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AVALIAÇÃO DE EM PRESAS ELSON HAZELSKI TEIXEIRA Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6662-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 6 2 9 ELSON HAZELSKI TEIXEIRA Código Logístico 59505 Avaliação de empresas Elson Hazelski Teixeira IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: AMatveev/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ T265a Teixeira, Elson Hazelski Avaliação de empresas / Elson Hazelski Teixeira. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 134 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6662-9 1. Administração financeira. 2. Empresas - Avaliação. I. Título. 20-64548 CDD: 658.15 CDU: 658.15 Elson Hazelski Teixeira Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Especialista em Qualidade e Produtividade pela FAE Business School. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Foi coordenador do comitê gestor de Investimento e Crédito do Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas. Integrou o Fórum Permanente responsável pela implantação e regulamentação da Lei Estadual das Micro e Pequenas Empresas. Foi responsável pela remodelação e gestão do programa de capacitação de Agentes de Crédito da Fomento Paraná. Foi membro do Conselho Temático da Micro, Pequena e Média Indústria na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Integra o corpo técnico da Agência de Fomento do Paraná. É professor em cursos de graduação e pós-graduação. Atua, desde 1984, no mercado financeiro em instituições de grande porte, nacionais e multinacionais. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Fundamentos da avaliação de empresas 9 1.1 Fontes para o crescimento da empresa 10 1.2 Risco e retorno 21 1.3 Métodos de avaliação 26 2 Medidas de desempenho do negócio 30 2.1 Resultado Operacional e EBITDA 30 2.2 A importância da liquidez 37 2.3 Margem Operacional e endividamento 41 2.4 Retorno sobre ativos e Patrimônio Líquido 47 3 Criação de valor para a empresa 52 3.1 Principais fundamentos de EVA® 53 3.2 Cálculo do EVA® 55 3.3 Criação de valor para a empresa 58 4 Custo de capital 65 4.1 Custo de capital próprio 66 4.2 Custo de capital de terceiros 81 4.3 Custo médio ponderado de capital (WACC) 84 5 Métodos de avaliação de empresas 90 5.1 Fluxo de Caixa Descontado 90 5.2 Fluxo de Caixa Livre (FCL) 106 5.3 Firm Value 114 Gabarito 121 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Em minha extensa vida profissional no mercado financeiro, em gestão de empresas e como professor universitário, o tema avaliação de empresas sempre esteve entre os de maior interesse de todos e entre os mais complexos. Como saber se o valor a ser investido na empresa é adequado? Qual é o potencial retorno de certo tipo de investimento? Vale a pena entrar na sociedade de determinada empresa? Esta obra procura trazer respostas a essas perguntas. Para tanto, ela foi dividida em cinco capítulos; a intenção é proporcionar a você uma trajetória de conhecimento que tem como ponto de partida, já no Capítulo 1, a compreensão de que uma empresa é criada para ser perpétua e para crescer a cada ano. Reinvestir lucros, tomar empréstimos bancários, buscar novos sócios ou investidores são fontes de crescimento para as empresas. O Capítulo 1 também mostrará como o risco influencia a tomada de decisão em investimentos. O risco faz parte da natureza dos negócios, por isso demonstramos que uma análise baseada em indicadores traz mais segurança sobre o potencial retorno versus o risco percebido. Com a compreensão do contexto de crescimento da empresa – baseado em um risco de negócio percebido e na identificação de um retorno livre de riscos esperado para o investimento –, temos a base para nos aprofundarmos no estudo sobre os métodos de avaliação de empresa. Nesse sentido, o Capítulo 2 fornece conhecimentos para a utilização de indicadores econômico-financeiros na avaliação empresarial. Os indicadores, vale ressaltar, são fundamentais para entender a realidade em que a empresa se apresenta, suas medidas de performance, lucratividade, retorno e endividamento. Os mais utilizados em avaliação de empresas são o Ebitda, o Retorno sobre o Ativo e sobre o Patrimônio Líquido e os indicadores de Liquidez. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Avaliação de empresas Naturalmente, imaginamos que o resultado de uma empresa é medido pelo lucro que ela apresenta: se ela dá lucro, a empresa está indo bem; se há prejuízo, ela está indo mal. Desse modo, abordamos no Capítulo 3 o conceito de criação de valor para a empresa, o qual pode evidenciar que a medida de lucros obtidos pode não ser suficiente para remunerar os sócios e investidores na medida esperada. A medida do lucro, importante destacar, é a base para a criação de valor. Justamente por essa razão é necessário identificar em que ponto o lucro atingido é suficiente para remunerar o investimento dos sócios e acionistas, se o resultado compensou o risco do investimento ou se o resultado ficou abaixo das expectativas. No Capítulo 4, já conscientes de que a empresa é criada para gerar riqueza, de que existe um risco assumido pelos sócios na condução dos negócios e de que os resultados são acompanhados por indicadores, vamos constatar que “dinheiro” possui um custo e que esse custo é diferente dependendo da fonte desses recursos. O chamado custo do capital próprio (dinheiro dos sócios) é medido por fatores relacionados aos riscos ocasionados pela migração de um investimento mais seguro para um mais arriscado – no caso, a empresa –, e que esse esforço de investimento requer uma recompensa, denominada prêmio de risco. Já o capital de terceiros, tipicamente de bancos, possui um custo de captação determinado pelo mercado financeiro (taxas de juro de empréstimos e financiamento). O que definirá o custo de capital total será a estrutura patrimonial da empresa. Os assuntos abordados do Capítulo 1 ao 4 serão postos em prática no Capítulo 5 para apurar o valor de uma empresa por meio da metodologia do Fluxo de Caixa Descontado. A avaliação deve considerar que a performance futura de uma empresa, baseada em estratégias empresariais a serem adotadas, gerará anualmente fluxos de caixa que mostrarão as projeções realizadas. Além disso, vamos estudar sobre o Fluxo de Caixa Livre, o qual representa o valor efetivamente à disposição da empresa para executar suas atividades operacionais, calculados a Valor Presente, juntamente com o Custo de Capital, que nos trará como resultante o valor de avaliação da empresa. Bons estudos! Fundamentos da avaliação de empresas 9 1 Fundamentos da avaliação de empresas O século XXI trouxe mudanças acentuadas no comportamento das pessoas em relaçãoao consumo de bens e serviços. Empresas que eram tidas como pedras fundamentais de seus setores dei- xaram de existir e outras, baseadas na economia digital, surgiram como grandes expoentes desses novos tempos. Ainda, há aquelas que conseguiram se transformar para acompanhar essa forma de fazer negócios. Na esteira dessa nova economia, a possibilidade de investir em empresas se tornou mais comum. Pessoas físicas começaram a investir na bolsa de valores e fazer aportes em empresas como investidores-anjo ou de risco. Entretanto, muitos se frustram por não obterem o elevado retorno sobre o investimento feito, pois investiram mais com empolgação do que com técnica. Avaliar uma empresa para obter seu valor justo requer estudo e técnica. Compreender o que está envolvido no processo de ava- liação e os métodos utilizados é fundamental para aumentar as chances de sucesso nos investimentos de risco. Neste capítulo, você terá a oportunidade de compreender o contexto em torno do processo de avaliação de empresas, quais são as fontes de recursos financeiros existentes para proporcio- nar esse crescimento e por que é importante entender os riscos envolvidos. Além disso, irá conhecer os métodos de avaliação mais utilizados globalmente. Desenvolvemos esta obra para que você possa facilmente construir o raciocínio que lhe dê bases sólidas para aprofundar-se no processo de avaliação de empresas. 10 Avaliação de empresas 1.1 Fontes para o crescimento da empresa Vídeo A jornada empreendedora tem início quando o empresário se mo- tiva a investir suas economias na criação de uma empresa. Isso ocorre, normalmente, devido à possibilidade de uma oportunidade de merca- do, na qual é preciso atender às necessidades de um público-alvo e suprir os consumidores com produtos e serviços que atendam suas expectativas. Quando bem executada, essa empreitada gera resultados para os diversos públicos envolvidos: (a) o empresário, pelos lucros resultan- tes da atividade empresarial; (b) o cliente, pelo suprimento de necessi- dades até então mal atendidas; (c) os fornecedores, pelo aumento de negócios com a nova empresa; (d) os funcionários, pelo aumento nos níveis de emprego e de renda; (e) os governos, pelo recolhimento de mais impostos. Lembrando que esses são apenas os principais envolvi- dos com a atividade empresarial. Portanto, conhecer e saber aplicar o conceito de valuation permi- tirá à empresa melhores oportunidades para seu crescimento e sua prosperidade. Esse conhecimento, quando disseminado na organiza- ção, orientará as pessoas a trabalharem com o mesmo foco nos obje- tivos estratégicos definidos, pois cada um entenderá o seu papel no processo de geração de valor para a empresa (NORTON, 2003). O fato de criar uma empresa e passar a suprir a demanda por produtos e serviços gera impulsos para crescimento do empreen- dimento ao longo do tempo e impõe um grande desafio ao em- presário: como conseguir os recursos financeiros necessários para sustentar esse crescimento? Para responder a essa questão, a Figura 1 demonstra quais são as principais fontes de crescimento que o empresário deve consi- derar na busca de recursos financeiros. Observe que cada uma das fontes possui limitação de volume financeiro levantado. O lucro é a fonte com menor valor financeiro levantado e a abertura de capital na bolsa de valores é a fonte que proporciona captação de maiores valores. valuation: termo em inglês que significa avaliação de empresa. Glossário Fundamentos da avaliação de empresas 11 Figura 1 Fontes de crescimento da empresa Lucros Banco Financiamento Novos sócios Abertura de capital Investidor de risco Go od W ar e/ Fl at ic on su ra ng /F la tic on ul tim at ea rm /F la tic on su ra ng /F la tic on Fr ee pi k/ Fl at ic on Fonte: Elaborada pelo autor. Dentre as diversas razões para que uma empresa busque cresci- mento, há três pressupostos de grande relevância. São eles: • Pressuposto 1: o dinheiro é limitado. Devemos ter em mente que as fontes de financiamento são li- mitadas, ou seja, não existe dinheiro sobrando para investir na empresa infinitamente e sempre haverá limitação de recursos. Mesmo em épocas em que o noticiário econômico destaca que existe dinheiro sobrando no mundo para investir em empresas, o fato é que o funil é muito estreito. Pouquíssimas empresas con- seguem superar o nível de exigência dos investidores-anjo e fun- dos de investimento de risco. • Pressuposto 2: o produto ou serviço deve possuir credibilidade no mercado para que o investimento faça sentido. Ninguém deseja, racionalmente, investir em uma empresa que não dê retorno, cujo produto ou serviço não seja aceito pelo mercado. • Pressuposto 3: o crescimento da empresa precisa gerar valor. Um crescimento baseado no valor agregado gerado para o cliente e na geração de riqueza para os sócios/acionistas trará a percep- ção de uma empresa mais bem estruturada e bem gerenciada. Consequentemente, isso será mais bem percebido pelo investi- dor e, logo, melhorará o valuation. 12 Avaliação de empresas Sendo assim, independentemente de sua fonte, a empresa pode direcionar o valor do investimento na estrutura, como em um imóvel próprio, na estrutura produtiva, em treinamentos e em PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação). 1.1.1 Crescimento baseado no reinvestimento do lucro Uma das formas de medir o desempenho de uma empresa é por meio da geração de lucros. Em uma visão simplista, a geração de lucro líquido indica que a empresa teve um desempenho adequado naque- le exercício. Já em um conceito amplo, outros fatores são levados em consideração para averiguar se o lucro gerado potencializou o cresci- mento da empresa, como o custo de oportunidade, o valor econômi- co agregado e a margem operacional. Nas demonstrações contábeis da empresa, mais especificamente na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), é possível verificar- mos qual foi o lucro (ou prejuízo) apurado pela empresa em determi- nado ano (Quadro 1). O resultado líquido, informado na DRE, é obtido da Receita Opera- cional Bruta, deduzidos todos os custos, despesas e impostos no pe- ríodo apurado. Apesar de ser expresso em reais, também podemos expressá-lo em termos percentuais. Para tanto, basta dividir o Resulta- do Líquido pela Receita Operacional Líquida. Quadro 1 Estrutura básica da DRE Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Receita Operacional Bruta (–) Deduções = Receita Operacional Líquida (–) Custo de Produtos/Mercadorias Vendidas = Lucro Bruto (–) Despesas Operacionais e Administrativas (–) Resultado Financeiro (receitas financeiras – despesas financeiras) = Lucro Antes de IRPJ/CSLL 1 (–) IRPJ e CSLL = Resultado Líquido Fonte: Elaborado pelo autor. IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica) é o imposto federal cobrado de todas as pessoas jurídicas. O CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) é um tributo federal incidente sobre a mesma base de cálculo do IRPJ e sua arrecadação é destinada à seguridade social (aposentadorias, seguro-de- semprego, Sistema Único de Saúde etc.). 1 Fundamentos da avaliação de empresas 13 A destinação dos lucros, prevista em acordo de acionistas ou em contrato social da empresa, define antecipadamente como será a forma de distribuição dos lucros obtidos pela empresa, podendo ser dividida em: (a) pagamento de dividendos aos sócios e acionistas, (b) reserva legal ou (c) lucros acumulados. O valor destinado ao pagamento de dividendos é o único que não retorna para o caixa da empresa, uma vez que é destinado à remune- ração do acionista pelo resultado obtido no exercício fiscal. Os lucros remanescentes são revertidos para o caixa da empresa, podendo ser registrados como reserva legal (de lucros) ou lucros acu- mulados, sendo que este último também pode ser revertido em au- mento de capital social. Observe que o montante de lucros destinados a reinvestimento no negócio pode ser menor do que o lucro líquidoobtido por conta do pagamento de dividendos. Apesar de o reinvestimento do lucro na atividade empresarial ser de elevada importância, na prática, é um volume financeiro limitado e, por consequência, limita também a possibilidade de maior crescimento da empresa. 1.1.2 Crescimento baseado em financiamento bancário Essa é uma fonte de financiamento bastante utilizada, uma vez que as instituições financeiras possuem várias soluções para empréstimos e financiamentos, indo desde a antecipação de recebíveis até o finan- ciamento de projetos de investimento, como a aquisição de máquinas e equipamentos ou, ainda, obras civis. O financiamento bancário também é um recurso financeiro limita- do, pois o limite estabelecido pelo banco leva em consideração o ris- co que a empresa tomadora representa para essa instituição. Quanto maior o risco, menor será o limite de crédito oferecido pelo banco. São vários os fatores utilizados pelas instituições financeiras para estabelecer limite de crédito para uma empresa e a metodologia utili- zada é muito particular, isto é, cada banco tem a sua. Todavia, existem parâmetros comumente utilizados, como histórico de pagamento, ga- rantias oferecidas, volume financeiro transacionado com a instituição, indicadores econômico-financeiros da empresa (Balanço Patrimonial e 14 Avaliação de empresas DRE), conjuntura econômica do setor de atuação, entre inúmeros ou- tros utilizados para calibrar o apetite de risco daquela instituição no financiamento às empresas. Mesmo sendo limitado, o financiamento bancário tende a ser de valores mais elevados que o reinvestimento do lucro, haja vista que o risco assumido pelo banco em um financiamento é devidamente remu- nerado pela taxa de juros. Contrair dívidas bancárias não pode ser encarado como um tabu pela empresa. Se utilizado de maneira estratégica, o endividamento em bancos atua como uma fonte de alavancagem de negócios. No entan- to, se mal gerenciado, compromete a saúde financeira da organização, podendo levá-la à falência. Podemos rapidamente verificar se o endividamento é saudável olhando a rubrica Resultado Financeiro na DRE. Caso o Lucro Bruto me- nos as Despesas Operacionais e Administrativas seja de valor igual ou inferior às Despesas Financeiras, constata-se que a empresa está so- brevivendo de financiamento bancário e isso não é saudável para a perpetuidade dos negócios. Por outro lado, uma empresa que não possui endividamento bancá- rio acaba passando a imagem de lento crescimento, estando suscetível a ser superada por concorrentes com maior capacidade de investimen- to financiado por crédito bancário. O que pouca gente sabe é que, no mercado financeiro, empréstimo e financiamento são coisas diferentes. O empréstimo é a obtenção de recursos para empresas utilizarem em seu fluxo de caixa, por exemplo, quando o banco realiza a ante- cipação de recebíveis das duplicatas ou do cartão de crédito para a empresa. Já o financiamento consiste em recursos destinados ao investi- mento na atividade empresarial, como financiamento de máquinas e equipamentos, ampliação das instalações ou construção de uma nova unidade industrial. Dessa forma, por serem tipos distintos de endividamento, a análise de crédito deve levar em consideração se a empresa está se endividan- do para se modernizar ou ampliar a geração de negócios, ou se esse endividamento é para suprir necessidades mais imediatas de caixa. Fundamentos da avaliação de empresas 15 1.1.3 Crescimento baseado na entrada de novos sócios Uma outra forma de captação de recursos para crescimento da em- presa é torná-la atrativa para a entrada de novos sócios. O empreen- dedor deve ter em mente que o novo sócio deve se sentir seguro em aportar recursos na empresa, visto que ele passará a participar do risco do negócio. Assim, a qualidade das informações gerenciais é fator de alta importância para municiar o novo sócio com informações que lhe sejam úteis para a tomada de decisão. Um novo sócio não ingressa na empresa somente pela vontade de ser empresário, mas por possuir determinada afinidade com o modelo de negócios operacionalizado, uma vez que ele visualizou uma oportu- nidade de maximizar seus investimentos. Esse capital novo, trazido pelo sócio, deverá ser direcionado, priori- tariamente, para a atividade operacional da empresa e não para a rees- truturação de dívidas ou para seu saneamento financeiro. Isso pode até ocorrer, mas não representa a essência do ingresso de um novo sócio para estratégias de crescimento da empresa. 1.1.4 Crescimento baseado na entrada de investidores de risco Nos últimos anos, tornou-se comum as empresas brasileiras bus- carem capital com investidores de risco. O investimento de risco é um conceito mais conhecido no universo das startups 2 , que, por serem modelos de negócios disruptivos, atraem a atenção de pessoas e de fundos de investimento que possuem dinheiro e estratégias de inves- timento nesse tipo de empresa. Esse interesse se dá pela possibilidade de obter elevados retornos sobre o valor investido quando a participa- ção societária é vendida (exit). Diferentemente do reinvestimento de lucros ou do financiamento bancário, o investidor de risco aporta recursos financeiros em um vo- lume maior, com a expectativa de retorno muito acima das margens líquidas de lucro ou dos financiamentos bancários. Já a empresa investida utiliza o valor aportado para realizar o plano de crescimento dos negócios, tendo metas de desempenho acordadas no contrato de investimento celebrado com o investidor. As startups são empresas cujo modelo de negócios é repetível e escalável. Essas empresas tra- balham sob condições de incer- tezas, por isso soluções precisam ser desenvolvidas. Como não são empresas tradicionais, elas precisam ser inovadoras, mesmo aquelas que não trabalham com tecnologia. Saiba mais Negócios disruptivos: são aqueles cuja transformação, causada por uma inovação, tem potencial de levar a prática de negócios anterior à obsolescência. Exit: é a “saída” do investidor pela venda de sua participa- ção para outro investidor ou pela abertura de capital da bolsa de valores. O exit tem suas condições previstas em contrato de investimento de risco e, nor- malmente, ocorre em cinco anos. Glossário 16 Avaliação de empresas Como tem interesse em maximizar o retorno sobre seu investimen- to, o investidor de risco, além de aportar dinheiro na empresa, tem a possibilidade de indicar pessoas para executar atividades-chave na empresa investida ou, ainda, abrir sua rede de relacionamento profis- sional para realizar mentoria aos empreendedores. O investidor de risco deseja elevado retorno sobre o investimento (ROI) Devemos ter em mente que o investidor de risco está colocando seu dinheiro em uma empresa que ainda não provou ser rentável, mas que possui alto potencial de crescimento no médio prazo. Como esse tipo de investimento é considerado de alto risco, as taxas de retorno também são elevadas. Um dos mais abrangentes estudos sobre o tema foi feito pela Kauffman Foundation, com 539 investidores de risco nas vendas de suas participações em 1.137 empresas e com lucros e prejuízos após 3,5 anos de investimento, quando a taxa média de retorno ficou em 2,6 vezes o valor investido (ou uma taxa de retorno de 27%) (ROSE, 2014). Essa taxa de retorno está diretamente ligada ao custo do dinheiro. No Brasil, é medida pela taxa básica de juros da economia (Selic), sendo que o investidor obtém ganho real acima da Selic em investimentos de baixo risco no mercado financeiro. O custo de capital no Brasil continua elevado se comparado a outros países (Gráfico 1), mesmo em um cenário de estabilidade econômica nacional. Além do custo de capital, o investidor de risco brasileiro em- bute um prêmio de risco para migrar seu investimento para algo me- nos seguro, elevando ainda mais a expectativa de retorno ao investir em uma startup. Para chegar ao retorno médio citado, os investidoresoperam com expectativa de retorno de 10 vezes o capital investido na empresa. Como nem todas as empresas investidas em seu portfólio trarão re- sultados, esse elevado retorno esperado acaba compensando as even- tuais perdas em outras empresas investidas. mentoria: processo pelo qual um profissional com grande experiência executiva atua como um conselheiro para uma startup, ajudando-a no direcionamento das ações do dia a dia para o cumprimento das metas acordadas. Glossário Fundamentos da avaliação de empresas 17 Gráfico 1 Taxas de juro nominal nos Bancos Centrais (2018) -0,10% 0,00% 0,50% 1,00% 1,25% 1,50% 4,35% 7,50% Japão Europa Grã-Bretanha Canadá EUA Austrália China Brasil Taxas de juro nominal nos Bancos Centrais (2018) Fonte: Ventura, 2018. Perfil de investidor de acordo com o estágio da empresa Existem investidores para todos os estágios de desenvolvimento de uma empresa e eles se diferenciam entre si conforme seu nível de conhecimento do negócio, apetite de risco, valor investido e nível de participação adquirida. Podemos verificar que, quanto mais inicial for o estágio da empresa, menor será o valor captado com investidores, ao passo que, quanto mais desenvolvida for a empresa, maior será sua atratividade para o investidor de risco (Figura 2). Isso ocorre pelos seguintes motivos: • O investidor de risco raramente investe em empresas no estágio de power point, ou seja, quando o negócio ainda está na fase de concepção da ideia e as fontes de investimento normalmente são o próprio bolso do empreendedor ou de algum familiar, amigo ou tolo (conhecido como investidor 3 F: friends, family and fools); • Quando a empresa está em processo de validação do produto, pode tornar-se atrativa a investidores crowdfunding ou incuba- doras, que aportam pequenos valores sem a contrapartida de participação acionária; crowdfunding: busca de financiamento coletivo para uma startup em troca de um produto-demo. Normalmente, o crowdfunding é obtido em plataformas da internet especia- lizadas nesse tipo de captação. incubadora: local ou programa que provê recursos para criação ou desenvolvimento de uma startup. Glossário 18 Avaliação de empresas • Assim que a empresa valida seu produto e começa a comerciali- zá-lo, passa a ser atrativa para investidores-anjo e capital semen- te. Esses investidores colocam seus próprios recursos financeiros nas startups em troca de uma pequena participação societária (normalmente menor que 20%); • As empresas passam a entrar no radar dos fundos de venture capital quando já estão com o produto em comercialização e seu modelo de negócios apresenta alto potencial de crescimento no médio prazo. Após a empresa ter sido identificada pelo investidor de risco e cumpridas as formalidades necessárias, define-se qual montante será aportado na empresa, em que a participação so- cietária será dada como contrapartida ao investimento. Esse tipo de investimento ocorre em rodadas que são conhecidas pelos seus termos em língua inglesa: round A, round B, round C. 2 Cada uma delas com aportes de novos valores direcionados para desenvol- vimento de projetos de crescimento da empresa investida. Nos investimentos de venture capital, normalmente, a participação societária, ao final da última rodada, é inferior a 50% e a lógica por trás disso está em manter a empresa atrativa para a fase de abertura de capital na bolsa de valores. venture capital: empresas que investem em startups utilizando recursos captados de outras pessoas ou empresas. Glossário No Brasil, para o termo round são utilizadas as nomenclaturas rodada ou série. Nesta obra, optamos por utilizar o termo série. 2 Figura 2 Estágio da empresa x tipos de investidores de risco Go od W ar e/ Fl at ic on HIPÓTESE Tenho uma ideia, mas ainda não sei como será o negócio ou produto Go od W ar e/ Fl at ic on VALIDAÇÃO Produto sendo testado no mercado, mas não sei como conquistar clientes e gerar receitas ESTÁGIOS DO NEGÓCIO TIPOS DE INVESTIDORES Fr ee pi k/ Fl at ic on NEGÓCIO Produto sendo comercializado, mas com baixo faturamento Fr ee pi k/ Fl at ic on ESCALA Crescimento acelerado de captação de clientes e geração de receitas Capital próprio | Friends, family and fools (3F) Incubadoras | Crowdfunding Equity crowdfunding Aceleradoras Investidor-anjo Capital semente VC séries A, B, C Saídas Fonte: Elaborada pelo autor. Fundamentos da avaliação de empresas 19 Mas quanto é o desembolso do investidor em cada um dos tipos apresentados até agora? Como temos visto, para cada estágio de desenvolvimento de uma empresa, há uma necessidade de capital. Dessa forma, não é razoável uma empresa em estágio inicial receber aportes milionários de inves- tidores. Isso só vai ocorrer quando a empresa estiver em estágio de crescimento acelerado dos negócios. Para termos uma ideia, o mercado brasileiro de investimento de risco atua com captações que vão de R$ 150.000,00, em média, para investidores-anjo, até R$ 50.000.000,00, para firmas de venture capital. Da mesma forma, para cada estágio de investimento existe uma diluição da participação societária, isto é, quanto cada rodada de in- vestimento recebe de contrapartida como participação acionária, indo desde 5%, para investidores-anjo, até 50%, para investimento de ventu- re capital série B. No Brasil, existem diversos investidores de risco, os quais foram segmentados em uma pesquisa da MSW Capital e Jupter conforme seu perfil de atuação no portfólio de investimentos de risco. 1.1.5 Crescimento baseado na abertura de capital Uma das principais razões para uma empresa abrir o capital na bol- sa de valores é por ser uma forma mais barata de captar recursos fi- nanceiros do que fazê-lo por meio de dívida bancária. Outra razão é que, em bolsa de valores, os recursos são praticamen- te ilimitados, pois existirão enquanto a empresa se mantiver atrativa pela sua performance nos negócios. A pressão exercida pelos sócios, geralmente, é menor do que a pres- são exercida pelos credores, uma vez que estes últimos têm pactuado a amortização mensal dos empréstimos e financiamentos concedidos para a empresa. Também é nessa fase que a empresa aumenta consideravelmente sua liquidez, podendo suprir os recursos para pagamento do exit dos investidores de risco que não desejarem permanecer como sócios. Para saber mais sobre o ecossistema de investido- res-anjo e venture capital no Brasil, leia a publica- ção de Bruno Ceschin no site do LinkedIn. Disponível em: https://www. linkedin.com/pulse/mapa-do-e- cossistema-de-investidores-star- tups-brasil-bruno/. Acesso em: 22 maio 2020. Saiba mais https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ 20 Avaliação de empresas As que se tornam empresas de capital aberto passam a ter obriga- ções mais específicas, com transparência nos negócios e implantação de políticas de governança corporativa (conforme exigido pela Lei n. 6.404/76 e suas atualizações), visto que se tornaram mais visíveis para investidores. Um exemplo dessa transparência é a exigência de publi- cação dos balanços anuais em mídias de grande circulação, bem como a publicação de qualquer fato relevante que tenha impacto nos negó- cios da empresa. A abertura de capital é um processo cada vez mais comum e possí- vel para empresas brasileiras. Segundo a organização Endeavor (2017), empresas com faturamento inferior a R$ 500.000.000,00 por ano ou com valuation inferior a R$ 700.000.000,00 podem ser listadas em bolsa e realizar a captação de maneira gradual em até sete anos. Ao diferenciarmos as fontes de financiamento para o crescimento da empresa, temos a oportunidadede verificar qual é a mais adequa- da conforme seu plano estratégico. Independentemente da fonte (se será por crescimento orgânico, reinvestimento de lucros, entrada de novos sócios/investidores de risco ou mesmo pela abertura de capital), é importante compreender a abrangência e as responsabilidades que a empresa assumirá em cada um dos estágios de seu crescimento. Finalmente, é importante saber diferenciar a oferta primária de ações da oferta secundária de ações. Ao abrir o capital da empresa, suas ações são oferecidas aos inves- tidores via mercado primário. O mercado primário é onde as ações da empresa serão negociadas pela primeira vez, no ato da abertura de capital, e os recursos financeiros captados vão direto para o caixa da empresa. A partir de então, as ações serão negociadas no pregão da bolsa de valores, ou seja, no mercado secundário, sendo compradas e vendidas entre os acionistas. O dinheiro dessas transações não passa pelo caixa da empresa, pois quem está comprando e vendendo são os acionistas. De modo simplista, é como comprar um automóvel zero quilômetro na concessionária (o dinheiro sai do comprador para o caixa da concessio- nária) e depois revendê-lo no mercado para outra pessoa interessada (o dinheiro sai do comprador para o vendedor do veículo e não mais para a concessionária). Fundamentos da avaliação de empresas 21 1.2 Risco e retorno Vídeo Os seres humanos são naturalmente avessos ao risco. Mesmo que nossa história evolutiva seja marcada por eventos de muita co- ragem, podemos verificar que a maioria dessas aventuras tiveram ameaças mensuradas. Os aventureiros chegaram à conclusão que valia a pena assumir esses riscos para que uma nova realidade pu- desse se materializar. Em nossa sociedade, é fácil perceber os comportamentos das pessoas em relação a situações arriscadas e podemos separá-las conforme a sua tolerância aos riscos. Haverá um grupo adverso às ameaças, com comportamentos e atitudes que levam à manutenção das coisas como são, haja vista que esses indivíduos tendem a agir dentro de uma zona de conforto bastante favorável. Em uma situa- ção oposta, haverá um grupo de pessoas com maior tolerância ao perigo, que assumem atitudes que as tiram da zona de conforto, pois buscam um novo patamar, uma nova realidade. Sempre que estamos realizando um investimento, seja no mercado financeiro ou nas empresas, esperamos um retorno que nos propor- cione crescimento de riqueza, ou seja, que esse retorno seja positivo. A tomada de decisão de investimento, portanto, carrega uma expectativa de que o valor investido traga o retorno esperado. Mas quando nos referimos ao futuro, estamos falando de situações que podem ou não acontecer de fato, uma vez que um evento que está por vir é desenca- deado e influenciado por uma série de outros eventos. Assim, podemos afirmar que existem riscos de que um evento não aconteça no futuro conforme nossas expectativas. O risco, ou nível de incerteza, é o que norteia nossa expectativa de retorno. Dessa maneira, quanto menor o risco ou a incerteza, maior nossa tendência a aceitar um retorno não tão positivo, dado o nível de certeza daquele evento futuro. Em finanças corporativas, risco é a imprevisibilidade de retor- nos (SERRA; WICKERT, 2019). Ao realizarmos um investimento, o con- sideramos como “de maior risco” quando a probabilidade de retorno possuir uma ampla faixa de variação. Em outras palavras, digamos que a probabilidade de retorno de um investimento seja entre 0% e 20% e que nossa expectativa seja obter um retorno de 10%. Como 22 Avaliação de empresas essa variação é elevada (podemos ter retorno nulo ou o dobro de nossa expectativa), consideramos que este é um investimento de maior incerteza, portanto, de maior risco (SAMANEZ, 2007). Risco “zero” só existe quando a probabilidade de um evento ocorrer for de 100% O conceito de risco está diretamente associado ao conceito de probabilidade. Haverá risco sempre que a probabilidade de um evento ocorrer for menor do que 100%. Em termos estatísticos, a medida de dispersão dos resultados esperados em relação ao seu valor médio pode refletir o conceito de risco. A melhor compreensão que podemos ter desse conceito é a de que, ao jogarmos uma moeda, teremos 50% de probabilidade de o resultado ser cara e 50% de ser coroa (ASSAF NETO, 2014). Então, quanto maior a probabilidade, menor será a dispersão dos dados em tor- no da média e, portanto, menor será o desvio padrão. O Gráfico 2 demonstra diferentes graus de dispersão em relação à média de distribuição, indicando, con- sequentemente, diferentes níveis de risco dos eventos. Gráfico 2 Graus de dispersão x (média) menor dispersão x (média) maior dispersão Fonte: Elaborado pelo autor. De acordo com Assaf Neto (2014), quando estamos falando de investimentos, a prática é um pouco mais complexa, uma vez que a distribuição de probabilidades não se restringe a um único período ou a um único ativo investido, mas a diversos eventos possíveis de acontecer. Estamos entrando no conceito de probabilidade relati- va, baseado em uma série de eventos incertos chamados variáveis aleatórias, que devem ser demonstradas na forma de distribuição de probabilidades. retorno�esperado R P XR k n k k� � � �� � � � 1 Fundamentos da avaliação de empresas 23 Onde: �R = retorno médio esperado de um ativo. Pk = probabilidade de ocorrência do resultado esperado. Rk = valor de cada resultado esperado. n = período k = sequência de cada evento Parece complicado, mas utilizando o software Microsoft Excel® esse conceito fica mais claro: Tabela 1 Exemplo de ponderação de resultados para investimento (em R$) INVESTIMENTO A INVESTIMENTO B RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO 500,00 15% 75,00 => Fórmula: A3 * C3 375,00 10% 37,50 => Fórmula: D3 * E3 600,00 20% 120,00 500,00 15% 75,00 700,00 30% 210,00 700,00 50% 350,00 800,00 20% 160,00 850,00 15% 127,50 900,00 15% 135,00 1.100,00 10% 110,00 RESULTADO MÉDIO 700,00 => Fórmula: SOMA(C3:C7) RESULTADO MÉDIO 700,00 => Fórmula: SOMA(F3:F7) Fonte: Elaborada pelo autor. No exemplo da Tabela 1, temos a análise de dois investimentos pos- síveis com seus resultados projetados esperados. Ao estabelecermos a probabilidade de cada um dos cenários de re- sultado ocorrer e multiplicarmos pelo resultado projetado, teremos o valor ponderado de cada um deles. Observe que o resultado médio obtido de R$ 700,00 é igual para ambos os investimentos. Então, se utilizarmos somente a ponderação como fator de tomada de decisão para investir, teremos um dilema para escolher entre as duas possibilidades apresentadas, pois ambas projetam o mesmo retorno médio. Sendo assim, é necessário ir além e estabelecer a dispersão dos dados de cada uma das opções. Para tanto, é feito o cálculo do desvio padrão. Em nossa tabela do Excel, basta inserir uma nova linha abaixo do “RESULTADO MÉDIO” e calcular o desvio padrão de cada uma das pon- derações, conforme disposto na Tabela 2. 24 Avaliação de empresas Como resultado, o desvio padrão do investimento A é de R$ 49,87, indicando ser este o investimento de menor risco. Ao optar por ele, dei- xaremos de lado a oportunidade de obter um retorno de R$ 1.100,00, porém com um risco cerca de 2,5 vezes superior. Veja a seguir a representação gráfica do desvio padrão de cada in- vestimento (Gráfico 3) e observe que a curva do investimento B é mais alongada, indicando uma maior dispersão dos dados. Isso quer dizer que a incerteza nesse investimento é maior e, portanto, de maior risco. Gráfico 3 Desvio padrão dos investimentos A e B INV A INV B Fonte: Elaborado pelo autor. Para Damodaran (2012), a noção de que o valor de R$ 1,00 hoje é diferente do valor desse R$ 1,00 em uma data futura é bastante intuiti- va para as pessoas, não havendo necessidade de utilização de modelosmatemáticos para isso. Para aprofundar seu estudo sobre os funda- mentos de probabilidade e medidas estatísticas, uma ótima dica de leitura bastante didática e de fácil compreensão é o livro Finanças corporativas e valor. No Capítulo 10, está de- talhado todo o raciocínio de probabilidades, desvio padrão e covariância para análise de investimentos. ASSAF NETO, A. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Livro Tabela 2 Exemplo de desvio padrão de ponderação de risco de investimento (em R$) INVESTIMENTO A INVESTIMENTO B RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO 500,00 15% 75,00 => Fórmula: A3 * C3 375,00 10% 37,50 => Fórmula: D3 * E3 600,00 20% 120,00 500,00 15% 75,00 700,00 30% 210,00 700,00 50% 350,00 800,00 20% 160,00 850,00 15% 127,50 900,00 15% 135,00 1.100,00 10% 110,00 RESULTADO MÉDIO 700,00 => Fórmula: SOMA(C3:C7) RESULTADO MÉDIO 700,00 => Fórmula: SOMA(F3:F7) Desvio padrão 49,87 => Fórmula: DESVPAD.A (C3:C7) Desvio padrão 122,36 => Fórmula: DESVPAD.A (F3:F7) Fonte: Elaborada pelo autor. Fundamentos da avaliação de empresas 25 Ainda, segundo o autor, o entendimento do conceito de valor pre- sente permite que se calcule quanto vale hoje R$ 1,00 a ser recebido ou despendido em um momento futuro. O valor do dinheiro no futuro é menor do que seu valor hoje por três razões: 1. as pessoas preferem consumir hoje a consumir no futuro; 2. a inflação diminui o poder de compra do dinheiro ao longo do tempo; 3. o dinheiro pode não estar disponível no futuro. (DAMODARAN, 2012, p. 20) A variável que usamos para calcular quanto vale hoje o R$ 1,00 a ser recebido no futuro é chamada de taxa de desconto. Assim, ela repre- senta o “retorno real esperado (refletindo as preferências de consumo), a inflação esperada (para projetar o poder de compra do dinheiro ou caixa) e um prêmio, ou ágio, pela incerteza associada ao fluxo de caixa” (DAMODARAN, 2012, p. 20). Em outras palavras, utilizamos a taxa de desconto para converter um fluxo de caixa futuro em valor presente. Lembre-se de que estamos tratando do valor do dinheiro no tempo, portanto, estamos tratando do conceito de juros compostos, e não de juros simples. Se temos, no período 1, um fluxo de caixa futuro de R$ 100,00 a uma taxa de desconto de 10%, então devemos apurar o valor presente da seguinte maneira: Valor�presente fluxo�de�caixa i n � �� � � 1 1 Onde: i = taxa n = período Usando o Excel, basta incluir, por exemplo, na célula C2 o valor do fluxo de caixa futuro de 100, na célula C3 a taxa de desconto de 10%, na célula C4, o período “1” e, na célula C5, a fórmula “=C2/(1+C3)^C4”, que corresponde à equação apresentada acima. =C2/(1+C3)^C4 Você sabia que a maioria das pessoas (e, provavelmente, você também) faria o cálculo simples- mente aplicando o desconto de 10% sobre os R$100,00, chegando ao resultado de valor presente de R$ 90,00? Mas onde está o erro? Vamos fazer a conta ao contrário: pegue os R$90,00 e calcule um acréscimo de 10%. Você chegará a R$99,00 e não a R$100,00, que era o valor do fluxo de caixa futuro. Isso ocorre porque estamos mais acostumados a aplicar o desconto com a metodologia dos juros simples. Agora, encontre o valor presente do mesmo fluxo de caixa do exemplo, aplicando diferentes taxas de retorno, como 15% e 20%, usando o conceito de juros compostos e compare os resultados. Lembre-se de que o valor do dinheiro no tempo sempre será calculado com base em juros compostos! Desafio Quando aprendemos estatística, uma das nossas curiosidades está na elaboração e inter- pretação dos gráficos que representam uma amostra. Utilizando o Mcrosoft Excel®, pode- mos chegar muito mais rapidamente ao resultado seguindo alguns passos que nos pouparão tempo se tivermos que elaborar os cálculos e a plotagem à parte. Um vídeo bastante didático é o Curva da Distribuição Normal no Excel (Gráfico com 1 e 2 curvas), publicado pelo canal Aprendendo Gestão. Assista ao vídeo e se surpreenda, pois é bem mais fácil do que imaginávamos! Disponível em: https://youtu. be/01frvYx73xQ. Acesso em: 18 maio 2020. Vídeo https://youtu.be/01frvYx73xQ https://youtu.be/01frvYx73xQ 26 Avaliação de empresas Perceba que o resultado para o valor presente desse fluxo de caixa é de R$90,90 a uma taxa de desconto de 10%. Posto isso, o apetite ao risco é uma constante para qualquer perfil de investidor, seja ele um investidor conservador, moderado ou arroja- do. Portanto, compreender e identificar os potenciais riscos e retornos de um investimento torna o investidor mais preparado para decisões que maximizem o retorno desses investimentos. 1.3 Métodos de avaliação Vídeo A avaliação de uma empresa é importante para que os interessados (gestores, acionistas, investidores e bancos) possam tomar melhores de- cisões sobre planos de investimento, fusões, aquisições, financiamentos e captação de recursos via emissão de debêntures. A atividade de avaliação depende muito do olhar do avaliador, por isso contém certa subjetividade, pois nenhuma avaliação é plenamente isenta de inferências, haja vista que o processo de avaliação inclui expec- tativas dos envolvidos quanto ao seu resultado. O princípio básico está em se estabelecer o valor justo da empre- sa, baseado em expectativas de retorno esperado que sejam coeren- tes com o modelo de negócios e com a realidade operacional (ASSAF NETO, 2014). O objetivo é chegar a um valor de avaliação que reflita, com o maior grau de precisão possível, a realidade da empresa. Para isso, são utili- zados métodos e técnicas que permitam minimizar os impactos das in- certezas e os equívocos nas projeções e nas expectativas de conjuntura econômica e mercadológica envolvidas. Existem diversas técnicas para avaliar empresas que são emba- sadas em formulações lógicas para se chegar a um valor adequado da empresa. Elas devem levar em consideração não somente o valor expresso na contabilidade, mas também o modelo de negócios ope- racionalizado pela empresa, o seu estágio de maturação e o poten- cial de mercado. O Quadro 2 destaca as formas de avaliação de empresas mais uti- lizadas, todas elas consideradas consistentes com os objetivos a que se destinam (valuation), podendo ser utilizadas complementarmente entre si. debêntures: são títulos privados de crédito, emitidos exclusivamente por empresas classificadas como Sociedades Anônimas. Glossário Fundamentos da avaliação de empresas 27 Quadro 2 Formas de avaliação de uma empresa Avaliação contábil Indicadores econômico- financeiros Fluxo de caixa descontado Mercado de ações • Ativo e Passivo • Valor justo • Valor do acionista • EBITDA • Evolução das receitas • Múltiplos de mercado • EVA®. • Fluxo de caixa livre • Fluxo de caixa para acionista • Fluxo e caixa para investidor • Preço das ações • Fatores mercadológicos Fonte: Elaborado pelo autor com base em Antonik; Müller, 2017; Samanez, 2007. A avaliação contábil demonstra a situação patrimonial da empresa e sua performance em relação ao patrimônio líquido existente, cujo resultado é o retorno obtido pelo acionista em cada exercício fiscal. Os indicadores econômico-financeiros demonstram a performance operacional da empresa e podem ser comparados com a performance de outras empresas que atuam no mesmo mercado (padrão de mer- cado). O Valor Econômico Agregado (tradução do termo em inglês Eco- nomic Value Added – EVA®) apura se o resultado do exercício gerou ou destruiu riqueza para os sócios, utilizando-se de parâmetros como o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC ou WACC) e o custo de opor- tunidade estabelecido pelos sócios/acionistas. Outros indicadores econômico-financeiros importantes, que mos- tram o desempenho operacional da empresa, são comumente utiliza- dos para o efeito de comparação de performance, como o EBITDA, que é o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização,ou o resultado operacional, oriundo da atividade empresarial, sem o efei- to de receitas e despesas não relacionadas à atividade-fim. A evolu- ção das receitas também é um indicador levado em consideração para avaliação da empresa e deve ser compreendida em um contexto mais sistêmico, pois nem sempre um decréscimo na receita é sinalizador de problemas, afinal, pode ser que a organização esteja passando por um processo de reposicionamento de mercado, de reestruturação de linhas de produto ou outro fator que demonstre que a redução das receitas tem uma explicação, uma estratégia em ação para que aquilo esteja acontecendo. A avaliação por meio do mercado acionário (bolsa de valores) utili- za, principalmente, a evolução do preço das ações da companhia com base nos resultados financeiros periódicos divulgados e nos fatores WACC: acrônimo em inglês para Weight Average Cost of Capital; em português, Custo Médio Ponderado de Capital. Glossário O valuation de uma empresa é relevante em qualquer parte do mundo e sempre foi tratado como um tema muito complexo e inacessível à maioria das pessoas. No vídeo Valor de uma empresa (que está em inglês, mas tem legenda e transcrição comple- ta), Sal Khan procura demonstrar, de modo simplificado, as razões para uma pessoa iniciar um negócio investindo do próprio bolso ou utilizando financiamento bancário. Entretanto, qual opção dará mais retorno para o investimento do empreendedor? Assista ao vídeo para descobrir. Disponível em: https://pt.kha- nacademy.org/economics-fi- nance-domain/core-finance/ stock-and-bonds/valuation-and-in- vesting/v/enterprise-value. Acesso em: 19 maio 2020. Vídeo https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/stock-and-bonds/valuation-and-investing/v/enterprise-value https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/stock-and-bonds/valuation-and-investing/v/enterprise-value https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/stock-and-bonds/valuation-and-investing/v/enterprise-value https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/stock-and-bonds/valuation-and-investing/v/enterprise-value https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/stock-and-bonds/valuation-and-investing/v/enterprise-value 28 Avaliação de empresas conjunturais da economia que impactam seu modelo de negócio, além da própria especulação existente na bolsa de valores. A avaliação pelo fluxo de caixa descontado busca estabelecer, por antecipação, os benefícios da performance operacional ou do resultado de um projeto de investimento da empresa. Isso é feito por meio da proje- ção de seu fluxo de caixa, que, trazido ao valor presente por uma taxa de atratividade, resulta em um indicador fundamental para os sócios/acionis- tas verificarem se seus investimentos estão ou não agregando valor. Perceba que avaliar uma empresa não é tarefa simples, pois carece de bons conhecimentos sobre finanças empresariais, matemática financeira e administração financeira. Dessa forma, entender a complexidade e a in- ter-relação das variáveis existentes em cada uma dessas áreas é requisito para poder chegar ao valor mais real possível de uma empresa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste primeiro capítulo, procuramos abordar, de maneira introdutó- ria, os principais fundamentos para avaliar uma empresa. Contudo, mais do que simplesmente descrever os princípios de cada técnica utilizada, fizemos uma contextualização do processo de crescimento da empresa. Isso é muito importante para situar o profissional que fará o relatório de valuation, para que compreenda os estágios de desenvolvimento da em- presa e seus objetivos mercadológicos. Também procuramos demonstrar que o crescimento da empresa se dá por diversas fontes: reinvestimento de lucros, financiamento bancário, entrada de novos sócios, investidores de risco e abertura de capital. A maioria dessas fontes é por investimento – capital próprio do empresário e de sócios e investidores (de risco ou em bolsa de valores). Essa percep- ção coloca em evidência a necessidade de entender a relação de risco x retorno do investimento realizado. Com base nessa compreensão inicial, discorremos sobre os principais métodos de avaliação, que são comprovadamente aceitos pelo merca- do, para se obter uma avaliação da empresa que reflita a sua realidade mercadológica. ATIVIDADES 1. Durante a jornada empreendedora, o empresário sabe, claramente, da necessidade de continuar investindo na empresa para ela crescer, Fundamentos da avaliação de empresas 29 como ampliar mercados, gerar mais lucros e conquistar novos consumidores. Coloque-se no lugar de um empresário que está exatamente neste ponto: o de gerenciar o crescimento da empresa. Quais são as formas de levantar dinheiro para o empreendimento? Quais são mais limitadas? Justifique sua resposta. 2. Dados os dois investimentos a seguir, identifique qual representa o maior risco. INVESTIMENTO A (em R$) INVESTIMENTO B (em R$) RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO RESULTADOS PROJETADOS PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA RESULTADO PONDERADO 200,00 8% 400,00 5% 400,00 12% 500,00 10% 600,00 19% 585,00 20% 800,00 22% 820,00 30% 1.000,00 19% 930,00 20% 1.100,00 12% 980,00 10% 1.200,00 8% 1.100,00 5% RESULTADO MÉDIO RESULTADO MÉDIO Desvio padrão Desvio padrão 3. Qual é o objetivo de um processo de avaliação de empresas? Justifique sua resposta. REFERÊNCIAS ANTONIK, L. R.; MÜLLER, A. N. Avaliação de empresas para leigos [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. ASSAF NETO, A. A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CESCHIN, B. D. Mapa do Ecossistema de Investidores de Startups no Brasil - V3.0. LinkedIn, 6 set. 2019. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de- investidores-startups-brasil-bruno/. Acesso em: 18 maio 2020. DAMODARAN, A. Valuation: como avaliar empresas e escolher as melhores ações. Rio de Janeiro: LTC, 2012. ENDEAVOR. Você quer realizar aquele sonho grande? Um IPO pode ser o caminho. Endeavor, 2017. Disponível em: https://endeavor.org.br/dinheiro/ipo/. Acesso em: 15 maio 2020. NORTON, G. M. Valuation: maximizing corporate value. Hoboken: John Wiley & Sons, 2003. ROSE, D. S. Angel Investing: the gust guide to making money and having fun investing in startups. Hoboiken: Wiley, 2014. SAMANEZ, C. P. Gestão de investimentos e geração de valor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. SERRA, R. G.; WICKERT, M. Valuation: guia fundamental e modelagem em Excel®. São Paulo: Atlas, 2019. VENTURA, R. Por que investidores de startups no Brasil parecem não querer se arriscar? Bzplan, 1 mar. 2018. Disponível em: https://bzplan.bz/porque-investidores-de-startups-no- brasil-parecem-nao-querer-se-arriscar/. Acesso em: 18 maio 2020. https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ https://www.linkedin.com/pulse/mapa-do-ecossistema-de-investidores-startups-brasil-bruno/ https://endeavor.org.br/dinheiro/ipo/ https://bzplan.bz/porque-investidores-de-startups-no-brasil-parecem-nao-querer-se-arriscar/ https://bzplan.bz/porque-investidores-de-startups-no-brasil-parecem-nao-querer-se-arriscar/ 30 Avaliação de empresas 2 Medidas de desempenho do negócio Quando olhamos para o Balanço Patrimonial e para a DRE das empresas, imediatamente desejamos saber o quanto elas tiveram de lucro, que, apesar de importante, não pode ser o único fator levado em consideração na análise dos resultados da empresa. Neste capítulo, vamos compreender quais são os principais indicadores de desempenho utilizados na avaliação de uma em- presa, primordiais para realizarmos uma avaliação com maior qua- lidade e assertividade. Saber onde os encontrar no Balanço e na DRE, assim como cal- cular e interpretar cada um deles, fará com que você tenha uma visão muito mais clara dos resultados da empresa. Também veremos os seguintes aspectos:como interpretar o Resultado Operacional; como a liquidez afeta a empresa; e como elas se relaciona com o nível de endividamento existente, bem como por que é importante saber o retorno sobre os ativos e so- bre o Patrimônio Líquido da empresa. 2.1 Resultado Operacional e EBITDA Vídeo Intuitivamente, as pessoas imaginam que as empresas que geram maiores lucros são aquelas com mais sucesso e, por isso, merecem ser investidas. Mas como explicar o fato de empresas com sucessivos prejuízos continuarem sendo interessantes para investidores? Eles es- tariam iludidos ou existem outros indicadores financeiros que minimi- zam o fato de uma empresa ter prejuízo? Obviamente, saber se uma empresa opera com lucro ou prejuízo é um fator importante, mas não pode ser o único fator levado em consideração quando se trata de ava- liação de empresas. Medidas de desempenho do negócio 31 Antes de tudo, é importante lembrarmos das diferenças entre os principais conceitos relativos ao Resultado Operacional, que, se não forem bem compreendidos, comprometerão a avaliação da empresa. Para Assaf Neto (2014b, p. 23), o resultado de uma empresa “pode ser desmembrado em duas importantes partes: Resultado Operacio- nal, proveniente dos negócios (ativos da empresa), e resultado líquido, formado após a dedução de todos os gastos financeiros”. Vamos começar pelo resultado líquido, que nada mais é do que o resultado obtido ao deduzirmos, da Receita de Vendas, todos os Custos e Despesas apurados em um determinado exercício contábil, podendo ser resultado líquido positivo (lucro do exercício) ou negativo (prejuízo do exercício). 2.1.1. Resultado Operacional Imaginemos que uma empresa não possui nenhum endividamen- to bancário, ou seja, seu crescimento é proporcionado exclusivamente pelo reinvestimento de 100% dos lucros. Nesse caso, o Resultado Ope- racional se diferenciaria somente do resultado líquido pelos impostos incidentes sobre o lucro (IRPJ e CSLL). Veja um exemplo disso no Ba- lanço Patrimonial e na DRE da empresa Cia. Hipótese Ltda. (Tabela 1). Tabela 1 DRE da Cia. Hipótese Ltda. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ANO I RECEITA OPERACIONAL BRUTA 350.000 (–) Impostos –30.000 RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 320.000 (–) Custo dos Produtos Vendidos (CPV) –215.000 LUCRO BRUTO 105.000 (–) Despesas Comerciais –40.000 (–) Despesas Administrativas –30.000 RESULTADO OPERACIONAL ou EBIT 35.000 (–) Despesas Financeiras Líquidas 0 LUCRO ANTES DO IMPOSTO DE RENDA 35.000 (–) Imposto de Renda/CSLL –9.000 LUCRO LÍQUIDO 26.000 Fonte: Elaborada pelo autor. EBIT: sigla em inglês para Earning Before Interests & Taxes ou, em português, Resultado Antes de Juros e Impostos. Glossário 32 Avaliação de empresas Vamos separar a DRE em blocos para compreendermos melhor. I. O primeiro bloco se refere à atividade operacional da empresa propriamente dita, envolvendo as receitas de vendas e os custos operacionais envolvidos. Todas as despesas e as receitas de compra e venda de matéria-prima, mercadorias, produtos e serviços relacionados à atividade-fim da empresa fazem parte do conjunto de receitas e despesas operacionais; seu resultado é demonstrado na DRE como Resultado Operacional ou EBIT. II. O segundo bloco diz respeito a como a empresa se financia, ou seja, como ela representa os valores obtidos de terceiros para financiar a atividade operacional. Poderíamos imaginar, ingenuamente, que uma empresa não deveria possuir dívidas, mas é raro não haver despesas ou receitas financeiras em um exercício. Se existe alguma folga de caixa, esta é investida no mercado financeiro, e os juros recebidos constituem receitas financeiras; ainda, quando os clientes pagam com atraso, o valor da multa e dos juros recebidos também é considerado receita financeira. No caso de a empresa ter obtido empréstimos, financiamentos, ou ter pagado contas em atraso, os juros incidentes são considerados despesas financeiras. III. O terceiro e último bloco se refere aos impostos incidentes sobre o lucro obtido. Estes não fazem parte das despesas da atividade empresarial (comprar, produzir e vender), mas são devidos ao governo e demonstrados em um bloco específico na DRE. Com isso em mente, podemos assumir que o Resultado Operacio- nal é o que mostra se uma empresa está ou não gerando lucratividade, isto é, como estão as operações da empresa, pois trata exclusivamente das entradas e das saídas de dinheiro referentes à sua atividade opera- cional, seja ela indústria, comércio ou serviços. O Resultado Operacional é o resultado gerado pelas operações de dia a dia da empresa, ou seja, pela sua finalidade específica de produzir, com- prar, estocar, vender e prestar serviços. Não entram nessa conta receitas e despesas financeiras, visto que elas não estão relacionadas diretamente à atividade-fim da empresa. Em outras palavras, é o resultado do esforço diário pelo qual a empresa foi criada (PADOVEZE, 2020). Medidas de desempenho do negócio 33 É importante não confundirmos Lucro Bruto com Resultado Ope- racional. O Lucro Bruto demonstra somente o resultado das vendas subtraídos os custos variáveis existentes; já o Resultado Operacional é obtido subtraindo-se do Lucro Bruto todas as despesas operacionais e administrativas existentes. 2.1.2. EBITDA O termo EBITDA, mesmo que o termo LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), foi muito utilizado no passado, no Brasil. Conforme aponta Cavalieri (2019), o EBITDA é um indicador muito importante para quem deseja investir em empresas ou conceder crédito a elas, pois ajuda a entender o potencial de geração de caixa pelas suas atividades operacionais, sua produtividade e sua eficiência operacional ao longo dos anos. A prova de sua importância está no fato de que o EBITDA é utilizado como indicador comparativo entre empresas do mesmo setor, ano a ano, tornando-se um indicador de elevada relevância para verificar a performance de uma empresa em relação aos seus concorrentes. É fundamental que tenhamos uma clara compreensão do conceito de Depreciação e sua relação com o EBITDA. Quando uma empresa adquire máquinas, equipamentos, veículos, móveis de escritório ou um imóvel, todos esses bens passam a fazer parte dos ativos da empresa. Esses ativos fixos, ao longo do tempo, envelhecem e vão perdendo seu valor até atingirem a obsolescência. Para que o balanço reflita essa obsolescência, anualmente, o valor des- ses bens é diminuído. Essa diminuição de valor do ativo fixo é chamada Depreciação. Seu valor é apurado por métodos padronizados e é computado como despesa ou custo em cada exercício contábil, permitindo que a empresa recupere o valor investido ao longo do tempo (AZZOLIN, 2012; ASSAF NETO; GUASTI, 2010; ROSSETTI et al., 2008). Essa despesa, ou custo, não representa desembolso de caixa no exercício, haja vista o valor já ter sido desembolsado na aquisição do bem. E aqui está a dica preciosa para entender por que o EBITDA é um indicador mais “limpo” do desempenho operacional em relação ao EBIT: o primeiro desconsidera a despesa com a Depreciação anual e o segundo a inclui, mesmo não ocorrendo desembolso. obsolescência: quando algo está prestes a se tornar ultrapassado, a ter sua vida útil reduzida pelo seu desgaste ou pelo surgimento de algo mais avançado. Glossário 34 Avaliação de empresas Em suma, ao apurar o EBTIDA, estamos “devolvendo” o valor da de- preciação para o caixa da empresa, dando uma visão mais real do de- sempenho operacional. Há duas formas de calcular o EBITDA: a primeira é somando o valor da Depreciação que está inclusa nas Despesas Administrativas ao Lucro Operacional (EBIT). A segunda é partindo do Lucro Líquido e somando a ele o valor do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribui- ção Social (CSLL), o valor do Resultado Financeiro e, por fim, o valor da Depreciação. Então, não seria mais simples se utilizássemos somente o EBITDA para avaliar uma empresa? Não há dúvidas deque o EBITDA é um in- dicador robusto para demonstrar a eficiência operacional da empresa, porém, ele não leva em consideração variáveis mais complexas, como as dívidas bancárias. Dessa forma, se uma empresa apresentasse EBITDA robusto, mas também apresentasse dívidas bancárias superiores ao EBITDA, estaría- mos deixando de lado o Resultado Financeiro, levando a uma avaliação da empresa por valor superior ao real. Essa situação também demonstra que é possível que a empresa te- nha EBITDA positivo e, mesmo assim, apresente prejuízo no período, justamente pela necessidade de obtenção de financiamentos bancários para suprir as necessidades de capital da empresa. Para Antonik e Müller e (2017), “isso ocorre porque o EBITDA ignora mudanças no capital de giro (normalmente necessárias para crescer um negócio), em despesas de capital (necessárias para substituir ativos), em impostos e em juros”. Se levarmos em consideração somente o EBITDA, teremos uma vi- são parcial e distorcida da saúde financeira da empresa. Portanto, é ne- cessário conhecermos quais são as vantagens e as desvantagens desse indicador. Elas estão resumidas no Quadro 1. Quadro 1 EBITDA: vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens Oferece uma régua importante para o analista determi- nar a produtividade e a eficiência de um negócio, já que retira da equação os efeitos de decisões contábeis e fi- nanciamentos. O uso exclusivo do EBITDA como indicador elimina da lupa de análise, por exemplo, uma possível alta alavancagem que pode comprometer os resultados e o caixa no futuro. A evolução do EBITDA ao longo dos anos mostra aos acionistas a capacidade da empresa em promover e en- tregar eficiência e produtividade. Uma empresa que investe em ativos financeiros para o seu futuro não terá esse esforço de economia recompen- sado pelo EBITDA e passará batido de um analista que se basear apenas nesse indicador. (Continua) Medidas de desempenho do negócio 35 Vantagens Desvantagens A comparação do EBITDA de diferentes empresas, inclu- sive de diferentes setores, fornece análise de competiti- vidade ao remover o impacto dos custos de financiamen- tos, que podem ser muito altos em indústrias pesadas e de tecnologia. A liquidez de uma empresa não pode ser determinada pelo EBITDA, e essa capacidade de converter investimento em dinheiro também é essencial para compreender o va- lor real da companhia. Essa comparação pode ser até de duas (ou mais) empre- sas de países diferentes, já que o EBITDA acaba sendo um indicador universal, especialmente porque deixa de fora fatores locais, como a tributação. Investidores leigos podem não entender que um EBITDA positivo pode esconder prejuízo líquido da empresa. Fonte: Cavalieri, 2019. Agora que aprendemos a importância do EBITDA, assim como suas vantagens e desvantagens, vamos ver o modo de colocá-lo em prática utilizando a DRE da Cia. Hipótese Ltda. (Tabela 2). Tabela 2 DRE da Cia. Hipótese Ltda. (Anos I e II) DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ANO I ANO II Análise Horizontal 2 RECEITA OPERACIONAL BRUTA 350.000 450.000 28,6% (–) Impostos –30.000 –50.000 66,7% RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 320.000 400.000 25,0% (–) Custo dos Produtos Vendidos (CPV) –215.000 –250.000 16,3% LUCRO BRUTO 105.000 150.000 42,9% (–) Despesas Comerciais –40.000 –50.000 25,0% (–) Despesas Administrativas –20.000 –35.000 75,0% EBITDA 45.000 65.000 44,4% (–) Depreciação –10.000 –12.000 11,1% RESULTADO OPERACIONAL ou EBIT 35.000 53.000 52,8% (–) Despesas Financeiras Líquidas –14.000 –33.000 135,7% LUCRO ANTES DO IMPOSTO DE RENDA 21.000 20.000 –4,8% (–) Imposto de Renda/CSLL –9.000 –9.000 0,0% LUCRO LÍQUIDO 12.000 11.000 –8,3% MARGEM EBITDA (EBITDA/Receita Líquida) 14,1% 16,3% Fonte: Elaborada pelo autor. Temos, agora, dois exercícios na DRE referentes aos Anos I e II e podemos verificar que: a. O Resultado Operacional ou EBIT cresceu 52,8%, saindo de R$ 35.000,00 no Ano I para R$ 53.000,00 no Ano II. A Análise Horizontal é uma técnica de avaliação das demonstrações contábeis que consiste em comparar a evolução de cada rubrica ao longo de dois ou mais períodos. 2 36 Avaliação de empresas b. O valor da Depreciação, que estava incluída nas Despesas Administrativas, subiu de R$ 10.000,00 para R$ 12.000,00 (alta de 11,1%). c. Calculamos o EBITDA somando o valor da Depreciação ao EBIT, atingindo R$ 45.000,00 no Ano I e R$ 65.000,00 no Ano II, uma alta de 44,4%. d. O Lucro Líquido caiu 8,3%, saindo de R$ 12.000,00 no Ano I para R$ 11.000,00 no Ano II. Com base nos indicadores apurados, podemos afirmar que a em- presa Cia. Hipótese Ltda. teve uma performance operacional conside- ravelmente favorável no Ano II, uma vez que apurou um EBIT 52,8% superior. Isso se deve aos seguintes fatores: I. Aumento da Receita Líquida em 25% e do CPV em 16,3%, ou seja, os custos variáveis subiram menos que as receitas. II. Crescimento do EBIT em 52,8%, isto é, a empresa ganhou mais produtividade. Apesar de as Despesas Operacionais e Administrativas terem crescido percentualmente acima da Receita Líquida, em valores absolutos, elas ajudaram no valor. III. Aumento do valor da depreciação, indicando que a empresa teve novos investimentos em ativos fixos. Isso permitiu uma maior contribuição da Depreciação na formação do EBITDA. VI. Reforço na percepção de que as estratégias da empresa, com base no crescimento da receita em valores superiores ao aumento de custos, foram bem-sucedidas. Essa percepção se deu por meio da geração de caixa proporcionada pelo EBITDA. V. Cobertura das despesas financeiras com sobras pelo EBIT, mesmo tendo crescido acentuadamente. IV. Efeito multiplicador das receitas líquidas por meio de sua performance operacional, mesmo a empresa atingindo um Lucro Líquido menor do que no ano anterior. Quando o EBITDA for negativo, deve-se buscar as razões por meio dos seguintes passos: • Verificar se houve queda acentuada na Receita Líquida. • Verificar se houve aumento relevante no CPV e/ou nos Custos Operacionais e Administrativos. • Verificar se houve queda na Depreciação, que pode ser indício de obsolescência ou venda de ativo fixo. O e-book Perguntas frequentes sobre EBITDA, lançado pela Cavalcante, uma empresa de consul- toria e treinamento em finanças, apresenta as mais importantes impli- cações do EBITDA de ma- neira bastante didática, por meio de perguntas e respostas e com uma linguagem acessível. CAVALCANTE. São Paulo: Francisco Cavalcante Consultoria em Administração, 2012. Livro Medidas de desempenho do negócio 37 Um outro indicador interessante para se apurar é a Margem EBITDA, obtido pela divisão do EBITDA pela Receita Líquida. O per- centual encontrado se refere ao ganho resultante das vendas líqui- das. Assim, no nosso exemplo, a Margem EBITDA cresceu de 14,1% para 16,3%, demonstrando claramente uma melhor performance operacional. Acompanhando o raciocínio até aqui, vimos que uma empresa que sempre apresenta lucro nem sempre é saudável, pois existem fatores que interferem na geração do lucro. Ao mesmo tempo, percebemos que o aumento das receitas com vendas, apesar de ser um fator favorá- vel, precisa ser comparado com a evolução do CPV-CMV e das despesas operacionais. Se os valores evoluem na mesma proporção, isso indica que a empresa apresenta a mesma margem EBITDA, não melhorando sua performance operacional. Por outro lado, se esses custos e essas despesas crescem em menor proporção ou diminuem, quer dizer que representam um fator bas- tante favorável de melhora operacional e, consequentemente, geram uma margem EBITDA maior. Desse modo, se os custos e as despesas aumentam em proporção maior que as vendas, eles indicam piora no desempenho operacional da empresa (pode ser uma estratégia mal realizada, o descontrole de custos, a conjuntura econômica deteriora- da etc.) e merecem atenção redobrada do investidor. 2.2 A importância da liquidez Vídeo Os indicadores de liquidez nos permitemverificar a capacidade de pagamento de uma empresa pela comparação do que a empresa pos- sui registrado em seu Ativo (disponibilidades, valores a receber e ativo fixo) com o que possui em seu Passivo (dívidas de curto e longo prazos) em um determinado período. Em outras palavras, eles “medem a capa- cidade de cumprir corretamente as obrigações assumidas” (CORREIA NETO, 2011, p. 5). Precisamos ter claro que, mesmo sendo muito relevantes, esses indicadores não podem servir como única referência na avaliação de empresas, visto que eles possuem a limitação de mostrar uma posição estática do Ativo e do Passivo de uma empresa em um determinado período no passado. É uma fotografia de um momento da empresa 38 Avaliação de empresas que mostra “uma posição financeira em dado momento de tempo (na data do levantamento dos valores), e os diversos valores considerados são continuamente alterados em função da dinamicidade natural dos negócios da empresa” (ASSAF NETO, 2014a, p. 122). Os principais indicadores que medem a liquidez das empresas são: I. Liquidez Corrente: demonstra o potencial de quitação de dívidas de curto prazo, ou seja, quantos reais uma empresa possui em seu Ativo Circulante para quitar as obrigações registradas em seu Passivo Circulante. A fórmula para apurar a Liquidez Corrente é: LC = Ativo Circulante Passivo Circulante II. Liquidez Seca: mostra quais são os valores de liquidez mais imediata, isto é, o que existe no caixa, em bancos e em aplicações financeiras, e os valores a receber por vendas a prazo. Os estoques deixam de ser considerados, porque ainda não foram convertidos em vendas. A fórmula para apurar a Liquidez Seca é: LS = Ativo Circulante – Estoques Passivo Circulante III. Liquidez Geral: considera todo o dinheiro disponível, os estoques e os valores a receber pelas vendas de curto e longo prazos, comparando com todas as obrigações de curto e longo prazo da empresa. A fórmula para calcular a Liquidez Geral é: LG = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Passivo não Circulante Vejamos um exemplo prático comparando a evolução desses in- dicadores com base nos Balanços Patrimoniais da Cia. Hipótese Ltda. (Tabelas 3 e 4). Tabela 3 Balanço Patrimonial da Cia. Hipótese Ltda. (Ano I) BALANÇO PATRIMONIAL – ANO I ATIVO 1.776.331 PASSIVO 1.776.331 ATIVO CIRCULANTE 546.573 PASSIVO CIRCULANTE 988.601 Disponibilidades 315.084 Fornecedores 96.152 Caixa, Bancos e Aplicações 315.085 Empréstimo e Financiamentos 745.213 (Continua) Medidas de desempenho do negócio 39 BALANÇO PATRIMONIAL – ANO I Realizável a Curto Prazo 231.489 Obrigações Trabalhistas 42.645 Clientes 73.665 Obrigações Tributárias 104.591 Estoques 157.824 REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 342.765 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 205.475 ATIVO NÃO CIRCULANTE 886.993 Empréstimo e Financiamentos 205.475 Imobilizado 870.613 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 582.255 Intangível 16.380 Capital Social Integralizado 582.255 Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 4 Balanço Patrimonial da Cia. Hipótese Ltda. (Ano II) BALANÇO PATRIMONIAL – ANO II ATIVO 2.325.978 PASSIVO 2.325.978 ATIVO CIRCULANTE 928.598 PASSIVO CIRCULANTE 702.920 Disponibilidades 626.983 Fornecedores 124.318 Caixa, Bancos e Aplicações 626.984 Empréstimo e Financiamentos 345.802 Realizável a Curto Prazo 301.615 Obrigações Trabalhistas 63.000 Clientes 88.200 Obrigações Tributárias 169.800 Estoques 213.415 REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 225.973 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 1.040.803 ATIVO NÃO CIRCULANTE 1.171.407 Empréstimo e Financiamentos 1.040.803 Imobilizado 1.155.027 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 582.255 Intangível 16.380 Capital Social Integralizado 582.255 Fonte: Elaborada pelo autor. Com os dados em mãos, podemos calcular os índices de liquidez, conforme demonstrado a seguir. a. Liquidez Corrente ANO I ANO II LC = 988.601 546 573. LC = 0,55 LC = 702.920 928 598. LC = 1,32 40 Avaliação de empresas Interpretação No Ano I, para cada R$ 1,00 em dívidas, a empresa possuía R$ 0,55, revelando que não conseguia pagar suas dívidas de curto prazo, tendo, então, que recorrer a financiamentos bancários. No Ano II, para cada R$ 1,00 em dívidas, a empresa possuía R$ 1,32, revelando que possuía folga de caixa para honrar seus compromissos de curto prazo. b. Liquidez Seca ANO I ANO II LS = 988.601 546 573 157 824. .− LS = 0,39 LS = 702.920 928 598 213 415. .− LS = 1,02 Interpretação No Ano I, a empresa possuía somente R$ 0,39 para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo, indicando um desequilíbrio pelo alto endividamento bancário de curto prazo. No Ano II, para cada R$ 1,00 de dívida, a empresa possuía R$ 1,02 em valores a re- ceber e disponibilidades, revertendo o desequilíbrio do ano an- terior pelo fato de as disponibilidades terem aumentado e pela dívida bancária ter sido contratada com prazos mais longos. c. Liquidez Geral ANO I ANO II LG = 988.601 546 573 342 765 205 475 . . . + + LG = 0,75 LG = 702.920 928 598 225 973 1 040 803 . . . . + + LG = 0,66 Interpretação No Ano I, a empresa possuía R$ 0,75 para cada R$ 1,00 de dívidas de curto e longo prazos, demonstrando sérias dificuldades ope- racionais, pois estava financiando parte de suas atividades com empréstimos bancários. No Ano II, para cada R$ 1,00 de dívidas, a empresa possuía R$ 1,09, demonstrando um maior equilíbrio entre despesas e receitas. Todavia, percebe-se que esse equi- líbrio foi conseguido com a contratação de empréstimos ban- cários de longo prazo, podendo ocasionar problemas futuros para suprir a necessidade de capital de giro. Medidas de desempenho do negócio 41 No Ano II, para cada R$ 1,00 de dívidas, a empresa possuía R$ 0,66, demonstrando um desequilíbrio causado pelos emprésti- mos bancários de longo prazo. Esta situação mostra que o en- dividamento geral da empresa é superior a todos os valores a receber, estoques e disponibilidades da empresa. Caso as recei- tas não cresçam nos próximos exercícios a empresa continuará demandando recursos de terceiros para suprimento das necessi- dades de capital de giro gerando dúvidas sobre sua continuidade. Compreender os indicadores de liquidez é de suma importância para analisar a saúde financeira da empresa, entretanto uma das maio- res deficiências encontradas nos empresários é a negligência da gestão dos valores a receber e das obrigações. 2.3 Margem Operacional e endividamento Vídeo É sabido que a maioria das pessoas e boa parte dos empresários dão especial atenção ao lucro das empresas. No entanto, analisar sua performance somente por esse aspecto limita bastante uma visão mais profunda da real situação da empresa. É por isso que devemos olhar outros indicadores para aprofundar essa visão. Um deles, indicado para verificar a qualidade do lucro, é a Margem Operacional. 2.3.1 Margem Operacional (MO) Margem Operacional é um indicador derivado do EBIT, ou Resulta- do Operacional. Como vimos, o EBIT demonstra o valor resultante da subtração de todos os custos e todas as despesas (exceto o resultado financeiro e os impostos) da Receita Líquida. Para se chegar à Margem Operacional, basta dividirmos o EBIT pelo valor das Receitas Líquidas; assim, o número resultante será a Margem Operacional em percentual. Margem Operacional = Resultado Operacional ou EBIT Receitas Líquidas Mas qual é a importância desse indicador? Com ele, é possível verifi- car qual é a participação do Resultado Operacional, ou EBIT, nas Receitas Líquidas. Em suma, ele mostra o percentual das Receitas Líquidas que se transformaram em lucro antes dos impostos e das despesas financeiras. 42 Avaliação de empresas Vamos verificar, na prática, calculando a Margem Operacional da empresa Cia. Hipótese Ltda. com base em suas DREs dos Anos I e II. Tabela 5 Margem Operacional (MO) da Cia. Hipótese Ltda. ANO I ANO II MO = 35.000
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