negro, morador de favela e pobre, nunca cometeu um crime, mas foi preso por suspeita de tráfico de drogas. Os programas policiais da sua cidade retrataram a prisão de Pedro de forma midiática e chamativa, de modo a constranger o suposto criminoso. Ocorre que, tempos depois, Pedro foi completamente inocentado e solto, ao passo que não existia nenhum indício do cometimento do crime. Percebe-se que a mídia atuou como vetor de estigmatização social, com o desenvolvimento de um “padrão” de inimigo do Estado já criado há tempos. Videoaula: Direito penal do inimigo como definidor dos grupos criminosos Nesta videoaula, abordaremos mais sobre o direito penal do inimigo como definidor dos grupos criminosos, com a construção de um padrão criminal estereotipado. Além disso, entenderemos a influência da mídia na construção da criminalidade, em especial no fortalecimento do “padrão” de criminoso criado pelas sociedades. Por fim, trataremos da construção de verdadeiros grupos criminosos com normas “paralelas”, que criam sistemas jurídicos autônomos. Saiba mais Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de conhecimento. Os materiais sugeridos a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: • O artigo Brasil decide futuro com base no Direito Penal do Inimigo possibilita o aprofundamento no tema direito penal do inimigo. • O artigo O pluralismo jurídico sob a ótica da justiça restaurativa possibilita o aprofundamento no tema criminalidade e pluralismo jurídico. • O artigo O papel da mídia na construção estereotipada da figura do “criminoso” no Brasil possibilita o aprofundamento no tema influência da mídia na estereotipação do criminoso. https://www.conjur.com.br/2015-jan-05/brasil-decide-futuro-base-direito-penal-inimigo https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/snpp/article/download/16954/4165 https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/297545792/o-papel-da-midia-na-construcao-estereotipada-da-figura-do-criminoso-no-brasil
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