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Prévia do material em texto

— t— p
O FRUTO 
DO ESPÍRITO
Pensamentos inspiradores que 
transformarão sua vida
A Chave da Personalidade Cristã
C h a rle s R . H em b rce
r
O FRUTO DO ESPÍRITO contém capítulos 
que são verdadeiras jóias da literatura evan­
gélica. Neles o leitor encontrará a chave da 
personalidade cristã.
O autor, Charles R. Hembree, tem exercido os 
cargos de pastor, capelão, assistente social, e 
ministro de evangelização. Atualmente faz 
parte do pessoal de uma conhecida empresa 
especializada na área das comunicações. Den­
tre outros livros do mesmo autor figuram De­
voções de Cinco Minutos e Ilustrações Efica­
zes da Vida Diária.
ISBN 0-8297-0852-9
FRUTO
DO
ESPÍRITO
CHARLES R. HEMBREE
Tradução de Adelina M. de Cerqueira Leite
©
Editora Vida
ISBN 0-8297-0852-9
Categoria: Espírito Santo
Traduzido do original em inglês:
Fruits of the Spirit
Copyright ® 1969 by Baker Book House Company 
Copyright ® 1978 by Editora Vida
1; impressão 1978 
2; impressão 1986
Todos os direitos reservados na língua portuguesa por 
Editora Vida, Miami, Florida 33167 — E.U.A.
Impresso no Brasil
ÍNDICE
1. Iludidos por um milagre............................... 11
2. Uma árvore de adornos (Amor)................ 19
3. A sede da verdade (Alegria)....................... 37
4. Pior que a guerra (Paz)................................ 53
5. Os anos do gafanhoto (Longanimidade). 69
6. O toque suave (Benignidade)..................... 85
7. O tamborileiro diferente (Bondade).......... 103
8. Enquanto a igreja dorme (Fidelidade)..... 121
9. A forma do conteúdo (Mansidão)............ 139
10. Prisioneiro voluntário (Domínio Próprio). 155
11. Fortuna numa garrafa.................................. 171
A Papai, um pai e amigo.
PREFÁCIO
Conta uma fábula antiga de três mercadores que 
atravessavam o Deserto da Arábia. Viajando de noite 
para evitar o calor intenso, numa noite sem estrelas, 
passavam por um leito seco de rio quando uma voz 
nas trevas lhes ordenou que parassem. Exigiu que se 
abaixassem, apanhassem seixos do leito seco do rio e 
os metessem nos bolsos.
Tendo obedecido â estranha ordem, foi-lhes dito 
para abandonarem o local e não se acamparem na­
quela vizinhança. Depois a voz misteriosa disse-lhes 
que pela manhã eles ficariam tanto alegres como 
tristes. Temerosos e confusos, obedecendo ao miste­
rioso intruso, eles viajaram noite a dentro.
Quando amanheceu, os homens examinaram an­
siosos seus bolsos, e, em lugar dos seixos, como era 
de esperar, encontraram jóias preciosas. Ficaram 
realmente muito alegres e tristes. Alegres por terem 
apanhado jóias, porém tristes porque, já que haviam
tido aquela oportunidade, não as apanharam em 
muito maior quantidade.
Essa lenda expressa lindamente o que muitos sen­
tem sobre as riquezas inexauriveis da Palavra de 
Deus. Ficamos emocionados por termos absorvido o 
que possuímos, porém tristes por não termos absor­
vido muito mais. Especificamente encontro esse es­
tado em dois versículos dinâmicos em Gálatas: 
“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, 
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 
mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não 
há lei” (5:22,23).
Durante muitos anos li essas palavras, ponderei e 
até preguei sobre elas. Então, certo dia, na alvorada 
da iluminação espiritual de Deus, examinei-as cuida­
dosamente, em prece, e verifiquei não serem pala­
vras comuns, mas retratos fantásticos da verdade. 
Em lugar de meros seixos recheando o intelecto 
espiritual, elas eram jóias sem preço. Meu coração 
encheu-se de alegria intensa com essa iluminação, 
mas entristeceu-se por eu não ter antes apreciado 
mais profundamente seu valor.
Muito se tem dito sobre o que constitui um cristão. 
Alguns podem enumerar-nos muitos ingredientes 
que se agregam para a formaçao de um uma perso­
nalidade cristã. A maioria pode afirmar-nos o que é 
não ser cristão. Contudo, nunca li claramente uma 
definição tão exata sobre a personalidade global 
cristã como nesses versículos aos Gálatas. É como se 
todos os princípios do Novo Testamento estivessem 
ali contidos. Cristo, convincentemente, condensou a
8 Fruto d o Espírito
Prefácio 9
responsabilidade cristã em dois mandamentos: 
Amarás a Deus de todo o teu coração e ao próximo 
como a ti mesmo. Semelhantemente, Paulo de 
modo sucinto estabelece a personalidade cristã nes­
ses dois versículos aos Gálatas.
Minha oração é que essas palavras, que há tanto 
tempo ouvimos e sobre as quais temos ponderado, 
subitamente se tomem vivas pela iluminação do Es­
pírito Santo de Deus em nossos espíritos. As jóias só 
são avaliadas como tais quando a luz dança sobre 
elas; igualmente, essas verdades inestimáveis só 
podem ser apreendidas quando o Espírito Santo de 
Deus nos conduz às suas profundezas. O propósito 
deste livro é encorajar os crentes a retirarem dos seus 
bolsos espirituais essas jóias sem preço e olharem de 
novo para elas à luz do Santo Espírito Divinal.
Charles R. Hembree
CAPÍTULO I 
ILUDIDOS POR 
UM MILAGRE
Um pouco do inferno recaiu sobre o mundo por 
causa de duas pessoas acreditarem num falso pro­
feta. No seu brilhante livro, Nicolau e Alexandra, 
Robert K. Massie conta como o Czar e a Imperatriz 
da Rússia foram iludidos por um milagre e assim 
deixaram seu grande império reduzido a pó.
Depois de muitos anos de ansiosa espera por um 
herdeiro ao trono russo, o Czar Nicolau II e sua 
esposa alemã, Federovna, foram abençoados com a 
vinda de um filho. Contudo, suas esperanças para o 
futuro foram cruelmente destroçadas seis semanas 
depois, quando os médicos descobriram que a 
criança sofria de hemofilia, uma moléstia incurável 
do sangue que podia matar a qualquer momento. 
Toda a sua curta vida teria de decorrer à sombra do 
terror, com a morte acompanhando sorrateira cada 
passo. Essa tragédia introduziu na família real um dos 
homens mais malvados que já houve.
Por vezes seguidas o pequeno czaréviche esteve à 
beira da morte. Vendo-o a retorcer-se em dores cru- 
ciantes, os pais, desesperados, pediam aos médicos 
que fizessem alguma coisa, mas eles de nada valiam. 
Nessas ocasiões eles voltavam-se para Gregory Ras- 
putin, um místico religioso de credenciais duvidosas, 
mais tarde conhecido como o monge louco da Rús­
sia. Invariavelmente, ele orava pelo menino e sobre­
vinha uma melhora notável. Até hoje os médicos não 
sabem explicar como essas curas ocorriam, porém a 
história dá testemunho delas. Rasputin sempre ad­
vertia os pais de que o menino só vivería enquanto 
eles o ouvissem.
O poder de Rasputin sobre a família real tomou-se 
tal que ele podia, com'uma palavra, obter a nomea­
ção ou demissão de qualquer funcionário do go­
verno. Nomeava ou demitia homens, baseando-se 
nas atitudes deles para com ele, antes que nas habili­
dades de tais homens. Conseqüentemente, todo o 
governo russo oscilava sob o conselho insensato 
desse homem mau. Sementes de revolta foram 
plantadas e regadas por descontentamento. Este ir­
rompeu com o assassínio da família real, guerra civil 
e a ascensão do comunismo. Alexandre Kerensky, 
figura de proa do governo durante aquele período 
desastroso, mais tarde consignou: “Sem Rasputin, 
não teria havido nenhum Lenin.”
Os homens têm-se impressionado sempre com 
milagres e milagreiros. No caso dos governantes rus­
sos, pode-se facilmente compreender sua posição 
angustiante e perdoar-lhes seu trágico engano.
12 Fruto d o Espírito
Contudo, à luz fria da história, pode-se também ava­
liar a grande tragédia que representou para o mundo 
o fato de esses dois olharem para a aparência ex- 
tema.
Muito freqüentemente, os homens aprendem bem 
pouco com os erros dos outros. Presentemente, al­
guns ainda estão sendo arrastados pelo que é espe­
tacular. Jesus repercute o sentimento desta época 
quando diz: “Uma geração má e adúltera pede um 
sinal. . . ” (Mateus 12:39). Jesus nos ensinou haver 
algo mais significativo do que milagres, e coisas mais 
sublimes do que o espetacular. Ele não veio só para 
morrer, maspara mostrar-nos como viver, e viver na 
perspectiva adequada.
No desenrolar do seu Sermão da Montanha, 
Cristo faz uma digressão para advertir sobre os falsos 
profetas que se apresentariam disfarçados em ove­
lhas. Ele nos dá, então, a fórmula perfeita para dis­
cernirmos quem é de Deus e quem é de Satanás: 
“Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” 
(Mateus 7:20). É interessante observar que ele não 
disse: “Procurai grandes sinais, maravilhas, milagres 
ou o espetacular.” Antes, simplesmente disse que os 
homens serão julgados pelo que eles são, não pelo 
que fazem.
Isso não diminui os milagres de Deus ou os dons 
do Espírito. Deus os emprega na sua soberana von­
tade para realizar seus últimos propósitos. Paulo faz 
uma lista desses dons, como a palavra da sabedoria, 
a do conhecimento, dons de curar, de operações de 
milagres, de profecia, de discernimento de espíritos,
Iludidos por um Milagre 13
de variedade de línguas, capacidade para 
interpretá-las (1 Coríntios 12:8-10). Contudo, nunca 
a Bíblia diz podermos aferir a espiritualidade ou sin­
ceridade de um homem por esses dons.
Os milagres podem ser imitados, bem como os 
dons. A história está cheia de casos verdadeiros 
disso. Os milagres de Moisés foram até certo ponto 
copiados pelos mágicos de Faraó. Durante séculos os 
videntes pseudo-religiosos têm curado e o falar em 
línguas tem sido imitado muitas vezes em adorações 
pagãs. S e o Cristianismo se baseasse nesses fatos 
como sua pedra angular, tratar-se-ia meramente de 
mais outra religião num mundo sufocado de reli­
giões. Mas Cristo invalidou para sempre essa apre­
ciação ao declarar: “Pelos seus frutos os conhece­
reis.”
O fruto do Espírito nunca pode ser imitado. 
Trata-se do que uma pessoa é, não do que faz. Esse 
fruto exclui toda a ambição. Os dons são externos, 
mas o fruto é interno. Os milagres fenecem, porém o 
fruto permanece. O fruto do Espírito excede o orgu­
lho pessoal em qualquer coisa que realizamos ou que 
Deus faz através de nós. Nenhum homem da terra 
podería ou desejaria imitar o verdadeiro fruto do 
Espírito.
Essas verdades não nos devem ser estranhas, já 
que Cristo no-las ensinou desde os primeiros mo­
mentos de sua vida terrena. Fica-se perplexo pela 
simplicidade chocante com que Cristo veio e pregou. 
Ele surgiu do terreno da obscuridade, pobreza e 
insignificância. Deus não escolheu um castelo, um
14 Fruto do Espírito
rei, uma cidade importante, ou manchetes de jornal 
para anunciar a vinda de seu Filho, mas lançou-o no 
mundo despercebidamente, exceto para alguns 
pastores e suaves místicos. . .
Mesmo o Reino que Cristo pregava asse­
melhava-se ao sal, à semente, ao fermento, à luz. 
Seus similares eram de fato verdadeiros porque o 
evangelho permeava, germinava, expandia-se e 
iluminava até que todos os outros pensamentos dos 
homens foram afastados para abrir caminho ao seu 
Reino. Toda a face da história foi modificada por esta 
sutil mas sobrenatural vinda do Rei dos reis e Senhor 
dos senhores.
Na verdade, Cristo realizou muitos milagres e fez 
grandes obras. Contudo, ele censurou alguns que o 
seguiam só por causa de seus milagres e a outros 
disse francamente: “Não o contes a ninguém.” João 
declarou ter Jesus realizado muitas outras obras e 
sinais que nem foram registrados. Cristo não estava 
interessado em assombrar os homens com o seu 
poder, mas em salvá-los pelo seu sangue. Aqueles 
que Cristo ressuscitou dentre os mortos estão agora 
de novo mortos. Aqueles que ele curou foram há 
muito esquecidos na carne e só lembrados pela pala­
vra. Aqueles milagres e sua utilidade imediata estão 
agora perdidos, exceto como estímulos para lembrar 
que Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre. 
Todavia, o Reino que ele pregou encheu de sua 
influência a terra toda, exatamente como ele disse 
que sucedería.
As horas mais sombrias na história da igreja têm
Iludidos por um Milagre 15
sido quando os homens acentuaram o espetacular 
para negligenciarem os frutos do Espírito. 
Armaram-se guerras em nome da Cruz. Homens 
foram assassinados pela sua discordância. Um líder 
negro militante, o falecido Malcolm X, culpou o Cris­
tianismo pelo ódio arraigado entre raças e chamou-o 
religião de homens brancos. Inda que estranho, ele 
admira a Cristo, porém acha que o Cristianismo 
deixou de seguir a Jesus, dando excessiva importân­
cia ao que é externo negligenciando a verdade 
intrínseca do Mestre. Talvez ele esteja com a razão. 
Pode ser que há tanto tempo procuramos aparentar 
retidão quanto ao que é externo que nos esquece­
mos de que Cristo é Senhor do coração, não do 
teatro.
Nestes dias históricos é da maior importância re­
tomarmos às verdades que Cristo ensinou e viveu. 
Ataques têm sido e serão feitos contra a Igreja. Líde­
res indignados voltam um dedo acusador contra o 
Cristianismo e alegam sua inaplicabilidade. Jesus 
disse que viríam esses tempos. Mas nessa circunstân­
cia é vital termos perspectivas apropriadas.
Um dos ataques mais recentes culpa o Cristia­
nismo pelo LSD. Um erudito da língua hebraica, 
John Marco Allegro, adverte: “A Igreja vai ser açoi­
tada como nunca antes porque. . . As raízes do 
Cristianismo jazem num culto de ingestão de drogas 
e o Novo Testamento é o artigo de fundo que o 
descreve.” Ele prosseguiu dizendo que os profetas 
do Antigo Testamento estavam sob o efeito de uma 
droga semelhante ao LSD quando tinham suas vi­
16 Fruto do Espírito
sões. A carga se acentua: “Aí está o falar em línguas. 
Seus sacerdotes e profetas eram traficantes de nar­
cóticos. 0 Novo Testamento foi um documento aco- 
bertador no intuito de circular entre grupos diversos 
naquele tempo, que estavam sob o ataque da orga­
nização romana.”
Aqueles que conhecem Cristo e a palavra de Deus 
não ficarão quebrantados por tais ataques. A ver­
dade é que a mensagem do Novo Testamento tem 
pouco a ver com milagres ou sinais. A mensagem 
crucial de Cristo e as admoestações dos apóstolos 
diziam respeito ao homem interior e ao seu desen­
volvimento. 0 poder de Cristo não reside nos seus 
milagres, mas na sua mensagem.
Vivemos agora em dias de falsos profetas. Hoje, 
“os inimigos do homem são os de sua própria casa”. 
A igreja está sendo atacada pelos seus próprios líde­
res descrentes, que têm as vestes de ovelhas da 
atividade intelectual. São tempos de provação em 
que devemos saber a que nos ater. Não o sabemos 
por milagres, mas pelo fruto. As portas do inferno 
não prevalecerão, mas é tempo de nos apoiarmos 
para o ataque e ficarmos firmes em nossa convicção 
de que Deus deseja a verdade no íntimo. É impor­
tante lembrar: . . . “surgirão falsos cristos e falsos 
profetas operando grandes sinais e prodígios para 
enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 
24:24). Então, para nossas próprias vidas, a ad- 
moestação de Pedro às mulheres piedosas devia ser 
o princípio orientador: “Não seja o adomo das espo­
sas o que é exterior. . . seja porém o homem interior
Iludidos por um Milagre 17
do coração, unido ao incorruptível de um espírito 
manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de 
Deus” (1 Pedro 3:3-4).
18 Fruto d o Espírito
UMA
Ar v o r e
CHEIA DE FITAS
Warden Kenyon J. Scudder conta de um amigo 
em viagem num trem, ao lado de um jovem clara­
mente perturbado e ansioso. Afinal, o moço contou 
que era um presidiário de volta da prisão. Seu crime 
tinha envergonhado sua família, pobre mas briosa, e 
ninguém jamais o visitou ou lhe escreveu durante os 
anos da sua ausência. Ele esperava que eles não 
tivessem escrito por falta de cultura. Contudo, não 
estava certo de ter sido perdoado.
O moço prosseguiu, explicando que queria facili­
tar a situação para eles. Por isso, lhes escrevera pe­
dindo que pusessem um sinal quando o trem pas­
sasse pelo sítio nas imediações da cidade. Se eles lhe 
tivessem perdoado e desejassem sua volta ao lar, 
teriam de amarrar uma fita branca na grande ma­
cieira perto da estrada. Se não o quisessem de volta, 
não fariam nada e ele ficaria no trem, iria parao 
oeste, e desaparecería para sempre.
2
À aproximação de sua cidade natal, o estado de 
tensão e desconforto do jovem aumentou ao ponto 
de não poder olhar. Seu amigo ofereceu-se para ficar 
de vigia e eles trocaram de lugar. Alguns minutos 
mais tarde ele colocou a mão no ombro do jovem 
presidiário e murmurou-lhe com a voz entrecortada: 
—Tudo bem. . . A árvore toda está cheia de fitas 
brancas.
Mais tarde, esse amigo disse a Warden Scudder: 
“Senti como se tivesse testemunhado um milagre.” 
E tinha, mesmo. Há sempre algo milagroso acerca do 
amor profundo e permanente que transcende 
obstáculos e anula tendências naturais de orgulho e 
dor. Deve ter sido esse o momento quando o escritor 
de um cântico sentiu o mais profundo amor conhe­
cido dos mortais, ao registrar:
Maravilhosa graça do amor que não se mede, 
ó graça que aos pecados e à culpa nossa ex­
cede,
que do Calvário a encosta, em jactos rubros 
corre,
é do Cordeiro o sangue, na cruz em que Ele 
morre.
Então o poeta faz repercutir o belo refrão que 
ainda aguilhoa as almas mais insensíveis.
Graça, graça, graça 
do divinal amor, 
graça do perdão
20 Fruto d o Espírito
que alimpa o interior; 
graça, graça, graça, 
que advém de Deus, 
graça que é maior 
do que os pecados meus.
O homem redimido pondera sobre o favor imere­
cido, o perdão e misericórdia de um Deus que nos 
salvou a despeito de fraquezas e maldades. Um mi­
nistro idoso estava no leito de morte quando seu fiel 
diácono disse:
—Ah, pastor, o senhor está para receber sua re­
compensa.
— Ah, não — replicou o pregador respirando com 
esforço — . Recompensa, não! Misericórdia!
Davi conheceu essa graça ilimitada quando ex­
clamou: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a 
tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas 
misericórdias, apaga as minhas transgressões” 
(Salmo 51:1). Deus tem a sua árvore inteira ador­
nada de fitas brancas, a indicarem seu profundo 
desejo de perdoar e redimir o homem decaído e 
desobediente.
Um amor tão admirável e divino traz em si uma 
tremenda responsabilidade porque é bidimensional. 
O amor não tem só uma dimensão vertical (o amor 
de Deus por nós e nosso a ele); tem também um 
aspecto horizontal (nosso amor pelos que nos cer­
cam). O perdão, diz Jesus, depende de nossa capa­
cidade de perdoar. Você será medido com a mesma 
medida que usa. Tão livremente como recebemos 
devemos dar. Assim, o fruto do Espírito é amor.
Uma árvore cheia de fitas 21
O escritor de cada epístola da Bíblia dã ênfase à 
importância do amor horizontal. Paulo afirma: “O 
maior deles é o amor.” E, de novo: “O amor é o 
cumprimento da lei.” Pedro acrescenta: “Acima de 
tudo, porém, tende amor intenso uns para com os 
outros.” João declara: “Deus é amor” — e acres­
centa — “Nós sabemos que já passamos da morte 
para a vida, porque amamos os irmãos: aquele que 
não ama permanece na morte.”
O amor, contudo, é uma palavra ampla. Para uns 
é aquela afeição adocicada e agoísta que sentimos na 
adolescência. Para outros é aquele amor simplório e 
frouxo de São Nicolau, que não pede disciplina al­
guma ou repressão. Outros o sentem como uma 
disciplina intransigente que não admite equívocos e 
muito menos sentimento humano. Contudo, é ne­
cessário definir a qualidade de amor que é o fruto do 
Espírito.
Paulo esclarece de maneira convincente o con­
ceito do amor na sua carta aos Coríntios. Os ingre­
dientes do amor estão dentro de um invólucro e não 
numa lista da qual selecionamos alguns que nos 
agradam. Aquele que ama realmente está cheio de 
todas essas qualidades e as expressa para todos os 
que o cercam. O amor, diz Paulo, é paciente, é 
benigno, é generoso, humilde, cortês, altruísta, bem 
humorado, sem astúcia e sincero.
O amor definido é o primeiro passo. O amor apli­
cado é o seguinte. Devemos ser cautelosos em não 
afirmarmos gratuitamente que amamos. Ao invés 
disso, precisamos analisar cuidadosamente tudo da
22 Fruto do Espírito
vida, aplicando cada ideal de Paulo para verificarmos 
se realmente amamos. Geralmente, traz-nos poucos 
problemas amar nossos amigos e irmãos em Cristo. 
Todavia, há dois aspectos da vida sobre os quais 
freqüentemente passamos por alto ao considerar­
mos o amor ideal semelhante ao de Cristo: amor no 
lar e amor no mundo. Usando a medida de Paulo 
para o amor cristão, seria sábio medirmos nossas 
vidas nessas áreas para ver primeiro se amamos de 
fato.
Os não divorciados — Amor no lar
Durante uma batalha no Vietnã, dois jovens esta­
vam em meio a uma batalha, com balas espoucando 
em toda parte; estilhaços estourando sobre sua ca­
beças e, de vez em quando, uma granada explo­
dindo por perto. Um dos moços, aterrorizado com a 
situação, disse, ofegante:
— Isto não é pavoroso?
O outro replicou:
—Ora, nem tanto. Só me faz lembrar de casa.
Um renomado psiquiatra observou recentemente 
que enquanto um em cada três casamentos termina 
em divórcio, outro desses três pertence a um estado 
não matrimonial, mas simplesmente “não divor­
ciado”. O amor e a comunicação desapareceram, 
mas o casal continua junto por causa de pressões 
sociais, filhos, finanças ou alguma outra razão. Tragi­
camente, o lar degenera num campo de combate de 
direitos individuais, por vezes tumultuado, outras, 
silencioso, mas sempre tenso. O lar transforma-se
Uma árvore cheia de fitas 23
meramente numa casa a que um agrupamento hu­
mano só comparece para comer e dormir junto. 
Dessa situação provêm os delinqüentes juvenis, 
neuróticos ou indivíduos piores. A infelicidade gera a 
infelicidade e os filhos de tais casamentos são fre- 
qüentemente tão caóticos como seus pais.
Na qualidade de pastor tenho visto em lares cir­
cunstâncias semelhantes, onde ambos os cônjuges 
são membros da igreja e cada um acredita estar 
seguindo a Cristo. Invariavelmente, há profundos 
problemas espirituais, e é sem dúvida evidente que 
falta nessas vidas o fruto do Espírito. Um indica o 
outro, acusando-o de imaturidade espiritual, quando 
realmente ambos são culpados. É verdade que as 
maturidades individuais são de diferentes graus, mas 
apesar do desenvolvimento espiritual de um, isso 
não deveria determinar a reação de outro. Booker T. 
Washington disse: “Não permitirei que homem 
algum rebaixe minha alma até ao ódio.” A despeito 
da ação alheia, nossa reação deve refletir o fruto do 
Espírito. Contudo, seria prudente perguntar-nos, 
sem considerar a personalidade, defeitos ou fraque­
zas de nosso parceiro: “Será que eu expresso o fruto 
do Espírito no meu casamento? Sou paciente, ge­
neroso, humilde, cortês, altruísta, de bom gênio, 
sincero, apesar da ação ou reação de meu parceiro?’ ’
A maioria de nós teria de dar uma resposta nega­
tiva a essas questões. Sim, um tal amor é o fruto do 
Espírito. A menos que desesperemos, há um modo 
de cultivar o amor no lar. Deus tem oferecido alguns 
excelentes espedientes para empregarmos, até que o
24 Fruto do Espírito
ideal do amor paire no lar como uma suave névoa. 
Eles são ativos e podem ser postos em prática. Pedro 
os anota na sua primeira epístola (1 Pedro 3).
Após considerar a condição de mulher dizendo 
que deviam ser compassivas e submissas; os maridos 
honrados e amorosos, Pedro enumera algumas su­
gestões práticas para fazer surgir o amor vivificante. 
Elas parecem tão simples ainda que sejam muito 
profundas.
“. . .Sede todos de igual ânimo. . . ” O problema 
mais comum do casamento é a falta de comunica­
ção. A comunicação surge quando temos um propó­
sito e um prazer. Conseqüentemente devemos ter 
ânimo idêntico. Os que estão unidos em Cristo são 
justamente assim: seu propósito e prazer são agradar 
a Cristo, preparar-se para a sua eternidade. Para 
estes, o casamento não é um fim em si mesmo, mas 
uma associação temporária que acarreta grande paz e 
alegria a um coração humano. Suas posses são real­
mente de Cristo e eles simplesmente as usam por 
certo tempo. Assim, a maioria dos problemas matri­
moniais dos outros são eliminados, não pela recusa 
em manobrá-los, mas porque os relega à suaprópria 
importância. Problemas financeiros, de educação de 
crianças, de sexo e de parentes são tratados com 
eficiência já que o propósito comum e alegria de 
ambos os parceiros são mantidos na mente. Essas 
I >essoas aprendem a amar profundamente porque os 
valores eternos têm a primazia.
. .compadecidos. . .” A compaixão é definida 
como a compreensão consciente da infelicidade
Uma árvore cheia de fitas 25
alheia, unida ao desejo de mitigá-la. Freqüente- 
m ente, os casais no ardor da discussão, 
concentram-se nas faltas de um para com o outro 
antes que no problema. Por essa razão, o problema 
original raramente se resolve, mas é juntado a outros, 
insolúveis, no inconsciente. Isso não leva a alívio, 
porém à frustração. É bom lembrar que a verdadeira 
definição de compaixão não é só compreender a 
desgraça dos outros, mas também desejar alijá-la. 
Cada um deveria empenhar-se por ser o primeiro a 
dar um sinal amistoso; o primeiro a anuir, o primeiro 
a sorrir, o primeiro a falar, o primeiro a perdoar. A 
força verdadeira é a habilidade e desejo de abater a 
muralha invisível entre um casal, erguida por mal- 
-entendidos.
. .fratemalmente amigos. . . ” Como essas pala­
vras nos parecem estranhas! Contudo, quando se 
compreende que a parte nevrálgica da mensagem de 
Pedro é o apelo ao respeito de um para com o outro 
na relação matrimonial, essa expressão se esclarece. 
Maridos e mulheres têm a mesma afeição mútua 
como irmãos no Senhor? Como isso funciona? Não 
falamos desreipeitosamente com nosso irmão no 
Senhor, a fim de que não se ofenda. Cuidamos de 
não nos aproveitarmos dele, e estamos prontos a ir 
em seu auxílio quando estiver em dificuldade. 
Esforçamo-nos para que ele passe alegremente o 
tempo em nossa companhia e para lhe darmos uma 
impressão favorável. Tomamos cuidado para não 
nos exaltarmos em sua presença.
Pedro encoraja os casais a terem o mesmo respeito
26 Fruto d o Espírito
mútuo que mostram para com os irmãos e irmãs no 
Senhor. É fácil ver quão mais profundo, rico e total 
seria nosso amor conjugal se o praticássemos como 
amor fraterno. É lindo ver marido e mulher não só 
unidos pelo casamento como pelos laços da mais 
estreita amizade.
“. . .misericordiosos. . .” A Nova Bíblia Inglesa 
traduz isto por “sede bondosos”. Deus não criou 
macho e fêmea psicologicamente idênticos porque 
cada um é o complemento do outro. Os homens 
sentem e pensam diversamente das mulheres e por 
vezes é difícil transpor essa brecha com delicadeza. 
Por muito que façamos nunca vamos mudar os pen­
samentos e ações do outro como são os nossos. 
Quando o tentamos, o resultado é uma profunda 
frustração e conflito interior. É quando chega a vez 
da bondade. Ser bondoso é aceitar a outra pessoa tal 
como é a amá-la assim. Alguém disse: “Gostamos de 
alguém porque; amamos alguém ainda que. ”
Muito freqüentemente tenho visto pessoas que 
procuraram mudar toda a sua estrutura psicológica 
para agradar a seu parceiro, com o único resultado 
de ser rejeitado porque o outro não queria realmente 
o que ele pensava. A questão é que deveriamos 
empenhar-nos por ser melhores, mas nunca dife­
rentes. Defrontamo-nos com graves problemas 
quando procuramos transformar-nos naquilo que 
não somos. Seria de bom aviso lembrar: “Foi o 
Senhor quem nos fez, não nós.” É sábio o parceiro 
que compreende ser o seu companheiro um indiví­
duo que Deus criou não para ser forçado a curvar-se
Uma árvore cheia de fitas 27
a um padrão desnaturado para satisfazer os desejos 
sórdidos do outro. Sendo bondosos podemos 
aprender a apreciar e amar aquela criatura humana, 
diferente, que Deus nos deu. “O amor,” disse um 
homem, “é o desejo apaixonado que há da parte de 
duas ou mais pessoas por produzirem juntas as con­
dições sob as quais cada qual possa ser, e expressar 
espontaneamente, seu verdadeiro eu; por produzi­
rem juntas um terreno intelectual e um clima em o­
cional nos quais cada um possa florescer, muito me­
lhor do que o faria sozinho.”
“. . .humildes, não pagando mal por mal, ou injú­
ria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo... ” 
Eis aqui uma das chaves mais importantes para um 
casamento feliz. O matrimônio não é só escolher o 
parceiro certo, mas também tomar-se o par certo. 
Algumas esposas queixam-se de que seus maridos 
são corteses e atenciosos em público, porém gros­
seiros e egoístas em casa. Da mesma forma, os mari­
dos dizem que as esposas são graciosas e vivas na 
sociedade, mas mal-humoradas e descuidadas em 
casa. Pedro declara que a simples cortesia extensiva 
àqueles que nos cercam deveria manifestar-se sem­
pre no lar.
Muitas vezes, se somos magoados pelo nosso par­
ceiro, queremos magoar como réplica. Quando ele 
nos fala asperamente, é grande a tentação de res­
ponder no mesmo tom. Contudo, Pedro fala de óleo 
sobre águas tumultuadas quando encoraja a prática 
do bem pelo mal e da brandura pela dureza. No 
casamento, mais do que em qualquer outra situação
28 Fruto d o Espírito
na vida, deve haver o desejo de percorrer a segunda 
milha, oferecer a outra face. Temos de ser termosta­
tos, não termômetros, afetando o ambiente, e não 
somente o refletindo.
“. . .Para que não se interrompam as vossas ora­
ções. . .” Aqui vai uma palavra de advertência. A 
pequena guerra na Coréia tragou tantas vidas 
quanto Hiroshima. Semelhantemente, as guerrilhas 
em nossos lares matam nossas famílias e destroçam 
nossas sociedades. Também as desavenças no lar 
impedem nosso acesso a Deus. Nossas preces 
podem ficar bloqueadas por falta de amor. Portanto, 
é imperativo, não só conveniente, que o fruto do 
Espírito, o amor, reine em nossos corações e lares, 
pelo temor de não podermos orar, obter perdão e 
por isso não possuirmos a vida eterna. O fruto do 
Espírito é o amor no lar.
A corrida da morte — amor no mundo
Vinte o oito carros roncavam pela curva, quando 
sobreveio um incidente. O carro do jovem David 
McDonald perdeu o controle quando ele se esfor­
çava por contomá-la; o corredor Eddie Sachs colidiu 
com outro, lateral, a duzentos e quarenta quilôme­
tros por hora. Uma explosão destroçou aço, borra­
cha e o fogo lavrou no ar a quinze metros. Um dos 
corredores morreu no local do desastre e o outro, 
duas horas depois, num hospital.
Três mil pessoas presenciaram em tétrico silêncio 
e chocadas por tristeza quando a morte desceu sua 
mortalha sobre as atividades festivas. A corrida do
Uma árvore cheia de fitas 29
Memorial Day de 1964 sofreu um atraso de cerca de 
uma hora e quarenta e cinco minutos, enquanto os 
mecânicos limpavam os destroços. Depois, a corrida 
prosseguiu.
Muitos dos que viram mais tarde na televisão o 
desastre ou ouviram sua descrição notaram que a 
coisa mais significativa para eles foi o fato de a corrida 
continuar. Isso é um comentário sobre os nossos dias 
e nos faz ver a trágica verdade de que vivemos num 
mundo impessoal. A maioria de nós só cuida do que 
lhe diz respeito. A tristeza só permanece por um 
momento e retomamos à atividade da vida. William 
Cullen Bryant tão eloqüentemente escreveu:
Os alegres vão rir 
quando tiveres partido, 
a solene ninhada de cuidados 
caminhará, e cada um, 
como antes, irá em busca 
de seu fantasma predileto.
Embora estejamos cônscios de que a vida deve 
continuar e não pode parar com a perda de um ente 
amado, no entanto, somos feitos para compreender 
cada dia que como humanos parece que nos afasta­
mos mais um do outro. O supermercado substituiu o 
armazém da esquina. A tradicional farmácia onde o 
pessoal se encontrava é agora um centro comercial 
cheio de funcionários que não reconhecemos ou não 
queremos conhecer. Tomamo-nos números, esta­
tísticas, percentagens e brilhantes cartões de crédito.
Uma razão da vida se ter tomado tão impossível é 
a alarmante explosão demográfica. Os peritos acre­
30 Fruto do Espírito
ditam que durante a permanência de Cristo o globo 
terrestre era habitado por cerca de duzentos e cin- 
qüenta milhões de pessoas. Lã por 1.600 A. D. esse 
número tinha dobrado.Em 1.900 tinha triplicado 
para um bilhão e meio. Então, em 1962 esse havia 
dobrado para quase três bilhões. Eles calculam que 
dentro dos próximos trinta anos a população terá 
dobrado novamente. A importância do indivíduo 
está decrescendo e continuará assim devido à explo­
são da população e da automatização.
Aumentam com idêntica rapidez — ou mesmo 
mais depressa — os esgotamentos emocionais e 
mentais. Desde 1903 a proporção de doentes men­
tais em casas de saúde dobrou. Interrogados para 
darem uma resposta, os psicólogos dizem que é por­
que o indivíduo está perdendo sua identidade, sua 
importância. O mundo tomou-se tão impessoal que 
ele mesmo é levado à loucura. Os vizinhos inexistem. 
Os homens se encerram nas suas próprias ilhazinhas 
apertadas e não sabem como se haver com proble­
mas de uma sociedade impessoal.
Recentemente, a imprensa relatou a história lanci­
nante de um jovem pai que se suicidou na cabina 
telefônica de uma tavema. Jam es Lee havia telefo­
nado para um jornal de Chicago e contado a um 
repórter que tinha mandado o relato de sua história 
num envelope de papel manilha. O repórter 
procurou desesperadamente descobrir de onde 
vinha o chamado, mas tarde demais. Quando 
a polícia chegou, o jovem estava caído na cabina, 
com um tiro na cabeça.
Uma árvore cheia de fitas 31
Nos seus bolsos encontraram um desenho colo­
rido de criança, muito amassado e estragado. Nele 
estava escrito: “Por favor, deixe no bolso do meu 
paletó. Quero que seja enterrado comigo.” O dese­
nho fora assinado em letras infantis por sua filha 
loura, Shirley Lee, que havia morrido num incêndio, 
cinco meses antes. Lee ficou de tal forma abalado de 
tristeza que pedira a pessoas inteiramente estranhas 
que cuidassem do enterro da filha, para que ela 
pudesse ter um belo serviço fúnebre. Ele disse que 
não havia ninguém da família para estar presente, já 
que a mãe de Shirley morrera quando a criança tinha 
dois anos.
Falando ao repórter antes de morrer, o pai de 
coração partido disse que perdera tudo o que pos­
suía na vida e se sentia muito só. Ele doou sua 
modesta fortuna para a igreja que Shirley freqüen- 
tava e disse: “Talvez dentro de dez ou vinte anos, 
alguém verá uma das placas e pensará em quem 
seria Shirley Ellen Lee e dirá: “Alguém deverá tê-la 
amado muito, muito.” O pai desesperado não su­
portou a solidão ou essa perda, e assim pôs fim à 
própria vida. Achou melhor morrer do que viver num 
mundo impessoal.
Imediatamente, nossos corações se comovem 
com tal incidente e respondemos prontamente: “Eu 
teria demonstrado amor e ternura para com este 
homem.” Contudo, a verdade trágica é que essas 
criaturas solitárias não trazem marcas que as identifi­
quem. Dissimulam-se atrás de rostos inexpressivos,
32 Fruto d o Espírito
barbas cerradas respingadas de cachaça e máscaras 
felizes tão falsas como as de um palhaço de circo. 
Estão fechadas na sua solidão porque não sabem 
como escapar daquela prisão. A única fuga que co­
nhecem está no fundo de uma garrafa, na ponta de 
uma rombuda agulha manchada de drogas, ou 
dentro de um revestimento reluzente de barbitúrico. 
Passamos por eles diariamente e na verdade não os 
vemos. Ou temos receio deles ou nos apavoramos 
com a sua aparência. Deixamos de ver a alma so­
litária interior. Poucos de nós sabemos como amar as 
multidões.
Jesus podia contemplar uma multidão e sentir-se 
movido de compaixão por ela. Ele podia escalar à 
noite a encosta solitária, vendo a cidade adormecida 
e chorando por ela. O milagre do seu amor é que ele 
amava as multidões e os milhares ainda por nascer 
ao ponto de querer morrer por eles. Seu amor não se 
restringia ã dimensão do pequeno país judaico, mas 
transcendia todos os limites e idades. Conseqüente- 
mente, ele preenchia suas horas de andanças, tor­
nando as pessoas felizes e aliviando-as de suas pro­
fundas depressões. Mais tarde ele diria através de seu 
apóstolo que o fruto do espírito é o amor.
O amor que é do Espírito deve relacionar-se com 
as nossas vidas. Se temos esse fruto, ele significa os 
nove elementos que Paulo menciona no seu capítulo 
sobre o amor. O amor, como Cristo tinha, não dis­
crimina raças ou rostos. Talvez pudéssemos orar 
para que Deus alargasse nossa visão ou grupo de 
pessoas pelas suas mais baixas expressões. Contudo,
Uma árvore cheia de fitas 33
o amor real os avalia pelos seus mais altos ideais. O 
verdadeiro cristão não pode expressar nenhuma es­
pécie de intolerância, religiosa ou racial, quer seja 
silenciosa, sutil ou vocal. O amor verdadeiro, fruto do 
Espírito, é aquele que Cristo demonstrou para com a 
humanidade.
Seguramente, é difícil ler acerca daqueles tão dis­
tantes e sentir afeição por eles. Só Deus pode 
ajudar-nos a desenvolver essa atitude. Contudo, en­
quanto aguardamos esse ideal podemos fazer algu­
mas coisas muito práticas onde quer que vivamos 
para pagar nossa dívida de amor à humanidade. 
Podemos zelar pelos corações partidos, ficar interes­
sados nos corações sofredores de outros, em lugar de 
nos ocultarmos em nossas vidas pequenas. Este é o 
primeiro passo. Assim, fatos despercebidos de cari­
dade e bondade são expressões naturais de amor. 
Você pode dar sem amar, mas não pode amar sem 
dar. Através do envolvimento pessoal no programa 
missionário de nossa igreja, de organizações de cari­
dade e missões evangelísticas, estendemos esse 
amor que Deus dá. Dedicar nossas vidas a atos de 
amor — foi isso que Jesus fez. E ao fazê-lo, cuidai de 
vos lembrardes deste pequeno poema:
Ontem eu fiz um favor, 
pequeno ato de amor. . .
O mundo inteiro chamei, 
que viu e fui elogiado.
Foram-se todos, e em poeira 
vi meu ato transformado.
34 Fruto do Espírito
Uma árvore cheia de fitas 35
Bem pequena cortesia 
hoje ocorreu-me fazer, 
depressa, sem ninguém ver, 
e depois disso fugi. . .
Mas Alguém testemunhou, 
pois declaro que ao voltar 
àquele mesmo lugar 
floriam rosas ali.
O fruto do Espírito é amor e ele abre as vias para 
todos os outros frutos vindouros. Como podemos 
ter alegria, paz, resignação ou os demais, sem pri­
meiro nos saturarmos desse mesmo amor que Cristo 
teve? Quando aprendemos a tê-lo e expressá-lo, há 
uma beleza que desce à vida como antes nunca a 
experimentamos. No belo poema “Sella” o poeta 
Bryant expressa este pensamento:
Desde então seus dias eram feitos 
de calmas tarefas do bem 
no grande mundo.
E em obediência os homens acolhiam 
suas palavras tão sábias, 
e viam de beleza a lei do amor 
envolver cuidados e aflições 
do dia a dia.
3
SEDE DA 
VERDADE
O terror avassalou de flamas ardentes aquela 
manhã de abril de 1906, quando a crosta terrestre 
em São Francisco afundou destruindo a cidade. En­
quanto milhares de refugiados movidos pelo pânico 
esforçavam-se por abandonar a cidade em chamas, 
um homem de cabelos emaranhados, olhos arden­
tes, e de nariz de águia penetrava na cidade no único 
trem que chegou lá naquele dia. Ele era o famoso 
psicólogo William James, então com 64 anos e com o 
coração em mau estado.
Durante as próximas doze horas Jam es meteu-se 
entre as volutas de chamas, edifícios destroçados e 
montes de cascalhos, com um caderno em punho, a 
perguntar ansiosamente aos habitantes em fuga: 
“Como você se sentiu quando o terremoto come­
çou?” “Que pensamentos lhe acudiram à mente?” 
indagava. “Seu coração bateu mais apressado?” 
Esta era a paixão compulsiva que tomou William
James, um dos mais avançados cientistas de sua 
geração. Sua sede pela verdade levava-o a explorar, 
experimentar, mudar e crescer. Ele tinha uma curio­
sidade insaciável por aprender o que se relacionava 
com cada faceta da personalidade humana e com 
tudo sobre os grandes segredos da vida.
Tragicamente, a diferença entre cientistas como 
William James e alguns religiosos é que o cientista 
admite abertamente não possuir toda a verdade e 
apaixonadamente a busca, ao passo que os segun­
dos ficam sentados presumidamente reivindicando 
ter a resposta a todos os problemas da vida. Por 
causa dessa atitude,alguns intelectuais têm consi­
derado a religião como ignorância arrogante que 
pouco lhes pode oferecer. Não é preciso ser um 
gênio para saber que há muitos problemas da vida 
sem resposta e mesmo Paulo admite “Porque agora 
vemos como em espelho, obscuramente.”
Talvez seja tempo de compreendermos que o ver­
dadeiro religioso não é aquele que, sentado numa 
torre alta, derrama sabedoria como missangas de um 
colar rebentado, mas assemelha-se ao cientista, em 
busca apaixonada por novas visões interiores, ver- i 
dades e revelação. A única diferença é que o homem 
que conhece a Deus descobriu o caminho verda­
deiro a percorrer na sua busca. Mas é só o caminho e 
para aprender a verdade esse homem deve andar e 
pesquisar. Deus só nos coloca na direção certa, como 
se a um homem perdido se desse uma bússola no 
fundo da selva. Nela está o sentido certo da direção, 
mas ele deve abrir seu caminho de per si.
38 Fruto do Espírito
Sede da verdade 39
A premissa é particularmente importante quando 
se chega a entender alegria como fruto do Espírito. 
Devemos ser realistas e reconhecer que há alguns 
cristãos sinceros que têm pouca alegria nas suas 
almas. E há aqueles que não são cristãos e contudo 
demostram verdadeiras explosões de alegria. Nossa 
sede pela verdade pode levamos a buscar a resposta 
a esse paradoxo. As observações que se seguem são 
meras sugestões que, espero, nos aproximem da 
declaração de Paulo: “O fruto do Espírito é alegria.” 
Elas não pretendem ser respostas exatas ou uma 
fórmula mágica.
A alegria é semelhante a um poço de água potável. 
Não é suficiente saber que a água está ali ou mesmo 
perfurar o poço. Se o poço é para ser utilizado a água 
tem de vir à superfície. Os que conhecem Cristo 
encontraram a fonte da alegria, mas alguns não fize­
ram uso do poço e, portanto, sua alegria permanece 
encerrada. Por conseguinte, aqueles que não têm 
comunhão com Deus, freqüentemente sentem ex­
plosões de alegria, uma fusão com o universo, uma 
verdadeira inter-relação com a natureza, uma exul- 
tação do espírito. O psicólogo Abraão Maslow ob­
servou esses fatos em seus clientes e fez uma avalia­
ção, relatando “momentos de grande pavor; mo­
mentos da mais intensa felicidade ou mesmo arre- 
batamento, êxtase ou bem-aventurança” . Ele con­
cluiu que aquilo não era necessariamente uma expe­
riência religiosa, mas simplesmente uma expressão 
de boa saúde. Contudo, talvez esses momentos são 
aqueles em que Deus tenta passar através da arma­
ção do homem, expondo-o a uma vida mais ampla e 
rica.
Há um rio
A alegria costuma apresentar-se como algo ilusó­
rio que passa além do alcance do homem. A alegria é 
muito mais do que felicidade. É “exultação do espí­
rito”, segundo o dicionário, “satisfação; delícia, um 
estado de felicidade.” Como diz Ardis Whitman, 
“temor reverente e um sentimento de mistério são 
parte dela; assim são os sentimentos de humildade e 
gratidão. Subitamente damo-nos conta com acui­
dade de cada coisa vivente — cada folha, cada flor, 
cada nuvem, da flor de maio debruçada sobre o 
tanque, do corvo grasnando no topo das árvores” . O 
Professor Maslow disse: “Você não pode buscar ex­
pressamente tais momentos. Você deve ser sur­
preendido pela alegria.” Contudo, pode-se furar o 
reservatório e encontrar alegria contínua. Paulo diz: 
“O fruto do Espírito é alegria.”
Nos primórdios da história do homem o salmista 
disse: “Há um rio, cujas correntes alegram a cidade 
de Deus.” Ele não só diz haver uma fonte, mas 
prossegue: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na 
tua presença há plenitude de alegria, na tua destra 
delícias perpetuamente” (Salmo 16:11). Assim, 
aprendemos que a fonte da plenitude da alegria é a 
presença de Deus. É, pois, fácil ver por que o crente 
cheio do Espírito terá grande alegria. Deus está com 
ele e nele habita, de forma que há completa, contí­
nua e permanente alegria.
40 Fruto do Espírito
Sede da verdade 41
Depois da Escritura identificar a verdadeira fonte 
de alegria, ela reafirma essa verdade muitas vezes. 
Uma característica peculiar à adoração judaica era a 
grande alegria. De fato, a reputação de alegria tinha 
se alastrado de tal forma que quando os babilônios 
capturaram Israel, eles os escarneciam dizendo: 
“Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.” O livro de 
Atos fala-nos de pessoas cheias de alegria e do Espí­
rito Santo. Os redimidos criavam melodia em seus 
corações. Depois que a cidade samaritana recebeu a 
salvação, “Houve grande alegria naquela cidade” . 
Paulo fala sem fazer apologia: “Porque o reino de 
Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz, e 
alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17).
Recentes descobertas arqueológicas encontraram 
cartas escritas por mártires durante aqueles primeiros 
três séculos de tentativa de seguir a Cristo. Na imi­
nência da morte um santo escreveu: “Num buraco 
escuro encontrei alegria; num lugar de amargura e 
morte encontrei repouso. Ao passo que outros cho­
ravam encontrei riso, onde outros temiam encontrei 
força. Quem acreditaria que num estado de miséria 
tenho tido grande prazer? que num canto solitário 
tenho tido gloriosa companhia e nas mais duras 
amarras perfeito repouso? Todas estas coisas Jesus 
me assegurou. Ele está comigo, conforta-me e me 
enche de alegria. Ele afasta de mim a amargura e me 
enche de força e consolação.”
Eu estive na prisão em que Paulo ficou confinado 
justamente antes do seu martírio. Os muros eram 
frios, de pedras grosseiras, a masmorra tão úmida
que provocava tremores no meio do dia. Só por um 
orifício pequeno entrava luz e ar. Não há aqueci­
mento e o teto é tão baixo que não pude ficar com o 
corpo erguido. Paulo ficou ali ao menos por dois 
anos e foi dali que escreveu sua última grande epís­
tola, 2 Timóteo. Ainda que agora fosse iluminada 
eletricamente, a pequena cela parecia apertar-me.
Naquela noite li de novo a última carta ao jovem 
Timóteo. Não notei uma palavra de melancolia; 
antes, é um brado de triunfante regozijo. Paulo con­
clui: “Combatí o bom combate, completei a carreira, 
guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está 
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará na­
quele dia” (4:7-8). Há uma alegria que transcende a 
preocupação, transpondo amuradas de circunstân­
cias, e repoucando através da morte. Paulo não fala 
de “arroubos de alegria” ou de “momentos em que 
ela perpassa por nós” , mas antes de uma constante, 
sempre presente, permanente exultação do espírito. 
“O fruto do Espírito é alegria.” Em João 7:38-39 
encontramos a promessa de Jesus: “Quem crer em 
mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios 
de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito 
que haviam de receber os que nele cressem; pois o 
Espírito até esse momento não fora dado, porque 
Jesus não havia sido glorificado.
O doce aqui e agora
A descrição precedente parece idealística; con­
tudo sabemos que há aqueles que atingiram essa 
permanente presença da alegria. Se é assim, por que
42 Fruto do Espírito
Sede da verdade 43
vivemos tão abaixo do nível dessa alegria perma­
nente? Talvez seja porque freqüentemente nos pro­
gramamos para viver no doce porvir antes que no 
agora. Sir William Osler admoestava seus pacientes a 
viver em compartimentos centrados no dia, em luta 
com as frustrações e alegrias do agora. Longfellow 
adverte:
No futuro não esperes.
Deixa que o passado enterre seus mortos.
Age, age no presente,
teu coração dentro e Deus sobre a cabeça.
É muito fácil emprestar do amanhã a luz do sol e 
desprezar as pequenas alegrias do presente, anteci­
pando outras mais intensas do amanhã. Pelo fato de 
nãò saborearmos as pequenas alegrias, os pequenos 
prazeres, as delícias do momento, perdemos muito 
da vida e de Deus. Jesus pede que sejamos fiéis nas 
coisas pequenas e Deus nos confiará muitas outras.
Os cânticos infantis freqüentemente conseguem 
penetrar pela couraça da pretensão humana, ex­
pondo nossa fraqueza tal como é. O gato de Dick 
Whittington que foi a Londres ver a rainha éum 
exemplo típico.
Bichano, bichano, que fizeste ali?
Embaixo de sua cadeira um camundongo as­
sustei.
Uma porção de pessoas são como aquele gato. No
esplendor do palácio, na majestade da realeza, na 
beleza da pompa, o pobre gato só podia ver um 
camundongo. Nossas vidas se passam entre os es­
plendores da criação, ainda que muitas vezes nos 
enredamos na vida, erguendo vagamente nossos 
olhos para as glórias que nos cercam. Alguns encon­
traram a alegria de viver, mas um grande número se 
acomodou com a monotomia da existência. Com 
razão disse Robert Louis Stevenson: “Perder a ale­
gria é tudo perder.”
Parece sempre haver razões legítimas para dei­
xarmos escapar as pequenas alegrias que nos cer­
cam. Certa noite eu acalentava minha filhinha para 
fazê-la dormir. Para minha frustração, ela estava in­
teressada em prosear. Eu queria que ela calasse e 
dormisse, porque precisava fazer muitas coisas. 
Tinha de preparar sermões, de escrever artigos, dar 
telefonadas e responder cartas urgentes. Intima- 
mente, ressenti-me dessa intrusão no meu tempo. 
Nesse instante ela ergueu os olhos e disse simples­
mente: “Papai, eu gosto de você.”
Aquilo me feriu duramente. Quão insensível eu 
estava sendo! Ali estava uma das experiências mais 
preciosas e alegres da vida e eu desejava afastá-la, 
para poder “fazer coisas”. Murmurei uma prece, 
pedindo perdão a Deus, apertei minha filhinha junto 
a mim e desejei que aquele momento durasse para 
sempre.
Um gigante relógio floral em São Luís tinha a 
inscrição: “As horas e as flores depressa fenecem.” 
Como era verdadeiro! O tempo é um inimigo que
44 Fruto do Espírito
Sede da verdade 45
nos rouba os momentos fugazes porém sublimes de 
alegria que enchem os canais de nossas mentes, 
levando-nos para mais perto de Deus. Como Cristo 
curou o cego mendigo, freqüentemente precisamos 
dele para remover escamas de nossos olhos de forma 
a podermos reconhecer as pequenas alegrias e os 
momentos significativos que Deus traz para o nosso 
caminho cada dia.
Helen Keller disse sabiamente: “Use seus olhos 
como se amanhã você fosse ferido de cegueira”. Ela, 
cega por tantos anos, disse que se tivesse só três dias 
de visão, no primeiro gostaria de ver as pessoas cuja 
bondade e camaradagem tinham tomado sua vida 
valiosa. Ela convocaria todos os seus amigos e fitaria 
longamente suas faces. Ela também fitaria o rosto de 
um nenê. Gostaria de ver os muitos livros que ha­
viam sido lidos por ela, e olhar os olhos dos seus cães 
fiéis e leais. Gostaria de fazer um longo passeio pela 
mata.
No segundo dia, Helen Keller disse que se levan­
taria cedo para ver o amanhecer. Visitaria museus 
para aprender o progresso do homem. Também 
visitaria um museu de arte para verificar a alma do 
homem, estudando suas pinturas e esculturas. 
Então, à noite, iria ao teatro para ver a graça da 
grande bailarina Pavlova.
No último dia voltaria a assistir ao amanhecer, para 
descobrir novas revelações de sua beleza. Então ela 
visitaria as cavernas dos homens, onde eles trabalha­
vam. Ficaria nos cantos das ruas movimentadas, 
procurando entender algo da vida diária das pessoas,
fitando-as nas faces e lendo o que estava nelas es­
crito. Gostaria também de ver o sofrimento para 
sentir compaixão. Gostaria de dar um giro por Nova 
Iorque, vendo as favelas, as fábricas, os parques e 
crianças brincando.
Na última noite ela gostaria de assistir a uma peça 
cômica para apreciar os reflexos da comédia no es­
pírito humano. A coisa interessante a notar é o seu 
desejo de ver as coisas comuns que nos cercam e 
desta grande mulher podemos aprender a usar nos­
sos olhos e ver o mundo em redor. Se pudéssemos 
aprender a ver o mundo de Deus, talvez pudéssemos 
aprender a ver a Deus, que na verdade é a fonte de 
toda a alegria.
Oh, que Deus possa permear as nossas vidas até 
que nos conscientizemos plenamente dos flocos ma­
cios de neve, do tamborilar persistente da chuva, do 
sopro do vento. Precisamos lembrar-nos de que 
Deus não só nos promete encontrar-nos no seu 
santuário, mas que ele manifesta sua obra em toda a 
parte do mundo. “Porque os atributos invisíveis de 
Deus, assim o seu eterno poder como também a sua 
própria divindade, claramente se reconhecem , 
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por 
meio das coisas que foram criadas” (Romanos 1 :20).
Mas talvez você seja um dos que não apreciam 
particularmente os campos nevados e a água da 
chuva enchendo em redemoinho os canais. Talvez 
não fique emocionado com um passeio na floresta. A 
questão não é transformá-lo em amante da natureza, 
mas só levá-lo a abrir os olhos às maravilhas que
46 Fruto do Espírito
Sede da verdade 47
Deus coloca em tomo de nós. Robert Frost podia 
admirar uma floresta e ficar inspirado a escrever 
grandes poesias. Semelhantemente, Carl Sandburg 
podia ver uma sombria e agitada Chicago e notar 
uma pura e rara beleza. Cada qual via a beleza em 
duas coisas diferentes, mas ambos ficavam inspira­
dos. Pablo Picasso pôde ver seu quadro de arte 
clássica, “A Cabeça do Touro”, numa bicicleta que­
brada. Michelangelo podia sentir Moisés querendo 
sair furioso de uma lasca de pedra. O importante não 
é nos emocionarmos com os que os outros fazem, 
mas com o que vemos.
Os prisioneiros de guerra muitas vezes voltam re­
latando experiências terríveis durante seu cativeiro. 
Inevitavelmente, eles dizem que nunca aprenderam 
deveras a apreciar o alimento até se verem privados 
dele. Sempre me recordo de um prisioneiro que 
recebia por dia só um pedaço de queijo velho e pão. 
No seu diário ele anotou os sabores exóticos e os 
prazeres daquele alimento simples. Muitos de nós 
não sentimos alegria por que nunca aprendemos 
realmente a viver, a ver, a agir, a sentir o presente. 
Jesus nos pede que não nos preocupemos com o 
amanhã, mas só consideremos o hoje. Edna St. Vin- 
cent Millay exclamou: “ó mundo, eu não posso 
unir-me mais a ti.”S e na verdade vemos, sentimos, 
amamos, apreciamos deveras o que Deus nos deu, 
brotará em nós essa grande alegria.
Um passeio com destino
Contudo, a apreciação plena das delícias de hoje 
não é a resposta inteira. Se assim fosse, o humanista
levaria sobre nós grande vantagem. Hã dias em que 
dores físicas nos impedem de apreciar melhor os 
prazeres que nos cercam. A tragédia imiscui-se em 
nossas vidas despercebidamente, arrebatando-nos 
alguém muito querido. As circunstâncias pesam 
sobre nós até que nossos olhos se cerram à espe­
rança. Deve haver alguma coisa mais profunda e 
significativa se a alegria tem de permanecer durante 
tempos aflitivos. Há, sim quando nos compenetra­
mos de que somos entidades para a eternidade. 
Cada um de nós tem seu caminho individual com o 
destino.
Prisão, desastre e derrota não puderam vencer o 
inglês valoroso que nos últimos anos seria conhecido 
como “o homem do século”. Durante a guerra dos 
Boers, Winston Churchill ficou preso em Pretória, na 
África do Sul, de onde mais tarde escapou. 
Passaram-se anos e como chefe supremo do Almi- 
rantado, ele foi pessoalmente incriminado pelo cus­
toso desastre nos Dardanelos e forçado a demitir-se. 
Mesmo depois de dirigir com êxito sua nação durante 
outra guerra, seus concidadãos o derrotaram nas 
eleições. Contudo, ele permaneceu intrépido e 
ergueu-se de novo para ser o primeiro-ministro. 
Morreu como o homem mais estimado de sua gera­
ção.
Para compreender o espírito indomável de Chur­
chill que o levou a erguer-se mais de uma vez das 
cinzas da adversidade, é necessário ler seus escritos. 
Falando da hora em que as circunstâncias da guerra 
o impeliram à liderança do mundo, ele disse: “Eu
48 Fruto d o Espírito
Sede da verdade 49
estava consciente de um profundo senso de alívio. 
Afinal, tinha a autoridade de dar ordens em todas as 
paragens. Sentia como se caminhasse com o Destino 
e que toda minha vida passada não tinha sido senão 
um preparo para essa hora de provação.” Essas não 
são palavras ociosas de um líder egocêntrico, mas a 
convicção profunda de um homemque sentiu ter 
sido escolhido por Deus para salvar a Inglaterra. A 
história registra os resultados dessa convicção.
Há homens que apreendem o fato de que andam 
com o destino. São os Churchills, Abraão Lincolns e 
Ben Gurions. O que esses homens sentem no ter­
reno temporal é só uma sombra do etemal. Todos os 
que estão em Cristo andam diariamente com o des­
tino. Aos dezoito anos Jeremias tremeu quando o 
dedo de Deus escreveu na sua alma: “Antes que eu 
te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes 
que saísses da madre, te consagrei e te constituí 
profeta às nações” (Jeremias 1:5).
Os homens do destino sofrem os mesmos, e por 
vezes mais, reveses e frustrações que flagelam todos 
os homens. A diferença é que eles sabem que há um 
supremo esquema das coisas e um plano soberano. 
Portanto, as dores e problemas do presente não lhes 
parecem tão importantes. Eles mantêm seu espírito 
“Invicto”, em plena face da derrota.
Com o humanos freqüentem ente interpre­
tamos mal o significado do destino. Para nós a vida 
toma-se um fim em si mesma e os sucessos ou 
fracassos de agora são considerados como fins 
contidos neles mesmos.
Nossos problemas centralizam-se no fato de que 
perdemos nossa perspectiva. Quando a tragédia se 
abate, vem a morte, ou a derrota destrói nossas 
ambições, há a tentação de perder de vista o eterno. 
Contudo, foi essa visão do eterno a chave da grande 
alegria dos apóstolos. De acordo com a tradição, 
onze deles morreram mártires, só João tendo cer­
rado os olhos por morte natural. Paulo, falando por 
todos os apóstolos podia dizer: “Porque a nossa leve 
e momentânea tribulação produz para nós eterno 
peso de glória, acima de toda comparação, não 
atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que 
se não vêem; porque as que se vêem são temporais, 
e as que se não vêem são eternas (2 Coríntios 
4:17-18). Sabemos que não vivemos para os mes­
quinhos setenta anos de vida terrena, porém somos 
criaturas da eternidade.
Antes, nessa carta aos Coríntios, Paulo afirma que 
porque seus olhos estão no eterno, os problemas 
imediatos podem ser relegados aos seus próprios 
lugares. “Em tudo somos atribulados”, diz Paulo, 
“porém, não angustiados; perplexos, porém não 
destruídos (2 Coríntios 4 :8 e 9). Mas, para que me­
ramente não tenhamos por meta aquela vida eterna 
e “soframos” nesta, ele acrescenta: “Pois, na ver­
dade, os que estamos neste tabemáculo gememos 
angustiados, não por querermos ser despidos, mas 
revestidos, para que o mortal seja absorvido pela 
vida... É por isso que também nos esforçamos, quer 
presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis”
50 Fruto do Espírito
Sede da verdade 51
(5 :4 ,9 ). Paulo não era um santo sofredor, 
atordoando-se com a vida até que Deus o libertasse. 
Em lugar disso, era um filho de Deus, cheio de ale­
gria, de exuberância e vida, que não se deixava 
abater pelos reis, sacerdotes, cadeias ou açoites. Ele 
era um homem possuído pela alegria da presença de 
Deus.
É de vital importância que o homem acredite no 
propósito fundamental da criação. Como um prega­
dor famoso certa vez observou: “Se a irreligiosidade 
fosse só descrença na religião, poderiam os 
enfrentá-la; mas em toda a irreligiosidade — redu­
zindo o universo em prótons e eléctrons, que leva à 
cegueira; sem Deus algum ou um propósito espiritual 
nele — não se trata só de descrença em religião, mas 
em descrença fundamental na própria vida.” Ele 
observou ainda que o resultado lógico de tal ceti­
cismo levava o povo a pensar: “De que vede afinal?” 
E o resultado psicológico seria o cinismo pessoal. 
Carl Yung, o notável psicólogo suíço, ouviu certa vez 
de um paciente: “S e ao menos eu soubesse que 
minha vida tinha algum significado e propósito, 
então, não haveria nenhuma estória tola sobre meus 
nervos.” A personalidade humana não pode flores­
cer sobre nenhuma idéia tão fútil acerca da vida.
Assim, a semente da alegria é espalhada pelo Es­
pírito e quando reconhecemos a fonte da alegria, 
conservamos nosso espírito receptivo às suas, por 
vezes, muito suaves vozes nas coisas que nos cercam 
e mantemos nossa perspectiva recordando-nos de 
que somos criaturas do destino. A alegria aumentará
52 Fruto d o Espírito
em nossas vidas até conhecermos a emoção não 
somente de momentos fragmentários de alegria, mas 
o rio que flui continuamente, esparzindo-se sobre as 
nossas vidas. Este é o fruto do Espírito de Paulo, a 
alegria. Finalmente, um lembrete:
Nada há que eu possa dar-te que já não 
tenhas,
Mas há muito em mim que, embora não 
possa dar-te, podes tomar.
A tristeza do mundo é apenas sombra;
Atrás dela, ao teu alcance, está a alegria:
Toma-a, pois!
4
PIOR 
DO QUE 
A GUERRA
Uma chuva de tiros espalhou na tarde ensolarada 
o sangue de um berlinense quando ele tentou atra­
vessar o muro infame. Durante quarenta e cinco 
minutos de agonia ele suplicou à polícia de Berlim 
Oriental que o retirasse do muro e lhe desse o so­
corro de um médico. Estoicamente eles permane­
ceram com as armas engatilhadas, enquanto o san­
gue do outro se esvaia. Essa é a paz de Berlim.
Há muitas espécies de paz no mundo. Andando 
junto àquele muro de Berlim podia-se sentir os olhos 
dos guardas perfurarem suas costas. Há ali uma ten­
são terrível, uma questão política em muitos sentidos 
pior do que a guerra. Contudo, dir-se-ia haver au­
sência de guerra declarada e isso é um certo tipo de 
paz.
Há também a paz de Auschwitz, a paz da morte. 
Hitler procurou fazer a paz com os judeus, 
exterminando-os nas suas pavorosas câmaras de
gás — sua “solução final”. Também, há a paz da es­
cravidão e sujeição como os romanos forçaram seus 
súditos. A revista Decision recentemente disse que 
essa podia ser chamada a paz do Tibete: ‘ ‘A nação do 
Tibete foi completamente destituída de sua persona­
lidade em nossa geração pela China comunista sem 
que fosse feito um único protesto em frente a uma 
única embaixada. Há paz no Tibete, mas o tibetanos 
acabariam com ela se pudessem.”
Há ainda a paz dos tranqüilizantes, do uísque, a 
paz dos viciados em narcóticos e bebidas alcoólicas. 
Há a paz dos encarcerados em instituições mentais e 
a dos prisioneiros que sofrem lavagem cerebral. A 
paz dos “hippies” com uma “viagem” através do 
LSD é outra espécie de paz. Mas como Winston 
Churchill disse com tanta propriedade: “Há muitas 
coisas piores do que a guerra. A escravidão é pior do 
que a guerra. A desonra é pior do que a guerra.” E a 
maioria da paz conhecida hoje no mundo é pior do 
que a guerra. Ou, na melhor das hipóteses, é indu­
zida artificial e temporariamente. Longfellow fez eco 
à nossa consternação há um século atrás:
E em desespero a cabeça baixei:
“Não há paz na terra” , assim declarei,
“Por que o ódio é forte 
e zomba do canto de paz 
que à terra a boa vontade traz!”
Parece termos razão de desesperar quando consi­
deramos que oitenta e cinco por cento de toda a
54 Fruto do Espírito
história tratam de guerra. Na breve história dos Esta­
dos Unidos temos estado continuamente envolvidos 
em algum tipo de conflito. Mesmo a doação feita por 
John D. Rockfeller, de oito e meio milhões de dóla­
res, para promover as Nações Unidas parecem des­
perdiçados porque tensões ainda apertam a garganta 
do mundo.
A contradição de Cristo
Isaías com clara antecipação diz “. . .e o seu nome 
será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da 
Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Todos os 
eruditos cristãos concordam em que esse verso se 
refere a Cristo, o Menino nascido e o Filho dado. Os 
anjos refletem esse pensamento, ao anunciarem aos 
pastores: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz 
na terra entre os homens” (Luc. 2:14). Os discípulos 
de Cristo esperavam o cumprimento dessas profe­
cias e eis que um dia ele os deixa abalados com uma 
idéia constemadora, contrária a tudo que eles tinham 
lido ou ouvido. Jesus disse: “Não penseis que vim 
trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. 
Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; 
entre afilha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. 
Assim os inimigos do homem serão os da sua própria 
casa” (Mateus 10:34-36).
Uma compreensão superficial da paz levaria al­
guém a julgar que há contradição entre o que foi 
profetizado acerca de Jesus e o que ele disse. Con­
tudo, pesquisas acuradas procuram desvendar o 
mistério e lançar verdades profundas nos corações
Pior do que a guerra 55
inquiridores. Deus disse a Jeremias: “Olha que hoje 
te constituo sobre as nações, e sobre os reinos, para 
arrancares e derribares, para destruíres e amainares, 
e também para edificares e para plantares (Jeremias 
1:10). Aqui está a fórmula. Antes que a graça pura 
possa penetrar numa vida, deve haver a escavação, a 
limpeza, a destruição, pondo abaixo falsos ideais, 
deuses, atitudes e processos mentais. E essa mano­
bra, como Jesus predisse, causará tumulto e tensão.
Jesus mais tarde esçlarece o tema, dizendo que 
uma roupa nova não é remendada com um pedaço 
de pano velho ou o vinho novo colocado em odres 
velhos. Portanto, antes que a paz possa vir deve 
haver a revolução do caráter que Jesus classificou 
como “novo nascimento” . A Escritura nos avisa e 
adverte que não podemos servir a dois senhores. 
Uma fonte não pode dar tanto água amarga como 
doce, e uma árvore só pod^1 produzir um tipo de. 
fruto. Paulo, com agudez, pergunta “. . .que socie­
dade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? ou 
que comunhão da luz com as trevas? Que harmonia 
entre Cristo e o Maligno?. . . (2 Coríntios 6:14,15).
Cristo ataca o problema, repara os danos nas 
mentes conturbadas, e as reconstrói e planta atitudes 
e ideais próprios. Só depois disso o homem de fato 
conhecerá a paz verdadeira. Paz não é só ausência 
de conflito, retirada, uma forçada tranquilidade psí­
quica, porém uma profunda “retidão” interior que se 
reflete exteriormente. O relato de Lucas sobre a 
mensagem dos anjos é mais propriamente interpre­
tada “Paz na terra entre os homens de boa vontade.”
56 Fruto do Espírito
Cristo na verdade é o Príncipe da Paz pois os que o 
conhecem encontram no íntimo essa retidão e a boa 
vontade dela resultante. A história registra alguns 
fatos desse tipo de paz em ação: a atitude do Rei 
Alfredo para com os dinamarqueses em 878, a sim­
patia do Presidente Lincoln com o Sul, em 1865 e o 
tratamento dado aos japoneses pelo General Mac- 
Arthur em 1945. Isso é paz numa escala humana 
exercida por homens de “boa vontade” que tinham 
encontrado paz interior.
Nos últimos tempos, quando vier o Reino de 
Cristo, o mundo verá essa paz em plena ação. Até lá 
podemos promover a paz adequada em nossas vidas 
e ser homens de boa vontade. Tiago nos lembra: 
“Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para 
os que promovem a paz” (Tiago 3:18). Paulo diz: “O 
fruto do Espírito é paz. ’ ’ A paz que Cristo dá não é só 
nas boas circunstâncias, ou como os estóicos que 
subjugavam seus sentimentos, ou como os epicuris- 
tas que não admitiam um pensamento doloroso, mas 
uma tranqüilidade absoluta presente em todas as 
circunstâncias e tensões. Num certo nível de profun­
didade o oceano permanece calmo apesar dos ven­
tos tempestuosos que varrem sua superfície ou fon­
tes que brotam vigorosas do fundo. Da mesma 
forma, há uma paz em Cristo que transcende dificul­
dades e ela é fruto do Espírito.
Pior do que a guerra 57
Fazendo da paz um exercício
Definir a paz de pouco adianta, já que o diagnós­
tico é quase sempre mais fácil do que a cura. Con­
tudo, a Bíblia não só fala da paz que passa desperce­
bida, como também oferece conselho prático acerca 
de como exercitar a paz na nossa vida diária. Essas 
sugestões são divulgadas desde o princípio da Bíblia 
até às visões triunfantes de João no apocalipse. Al­
gumas delas são de auxílio valioso.
Conhecer a Deus. Assim como a fonte da verda­
deira alegria é Deus, também ele é a fonte da paz. O 
discurso eloqüente de Elifaz no livro de Jó aconselha: 
“Reconcilia-te, pois, com ele, e tem paz” (Jó 22:21). 
Paulo mais tarde esclarece o conceito de paz em 
Efésios 2 :14 : “Porque ele [ Cristo ] é e nossa 
paz. . .” Justiça e retidão só podem vir de Deus; 
assim, só pode haver paz no coração quando Cristo 
tem o pleno controle da vi^a.
Amando a sua lei. O Salmista disse há séculos: 
“Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles 
não há tropeço” (Salmo 119:165). Neste tempo de 
ceticismo é fácil desconsiderar, a Palavra de Deus e 
considerá-la como inaplicável. Contudo, as verdades 
eternas escondidas nelas ajudarão os que estão pre­
sos na trama de algum dilema. Um dia perguntaram 
ao Dr. Smiley Blanton, diretor da Fundação Norte- 
-Americana de Religião e Psiquiatria, se ele lia a 
Bíblia. Ele replicou: “Não somente leio como a es­
tudo. É o maior texto escrito sobre o comportamento 
humano jamais apresentado na íntegra. Se o povo 
unicamente absorvesse sua mensagem, grande nú­
58 Fruto d o Espírito
mero de nós, psiquiatras, fecharíamos nossos con­
sultórios e iríamos pescar.” Ele prossegue comen­
tando quão desassisado é não fazer uso da sabedoria 
destilada de 3 .000 anos.
A Palavra de Deus nos afirma a “retidão” final das 
coisas e que tudo na verdade concorre para o bem. 
Ela determina princípios básicos para a paz, tais 
como: “por baixo de ti estende os braços eternos; 
ama a teu próximo como a ti mesmo; não vos in­
quieteis com o dia de amanhã; conhecereis a ver­
dade e a verdade vos libertará.” Paulo diz a Timóteo 
que a Escritura é proveitosa “a fim de que o homem 
de Deus seja perfeito. . ( 2 Timóteo 3:17). Há paz 
em amar e viver a sua Palavra. Uma familiaridade 
com a Palavra de Deus pode ajudar-nos a resolver 
nossos problemas, pois a Bíblia encerra muitos 
exemplos de homens do passado que tiveram pro­
blemas semelhantes, mas foram vitoriosos em 
sobrepujá-los.
Pratique a paz. Paulo escreve aos Colossenses: 
“Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos cora­
ções. . . (Colossenses 3:15). Para ter paz e retê-la 
devemos praticá-la.
O psicólogo William James disse muito a respeito 
da verdade da admoestação. Ele foi um dos primei­
ros psicólogos a propor a teoria de que cada sensa­
ção, cada contacto com o mundo exterior deixa um 
traço permanente entre os dez bilhões de células 
cerebrais. Esses traços são permanentes e constan­
temente cumulativos, e a soma total deles constitui 
nossa personalidade e caráter. Ele prossegue acen­
Pior do que a guerra 59
tuando que qualquer coisa que façamos facilita a sua 
repetição. Isso porque as correntes elétricas regis­
tram tudo o que está acontecendo e abrem caminho 
entre as células cerebrais. Quanto mais freqüente- 
mente uma ação é realizada, tanto mais profundos e 
largos ficam esses caminhos. Jam es disse: “O 
homem que se acostumou diariamente a hábitos de 
atenção concentrada, volição energética e renúncia 
própria permanecerá como uma torre quando tudo 
se abate sobre ele e quando seus companheiros 
mortais mais fracos foram arrojados como palha pelo 
vento. Semeie uma ação e você colherá um hábito; 
semeie um hábito e ceifará um caráter; semeie um 
caráter e terá um destino.”
Sua teoria foi ainda mais explícita quando ele 
disse: “Estamos tecendo nossos próprios fados, 
maus ou bons. Cada pequeno golpe de virtude ou 
vício deixa sua cicatriz, nem sempre pequenina. 
Assim como nos tomamostjêbados com tantos goles 
que tomamos separadamente, tomamo-nos santos, 
autoridades e peritos por muitos atos separados e 
horas de trabalho.” Em outras palavras, a paz pode 
descer às nossas vidas se deixarmos que ela governe 
nossas vidas e agirmos conscientemente sobre a paz 
que agora temos. A paz permanente, a de Cristo, 
dominará toda a nossa existência. Ficaremos calmos 
durante a tensão, imperturbáveis nas aflições, e re­
solutos ante o desastre. Essa foi a paz da mente, do 
coração e caráter que Jesus manifestou durante as 
horas angustiosas da prova no Calvário.
60 Fruto do Espírito
Pior do que a guerra 61
A feitura do homem
Algumas vezes é difícil conservar a mente e o 
coração calmos emtempos de tormenta. Contudo, 
se pudéssemos compreender que há um esquema 
superior de coisas e que Deus está promovendo algo 
muito mais valioso em nossas vidas, sobreviría a 
calma de espírito a despeito das circunstâncias. Deus 
procura fazer de nós homens.
Nasceu na turbulência e luta do século quinze um 
dos maiores gênios que o mundo conheceu. Seu 
nome era Michelangelo Buonarroti, e ele foi mestre 
não só na pintura, mas na arquitetura, ciência e, 
sobretudo, na escultura. Ele sentia-se escolhido por 
Deus para arrancar da pedra grandes obras de arte 
que pareciam respirar com vida.
Frequentemente Michelangelo dizia que a arte 
para ele não era ciência, mas “fazer homens.” Ele 
considerava a pedra uma prisão na qual viviam for­
mas vitais e seu desafio era “libertar a figura do 
mármore que a aprisiona” . Por causa desse gênio o 
mundo tem obras tão famosas como Davi, a Pietá, 
Moisés e Baco.
O empenho de Michelangelo por libertar formas 
de suas pétreas prisões não é senão uma sombra do 
Grande Artista, Deus, e seu desejo de criar homens. 
Contudo, Deus faz o que artista algum podería fazer, 
pois não somente configura a forma do homem, mas 
sopra nele vida, e vida mais abundante. O Grande 
Escultor fala de esculpir a alma do homem “para 
serem conformes à imagem de seu Filho” (Rom. 
8:29). Deus arrebata das pedras de nossa fragilidade
humana e fragorosa insuficiência uma imagem vi­
brante ali aprisionada. Liberta-a pelo seu poder para 
viver para sempre na atmosfera regozijante de sua 
presença.
Em vários lugares da Escritura há o retrato de Deus 
como Grande Artífice, trabalhando a sua criação, 
moldando-a e configurando-a até ficar satisfeito com 
o seu trabalho. Este retrato de Jeová devia ser o de 
Jó , quando escreveu: “As tuas mãos me plasmaram 
e me aperfeiçoaram , porém , agora, queres 
devorar-me. Lembra-te de que me formaste como 
em barro; e queres, agora, reduzir-me a pó?” (Jó 
10:8-9).
Para alguns essa imagem de Deus pode parecer 
absurda. Deus parece muito grande para trabalhar 
um bloco de bano ou se preocupar com a alma 
ínfima de um simples homem. Contudo, Paulo rea­
firma: “Estou plenamente certD de que aquele que 
começou boa obra em vós há de completá-la até ao 
dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6). Se o coração 
ainda duvida de seu interesse pessoal é só ler o 
cântico do salmista que insiste: “O que a mim me 
concerne o Senhor levará a bom termo; a tua miseri­
córdia, ó Senhor, dura para sempre; não desampa­
res as obras das tuas mãos” (Salmo 138:8).
Isaías fala muito da grandeza e majestade de Deus. 
Fala das nações não sendo mais que uma gota no 
oceano comparadas ao poder e providência de Deus. 
Isaías viu a santidade de Deus como qualquer coisa 
tão sagrada que exclamou: “Ai de mim! Estou per­
dido! porque sou homem de lábios impuros.” Con­
62 Fruto do Espírito
tudo, esse mesmo profeta de língua como a prata 
disse que Deus escreveu na sua alma: “Acaso pode 
uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, 
de sorte que não se compadeça do filho do seu 
ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, 
eu, todavia, não me esquecerei de ti.” Para melhor 
acalmar uma nação frágil e esmorecida, Deus pros­
segue: “Eis que nas palmas das minhas mãos te 
gravei; os teus muros estão continuamente perante 
mim” (Isaías 49: 15-16). Deus é o Escultor por ex­
celência interessado na beleza de nossas vidas.
Os escultores por vezes fracassam quando suas 
prisões de pedra se recusam a apresentar alguma 
parte essencial de seus prisioneiros. Michelangelo 
sentiu essa frustração quando esculpia São Mateus. 
Quando estava em meio, essa obra parecia sugerir a 
luta por se libertar. Todavia, Michelangelo não 
podia, malgrado seu esforço, libertá-la. Ele depôs 
seu instrumento, desanimado. Poder-se-ia pergun­
tar: “A figura não podia ser terminada de alguma 
forma? Não havia porventura material suficiente 
para isso?” Ele provavelmente podia ter terminado a 
estátua, porém não na forma que desejava e, nesse 
caso, o fracasso teria sido mais esmagador. Então ele 
parou. Michelangelo deixou muitas estátuas inaca­
badas, quatro das mais famosas são os Gigantes 
Cativos em Florença. Nesses trabalhos ele fracassou.
É possível que a pedra de nossa vida seja tão 
estragada ou rija que Deus desista de nós no seu 
processo de esculpir? Jeremias responde a isso na 
parábola pungente do oleiro que está ocupado fa­
Pior do que a guerra 63
zendo vasos. Enquanto ele observava os dedos ágeis 
do artista, sobreveio uma crise: “Como o vaso, que o 
oleiro fazia de barro, se lhe estragou na mão, tomou 
a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.” 
Certo de que Jeremias compreendeu o significado, 
Deus disse de Israel: “.. .Não poderei eu fazer de vós 
como fez este oleiro? diz o Senhor; eis que como o 
barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha 
mão” (Jeremias 18:4-6).
Ao passo que alguns artistas fracassam por causa 
das deficiências de seu material, Deus não pode 
falhar, mas continuará a moldar vasos para o seu 
uso. Ele se empenha por vencer. Assim freqüente- 
mente provamos quão corrompidos somos. Davi o 
evidenciou, e Moisés certamente mostrou cada traço 
humano e terestre. Contudo, Deus pacientemente 
molda e toma esses vasos à sua semelhança. Davi 
podia orar confiantemente: “Compadece-te de mim, 
ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a 
multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas 
transgressões” (Salmo 51:1). É uma grande fonte de 
paz ouvir o salmista cantar: “Leitibra-se de que eles 
são carne.”
Se por um lado o pensamento de sermos esculpi­
dos por Deus e termos as nossas arestas aplainadas é 
agradável, por outro nos fere. Não somos pedras que 
suportam sem dor as pancadas do cinzel. Alguns 
golpes que recebemos tómam-nos melhores, mas 
nos ferem profundamente. O processo da libertação 
é em geral longo e pode manifestar-se como extre­
mamente difícil para nós. Não parecemos com ­
64 Fruto do Espírito
preender por que determinada moléstia é para o 
nosso bem, ainda que a Palavra declara: “Ele me faz 
repousar.” O desapontamento tragando nossa am­
bição mata nossas esperanças e não sabíamos que 
nossos amigos cristãos poderíam ou quereríam 
ferir-nos tão duramente. Uma mulher, após perder 
seu ente amado exclamou: “Oh, eu queria nunca ter 
sido feita.” Sua amiga replicou sabiamente: “Você 
não está feita — está sendo feita. Isto é parte do 
processo.” Cada sucesso, cada fato e acontecimento 
faz parte do processo de escultura de Deus, e “S a­
bemos que todas as coisas cooperam para o bem 
daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28). É 
verdade, mas ainda magoa. Em ocasiões como essas 
precisamos não só do sopro do Artista como do 
toque do Grande Médico.
Um dos mais belos aspectos de Cristo é o de ele 
curando os homens enfermos. Note: Ele os tocava. 
Colocava suas mãos nos seus olhos, nas suas frontes 
febricitantes, nos seus membros claudicantes. E com 
esse toque vinha a cura, afastando não só a dor, mas 
a lembrança dela. Na última Ceia, ele lavou os pés de 
seus discípulos. Quantas vezes eles devem ter pen­
sado naquele momento, quando nos anos seguintes 
ansiavam pela sua volta.
Cristo falou sobre o amor de seu Pai na história do 
filho pródigo. O pai tinha toda a razão de estar zan­
gado com os desatinos do rapaz. Ele tinha esperdi- 
çado sua fortuna e educação. Contudo, não o espe­
rou à porta com uma palavra fria de boas-vindas ou 
um aperto de mão relutante. Ao invés disso, obser­
Pior do que a guerra 65
vando ansiosamente, viu ao longe seu filho, correu, 
lançou-se aos seus braços e beijou-o. Esse é o toque 
de cura.
Davi fala sobre esse toque no seu famoso salmo do 
pastor. “Refrigera-me a alma.” As ovelhas na Pales­
tina têm um instinto extraordinário de rebanho. 
Cada manhã elas partem em seu lugar particular na 
fila e assim se conservam. Contudo, por vezes du­
rante o calor do dia cada uma se afasta do seu lugar 
na fila e trota na direção do pastor para receber um 
afago na cabeça, uma fricção atrás da orelha.Satis­
feita porque o pastor a ama, a ovelha volta ao grupo 
com a sua alma refrigerada. Davi acrescenta clara­
mente nos versos finais: “Unges-me a cabeça com 
óleo.” À noite o pastor senta-se à porta do redil e 
examina cada ovelha que entra. Se alguma se feriu 
ou está machucada, ele toma do ungüento curativo e 
o despeja abundantemente sobre a ferida. Não ad­
mira que Davi exclamasse: “O meu cálice trans­
borda.”
Não é sempre fácil ser feito homem por Deus. 
Contudo, aquele a quem ò Filho liberta, está real­
mente livre. Quando tivermos sido libertados da pri­
são da carne que nos encerra em frustração e fra­
casso, tomamo-nos as grandes peças de arte que 
Deus deseja de nós. E realmente aprendemos a 
viver! O Escultor-Mestre está trabalhando, e nossa 
oração deve ecoar como a de Paulo “. . .o qual se 
esforça sobremaneira, continuamente, por vós, nas 
orações, para que vos conserveis perfeitos e plena-
66 Fruto d o Espírito
mente convictos em toda a vontade de Deus” (Co- 
lossenses 4:12).
Quando a história final deste século for escrita, 
dir-se-á provavelmente que temos procurado mais e 
encontrado menos paz do que todas as gerações 
anteriores. Por vezes a paz é como acomodar gati- 
nhos numa cesta. Você acaba de colocar um dentro e 
outro salta fora. Em todo o mundo irrompem pontos 
de discórdia como bolhas pútridas expelindo violên­
cia e o pus de atrocidades humanas.
A paz pessoal parece tão justa quanto ilusória. Os 
homens buscam a paz através de sua própria explo­
são — na bebedeira, nos excessos sexuais, drogas, e 
coisas que tais. Tragicamente, como o poeta persa 
Ornar Khayyam, eles saem pela mesma porta pela 
qual entraram. Nesta era, a voz da religião verda­
deira, vital, precisa soar como um chamado de cla­
rim, de forma a que os homens possam ver o Prín­
cipe da Paz. Pode-se ter paz, porém tem de ser a paz 
pura e permanente de Cristo.
Só depois de obtermos uma paz assim podemos 
assimilar a última estrofe daquele famoso cântico de 
Natal de Longfellow:
Então repicaram sinos 
mais alto e mais suave:
“Deus não morreu nem dorme.
Declinará o mal, 
e prevalacerá o bem 
com paz na terra, 
entre os homens”
Pior do que a guerra 67
5
OS
ANOS DO 
GAFANHOTO
Por mais de vinte anos Robert Frost foi um fra­
casso. Costumava dizer que durante esse tempo ele 
era uma das muito poucas pessoas que se reconhe­
ciam como poeta. O mundo deplorou sua morte 
recente, e hoje ele é apontado como um dos maiores 
poetas norte-americanos. Seus poemas foram publi­
cados em vinte e dois idiomas e só a edição norte- 
-americana vendeu cerca de um milhão de exem­
plares. Por quatro vezes ele foi o vencedor do cobi­
çado Prêmio Pulitzer de poesia e recebeu provavel­
mente mais títulos honoríficos do que qualquer 
homem de letras.
Robert Frost tinha trinta e nove anos antes de 
vender um volume.de poesia. Tinha estado a escre­
ver durante vinte anos e recebeu rejeição sem fim ao 
seu trabalho. Contudo, sua perseverança valeu e o 
mundo é mais sábio e rico por causa dela.
O Dr. George Crane, eminente psiquiatra, recen­
temente registrou vários ingredientes para se atingir a 
culminância. Entre eles anotou o que se espera ver 
numa tal lista: talento, responsabilidade e devoção à 
tarefa. Então, surpreendentemente, ele disse que o 
vigor físico também é necessário. Ele argumenta que 
muitos homens não alcançam o ápice de suas aspira­
ções senão tarde na vida e que, portanto, a resistên­
cia é necessária. Ele citou Winston Churchill como 
exemplo ímpar.
O que é verdade quanto ao físico também é cer­
tamente quanto ao espiritual. S e queremos alcançar 
o plano mais alto a que Deus nos quer levar, deve 
haver resistência espiritual ou vigor. Paulo chama a 
este fruto do Espírito, longanimidade, que é melhor 
definida como resistência em todas as situações. 
Cristo disse: “Aquele, porém, que perseverar até ao 
fim, esse será salvo.” O escritor da epístola aos He- 
breus apresentou essa verdade. “Porque nos temos 
tomado participantes de Cristo, se de fato guardar­
mos firme até ao fim a confiança (Hebreus 3:14). 
Mais tarde ele'observou que Cristo coloca a paz 
como resistência: “ . . . o qual em troca da alegria que 
lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo 
caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono 
de Deus” (Hebreus 12:2).
Na última década ergueu-se um tumulto acerca do 
“Cristianismo fácil.” Alguns declaravam que os pre­
gadores tinham tomado essa fé muito fácil, ao passo 
que outros replicavam que Cristo disse ser leve seu 
fardo e seu jugo suave. Ainda que pareçam ser para­
doxais, ambos os argumentos são corretos. É fácil
70 Fruto do Espírito
deixar Cristo viver em você, mas há uma luta etema. 
Paulo ressalta: “Porque a nossa luta não é contra o 
sangue e a carne, e, sim, contra os principados e 
potestades, contra os dominadores deste mundo te­
nebroso, contra as forças espirituais do mal nas re­
giões celestes” (Efésios 6:12). Na sua última carta a 
Timóteo, Paulo admoesta: “Participa dos meus so­
frimentos, como um bom soldado de Cristo Jesus” 
(2 Timóteo 2:3). É fácil servir a Cristo porque 
“. . . maior é aquele que está em vós do que aquele 
que está no mundo” (1 João 4:4). Mas é difícil por­
que, como Jesus disse a Pedro: “Eis que Satanás vos 
reclamou para vos peneirar como trigo” (Lucas 
22:31).
Levado ao desespero
Sábio guerreiro, Satanás não se atém a grandes 
batalhas, mas investe em nossas pequenas lutas. 
Visto como esperamos alguma refrega grande, al­
guns repentinos ataques de seus quartéis, freqüen- 
temente desconsideramos a erosão dos contrafortes 
de nossas almas pelos seus repetidos ataques a pe­
quenas coisas. Uma mulher atribulada deu-me um 
dia um poema, sussurrando-me que ele descrevia o 
que lhe sucedera. Não conheço o autor, mas posso 
testificar quanto à verdade expressa.
Pensava que se a derrota
sobreviesse,
seria em grande peleja,
rude, definitiva,
Os anos do gafanhoto 71
72 Fruto do Espírito
com uma causa e um nome.
E ela veio.
Em escaramuças cotidianas, 
de pouca monta, não cogitei; 
e assim as costas lhes dei 
anos a fio, até que um dia 
um milhão de minúcias soltas 
contra mim se ergueu e me esmagou.
Coisas pequeninas levam-nos ao desespero. Uma 
insolúvel frustração, ainda que pareça sem impor­
tância e tola, cresce até obstruir o caminho ante nós. 
Nessas ocasiões agimos e reagimos fora do caráter 
do testemunho cristão. Foi o que aconteceu a um 
rriinistro texano que estava programado para falar 
numa conferência. Ele corria, atrasado, porque seu 
despertador não havia funcionado. Na pressa de 
ganhar o tempo perdido, cortou-se quando se bar- 
beava. Então, verificou que suas calças não estavam 
passadas a ferro. Para piorar a situação, ao correr 
para seu carro, notou que um pneu se esvaziara.
Aborrecido e, a essa altura de todo desorientado, o 
ministro afinal pôs-se a caminho em grande veloci­
dade. Correndo pela cidade, não notou um sinal de 
parada e passou à frente. Por obra do destino, havia 
por perto um guarda e a seguir ele ouviu o estrídulo 
de um apito.
Pulando do seu carro, o agitado ministro disse 
asperamente: — Está bem, vamos, dê-me a notifica­
ção da multa. Hoje tudo saiu errado mesmo.
O guarda aproximou-se e disse calmamente:
— Senhor, eu costumava ter dias assim antes de 
me tomar cristão.
É desnecessário dizer que o embaraçado ministro 
ficou envergonhado com a réplica do desconhecido 
e prosseguiu seu caminho pedindo perdão e orando 
para ter forças de corrigir sua atitude.
Todos nós temos dias quando as coisas parecem 
não correr bem. Mesmo os cristãos não estão livres 
de tensões da vida que estraçalham nossos nervos. 
Cristo nunca prometeu liberdade da tensão, mas 
resistência na tensão. Se Satanás pode minar nossas 
forças nesses instantes de lutas, suas grandes bata­
lhas são desnecessárias.
Ao considerarmos o relato do ministro do Texas 
nossas mentes se voltam para situações semelhantes 
em nossas vidas, quando fomos os perdedores numa 
dessas pequenas refregas espirituaiscom Satanás. 
Seria conveniente considerar o que pode ser feito 
para impedir uma derrota no futuro e resistir durante 
esses momentos tormentosos.
Alguém esqueceu um hífen e isso custou ao go­
verno dos Estados Unidos cerca de 18 .000 ,000 de 
dólares. A revista “Seleções” registrou o incidente e 
desse que o hífen foi omitido ao serem transmitidas 
instruções a um computador que devia dirigir um 
foguete a Vênus.
Um acervo de informações codificadas alimentou 
a máquina e guiou o foguete na primeira fase do vôo. 
Por um momento o computador e o foguete perde­
ram o contacto. Ainda que o foguete se desviasse
Os anos do gafanhoto 73
e
levemente do curso, um hífen — eles o chamam 
“barra” — nas instruções devia informar ao foguete 
que não se preocupasse. Não houve a barra e o 
foguete se alterou. O computador começou a enviar 
o rumo das direções que não eram certas, e o foguete 
teve de ser destruído.
Comentando o incidente, o repórter disse: “Uma 
patética e, de forma acidental, uma história humana. 
O foguete foi aparelhado para uma viagem de 
180.000.000 de milhas e desgovemou-se com o 
comprimento de um -.
Eu gosto de pensar na oração como o hífen de 
nossas vidas. Ela não leva muito tempo. O tempo de 
nossas orações pode ser minutos ao invés de horas; 
pode preencher momentos casuais do dia. Contudo, 
esse pequeno hífen em nossas vidas é que nos diz 
para não nos preocuparmos, e por vezes soçobra- 
mos em frustração.
O melhor tempo para orar sobre um assunto é 
quando ele o preocupa. Se o ministro tivesse empre­
gado seu tempo, assim que se levantou, para inserir o 
hífen da oração no seu dia, ele provavelmente teria 
tomado uma atitude bem diversa. Como se passa­
ram as coisas, uma agregou-se à outra até que ele 
explodiu. Se pudéssemos aprender o segredo do 
acesso instantâneo a Deus, nossa resistência durante 
a refrega seria muito maior.
Há duzentos anos um monge que lavava vasilha­
mes e panelas num mosteiro deu-nos uma chave 
preciosa de como viver. O irmão Lawrence, que 
ficou muito conhecido não por causa de sua teologia
74 Fruto do Espírito
brilhante, mas por viver tão plenamente como 
Cristo, escreveu um livrete, A Prática da Presença de 
Deus. Ele dizia: “O tempo do trabalho, para mim, 
não difere do tempo da oração; e no barulho e 
alarido de minha cozinha, enquanto várias pessoas 
estão falando ao mesmo tempo de coisas diferentes, 
eu me aposso de Deus em tão grande tranqüilidade 
como se estivesse ajoelhado num bendito sacra­
mento.”
Então aqui está a chave: o acesso instantâneo. 
Precisamos comprender que Cristo está conosco em 
cada momento. Na iminência da frustração devemos 
volver-nos para ele em busca de sabedoria, força e 
graça. O escritor do cântico estava certo.
Quanta paz esperdiçada, 
quanta dor sofrida em vão, 
só porque nós não levamos 
tudo a Deus em oração.
Satanás não precisa ter êxito nas pequenas esca­
ramuças, se entregamos o controle de nossa vida 
àquele que venceu pela cruz e deseja tomar-nos 
vencedores pela nossa vida.
A questão do por quê
Talvez o maior teste de nossa resistência ocorra 
quando o sofrimento como que nos abate e somos 
tentados a propor a questão do “por quê?” Enfren­
tando em cheio a aflição, é difícil ver qualquer sen­
tido nas coisas que nos atingem e queremos questio­
Os anos do gafanhoto 75
nar a integridade de um Deus fiel. Contudo, esses1 
momentos podem ser os mais significativos em nossa 
vida. O velho profeta Joel cita Deus: “Restituir-vos-ei1 
os anos que foram consumidos pelo gafanhoto. . 
(Joel 2:25).
Há anos na África do Sul em que os gafanhotos 
devastam a terra e comem a colheita. Eles vêm em 
hordas, obscurecendo o sol. Arrasada a colheita, 
segue-se um inverno duro. “Os anos consumidos 
pelo gafanhoto” são temidos e causam terror. Mas 
nos anos seguintes, a África do Sul obtém as mais 
abundantes colheias, porque os corpos dos gafa­
nhotos servem como fertilizante para as novas se­
mentes. E o ano do gafanhoto é recuperado por 
grandes colheitas em toda a terra.
Isso serve como parábola para nossa vida. Há 
estações de grande angústia e tribulação que por 
vezes destróem toda a utilidade de nossa vida. Con­
tudo, a promessa é que Deus restaurará esses anos. 
do gafanhoto, se resistirmos. Ceifaremos se não de­
sanimarmos. Ainda que agora desconheçamos todos 
os “por quês” , podemos estar certos de que nossos 
tempos estão em suas mãos. Penso que há três ra­
zões para Deus permitir que seus santos sejam afligi­
dos e talvez possa ser de proveito considerá-las.
A primeira é disciplina. Há muitos anos um 
homem perdeu sua esposa subitamente com um 
derrame cerebral. Mais tarde ele adoeceu por um 
ano e ficou incapacitado para se mover. Depois, não 
podia falar e sofreu outros ataques do coração. Não 
eia um homem mau ou descrente; antes, piedoso,
76 Fruto d o Espírito
tendo dedicado sua vida ao ministério. Não obstante, 
Ezequiel sofria. Em meio ao sofrimento de seu cora­
ção ele citou Deus: “Estará firme o teu coração? 
Estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que eu vier a 
tratar contigo? Eu, o Senhor, o disse e o farei” (Eze­
quiel 22:13, 14). Ezequiel compreendeu bem e co­
municou a Israel o fato de que as aflições vinham 
como disciplina. Sua própria vida era típica de como 
Deus podia tratar com uma nação rebelde.
Ainda que Deus perdoou a cumplicidade de Davi 
acerca de Bate-Seba, seguiu-se um castigo. Seu filho 
ilegítimo morreu e a marca do sangue de guerra não 
se afastou de seu lar. O verdadeiro perdão é perdoar 
o pecador, porém não o pecado. O castigo deve 
seguir-se por causa de terem ferido a Deus, a amigos 
e ao próprio pecador. Pais fracos e ineficientes que 
criam filhos egoístas e odiosos são testemunhas 
trágicas de perdoar tanto o ofensor como a ofensa.
Infelizmente, muitos não reconhecem a disciplina 
quando lhes é aplicada. Falando de Davi a Samuel, 
disse Deus: “Eu lhe serei por Pai e ele me será por 
filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de 
homens, e com açoites de filhos de homens.” Fre- 
qüentemente a disciplina vem em forma de doença, 
tristeza, ou algum grande desapontamento.
Sem considerar se a aflição advém de problemas 
humanos ou de doenças, seria sábio o perguntar-se 
se é justo o castigo de Deus. Antes de nos ressentir­
mos de tal disciplina devíamos aceitá-la de bom 
grado e nos aperfeiçoarmos por causa dela. Leiamos 
estas palavras de Hebreus 12:5-13: “Filho meu, não
Os anos do gafanhoto 77
menosprezes a correção que vem do Senhor, nem 
desmaies quando por ele és reprovado; porque o 
Senhor corrige a quem ama e açoita a todo o filho a 
quem recebe. É para disciplina que perseverais 
(Deus vos trata como a filhos); pois, que filho há a 
quem o pai não corrige? Mas se estais sem correção, 
de que todos se têm tomado participantes, logõ sois 
bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nos­
sos pais segundo a carne, que nos corrigiam e os 
respeitávamos; não havemos de estar em muito 
maior submissão ao Pai dos espíritos e então vivere­
mos?
Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo 
melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina 
para aproveitamento, segundo sua santidade. Toda 
disciplina, com efeito, no momento não parece ser 
motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entre­
tanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela 
exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as 
mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei cami­
nhos retos para os vossos pés, para que não se 
extravie o que é manco, antes seja curado” .
A segunda razão pela qual Deus permite que 
ocorra a aflição é o desenvolvimento.
Não sucedeu muita coisa durante os oito anos de 
presidência de Jam es Monroe. As coisas corriam tão 
pacificamente que os historiadores apelidaram 
aquele período como a “era do bem-sentir” . Con­
tudo, Jam es Monroe não é considerado um dos 
grandes presidentes. Os historiadores concordam 
em que a marca de um grande presidente consiste na
78 Fruto do Espírito
forma como ele reage em crises.Assim, Abraão Lin­
coln, George Washington, Woodrow Wilson e às 
vezes F.D. Roosevelt são registrados como grandes 
presidentes. É estranho, mas verdade, que a tragé­
dia, a tensão e as provações trazem à tona o que há 
de melhor nos homens.
Perguntaram certa vez a Henry Ford o nome de 
seu melhor amigo. O grande magnata replicou: 
“Meu melhor amigo é aquele que extrai de mim o 
melhor.” O cristão sente ser Cristo seu melhor 
amigo. Todavia, muitas vezes, não compreendemos 
a implicação dessa amizade, seu pedido para tirar­
mos de nós o melhor que temos. Daí que sejamos 
afligidos pelo nosso desenvolvimento.
Palavras estranhas aparecem no Salmo 119: 
“Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que 
aprendesse os teus decretos” (vers. 71). E, de novo: 
“Bem sei, ó Senhor, que os teus juízos são justos e 
que com fidelidade me afligiste” (vers. 75). Essas 
palavras não são rimas de um poeta alienado, mas o 
soluço sincero de um homem desejoso de uma apro­
ximação maior com Deus. Ele sabia que as aflições 
de Deus levavam os homens ao Criador. Paulo ar- 
gtiia: “. . . para o conhecer e o poder da sua ressurrei­
ção e a com unhão dos seus sofrim entos, 
conformando-me com ele na sua morte. . .” (Filip. 
3:10).
No reverente e alegórico Cântico de Salomão há 
um diálogo que fala muito do desenvolvimento na 
aflição. Falando à noiva, o amado diz: “Jardim 
fechado és tu, minha irmã, noiva minha; manancial
Os anos do gafanhoto 79
recluso, fonte selada” (Cantares 4:12). Ele prosse­
gue dizendo que dentro do seu amor há especiarias 
de doce aroma. A noiva replica: “Levanta-te, vento 
norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, 
para que se derramem os seus aromas” (v. 16). O 
cristão é um jardim fechado e muitas vezes a verda­
deira beleza espiritual só pode surgir quando ele se 
sujeita aos ventos da aflição.
A oração de Cristo, bem como o pungente modelo 
que ele ensinou aos seus discípulos não eram pedi­
dos por piedade ou livramento, mas carregados de 
“Tua vontade seja feita” . Por vezes alguns apanham 
a idéia de que há líderes espirituais que renegariam 
santos de verdadeiro desenvolvimento, insistindo 
em que Deus os livraria se tivessem fé e persistência. 
Quão diversa é a atitude do que escreve em Provér­
bios 30 :8 “. . .dá-me o pão que me for necessário.”
Dietrich Bonhoeffer, um mártir, muitas vezes antes 
de morrer disse: “Quando Cristo chama um homem 
ele o convida a vir e morrer. ” Muitos caem contritos 
aos pés da cruz, mas há outros que parecem na 
verdade estender-se na cruz e morrer com Cristo. 
Paulo era um desses. “Estou crucificado com Cristo; 
logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em 
mim. . (Gálatas 2:19-20). Em outro livro ele ex­
plica o sofrimento daqueles santos escolhidos, di­
zendo:
“.. .até agora temos chegado a ser considerados lixo 
do mundo, escória de todos” (1 Coríntios 4:13). A 
vida desses homens recorda-nos vivamente a beleza 
pura de uma vida sofredora. Deus manda de fato
80 Fruto do Espírito
aflição para o desenvolvimento do caráter e da alma.
Direção pode também ser considerada como uma 
razão pela qual Deus envia aflição.
A alma de um jovem cativo era tomada de pro­
funda tristeza. Sua viagem até ao Egito era somente 
parte que o sofredor José teria de enfrentar durante 
seu longo e solitário exílio. Como podería saber da 
prisão que o aguardava, da traição por parte dos que 
tinha ajudado e da separação dos seus queridos? Se 
um homem foi jamais afligido, deve ter sido esse 
jovem filho de Jacó.
À luz fria da história, pode-se ver a sabedoria da 
aflição. Se José não tivesse sido vendido como es­
cravo, uma nação não teria sido preservada. Se não 
tivesse sofrido assim, às mãos de seus irmãos, não 
teria conhecido a compaixão pelo sofrimento que 
demonstrou. Num retrospecto, desligados emocio­
nalmente, podemos ver bem como Deus usou bem a 
aflição para dirigir esta vida humana.
Infelizmente não somos tão filosóficos acerca de 
nossa própria situação como ao tratarmos da de 
José. Nas paixões do presente, nas tormentas de 
nosso tempo, não podemos ver nenhum propósito 
sensível na aflição que nos atinge. Contudo, deve­
mos lembrar que atravessamos o vale da vida sem 
ver o caminho adiante. Há aquele que fica além 
desse vale e sabe o fim desde o princípio. Freqüen- 
temente ele nos leva ao encontro da aflição para que 
seu bem em vista possa ser realizado. Não admira 
que Jó dissesse: ‘ ‘Mas ele sabe o meu caminho; se ele 
me provasse, sairía eu como o ouro” (Jó 23:10).
Os anos do gafanhoto 81
A história está cheia daqueles que não têm obser­
vado a direção de Deus na aflição. Saul recusou-se a 
receber a aflição como direção e perdeu a unção e o 
reino. Mais tarde, Salomão, homem de tão grande 
promessa, desviou seus ouvidos dos rumores da afli­
ção e anos depois extraviou-se de Deus. Ele tinha 
tudo para o fazer feliz, mas em certo momento per­
deu o contacto com Deus. Deus lidou com ele por 
meio da aflição, mas ele fracassou em corresponder a 
ela. Deve ser no seu desespero que ele escreveu: 
“Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a 
tristeza do rosto se faz melhor o coração” (Eclesiastes 
7:3).
O poeta disse sabiamente: “O caminho da cruz 
conduz ao lar.” As cruzes conjuram imagens de sa­
crifício e sofrimento. Deus não promete bancos es­
tofados ou pistas de corrida carpetadas. Sua pro­
messa é para aqueles que vencem. Porque ele ama 
os seus escolhidos e deu-se a eles, guia-os muitas 
vezes com aflições. Esses caminhos não são sempre 
fáceis, porém são ainda assim os mais curtos para o 
lar. Após uma longa vida de aflição e aprendendo a 
depender diretamente da direção de Deus, Paulo 
escreve: “Porque a nossa leve e momentânea tribu­
tação produz para nós eterno peso de glória, acima 
de toda a comparação . . .” (2 Coríntios 4:17). O 
escritor de um hino diz:
O caminho que eu trilhei 
mais perto de Deus levou-me,
Embora me conduzisse
82 Fruto d o Espírito
pelos portais da tristeza.
Ainda que eu não tivesse 
esse caminho escolhido, 
em meu caminho eu podia 
ter perdido para sempre 
a alegria que me aguarda.
Deus trata seu povo em aflições por meio da disci­
plina, do desenvolvimento e da direção. Tiago, que 
mais tarde foi levado à morte pelo Cristo que amava, 
disse: “Bem-aventurado o homem que suporta com 
perseverança a provação; porque, depois de ter sido 
aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor 
prometeu aos que o amam” (Tiago 1:12). Antes que 
chorar quando sobrevêm as aflições em nossos ca­
minhos, ou nos tornarmos paranóicos espirituais 
quando somos abatidos por doenças, devemos lem -. 
brar que Deus cura as pessoas, não as doenças. As 
doenças são muitas vezes só sintomas e Ezequiel 
inquire se nossos corações podem ficar firmes 
quando Deus lida conosco. Devemos cantar com o 
escritor:
Submisso estou à vontade
daquele que me guia
e que é certamente do amor revelação.
Minh’alma se ergue sobre o mundo em que me
movo
e só conquisto onde me rendi.
O homem que voltou
A resistência de Davi havia atingido o limite ex­
tremo. Durante meses ele havia sido caçado através
Os anos do gafanhoto 83
de desertos abrasantes por um rei malvado inclinado 
ao assassínio. Alquebrado de ossos, ele e seu grupo 
de gentalha chegaram ao seu campo e o encontra­
ram queimado e saqueado. Enquanto estavam 
afastados, suas famílias tinham sido raptadas e talvez 
assassinadas. No seu ódio exasperado eles 
voltaram-se contra Davi e falaram de o apedrejar. Se 
ele não os tivesse conduzido para longe na última 
missão, isso não teria sucedido.
Nesse momento de angústia da alma a majestade 
do homem Davi surgiu. A Bíblia diz simplesmente:
. .porém Davi se reanimou no Senhor seu Deus” 
(1 Samuel 30:6). Levado ao desespero e à beira do 
desastre, ele voltou vitorioso, sabendo que Deus que 
o conduzira antes não o desampararia agora. O resto 
do capítulo relata como, sob a direção de Deus, ele 
foi levado a recapturar todos os bens e as famílias. 
Não houve perda de vida.
O fruto do Espírito é resistênciae isso nem sempre 
é fácil. Contudo, em nossos momentos de desespero 
seria bom recordar aquela figura solitária que há 
muitos anos cobrou ânimo no Senhor. Como Davi 
soube que viria a libertação, podemos ficar certos de 
que os nossos anos de gafanhotos serão recupera­
dos. Habacuque parece apreender o próprio pulsar 
do coração de Deus quando escreve sua mensagem: 
‘‘Porque a visão ainda está para cumprir-se no 
tempo determinado, mas se apressa para o fim e não 
falhará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, 
não tardará” (Habacuque 2:3).
84 Fruto d o Espírito
6
O
TOQUE
SUAVE
O terror apertava a garganta do nativo enquanto 
ele agarrava seu filho moribundo e corria os três 
quilômetros de poeira esbraseante até ao Hospital 
Baragwanath, na África. Instintivamente, ele sabia 
que era tarde demais e, ali chegado, teve de voltar 
tristemente com seu filhinho frio nos braços. A 
criança morrera de gastroenterite e lágrimas eram 
derramadas no solo enquanto o pai, aos soluços, 
carregava a forma sem vida.
Vusamazulu Mutwa fabricou o caixão tosco e pre­
parou seu filhinho para o enterro. Para um banto, é 
de vital importância um enterro adequado. Ser en­
terrado em sepultura desconhecida ou miserável é a 
maior desgraça que possa suceder a um banto em 
qualquer parte da África. Mas o banto não tem 
acesso a nenhum cemitério a menos que pertença a
uma igreja reconhecida e o funeral seja presidido por 
um pastor. Uma conhecida autoridade disse: “A de­
terminação de ter um enterro adequado é uma razão 
forte de os nativos se voltarem para o Cristianismo.”
Os pais, desolados, foram ter com seu pastor 
“cristão” , cuja igreja tinha sido freqüentada pela es­
posa durante muitos anos; o pai nunca aceitara a fé. 
Quando eles pediram o funeral, o pastor negou posi­
tivamente, sem dar razão para tal recusa. Mais tarde 
Mutwa escreveu com amargor: “Estranhamente, o 
pastor sabia exatamente o que estava fazendo co­
migo quando se recusou a enterrar meu filho, porque 
durante anos eu lhe havia explicado todas as leis e 
costumes dos bantos. Ele recusou simplesmente 
porque eu não era, com o resto de minha família, 
membro da sua igreja.
Em razão dessa trágica experiência, Vusamazulu 
Mutwa escreveu um panfleto ferino sobre ‘ ‘Por que o 
Cristianismo fracassou na África” . Ele foi inserido no 
seu livro amargo A África é minha testemunha, em 
que acusa: “Delinqüentes são aqueles mesquinhos 
ditadores e sádicos que usam colarinhos brancos às 
avessas.”
Todos nós, em pequena ou grande escala, temos 
sido queimados por uma religião rígida e farisaica 
que exige a observância de um código legal sem a 
compaixão humana. Jess Moody disse: “Deus nunca 
nos chamou para sermos juizes inflexíveis, metidos 
em vestes de honestidade. Estamos envolvidos num 
trabalho de redenção — não de investigação de 
super-retidão.” Ele prossegue dizendo: “Não deve­
86 Fruto d o Espírito
mos levar terror aos pecadores, mas o céu.”
E a crítica de legalismo rígido não pode recair só 
sobre uma igreja ou organização. Mesmo os mais 
evangélicos podem tomar-se em sepulcros caiados 
que Jesus desmascarou com calor, mas com ira 
santa. Paulo estabelece a posição que devemos 
tomar ao dizer: “O fruto do Espírito é benignidade.”
A que se assemelha Deus?
Há sempre uma pergunta que eu faço a cada 
pessoa que vem ao meu escritório em busca de 
soluções para problemas que as afligem. A pergunta 
é: “Qual é a qualidade por excelência que mais o 
impressiona sobre Cristo?” Sem exceção eles dizem 
que é a compreensão, ou ternura, afabilidade ou 
bondade. Então eu lhes relembro que Jesus disse por 
duas vezes: “Se vós me tivésseis conhecido, conhe­
cerieis também a meu Pai. . .” (João 14:7).
É verdade que o pregador “do inferno e do enxo­
fre” pode lançar sobre nós milhares de versículos da 
Escritura, expressando o juízo e castigo divinos. Deus 
disse formalmente a Ezequiel: “ .. .a alma que pecar, 
essa morrerá” (Ezequiel 18:4). Contudo, Deus tam­
bém disse: ‘ ‘Porque o pão de Deus é o que desce do 
céu e dá vida ao mundo” (João 6:33). O fato é que 
Deus lida com um homem na direção que este vai. O 
palrador e pecador impenitente morrerá. O coração 
que sinceramente perquire achará e será salvo. Antes 
que fôssemos sequer parte do mistério chamado 
“tempo” as linhas do combate já estavam traçadas. 
A rebelião de Satanás conquistou-lhe o abandono e
O toque suave 87
o castigo eternos. Partilharemos dessa eternidade 
com qualquer dos senhores que escolhermos. Se 
servimos a Satanás sofreremos sua eternidade. Se 
servirmos a Cristo participaremos de sua glória 
eterna.
Cristo não veio só para nos redimir, mas também 
dar-nos um retrato fiel da semelhança de Deus. Em 
todo o Antigo Testamento, os profetas falaram 
acerca de Deus e surgiram escritos íntimos das penas 
daqueles que conheceram à Deus em bases muito 
pessoais. Contudo, foi necessário que o Unigênito 
esclarecesse para sempre a benignidade de Deus. 
Jesus fez isso bem e a benignidade que manifestou 
ainda se espalha pelo mundo.
Um dos mais pungentes retratos de Deus foi ofere­
cido por Isaías, setecentos anos antes de Cristo. No 
capítulo 40 Isaías parece estar numa montanha de 
profecia santa, vendo através de séculos o tempo do 
Rei que viría. Muito se diz sobre a majestade de Deus, 
sua força e poder absoluto. Então, encravado nesse 
capítulo sagrado encontram-se palavras que esbo­
çam o retrato de Deus: “Como pastor apascentará o 
seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cor- 
deirinhos, e os levará no seio; as que amamentam, 
ele guirá mansamente” (Isaías 40:11).
Davi, que buscava ardentemente o coração de 
Deus, deixou impresso no tempo o retrato de um 
Deus temo. Numa oração de louvor pela vida boa e 
abundante que levava, Davi exclama: “Pois contigo 
desbarato exércitos, com o meu Deus salto mura­
lhas” (2 Samuel 22:30). Então ele prossegue para
88 Fruto do Espírito
dar a chave de qualquer sucesso na vida que tinha 
realizado. “Também me deste o escudo do teu sal­
vamento, e a tua clemência me engrandeceu” (2 
Samuel 22:36).
Houve um tempo na vida de Davi em que ele 
fracassou terrivelmente e por quaisquer padrões 
humanos devia ter sido acusado e ficar para sempre 
afastado da presença de Deus. Contudo, naquela 
conjuntura Deus lhe perdoou e o restaurou. É ver­
dade que sobreveio o castigo como de rigor, mas 
Davi pôde certamente testificar que Deus tinha sido 
clemente para com ele naquela tremenda queda 
humana. Deve ser nesse espírito que ele escreveu no 
seu salmo mais famoso: “ . . . a tua vara e o teu cajado 
me consolam” (Salmo 23:4). A vara era usada para 
afastar os animais selvagens que etacavam o reba­
nho, porém o cajado era para um fim bem diverso. 
Na extremidade do longo cajado havia um gancho 
bastante grande para ajustar ao peito da ovelha. 
Quando uma ovelha, saindo da trilha caía numa vala 
funda, o pastor não a deixava lá, mas alcançava-a 
com o cajado e a erguia. Davi sentiu-se erguido do 
seu pecado, uma volta firme e tema à trilha. Não 
admira que tivesse cantado: “Tua clemência me en­
grandeceu.”
Mostre seu sentimento
G.K. Chesterton disse certa vez: “O medo mais 
mesquinho é o medo do sentimentalismo.” Tantas 
vezes ocultamos nosso sentimento e ternura porque 
receamos ser chamados de “moles” ou “fracos” . 
Devemos recordar as palavras sábias de Ralph W.
O toque suave 89
Sockman: “A benignidade é um traçò divino; nada é 
mais forte do que a benignidade, e nada é tão be­
nigno como a verdadeira força.” Esses homens estão 
só repetindo o que profetas e pregadores há muito 
têm dito. A Palavra de Deus nos admoesta a sermos 
benignos.
Algumas palavras que os homens escrevem pare­
cem soar como verdades que eles aprenderam de 
uma experiência amarga. Penso sempre em Paulo e 
suas últimas palavras a um jovem ao qual amava 
profundamente na fé. Paulo desejava que Timóteo 
se elevasse mais do que ele e evitasse todas as arma­
dilhas em que ele caíra. Nesse espírito abre seu 
coração: “Ora, é necessário que oservo do Senhor 
não viva a contender, e, sim, deve ser brando para 
com todos.. .” (2 Timóteo 2:24). E então, a outro 
filho na fé escreve: “Lembra-lhes. . . que não difa­
mem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cor­
datos, dando provas de toda cortesia para com todos 
os homens” (Tito 3:1,2). Não eram palavras fáceis 
para Paulo escrever, porque ele por natureza não era 
homem cordato. Sua mente, ao registrar essas pala­
vras, estava sem dúvida voltada para um dia que 
desejaria poder esquecer.
Paulo e Bamabé tinham trabalhado juntos por 
muitos meses. Paulo devia muito a Bamabé porque 
fora esse homem fiel quem persuadira os líderes 
cristãos a darem a Paulo uma oportunidade. Então, 
um incidente infeliz fê-los separar-se para sempre. A 
história é familiar: Paulo insistia em que o jovem João 
Marcos não os acompanhasse em virtude de seu
90 Fruto d o Espírito
primeiro afastamento. O tio Bamabé não concordou 
com esse argumento e ficou firme. A Bíblia diz: 
“Houve entre eles tal desavença que vieram a 
separar-se” (Atos 15:39). Talvez se Paulo fosse mais 
brando, mais benigno, nunca teria havido essa re­
frega entre dois homens de Deus. Certamente Paulo 
ficou triste, já que mais tarde ele pede a Marcos que 
se reúna a ele em Roma, “pois me é útil para o 
ministério” (2 Timóteo 4:11). É provável que Paulo 
se aborrecesse a vida toda com aquele fato, ao reco­
nhecer com horror ter sido capaz de agir de forma 
inteiramente contrária aos princípios cristãos. Desde 
então suas epístolas estão cheias de admoestações 
para sermos benignos. Paulo deve ter pranteado 
muito aqueles momentos de ira na sua vida.
Outras igrejas aceitaram a advertência fervorosa 
de Paulo, e Tiago escreve aos novos cristãos: “A 
sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura; 
depois pacífica, indulgente, tratável, plena de miseri- 
córida e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” 
(Tiago 3:17).
É fácil ser duro, estrito e legal. Isso confere uma 
aparência de retidão que obscurece a visão dos ho­
mens e de certa forma pensamos ser por eles consi­
derados santos. Estamos só nos iludindo, porque 
eles, como o nativo africano, na verdade sentem que 
temos o coração duro e não parecemos nada cris­
tãos. Que coisa maravilhosa se pudéssemos dizer 
com Paulo: “. . .todavia nos tomamos dóceis entre 
vós, qual ama que acaricia os próprios filhos” (1 Tes- 
salonicenses 2:7).
O toque suave 91
Alguns aceitam as admoestações para que sejam 
benignos e tratam os que os cercam com grande 
bondade, mas são impiedosamente cruéis para con­
sigo mesmos. Demonstram pouca compreensão no 
que concerne às suas próprias faltas. Na verdade 
poderiamos, como Paulo, sentir que não somos ab­
solutamente santos, mas não se deve deixar esse 
sentimento de indignidade afastar-nos do serviço 
efetivo para o Mestre. Alguns nunca se perdoaram de 
erros do passado ou de grandes pecados. Suas vidas 
são um tormento e abaixo da superfície há uma alma 
contorcida de agonia. Tom Anderson era um 
homem desse tipo.
Durante anos Tom foi atormentado pela lem­
brança de sua participação numa fuga com outros, 
da qual resultou a morte de um de seus amigos. 
Perseguido por essa idéia, ele vagou de um emprego 
para outro e por fim se separou da esposa. Sua vida 
foi um fracasso total e ele dizia: “O pensamento de 
minha culpa fazia deter-me no meio de um aperto de 
mãos ou de um sorriso. Ele tomou-se uma barreira 
entre mim e minha esposa.”
Mais tarde mudaram as notícias sobre Tom Ander­
son. Ele recuperou seu antigo emprego; sua esposa 
voltou e, realizado, estava feliz. Explicando o que 
sucedera Tom dizia: “Eu recebi a visita da pessoa 
que mais receava ver — a mãe do colega morto.”
Ela disse:
—Há anos, pela oração, descobri em meu coração 
que eu devia perdoar-lhe. Betty lhe perdoou. O
92 Fruto do Espírito
mesmo fizeram seus amigos e empregadores. Deus 
lhe perdoou. — E depois de uma pausa, acrescentou: 
—Você é a única pessoa que não perdoou Tom 
Anderson. Quem você pensa ser para ficar contra o 
povo desta cidade e o Senhor Todo-poderoso?
Tom disse a um amigo: “Fixei-a nos olhos e vi 
neles uma espécie de permissão para ser a pessoa 
que teria sido se seu filho estivesse vivo. Pela pri­
meira vez na minha vida adulta senti-me digno de 
amar e ser amado.”
Não é só necessário perdoar e compreender os 
outros, mas devemos fazer isso para conosco mes­
mos. O poder destrutivo de um espírito que não se 
perdoa é esmagador. Pedro não se rendeu a isso por 
ter praguejado; Tomé por ter duvidado; nem Marcos 
por ter fugido. Eles foram dóceis para consigo mes­
mos e encontraram o poder criativo da auto- 
-aceitação e do autoperdão.
Crescendo em benignidade
Como qualquer outro fruto do Espírito, este tam­
bém deve crescer. Um homem não pode só decidir 
ser benigno. Essa é uma obra do Espírito em sua vida 
e quanto mais maduros ficarmos, tanto mais benig­
nos seremos. Contudo, há algumas coisas ativas que 
podemos fazer para cultivar a benignidade em nosso 
caráter.
Reserve tempo para a ternura. Há uma história 
trágica sobre Lênin que persiste até aos nossos dias e 
revela muito do seu íntimo. Vladimir Ulyanov nasceu 
em 1870 em uma família que sofreria muitas tragé­
O toque suave 93
dias nos anos subseqüentes. Mais tarde ele usou o 
nome de Lênin para promover sua idéias revolu­
cionárias. Ele se envolveu no seu trabalho revolu­
cionário até perder quase toda a capacidade para a 
ternura humana. Os que o cercavam diziam que era 
um homem muito infeliz.
Ainda que casado, Lênin deu pouco amor à 
sua esposa Krupskaya. Certa noite ela ergueu-se, 
exausta, de perto da mãe agonizante e pediu a Lênin, 
que escrevia sentado a uma mesa, para acordá-la se 
sua mãe precisasse dela. Lênin concordou e Krups­
kaya caiu no seu leito profundamente adormecida. 
Na manhã seguinte ela acordou e achou sua mãe 
morta e Lênin ainda escrevendo. Em desespero ela 
teve uma altercação com Lênin, que replicou:
— Você me disse para acordá-la se sua mãe preci­
sasse de você. Ela morreu. Não necessitou de seu 
auxílio.
É possível alguém lançar-se a uma causa, traba­
lho, distração ou esporte, ao ponto de não lhe sobrar 
tempo para a ternura. E às vezes a causa é deveras 
boa. Muitos dos norte-americanos se lembram de 
cantar o hino da Guerra Civil “O corpo de John 
Brown” . Contudo, poucos se lembram de que 
quando John Brown foi impelido pelo seu santo 
desejo de libertar os escravos, sua mulher e treze 
filhos morreram de fome atrás das montanhas. A 
história registra que nove de seus filhos morreram 
realmente de má nutrição e dois mais foram mortos 
nas suas emboscadas selvagens. Aí estava um 
homem dedicado a uma causa nobre, mas que não
94 Fruto do Espírito
reservou tempo para demonstrar ternura para com a 
própria famíla. Poucos podem admirar homens 
desse calibre.
Confronte esses homens com a vida de nosso 
Senhor. Homem algum antes ou até então tinha uma 
mensagem ou causa tão importante. Contudo, 
vemo-lo reservando tempo para ser bondoso para 
com as crianças que o rodeavam. Ele fala com uma 
mulher ao pé do poço e acende em seu coração uma 
chama que arde de alegria. Ele pára em lugar are­
noso, abaixando-se aos olhos dos religiosos, para 
ajudar uma mulher decaída a redimir seu conceito 
próprio aviltado e restaurar alguma dignidade a uma 
alma entristecida. Aquece-nos o coração pensarmos 
quanto tempo Jesus gastou sendo temo e benigno 
com o povo. O sentimento não pode viver numa 
atmosfera controlada por um relógio. Deve haver 
tempo para a ternura. Grandes figuras não só tinham 
coração para a ternura, como lhe reservaram tempo. 
Emie Pyle, o amado correspondente de guerra, 
nunca estava tão ocupado ou impressionado com 
sua agenda que não acudisse aos gritos de um sol­
dado ou escrevesse cartas aos familiares dos rapazes 
feridos.
Elimine as guerras imaginárias. Uma coisa que 
destrói nossa benignidade e calma de espírito são as 
guerras imaginárias que se travam em nossas men­
tes. Nós cismamos com situações tensas entre vizi­
nhos,amigos, companheiros e replicamos: “Eu vou 
mesmo dizer isso a eles.” Cedendo a essa tentação, 
nossa beligerância imaginária de repente se toma
O toque suave 95
muito real, perdemos toda a esperança de sermos 
cordatos e “fazemos aos outros antes que eles te­
nham ocasião de fazer algo a nós” A história clássica 
do “m acaco” ilustra melhor essas guerras ima­
ginárias.
Um camarada descia uma estrada campestre uma 
noite, quando seu pneu furou. Ao abrir a caixa de 
ferramentas ele descobriu ter-se esquecido de reco­
locar o macaco da última vez que o usara. Olhou em 
tomo e, vendo à distância uma luz, pôs-se a andar 
naquela direção com a idéia de pedir emprestado um 
macaco na casa de um sitiante.
Em imaginária conversação ele disse a si mesmo:
— Eu só bato na porta, conto que estou atrapa­
lhado e peço que ele por favor me empreste um 
macaco. Estou certo de que vai ajudar-me.
Ao caminhar, sempre pensando naquilo, nosso 
homem notou que a luz na casa se apagara. Ele 
pensou:
—Agora ele foi para a cama e vai ficar zangado por 
eu ter de acordá-lo. Então, é melhor eu lhe oferecer 
um dólar.
Prosseguindo sempre, imaginou então:
— Que acontecerá se ele saiu e a mulher estiver 
sozinha? Ela vai ficar com medo de abrir a porta. É 
melhor eu oferecer cinco dólares.
A essa altura o pobre homem estava tão transtor­
nado que gritou alto:
— Cinco dólares! Está bem, mas nem um centavo 
a mais. Por que vocês querem roubar um homem?
Então, junto à casa, ele bateu com força. Quando
96 Fruto d o Espírito
o pobre sitiante abriu a janela e perguntou: — Quem 
é? — o desconhecido, zangado, berrou:
— Você e a sua droga de macaco! Pode guardar 
essa porcaria!
Muitas coisas com que nos defrontamos são ima­
ginárias e se aprendemos a fixar nossa mente em 
Cristo encontraremos perfeita paz. E dessa paz bro­
tará a benignidade de espírito que é fruto do Espírito. 
Jesus admoestou contra a criação de situações ima­
ginárias e a preocupação com o que haveriamos de 
dizer, ao declarar: “Quando, pois, vos levarem e vos 
entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de 
dizer, ao declarar: “Quando, pois, vos levarem e vos 
entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de 
dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso 
falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito 
Santo” (Marcos 13:11).
Seja benigno em qualquer circunstância. Algures, 
quando menino, eu ouvi a história de um diácono 
que resolveu sair do “trem evangélico” o tempo 
suficiente para “surrar” um irmão que o ofendera. 
Diz a história que quando ele quis embarcar, o trem 
havia partido da estação. Nada sei sobre a veraci­
dade dessa história humorística, porém ela nos en- 
.coraja a sermos verdadeiros em todas as ocasiões.
Por vezes é difícil ser benigno. Quando os nervos 
estão estilhaçados e as tensões nos atacam de forma 
dolorosa, é difícil sermos benignos. Contudo, nessas 
ocasiões temos de exercer a benignidade. Paulo le­
vava no seu corpo muitas marcas de sofrimento. 
Sem dúvida, ele nunca estava livre de dor e mesmo
O toque suave 97
assim era benigno. Em tempos de doença, temos de 
exercer dupla vigilância sobre nós mesmos, a fim de 
que a dor não afaste a benignidade.
Quando alguém galga um posto de autoridade 
vem com ele a tentação de se perder a amabilidade. 
Nero foi conhecido como bondoso antes de ser o 
imperador de Roma, mas depois de assumir esse 
posto, a tirania foi seu traço dominante. Nas ruas 
romanas ele conduzia seu carro em desatino, esma­
gando os que estavam no seu caminho, e besuntava 
de alcatrão os corpos de santos para à noite ilumina­
rem seu jardim. A prova de bondade genuína surge 
quando de repente atravessamos um tempo de 
poder e força. Penso freqüentemente em Lincoln 
que se recusou a dar ouvidos àqueles que instavam 
para que ele destruísse os sulistas. Senhor de todo o 
poder executivo, ele simplesmente se manteve firme 
exigindo que “não houvesse maldade para com nin­
guém e caridade para com todos”.
Na verdade, a estrada do Calvário é mais longa 
para uns do que para outros. Alguns parecem ter 
nascido com uma natureza tema. Contudo, se alcan­
çarmos a semelhança de Cristo, deve seguir-se a 
crucificação do ego e o impulso para a benignidade. 
Quão freqüentemente só precisamos considerar-nos 
na presença de Deus e meditar intensamente no 
nosso Salvador, para que a ternura se derrame em 
nossas vidas. O felecido Powell Davies, de Was­
hington, D. G , escreveu: “Somos todos solitários sob 
as estrelas, todos estranhos e peregrinos aqui na 
terra.” Se pudéssemos compreender a urgente ne­
98 Fruto d o Espírito
cessidade da benignidade, então seríamos desafia­
dos a que o Espírito que habitava em Cristo se tome 
o guia de nossas vidas.
Experimente o toque da ternura
Na nossa era de mísseis teleguiados e homens 
extraviados temos a necessidade desesperada de 
aprender como partilhar a benignidade. Parece es­
tranho que numa época em que podemos alcançar a 
lua, emitir sinais a planetas longínquos e receber 
fotografias de satélites em órbita, temos grande difi­
culdade de comunicar ternura aos que nos rodeiam. 
O Dr. Smiley Blanton sugere que principiemos por 
aprender de novo o valor do toque de ternura.
Esse médico eminente fala sobre o poder curativo 
de simplesmente tocar alguém que você ama. Atra­
vés disso, parece que uma virtude invisível sai do 
corpo de um e vai para o outro. O Dr. Blanton sugere 
que em passeio um braço seja passado um tomo da 
esposa e que se dêem as mãos à mesa, quando se 
dão graças.
Há alguns anos aprendi a importância do toque. 
Depois de ter sido chamado para pastorear uma 
igreja onde pequenas tensões tinham criado divisões 
entre algumas pessoas, tentei sanar a dificuldade 
fazendo sermões sobre a unidade. Após meses de 
experiência, as tensões permaneciam e persistiam as 
altercações. Então, certa noite, simplesmente convi­
dei as pessoas a irem à frente. Pedi aos homens que 
pusessem seus braços em tomo, uns dos outros, o 
mesmo fizessem as mulheres e disse-lhes que eles se
O toque suaue 99
amavam. Um tanto embaraçados, eles fizeram esse 
favor ao seu pastor e certamente alguns não puseram 
naquele gesto seu coração. Um velho resmungou, 
enquanto obedecia: “Há outros modos não tão tolos 
de demonstrar amor.”
Contudo, aquilo funcionou. O simples toque de 
um com o outro, comunicando amor, começou a 
curar as feridas que havia tanto tempo supuravam. 
Anos após comovia-se meu coração ao ver e sentir o 
profundo amor entre os membros daquela congre­
gação. Eu não recomendaria esse processo como 
panacéa, mas hã algo de curativo no toque de ter­
nura.
Um distinto juiz disse ter visto centenas de jovens 
delinqüentes e seus pais ante seu tribunal. Contudo, 
nunca em todos aqueles anos vira um pai tocar no 
seu filho, ou colocar sua mão nos seus ombros, ou 
dar qualquer demonstração física de amor. Confira 
isso com o pai do filho pródigo que, abraçado ao 
pescoço do filho, o beijou.
Jesus usou o toque como comunicação. Colocava 
as mãos sobre os doentes, lavou os pés dos discípu­
los e afagou as criancinhas. Séculos antes, os babilô­
nios tinham usado o toque como parte da arte de 
curar. Nas suas memórias, a concertista de piano 
Marta Korwin fala de seu trabalho voluntário como 
enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial. 
“Tarde da noite — ela escreveu — andando pelos 
arredores, dei com um soldado com a face mergu­
lhada num travesseiro. Ele soluçava e murmurava 
algo no travesseiro, de forma a não incomodar nin­
100 Fruto d o Espírito
guém. Olhei para minhas mãos e senti que podería 
ajudá-lo. Se eu podia transmitir harmonia através do 
piano, por que não o faria diretamente, sem instru­
mento algum? Quando tomei a cabeça do rapaz nas 
minhas mãos, ele agarrou-se a elas com tal força que 
pensei que suas unhas iam encravar-se na minha 
carne. Orei para que a harmonia do mundo me 
ajudasse a aliviar aquela dor. Seus soluços cessaram, 
suas mãos abandonaram-se e ele adormeceu.” Este 
é o poder do toque de ternura.Há tanta dureza no mundo que estou convencido 
de que a arremetida evangelística de maior alcance 
de nosso tempo advirá de um reavivamento da be- 
nignidade. Os homens respondem ao amor. Ainda 
sèrão necessárias pregações muito vigorosas, mas as 
almas de corações partidos, famintas, solitárias, per­
didas, buscam um Salvador e tantos necessitam de 
orientação, não de pronunciamento de condenação. 
Orientá-los com bondade os ajudaria a encontrar 
Cristo, o remédio para todos os problemas. A maio­
ria das pessoas fogem em pânico, quando, se sou­
bessem do amor e cuidado de Deus e que seu povo 
as ama e preocupa-se com o que lhes sucede, esque­
ceríam muitos receios infundados e aprederiam a 
viver.
Num mundo frustrado em que tantos se dabatem 
deve haver alguém que lembre aos homens o que 
Jesus disse: “Porque Deus amou ao mundo de tal 
maneira que deu o seu F 'ho unigênito, para que 
lodo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida 
eterna” (João 3:16). Sede benignos, porque cada
O toque suave 101
um com que vos avistais está travando uma batalha. 
A verdadeira nobreza vem de um coração benigno.
102 Fruto do Espírito
O TAMBORILEIRO 
DIFERENTE
Os desenhos cômicos de George Clark muito fre­
quentemente revelam a natureza humana. Numa 
dessas recentes críticas ele mostra duas matronas 
gordas falando num chá sobre sua associação a um 
grêmio de dieta especial. Uma dizia: “Meu clube de 
emagrecimento é extraordinário. No Conjunto per­
demos dezenas de quilos. Contudo, nenhum deles 
era de fato meu.”
Nesta agremiação humana fraterna muitas vezes 
gostamos de falar de grandes personalidades que se 
impõem pela sua bondade. Choramos quando o 
mundo perde um Tom Dooley ou Albert Schweitzer. 
Ficamos comovidos ao ouvir nomes como David 
Livingstone ou Paul Carlson. Tragicamente, muitas 
vezes pouco dessa bondade especial que eles tinham 
é nossa.
Há uma certa casta de homens que não buscam 
fama ou fortuna e por vezes as evitam, mas em vão.
7
Eles conquistam a imaginação e afeição do mundo 
porque estão na trilha de ideais diferentes e têm mais 
altas convicções. Estão cheios de uma bondade difí­
cil de explicar mas muito evidente. Henry David 
Thoreau gastou longas horas pensando nesses ho­
mens.
Thoreau, esse rude individualista da Nova Ingla­
terra do último século, foi certa vez encarcerado por 
se ter recusado a pagar um imposto eleitoral a um 
Estado que matinha a escravidão. Logo veio visitá-lo 
seu amigo íntimo Ralph Waldo Emerson, que espiou 
através das grades e perguntou:
— Eh, Henry, que está você fazendo aí dentro? 
Thoreau replicou:
— Não, Ralph, a pergunta é: Que está você 
fazendo aí fora?
Mediante esta e outras experiências semelhantes, 
Thoreau defendeu sua posição e a de outros homens 
ao escrever: “Quando um homem não está mar­
chando no mesmo passo com seus companheiros 
talvez seja porque ouve um tambor diferente. 
Deixemo-lo marchar ao compasso da música que 
ouve, ainda que cadenciada ou distante.”
Os críticos diziam de Woodrow Wilson: “Ele fala 
como Jesus Cristo.” Nenhuma homenagem maior 
podia ser prestada a um homem, mas não foi feita 
como cumprimento. Contudo, Wilson ouviu um 
tambor diferente e sua grande bondade abafou os 
escámios dos céticos.
Há pouco tempo conversei com trinta jovens que 
se preparavam para resolver sobre suas profissões.
104 Fruto do Espírito
Primeiro perguntei-lhes o que desejavam fazer na 
vida e depois, por quê? Suas respostas refletiram os 
sentimentos de nossa época e nenhuma delas estava 
isenta de motivos egoísticos. A maioria de suas deci­
sões baseavam-se em quanto dinheiro poderíam ga­
nhar ou quanta atenção receberíam.
Então lhes pedi uma lista de homens que eles 
consideravam de fato grandes personalidades da 
história. Como era de esperar, escreveram os nomes 
de homens conhecidos pelo seu auto-sacrifício e 
serviço. Meu coração estava pesado porque ao passo 
que esses jovens compreendiam que a verdadeira 
grandeza reside na bondade, nenhum estava pronto 
a se sacrificar por esse ideal.
Talvez, eu esteja sendo um pouco rude acerca 
desses jovens e devia confiar em que antes de eles 
fazerem sua decisão final para a vida reconheceríam 
a verdade expressa por Jesus que para se ganhar a 
vida deve-se perdê-la. Contudo, aquilo demonstra o 
fato de que muitos não têm bondade pessoal, e 
alguém pergunta por que tantos não possuem a 
coragem para a grandeza. A resposta, naturalmente, 
é que realizar o bem envolve luta contra disparidades 
opressivas e muitos acham que a peleja não vale a 
pena.
Combatendo pela bondade
Um jovem escreveu a um eminente clérigo, de­
clarando estar abandonando a religião para viver 
simplesmente de acordo com a lei áurea. Sua deci­
são baseava-se no fato de ter ele no colégio tomado
O Tamborileiro Diferente 105
conhecimento de todo o mal no mundo e conside­
rado como um Deus bom podia permitir tanto sofri­
mento.
O ministro replicou sabiamente:
—Você é jovem e eu já estou na casa dos oitenta 
anos. Você escreve sobre uma vida boa como se 
pudesse soprar nas suas mãos e fazê-la surgir. Essa 
não foi minha experiência. Viver corretamente é um 
desafio! Envolve uma luta constante e por vezes 
devastadora contra a tentação. Custa autodisciplina, 
auto-sacrifício, autocontrole, coragem para recusar o 
conformismo e fazer frente às maldades comuns.
Terminando sua resposta notável, o pregador es­
creveu:
— Eu tenho visto muitas recuperações admiráveis 
de abismos morais —alcoolismo, vício, criminali­
dade, ou o que quer que seja —mas nunca vi uma 
que não envolvesse a recuperação da fé em Deus.
O simples fato é que viver em pura bondade não é 
fácil. A bondade verdadeira requer vigor espiritual 
que excede mesmo a determinação de ser justo.
George Washington Carver era um homem que 
tinha essa bondade especial. Nascido como escravo, 
Carver enfrentou enormes dificuldades para se edu­
car. Finalmente, após anos de esforços árduos ele 
terminou seu curso superior e o convidaram a aceitar 
um cargo na Universidade de Iowa. Era um emprego 
cobiçado, e nenhum outro negro havia jamais 
ocupado tão alto posto. Afinal ele podia descansar 
e fruir o conforto de sua sociedade. Os alunos 
na Universidade gostavam dele e prontamente
106 Fruto do Espírito
O Tamborileiro Diferente 107 
assistiam às suas aulas.
Então chegou uma carta de Booker T. Washington 
pedindo ao jovem cientista que se juntasse a ele num 
sonho de educar negros do sul. Deixando sua posi­
ção confortável, foi para os algodoais crestados do 
sul a fim de viver e trabalhar entre seu povo faminto. 
Seguiram-se anos de sacrifício e injúrias, mas deva­
gar e com segurança essa grande alma salvou seu 
povo da morte certa pela fome e conferiu-lhes uma 
dignidade que os elevaria para sempre do nível da 
escravidão.
Quando questionado sobre sua atuação brilhante, 
Carver sempre dizia que o bom Senhor lhe dera 
tudo. Ele recusou receber dinheiro para realizar suas 
descobertas, preferindo doá-las gratuitamente a 
quem as pedisse. Três presidentes reivindicaram sua 
amizade. Grandes indústrias disputaram seus servi­
ços e o próprio Thomas Edison ofereceu-lhe um belo 
laboratório novo e um ordenado anual de cem mil 
dólares. Quando Carver o recusou, os críticos co­
mentaram:
—Se você tivesse todo esse dinheiro, podería aju­
dar o seu povo.
Carver replicou simplesmente:
— Se eu tivesse todo esse dinheiro, podería esque­
cer o meu povo.
O epitáfio na sua sepultura confirma a alma sa­
grada desse grande homem: “Ele podia ter tido fama 
e fortuna, mas com elas não se importava. Encontrou 
felicidade e honra em servir ao mundo.”
Ese tipo de bondade sempre tem alto preço.
108 Fruto d o Espírito
O coração dividido
Cada homem encontra sua potencialidade para 
um grande bem ou um grande mal. A história de 
Robert Louis Stevenson do bom Dr. Jeckyll e do 
monstrouso Sr. Hyde demonstra brilhantemente 
essas duas potencialidades. E, no momento em que 
pensamos atingir uma grande bondade, então o mal 
mostra seus dentes afiados àsnossas almas e 
parece-nos que retrocedemos. Contudo, deve-se 
lembrar que todos os homens, mesmo os grandes 
mencionados antes, tiveram o coração igualmente 
dividido. Como quer que Seja, eles aprenderam a 
manter à distância o mal e a cultivar o bem. Isso nos 
faz retomar à declaração de Paulo: “O fruto do Espí­
rito é bondade.”
A divisão do coração foi reconhecida muito antes 
de Stevenson cogitar sobre sue interessante história 
ou Freud ter iniciado sua intrusão através da couraça 
da personalidade humana. Davi exclama há muitos 
anos: “Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e andarei 
na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o 
teu nome” (Salmo 86:11).
Davi ora para que seu coração esteja disposto para 
temer a Deus. Infelizmente, um coração pode estar 
disposto para desprezar o bem e cometer grandes 
males. Vimos isso na Alemanha nazista. Milhões de 
palavras têm sido e serão proferidas acerca daqueles 
horrores indizíveis, quando se manifestou a maior 
realização da tremenda capacidade do homem para 
o mal.
Nossos corações ainda se confrangem quando 
lemos sobre aqueles milhares de pais que se ajoelha­
vam nus ao pé das sepulturas que haviam cavado, 
cobrindo com as mãos os olhos de seus filhos, ao 
passo que as pistolas alemãs detonavam sobre as 
suas nucas. Repugna-nos pensar nas experiências 
científicas dos nazistas injetando germes de tuber­
culose em crianças e vendo-as morrer. O genocídio 
foi tão monstruso que até o presente é-nos penoso 
ouvir sobre o horror de cinco milhões de mortos. 
Tomou-se então patente a extrema e absoluta de- 
pravação do homem e sua horrível capacidade para 
o mal. Todos nós temos visto homens aparente­
mente dedicados ao mal, com os corações dispostos 
a odiar a Deus e à bondade.
Convictos de quão mau o homem pode ser, cla­
mamos a Deus para que nos tome bons. Nesse de­
sejo podemos encontrar a verdadeira bondade. John 
Bunyan, falando da viagem do Cristão à Cidade de 
Deus, diz que um desejo levará um homem a Deus, 
mesmo se 10.000 se oponham a isso; “sem o desejo 
tudo não passa de chuva sobre pedras.”
Séculos depois de Davi, o apóstolo Tiago trataria 
do coração dividido nos termos mais duros: “De uma 
só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, 
não é conveniente que estas coisas sejam assim. 
Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é 
doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode 
a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Tão 
pouco fonte de água salgada pode dar água doce” 
(Tiago 3:10-13). E ele disse também que a verda­
O Tamborileiro Diferente 109
deira sabedoria é pureza completa e bondade.
Até aqui falamos sobre a grande bondade e a 
grande maldade. Contudo, devemos lembrar que o 
mais fundamental em ambas é primeiro serem dis­
seminadas em sementes cotidianas de bondade ou 
maldade. Nossos grandes atos não são senão exten­
sões dos pequenos e os hábitos que semeamos na 
primavera de nossa vida colhemos no outono. 
Aqueles homens não ficaram subitamente cheios de 
bondade ou maldade. Ao invés disso, foi na urdidura 
e trama de seus caracteres que eles esmagaram uma 
e cultivaram a outra. Contudo, é absolutamente ne­
cessário levarmos nossas considerações aos níveis 
mais baixos de nossas vidas e tratar com bondade as 
coisas mundanas.
É fácil dizer que reagiremos com bondade quando 
alguém ousadamente ataca tudo que é sagrado. T o­
davia, a menos que estejamos interiormente muni­
dos de bondade, não suportaremos a carga de um 
ataque intrépido. A bondade nasce do Espírito de 
Deus, a fonte por excelência de toda a bondade, e só 
tem pleno governo de nossas vidas quando lhe con­
ferimos o controle.
Nos anos recentes entramos na esfera do relati- 
vismo. O argumento é tão velho quanto o homem, 
mas apresenta-se hoje com novos títulos. Agora os 
teólogos estão falando sobre “ética situacional” ou 
“circunstancialismo” . Você pode ouvir os termos 
“eventualismo”, “contextualismo” ou “atualismo”. 
São palavras que descrevem a velha teoria de que 
todas as coisas são relativas. Ao invés de observar um
110 Fruto d o Espírito
grupo de regras a pessoa deve esperar que a situação 
se apresente e então resolver o que é moral ou bom.
Bons argumentos procedem de ambas as partes. 
Enquanto a guerra de palavras campeia, nós, leigos, 
ainda devemos tomar decisões determinando nosso 
destino, com respeito a que coisa é boa ou moral 
para ser feita. E merecemos algumas respostas dire­
tas a esse problema. Contudo, apesar do resultado 
do presente argumento, há alguns passos simples 
que podemos dar para nos assegurarmos de que 
estamos aniquilando o mal e cultivando o bem.
Em que vamos confiar?
Paulo observou que a lei foi dada para que sou­
béssemos quando não agimos bem com nós mes­
mos, com a sociedade e com Deus. O fato funda­
mental é que deve haver uma base para o julga­
mento ou cada homem é uma lei para si mesmo. O 
problema perigoso com as éticas situacionais foi o 
que se apresentou a Israel durante os juizes: “Na­
queles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o 
que achava mais reto” (Juizes 17:6). Contudo, antes 
foi registrado: “Então fizeram os filhos de Israel o que 
era mau perante o Senhor” (Juizes 2 :11). Aqui 
vemos expressa a idéia estonteante de que uma coisa 
pode ser justa aos nossos próprios olhos e contrária 
aos desejos de Deus.
Na arrogância da mocidade, eu entrei para a fa­
culdade pensando saber muito mais do que os mais 
velhos. Nunca vou esquecer minha primeira aula de 
psicologia, quando o sábio mestre escreveu na lousa
O Tamborileiro Diferente 111
32 perguntas e pediu que as respondéssemos. Eram 
questões simples que o senso comum resolvería. 
Havia perguntas como: “Gente de alto grau de inte­
ligência sofre mais de insanidade e entre eles a taxa 
de suicídio é superior à da população em geral?” 
Ousadamente coloquei um “sim” . Outra questão: 
“As crianças têm maior capacidade de aprender do 
que os adultos, com isso tomando a infância a ‘idade 
de ouro’ para a aprendizagem?” De novo arrogan­
temente escrevi “Certo” e pensei: “Faculdade é 
canja.” Contudo, para meu espanto, quando deram 
notas à prova vi que não só havia errado nessas duas 
respostas como em dezesseis outras. O professor 
disse à classe:
— A primeira regra da psicologia é nunca confiar 
no seu bom senso.
Mandou que buscássemos nos livros aquelas res­
postas e vimos de pronto quanto tínhamos a apren­
der.
Há milhares de anos Deus advertiu contra a arro­
gância e autoconfiança, ao inspirar o escritor do pro­
vérbio a escrever: “Há caminho que ao homem 
parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de 
morte” (Provérbios 14:12). As éticas circunstanciais 
podem ser muito precárias, porque, como Jeremias 
observou: “Enganoso é o coração, mais do que 
todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem 
o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Tudo isso nos leva à 
questão nevrálgica: “Em quem ou em que vamos 
confiar para obter bases para a verdade?”
A multidão está errada. O argumento dos jovens:
112 Fruto d o Espírito
“Todo o mundo está fazendo isto” é tão esfarrapado 
quanto soa. Nossa moralidade não pode ser instável 
como os modismos das massas. Há alguns séculos a 
multidão achava que os tomates envenenavam e 
também desaconselhavam os banhos por motivos 
de saúde. Disseram a Edison que sua lâmpada jamais 
funcionaria; a máquina para descaroçar o algodão foi 
ridicularizada nos seus estágios experimentais. As 
massas estão freqüentemente erradas e o argumento 
é tão elementar que não precisamos explorá-lo mais 
a fundo.
Contudo, tomar posição contra a multidão não é 
fácil. É uma luta que manifesta nossa força ou fra­
queza. Na África do Sul o ambiente é de racismo e os 
negros sofrem humilhações dos habitantes brancos. 
Há pouco tempo um banto foi ao teatro comprar 
bilhetes para seu patrão branco. Havia só uma fila e 
depois de consultas disseram-lhe para entrar na fila 
dos brancos, ainda que na África do Sul isso seja 
proibido.
De repente um jovem de cabelos pretos 
empurrou-o para fora da fila.A esse gesto insolente 
seguiram-se outros idênticos da parte de uma moci­
nha. Então um brutalhão de cabelos aparados rentes 
agarrou o nativo e o jogou na rua. O gerente do 
teatro disse-lhe que voltasse para a fila, mas ele foi 
novamente arremessado para fora.
Então uma voz se fez ouvir clara sobre o tumulto 
das queixas. Um homem de cerca de cinqüenta 
anos, com as têmporas encanecidas e o colarinho 
aberto, vestido como lavrador, exclamou com voz
O Tamborileiro Diferente 113
assustadora e autoritária: “Deixem esse rapaz na fila. 
Que é que há com vocês?” A multidão cedeu e o 
humilde nativo foi para o primeiro lugar. O lavrador 
sul-africano arriscou sua reputação e a desaprovação 
das massas, mas permaneceu firme. Isso é bondade. 
E custa caro.
Confronte isso com as mocinhas de Indiana presas 
recentemente por furto em loja. Elas admitiram não 
necessitarem da mercadoria, mas roubaram porque 
muitos faziam o mesmo. Uma investigação revelou 
que elas não perceberam estar agindo mal, já que a 
multidão havia sancionado aquilo. As massas não 
podem determinar a moralidade. Por vezes ficamos a 
sós e se exercemos a bondade arriscamos a própria 
vida. Mas, para ser líder devemos tomar a van­
guarda. É triste o comentário sobre nossa geração, 
como o faz T.S. Elliott: “. . .os homens ocos . . . 
homens estofados, inclinando juntos as cabeças em- 
palhadas. Triste de ver!”
Siga seus sentimentos. Outro problema com a 
ética circunstancial é a advertência para você seguir 
seus sentimentos. Os “hippies” começaram nessa 
base e na bondade determinada pelo que sentiam 
gostar de fazer. Todavia, seguir os sentimentos é tão 
enganoso quanto seguir as massas.
O gigantesco avião a jato caiu como um pardal 
agonizante. Era tarde demais para o piloto usar o 
pára-quedas, e assim a massa de metal esmagou sua 
vítima ao mergulhar no campo lavrado.
Soaram sirenes. Mulheres choravam. Homens 
trabalhavam inutilmente em tomo dos destroços re­
114 Fruto d o Espírito
torcidos. As autoridades começaram a recompor a 
história do acidente e diziam aos repórteres ansiosos 
ser uma vertigem a causa provável.
Mais tarde, um oficial de Força Aérea explicou em 
termos leigos o que significava vertigem. Ele disse 
que por vezes as condições atmosféricas levam a 
confundir os pilotos. Eles perdem todo o sentido de 
direção e perspectiva. Podem mesmo sentir que 
estão de cabeça para baixo apesar de os instrumen­
tos indicarem perfeita normalidade. Ele disse que a 
maior tentação nessa circunstância é tomar o con­
trole nas próprias mãos e procurar endireitar o apa­
relho. Esse engano é muitas vezes fatal e foi prova­
velmente o que causou o desastre do avião a jato da 
força aérea.
Sempre temos visto a tragédia de indivíduos que 
tentaram tomar nas mãos o controle de suas vidas e 
viver de acordo com seus sentimentos. E uma espé­
cie de vertigem que freqüentem ente induz à 
catástrofe. 0 caminho que parece certo termina de­
sastrosamente e o mundo tem testemunhado o fim 
lamentável dessa situação em vidas trágicas como as 
de Marilyn Monroe, Lorde Byron e Diana Barry- 
more.
Procure homens mais sábios e palavras mais 
sábias. Há quem faça sua moralidade depender dos 
intelectuais deste mundo. Os filósofos tomaram-se 
guias para nossa sociedade a achamos que os de 
mais alta educação e de maior capacidade intelectual 
estão mais qualificados do que nós para pautar a 
moralidade.
O Tamborileiro Diferente 115
Muito mais da metade dos componentes do alto 
comando de Hitler tinham excelente educação. A 
maioria havia recebido graus de mestrado e alguns 
os de doutorado. E certamente não podemos dizer 
que possuíam a sanidade mental para ajuizar o que 
era bom para eles e a sociedade. Por vezes, mesmo 
os mais educados são pervertidos. Naquela prova de 
psicologia mencionada previamente uma das per­
guntas do tipo falso-verdadeiro era: “Quando al­
guém estuda, sempre aproveita?” Nosso professor 
pôs em evidência: “O aprendizado é popularmente 
considerado em termos de aproveitamento. Mas 
mesmo que aprender realize essas mudanças de­
sejáveis, também pode causar efeitos opostos.” O 
estudo da moralidade de alguns dos maiores estu­
diosos atesta esse fato.
Uma das histórias recentes, mais emocionante e 
chocante veio do sul. Um montanhês rústico deu seu 
coração a Cristo e iniciou a batalha de controlar seu 
temperamento impetuoso e linguajar baixo. Ele o 
conseguiu muitíssimo bem, mas então procurou seu 
pastor para fazer uma confissão.
— Pastor — disse ele — , eu nunca mais tive uma 
pequena briga ou amaldiçoei desde que me tomei 
cristão. Mas por um triz eu não briguei e, se estiver 
errado, quero que o senhor e Deus me perdoem. 
Ouça o que aconteceu. Ontem fui ao consultório 
médico para fazer um pequeno curativo. Chegada a 
minha vez, encaminhava-me para lá, quando trou­
xeram um pretinho que havia sido atropelado por 
um carro. Um braço estava muito quebrado, ao
116 Fruto d o Espírito
ponto de o osso sair da pele. 0 doutor olhou-o 
rapidamente e antão, voltando-se para mim, disse:
— Entre, que eu já faço seu curativo.
— Não — repliquei. Trate primeiro desse menino. 
Ele precisa ser socorrido e eu posso esperar.
O médico retrucou:
—Não, ele pode esperar.
Eu volvi:
— Não, eu posso esperar.
Então o médico disse:
—Você pensa que vou deixar um branco espe­
rando, enquanto trato de qualquer negrinho?
— Pastor, prosseguiu o rústico montanhês, pode 
ser que minha resposta estivesse errada, mas eu 
disse:
— O senhor trata já desse menino ou eu lhe dou 
uma tremenda surra.
De certo a linguagem do camponês podería ter 
sido melhorada mas a sua atuação certamente não o 
podería. A verdade trágica desta história é que a 
educação não diminuiu o preconceito do médico, ao 
passo que um lavrador sem cultura era mais rico em 
bondade e amor. É claro como o cristal que a bon­
dade não aumenta com a educação. Esta pode tor­
nar o homem mais hábil e menos rude, mas o cora­
ção ainda é arrogante e odioso.
Trivial porém verdadeiro
Os pregadores tanto o repetem que a verdade 
quase se toma banal. Contudo, o fato perene é que a
O Tamborileiro Diferente 117
única base da bondade é a Palavra de Deus. Numa 
era de relativismo e negação dos costumes passados, 
é da maior importância compreender que a estrutura 
da bondade não pode ser construída sem uma base. 
Portanto, Paulo diz que o fruto do Espírito é bondade 
—estabelecendo para sempre seu manancial e sus­
tento. Davi disse guardar a palavra de Deus no seu 
coração para não pecar contra ele. Todo o salmo 119 
transborda de louvor por esse fundamento que con­
fere ilum inação, vida, orientação e verdade. 
Ignorando-o, mergulhamos no relativismo e suas 
falácias que qualquer um pode facilmente observar.
Na década passada, muitas das instituições e tradi­
ções humanas passaram por exame rigoroso. Isto 
nem sempre é mau, mas há a tentação de lançá-las 
fora sem pesar seu valor e verificar sua necessidade. 
Seria bom lembrar que elas sobreviveram por serem 
úteis no seu conjunto à subsistência do homem. 
Recentemente, o funeral cristão sofreu idêntico ata­
que.
Em muitos livros inteligentem ente escritos 
discutiu-se largam ente sobre a forma norte- 
-americana de morrer. Foram sugeridas reformas e 
apressadamente a maioria estava pronta a se des­
cartar por completo de qualquer idéia de funeral. 
Contudo, homens mais avisados fizeram pesquisas 
intensivas e descobriram o tremendo valor terapêu­
tico do serviço fúnebre como o método mais fácil e 
melhor de retirar amor do falecido para reinvesti-lo 
noutra pessoa ou causa. Vários livros de pesquisa 
têm surgido agora, clamando por uma nova aprecia­
118 Fruto d o Espírito
ção dessa instituição honrada pelo tempo. O Dr. 
Edgar N. Jackson diz: “Numa época em que prati­
camente toda a pesquisa objetiva e competente se 
dirige para uma direção, as recomendações com 
respeito a reformas na prática do funeral parecem 
não levar em conta ou ignorar essas investigações e 
abrirem seu caminho à parte, com umapesada carga 
de emoção e colapso da objetividade.”
O que é verdadeiro para esta instituição é certa­
mente para todas as demais. Hoje, psiquiatras e psi­
cólogos estão ao lado do pregador na tentativa de 
mostrar o valor e a praticabilidade da sabedoria da 
Escritura dignificada pelo tempo. Não obstante, pa­
recemos dar um mergulho de cabeça, ignorando 
essa base da verdade. Mas sem ela vacilamos entre o 
certo e o errado até que o relativismo nos arruine.
Ezequiel parecia com preender esta geração 
quando falou de uma conspiração dos profetas de 
Deus, que andavam ao redor como leões a rugirem, 
anrebatando a presa, devorando almas, profanando 
o que é sagrado e não vendo diferença entre coisas 
santas e profanas. Ele termina seu apaixonado apelo 
com: “Busquei entre eles um homem que tapasse o 
muro e se colocasse na brecha perante mim a favor 
desta terra, para que eu não a destruísse; mas a 
ninguém achei” (Ezequiel 22:30).
Qualquer que seja a bondade que vejamos nestes 
anos ou em tempos vindouros, só poderá brotar da 
fonte de toda a bondade, Deus. A bondade é fruto do 
Espírito e ainda que seja alto seu preço é necessária 
para nossa sobrevivência. Não podemos viver den­
O Tamborileiro Diferente 119
tro de outro regime nazista. Com nosso acervo de 
métodos de guerra assassina, as sementes do ódio 
devem ser esmagadas antes de se espalharem com 
fúria total. O mais crucial empenho deste tempo é a 
sobrevivência do mundo e só sobreviveremos se 
aniqüilarmos o mal em nossas vidas e cultivarmos o 
fruto da bondade. Precisamos dizer com Giovanni 
Papini: “Jesus só tem um alvo - transformar homens, 
de feras em seres humanos por meio do amor, para 
nos salvar da animalidade por uma força mais po­
derosa do que a força.”
120 Fruto d o Espírito
ENQUANTO 
A IGREJA 
DORME
Quando Orville e Wilbur Wright finalmente conse­
guiram conservar seu aeroplano no ar durante cin- 
qüenta e nove segundos, a 17 de dezembro de 1903, 
enviaram um telegrama à sua irmã, em Dayton, 
Ohio, relatando essa grande realização.
O telegrama rezava: “Primeiro vôo mantido hoje 
cinqüenta e nove segundos. Esperamos estar em 
casa pelo Natal.” Ao receber a notícia a irmã ficou 
tão entusiasmada com o acontecido que correu à 
redação do jornal e entregou o telegrama ao redator. 
Na manhã seguinte— creia-se ou não— a manchete 
do jornal dizia em negras letras garrafais: “Populares 
comerciantes de bicicletas estarão em casa para as 
festas de fim de ano.”
O furo jornalístico do século para os norte- 
-americanos foi perdido porque um redator não viu o 
ponto essencial. Rimos ao ler esse relato, mas muitas 
vezes perdemos pontos essenciais das Escrituras
8
porque os temos lido com muito descuido e não 
permitimos que seu significado profundo penetre em 
nossas almas. Isso é especialmente verdade em se 
tratando da fidelidade como fruto do Espírito.
Uma consideração cuidadosa do texto original in­
dica que a palavra “fé” que algumas versões trazem, 
devia ser mais corretamente traduzida por “fideli­
dade” . Fé no seu sentido geral indica nossa base de 
crença e, assim, é a raiz, não o fruto. Fidelidade 
define mais claramente o que Paulo tinha em mente 
quando disse que o resultado da vida cheia do Espí­
rito é a fé.
Múltiplos testemunhos na Escritura indicam a vir­
tude da fidelidade. O escritor do provérbio disse: “O 
homem fiel será cumulado de bênçãos” (Provérbios 
28:20). Paulo escreve aos Coríntios: “. . .o que se 
requer dos despenseiros é que cada um deles seja 
encontrado fiel” (I Coríntios 4 :21 Então Jesus diz por 
meio de João: “. . .Sê fiel até à morte e dar-te-ei a 
coroa da vida” (Apocalipse 2:10).
Em nossa era de busca de prazeres e interesses 
agoístas é imperativo que o homem de Deus seja fiel 
ao seu alto chamado para a construção do Reino. 
Fomos introduzidos numa época de apatia, quando 
a igreja dorme enquanto os homens morrem e esses 
moribundos são tão anestesiados por Satanás que 
nem sequer compreendem seu perigo. Nestes tem­
pos as sentinelas precisam estar vigilentes e fiéis ao 
seu chamado.
122 Fruto do Espírito
Enquanto a Igreja dorme 123
Era de apatia
Uma ponta gigantesca de um “iceberg” submerso 
abriu um rasgo de uns 90 metros no costado do 
inafundãvel Titanic, pondo-o a pique no fundo mar. 
Naquela noite de horror de 15 de abril de 1912, os 
risos transformaram-se em gritos, a alegria em lágri­
mas, enquanto 1.517 almas foram tragadas pelas 
negras águas gélidas. A mais trágica verdade é que a 
maioria, senão todas, podiam ter sido salvas. O Tita­
nic afundou à vista de outro navio!
Testemunhas subseqüentes revelaram que oficiais 
do Califomian viram o Titanic ser engolido pelo mar 
gelado. Eles relataram não terem compreendido o 
que estava acontecendo, enquanto durante uma 
hora foguetes de avisos desesperados subiam aos 
ares. Essas testemunhas, ao relatarem a tregédia, 
revelaram que o Titanic navegava à vista do Califor- 
nian às onze da noite e houve entre eles contacto 
pelo rádio. O Califomiam estava em pleno repouso 
noturno quando, às 11 :30 o capitão e o rádio- 
-telegrafista foram deitar-se. Dez minutos depois o 
Titanic bateu violentamente contra o “iceberg”.
A bordo do Titanic, que afundava, os oficiais pro­
curaram restabelecer contacto pelo rádio. Não o 
tendo conseguido, em vista de estarem dormindo o 
capitão e o rádio-telegrafista, foguetes de socorro 
foram lançados. O oficial do Califomian em serviço, 
através do tubo de comunicação, chamou o capitão 
adormecido, avisando-o dos sinais. O capitão per­
guntou: “São sinais de nossa companhia”?Tochas e 
velas romanas eram usadas à noite como sinais de
passagem de navios da mesma companhia. Fogue­
tes brancos significavam catástrofe. O oficial, um 
novato, disse: “Eu não sei.” O capitão tomou a 
dormir.
Pouco antes das duas da madrugada o Titanic fez 
um último e desesperado esforço, lançando aos céus 
oito foguetes gigantes. Dessa vez o jovem oficial foi 
pessoalmente levar a mensagem, acordando o capi­
tão do Califomian. Pelo relato das testemunhas ele 
perguntou: “Eles eram brancos?” O marinheiro, an­
sioso, respondeu: “Todos brancos.” O capitão tor­
nou: “Que horas são”? “Duas e cinco” , foi a res­
posta. O capitão não disse nada, acomodou-se e 
voltou a dormir.
Quinze minutos depois não havia mais foguetes ou 
luzes. O Titanic havia sido tragado na profundeza do 
mar, um esquife aguático para 1.500 almas. A comis­
são investigadora concluiu: — A noite estava clara. O 
mar, calmo. Quando o Califomian avistou os fogue­
tes pela primeira vez, podería ter arrancado através 
do gelo sem qualquer risco sério e ido em socorro do 
Titanic. S e tivesse feito isso, teria salvo muitas, se não 
todas as vidas que se perderam.
Se acreditamos na Bíblia temos de reconhecer 
estarmos empenhados numa luta violenta pelas 
almas dos homens. Isso é mais do que convencer um 
homem a ir para nossa igreja. Há um destino eterno 
em risco e Jesus disse que a única entrada para a vida 
eterna é a crença no plano de salvação de Deus. Mas 
parece que alguns na igreja dormem, enquanto 
muitos morrem sem ouvir que Cristo pode salvá-los.
124 Fruto d o Espírito
Os apóstolos advertiram sobre ouvidos surdos, cora­
ções duros e olhos cegos. O trágico é que muitas 
vezes enquanto a igreja dorme as almas perecem. 
Freqüentemente soçobram à nossa vista.
Um dos capítulos mais perturbadores da Bíblia 
trata de uma visão de Ezequiel. Relatada no capítulo 
9 desse livro esplêndido, o profeta vê seis homens 
convocados à presença de Deus, cada um com 
armas destruidoras nas mãos. Um dentre eles está 
vestido de linho, com um estojo de escrevedor à 
cintura. Deus lhe diz: “Passa pelo meio da cidade, 
pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a 
testa dos homens que suspiram e gemem por causa 
de todas as abominações que se cometem no meio 
dela. ” Aos outros Deus diz: “Passai pela cidade após 
ele; e sem que os vossos olhos poupem e sem que 
vos compadeçais, matai; matai a velhos, a moços e a 
virgens, a crianças e amulheres; mas a todo homem 
que tiver o sinal não vos chegueis. . .”
A última nota que Deus acrescenta é terrível: “ . . . 
começai pelo meu santuário” . A visão é clara e a 
aplicação é simples. Deus estava preocupado porque 
ninguém parecia importar-se que a corrupção tivesse 
tragado a bondade. Em outro trecho o profeta cita 
Deus: “Busquei entre eles um homem que tapasse o 
muro e se colocasse na brecha perante mim a favor 
desta terra, para que eu não a destruísse; mas a 
ninguém achei. Por isso eu derramei sobre 
eles a minha indignação, com o fogo do meu 
furor os consumi; fiz cair-lhes sobre a cabeça o 
castigo do seu procedim ento, diz o Senhor
Enquanto a Igreja dorme 125
D eus” (Ezequiel 22:30-31).
Embora seja maravilhoso falar na grande bondade 
de Deus, contudo parte da mensagem do Evangelho 
é o julgamento iminente do descrente. O anjo diz aos 
apóstolos: “Ide e, apresentando-vos no templo, dizei 
ao povo todas as palavras desta Vida (Atos 5:20). 
Portanto, palavras de advertência são empregadas e 
o crente cheio do Espírito será fiel no desencargo de 
sua responsabilidade.
Nem sempre é fácil ou agradável tomar a sério a 
tarefa de advertir e testemunhar. Contudo, é impe­
rativo que o façamos. Nem todos atenderão e certa- 
mente nem todos crerão. Mais comumente, os ho­
mens nem mesmo com preendem a condição 
precária em que se encontram sem Cristo. Idêntica 
ignorância evidenciou-se quanto ao Titanic, naquela 
noite em 1912.
Testemunho prestado perante a subcomissão da 
Comissão de Comércio do Senado dos Estados Un­
idos e perante a Junta Inglesa de Comércio mostrou 
que a tripulação do Titanic desprezou aviso após 
aviso. Eles continuaram a marcha veloz através da 
noite muito embora lhes tivessem dito que havia um 
grande campo de gelo à frente. Minutos após desa- 
tender a um aviso, o Titanic investiu sobre o “ice­
berg” submerso.
O último aviso recebido foi de um navio na vizi­
nhança que percebeu terem sido ignoradas as ad­
vertências anteriores. O Titanic respondeu com arro­
gância: — Cale-se. Cale-se. Estou em ligação com o 
Cabo Race. Vocês estão perturbando os meus sinais.
126 Fruto d o Espírito
Os testemunhos revelaram que o Titanic estava 
em ligação com o Cabo Race, o ponto de escala, 
sobre assuntos como arrumar os lençóis da cama nas 
casas dos milionários, providências para os choferes 
virem encontrá-los nas docas, o que preparar para a 
primeira refeição no lar e outros problemas domésti­
cos que tais, dos que estavam a bordo daquele 
palácio flutuante. Eles estavam ocupados demais 
para ouvir advertências.
Jesus falou muitas vezes daqueles que estavam tão 
ocupados em ganhar a vida que se esqueciam de 
preparar-se para a vida. Contou sobre um rico fa­
zendeiro tão atarefado em construir maiores celeiros 
que se esqueceu de construiur para a eternidade. 
Tragicamente, essa é com freqüência a situação do 
homem moderno na nossa era de apatia. Todavia, a 
despeito de sua reação, nossa responsabilidade é 
emitir a palavra de advertência. Paulo declara que o 
fruto do Espírito é fidelidade.
Cântico para o nosso século
Israel foi escolhido por Deus para propagar sua 
mensagem ao mundo e eles ficaram tão envolvidos 
com as bênçãos divinas que esqueceram a respon­
sabilidade. Na realidade, quando seu Filho veio para 
consumar o plano de redenção, a arrogância deles os 
impediu de o aceitarem. Os pecados deles foram 
profetizados no cântico que Moisés lhes ensinou 
antes de sua partida. Seria bom que nós os membros 
do enxerto de Cristo em Israel léssemos e re­
cordássemos para que nós também não percamos 
nossa perspectiva.
Enquanto a Igreja dorme 127
Durante quarenta anos Moisés metade conduzira 
e metade forçara uma nação nômade para uma nova 
terra. Agora sentia-se atraído para o seu “lar so­
nhado” e queria fazer considerações pertinentes aos 
dias vindouros. Sob a inspiração do Espírito Santo, 
ele escreveu as palavras magníficas de um grande 
hino que ainda vibra com tal força que se pode quase 
sentir a sombra de Moisés atravessando as páginas 
(Deuteronômio 32:1-43). Esse velho, ainda que 
profundo cântico, é certamente para nosso século.
Moisés começa o salmo dizendo que Deus desig­
nou Israel como sua porção. Ele fortalece no povo o 
reconhecimento do significado dessa seleção e en­
carece a proteção de um Pai amoroso. Contudo, 
Deus não trata com carinho um povo sem um propó­
sito. Mais tarde Jesus lembraria a Israel: “Daquele a 
quem muito se dá muito será requerido.”
Israel prosperou, porém disso advieram proble­
mas. Moisés diz: “Mas, engordando-se o meu amado 
deu coices.” Os pregadores dizem freqüentemente 
que a maior tentação para se esquecer de Deus não é 
nos dias penosos, mas nos de bonança. Isso parece 
ter acontecido a Israel, porque quando eles prospe­
raram, esqueceram-se de Deus, a fonte de sua 
bênção especial.
Durante séculos a igreja não sofreu luta insana 
como aquela com que se defrontou durante os pri­
meiros três séculos após Cristo. Pressões externas 
empenhavam-se por esmagar a igreja militante e 
falsos mestres dentro dela semeavam a discórdia. Há
128 Fruto d o Espírito
quem sinta na nossa era de liberdade religiosa que a 
igreja, avolumando-se, perdeu sua dinâmica. Isso 
não é de fato verdadeiro em todos os setores, mas a 
porção de Deus— a igreja— no decurso dos últimos 
dois mil anos podia ser mais eficiente do que se 
apresenta agora. Talvez nos tenhamos engordado.
Moisés declara Israel ter dado cinco desastrosos 
passos descendentes. Seria prudente reavaliarmos 
nossa posição como “Israel moderno” para verificar 
se há a tentação de cometermos os mesmos desati­
nos.
Eles abandonaram a Deus. Moisés acusa: “. . .e 
abandonou a Deus, que o fez.” Muitas vezes somos 
tentados a pensar que conseguimos o alvo por causa 
de nossa dinâmica pessoal, personalidade ou bon­
dade inata. Todavia, o salmista declara: “Sabei que o 
Senhor é Deus: foi ele quem nos fez e dele somos” 
(Salmo 100:3). Acrescentem-se a isso as palavras: 
“Porque não é do Oriente, não é do Ocidente, nem 
do deserto que vem o auxílio. Deus é o juiz: a um 
abate, a outro exalta” (Salmo 75:6,7).
Nos momentos em que somos tentados ao orgu­
lho espiritual seria prudente lembrarmo-nos de nos­
sas origens e cantar: “A Deus seja toda a glória; 
grandes coisas ele tem feito.” Qualquer êxito que 
tenhamos obtido como igreja ou indivíduo, é só 
porque ele tem abençoado nossos esforços e dado a 
eles o crescimento. Em outras esferas, um homem 
pode alçar-se até ao topo. Mas, no serviço do Senhor 
é Deus quem nos dá tudo a ele não só é a fonte de 
nosso vigor espiritual como de nossa força contínua.
Enquanto a Igreja dorme 129
Jesus o disse sucintamente ao falar da vinha e dos 
ramos. Enquanto permanecermos na Videira há 
dádiva de vida e fluxo sustentador de seu poder e 
presença. Israel esqueceu-se disso, o que resultou 
em tragédia.
Eles menosprezaram a Deus. Moisés lamenta: 
“.. .e desprezou a Rocha da sua salvação.” A salva­
ção de Israel tinha sido milagrosa. A partir de sua 
preservação através de José, Deus presenciou e mais 
tarde partiu os vínculos da escravidão mediante pra­
gas lançadas por Moisés. A seguir veio a libertação 
dramática em lugares desertos. Moisés relata com 
eloqüência: “Achou-o numa terra deserta e num 
ermo solitário povoado de uivos; rodeou-o e cuidou 
dele, guardou-o como a menina dos seus olhos.”
Depois, Moisés prossegue registrando a proteção 
pessoal de Jeová na eloqüente alegoria de águia:
‘ ‘Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre 
os seus filhotes, estende as suas asas, e, tomando-os, 
os leva sobre elas, assim só o Senhor o guiou.. . ” O 
grande líder prossegue contando os grandes feitos 
com que Deus agraciou seu povo: “Ele o fez cavalgar 
sobre os altos da terra, comer as messes do campo 
“. . . Salvação, proteção e milagres, tudo lhes foi 
dado, mas inda assim Israel não apreciou as mãos 
paternais de Jeová, e menosprezoú o Doador.
Muito se tem dito acerca da grande graça e amor 
de Deus. Freqüentementesobrevêm a tentação de 
menosprezá-lo e pensar: “Ele compreenderá e dirá 
‘Está bem’.” Todavia, Moisés e todos os outros 
grandes profetas sentiam tremendo respeito e reve­
130 Fruto d o Espírito
rência para com Deus. Ele é o Eterno Criador e 
nunca podemos reduzi-lo a nosso próprio Deus pes­
soal que está a serviço de nossos caprichos e praze­
res. Muitas vezes há pessoas que menosprezam seu 
perdão e misericórdia, esquecidas de que mesmo 
sendo amoroso, ele é também santo e justo. Paulo 
nos admoesta sobre um dia quando prestaremos 
contas dos atos feitos na carne.
Eles serviram a deuses estranhos. “Com deuses 
estranhos o provocaram a zelos, com abominações o 
irritaram.” A passagem do Mar Vermelho, o maná, 
os incidentes milagrosos de vestes, nada disso evitou 
que Israel confundisse a verdadeira adoração com a 
dos povos pagãos. Tomaram para si deuses estra­
nhos e ansiaram pela adoração sensual das nações 
pagãs em tomo deles.
Por vezes não pensamos ser essa queda típica em 
nosso século. Infelizmente, os homens ainda adoram 
deuses estranhos embora não abertamente. Há os 
que se curvam a deuses de esportes, posições, di­
nheiro, diversão — inconscientemente eles adoram 
essas coisas através de suas ambições e atitudes. Em 
nossa época há muitas coisas que nos afastam do 
verdadeiro Deus. Deve-se dizer que qualquer coisa 
que substitua a Deus como centro de uma vida está 
tomando o lugar dele. Satanás oferece muitas distra­
ções, mas só Deus deve ser adorado. As histórias 
trágicas dos adoradores de deuses estranhos apare­
cem regularmente. O suicídio de atrizes que eram 
símbolos sexuais e o trágico desaparecimento de 
homens que alcançaram êxito em negócios e política
Enquanto a Igreja dorme 131
retratam a vaeuidade em se oferecer a vida e seu vigor 
a deuses estranhos que só satisfazem o que é sensual.
Eles ofereceram sacrifícios aos demônios. Moisés 
acusa: “Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a 
Deus.” Isso se refere aos deuses de Canaã, já que o 
demonismo é a dinâmica da idolatria. Paulo men­
ciona de novo esse sacrifício aos demônios em 
1 Coríntios, 10. Sacrificar indica dar a eles o que 
alguém devia guardar para si mesmo.
Em nossa época há sacrifício abundante aos deu­
ses estranhos já mencionados. Parece que temos 
dinheiro para gastar no que é sensual, ao passo que a 
igreja de Deus está sobrecarregada de dívidas. Paulo 
menciona: “A ninguém fiqueis devendo coisa al­
guma, exceto o amor com que vos ameis uns aos 
outros.. . ” (Romanos 13:8). Pode ser que em nossa 
sociedade secular estejamos sacrificando a demônios 
como fez Israel e roubando de Deus seus dízimos e 
nossas ofertas. Ageu fala mais tarde claramente aos 
israelitas: “Tendes semeado muito e recolhido 
pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos; be- 
beis, mas não dá para saciar-vos; vesti-vos, mas nin­
guém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o 
para pô-lo num saquitel furado” (Ageu 1:6). Expli­
cando porque isso tem acontecido, Ageu diz que a 
causa é terem eles construído suas próprias casas, 
deixando em ruínas a de Deus. Essa é a tragédia de 
valores invertidos. Deus quer que demos e nos sacri­
fiquemos a ele e à sua obra, de tal forma que ele 
possa fazer descer sobre nós bênçãos além de nossa 
capacidade de abrangê-las.
132 Fruto d o Espírito
Eles pensavam pouco em Deus. “Olvidaste a 
Rocha que te gerou; e te esqueceste do Deus que te 
deu o ser.” Sem dúvida Moisés estava pensando no 
tempo em que Deus o convocou para registrar os 
Dez Mandamentos. Aquele encontro foi subitamente 
interrompido quando Deus contou a Moisés que o 
povo o traíra, adorando em altar estranho. Percor­
rendo seu caminho monte abaixo, Moisés deparou 
com a cena repulsiva de corpos nus em contorções 
na adoração pagã de um deus egípcio em forma de 
bezerro. Na sua aversão, ele quebra as pedras escri­
tas por Deus na montanha e vai contender com um 
povo de vontade fraca.
Freqüentemente esquecemo-nos de Deus quando 
não estamos perto da sua casa e do seu povo. Con­
tudo, Deus deseja que nossos pensamentos perma­
neçam de contínuo nele e no seu caminho. O sal- 
mista disse: “. . .Antes o seu prazer está na lei do 
Senhor e na sua lei medita de dia e de noite.” (Salmo 
1:2). Nisso consiste o segredo de uma vida cristã 
vitoriosa. Se Deus é o centro de nosso pensamento, 
então ele será o diretor de nossas emoções e o piloto 
de nossas vidas. Então não precisamos da visão do 
santuário ou da presença de um pregador para pre­
servar a nossa santidade. Se aprendermos a deixá-lo 
ser o centro de nossos pensamentos, nossas vidas 
serão santas e retas.
A fome do coração
Moisés não só faz acusações como também fala 
dos trágicos sucessos que advirão de tal negligência:
Enquanto a Igreja dorme 133
“Consumidos serão pela fome, devorados pela febre 
e peste violenta.” Não se passaram muitos anos 
antes que Israel fosse destroçado por tal fome. As 
profecias de Moisés foram mais do que cumpridas no 
cativeiro amargo que sofreram.
Um dos outros grandes profetas visualizou a época 
de um cativeiro e disse tristemente: “Eis que vêm 
dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre 
a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir 
as palavras do Senhor” (Amós 8:11). Amós prosse­
gue em seu lamento: “Andarão de mar a mar, e do 
norte até ao oriente; correrão por toda parte, procu­
rando a palavra do Senhor, e não a acharão.” Essa 
busca, essa ardência, essa fome febril pela Palavra de 
Deus manifestou-se em Israel quando eles se esque­
ceram de Deus e o renegaram. Durante quatrocentos 
anos Deus ficou em silêncio e só rompeu aquela 
solidão agônica com a voz retumbante proclamando 
a vinda de Cristo.
O Senhor abandonado
Em nossa era de muitos conhecimentos e de al­
garavia científica há uma tendência para substituir o 
banco do lamentador pelo sofá do psiquiatra. Muitas 
vezes nossos sermões têm o intuito de fazer as pes­
soas “sentirem-se” boas ao invés de “serem” boas. 
A decadência do espírito e a morte religiosa resultam 
do esquecimento por parte do cristão da fidelidade 
que o Espírito traz. Foi o que aconteceu em Laodi- 
céia.
Estabelecida por Epafras, a igreja de Laodicéia
134 Fruto do Espírito
teve um surto imediato. Situada no coração de uma 
grande cidade desde os primeiros meses a igreja 
cresceu em força e poder na vida comunitária. Lao- 
dicéia era uma das cidades mais prósperas da Ásia. 
Dela vinham os mais belos e macios tecidos de lã 
preta e o linho finíssimo. Uma famosa escola de 
medicina estabeleceu-se na cidade da qual proveio 
um remédio para os olhos chamado colírio. A cidade 
era também um centro bancário.
Contudo, em tal ambiente de prosperidade, a 
igreja fraquejou. Cristo, na revelação, adverte-a por 
falta de devoção, encorajando-a a buscar o ouro 
espiritual, vestiduras e colírio de Deus. Acusa-a de 
orgulho espiritual, porém ao mesmo tempo estende 
seu grato convite: “Eis que estou à porta e bato; se 
alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em 
sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Apocalipse 
3:20).
Muitas vezes essas palavras são citadas ao des­
crente, representando o Cristo evangelístico pedindo 
entrada no coração do pecador. Contudo, deve-se 
levar em conta que elas se endereçavam a uma igreja 
desviada e indiferente. É deveras triste ver aquele 
que deu sua vida pela igreja, do lado de fora dese­
jando entrar.
Salomão também ilustra essa trágica cena na his­
tória comovente e magnífica da jovem que dormia 
no luxuoso palácio do rei. Ela é despertada pela 
batida insistente do seu amado Pastor. Da noite fria 
chega sua voz: “Abre-me, minha irmã, querida 
minha, imaculada minha, porque a minha cabeça
Enquanto a Igreja dorme 135
está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da 
noite” (Cantares 5:2).
Sonolenta, a esposa responde: “Já despi a minha 
túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os meus pés, 
tomarei a sujá-los?” E assim ela fica inteiramente à 
vontade e com tanto sono que não quer responder às 
contínuas batidas. Afinal,ferida pela consciência, vai 
até à porta, mas para seu desalento seu amado já se 
retirara. Receosa de tê-lo perdido, ela corre noite 
afora, buscando-o, quando é atacada: 
“Encontraram-me os guardas que rondavam pela 
cidade: espancaram-me, feriram-me; tiraram-me o 
manto os guardas dos muros” (Cantares 5:7). À luz 
desses escritos a cena de Cristo batendo à porta é 
comovente e atemorizante. O fato é que, se a igreja 
adormecida não despertar, Cristo pode retirar-se 
dela e o fará. A igreja, buscando o Senhor que a 
deixou, sofre grande tribulação. Cristo disse: “Assim, 
porque és momo, e nem és quente nem frio, estou a 
ponto de vomitar-te de minha boca” (Apocalipse 
3:16).
Quão diversa era a igreja de Éfeso! Também eles 
tinham recebido uma aguilhoada por terem deixado 
seu primeiro amor. Cristo fá-los recordar isso, 
arrepender-se e voltar-se às práticas primeiras. Eles 
não menosprezam a advertência e se arrependem. A 
história registra os resultados de ambas as atitudes. A 
igreja de Laodicéia, surda aos avisos, foi rejeitada da 
presença de Deus. Invasores islâmicos invadiram a 
cidade e a destruíram. A rica igreja dos Laodiceanos 
ficou em ruínas e pereceram os santos que dormiam.
136 Fruto do Espírito
Nesse meio tempo a igreja de Éfeso prosperou 
depois de voltar-se para o altar. Na realidade, tão 
grande foi seu reavivamento que dez anos após a 
morte de João, o Amado, estava mais firme do que 
nunca. O imperador Trajano mandou Plínio àquela 
cidade para investigar se os cristãos deviam ser per­
seguidos. Plínio escreveu como resposta que o Cris­
tianismo florescera de tal forma que os templos pa­
gãos estavam quase abandonados e uma perseguição 
significaria a rebelião de toda a cidade.
O fruto do Espírito é fidelidade à nossa vocação, e 
nesta era de santos adormecidos e pecadores mori­
bundos, esse fruto precisa ser cultivado mais do que 
qualquer outro.
Enquanto a Igreja dorme 137
9
A FORMA 
DO CONTEÚDO
O famoso pintor Ben Shahn fala com clareza artís­
tica raramente igualada entre seus colegas. Certa 
feita, quis retratar o fogo tão vividamente que nin­
guém pudesse enganar-se quanto ao seu significado. 
Não é uma tarefa fácil, visto como o fogo evoca 
muitas imagens e significados em nossa mente.
Para alguém extraviado no escuro de uma floresta 
a vista de fogo no acampamento representa um alí­
vio extremo. Quando atormentados por fome, o 
fogo pode recordar-nos o chiado de um bife ou o 
crepitar do torresmo. O fogo também é destrutivo e 
pode-se imaginar o horror de uma casa em chamas 
com crianças aos gritos. Para outros, vergastados 
pelos ventos gélidos do inverno, o fogo é um amigo 
agradável que envolve as achas de lenha numa la­
reira aprazível. Contudo, Shahn queria retratar o 
fogo em toda sua fúria, como um assassino sem 
misericórdia. Para fazer isso, pintou um lobo enfure­
cido com garras deformadas, revestido de pelo de 
cor viva, procurando, esfomeado, uma presa. Nin­
guém pode ver essa obra de arte sem perceber a 
mensagem clara e chocante que Shahn queria co­
municar.
As palavras, como o fogo, muitas vezes significam 
coisas diferentes a pessoas diversas. Por vezes preci­
samos de uma representação clara e concisa para 
configurar o conteúdo das palavras do autor. O pro­
blema complica-se mais pelo fato de as palavras 
estarem de contínuo mudando de significado. Em 
vista desses problemas, por vezes temos de reexami­
nar algumas idéias preconcebidas sobre o que lemos 
e reajustá-las convenientemente. Isso é inconteste 
quando lemos: “O fruto do Espírito é mansidão.”
Uma mansidão vertical
Ao se ler a palavra masidão, imediatamente nos 
ocorre um personagem de Walter Mitty, que tem 
nele menos do que seria desejável. Tragicamente, 
isso é uma grave distorção da advertência de Paulo, 
visto como mansidão não é fraqueza, mas força. 
Talvez uma palavra possa ser esboçada como forma 
do conteúdo para avaliarmos a que Paulo se refere 
ao falar em mansidão.
Michael Druiy falou recentemente em mansidão, 
dizendo: “A humildade muitas vezes se nos apre­
senta vagam ente desejável, mas não de fato 
atraente. Ela pode levar alguém ao céu, mas não lhe 
conseguirá um aumento de salário. Soa como que 
sem espinha, incompatível com o intelecto e com um
140 Fruto d o Espírito
A Forma do Conteúdo 141
espírito vigoroso.” Ele prosseguiu admitindo que na 
verdade o contrário é verdadeiro. As figuras que 
costumamos associar com a humildade — Jesus, 
Lincoln, Gandhi, Einstein — não foram homens de 
natureza tímida, mas homens que, reconhecendo 
sua fraqueza, também consideravam seus destinos e 
agiam de acordo com eles. Drury concluiu, dizendo: 
“A humildade não é autodepreciação: é uma carac­
terística firme, livre, confiante.” Isto se aproxima 
bastante da descrição de Paulo.
O que muitas vezes é mal interpretado acerca da 
mansidão é que essa qualidade está relacionada er­
roneamente. Mansidão é nossa atitude para com 
Deus, não para com o homem. É vertical, não hori­
zontal. Eis por que realmente homens mansos como 
os acima mencionados tinham aquela grandeza e 
liberdade de espírito. Se a mansidão fosse relacio­
nada com o homem, então nos estaríamos curvando 
a uma vontade pessoal mais forte. Nesse caso o 
Cristianismo nunca podería galgar um posto de li­
derança nas comunidades ou sequer viver nelas com 
qualquer grau de dignidade. Deve ficar devidamente 
esclarecido que quando Paulo fala ser mansidão o 
fruto do Espírito, está descrevendo a atitude de al­
guém ante Deus, não ante o homem. Então, se nossa 
atitude perante Deus é de mansidão, perante o 
homem a pessoa está impregnada do mesmo espí­
rito. A mansidão nesse caso não parte de uma fra­
queza vacilante, mas de uma força que nos compele 
a fazer a vontade de Deus em face de qualquer 
adversidade. A mansidão não é como Rúben: “im­
petuoso como a água.” Pelo contrário, semelhante a 
José: “o seu arco, porém, permanece firme.”
Moisés dá o significado
Para fazer uma pintura do mundo talvez seja bom 
invocarmos Moisés, já que a Bíblia diz: “Era o varão 
Moisés mui manso, mais do que todos os homens 
que havia sobre a terra.” Ao menos três incicidentes 
na sua vida indicam esse traço característico e nos 
falam do profundo significado da mansidão.
Resposta ao seu chamado. Após quarenta anos de 
exílio, Moisés defronta-se subitamente com um mi­
lagre que não compreende. Deus fala, dizendo a 
Moisés que ele foi escolhido para conduzir os israeli­
tas fora do Egito. Como resposta Moisés pergunta 
honestamente: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar 
do Egito os filhos de Israel?” Ao que Deus responde: 
“Eu serei contigo.” De novo Moisés pergunta: 
“Quem direi que me enviou?” — ao que Deus re­
plica: “Eu sou o que sou.” Moisés prossegue con­
testando, dizendo que não lhe crerão e que ele é 
pesado de língua. Deus repele essas objeções e Moi­
sés é enviado.
O significado de tudo isso jaz no contraste entre 
sua resposta e àquela dada pelas suas ações qua­
renta anos atrás. Nesse tempo Moisés encontrara um 
egípcio espancando um seu compatriota e imedia­
tamente ergueu-se e matou o opressor. Disso resul­
tou seu exílio e durante aqueles quarenta anos Deus 
empenhou-se muito por ensinar a Moisés que há 
muitos combates que não se vencem com violência.
142 Fruto do Espírito
A Forma do Conteúdo 143
As batalhas espirituais nunca se ganham pelas mãos 
carnais. Paulo toca o clarim, advertindo: . .porque
a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim, 
contra os principados e potestades, contra os domi­
nadores deste mundo tenebroso, contra as forças 
espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, 
tomai toda a armadura de Deus. . .” (Efésios 6:12, 
13a). Moisés aprendera em dura experiência a futili­
dade, a frustração de resolver situações com as pró­
prias mãos e procurar endireitá-las com as mãos da 
carne. Agora, ele simplesmente estava ante Deus e 
admitia plenamente não ser ninguém. Isso é verda­
deira mansidão.
O escritor do hino disse tão eloqüentemente: “Sou 
débil, cheio defraquezas, aos teus pés me curvo. 
Divino ser, espírito eterno, cheio de poder, 
enche-me dele agora.” Assim como nossa vida espi­
ritual se baseia na premissa de permanência na Vi­
deira, nossas vitórias espirituais só serão conquista­
das se humildemente, perante Deus, admitirmos 
nossas fraquezas e orarmos pela sua força. Moisés foi 
absolutamente honesto na sua aproximação de Deus 
e isso é verdadeira mansidão.
Seu problema familiar pessoal M oisés tinha se ca­
sado com uma mulher odiada por sua irmã e seu 
irmão e da qual eles desconfiavam. “Falaram Miriã e 
Arão contra Moisés, por causa de mulher etíope, que 
tomara” (Números 12:1). Os mais argutos pensa­
dores têm considerado o motivo dessa desaprova­
ção. Se era de ordem racial ou pessoal para com 
Miriã não importa. O que vale notar é a reação de
Moisés durante esse período da crise pessoal e crítica 
severa. Ele não reagiu violentamente nem gastou 
tempo em defender-se. Antes, continuou seu traba­
lho para Deus e deixou Deus solucionar o problema.
Com o decorrer do tempo, subitamente Deus 
falou aos três indivíduos para que se pusessem à sua 
presença. Quando eles entraram na tenda, Miriã e 
Arão são chamados à frente e Deus austeramente os 
recrimina: “Boca a boca falo com e le .. . como, pois, 
não temestes falar contra o meu servo, contra 
Moisés?” Miriã ficou atacada de lepra e o castigo pela 
sua insurreição foi conhecido em todo o arraial.
Note-se ainda que Moisés então ora por sua irmã e 
após sete dias ela fica curada. De novo não vemos 
maldade alguma no coração de Moisés, pois fora 
atingido na esfera de vida em que a maioria de nós 
gritaríamos de dor. A atitude de mansidão de Moisés 
diante de Deus era tal que ele não necessitava de se 
defender ou de se vingar.
Mansidão é a perfeita compreensão de nosso valor 
ante Deus e o conhecimento do seu perdão. Porque 
Moisés foi manso perante Deus, tendo acalmado 
seus receios pessoais e frustrações, os outros não 
podiam afrontá-lo e fazê-lo reagir em desacordo com 
o caráter de sua missão. No envoltório desse pe­
queno incidente histórico encontra-se um impor­
tante fato psicológico. Pelo perfeito conhecimento de 
nossa situação com o Salvador, o medo, as frustra­
ções e inibições que nos flagelavam antes do 
Calvário são erradicados. Nisso consiste o milagre do 
novo nascimento. Ainda que nosso ambiente possa
144 Fruto d o Espírito
A Forma do Conteúdo 145
ter contribuído para toda espécie de problemas 
emocionais e complexos, numa nova retomada em 
paz com nosso Criador, tomamo-nos emocional­
mente seguros e estáveis.
Quando compreendemos que foi Deus quem nos 
fez e não nós mesmos, que somos ovelhas do seu 
pasto, que os passos de um homem bom são co­
mandados pelo Senhor, então não importa o que 
outros possam dizer. É então que a verdadeira man­
sidão para com Deus nos dá forças ante nossos ad­
versários. Então não nos curvaremos aos caprichos e 
desejos dos que nos cercam. Não reagiremos à sua 
frustração, pois sabemos que fomos aceitos pelo 
Criador do universo e que nossos passos foram en­
caminhados por ele. Portanto, a crítica não nos afeta 
e a vingança é alheia à nossa personalidade.
Seu grande desapontamento. Moisés tinha desa­
gradado a Deus em Meribá, razão pela qual não lhe 
foi permitido entrar na Terra Prometida. Este foi um 
dos maiores golpes que recebeu. Ele ansiava pelo 
momento de conduzir o povo ao seu lar predesti­
nado. Durante quarenta anos, metade ele conduzira 
e metade ele forçara uma nação nômade para sua 
terra e agora, idoso, quando o sentimento brota 
forte, ele não podería entrar nela. É dispensável dizer 
o quanto se lhe confrangia o coração com tão pro­
fundo desapontamento.
Contudo, nessa provação Moisés não se rebela 
contra Deus, porém aceita seu castigo como o 
grande homem que era. Como Jó, ele não pecou 
com seus lábios ou insensatamente acusou a Deus.
Notem-se as grandes qualidades da mansidão: con­
fiança absoluta e segurança na grande sabedoria e 
misericórdia divina. Se Deus não lhe permitia a en­
trada, Moisés não via nisso motivo de se lastimar. Ao 
invés disso, aceitou a ordem de Deus e foi avante. 
Sua fé não ficou abalada, mas fortalecida.
À beira de um túmulo, diz muitas vezes um pastor 
a uma viúva em prantos: “Deus é muito sábio para 
jamais errar e muito amante para jamais ser descari- 
doso.” Não são palavras vazias ou frases amenas 
para serenar um coração dorido. São verdades que 
vibram através da história e se pudermos apanhar 
todo o seu significado apreenderemos um pouco do 
espírito de Moisés. Em lugar de nos rebelarmos 
quando não vemos claramente como decorrem seus 
planos, quão esplêndido seria, na mansidão de Moi­
sés, contentarmo-nos com a experiência de um 
Monte Pisga. Eis a verdadeira mansidão — tal como 
a canta o salmista: “Seu caminho é perfeito.”
Sob a aparência
Já que é certo a mansidão estar na relação entre o 
homem e Deus antes que junto ao seu próximo, 
talvez seria valioso passar em revista as ocasiões em 
que chegamos ante seu trono ém adoração. Deus 
prometeu: “Os mansos terão regozijo sobre regozijo 
no Senhor” (Isaías 29:19). Isso é verdade, porque o 
homem que é realm ente manso ante Deus 
aproxima-se do seu trono com absoluta honestidade 
e abandono. E nessa liberdade de honestidade há 
grande e maravilhosa alegria.
146 Fruto d o Espírito
A Forma do Conteúdo 147
Infelizmente, alguns dentre nós construímos um 
sistema de adoração que não conduz à mansidão 
ante Deus. Se pudermos quebrar essa máscara de 
adoração farisaica, sermos absolutamente honestos 
em nossa comunhão com Deus, nossa adoração será 
mais rica e significativa. Tragicamente, muita adora­
ção é centrada no indivíduo e reflete pouco da man­
sidão que é fruto do Espírito. Se nos lembrarmos de 
que a verdadeira adoração é centrada em Deus e não 
em nós mesmos, então a mansidão se tomará parte 
intrínseca nossa.
Uma mocinha, muito entusiasmada por ter seu 
namorado afinal ido à igreja, ergueu-se para dar seu 
testemunho. Estava muito alegre por Deus ter ou­
vido fielmente as suas orações e nervosa por desejar 
que seu testemunho desse a impressão justa. Ela 
exclamou: “Estou tão feliz por ser tão maravilhosa.”
Rimos ao tomar conhecimento desse incidente 
que foi muito embaraçante para a jovem. Ela queria 
dizer: “Estou tão feliz porque Deus é tão maravi­
lhoso.”
Isso nos faz recordar que muitas vezes a adoração 
pode centrar-se numa pessoa e não em Deus. Paulo 
adverte o jovem Timóteo: “Sabe, porém isto: nos 
últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os ho­
mens serão egoístas . . . antes que amigos de Deus” 
(2 Timóteo 3:1-4).
No Apocalipse um anjo nos dá a verdadeira chave 
da adoração. João fora exilado na ilha de Patmos e lá 
Deus lhe revelou seu plano para as eras vindouras. 
Num caso a revelação veio através de um “anjo
poderoso” . Em seguida João prostra-se em adora­
ção ao ser celestial. Ele registra: “Prostrei-me ante os 
seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, 
não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos 
que mantêm o testemunho de Jesus; adora a 
Deus. . .” (Apocalipse 19:10).
Aqui está a chave encontrada na Palavra de Deus, 
através de profetas, sacerdotes, pregadores e anjos: 
“Adora só a Deus!” Jesus disse: “Ao Senhor teu 
Deus adorarás, e só a ele darás culto” (Mateus 4:10).
Os homens de hoje argumentariam que nossa 
adoração centraliza-se unicamente em Deus. Talvez 
isso se verifique realmente em muitas vidas. Con­
tudo, seria bom avaliar nossa.adoração e ver se Deus 
é o centro dela ou nós mesmos.
Os cânticos que cantamos. Uma experiência cu­
riosa é repassar as páginas de um hinário e notar 
todos os cânticos com pronomes pessoais nos títulos. 
Um estudo mais profundo desses hinos demonstra 
ser a maioria deles centralizada em nós e nossos 
sentimentos, em lugar de Deus. Repare nestes títu­
los: “Minha possessão eterna” , “Mais perto quero 
estar”, “Dá-nos teu favor”, “Deus me chama” , “Eu 
quero ser um anjo”, “Meu Fiador”, “Meu Salva­
dor”.
Um eminenteministro observou no cântico “No 
jardim” a incidência de vinte e sete referências à 
própria pessoa e só algumas a Deus.
Naturalmente, esses hinos são de testemunho e 
prestam-se muito bem para algumas adorações. A 
questão é que talvez devamos incluir em nossa ado­
148 Fruto d o Espírito
A Forma do Conteúdo 149
ração mais hinos que façam referência a Deus, sua 
grandeza, amor e preocupação com o homem. A 
ênfase em nossa adoração não diz respeito à nossa 
retidão, mas à de Deus. Como Moisés, perguntamos: 
Quem somos nós? Há grandes cânticos de adoração 
como “Saudai o nome de Jesus” ; “Grandioso és 
tu”, “Ao Deus de Abraão louvai” , “Mil vezes mil 
louvores”. Podería haver um cântico que acentuasse 
mais a grandeza de Deus do que:
A Deus demos glória, pois seu grande amor 
O Filho bendito por nós todos deu.
E graça concede ao mais vil pecador, 
Abrindo-lhe a porta de entrada no céu.
Exultai! Exultai! Vinde todos louvar 
A Jesus Salvador, a Jesus Redentor!
A Deus demos glória, porquanto do céu 
Seu Filho bendito por nós todos deu.
A congregação acabara de cantar “Mais terno 
cada dia” , quando um homem idoso se ergueu e 
disse com toda a ingenuidade:
—Sabe, pessoal, eu sou como esse hino. Fico cada 
dia mais terno.
Muitos têm ouvido testemunhos semelhantes que 
nos fazem sorrir. Já que o testemunho é parte de 
nossa adoração, há algumas normas a serem segui­
das para testemunhar nosso Mestre.
Recentem ente um homem muito sincero 
ergueu-se e pôs-se a falar com muitas minúcias sobre
quantas almas havia ganho para Cristo. Natural­
mente, o efeito não foi o esperado, porque a ênfase 
foi colocada sobre ele, ao invés de como Cristo tra­
balhava através dele. Muitas vezes, inconsciente­
mente, creditamos a nós a obra de Deus.
Os testemunhos são muito eficazes para trazerem 
almas a Cristo. Não devem servir como demonstra­
ção de nossa espiritualidade ou sabedoria religiosa. 
Quando se transformam nisso, a efetividade desa­
parece. Cristo, falando da maneira pela qual morre- 
ria, disse: “E eu, quando for levantado da terra, 
atrairei todos a mim mesmo.” Talvez devamos 
lembrar-nos dessas palavras ao testemunharmos. 
Ele tem de ser exaltado. Nossos testemunhos devem 
ser os de uma alma emocionada e persuadida, se 
confessamos com o escritor do hino: “Senhor, agora 
na verdade encontro teu poder e tu somente podes 
alimpar as manchas da lepra e derreter um coração 
de pedra.”
Jesus condenou o fariseu que evidenciava seu 
próprio valor e o mal do pecador. Ele nos admoestou 
a orar não para impressionar homens, mas para 
comungar com Deus. Portanto, nossas orações 
devem sempre ser em honestidade para com Deus 
— acerca de nossas próprias deficiências e sua força.
Uma boa pergunta a fazer a si mesmo é: “São 
minhas orações inteiramente altruístas?” Procure 
atentar para suas orações. Suas orações são sempre 
para suas necessidades ou as de sua família? Ou elas 
vão de parceria com as necessidades de outros? 
Pode o Espírito Santo movê-lo a orar pelos outros,
150 Fruto do Espírito
A Forma do Conteúdo 151
esquecendo-se de si mesmo?
Jesus deu o modelo perfeito da oração quando 
seus discípulos lhe pediram que os ensinasse a orar. 
Dois terços da oração ensinada são de louvor, com a 
mensagem básica centralizada na vontade de Deus 
antes que em interesses próprios. A ênfase sempre é 
posta em Deus. A oração pode ser uma grande 
aventura se pudermos vencer nosso egoísmo e se­
guir livremente seu espírito quando nos guia em 
oração. As orações egoístas trazem pequenas mes- 
ses, mas as altruístas abundância de frutos.
Embora seja necessário ter “cuidado de ti mesmo”, 
precisamos ultrapassar essa limitação na oração para 
atingirmos altitudes de completo abandono próprio 
em louvor e oração. Possa ser esta a nossa experiên­
cia ao orarmos.
Então ante o trono serei em Cristo aperfei­
çoado;
morreu Jesus por minh’alma, meus lábios re­
petirão.
Alguns cantam com entusiasmo esse hino, espe­
cialmente o último verso tão belo. Cremos realmente 
nisso? Tão freqüentemente medimos seu amor pelo 
nosso, tão volúvel e cambiante. Comparamo-lo ao 
mais puro amor que conhecemos, o de uma mãe ou 
pai pelo filho. Contudo, ele está muito além. Os pais 
podem ser cruéis e as mães desalmadas. Deus, não! 
Quando restringimos seu amor ao nosso, na verdade 
estamos dizendo: “Eu amo tanto quanto Deus.” E
não é isso auto-adoração?
Muitos se sentem frustrados e continuarão a ser, 
enquanto limitarem o amor de Deus e a compreen­
são dele a padrões humanos. Não podemos com­
preender que ele nos ama muito mais do que nós 
amamos? Ele ama nossos queridos muito mais do 
que nós. Por que havemos de temer? Por que duvi­
daremos? Por que viveremos abaixo de nossos pri­
vilégios como cristãos?
Davi disse: “Para onde me ausentarei do teu Espí­
rito? Para onde fugirei de tua face? Se subo aos céus, 
lá estás; se faço a minha cama no mais profundo 
abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvo­
rada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá 
me haverá de guiar a tua mão e a tua destra me 
susterá” (Salmo 139 :7-10). Se pudéssemos ao 
menos aceitar esse amor saberiamos que o amor 
excede a compreensão e obteríamos uma tranqüili- 
dade que só um tal amor pode dar.
Satanás freqüentemente derrota os cristãos por 
eles não compreenderem a misericórida e amor de 
Deus e se sentirem indignos do amor que realmente 
compreendem. Contudo, quando eles oram estão 
sempre pedindo que sejam merecedores de tal amor. 
Não pedimos justiça, mas só misericórdia. Deus não 
nos ama em vista de nosso valor. Na verdade, jamais 
compreenderemos a graça de seu amor. Tudo que 
podemos dizer é:
Posso ver na cruz do Cristo 
a forma de quem sofreu
152 Fruto do Espírito
A Forma do Conteúdo 153
e por mim ali morreu.
Com pranto no coração 
Dois milagres eu confronto: 
a glória do seu amor 
e o meu próprio desvalor.
Muitas vezes há quem diga ao seu pastor: “Eu não 
me sentia em condições de louvar a Deus esta 
manhã. Essa a razão de não ter correspondido ao seu 
chamado.” Isso não é adorar nossos sentimentos 
antes que a Deus? A adoração não se baseia em 
sentimentos, mas no fato de Deus desejar os louvo­
res do seu povo. Há um “sacrifício de louvor” . Lem­
bremos que Deus habita no louvor do seu povo.
Paulo menciona o duro combate entre a carne e o 
espírito. É uma batalha eterna travada dentro de 
cada um de nós. Fadiga, doença ou pressões emo­
cionais podem dificultar a adoração. Contudo, de­
vemos lembrar de o adorarmos sempre, apesar de 
nossos sentimentos. Quando sucumbimos às tenta­
ções de deixar os sentimentos que nos acometem em 
determinado momento superarem nossa adoração, 
esta estará centrada em nós mesmos antes que diri­
gidas por Deus. Talvez devamos sacudir-nos e fazer a 
firme determinação:
Não mais dentro do vale ficarei, 
mas ao alto da montanha subirei; 
morre o mundo sem que alguém 
lhe fale de um Salvador 
de imcomparável amor.
154 Fruto d o Espírito
Jesus pagou tudo
Sejam nossas orações sempre no sentido de que 
nossa adoração seja centrada em Deus. Não adora­
mos para impressionar ou sermos impressionados. 
Adoramos porque Jesus pagou tudo. Se nossa ado­
ração tem sido autocentrada, talvez devamos baixar 
a cabeça e, ajoelhados ante ele, orar:
De mim nada tenho para merecer 
a tua graça.
Minhas vestes lavarei no sangue do Cordeiro. 
Jesus tudo pagou — a ele tudo devo: 
a mancha do pecado ele alimpou.
Tão alvo como a neve me tornou.
Quando adoramos em absol-uta mansidão e ma­
nifestamos esse fruto em nossa vida, nosso procedi­
mento torna-se naquele que agrada a Deus e serve 
de testemunho aos homens. Plutarco perguntou 
uma vez como a figueira, cujos ramos, hastes, raízes 
e folhas, que são tão amargos , podia dar frutos tão 
doces e saborosos. Pode-se também perguntar 
como os frutos doces do Espírito crescem no fundo 
amargo da natureza humana. Podemos desconhecer 
a resposta, mas sabemos o resultado quando ho­
nesta e despretensiosamente chegamo-nos a Deus 
na mansidão de Moisés. Então realmenteaprende­
mos a viver.
10
PRISIONEIRO
VOLUNTÁRIO
Um prazo recorde de 63 anos de prisão terminou 
com a morte, aos 91 anos de idade, de Martin Dal­
ton, outrora residente em Fali River, Massachutts. O 
mais estranho foi que ele se impôs os últimos trinta 
anos de prisão. O preso, vezes seguidas, recusou o 
livramento, dizendo: “O mundo mudou muito.”
Após a reclusão durante trinta e três anos pela 
morte de um negociante de Nova Iorque em Rhode 
Island, Dalton foi libertado e retiraram-no de sua cela 
para ver o mundo fora. Ele ficou perplexo com os 
carros que obstruíam as mas, os novos prédios, as 
mudanças de hábitos. Ao ser encarcerado, antes do 
princípio do século, as carruagens ainda rodavam 
pelas mas amplas, puxadas por cavalos, a animação 
era moda e a vida decorria a passos mais lentos.
Assim, perdida a família, sem lar, dinheiro, traba­
lho ou amigos, Dalton preferiu ficar preso. Ele traba­
lhou na lavoura da prisão, fora dos muros, até sua
morte. Era isso o que desejara como seu fim. Era um 
prisioneiro voluntário.
Um outro homem, há muitos anos, fez a mesma 
decisão, embora em circunstâncias diferentes. O 
apóstolo São Paulo escreveu que era prisioneiro de 
Jesus Cristo por sua própria escolha. Muitas vezes ele 
disse ser um escravo do amor de Cristo. Há quem 
indague por que Paulo escolheu sofrer por Cristo e 
ser um prisioneiro voluntário. Talvez a questão possa 
ser respondida melhor dizendo-se que Paulo tinha 
aprendido o segredo da vida. Ele chegou ao conhe­
cimento do que muitos grandes filósofos procuraram 
aprender, alguns dos quais o conseguiram após anos 
de estudo: só há verdadeira liberdade no cativeiro. 
Ainda que tal afirmação pareça contraditória, é uma 
verdade etema. É livre e feliz o homem que é prisio­
neiro de leis morais e códigos estabelecidos pelo 
Criador. E Paulo diz: “O fruto do Espírito é domínio 
próprio.”
Fora da porta de entrada
Durante séculos filósofos têm ponderado sobre a 
razão pela qual tantas coisas que parecem agradáveis 
são proibidas por Deus e pela sociedade. Ornar 
Khayyam articula a dúvida de muitos:
Como! Do nada sem sentido
criar algo consciente, para ressentir o jugo
de prazeres proibidos,
e ficar sob a etema punição
se eles forem transgredidos?
156 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 157
Khayyam admite francamente seu dilema, e sua 
única solução é comer, beber e divertir-se. Ele sente 
que a questão não pode ser respondida e positiva­
mente declara:
Eu mesmo, quando jovem, ansiosamente fre- 
qüentei
Doutor e Santo; ouvi grande discussão 
acerca disto e daquilo, mas sempre saía 
pela mesma porta por onde eu havia entrado.
Entretanto, o testemunho dos que têm buscado 
liberdade no excesso, recusando-se a reconhecer 
que ela só existe na escravidão, revela a tragédia de 
sua filosofia. Lorde Byron disse no seu último ani­
versário: “Foram-se as flores e os frutos da vida; só 
são meus agora o verme, o câncer e a tristeza.” Ele 
morreu aos 36 anos, derrotado e deprimido.
Há uma resposta muito melhor do que nos entre­
garmos meramente ao destino que espreita ou sair 
pela porta de entrada. A Bíblia é um manual de 
comportamento que oferece razões convincentes 
para seguirmos as advertências de Deus. A razão de 
surgirem tantas tentações e frustrações se não nos 
ajustarmos a elas é porque Deus criou o homem com 
o potencial tanto para um grande bem como um 
grande mal. Não somos máquinas programadas para 
certas respostas, mas, antes, vontades livres para 
escolher o bem ou o mal, participando das conse­
quências dessa decisão.
A grandeza nunca é só força. Hitler tinha força 
para atemorizar um mundo e praticamente extermi­
nar uma raça. Contudo, ninguém ousaria qualificá-lo 
como grande. A autoridade e força de Nero eram 
incontestáveis, porém besuntar cristãos com alca­
trão, por fogo aos seus corpos que ainda respiravam, 
para que fossem à noite tochas nos seus jardins, 
certamente não é demonstração de grandeza. A 
grandeza não é só a manifestação de força, mas 
também de repressão. Lincoln foi grande porque 
mesmo que pudesse assolar o Sul, pregava e prati­
cava “maldade contra ninguém e caridade para com 
todos”. Washington podia ter sido um ditador, mas 
preferiu restringir-se, desejando uma democracia 
forte. De modo semelhante, a felicidade não é a 
busca livre de nossas fantasias, mas também a vo­
luntária restrição delas.
Nossas vidas são como rios, úteis nas suas energias 
ou destrutivos na sua força. Pode-se observar a ma­
jestade de uma queda de água canalizada para gerar 
eletricidade a uma comunidade necessitada de luz ou 
irrigando uma terra crestada e ter um sentimento de 
apreciação. Ou pode-se ver um rio sinuoso, indisci­
plinado, espraiando-se fora das ribanceiras, avassa- 
lando valiosas terras de sitiantes, fazendo devasta­
ções que anos de trabalho não poderão restaurar, e 
sentir frustração. O benefício ou destruição não pro­
vém da água em si mesma, mas do modo como é 
canalizada. Igualmente, vidas úteis e significativas só 
podem surgir de corações comedidos, cujas paixões 
foram canalizadas para o maior bem. Somos montes
158 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 159
de paixões, desejos, emoções e sentimentos, e, ine­
rentes a eles todos está o grande bem ou o grande 
mal. Paulo diz que a vida cheia do Espírito é canali­
zada e disciplinada para o maior bem.
O âmago da alma
Contudo, o domínio próprio não é o único sinal de 
uma vida bem disciplinada. O autodomínio, como 
fruto do Espírito, vai ao âmago da alma e é o próprio 
caráter do homem. Milhares de ladrões estão fecha­
dos atrás de grades e eliminados da sociedade. To­
davia, eles ainda são ladrões que simplesmente não 
têm oportunidade de cometer seus crimes contra 
uma sociedade livre. Isso também é verdade com 
respeito a outros crimes e ofensas. O milagre de 
Cristo é que o caráter do homem muda e não só o 
seu ambiente. Homens que encontram Cristo não 
são só libertados, mas, limpos, recomeçam a partir 
de onde as velhas coisas já se foram. O domínio 
próprio, então, é a própria motivação da alma.
Davi, que aprendeu a disciplina através de amarga 
experiência, orou: “As palavras dos meus lábios e o 
meditar do meu coração sejam agradáveis na tua 
presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” 
Essa é a verdadeira temperança. Aqui está a disci­
plina exterior, a vigilância sobre as palavras de sua 
boca, mas também a do âmago da alma. Davi roga 
para que seus próprios pensamentos e motivos 
sejam do agrado de Deus.
Quando alguém ora motivado como Davi, per­
manece firme apesar das circunstâncias ambientais.
Não há fins de semana ou tempo perdido quando, 
fora da vista do santuário, ele se permita viver como 
de fato quer. O pecado de Davi sobreveio quando 
ele deixou de orar e viver essa oração. O verdadeiro 
prisioneiro em gozo de grande liberdade, não está 
escravizado à sociedade, esposa, família ou amigos, 
mas, antes, é um escravo do amor de Deus.
A lealdade a Cristo mediante o Espírito Santo traz 
à tona o melhor que temos, ao passo que a obediên­
cia indisciplinada à nossa natureza inferior destrói 
como uma torrente de água, desgastando a estabili­
dade emocional e o bem-estar físico, nossos e dos 
que nos cercam. Paulo diz que o homem cheio do 
Espírito Santo terá domínio próprio.
Obtendo controle
Uma jovem mãe estava tendo dificuldade com um 
pequeno de cinco anos, manhoso e exibicionista. 
Depois de tê-lo disciplinado rigorosamente e man­
dado para a cama, ela explicou: “Pode ser que eu 
seja ‘quadrada’, mas não posso crer que permitindo 
que ele se torne tão indesejável agora vá 
transformá-lo numa criatura amável daqui a vinte 
anos.” Sua idéia era que a disciplina vai além do 
castigo ou recompensa. A disciplina é na verdade 
conferir às crianças o autocontrole para que façam 
uso de suas melhores qualidades. Trata-se de dar- 
-lhes habilidade de tomar decisões e aceitar as con- 
seqüências de sua escolha.
Ainda que o domínio próprio seja um fruto muito 
desejável do Espírito, o homem honestocogitará de
160 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 161
como tirar proveito dele na sua própria vida. É aqui 
que a Bíblia dá algum auxílio muito prático, mos­
trando como podemos obter o autocontrole. Como a 
senhora com a criança turbulenta podemos ficar res­
ponsáveis por nós mesmos através das indicações da 
Palavra de Deus. É estranho, porém isso coincide 
com os conselhos oferecidos por grandes psicólogos, 
com referência aos mesmos problemas.
Autodisciplina firme. Jesus falou em quatro espé­
cies de solo em que a boa semente caiu. Só um deles 
era “disciplinado” e produziu fruto. Com essa 
parábola ele diz que muito depende de nós nessa 
questão de viver a vida vindoura. Paulo acrescenta­
ria mais tarde: “Todo atleta em tudo se domina; 
aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, 
porém, a incorruptível. . . Mas esmurro meu corpo e 
o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a 
outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” 
(1 Coríntios 9:25, 26).
No fim de sua grande vida, Paulo reservaria tempo 
naquela lúgubre prisão para registrar seu último de­
sejo e testamento a um jovem pregador em Éfeso. 
Em 2 Timóteo 2 :4 Paulo subministra a seu filho na fé 
três importantes regras de autodisciplina. A primeira 
é: “Nenhum soldado em serviço se envolve em ne­
gócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer 
àquele que o arregimentou.” Em outras palavras, 
viver para Cristo é serviço de tempo integral. Isso não 
significava que Timóteo teria de isolar-se socialmente 
ou não participar da sua comunidade. Paulo mesmo 
trabalhava como tecelão de tendas para suprir as
suas necessidades físicas enquanto pregava. O ponto 
nevrálgico da questão é que aquele que se alistou 
para o serviço de Cristo tenha a vista no alvo su­
premo. Com relação a Deus ou seu trabalho, não há 
férias.
O Dr. Smiley Blanton, notável psiquiatra, diz: 
‘ ‘Nove em dez casos relacionados com a tentação, as 
desvantagens resultantes superam grandemente a 
satisfação momentânea.” Ele prossegue mostrando 
que as bebidas nunca valem a ressaca, ou a sexuali­
dade ilícita suas conseqüências derradeiras. Paulo 
dizia o mesmo a Timóteo. Timóteo é admoestado a 
lembrar o seu destino quando a lascívia juvenil ou as 
tentações sobreviessem e a prever as conseqüências, 
de forma a superá-las. Ele não devia enredar-se com 
o mundo.
A seguir, Paulo diz haver certas regras que deviam 
ser observadas: “Igualmente o atleta não é coroado 
se não lutar segundo as normas.” Alguns pensam 
poder prosseguir com seus pecados. Contudo, isso 
nunca se dá. Ainda que a voz da consciência seja um 
murmúrio, o castigo por desprezá-la é grande, como 
qualquer psiquiatra ou médico poderá dizer. O Dr. 
Blanton também aduz: “Quer você considere a 
consciência como um mecanismo divinamente im­
plantado, um eco apagado de autoridade paterna, 
ou os velhos tabus coletivos da raça humana, ela 
permanece como um dispositivo da personalidade 
humana que dispara uma das emoções mais destru­
tivas: a culpa.”
Realmente, nunca nos furtamos a nós mesmos e à
162 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 163
voz que nos fala no silêncio de nossas almas. Os 
homens nunca descobrirão nossos pecados, porém 
nós estamos constantemente sendo espicaçados 
pelas suas pontas agudas e penetrantes. E, como diz 
Paulo, jamais poderemos verdadeiramente ficar fir­
mes, fixar os homens nos olhos, dominar qualquer 
situação, se não mantivermos as normas. E’ relati­
vamente sem importância sermos ou não apanha­
dos. A religião se acoberta sob a aparência humana e 
é a essência da alma. Enganamo-nos a nós mesmos 
quando pensamos poder sair-nos bem lutando des­
lealmente.
A idéia final que Paulo dá é “O lavrador que 
trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos” 
(v. 6) Algumas pessoas falam sobre religião para 
encobrir deficiências terríveis de suas próprias vidas. 
O incidente da mulher ao pé do poço é um caso 
típico. Quando Cristo se aproximou do seu pro­
blema ela procurou esquivar-se do Mestre com uma 
questão religiosa acerca do lugar adequado para 
adorar. Jesus respondeu logo e a seguir foi ao cerne 
verdadeiro do problema.
A religião pode tomar-se um escudo para os que 
se consideram justos, e merecemos parte da crítica 
que o mundo nos faz. Paulo reconhece isto em mui­
tas passagens, mas aqui, particularmente, ele fala a 
Timóteo acerca de ser participante do que pregava. 
Timóteo podia argumentar sobre religião ou ques­
tões teológicas por toda a sua vida e ainda assim estar 
perdido. Nem todo o homem que diz “Senhor, S e ­
nhor” , terá entrada. O importante, diz Paulo, é que
participemos da misericórdia e disciplina de Cristo. 
Então seremos senhores de nossas vidas. Teremos 
controle de nós mesmos no momento em que vi­
vermos na atitude de que fala Paulo. Assim, o pri­
meiro passo para o autocontrole é o desejo de viver 
segundo as normas, e disciplinarmo-nos pelas leis de 
Cristo.
Conhece-te a ti mesmo. Ainda que filósofos te­
nham dito isto durante séculos, por vezes não reco­
nhecemos a força dessa verdade. Ela foi a base dos 
sermões de Sócrates e muito dos escritos do Novo 
Testamento tratam do assunto. Pedro diz: . . asso­
ciai com vossa fé a virtude; com a virtude o conheci­
mento; com o conhecimento o domínio próprio” (2 
Pedro 1:5). Diz ele para associarmos à nossa virtude 
o conhecimento; ou em outros termos, conhecermos 
nossas limitações e a força divina.
Tentações variadas atraem diferentes povos, em 
graus diversos de intensidade. O que pode ser uma 
pedra de tropeço para você pode não o ser para seu 
próximo. Essa é uma das razões de Cristo nos ensinar 
a não julgarmos as ações ou reações alheias. Não 
podemos avaliar seu dilema por desconhecermos os 
problemas que os afligem. Contudo, se arrolarmos 
nossas próprias fraquezas e praticarmos um pouco 
de auto-honestidade acerca das imperfeições de 
nosso caráter, então grande parte de nosso problema 
é eliminado. É verdade que as tentações em geral 
não ficam à nossa espera, mas realmente há defeitos 
de nosso caráter que nos impelem a cair nelas. Por 
exemplo, ao conquistador sempre se apresentará
164 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 165
uma série de acontecimentos românticos, porque ele 
inconscientemente cria essas situações.
Só há um meio de vencer, quando somos tentados 
ou buscamos a tentação: atentar para a admoestação 
bíblica de fugir dela. Freqüentemente, a maioria de 
nós apenas rastejamos, esperando que ela nos do­
mine. O segredo de viver com autodomínio consiste 
em arrolar nossas fraquezas, evitar contactos em 
áreas em que somos vulneráveis e então, se estamos 
numa delas, fugir. José achou dessa forma sua salva­
ção da mulher de Potifar. S e você é extremamente 
ambicioso, então fuja da tentação de prejudicar os 
outros para alcançar o topo. Alguém, extremamente 
insatisfeito com sua situação na vida, deve evitar, 
como uma calamidade, a tentação de escapismo 
mediante bebida, pílulas ou fantasias. Conhecer-se a 
si mesmo é o sábio conselho de Pedro em ocasiões 
de tentação.
Revesti-vos de Cristo. Paulo escreve: . . revesti-
-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a 
carne” (Romanos 13:14). Pode ser banalidade dizer 
simplesmente: “Ore acerca disso”, mas o fato é que 
ainda funciona. Um psiquiatra explica-o da seguinte 
forma: “Após passar uma longa vida observando a 
conduta humana, não me resta dúvida de que, in­
teiramente à parte de seu significado religioso, a 
oração é um dos métodos mais eficazes de extrair a 
sabedoria e poder existentes no grande reservatório 
do inconsciente.”
Mas, para não ser mal interpretado, ele acrescen­
tou que não pensava que a mera repetição de uma
prece fosse suficiente. Disse: “Na oração eficiente 
deve haver humildade, renúncia de desejos, reco­
nhecimento da necessidade de auxílio. O psiquiatra 
não pode explicar isto profundamente, não mais do 
que o teólogo, mas sabe que é assim. A auto- 
-submissão é a chave. Quando essa atitude invade o 
consciente e mergulhaprofundamente no incons­
ciente, o resultado é serenidade e clareza de pensa­
mento que tomam as decisões corretas não só possí­
veis mas quase inevitáveis.” Freud também obser­
vou: “A inteligência pode funcionar com segurança 
só quando afastada da influência de forte carga em o­
cional.” Mesmo que alguns discordem da aplicação 
deste princípio, ainda é verdade que a oração nos 
afasta do forte impulso emocional daquela tentação 
e nos põe em contacto com a fonte de toda a inteli­
gência. Daí que a sabedoria desça aos nossos cora­
ções. Tiago diz simplesmente: “Se, porém, algum de 
vós necessita de sabedoria, peça-a Deus, que a todos 
dá liberalmente” (Tiago 1:5).
Grandes praticantes da oração no passado ilus­
traram o poder dessa força. A Bíblia admite viva­
mente que os grandes profetas tinham desejos, pai­
xões e impulsos idênticos aos nossos. Contudo, pelo 
poder da prece foram capazes de canalizar esses 
impulsos para os desígnios supremos de Deus.
O mundo é muito melhor por terem eles feito isso. 
A oração funciona e é praticamente um recurso ines­
gotável para uma vida forte e confiante.
Enchei-vos do Espírito. Paulo nos dá uma daque­
las verdades sensatas com tamanha simplicidade que
166 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 167
nos surpreende. Ele diz simplesmente: “E não vos 
embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas 
enchei-vos do Espírito” (Efésios 5 :18). Como o 
vinho intoxicante tem domínio sobre um corpo, 
assim o Espírito nos domina quando nos enchemos 
dele. Paulo acreditava e pregava que quando al­
guém está assim absorvido pelo Espírito, é domi­
nado por uma força maior do que ele mesmo. Em 
outros termos, há um plano superior de vida para 
aquele que está impregnado pela presença contínua 
de Deus através do seu Espírito que nele hebita. Mais 
do que autocontrole, isso se toma controle de Cristo. 
Como todos nós temos experimentado, este é o 
único meio de nos elevarmos acima de nossas pró­
prias naturezas.
Saindo do fosso
Grande parte de nossa felicidade ou infelicidade 
depende de nossa habilidade em manobrar a tenta­
ção, ao invés de sermos manobrados por ela. Robert 
Louis Stevenson disse: “Estamos condenados a al­
guma nobreza” , ao passo que a Bíblia diz: “O Salário 
do pecado é a morte.” Deus nos criou com a habili­
dade e desejo tendentes à grandeza e nobreza. Se 
sufocamos esses impulsos, nossas vidas ficam des­
troçadas e dissipadas. S e cultivamos essa nobreza 
passamos do reino da animalidade pará um mais 
próximo da divindade.
Jesus certa vez contou a história de um rapaz que 
se embebeu dessas duas naturezas. O filho pródigo 
caiu do topo ao fundo do fosso e por fim atingiu de
novo o topo. Há quem chore ao ler sobre o grande 
perdão do pai e a profunda vergonha do filho. Em 
todo o relato há certa nota de tristeza quando pen­
samos numa vida jovem tão malbaratada e inútil. 
Então, Cristo fala do irmão mais velho e de sua 
reação errada. Após censurar essa sua atitude, o pai 
fala palavras que ressoam vibrantes séculos afora. 
Talvez, como ele, tenhamos achado que nunca 
realmente podíamos apreciar o perdão de Cristo até 
que, como o filho pródigo, comamos as alfarrobas 
dos porcos ou quem sabe, sintamos que somos inca­
pazes de apreciar nossa bondade. Como quer que 
seja, as palavras repassadas de bondade do pai são 
calorosas e sublimes. Ele diz ao mais velho:
— Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é 
meu é teu.
O pai percebeu que, embora ele tenha perdoado o 
pródigo, ele nunca perdoaria a si próprio. Sempre 
haveria períodos de profundo pesar por ter ele desa­
pontado o pai e todos da casa. O pai lembra ao mais 
velho: “Tu estás sempre comigo.” Em outras pala­
vras, ele não teria momentos de remorso e pode­
ría manter sempre a cabeça erguida. Era necessária 
uma festa para demonstrar ao mais moço que estava 
perdoado, mas não para o mais velho. O pai só lhe 
disse: “Tudo que é meu é teu.”
Não é necessariamente verdade que o mais deso­
bediente seja o mais agradecido. Por conseguinte, 
recusando-nos a levar uma vida indisciplinada evi­
tamos muitas dores e mágoas profundas. A colheita 
de pecados ainda ocorre muito depois de Cristo nos
168 Fruto d o Espírito
Prisioneiro voluntário 169
perdoar, e por isso é tão importante aprender a viver 
sob domínio próprio e sermos fiéis ao Cristo desde a 
mocidade. Paulo diz que o fruto do Espírito é domí­
nio próprio.
Nunca houve uma época de necessidade de auto­
domínio como esta em que vivemos. Nossa socie­
dade semeou o vento e está colhendo a tempestade. 
Uma pesquisa do Senado norte-americano mostrou 
recentemente que cerca de dois e meio milhões de 
crianças entre as idades de 10 a 17 anos já têm 
passagem registrada na polícia. Acrescente-se a isso 
que 85% de todos os nossos criminosos têm menos 
de 25 anos. Para nossa sociedade há uma resposta. 
Se vivermos uma vida temperada e inspirarmos nos­
sos filhos a fazer o mesmo, nosso mundo pode 
mudar. O excesso exige mais excesso e só a disci­
plina do espírito pode quebrar o círculo de egoísmo. 
O escritor do Eclesiastes experimentou todos os ex­
cessos da vida e mesmo assim nos seus momentos 
finais recomenda: “Lembra-te do teu Criador nos 
dias da tua mocidade, antes que venham os maus 
dias e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho 
neles prazer” (Eclesiastes 12:1).
Shakespeare disse: “Há uma maré nos negócios 
dos homens, que tomada na cheia, leva à fortuna; se 
esquecida, todo o curso de suas vidas está ligado a 
trivialidades e misérias: e devemos aproveitar a cor­
rente enquanto serve, ou perder a fortuna.” O que é 
verdade para os indivíduos aplica-se também às na­
ções. Estamos aterrorizados com a devassidão que 
assola nossas cidades e a violência que destroça
nossos lares. A maré do autodomínio agora está em 
alta e para nossa sobrevivência devem os 
aproveitá-la. O fruto do Espírito é domínio próprio.
O domínio próprio parece ser o último e mais 
elevado fruto do Espírito. Viva no espírito destes 
versos grandiosos!
Auto-reverência, autoconhecimento, autocon­
trole,
Só esses três levam a vida ao poder soberano; 
Mas não pela força (a força, por si mesma 
Se tomaria indesejada), porém viver pela lei, 
Agindo de acordo com a lei pela qual vivemos, 
sem temor;
E porque o justo é justo, seguir o justo 
Seria sábio, com desdém da conseqüência.
170 Fruto d o Espírito
11
A FORTUNA 
NUMA GARRAFA
Jack Wurm, com seus 55 anos de idade, atingira as 
profundezas do desespero e da depressão. Estava na 
praia, literal e figurativamente falando, faz alguns 
anos, alquebrado e desencorajado. Fracassado nos 
negócios, agora matava o tempo percorrendo as 
praias da Califórnia entre uma e outra entrevistas de 
emprego.
Errando pela areia, seus olhos depararam com 
uma garrafa enterrada, que parecia conter algo. Ele 
ergueu-a com um pontapé e então se pôs a 
examiná-la. Havia um bilhete dentro, de forma que 
ele a quebrou e leu:
Para evitar confusão, deixo todos os meus bens à 
pessoa feliz que encontrar esta garrafa e ao meu 
advogado, Bany Cohen, em partes iguais. Daisy 
Alexander. 20 de junho de 1931.
O nome Daisy Alexander não significava nada
para Jack Wurm, pelo que ele levou o caso na brin­
cadeira. Contudo, mais tarde soube que Daisy Ale- 
xander era herdeira de grande fortuna das Máquinas 
de Costura Singer e, se ele pudesse provar a validade 
do bilhete, entraria na posse de seis milhões de dó­
lares.
As pesquisas revelaram ser Daisy Singer Alexan- 
der uma excêntrica que vivia na Inglaterra. Fre- 
qüentemente, lançava garrafas às águas, imagi­
nando onde iriam ter. Ela morreu aos 81 anos, em 
1939, sem deixar testamento. Wurm exigiu a fortuna 
e o caso tomou seu curso legal através dos complica­
dos trâmites de um tribunal. Um perito em correntes 
oceânicas testificou que uma garrafa lançada no rio 
Tâmisa podia entrar pelo Canal da Mancha, passar 
ao Mar do Norte, atravessar o Estreito de Bering, ir 
ter ao norte do Pacífico e afinal chegar à Califórnia ou 
México. Ele disse que esse trajetolevaria aproxima­
damente 12 anos. Na realidade levara 11 anos e 
nove meses. Jack Wurm encontrara uma fortuna 
numa garrafa.
Examinando a Escritura na busca de um sentido 
de direção, deparamos com uma fortuna espiritual 
dentro de uma garrafa. O fruto do Espírito nas suas 
nove penetrantes apresentações descerra-nos as ri­
quezas da personalidade centrada em Cristo. É 
grande a emoção da descoberta e a fortuna é eterna. 
Agora que examinamos cada uma em separado, 
talvez fosse conveniente passar uma revisão no seu 
contexto geral.
Paulo põe em contraste aquelas qualidades espi­
172 Fruto do Espírito
rituais com os impulsos da carne. Ele adverte que o 
fruto da carne é imoralidade sexual, impureza da 
mente, sensualidade, idolatria, feitiçaria, ódio, con­
tendas, ciúmes, mau gênio, rivalidade, facções, espí­
rito litigante, inveja, embriaguez e orgias. Ele então 
descreve a personalidade do verdadeiro crente. É 
necessário repetir de novo que esses frutos não são 
características separadas entre as quais podemos es­
colher as que mais nos agradam; todas constituem 
uma unidade; um complementa o outro. O fruto da 
carne traz morte e destruição, ao passo que o do 
Espírito traz vida e paz.
Como em qualquer situação contrastante, há uma 
decisão. Josué desafiou Israel a escolher naquele dia 
a quem servir; a escolha diária do bem ou do mal é 
nossa. O salmista orou: “. . . dispõe-me o coração 
para só temer o teu nome” (Salmo 86:11), e esta 
prece deve ser nossa, se o fruto do Espírito tiver de 
ser cultivado.
Paulo, em outra de suas profundas afirmações, 
diz: “Porque de Deus somos cooperadores; . . . 
edifício de Deus” (1 Coríntios 3:9). Com nossas 
mentes ocidentais é por vezes difícil apanhar o sen­
tido pleno dessas palavras. J.B . Phillips sugeriu a 
seguinte tradução: “. . . sois um campo sob o cultivo 
de Deus, ou, se quiserdes, uma casa sendo cons­
truída de acordo com seu plano.” Que belo pensa­
mento! Somos campos cultivados por Deus para 
belos frutos e plantas produtivas. Como qualquer 
campo deve ser arado, semeado, limpado e irrigado, 
assim deve Deus cultivar nossas vidas.
A fortuna numa garrafa 173
A atitude de Paulo era que, mesmo sendo impeli­
dos para a perfeição e sendo realmente cultivados, 
ainda há muito a fazer em nossas personalidades. Ele 
disse: “Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já 
obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar 
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo 
Jesus” (Filipenses 3:12). Então, admitindo sua im­
perfeição, diz: “Irmãos, quanto a mim não julgo 
havê-lo alcançado” (v. 13a). Porém ele se volta para 
a esperança viva e positiva: “Mas uma coisa faço: 
esquecendo-me das coisas.que para trás ficam e 
avançando para as que diante de mim estão, pros­
sigo” (v. 1 3 ,1 4 ). Henry Wadsworth Longfellow ex­
pressou o mesmo de outro modo:
Ergamo-nos, pois, e façamos 
com o coração qualquer destino.
Realizando e prosseguindo sempre, 
no trabalho aprendamos a esperar.
Paulo também disse que somos como edifícios 
construídos segundo as especificações de Deus. 
Deus tira a madeira de nossas vidas e faz de nós o que 
deseja que sejamos. A coisa importante em ambas as 
metáforas é que o trabalho prossegue agora. Em 
outras palavras, como o fruto cresce até amadurecer, 
somos cultivados e edificados por Deus até aquele 
tempo de perfeição.
Aqui temos nossa fortuna numa garrafa. O fruto 
do Espírito é poderoso e cresce em nós até que 
sejamos perfeitos aos olhos divinos. Certa vez um
174 Fruto do Espírito
homem perguntou a Rembrandt em que ponto um 
quadro se completava. Ao que o famoso artista ho­
landês replicou: “Um quadro está terminado quando 
ele expressa a intenção do artista.” O mesmo se dá 
com nossas vidas. Elas só ficarão completas quando 
expressarmos a intenção total do Mestre. Isso é o que 
concerne inteiramente ao fruto do Espírito. Essas 
qualidades tão evidentes na vida terrestre de Cristo 
expressam a intenção do Grande Artista. Por isso, 
ativamente buscamos seu cultivo, sua edificação, sua 
poda, até que nossas vidas se ajustem à imagem de 
seu único Filho.
Woodrow Wilson disse: “O Cristianismo libertou o 
mundo, não como filosofia de altruísmo, mas pela 
revelação do poder do amor altruísta. Isto resume o 
propósito e conteúdo do fruto do Espírito. Grande 
parte do mundo ainda busca libertar-se e a Grande 
Comissão não será realizada por um evangelismo 
auto-estilizado por um programa muito elevado, mas 
pelo preenchimento do Espírito e vibração de vida 
rica de fruto do Espírito e transbordante do amor de 
Deus. S ó então poderemos sentir o soluçar do 
mundo sofredor e a dor da criação que geme. Zaca­
rias diz sucintamente — “ . . .Não por força nem por 
poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos 
Exércitos” (Zacarias 4:6).
O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longani- 
midade, benignidade, bondade, fidelidade, mansi­
dão, domínio próprio. Cristo viveu tudo- isso com 
plena perfeição, e quando pensamos naquela vida
Afortuna numa garrafa 175
176 Fruto d o Espírito
perfeita e no que ele deseja que sejamos, dizemos 
com o poeta:
A face do mundo inteiro mudou para mim 
desde o momento em que ouvi 
o som dos passos de tua alma.
Impresso nas oficinas da 
Editora Betânia S/C 
Venda Nova, MG
	O FRUTO DO ESPÍRITO
	Charles R. Hembrce
	Editora Vida
	ÍNDICE
	PREFÁCIO
	CAPÍTULO I ILUDIDOS POR UM MILAGRE
	UMA
	CHEIA DE FITAS
	Os não divorciados — Amor no lar
	A corrida da morte — amor no mundo
	SEDE DA VERDADE
	Há um rio
	O doce aqui e agora
	PIOR DO QUE A GUERRA
	A contradição de Cristo
	Fazendo da paz um exercício
	A feitura do homem
	OS
	ANOS DO GAFANHOTO
	Levado ao desespero
	A questão do por quê
	O homem que voltou
	TOQUE
	SUAVE
	A que se assemelha Deus?
	Crescendo em benignidade
	Experimente o toque da ternura
	O TAMBORILEIRO DIFERENTE
	Combatendo pela bondade
	O coração dividido
	Em que vamos confiar?
	Trivial porém verdadeiro
	ENQUANTO A IGREJA DORME
	Era de apatia
	A fome do coração
	O Senhor abandonado
	A FORMA DO CONTEÚDO
	Uma mansidão vertical
	Moisés dá o significado
	Sob a aparência
	Jesus pagou tudo
	PRISIONEIRO
	VOLUNTÁRIO
	Fora da porta de entrada
	O âmago da alma
	Obtendo controle
	Saindo do fosso
	A FORTUNA NUMA GARRAFA