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CASO SÉTIMO GARIBALDI – BRASIL (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS) Camilla Pereira Ribeiro Juliane A.de Oliveira DECRETO Nº 4.463 DE 8 DE NOVEMBRO DE 2002 Promulga a Declaração de Reconhecimento da Competência Obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos, sob reserva de reciprocidade, em consonância com o art. 62 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José), de 22 de novembro de 1969. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e Considerando que pelo Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992, foi promulgada a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José), de 22 de novembro de 1969 Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo Decreto Legislativo no 89, de 3 de dezembro de 1998, solicitação de reconhecimento da competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da Convenção, de acordo com o previsto no art. 62 daquele instrumento; Considerando que a Declaração de aceitação da competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos foi depositada junto à Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos em 10 de dezembro de 1998, DECRETA: Art. 1o É reconhecida como obrigatória, de pleno direito e por prazo indeterminado, a competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), de 22 de novembro de 1969, de acordo com art. 62 da citada Convenção, sob reserva de reciprocidade e para fatos posteriores a 10 de dezembro de 1998. Art. 2o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 8 de novembro de 2002 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Celso Lafer FATO PRINCIPAL: ▪ No dia 27 de novembro de 1998 cerca de 50 famílias, dentre elas a do Sr. Sétimo Garibaldi estavam acampadas em uma fazenda localizada no município de Querência do Norte, Estado do Paraná, onde por meio de uma ordem extrajudicial cerca de 20 homens encapuzados invadiram o local do acampamento, afim de executar o despejo, na citada ação o Sr. Garibaldi veio a óbito devido a uma hemorragia causada por um tiro na coxa. ▪ Segundo os que estavam presentes no acampamento o proprietário da fazenda estava no meio dos homens encapuzados. CURIOSIDADES: ▪ Sétimo Garibaldi foi o 4º caso brasileiro na Corte Interamericana dos Direitos Humanos. ▪ Entre a segunda metade dos anos 90 e o início dos anos 2000, o Estado do Paraná viveu uma onda de violência no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram 16 assassinatos, 31 tentativas de homicídio, 7 casos de tortura, e 49 ameaças de morte contra trabalhadores sem terra, além de 325 feridos em 134 ações de despejo. INICIA-SE A INVESTIGAÇÃO: ▪ Em 27 de novembro de 1998 foi aberto o inquérito policial, e durante mais de 5 anos o Ministério Público requereu a realização de diligências, além da oitiva de testemunhas, coletando assim todos os elementos informativos presentes no local, relatos quanto a participação do proprietário da fazenda durante a ação, mas mesmo assim, o inquérito foi arquivado em 18 de maio de 2004, após requerimento do Ministério Público, com a fundamentação principalmente em supostas divergências entre os testemunhos, que impossibilitavam identificar a autoria do homicídio. SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA: ▪Em 16 de setembro de 2004, a esposa de Garibaldi impetrou um Mandado de Segurança, mas que logo em seguida foi negado pelo Tribunal de Justiça do Paraná. ▪Antes da sentença da Corte, em abril de 2009, outra promotora do Ministério Público do Paraná (MP-PR) demandou o desarquivamento, após declarações de testemunhas no âmbito do processo na Corte. ▪Em maio de 2003, a Justiça Global, a Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entraram com petição na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), denunciando as violações sofridas por Sétimo. O Estado brasileiro não respondeu às solicitações de informação da CIDH e, por isso, o órgão atendeu a pedido dos peticionários e decidiu julgar a admissibilidade e o mérito conjuntamente. SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA: ▪Em março de 2007, na mesma época em que considerou o Brasil responsável no Caso Escher, a Comissão produziu relatório de admissibilidade e mérito do Caso Garibaldi, admitindo a petição e considerando o Brasil responsável por violações de direitos humanos, em detrimento de Sétimo Garibaldi e de seus familiares. O órgão emitiu uma série de recomendações. ▪Após a realização de reunião de trabalho sobre a implementação das medidas e a concessão de prorrogação de prazo, a CIDH considerou que o cumprimento não era satisfatório e remeteu o caso à Corte IDH em dezembro de 2007. Como a morte de Sétimo ocorreu antes do reconhecimento da competência do Tribunal pelo Brasil, a demanda da Comissão só se refere aos fatos ocorridos após essa data. ▪A Terra de Direitos e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) se juntaram às organizações representantes das vítimas ante a Corte IDH. DESFECHO DO CASO: ▪A Corte Interamericana admitiu parcialmente uma das exceções preliminares interpostas pelo Estado e negou as outras três, dando prosseguimento ao julgamento. Na mesma sentença, condenou o Brasil pela violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, em relação à obrigação de respeitar e garantir os direitos, previstos na Convenção Americana, em prejuízo da viúva de Sétimo e de seus seis filhos. Entre as determinações do Tribunal estão a condução de investigação para determinar a responsabilidade pela morte, bem como de eventuais faltas funcionais dos funcionários a cargo do inquérito. Além disso, a Corte também determinou a publicação da sentença e o pagamento de indenização, custas e gastos. DESFECHO DO CASO: ▪ O Estado pagou os valores devidos, que somavam US$ 178 mil, em valores da época, e realizou as publicações ordenadas. Em junho de 2011, a promotoria de Loanda apresentou denúncia contra o fazendeiro Morival Favoreto. Em 2012, porém o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) acolheu habeas corpus movido pela defesa de Favoreto e determinou o arquivamento da ação penal, por considerar que não existiam provas substancialmente novas que justificassem a reabertura do inquérito. O TJ-PR e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negaram uma série de recursos movidos pelo MP-PR contra a decisão. Ninguém foi responsabilizado pelo crime. Os procedimentos abertos para investigar a conduta dos funcionários públicos a cargo do inquérito também não resultaram em qualquer tipo de responsabilização. ▪ O procedimento de supervisão do cumprimento da sentença segue em aberto, mais de 11 anos após a decisão. O último relatório de supervisão da sentença publicado pela Corte data de 2012. SOBRE A SENTENÇA: Corte declara, por unanimidade: ▪ A República Federativa do Brasil é responsável pela violação dos artigos 8 (direito às garantias judiciais) e 25 (direito à proteção judicial) da Convenção Americana, com relação às obrigações gerais de respeito e garantia estabelecidas no artigo 1.1 do mesmo instrumento, bem como o dever de adotar medidas legislativas e de outra natureza no âmbito interno estabelecido no artigo 2 do tratado, em consideração também das diretivas emergentes da cláusula federal constante do artigo 28 do tratado, em prejuízo das vítimas. SOBRE A SENTENÇA: Ante o exposto, a Comissão Interamericana solicita à Corte que ordene ao Estado: a) Realizar uma investigação completa, imparcial e eficaz da situação, com o objetivo de estabelecer a responsabilidade no tocante aos fatos relacionados com o assassínio de Sétimo Garibaldi, punir os responsáveis e determinar os impedimentos que vedaram proceder tanto a uma investigação como a um julgamento efetivos; b) Adotar e implementar as medidas necessárias para uma implementação efetiva da disposição constante do artigo 10 do CódigoProcessual Penal Brasileiro referente a toda investigação policial, bem como o julgamento dos fatos puníveis que tenham ocorrido com relação a despejos forçados em assentamentos de trabalhadores sem terra com conseqüências de morte, de maneira a ajustarem-se aos parâmetros impostos pelo Sistema Interamericano; c) Adotar e implementar as medidas necessárias para que sejam observados os direitos humanos nas políticas governamentais que tratam sobre o assunto da ocupação de terras, levando em consideração a obrigação que o artigo 28, em relação com o artigo 1.1 da Convenção Americana, lhe impõe, de acordo com o que determina a Cláusula Federal; d) Adotar e implementar medidas adequadas dirigidas aos funcionários da justiça e da polícia, a fim de evitar a proliferação de grupos armados que façam despejos arbitrários e violentos; e) Reparar plenamente os familiares de Sétimo Garibaldi, incluindo tanto o aspecto moral como o material, pelas violações de direitos humanos determinadas no presente caso; e f) Pagar as custas e gastos processuais incorridos na tramitação do caso tanto no nível nacional como os oriundos da tramitação deste caso no âmbito do Sistema Interamericano. Link para assistir ao vídeo da professora Vívian Cristina: https://www.youtube.com/watch?v=WOvfXqkj7Dw https://www.youtube.com/watch?v=WOvfXqkj7Dw FONTES: • https://talysonpereira.jusbrasil.com.br/artigos/603551823/caso- garibaldi/amp • https://reubrasil.jor.br/setimo-garibaldi/ • https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/organizacoes-de-direitos- humanos-solicitam-audiencia-a-corte-interamericana-de-direitos- humanos-sobre-o-assassinato-do-sem-terra-setimo-garibaldi/22800# • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4463.htm • https://www.youtube.com/watch?v=WOvfXqkj7Dw https://talysonpereira.jusbrasil.com.br/artigos/603551823/caso-garibaldi/amp https://reubrasil.jor.br/setimo-garibaldi/ https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/organizacoes-de-direitos-humanos-solicitam-audiencia-a-corte-interamericana-de-direitos-humanos-sobre-o-assassinato-do-sem-terra-setimo-garibaldi/22800 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4463.htm https://www.youtube.com/watch?v=WOvfXqkj7Dw