Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2021 Conversão eletromeCâniCa de energia Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: W855c Wolff, Julia Grasiela Busarello Conversão eletromecânica de energia. / Julia Grasiela Busarello Wolff. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 186 p.; il. ISBN 978-65-5663-568-2 ISBN Digital 978-65-5663-567-5 1. Energia elétrica. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 621.31 apresentação Caro acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Conversão Eletromecâ- nica de Energia! Nesta disciplina, nós estudaremos os aspectos relacionados aos conceitos eletromagnéticos e dispositivos geradores, motores e transfor- madores, utilizados em conversão eletromecânica de energia. A conversão de energia é feita, em sua grande parte, pelas máquinas rotativas eletromag- néticas. Utiliza-se o campo magnético como agente intermediário para rea- lizar essa conversão. A conversão é realizada, transformando-se energia elé- trica em energia mecânica, ou, ainda, energia mecânica em energia elétrica. Na maioria dos cursos de graduação em engenharia, algumas disciplinas de máquinas elétricas e dispositivos eletromecânicos são obrigatórias na grade curricular. Por esse motivo, apresentamos este livro didático, que se destina a mos- trar, de forma clara, objetiva e resumida, esses conteúdos, porém, ele não substitui os livros textos clássicos recomendados para esta disciplina. Você pode consultar os títulos e autores dos livros clássicos nas referências deste livro didático. Servirá como uma revisão para os alunos que já tiveram um curso em máquinas elétricas ou como um livro básico para estudos iniciais nesse assunto. Em cada unidade, será apresentado um breve sumário dos tópicos, acompanhado dos objetivos fundamentais. Em cada tópico, serão apresenta- dos exemplos resolvidos para auxiliá-los nas autoatividades. A quantidade de assuntos abordados é razoavelmente grande. Co- meçando com um estudo de circuitos magnéticos simples, o livro didático finaliza com um estudo de circuitos com ímãs permanentes. Espera-se que, com essa abordagem, consigamos entretê-lo, a elencar esta disciplina como uma das fundamentais do seu curso, pois fornecerá as bases de cálculo para a sua futura jornada nas indústrias de motores e de transformadores. Aca- dêmico, esperamos auxiliar nessa caminhada e dar uma maior visão e um ótimo sentimento acerca das dimensões dos problemas. Sugerimos a leitura, o estudo do livro didático e a realização dos exer- cícios disponibilizados nas autoatividades, além das consultas sugeridas a cada etapa. O assunto é abrangente e remete a um conteúdo repleto de detalhamen- tos e de diferenciações que devem ser interiorizados. Todo passo requer a con- sulta às obras consideradas básicas e nenhuma delas esgota os temas abordados. Sugerimos consultar as referências, os vídeos no YouTube e as Leitu- ras Complementares, que levarão a um maior domínio do assunto. Desejamos, a você, muito sucesso na vida profissional! Profª. Julia Grasiela Busarello Wolff Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS .......... 1 TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA .................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CIRCUITOS MAGNÉTICOS ............................................................................................................ 8 3 ANALOGIAS ENTRE UM CIRCUITO ELÉTRICO E UM CIRCUITO MAGNÉTICO .............. 11 4 CIRCUITOS MAGNÉTICOS EM SÉRIE E EM PARALELO .................................................... 15 5 TIPOS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS ...................................................................................... 16 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 18 TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS ............................. 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 APLICAÇÕES NUMÉRICAS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS ............................................. 19 3 ESPRAIAMENTO, FRANGEAMENTO, ESPALHAMENTO OU EFEITO DE BORDAS ............ 30 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS ........................................ 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS .................................................................................................. 39 3 MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS ............................................................................................... 40 4 MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS ............................................................................................ 40 5 DOMÍNIOS MAGNÉTICOS ........................................................................................................... 45 6 HISTERESE .........................................................................................................................................46 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 64 UNIDADE 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES, PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS ............................................... 67 TÓPICO 1 — PERDAS MAGNÉTICAS, SISTEMAS P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS ............. 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69 2 PERDAS NO COBRE ........................................................................................................................ 70 3 PERDAS NO FERRO ......................................................................................................................... 71 4 PERDAS MECÂNICAS .................................................................................................................... 73 5 PERDAS ELÉTRICAS NOS CONTATOS ..................................................................................... 74 6 PERDAS SUPLEMENTARES .......................................................................................................... 75 7 PERDAS VARIÁVEIS E PERDAS CONSTANTES ..................................................................... 76 7.1 PERDAS VARIÁVEIS ................................................................................................................... 76 7.2 PERDAS CONSTANTES .............................................................................................................. 77 8 ENSAIO A VAZIO – PERDAS ROTACIONAIS A VAZIO ....................................................... 78 9 RENDIMENTO .................................................................................................................................. 79 9.1 RENDIMENTO CONVENCIONAL .......................................................................................... 80 10 LAMINAÇÃO ................................................................................................................................... 81 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 84 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 — CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES .......................................................... 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89 2 CIRCUITOS COM ÍMÃS PERMANENTES ................................................................................ 89 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 98 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 99 TÓPICO 3 — SISTEMA P.U. E CÁLCULO DE POTÊNCIAS .................................................... 103 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103 2 SISTEMA POR UNIDADE (P.U.) ................................................................................................. 105 3 POTÊNCIAS ATIVA, REATIVA E APARENTE ......................................................................... 112 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 120 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 121 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 126 UNIDADE 3 — ANÁLISE DE BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS .............................. 127 TÓPICO 1 — BOBINAS (INDUTORES), TRANSDUTORES E ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS, ELETROÍMÃS ............................................................. 129 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 129 2 FORÇA MAGNETOMOTRIZ E FLUXO CONCATENADO .................................................. 131 2.1 TENSÃO DE AUTOINDUÇÃO ................................................................................................ 131 3 INDUTÂNCIAS DE FORMAS PADRONIZADAS DE INDUTORES ................................. 135 3.1 INDUTÂNCIA INTERNA ......................................................................................................... 140 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 143 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 144 TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS .......................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 INDUTÂNCIA MÚTUA ................................................................................................................. 147 2.1 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE FORMA ADITIVA ...................... 149 2.2 CIRCUITOS MAGNETICAMENTE ACOPLADOS DE FORMA SUBTRATIVA .............. 151 3 ENERGIA EM UM CIRCUITO ACOPLADO ............................................................................ 154 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 162 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 163 TÓPICO 3 — TRANSDUTORES, ATUADORES ELETROMAGNÉTICOS E ELETROÍMÃS ............................................................................................................ 167 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 167 2 ATUADORES E TRANSDUTORES ............................................................................................. 167 3 ELETROÍMÃS .................................................................................................................................. 168 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 173 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 180 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 181 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 185 1 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade,você deverá ser capaz de: • compreender os princípios básicos que envolvem a transformação de energia em circuitos magnéticos; os circuitos magnéticos; o comporta- mento dos materiais ferromagnéticos; a histerese nos materiais ferro- magnéticos; a lei de Faraday; como se produz uma força induzida em um fio condutor; como se produz uma tensão induzida em um fio con- dutor e o funcionamento de uma máquina linear simples; • entender os fundamentos da conversão eletromecânica de energia e da dinâmica dos dispositivos eletromecânicos; • conhecer e compreender o funcionamento de alguns elementos de má- quina eletromecânicos; • aprender como produzir um campo magnético. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA TÓPICO 2 – CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS TÓPICO 3 – MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 1 INTRODUÇÃO A compreensão do eletromagnetismo é essencial para o estudo da en- genharia elétrica, pois, através dele, o engenheiro eletricista opera uma grande parte dos dispositivos, máquinas e equipamentos presentes nas indústrias e nas residências. Todos os motores e geradores elétricos que abrangem unidades com po- tências de frações de cavalo vapor, como os encontrados em aplicações domés- ticas, até os maiores, de 25.000 hp (horse power), empregados em algumas indús- trias, dependem do campo eletromagnético como elemento de acoplamento. É o campo eletromagnético que permite a transformação de energia de um sistema elétrico para um sistema mecânico, e vice-versa. Da mesma forma, os transforma- dores proporcionam o meio de se converter energia de um sistema elétrico em outro, por meio de um campo magnético. São encontrados em diversas aplica- ções, como nos receptores de rádio e de televisão e nos circuitos de distribuição de energia elétrica. Outros dispositivos importantes, utilizados nas casas e nos pátios fabris, são os disjuntores, as chaves automáticas, os relés e os amplificado- res magnéticos. Esses componentes necessitam da presença de um campo mag- nético confinado para a operação adequada. Esta unidade fornecerá, ao leitor, o conhecimento básico, de forma que ele possa identificar um campo magnético e as características, compreender o funcionamento desse campo nos equipamentos e manipular, matematicamente, as grandezas de interesse nos projetos. As bases da engenharia são fundamentadas nas equações de Maxwell e em outras leis, deduzidas, experimentalmente, por Faraday, Ampère, Lenz, Hel- mholtz, Hertz e outros. Na área de eletromagnetismo, a lei de Ampère é a que mais nos interessa e, na realidade, ela serve como ponto de partida para o nosso estudo. Iniciaremos com o conceito de circuitos magnéticos, pois auxilia na simplificação dos cálculos envol- vidos na análise de dispositivos magnéticos que serão vistos nas outras unidades. Uma vez conhecida a equação de Ampère, além do cálculo dos diversos tipos de circuitos magnéticos, podemos dar sequência aos estudos e aprender as proprieda- des magnéticas de determinados materiais, úteis nas engenharias elétrica e mecânica. UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 4 Os dispositivos de conversão eletromecânica são baseados em campo mag- nético, campo elétrico, ou, ainda, em ambos, caracterizando o que chamamos de campo eletromagnético, porém, na prática, a capacidade de um dispositivo mag- nético de armazenar energia é 10.000 vezes maior do que a capacidade de armaze- namento de um dispositivo de campo elétrico, com mesmo volume (USP, 2020). Um conversor eletromecânico de energia transforma a energia elétrica em energia mecânica, e vice-versa. Esses dispositivos são chamados de dispositivos de força. Os dispositivos de força são os geradores e os motores elétricos. Os con- versores eletromecânicos de energia também podem incluir os da categoria dos dispositivos de posição, ou seja, os transdutores eletromecânicos. Alguns exem- plos de transdutores de posição são: • os microfones; • os autofalantes; • os materiais piezoelétricos; • os relés eletromagnéticos; • os instrumentos de medição analógicos etc. (NASAR, 1984). A figura a seguir mostrará o princípio de conversão eletromecânica de energia. FIGURA 1 – TRANSFORMAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA EM ENERGIA MECÂNICA E VICE-VERSA FONTE: USP (2020, s.p.) Quando um dispositivo é utilizado para converter energia mecânica em energia elétrica, é chamado de gerador. Segue um gerador elétrico. FIGURA 2 – GERADOR ELÉTRICO FONTE: Mecalux (2020, s.p.) TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 5 FIGURA 3 – ALTERNADOR DE ENERGIA FONTE: Mecalux (2020, s.p.) FIGURA 4 – DÍNAMO SIMPLES FONTE: Alibaba (2020, s.p.) Assista ao vídeo do Prof. Luís César Emanuelli, a respeito dos geradores síncro- nos, no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=eyRbYm-ofFY. DICAS Segue um alternador de energia. Os alternadores transformam energia mecânica em energia elétrica e produzem corrente alternada induzida, por meio de um campo magnético. São utilizados em carros, em termelétricas, em aplica- ções marítimas, em usinas hidrelétricas etc. Um dínamo é um dispositivo que gera corrente contínua, converten- do energia mecânica em energia elétrica, através de uma indução eletromagnéti- ca. É constituído por um ímã e uma bobina. Observe um dínamo simples: Quando um dispositivo converte energia elétrica em energia mecânica, é chamado de motor. Os motores elétricos acionam refrigeradores, freezers, aspira- dores de ar, processadores de alimentos, aparelhos de ar-condicionado, ventilado- res e muitos outros eletrodomésticos similares. Nas indústrias, os motores produ- UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 6 zem a força motriz para mover, praticamente, todas as máquinas. Naturalmente, para fornecer a energia utilizada por todos esses motores, há a necessidade de ge- radores (CHAPMAN, 2013). Atente-se a alguns motores elétricos da marca WEG: FIGURA 5 – MOTORES ELÉTRICOS FONTE: Leonardo Energy (2020, s.p.) Leia mais a respeito dos motores elétricos em https://bit.ly/3iNP5tm. DICAS Como qualquer máquina elétrica é capaz de realizar a conversão de ener- gia em ambos os sentidos, então, qualquer máquina pode ser usada como gera- dor ou como motor. Na prática, quase todos os motores realizam a conversão de energia de uma forma para a outra, pela ação de um campo magnético. O transformador é um dispositivo elétrico que converte energia elétrica de corrente alternada, de um nível de tensão, em energia elétrica de corrente alternada, em outro nível de tensão. Eles são estudados com os geradores e os motores, pois fun- cionam com base nos mesmos princípios, ou seja, dependem da ação de um campo magnético para que ocorram mudanças no nível de tensão. Segue um transformador: FIGURA 6 – TRANSFORMADOR FONTE: The Cmyk Digest (2020, s.p.) TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 7 FIGURA 7 – DISPOSITIVOS ELETROMAGNÉTICOS No dia a dia, esses tipos de dispositivos elétricos estão presentes nas casas e nas indústrias. Sem a compreensão e o domínio dos fenômenos magnéticos, não existiriam os motores, os geradores, os transformadores, os indutores, os medido- res eletromecânicos e os componentes magnéticos, utilizados na eletrônica. Por esse motivo, iniciaremos o estudo da conversão eletromecânica de energia por meio do conhecimento dos circuitos magnéticos. A figura a seguir mostrará alguns dispo- sitivos elétricos que foram criados com o advento do uso dos circuitos magnéticos. FONTE: A autora Caro acadêmico, você sabia que, através dos resultados obtidos por Ampère, em 1820, nas suas experiências sobre as forças que existem entredois condutores nos quais flui corrente e, através de grandezas, como a densidade de fluxo magnético, a intensidade do campo magnético, a permeabilidade e o fluxo magnético, a lei de Ampère foi descrita? (DEL TORO, 1994). Isso representou um salto para o eletromagnetismo e para as equações de Maxwell, pois, foi Maxwell quem uniu as equações de Faraday e de Ampère e as comple- mentou com as equações constitutivas. Você já deve ter lido algo a respeito das equações constitutivas nas disciplinas de Eletromagnetismo e Práticas de Eletromagnetismo, certo?! INTERESSA NTE Agora, após essa contextualização introdutória, iniciaremos o estudo dos circuitos magnéticos. UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 8 2 CIRCUITOS MAGNÉTICOS Iniciaremos o nosso estudo, relembrando as equações de Maxwell e as relações constitutivas, descritas a seguir. TABELA 1 – EQUAÇÕES DE MAXWELL Nome da lei Equações de Maxwell na forma diferencial Equações de Maxwell na forma integral Lei de Ampère Lei de Faraday Lei de Gauss Demonstração da não existência de monopolos eletromagnéticos FONTE: Adaptada de Aleksander e Sadiku (2017, p. 34) Em projetos de núcleos magnéticos para máquinas e dispositivos elétricos, os cálcu- los exatos, utilizando as equações de Maxwell, são muito complexos, por esse motivo, utilizamos diversas equações que consistem em uma aproximação das equações de Maxwell. Dessa forma, descomplicamos a álgebra envolvida e os resultados obtidos são considerados satisfatórios. IMPORTANT E As máquinas elétricas são constituídas por circuitos elétricos e magnéticos acoplados entre si, que são modelados pelas equações de Maxwell. Um circuito magnético é um caminho para o fluxo magnético, como que, por um circuito elétri- co, a corrente elétrica flui por um determinado caminho ou sentido. Nas máquinas elétricas, os condutores percorridos por correntes interagem com os campos mag- néticos, que são originados por correntes elétricas em condutores ou, ainda, por ímãs permanentes, resultando na conversão eletromecânica de energia. Os campos magnéticos podem ser criados por várias fontes, que são: TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 9 • Um fio condutor de corrente produz um campo magnético ao seu redor. • Um campo magnético variável no tempo induz uma tensão em uma bobina se esse campo passar através dessa bobina. • Um fio condutor de corrente, na presença de um campo magnético, produz uma força induzida no fio. • Um fio, movendo-se na presença de um campo magnético, provoca uma ten- são induzida nele (ALEKSANDER; SADIKU, 2003). A criação de um campo elétrico é dada por meio da lei de Ampère: (1) é a intensidade de campo magnético, dado em ampères-espiras por metro [Ae/m], produzido pela corrente elétrica i, dada em ampères [A], e é o elemento diferencial de comprimento, ao longo do caminho fechado de integra- ção, dado em metros [m], como mostra a Equação (1). Para melhor compreender a lei de Ampère utilizaremos um esboço de um circuito magnético simples. FIGURA 8 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES E CONSTITUINTES FONTE: Chapman (2013, p. 9) Note que N representa o número das espiras enroladas na perna esquer- da do circuito (núcleo); ϕ é o fluxo magnético que circula pelo caminho fechado do núcleo; ℓn representa o comprimento, em metros (no S.I.), do caminho médio do núcleo fechado; A é a área da seção reta do núcleo com geometria retangular; e i é a corrente elétrica. Se o núcleo for composto de ferro ou de outros metais similares, denomi- nados de ferromagnéticos, então, todo o campo magnético produzido pela cor- rente permanece dentro do núcleo, de modo que, na lei de Ampère, o caminho de integração é dado pelo comprimento do caminho médio no núcleo ℓn . A corrente líquida i , que passa dentro do caminho de integração, é, então, Ni, porque a bo- UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 10 bina cruza o caminho de integração N vezes quando está conduzindo a corrente i. Com isso, a lei de Ampère pode ser escrita em termos de módulo ou de magni- tude das grandezas, conforme mostra a Equação (2): (2) (3) (4) (7) (8) Então, o módulo, a magnitude ou a intensidade do capo magnético H do núcleo, criado devido à corrente elétrica aplicada, é dado pela Equação (3): “O módulo do campo magnético H é uma medida do esforço que uma corrente está fazendo para estabelecer um campo magnético” (FITZGERALD; KINGSLEY, 2014, p. 10). A intensidade do fluxo de campo magnético ϕ produzi- do no núcleo depende, também, do material do núcleo. A relação entre H e B, em um material, é dada pela Equação (4): a densidade de fluxo magnético, dada em weber por metro quadrado [Wb/m2] ou tesla [T]; é a intensidade de campo magnético, dada em ampère- espira por metro [Ae/m]; e μ é a permeabilidade magnética do material que compõe o núcleo, dada em henry por metro [H/m]. A permeabilidade do vácuo é denominada de μ0, e o valor é dado pela Equação (5): A permeabilidade de qualquer outro material, quando comparada com a permeabilidade do vácuo, é chamada de permeabilidade relativa. É simbolizada por μr, e dada pela expressão matemática mostrada na Equação (6): O módulo da densidade de fluxo em um núcleo magnético é dado pela Equação (7): O fluxo total, em uma dada área do núcleo fechado, é dado pela expressão mostrada na Equação (8): TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 11 dA é chamado de unidade diferencial de área. Se o vetor de densidade de fluxo for perpendicular a um plano de área A, e se a densidade de fluxo B for constante através da área, a Equação (8) se reduz à Equação (9): ϕ = BA. (9) (10) Assim, o fluxo total do núcleo magnético é dado pela Equação (10): A é a área da seção reta do núcleo e depende da geometria do núcleo, ou seja, se for um quadrado, a área é lado vezes lado: A = ℓ x ℓ, porém, se o núcleo for circular, a área A é A = π x r2. 3 ANALOGIAS ENTRE UM CIRCUITO ELÉTRICO E UM CIRCUITO MAGNÉTICO Conforme veremos, os circuitos elétricos e magnéticos são análogos e as grandezas podem ser comparadas. Portanto, a corrente, em uma bobina de fio enrolado em um núcleo, produz um fluxo magnético. Isso pode ser equiparado a uma tensão que, em um circuito elétrico, produz o fluxo de corrente. É possível definir um “circuito magnético”, cujo comportamento é regido por equações análogas às de um circuito elétrico. Frequentemente, no projeto de máquinas elétricas e transformadores, utiliza-se o modelo de circuito magnético que descreve o comportamento magnético para simplificar o processo de projeto que, de outro modo, seria bem complexo. Em um circuito elétrico simples, uma fonte de tensão V alimenta uma corrente I, ao longo do circuito, através de uma resistência R. A relação entre essas grandezas é dada pela lei de Ohm: V = Ri, já estu- dada nas disciplinas de Circuitos Elétricos I, Circuitos Elétricos II, Práticas de Circuitos Elétricos, Práticas de Eletricidade e Eletrotécnica e, também, em outra. No circuito elétrico, o fluxo de corrente é acionado por uma tensão ou for- ça eletromotriz. Analogamente, a grandeza correspondente, no circuito magné- tico, é denominada de força magnetomotriz (f.m.m), simbolizada por . A força magnetomotriz do circuito magnético é igual ao fluxo efetivo de corrente aplica- do ao núcleo, ou, pela Equação (11): (11) Sua unidade no S.I. é o ampère-espiras [Ae]. UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 12 Como uma fonte de tensão no circuito elétrico, a força magnetomotriz, no circuito magnético, também tem uma polaridade associada. O terminal positivo da fonte de f.m.m. é o terminal do qual o fluxo sai, e o terminal negativo da fonte de f.m.m. é o terminal no qual o fluxo volta a entrar. A polaridade da força mag- netomotriz de uma bobina pode ser determinada, modificando-se a regra da mão direita: se os dedos da mão direita se curvam no sentido do fluxo de corrente em uma bobina, então, o polegar aponta no sentido de f.m.m.positiva. Observe: FIGURA 9 – REGRA DA MÃO DIREITA FONTE: UOL Educação (2020, s.p.) FIGURA 10 – POLARIDADE DA FONTE DE F.M.M. FONTE: Chapman (2013, p. 121) Em um circuito magnético, a força magnetomotriz aplicada faz com que um fluxo φ seja produzido. Com isso, a relação entre força magnetomotriz e fluxo é dada pela Equação (12): (12) TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 13 é a força magnetomotriz do circuito, ϕ é o fluxo do circuito e é a relu- tância do circuito, em [Ae/Wb]. A relutância de um circuito magnético é o equivalente à resistência elétri- ca em um circuito elétrico, e a permeância representa o inverso da relutância. Em um circuito elétrico, o inverso da resistência é a condutância (G). A expressão matemática para a permeância é mostrada na Equação (13): Com isso, a relação entre a força magnetomotriz e o fluxo pode ser expres- sa, como mostra a Equação (14): (13) (14) (15) (16) (18) Em determinados materiais, é mais fácil trabalhar com a permeância do que com a relutância, e isso justifica a importância. O fluxo pode ser expresso através das Equações (15-17): Contudo, da Equação (10), podemos escrever o fluxo magnético de outra forma: Com isso, o produto Ni pode ser substituído por , resultando na Equação (16): Portanto, a relutância magnética no núcleo pode ser calculada por meio da Equação (18): Para resumir, as equações utilizadas no projeto de circuitos magnéticos serão descritas a seguir. A referida tabela mostrará as similaridades entre as grandezas de um circuito elétrico resistivo de corrente contínua e um circuito magnético. UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 14 TABELA 2 – ANALOGIA ENTRE CIRCUITOS ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS Circuito elétrico Circuito magnético Lei de Ohm: i = V/R Fluxo magnético: ϕ = / Resistência elétrica: R = ℓ/(σA) Relutância magnética: = ℓ/(μA) Corrente elétrica: i Fluxo magnético: ϕ Tensão elétrica: V Força magnetomotriz (f.m.m.): Condutividade elétrica: σ Permeabilidade magnética: μ Condutância: G Permeância: FONTE: Nasar (1984, p. 4) Para contextualizar o que foi mostrado, veja uma ilustração da analogia entre os circuitos elétricos e magnéticos de duas e três pernas. FIGURA 11 – ANALOGIA ENTRE OS CIRCUITOS ELÉTRICO E MAGNÉTICO FONTE: UFMG (2019, p. 4) Visualize, a seguir, as grandezas elétricas e magnéticas e as respectivas unidades no sistema internacional (S.I.). Lembre-se de que sempre denotamos as unidades entre colchetes [ ], para não confundir, certo?! Assista ao vídeo do Prof. Luís César Emanuelli, acerca do tema, em https:// www.youtube.com/watch?v=MAUfye9nOEw. DICAS TÓPICO 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: TEORIA 15 TABELA 3 – UNIDADES DAS GRANDEZAS ELÉTRICAS E MAGNÉTICAS FONTE: A autora Grandeza elétrica Unidade Grandeza magnética Unidade Resistência elétrica: R [Ω] Relutância magnética: [Ae/Wb] Corrente elétrica: i [A] Fluxo magnético: ϕ [Wb] Tensão elétrica: V [V] Força magnetomotriz (f.m.m.): [Ae] Condutividade elétrica: σ [S/m] Permeabilidade magnética: μ [H/m] Condutância: G [S] Permeância: [Wb/Ae] Campo magnético: E [V/m] Campo magnético: H [H/m] Densidade de campo elétrico: D [C/m] Densidade de campo magnético: B [T] 4 CIRCUITOS MAGNÉTICOS EM SÉRIE E EM PARALELO As relutâncias em um circuito magnético obedecem às mesmas regras do que as resistências em um circuito elétrico. Portanto, a relutância equivalente de um circuito magnético em série é a soma das relutâncias individuais, conforme mostra a Equação (19): (19) (20) (21) (22) Já a relutância equivalente de um circuito magnético em paralelo é dada pela Equação (20): As permeâncias em série e em paralelo obedecem às mesmas regras do que as condutâncias elétricas, ou seja, a Equação (21) corresponde à permeância equivalente em série, e a Equação (22) representa a equação para o cálculo da permeância equivalente em paralelo: UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 16 Quando são usados os conceitos de circuito magnético em um núcleo, os cálculos de fluxo são sempre aproximados. Em alguns casos, tem uma exatidão de, aproximadamente, 5% em relação ao valor real. 5 TIPOS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS Os circuitos magnéticos são classificados como lineares e não lineares. Os circuitos magnéticos lineares são aqueles nos quais a permeabilidade relativa μr é baixa. Podem ser obtidos quando o núcleo é de ar, ou constituído por um material não ferromagnético. Há vários tipos de circuitos magnéticos, como o demonstrado a seguir: FIGURA 12 – TIPOS DE NÚCLEOS MAGNÉTICOS FONTE: <https://bit.ly/3iTsyeG>. Acesso em: 24 abr. 2021. No próximo tópico, nós calcularemos e demonstraremos como resolver alguns problemas, envolvendo circuitos magnéticos. 17 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Um circuito magnético é aquele em que existe um caminho para o fluxo mag- nético, de forma análoga ao circuito elétrico, que proporciona um caminho para a corrente elétrica. • Os circuitos magnéticos, assim como os circuitos elétricos, podem ter uma infinidade de configurações diferentes. • A lei de Ampère relaciona a intensidade de campo magnético H e a corrente elétrica i. • Em situações com elevada simetria, a lei de Ampère permite calcular o módu- lo da intensidade de campo magnético H. • Problemas mais complexos não serão discutidos aqui, pois outras ferramen- tas matemáticas são necessárias. Simplificação para os problemas típicos da disciplina: 𝐻 = (𝑁.𝑖)/𝑙. 𝑖 é a corrente elétrica, 𝑁 é o número de espiras e 𝑙 é o comprimento do circuito magnético. • A permeabilidade magnética, cujo símbolo é μ (mi), é uma constante de pro- porcionalidade, dependente do material e da preparação, que relaciona a in- dução magnética do material em um determinado ponto, em função do cam- po magnético existente no ponto. A unidade é [H/m] (henry por metro). • É calculada pela razão entre a densidade de fluxo magnético, B, em uma subs- tância, e a intensidade do campo magnético exterior, H, isto é, é dada pela seguinte expressão matemática: μ = B/H. • Em circuitos magnéticos, a relutância magnética é a grandeza física análoga à resistência em circuitos elétricos. • A relutância do circuito não uniforme é calculada, adicionando a relutân- cia da seção uniforme do circuito magnético. • O cálculo do campo magnético não uniforme é mais complexo em compara- ção com o campo magnético uniforme. • A permeância é o inverso da relutância. 18 1 Disserte, com as suas palavras, o que é a conversão eletromecânica de energia. 2 O que é um circuito magnético e quais são os tipos? 3 O que é a lei de Ampère? 4 O que é intensidade de campo magnético (H)? O que é densidade de fluxo magnético (B)? Como essas grandezas se relacionam entre si? 5 Como o conceito de circuito magnético pode auxiliar no projeto de núcleos de transformadores e máquinas? 6 Explique, com as suas palavras, o que é relutância magnética, e apresente a sua expressão matemática para cálculo. AUTOATIVIDADE 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 1 INTRODUÇÃO Os circuitos magnéticos são utilizados em dispositivos eletromecânicos e em máquinas elétricas. Esses dispositivos utilizam materiais ferromagnéticos, que estudaremos no Tópico 3 desta unidade, para concentrar e guiar os campos eletromagnéticos nas peças e nos núcleos. O comportamento dos campos eletromagnéticos é descrito pelas equa- ções de Maxwell, vistas no Tópico 1. Elas são complementadas pelas relações constitutivas. No caso das máquinas elétricas, em sua maioria, podemos utilizar a aproximação quase estática das equações de Maxwell. Essa aproximação diz que as frequências e as dimensões das peças são tais que os termos de corrente de deslocamento podem ser desprezados no cálculo dos campos nas peças. O Tópico 1 foi mais teórico, nele apresentamos os conceitos fundamentais dos circuitos magnéticos. Neste tópico, nós iremos abordar os problemas envol- vendo os núcleos de máquinaselétricas. 2 APLICAÇÕES NUMÉRICAS DE CIRCUITOS MAGNÉTICOS Os circuitos magnéticos são empregados com o objetivo de concentrar o efeito magnético em uma dada região do espaço. O termo circuito magnético vem de uma analogia com o circuito elétrico, pois ambos podem ser tratados de forma semelhante. Assim como o circuito elétrico possui um caminho fechado para a corrente elétrica, o circuito magnético possui um caminho magneticamente fe- chado. As linhas de força são, naturalmente, linhas fechadas. O circuito magnético direciona o fluxo magnético para onde for desejado, sendo dotado de materiais com certas propriedades magnéticas e dimensões, a partir de uma variedade de seções e diferentes comprimentos. As características magnetizantes dos materiais são de natureza não linear, o que deve ser levado em conta nos projetos de dispositivos eletromagnéticos. A título de exemplos, podemos citar a determinação da corrente elétrica requerida, em um enrolamento, para produzir uma dada densidade de fluxo no entreferro 20 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS de um pequeno atuador, de um relé ou de um eletromagneto. Com base nisso, resolveremos alguns exercícios para que você compreenda como são realizados os cálculos de circuitos magnéticos (núcleos) na prática. 1º Exemplo: Um núcleo ferromagnético será mostrado a seguir. Três dos seus lados têm larguras uniformes, ao passo que a largura do quarto lado é me- nor. A profundidade do núcleo (para dentro da página) é de 10 [cm], e as outras dimensões são mostradas na figura. Uma bobina de 200 espiras está enrolada no lado esquerdo do núcleo. Assumindo uma permeabilidade relativa μr de 2500, quanto fluxo será produzido por uma corrente de 1 [A]? FIGURA 13 – CIRCUITO MAGNÉTICO FONTE: Chapman (2013, p. 16) Solução: Três lados do núcleo têm as mesmas áreas de seção reta, ao passo que o quarto lado tem uma área diferente. Assim, o núcleo pode ser dividido em duas regiões: (1) um lado menos espesso e (2) três outros lados tomados em conjunto. O respectivo circuito magnético desse núcleo será mostrado a seguir. TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 21 FIGURA 14 – CIRCUITO EQUIVALENTE FONTE: Chapman (2013, p. 18) O comprimento do caminho médio da região 1 é 45 [cm] e a área da seção reta é 10 [cm] x 10 [cm] = 100 [cm2.] Portanto, a relutância da primeira região é: O comprimento do caminho médio da região 2 é 130 [cm], e a área da seção reta é 15 x 10 [cm] = 150 [cm2]. Assim, a relutância da segunda região é: A força magnetomotriz total é dada por: O fluxo total no núcleo é dado por: Agora, realizaremos uma atividade prática, ok?! Pegue o seu computador, ou notebook, ou, ainda, utilize o computador do seu polo. Simularemos o exercício mostrado no Exemplo 1, vamos lá?! 22 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS • ATIVIDADE PRÁTICA – SIMULAÇÃO DE CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES NO OCTAVE Caro acadêmico! Você pode baixar gratuitamente o software OCTAVE ou, se preferir, pode utilizá-lo on-line. Agora, resolveremos o mesmo problema, utilizando um algoritmo no software OCTAVE, ok?! % M-file: ex1_1.m % M-file para o cálculo de fluxo do primeiro exemplo l1 = 0.45; % Comprimento da região 1 l2 = 1.3; % Comprimento da região 2 a1 = 0.01; % Área da região 1 a2 = 0.015; % Área da região 2 ur = 2500; % Permeabilidade relativa u0 = 4*pi*1E-7; % Permeabilidade do vácuo n = 200; % Número de espiras no núcleo i = 1; % Corrente em ampères % Cálculo da primeira relutância r1 = l1 / (ur * u0 * a1); disp ([‘r1 = ‘ num2str(r1)]); % Cálculo da segunda relutância r2 = l2 / (ur * u0 * a2); disp (['r2 = ' num2str(r2)]); % Cálculo da relutância total rtot = r1 + r2; % Cálculo da FMM (mmf) mmf = n * i; % Finalmente, obtenha o fluxo (flux) no núcleo flux = mmf / rtot; % Mostre o resultado disp (['Fluxo = ' num2str(flux)]); Quando esse programa é executado, os resultados são: >> ex1_1 r1 = 14323.9449 r2 = 27586.8568 Fluxo = 0.004772 TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 23 Podemos concluir que ambas as resoluções fornecem a mesma resposta, ou seja, você sempre pode lançar mão do uso de softwares para conferir os resul- tados dos cálculos. 2º Exemplo: Um núcleo ferromagnético com uma permeabilidade relativa de 1500 será mostrado a seguir. As dimensões são as mostradas no diagrama e a profundidade do núcleo é de 5 [cm]. Os entreferros nos lados esquerdo e direito do núcleo são 0,050 [cm] e 0,070 [cm], respectivamente. Devido ao efeito de espraiamen- to, a área efetiva dos entreferros é 5% maior do que o tamanho físico. Se, na bobina, existirem 300 espiras enroladas em torno da perna central do núcleo, e se a corrente na bobina for 1,0 [A], quais serão os valores de fluxo para as pernas esquerda, central e direita do núcleo? Qual será a densidade de fluxo em cada entreferro? FIGURA 15 – CIRCUITO MAGNÉTICO DE TRÊS PERNAS FONTE: Chapman (2013, p. 57) Solução: Esse núcleo pode ser dividido em cinco regiões. Vamos fazer ser a relutância da parte esquerda do núcleo; , a relutância do entreferro esquerdo; , a relutância da parte direita do núcleo; , a relutância do en- treferro direito; e , por fim, a relutância da perna central do núcleo. Então, a relutância total do núcleo é dada por: 24 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS A relutância total é dada por: O fluxo total no núcleo é igual ao fluxo na perna central: Os fluxos nas pernas esquerda e direita podem ser encontrados pela "regra do divisor de fluxo", que é análoga à regra divisória atual, então: A densidade de fluxo no gap de ar pode ser determinada pela equação: TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 25 3º Exemplo: Um núcleo de duas pernas será mostrado a seguir. O enrola- mento da perna esquerda do núcleo (N1) tem 600 espiras e o enrolamento da perna direita do núcleo (N2) tem 200 espiras. As bobinas são enroladas nos sentidos mos- trados na figura. Se as dimensões forem as mostradas, quais serão os fluxos produ- zidos pelas correntes i1 = 0,5 [A] e i2 = 1,00 [A]? Assuma que μr = 1200 é constante. FIGURA 16 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES COM DOIS ENROLAMENTOS FONTE: Chapman (2013, p. 57) Solução: As duas bobinas, nesse núcleo, são de modo, e as forças mag- netomotrizes são aditivas, de modo que a força magnetomotriz total é dada por: A relutância total no núcleo é: 26 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS O fluxo magnético no núcleo é: 4º Exemplo: Seguem, de forma simplificada, o rotor e o estator de um motor de corrente contínua. O comprimento do caminho médio do estator é de 50 [cm], e a área da seção reta é de 12 [cm2]. O comprimento do caminho médio do rotor é de 5 [cm], e se pode assumir que a área da seção reta é, também, de 12 [cm2]. Cada entre- ferro entre o rotor e o estator tem 0,05 [cm] de largura, e a área da seção reta de cada entreferro (incluindo o espraiamento) é de 14 [cm2]. O ferro do núcleo tem permea- bilidade relativa de 2000 e há 200 espiras de fio sobre o núcleo. Se a corrente no fio for ajustada para 1 [A], qual será a densidade de fluxo resultante nos entreferros? FIGURA 17 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES SIMULANDO UM ROTOR E UM ESTATOR DE UM MOTOR FONTE: Chapman (2013, p. 20) Solução: Para determinar a densidade de fluxo no entreferro, é necessário calcular, primeiramente, a força magnetomotriz aplicada ao núcleo, além da relu- tância total do caminho de fluxo. Com essas informações, pode-se encontrar o fluxo total no núcleo. Finalmente, conhecendo a área da seção reta dos entreferros, pode- -se calcular a densidade de fluxo. Portanto, a relutância do estator é calculada por: TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 27 A relutância do rotor é dada por: A relutância dos entreferros é calculada pela expressão a seguir: O respectivo circuito magnético do diagrama simplificado do rotor e do estator de um motor de corrente contínua será mostrado a seguir. FIGURA18 – CIRCUITO ELÉTRICO EQUIVALENTE FONTE: Chapman (2013, p. 20) A relutância total do caminho de fluxo é, portanto: 28 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS A força magnetomotriz líquida aplicada no núcleo é: Portanto, o fluxo total no núcleo é: Por fim, a densidade de fluxo magnético no entreferro do motor é: 5ª Exemplo: A estrutura magnética de uma máquina síncrona será mostra- da, esquematicamente, a seguir. Assumindo que os ferros do rotor e do estator têm permeabilidade infinita (μ → ∞), encontre o fluxo φ do entreferro e a densidade de fluxo Bg. Nesse exemplo, I = 10 [A], N = 1000 espiras, g = 1 [cm] e Ag = 200 [cm2]. FIGURA 19 – MÁQUINA SÍNCRONA SIMPLES FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 21) TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 29 Solução: Observe que há dois entreferros em série, de comprimento total 2g, e que, por simetria, a densidade de fluxo, em cada um, é igual. Como assumimos que a permeabilidade do ferro é infinita, a relutância é desprezível e a equação para o fluxo magnético (com g substituído pelo comprimento total de entreferro 2g) pode ser usada para encontrá-lo: 6º Exemplo: O circuito magnético mostrado a seguir terá as dimensões Ac = Ag = 9 [cm2], g = 0,050 [cm], lc = 30 [cm] e N = 500 espiras. Suponha o valor μr = 70.000 para o material do núcleo. Com isso, determine: a) as relutâncias Rc e Rg. Dada a condição de que o circuito magnético esteja operando com Bc = 1,0 [T], encontre: b) o fluxo φ e; c) a corrente i. FIGURA 20 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES COM ENTREFERRO (GAP) DE AR FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 5) Solução: (a) As relutâncias do núcleo e do entreferro são: 30 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS b) c) 3 ESPRAIAMENTO, FRANGEAMENTO, ESPALHAMENTO OU EFEITO DE BORDAS Ao cruzar o entreferro, o fluxo magnético sofre um fenômeno chamado de espraiamento (frangeamento, espalhamento, efeito de bordas), conforme poderá ser visto a seguir. Isso faz com que a área efetiva por onde passa o fluxo se torne maior do que a área Ag geométrica do entreferro. FIGURA 21 – EFEITO DE ESPRAIAMENTO DE UM CAMPO MAGNÉTICO NO ENTREFERRO FONTE: Nasar (1984, p. 6) Seja uma área de secção reta S = a x b retangular e o entreferro de comprimento Ag, de uma forma prática, podemos calcular a área aparente ou efetiva do entreferro Sg através da relação: (23) Observe, aqui, que quando o entreferro for muito reduzido, o efeito do espraiamento pode ser desprezado. Os materiais magnéticos têm permeabilidades que não são constantes, mas que variam, de acordo com o nível do fluxo. Enquanto essa permeabilidade permanecer suficientemente elevada, a variação não afeta, de forma significativa, o desempenho do circuito magnético. TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 31 (24) Nos sistemas reais, as linhas de campo magnético “se espraiam” um pou- co para fora quando cruzam o entreferro. Se esse efeito de espraiamento não for excessivo, o conceito de circuito magnético continuará aplicável. O efeito desses campos de espraiamento é aumentar a área efetiva Ag da seção reta do entreferro. Diversos métodos empíricos foram desenvolvidos para levar em conta esse efei- to. Em entreferros delgados, uma correção para esses campos de espraiamento pode ser feita, acrescentando-se o comprimento do entreferro a cada uma das duas dimensões, alterando a área da seção reta. Se o efeito dos campos de espraia- mento é ignorado, assume-se a seguinte simplificação: Ag = Ac. 7º Exemplo: O circuito magnético a seguir será constituído por uma bobi- na de N espiras enroladas em um núcleo magnético, de permeabilidade infinita, com dois entreferros paralelos de comprimentos g1 e g2, e áreas A1 e A2, respec- tivamente. Encontre: a) a indutância do enrolamento; b) a densidade de fluxo B1 no entreferro 1 quando o enrolamento está conduzindo uma corrente i. Despreze os efeitos de espraiamento no entreferro. FIGURA 22 – (A) CIRCUITO MAGNÉTICO; (B) CIRCUITO EQUIVALENTE FONTE: Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 13) Solução: O circuito mostra que a relutância total é igual à combinação, em paralelo, das relutâncias dos dois entreferros. Com isso, temos que: 32 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS As relutâncias nos entreferros 1 e 2 são dadas pelas expressões: A indutância do núcleo é dada por: b) Do circuito equivalente, temos que: E, assim: 8º Exemplo: Para o dispositivo a seguir, haverá uma corrente I = 5 A através de N = 100 espiras, fazendo circular um fluxo magnético por um retângulo, cujos comprimentos médios da base e da altura são, respectivamente, 10 cm e 8 cm, além de secção reta 2 cm2, feita de um material de permeabilidade relativa μr = 1000. Com base nisso, determine: a) a relutância do circuito magnético; b) a permeância do circuito magnético; c) a intensidade de campo magnético no núcleo; d) a densidade de fluxo magnético no núcleo; e) o fluxo magnético no núcleo. FIGURA 23 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES SEM ENTREFERRO (GAP) FONTE: UNESP (2021, s.p.) TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 33 Solução: 9º Exemplo: Calcule o valor do fluxo magnético em cada braço da estrutura magnética a seguir. Dados: N = 500 espiras, I = 1,0 [A], material 1 com μr1 = 200 e, o material 2, com μr2 = 100. FIGURA 24 – ESTRUTURA FERROMAGNÉTICA FONTE: UNESP (2021, s.p.) FIGURA 25 – CIRCUITO EQUIVALENTE Solução: Desenhamos um circuito elétrico equivalente, conforme mostra- do a seguir: FONTE: UNESP (2021, s.p.) 34 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS Para o lado do material 1, temos que: Para o lado do material 2: Para o lado do material 2, temos que: TÓPICO 2 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS: APLICAÇÕES NUMÉRICAS 35 Caro acadêmico, se você ainda tiver dúvidas acerca da solução de circuitos magnéticos, sugerimos o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=ZkDeHJxX0kM. DICAS Acadêmico, com a breve descrição introduzida nesta unidade, apresenta- mos os fundamentos básicos para simplificar um problema de campo magnético quase estático, de geometria simples, em um modelo de núcleo de circuito mag- nético utilizado em máquinas. O objetivo foi abordar a terminologia e alguns dos conceitos usados pelos engenheiros para resolver problemas práticos de projeto em indústrias. Queremos deixar claro para você, leitor, que esse tipo de solução de problemas depende muito do raciocínio e da intuição próprios do engenheiro e da equipe de pesquisa que estão desenvolvendo os núcleos. Em alguns exercícios, supomos que a permeabilidade das partes de “fer- ro” do circuito magnético seja uma quantidade conhecida constante, embora, muitas vezes, isso não seja verdade, e que o campo magnético esteja confinado unicamente no núcleo e nos entreferros. Embora se trate de uma boa suposição para muitas situações, também é verdadeiro que as correntes dos enrolamentos produzem campos magnéticos fora do núcleo. Queremos enfatizar, ainda, que quando dois ou mais enrolamentos são colocados em um campo magnético, como ocorre no caso de transformadores e de máquinas rotativas, esses campos externos ao núcleo, conhecidos como cam- pos de dispersão, não podem ser ignorados, e afetam, de forma significativa, o desempenho do dispositivo. Você pode estudar mais a respeito desse tema em https://bit.ly/3xw6NWj. ESTUDOS FU TUROS 36 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • No fluxo de dispersão, parte das linhas de campo produzidas pela bobina não circula no interior do núcleo. • A permeabilidade do núcleo é supostamente grande, mas deve-se lembrar de que ela não é infinita. • A lei básica que determina a relação entre a corrente elétrica e o campo mag- nético é a lei de Ampère. • A intensidade de campo magnético produz uma indução magnética em toda região onde ela existe. • Uma corrente elétrica sempre produz um campo magnético. Assim, é lógico supor que um campo magnético pode produzir umacorrente elétrica. 37 1 A figura mostrará um núcleo ferromagnético. A profundidade (para den- tro da página) do núcleo é de 5 cm. As demais dimensões do núcleo serão mostradas a seguir. Encontre o valor da corrente que produzirá um fluxo de 0,005 [Wb]. Com essa corrente, qual é a densidade do fluxo no lado superior do núcleo? Qual é a densidade do fluxo no lado direito do núcleo? Assuma que a permeabilidade relativa do núcleo é de 800. AUTOATIVIDADE CIRCUITO MAGNÉTICO PARA RESOLUÇÃO DA AUTOATIVIDADE NÚMERO 3 FONTE: Chapman (2013, p. 56) 2 Observe um núcleo ferromagnético cujo comprimento de caminho médio é de 40 cm. Há um entreferro delgado de 0,05 cm no núcleo, o qual é inteiriço no restante. A área da seção reta do núcleo é de 12 cm2, a permeabilidade relativa do núcleo é de 4000 e a bobina enrolada no núcleo tem 400 espiras. Assuma que o espraiamento no entreferro aumente a área efetiva da seção reta em 5%. Dada essa informação, encontre: a) a relutância total do caminho de fluxo (ferro mais entreferro); b) a corrente necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,5 T no entreferro. 38 CIRCUITO MAGNÉTICO PARA RESOLUÇÃO DA AUTOATIVIDADE NÚMERO 4 FONTE: Chapman (2013, p. 18) 3 Para a estrutura magnética da Figura 15, com as dimensões dadas no 5º Exemplo, observa-se que a densidade de fluxo do entreferro é de Bg = 0,9 T. Encontre o fluxo de entreferro φ e, para uma bobina de N = 500 espiras, a corrente necessária para produzir esse valor de fluxo no entreferro. 4 Encontre o fluxo φ e a corrente para o 6º Exemplo se: a) o número de espiras for dobrado para N = 1000 espiras, mantendo-se as mesmas dimensões; b) se o número de espiras for N = 500 e o entreferro for reduzido a 0,040 cm. 5 O que é o fluxo de dispersão? 6 O que é espraiamento ou frangeamento? 39 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 1 INTRODUÇÃO Os circuitos magnéticos não lineares são todos os circuitos magnéticos que utilizam materiais ferromagnéticos, dotados de permeabilidade magnética alta, como o ferro fundido, o aço silício, o aço fundido, a ferrita etc. Muitos dos circuitos magnéticos de aplicação prática, os quais você encontrará nas indús- trias, são circuitos não lineares. Com isso, a permeabilidade (μ) dos materiais fer- romagnéticos se torna variável em função da indução ou da densidade de fluxo magnético no núcleo. Neste tópico, nós estudaremos os diferentes tipos de materiais magnéti- cos utilizados na fabricação de núcleos e de dispositivos constituintes de máqui- nas elétricas. Há três tipos de materiais magnéticos, que são: • diamagnéticos; • paramagnéticos; • ferromagnéticos. 2 MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS Os materiais diamagnéticos podem ser definidos como materiais que, na presença de um campo magnético, têm os ímãs elementares orientados no sentido contrário ao sentido do campo aplicado. Esse tipo de material também perde o poder magnético sem a presença do campo magnético. São exemplos de materiais diamagnéticos: o bismuto, o cobre e a prata. Os materiais diamagnéticos possuem a permeabilidade relativa um pouco abaixo de 1. Como exemplo, podemos citar o cobre, que tem μr = 0,999991. Observe alguns materiais diamagnéticos: FIGURA 26 – MATERIAIS DIAMAGNÉTICOS FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021. 40 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 3 MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS Os materiais paramagnéticos podem ser definidos como materiais que possuem elétrons desemparelhados e que, na presença de um campo magnético, alinham-se, fazendo surgir um ímã, que consegue aumentar levemente o valor do campo magnético. Eles são fracamente atraídos pelos ímãs e perdem o poder magnético sem a presença do campo magnético externo. Os materiais paramag- néticos possuem a permeabilidade relativa um pouco superior a 1. Um exemplo é o alumínio, que possui μr = 1,000021. São exemplos de materiais paramagnéticos o alumínio, o magnésio e o sulfato de cobre. FIGURA 27 – MATERIAIS PARAMAGNÉTICOS FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021. FIGURA 28 – MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 4 MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS Os materiais ferromagnéticos podem ser definidos como materiais que se imantam fortemente se colocados na presença de um campo magnético, ou seja, após aplicar o campo magnético, por um tempo, sobre o material, e retirá-lo, o material continua produzindo um campo magnético por um período. Além disso, eles alteram fortemente o valor do campo magnético aplicado. São exemplos de materiais ferromagnéticos o ferro, o cobalto e o níquel. FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021. TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 41 As propriedades observadas nos materiais magnéticos são explicadas pela existência dos polos norte e sul no material. Polos iguais se repelem e polos distintos se atraem. A essa configuração de dois polos, denomina-se de dipolo magnético. O dipolo magnético é a grandeza que determina quão forte é o ímã, e a orientação espacial pode ser representada por uma flecha, que aponta do polo sul para o polo norte (UNESP, 2021). As propriedades magnéticas dos materiais têm origem nos átomos, pois quase todos os átomos são dipolos magnéticos naturais e podem ser considerados como pequenos ímãs, com os polos norte e sul. Isso decorre de um somatório de dipolos magnéticos naturais do spin do átomo, com o movimento orbital dos elé- trons ao redor do núcleo, pois esse movimento cria um dipolo magnético próprio. Para cada material, a interação entre os átomos constituintes determina como os dipolos magnéticos dos átomos devem estar alinhados. Sabe-se que dois dipolos próximos e de igual intensidade anulam os efeitos se estiverem alinhados antiparalelamente; somam os efeitos se estiverem alinhados paralelamente. Aten- te-se aos alinhamentos antiparalelo e paralelo, respectivamente, a seguir: Os materiais ferromagnéticos, normalmente, compostos de ferro e de ligas de ferro com cobalto, tungstênio, níquel, alumínio e outros metais, são, de longe, os materiais magnéticos mais comuns. Ainda que esses materiais sejam caracterizados por uma ampla faixa de propriedades, os fenômenos básicos responsáveis pelas propriedades são comuns a todos. IMPORTANT E FIGURA 29 – ALINHAMENTO DOS DIPOLOS MAGNÉTICOS FONTE: UNESP (2021, s.p.) Veja a diferença do alinhamento dos dipolos magnéticos entre os três tipos de materiais: 42 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS FIGURA 30 – ALINHAMENTO DOS DIPOLOS MAGNÉTICOS FONTE: <https://bit.ly/3cTZi3D>. Acesso em: 24 abr. 2021. Anteriormente, definimos a permeabilidade magnética pela Equação (4): A permeabilidade dos materiais magnéticos é muito elevada. Ela pode ser de até 6000 vezes a permeabilidade do vácuo. No Tópico 1, assumimos que a per- meabilidade era constante, independentemente da força magnetomotriz (f.m.m.) aplicada ao material. Embora a permeabilidade seja constante no vácuo, isso não acontece com alguns materiais, como o ferro, e outros que são magnéticos. Para explanar o comportamento da permeabilidade magnética em um mate- rial ferromagnético, aplique uma corrente contínua ao núcleo mostrado na figura a seguir, começando com 0 A e, lentamente, subindo, até a máxima corrente permitida. FIGURA 31 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES PARA AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE EM UM MATERIAL FERROMAGNÉTICO FONTE: Chapman (2013, p. 9) TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 43 GRÁFICO 1 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO DE UM MATERIAL FERROMAGNÉTICO Quando se faz um gráfico do fluxo produzido no núcleo versus a força magnetomotriz que o produz, o resultado é o seguinte: FONTE: Chapman (2013, p. 22) Esse tipo de gráfico é chamado de curva de saturação ou curva de magnetiza- ção. Inicialmente, um pequeno incremento na força magnetomotriz produz um grande incremento no fluxo resultante. Após um determinado ponto, contudo, novos incre- mentos na força magnetomotriz produzem incrementosrelativamente menores no fluxo. No fim, um aumento na força magnetomotriz produz quase nenhuma alteração. A região, no gráfico, onde a curva fica plana, é denominada de região de saturação, e se diz que o núcleo está saturado. Por outro lado, a região onde o fluxo varia rapidamente é denominada de região insaturada ou não saturada da curva, e se diz que o núcleo está não saturado. A região de transição entre a região não saturada e a região saturada é denominada, algumas vezes, de joelho da curva. Na região não saturada, observe que o fluxo produzido no núcleo se relaciona linearmente com a força magnetomotriz aplicada e, na região de saturação, o fluxo se aproxima de um valor constante que independe da força magnetomotriz (DEL TORO, 1994). Um outro gráfico estreitamente relacionado será elencado a seguir. Apre- sentaremos um gráfico da densidade de fluxo magnético B versus intensidade de campo magnético H. 44 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS GRÁFICO 2 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO FONTE: Chapman (2013, p. 22) A Equação (25) mostra que, em qualquer núcleo, a intensidade de campo magnético é diretamente proporcional à força magnetomotriz: Já a Equação (26) diz que a densidade de fluxo magnético é diretamente proporcional ao fluxo: (26) (25) Portanto, a relação entre B e H tem a mesma forma do que a relação entre fluxo e força magnetomotriz. A inclinação da curva de densidade de fluxo versus a intensidade de cam- po magnético, para qualquer valor dado de H Gráfico 2, é, por definição, a perme- abilidade do núcleo para essa intensidade de campo magnético. A curva mostra que a permeabilidade é elevada e relativamente constante na região não saturada e, em seguida, decresce, gradualmente, até um valor bem baixo, à medida que o núcleo se torna fortemente saturado. A lei de Faraday, também conhecida como lei da indução eletromagnética, afirma que a variação no fluxo de campo magnético, através de materiais condutores, in- duz o surgimento de uma corrente elétrica. IMPORTANT E TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 45 5 DOMÍNIOS MAGNÉTICOS Os materiais ferromagnéticos são compostos por um grande número de domínios magnéticos. Estes podem ser visualizados microscopicamente e são re- giões nas quais os momentos magnéticos de todos os átomos estão em paralelo, dando origem a um momento magnético líquido naquele domínio. Observe: FIGURA 32 – DOMÍNIOS MAGNÉTICOS DESALINHADOS (À ESQUERDA) E ALINHADOS (À DIREITA) NO MATERIAL FONTE: Chrischon (2021, s.p.) Em uma amostra não magnetizada do material, os momentos magnéticos dos domínios estão orientados aleatoriamente, e o fluxo magnético líquido resultante do material é zero. Quando uma força magnetizante externa é aplicada ao material, os momentos dos domínios magnéticos tendem a se alinhar com o campo magnético aplicado. Como resultado, os momentos magnéticos dos domínios se somam ao cam- po aplicado, produzindo um valor muito mais elevado de densidade de fluxo do que aquele que existiria devido, apenas, à força magnetizante. Assim, a permeabilidade efetiva μ, igual à razão entre a densidade de fluxo magnético total e a intensidade do campo magnético aplicado, é elevada, em comparação com a permeabilidade do vá- cuo μ0. À medida que a força magnetizante aumenta, esse comportamento continua até que todos os momentos magnéticos estejam alinhados com o campo aplicado. Nesse ponto, eles não podem mais contribuir para o aumento da densidade do fluxo magnético, e se diz que o material está completamente saturado. Na ausência de uma força magnetizante externamente aplicada, os momentos magnéticos tendem a se alinhar naturalmente, segundo certas direções associadas à estrutura cristalina dos domínios, conhecidas como eixos de mais fácil magnetização. Assim, se a força magnetizante aplicada for reduzida, os momentos magnéticos dos domínios se relaxam, indo para as direções de mais fácil magnetização, próximas da direção do campo aplicado. Como resultado, quando o campo aplicado é reduzido até zero, os momentos dos dipolos magnéticos, embora tendendo a relaxar e a assumir as orientações iniciais, não são mais totalmente aleatórios nas orientações. Eles, agora, retêm uma componente de magnetização líquida na direção do campo aplicado. Esse efeito é responsável pelo fenômeno conhecido como histerese mag- nética. Assim, observe um exposto de histerese, muito importante no eletromag- netismo e na conversão eletromecânica de energia. 46 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS FIGURA 33 – CURVA DE HISTERESE MAGNÉTICA FONTE: CONCURSANDO ELÉTRICA (2021, s.p.) O termo histerese é de origem grega e significa “atraso”. INTERESSA NTE 6 HISTERESE Devido ao efeito de histerese, a relação entre B e H, em um material fer- romagnético, é não linear e plurívoca. Se cada valor de z corresponde a mais de um valor de w, dizemos que w é uma função plurívoca de z (RECH; BELTRAME, 2018). Exemplo: w = z ½: função plurívoca (z = - 15 - 8j, w = 1 - 4j ou w = - 1 + 4j). As características do material não podem ser descritas de forma analítica. Mui- tas vezes, são apresentadas em forma de gráficos constituídos por conjuntos de curvas determinadas empiricamente, a partir de amostras de ensaios com os materiais, se- guindo os métodos prescritos pela American Society for Testing and Materials (ASTM). A ASTM compila dados numéricos de uma ampla variedade de materiais magnéticos disponibilizados pelos fabricantes destes. Um problema com o uso de tais dados vem da diversidade dos sistemas de unidades usados. Por exemplo, a magnetização pode ser dada em oersteds ou em ampères-espiras por metro, e a densidade de fluxo magnético em gauss, quilogauss ou teslas. TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 47 Em https://webstore.ansi.org/sdo/astm, você poderá ler mais a respeito da ASTM, além dos padrões técnicos publicados, cobrindo os procedimentos de teste e classi- ficação de materiais de todos os tipos. DICAS A curva mais comum usada para descrever um material magnético é a curva B-H, ou laço de histerese. O primeiro e segundo quadrantes (correspondendo a B ≥ 0) de um conjunto de laços de histerese estão mostrados no Gráfico 3 para o aço M-5, um típico aço elétrico de grão orientado, usado em equipamentos elétricos. Esses laços mostram a relação entre a densidade de fluxo magnético B e a força magnetizante H. Cada curva é obtida, variando-se, ciclicamente, a força magnetizante apli- cada entre valores iguais positivos e negativos de valor constante. A histerese faz essas curvas serem plurívocas. Depois de diversos ciclos, as curvas B-H formam laços fechados. As setas indicam as trajetórias seguidas por B quando H cresce e decresce. Observe que, com um valor crescente de H, as curvas começam a ficar horizontais à medida que o material tende à saturação. Para uma densidade de fluxo em torno de 1,7 T, pode-se ver que o material está muito saturado. Observe que, quando H decresce, desde o valor máximo até zero, a den- sidade de fluxo diminui, mas não até zero. Isso gera o relaxamento das orienta- ções dos momentos magnéticos dos domínios, como descrito. O resultado é que, quando H é zero, uma magnetização remanescente está presente. Para muitas aplicações em engenharia, é suficiente descrever o material através de uma curva simples, obtida pela plotagem dos lugares de valores má- ximos de B e H nas extremidades dos laços de histerese. Essa curva é conhecida como curva de magnetização CC ou normal. Uma curva de magnetização CC, para o aço elétrico de grão orientado do tipo M-5, será mostrada no Gráfico 3. A curva de magnetização de corrente contínua despreza a natureza histe- rética do material, mas exibe, claramente, as características não lineares. 48 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS GRÁFICO 3 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO CC PARA O AÇO ELÉTRICO DE GRÃO ORIENTADO M-5 DE 0,012 POLEGADAS DE ESPESSURA (ARMCO INC.) FONTE:Fitzgerald e Kingsley (2014, p. 21) Confira um vídeo de magnetização e histerese em https://bit.ly/3zFMxDv. DICAS 1º Exemplo: Um núcleo com três pernas será mostrado a seguir. A profundidade é de 5 cm e há 400 espiras na perna central. As demais dimensões serão visualizadas na figura. TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 49 FIGURA 34 – CIRCUITO MAGNÉTICO DE TRÊS PERNAS FONTE: Chapman (2013, p. 60) O núcleo é composto de um aço, cuja curva de magnetização será mostrada no Gráfico 4. GRÁFICO 4 – INTENSIDADE DE CAMPO MAGNÉTICO VERSUS DENSIDADE DE FLUXO (H X B) FONTE: Chapman (2013, p. 60) 50 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS Com base nisso, responda às seguintes perguntas a respeito do núcleo: a) Que corrente é necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,5 T na perna central do núcleo? b) Que corrente é necessária para produzir uma densidade de fluxo de 1,0 T na perna central do núcleo? Essa corrente é o dobro da corrente da parte (a)? c) Quais são as relutâncias das pernas central e direita do núcleo para as condi- ções da parte (a)? d) Quais são as relutâncias das pernas central e direita do núcleo para as condi- ções da parte (b)? e) A que conclusões você pode chegar a respeito das relutâncias dos núcleos mag- néticos reais? Solução: (a) Uma densidade de fluxo de 0,5 T, no núcleo central, corres- ponde a um fluxo total de: Então, por simetria, o fluxo, em cada uma das duas pernas externas, deve ser: A densidade do fluxo nas outras pernas deve ser: A intensidade de magnetização H necessária para produzir uma densida- de de fluxo de 0,25 T pode ser encontrada no Gráfico 4. É 50 A.e/m. Da mesma forma, a intensidade de magnetização H necessária para pro- duzir uma densidade de fluxo de 0,50 T é 75 A.t/m. O comprimento médio da perna central é de 21 cm, e o comprimento médio de cada perna externa é de 63 cm, então, o total de f.m.m. necessário é de: A corrente elétrica requerida é dada por: b) Uma densidade de fluxo de 1,0 T, no núcleo central, corresponde a um fluxo total de: TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 51 Por simetria, o fluxo, em cada uma das duas pernas externas, deve ser: A densidade do fluxo nas outras pernas deve ser: A intensidade de magnetização H necessária para produzir uma densida- de de fluxo de 0,50 T pode ser encontrada no Gráfico 4. É 75 [A·e/m]. Da mesma forma, a intensidade de magnetização H necessária para pro- duzir uma densidade de fluxo de 1,00 [T] é cerca de 160 [A·e/m]. Portanto, a f.m.m. total necessária é de: A corrente requerida é: Esta corrente não é duas vezes a corrente do item (a). c) A relutância da perna central do núcleo, nas condições da parte (a), é: A relutância da perna direita do núcleo, nas condições da parte (a), é de: d) A relutância da perna central do núcleo, nas condições da parte (b), é de: A relutância da perna direita do núcleo nas condições da parte (b) é de: e) As relutâncias em núcleos magnéticos reais não são constantes. 52 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS 2º Exemplo: Seguem um núcleo magnético de duas pernas e um entreferro: FIGURA 35 – CIRCUITO MAGNÉTICO SIMPLES FONTE: Chapman (2013, p. 61) GRÁFICO 5 – CURVA DE MAGNETIZAÇÃO FONTE: Hayt e William (1978, p. 22) A profundidade do núcleo é de 5 cm, o comprimento do entreferro do núcleo é de 0,05 cm e o número de espiras no núcleo é de 1.000. A curva de mag- netização do material do núcleo será analisada no Gráfico 5. TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 53 Assume um incremento de 5% na área efetiva do entreferro para compen- sar o espraiamento. Quanta corrente é necessária para produzir uma densidade de fluxo no entreferro de 0,5 T? Quais são as densidades de fluxo dos quatro lados no núcleo com essa corrente? Qual é o fluxo total presente no entreferro? Solução: Uma densidade de fluxo de entreferro de 0,5 T requer um fluxo total de: Esse fluxo requer uma densidade de fluxo na perna direita de: A densidade de fluxo, nas outras três pernas do núcleo, é dada por: A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,5 T no entreferro poderá ser encontrada na equação a seguir: Então: A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,524 T, na perna direita do núcleo, poderá ser encontrada no Gráfico 5: A intensidade de magnetização necessária para produzir uma densidade de fluxo de 0,262 T, nas pernas superior, esquerda e inferior do núcleo, pode ser encontrada no Gráfico 5: A força magnetomotriz total para produzir um fluxo é de: 54 UNIDADE 1 — CIRCUITOS MAGNÉTICOS E MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS A corrente elétrica solicitada é de: As densidades de fluxo nos quatro lados do núcleo e o fluxo total presente no entreferro foram calculados. TÓPICO 3 — MATERIAIS MAGNÉTICOS E CARACTERÍSTICAS 55 LEITURA COMPLEMENTAR BANCADA PARA ENSAIOS DE MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS EM CHAPA ÚNICA SOB CAMPOS ROTACIONAIS Pedro Armando da Silva Júnior Nas últimas décadas, tem-se notado um crescimento vertiginoso da área tecnológica. Novos materiais, processos produtivos e produtos disputam um mer- cado consumidor cada vez mais competitivo. Nesse aspecto, produtos de melhor qualidade, a baixo custo de produção, são fontes de investimento em pesquisa e em desenvolvimento tecnológico. No setor elétrico, além dos aspectos levantados anteriormente, dá-se especial atenção ao estudo do rendimento dos produtos e à utilização adequada dos materiais. A eficiência energética é um tema de destaque na atualidade, seguindo uma tendência de se tornar cada vez mais importante na medida em que os recursos não renováveis se extinguem ou as explorações são normatizadas com regras cada vez mais restritivas. Os produtos e os equipamen- tos elétricos empregam uma grande parcela de materiais ferromagnéticos. Uma característica desejável desse material é que não tivesse saturação do número de linhas de fluxo possíveis que atravessam seções transversais do circuito magné- tico, além de que a alternância desse fluxo não causasse perdas energéticas. Isso tem motivado várias pesquisas na área de ciência dos materiais. Todavia, para a aplicabilidade dos materiais em equipamentos elétricos, são necessários modelos que representem, de maneira mais precisa, o comportamento das várias grande- zas eletromagnéticas em questão. Há, na comunidade científica, vários trabalhos publicados que buscam representar, de maneira adequada, a curva de magneti- zação e o efeito de histerese do material na presença das mais variadas formas de indução. O processo de modelagem tem, como objetivos finais, a obtenção e o desenvolvimento de modelos e de ferramentas de cálculos numéricos e/ou pro- cedimentos de obtenção dos parâmetros utilizados nos programas de simulação destinados à análise, concepção e projeto de dispositivos eletromagnéticos. Os materiais ferromagnéticos têm sido caracterizados pela relação entre as grandezas indução e campo magnético e, por simplicidade, considera-se que são paralelas entre si, recaindo-se em um modelo de histerese escalar. Nesses casos, as perdas energéticas são obtidas em uma caracterização sob magnetização em uma só direção. Contudo, em certas regiões de máquinas rotativas e nas juntas em “T”, de núcleos de transformadores trifásicos, a indução magnética não é paralela ao campo, aumentando as perdas energéticas nesses pontos. Para essas aplicações, nas quais a indução magnética é rotacional, os modelos escalares são imprecisos. Alguns pesquisadores já trabalham com a modelagem vetorial da histerese. Têm-se encontrado resultados interessantes, mas, na sua maioria, esbarram na falta de uma modelagem de perdas, segundo uma lei válida para o caso geral. Acredita-se que o primeiro passo para o desenvolvimento de uma modelagem geral e eficiente seja a obtenção de parâmetros confiáveis, provenientes da experimentação destinada a esse fim. Outro aspecto,
Compartilhar