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Sociologia Criminal

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, 
Sociologia Criminal 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 - A origem da sociologia criminal 
Introdução 
 
A criminologia positiva inaugurou um importante traço do pensamento criminológico: o estudo 
empírico dos aspectos do crime. Nesse contexto, surgem campos de análise diferentes, dentre os 
quais é possível citar a sociologia e a antropologia criminal. 
A antropologia criminal estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores 
biológicos, enquanto a sociologia criminal investiga os crimes sob a ótica dos fenômenos 
exclusivamente sociais. 
O estudo das principais diferenças e semelhanças entre estes dois ramos de investigação é 
indispensável para conhecer o surgimento e evolução da sociologia criminal e identificar as 
principais características dela. Vamos lá? 
Antropologia e sociologia criminal: noções 
gerais 
 
A história da criminologia traz em seu seio as bases da estrutura teórica da sociologia e da 
antropologia criminal. Apesar de serem campos de estudos completamente diferentes, muitos 
doutrinadores ainda se confundem com estes conceitos. Por esta razão, passaremos a analisar, 
sinteticamente, os dois ramos do estudo da criminologia. 
Antes de tudo, importa traçar um panorama geral sobre a criminologia, ao passo que foi a partir do 
surgimento desta ciência que os doutrinadores passaram a estudar os motivos da prática do crime 
e as classificações dos criminosos. 
Em sua etimologia, a palavra “criminologia” é originada do latim, crimino, sujo sentido é “crime”, e 
do grego, logos, que significa “estudo”, formando o termo cujo significado é “estudo do crime”. 
O termo “criminologia” foi usado pela primeira vez por Paul Topinard, em 1883, se popularizando 
internacionalmente em 1885, por Raffaele Garófalo, doutrinador que publicou o 
livro Criminologia no mesmo ano (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). 
Alguns doutrinadores, semelhantemente ao que se vê na etimologia da palavra, defendem que a 
criminologia deve ser considerada como a ciência que estuda os crimes e os criminosos. Contudo, 
o campo de atuação da criminologia é amplo: abarca também as circunstâncias sociais, a vítima, o 
criminoso, o prognóstico delitivo, dentre outros (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). 
A criminologia pode ser conceituada como a ciência empírica e interdisciplinar, que tem por objeto 
analisar o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo e da vítima, e o controle social 
das condutas criminosas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). 
A criminologia é uma das ciências do “ser”, portanto, empírica, haja vista que seu objeto está, 
claramente, no mundo real, não apenas no dos valores, diferentemente das ciências do “dever-
ser”, que podem ser, por exemplo, normativas e valorativas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 16). 
Em razão da necessidade do estudo do objeto da criminologia, que é uma ciência que analisa os 
fatos ocorridos e o status quo social, tornou-se necessário traçar alguns parâmetros para investigar 
os aspectos do crime. 
Nesse contexto, a criminologia positivista passou a investigar as causas da criminalidade, fato que 
lhe conferiu a qualidade de ter iniciado o paradigma etiológico, ou seja, o estudo das causas de um 
fenômeno, pois foi imprescindível que os motivos de as pessoas cometerem crimes passassem a 
ser a pauta dos seus estudos (GONZAGA, 2018, p. 50). 
Assim, surgem campos de análise diferentes, dos quais decorrem dois principais ramos de 
investigação autônomos: a sociologia e a antropologia criminal, que são indispensáveis para a 
compreensão dos fatores criminológicos. 
Se os estudos dos fatores do crime forem feitos em função da personalidade do delinquente ou dos 
fatores biológicos, teremos caracterizado um estudo da antropologia criminal. Por sua vez, se 
analisarmos os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, teremos outro ramo de 
investigação: a sociologia criminal. 
Para muitos, o conjunto desses estudos particulares do delito, sob as óticas explicadas, compõe a 
criminologia. 
 
Antropologia e sociologia criminal: 
interpretação e aprofundamento 
 
A criminologia positivista deu origem ao pensamento criminológico moderno, ao passo que ela 
embasou a investigação, principalmente empírica, dos motivos do crime. O intuito desta corrente, 
que fundamentou a criminologia como um todo, é a busca pelas causas da criminalidade, 
abstraindo-se da análise puramente legalista feita pelas antigas teorias. 
Sinteticamente, pode-se afirmar que a escola positiva (criminologia positivista) teve três fases: 
1. A antropológica, com Lombroso como o principal teórico. 
2. A sociológica, com Ferri como principal teórico. 
3. E a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 33). 
A sociologia criminal, em suas bases, confundiu-se com certos preceitos da antropologia criminal, 
na medida em que buscava a gênese delituosa nos fatores biológicos, em certas anomalias 
cranianas e na “disjunção” evolutiva (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). 
Exatamente por isso, traçar uma comparação entre a antropologia criminal e a sociologia criminal 
é indispensável para o aprofundamento nesse último ramo de análise criminológica. 
Com o intuito de identificar as bases (motivos) e aspectos dos crimes, Cesare Lombroso, 
considerado por muitos como o “pai da criminologia”, em sua obra O homem delinquente, publicado 
em 1876, afirmou que certos fatores biológicos deveriam ser levados em consideração para aferir 
o surgimento do crime e do criminoso (GONZAGA, 2018, p. 51). 
Lombroso, também considerado o pai da antropologia criminal, levou em conta algumas ideias e 
teorias dos fisionomistas para traçar um perfil dos criminosos (PENTEADO FILHO, 2020, p. 34), 
considerando os aspectos físicos e biológicos para delimitar o perfil do criminoso. 
Traços como fronte fugidia, zigomas salientes, lábios grossos, mãos grandes, orelhas grandes, 
insensibilidade à dor, vaidade, crueldade e tendência à tatuagem denotam a pessoa do criminoso 
na visão de Lombroso (GONZAGA, 2018, p. 51). 
Evidentemente, a teoria de Lombroso possui inúmeras “falhas” que devem ser levadas em 
consideração. Contudo, a relevância deste doutrinador para a base do pensamento criminológico 
é inegável, razão pela qual urge frisar que toda a doutrina da criminologia deve à teoria de 
Lombroso a investigação empírica do crime. 
Em breve síntese, a criminologia antropológica, de modo semelhante à teoria de Lombroso, é um 
ramo de investigação da criminologia, cujo objeto é a criação de perfil de criminoso, considerando 
os liames existentes entre a natureza de um crime e a personalidade ou aparência física do 
criminoso. 
O próprio Lombroso, no fim dos seus dias como teórico, estabeleceu o pensamento de que o crime 
não só o crime surge das degenerações, mas também de certas transformações sociais que afetam 
os indivíduos, desajustando-os (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). 
Mesmo com a contribuição dos teóricos como Lombroso, foi Ferri que mais se destacou no campo 
da sociologia criminal. Atualmente, este ramo de investigação se preocupa com os fatores sociais 
e as suas relações com os crimes, analisando as chamadas teorias macrossociológicas, sob 
enfoques consensuais ou de conflito (PENTEADO FILHO, 2020, p. 78). 
Dessa forma, percebe-se que, apesar da íntima relação de origem existente entre a antropologia 
criminal e a sociologia criminal, fica evidente as grandes diferenças entre estes dois ramos de 
investigação. 
Antropologia e sociologia criminal: aplicação 
prática 
 
Nos moldes do que já foi discutido, é possível ressaltar que existem na criminologia dois principais 
ramos de investigação autônomos, a sociologia criminal e a antropologia criminal, que são 
indispensáveis para a compreensão dos fatores criminológicos. 
Se o crime for analisado sob a ótica da personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos, 
teremos caracterizado um estudo da antropologia criminal. Se analisarmosos crimes sob a ótica 
dos fenômenos exclusivamente sociais, teremos outro ramo de investigação, a sociologia criminal. 
Levando em conta o que já foi visto, passaremos a analisar os seguintes exemplos: 
1. Surgiu no Brasil uma nova teoria macrossociológica, com o estudo das influências políticas 
e ideológicas e a sua relação com o aumento da prática de certos crimes como porte ilegal 
de arma, agressão, tentativa de homicídio, dentre outros. 
2. Novos estudos estão investigando a existência de um gene denominado XVR no corpo de 
alguns homens; ele ampliaria a possibilidade da prática de crimes violentos e da construção 
de um transtorno psicopático. 
3. Após análises teóricas da criminologia, nasceu uma nova teoria para explicar o aumento da 
criminalidade em alguns países. De acordo com esta corrente, existe correlação entre o 
“perfil criminoso” traçado pela mídia e a imputação da característica de “inimigo do Estado” 
sobre certos grupos sociais. Por isso, estes grupos, colocados à margem da sociedade, sem 
oportunidades, passaram a cometer crimes com maior frequência. 
No primeiro caso, identifica-se o estudo sob a ótica da sociologia criminal. Esta afirmação decorre 
do fato do objeto de análise da nova teoria, na medida em que se debruçou sobre as influências 
políticas e ideológicas (aspectos sociais) para o aumento da criminalidade. 
No segundo caso, por sua vez, facilmente se identifica o estudo sob a ótica da antropologia criminal, 
haja vista que fatores biológicos, mais especificamente genéticos, estão sendo relacionados à 
prática de crimes e à construção de perfis psicopáticos. 
Contudo, esta teoria se afasta da concepção original criado por Lombroso, de que seriam fatores 
físicos (aparentes) que identificariam um potencial criminoso. As análises mais atuais da 
antropologia criminal, também denominada de biologia criminal, investigam outros fatores 
biológicos e a relação destes com o aumento da criminalidade. 
Por fim, analisando o terceiro exemplo, percebe-se claramente o estudo com enfoque na sociologia 
criminal. Investiga-se o perfil criminal a partir de um conflito existente entre o “quarto poder” social 
(a mídia) e alguns grupos sociais marginalizados. 
Por essa razão, percebe-se mais claramente que a sociologia criminal não analisa apenas os 
conflitos sociais existentes entre grupos sociais, mas também entre poderes, oficiais ou não, e a 
sociedade. Da mesma forma, este ramo da criminologia também analisa a existência das chamadas 
“teorias de consenso”, nas quais não há, necessariamente, a existência de conflitos sociais. 
 
Videoaula: Antropologia criminal e sociologia 
criminal 
Nesta videoaula, trataremos mais profundamente do conceito de antropologia criminal e de 
sociologia criminal, identificando os pontos comuns de origem e de “separação” destes dois 
ramos. Ademais, estabeleceremos as principais semelhanças e diferenças entre a 
antropologia criminal e a sociologia criminal, com enfoque em alguns exemplos práticos 
sobre esses ramos. 
Saiba mais 
 
A criminologia possui em seu seio dois grandes ramos de investigação empírica da criminalidade, 
a antropologia criminal e a sociologia criminal. Entender as principais diferenças e semelhanças 
entre esses ramos é indispensável. Os links a seguir auxiliarão a maior compreensão do tema: 
• O vídeo Pensar o Crime ou o Criminoso? possibilita o aprofundamento no tema 
antropologia criminal. 
• O vídeo Sociologia do Crime - Coringa (2019) possibilita o aprofundamento no tema 
sociologia criminal a partir da análise do filme Coringa. 
• O vídeo Introdução à sociologia criminal possibilita o aprofundamento no tema 
sociologia criminal. 
• 
• Introdução 
• 
• A história da criminologia, desde a sua concepção até o seu amadurecimento científico, é 
um dos principais pontos que devem ser abordados no estudo da sociologia criminal. Isto 
porque este ramo de investigação surgiu com o avanço científico da criminologia, mais 
especificamente com a utilização de métodos empíricos que investigam a relação entre as 
relações sociais e os fatores criminológicos, isto é, que circundam a prática criminal. 
• O estudo do surgimento e evolução da criminologia como ciência, bem como das escolas 
científicas da criminologia, é indispensável para conhecer o desenvolvimento da sociologia 
criminal e identificar suas principais características. 
• Vamos lá? 
• 
https://www.youtube.com/watch?v=HyIIJdPlbhs
https://www.youtube.com/watch?v=qxi2z2ffOdw
https://www.youtube.com/watch?v=3pnj4LTDmQI
• História da criminologia: noções gerais 
• 
• A história da criminologia, em especial as teorias criadas e desenvolvidas pelas escolas 
criminológicas, foi de suma importância para o surgimento da sociologia criminal, que nada 
mais é do que o ramo empírico de análise da criminologia, cujo objeto é a investigação das 
circunstâncias dos crimes com enfoque nas relações sociais. 
• Por esta razão, traçar um breve histórico da criminologia e, mais profundamente, entender 
o funcionamento e principais características das escolas criminológicas é indispensável para 
a compreensão da sociologia criminal. 
• Para que se chegasse à maturidade teórica da criminologia contemporânea, esta ciência 
passou por longa evolução, marcada por atritos teóricos irreconciliáveis, principalmente no 
período conhecido como “disputas de escolas” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 26). 
• No que tange à origem da ciência criminológica, parte da doutrina se inclina para afirmar que 
o fundador da criminologia moderna foi Cesare Lombroso, teórico que não se dizia, contudo, 
criminólogo, ao publicar, em 1876, de seu livro O homem delinquente (PENTEADO FILHO, 
2020, p. 26). 
• Para outros doutrinadores, só se pode falar em criminologia a partir do antropólogo Paul 
Topinard que, em 1879, empregou pela primeira vez a palavra “criminologia”, enquanto 
alguns defendem a tese de que foi Rafael Garófalo, em 1885, a usar o termo como nome de 
um livro científico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 26). 
• Independentemente do momento da formação da criminologia como ciência, desde os 
tempos da antiguidade se realizavam discussões sobre os crimes e criminosos, ou seja, 
antes do marco teórico para o início do estudo criminológico como ciência estruturada. 
• Exatamente por isso, é possível falar em criminologia pré-científica, ou seja, teorias que 
surgiram antes do advento das escolas criminológicas e do pensamento científico 
estruturado da criminologia. 
• A criminologia pré-científica pode ser dividida em algumas etapas: a) antiguidade; b) 
teólogos; c) filósofos e humanistas; d) penólogos; e) ocultismo; f) frenólogos; g) psiquiatras; 
e h) médicos e cientistas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). 
• Destaque-se que, dentro da fase do ocultismo, ainda é possível reconhecer diferentes 
teorias: 
• a) astrologia, que consiste no estudo do destino do homem pelo zodíaco; 
• b) oftalmoscopia, que estudava o caráter do homem pelo tamanho dos olhos; 
• c) metoposcopia, com o exame do caráter pelas rugas do homem; 
• d) quiromancia, que tentava examinar o passado e futuro pelas linhas das mãos; 
• e) fisiognomonia, ou seja, o estudo do caráter das pessoas pelos traços da fisionomia; e 
• f) demonologia, que investigava as pessoas “possuídas pelo demônio” e que apresentavam 
em sua face a “marca do mal” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). 
• A fase pré-científica pode ser reconhecida por dois enfoques muito evidentes. Em primeiro 
plano, os clássicos, influenciados pelo Iluminismo, com seus métodos dedutivos e lógico-
formais, e, de outro lado, os empíricos, que investigavam a origem delitiva por meio de 
técnicas fracionadas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 30). 
• Esses dois grandes ramos culminaram nos chamados clássicos e positivistas, que, seja na 
fase pré-científica, ou com o desenvolvimento das escolas científicas, deram origem ao que 
se entendeu por “luta de escolas” ou “disputas de escolas”(PENTEADO FILHO, 2020, p. 
30). 
• A sociologia criminal surge com o desenvolvimento da criminologia como ciência, em 
especial com o avanço da utilização de métodos empíricos para o estudo dos fatores 
criminológicos e suas relações com os aspectos sociais. 
• História da criminologia: interpretação e 
aprofundamento 
• 
• Nos moldes do que foi discutido anteriormente, foi a partir do surgimento e desenvolvimento 
das escolas criminológicas que se deu o início do caráter científico da criminologia e a sua 
consequente estruturação como ciência. 
• Primeiramente, a escola clássica ou criminologia clássica foi a grande responsável por 
estabelecer uma sistematização sobre a problemática do crime, elegendo-o como o seu 
objeto de estudo, o que lhe permitiu ser chamada de ciência autônoma (GONZAGA, 2018, 
p. 47). 
• É relevante destacar que não existiu uma escola clássica propriamente dita, ao passo que 
ela foi denominada assim pelos positivistas, principalmente Ferri, em tom pejorativo 
(PENTEADO FILHO, 2020, p. 31). 
• A fase clássica partiu de duas teorias distintas: a) o jusnaturalismo, resultado da natureza 
eterna e imutável do ser humano; e b) o contratualismo, no qual o Estado surge a partir de 
um grande pacto entre os homens, estes que cedem parcela de sua liberdade e direitos em 
prol da segurança coletiva (PENTEADO FILHO, 2020, p. 31 e 32). 
• Assim, os fatores do crime eram estudados sob estas duas visões, o jusnaturalismo e o 
contratualismo, investigando como estas características poderiam afetar a prática criminal. 
• Os princípios fundamentais da Escola Clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo 
considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser 
embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do 
delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo (PENTEADO FILHO, 
2020, p. 32). 
• A escola positiva, por sua vez, possuiu três fases: 
• a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; 
• b) a sociológica, com Ferri como principal teórico; e 
• c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 2020, p. 33). 
• A aclamação e consolidação da escola positiva ocorreu no final do século XIX, com a 
atuação destacada de Lombroso, Ferri e Garófalo, considerados como principais expoentes 
da escola positiva italiana (PENTEADO FILHO, 2020, p. 35). 
• Enrico Ferri, que foi genro e discípulo de Lombroso (considerado por muitos o pai da 
criminologia), foi o criador da chamada sociologia criminal (PENTEADO FILHO, 2020, p. 37). 
Ferri considerava que a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e 
culturais (PENTEADO FILHO, 2020, p. 37). 
• Como forma de sistematizar o estudo, em síntese, é possível afirmar que os principais 
postulados da escola positiva são: a) o direito penal é obra humana; b) a responsabilidade 
social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno natural e social; d) a 
pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-experimental; e f) os 
objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo 
(PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). 
• Destaque-se que, para muitos doutrinadores, existe a chamada escola científica, que foi um 
desdobramento da escola positiva, a partir de um aprofundamento dos métodos científicos 
já utilizados na escola positiva. Contudo, este posicionamento a respeito da existência e 
consolidação de uma escola científica não possui grande força no seio da doutrina 
criminológica. 
• Por fim, a criminologia crítica, também denominada como “marxista”, “nova criminologia” e 
até como “criminologia radical”, aborda os fatores do crime como criminalização, que se 
explicaria por processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de 
alguns grupos criminalizados. 
 
História da criminologia: aplicação prática 
 
Conforme já estudado, a “luta de escolas” ou “disputas de escolas” surgiram dos embates 
teóricos existentes principalmente entre os clássicos e positivistas, em especial na fase das 
escolas criminológicas. 
As escolas da criminologia são o grande marco da construção da criminologia como ciência, esta 
que agora possui objeto fixo de estudo e método bem definido de investigações e análises. A 
partir deste desenvolvimento foi possível que ocorresse o amadurecimento do pensamento 
criminológico. 
Quando se fala em história da criminologia, é possível reconhecer uma fase pré-científica, que 
possuiu inúmeros desdobramentos, e uma fase científica, com o surgimento e desenvolvimento 
das escolas. 
Diante do exposto, devemos pensar nos seguintes exemplos: 
1. Surgiu no Brasil uma nova teoria da criminologia, segundo a qual, por meio do raciocínio 
lógico e do uso da dedução, foi estabelecida a premissa de que o ser humano é um 
delinquente nato, e que, a depender do estado de necessidade e da situação social, o 
crime ocorrerá inevitavelmente. 
2. Nos Estados Unidos da América, surgiu uma teoria criminológica, por meio da qual, a partir 
da análise de dados estatísticos, investigação de campo e análise social, foi possível 
estabelecer um liame entre o estado de necessidade na situação social com a prática 
recorrente de crimes. 
3. Reconheceu-se, no Japão, a existência de um novo vírus que ataca o sistema nervoso 
central do ser humano. Um dos sintomas da infecção pelo novo vírus reconhecido é o 
aumento da agressividade. Os criminológicos estão se debruçando sobre o estudo da 
relação entre esta nova doença e a maior prática de crimes. 
No primeiro exemplo, apesar de existir uma relação de estudo entre o estado de necessidade e a 
situação social com a prática de crimes, não é possível enquadrar o estudo no âmbito da 
sociologia criminal. Isso se explica em razão de o método sociológico possuir um 
caráter empírico, na medida em que surgiu com a escola positiva, cuja maior característica é o 
uso do método empírico para a análise dos fatores criminais. 
No exemplo, a teoria que surgiu no Brasil utiliza o método e raciocínio lógico-dedutivo, 
estabelecendo uma relação dedutiva entre o estado natural do homem (jusnaturalismo) e os 
fatores de cometimento do crime. 
O segundo exemplo, por sua vez, apresenta a teoria na qual se analisam dados estatísticos, se 
realiza investigação de campo e análise social. Ele pode ser enquadrado, dessa forma, no campo 
da escola positiva, mais especificamente na sociologia criminal. 
Por fim, o terceiro caso aborda o estudo de fatores biológicos externos que podem afetar o 
cometimento de crimes, isto é, um novo vírus reconhecido. Esta teoria se afasta um pouco da 
antropologia criminal pensada originalmente pela escola positiva, apesar de existir evidente 
estudo biológico do tema. 
Dessa forma, é mais prudente enquadrar o exemplo na escola científica, que consiste em um 
desdobramento natural (pelo aprofundamento) do estudo biológico da escola positiva. 
 
Videoaula: Evolução histórica da 
criminologia 
Nesta videoaula, trataremos, com profundidade, da evolução histórica da criminologia e de 
todos os seus impactos para o surgimento e desenvolvimento da sociologia criminal. 
Ademais, estudaremos as principais escolas do pensamento criminológico: a escola clássica 
e a escola positiva. Por fim, apresentaremos as principais características da escola científica 
e da escola crítica. 
 
Saiba mais 
 
A história do surgimento e amadurecimento da criminologia como ciência é indispensável para a 
construção da sociologia criminal. Os links a seguir auxiliarão a maior compreensão do tema: 
• O vídeo Surgimento da criminologia (Série Criminologia – EP 01) possibilita o 
aprofundamento no tema surgimento da criminologia. 
• O vídeo escolas Criminológicas – Introdução à Criminologia possibilita o 
aprofundamento no tema escolas criminológicas. 
https://www.youtube.com/watch?v=pRIfTgGf8Jw
https://www.youtube.com/watch?v=B2Lr-kWrtEo• O vídeo Escolas positivistas de criminologia: Lombroso, Ferri e Garófalo (Série 
criminologia – EP 04) possibilita o aprofundamento no tema escola positiva. 
• 
• Introdução 
• 
• Compreender a origem e o desenvolvimento da sociologia criminal é indispensável para o 
melhor entendimento sobre o tema, haja vista que, a partir desta análise, é possível 
reconhecer as raízes deste campo de investigação. 
• Antes do marco doutrinário inicial desta forma de analisar o crime, já existiam teorias 
sociológicas para explicá-lo; por exemplo: as de Émile Durkheim, Karl Marx e Paulo Egídio. 
• O estudo destas correntes de pensamento é indispensável para conhecer o surgimento e 
evolução da sociologia criminal e identificar suas principais características. 
• Vamos lá? 
• 
• História da sociologia criminal: noções 
gerais 
https://www.youtube.com/watch?v=GeTHXw6rM-E
https://www.youtube.com/watch?v=GeTHXw6rM-E
• 
• Antes da doutrina de Ferri, que deu início à sociologia criminal da forma como conhecemos 
hoje, com a aplicação de métodos de estudos empíricos, já existiam teorias sociológicas 
para explicar o crime. 
• Conhecer o marco inicial da sociologia criminal e como se deu o seu desenvolvimento é de 
suma importância para a ampla compreensão do tema. A seguir, passaremos a delimitar o 
início da sociologia criminal e o que os autores clássicos teorizavam sobre o tema. 
• Dito isso, inicialmente, é importante estabelecer o marco zero para a sociologia criminal 
como campo de estudos estruturado. A escola positiva da criminologia possuiu três fases: 
a) a antropológica, com Lombroso como principal teórico; b) a sociológica, com Ferri como 
principal teórico; e c) a jurídica, com Garófalo como principal teórico (PENTEADO FILHO, 
2020, p. 33). 
• Enrico Ferri, que foi genro e discípulo de Lombroso, pode ser considerado o “pai” da 
sociologia criminal (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38), na medida em que foi ele o primeiro 
a estabelecer os passos para o pensamento do referido campo de análise. Para ele, a 
criminalidade se derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais; não seria 
possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade (PENTEADO FILHO, 2020, 
37 e 38). 
• Ele entendeu que a responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade 
social e que a razão de punir é a defesa social (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). Por 
meio dos seus estudos, foi possível classificar os criminosos em: a) natos; b) loucos; c) 
habituais; d) de ocasião; e e) por paixão (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). 
• Contudo, antes do marco inicial para a sociologia criminal bem estruturada com métodos 
científicos para investigação, já existiam teóricos da sociologia que tentavam explicar a 
origem e os aspectos do crime. 
• Os primeiros sociólogos, conhecidos como clássicos da sociologia, em especial Marx, 
Durkheim e Weber, desenvolveram os principais fundamentos das teorias sociológicas do 
crime e da justiça (MACHADO, 2008, p. 96). 
• Os dois primeiros autores, Marx e Durkheim, se debruçaram sobre o fenômeno criminal 
propriamente dito, enquanto Max Weber focou a sua atenção na moderna burocracia das 
sociedades industriais, lançando as bases da atual sociologia do direito e da administração 
da justiça (MACHADO, 2008, p. 96). 
• Émile Durkheim tratou do crime de modo sistemático, estabelecendo que ele é normal em 
qualquer sociedade, e defendendo que “não há fenómeno que apresente de maneira mais 
irrefutável todos os sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado 
às condições de qualquer vida colectiva” (MACHADO, 2008, p. 104). 
• Durkheim foi um doutrinador importante para a sociologia, para o direito e para a 
criminologia, apresentando o impacto das forças sociais na conduta humana, 
nomeadamente na ocorrência do crime, o que foi bastante revolucionário para a sua época. 
 
História da sociologia criminal: interpretação 
e aprofundamento 
 
Dentre os clássicos da sociologia, sem dúvida, Karl Marx é um dos mais importantes, tanto para a 
sociologia clássica, quanto para a abordagem sociológica do crime. Por esta razão, traçaremos o 
cerne principal do estudo de Marx. 
O autor se delimita a explicar a ocorrência do crime na sociedade capitalista, defendendo que 
haverá a redução sistemática do crime ou, mesmo, o seu desaparecimento depois de instaurado o 
socialismo com a subsequente redução ou eliminação da desigualdade na distribuição da riqueza 
e consolidação da estabilidade econômica (MACHADO, 2008, p. 99). 
A partir da análise de Marx, que já apresentava um teor sociológico, mas não empírico, para explicar 
a ocorrência do crime, outros doutrinadores passaram a defender conceitos semelhantes para 
investigar as circunstâncias do crime. Durkheim é um dos nomes mais importantes destes “novos” 
doutrinadores. 
A abordagem de Durkheim se fundamenta no conceito de anomia. Este termo, em sua etimologia, 
significa a “ausência de normas” e a inexistência de referência a regras práticas de vida em 
sociedade (MACHADO, 2008, p. 104). 
A teoria da anomia, pensada por Émile Durkheim, aponta as tensões socialmente estruturadas que 
induzem à ocorrência do crime e à consequente adopção de soluções desviantes, procurando, 
assim, descobrir de que modo o sistema social produz o crime como resultado normal do seu 
próprio funcionamento (MACHADO, 2008, p. 104). 
O conceito de anomia assume grande importância na linha das teorias sociológicas funcionalistas, 
mais especificamente no trabalho de Robert Merton e de Talcott Parsons (MACHADO, 2008, p. 
104). No Brasil, a teoria de Durkheim encontra forte relação com os estudos do doutrinador Paulo 
Egídio. 
Paulo Egídio foi considerado pelos doutrinadores da sua época como um dos mais importantes 
pensadores da época, se firmando como estudioso da “sociologia”, termo que, na sua concepção, 
englobava desde autores que hoje reconhecemos como “clássicos” dessa área do conhecimento 
até autores que atualmente não são considerados como parte da história da disciplina (SALLA; 
ALVAREZ, 2000, p. 102 e 103). 
Diferentemente do que a maior parte dos autores faziam na época de Paulo Egídio, isto é, se 
dedicavam a divulgar as ideias de crime de Lombroso (para muitos o pai da criminologia), o 
doutrinador brasileiro se firmou ao analisar Émile Durkheim, que na época era pouco visitado pelos 
estudiosos brasileiros (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103). 
Paulo Egídio se preocupou com um dos principais pontos de discussão de Durkheim: o problema 
do caráter normal ou patológico do crime (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103). Para tanto, Egídio 
centrou as suas pesquisas em três etapas (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103 e 104): 
1. Estudar a teoria do método objetivo em Durkheim e como ele o aplica ao conceito de crime. 
2. Retificar os argumentos do sociólogo francês, ao criticar as conclusões a que este chegou 
sobre o caráter normal do crime. 
3. Discutir se a relação entre o progresso e o aumento da criminalidade, também defendida por 
Durkheim, pode ser confirmada pela análise de dados estatísticos referentes a diversos 
países, incluído o Brasil. 
Apesar da sua evidente relevância para a construção da sociologia criminal brasileira, Paulo Egídio 
foi por muitos “esquecido”, na medida em que, apesar das suas contribuições, muitas vezes ele é 
sequer citado. 
 
História da sociologia criminal: aplicação 
prática 
 
Conforme já abordado, para Ferri, a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e 
culturais, não sendo possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade. As suas 
teorias se afastam dos “clássicos” da sociologia que analisaram o crime, na medida em que os seus 
estudos se utilizaram o método empírico, diferentemente da abordagem da escola clássica, que 
lançava mão do método dedutivo. 
Nesse diapasão, na prática, percebe-se que, apesar de ser considerado um “clássico” que tratou 
da ideia docrime, já era possível estabelecer em Paulo Egídio as características do estudo da 
escola positiva. 
Como dito, Paulo Egídio, na última etapa das suas pesquisas sobre os fatores do crime, se 
preocupou em discutir se a relação entre o progresso e o aumento da criminalidade, também 
defendida por Durkheim, pode ser confirmada pela análise de dados estatísticos referentes a 
diversos países, incluído o Brasil (SALLA; ALVAREZ, 2000, p. 103 e 104). 
Importa, dessa forma, relembrar as características da escola positiva da criminologia: a) o direito 
penal é obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é 
um fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método 
indutivo-experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena 
e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). 
Paulo Egídio, para confrontar a teoria de Durkheim, aplicou em seus estudos os diversos métodos 
da escola positiva, inclusive o método indutivo-experimental, ao tentar confirmar a tese de Émile 
Durkheim pela análise de dados estatísticos referentes a diversos países, incluído o Brasil. 
Para aprofundar os conhecimentos, imagine os seguintes exemplos: 
1. Na sociedade fictícia do país Relher, chegou-se a um governo totalmente anárquico, com a 
derrubada de todas as regras impostas e, consequentemente, de todas as leis estabelecidas 
no país. Por isso, se percebeu uma manutenção dos índices criminais, mesmo com a 
ausência total de normas. 
2. A sociedade fictícia do país Relher está em constante progresso, em razão do aumento do 
produto interno bruto do Estado. Contudo, percebeu-se um aumento também nos índices 
criminais. 
3. Na sociedade fictícia do país Relher, o maior partido socialista chegou ao poder, 
estabelecendo um governo totalmente voltado para os valores da igualdade da melhor 
doutrina socialista. Percebeu-se, depois deste fato, uma redução dos índices criminais. 
Ao ver o primeiro exemplo sob a ótica da tese de Émile Durkheim, percebe-se que o crime cumpre 
uma função social, ou seja, são praticados normalmente em uma sociedade, independentemente 
da existência ou total ausência de normas. 
Da mesma forma, considerando o segundo exemplo e analisando-o sob a ótica de Durkheim, o 
progresso de uma sociedade resulta no inevitável aumento da criminalidade, o que explicaria a 
ocorrência. 
Por fim, o exemplo três pode ser explicado pela tese sobre o crime de Karl Marx, ao defender que 
haverá redução sistemática do crime ou, mesmo, o seu desaparecimento depois de instaurado o 
socialismo com a subsequente redução ou eliminação da desigualdade na distribuição da riqueza 
e a consolidação da estabilidade económica. 
 
Videoaula: Concepções sobre o crime dos 
clássicos da sociologia 
Nesta videoaula, abordaremos as concepções sobre o crime dos clássicos da sociologia, 
dentre os quais pode-se citar Karl Marx. Além disso, vamos nos aprofundar na sociologia 
criminal em Émile Durkheim, com ênfase no conceito de anomia. Por fim, trataremos da 
doutrina de Paulo Egídio e a sociologia criminal em São Paulo. 
 
Saiba mais 
 
Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de 
conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: 
• O artigo Paulo Egídio e a sociologia criminal em São Paulo possibilita o 
aprofundamento na doutrina de Paulo Egídio. 
• O artigo O crime e a pena no pensamento de Émile Durkheim possibilita o 
aprofundamento na doutrina de Émile Durkheim. 
• O artigo O Pensamento de Karl Marx e a Criminologia Crítica: Por uma Criminologia 
do Século XXI possibilita o aprofundamento na doutrina de Karl Marx. 
• 
• Introdução 
• 
• A escola sociológica alemã teve como precursores Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von 
Hammel, criadores da União Internacional de Direito Penal, em 1888. Apesar da relevância 
https://nev.prp.usp.br/publicacao/paulo-egdio-e-a-sociologia-criminal-em-so-paulo/
http://www.revistaintellectus.com.br/artigos/14.150.pdf
https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista67/revista67_356.pdf
https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista67/revista67_356.pdf
de Prins e Hammel, é impossível retirar de Franz von Lizst o destaque na moderna escola 
alemã, ao passo que ele foi o responsável pelo surgimento dela e desenvolvimento dos seus 
principais postulados. 
• O estudo da escola sociológica alemã, de seus principais postulados e das contribuições de 
Franz von Lizst para a sociologia criminal é indispensável para conhecer o surgimento e 
evolução da sociologia criminal e identificar suas principais características. 
• Vamos lá? 
• Escola sociológica alemã: noções gerais 
• 
• Dentro das “novas” escolas da criminologia (isto é, as que sucederam a clássica e a 
positiva), merece realce a escola de política criminal, também denominada de moderna 
escola alemã e de escola sociológica alemã, que traçaram importantes avanços na 
doutrina da sociologia criminal. 
• A escola sociológica alemã tem como seus principais expoentes Franz von Lizst, Adolphe 
Prins e Von Hammel, que foram criadores, além de teorias extremamente relevantes para 
a sociologia criminal, da União Internacional de Direito Penal, em 1888 (PENTEADO 
FILHO, 2020, p. 39). 
• Contrariando as doutrinas vigentes, que exaltavam o purismo da ciência penal, 
corporificado no excessivo apego à razão abstrata, a escola sociológica alemã 
pronunciava-se a favor da investigação sociológica e do uso dos seus conhecimentos para 
o enfrentamento da criminalidade (VIANA, 2018, p. 98). 
• Diferentemente da doutrina de Ferri, que evidentemente serviu como base para os estudos 
desta nova escola, na medida em que teorizava a criminalidade como derivada de 
fenômenos antropológicos, físicos e culturais e não considerava o livre-arbítrio como base 
da imputabilidade (PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38), o foco maior da escola sociológica 
alemã foi a busca do enfrentamento desta criminalidade, não apenas de sua explicação. 
• A moderna escola alemã nega a determinação do positivismo italiano, bem como 
desenvolve um olhar sociológico do delito, ao mesmo tempo em que mantém o seu estudo 
dogmático (VIANA, 2018, p. 98). 
• Em um primeiro momento, é possível reconhecer que a escola sociológica alemã conserva 
a diferença existente entre a imputabilidade e a inimputabilidade, bem como substitui o 
critério do livre arbítrio, pensado pelos clássicos da sociologia criminal, pelo critério da 
normalidade (VIANA, 2018, p. 98). 
• Ademais, a moderna escola alemã mantém a pena vinculada à culpabilidade; e, no 
contexto da medida de segurança, desenvolve a noção de periculosidade do agente, 
também denominada de estado perigoso (VIANA, 2018, p. 98). 
• Esta “nova” escola da sociologia criminal, em síntese, pode ser descrita pela sua postura 
eclética, como atitude de apartamento tanto da metafísica dos clássicos, quanto dos 
extremismos unilaterais do positivismo criminológico, especialmente de Lombroso, autor 
que se centrou mais na antropologia criminal (VIANA, 2018, p. 98 e 99). 
• O caráter sociológico do pensamento alemão se deve especialmente a Franz von Liszt, um 
dos maiores nomes da moderna escola alemã, cuja aula inaugural em Marburgo, 
denominada A ideia de fim do Direito Penal, ministrada em 1882 (e mais tarde chamada de 
Programa de Marburgo), também dá nome à escola (VIANA, 2018, p. 99). 
• Percebe-se claramente que, apesar de sua postura eclética, que toma como fonte os 
clássicos e os positivistas da antropologia criminal, a escola sociológica alemã é uma das 
importantes correntes da sociologia criminal moderna. 
• O caráter sociológico do pensamento de Franz von Liszt enquadrou a escola dentro da 
sociologia criminal, na medida em que tenta explicar o crime partindo de concepções 
sociológicas vigentes nas sociedades. 
Escola sociológicaalemã: interpretação e 
aprofundamento 
 
Conforme já mencionado, o doutrinador Franz von Liszt foi um dos grandes nomes da escola 
sociológica alemã, sendo possível afirmar que o caráter sociológico da escola se deve aos seus 
ensinamentos. 
A aula inaugural em Marburgo, denominada de A ideia de fim do Direito Penal, ministrada em 1882 
por Franz von Liszt (mais tarde, ela foi chamada de Programa de Marburgo), foi um divisor de águas 
para o surgimento e desenvolvimento da moderna escola alemã. 
Importando a “ideia de fim” de Rudolf von Ihering, outro grande nome do direito penal e da 
criminologia alemã, Franz von Liszt abre um novo e importante caminho para a ciência penal da 
Alemanha (VIANA, 2018, p. 99). 
O pensamento de Liszt se propagou por meio de importantes publicações e iniciativas, tais como a 
publicação do seu Tratado, em 1880; a fundação da Zeitschrift für die gesamte 
Strafrechtswissenschaft; e a criação da União Internacional de Direito Penal, que possuía o intuito, 
nos moldes do artigo 1º do seu estatuto, de ressaltar a necessidade de investigações sociológicas 
e antropológicas, com o aprofundamento na investigação científica do crime, suas causas e meios 
para combatê-lo (VIANA, 2018, p. 99). 
Foi na doutrina de Liszt que ocorreram os primeiros passos da escola sociológica alemã como 
corrente de pensamento, sendo possível traçar, como marco inicial, a publicação da sua primeira 
obra com caráter sociológico criminal. 
Apesar de ser influenciado pela doutrina sociológica de Ferri, Liszt não admite a possibilidade de 
um tipo de delinquente, como pretendido por Lombroso e aceito por Ferri (VIANA, 2018, p. 100). 
Na escola sociológica alemã, mais especificamente na doutrina de Liszt, ocorre a elevação do fator 
social ao patamar de causa determinante da criminalidade, ao passo que, segundo ele, a sociedade 
não só desenvolve como produz a criminalidade (VIANA, 2018, p. 100). 
Portanto, como outros autores do positivismo criminal, a preocupação maior da escola sociológica 
alemã é a explicação da origem do crime e os fatores que levam um agente a transgredir. 
Liszt classifica os crimes em: 
1. Delitos de ocasião: nos quais o agente se submete a impulsos exteriores que dão causa 
ao crime, sendo arrebatado por uma excitação repentina e apaixonada, ou sob a influência 
de uma opressiva necessidade. 
2. Delitos crônicos ou por natureza: nos quais o agente é predisposto à delinquência, ao 
passo que comete crimes de ocasião externa fútil (VIANA, 2018, p. 100). 
Com o intuito de sistematizar o aprendizado, urge destacar os principais postulados da escola 
sociológica alemã: 
1. O método indutivo-experimental para a criminologia. 
2. A distinção entre imputáveis e inimputáveis, com a aplicação de pena para os imputáveis e 
medida de segurança para os inimputáveis, considerado por eles como “perigosos”. 
3. O crime como fenômeno humano-social e como fato jurídico. 
4. A função finalística da pena, como prevenção especial. 
5. A eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração 
(PENTEADO FILHO, 2020, p. 39). 
Percebe-se que, apesar de se afastar das obras de Lombroso e também da concepção original de 
Ferri, desenvolvendo a sua teoria, a escola sociológica alemã possui grande importância para a 
sociologia criminal, sendo indispensável o seu estudo. 
Escola sociológica alemã: aplicação prática 
 
Em primeiro plano, importa destacar que existem diferenças consideráveis entre a escola positivista 
e a escola sociológica alemã, sendo esta última considerada um desdobramento daquela, com 
ênfase na sociologia criminal. 
Nesse diapasão, urge relembrar os principais postulados da escola positiva: a) o direito penal é 
obra humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um 
fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-
experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o 
processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). 
Percebe-se a existência de grandes semelhanças entre a escola positiva e a escola sociológica 
alemã; por exemplo: o uso do método indutivo-experimental, que revolucionou a criminologia como 
um todo. 
Contudo, por ser um desdobramento da escola positiva, apesar da existência de semelhanças entre 
as duas, reconhecem-se importantes contribuições particulares da moderna escola alemã; por 
exemplo: a distinção entre imputáveis e inimputáveis, com a aplicação de pena para primeiros e 
medida de segurança para os segundos, considerados por eles como “perigosos”. 
Ademais, nos moldes do que já foi destacado, Franz von Liszt, o maior doutrinador da escola 
sociológica alemã, classifica os crimes em: a) delitos de ocasião, nos quais o agente se submete 
a impulsos exteriores que dão causa ao crime; e b) delitos crônicos ou por natureza, nos quais 
o agente é predisposto à delinquência. 
Nesse contexto, analisaremos os seguintes exemplos: 
1. Pedro, maior de idade e capaz, submetido a um forte estresse emocional, entrou em uma 
briga de trânsito com José. Ocorre que Pedro atacou ferozmente José, levando-o ao hospital 
e, posteriormente, ao óbito. 
2. Cláudio, psicopata já diagnosticado, praticou o crime de homicídio com extrema crueldade. 
Não satisfeito, ele passou a matar outras pessoas adotando o mesmo padrão, chegando ao 
total de quinze mortes. 
3. Protásio, maior e capaz, se envolveu com o crime desde a adolescência, praticando roubos 
sequencialmente e com grande crueldade. 
No primeiro caso, percebe-se a prática de um delito de ocasião, haja vista que, submetido 
principalmente a impulsos exteriores, Pedro praticou um crime, razão pela qual não é possível 
imputar-lhe a prática de delitos crônicos, também porque não há a predisposição à delinquência. 
No segundo exemplo, é possível reconhecer facilmente a prática de delitos por natureza, na medida 
em que o psicopata é um agente predisposto à violência, não sendo possível, no sistema jurídico 
brasileiro, considerá-lo inimputável. 
Por fim, no terceiro exemplo, se considerarmos apenas o enquadramento da moderna escola 
alemã, é clara a classificação dos crimes de Protásio como delitos crônicos. Não existe nenhum 
impulso externo constante capaz de possibilitar a prática recorrente dos crimes. Na atualidade da 
sociologia criminal, é possível lançar mão de outras teorias sociológicas para explicar os crimes de 
Protásio, contudo, este não é o objeto desta aula. 
 
Videoaula: Origem e desenvolvimento da 
escola sociológica alemã 
Nesta videoaula, aprofundaremos nosso estudo da origem e do desenvolvimento da escola 
sociológica alemã, em especial da doutrina de Franz von Liszt, considerado o mais 
importante estudioso desta escola criminológica. Além disso, abordaremos os principais 
postulados da escola sociológica alemã, comparando-os com os da escola positiva. Nesse 
contexto, entenderemos quais são as teorias para a origem do crime e da formação do 
agente. 
Saiba mais 
 
Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de 
conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: 
• O artigo Lições de Franz Von Liszt possibilita o aprofundamento na doutrina desse 
estudioso. 
• O artigo Ensinar criminologia: entre von Liszt e Baratta possibilita uma comparação entre 
esses dois teóricos. 
https://canalcienciascriminais.com.br/licoes-de-franz-von-liszt/
https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/download/6818/5123
• O artigo Franz von Liszt e a Política Criminal possibilita o aprofundamento na política 
criminal alemã. 
• 
• A origem da sociologia criminal 
• 
• Quando se fala em origem da criminologia e no seu desenvolvimento, muitos confundem a 
concepção da antropologia criminal e a da sociologia criminal. Alguns autores emblemáticos 
da antropologia criminal, e da criminologia como um todo (porexemplo, Lombroso), 
estabeleceram concepções e estudos nestas duas áreas. 
• A antropologia criminal, campo de análise da criminologia que surgiu na escola positiva, 
estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos. Na 
concepção original de Lombroso, esta análise poderia ser feita com base na investigação 
fenotípica das pessoas. 
• A sociologia criminal, por sua vez, é o campo de análise da criminologia que também surgiu 
na escola positiva e investiga os crimes sob a ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, 
com o uso de métodos empíricos. 
• A criminologia pré-científica pode ser dividida em algumas etapas: a) antiguidade; b) 
teólogos; c) filósofos e humanistas; d) penólogos; e) ocultismo; f) frenólogos; g) psiquiatras; 
e h) médicos e cientistas (PENTEADO FILHO, 2020, p. 29 e 30). 
• Os princípios fundamentais da escola clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo 
considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser 
https://sites.usp.br/cienciascriminais/franz-von-liszt-e-a-politica-criminal/
embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do 
delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo (PENTEADO FILHO, 
2020, p. 32). 
• A escola positiva, por sua vez, possui como principais postulados: a) o direito penal é obra 
humana; b) a responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um 
fenômeno natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método 
indutivo-experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a 
pena e o processo (PENTEADO FILHO, 2020, p. 38). 
• A escola científica, desconsiderada por muitos doutrinadores, pode ser tratada como um 
desdobramento da escola positiva, a partir de um aprofundamento os métodos científicos já 
utilizados nela. 
• A criminologia crítica aborda os fatores do crime como criminalização, que se explicaria por 
processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de alguns grupos 
criminalizados. 
• Outro grande doutrinador da sociologia que contribuiu para a construção da criminologia foi 
Émile Durkheim. A sua obra foi centrada na ideia de anomia, defendendo quanto ao crime, 
dentre outras coisas, que “não há fenómeno que apresente de maneira mais irrefutável todos 
os sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado às condições de 
qualquer vida colectiva” (MACHADO, 2008, p. 104). 
• Paulo Egídio, muitas vezes sequer citado pelos doutrinadores da criminologia, foi um 
importante estudioso brasileiro na área, sendo o responsável por fortalecer a sociologia 
criminal em São Paulo. Ele foi indispensável por, de forma quase inédita no Brasil, 
apresentar críticas à obra de Émile Durkheim. 
• Por fim, a escola sociológica alemã foi uma importante escola da criminologia, elevando o 
pensamento da escola positiva e sendo um desdobramento desta, mais especificamente da 
sociologia criminal. 
• 
• Videoaula: Revisão da unidade 
• Nesta videoaula, revisaremos a história da sociologia criminal, estabelecendo as 
principais diferenças e as origens deste campo de análise da criminologia e a 
antropologia criminal. Estudaremos mais sobre as escolas da criminologia, em 
especial a escola clássica, a escola positiva e a escola sociológica alemã, também 
denominada de moderna escola alemã. 
• 
• Estudo de caso 
• 
• Imagine que você é professor universitário e ministra a aula de criminologia na universidade 
em que trabalha. Um dos alunos da sua turma o procurou para sanar algumas dúvidas. 
• Segundo ele, é impossível saber “decorar” e diferenciar tantas escolas da criminologia, razão 
pela qual não estava conseguindo aprender a matéria. Ao procurar o conteúdo no livro, o 
aluno se deparou com extensa teoria sobre o assunto, mas não a entendeu muito bem. 
• Por isso, ele o procurou para saber as principais diferenças entre a escola positiva e a escola 
clássica, que, segundo ele, são as mais importantes da criminologia. 
• Além disso, ele perguntou se a sociologia criminal é a mesma coisa que a escola sociológica 
alemã. 
• _______ 
• Reflita 
• Frente ao exposto, você, enquanto professor universitário, precisa responder: quais são as 
principais características da escola clássica? Quais são as principais características da 
escola positiva? Quais são as diferenças entre estas escolas? A sociologia criminal é a 
mesma coisa que a escola sociológica alemã? 
• 
• Videoaula: Resolução do estudo de caso 
• Na situação em tela, você é professor universitário e ministra a aula de criminologia na 
universidade em que trabalha. Um dos alunos da sua turma o procurou para sanar algumas 
dúvidas. 
• Em primeiro plano, importa destacar que não existiu uma escola clássica propriamente dita, 
ao passo que ela foi denominada assim pelos positivistas, principalmente por Ferri, pai da 
sociologia criminal, em tom pejorativo. 
• Os princípios fundamentais da escola clássica são: a) o crime é uma figura jurídica, sendo 
considerado não uma ação, mas sim uma infração; b) a punibilidade do agente deve ser 
embasada no livre-arbítrio; c) a pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do 
delinquente; e d) utilização do método e raciocínio lógico-dedutivo. 
• A escola positiva, por sua vez, foi marcada pela utilização de métodos científicos e empíricos 
para o estudo do crime. Assim, foi possível se afastar do uso do método e raciocínio lógico-
dedutivo, que era comumente utilizado pela escola clássica. 
• A escola positiva possuiu três fases: a) a antropológica, com Lombroso como principal 
teórico; b) a sociológica, com Ferri como principal teórico; e c) a jurídica, com Garófalo como 
principal teórico. Foi com Ferri que se deu a origem da sociologia criminal, na medida em 
que se passou a lançar mão do método empírico para estudar os fatores sociais ligados à 
criminalidade. 
• Assim, é impossível falar que a sociologia criminal é o mesmo que a escola sociológica 
alemã. 
• Os principais postulados da escola positiva são: a) o direito penal é obra humana; b) a 
responsabilidade social é resultado do determinismo social; c) o delito é um fenômeno 
natural e social; d) a pena é um instrumento de defesa social; e) uso do método indutivo-
experimental; e f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e 
o processo. 
• Por fim, a escola sociológica alemã pronunciava-se a favor da investigação sociológica e do 
uso dos seus conhecimentos para o enfrentamento da criminalidade. Contudo, apesar de 
utilizar a doutrina de Ferri como referência, a moderna escola alemã elevou o estudo da 
investigação social da criminalidade, sendo considerada um desdobramento da escola 
positiva no contexto da sociologia criminal. 
• Resumo Visual 
• 
• 
• Entender a história da sociologia criminal é um divisor de águas para o estudioso da 
criminologia. As características desse campo de análise da criminologia surgiram, em grande 
parte, com a evolução e maturação histórica do estudo do crime. A figura a seguir visa a 
resumir os principais aspectos da história da sociologia criminal vistos nesta Unidade. 
• 
• A antropologia criminal, campo de análise da criminologia, que surgiu na escola positiva, 
estuda o crime com base na personalidade do delinquente ou dos fatores biológicos. 
• 
• A sociologia criminal é o campo de análise da criminologia que investiga os crimes sob a 
ótica dos fenômenos exclusivamente sociais, com o uso de métodos empíricos. 
• 
• A escola clássica usava, majoritariamente, o método lógico-indutivo para analisar o crime. 
• 
• A escola positiva, por sua vez, passou a usar o método indutivo-experimental para estudar 
o crime. 
• 
• A escola positiva possuiu três fases: a) a antropológica, com Lombroso como principal 
teórico; b) a sociológica, com Ferri como principalteórico; e c) a jurídica, com Garófalo como 
principal teórico. 
• 
Resumo visual do conteúdo estudado na Unidade 1. Fonte: elaborada pelo autor. 
• A escola sociológica alemã surge como um desdobramento da sociologia criminal da escola 
positiva, na medida em que elevou o estudo sobre as influências sociais na prática criminal. 
 
• UNIDADE 2 - Modelos sociológicos de consenso e conflito 
 
• Introdução 
 
A exclusão social, ou a simples desigualdade entre grupos, é um relevante fator social que 
explica parte da prática criminal. Esta exclusão gera como consequência o crime, ao passo que a 
falta de oportunidades para alguns grupos sociais resulta no cometimento de crimes. 
Da mesma forma, a prática de crimes também resulta, em razão do sistema punitivo vigente, em 
outro processo de marginalização de grupos sociais, o que também culmina no aumento da 
criminalidade. 
Estudar como esse processo de estigmatização pode gerar o aumento da criminalidade e a 
formação dos grupos criminosos é indispensável para compreender, identificar e diferenciar os 
modelos sociológicos de consenso e os modelos sociológicos de conflito. 
Vamos lá? 
 
Noções gerais 
 
A sociologia criminal é, na atualidade, um dos principais campos de análise da criminologia, haja 
vista que, por meio dela, pode-se explicar e investigar as causas de um crime, bem como as suas 
circunstâncias. 
É cabível reconhecer na doutrina de Enrico Ferri o início da sociologia criminal (ainda que não do 
pensamento sociológico do crime), ao passo que, em seus estudos, foi possível a aplicação de 
métodos científicos (empíricos, por exemplo), na interpretação do crime sob a ótica social. 
Para Ferri, conforme já tratado, a criminalidade se derivava de fenômenos antropológicos, físicos 
e culturais, não sendo possível considerar o livre-arbítrio como base da imputabilidade 
(PENTEADO FILHO, 2020, 37 e 38). Ele entendeu que a responsabilidade moral deveria ser 
substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é a defesa social (PENTEADO 
FILHO, 2020, 37 e 38). 
O crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, causa da exclusão social de 
determinados grupos. Isto ocorre porque, nos moldes das atuais teorias do consenso e do conflito, 
ou seja, das teorias macrossociais, é possível reconhecer que a exclusão de grupos sociais gera o 
inevitável aumento da criminalidade. 
Da mesma forma, com o cometimento do crime, tratando sob a visão dos atuais sistemas punitivos, 
em especial o brasileiro, o indivíduo já excluído passa por um segundo processo de exclusão, 
principalmente quando consideramos as penas privativas de liberdade. 
Os transgressores, dessa forma, antes e depois da pena, passam a compor verdadeiras 
organizações sociais paralelas, identificadas comumente como “organizações criminais”. 
A autora Alba Zaluar, que publicou obras de extrema relevância entre os anos de 1983 e 1990, foi 
uma das primeiras doutrinadoras a pesquisar e defender a chamada “organização social do crime”, 
abordando as identidades dos tipos criminosos, as suas organizações, a entrada de mulheres e 
jovens nas atividades ilegais (sobretudo no tráfico de drogas), as mudanças na “subcultura 
criminosa” considerando as novas referências ao mundo do trabalho, etc. (SALLA; TEIXEIRA, 
2020, p. 153). 
Zaluar, em um importante balanço bibliográfico sobre crime e violência nas ciências sociais no 
Brasil, sem se referir de forma explícita ao tráfico de drogas, identificava este crime como expressão 
do crime organizado que assumia proporções em escala mundial, com estruturas complexas, e 
mobilizava grandes quantidades de dinheiro (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 153). 
A organização social dos grupos criminosos marginalizados gera a consequente formação de 
inúmeros outros grupos criminosos. Além disso, se considerarmos a “organização social central”, 
ou seja, a organização social oficial de um Estado, percebe-se claramente que há a exclusão e 
marginalização de grupos sociais que, inevitavelmente, passarão a cometer crimes. É impossível 
estudar a prática criminal e a existência das organizações sociais paralelas sem entender e 
investigar o crime sob a ótica das organizações sociais centrais dos Estados. 
 
Interpretação e aprofundamento 
 
Conforme já destacado, o crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, causa da 
exclusão social de determinados grupos. Se analisarmos friamente as sociedades vigentes, é 
possível depreender que o processo de exclusão e marginalização de determinados grupos gera 
como consequência a criminalidade. 
Da mesma forma, a penalização dos indivíduos que cometem crimes, nos sistemas penais 
vigentes, é uma forma de acentuar ainda mais a exclusão. Por esse motivo, é possível conceber 
que estes grupos excluídos passaram a integrar verdadeiras organizações sociais paralelas, 
também reconhecidas como organizações criminais. 
Na sociologia criminal brasileira, é preciso destacar que não houve uma preocupação em usar de 
forma precisa os conceitos como: organização criminosa, crime organizado, organização social do 
crime, crime negócio (SALLA; TEIXEIRA, 2020, p. 155). 
Essas expressões são, na prática, comumente utilizadas para se referir ao tráfico de drogas, 
sobretudo à parte dos grupos e atividades que operam no varejo desse comércio, 
e, consequentemente, reconfiguram as formas de vida e sociabilidades no espaço urbano (SALLA; 
TEIXEIRA, 2020, p. 155). Da mesma forma, também se percebe a realização e reconhecimento 
destas organizações sociais nos sistemas carcerários brasileiros. 
Contudo, mesmo diante da carência de investigações sob o prisma da formação da organização 
social, existem fortes teorias que tratam do processo de rotulação e estigmatização dos grupos 
sociais. 
Nesse contexto de rotulação e exclusão de determinados grupos, importa citar uma importante 
teoria macrossocial do consenso: a teoria do etiquetamento ou teoria da rotulação social. 
A teoria do labelling approach (“abordagem do etiquetamento”, em inglês), também conhecida 
como teoria do etiquetamento, uma das mais importantes teorias de conflito, surgiu nos anos 1960, 
nos Estados Unidos, tendo como principais expoentes Erving Goffman e Howard Becker 
(PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). 
Segundo essa teoria, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, não é inerente ao 
ser humano, mas sim a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade”, ou seja, 
ocorre uma estigmatização social (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). 
O criminoso, dessa forma, se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do 
rótulo que recebe, isto é, o indivíduo excluído e marginalizado vai, com maior facilidade, participar 
da prática criminal (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Por essa razão, o tema central desse enfoque 
é o processo de interação em que o indivíduo é chamado de criminoso (PENTEADO FILHO, 2020, 
p. 90). 
Destaque-se que, em razão do aumento dos processos informacionais e desenvolvimento do meio 
ambiente digital, temos na atualidade um novo processo de exclusão social, que culmina em um 
maior cometimento de crimes. 
A desigualdade tecnológica é, nos dias atuais, um forte vetor do aumento da criminalidade. Isto 
porque a habilidade tecnológica é uma ferramenta indispensável para o alcance de oportunidades 
de aquisição de renda. 
Por isso, o indivíduo sem essa habilidade está passando, cada vez mais, por um processo de 
exclusão social. Nesses casos, apesar de ser a ultima ratio, o ingresso na criminalidade é encarada 
por alguns indivíduos como a única fonte possível de sustento. 
 
Aplicação prática 
 
Nos moldes do que já foi estudado, o crime, na atualidade, é consequência e, ao mesmo tempo, 
causa da exclusão social de determinados grupos. As organizações sociais da criminalidade 
surgem como consequência deste processo de estigmatização individual, ao passo que, muitas 
vezes, a participação nestasorganizações é a única forma de aquisição de renda. 
Esta exclusão pode acontecer de inúmeras formas (como a digital e a tecnológica), sendo um forte 
vetor do aumento da desigualdade social e, consequentemente, da maior prática criminal. 
Nesse sentido, analisaremos os exemplos que seguem: 
1. Maria, mulher, capaz e mãe solteira, sem conseguir nenhum emprego, não possui renda 
para manter a sua vida e a da sua filha pequena. Por essa razão, procurou o grupo 
organizado para o tráfico de drogas da sua comunidade, com o intuito de conseguir 
“trabalho”. Foi então que Maria passou a praticar crimes. 
2. Na comunidade fictícia denominada Postus da Pátria, há grande miserabilidade. Isto ocorre, 
pois os poderes estatais, com o apoio de grande parte da população, “isolaram” grupos 
sociais já excluídos, como forma de “maquiar” a cidade e reduzir a criminalidade. Ocorre que 
estes grupos isolados da comunidade Postus passaram a cometer crimes de forma 
organizada em outras localidades. 
3. Fábio, programador, passou a praticar crimes on-line. Ocorre, que, após cometer um 
descuido, Fábio foi “pego em flagrante”, sendo preso logo depois. No sistema penitenciário, 
Fábio passou a integrar um grupo criminoso, com medo das ameaças que estava sofrendo 
de membros de outros grupos. 
No primeiro exemplo, fica claro o processo de marginalização de determinados indivíduos, que, por 
não conseguirem, de nenhuma forma, trabalho para se manterem, passam a participar ativamente 
da prática criminosa. 
Maria, por não conseguir se manter, em razão do processo de marginalização sofrido, que a repeliu 
do sistema social central, passou a integrar uma organização social paralela, isto é, uma 
organização criminosa. 
Da mesma forma, percebe-se que, nos moldes do segundo exemplo, a exclusão de grupos sociais 
pode causar um efeito drástico para a sociedade, isto é, o aumento da criminalidade. Estes grupos 
excluídos passam a compor ou formam organizações sociais paralelas, comumente denominadas 
de organizações criminais. 
Ademais, percebe-se facilmente a comprovação da chamada teoria do labelling approach, ou teoria 
do etiquetamento, na medida em que o grupo rotulado e marginalizado passou, em razão da falta 
de oportunidades, a cometer mais crimes. 
Por fim, percebe-se, no terceiro exemplo, outro processo de composição de uma organização social 
paralela (organização criminal). Fábio, que já cometia crimes, em razão da pena imposta pelo 
sistema jurídico-penal vigente, foi obrigado a participar de uma organização criminosa. 
No sistema penitenciário brasileiro, é possível reconhecer a existência de inúmeras organizações 
sociais paralelas, cada uma com estruturação própria, normas particulares e lideranças próprias. 
Videoaula: Crime, sistema punitivo vigente e 
organização social 
Nesta videoaula, trataremos mais da relação entre o crime, o sistema punitivo vigente e a 
organização social como principal causadora do aumento da prática criminal. Entenderemos 
como o processo de rotulação social, de estigmatização e de exclusão de alguns grupos sociais 
pode resultar no aumento da criminalidade. Por fim, estudaremos como a desigualdade social e 
tecnológica podem ser considerados fatores da criminalidade. 
Saiba mais 
 
Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de 
conhecimento. Os links a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: 
• O artigo O crime organizado entre a criminologia e a sociologia possibilita o 
aprofundamento no tema da formação dos grupos criminosos. 
• O artigo Controle social estatal e organização do crime em São Paulo possibilita o 
aprofundamento no tema da formação da organização criminal em São Paulo. 
• O artigo Teoria da rotulação: O aumento da criminalidade e a não ressocialização dos 
apenados à luz da teoria do Labelling Approach possibilita o aprofundamento no tema 
teoria da rotulação. 
https://www.scielo.br/j/ts/a/K7HHBqvBchTkKdwLVjybDwb/?lang=pt&format=pdf
https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7246
https://jus.com.br/artigos/82004/teoria-da-rotulacao-o-aumento-da-criminalidade-e-a-nao-ressocializacao-dos-apenados-a-luz-da-teoria-do-labelling-approach
https://jus.com.br/artigos/82004/teoria-da-rotulacao-o-aumento-da-criminalidade-e-a-nao-ressocializacao-dos-apenados-a-luz-da-teoria-do-labelling-approach
• Introdução 
• 
• A rotulação de determinados grupos como criminosos gera uma carga jurídica muito forte, 
na medida em que estes grupos etiquetados deixam de ter acesso à segurança jurídica em 
igualdade de condições com outros grupos. 
• O direito penal do inimigo surge nesse contexto, por pregar o “endurecimento” do sistema 
punitivo e por desconsiderar os direitos e garantias individuais no processo de criminalização 
do “inimigo” do Estado. 
• Estudar como esse processo de estigmatização pode gerar o aumento da criminalidade e a 
formação dos grupos criminosos, e como a mídia é um relevante vetor para a construção da 
estereotipação do criminoso, é indispensável para compreender, identificar e diferenciar os 
modelos sociológicos de consenso e os modelos sociológicos de conflito. 
• Vamos lá? 
 
Noções gerais 
 
As sociedades atuais sempre convergem para a construção de um inimigo estatal, que pode ser 
externo ou interno. A prática criminal resulta em uma construção de uma estereotipação do 
criminoso, para tentar “rotular” ou “etiquetar” determinados grupos como tal. 
Importa lembrar que a teoria do labelling approach, também conhecida como teoria do 
etiquetamento, define que a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, não é inerente 
ao ser humano, mas sim a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade”; ou seja, 
ocorre uma estigmatização social (PENTEADO FILHO, 2020, p. 90). Assim, um indivíduo ou grupo 
criminal estigmatizado passará a ter que cometer crimes. 
Nesse contexto, urge destacar o direito penal do inimigo, que, conforme a doutrina de Gunther 
Jakobs (considerado o seu criador), se preocupa com a preservação do Estado e propõe tratamento 
gravoso aos criminosos que violam bens jurídicos mais importantes, como a vida, a liberdade e a 
dignidade sexual (PENTEADO FILHO, 2020, p. 122). 
Contudo, da mesma forma que se prega um aumento da punibilidade de alguns grupos, o direito 
penal do inimigo gera como consequência a criação de um “padrão de criminoso” e a rotulação de 
determinados grupos como criminosos. 
Destaque-se que, com viés extremamente punitivo e sem observância das garantias processuais, 
o direito penal do inimigo almeja punir aquele que viola as expectativas sociais e põe em risco toda 
a coletividade (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122). Contudo, nem sempre esse “inimigo” criado é 
realmente a pessoa que comete crime ou, em situações de igualdade de condições sociais, 
cometeria crimes. 
No direito penal do inimigo, o “inimigo” é aquele que não respeita o Estado de Direito, praticando 
condutas criminosas que ameaçam todos os direitos sociais (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122). Esse 
inimigo, por desrespeitar as leis e a constituição social, não deve ser tratado de forma igual às 
“outras pessoas”, que não atingem os bens citados. 
Todavia, este processo de estigmatização extrema pode causar um efeito rebote. A marginalização 
de determinados grupos, com as consequentes rotulações dos seus indivíduos como “criminosos”, 
cria verdadeiros ordenamentos jurídicos paralelos e organizações sociais autônomas, 
reconhecidas por muitos como organizações criminosas. 
Essas organizações criminosas criam códigos e normas próprios, ou seja, sistemas jurídicos 
autônomos, paralelos ao vigente (o estatal). Isso resulta no aumento da criminalidade, ao passo 
que, no próprio seio da organização paralela criada, existe a prática constante de crimes violentos. 
É relevante realçar, por fim, que essa rotulação criminal se dá, principalmente, pela forte cultura de 
padronização social,sendo a população de classes menos abastadas preconcebidas como 
originárias do crime e da violência, ideia defendida por muitos no momento de propor ações para a 
redução da violência. 
 
Interpretação e aprofundamento 
 
Na sociedade brasileira, existe uma visão padronizada das características de um delinquente, 
mesmo que sem consciência ou sem um completo conhecimento sobre a criminalidade do país. 
Assim, pode-se falar de uma indução dessa ideia por alguém sem total entendimento sobre o 
assunto, o que gera um pensamento preconceituoso e sem fundamento. 
As características de um transgressor, para a sociedade brasileira dominante, se resumem a uma 
determinada classe, de uma determinada etnia, de uma determinada localidade e, principalmente, 
de um determinado gênero; em geral, o criminoso é estereotipado como homem, negro, morador 
de favela e pobre. 
Sobre isso, Darcy Ribeiro (1995) afirma que “apesar da associação da pobreza com a negritude, 
as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente 
contrastantes são os de natureza social” (RIBEIRO, 1995). Isso evidencia que, além dos tantos 
preconceitos sociais existentes, o prejulgamento social é um dos que mais segrega. 
Segundo Lemert, de uma pessoa estereotipada como transgressora só se espera a transgressão, 
reduzindo assim as chances de este indivíduo agir contra este rótulo e criando uma predisposição 
ao desvio, formado, muitas vezes, por carreiras criminosas (LEMERT, 1951). Segundo esse 
pensamento, a estereotipação criminal pode ser de grande prejuízo ao bom convívio social, pois 
forma uma parcela da sociedade propensa à transgressão. 
Segundo Budó (2008), junto ao sistema penal, os meios de comunicação de massa exercem um 
importante papel de controle social. De acordo com ela, existe uma relação entre o punitivismo 
penal e a espetacularização da mídia, fazendo com que as opiniões dos meios comunicativos sejam 
de extrema importância para o direito penal (BUDÓ, 2008). 
Ademais, pode-se falar que a mídia é forte influenciadora de pensamentos, razão pela qual deve 
existir grande responsabilidade por parte dos integrantes do “quarto poder”. Com isso, se as mídias 
sociais utilizarem conceitos infundados, podem se tornar grandes malfeitoras sociais, pois podem 
incutir na sua audiência ideologias tendenciosas, como a rotulação de certos indivíduos como 
criminosos. 
Nesse contexto, destaque-se que a realidade social surge da interação entre os membros de uma 
comunidade, sendo os atos desviantes só concebidos como errados se a sociedade assim 
entender. Desse modo, a população tende a julgar os atos transgressores, assim como rotular os 
indivíduos que praticam essas ações. 
Existe também o fato de que, mesmo com tantos meios repressores, o sistema penal não possui 
competência para agir contra todos os casos, dando preferência aos de indivíduos estereotipados. 
Com isso, gera-se um sistema carcerário com predominância de uma classe social específica 
(BUDÓ, 2008). 
A mídia, ao mesmo tempo que é forte influenciadora de pensamentos, é uma construção social, 
razão pela qual os valores dominantes, em geral, podem ser divulgados e incorporados por ela. 
Assim, se existe uma padronização da estereotipação (rotulação) do criminoso, a mídia incorpora 
esse padrão em seus canais de divulgação, o que aumenta ainda mais a concepção da existência 
de um grupo rotulado como criminoso e, consequentemente, o aumento da criminalidade. 
 
Aplicação prática 
 
Nos moldes do que já foi destacado, o direito penal do inimigo se preocupa com a preservação do 
Estado e propõe tratamento gravoso aos criminosos que violam bens jurídicos mais importantes, 
como a vida, liberdade, dignidade sexual. 
Contudo, esta mesma teoria cria uma “padronização” da figura do inimigo estatal, o que resulta em 
um processo de rotulação em massa, imputando a determinados grupos de indivíduos a “etiqueta” 
de criminosos. 
Para uma noção mais precisa da visão de Jakobs, criador do direito penal do inimigo, devemos 
imaginar o caso do terrorista que não respeita os direitos de outra nação e que mata, ou tenta 
matar, milhares de inocentes. 
Considerando a referida teoria, não há como aplicar as normas jurídico-penais vigentes de um 
Estado, ao passo que o “inimigo” deverá ser tratado de maneira mais dura, sem a consideração 
dos seus direitos e garantias fundamentais. 
Contudo, em alguns Estados, como no Brasil, por exemplo, o “inimigo” é estigmatizado de forma 
errada, o que causa um efeito rebote ao pretendido, ou seja, o aumento da criminalidade, em 
especial crimes com alto grau de crueldade. 
Os Estados Unidos da América, por exemplo, aplicam claramente a ideia de direito penal do inimigo 
para os terroristas que ameaçam diariamente a paz social dos seus cidadãos (GONZAGA, 2018, 
p. 121 e 122). 
Lá foi cunhado o chamado Ato Patriótico, que permite, dentre outras coisas, a interceptação de e-
mail e telefones sem nenhuma autorização judicial, bastando que haja indícios de que o indivíduo 
esteja conspirando para fazer algum ataque àquele país (GONZAGA, 2018, p. 121 e 122), em 
evidente desrespeito aos direitos fundamentais. 
Quando levamos em conta a realidade brasileira, percebe-se que há, extraoficialmente, a aplicação 
do direito penal do inimigo nos atos policiais e nos aclames de parte da sociedade vigente. 
O indivíduo estereotipado, rotulado ou etiquetado como criminoso, no Brasil, é majoritariamente o 
homem, negro, morador de favela e pobre. Assim, práticas policiais mais duras e abusivas 
comumente atingem esse padrão de indivíduo, mesmo que a pessoa nunca tenha cometido um 
crime. 
A criminalidade surge como consequência do processo de estigmatização destes grupos; esse 
processo conta, muitas vezes, com o apoio da mídia, em especial dos denominados “programas 
policiais”. 
Para a compreensão do tema, imagine o seguinte exemplo: 
• Pedro, negro, morador de favela e pobre, nunca cometeu um crime, mas foi preso por 
suspeita de tráfico de drogas. Os programas policiais da sua cidade retrataram a prisão de 
Pedro de forma midiática e chamativa, de modo a constranger o suposto criminoso. Ocorre 
que, tempos depois, Pedro foi completamente inocentado e solto, ao passo que não existia 
nenhum indício do cometimento do crime. 
Percebe-se que a mídia atuou como vetor de estigmatização social, com o desenvolvimento de um 
“padrão” de inimigo do Estado já criado há tempos. 
 
Videoaula: Direito penal do inimigo como definidor dos grupos criminosos 
Nesta videoaula, abordaremos mais sobre o direito penal do inimigo como definidor dos grupos 
criminosos, com a construção de um padrão criminal estereotipado. Além disso, entenderemos a 
influência da mídia na construção da criminalidade, em especial no fortalecimento do “padrão” de 
criminoso criado pelas sociedades. Por fim, trataremos da construção de verdadeiros grupos 
criminosos com normas “paralelas”, que criam sistemas jurídicos autônomos. 
Saiba mais 
 
Para a melhor compreensão sobre o tema, torna-se necessário o acesso a outras fontes de 
conhecimento. Os materiais sugeridos a seguir auxiliarão o aprofundamento do seu estudo: 
• O artigo Brasil decide futuro com base no Direito Penal do Inimigo possibilita o 
aprofundamento no tema direito penal do inimigo. 
• O artigo O pluralismo jurídico sob a ótica da justiça restaurativa possibilita o 
aprofundamento no tema criminalidade e pluralismo jurídico. 
• O artigo O papel da mídia na construção estereotipada da figura do “criminoso” no 
Brasil possibilita o aprofundamento no tema influência da mídia na estereotipação do 
criminoso. 
 
 
https://www.conjur.com.br/2015-jan-05/brasil-decide-futuro-base-direito-penal-inimigo
https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/snpp/article/download/16954/4165
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/297545792/o-papel-da-midia-na-construcao-estereotipada-da-figura-do-criminoso-no-brasil

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