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Ética Profissional Unidade 2a 1ª edição 2019 Ética Profissional Produção do Material Didático - Pedagógico Delinea Tecnologia Educacional Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Gestão de Produção Camila Sayury Nakahara Coordenação de Produção Fátima Satsuki de Araujo Iino Professor Conteudista Antônio Feliciano Design Educacional Gabriela Souza Mônica Guarezil Coordenação de Design Gráfico Edison Valim Projeto Gráfico Hortência Granair Diagramação Bruna Flôr Sumário 3.1 O Ser Humano nas Organizações ............................................................ 7 3.2 Ética e Profissão ................................................................................... 12 3.3 Valores, Responsabilidades e Deveres Individuais e Coletivos nas Organizações ............................................................................................. 14 6 Unidade 2a Ética e Profissão Para iniciar seus estudos As empresas se configuram como estruturas sociais, sendo uma extensão da sociedade. As normas legais a que são submetidas refletem esse aspecto, mas também suas próprias regras de compor- tamento têm ampla relação com a conduta das pessoas em seus grupos sociais. Valores, crenças, metas, objetivos, visão e missão, entre outros, são elementos que apresentam deveres, direitos e res- ponsabilidades, estabelecendo o que a empresa pretende ser e o que ela espera das pessoas. O trabalho é um dever social e sua prática, distante do que muitos podem pensar, não tem relação única e exclusivamente com a ideia de produção e acúmulo de bens materiais. O trabalho promove desenvolvimento e equilíbrio na sociedade, e possibilita às pessoas relacionamentos com novos gru- pos sociais. Nesta unidade, você vai perceber que no ambiente de trabalho pequenos gestos ou ações podem significar uma perigosa ruptura ou podem render grande admiração dos colegas. Veremos alguns aspectos relacionados ao comportamento das pessoas nas empresas, principalmente no tocante ao uso de sua infraestrutura, e os códigos de comunicação; o relacionamento entre colaborador e insti- tuição, e entre as pessoas e os grupos que se formam nas organizações. Além disso, abordaremos a ética profissional, a virtude e os deveres, elementos que delineiam o comportamento das pessoas no ambiente corporativo. Boa leitura! Objetivos de Aprendizagem • Apresentar a ética como elemento basilar do comportamento humano das organizações. • Identificar aspectos que determinam o comportamento das pessoas no ambiente de trabalho. 7 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética 3.1 O Ser Humano nas Organizações As pessoas são fundamentais para o desenvolvimento das empresas, pois aprendem, agregam e con- tribuem com suas competências, habilidades e atitudes, ampliando a capacidade competitiva das organizações. Dessa forma, você deve partir da ideia de que sem as pessoas, as organizações não alcançam a alme- jada sustentabilidade e não conseguem sobreviver. É importante que se compreenda que, ao fazer parte de uma empresa para desenvolver suas atividades profissionais, o indivíduo precisa comportar- -se conforme o elemento social “empresa” concebe como necessário e correto. Por isso as empresas definem atividades, procedimentos e processos, para que cada pessoa saiba qual seu papel nessa estrutura e o que a empresa espera da sua conduta. Enquanto estrutura social, Sá (2010, p. 169) considera que “[...] todas as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão são deveres éticos”. Nesse sentido, surge aqui a combinação entre necessidades individuais e deveres e responsabilidades institucionais. Além do conflito de valores, as pessoas precisam compreender que todas as ações no âmbito orga- nizacional precisam convergir com o negócio, portanto, são racionais, objetivas e com propósitos definidos. Não queremos dizer com isso que não existe subjetividade nas tomadas de decisão, mas convenhamos, se o negócio é que gera sustentabilidade à organização, então por que ela agiria dis- tante do seu negócio? A Figura 3.1 apresenta o símbolo máximo da racionalidade e capacidade subjetiva humana, o cérebro, que representa, ao mesmo tempo, a razão e a emoção. Figura 3.1: Cérebro Humano: razão e emoção Fonte: Plataforma Deduca (2018). 8 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética Por meio do cérebro conseguimos distinguir entre certo e errado e entre bem e mal, além de outros aspectos ligados à ética e à moral, amplamente trabalhados pelas empresas com o fim de manter seus colaboradores focados e contribuindo continuamente para a expansão do negócio. Na posição de colaborador de uma empresa, possivelmente você não perceberá mal algum em usar o computador e a impressora para elaborar e imprimir um tra- balho da faculdade. Mas inverta os papéis e imagine você na figura de proprietário da empresa: será que essa percepção se manteria? Lembre-se que a Ética não deve ser aplicada convenientemente. Reflita Imprimir um trabalho particular na impressora da empresa, usar o tempo do expediente para se dedi- car às atividades de foro privado: são muitas as ações que podem ser vistas por diferentes atores como éticas ou antiéticas. Isso depende do papel que se cumpre na empresa e da sua visão de mundo, entre outros fatores. Para evitar situações constrangedoras, as empresas costumam elaborar manuais de procedimentos e condutas, objetivando nivelar o comportamento das pessoas no ambiente de trabalho, tornando coletivo o conhecimento sobre os valores e as práticas éticas, o que preserva a imagem da empresa. Dentre as diversas responsabilidades das empresas, uma delas é a de oferecer total condição para que seu colaborador desempenhe ao máximo suas atividades. Dessa forma, disponibiliza computa- dor, impressora, caneta, lápis, veículo, telefone, mesa, entre outros instrumentos usados diariamente nas atividades laborais. Do seu lado, o colaborador deve - ou deveria - saber que tais materiais devem ser usados somente em suas atividades no trabalho. Bennett (2014, p. 43) considera que “[...] o aumento do uso da tecnologia no local de trabalho nos últi- mos vinte anos trouxe novas preocupações e exige que decisões éticas sejam tomadas”. A mesa ou estação de trabalho é reconhecida como o espaço reservado do profissional, sendo con- siderada, desde que guardadas as devidas proporções, como o seu espaço íntimo na organização, o lugar da empresa com o qual ele melhor se identifica. Convenhamos, sem autorização nenhum colega vasculhará as gavetas à procura de algo, mesmo que seja um documento importante para a empresa. Nas gavetas, além de material relativo ao trabalho, as pessoas costumam guardar objetos de uso par- ticular, e em muitos casos, documentos pessoais. Isso ilustra bem a noção de ética no ambiente de trabalho. A empresa tem o direito de abrir as gavetas de qualquer mesa de sua propriedade e em suas dependências, mas o bom senso, a moral e a ética são a regra da boa convivência que faz com que as pessoas não mexam no espaço dos colegas. Con- vém destacar que o profissional deve ter o entendimento de que aquele espaço que ocupa não é de fato seu, mas da empresa. Veja esse caso de como uma pessoa pode tomar para si algo que não é seu, fazendo uso incorreto de um instrumento destinado apenas para suas atividades profissionais. Um deputado federal brasileiro foi flagrado no plenário, em sessão legislativa, assistindo a um vídeo pornográfico com um aparelho celular da Câmara dos Deputados. Tudo indica um ato, no mínimo, antiético, mas a autoridade parla- mentar não sofreu punição, sequer foi repreendido pela instituição, e assim, com base em seu com- portamento, não se sentiu constrangido. Entretanto, sabemos que eticamente sua atitude deveria ser 9 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética reprovada pela instituição, cabendo uma advertência formal para que esse tipo de comportamento não volte a se repetir, por encontrar-sedistante dos princípios organizacionais. Além disso, por ser uma figura pública e estar de posse de um bem público, deveria também desculpar-se com contri- buinte pelo erro cometido. A imagem de uma empresa é influenciada pela conduta de seus colaboradores e, sendo assim, os instrumentos de comunicação institucional podem ser utilizados somente para fins laborais, como por exemplo o e-mail institucional, o telefone e todos os demais instrumentos disponibilizados pela empresa para o exercício da profissão. Figura 3.2: Uso de instrumentos de comunicação institucional Fonte: Plataforma Deduca (2018). O telefone é um dos importantes canais de comunicação de qualquer empresa, portanto deve estar claro para todos os colaboradores os procedimentos para seu uso, assim como dos demais instru- mentos. Você vai concordar que alguns procedimentos são básicos ao se usar um telefone, como, por exemplo, fazer uma saudação cordial e identificar-se pelo nome e local de trabalho ao atender uma ligação. Essa postura deve ser adotada para ligações externas ou internas, pois, especialmente em empresas de grande porte geralmente os colaboradores não se conhecem, sendo então reconhecidos pelo número de matrícula e o departamento em que atuam. “Respeite para ser respeitado” é regra fundamental a ser seguida nesses casos, pois é grande a chance de um colaborador manter contato, seja por e-mail ou telefone, com alguém que ele não conheça, seja do ambiente interno ou do externo. Por isso, ser cordial, atender as pessoas com respeito e ética e ser claro e objetivo na informação são comportamentos essenciais para qualquer pessoa ou empresa. Para evitar problemas maiores na comunicação interna e externa, é comum que as empresas criem seus planos de comunicação, indicando, entre outros, formas de redigir documentos, postura em reu- niões, uso da internet, e-mail, telefone, uso de documentos institucionais, entre outros. As regras de conduta nas empresas são importantes para que se evite ao máximo o efeito das fofo- cas e boatos, isto é, a ação das pessoas que enxergam os aspectos negativos em vez dos positivos em qualquer evento. Você sabe que toda empresa possui a “rádio peão”, e é comum também que as empresas ou equipes de trabalho tenham em seu círculo os sabotadores silenciosos, que atuam sem- 10 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética pre visando desagregar, confundir e semear a discórdia, fazer oposição a qualquer comunicação da empresa, boicotar pessoas, entre outros comportamentos nocivos. Para Bennett (2014, p. 63), Um sabotador silencioso é aquele cujos jogos sutis e subversivos podem de fato prejudicar os relacionamentos de trabalho, a produtividade, a satisfação com o emprego e a confiança nos colegas. Bennett (2014) adiciona que os sabotadores silenciosos comumente agem da seguinte forma: • Guardam consigo informações úteis ao trabalho; • Assumem o crédito por alguma tarefa feita por outra pessoa; • Não expressam reconhecimento e apreciação aos colegas quando fazem algum trabalho dife- renciado; • Perdem tempo em atividades não produtivas para os projetos. Os sabotadores silenciosos são mais comuns do que se imagina; poucas empresas não têm os seus. Sob o ponto de vista ético, evidentemente que as ações dos sabotadores silenciosos são condenáveis, por isso, dependendo do perfil da empresa, eles não prosperam, e quando descobertos são demitidos. Os planos de comunicação e outros documentos institucionais costumam apresentar diversos aspec- tos das relações entre as pessoas nas empresas, em especial, aqueles aspectos que envolvem os relacionamentos entre líderes e liderados, entre supervisores e empregados e de colaboradores que têm relações de trabalho, mas estão em diferentes níveis hierárquicos. Gerentes, chefes e supervisores que praticam atos antiéticos costumam tentar de alguma forma corromper alguns dos seus coman- dados. Uma das formas mais comuns de identificar esse fato é verificar o tratamento diferenciado do chefe para com os seus comandados. Nesse caso, é possível perceber que com alguns são aplicadas as regras institucionais, até com certo grau de autoritarismo, enquanto que para outros há regalias. A Figura 3.3 ilustra a postura antiética e autoritária de um chefe em relação ao colaborador. Figura 3.3: Chefe autoritário Fonte: Plataforma Deduca (2018). 11 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética A pior coisa que pode acontecer a uma equipe de trabalho é ter alguém que atua como “leva e traz” para o chefe. Esse tipo de atitude gera desconfiança e revolta na equipe; costuma desagregar, desmo- tivar e comprometer a produtividade da equipe e da empresa. Outra prática recorrente, mas absolutamente condenada pelas empresas, é o assédio sexual. Muitas pessoas investidas de cargos fazem uso da sua posição hierárquica para se aproveitarem desse tipo de situação. Além de constar como comportamento inadequado nos códigos de conduta das empre- sas, o assédio sexual é crime especificado no Código Penal Brasileiro. A Lei Federal nº 10.224, de 15 de maio de 2001, em seu artigo 216A, diz que assédio sexual é constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena: detenção de um a dois anos. A Lei 10.224 altera o Decreto-lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Leia ambos e observe as alterações, pois elas refletem a evolução da percepção da sociedade em relação ao tema. Saiba mais As diferenças entre essas normativas expõem claramente a evolução da sociedade em relação ao tema, requerendo, no atual momento, novas condutas das empresas e de seus colaboradores. Relações íntimas ou romances no local de trabalho são indesejados pelas empresas, pois pessoas que mantêm relações afetivas no local de trabalho tendem a se proteger mutuamente, podendo esse sentimento de proteção prejudicar o desempenho e alterar negativamente a conduta dos envolvidos. A Figura 3.4 ilustra uma atitude pouco convencional para os padrões éticos no ambiente de trabalho. Figura 3.4: Atitude Antiética Fonte: Plataforma Deduca (2018). 12 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética As empresas investem para que as pessoas tenham, no seu local de trabalho, relações positivas, éti- cas e iguais, que sejam capazes de solidificar o ambiente organizacional. Por isso, atualmente elas procuram eliminar problemas como esses, criando processos institucio- nais que, dependendo a situação, são tratados somente pela cúpula da empresa, sem a participação da gerência média. Um exemplo disso são os canais de reclamação dos empregados em relação à conduta dos chefes. Após encaminhados, os relatos são apreciados e debatidos entre os principais executivos. Deve-se destacar que as reclamações dos colaboradores em relação aos seus superiores não se limitam ao campo do assédio sexual, tratando também da falta de comprometimento e outras atitudes antiéticas, que sob o ponto de vista empresarial comprometem o desempenho do negócio. Bennett (2014, p. 94) argumenta com muita propriedade que “[...] a mais inocente das intenções pode dar origem a situações complicadas, que exigem processos legais para serem resolvidas”. O que se percebe é que atualmente as ações individuais podem, de fato, comprometer a imagem organizacional e criar rupturas internas, influenciando negativamente o comportamento das equipes, o que afeta o resultado da empresa. Por isso, normatizar o comportamento das pessoas no ambiente organizacional continua sendo uma das estratégias mais utilizadas para coibir condutas antiéticas. 3.2 Ética e Profissão Antes de evoluirmos no tópico, você deve perceber que cada profissão requer habilidades e conheci- mentos próprios, pois cada qual possui atividades específicas. Sá (2010, p. 155-156) considera que: A profissão, como a prática habitual de um trabalho, oferece uma relação entre necessidade e utilidade, no âmbitohumano, que exige uma conduta específica para o sucesso de todas as par- tes envolvidas, quer sejam os indivíduos diretamente ligados ao trabalho, quer sejam os grupos, maiores ou menores, onde tal relação se insere. As empresas têm em seu escopo ético o padrão de conduta desejado pela sociedade, assim alguns comportamentos são considerados e facilmente reconhecidos por toda a sociedade como éticos ou antiéticos, pois têm um caráter universal. Apesar disso, as especificidades dos comportamentos dos profissionais são caracterizadas em instrumentos normativos, geralmente conhecidos como códigos de ética. O que dizer de um médico que ignora os protocolos definidos para procedimentos em sua profissão, negligenciando-os, cometendo erro grave com seus pacientes? Como um comitê de ética deve agir contra um advogado que, ao mesmo tempo, defende o réu em um processo e serve ao autor do processo com informações rele- vantes? Reflita 13 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética Em uma relação comercial há necessidade de haver confiança entre as partes. Essa relação tem início quando ocorre uma demanda por parte do consumidor, que, via de regra, deposita fé no profissional que atende seu chamado. Segundo Sá (2010), no relacionamento comercial ético, especialmente por parte do profissional, há necessidade da observância de alguns aspectos: 1. O uso de franqueza com o cliente; 2. Ouvir atentamente o cliente, estabelecendo uma comunicação resolutiva; 3. Usar de objetividade e transparência nas respostas às dúvidas ou demandas do cliente. A não observância desses aspectos pode levar à dissolução da relação por meio do rompimento con- tratual, evidentemente após a constatação de práticas antiéticas. Ser respeitoso com os pares de trabalho, com os colegas de profissão é fundamental para qualquer profissional, pois é por meio da ética que as equipes de trabalho se mantêm coesas e motivadas, e além de fortalecer as relações pro- fissionais no ambiente de trabalho, é salutar para as relações pessoais. A Figura 3.5 ilustra a harmonia entre os membros de uma equipe de trabalho, cujos resultados para a empresa certamente estarão dentro das expectativas. Figura 3.5: Equipe em harmonia Fonte: Plataforma Deduca (2018). Parece óbvio, mas esses são aspectos que as pessoas aprendem desde cedo, pois o respeito ao outro faz parte da cultura e da moral social, portanto trata-se de uma prática ética universal. Mesmo assim, geralmente os códigos de ética profissional reforçam esses elementos, fazendo o profissional perce- ber com clareza que não está sozinho em seu negócio ou em uma empresa, mas sim, que seu trabalho alcança as pessoas, e que seus clientes dependem dos serviços prestados e da confiança depositada. 14 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética Sá (2010, p. 238) considera que: Objetivamente, perante sua comunidade, o profissional tem deveres diversos, mas basicamente o de sustentar a estrutura de organização da comunidade à qual se vincula, protegendo o conceito desta e o mantendo sempre elevado e protegido. Por isso, os códigos de ética e os comitês de ética profissional atuam com o fim de manter os aspectos legais e éticos dentro dos padrões estabelecidos, e também para que a classe profissional tenha uma boa imagem perante a sociedade, merecendo seu respeito. Havemos de concordar que todo profis- sional ingressa em uma carreira com expectativas, planos e interesses sociais, e esses são aspectos legitimados e reconhecidos pelas classes. Sendo assim, o entendimento geral estampado nos códi- gos de ética profissional considera essas possibilidades, não permitindo que os interesses pessoais se posicionem acima da ética do profissional ou do coletivo. 3.3 Valores, Responsabilidades e Deveres Individuais e Coletivos nas Organizações O local de trabalho é um ambiente social, isto é, não é um espaço em que as pessoas apenas exercem atividades de produção de bens materiais ou serviços. Sendo assim, nesse ambiente há múltiplas relações e sentimentos que afloram diariamente, dependendo das situações. Na Figura 3.6 são apresentadas dicotomias de sentimentos presentes no espaço de trabalho. Figura 3.6: Sentimentos presentes no espaço de trabalho Frustração X Satisfação Egoísmo X Solidariedade Desejo de Vingança X Amizade Medo X Coragem Pertencimento X Isolamento Alegria X Tristeza Esperança X Descrença Amor X Ódio Sentimentos Fonte: Elaborada pelo autor (2018). 15 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética A dimensão da complexidade do ambiente social que é o espaço de trabalho pode ser claramente per- cebida na variação de sentimentos individuais e, por vezes, coletivos. Afinal de contas, nesse ambiente há pessoas vindas de diferentes ambientes sociais, que precisam manter intensas e continuadas rela- ções entre si, provocando mudanças comportamentais e ampliando a complexidade do ambiente. O relacionamento entre as pessoas e as organizações ocorre de várias formas. Sob o ponto de vista da ética e da moral, esses relacionamentos ocorrem formal e objetivamente e informal e subjetivamente, havendo, sobretudo, uma relação de troca e compartilhamento, constante e continuada. A troca pode ocorrer no ato de compra e venda de um produto ou serviço, ou ainda na prestação de serviços de um funcionário, que emprega seus esforços e habilidades na empresa, em troca de uma remuneração. O compartilhamento pode ocorrer de várias formas: nos elogios aos produtos e serviços feitos pelos clientes, pelo uso comum de logística entre a empresa e um fornecedor, ou ainda, pelo uso de conheci- mentos dos colaboradores nos processos produtivo, consultivo e criador; enfim, em vários processos do negócio da empresa. Independentemente do tipo de relacionamento que uma empresa tem com as pessoas, todos pos- suem responsabilidades e deveres. As pessoas que são contratadas para atuar em uma empresa, têm o conhecimento técnico sobre as atividades que irá executar, e também devem ter ciência dos valores que guiarão sua conduta no ambiente organizacional. Você sabe que as organizações são diferentes umas das outras, e que as profissões também o são. Seria muito simples para qualquer pessoa fazer a escolha por uma profissão, seja um engenheiro químico, cientista social, contador, economista ou administrador de empresas, por exemplo. A com- plexidade reside no fato da pessoa reconhecer que há peculiaridades em qualquer atividade, e é seu dever conhecê-las. As frustrações com as profissões surgem justamente em função do indivíduo não conhecer amplamente o escopo de tarefas da profissão escolhida e, com isso, não ocorre a relação prazerosa com o ofício da profissão. Sá (2010, p. 169), afirma que: A profissão não deve ser um meio, apenas, de ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela pro- porciona, representando um propósito de fé. Seus deveres, nesta acepção, não são imposições, mas vontades espontâneas. Isto exige, portanto, que a seleção da profissão passe pela vocação, pelo amor ao que faz, como condição essencial de uma opção. Essa afirmação de Sá (2010) é relevante, sobretudo do ponto de vista ético, na medida em que ao atuar em uma profissão com vontade, motivação e amor, certamente a pessoa estará atuando com zelo, procurando o conhecimento sobre as tarefas da profissão. Evitará, assim, erros nas atividades, que se configuram como o mais perigoso problema que uma pessoa ou empresa pode ter. Trabalhos mal feitos mancham a imagem de um profissional ou de uma empresa, acarretando problemas maio- res como: processos judiciais, perda de clientes, perda de espaço no mercado e falta de confiança na marca, entre outros. Para evitar problemas, as empresas procuram profissionais que demonstram possuir capacidades básicas para o exercício profissional. Sá (2010) destaca algumas dessas capacidades, como: abne- gação, aptidão, caráter, coerência, criatividade, determinação, disciplina, eficácia, eficiência, empenho, espontaneidade, fidelidade, firmeza,honestidade, lealdade, objetividade, parcimônia, perseverança, pontualidade, prudência, receptividade, sensibilidade, sinceridade, temperança, tolerância, zelo. Evidentemente que cada uma dessas capacidades traz deveres a serem cumpridos pelas pessoas em relação aos seus múltiplos relacionamentos e responsabilidades no âmbito da vida profissional. Para Cunha (2012, p. 138), “[...] só é dever o que aparece como necessitante perante a consciência 16 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética pessoal”. Por isso, na visão desse autor, existe uma diferença determinante entre dever e obrigação. O dever satisfaz, enquanto a obrigação é executada por força externa e muitas vezes não satisfaz, nem mesmo motiva, por implicar em uma relação de subordinação. Cunha (2012, p. 137), destaca que “[...] não existe sentimento de obrigação, enquanto é muito comum falar-se em sentimento do dever”. A confusão entre dever e obrigação é bastante comum, mas quando você compreende que existem esferas do dever, percebendo-as em suas práticas diárias, fica mais fácil de entender as sutis diferen- ças entre esses termos. Na visão de Cunha (2012) existem duas esferas dos deveres: os particulares e os corporativos. Os particulares têm relação com a expressão “lição de casa”, isto é, são as tarefas que cumprimos em nossa vida privada, como, por exemplo, fazer os trabalhos escolares. Os deveres corporativos estão no plano profissional, como os relativos ao cargo de presidente de uma empresa ou entidade de classe. Por certo, todas as pessoas que escolhem bem sua profissão e estão convictos da sua vocação, ten- dem a ser felizes e realizadas. Sendo assim, são pessoas mais produtivas do que aquelas que não souberam explorar suas virtudes. Cortina e Martinez (2013) classificam as virtudes em dois grupos: 1) Virtudes intelectuais; 2) Virtudes éticas. As virtudes intelectuais são: inteligência, ciência e sabedoria; as virtudes éticas são: justiça, veraci- dade, amabilidade, magnificência. Essas virtudes estão presentes nas pessoas. Entretanto, algumas pessoas sabem potencializá-las, e isso é possível, na medida em que cada indivíduo amplia sua visão de mundo e seus relacionamentos sociais, e até mesmo os conflitos de valores contribuem para que isso aconteça. Você não deve ter dúvidas de que as pessoas, isto é, todos os indivíduos que, de alguma forma, man- tém relações com as empresas, são a verdadeira fonte do conhecimento e da competitividade de qual- quer organização. Por isso, todos os aspectos que envolvam a ética no âmbito organizacional devem ser tratados com a maior seriedade, tanto quanto as estratégias dos negócios organizacionais o são. Como saber se ao entrar em uma loja um cliente efetuará uma compra volumosa, uma compra modesta ou sairá apenas com uma informação? Por desconhecer a potencialidade dos clientes, toda empresa deve ter uma política de ética no aten- dimento às pessoas, evitando julgamentos superficiais por condição econômica e social. Faz parte de qualquer negócio diferenciar o atendimento aos clientes? Reflita Parece inimaginável que uma empresa faça distinção entre seus clientes, mas isso ocorre rotineira- mente no comércio, na indústria e em qualquer outro ramo empresarial, tanto no setor privado como no público. Certamente você deve se lembrar de muitas situações em que esse tipo de fato tenha ocorrido, mas deixemos claro, trata-se de uma postura antiética da empresa e das pessoas que come- tem essas práticas. 17 Ética Profissional | Unidade 2a - Ética Passos (2007) adverte que as empresas devem ter práticas humanistas em relação às pessoas com quem interage. Isso significa conceber seu negócio tendo por base que seu valor principal é o ser humano. A ética e a moral permeiam todas as relações estabelecidas no ambiente organizacional, fazendo parte, consciente ou inconscientemente, da prática das pessoas. Por isso que cada qual deve ter clareza do seu papel nesse ambiente social, para então agir conforme as regras da profissão e da empresa, cumprindo suas responsabilidades e seus deveres. 18 Referências BENNET, C. Ética profissional. Rio de Janeiro: Ed. Cengage, 2014. CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2013. CUNHA, S. S. da. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012. PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007. SÁ, A. L. de. Ética profissional. São Paulo: Atlas, 2010.