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RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes TÍTULO VII - DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAP. I - DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO 1 BIGAMIA Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena – reclusão, de dois a seis anos. § 1° Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2° Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. 1.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Uma vez adotada pelo Estado a monogamia, entendeu-se por bem tipificar o delito de bigamia. Assim, o tipo penal tutela o casamento monogâmico e, consequentemente, a organização da família. Nos casos de poligamia, pode haver um concurso de crimes (material ou de continuidade delitiva a depender do caso concreto). 1.2 SUJEITOS DO CRIME No caput, o sujeito ativo somente é a pessoa já casada, assim, trata-se de crime próprio. Já no § 1º, será autor o não casado (solteiro viúvo ou divorciado). O sujeito passivo é o Estado. O cônjuge do primeiro casamento e o contraente de boa-fé também podem ser considerados sujeitos passivos. 1.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo “contrair” tem o significado de formalizar oficialmente um novo casamento, sendo o agente já casado anteriormente. O agente desconsidera a proibição legal constante do inciso VI do art. 1.521 do Código Civil, que diz que não podem casar as pessoas já casadas. A lei não exige que o casamento anterior seja válido, desde que vigente. Até que se declare a nulidade ou que seja anulado, produzirá efeitos e servirá para caracterizar o crime de bigamia. 1.4 QUESTÃO PREJUDICIAL Se houver ação civil em curso que trata da nulidade do casamento anterior, a ação penal deve ser suspensa, pois se trata de questão prejudicial, aplicando-se o artigo 92 do CPP. Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 1.5 FALSIDADE IDEOLÓGICA Um dos documentos exigidos no processo de habilitação do casamento é a declaração do estado civil. Ao praticar o delito de bigamia, obrigatoriamente comete o delito de falsidade ideológica(crime-meio). No entanto, ele é absorvido pelo crime-fim. Contudo, conforme adverte Luiz Regis Prado, “se não caracterizado o início da execução, a falsidade ideológica consumada (ato preparatório) seria punível como delito autônomo”. 1.6 UNIÃO ESTÁVEL O casamento anterior deve ser legal, portanto, não há bigamia quando o agente, por exemplo, matinha anteriormente união estável com alguém, mesmo que dessa relação tenha advindo filhos. A própria Constituição Federal não confunde o casamento com a união estável, dizendo, no § 3° do seu art. 226, que, para efeitos da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 1.7 CASAMENTO RELIGIOSO A cerimônia religiosa que oficializou a união de duas pessoas, se não obedecer às formalidades legais (art. 1.515, CC), não terá efeitos de reconhecimento do casamento anterior, não servindo como impedimento do casamento futuro, que, se ocorrer, não será bigamia. 1.8 OUTRAS OBSRVAÇÕES Caracteriza-se também o rime de bigamia se o agente, casado com pessoa do sexo oposto, contrai nova união com pessoa do mesmo sexo (Resolução nº 175/2013); ADPF 132/RJ (STJ). Também se considera bigamia se o casamento anterior foi realizado no exterior e o agente casa-se novamente no Brasil. 1.9 BIGAMIA PRIVILEGIADA Nos termos do § 1º, aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. O § 1.º é uma exceção à teoria monista, adotada no concurso de pessoas. O monismo significa que “quem concorre para o crime incide nas penas a ele cominadas”, ou seja, há um só delito para coautores e partícipes. No caso presente, como em outras exceções, preferiu o legislador punir mais RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes brandamente a pessoa solteira que, tendo pleno conhecimento do estado civil do futuro cônjuge, contrai matrimônio com pessoa casada. Note-se que a pena é reduzida da metade. 1.10 CAUSA DE EXCLUSÃO DE TIPICIDADE O §2º traz duas hipóteses em que o crime deixa de existir: a) anulado por qualquer motivo o primeiro casamento b) ou o outro por motivo que não a bigamia O art. 1.548 do Código Civil assevera ser nulo o casamento contraído: I – (revogado pela Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015); II – por infringência de impedimento; Sendo que o art. 1.550 aduz ser anulável o casamento: I – de quem não completou a idade mínima para casar; II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI – por incompetência da autoridade celebrante. De acordo com o § 1° do art. 1.571 do Código Civil, o casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio. 1.11 ELEMENTO SUBJETIVO O dolo é o elemento subjetivo necessário ao reconhecimento do delito de bigamia, não existindo, outrossim, previsão para a modalidade de natureza culposa. Para que se configure o tipo derivado privilegiado constante do aludido § 1°, o agente somente poderá ter atuado com dolo direto. 1.12 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A bigamia se consuma quando é declarado perfeito o segundo casamento, isto é, quando manifestada a vontade de ambos os nubentes. Em relação à tentativa, a doutrina diverge. Para Cunha, a tentativa é possível, quando, iniciados os atos de celebração do casamento, o agente não se manifesta favorável por circunstâncias alheias à sua vontade. 1.13 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A pena cominada no caput não permite Jecrim ( Lei 9.099/95); No caso do §1º, admite-se a suspensão condicional do processo. E, em ambos os casos, cabe o acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP). RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 1.14 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime próprio com relação ao sujeito ativo, pois o tipo penal exige que o agente seja casado, e comum com relação ao sujeito passivo; doloso; comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); material; de forma vinculada; instantâneo; plurissubjetivo (haja vista que necessita, obrigatoriamente, de uma outra pessoa para efeitos de configuração típica, tratando-se, pois, de um delito denominado bilateral, de encontro ou de convergência); plurissubsistente; não transeunte (tendo em vista a possibilidade de prova pericial no que diz respeito à documentação necessária ao reconhecimento do casamento). 1.15 PRESCRIÇÃO Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: IV – nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. Segundo jurisprudência do STJ, o prazo começa a correr a partir da notitia criminis levada ao conhecimento da autoridade pública. 2. INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Art. 236. Contraircasamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena – detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. 2.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Busca-se proteger a regularidade na realização dos casamentos, ou seja, aqui também se tutela o casamento e a organização da família. 2.2 SUJEITOS DO CRIME Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, sendo, portanto, um crime comum, não se exigindo nenhuma qualidade ou condição especial. O sujeito passivo primário é o Estado, bem como o cônjuge que foi induzido a erro essencial ou a quem foi ocultado o impedimento. 2.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) A conduta nuclear do tipo consiste em: a) Induzir: o agente aplica, instiga, persuade, seduz, leva-a, aconselha, compele etc., a vítima a erro essencial. Norma penal em branco homogênea RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes b) Ocultar: o agente oculta impedimento. Ocultar significa esconder, sonegar, encobrir, disfarçar, simular. É mister que o outro cônjuge ignore o impedimento. O artigo 1.557 do CC aduz as hipóteses do ERRO ESSENCIAL: Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência (modificado pela Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015); IV – (revogado pela Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015). Assim, não poderá o agente contrair casamento ocultando ao outro cônjuge a existência de impedimento que não seja casamento anterior, pois o delito seria o de bigamia. ▪ Tais IMPEDIMENTOS são: Art. 1.521. Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. O art. 236 do Código Penal está condicionada ao seu complemento constante do Código Civil, tratando-se, pois, de norma penal em branco de natureza homogênea. 2.4 ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. A conduta de contrair casamento pressupõe um comportamento comissivo. 2.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se o crime com o casamento, que ocorre de acordo com o art. 1.514 do CC., não bastando o induzimento a erro ou a ocultação de impedimento. A condição exposta no parágrafo único torna a tentativa juridicamente impossível. Crime comissivo, mas não se descarta a possibilidade de ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de alguém, gozando do status de garantidor, dolosamente permitir RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes que alguém seja levado a efeito de matrimonio, conhecendo as causas que importam em erro essencial ou os impedimentos. 2.6 AÇÃO PENAL A ação penal é privada personalíssima. A titularidade da ação não se transmite aos sucessores. Tal infração atinge a vítima de forma tão pessoal, tão íntima, que somente a ela caberá emitir o juízo de pertinência a respeito da propositura ou não dessa ação penal. Única possibilidade de ação personalíssima no código após a revogação do crime de adultério. Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. Tendo em vista a pena máxima cominada em abstrato, compete ao Juizado Especial Criminal o processo e julgamento do delito. A pena cominada permite a transação penal e a suspensão condicional do processo. 2.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum; doloso; comissivo (uma vez que o tipo penal exige o núcleo contrair, pressupondo um comportamento ativo por parte do agente; poderá, no entanto, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); formal, pois, conforme adverte Guilherme de Souza Nucci, o delito não “exige resultado naturalístico, consistente na efetiva dissolução do matrimônio por conta do erro ou do impedimento”; instantâneo; de forma vinculada; plurissubjetivo; plurissubsistente; não transeunte. 2.8 PRESCRIÇÃO Só começa a correr após o trânsito em julgado da sentença que declara a nulidade do casamento. 3. CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO Conhecimento prévio de impedimento Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena – detenção, de três meses a um ano. A principal diferença entre o artigo 236 e 237 é o emprego de fraude que ocorre somente no primeiro. 3.1 OBJETIVIDADE JURIDICA O bem juridicamente protegido é a família, o objeto material é o casamento. 3.2 SUJEITOS DO CRIME RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado, bem como o cônjuge que contraiu casamento desconhecendo a existência do impedimento. 3.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo consiste em contrair casamento. Ou seja, o sujeito casa conhecendo a existência do impedimento. 3.3.1 IMPEDIMENTOS: Artigo 1.521. CC. Não podem casar: • Ascendentes com descendentes; • Afins em linha reta; • Adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com o foi do adotante; • Irmãos, unilaterais, bilaterais e demais colaterais, até o terceiro grau; • Adotado com filho do adotante; • Pessoas casadas; • Cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa contra seu contraente. 3.4 ELEMENTO SUBJETIVO O dolo é o elemento subjetivo necessário. Sem modalidade culposa. 3.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Se consuma com a efetiva realização do casamento, de acordo com o art. 1.514 do CC, no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. É possível a tentativa, tendo em vista que, uma vez iniciada a cerimônia do casamento, pode a solenidade ser interrompida por circunstâncias alheias à vontade do agente. 3.6 AÇÃO PENAL Ação penal de iniciativa pública incondicionada. Cabe JeCrim de acordo com a Lei nº 9.099/95. Cabe suspensão condicional do processo. 3.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Comum; doloso; comissivo (uma vez que o tipo penal exige o núcleo contrair, pressupondo um comportamento ativo por parte do agente; poderá ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); instantâneo; de forma vinculada; plurissubjetivo; plurissubsistente; não transeunte. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 4 SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO Simulação de autoridade para celebração de casamento Art. 238.Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: Pena – detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave 4.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Tutela-se a regular constituição da família. O objeto material é o casamento. 4.1 SUJEITOS DO CRIME Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. O sujeito passivo éo Estado, além dos cônjuges que foram enganados pelo simulacro de casamento. 4.2 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) Atribuir-se significa imputar-se ou dar a si mesmo. O agente proclama-se autoridade para celebração de casamento. Falsamente é elemento valorativo, que quer dizer contrário à realidade ou fictício. Esse é o núcleo do art. 238 do CP. A autoridade para celebração de casamento é, como regra, o juiz de paz. Não se pode considerar, como alguns fazem, 15 o oficial do registro, que efetivamente não é autoridade para celebrar casamento, mas somente aquele que vai documentar o ato. O delito de simulação de autoridade para celebração de casamento pode ser considerado uma modalidade especial de usurpação de função pública, tipificada no art. 328. 4.3 ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. Não existe a forma culposa. Conduta comissiva, podendo ser praticado via omissão imprópria. 4.4 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se o delito tipificado quando o agente pratica qualquer ato que diga respeito à solenidade de celebração do casamento, não havendo necessidade que todos os atos sejam levados a termo, inclusive com a declaração de casados. É possível tentativa. 4.5 AÇÃO PENAL Ação penal de iniciativa pública incondicionada. Será possível a confecção de proposta de suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95. 4.6 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Comum; formal; forma livre; comissivo; instantâneo; dano; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente. 5 SIMULAÇÃO DE CASAMENTO Simulação de casamento Art. 239.Simular casamento mediante engano de outra pessoa: Pena – detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes Também chamado de estelionato matrimonial. 5.1 OBJETIVIDADE JURIDICA O objeto material é o casamento simulado. O objeto jurídico é o interesse do Estado de preservar o casamento, base primordial de formação da família. 5.2 SUJEITOS DO CRIME Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Sujeito passivo é o Estado, bem como a pessoa enganada com o simulacro de casamento. 5.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) Simular significa fingir, disfarçar ou aparentar aquilo que não é. Não basta que o agente finja estar se casando, sendo indispensável que o faça por meio do engano (armadilha, logro, ilusão) do outro contraente. Com a simulação, o agente engana o outro contraente, que acredita estar realizando, com seriedade e de acordo com as determinações legais, o ato solene. Se os dois contraentes simulam o casamento, não se configura este crime, uma vez que faltou o ‘engano de outra pessoa’. Para configurar o crime é indispensável que a simulação de casamento ocorra por meio de engano (ardil, fraude, armadilha) do outro contraente. Assim, a simples representação de estar casando, para ‘pregar uma peça nos amigos’, é insuficiente para caracterizá-lo. 5.4 ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. Não existe a forma culposa. 5.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se o delito com a simulação do casamento, ou seja, com a realização da cerimônia falsa. Irrelevante que todos os atos necessários sejam fielmente cumpridos, posto tratar-se de mera simulação. É suficiente que os atos perpetrados sejam capazes de iludir o nubente ou seu representante legal. Admite-se a tentativa. 5.6 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Será possível a realização de proposta de suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95. 5.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso; comissivo (podendo, excepcionalmente, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); de forma vinculada; instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente (haja vista a possibilidade que se tem de fracionar o iter criminis); transeunte (como regra). CAP. I I- DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO 1 REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes Registro de nascimento inexistente Art. 241. Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: Pena – reclusão, de dois a seis anos. 1.1 OBJETIVIDADE JURIDICA O objeto material é o registro civil realizado. O objeto jurídico é o estado de filiação, que deve ser preservado pelo Estado, pois, em última análise, é medida protetora da família. 1.2 SUJEITOS DO CRIME O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado. Secundariamente, a pessoa prejudicada pelo registro inexistente. 1.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) Promover , significa gerar ou dar origem, no registro civil a inscrição de nascimento inexistente, isto é, assentamento de pessoa que não foi concebida (abrangendo, também, a inscrição de nascimento do natimorto). O núcleo promover pressupõe um comportamento comissivo por parte do agente, praticando uma conduta positiva no sentido de efetivar a inscrição de nascimento inexistente no cartório de registro civil, podendo, no entanto, ser praticado via omissão imprópria. O artigo 53 da lei 6.015/73, determina que, no caso de ter a criança nascido morta, será o registro feito no livro "C Auxiliar", com os elementos que couberem. Trata-se de forma especial de praticar falsidade ideológica, que, no entanto, fica absorvido pelo crime fim. 1.4 ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. Não existe a forma culposa. 1.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O delito se consuma no exato instante em que é procedida a inscrição do nascimento inexistente no cartório do registro civil. A tentativa é admissível. 1.6 AÇÃO PENAL Ação penal: pública incondicionada. Obs.: a prescrição tem início da data em que o fato se tornou conhecido. Art. 111 CP - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. 1.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso; comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); material (pois a sua consumação ocorre com o efetivo registro da inscrição de nascimento inexistente); 23 de forma livre; instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte (haja vista que haverá necessidade de comprovação, via perícia, da inscrição levada a efeito no Cartório do Registro Civil). RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 2 PARTO SUPOSTO. SUORESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: Pena – reclusão, de dois a seis anos. Parágrafo único. Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena – detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 2.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Tutela-se aqui tanto o estado de filiação quanto a fé pública. 2.2 SUJEITOS DO CRIME Ativo: no que diz respeito à conduta de dar parto alheio como próprio, somente a mulher poderá figurar como sujeito ativo do delito, tratando-se, pois, de crime próprio; nos demais comportamentos previstos pelo art. 242, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, cuidando-se, assim, de delito comum. Passivo: é o Estado, bem como as pessoas que foram prejudicadas com a conduta levada a efeito pelo sujeito ativo (herdeiros, nas duas primeiras hipóteses, por exemplo, pois que terão que dividir, indevidamente, sua parte na herança com aquele que a ela não faz jus; opróprio recém-nascido, ou mesmo outras pessoas que foram lesadas com a prática da conduta típica). 2.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) Aponta os seguintes elementos: a) a conduta de dar parto alheio como próprio; existe, efetivamente, o nascimento de uma criança. No entanto, a agente atribui a si como próprio o filho nascido de outra mulher. b) a conduta de registrar como seu o filho de outrem; conhecida, popularmente, como “adoção à brasileira”, sendo extremamente comum sua ocorrência, praticada, principalmente, por famílias que atuam no sentido de ajudar um amigo, um parente próximo ou, mesmo, uma pessoa estranha que não possui condições para criar e cuidar de seu filho. Essa é razão pela qual existe o reconhecimento legal da nobreza do comportamento, criando, assim, nos termos do parágrafo único do art. 242 do Código Penal, um tipo derivado privilegiado, permitindo-se, ainda, ao julgador a aplicação do perdão judicial, oportunidade em que deixará de aplicar a pena. c) a ocultação de recém-nascido ou sua substituição, mediante supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil. No primeiro caso, o agente oculta o recém-nascido, não levando a efeito o seu registro, com a finalidade de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil. Na segunda hipótese, ocorre a troca de recém-nascidos. 2.4 ELEMENTO SUBJETIVO É o dolo. Não há previsão para a modalidade de natureza culposa. Nas modalidades ocultar recém-nascido ou substituí-lo, o agente, segundo a doutrina dominante, ainda terá RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes de atuar com um especial fim de agir, no sentido de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil. 2.5 Modalidade privilegiada e perdão judicial O parágrafo único do art. 242 do Código Penal comina uma pena de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, podendo o juiz deixar de aplicá-la se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza. Motivo nobre é o digno, altruísta, elevado e generoso, como, por exemplo, o do agente que, diante da miséria a que é submetida a criança, gerada por pais sem a mínima condição de subsistência, a registra como própria, com a finalidade de lhe garantir adequado desenvolvimento. 2.6 Erro de proibição e adoção à brasileira Não é incomum que alguém, dada sua pouca instrução, bem como seu desconhecimento da lei penal, registre filho alheio como se fosse próprio, pois tinha a finalidade, na verdade, de adotá-lo. Nesse caso, poderá ser levado a efeito o raciocínio relativo ao chamado erro de proibição, previsto no art. 21 do Código Penal: 2.10.2 Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 2.7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Na primeira figura, verifica-se quando criada a situação duradoura que realmente implique alteração do status familiae da criança; na segunda, com o efetivo registro de filho alheio como se » fosse próprio; na terceira e quarta figuras, com a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil. Logo, se da ocultação ou da supressão não resultou a privação de direito do neonato, haverá unicamente tentativa. A tentativa é admissível 2.8 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A competência para o processo e julgamento da modalidade privilegiada, constante do parágrafo único do art. 242 do Código Penal, é do Juizado Especial Criminal, nos termos dos arts. 60 e 61 da Lei nº 9.099/95. Da mesma forma, será possível a confecção de proposta de suspensão condicional do processo para a modalidade privilegiada, conforme preconiza o art. 89 do da Lei nº 9.099/95, considerando-se a pena mínima a ela cominada. 2.9 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime próprio no que diz respeito à primeira figura (dar parto alheio como próprio) e comum com relação às demais (registrar como seu filho de outrem, ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil); doloso; comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); de forma livre; material; instantâneo (exceto no que diz respeito ao núcleo ocultar, que denota sua natureza permanente); monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte (nas hipóteses, por exemplo, em que seja realizado o registro do filho de outrem, sendo possível, dessa forma, o exame pericial no documento). RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 3 SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO Sonegação de estado de filiação Art. 243. Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa. 3.1. OBJETIVIDADE JURIDICA É o estado de filiação. 3.2. SUJEITOS DO CRIME Ativo: qualquer pessoa, como regra. No entanto, somente o pai e a mãe podem ser sujeitos ativos quando se tratar de filho próprio. Passivo: é o Estado, além da pessoa prejudicada em virtude do comportamento praticado pelo sujeito ativo. 3.3. TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo deixar deve ser interpretado no sentido de entregar, abandonar filho próprio ou alheio, em asilo de expostos ou outra instituição. A expressão asilo de expostos, que já caiu em desuso, tem o significado de local onde são entregues crianças abandonadas, a exemplo dos orfanatos; instituição, a seu turno, de acordo com a interpretação analógica determinada pelo tipo penal, compreende, além do asilo de expostos, qualquer lugar que se destine ao abrigo de crianças, como ocorre também com as creches. 3.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O delito se consuma quando o agente, efetivamente, leva a efeito » 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 o abandono, deixando filho próprio ou alheio em asilo de expostos ou outra instituição de assistência, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra. A tentativa é admissível. 3.5. ELEMNTO SUBJETIVO É o dolo. Não há previsão para a modalidade de natureza culposa. O núcleo deixar pressupõe um comportamento comissivo. Pode, no entanto, ser praticado via omissão imprópria. 3.6. AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Será possível a confecção de proposta de suspensão condicional do processo em virtude da pena mínima cominada, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95. 3.7. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum tanto com relação ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso; comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); formal (pois não se exige o resultado previsto pelo tipo, vale dizer, ter o agente efetivamente prejudicado direito inerente ao estado civil); de forma livre; instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente; transeunte. CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 1. ABANDONO MATERIAL Abandono material Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único. Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Estamos diante de um tipo misto cumulativo e alternativo, podendo oagente, por exemplo, que praticar mais de uma conduta típica, responder por duas infrações penais, em concurso material, ou, mesmo praticando dois comportamentos típicos, responder por uma única infração penal 1.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Busca-se proteger a família, mais especificamente o dever de assistência que uns devem ter com relação aos outros no seio familiar. Art. 229, CF. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 1.2 SUJEITOS DO CRIME Sujeito ativo: é um crime próprio, podendo ser praticado somente por aquele que tem o dever legal de garantir a subsistência da vítima (cônjuge, ascendentes e descendentes). Não há distinção entre homem e mulher, esta última pode ser também obrigada a prestar alimentos ao marido. Também quem manteve uma união estável pode ser obrigado a prover o companheiro. Sujeito passivo: aquele que pode exigir o amparo do agente (cônjuge, ou filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou ascendente inválido ou maior de 60 anos e ascendente ou descendente gravemente enfermo). 1.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo deixar é utilizado no sentido de não levar a efeito, ou seja, não cumprir com aquilo que lhe competia. Na primeira hipótese, o agente, sem justa causa, isto é, sem um motivo que justifique o não cumprimento de sua obrigação, deixa de prover a subsistência das pessoas ali elencadas. ambém configura o abandono material deixar de socorrer, sem justa causa, descendente ou ascendente gravemente enfermo. Nesse caso, o fator determinante para a assistência, que importa em dever de solidariedade, é a enfermidade grave, seja ela física ou psíquica. O agente, portanto, deverá prestar toda assistência necessária ao socorro de descendente ou ascendente, seja adquirindo medicamentos, arcando com despesas médico hospitalares, transporte necessário ao tratamento de saúde ou, mesmo, adquirindo os alimentos indispensáveis à manutenção da vida daquele que se encontra gravemente enfermo. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 1.4 PENSÃO ALIMENTÍCIA Quando afinal restaria configurado o delito? Quando demonstrado, de forma cabal, que o alimentante, embora revelando sinais externos de boa condição financeira (vultuoso salário, propriedade de bens imóveis de alto valor, de veículos importados, vida luxuosa, gastos excessivos no cartão de crédito, etc), ainda assim não paga o que deve por mero capricho, animado por espírito de vingança ou outra sórdida razão. 1.4 ELEMENTO SUBJETIVO O tipo penal do art. 244 somente admite a modalidade dolosa, não havendo previsão para aquela de natureza culposa. 1.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consumação: no momento que o agente deixar de prover a subsistência ou se recusa a pagar a pensão alimentícia ou se omite ao não socorrer o gravemente enfermo. A tentativa não é admitida por se tratar de crime omissivo impróprio 1.6 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A pena permite a suspensão condicional do processo e o acordo de não persecução penal. 1.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Classificação doutrinária Crime próprio, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo, quanto ao sujeito passivo, haja vista a expressa indicação constante do tipo penal; doloso; omissivo próprio; formal (na modalidade de não cumprimento da obrigação alimentícia); de perigo concreto (quando deixa de prover a subsistência de cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 [sessenta] anos, ou de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo); de forma livre (à exceção do não pagamento da pensão alimentícia, uma vez que é esse o meio exigido pelo tipo penal ao cometimento do delito, sendo, assim, considerado de forma vinculada); permanente (cujos efeitos se prolongam no tempo, podendo ser interrompidos pela vontade do agente); monossubjetivo; unissubsistente; transeunte (como regra). 2. ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA Entrega de filho menor a pessoa inidônea Art. 245. Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. 2.1 OBJETIVIDADE JURIDICA Tutela-se a família. 2.2 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo entregar é utilizado no texto legal no sentido de deixar o menor de 18 (dezoito) anos sob os cuidados de outra pessoa. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes Essa pessoa, no entanto, poderá vir a prejudicá-lo moral ou mesmo materialmente, existindo uma situação de perigo com essa mudança por parte de quem se encarregará dos seus cuidados. ▪ Perigo material: aquele capaz de causar algum dano físico, como lesões, doenças, inclusive decorrentes de trabalho excessivo, a entrega a um ébrio, a um toxicômano. ▪ Perigo moral: capacidade de causar dano psíquico no menor, seja pela atividade que irá realizar juntamente com a pessoa à qual foi entregue (viver com pessoa que exerça indústria perigos), seja pelo que irá presenciar por parte dessa pessoa (viver com meretriz). 2.3 SUJEITOS DO CRIME Sujeito ativo: só pode ser praticado pelos pais; crime próprio. Sujeito passivo: filho, menor de 18 anos. 2.4 ELEMENTO SUBJETIVO somente pode ser praticado dolosamente, seja o dolo direto, quando o agente, efetivamente, sabia » » » dos riscos inerentes à entrega de seu filho a pessoa inidônea, ou mesmo o dolo eventual, quando, nas circunstâncias em que se encontrava, devia saber. Não há previsão legal para a modalidade culposa 2.5 Modalidades qualificadas § 1º A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior. § 2º Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. §2º foi revogado tacitamente pelo 239 do ECA. Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. 2.6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se o delito com a entrega do menor de 18 (dezoito) anos aos cuidados de pessoa inidônea. A tentativa é admissível. 2.7 AÇÃO PENAL Ação penal: pública incondicionada. Admite a transação penal e a suspensão condicional do processo. Admite-se o acordo de não persecução penal na qualificadora. 2.8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime próprio, tanto com relação ao sujeito ativo, quanto ao sujeito passivo; doloso; comissivo (podendo, no entanto, ser praticado via omissão imprópria na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); de perigo concreto (embora haja posição em contrário, a exemplo de Cezar Roberto Bitencourt, quando assevera que “o perigo é presumido em razão das condições pessoais daquele a quem o menor é entregue”); 41 de forma livre; monossubjetivo; plurissubsistente; transeunte (como regra). RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 3 ABANDONO INTELECTUAL Abandono intelectual Art. 246. Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. ▪ Art. 205 CF. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ▪ Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criaçãoe a educação ▪ Art. 2º da Lei nº 9.394/96. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ▪ Art. 55 ECA. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino 3.1 OBJETIVIDADE JURIDICA O direito ao ensino fundamental do filho que se encontra em idade escolar. 3.2 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo deixar é utilizado no texto legal no sentido de não se levar a efeito, não atuar no sentido de fazer com que seja possibilitado o acesso de seu filho ao estudo considerado fundamental, entendido como primário à época em que fora editada a Parte Especial do Código Penal, onde se encontra inserido. Assim, a partir dos 4 anos de idade, os pais são obrigados a matricular seus filhos em estabelecimento de educação básica, sob pena de serem responsabilizados penalmente. Por meio de uma decisão, foi considerada ilegal a educação que não aquela promovida em escolas, públicas ou particulares, proibindo-se, outrossim, o ensino realizado exclusivamente em casa, sob a orientação dos pais ou mesmo de terceiros. (homeschooling). 3.3 SUJEITOS DO CRIME Sujeito ativo: os pais, sejam eles naturais ou adotivos. Sujeito passivo: filho em idade escolar. 3.4 ELEMENTO SUBJETIVO Dolosa; pratica o crime o pai ou a mãe que, convivendo ou não com o filho, deixar de providenciar seu ingresso no ensino fundamental, omitindo investimento na sua formação escolar. Trata-se, pois, de crime omissivo próprio, transgredindo o agente norma mandamental. 3.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA o crime se consuma com a omissão, ficando o menor, em idade escolar, sem a devida instrução, por tempo juridicamente relevante (30% das faltas permitidas). A tentativa não é possível, por se tratar de crime omissivo próprio, 3.6 AÇÃO PENAL A pena permite a transação penal e a suspensão condicional do processo. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes Ação penal: pública incondicionada. 3.7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime próprio, tanto com relação ao sujeito ativo, quanto no que diz respeito ao sujeito passivo; doloso; omissivo puro; de perigo; de forma livre; permanente; monossubjetivo; unissubsistente; transeunte. 4 ABANDONO MORAL Abandono moral Art. 247. Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: I – frequente casa de jogo ou mal afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; II – frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; III – resida ou trabalhe em casa de prostituição; IV – mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa. 4.1 OBJETIVIDADE JURIDICA A tutela recai sobre a organização da família na formação dos filhos, buscando-se evitar situações que o conduzam à corrupção de caráter. 4.2 SUJEITOS DO CRIME Sujeito ativo: os pais e aqueles que sobre o menor exercem poder, guarda ou vigilância. Sujeito passivo: menor de 18 anos. 4.3 TIPO OBJETIVO (CONDUTA) O núcleo permitir nos dá a ideia de omissão dolosa no sentido de não impedir que o menor pratique qualquer dos comportamentos catalogados pelo tipo penal em estudo. Pelo contrário, o agente aceita que o menor de 18 anos realize qualquer das condutas consideradas como perniciosas à sua formação moral. ELEMENTO SUBJETIVO Conduta: dolosa; 4.4 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime pode se consumar quando houver o comparecimento habitual em lugares que podem prejudicar a formação moral do menor; quando houver o estabelecimento de um período juridicamente relevante; quando se verifica o ato. A tentativa pode ser admitida nas hipóteses em que esse tipo não exige habitualidade. 4.5 AÇÃO PENAL Ação penal: pública incondicionada. A pena permite a transação penal e a suspensão condicional do processo. 4.6 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes PARTE VIII - DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA CAPÍTULO I - DOS CRIMES DE PERIGO COMUM A conduta causa perigo a uma coletividade. 1 INCÊNDIO Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa. # não confundir com o crime de dano. Crime de perigo concreto: terá que se comprovar a ocorrência do perigo. >>>250. Crime de perigo abstrato: presume-se que o perigo existe. Será necessária a realização do exame pericial para efeitos de caracterização do delito de incêndio, haja vista que o art. 173 do Código de Processo Penal determina, verbis: Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato. 1.1 OBJETIVIDADE JURÍDICA visa a proteger a chamada incolumidade pública. 1.2 SUJEITOS DO CRIME Qualquer pessoa como sujeito ativo. Sujeito passivo: a coletividade. 1.3 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Se consuma com a comprovação do perigo comum à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. A tentativa é admissível. 1.5 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. 1.6 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso e culposo (pois o § 2º do art. 250 do Código Penal previu, expressamente, a modalidade de natureza culposa); comissivo (podendo, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); de perigo comum e concreto; de forma livre; instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 1.7 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: Aumenta-se 1/3: • Com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; • Se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. (lei de crimes ambientais) 1.7 ELEMENTO SUBJJETIVO Conduta dolosa no caput. 1.8 INCÊNDIO CULPOSO § 2º Se culposo o incêndio, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos. Assim, poderá o agente ter causado o incêndio em virtude de ter deixado de observar o seu necessário dever objetivo de cuidado, a exemplo daquele que, no interior de um cinema, após ter sido descoberto pelo “lanterninha”, tentou livrar-se do cigarro que estava fumando, arremessando-o, ainda aceso, para longe, vindo a cair em local onde se encontravam materiais combustíveis, fazendo eclodir o incêndio. 1.9 Provocar incêndio em imóvel afastado da cidade Se o imóvel sobre o qual se dirigiu a conduta incendiária do agente ficava situado em local afastado de outras construções e pessoas, o fato poderá se configurar no delito de dano se com o incêndio não houve a criação de um perigo comum, tal como orienta o capítulo no qual a figura típica em estudo se encontra inserida. O agente poderá, dependendo da hipótese concreta, responder pelo delito de dano qualificado pelo emprego de substância inflamável ou explosiva se o fato, como ressalva o inciso II do parágrafo único do art. 163 do Código Penal, não constitui crime maisgrave. 1.10 Incêndio com a finalidade de causar a morte da vítima Pode ocorrer a hipótese, ainda, em que o agente faça eclodir um incêndio com o fim específico de causar a morte da vítima. Nesse caso, deverá responder pelo delito de homicídio qualificado 1.11.3 1.11.4 (art. 121, § 2º, III, do CP), tentado ou consumado, bem como pelo delito tipificado no art. 250 do Código Penal, se o incêndio por ele produzido expôs a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de um número indeterminado de pessoas. RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes 2. EXPLOSÃO Explosão Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa. Objeto material: dinamite, engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Dinamite – nitroglicerina. A lei penal faz menção à explosão, que tem o sentido de “comoção seguida de detonação e produzida pelo desenvolvimento repentino de uma força ou pela expansão súbita de um gás”. 2.1 SUJEITOS DO CRIME Qualquer pessoa como sujeito ativo. Sujeito passivo: a coletividade. 2.3 ELEMENTO SUBJETIVO Dolo. 2.3 EXPLOSÃO PRIVILEGIADA § 1º Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Percebe-se, portanto, que a lei penal, valorando os comportamentos por ela previstos, entende como de maior gravidade a utilização de dinamite ou substância de efeitos análogos. 2.4 CAUSA DE AUMENTO DE PENA § 2º As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º , I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo. 2.5 modalidade culposa §3º. 2.6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O delito se consuma quando, efetivamente, a explosão, o arremesso ou a simples colocação de engenho ou de substância de efeitos análogos causar perigo para a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. A tentativa é admissível. 2.7 AÇÃO PENAL A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. 2.8 Prova pericial Levando em consideração o fato de que estamos diante de um crime de perigo concreto, quando se faz necessária a comprovação de que o comportamento praticado RESUMO DIREITO PENAL IV Sabrina Navegantes trouxe, efetivamente, perigo para a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, faz-se indispensável a produção de prova pericial.
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