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rA O INTRA-URBANO NO RA~ll ,: L= ,,..~ ,, ~ ,. .. ,. :;, .J - I] ll ' 'L " -'.JAl'ISP .... t • • ~ -- P.hio \iU.çi IWltll mi Cruzeiro. esudo de Sio Piuk , d:;:kimou-~ tm uquitrtun pm HL. t _p Oblt\t o titulo dt ·Mlslu of Gq Plmamg oo ~ lmtitmt ofTedmolog); tm Atb.nu. &udos Unidos e o de doutor~ Dqw°JJOOiro ck Geogrw d. mOHJSP fm I o S fu csugio de Pós Doutoniiu l1() Depwmmto dt Gcogrw di Unirersiibdt eh ú!ifamil cm~ · Otsdt l Qj4 ltcionJ no cn.~ de gndOlÇio. e drsde 1° no de~~ cu HU-USP. ondt é ProfCSIOl'funhrdt PbntjlIIltlllo Urbmo. r.oi ainsn~N f'ID Plmtjm1mto Urb.nD dt viras pmttnms e ôrgios públims cwrliws e Ctdcnh de pane~to. Durute IS lDOS oarpou ,·mos ~ m Secmw MuniCÍp4l de Phnepmruo de ~ Piulo. ~, foi. indusm M dt wbintbtc. [spa~o intra-ur~ano no Brasil 1 d,de ed1conal e grifka . b s com qua • ., -bletivo e publicar o r:i . as e eventuais reclamaçoes. entre em Nosso o scões du..,idas. cnu Para eXprC$sar suas suge • conoto conosco. AO CONSUMIDOR CENTAAL OE ATENDIMENTO d "" 531-004 • São Paulo • SP l046. 9a an ar • v-w Rua Pedroso AIV3r4e6n6~· f )(' ( 11 )3706-1461 fone. { li )3 706-1 3 • www.st0d1onobel.com.br atend1mento@stud1onobel.com.br E PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte de.su obra poderi ser reproduiida, copiada, transcnca ou mesmo transmitida por meios eletrón icos ou gravações, sem a perm issão , por escnto, do editor. Os infratores serão punidos de acordo com a Let nª 9.610198 Este livro é frut o do tr abalho do autor e de toda uma equip e e ditorial . por favor, respe ite nosso t raba lho: não faça cõplas . Fl iavic, Villaça fspa~o intra-urbano no Brasil 2n Edição ,t::,APESP UFRJ/FAU \ 1929 Espaço era ..., no 8rull unco lrutKUt~. !\'XII 00-~Jl COO- -, 1 4C98 I es pua OQ.~ tt<h"'"-" Sn.s ~ço n- · l 8n Pbnep.'Mf'lto urtw'IO ] 11 , As cidades são como as estrelas; é preciso amá-las para entendê-las . Ao Rio de Janeiro Agradecimentos À rapesp, ao Lincoln Institute of Land Policy e a Martim O. Smolk a, pelo apoio que tornou viável esta public ação, e ao Zol pelo lindo trabalho gráfico. À Profa. Ora. Ana Lucia Ancona, a Adalberto da S. netto Jr., Prof. Antônio Cláudio M. L. Moreira, Célia Rocha Paes, Denise Antonucci Capelo, Domingos Theodoro de Azevedo Netto, Fernanda de Macedo Haddad, José Marinho Nery da Silva Jr., Profa. Ora. Luci Gati, Marcelo de Brito Albuquerque Ponte s Freitas, Profa. Ora. Maria Cristina da Silva Leme, Profa. Ora. Sarah Feldman, Sérgio Luís Abrahão e ao Prof. Wladimir Bartalini, meu sincero muito obrigado pela leitura e debate de panes do texto e por outras gentilezas. No Rio de Janeiro Abrasce - Associação Brasileira de Shopping Centers À hospitalidade de Almir e Marlene Fernandes Em São Paulo Construtora Albuquerque, Takaoka S. A. Francisca Luiza Gimenez Cardieri e Stella Maris Atai a França, da Emplasa, e Epaminondas Duarte Jr., do Metrô. Em Belo Horizonte EUete Amélia de Souza, José Moreira de Souza, Maria Laudelina Garcia de Carvalho, Maria de Lourdes D. Pereira, Yara Marques. Em Porto Alegre Oberon da Silva Mello e Marcos Mangan. Em Saluador Ana Clara Din.iz Guerra, /\na Fernandes, Cristina Xavier Ferreira, Fernando Sérgio Teixeira, Liliane Mariano Fcrrcira1 Antônio HeJiodório Lima Sampaio, Maria das Graças Torreão, Rubênio Sim as, Vitória Regina Sampai o. À hospitalidade de Suely e Niels Erik Poul Leoni No Recife Jan Bitoun, da Prefeitur a Municipal do Recife, Manoel Feliciano da Silva Filho. José Ângelo Ferreira da Fonseca, do Museu da Cidade do Recife, Teresa do Amaral, do IBGE-Recife. Sun1ário Capítulo 1 Introdução ) l Capllulo 2 Espaço intra-urbano: esse desconhecido 17 A questão semântica 18 Espaços regional e intra -urbano 20 Especificidades do espaço intra-urbano 22 Abordagens dos espaços intra-urbano e regional 26 Espaço e sociedade 45 Capírulo 3 Os processos espaciais de conurbação 49 Capítulo 4 Direções de expansão urbana 69 Introdução ó9 Os setores viários 70 Localização, valor e preço da tcrrn urbana 70 Vias regionais e urbanização 80 O período pré-ferrovi:írio 86 Setores ocefrnicos 107 Capítu lo 5 A est rutura urbana básica 113 A metrópole interior l l •I São Paulo l 16 Belo I forizonte 118 A metrópole litorânea no Capítu lo 6 Os seto res industriai s. A articulação c~pacial entre 1netrópol e e região 135 · Capítu lo 7 A segregação urbana 141 O conceito de segregação l •12 Os se tores IS'i Capí tul o 8 Os bairros residenciais das camadas de alta ren da O Hio de Janeiro O século XlX O século XX Deslocamentos, incorporação imobiliáric1, forma urbana e estilos de vida São Paulo Belo l lorizonte Porto Alegre Salvador Recife 157 157 159 177 180 192 199 203 207 211 Capí tul o 9 Os bairros residenciais das carn adas popul ares 225 Capítu lo 10 Os cent ros princi pais 237 A natu reza do centro principal 237 O valor simbólico do centro 247 O surgimento dos centros principa is Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre Belo Horizonte Os centros principai s e as camadas de alta renda O centro principal e a nova mob ilidade territorial O centro princip al e as camadas populares O centro do Recife Cap ítu lo 11 Os subccn tros A evolução dos subcentro s Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre e Belo Horizonte O shopp ing center ; 252 255 261 266 267 270 277 283 284 293 294 294 297 300 302 Capí tul o 12 Segregação e es tru turação do espaço int ra- u rbano 311 Cap ítul o 13 Reflexões fina is 327 O consumo e a estruturação do espaço intra -urbano 328 A segregação e o controle do espaço intra-urbano 334 Segregação, contro le do Estado e ideo logia 343 O contro le do espaço intra-urbano e o controle do tempo 352 Referênci as bibli ográficas 363 Capítu lo l Introdução O objetivo deste livro é procu rar en tender as localizações in tra- urb anas, a constituição e os movimento s do espaço intra- urbano das metrópol es brasileira - entend ido como uma estrutura territor ial. Serão estudadas as área s metrop olitanas de São Paulo, Rio de Janeiro , Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. No Cap ítulo 2, são feitas considerações sobre o espaço intra-urb ano e a pou- ca atenção que tem sido dispen sada ao se u estudo, tanto do ponto de vista teórico como do empírico. Regist ra- se, particularmente , o pouco intere sse, no Brasil. quan- to aos est udo s espaciais de nossa s met rópoles e, quando são rea lizado s, têm -se li- mitado, em geral, às cidades (ou municí pios) centrai s das áreas metropolit anas. :\l ém disso, cabe destacar a inexistênc ia de estudos sobre os aspectos comun s aos espa- ços urbanos da s diversas metrópole s. Afinal, se todos vêm sendo produzidos num mesmo país, pela mesma fotmaçào social, num mesmo m omento hi stórico - os últimos 150 ano s-, sob um mesmo modo de produção, atrav és das me smas rela- ções sociais e so b o mesmo Esta do, deve haver muito cm comum entr e seus espa- ços. No en tant o, pou co se tem estudado sob re tais aspectos, com exceção do fato de rodas as metr ópole s terem , de um lado, uma área central mai s bem atendida por equipa men tos urbanos e onde mora uma minoria que pa rticipa do s frutos do tra- balho social, e de outro, uma enorme periferia, onde mora a maiori a excluída dessa participação. De man eira geral. os pauli stas estudam São Paul o; os cariocas, o Rio; os baianos, Salvador , e assim por dianr e. Quando um es tudioso paulista comenta com um carioca algum proc ess o espacial que ocorr e em São Paulo , ouve qu ase in- variavelme nt e como rép lica : "Não ... aqui no Rio é diferente ''. Mas, o que não é dife- rente? e o que há de com um? Procur amo s ne sta obra dar amp litude e profundidade à análise por meio de uma dupla abordage m , a saber a análise compara tiva ent re várias metrópol es e a 11 investigação de um amplo período histórico da forma ção de seus espaços, de m, neira a captar os aspectos efetivamenteestruturai s. Com apoio cm Bastide (1971, 1) chamar emos de estrutura um todo consti1u do de elementos que se relacionam entre si de tal forma que a alteração de um elE menta ou de uma relação altera todos os demais eleme ntos e todas as demais rei, ções. As estruturas são dotadas de movimento e o grande desafio intelectual resid em desvendar a fonte desse movimento. São considerados elemento s dessas estru turas o cent ro principal da metrópole (a maior aglom eração diversificada de em pregos, ou a maior aglomeração de comércio e serviços), os subcentros de comércii e serviços (aglomerações diversificadas de comércio e serviços, réplicas menores d, centro prin cipal), os bairro s reside nciai s, ou melhor , os conjunt os de bairro residenciais segundo as classes socia is e as áreas indu striais. Essa estrutura esti imbricada a outras estruturas territoriai s, como os sistemas de transportes e desa neamento. Entretanto, consideramos ser a primeira mais importante, pois inclui incorpora e subjuga as demais, mais do que o contr ário, em bora não possa existi1 sem elas. Essa estrutura territorial mais importante está também articulada a outras, não territoriais, como a econômica, a política e a ideológica. Como é sabido, estas1 na concepção original de Marx (1977, 24), estão organi zadas em "base" e "superes- trutura ". A estrutura territorial é socialmente produzida e ao mesmo tempo reage sobre o social. Evidentemente essas considerações são de enorme amplitude e ge- neralidade e dar conta desse emaranhado de inter-relaçõe s é uma epopéia que a mente humana jamais poderá ambicionar. Óbvio que não temos tal pretensão. En- tretanto, nesta obra, procurar-se -á: l. Detectar traços e movimentos comuns a todas as estruturas territoriais anali- sadas; daí a importância da história territorial e da análise comparativa de várias metrópo les. Por exemplo, o que há de comum entre a distribuição territorial das classes sociais, além da óbvia distinção entre centro e periferia? A chamada ''decadência" do centro principal é um proces so comum a todas as nossas metrópol es. QuaJ sua fonte? Em que consiste na realidade? Qual sua essência? Que relações há entre o elemento "centro princip al" e outros elementos das estruturas territorial e socia l? 2. Relacionar os movimento s da estrutura territorial com os das estruturas so- ciais (lato sensu) e-o que é bem mais difícil -v ice-versa. Veja este exemplo: que papel desempenham as classes sociais na estruturação territorial urba- na? Qual o papeJ que sua segregação espacia l desemp enha na dominação polílica? E na ideologia urbana? Em que consiste e como se dá essa domina- ção política através do espaço urbano? Que partkipação tem o espaço pro- duzido em Copacabana sobre os valores e eslilo de vida de seus moradores e dos cariocas da zona Sul em geral? 3. Relacionar entre si os movimento s dos diversos elemento s das estruturas territoriais urbana s- os vários bairros, o centro urb ano, a estrutura de trans- porte s, ete-: - e com os de outras est rutura s articuladas. 12 A expressão "estru tu ra urbana" - e sun correlata "ree strnluraçào urbana " - tem sido vítima de muitos abusos . É freqüentemente utilizada como sinônimo de cidade enquanto elemento fís ico, de cidade como um todo mat erial , sem conside - rar a inter -relação entre seus e lem entos, a liás sem con siderar sequer qu e.elem ento s são esses . Constantemente se usa o termo ree struturação para qualquer alteraç ão do espaço urbano, sem m aiores preocupaçõe s com os elementos espaciai s da estru - tura e com as relações existentes entre e les . O simple s registro de transformaçõe s espaciais não é sufici ente para caracter izar a estruturação ou a ree s trutu ração. É preciso mostrar como mudanças em um elemento da estrutura provocam mudan- ças em outros elementos. Já houve época em que se tentou descrever as estru tura s territoriai s urbana s atrav és de ''modelos" esp ac iais que tiveram grande prestígio intelectual. Pe lo menos um desses modelos - o de Burgess (1968) - tinha ambi ções teóricas e pretendia, inclu sive, dar conta dos movimentos da es trutura urbana. Mais recentemente, os modelos matemáticos in cor po rara m os movimentos da estrutura, esco lhendo mais ou menos arbitrariamente, entreta nt o como motor desse movimento, a partir de um momento inicial em que este é congelado, "forças externas" cuja origem e papel são pouco questionados. O modelo de Burgess, da década de 1920, é certamente o mais famoso. Sob sua influência , e em oposição a ele, foram propostos outros, menos pr etensiosos e famo sos; o chamado modelo de "seto res", de Hom er Hoyt (1939), e o de "núcl eos múltiplos", de Harris e Ullman (1945)*. O primar is m o descritivo desses modelos fez com que tivessem vida curta. O de Hoyt, ent reta nto , é mais útil do qu e parece, desde que não sejam su perestimados sua finalidade e seu alca nce. Vamos nos utiliz ar bas- tante de le. Seguem-se ca pítulo s em que são analisados os processos históricos de cons- tituição das est rutu ras terr itoriai s m etropo lit an as aqui est ud adas. Inicialm ent e as formas metropolitanas co mo um todo, os pro cessos de co nurba ção e as direções preferenciais de cresci m ento da urbanização. Desde aí, as co ndi ções de tra nsporte apa recem como fator decisivo na estru tu ração do es paç o urbano. Em seguida são ana lisados os processos de const itui ção das grandes á reas onde se seg regam as no ssas bu rgues ias urbanas. Esses processos se destacam como os mais distintivos de nossas estruturas ter ritoriai s metropolitana s. Nossas m etró- poles - co m exceção de São Pau lo e do Rio de Janeiro - só na s últimas décadas começaram a desenvolver áreas indu striai s sig nifi cat ivas. Su as est rutura ções têm sido dominadas, ent ão, pelos centros pr in cipais, seus sub ce ntro s e por suas á reas residenciais das camadas de al ta renda. São, por isso, os ele m en tos das estrut uras metropolitanas aqui privi legiados . Como as áreas indu st riai s são elemé'l'l.tos cuja s loca lizações são determina- das por forças externas aos espaços metropolitano s, a seg regação espacia l das ca- • Para uma visão geral dos modelos, ver a série CI IORLEY, H. e HJ\GG.rrn: P. Modelos em Geogmfln.. Rio de loneiro, EDUSP , 1975. 13 n1adas de alta renda surge co mo o elemento interno mai s po der o so no JOgCJ ,.., 1 ças que determina a es tn 1tur ação do espaço intr a-urbano de n ossas metr0po ~ A obra se fecha com a lgun1a s co nclu sões teórica s sobr e o ma tenal tmµ ·~ apresentado. Por tratar de tema pouco abordado, es ta é uma obra h e terog én ea, não~Q-· · to aos temas propostos, co mo pr incipalmente quanto ao s nh' ei~ das análise:1.~ va riam de sde os es tágios m a is rud im enta res - e por isso um po uco maçan•es-1t inves tigação científica, co mo a descrição de tipologia s e a cla ss ificação de pmcew. (no in ício da obra ). até níveis teo ri ca m ente mais ambicio sos (no fina fJ. As exp ressões camadas de alta renda e burgu esias foram uti lizadas c..o:ro~ nônimos. Por burguesiasentende-se tanto a pequena, média e alca burgues1a~c.o~ as bu rguesias industria l, mercantil ou financeira. Quando houve n ecessi d ade de sepa rar c lasses dentro de sses gra~::e, conjuntos, utilizaram-se exp re ssões co mo alta burgue sia e classe média . ;\essesu,~. juntos, reconhece-se a h egemon ia d a a lta burgue sja enquanto cla c;se do:mr.2··e. "Elites" (se mpre soc ioeco nômicas), alta bur guesia e classe dominante iambém:·- ram empregados como s inô nimo s. Consideramo s que num trab aJho daamp.:_~= deste, que analisa se is metrópoles p or um p eríodo de mais de um sécu lo, asd~,- renças ent re esses conceitos pod er iam se r n1inimizada s sem prejuízo da ar:áii~ Se há diferença ent re classes de renda e classes soc iai s, há bem menos dife:t-"c entre as regiões das cidades por elas ocupadas- que, a]iás, nunca são cma!m~::.-~ homogêneas. Quando se tratade quantificar ou medir as classes, em seis metróp oles :r: longos períodos, não h á co mo escapa r d a u tilização do s indicadore s aqw ut....n· dos: faixas de renda e aparência do s bairros o u da s habita ções. Por ourro .?C:l para os tempos atua is, a fa ixa de renda utilizad a para caracterizar as camadas.:f alta renda é tão "fo lgada" - acima d e vinte sa lá ri os-mínimos- que ela enquaC'."! satisfatoria ment e "as burguesias", a burgu es ia , o u a classe domin ame , indeptr:· dentemente de va riações co n cei tu ais. O importante é q ue na definiçã o e:,pac.:. seja enq uad rada a classe dominante, que coman d a a estruturação do espico.f válido admitir que as espac ia'lidade s das classes o u camada s sociai s não ,ar.:::- significa tivamente segu nd o os vários co n ceitos. Uma rnonografia sobre a ·geo~ · fia socia l" do município do Rio de Janei ro, usando téc ni cas da ecologia fatOi,:., dado s do censo de 1960 (Morris, l 973, 48), pond erou 22 variáveis para defimr~ mapear a população segu ndo sta tu s. O mape a m ento revelou uma espacialidaü d a p opulação de mais alto s ta t us exa tam e nt e igual ao qu e já é sabido em terr.:c- de renda ou classe socia l e s impl es co nh eci me n to s up erficial: a área de mai al:o sta tu s engloba Flamengo , CaLetc, Botafogo, Urca, Copacabana, Leme, Ipaner.:! Leb lon e Lagoa e Gávea. Seg u ndo Short (1976, 77). ''o a specto mais consisten:c que eman a da s eco logia s fa toria is d a c idade tem si do a id ent ificação de padrot" de segregação com base no s tatu s socia l. Embora uma va riedade de técntc3~ :e- nha s ido utili zada e embor a as variáveis se lec ionadas tenham sido diferente5 0) re s ultado s, em ge ral, co nfirm ar am essa de sco be rta. Na verdade, as confirmaçõr 14 têm sido registrada s com regulnridadc qu ase monót ona".• Se fosse nccc~sária a de- finição prévia, consensual, quantificáve l e espacializ,ível de clns~c socia l. classe de renda, elite socioeco nômi ca, alta, média e pequena burgue siêls e classe domi rrnntc, para seis metr ópoles dura nt e 150 anos, este trabalh o seria inviável. Uma palavrinha sob re "relações espacia is". Claro que espaços não mantêm relações sociais entre si. Entretanto, há certos processos sociais nos quais espaço e sociedade estão de tal forma imbricados que é impossível entende r as relações so- ciais sem uma visão espacial. Isso é particularme nte verdadeiro quando se trata do espaço intrn-urbano , onde a presença do espaço nas relnções sociais é marcante . Algumas das conclu sões desta obra contra riam posições fundam entai s do materiali smo histórico. A soberania do cons umid or - desde que este sejam as ca- madas de alta renda - na esco lha da localização ele seus bairros, o primado do con- sumo na estruturação do espaço intra -urbano (mas não na sun produção ), a relação entre o setor imobiliário e a classe dominante são algumas. Isso nos preocupa . Acre- ditamos, en tretanto , que as evidências empíricas que sustentam aquela s conclu - sões são fortes. Se elas fertilizarem discussões, daremo-nos por satisfeitos. • ''Thc mosL consistcnt fcaturc arising from laclo1 ial ccologics of Lhe ciiy has becn lh e idc 111 iíication of paucrns ní sc~rcgntion 0 11 thc bas1,; oí social swtu,;. A1Lhuugh a varicly of Lcchniqu c!> havc bccn u~cd and vnnnblcs c;dc ctcd hnvc cliffcrccl, lhe rcs11lts hnvc gcncrnlly confiimcd thls finclin~. l11dccd. confirmi llio11 has l>ccn repor tcd wl th almost rnonotonous rcgularity." 15 • 1 'l Capttu o,... Espaço i11tra-t1rbar10: e, se desconl1ecido , . 'o :implo campo dos est udo s territoriais, têm hn\'1do na, últimas d •catf. um cn• ente dt"senvol\'imcnto das investigações r('gionais e uma c;urpn•cndrnrt• · r&.1~· mição do1:; l' tudo c; intra-urbano, . Este!>, pou co de rclevanl c produ11rnrn dt·~dt• n de - cada d~ 1970 . ~fo ·mo no período entre as dé cadas de 1!)30 e 1970. tor.im fr.tKct s as ro nm b u1~ >t><:, nc,,a área (em bom abundn-;sem as análi-,cs rcgion.,h ). dd<fa,, pm exem - plo. peln cronom1a e geografia neoclássicas (\Villi am Alon!>o. Brion Bcrry, H. 1: \luth , 1 f. S Pcrloff t~ l owdon\\'1ngo Jr., para citar apenas aJgun!> cxpocnws) . Oec.:omp{>~ ,e a cidadt.> em 'hinos elemen tos e produziu-se urna sé ne de t·~tudos atom11ado~ ~obre tem,~ esp~ctficos. como a densidade demográfica, as n.rcn'i mdustri .. u,. as comcrriais, o pn:\ o dn terra . etc; além disso , produztram-c;e a<; conhecida~ tronac; ponttMJs tia localv.,lçao. Umn frngil visa o de conjunt o, incapaz de ajudar a construçJo de uma h se tl -órica mat~ amplu wbrc o e'ipaço uura-urbano, foi aprc~entnd,t. Ne,:,c M'nti<lo . pou - co w m·ançou na, tnn!,tigaçõcs sobre o conjunt o da cidJd t• e ~obre .i urllcula,. o en - tre ,ua" \'árias área') luncionai, , ou seja, !-.OOrt' a e:,tnitura intm-urban 1 A \'Í fio aniculadíl e de conjun to fot , aliá\ , n grande con tr ibu1ç .. 10 da l'"icol.t dt' CJucago A.~ 1cmat1vJ~ d~ formulaçao de modt•lo, e!>pltCHti'.-1 - l1 n d1tu11t.11<la\ pc,r Chorle)' & l laggett no final do~ ano:> 60 (meado~ dn5 ano, 70, nu 8ra;.;1IJ - llH'ram cun<1 durac;ào. pu1s forJm atropelJdas pt•lo-, t•,tudu, terrltonab dt.> bu,c marxistt, ~urgido~ igualmente naquela época e que pn<.,saram &.l <luminar o íls,unto ; e\,('S es - tudo~. <-ntrctamo . vêm ignorctndo qua se totalmente o c~pn~·o intra -urbano Dc\dl' C'ntno a mah notável tentatt\.a de tcor11nçao d (·~se (':,paço tomo um todo lenha 1do, tal\'eZ, a feita por t.n~telb em 1 a que~tion urba me E~~c auw r, porem . abando- nou o Lampo de estudo em foco e ninguém o re tomou a partir do ponto em que clt' o deixou. Pelo menos, a partir dele, não ~e rormou uma corrente ou escola de pPn a- mento sobre o espaço intra -urbano . 17 , Nesta obra procurn -sc desenvolver a tese de que os processos que, de lll lado, podem ser identificados com a estruturação das redes urbana s, com o elemer to urbano das estruturas espaciais regionai s, ou com o proces so espacial de urbao, zaçào, e de outro, os proce ss os de estruturação interna do espaço urbano não se gucm a me sma lógica, não pa ss am pelas mesma s medi ações (de sde as macroanálise socioeconômicas até as tran sformações espaciais intra-urbana s) e não podemse abo rdado s pelo s mes mo s paradigmas teó rico s . Part indo de uma dada formação~ cial, para se chegar ao espaço intra-urbano, há necessidade de pa ssar por media ções diferentes das requerida s para chegar ao espaço regional. No entanto, nasúhi ma s década s têm havido tran sbordamentos eq uivo cados da s análi ses regionais- que constituem a maioria - para as intra -urbana s. A fundamentação teórica de se nvolvida para demon s trar essa Lese será e1 posta a segu ir, organizada em quatro itens, a saber: • a questão semântica. A(1ui pretende-se explicar por que é utilizada nestaob~ a contrago sto, a redunclante exp ressão intra -urbano; • breves considerações sobre a di s tinção entre espaço inLra-urbano e regio~ • a especificidade do espaço intr a-urbano; • confu sões na s abordagens do s es paço s intra-urbano e regional. Seguem-se depois breve s cons id erações sobre a relação entre espaço e so- ciedade. A questão semântica Trata-se de entender e justificar a expres são inira-urbano. Como veremos adiante, essa questão não é mera e inconseqüente formalidade . A expressão int ra-urbano não deveria ser necessá ria, poi s ''espaço urbano·ê uma expressão satisfatória. Por que , encão, é uti lizada? A expressão espaço urbano, bem como "estrutura urbana ", "estruturação UI· bana", "rees truturação urbana " e outras congêneres, só pode se referir ao inrra-ur· bano . Tal expressão deveria se r, poi s, de snecessária , em face de sua redundância Porém, espaço urbano - e toda s aque las afins- está hoje de tal forma comprome· tida com o co mponente urbano do espaço regional que houve necessidadedecTiaJ outra expre ssão para de signar o espaço urb ano; daí o surgimento e uso de inua· urbano. Aquilo que grande parte darecente literatura espacial progre ssista tem cha· mado de espaço urbano refere-se, na verdade, ou ao proce sso de urbanização gene- ricamente abordado , ou a espaços regionais, nacionais, continentais e mesmo pia· netário. Nos último ::, casos, o espaço urbano aparece como elemen to de estruturas espacia is regionai s, nacionai s, continenta is ou plan etá ria . Com efe ito, das dua s uma : Oll se est uda o arran jo int erno dos espaços urba· nos, ou se estuda o arranjo interno dos es paços regionais, nacionai s ou planetário. Nos doi s casos, óbvio, o espaço é imra . Portanto, a ex pr essão es paço urbano-n ão há como ser diferente - só pode referir-se ao espaço intra-u rb ano, assim comoa 18 expressã o espaço regional se refere ao intra-regional. No entanto , não se usa a ex- pressão espaço intra-regional./\ redundância da expre ss ão espa ço int ra- urb ano fica evidente quando se imagina o uso da expres são espaço intra -regional. Par ece ab- surda, não é? Parece, não: é absurda, poi s es paço regional basta, me smo que - com o é a maioria dos casos - se queira privilegiar o componente urbano no s es tudo s regionai s. Então a expre ssão intra-urbano lambém deveria ser ab s urda, e es paço urbano também deveria bastar. É curioso que pouco ou n ada se fale de estrutura regional, ou de reeslrulllração regional, enquanto se fala abundantemente de estruturação e ree struturação urba - nas. Por quê? O que comu m cnte se chama de estruturação urbana não é estrutura - ção (ou reestruturação) urb ana, mas estruturação (ou reestruturação) regional, poi s aborda o eleme nt o urbano da estrutura regionaJ, o processo de urbanização enquan- to processo do espaço regional, seja de urna região, de um país, de vários paíse s ou do mundo. Tomem-se, por exemplo, algumas exce lentes obras lançadas recentemente entre nós: Reestruturaçào urbana: tendências e desafios (Valladare s e Preteceille, org. 1990), ou Reestruturação do espaço urbano e regional no Brasil (Lavina s et al. erg. 1993). De que tratam elas? Ou do processo geral da urbanização brasileira , ou da reestruturação de nossa rede de cidades, ou seja, das cidades enquanto ele- mentos do espaço regional ou nacional (desmetropolização, desconcentração re- gional, etc). Por que não reestruturação regionaJ? O que se anali sa nesses livros é a reestruturação de uma região (o espaço nacional brasileiro), embora o único ele- mento da região analisado sejam as cidades. São, claramente, estudos de reestruturação regio nal. Por outro lado - a não se r que espaço urbano signifi qu e intra-urbano, o que raramente acontece- não tem sentido falar de "espaço urb ano'' ao lado de "espaço regional", como na expres são "espaço urbano e regional", abundantemente empre- gada na literatura especializada, inclusive nas obras acima indicadas. Já há década s que as estruturações (ou reestruturações) regionais, nacionais ou planetária inclu- em neces sariamente as redes urbanas, pois elas constituem o principal elemento das estruturas te rrit oriais analisadas. Não cabe, portanto, fala r em "reestruturação do espaço urbano e regional", mas Lãa-somente em reestruturação do espaço regio- nal. O fato de, nessas obras, as cidades serem privilegiadas como elemento da estru- turação regional não autoriza nem justifica a redundância "regional e urbano", pois toda reestruturação de uma rede urbana {que é o que tais obras analisam) é neces- sariamente uma reestruturação regional. Por outro Jado , no Brasil urbano de hoje- para não faJar do Primeiro Mundo - é inc oncebíve l uma reestruturação regional que não seja simultaneamente também uma reestruturação de rede urbana. No entanto, fala-se, por exemplo, referindo-se ao estado de São Paulo atua l, em" ... es- tratégias de desenvo lvimento urbano e regional". A palavra urbano é aí certamente dispensável, no mínimo por dar a falsa impr essão de que poderia haver no estado em questão uma es trat ég ia de desenvolvimento urbano qu e não fosse ao mesmo tempo regiona l, e vice-ve rsa. 19 \J . IS tPltt ' l , \t ' lt\ , U , 1.l 1t lt • lll • 1 l S I\ ltl d ' 1 • I , •d i (Pll \IH\ lllllt\Plll l 'S JWt 1.tl ( 11111 l\ l ' l l \ I S I 1 ' l '•l\ 11,\: /),/ •,1/ 1•, 1 ),. 1111 J H 1 1\ ) l} t I l .t(/ "ª" ., u1h ,\ 1lll h' g tnn t i I ' ' li . .. J' ·t ,u l li 11111 fl \ , IHIHl , 111~.1 , ll t I n . • 1 ' p, · 1 1 1 \ 'h .. t . 1 • 1 • ( 1111\ 1t·, ,•hc•tt 1) lll\l lP d ,- Ih' , t1u t 111, t • t' O ll!III , , 11,l l ' l ll.,1 10 d, · llllfHt·, • 4 \ • li t 't OllOllll , 1 \ ' t 4'J1 1(1lfl11 " f lll t lrlll>O -. C) <! l q111\1lll , , • tllllltu llt ' ll\ d . 1, ,lllll , tdtll l .. º ' ' "'º"<' ., ,I '-; tjllt'J lf,I lt ' l' S {lllllll.l Ç.11) 1111>.a '' !-,. n •,• -. ltttl\H 1, · ,,,11111',H l, t , .. tq ~aon,d " 11•1 , q11t'r rJ,l { > f.tln 1 ' qth• d.td,t ,l ltllJl II t 1 1 1 •lllt 1,1 t • • p101 ,· ,, n df' 1111>,11111'.tl~ , 111 e• clt1 t.; 1 c·cl , >, ln,, , ll,1 ,•, tt \lt\lt,H ; ,tn rc·1•1l111 ti '\ • <" 11r. r- • • 1 IH• ,-.1h •.., 1111110 , · ,p ,11,1111rll ,H10 , t•, rri11111c1 url t ll 1t • , •, (1 ultll,\r ' ,lcl ,111> lll l I' IS"- . )fina ' · • · .. ,11.11n ,1 '-t'I t·,,,,,• , ,n,·, de J>re,11,•10 t· lor 1m · l • 1 l ,.., ~ t,tpl11r, l ·' ' t 1nnnPJhl 1 •11 ,t-- pt'l,l, c•, 111tl,l -. lt'J.!ll111.11, 1\ v1-.1.i d l'.,,, , -.it1 1.1~.10, torno, obri < do,•' n,,, 1 t'tllkt . •1 l n nt t , tgn , 1 o , ,1 l l'l llllnn ln gi, 1 J,t t 11s 1,d11,1<la l' a nn, contornrnr ~n - \11 lh Z ,ll .1 \'\.J)l\'",',,,ll) lll' ~ll Hl qlll' ll'dUlld<lllft' l'SfhlÇ'O illllcl Urh;1r,o , rn l ''" tf \ll ' 'l.to ' l ' lll ."intk ,1. ço n10 d1, M· 1110 ~. 11.10 e 111t•r .1 t' inconscciüt-nlt- formo . ltd.Hh· \d1.1tHl' 'Pll ' ll\lls ,l lg1111, clt• ~cu~ dc , dulH.1111C'11ln!-. .tll.tr1w1He prohlcmdticos . Espaços rc g ional ' intra -urbano 4\ d t~t ,n ç .. to 1tt,11s imprn t,tnlc <'lllll' espa(O inll ,1-urbnno e cspnço reg ional de- ' l\ ,l do~ t 1,1n spo 1 t L'~ e d ,1s com1111k,1(ue s. Q11<•r no t' Sp,1ço i ntrn - urb:in o. qu er no rc- g1011.,I. o dt>:-lol',llll t'lllll til- n1at1..•ria e do st·r llu11rn110 tem um poder cstruturndor be1n rn:uor do qul' l) de s loca m ·nto da c 1wrgia ou das inform ações. A es trutura ção do C""Pª" ' º 1t•g1onnl c5 clominadn rwlo u~sloenmcnl <Hins i11lornrnçõcs, dn energia, do c,1p i t ul n111, t .1nt c.: (' d as mer c, tclm in s t•rn gcr.11 - l'\ 'Pntunlmc nt c at é da mcr cndoria fc>n,-a dt ' Lr.1b..1Jho . O e$p~wo intra - u rb.1110, ao con1rn1io, é cscrnturndo f1indamcntal - n1 n t e pd,u. cu ndi~ ·ões tlt.• tle slocn m l'll l o do ser hu111a 110, seja enqua nt o portador da n1ercadori.1 tor~·a de trnbrdho - como no desl oca mento ca~n / trnbalh o-, seja en- q u.,nto con wnid o r - r ' (HOc.lu~·üo cfa forç.1 ele trabnlho, des locam ento casn-com- pr~s. cn"a - lal'cr . esco la , e tc . Exat.1rnt •11H' tf ,11 vem, por exempl o, o enorme poder c-~c rul11r-.1dor intra -u rbnno da s area s comerciais e de scrv i,·os, u começar pelo pró - pr io ce ntr o urbanú . r.1is arcas, m esmo nas cidades imlu strini s, são as que gcra n1 e atracn1 a mai or <.ptanudn<lc d e de ~loca nwnt o:- (viagen s), pois acu mu lam os dc s lo- can 1e nt ob de f 0 1~·.i Ut' t I al>alho - os qu e ali I rJbnl ltam - co m os de co ns umidor es - o s que n l i fa :l..(~m L'Om p rns t" v: n no · scrvi ~·os. Quanto ao papel Pspnciul dn ~ co m1111icnc;ücs, trnta- sl' de Jss unl o qu e já traz à bnila a con fu soo en tre ~1s anuli-;es do " cspa(OS inlrn -ur bano e regio naJ; j á ten10 s aqui a oponunidndl• d e m c n cion ~u C!:>sa qu e rtio, que será desenvo lvida logo a se- guir , n1os t rando co mo o do mfnio dos es cudo s inrrn -urbano s te m s id o prejudicado p e la i ndc v ida adoçfHJ uc paradigmas, co ncr itos e metodologias típi cos dos est u - dos region nis. Trnla -sc de regi s tmr o hábit o cios annli s tas reg ionai s d e utilizar, em análises int ra- urb a n as, estes doi s vocá bul os- tran sporte s e comunic ações-e con sc qüen - tc n1c nt e as realidade~ que expr imem, tão amarrados quanto irm ãos siam eses. Igno- ra -se a ss in1 o foto de que se us efei tos sobre os espaç os intra-urbano e regional são 20 totalmente distintos. As comun icações têm efeito profundo sobre os espaços regio- nais, nacionais ou planetário, comparáve l ao dos transportes. Entre outras razões, pelo Fato de o espaço regional se r, como dissemos, estruturado pelo deslocamento de energia, pelas comunicações e pe lo transporte de mercadorias, e o dinheiro, uma das mercadorias mais transportadas ultimamente no espaço regional. tem-se utili- zado exatamente das comunicações. Esta metáfora , muito utilizada, se aplica bem a essa situaçã o: as comunicações, tal como os transportes, têm feito com que o mun- do sc"encolha". As com unicaçõe s, a certa altura da história da técnica, se libertaram dos transportes. Elas dependiam-pelo menos a grandes distâncias-do tran sp or- te da mensagem: transporte do jornal, transporte da carta. Foi com a invenção do telégrafo que as comunicações se libertaram en tão. Harvey (1993, 220), aliás, utili- za-se de duas iluslrações para mostrar o "enco lhim ento" do mundo: uma através dos transportes e outra - a propaganda de uma empresa de telecomunicaçõe s - através das co munica ções. Entretanto, a estruturação do espaço intra- urb ano é dominada pelo deslo ca- mento do ser hum ano, enquanto portador da me rcadoria força de trabalho ou en- quanto consumidor (mai s do que pelo deslocamento das mercadorias em geral ou do capital constante). Nesses deslocamentos, não há espaço para as comunicações ou para o transporte da energia. Assim, o de senvolvimento do transporte de energia e das comu nicações- que não envolve o deslocamento do se r humano- tem pro- vocado no espaço intra-urbano efeitos desprezíveis, se é que tem existido. Não co- nhecemos nenhum estudo com fundamentação teórica e base empírica que mos- tre, por exem plo, os efeitos que a difusão do telégrafo teve sobre o espaço intra-urbano. Desconhecemos, igua lmente, qualquer investigação - e muito me- nos teoria- que tenha abordado os efeitos que a introdução do telefone, ou do fax, teve sob re o espaço interno das metrópoles. Finalmente, desconhecemo s qua lquer estudo sob re o impacto intra-urbano de uma das mai s fan tásticas invenções de to- dos os tempos: a energia elétrica. Conjecturas há, certamente, mas para conjecturas a mente humana tem a liberdade e o infinito. É curioso registrar, en passanr, e nos - sas experiências permitem-nos afirmar isto, que a ma ioria dos estudiosos do espaço reage a essas colocações em geral tão veemente quanto impulsiva e irracionalmen- te, dada a falta de est udos objetivos e argumentos convincentes contra elas. No en- tanto, abundam nos estudos espaciais menções aos "efeitos dos transportes e das comunicações sobre o espaço urbano ou metropolitano ", quando na verdade tais efeitos deviam ser apenas os do s tran spo rte s, e não os das comunicações. Trata-se certamente de uma indevida generalização, para o nível intra-urbano, dos estudos espaciais regionais ou plan etá rio. A esse respeito é de se registrar que tais estudos têm ignorado amplamente o fato de que, em qualquer ponto do espaço intra -urba- no ou imramelropolitano, os custos da energia e das comunicações são iguais (ou apresentam diferenças desprezíveis, quando as têm), tornando esses espaços unifor- mes ou homogêneos do ponto de vista da disponibilidade de energia e das comu nica - ções. Com os transporte s, especial mente o de seres humanos, a questão é totalmente distinta. No tocante a eles, o espaço intra-urbano é alta mente heterogêneo. 21 - lJma scf( un dn dbt inçüo no s,. dud n por 1.. l>o 11i 1w <· 1 1ph•I1 ( l '-)90, l 'l) 11-1,t", aulorcs, no Llcsenvo lv inwn tn dt ' ', ('li ... t.•, tuclo s 1owg1111do n lt11lrn dn e li.1111,,d,1 1 -.u,la France sa da Re~ul nçi1o, ckp o i~ dl' ele-tin i nym con 1( > morl f'lo de ti,·"'" tJOh1i11wnt11 e, ( on junro formm1n por um m odo d' 1eg1tl,,~·no, um 1c'Ai1tu• d<· ar1111111l.1<i,,H> t 11111 hlcHo hc g •mõnico, pe1gun1am: " ... sl)brt· tj11al p, p.i~·" ~r·oí-~t,tlko ,e ' '-',tlt'.l.,l ., t1111dadl' ele um moe.leio <lc u est.·nvo lvinwntn 'I Admiti1t•n10 :-. qll( ~ ,. po ,, lvl' I d1 •,11111{\11r, g10'-\0 mo<lo, tre s nívei s: regional. nncio n al t· i111 •1 rrndona l" (l.iptt ·lz 1 '-l7 /, l 'JW,) e rnno o es pa ço urb ano o u m et ro po l i tano na o ap un•n·, ~o rno s o ln igJ do s a e onc luil qut• o es p aço que limit a, qu e cnqu nd1a t c 1 ritc,rin lm v nlP um,1 mcl1 opo le, n.w .,,.11.i no pensa m ent o desses nutorPs - um espa ço adPqu aclo h n,n1li ... P d .t u111d,1cl<· de um mod e lo de de e nvo lvim ento . Ou sc jn, a~ dt 'tL'rrnínac .;ô(•.., lund c.1nH~ntab dt • u111 mo- d e lo de desenvolvimento podem n nc1 M' ::irt lc.:ul a 1 C\pnda lm entt• no n1vt'l i111r,t ur- bnno. Mai s uma distinção - n scrm n vá lid ns a-; prop o,içne.., clc o.,\P!-. nul<>n' \ ent re espn ço intra -urban o e reg ional. Uma ter ce ira di stin ção enco ntra -se no deli ca do e in cx pJ<n,:1<.lo c.i mpo do \ dei- to s do es pa ço so bre o soc ial. Bod dy ab orda um n po c;,..,fvt•I d1 ..,linçfH 1 C'lllrr' n, P4'paçoc: intra -urbano e regional. Seg und o (')e (197G, 1). " . . definir um campo de economia políti ca 11rbrz 11n !grifo no o riginal ! é nigum ·n t .. u q u e<- tlr11tm !grifo no-..sol dn , cida- d es( ... ) que os efe itos do espacia l so bre o ~oc i..1I , ão mai s forlC'.., (' ·rn crgc:m como ó bvio s. O 'urbano ' passa ent ão a ser definido c m 1e 1 m o-.. e.lo~ ·fei t o:-, pnnH .:ulaH·~ do int ens id ade da s int craçõc!> entre o social e o ·spadnl. pro vocada,; pela forma e pt>· c ífica de a ni cuJação espac ial da pr od uçao, da circ u laçao e do con.;;.umo, rw forma- ção soc inl". Por fim , uma faixa de penumbra . Trata- se do novo t ip o de "rcgiuo urbnn a", um mi s to de c idad e e região qu e e rar ia surgindo no s 1. ... téldos Unido <; e que pode- ria esca par à di s tinção aqui fe ita . Seria a regi ão m c t ropolitana ameri ca na co niem- porân ea, polinu cleada, dc sco ncc nlrada e di spersa qu e. seg u ndo Mark Go ltdi cner, se ria uma forma de " ... espaço d e asse nta men to carac te rí s tica d os E~tado s Uni· do s .. .'' e qu e ai nd a" ... n ão surgiu , em um se ntid o qualitat ivo, cm outro s paísl', nem m esmo n a Eu rapa indu s tri a liza d a" (Go tt dic n c r, 198 5, 9) 1• Ne ss a obra , o que Gottdiener estu da ou men c io na são proce ssos intra -u rb a no~. tran s formaçõe s cm element os da es trutura in tra-urba n a: o ce ntro , a c id ade ccn traJ. os muito ~ centros (polinucl eação) e a periferia esparsa . Anali sa, portanto, a c-;t ruturn intra -urbana , por maj s qu e ela ass um a a esca la d e um a região. Trata-se de um tipo particular de espaço urb a no . Espec ificidades do espaço intra- urb ano De acordo com I Jarvey { 1982, 375). "o es pa ço é um a1ributo mat erial de todo os valores de uso··. Na ve rd ade o é também do s produt os n ão produzid os pel o traba· lho , ou se ja, q uc não são va lo res de uso s imple s1nen te por n ão terem vn lor, como O!> oceanos ou as mon ta nh as . Mas fiquemo s por aq ui. O espaço é at ribu to de um auto· m óve l, do co rpo hum ano, de uma cadeira, de um ed ifí cio ou um co njunt o de cdifi· 22 cios e de uma cidad e inteira. Prossegue I larvey (idem, ibid.). "o trnlrnllw ulll t nm rt '· to produz vnlorcs de uso em determinado s lugares''. Os valon·s de tho ,,1o tamhr111 consumid os cm "determ inados lugares". Ternos então dois espaços: o <lw, ol>Jt•to-; em si (produ zidos ou nflo pelo trabalho hum ano) e aqu ele drlerm i nad o pelos loc.11" onde estes são produ zidos e consumido s. Aparece ass im a questão da loca lização - os locais onde os produt os 4.,,10 produ zidos e consumid os. A localizaçã o é relação a outro s objeto s ou rnnp111to~ de objetos e a loca lização urb ana é um tipo específico de localização: aq uela 1w qual as relações não pode m existir sem um tipo parti cular de contato. aquele qu c- envolve deslocamentos dos produtor es e dos con sumid ores entre os locai., de moradia e os de produ ção e con sumo. Com isso, temos dois ou tros tipos de cspH· ço: os que envolvem deslocamento s - as localizações - e os que não envolvem desloca mentos - os objetos em si. Nestes último s, o espaço é dado por rclaçôrs visuais ou por contato direto; na localização , as relações se dão atravé s dos trnns - porres (de produtos, de energia e de pessoas), das comunicaçõe s e da disr onib ili- dade de infra-est rutura. Note-se, entretanto, que o tran sporte de ene rgia. as co- municações e a infra-estrutura pode m inexistir no espaço urbano , como em aldeias primitiva s ou em pa rtes de espaço s urbanos algumas década s atrás. O tran sporte de pessoas não. Tanto parn o exercício imediato do traba lho como para a reprodu ção ela forçn de trabalho, a localização urbana 2 é determinada então por dois atributo s. São eles: • Uma rede de infra.est ru tura: vias, redes de água, esgotos, pavimentaç ão, ene rgia, etc; • Possibilidade s de transporte de produtos de um ponto a outro, de deslo ca· menta de pessoa s e de comu nicação . Dent re essas possibilidade s, a de desJo. camento do ser humano (para os loca is de trabalho, de compras, de serviços, de lazer, etc.) dominará a estruturação do espaço intra-urbano, já que , entre os deslocamentos de matérias e os do ser humano, dominar á o últim o. Por outro lado, a necessidade de des locamento do ser human o domin ará as t.lc comuni cação na estruturação do espaço intra.urbano pois, como vimos, o custo das comun icações por fax, telefone ou televisão é praricnment e o mes- mo cm qualquer ponto do espaço urbano. As condiç ões de deslocamento do ser humano, associada s a um ponto do território urbano , predominarão sobre a disponibilidad e ele infra-est rutura s desse mesmo ponto. A acessibilidade é mais vital na produ ção de localizações do que a disponibilidade de infra-estrutura . Na pior das hipóteses, mesmo não havendo infra- estrutura, uma terra jama is poderá ser considerada urbana se não for acessível - por meio do deslocamento diá rio de pessoas - a um conlcxto urbnno e a um con- junto ele atividades urbana s ... e isso exige um sistema de tran sport e de passage iros. A recíproca não é verdadeira. Além disso, a infra-estrutura é produ zida e pode ser reproduz ida pe lo trabalho humano e estendida a toda a cidad e. J ln países do Pri· mciro Mundo em que toda terra urbana tem toda infra-estrutura ; a locnlizaçno, dada pelas possibilidades de deslocamento do ser humano, não . Ela é como as obra s ele 23 arte e antigüidades-são fnito do trabalho hum ano mas não podem ser reproduzidas pelo trabalho humano (Marx, s.d., L 3, v. 6, 727). Os produtos específicos resultantes da produção do espaço intra-urbano não são os objetos urbanos em si; as praças, as ruas ou os edifícios, mas suas loca. lizações. A produção de edifícios ou de conjuntos de edifícios - A Noite, o ~lartinelli. Barra da Tijuca, Copacabana, o Jardim Amér ica ou a avenida Paulista, etc. - enquanto objetos urbanos certamente é produção de es paço. Entretanto o é tanto quanto a produção de cadeiras, árvores, ou canetas. A produ ção dos obje. to urbanos só pode ser entendida e explicada se forem cons ideradas suas locali· zações. A localização é, ela própria, também um produto do trabalho e é ela que especifica o espaço intra-urbano. Está associada ao espaço intra -urbano como um todo, pois refere-se às relações entre um determinado ponto do território urbano e todos os demais. O estudo das formas é sen1 dúvida estudo do espaço urbano, mas não é espe- cífico do espaço urbano. Muito pelo contrár io, as formas são atributo de todo espa- ço (árvores, cadeiras, canetas). No entan to, para explicar as formas urbanas - os bairros , as direções de crescimento, a forma da mancha urbana, a verticalização, densidades, etc. - é indispensável co nsiderar as relações de determinado ponto, ou conjunto de pontos, com todos os demais pontos do espaço urban o. Esperamos mostrar nesta obra que dominam essas relações, que se materializam através do deslocamento dos seres humanos enquanto cons unüdore s e/ ou portadores de for- ça de trabalho. É o que, em outra obra (Villa ça, 1985). chamamos de localização pura. Portanto, a análise específica do espaço intra-urbano não pode limitar-se, por exemplo, aos estudos da produção de escritórios na avenida Paulista ou de condo- mínios verticais na Barra da Tijuca e horizontais em Alphaville; nem registrar que São Paulo cresce mais para o leste e Porto Alegre tem uma forma marcantemente linear . É preciso explicar por que os condomín ios são ve rti cais e não horizontais, e vice-versa; em segundo lugar, por que produziran1 as localizações representadas pela avenida Paulista, Barra da Tijuca ou Alphaville, e não aq uelas representadas pela avenida Aricanduva, Belfort Roxo, Sapiranga (PA) ou ltaquera.* Não basta explicam abertura da avenida Rio Branco, no Rio, con10 fruto da especulação imobiliária. O estudo específico do espaço intra-urbano deverá exp licar por que ela foi aberta na localização que foi e não em outra qualquer. Não basta explicar o desenvolvimento industrial de São Paulo ao longo das ferrovias, na primeira metade do século XX. É preciso explicar por que esse de se nvolvimento ocorreu ao lon go de uma ferrovia- ª que demandava Santos-, e não de outra- a que demandava o Rio. No caso das metrópoles brasiJeiras, é neces sá rio explicar por que as camadas de alta renda se localizam em áreas mais centraiis, produzindo grande quantidade de edifícios de • Avenida Paulista, Copacabana, Bclfort Hox.o e ítaquera 1150 são pontos ele um espaço geométricc, t:ibulciro continente. As expressões na avenida Paulista e e111 Copacabarw silo enganosas, pois veiculam o idéia de espaço tabuleiro preexistente. A avenida PauJista, enquant o es pa ço socia l e ponto de grandes escritórios,/ um espaço, não está no espaço. As avenidas Paulista e Copacabana de 1920 são um espaço e ns avenidas Paulista e Copacabana de 1980 são outro. Por isso, dizemos localização representada por ... 24 apan.amcnto e não predomi nanteme nte em apa rtamentos uburbnnos- como nJ Rarrn da Tijuca - nem em residências uniíamiliares suburhanas - corno em \lphaville. Final mente - e aqu i está uma ques tão vital parn ..i compreenc.ào do e-.- paço intra-urbano brasi leiro-, po r que as camadas de alta renda, quando vão para o subúrbios- Barra da Tijuca, Nova Lima, na Área Metropo litana de Belo Hori1.on- te ou Alphaville - escolhem cer tas localizações su bu rbanac; e não outras, como Belfort Roxo, Venda Nova ou Jtaqu era. Ao mes mo tempo . 6 preciso entender as im - plicações e as conseqüê ncias dessas loca lizações; cm resumo, é preciso explicar a localizações intra-urbanas. Para ilustrar a especificidade do espa ço intra- ur bano, vejamos um ponto de partida tão fundamenta l qua nto eleme nta r. Quais os processos socioespaciai~ intra- urbanos mais im portantes e significativos e qu e por isso devem merecer maior aten- ção por parte dos estudiosos? As análises e teorias so bre o desenvolvimento ou es- truturação (ou reestruturação) regionais já há m uito responderam a essa pergunta. Há um razoâ\'el conse nso quan to à imp ortância de algun s processos socioespaciais regionais , como aqueles ligado s à urb anização, às relações ent re a industrialização e a urbanização, ao dese nvolvimento reg ion al des igual (nacion aJ ou planetá rio). adi- \ isão internacional do traba lho, às relações entr e os mode los de dese nvolvimento - na definição acima, de Upi etz - e a es trutura ção territ orial regional, etc. Apenas para mencionar o caso ma is con heci do bas tar ia lem brar o prestíg io inte lec lual hoje l desfrutado pelos est udos reg ionais e plan etário produ zidos com base nas idéias da_ § ~ chamada Escola Frances a da Regulação, os qu ais vão desde o Sunb elt x Snowbelt ~ =i ~ aos centrosde crescime nto flexível, como os tão difundid os casos do vale do Silício, .1 ~ e Emília-Romag na, Corre dor M-4 e out ros (Bodd y, 1990). ~ ~ ~ No entanto, e ao contr ár io do qu e vem ocorrend o com os espaços regionaJ e .., i planetário, não se dese nvolveu, nas últimas déca das, nenhum a corrente de pe nsa- mento voltada para os p rocessos soci oespacia is intra- urba no s mais significatiV05, e muito menos para as co nexões entre as tra nsforma ções das esfe ras socioeconomicas e as espaciais . Estas refe rir-se- iam não ape nas aos efe itos das tra nsformações socioeconômicas sob re o espaço - que é o ram o de investigação mais freqüente e desenvolvido-, mas tam bém ao opos to, isto é, os efe itos das tra nsformações espa- ciais sobre a esfera socioeco nõm ica, muito menos freqü ent es. Fina lmente, pode - riam referir-se também - e mais correLame nt e - à dia lélica sotioespacial (Soja, 1980). Tal dialética, então, é quase total m ent e ignorada . Cabe então reiterar a pergu nta: q uais os processos socio<.'spadais intrn -urba- nos mais significativos e importantes? Por quê? Avcmcmos algum as hiµOte!>C~. 1. Seria a versão intra-urba na do dese nvolvimento regio nal e planetáno desi- gual? Seria cnt ào a do desenvo lvime nto dcsigunl do espaço intra-urbano? Li- mitar-se-ia esse espaço à questão centro x periferia? 2. Seria uma eve ntual Lcndência das metrópo les no sent ido da descon- centração polinucleada e da formação de enormes "nuvens urbanas" , como as ide ntificadas por Gottd iener ( J985). que existiriam apenas nos Estado~ Unidos? 25 3. ' cria n rhamnda "decadência" dos cent ros pr incipai s (CBDs - Central Busincss Dist rict}? 4. Seria o ur gimento de novos ce ntro s alternativos aos CBDs? 5. Scrin o dc~loramcnto e/ou a expansão dos centros principai s antigos e a for- m.,ç no dos chanrndos "centros expa ndido s"? 6. 'eria :1 segn'g.1çào urbana? Se ria não só a seg rega ção, ma s a po sição relativa das a1c:ls seg regada s no espaço urban o, como na descrição de Manchester feit:i por Engels { l 978. 579) cm Tlie conditi on of the working class in England in IR./.f nu nos ele Burgei,s ( 1968, 47) para Ch icago ? 7. Seria o deslocamento espacial das classes soc iai s? 8. erin a verticalização? rinalmcnce, quais seriam os principais elementos da estrutura espacial intrn- urban:1 l' por que? Essas questões eleme ntar es não têm sido sis temati cam ente expostas e de- cn\'olvidas - muito menos int erpreta da s ou explicada s-, na s últimas décadas1 pelos estudiosos de origem marxista (próx ima ou remota), excetuada talvez, como ja vimos, a efêmera e questionada incursão de Caste lls no assunto, em La questíon urbnine. Portanto, os temas sob re os quais versam aquelas pergunta s permanecem aba ndonado s e elas, sem resposta. Se não há consenso, corrente organizada de pensamento nem investigação empírica siste mática sobre espaço intra-urbano, como havia, por exemplo , com a Geografia e Economia urbanas neoclássicas; se é precário o conhecimento desse espaço intra-urbano; se não há consenso so bre os processos socioespaciais incra- urbanos mais importantes, e que por isso devem se r estudados, como é possível acreditar minimamente em qualquer teoria do espaço intra -urbano? Se é limitado o material empírico e teór ico sistemat izado e elabora do sobre espaço in tra-urbano, como aceirnr, para esse espaço, processos socioespacia is, metodologia s, paradi gmas ou teorias transplantadas das análises regionais? Para finalizar, aproveitemos as obse rvaç ões acima, sobre o papel dos deslo- camentos espaciais do se r humano como especi ficador do espaço intra-urbano, para registrar que não considera m os as á reas metropolitanas regiões. Como pretende- mos mostrar nesta obra, são elas asse ntam e nt os, ou co mpartimento s territoriais estruturado s pelos deslocamentos dos seres humanos enq uanto consumidores ou portadores da merc ado ria força de trabalho; são, por isso, ci dad es - por maior e mais imponante s e globais que sejam, e por mai s que incluan-1 vários muni cípios. São um tipo particular de cidade, mas são cidades. Não são regiões. Por isso, nesta obra , só no s utilizamos da expressão área- e não região rnetropolitana. Abordagens dos espaços intra-urbano e regional O aspecto central ne s ta questão é o segui nt e: as rela ções, ou as medi ações. entre as grandes transformações socioeconôrnicas nacionais ou p1ane ttirias e, de 26 um lado , as transformações espaciais regionai s e, de outro, as intra -urbanas são as mesmas? Por quais mediações passam as relações entre, de um lado, a estruturação do espaço intra-urbano das diferentes cidades de um paí s e, de outro, as grandes transformações sociais e econômicas exper iment adas por esse país, o grupo de paí - ses ao qual este pertence e mesmo a sociedade mundi al? Nossa tese é de qu e tai s mediações passam fundamental men te pelos traços nacionais definidore s da estru- tura e do s confli to s de classe e, ainda, pe la dominação política e eco n ômica através do espaço intra-u rbano . Tais traços se manifestam na estrutura espacial intra -urba- na por meio da segregação, que passa a ser ent ão o processo ce ntral definidor dessa estrutura. Esses traços são bastante inelásticos em face de algumas transformações sociais e econô mica s nacionais e planetárias. Nossa análise do espaço intra -urbano de seis metrópole s nacionai s mostra que a lógica básica de seus espaços pouco se alterou nos últimos cem anos, por mai s que, nesse período, o capitalismo brasileiro tenha se alterado, seja nacionalmente, seja em distintas regiões do país. Claro que, se, por exemp lo, o neoliberalismo faz aumentar o desemprego e a pobreza, as áreas pobres de nossas cidades aumentarão. Essa exp lica- ção é tão verdade ira e óbvia quanto pobre. No nível intra-urbano é fundamental en- tender como essas transformações são filtradas em nossa sociedade e traduzida s em estruturação e reestruturação- e não apenas em alteração-do espaço urbano. Para mo strar a distinção entre os espaços intra-urbano e regional abordare- mo s a segui r os pensamentos de alguns not áveis analistas contemporâneos doe s- paço. Vejamos inicialmente o pensamento nacional sob re a questão , utilizando-nos do enfoq ue de alguns de nossos mais brilhantes estudiosos. Queiróz Ribeiro (s.d. ) e Queiróz Ribeiro e Corrêa do Lago (s.d., 9) vêem na pro- moção imobiliária o elemento de ligação entre, de um lado , as transformações macroeconômicas n aciona is e, de outro, a reestruturação intra-urbana . Desenvolvem importante inve st igação sobre a atividade imobiliária no Brasil urbano, assunto mui- to próximo ao espaço intra-urbano, razão pela qual são impelido s a abordá-lo. Os au- tores explicam por que os lucros de incorporação, derivando , segundo eles, de trans- formações no uso do solo, provocam transformações intra-urbanas. Procuram, então, investigar as conexões entre o recente advento e difusão da "moderna incorporação imobiliária '' e aquelas transformações. Nesse sentido, chegam inclusive a considerar essa moderna incorporação a causadora da segregação espacial. ''A dinâmica constru- tiva empresa rial concen tra- se e reno va intensamente os núcleos urbanos, elitizando e segregando essas áreas das grandes e médias cidade s, especialmente das cap itais. No Rio de Janeiro, por exemplo , estima- se que, no período 1980-1988, 73,8% dos in - vestimentos realizados pelos incorporadore s tenham se localizado nas zonas Norte , Sul e na Barra da Tijuca " (Ribeiro , 1992). Em Porto Alegre, as unidades constrnídas no centro da cidade passam de42 % do total da cidade em 1982 para 65% em 1989 (Rovatti, 1992). Números seme lhant es pod em ser enc ontrado s para São Paulo (Galena, 1992), Aracaju (Dantas , 1992), Natal (Araújo & Câmara, 1982, e Petit Mello, 1992) e Salvador (Pinho, 1992). Concl uem Ribeiro e Lago qu e " ... em todas as capi tais produziu-se o me smo mod elo de espaço urbano segregadoe diferenciado; isto é, a moderna produ - 27 imobiliária? Até que ponto - co mo pretcnd emoc; noc; - a i;egregação é um proce $SO necessário para o exercício da dominação social por mei o do ec;pac;.o urbano, de cor- rendo, portant o, <ln luta de classes em torno dac;., vnntag ens e de van tagenc; do espaço construído? Outro caso ilus trativo da s difere nças de conexão entre a!> tran c;formações eco- nômicas nacio nai s ou pl anetárias e os es paços urbano e reg ional é fornecrdo por uma anális e tip ica m ente reg ional : Ncgri e Pacheco (1994, 62) identificam três tipos de aglom eração ba seada na produ ção ílcxiv el. Prim eiran1e nt e, " ... as indú trias in- tensivas em design ou rev itali zada s pela introdu ção de co nt eúdos 'ar tesan a is' (. .. ) com dois Lipos principais de localização: ou em áreas pr óxim a da s grand es metró- poles (a exem plo de Nova forque, Par is, Londre s, etc .) ou em antigos centr os (grifo nosso] 'arte sa nais ' {como a Terce ira Itália, parte s da França , Espanha, etc ). Em 5e- gundo lugar, a indú stria de 'alta' t ec nolo gia lend e ria a se localizar em áreas selecio nada s nos subúrbio s da s grandes cidade s ou em áreas anteriorm en te n ão industrializadas (como no Sunbelt americano )". Finalm ent e (apoiando-se cm Sco tt , torper, 1990, 22/23). afirmam que" ... os se rviços produtivo s e financeiros tende- riam n localizar-se no centro [grifo no sso] das grandes cidades como ~lanhattan , a City de Lon dr es ou La Défense em Pari s". Negr i e Pacheco não anali sa m, nem pretendem anali sar, o espaço intr a -urb a- no. Deles nos utilizamos pela ó tima oportunidade que oferecem para mostrar adi- ferença entre a abordagem reg ional e a int ra-urbana . Em primeiro lugar, para a aná - lise regional , uma cidade ce ntral de uma metr ópol e, uma área metrop olitana ou um a região urb ana é um "centro ". Assim, a região ela Terceira Itália é chamada de centro . Entreta nto , os autores também cha mam a City de Londr es de cen tro. ap esar de se r uma área exígua e de natureza completam ente ruversa se comp arada com Manhattan ou co m a Terceira Itália. Por ou tro lado - e isso é parti cularment e im- portante-, pro cu rand o o centro de Paris, os se rviços produti vos e finan ce iros p ro- curari am ... La Défense, que está a 9 quilômetros do centr o de Paris. Se na s análises regionais tamanha s dif erença s en lre "centro s" não são import anLes, nas análise · intra-u rbanas essa confu são é inaceitável. lss o por s i já revela a difer ença enuc as aná lises regionai s e intra -ur bana s. Na análi se intra-urbana , não é po ssíve l englobar La Défense e a City de Londre s sob o mes mo conceito de ce nt ro. No nível incra- urban o, terí am os que stões da se guin te natur eza: por que os erviços produti vo e financeiro s aci m a mencio nados procurariam La Défcn se, e não o ce ntro tradi cion,d de Paris? Por que pro curariam a City (equivalente às rua s Qu inze de Novembro, Quitanda e Boa Vista. em São Paulo, ou m, rua s Sete de Selemb ro, Quitanda e do Carmo, no ílio ), e não uma localização suburbana eq uivalente?\ do Centro Empre- sa riaJ de São Paulo ou um "cenlro novo'' co mo La Défense? Por que. em nossa~ me- trópoles, os centro s lrndicionai s - agora num sentid o inlrn -urbano - cmram em decadência e surge m cancros novo s? Por que a alta finança é uma da s pou ca~ ati\ i- dade s a se manter nos centros velhos não só de noss ns metrópole s, mas me!,mo no~ do Primeiro Mundo , como em Wall Strcet , na City? Respos ta a essa~ ques1õe!> int ra- urbana s não se rá encontrada nem na acumulação ílexivcl, tamp ouco em qualquer outra ma cro teo ria do gêne ro. Essas macro teo rias pod em explicar por que os serv iços 29 produtivos e financeiro vão pnra Londres, Tóquio ou Nova Iorque; podem até expli- car por que a indü triade pontn vai para a Terceira lt tfün, mas não têm condi çôc!) de t!'\.plicar a localiLnçõc-s intra-urbanjs Jnquele s serv iços, nem suas impli cnçõc~. P~hscmos agora para a abordagem de c-studio sos estra ngeiros. Mnnu cl Castclls foi o único dos contemporâneo s de origem marxi sta que apre sentou uma proposta de abordagem tcorica nbiangcnte d o espnço intrn -urbano c m La questinn 11rúni11e. Entrcrnnto , ·ua propo sta não prosperou já que ele própr io abnndonou esse campo de in, ·e rigaçào sem ter deixado seg uidore s. Ap<>sar dis so, tem mantid o algum intc- rc se nas questõc . referentes ao espaço intra -urbano, embora se m a ambição de profundidade totalizante demon strada na obra citnda acima. Fazendo uso de uma contribuição recente de Cas lc lls de 1994, vamos conti- nuar a tecer com,idcrações sobre um elemento absolutamente fundamental da cs- tmturn cerritoria l intra-urbana: o centro da cidade ou da metrópole. lni cialmcnLe, con, ém deixar claro que é nece ssá rio estar atento para o fato de que, como acaba- mos de vc-r, \'ariam muito os conceitos e as realidades repres entadas pela expressão n. .. ntro ttrbano; é preciso, poi s, caute la na interpretação desse vocábulo e também na ua utilização. Ele pode designar ou os chamados centros tradicionai s (impro- pnamcnte chamados de "histó ricos"), como o CBD dos americanos; pode designar uma arca central mais ampla , como a que os urbanistas brasileiros chamam dc "cen- tro expandido"' ; pode até mesmo significar cidade central. especialmente no caso da-. cidade america nas, que freqüentemente têm área territorial pequenn , tanto em termos ahsoluto como relativos às extensões das respect ivas áreas mctropolita- nac;; finalmente, cm análises regionai s, pode significar áreas metropolita nas intei- ra!>. Referindo-se às cidades da Europa Ocidental, diz Castel ls (1994, 26): ''O centro de negocios constituj -se de uma infra-estrutura de telecom uni cações, co muni ca- ções . serviço - urbanos e espaço para escritório, baseados em inst ituições tccno- log1ca e inc;titucionais . Ele pro spera a partir do proc essa mento de informaçõe s e funçõe!> de con1role Às vezes é complementado por instalações de turismo e via- gens . l:Je é o nó do espaço de fluxos que caracteriza o espaço dominanle elas socie - dade,; informacionais'".• lnddentalmeme, é curi oso que Castells não mencione as atividades - ou instituições - cullurais como a~ específicas dos centros. Não está claro se Caslells está se referindo a um ··centro expa ndid o" ou a um ce ntro tradicional- o CBD, por exemplo !\o caso de Nova Jorque, o centro seria a ilha de Manhattan inteira ou apr - nas a pane ao !>UI do Central Park'? Note-se que ele tamb ém não incluiu as ínslitui - ções educac1onah nec:;se centro (se Livcsse incluído , e le estaria, obviamente, se refe- rindo a um ccmro expan did o), mas apenas at ividades baseadas em instituiç õc educacionai s. ~eJa como for, fica claro qu e Castells está se mpr e se referindo a um centro de uma cidade ou árt!a metropolitana . • • Jnc bu sin c , i:L"llll r I" mJd ~ up uf ,lll l11f1a, 1ruc1111t• oi tclt~co11111rn11lca1ionc;, co mmuni c,11io11!., 11rhu11 Cf'\lCCS and oUict·.spJcc b:Jr,cd uron ci:dmulogy anti cdu ca11u11::il in~1iiu1ion-. ll I hrivt~s 1h1011gh 1nlorn1,1lin11 pmc~ ... tng and co11tml !um:11on-, li 1, -.omcumr ... complC'mc111cd by touri <;rn ,mel 11avcl l,acilitie<,, lt 1 .. lht1 no<l,. of lhe pa ce of tl"\., .. rhnt chamc lcr!Lcs tJ1c domina nt 1,pacc of lnf ormuUonal sncic t lc-.". 30 Goudiencr abordnrin de outra manrir.1 · rcít•rir- ·-ia , s mC'trópol "s p(llt- nuclcadac., reconhe cendo ou nJo , que um . e ,o um. do <i rl'ntros wna n pr mnp.1I. Goudiener u ana lmsme.s ccnter.s, no plural. t• n,10 hm111e,s, e11/cr. ,\,,,m .:;cndo. d.1 duas uma: ou Cac;te ll, e Goudiener 1ealmc1Ht• tlivcrgem, ou <.'lllttO a~ c1dJdcs nortc- amencan as - que ·ão as estudadas por GolldiC'nl'í- s ,10 realmente d1forcmcs das da Luropa Ocidental - às quai,; se refere Cas tcll s. l·m qualquer l'Jso, cabem as ~c- guintes indagações tipicamen te intra-urbana s: ncs!:!C asprcto, como ~ão as cidade, brasileira~? Quais osprocessos que vêm ocorrendo cm ~eus t.:elllro..,? No no..,.,o caso, o~ grandes equipa ment os metropolitano s exemplificado s por Castelh e~tan.1m ~e.· localizando no centros tradicionais (ou encos tados a cle5). como o f'elcpono do Rio de Janeiro? Em caso afirmativo, por quê; se não, por quê? E~tariam ~e locahlan- do em centros expandido s - muito afastados dos centros trndicionab - como no s caso~ das a\enidas Luís Carlos Berrini1 ou da marginal do rio Pinheiros em São Pau- lo, ou na região do Shopping Iguatemi, em Salvador? Escariam se locnhzando fora até me mo dos cenlros expandidos. como na região do Centro Empre anal de Jo Paulo (g1gantesco complexo de escr ilórios conslruído na década de 1970 a 15 quilo- metro5 em ltnha reta do centro principal) , ou junto no Centro Admmi trau vo de Sal,ado r? Enfim, quais as transformações territoriais por que vem p~ sando o cen- tros das metrópoles brasileiras e por quê? São elas causadas pela acumul açao fll!Xl- \'el, pela realidade pós-fordista, pela globalização das economia s nacionais. ou pela nova socieda de informacional? Em qualquer caso, nossas menopolc s permane ceri- am eventualmente com um centro principal apenas, trocando o "velho" ltrad1cio- nal) por um "novo"? Finalmeme, as principai s questões, especificamente mlra -ur- banas: por que os ditos centros novos se instalam na regino em que se instalam e nao em outra qualquer? Qual a razão de sua localiznçào? Quais a!, implicaçõc~ e com;equências de sua localização? Ca~tclls discorre ainda sobre outros, processos socioespaciais imm-urhano ; 50bre a 5cgrcgação espacial das elites nas cidades da Europa Oc1dcntal, diz que, l,1, essa clas!>e não foi para o~ subúrbios - ao contnirio das amcncnnal> - e enuncia, sem desenvolver, uma hipótese, a nosso ver, correm: a que rrlnciona a locali1.,ação intra-urbana com a dominação {idém, 26):• "Nas c1da<lcs curopctéls, ao contrário das americana.,, éll> área!, re!,idenciais realmemc !>oltsticadas ccn<lem n apropriar-se da cuhura e h1~tória urbanas , localizando-~e cm áreas rcab1lnc1da.l> da cidade cen- tral. enfa11zando o falo fundamental de que, quando a donu11Jc;ao ci,ta claramen te e">tabclecida e aplicada , a elite não necessita ir para o cxího suburbano, como fi1e- ram a~ frágeis e amedrontadas elites americana !> par d escapnr cio conlrolP da popu laçao urbana (com as significativas exceções de Nova Iorque, São Franci,co e Boslon )". •• • l•111h1ir;111.,0 ,ria ttll\ ,! dominaçao ntlfw6 do espaço rul lfmo, ronm rnm luirt•mn, nc~ln oh1,1 .. ' ln l 1111,pt•,111, il•l', , urtllh· rn J\mcma, tltt> ltul y cxthhr\t' rC">ldt·n11,tl Jlt'.h 11•11d ltJ ,1pp 111p11,lll' 111b.1n 1·11lt111r· ,111J hh101 y, hy lot ,ti 111g in rt•lt11hililJll'<I ;mw , of 1lw cc111 tJI e ri>", 1•1nplu1,11111.: 1 lw h.t,1\. l,H I lhat wlwn do111111,111t,11 ,, < lt•.11 lv t '>IJhl h hcd ,111d cnío1ct·u, lhe d1w d,w, n11l nnd lfl i:u 11110 ,\ ,uh111 h,111 i·:tllt', J 11h1• Wf',Jl. ,llld h::u 1111 A1i°11•1 ic:1 11 dite.", clrcl lll ,,.,, ,tp l' Í101111lw c:umrol oi thl' 111h.111 popuL,11011 (wllh the !Jll(tllíir ,1111 <·xt ,•pt ion ... oí Nc w Yo, k., !)on I m rH. ii,cn and 1\11, ton ) • 3L Entretanto, há uma questão mais instigante - e, para nós, questionável - elaborada por Castells: a relação que se estabe lece entre a estrutura espacial intra- urbana e as macrotransfonnações socioeconôm icas. Depoi s de uma rápida exposi- ção sobre a estru tura espacial nas cidades da Europa Ocidental, afirma ele (idem, 28) que "os grandes centros metropolitanos europeus apresentam algumas varia- ções cm torno da estrutura de espaço urbano que nós res umimo s dependendo de seu pap el diferenciado na economia européia !grifo nossol. Quanto mais baixa sua posição na nova rede informaciona l, maior será a dificuldade de sua transição do estágio indu str ial e mais tradiciona l sua estrutura urbana, com os antigos e consoli· dados bairros e áreas comercia is desempenhando o pape l determinant e na dinâmi- ca da cidade. Por outro lado, quanto mais alta sua pos ição na estrutura competitiva da nova economia européia, maior o papel de seus serviços avançados no distrito de negócios e mais intensa a reestruturação do espaço urbano. Ao mesmo tempo, naquelas cidades, em que a nova sociedade européia reloca funções e pessoa s atra- vés do espaço, imigração, marginalidade e contracu lturas estarão mais destaca- damente pre se ntes, lutando pelo controle do território à n1edida que as identidades se tornam crescentemente definidas pela apropriação do espaço".• Esse trecho é rico e muito se presta à exploração e ao desenvol vimento de algumas questõe s fundamentais sobre o espaço intra-urbano. É preci so sempre ter cuidado com o conceito de "centro"; na mais generosa interpretação, essa palavra designaria uma área bem ampla, ma s certamente não seria sinônimo de "cidade central", expressão que Castells usa com freqüência. O autor estabelece aí uma clara correlação entre importância socieoeconômica (o papel diferencial na econonúa européia) e renovação física da cidade. Não ,analisa , contudo, a locali zação onde ocorre essa renovação física. Orn,, não se pode analisar transformação de estrutura intra-urbana sem analisar alterações de localizações intra-urbanas. Segundo Castells, a s cidades que ocupar e m uma posição hierárqu ica inferior na nova rede informacional manterão uma estrutura urbana mais tradicional, com as áreas residenciai s e comercia is antigas - antigas e consolidadas - desemp en hand o um pap el determinante na "dinâmica da cidade". Por outro lado, quanto mais alta sua posição na hierarquia econômica" ... maior o papel de seus serviços avançados no distr ito de negócios e mais intensa a reestruturação do espaço urbano'' . Esse raciocí- nio é incapa z de explicar, por exemplo, as transformações intra -urbana s nos cen- tros da s metrópole s. Nessas palavras não há espaço para centros velhos ou novos, nem para a "decadência" de centros nem para o deslocamento de centros. Também • " ... major Europca n mc tro politan cc ntcr s prc sc nt so me vari:uions around thc s tru cturc o( urban spaccwc hav c oullincd cfrpending 011 Ifmr diffcrcnt ia/ role i11 tlze U11ropca1t economy !grifo fl(Jsso ]. The lowcr thcir po s ition i11 th c ncw infonnalionnl nc1work , lh e ~rcal cr Lhe difficulty o f lhe ir Lran it ion from lhe lnduslri::il stag c nnd lh t: mor e 11adition al wíll bc th ei r url>an s1ruclu1c, with o ld cstah lishcd ne ighborhnod s ,rnd cormnerciaJ quarlers playing lhe dc1erminon1 rol e in lhe dinami c of lh e city. On lh e orhcr hund , rhc highcr thcir po s i1io11 in lh e compcliliv c s rru ctur c o f lh e new Europcun cconomy, Lhe grca!er lhe JOlc of thrir advanccd se rvices in lhe bu sinc ss dis tricl nnd lh e more intcn sc will bc lhe rec s trn cluring of lhe urb.111 spa cc. Al thc sam c lim e, in lho sc citics whcrc lhe ncw Europcon so cicty rclocalc s fun ctiun s and pcnplr lhroughoul rhc spacc, immigration, marginality anel counter cu ltur cs w ilJ bc lhe mo s t prc se nt. fighlin~ ovcr lhe con 11ol of the lcrrilory as idcntiUc s be cornc in crca-.ingly deílncd by lhe appropri: :11ion ofsp:ice." 32 n~o hn espnço par,,~ n·110va\·ao 011 lnrali1.11çan lll'lll d• ,lll',l~ tc'1.,1d<·rKf.1i,, 1~1m111rnt o de oulros n •nlro,; tt' t-ci.it io" qttt' n,lo o:- ti ttdkionnh n•nl, 01., p, 111< ip.ii s. 1 umb ém aqt11 é pn.•riso C'ltid:ic.lo com () conceito de CS(trlflll1l . c a.,ll'II', 11,,1 no 11\l l cll cll' l'~p .1\0 \trbano - l'S:-ia palavrn rn mo ~inünimn de <.'SJrn~·o rn lrn,m 1'.11 ,1 nm,, 1h10. r,1 ru111r.1, quando Sl' 1efc1c J l'Spa ço til bano, di z 1c•:,pcilo :1 loraliza~ \ lo rcl,1tiv,1 dns rlt'nwnr n-. r!'>paciais e ~u.\s rl'lnçoes, ou M'J, 1, do s r l'l\lt os d<.1 ,wgüt 1Ps (11Jo M) o prín dpal, 111.1s tnmb<.\m ns ckma is) d,t!-1 t\1e:1s rcl'lidcnrii1b scgrl-'gadas t', finalmc11l t\ dt1~ .irl', t t.. 111 d\l~triai s. Castclls nhorda t rnnsl'ormaçocs do cspnçn (n·11ovnç.io do 11H•io ron ..,11 u1clo) como "n•rstnll tm1(:lo" do csp:1<;0. Pode havrr rt'novn(no do l'S J'HlÇ'O o:;('m 11rc(•.:;c;aria · mente haver rccstrutura~ ·tto. Qt1nm lo, nos pri111riros vi111c :,nos dci,tc s,~culo, o qun dro imo bi lidrio do centr o de no~sns cidade~ foi tolalmc nl c renovado co m a dem olr ç5o dn colonia l e n impla nt açt\o do ncnclrí:ssico e do rd<:tismo , ru7o hut1walti'l'tlÇao 11n c>str11t11ra 11rbnna, µ ois esses cent rns nf\n prrclt•ra111 sun imp ortüncin , su:1 po:>i- çno, sua nnture za nem lorali za~'flo. No c11tnn to. houvr lt ansf<1nnn~·ün do cspttc;o 111- bnno l! intensa alividn clc im obili ária . Qunnd o, em Snlvndo r, na Vit ó rin , C.1mpo Cramll' ou Grnc;.i, as mans ões são dc>molidns e sub stilufdn s por upn, lam ento s ,Ili lu-xo, ltn allernção do espa ço cons tru ído, mns não 11.\ nllt'raçi1o dn cst ruturn urb,rna, um n \ C/ que tai s b:1irros mant êm sua nmurc 1.n, class t' socia l e lornli znçfiu c11q11onro C'lc•mt.•fl ws rln estrutura t..'spacinl 11r/)(l11n. Volte m os, contud o, no texto de Cnstc lls. Se e vnl ido rorrel:1cionnr - como r,11. Castcll s - n po sição hi crárquicn da cida de co m seu dinamismo irHobi l i6ti o, uJu é \'iílido faze, o mesmo - como 1nmbém rnz C,1::;tcll~ - rom a lornlizuçiio di1t-i ílrl'íl'í lhnflmicas em termos imobili drios. As.sim, n alta llicrnrqui 11 e o di, wmis mo cconô- mic o- irnobifüírio nno imp licnrn ncccssn rinmc nt e que o cc 11t1 o ttt bnno SL' renovnr.i . l:m París, por exemplo, esse dinami smo imobi li ,ír io íoi cnnnlin 1do parn fom do t:t'n- tro - n:-i Oélcnsc . f<cssaltc- sc q11r CnstPlls l nla t·m "di st rilo de tll'gório~", 0 11 sejn, centro num ~C'nlit.lo rest ri lo. E~sa análbc é va lida para o Brasil? 11,lvt•rin cntn~ rnís alguma r<-'laçt-1c1 t'nll e ,, posi(àO hicrMquicn dn cidade na "novu redl' i11íor111,1do11nl" l>rasilcit, 1 e sua l\stu1- lu ração inte rna ? Qua l a rclaçao enl rc ,1s lr ,111sfo111rn~·úc·s ú l' UJ ricl,1s 110~ rt• nl w s de no ssas c ldmJes - trndicionai s 011 PÃJHLntlidos - e n dt'St•nvDlvinwnlo L' 1111lucrw1.1 dessas me sma s Lidaclcs, seja no 11fvcl regional, do Mcr co~itl ou i11tt'lll,\l ' ln11,llml ' ll tt'? Qu.1I n wla~·ão entre a po~i~·:ío '1iNárq11ica, <Ht qu.llquN 0 111rn tcln~\ lt) l'Olll .1s 11 nnsfo mrn çõc 4, ~ociocc:o nü111 icus plnnc1 ,li lns e ,l rnn11t1lt'n~·.w dt• u111,1 "t•st I ut 111.1 Lradicio nal " de um Indo e unrn 11rnío1 intensidade na l l.\l'~I ru i u r.i~·.in cio ~SJH1~·0 intr.i - urbnnu , de outro , co 1110 lata Ca~tclls? lh.!1w1i11do nos ~i\ qtH'..,l,ll) u•1111~t1: pu, q11.11~ mediaçõe~ pa ssa m n~ t rnn slo rn1a~õc-, srwinL't·o1w111ic<1s 11adon,11s uu pl,uwt,h ia~ até se mani festarem c m t1nnsforn1a'.-6t•s 11.111s tn1T111,111111.1 u1 l'l.111.1 dP 110~, n!> Lid,1 dcs? Pnra nó s, passJm pc l.ic, suns cs 11,1tilita~·oc:-. ...udt11s, 1wlo tfl'~nivc.'I de podt•r econômico e políti co cnl rt• 111, cl,\s•H!s cm JH):;.sa ., lll l' l I o pu les; pa-,-,.1111 pel,1 domi nação que se chl po 1 meio do l':,pnçu url>.111t1 Míl1tilr..,ln111 Sl' l,tll ih, 110 lntn de il maior i.i c.l,ts classes cJc mnis .ilLa 1cnd.i m·up .11 pn-;it;oe:- cc 1111nb, npn,a , de J,l ter· se inicíndo , n n d écada de .1970, um proces:·W dt.: subu rha111z 11ÇHD dc s ns cla ~!>L's; 1w foto de os ce ntro s de nossas grandes cidades ap resen tarem h á mai s de cem anos - cm maior ou menor grau - um claro e cont ínu o proce sso de deslocamento no mesmo sentido que as camadas res idenc iais de ma is alta renda; e no fato de essas cama da s apresentarem - também há mui tas décadas - uma tendência de concentração em uma única região de n ossas metrópo les. Como entender tais processos? I\1artha Schteigart e Horacio Torres, em texto an tigo - Estructura inlernay centralidad en metropolis latinoamericanas. Estudio de casos, in: Castells, s.d., 253 -, propõem-se a" ... destacar as características d iferenc iais da estrutura jntcrna das metrópoles latino-americanas com relação às moda lid ad es específicas que ad- quirem os processos gerais de deserwolvimenlo da sociedade [gr ifo n os so ] nesta área. São exploradas so bretudo as inter-re lações existentes entre esses p roces sos gerais e os processos urbano s, enfatizando a caracter ização dos ce n tros cujo pape l e con- teudo social const ituem e lementos para a defin ição da estrut u ra urbana''. * Em face disso, estuda m Buenos Aires, Santiago de Chil e e Lin 1a. O prime iro equívoco está em admitir-se a priori a existência de um a corre lação d ireta entre as etapas do proces so de estruturação intra-u rba n a d essas ci d a d es e as etapas dos proce ssos globais de desenvolvimento - do processo de in du stria lização, crescimenlo eco- nômico, imigração européia, etc. - dos respectivos países. Isso se manife sta no fato de ado tarem, para a história do espaço intra- u rbano , a n1esma periodiza ção e as mesmas etapas que adotam para o desenvo lvimento n ac io n al. Tem-se aqui um exemplo da indevida transposição, pa ra a aná lise in tra-urba n a, de premi ssas e métodos válidos para o estudo do desenvolvime n to nacional. A p remjs sa ser ia vá- lida se, na melhor das hipóteses, o objeto de an álise fosse o p roces so de urbani za- ção, mas não outro diferente- o de estruturação intra- urba na. Pelo menos para o Brasil, essa premissa não se ria válida e temos fundadas razões para suspeitar que o mesmo se daria para a América Latina. As relações que ex istem ent re, de um lado, as transformações so cioeconômicas naciona is e p lanetárias e, de outro, a estruturação do es paço intra-urbano em nossas me trópoles são específicas; não são as mesmas que existe m entre aque le desenvo lvimen to e o es paço regional ou nacional. Além disso, as periodizações podem dife r ir. Po r exemp lo: mostrar emos adiante que uma das mai s profundas tra nsfo rmaçõe s es truturais de no ssas metró- polec; - a chamada "decadência" de seus ce ntro s - está ligada ao abandono des- ses cemros pela5 camadas de alta renda e que esse abando n o foi pro voc ado prin- cipalmente (mas não exclusivamente) pela nova m obil idade territoria l propi ciada pela difu são do automóve l. Essa difusão e a dita ''decadência'' têm então início, exceto no Rio de Jan eiro, na década de 1960, ma s realmente se conso lidam na de 1970. Desse ponto de vi5ta, os anos 70 ser iam o ma rco a se r adotado cm uma • • .. pnncr de manií1c)IO l.15 ca1actcríc.t1cas difc1cncrnlc s de lo cs 1rnc l11r.:ic16n interna ele mctrópoli~ l.111noamcm:anas cn rel:1ci6n con las modalidodc!> cspe cílicns que- adq uir em los fJrOct's~os gc1lí'mh·11/t' dcioirolfo d,• ln ~o, tcdrul lg11fo no-;soj en C!>ta área. ·e cxp lnt :lll sobre todo l:1s i11tcrrc!Jci0Hci. c~b,cnlt', entre es01-procc-.c;o-; ~cncrJl~ y los proccs'-OS ur banos, ponicnc.lo c l ~1cienw c n la car,:ic1c1izacion de lo~ centro•,. cuyo papel y conten1do soc ial conc;tituycn elemento s p.ira l.i rJcfinición de la c~lructma u1bílna • 34 periodização da hi stó ria intra-urbana da m aior parte da s metrópole s e me smo das cidades médias do Bra sil. No en tan to , em ter m os de de senvol vimento nacio- nal, o marco notável deveria se r o período de adm ini s tração de Ju sc clino Kub itscheck , de 1955 a 1960, em vi rtude do impul so econômico e da s tran s for- mações que provocou no país , dentre as quai s se de s taca a implantação da in- dústria automobilís tica. Volta nd o à análise do texto de Schteigart e Torres, desta camo s que, com ba se na co rre lação direta ent re o de senvo lvimento naciona l e a es truturação intra-ur- bana, não é possível ir - co m o não foi possível ao s au tores- nlém de obviedade s como esta: "A essa épo ca de grande expa nsão econô mi ca, corre sponde a con stru - ção de grandes edifí cios públicos e privados, a abertura de eixo s e avenidas. Essas obras, que configurara m basicamente a estrutura espacial do centro metropolita- no, são clara exp ressão de um poder ol igár qui co que se afi rm a, se moderniza e se 'europeiza'"(258 )*. Não va mo s tratar das co nsiderações tecidas pelos autore s, de que tais obras segu iram m ode los urbanísticos importados da França , uma vez que isso também se refere ao espaço intra-urbano, mas não diz respeito à es trutura intra-urbana. O que cabe destacar é que se ignora (certamente por não ter sido con siderado relevante ) em que parte do centro das cidades foram feita s aquela s obra s, e por que foram feitas nessa parte e não em outra qualquer. Ao anali sarmo s os centros de nossas metrópoles, destacare mo s qu e o est ud o da estrutura intra- urbana não será satisfató rio se não der conta das localiza ções dos elementos da estrutura nem das correlações ent re eles e outros elementos e/ ou parte s da me- trópole. Veremo s então, para nossas metrópoles, que o próprio centro tem sua es - trut ur a e está ela ligada à da metr ópole com o um todo. Para isso é fundamental saber em que partes do centro são feitos os melhoram ent os, ou seja , qual é a loca- lização dos melhorame nto s. Ao estudo da estrutura urbana interessa saber por que esses bairro s e centros exibem cer to arranjo territ o rial. e não ou t ro qualquer, e qua l a inter -relação es pacial entr e esses bairros e centro s, ou quais são seu s pa- péis espaciais. Por outro lado, as etapas do processo de estruturação es pacial da s cidades de um país devem derivar da análise desse processo e não, nece ssa ria- mente, da s etapa s do de senvolvimento eco nôm ico naciona l ou do processo na- cional de urbanização. É óbvio que o desenvolvimento da infra-estrutura regional de transporte s está ligado ao perfil e ao desenvolv im en to da eco nomi a nacional. ma s por esse ca min ho explic aríamo s a urbanização e não a estru tura ção intra- urbana . Para expli ca r essa est rutura , ledam que ser estudados o sistema viár io e os transporte s urbanos. Por exemp lo: os autores afirmam que , apesar" ... do cres- cimento assinala do, a es trutur a básica da metrópole. fixada na primeira etapa , não se alterou em seus aspectos f undamen tais lgrifo no sso!. Mantêm -se os três setore s principai s definido s por eixos circulató rio s, acen tu ando -se a suburbaniza ção nos • ''J\ esta época de ~randc expnn sión econ ómica, corrc sponrl c la con stm cción de important es cdif1cios públi cos y privad os, la ap crlllrn de cjc'> y ,l\'c.-nid.1s.. Estas ob1as, qu e han con fi~urndo bas icam ente la cstru ctu rn cspncial dei cent ro mct1opolitan o son clair.:i cxprc ssión de um poder olig.írqu lco qu e se ofirmn, se m oclC'rni zn e se 'é11ro peíza'." 35 ·etoresnoroe te e oeste, ao contrário da primeira etapa na qual havia sido maior a rorre:ipondcmc no setor sul'' (261)." Da primeira para a segunda etapa, a estru lura básica da metrópol e não se alterou cm seus aspeclos fundamentais. Pergunta-se: por que mo tivo então perten- cem a etapa diferentes? Por que existem duas etapas? Fica claro que as etapas fo. ram dC'finidíls por critérios que não dizem respeito à eslr utura intra-urbana. Por que c1 suburbanização se acentuou nos setores noroe ste e oe ste e não em outros sctore quaisquer? Por que se acentuou segundo setores e não segundo círculoscon- ccntrico ? Qual a relação entre tais configurações e os demais elementos da estrutu- ra urbana - centro, por exemplo? Uma coisa é explicar o surg imento das classes sociai ·; outra é explicar sua localização e seus efeitos espaciais. Em Buenos Aires, o • ... gmn desarrollo de la classe media dá un peso predominante a estas grupos en la metropoli a partir de la Primera Guerra Mundial( ... ). Sua localização abarca um amplo leque que rodeia o centro e que estrutura o conjunto de bairros característicos de Buenos Aires. Esse tipo de configuração dilui as diferenças externas entre setores do espaço urbano, impedindo, dessa maneira, que o centro seja afogado por áreas de- terioradas. Os cortiços que subsistem no bairro sul ( ... ) não const ituem na realida- de, geograficamente, um anel de deterioração ao redor do centro, mas sim um 'bolsão"' t259). º Não basta constatar essas configurações espaciais. É necessário explicá-las e anicular a explicação com as transformações dos demais elementos da estrutura urbana. Ou seja: explicação das transformações de um elemento deve explicar tam- bém as transfomrnções dos demais elementos da estrutura. Ao estudo da estrutma intra-urbana é irrelevante como surge a classe média e qual a origem nacional de seu ~eso'', isto é, poder político. lnteressa saber por que ela se locaJiza onde se localiza e quais as implicações disso. Não se trata apenas de partir do social para explicar o es- paço, mas, ao contrário, é importante também partir do espaço para explicar o social. Por exemplo: dado que a classe média apresenta determinada localização, pergunta- se: por quê? Essa localização é fruto de seu "peso" (poder político)? Como o poder político se manifesta na localização das classes sociais e qual o efeito (se é que há algum; deve haver) dessa configuração espacial na reprodução de tais classes e do seu poder político? Qual o efeito (se é que há algum; deve haver) de uma determinada configuração espacial sobre as relações entre o Estado (especialmente no nível local) e as classes sociais? Finalmente·a questão vital do centro urbano, num aspecto que será amplamente abordado para as metrópoles brasileiras, pois consiste num elemento •· ... dei crci,cimiento sciialado, la eslructura básica de la mctrópoli, fijada en la primcra etapa, 110 se ha alterado t11 sus aspectos fr111dame11talcs !grifo nosso!. Se mantienen los tres sectores principales definidos por ejes circulatorios accntuándose la suburban izació n en los sectores noroeste y oeste, a diferencia dr la primcro etapa en la qual habia sido m:1yor la corrcspondicnte al sector sur." " Ellos se localizan abarcando un amplio abanico que rodca el ce nl ro y que es tructura cl conjunto de barrioscaractcristicos de 13uenosAires. Este tipo de configuración dilue las diferencias externas entre sectori-s dei espacio urbano impidiendo de esta manera cl ahogo dei cen lro por arcas de deterioro . Los 'conventillos' qul! subsisten en el barrío sur ( ... ) no constituycn cn realidad, geograficamente, un anillo de deterioro alderndor dei centro sino más bien un 'bolson'." 36 fundamental da estrutura intra- urb ana . De acordo com Schte igart e Torres (262), "a forte inércia do centro tradiciona l e a existê ncia de um a gran de classe média que permane ceu em zonas centra is incidiram fortemente na vitalidade atual do cen tro de Bueno s Aires como nú cleo comercial, cultu ral e de expansão para amplos seto res da população. A renovação espontâ nea foi, quase permanentemente, exibindo muito poucas mo stras de deterioração e obsoletismo ( ... )".* Nesse trecho dá-se como explicação exatamente aquilo que preci sa ser expli- cado. Qual a causa da "forte inércia" do centro de Buenos Aires? Está fundame n tal- ment e na grande classe média da cidade ou também na localização dessa classe e nos menores desníveis de classe - se comparados com outras metrópoles latino-ameri- canas - que caracterizam a sociedade argentina? Por que essa "grande classe média" permaneceu nas zonas centrais, em um anel em torno do centro - os círcu los con- cênt ricos - e não se formou e des locou segundo um setor como a pequena classe média brasileira? Qual a relação entre taman ho de classe e espacialidade de classe? Edward W. Soja afirma que (1980, 207) "a cidade industrial capita lista foi funda - mentalmente uma máquina de produç ão e, como tal, assumiu uma estrutura espacial notav elmente uniform e- aquela descr ita de maneira tão perspicaz por Engels, para Manchester, e mais tarde pelos ecologistas urbano s par a a maioria do mu ndo capita- lista''.3 Se, de um lado, fica claro que Soja fala da estrutura do espa ço intra-urbano , por ou tro, ele não esclarece - e acreditamos que nem ele, nem ninguém, tenha jamais estudado essa que stão - a relação entre uma estru tura "not avelmente uniforme' ' e a natureza industrial e capitalistadas cidades a que se refere o autor. Lipietz e Laborgne (L988, 26) em artigo deno min ado "O pós-fo rdismo e seu espaço", no qual abordam o pós -fordismo e qua se nada o espaço - que surge de repente, em não mais de meia dúzia de frases, no final do artigo - e conclu em com a apresentação de algumas características do espaço pós-fo rdista . Tais caracte ríst i- cas referem-se a espaços urbano s abstrato s, já que são apenas inferidas de suas con- sideraçõe s teóricas, ou seja, são hip óteses de prováveis desdobra mento s espac iais. "As conseqüências espaciai s parecem ser [grifo nosso]: a via neotaylorista está as- sociada a uma desintegração territorial e condu z a um a polarização espacial e de ser- viços as empresas de alto nível no centro [grifo nosso] das grandes cidades e também leva à dispersão, em zonas rurai s, de esta belecime nto s especializados ou à formação de áreas produtivas especializadas e baixos salários; a via californiana estaria associa- da a uma integração territorial mais estreita( ... )" e, finalmente, a via saturniana indu- ziria '' ... à formação de áreas-sistemas territoria lmente integradas". A isso se limitrun as conclu sões espacia is dos autores; cons istem, pois, em hipóteses. Uma das conclusões é surpreendent e e interessa -nos particularmente. Se- gundo os autores, a via neotaylori sta levaria a um a conc en traç ão das empresas de "alto nível" no centro das grandes cidades. Nenhum estudo sobre o espaço intra- •" ... la fucrtc inerc ia de! cen tro tradicional y la cx.islcncia de una gran classe media que ha perman ecido cn zonas ccntrnlcs han incidido íuerlcmenlc en la vita lidad acllla l dcl centro de 13ue nos Aires co mo núcl eo come rcial. cultural ydc csparcim icnto para ampli as sectores de la pob lación. L1 renovación cxpontánca há sido casi per manen te, cxibiendo mui po cas mu es tras de deter ioro y obsolcsccncia ( ... )." 37 -- urbano e ·obre a logirn de ua prod ução, e muit o mcno, sob re ns relnçõe~ entre espaço intra-urbano e modelo de desenvolvimento, foi desc n\'ol\' ido e, srm maio. res explicações, tiram da análise do modelo de dcscnvo lvirn ent o - ~vt"ntunlmcnte aceitável para a compreen ão do e ·paço regional ou p lnn ctnrio - umn roncl11~:io de natureza estritamente intra- urbnn a: a de qu e n locn liznção dns t-mprcsns de alto ní,·el dar-se-ia no centro das grandes cidades. Nadn, ab olut nmc nt c nadn, das anaJi. ses elaboradas auto riza ta l co nclusão. r-\utori zar inm , i~to s im , a co nclus:ll> de que aquelas empresas se localiza rimn "nas grnnd es cida d cs ··.1 Gottd iener (1985, 58)-para cita r um aut o r qu e se nprox im n da análise intrn. urbana- não e mu ito claro so br e a qu es tão da s re lações e nt re a es trulu rnçào intra. urbana e as gran des t ransfo rma ções soc iocco nô mi cas. Afirm a de um Indo" ... que ocorreram imp orta nt es tran sforma çõ es no pa dr ão es pacial r nn rccs tn t!ura,·ão, porque elas são fun ção de tra ns formaçõe s no s is te ma so cial mai s nmplo, e não por que seja m produto s de proc ess os interno s às pr ópri as loc alid ades" . !\ essa \1- são opõe outra . a qu e chama d e ''conv e ncional'' e, pa ra desc revê- ln. citn Rober1 Park, da Escola de Chicago: "A cidad e é uma unidad e ext ern a m en te orgnniz:ida num espaço produ zido por suas pr ópria s le is'' (idem, ibid .). Po r outro Indo, reco- nhece a exis tência de vário s proces sos int erati vos important es qu e também ntu- am de ntro do ambi ent e urbano e que apr ese ntam ori ge m puram e nte locnl. "Esses processos, entret anto , são produz idos por n ecess id a de s qu e pouco têm que Vt.'r com os luga res enquanto tais e sfio mai s afetado s p elos pro cessos s istémicos ope- rando em toda a part e, is to é, tanto em ambien tes n1rai s e suburb a nos como em amb iente s urbanos " (idem , ibid. ). As conclu sões de Laborgne e Lipietz refer en tes à loca líznção das empresas de alto nível no centro das grande s cidades devem vnler para as metr ópoles norte-nnw- ricanas, pois abordam o espaço pós-fordista . Ora , em princípio , deve mos nccitrtr a constatação de Mark Gottdiener (1985 , 1990 ) de que as regiõe s 1netrop olitnnas nor- te-ameri cana s contempor âneas são hoje po linucl eada s . Trata -se de uma posição de difícil conte stação, pois constitui uma simp les observa ção e mpíri ca, e não uma teo- ria. Nesse caso, as"empresas de alto nível" daquelas m e trópol es p oderiam, cm prin- cípio, localizar-se em qualquer dos seus vário s núcleos (ou ce ntro s). não neccssmi· amente no centro, como concl uem Laborgn e e Lipiet z. s Mes mo em Süo Paulo que, afinal, não é tão polinucleada con10 uma metr ópol e nort e- am erica na, as empresas poderiam localizar-se na avenida Paulista, na aven ida Luís Carlo s 13errini ou no Ccn· tro Empre sarial, a 17 quilômetros da primeira e a 20 quilómetro s do cent ro da cida- de, negando assim aquelas conclusõ es. Prossigamos analisando Gottdiener. Em prim eiro lu gar, é bom recordnt que esse autor se propõe a explicar única e exclu s ivam e nt e a formn polinu clc•:1dn e dis· per sa da metrópole norte-americana , que não encontra s itnilnr nem mesmo" ... nn Europa indu strial izada" (1985, 9). Em segu nd o, fez uso deu mn m etodolo gia indutiva. qu e parte de regul àridades empiri ca m ente observáv e is, pro curand o, a partir dai, construir uma teoria. O autor em questão (1990, 59) não vê d e qu e mnn cirn ns iro· rias que vinculam " ... a reorganização do capital. na s atuai s co ndi çõ es de crise, às 38 mudanças soci oespaciai s que reestruturam o ambiente urbano(. .. )" possam expli- car as mudanças ocorridas nas regiões metropolitanas dos Estados Unido s, caracte- rizadas fundamentalmente por um processo ao qual ele cham a de "desconcen tração" e pelo desenvolvimento de enormes regiões urbanas polinucleadas e esparsas. Em contraposição, tenta apresentar um "arcabouço teórico" para subst ituir o que embasa aquelas teorias e propõ e a tese de que, embora reconhecendo que as mudanças provocadas pela crise cumprem um papel importante na produção do espaço urba- no, a desconcentração espacial é" ... conseqüência da articulação contingent e de seis fatores independentes( ... )" (1990, 61/62), cujas origens remontam a várias dé- cadas. São eles: • racismo; • os gastos militares e a permanente economia de guerra; • o setor imobiliário como circuito secu nd ário do capital; • a intervenção ativa do Estado na transferência global do valor; • o papel da tecnologia e do conhecimento na transformação das forças de produção; • a prática de fazer das fontes de mão-de-obra critério para as decisões sob re localização. Com relação ao racismo o primeiro fator acima, diz Gottdiener que no s anos 50 e 60 muitas" ... cidades não só experimentaram uma onda de imigração de popu- lação negra, como também um rápido influxo de hispânicos de Porto Rico e do Mé- xico . Durante esse mesmo período, a fuga dos brancos para os subúrbios virtual- mente esvaziou as cidades de famílias de classe média com filhos. Em conseqüência, já pelos anos 60, as áreas urbanas dos Estados Unidos estavam marcadas por divi- sões e prob lemas raciais, com urna entrada iníqua de recursos em detrimento dos bairros das minorias étnicas e raciais . Na Europa nunca houve nada que pudesse ser comparado aos motins ocorridos em guetos no s Estados Unidos durante os anos 60 e que chama ran1 a atenção do mundo para essa forma de segregação" (idem, ibid). Idêntica colocação já havia sido feita em obra anterior, quando o autor tentou des- vendar a causa da sub urbanização. Declarou ele, então , que os gastos militares tive- ram um profundo efeito sobre o espaço," ... como no caso da construção do sistema interestadual de auto-estradas ligado à defesa. A pesquisa e a produção ligadas a interesses militares canalizaram eno rm es gastos estatais para áreas suburbanas, em detrimento do desenvolvimento da cidade central, ajudando assim a alimentar a virada demográficada cidade para os subúrbio s nos anos 50 e 60" (1985, 212) . Se- gundo o autor, isso ocorreu, em parte, pela necessidade de levar os estabelecimen- tos militares para longe dos grandes centros de população. Nas décadas de 1950 e 1960, relata Gottdiener, ocorreram dois importantes processos espaciais intra-urbanos nos Estados Unidos, marcando ou ace ntuando a segregação racial: o influxo de negros e hispânicos, que vieran1 ocupar as áreas mais centrais das metrópoles, e a fuga da classe média branca, com filhos, para os subúr- bios. Esse é precisamente o processo socioespacial intra-urbano que precisa ser expli- 39 cado. O autor pane exatamente daquilo que preci sa se r explicado . Por que os po- bres ocupara m o cen tro e a classe média branca com filho s produziu os subúrbi- os? Por que não ocorreu o contrário? e Gortdicner não explica isso nem se propõe a explicar. Ern vez disso, admite esse proce sso co mo "dado'' e a partir daf passa a analisar a "en trada iníqua de recursos em detrimento dos bairros de minorias ét- nica e raciais". Em nossas metrópoles , por exen1plo, deu-se o oposto: nas décadas de 1950 e 1960 os pobre s continuaram a nutrir os subúrbio s subequipados, e a classe média ocupou as vizinhanças do centro. Por quê? No caso brasileiro, a questão espacial intra-urbana ser ia explicar po r que ocorreu o oposto. No Brasil, a "entrada iníqua de recursos·· privilegiou as áreas mais centrais. Da mesma forma, Goudiener não exp lica: 1. por que a vangua rda espacia l urbana produzida pela classe média norte -ame- ricana nos anos 50 e 60 assumiu a forma de subúrbios com casas unifamiliares. Essa classe poderia morar em bairros mais centrais como as classes média e média alta brasileiras. Poderia morar nos subúrbios e ocupar apartamentos na Barra da Tijuca, por exemplo . 2. por que os pobres americanos moram no centro. Poderiam morar nos subúr- bios, como fazem os pobres brasileiros. Vejamos como Gottd iener aborda essas questões (1985, 92 e 242). Depois de ressaltar que a " ... construção e venda de residências unifamiUares ( ... ) representa uma atividade econômica vital nos Estados Unidos", ele afirma que a "localização de tais mercadoria s [as casas] ocorre maciçamente nas áreas suburbanas de nossas regiões n1etropolitanas". Ora, se "dado" for utilizado como ponto de partida, então toda transformação econôm ica que leva a uma ativação do capital financeiro no financiamento da casa própria leva necessariamente a casa unifamiliar suburbana e, po rtanto, à forma metropolitana d is.persa. Da mesma forma, toda ação estatal no sentido de uma política habitacional que favorece a classe média é uma ação estatal que promove os subúrbios esparsos. "A suburbanização da casa própria é quase ex- clusivamente uma conseqüência da ativa intervenção do Estado", diz Gottdiener (1985, 243). Em seguida declara: 11Tem sido freqüentemente repetido pelos analistas convencionais que o desenvolvimento suburbano ocorreu em virtude de uma de- manda in saciáve l que os americanos têm pela casa unifamiliar". Gottdiener assim contesta essa afirmação: "No entanto, esse enorme crescin1e nto certamente não te- ria ocorrido depois da Segunda Guerra Mundial se não fosse a variedade de subsídi- os governamentais orientados para apoiar a oferta dessa forma particular de mora- dia". Em nenhum mom ento Gottdiener se propõe a explicar por que os sub s(d ios estatais produzem necessariamente uma determinada forma de moradia, e não outra. No Brasil, o proces so foi inverso. Os subsídios governamentais através do Banco Nacional da Habitação (BNH) foram responsáveis por uma forma de moradia total - mente diferente: o apartamento cm bairros mais centrais e os grande conjuntos habitacionais suburb anos, também de apartamentos. 40 A conclusão é que nem a ação do Estado - os finan cinme nto s que sus tentam uma política habitacional- nem os intere sses do cap ital financeiro explicam n for- ma da moradia ou sua locali zação, ou seja, não explicam a metrópole americana disper sa tampouco a bra sileira compa cta - se comparnda à ameri cana . O mesmo equívoco que Gottdiener co mete com relação aos subtírbios mani - festa- se em suas análi ses do s centros das metrópoles. "Mais significat iva é a po sição que defendo ,, - diz ele - de que "a articulação entre a interv enção cio Estado e o circuito secundário do capital constitui a linha de frenle da s tran sformaç ões socioespa ciais, embora não seja a única causa. Assim, por exemplo, se o s is tema mundial se consolida em torno da localização do capilal finan ceiro nos centro s prin - cipais ["downtown section s" no original] de Nova Iorque ou Los Angeles, ent ão in- centivos po líticos e imobiliário s pavimentaiam o caminho para esse aspecto parti - cula r da reestruturação espacial (1985, 236) ." Mais adiante (265). em sua constante e convincente crítica ~ts teoria s espaciai s urbanas convencionais, esse autor sintetiza muito bem sua crítica ao fetichismo do espaço: "Segundo nosso ponto de vista, uma ciência das formas do espaço de assen- tamento precisa basear-se num conhecimento da articulação entre organização soci- al e espaço. Por si só, os lugares e as formas nada fazem e nada produzem- somente as pessoas, dentro de redes de organização social, têm esse poder''. Nada poderia ser mais correto. Isso é pouco, porém. É preciso reconhecer que as articulações entre a organização social e o espaço devem ser buscadas em níveis diferentes, conforme se trate do espaço regional ou do intra-urbano ; Gottdiener chama de "vinculações hori- zontais" às de nível intra-urbano; por exemplo a dominação que, em maior ou menor escala, o centro urbano exerce sobre o restante da cidade ou metrópole. Às articula- ções do espaço urbano com a econom ia, a política e a cultura manifestadas em escala nacional, chama de "vinculação vertical". Assim, logo a seguir (266), afirma: ºCerta- mente, centros comerciais fora dos centros velhos ["older CBDs" no original] são auto- suficientes como escoadouros de mercado , mas tal pensamento. limitado às articula- ções horizontais, ignora as importantes articulações verticais de cada lugar aos sistemas hierárquicos da organização capitalista global" . Esse autor, criticando o que chama de "conventiona1 urban ecology", muito corretamente se recusa a encarar o efeito dos transportes sobre o espaço urbano como um determinismo tecnológico, ou seja, como uma força dotada de urna auto- nomia tal que a tome incontrolável pela sociedade (1985, 74). Para evitar esse risco , é necessário articular os transportes urbano s com os interesses da produção e de classe, analisando, por exemplo, a relação transporte público x privado e a difusão do automóvel mais em certas classes do que em outras. Tem-se aíum "gancho" para articu lar o desenvolv imento econômico nacional e o espaço intra-urbano. A articu- lação, entretanto, é tão verdade ira quanto remota, e há mediações a considerar. Incidenta lmente, um registro suscitado por Gottdiener (1985). Se esse autor pretende desenvolver um arcabouço teórico que explique as metrópoles poli- nucleadas (veja a nota 5), que, segundo ele, existem apenas nos Estados Unidos , e se Caste lls (1994) pretende teo rizar acerca apenas das metrópoles da Europa Oci- 41 dental , cabe a nós, brasileiro s. procurar teorizar sobre as nossas e, extensivamente, sobre as latino-americanas. A partir do pensan1ento produzido no hemi sfé rio norte - pelo menos tal como manifestado por esses dois brilhantes representante s-, é válido concluir que suas teorias não se aplicam às metrópo]es lati no -a mericana s. Suas posições soam como um forte indício de que a estruturação espacial intra- urbana de nossas metrópoles teria determinações diferentes das do Primeiro Mundo. A abordagem de Harvey mostra como o enfo qu e regional convencional é inadequado à análise intra-urbana e, ao fazê-lo, reve la un1a pista precio sa para a sua especificidade. A investigação da produção deconfigurações espaciais que esse autor faz em The limits to capital basei.a-se na movimentação espacia l do capital. "O capital pode mover-se como mercadoria, co 1no dinheiro ou como um proce sso de trabalho empregando cap ital constante e variáve l de diferente s 'tempos de ro- tação' "(l 982,376)."' Ora, se nesse contexto , Harvey estuda a urbanização enquanto um processo de produção e estr utura ção do espaço regional, é razoável, partindo dessas considerações, admitir a possibilidade de não ser esse o enfoque adequado para a análise da estruturação do espaço intra-urbano. O próprio Harvey , logo a seguir, não só confirma essa suspe ita como tan1bém fo rn ece a pista para a solução da questão. Depois de afirmar que o cap ita] pod e mover-se seg und o diferentes formas, prossegue ele: "Mais ainda, a relação entre a mobili.dade do capital variá- vel e aquela dos próprios trabalhadores ("labo ur ers themselves") introdu z uma outra dimensão na luta de classes, enquanto os problemas que se vinculam à cir- culação do capital no ambiente const ru ído [itálicos no original] também clamam por especia l atenção". Ao analisar o processo de urbanização, por consegu in te os espaços regionais e planetário (eventualmente do Primeiro Mundo , apenas), Harvey aborda somente a circulação do capita l e de mercadorias; os deslocamentos da mercadoria força de trabalho são claramente focalizados no nível regional ou planetário. Quando fala em transportes, refere-se sempre ao transporte de mercadorias, ou de capital em suas várias formas, mas nunca ao transporte intra-urbano de passageiros. DeLxa en- tão uma pista que nos leva à hipótese de que, se desejamos estudar o processo de estruturação intra-urbana, deve abordar-se não a circulação do capital no ambiente construído, sob qualquer uma de suas formas, mas a circulação dos seres humanos ; não enquanto capital, mas como consumidores e - talvez - portadores da merca- doria força de trabalho. Não é o processo de produção e sim o de consumo que mais interessa ao espaço intra-urbano. Não é a circulação da mercadoria e sim a do con- sumido r - dos "trabalhadore s propriamente". Diz ele : "A capacidade de movimen- tar bens (to move goods arround) define a mobilidade do ca pital sob a forma de mercadoria" [ grifo nosso, 1982,376].** Para o espaço intra -urbano a questão é mo- ver peoplearound, não goods; em grande parte dos movimentos de pessoas no espa· • ''Capital can move as commodities, as money o r as a labour process employing co nstant and variablc capital of differcnt 1urnovcr lime s." •• "The ability lo move goods arround deflncs lhe mobility of capital in commocUty form !grifo nosso: 1982, 3761," 42 ço urbano, estas não se movem enquanto capital-variável- nem enquanto mer- cadoria-força de trabalho-, mas enquanto consumidores. Os movimentos entre a casa e a escola, as compras, o médico, o lazer: mesmo em seu movimento casa- trabalho, é questionável que o trabalhador se mova enquanto capital, ou seja, que o transporte intra-urbano de passageiros seja inserido na esfera da produção. Note-se que Marx (s.d., 1.2, v. 3, 155), ao inserir o transporte na esfera da produção, estava considerando o transporte de mercadorias; não estava em absoluto pensando no transporte do trabalhador entre sua casa e a fábrica, pois esse aspecto ele não estu- dou. A nosso ver, esse deslocamento se insere na esfera do consumo, não na da pro- dução. Analisa Harvey: l. As relações de transporte e a mobilidade elo capital enquanto mercadoria. Uma anáUse que aborda apenas o espaço regional; em nenhum momento o trans- porte de consumidores e de "trabalhadores propriamente" é enfocado. 2. A mobilidade do capital variável e da.força de trabalho. Em toda essa análise, a mobilidade do capital variável e da força de trabalho é encarada no espaço regional, nacional ou planetário, onde, mesmo em sua mobilidade espacial, o trabalhador é "um objeto essencialmente dominado pelo capital" (380). No âmbito intra-urbano, as condições segundo as quais o trabalhador é "um objeto essencialmente dominado pelo capital" e, como tal, "nada mais que capital variável" são diferentes do nível regional, nacional ou planetário. O transporte ur- bano de passageiros não tem recebido da economia política a mesma atenção que tem sido dispensada ao transporte regional de carga. É importante atender a um alerta do próprio Harvey: "A força de trabalho é uma mercadoria, mas as condi- ções que governam sua mobilidade são muito especiais. É a única mercadoria que pode trazer-se a si própria para o mercado, com suas próprias energias. Portanto, o termo 'mobilidade do trabalho' ocupa uma posição especial no discurso econô- mico"(380).* A afirmação de que "em busca de um emprego e de um salário para viver, o trabalhador é forçado a seguir o capital, onde quer que ele flua" (381), só vale para o espaço regional. No nível intra-urbano, o trabalhador já estü no "local" de trabalho, e não muda de casa toda vez que muda de emprego. O trabalhador tem sua localiza- ção essencialmente dominada pelo capital-"segue o capital''-quando, em busca de emprego, muda de cidade, de região (do Nordeste para o Sudeste) ou de país (as migrações internacionais). No espaço urbano, para "seguir o capital", o trabalhador exige transporte urbano de passageiros, ao mesmo tempo que é esmagado pela con- corrência entre classes que disputam a melhor localização intra-urbana. Comove- remos nesta obra, essa localização é aquela que otimiza suas condições de consu- mo. Em busca de um emprego, o trabalhador se move no espaço regional; ele muda, • "Lnbour powcr is a comrnodity, but lhe conditions lhal govcrn ils mobility are vcry spccial. ll is lhe only commodily thal can bring itsclf 10 markct unclcr ils own s1ean1. Thc tcrm 'mobilily of labour' thcreforc occupics a spccial posilion in cconornic discoursc." 43 i 'i o-r:nr. ri d0 \ erdl'ste pnra, ào Paulo. Uma vez em no Paulo, ele lura não mal\ ~ ·a 1.tditit 1.fo rmpn'go- poh parai so ele vE>io pnra São Paulo-; luta por prox, • • adi. ·r.o t'mr~~1 por rt"'d11çc10 do tempo r custo do deslocamento na 111agem d.'l r1 • ; l< •• ,rr,11\1/J;o. O µrim('iro ra . o - a lnt cn da cidaúc do emprcgo-em oht mtl\ mrn1",c,ran~w.quesJo foitos urna ou pouca · vezes na vida . O segundo caso -, 1.1a l'nhia ~ :dencia ao trabalho- envolve movimentos que se repelem dta . i':itL i)I": a:10,edecctdas. e que se ligam à rcproduç5o do trabalhador. Ao comra. no do , .... i:-pottc de carga. que o capitnl tem constant emente penetrado e rcrolu. noni!do 1 l)r. l' m crir na rsfera da produção, o transp or te de passageiros urbanos J)'!'('--enta n0lerrciro ~tundo. péssimas condições para o trabalh ador. Tal comoocor- ~1: com a habitação. o capital prorurn - embora nem sempr e cons iga - des\cnci- Ih!r-,c drlr. na mNiida em que representa um ônus. _, rma!mente, Harvey analisa a mobilidade do capital dinheiro. Nesse mo- !'l'l'nioda-rênfa e às comunicações e ao dinheiro-crédito 1 já que esse tipo dedes- lr).: .. mentl t\ o mais usual e essa forma de dinheiro 1 aquela qu e rnais se deslocaes- p!!:1~lmente. o que i so, novamente, é significativo apenas para analisar o espaço i(\!!10nal. Lomo já dissemos, não se tem notícia de nenhum estudo empírico ou teó- nco qur mostre a míluencia das transformações nas comunicaçõ es sobre a esmuu- ração dt-i:sp:içoimra-urbano. Os deslocamentos de pessoas domin am tão violenta- mentt t s. a cnuturação que os efeitos dos progressos nas comuni cações tornam-se 1mpen:rp11,e1,- se é que existem . .Eob,1oque. em última instância, tudo - inclusi ve o espaço intra-urbano- estara bgado ao modo de produção ou regime de acumulação dominante e Uili uan~formaçõe~ tal como se manifesta no país onde se situam as cidades cujos es· parü:.11:i·ra-urbanos se pretende analisar. Entretanto/ é óbvio tamb ém que is o ex- phr2ao rre{,rno tempo tudo e nada.A questão central na análise de qualquertipode e p.a, , ~oual cons1~te em identificar as mediaçõescorreta s entre as macrode- trnruna\oe~ --ocioeconômicas e esse espaço sociaL ou seja, as forças saciai que .. 1 :am nl'~sa~ mediações e suas correspondentes formas de atuaçã o. t\ ideologia, po, e\1.mplo como mostraremos adiante, desempenha um papel relativamcme mcno: no c~paço regional. mas é fundamental no espaç o intra -urb ano. Esse é outro ~pe{'toddundamental importância na distinção entre espaço intra-urban o e regio- nc!'. Prcl·~allll'l1!e por estar muito próximo dos interes ses do con sumo - mai \i l· H:! e '-t·nshclme11te próximo-, o espaço intra-urbano está sujeito n enorme carga 1ch:ológ1ca, o que acontece menos com o espaço regional. Lcfebvre nos alerrn d~ que u e,paço P "um produto literalmente repleto de ideologias". E quanto à produ· çâo idt·o'ógica.qual a relação entre espaço intra-urbano e ideologia? Qual a ideolo· g1,1 prudutida1 Qual a versão cio real que veicula? Por quê? E quant o à dominação. hJ1 (;)mo a classe dominante brasileira, e talvez latino-am ericana, usa o espaço urbano para fins de dominação e exlorsão? Isso vem se dando somente atravês da pi:n!er,a ,ubeq111pada e do centro equipado? Sobre questões desse gênero, paira • Tred10,,trJ1do d1• uma citação que Soja ( 1980, 2 1 O) faz de Lcf ebvre. um '>ilêncío se pulcral nas análises espaciais. Pretendemo s rontnbuir par.1 "qul'lrn:u " e-,'>c '>iléndo, poic; qu alquer análi se sobre a domina ção - ra mo ,1 ciue ,HJlli pn·ten - dl•mos fn7<'r com o espaço intra -u rbano - não pode pre sci nd ir da imc•st1gnç,to d,t i<lN>logia enquanto in st rumento coa djuvante da domina ção. o tc-sc, ,111,,..,, quC' r.11~ pergunta s dificilmente ca beri am para o e paço regional. Noc;c;a tese é a de que , para as metró poles bra sileira s - e quase certamente tamb ém pa ra as lat ino-amer icana s-, a força nini podero sa (ma s nã o un ira } ,1gm- do sobre a estruturação do espaço intra -urbano tem origem na luta de da . ..,p-; pela apropriação diferenciada da s vantagens e dc svantagen do e-;pnço conc;truído e na c;cgrcgação espacial dela resultante . Esta, como se rá mo strado , é uma condiçélo nc ces~ári a para o exercício da do m inaçã o por meio do espaço intra -urban o T,d csl rutura çào só remotamente se re laciona com as trnnsformaç ões por q uE' te m pass ado o capllalismo nacional e mu ndi al nas últim as dé ca<las. A do rrnna çéio ,,tra- vés da estruturação do es paço in tra-urb a no visa prin cipa lm ente à apro p ri.içJo d i- f crcnciada de sua s vantage ns locacionais. Trata-se de uma d isputa cm torn o de co nd içõc~ de co nsumo . As dificul dades para se co mpr ee nde r que uma d ispurn por condições de consumo co ns iste no de terminant e prin cip a l do proce sso de e~trutura ção intra-u rbana deco rre sobre tudo do fato de não se ca pt a r co m clarezaCIC • ;?1 a dife1en ça ent re es paço int ra- urb ano e regional. ii ~J :.:1 c s ~ Espaço e sociedade ~ ·; !: ~ ·- õ Existe uma tendênci a gen era lizada a se acredit ar numa int er-re lação profu n- ~ ~ da entre espaço e formação social; qu e as tran sform ações da es trutu ras sociais pro- ~ .::, vocam tran sfo rmações no espa ço. Em m enor grau, há afirm ações - mas poucas demon straçõe s - de que, inversam ent e, o espaço provo ca tran s forma ções no so- cial (ver abaixo, neste item, Soja , 1980; Lefebvre, 1970; Bodd y, 1976; Gottdiener, 1985). A maioria do s estudo s socioespacia is produ zido s na s última s décad as parte m das tran sfo rma ções na estrutura socia l (part icularment e das tran sform ações econômi- cas) para deduzir e exp licar, então, as tran sfo rma ções do es paço. A esse respeito, é pos sível dist inguir três esferas nos es tud os es pacia is, a saber: 1. Os estudos tradicío na is, p roce dent es da Escola de Chi cago, co n tinuara m pelo s neo-eco log istas ou passa ram pelos pion eiro s do in ício na década de 1970, os quais, com sua rev isão c rítica realizada a partir de uma ba se mar- xista, revolucionaram inicia lm en te a soci olog ia ur ba na , depo is a econo- mia política e a geografia, e hoje cr iam ca mpo s int erd isci pli nare s de es tu - do do espaço, agora já filiado s a, ou a fastados de, dif ere nt es "marxismos" . Pertenc e a ess a esfera, por exemp lo, a pr est igiada Esco la Fra ncesa d a Reg ulaç ão . Suas aná lises par tem das t ra nsfo rm ações sociais, econô m icas e/ ou política s e chegam ao espaço a elas co rrespond en te, ou por ela s p ro- duzido. Como partem do socia l, co m fort e ênf ase eco nômica, esses es tu- do s referem- se muito à produção do espaço; ent re tamo, apesa r des!>a ên - fase econô mica , quase nada di scor rem sob re o cons um o e mui to me nos 45 sobre a troca ou circulação do fruto dessa produção . Pouco se manifes- tam, também, sobre o valor produzido. Tambén1 quase nada discorrern sobre o efeito do espaço sobre o socia l. 2. A segunda esfera refere-se aos estudos dos efeitos do espaço sobre o social. Esses estudos acham-se menos desenvolvidos. Neste traba lho, aventuramo- nos um pouco nessa área ao colocar a segregação espacial das classe sociais como processo necessário para o exercício da domina ção política e desi- gual apropriação dos recursos do espaç o enquanto produto do trabalho e como força determinante da estrutura ção intra-urb ana. Estamos aí na esfe. ra econômica - da distribuição e do consumo - sem dúvida, mas a domi- nação política e a necessária ideologia se rão também enfatizada s. A con- clusão espacial, ou melhor, a concl usão sobre o efeito do espaço sobre o social, a nosso ver importante, é que uma certa geografia, uma certa confi- guração espacial (a segregação) se faz necessária para viabilizar aquela do- minação e aquela produção ideológica . Sem essa con figur ação, seria talvez impossível-ou extremamente difícil - a dominação e a desigua l apropri- ação.Trata-se, portanto, de um estudo <los efe itos do espaço produzido so- bre o social. Este trabalho pretende mo st rar qu e a segregação é uma deter- minada geografia, produzida pela classe domi nante, e por meio da qual essa classe exerce sua dominação- através do espaço urbano. A seg regação é um processo necessário para que haja tal don1inação. 3. Finalmente, há uma terceira esfera, talvez a mai s correta, masque se encon- tra num estágio extremamente rudimentar: os da s relações dialéticas entre espaço e sociedade. A esse respeito, Soja (1980) e Gottdiener (1985) discor- rem sobre a necessidade de uma análise dialética da s relações espaço-socie- dade mas pouco avançaram nesse cainpo. Se há uma inter-relação entre o espaço e o so cial , deve haver efeitos do espaço sobre o social. Isso não significaria, em abso luto, conferir autonomia ao espaço nem cair no seu fetichismo. Lefebvre (1970; citado por Soja, 1980, 210; e por Harvey, 1976, 306), por exemplo, afirma: "Podem as realidades do urbani smo ser definidas como algosuperestrutural, na superfície da base econômica, se ja capitalista, seja socialis- ta? Não. A realidade do urbanismo modifica as relações de produção, sem ser sufici- ente para transformá-las. O urbanismo torna-se uma força de produ ção, como a ciência. O espaço e a organização política do espaço expressan1 relações sociais, mas ao mesmo tempo reagem de volta sobre estas" [grifo nosso l .* Martin Boddy (1976,l), numa passagem já citada , formu la a seguinte h ip ótese sobre o efeito do '"Can lhe realities of urbanism bc dcfincd as something supcrst ructural , on the surfacc of Lhe economic bas1s whcthcrcapitalistorsocialist? No. Thc rcalityof urbanism modiftcs Lhe relations of pro duclion without bcing sufncicnt 10 transforrn lhem. Urbanism bccomcs a force in production, rnther like sc icnce. Space and thc political organizalion of spacc cxprcss social rclalionships but also react back 11pon them !grifo nossol." 46 espaço sobre o social: "Definir o campo da economia política urbana* é argumentar que é dentro I gr ifo nosso] das cidades que os efeitos do espacial sobre o socia l são mais forte s e emergemcomo óbvios. O 'urbano' to rna- se definido cm lermos dos efeitos particulare s das inten sidades das interações entre o socia l e o espacial cons- tituídos pela forma específica de articu lação espacial da produção, da circulação e do consumo na formação social".** Gottdiener (1985, 230) também discorre sobre uma reaç ão do espaço , ao afir- mar que a "desconcentração" metropolitana , um processo socioespacial, "é ambas as coisas: um produto da s transformações contemporâneas e um processo de orga- nização socioespacial que reage de volta sobre outros processo s".*** Logo a seguir, esse autor menciona, mas não demonstra, uma situação de influência do espaçoso- bre o social. **** Para Lefebvre o espaço "reage de volta" sobre as relaçõe s sociais; Boddy de- clara que dentro [grifo nosso] das cidades "os efeitos do espacial sobre o social se- riam mais fortes e emergiriam como óbvios". Soja (1980, 207) procura desvendar as bases de uma dialética socioespacial As relações entre, de um lado, a produção, a circulação e o consumo do espa- ço e de outro os efeitos do espaço sobre o social- ou melhor , das relações dialéticas entre espaço e sociedade- constituem o desafio ainda a ser enfrentado pelos estu- dos socioespaciais. Os processos que vamos abordar aqui decorrem do estudo do espaço intra- urbano das metrópoles brasileiras. Temos, entretanto, fundadas razões para acredi- tar que tais processos ocorrem também nas demais metrópoles da América Latina . Na verdade, estamos inclinados a acreditar que as metrópoles latino-an1ericana s constituem um campo privilegiado de análise do espaço intra-urbano. Com efeito, o grande desnível social entre as classes nas metrópoles latino-americana s faz com que nelas seja realçada aquela faceta da lu ta de classe s que é travada em torno das condições de produção/consumo do espaço urban o, isto é, em torno do acesso es- pacia l às vantagens ou recursos do espaço urbano. Os contrastes socia is, econômicos e de poder político característicos das me- trópoles latino-americanas produzem uma estrutura espacial e uma dinâmica ' Grifo no original. l3oddy cogita a possibilidade d e um co nceito amplo de "eco nomia polít ica", mais de acordo t;Om a tradição marxista do que, por exemp lo, Gottdic 11c1·, para qu em "eco nom ia politica " é prnticamentc um ramo ela eco nomi a. Llssa cogi tação está na seguinte manifestaçfio: "Hpoliti ca l cconomy is dcfincd as lhe scicnce of lhe modcs of prodLtction , anel as implying lhe ccntra lit}' of t\larxian conceptualiza lion s of the processes of Lhe production and circulnlion of commo<litics, dass structun.•, ideology and thc slatc, Lhen ... ". ª "'lo define a field of urúan .. polilical cconomy is lu argue thal it is witlti11 [grifo no sso) c itic s that thc cffcct s of thc spatial 011 lhe social are s trongc st ond emerge as o bvíom,. Thc 'urba11' bccomcs tlcfincd in tcrms of the particular cffects of lhe inlensily of internctions betwccn lhe soc ial anel lhe spatial. b1nugh1 about by lhe spccil1c form of spatial artíclilation or production, circulai ion anel co nsump1ion in lhe socin l format ion. " ~--'' ... is both , a product of contempora 1y changcs an<l a pro ces,; of sociospalla l 01ganization which rcnc ts back on othcr processe s." .-. .. "The hegcmony o( Late Capi talis t rela1ion s require s th c rccstructuring of spacc jusl as much a, Lhe lattcr dcpcnds on the socia l forces of Lhe formcr." 47 . n rnuito mais r xncerbada s 0, por iss o n1 . 1111 1ra-uroê1l • , n1s f ác . ___...,_,p,t13 , , }ole descnvolvidn. eis de d " qur • 01d 1 \ J seri-.. t3Ü ' l' \;lll l ··~o'll:'lll n·~ 1 ,u, u1ili1,Hl,t por Gnu diC'll<'t n ão cqui vnlc à n m('tf\'l', . ..,l·t, 01 ,,"lht,111:1 à qu.11 C'-"c ;n 1tor se refere-não ex.Is te C<) ossn cxprc<:.-:; ____ , .... ,,.n.i \ ~ 1 1 "' • • • • mo c l ._o" 1 ; .,rfl""'·in C'<llll,·,1h•ntc i'I n'R"'º mctwpohu m a se i in m etrnt 1. e cn fati2.1 t 1 ~i~0 ,..JJ · ~ ., 0 ..,..., 1 ., 0 dr,'t' '-l'l c-nll'IHlicla ro m o n cks lgn ação de lt '° llan t11cn I\ t . . 0 r.:i d0$ ,enr•u,aC'\P•"'"' • ••r J ' i , nl CSl á g ' . tl 1Jj d d .. ll'1 1 , mcmipohcana-; m 1c,1c crn:us. 'º de lirb . 1 .açJ 0 _'llffl'1! 1 ma <' •• • • nn1:,,a 3 ·-'-mnx-, t..:i1a,aq111 \";tklll lllllllu:.rn pnm n cspnço rc~ion al Con .. 1 Ç,o , \ ~cru''~ • ,. . SI< cr nrcr • ....... .. < n,-;,JJ("l 1111r:.1-mh..1no n os, c111rc1 .,.:,_ -~, ªº'º , '° ._ J:,t.-.rd\\ ·T ,c ""''" ,p,111al dialrctir". Annols oi lhe /\ssnciaiion o f /\m e . · 1 \: - 0 n zo,. \ p.1 s.:i.(!cm toi repetida cm Geografias pó,'i-m odcm ns pn c12nn Gcogra phc n - ,~ • . 5. rs, lune • r. muro artn::n ;;obrr n m~mo tema (1990, 17) os nu tores são par ticula rmente e f • • L", • r I b rd d à . - l\ a lico rn4nt.tn re1,~md.1 que o c,p:iço por e e~ ,1 o a os s o rcg1ocs e países. s ao afirmar de s • ~ott.. ~htamo :u.• r 1mpor1antc rccord:1r no leitor a espec ific idade da "p 1. • · ·1 d - 0 tn ucleaç· " mttro;xwnma :i.mrnc-; 10.1 para ~\'1ta 1 qdnc~p 1 a a~ cdom~ oalr~çocs com as b ras ile iras De ao da regi~ í,att:ümt'l' ne-m mesmo ac; mruopo cs n ..:uropa 111 us tn 12..1da , apr ese nt am · acordo co I" 1 "' romrarJ, cl ao das mc1tópoles no ri e-americanas. Essa "po linu : :: il_"',)' ?0 dispcs,;0~ &fl'ff'lltcdo wi fom1.:1~0 do<. miclcos terciários de nossas metróp oles co m o os c çao e um processo i :\'M~ ~ncu \.lnto :\odrê. Boa Vi::igcm, Pinheiros, etc. ' c nt ros de Copacabana, 48 Capítulo 3 Os processos espaciais de conurbação J\ expressão met rópole, entre nós , es tá por demais assoc iada à importância socia l, econômi ca e cultu ral de um núcleo urba no. Po r exten são, o me smo ocorre com as expressões área m etropo litana e p rocesso de metr opolízação. Neste traba lho , não nos preoc up a tanto esse aspecto, por m a is imp ortan te que ele seja. Neste capí- tulo, par ticularm ent e, prefe rim os a exp ressão conurbação- fusão de área s urba nas - por acred ita rm os se r ela mais adequ ad a aos nosso s objeti vos. A seguir se rá anali sada a expansão espacia l dos núcleo s urbanos e as contra- dições ocorr ida s ent re essa expansão e os limi tes político-adm inistrat ivos mu nici- pais. Isso se rá feilo se m co nsidera r a imp ortâ ncia dos núcleos e, mu ito me nos, o fato de serem eles ou não áreas met ropolit anas "oficiais". Neste traba lho, a Grande Sant os , a Grande Vitória ou a Grand e Fio rian ópo lis são áreas metropo lita nas tanto quant o o Grande Rio ou a Gra nde São Pau lo. O conceito de área metropo litana que adotam os é o do Burea u of the Census, d os Estados Unido s; é aquele que nasce da cont radição entre, de um lado, as cidades enquanto en tes físicos e socio econ ôm icos e, de out ro, as cidade s do ponto de vista polít ico-a dmi nistrat ivo. Nesse sentido não há que hierarqui zar ta is núcl eos urba nos . Serão desc rita s as v{Lria s form as pelas qu ais um a cjdade em crescimento ab- so rve e/o u gera outro s núcl eos urba nos à sua volln, às vezes perten ce nte s a outras unid ades polít ico-a dmini strativ as, forman do um tip o part icular de cidade. A par- ticularidade está no fato de qu e, a uma línica cidad e, passam a corr es ponder, em termos de Brasil, ma is de um mu nicíp io. Isso não hav ia en tre nós até por volta da décad a de l 920. /\té en tão, a uma cidad e co rres po ndia um - e apena s um - muni- cípio, e vice-versa. Nos Estad os Un ido s, tnis "cidades" sã o chamadas de área s me tro- po litana s ou SMSA-S tandard Metro politan Stati s tica l Areas. No Brasil há in úm e- ras conurbaçõ cs - Santo s, Flor ianó polis, Campin as, Vitór ia, Goiâni a, et c. - que 49 não são oficialmente considerad as áreas metropolitanas. Nesta obra, tais conur- bações serão assim chamadas: áreas metropolitana s.* Nem sempre o crescimento espacial urbano é contínuo. A partir de um certo tamanho, as cidades tanto crescem contínua como descontinuamente. Nesse caso ou ela gera novos núcleos a suavolta - como Santo André, Nova Iguaçu , Canoas-, ou faz crescer núcleos antigos até então estagnados - como São Bernardo, Carapi- cuíba, Viamão, Sabará . Desde meados do século XIX algumas importantes cidades da Europa, como Londres ou Paris, começaram a cr,escer além de seus limites político-administrati- vos, ou a absorver núcleos urbanos já existentes além desse s limite s. Logo em se- guida, isso começou a ocorrer nos Estados Unidos e por volta da década de 1920, também no Brasil. Algumas vezes a absorção ocorria simultaneamente com a conur- bação; outras não. De qualquer maneira, ambos os processos nem sempre são fá- ceis de identificar no tempo e no espaço. São Paulo começou a conurbar-se com São Caetano do Sul na segunda década deste século. São Caetano foi fundada em 1877 (Martins, 1992, 30) e logo depois começou a crescer. Naquela época havia inúmera s cidades em volta de São Paulo; algumas cresceram e outras não. As que cresceram o fizeram como manifestação do crescimento de São Paulo. Esse cresci- mento deveu-se ao fato de essas cidades estarem em posiçõe s estratégicas-jun- to à estrada de ferro para Santos, no caso de São Caetano. Provavelmente anterior- mente à década de 1920, o Rio já começara a absorver Niterói; como ambas estão separadas pelo mar, a conurbação - que certamente existia - não pôde ser ob- servada como nos outros casos. Santos começou a conurbar-se com São Vicente por volta da década de 1930. O que esses casos têm de novo não é certamente o proces so de absorção de um núcleo por outro, nem o processo de conurbação . Núcleos coloniais como Pi- nheiros, São Miguel Paulista (em São Paulo) e Santa Cruz (no Rio de Janeiro), para os padrões do século XVIII e mesmo do XIX, eram "cidades" vizinhas a São Paulo e Rio. Eram núcleos bastante autônomos com relação a essas capitais, inclu sive com fun- dações independentes. Pinheiros, no final do século XIX ou no início do século XX, já havia sido absorvido por São Paulo e depois a ela conurbou-se. São Miguel Paulista e Santa Cruz demoraram um pouco mais. O Rio conurbou-se com Nilópolis e São João de Meriti (outros municípios) antes de conurbar-se com San ta Cruz (mesmo município). São Paulo conurbou-se com São Caetano do Sul (outro município) an- tes de conurbar-se com São Miguel Paulista (mesmo município). • Pelo parágrafo 311 do artigo 25 da Const ituição Federal, cabe aos esta dos instituir"regi ões metropolitanas". Assim, dificultou-se a mensuração de um dos mais importanles processos sociais conlemporâneos- o da urbanização, em geral, e o da metropoli zaç ão, em particular- , uma vez que passou a depender de critérios- ou da falta de critér io -díspares de diferentes estados. Confundiu-se o problema técnico dos núcleos urbano s de delimitação territorial, porlanlo demográfica, econômica e social, com o problem~ político, isto é, a definição de distintas categor ias de núcleos urbanos para fins de po líti cas públicas. E impossível ao 113GE acatar as delimitações de áreas metropolitanas definidas com difer entes critérios. Inevitavelmente, o IBGE deverá deílnir seus próprios critér ios para áreas metropolitanas - de validade nacional - e usá -los nos censos e em suas pesquisas. Haverá portanto, no Brasil, dois tipos de ;íreas metropolitanas: as dos estados e as do IBGE. 50 Iniciou-se então wna contradição entre a cidade co mo organis mo físico l! socioeconômico e a cidade do ponto de vista político-administrativo. Encarado dc:-;se ponto de vista, o processo de conurbação ocorre quando uma ciclaclC' passa a absor - ver núcleos urbanos localizados à sua volta, pertençam eles ou não n oul ros municí - pios. Uma cidade absorve outra quando passa a desenvolver com ela umn '' intensa vinculação socioeconômica". Esse processo envolve uma série de lran sforn1ê1çõcs tanto no núcleo urbano absorvido como no que absorve . . -a década de 19-10 o Bureau of the Census, dos Estados Unidos, c:,;tudando essa questão, passou a denominar o último núcleo- a cidade maior - "cidadc c,·n - tral", ou seja, aquela a partir da qual se desenvolveram as ditus"inlensas vinculações socioeconômicas". Evidentemente essa idéia - a de "inten sa vincu lação sociocco nômi ca" - é vaga. Pode-se dizer que tanto Niterói como Vassouras ou Juiz de f,ora mantêm uma intensa vinculação socioeconômica com o Rio de Jan eiro, e qu e Sào Bernardo, Piracicaba e Ribeirão Preto mantêm tal vinculação com São Paulo. Entretanto, para esclarecer a questão, já ajuda bastante se essa vinculação se limitar apenas aos vín- culos de natureza tipicamente intra-urbana. Dentre esses vínculos devem ser desta - cados os deslocamentos espaciais de pessoas, já que são eles que caracter izam o espaço intra-urbano em oposição ao deslocamento de cargas. Por outro lad o, den- tre os deslocamentos de pessoas devem ser destacados os cleslocamenlos rotinei- ros, sistemáticos, diários ou quase diários, como aqueles entre residência e loca l de trabalho ou entre residência e escola. Devem também ser considerados os vínculos manifestados através das telecomunicações, particularmente o telefone, que é o meio de comunicação mais utilizado dentro das cidades. Embora não seja tipicamente intra-urbano, pode-se definir uma freqüência de uso do telefone que seja t ipica - mente intra-urbana. Con siderados de forma relativa-nunca absoluta-, esses flu- xos permitem isolar as vinculações tipicamente intra -urbana s das demais. Neste caso então, Vassouras e Juiz de Fora apresentariam uma vinculação menos intensa com o Rio de Janeiro do que Niterói, e Ribeirão Preto teria vinculação socioeconômica menos intensa com São Paulo do que São Bernardo. Existe aí a questão ernpíri ca ele traçar a linha divisória entre o que é e o que não é "intenso''. Parte-se da premissa de que é sabido o que é a ''cidade do Rio de Janeiro", ou seja, aceiLa-sc sem discussão que Botafogo, Penha ou Méier são a cidade do Rio de Janeiro; entreta nt o, seria dis- cutível se Nova Iguaçu , Niterói ou Santa Cruz sê-lo-in m também. Nolc-sc ainda ser irrelevante o fato de Santa Cruz pertencer à mesma unidade político-ndministrntiva que o Rio de Janeiro. Claro que, no qu estionamento de lais limites, reside todo o problema; isso significa que é consenso que os limites político-administrnlivos não delimitam satisfatoriamente a cidade enq uanto enle socioeco nômi co e físico. O processo de conurbação não se tem dado entre nós apenas pela absorção de núcleos urbanos contemporâneos ou gerados pela cidade central; São Vicente é anterio r a Santos e São Bernardo - fundada por João Ramalho como Vila de Santo André-é anterior a São Paulo. Por enqua nto, cabe apenas destacar o contlito entre os processos socioeconômicos e físicos da urbanização e o proce sso político -admi- 51 nistrativo de delimitação dos municípios. As naturezas totalmente distintas desses dois processos tornam difícil manter a compatibilidade entre eles, especialmente em longo prazo. Tendo em vista que vamos encarar as conurbações metropolitanas como uma única cidade-que de fato são-, é esclarecedor destacar sua natureza contraditó- ria e freqüentemente irracional. Observando os núcleos vizinhos a nossas grandes cidades, nota-se, por exemp lo, que algun s dele s aparentemente geraram municí- pios porque cresceram. São os casos de Santo André ou Osasco, na Área Metropoli- tana de São Paulo; São João de Meriti ou Duque de Caxias na do Rio de Janeiro; ou Canoas na de Porto Alegre. Contudo, houve núcleos urbano s, alguns com séculos de idade, que cresceram e nunca se tornaram município. Foi o que ocorreu com Santa Cruz e Campo Grande, no Rio de Janeiro, ou São Miguel Paulista, ltaquera e Guaianazes, em São Paulo. Alguns núcleos coloniais cresceram e jamai s chegaram a ser munidpio, como a Freguesia do ó ou São Miguel Paulista, em São Paulo; Santa Cruz, no Rio de Janeiro; ou Belém Velho em Porto Alegre. Outros, entretanto, apesar de permanecerem pequenos povoados, foram e continuam sendo município s:Viamão, na Área Metropolitana de Porto AJegre; Santana do Parnaíba e Bom Jesus de Pirapora, na de São Paulo. Finalmente houve núcleos que adquiriram e depoi s per- deram a condição de município - Santo Amaro em São Pau lo, por exemplo-, e outros que perderam e depois readquiriram essa condição - Contagem, na Área Metropolitana de Belo Horizonte (veja figuras 1 a 12). Mesmo admitindo-se a existência de um conjunto de critérios para a delimi- tação de uma área metropolitana hoje, é forçoso reconhecer que tais critérios não seriam válidos para outras épocas, uma vez que as vinculações socioeconômicas e seus níveis de intensidade variam com o tempo. Qual teria sido a área metropolita- na do Rio de Janeiro em 1890 ou em 1920? É vá lido admitir que Niterói passou a formar com o Rio uma área metropolitana, ao ser por e le absorvido antes que Santa Cruz? Campo Grande e Santa Cruz, por exemplo, apesar de pertencerem ao municí- pio do Rio de Janeiro, demoraram mais para se int egrar à sua área metropolitana do que São João de Meriti ou Nilópo lis e mesmo Nova Igua çu. Em São Paulo , do ponto de vista físico e socioeconômico, Pinheiros, Penha e São Miguel Pauli sta eram, em meados do século XIX, e para os padrões da época, "cidades" tão autônomas e des- tacadas da capital quanto Guarulho s ou Santo Amaro. No entanto, estes últimos cons- tituíam unidades político -adm inistrativas autônomas, isto é, n1.unicípios, e aqueles não. O censo de 1872 mostra bem a magnitude das populaçõe s das paróquias sediadas nessas verdadeiras "cidades", tanto no es tado de São Paulo co1no no do Rio. Santo Amaro, por exemplo, com mais de 5 mil h abitantes, equivaleria, hoje, se feita uma proporção com São Paulo, a uma cidade com alguns milhões de habitantes. O Quadrol mostra alguns exemplos. Na descrição que segue, a expressão núcleo urbano será empregada para de- signar o aglomerado urbano que apresenta um mínimo de atividades centra is, se- jam religiosas, administrat ivas, políticas, sociais ou econômicas, ou seja, que têm vida própria, por menor que seja, organizada en1 torno de um centro polarizador. 52 Quadro 1 - População de algumas paróquia s{] 872) SÃO PAULO Paróquias Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos (Tornou-se municfpio.) Nossa Senhora do ó (Não se tornou municfpio.) Nossa Senhora da Penha de França (Não se tornou município.) Santo Amaro (Adquiriu e depois perdeu a condição de município.) Nossa Senhora da Ajuda de ltaquaquecetuba (Tornou-se município.) RIO DE JANEIRO Nossa Senhora da Conceição do Porto das Caixas (Não se tornou município.) Nossa Senhora da Piedade de lnhomirim (Não se tornou município.) São João de Mirity (Tornou-se município.) Fonte: Censo de 1872. População 2 605 2 023 1 973 5 470 1 878 3 322 3 982 2 524 Essa expressão é sinônimo de ''aglomerad o urbano nucleado" , para distingui -la dos "aglomerados não-nucleados", a que chama rem os de áreas urbanas; a rigor, não existe área urbana não polarizada. Entretanto, usaremos essa expressão para des ignar aqu e- las parte s da periferia urban a cujos pólos estão muito afastados e freqüentemente em outro município. Na periferia, po r exemplo, são comuns bairros bastante afasta- dos de um núcleo signi fica tivo que os polariza. A importância da existê ncia de al- gum núcleo polarizador no s remete a Burgess (citado em Schnore, 1976, 323), p ara quem "o processo mais evide nte, encara nd o-se ecologicamente o crescimento de uma comunidade, é o da expansão radial a partir do ce ntro ". Feitas essas considerações preliminare s, pa sse mo s às quatro form as princi- pais pelas quais tem- se m anifestado o processo espacial de conurbação nas áreas 53 Figural A. - rea Melr 1. ~~:==-----------opo \lana do Rº d io e Jane iro ---- ---~ I p I _./ -Arca edificada do Ri o de Jat · ~; ----------- 1e1ro em 1992 Figura2 , 54 Figura 3 -Área Metropolitana de São Paulo 17 . " ' .,...,,. Figura 4 -Área edificada de São Paulo cm 1962 e 1987 55 """" • H++t t.S"OWlA$ tl[ rcRRO dffl.: - ROOO'MS - -- uwm: 0t: MUNlC/PfO -·- UMllt Dt /.AtA MCIIICJ'OJT""A r0111E: Of>I.ASA - 11&7 (lCN..A ca.JinCk ~o- .. 0102 - 01u,1,1u1 +ttt ESTI!ADAS D[ n:RrlO - IIOOOW,S FOHTCS: ACROFOTO HA'nllOADE lido. - ltOl CMPLASA - 1107 rtcM..ACAN'ICÃI • ,,.J• ... .... - Figura 5 - Área ~ietropolitana de Belo Horizon te Figura 6 - Área edificada de Belo Horizont e em 1972 e 1982 56 -- ROOCI\MS -Hff+[STJW)/\$ OE f'ERRO - - -UWnt: DE MUN'CPtO - - - uwnY. O[ mA \IETROPOt.ffANA rCJHm 1GA. 19e2 ~-= •. ____ ,_ • D 1112 -CJ 1912 4 19SZ +H-t+ CST!Wl.'.S OCFERl<O -- ROOO'MS roNTES: PUMllO.., v 72 ,e:.. 11!2 t>l:AU-- 0 ,o.,. \ 1 \f'..,- ' JU.OJA.11. ·~ u... ~01. Figura 7 - Área Metropolitana de Porlo Alegre I 1 igura 8 -Ár ea edificada de Port o Alegre cm J 971 e 199 1 57 • - "" ... - ~000\'IAS • t+++ t$1'R>OI.S t>(. rcai,c _,, -·- UWll[ OC WUNCl'IO -- UUITt Of. ft[ C1ÃO MC1RCl'QJU,..,A rom.:: i,cmoPtM UCAl..t. CAU!-C• • º____.!º '"" • º"' ' -fl3 t971 A 1991 1 1 H CSTIVOAS D( ftAl<O - ROoc>, .... s r o lHE$; ,, ,, - C,VIA / t(A II 1991 - ucr- 1"1'1 t .. t , v,, ortUY:.1,1 \..--- 'º "" - Figura 9-à rea Metropo litana de Salvado r ?"---~ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 :~ 1 1 1 1 1 1 1 1 l 1 1 L _____________________ _ ____ J Figura 10 -J\rea edificada de Salvador em 1989 58 • -#+++- (51RAOIIS 0C FUtRO _.. - ftOOOVIAS - • - Ui41Tt: I)[ MUNICIPIO -·- UM!IC OE A.•fA \IClllOPOU'T""' rowrts: CONllt ~. ,_ """""~ o 'º ..,. +++1- [St1W)I,$ oc F'Cl\110 - - lt000."'1 • - - • uw,n: °" A'lt.\ Ct U)(All l "' Dl!C C;\~UftlWOlAO< rort1E: 19119 - CONOCA C1<>4Ag--.:;... ~-----------·- .. - AOCX,,,,V.S _,, ttit1 r::snw>AS CC rtMO - ·- UMm: DC WUNICIPtO -· - UWTC DC fttCIÃO ll tfflOPOlJT,u(o\ ,011n:, noru OCA&.AOIIII~ ·--- Pigura 11 - Área Metropolita n a do Recife - ,t()CQ\U,5 H++ UtlWlA.S DC rt"110 íl>!Tt; f1Cf),t =---. ·- Figura 12 -Ár eti edificada cio Recife cm 1987 metropolitanas bras ileiras nas últim as dé cada s. O que se pretende nas próximas li- nhas não é mais do que um esfo rço de desc rição e classificação. Tais formas fre- qüentemente oco rrem co m um mes mo n úcleo em distintos momentos históricos. Assim, São Bernardo do Campo e San ta Cru z experimentaram mais de uma dessa s forma s em períodos his tóricos di ferent es . Por outro lado, cabe esclarecer que os ti- po s apresentados são tipos pu ros, e pod e oc orr er de ser difícil enquadrar casos es - pe cíficos neste ou na qu ele tipo . A prim eira fo rma é co nst itu ída por núcleos que nu nca chegaram a at ingir plenamente a cond ição de cidade, pois já nasce ram co mo subürbio. Freqüentemente sã o núcleo s qu e crescera m rapidam ent e a part ir de uma estação ferroviária, junto à qual se formou o pólo. Pode m ter até mai s de 500 mil habitantes, mas não tê m as características de cidade co mp atíve is co m essa população (veja q uadros 2 e 3, adiante) . São os casos de Nova Iguaçu, Duqu e de Cax ias, São João de Merit i, Nilópolis, Osasco e Ca noas. A segunda forma_ que assu me o pr ocess o de ab so rção pel a cidade cen tral é aquela na qua l o pó lo cen tra l é formado a posteriori. No in ício ele e ra ou inexiste nt e, 59 ou frágil, ou distante. Distingue-se da primeira forma porque, nesta , a força de uma estação ferrO\riária produziu um pólo relativamente forte e organizador. São, no iní- cio, casos típicos de aglomeração urbana não-polarizada - no sent ido em que o pólo está longe- , chamada de área urbana em opo sição a núcleo urbano. A expan- são urbana se manifesta aqui através da formação de uma imen sa periferia , em ge- ral de baixa renda, com um núcleo local fraco que pouco apre senta além de quitan- das. farmácias ou padarias. Esse caso ocorre quando a periferia da cidade central, ou de algumas de suas grandes cidades-subúrbios, "transborda' ' sobre municípios ,izinhosem pontos afastados de suas sedes. Às vezes esse "transbordamento" vem a formarum novo município, e o pólo local-inclu sive com a instalação da Prefeitura -s ó então se forma. Foi o que ocorreu com Diadema, em São Paulo, que resultou do transbordamento de São Paulo sobre o muni cípio de São Bernardo, longe de sua sede; com Alvorada, na Área Metropolitana de Porto Alegre, que resultou do trans- bordamento de Porto Alegre sobre o município de Via mão, cuja se de era muito dis- tante da divisa com Porto Alegre; ou com Contagem, resultante do transbordamen- to industrial de Belo Horizonte. Este últirno transbordamen to ocorreu num município formado de maneira bastante confusa. 1 Quadro 2-Índ ice de emprego no setor terciário Ciàades-subúrbios, áreas metropolitanas e cidades do interior (1985) ESTADO DO RIO DE JANEIRO Area metropolitana População Empregos no Empregos tercíáríos e murnc1pios residente estimada setor terciário por mil habitantes Municípios do interior Barra Mansa 162 450 7 180 44,20 Campos dos Goytacazes 366 503 14 960 40,82 Petrópolis 248 005 17 325 69,86 Resende 89 321 5 495 61,52 Totais e média 866 279 44 960 51,9 Municípios suburbanos ltaboral 134 340 4 875 36,29 Niterói 414 508 36 414 87,85 São Gonçalo 685 413 19 316 28, 18 Totais e média 1 234 261 60 605 49, 1 Duque de Caxias 616 066 24 656 40,02 Nilópohs 154 487 5 394 34,92 Nova Iguaçu 1182 889 28 606 24, 18 São João de Meriti 41 O 928 15 860 38,60 Totais e média 2 364 370 74 516 31,52 Area Metropolitana do Rio de Janeiro 9 233 452 722 O 14 78,20 60 , ESTADO DO PERNAMBUCO Area metropolitana População Empregos no Empregos terciários e municlpios residente estimada setor terciário por mil habitantes Municípios do interior Caruaru 190 116 8 858 46,59 Petrolina 132 101 5 211 39,45 Vitória de Santo Antão 9 170 3 314 33,42 Totais e média 421 38 7 17 383 41,25 Municfpios subu rbanos Cabo 113 984 2 409 21, 13 lgarassu 76 194 1 184 15,54 Paulista 2 13 253 3 935 18,45 São Lourenço da Mata 161 578 1 877 11,62 Totais e média 565 009 9 405 16,65 Area Metropolitana de Recife 2 480 513 132 042 53,23 ESTADO DE SÃO PAULO Area metropolitana População Empregos no Empregos terciários e muníclpios residente estimada setor terciário por mil habitantes Municípios do interior Bauru 217 447 16 463 75,71 Ribeirão Preto 367 614 34 418 93,63 São José do Rio Preto 227 045 21 824 96, 12 São José dos Campos 349 635 21 315 60,96 Totais e média 1 161 741 94 020 80,93 Mogi das Cruzes 229 140 11 931 52,07 Muicipios suburbanos Diadema 260 733 1 O 338 39 ,65 Mauá 242 354 6 299 25,99 Santo André 581 284 36 087 62,08 São Bernardo do Campo 484 827 31 712 65,41 São Caetano do Sul 156 7 41 16 397 104,61 Totais e média 1 725 939 100 833 58,42 Area Metropolitana de São Paulo 13 817 403 1 093 552 79, 1 61 tS-.1,00 ... e"·'° GRA DE DO SUL --- .!.te-a ..... Eirooo ·a"a Popul ação Empregos no Empregos temárlQ5 e ...... ,r (' cs residente estimada setor terciário por mil habitantei '. 1-~;: P CS uO nter or Ca'\ as~~ Su. 250 144 18466 73,82 PêiSS0 J:~'"''";0 132 393 10172 76,83 ;ic Gra"ae 157 560 9887 62.75 S3'1tc Ã~gelo 85 472 5841 68,34 Teia s e fT'eOl.3 625 569 44366 70,92 ' - .e tfambu ~go 164 474 13962 84,89 Se~ ecooldo 125 586 7788 62,01 -cta•s e m~•a 290 060 21750 74,98 Munic,p,os suburbano s A'vorada 111 664 1 938 17,36 Canoas 245 424 13 475 54,90 \ ,amão 138 811 2 775 19,99 T.:ti.a1s e mêd,a 495 899 18 188 36,68 !-rea '~i·ooo 1:ana de Porto Alegre 2524 368 219 182 86,83 \ ot;i_ ~popu~ç.ão foi ~l imada com base na taxa geométrica anual de cresc imento no período 1980a 199L Quadro 3 -Altos sa lário e fo1mação superior Munic1p10s-subú rbio s, áreas metropolitanas e municípios do interior (1991) '.1unic p os metropoli tano s t.~ "ie·,:,;i;., ·;.~,d~ e Porcentagem dos .... r x,s oo• grupcs (i}• chefes de domicll10 ,.,~~ ~ .~r.·o :.~ .. S.ic 1 e~~ .. = -- :~ ,~ 'JrYJ • ... .,.i <' P. ;;.t' lo ..... ~~ ' 'f-:,1 de S,.r,,710 PcJ :.r:-lqJKP'•~ E' re-r,,._z Gt •?:.-":>r.<~()!. ' 1 f Cfl ... 'r ...... ,.J 4 Âl\'i M~tropol1tana d• SloP,udo com IS anos ô'J rri,! s de e\:udo 7.0 3,2 5.0 8. 7 10. 1 com renda mensal ~ a 20 salanos- mln1mos 3,3 2,2 0,9 2. 1 :u 5.3 Municípios interioranos Area s metropolitanas e municlpios por grupos (1) Méd ia da Area Metropolitana de Campinas (2), R1be1r<'!o Preto. São José do s Campos, Piracicaba, Baur u, Rio Claro e ltapetininga 62 Porcentagem dos chefes de domicilio com 15 anos ou mais de estudo 10.2 com renda mensal 2: a 20 saMn~- 1 1m 3,8 Municípios metropo litanos Municípios interioranos Areas metropohtanas e Porcentagem dos Areas metropolitanas e Porcentagem dos municlpios por grupos (1) chefes de domicllío municípios por grupos (1) chefes de domicílio com 15 anos com renda com 15 anos com renda ou mais de mensal >. a 20 ou mais de mensal õ!! a 20 c~tudo salários • estudo mlnimos Mêdia de Nova lgua<; u, 2,6 0,3 Média de Peu6pol1s, Campos, 6,3 Duque de Caxias, Barra Mansa e Resende ~o Jo.io de Mentt e Nilópohs Mêd1a de N1ter61 (4), 8,6 2,5 sao Gonçalo, ltaboral e Mancá (5) Média d"s reg16es - 0,6 adm1mstrauvas de Campo Grande e Santa Cruz (3) Área Metropolitana 11,7 3,6 do Rio de Janeiro Media de Contagem e Selim 2,3 0,8 Média de Juiz de Fora, R,betrào das Neves 0,5 0,2 Uberaba e Teófilo Otoni 7. 1 Área Metropolitana 9,2 3,8 de Belo Horizo nte Media de Gravata!. 1,6 0 4 Média de Caxias do Sul, 7,2 V1amllo e Alvorada Pelotas. Rio Grande e Passo Fundo Média de Canoas, Esteio, 2.9 0,8 Cachoe1nnha e Sapuca1a do Sul Média de Novo Hamburgo (4) e 5,6 2. l Sáo Leopoldo (4) Área Metropolitana 9,6 3, 1 de Porto Alegre Mêd,a de Camaçan, 0,5 0,4 Média de Jequ1é, Juazeiro 1,5 C ande1a~ e S1moes FIiho e Serrinha l.duro de Freitas (5) 0,5 3,0 Área Metropolitana 8. 1 3, 3 de Salvador Méd1J de Abreu de Lirria, 1,9 0,4 Média de Caruaru, 3.6 lgarawi. ltarnaraca, Petrohna, Garanhuns e ltap1~uma L' Pauh5la V1tóna de Santo Antào Cabo 1.2 0,2 Ja!Joal~o (5) 5,0 1,9 Ohm.la (4) 9,0 1.7 Área Metropolitana 8,6 2,8 do Recife Not.is: ( 1) As áreas mc1ropo 1itanas são as reg iões melropo lita n as exislenles no m 10 indicado. (2) Compree nd e os seg uinl es muni cíp ios: Campinas, Pau línin, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. (3) Hcgiões ::idminislrnti vas do município do Hio ele Janeiro. (4) Município s com cidades com tradi ção de autonomia socioeconômica. (5) Municípios penetrados por lransbo rdamenLO de bairro s de alta renda da cidade central. 63 salários- mlnimos 1,8 2,2 2,0 0,5 0,9 Cnmo pc1 ifrri:1 urh ann Hpica do Bra s il, ess a "frente " metropolitan a é, em ge. rnl. lormnda por um conjunto não -pol a riza do de bairro s populare s, constiluindo, duranlt' anos, uma seg und a área urbana dentro ele um mesmo município e destaca- da de ".IW\ ~ceie. Até rccrn lcmcnt c não havia, no Bras il, o tran sbordamento da área urbana de 11m município sobre o lcrr il órÉo de outro qu e nã o fosse co ns tilu fdo por bairrospo- pulnrcs. No-; lÍlt imos de z ou quinze ano s ma is ou m eno s, têm ocorrido casos de transhordnmcnto de bairro s de alta re nda. Isso aconteceu, por exe mplo , com osde hairroc; de altn renda de São Pnulo so br e o município de Co tia (Granja Viana); com os do Rerife so br e o muni cípio <lc Jaboal ão, ou os d e Salvador so b re Lauro de Freitas. 11.l-tn poderá vir a SC'r a formn de co nstitui ção de um novo tip o de cidades-subúrbios entre nós : a cidn dc-s ubürbio co m um a participa ção atípicam en te alta de camadas de altn renda . Em alg un s casos, tais camadas apre se ntam dimen sões significativas - não necessariame nt e prcclo min ância - em cleterm i nada área urbana períférica; cm função disso, tem hav ido manife s tações de int eresse da s camada s de alta renda cm transformar essas áreas em município. Conslituem exemplo s as tentativas de emancipaçãoda Barra da Tíjuca, no Rio de Janeiro , e da Gran ja Viana, em São Paulo. ~ e o transbordamen to for de alla renda e dens idade (Jaboatão ou m esmo Alphaville}, um pó lo se forma rapidamente, com ou se m a participação ati va do s empreendedo- 1,•s imobiliários. Se for de baixa densidade (Granja Viana ), a forma ção de sse pólo é ma1~ demorada. Nos casos em que os bairro s de alta renda se desenvolvem em municípios que já atingiram certo porle demográfico - como Alpha ville, em Barueri -, cs~a classe perma nece ainda minoritár ia. Isso não ocorrerá , por ém, se a área dos bairro-, de alta renda se desme mbrar. A terc<>ira fo rma de absorção é const ituída por aglomera ções que chegaram a <ti ingir significa tivo de se nvolvimento enquanto cidades . Principalm ente por esca- rem afastadas da cida de central, mantiveram, por certo tempo , grande autonomia socioecon ômica. Nascera m e crescera m como uma cidade média típica, a partir de um núcleo central de se rviços que lambé m se expa ndiu e se diver sificou. Integram cs-.a forma municípios que tivera m - e e m poucos casos ainda têm - até mesmo um setor primário de senvo lvid o. Um chego u a ser capita l de es ta do. AJguns se in· dustrializararn, mas os emprego s ini cialmente ofer e cido s n o setor secundário não resultaram elo foto de terem surgido como bairros indu striai s da m etrópole-como foram os casos de Contage m, Sa nto André e São Bernardo. Essas cidades apresenta· ram, ou ainda apresen tam, uma compo sição social e econôn1ica semelhante à das cidades do interior, pob muita s o era m de fato até recentem ente. Nelas aparece, ou aparecia alé reccnlcmcn te, um a burguesia loc al integrada por aJto s burocratas, gran· des comercia n tes e mesmo indu striais loca is e proprietário s rura is. A estrutura física dessas cidades se assemel ha à da s cidades interi orana s, con1 un1 centro tradicional forte, praças centrais e uma variedade de tipo s de bairro s residenci ais, correspondendo a uma varieda de de classes soc iai s. São exemplos desse caso Mogi da s Cruzes, Niierõi, São Leopoldo e Novo J Iam bur go. Cam po Gran d e, reg ião administrati va do municí· 64 pio do Rio de Janeiro, chegou a pertencer a essa categoria até por volta da década de 1970. Embora já tenha sido absorvida pelo Rio, Campo Grand eJaté recent ement e guardava uma estrutura física, característkas soc ioeconômicas tveja quadros 2 e 3) e um estilo de vida muito diferentes de subúrbio s típicos como Duque de Caxias, Nilópolis ou São Gonçalo; em meados da dé cada de 1960, Brasil Gerson se referia a Campo Grande como "esta que é hoj e uma autêntica e tão simpática cidad e do esta- do da Guanabara" (1965, 516). Niterói ,rprincipalmente por ter sido capital - e me- nos por estar separada pelo mar, já antes da ponte, vencida por movimentado siste- ma de transp01te-, desenvolveu notável capacidade de resistência à absorção pelo Rio de Janeiro. Finalmente o quarto tipo de núcleo urbano que sofre o processo de absorção metropolitana é constituído de cidades muito pequena s, algumas das quai s já foram mais importantes no século XIX do que são hoje. São velhos núcleo s coloniais, que ainda não se expandiram (ou só recentemente começaram a se expandir), pois per- maneceram à margem da expansão metropolitana. Alguns são sede de município - nesse caso se inserem Santana do Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus e Itap ecerica da Serra, na Área Metropolitana de São Paulo; outros não, como Belém Velho, na Área Metropolitana de Porto Alegre. Têm sido empregadas até aqui, com freqüência, as expressões absorver ou processo de absorção. São metáfora s que, para adquirir status científico, precisam ser explicadas. A absorção é um processo, em geral lento, de crescente transformação de um a área urbana - nucleada ou não, com mais ou meno s características de cidade - em bairro ou conjunto de bairro s da metrópole. Esses bairro s ou conjuntos de bair- ros podem ser industriais ou residenciais ou ambos. Caracteriza-se pelos segu int es processos fundamentais: em primeiro lugar, a tendência à crescente homog ene ização socioeconômica em oposição à heterogeneidade que caracteriza a cidade; em se- gundo, ocorre uma crescente polarização pelo centro metropolitano; e em terceiro, a inserção no esquema geral da segregação metropolita na. Reduzidas cada vez mais a bairros - por maiores que sejam-, as cidades-subúrbios tendem a perd er sua segregação própria ou a não desenvolver a segregação apresentada pelas cidades de inte rior, nas quai s a diversidade social faz apar ece r certa diversidade de bairros se- gregados. Isso porque passam, lentam ent e, a fazer parte de uma outra cidade - a metrópole - e a integrar-se na segregação de seu espaço. A orla marítima de Jaboatão integra-se à segregação do Recife, Granja Viana à de São Paulo e Lauro de Freitas à de Salvador. A análi se deve ser sempre l'eita em termos de tendência . Esta será tão mais observável quanto mais a cidad e-subúrbio est iver próxima de "cidade'' e longe de "bairro" ou "subúrbio ". Nos casos em que a absorção vem ocorrendo hà muitas décadas- Niterói, por exemplo, há mai s ele um século - , a cidade abso rvida torna- se tão central na área metropolitana que se in sere em seu anel de bairros conso li- dados de classe média. São os casos de São Caeta no elo Sul, em São Paulo, e de Niterói, no Rio (cidades que não têm periferia ou a têm fora de se u territór io; veja os 65 md1re de~ n cidade no qundros 2 e 3). Taboão d a Serra, São João de Men11 e N,lopoh<i tendem a evoluir ne a direção, embora estejam ainda long e de chegarlá bm tO<fos o, ca. o cm que a cidades-subúrbio s são ou tendem a ser de classe m~- din e acama da média, .. t>u alto poder aqui sitivo faz com qu e - ao contrár i() das dema1~ - ela· consigam~ u tentar um significativo setor terciário. \ ronurbação mctro polittrna se apresenta ass im, como um processr; de,oradorde cidade e produtor de bairro s. Para m os trar essa absorção. foram ela. borado o · quadro 2 e 3, nos quais se realiza um co nfr onto ent re várias cidades 1tpka de interior e \'árias outras representativas dos dis tinto s tipo s de cidades-su. burh10 : em ambo' o grupos, para melhor co mpara ção, a maioria tem população que compreende entre 50 mil e 500 mil habitant es. Foram in cluídos também n,, confronto umas poucas cidades com população maior , duas pequena s áreas metro- politana (nma pertencente a uma grande área metropolitana - Niterói- e outra não - Campinas) e grandes conjuntos suburbano s, como o ABCD pauli sta ou a Bn1xada Fluminense. Para o confronto, foram selecionados doi s indicad ore~ sociocconômicos facilmente disponíveis em censos para mo strar a homog eneidade ou a helerogeneidade social: presença de camadas sociais de alta renda e escolan- dadc ~ uperior. Outro indicador que contrasta a cidade-subúrbio com a do interior é que grande parte das cidades-subúrbios, principalmente em virtude de sua bíllla renda, firam crescentemente subjugadas à polarização p e lo setor terciário do cen- tro principal ou de subcentros metropolitanos. Apresentam, então , um setor terciáno frato proporcionalmente à sua população e, en1 decorrência , un1 centro urbano tam- bem proporcionalmente fraco. Os quadros 2 e 3 foran1 montado s para mostrar esses aspecto O Quadro 2 mostra o número de empregos no se tor terciári o por mil habi- tantes; no cálculo desse índice foi utilizado o Censo Econômi co de 1985, por ser o ultimo que apresenta dados de emprego. O Quadro 3 compara o nún1ero de chefes de domicílio com rendimentos mensais superiores a vint e salários-mínimos e a par- cela da população com mais de quinze anos de estudo no s muni cípios suburbano~ e nos do interior. Note-se a posição intermediária de cidades com lon ga tradi ção de autono· mia ocioeconômica, como Novo Hamburgo, São Leopold o e Mogi das Cruzes e a proeminente posição da Área Metropolilana de Niterói. 66 Nota 1. A respeito da criação do municípiode Contagem, NíceaV. Luz (1944, 81) escreveu: "Um do s maiores obstáculos ao desenvo lvimento indu stria] de Belo Horizonte têm sido as condições de fornecimento de eletricidade. A usina do Ribeirão das Pedra s, que fornece energia elétrica à cidade, foi vend ida pelo governo a uma empresa parti cular, que tem explorado a populaç ão, dificultando a insta lação de indú strias. Para resolver esse problema o governo atual resolveu criar um parque industrial nas proximidad es da cidade, poi s, pela situaç ão geográfica, Belo Horizonte estava indicada para se tornar o centro distribuidor para todo o estado. A força motriz será fornecida por uma usina hidroelétrica , situada na cachoe ira do Gafanhoto, no rio Pará. Para evitar questões com a empresa do Rio das Pedras, o local escolhido para a construção do parque industrial foi desmemb rado do município de Belo Horizonte, passando a perte ncer ao município de Betim". Por sua vez, de acordo com a Enciclopédia dos municípios brasileiros, v. XXIY, p. 513, o município de Contagem, instalado "a 1 de junho de 1912, teve curso normal até 17 de novembro de 1938, data em que foi extinto pelo Decreto-lei n. 118. Passou a pertencer ao município de Betim, criado na mesma época, e como tal viveu dez anos, até 1948, quando, pela Lei n. 336 de 27 de dezembro daqu ele ano, emancipou-se, ficando seu terr itório constit uído da sede munici pal". Por esses trechos percebe-se que, em 1948, quando da segunda insta lação do municíp io de Contagem, a área da Cida de Indu strial (originalmente localizada em Belo Horizonte e depois em Betim) passou a integrar o território do município de Contagem. 67 Capítulo 4 Direções de expansão urbana Introduç ão [21 <2~<2~ [Q]~ [Q]ss~ [Q]~ [Q]~ [Q]~~ 85~1~1 [Q] Com este capítulo inicia-se o estudo das localizações intra-urbanas. Privile- gia-se a investigação das localizações das classes socia is e sua articu lação com ou- tros elementos da estrutura urbana, particularmente o centro principal. A partir deste capítulo, a expressão setor será sempre empregada no sent ido de setor de círculo ana logamente àque le empregado por Hoyt (1959). As direções preferenciais da expansão urbana são um assunto caro a geógrafos, urbanistas e empreendedores imobiliários. É comum, por exemplo, a idéia de qu e os planos diretores devem "prever" as direções "para onde a cidade deve crescer" e em função disso devem ser criadas proposta s. Estas, entretanto, nem sempre são viáveis e as razões qu e as fundamentam nem semp re são objetivas e convincentes. A questão está também ligada a outro assu nto caro aos est udio sos do espaço urbano e que pode ser resumido na seguinle pergunta, freqüenlemente debatida em congressos, se min ários e salas de aula: o que vem primeiro, o desenvolvimento urbano ou a infra-estrutura; a dema nd a por in fra-estrutura (a expansão urbana) ou a oferta dela (as pontes, ferrovias, avenidas, tún eis ou redes de saneamento)? Neste capítu lo serão investigadas as formas e as direções de expansão territoria l das metrópoles, ou melhor, da área edifica da mais ou menos continua- mente a nossas áreas metropolitanas. Para a análise pretendid a, as áreas edificadas se rão divididas em setores de círculo, pois parte-se da hipót ese de que seu crescimen to é altamente influ enciado pela s vias - rodov ias e ferrov ias - regiona is. Nesse sentido, pretende-se não só demonstra r essa hipótese, como ta mbém verificar os difere ntes crescimentos ao longo das diferentes vias, e, ainda, comprovar a hipótese de que, embora as vias 69 regionais não tenham sido construídas para oferecer transporte intra -urbano, elas acabam oferecendo esse tipo de transporte, e aq uela s region alm ente mais impor- tantes passam a ser mais importante s do ponto de vista intra -urbano e acabam atra. indo maior expansão urbana ao longo delas. Parece haver íntima relação entre as vias regionais d e tr ans port e e o cresci- mento físico das cidades. As ferrovia s provocam crescin1ento descontínuo e forte. mente nucleado, em que o núcl eo ou pólo se de se nvolve j unto às estações. As rodo- vias - especialmente as expressas - provoc am um crescimento mais rarefeito e descontínuo e menos nucleado que as ferrovias. Iss o se d eve às diferenças de aces. sibilidade oferecidas pelos dois tipos de via. Na ferrovia, a acessibilidade só se con- cretiza nas estações; na rodovia, pode se concretiz ar em qua lqu er ponto. Outras questões relacionadas com esse assunto sã o as segu int es: há relação entre o crescimento indus trial ao longo das vias reg ionai s e o crescimento urbano? Por que, numa cidade como São Pau lo por exemp lo, o de se nvolvimento industri~ foi muito mais acentuado ao longo de algumas ferrovias do que ao longo de outras, mesmo na ausência de obstáculos topográficos? Por que a urbanização é mais in- tensa-e diferente- ao longo de certas vias do que ao longo de outras? É o cresci- mento da urban ização (demanda por tra n sportes) que faz com que se aperfeiçoem certas vias e sistemas de transportes (oferta), em vez de outros, ou é o aperfeiçoa- mento do sistema regional de transportes (oferta) que atrai a urbanização (deman- da)? Seja qual for a relação entre a oferta e a d emanda, cabe ainda perguntar por que o crescimento urbano é mais intenso ao longo de certa s via s do que em outras. Note-se que estamos falando de "expansão" de zonas da cidade, em arranjo territorial do crescimento urbano. É claro que os transportes ur banos n ão provocam cresci- mento urbano; apenas atuam sobr e o arr anjo territorial des se crescimento. Os setores viários Localização, valor e preço da terra urbana Neste trabalho abordaremos constantemente os efeitos do s transpor tes e das vias de transporte sobre a estruturação urbana. Na verdade, só o homem - as elas· ses sociais-es trutura as cidades. Dizer, por exemplo, que as ferro v ias o fazem seria fetichizá-las. Para que isso não ocorra e para não cairmos no determini smo tecnológico dos transportes (Gottdiener, 1985, 44), vão ser dedic ada s algumas pági· nas para proporcionar ao leitor o enten dimento da re lação entre os transportes , as localizações, a valorização da terra e a estr uturação urbana. Tratar-se-á neste momento da terra urbana apenas, embora a essência do assunto aqui abordado- a acessibilidade e as localizações - va lha também para o espaço regional. Entretanto, a essência a que nos referimos é mais evidente no caso da terra urbana do que no da terra rural. É um equívoco a idéia de qu e a terra urbana é dom gratuito da natureza, de que por isso não tem valor ou não é possível controlar sua oferta. Tratar a terra dessa 70 maneira é equipará-la ao ar, ou mesmo às águas ta l como se encontram na natureza - mas não àquela água que sai da torneira em nossas casas. Com a terra é radical- mente diferente. Considerar a terra urbana produto não produzido, só porque sua base material o é, é o mesmo que reduzir um produto produzido à sua matéria- prima. Reduzir a terra urbana a apoio fisico é não só reduzi-la à sua cond ição de matéria-prima, como também a seu aspecto mais inconseqüente e irrelevante, o "começo da mobilização do espaço para permitir sua produção", segundo Lefebvre. Esse autor expôs com clareza o proces so de produção do (valor) espaço, distinguin- do-o de sua matéria -prima, o solo, no conceito fundiário anligo. A riqueza do texto justifica uma longa citação. ''A mobilização do espaço para permitir sua produção tem exigências severas. Ela começa- é sabido - pelo solo, que, de início, precisa ser arrancado da propri- edade do tipo tradicional, da estabi lidade, da tran smissão patrimonial - não sem dificuldades e concessões ao proprietário (as rendas fundiárias). A mobilização se estende a seguir ao espaço, subsolo e volumes acima do solo. O espaço inteiro deve receber valor de troca lgrifo no original]. Ora, a troca implica intercambiabilidade. A intercambiabilidade de um bem faz deleuma mercadoria, análoga a uma quantida- de de açúcar ou de ca rvão; ela exige que o bem seja comparável a outros bens e mesmo a todos os bens do mesmo gênero . O 'mundo da mercadoria' com seus tra- ços se estende às coisas e bens produzidos no espaço e, de suas circulações e fluxos, ao espaço inteiro que toma assim a realidade autônoma (na aparência) da coisa , do dinheiro. O valor de troca - Marx, depoi s dos 'clássicos ' , mostrou-o para os produ- tos-coisa - se exprim'e em dinheiro. Outrora, vendia-se, alugava-se a terra. Hoje, compra-se e vende-se (mais do que se aluga) um volume: apartamento, habita- ções, peças, andares, terraços, equipamentos diversos (piscinas, quadras de tênis, estacionamento). Cada lugar permutável figura assim no encadeamento das ope- rações mercantis - oferta e demanda [grifo nosso] formação de um preço (os pre- ços guardando aliás um vínculo elástico com os 'custos de produção ', isto é, com o tempo de trabalho social médio necessário para a produção). Neste ca so, como em outros, diversas causas perturbam e complicam esta relação, notadament e a especulação ... os preços se afastam dos valores e custos e produção lgrifo noss o1 ... A comparabilidade indispensável foi atingida pela produção de 'células' prati ca- mente idênticas"(1974, 388-89). * '" La mobilization de !'espace pour perm etre sa pro<luction n de s cxige nccs sévcrcs . Ellc commc ncc , 011 le !>ait, p:.ir Je sol, qu ' il faut d'ab ord arr ac hcr ii la propri é té tlc typc traditi onel. à la stabilil é , n la transm iss ion pa trimo niale. Non sa ns difiwlt és et co ncess ions au propriéta irc (lcs rent es font"icres). La mobilizmicm s'érend ensui te à !'espa ce, sou s -sol ct vo lum es a u-dc.ssu.s clu so l. ~és pucc en tlcr do it recevoir vnle1tr tl'éc:hange !grifos no origin al!. Or, l'échang e impliqu e l'inl e rchangca bilít é. t:échangcab ililé d 'un b icn la il de lui un e marc ha ndi sc, anal oguc à un e quanlit d de sucrc ou de charb on; cUc exige qu ' il so it co mp arab lc à d 'au lrcs biens el mêmc à tout s lcs bicn s du mê mc genrc. Le 'mond e de la marchandi se', avcc ses tra its, s'étc nd des choses ct bicns produits dans l'éspa cc e t de leur circula tion s ct ílu x, à l'es pac c cnli er, qu i p rcncl ain si la réal itc auto nom c (cn apparen cc) de la c.:ho sc, de l'a rgcnt . La valem d'éclwng e - Marx, apr és lcs 'class iqu cs', l'a monlr é pour lcs produil s -ch0!>CS- :.'ex prim e en arge nL. ]adi s, on vcnclail, on louail un e lcrre. Aujourd 'hui 0 11 ach clc c t ven<l (plu s qu 'o n J\C! lou e) un 71 Destaque-se nesse trecho a sutil dif ere nç a e ntre espaço produ zido e solo (a terra do tipo tradicional); a distinção entre o espaço socia l - co1no um todo-e as estrnturas e objetos (edifícios, casas, ruas, infr a-es trutura, etc .) qu e dele são elemen. tos constitutivos; a colocação do espa ço co n10 valor e con10 m ercado ria; a clara colo- cação do espaço como frnto de um proces so de produç ão, com seu custo de produ. ção; a existência de oferta e demanda de espaço, tal co mo ex iste ofe rt a e demanda de água potável tratada; a vinculação, no mercado, entre o pr e ço e "um volume" (os obje. tos dele constitutivos, cada um com se u valor próprio). Co mo veren10s adiante , ain- da neste item, o valor do espaço n ão se confunde con1 os valores d esses objetos. o valor do espaço, entretanto, é maior que o so mat ór io d esses valo res, poi s envolve o valor da força produHva represen tada pela e oriunda da ag lom eração. Note- se, final- mente, que a produção de apartamentos, lotes ou escrit61ios é considerada produ- ção; portanto, oferta de espaço. Com sua produção atinge-se a comparabilidade ne- cessária à produção de mercadorias, embora, teoricamente, nunca doi s pontos do espaço sejam iguais. São, no entanto, "célu la s praticamente id ê ntica s". Há consenso atualmente de que o ,espaço urbano é produ zi do - todo espaço social o é, mas vamos nos limitar ao espaço urbano. É produzido pelo trabalho so- cial dispendido na produção de algo socialmente útil. Logo , esse trabalho produz um valor. Uma pergunta fundamental que poucos se fazem: qual é o produto desse trabalho? Há aí dois valores a considerar. O primeiro é o do s produto s em si - os edifícios. as ruas, as praças, as infra-estruturas. O outro é o valor produ zido pela aglomeração. Esse valor é dado pela localização dos edifícios, rua s e praças, pois é essa locaJização que os insere na aglomeração. A localização se apresenta assim como um valor de uso da terra -do s lotes, das ruas, das praças, das pr a ia s-va lor que, no mercado, se traduz em preço da terra. Tal como qualquer valor, o da localização também é dado pelo tempo de trabalho soc ia lmen te nec essário para produzi-l a, ou seja, para produzir a cidade inteira da qual a locali zação é part e. Como acontece com todo s os produtos do tr abalho, o capitali sm o faz o possí- vel para transformar esse produto do trabalho em mercadoria. É verdade que nàoo consegue totalmente, pois não conseg ue reproduzir as aglomeraç ões sociais sem as quais não há localização. Entre tant o, apr oximam -se disso cada vez mais , produzin- do shopping centers e mesmo cidades (novas) inte iras, mas estes, próxima oure- motamente, sempre dependem de um a ag lomer ação cuja reprodução escapa ao capitaJ. Embora em teoria nunca haja duas localizações iguais (portanto não total- mente intercambiáveis), na prática isso não ocorre. O impulso que leva à produção de shoppings centers, hipermercados e cidades nova s é a tentativa do capital de produzir e transfonnar as localizações em mercador ias . volume: appanernent, logcment, picces, étagcs , lcrrasses, équip m entR divers (piscinc, tennis, parkin~- Chaque lieu échangeablc figure ai11si dans l' enc haincmcn l eles opérn Lions ma rchandes- offre et rlema11dt !grifo nosso! forrnation d'un prix (lcs prix gardan t un licn d'n illeu r élasliq u c avcc les 'coú ts de productimí c'cst-a-dirc avcclc tempsde travail sociaJ moycn néce ssa irc pour la production}. le i, co mm e ailleurs, diverscs causes troublcnt et cornpliqucnt cc rapport, notammcnl la spéc ulntion ... lcs pdx s'éca rtcnt des valeursel co1its de prod11ctio11 !grifo nosso) ... La comparabi lité indispen sable a été a lt e intc par la production des 'cellules' quasiment identiques." 72 Voltemos a Lefebvre, para falar do "ponto" corno o fruto do t rabalho resultan- te da produção do espaço. "O adquirente de espaço continua a adquirir um valor de uso. Qual? Ele não compra apenas um volume habitável, permutável com outros ... O adquirente é de- tentor de uma distância, aquela que interliga sua habitação a lugares, os centros de comércio, de trabalho, de lazer, de cultura, de decisão. Aqui o tempo entra nova- mente em cena ( idem, 391)."* A distância é tempo; não apenas tempo de um deslocamento, mas do somatório de todos os deslocamentos, bem como seus custos e freqüência s para todos os membros da família. Desenvolveremos essa questão no último capítulo. A terra urbana é matéria natural trabalhada-altaesofisticadamente-como um avião ou um aparelho eletrônico. Nas últimas décadas generalizaram-se as ex- pressões "ambiente construído" -built environment, cadre bâti- e ''produção so- cial do espaço" referindo-se especialmente a espaço urbano. O aparecimento des- sas expressões visa veicular justamente a idéia de que o espaço urbano é produto produzido, não é dom gratuito da natureza; é fruto de trabalho social. A grande ques- tão então é: se é produto do trabalho, qual o valor produzido? Alguns acreditam que esse valor são os edifícios, as ruas, as infra-estruturas. Nada mais equivocado. O valor do espaço é diferente do valor dos elementos que o constituem . A terra urbana é mera matéria-prima daquele produto, como o alumínio o é do avião. O espaço produzido tem valor, e seu preço, como o preço dos produtos produzidos em geral, é a expressão monetária desse valor. Lojkine (1981, 163) chega próximo à essênciada questão quando afirma: "Marx reduz, em O Capital, o valor de uso do solo a duas funções: a de instrumento de produção (minas, quedas d' água, terreno agrícola) e de simples suporte passivo de meios de produção (usina) de circulação (armazém, bancos) ou de consumo (mo radias, etc .). A própria terra age como instrumento de produção, o que não é o caso (ou pelo menos se verifica dentro de limites muito estreitos) de uma usina, onde o terreno serve apenas como fundamento, como lo- cal, como base de operações delimitadas" (citação de Marx, grifos no original). Ora - prossegue Lojkine (idem, 164) - "um terceiro valor de uso do solo assume, a nosso ver, crescente import ância com a socialização das condições gerais de produ- ção: o que chamamos de capacidade de aglom erar, logo de combinar socialm ente, meios de produção e meios de reprodução de uma formação social" [grifos no origi- nal]. Os dois valores de que trata Marx são totalmente insuficientes para a compre- ensão do espaço so cial, especialmente o espaço urbano. Em primeiro lugar porque a terra urbana não é usada como meio de produção. Em segundo, reduzi-la a "su- porte passivo" significa esvaziá-la de toda sua verdade. "Suporte passivo'' qualquer terra é, do Saara ü Quinta Avenida, do interior da Amazônia à avenida Rio Branco. O terceiro valor de uso de que fala Lojkine é então fundamental. En1 outra pa ssagem • ''l'.a cqu é rcur d'éspacc continue à acheter une val eur cl'úsa gc Laqu ellel TI n'a ch étc pa s seul emenl un volume hab itablc, commutablc avec d'autrcs ... l:a cquércur cs l prcncur dune dis lan cc, cclle qui rcli e son habitation à de s lieux, lcs centres de commerce , ele travai! de \ois ir, de cultur c. de décision . lci, le tcmps rcnLrc cn scênc (idem, 391)." 73 p lidem . 15-t) da mt\smn obrn, esse ,1utor considera que esse valor de uso reside na "propril'd,tdl' (lllé tem o próprio usµnço urlw no rlcft1.:er com que se relncioneme11rrp si os diferentes rlemt•ntos dn ridndc " [grifos no orig i nnl ]. É o que nós chamam05 de lonli:aç,10 ou po nto . Note-se. entretanto, que Lojkine pnr ece n atu ralizara lo. c-aliza,·ão: dr fala de uma "capncidnde " ou "p ro priedndc" da terra como quem fafa dfts ··propr iednctt,s" naturnis dos corpos, de que no s faln a física. A capacidade de aglomrrar n.1o é um dado dn nnturc zn. nã o e tmrn "pr o pri edade"; é um valorde nso produzido . Queiroz Ribeiro ($.d .. -t0) nega que a te rra tenha valor por não ser um bem produzido: assim. "não havend o n produç ão de ter ra não p od e haver lei da ofena.É a dema nda por terms que suscita a oferta, o que equivale a di zer que o preço da terra ~ detcnninado pela demanda ". Esse autor reco nh ece a itnp ortâncin da acessibilida- de tlocalização ) nos efe itos fiteis rlc aglomeração. "Para os capitais industria l, ban- cário e romercial. a terra urbana tem o pap el de pern1itir o acesso aos efeitos úteis de aglomeração. Ou sejn, segundo o capital específico. cada terreno panicularper- mile maior ou menor valori zaçã o pelo acesso que sua locali zação propicia aos efeitos títeis de ag lomera ção (s.d., 41 )." É válido obs e rvar qu e não é apenas parao capim! que a terra permit e acesso ao s e feitos út e is da aglomera ção - para a ío~ de trabalho também, da s residências à esco la, ao lazer, etc. Isso a que Lojkinecha- ma de capacidade de aglomerar só é po ssí ,·e l se exis tir ess a formid,\vel obra do ua- balho humano que é a cidade, e especialmente seus sisten1as de transporte. A 1erra urbana só interessa enquanto "terra- localização'·, (Villa ça 1985, 5), ou seja, enquan- to meio de acesso a todo o s ist ema urbano, a toda a cidade. A acessibilidadeé o valor de uso mais impo rtante parn a terra urbana , embora tod a e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau. Os diferente s ponto s do espaço urbano têm diferemes acessibilidades a todo o conjunto da cidade. A acess ibilid ade de um terreno ao conjun to urbano revela a quantidade de trabalho socialmente nece ~ário dispendido em sua produção . Quanto mais ce ntral o terr eno , mais trabalho e:..isr~ dispendido na produção de ssa centralidade, de sse va lor de uso. Os terrenos.da periferia têm menos trabalho social in co rp orado en1 s u a produç ão do que oscen· tra is. Daí nossa expre ssão "terra-localização ", ao lado d e "te rr a-matéria" e "terra- ca piral,'' criadas por t\ larx . A localização ou ponto é o va lor de u so produ zid o pelo trabalho coletiro dispendido da const rução da cidade. A exp ressão ponto é extremamente reliz. É real- meme espantoso como um conceito tão popular , tão co mum, tão impo rtante na nos· sa vida diária não tenha chamado mais a atenção do s es tudi osos do espaço urbano. • Não comprei aquele apartm .nento porque não gostei d o ponto. • A loja de fulano vai bem porque o ponto é ótilno. • É um sacrifício buscar as cria nças naquela escola p orq ue o ponto é péssimo. • O shopping cen ter faz o ponto . À frent e do estabe lecimento comercial vê-se un1a faixa com a inscrição:"Pns· sa-se este ponto ". Outra expressão popular extren1ament e fe liz. l'vlos tra que "passar 74 o ponto" significa pagar algo, não pelo terreno, não pela edificação, não pelas suas instalações. Não é também um aluguel. Paga-se o quê? Paga-se a localização, sem adquiri-la, porém. É uma espécie de adicional de localização para quem não vai compra r o terreno. Sendo receptáculo de contínua acumulação de trabalho humano criador de valor, a tendência é a de que o preço da terra urbana sempre aumente. Pode, even- tualmente, oscilar, como em qualquer mercado, mas a tendência é de aumento. Campos Filho (1992, 60) cita três pesquisas que mostram empiricamente "o cresci- mento, em valor rea l, do preço médio da terra, ao longo do processo de urbanjza- ção" em cidades brasileiras: em Belo Horizont e, o preço passou cio índice 100 em 1950para 856 em 1979. No Rio de Janeiro, variou de 100 em 1957 para376 em 1976 e, em São Paulo, de 100 em 1903 para 867 em 1978. Milton Santos revela toda a riqueza da localização e a import ância da acessi- bilidade. "Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, con- sumidor, cidadão depende de sua localização no terr itório. Seu va lor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibili- dade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mes- mas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga pro- porção, do ponto do território onde se está(1987, 81)." Todo terreno é único, é verdade. Teoricamente é impossível haver dois terre- nos com a mesma localização, já que esta é irreproduzível. Entretanto, só mesmo em casos extre mos e raros (embora haja muitos deles no Rio, por exemplo), a posse de um terreno envolve um monopólio. Em geral, só de maneira extrema é possível dizer que não existem duas locali zações iguais. Na prática, há muitas localizações tão parecidas que, para fins práticos, podem ser cons iderad as iguais. Toda oferta de habitação ou escr itórios - pa ra compra, aluguel ou venda - corresponde a uma oferta de terra e de uma localização. Para fins práticos, a produção imobiliária, legal ou ilegal, formal ou não, oferece milhares de lotes na periferia, praticamente iguais un s aos outros. Existe oferta de centenas de apartamentos de dois quartos, muito parecidos entre si, na zona Sul do Rio ou na zona Norte de São Paulo. A terra -locali - zação só é monopólio- ou melhor, o monopólio só pesa significativamente no preço - em casos raros, como a frente para o mar em Ipanema, ou a vista para o Pão de Açúcar. Toda terra tem, é verdade, algum grau de monopólio, mas na maioria dos casos esse grau é pequeno na determinação de seu preço. A terra-localização, como qualquer produto produzido, tem seu preço determinadobasicamente pelas con - dições de sua produção (pelo seu custo de produção, como disse Lefebvre) e pelo seu valor. Vamos desenvolver melhor o valor de uso da localização intra-urbana. É o valor de uso da localização enqu anto parte de uma aglomeração social. Em diversas passagens de sua obra, Marx refere-se às forças produtivas, sua natureza e seu papel. Recordemos alguns aspectos desses expedientes que visam 75 ( F ---:~ ... 41.....:-.:i :--n~ ·:hic2d e do trabalho. Um deles é a cooperação, irmã siamesa da :: "\":.~.:-.:" ::-::. ~·ho. ~b:x 'f'Stab-elec-e uma distinção entre as formas individuai s (di- ~:-7~':-.:i' -=-~"'.:~:::ic~ ] ") capital ista no ní\'el da unidade produtiva ) e as formas s::-...-:..:_ ~ .:'" .:\..X ;'t'::-'.:Cl"' !'re1e11demo!- explorar essa distinção. A cooperação , na esfe- ::: :-~.:.. .-=:--.: :- .::-3 ~..:.r.10 .1s~ociada às aglomerações, às cidades enquanto aglome- ~ -~ ~ :--~ a ;--n: Ui'"l1iJ,3de fJsica entre os trabalhadore s é condição necessária, - - -e ·-:::-.,.-::. ::_:, :-::~-~r. :.e~ pa.r.1 a C'Oopera çao . ~, ~:e-:?-~ i C'Oo·peração e à di\isão socia l do trabalho como "causas ge- -:...~ .:..:: ~ ~ :: ... -....-:...:,. .:_ ,?.t_'i:t,!Thidade do trabalho", das quais são oriundas "forças natu- --:::.5 ~"'---~:- ~ ::-.:~h(1· \.: d. L3. \ ·. 6. 738). Noutra passagem fala do "de senvolvi- ~:.:-..::.··:-:-::- :--~it:iY::3 $OCi~ do rrabal ho ··. englobando, sob essa expressão, além ..:.:. ..:--.:-,_-~=:!,-.:.:-~ .:..:: j_!ns..1.0 s0ebl do trabalho , a aplicação de maquinário em gran- .::-"' ~-.::....:. .:.;"::: ·\- .::. .:-~4'. Em .-\ ideologia al emã (s.d . v.l, 35 ) Marx e Engels se refe- ~:. :~-;--:::-.:::;3.:-.:x: ffi.J, :-t n,-...1 produti Y-a; colocam essa expressão ent re aspas ao afir- ~~~- - . '"-r-' --:...~: 2.:>:_:::1L ado modo de produção ou estágio de desenvolvimento -_::--...=:: ~~.::--':':::::..~ ?ermanenteme nte ligados a um modo d e cooperação (. .. )e - ~ ~ ~- ..:.:-:..:! i:'X.")i ~::ic-lo ê ele mesmo uma ·fo rça produtiva' ". Em Grundrisse _? - .x:"-.: _ ~::·-.:::: ·--:-~ .:-orno toda s as forças produtivas do trabalho, co mo aquelas ~ .:r::::?:=::-~ ~ ~11 rle sua in tensidade, portanto de sua extensiva realização, a ~-ic::.:.:::.:- ::~ ::-:: ... ~";.2co:-e-s- a cooperaçã o e a divisão do trabalho enquanto con- - .:-~ ::.=..:.~::>":::.:::~ tfa ?:Odurhida de do trabalho - aparece como força produti- !:.;... _-:..:::,- · i .!.. -=,~~"::'! .x-~e::h--a do rrabafüo. seu caráter enquanto trabalho social, é '3:_--=:::: =-:. ---:~ :-.:::-..:.~:i: ., .:o caoital"hrrifos no original]."' -- - " ~ ! .. ::-t'.:~..:...:-2.:'.\ ~!2..T.X ceà:ic.a o capíruJo XI do livro l d e O Capital, onde a ana- - '5: - :: i:..."1"?-.:= =:...::.2<::? produti\-a. ou seja. a cooperação diretam ente promovida ?=:: .:::::.--:--~.::. :)e.;:.:-4se_e aiirm:uqueo poder de ataque de um esquadrão de cava- -=.:. _:_r:_~ .:::..:. ~-. .... ~ =~ fo:,;.as indhiduais de cada cavalariano, acrescenta: "Do :=:'!:-.-.: =~..:::.. :::. :~:::::2 ~3.5 ;orça s mecànicas dos trabalhadores isolados difere da _-_ -.:::. ::-_ - ~..:; .... ~se .:::::!$-"'~\U.\c> quando muilas n1ãos agem simulta neam ente na =~- -.;~-=..:-.== .s.::.,-:sz. - ?OT exemplo. quando é n1isrer levantar mna carga , fazer .: -::.:-~ :;::-~~ ::-.2...--:..,ê '!: ou rcn10\--er un1. obstáculo .. . Não se trata aqui da eleva- .::i.: ~ : .°" ... ":.::. ;:-~_:::'\'2 ~.:ih~cual arran~s da coo pera ção. ma s a cri nção de uma/Dr- _-..:; ~<i.; ,;--e :x~ ~-::.::i !!C}5so '. a saber. a força cole tiv a'' (O Capim!. L. l. v. l. p. 374) . ..::C-=. ~ ::::=-:-::.:-:! es...'2 altura . que ao analisar n cooperação co m vistas às ~~.=,-=-:-:.:..._~ --=-.:...--:.J.S. ::=-o e.s:amos tratando das co ndi çõ es gerais de produção, _:-_?-=-.:.~..=:::-.=:-::::> .2. ~~ .?S~izdz - O que desracan1os aq ui é a força co letiva como :::=. "iDC :- =~ ~~ e:-?--~~::-o :'.:as 2.g?omerações en1 coo peração . A u rba n ização é uma : -1 ;::..i.:.:_:::-::. $-"\.:.-=... ::.~::, h:'!d3 .arraYés das aglomerações socialmente produzi- • - ic ....t .....-:C!!l::::!I'!' J~ :lfb!,:,-.: 1 :-.. tha:-e wtm::h detennin<' lh e dc-~rc~' of it:- intensit, ·, and hcncc oí ~ !!::f~· '! ~.., - ·n·c:. ~ .:s..."=..:!l'.:-, cf "·orl..ers. - th~' coopera 1io~1 .uid che di\ ·isio ·n of labour :is -:m,..m :-ir.n. :..".Cl.::J:.I.C,~ :.: ~f ,:1--.::>.:::~:-~~ e-[ J:"l!"to,.u - 3ppears :1s thc p roâ11 til'I' 1x>1,•1•1 nf ra11itnl. Th,· .- ,,._-~~ x ":!:: :,: ~:i= .i:s .:::;:u__"l}:-,:,e; as s..-..::...:::.J .~~our. is then~fore lhe ct>lfL-ctiPr.' ,,,,,w,•r of capit.1I." das (ao contrário daquelas diretamente produzidas pelo capitalista) como condição para o desenvolvimento da cooperação, também no nível social (em oposição à co- operação diretamente produ zida pelo cap itali sta) . Note -se que não é possível asso- ciar aqui a aglomeração urbana à desordem ela concor rência que Marx diz existi r na sociedade. Numa visão socia l ampla, as cidades são uma força produt iva e, como tal, trabalham seg undo uma lei , uma lóg ica e não cm desordem. Aprese n tam uma forma própria de cooperação - traba lhand o segundo uma lóg ica, um "plano ", na definição de Marx , (s.d. L. l , v. l, p. 374)-, tanto que potencializam a produtividade do trabalho soc ial. Se as cidades n ão apresentassem essa força co let iva, não teriam o desenvolvimento que tiveram so b o capita lismo. Portant o, como faz Lojkine (1981, 137), deve -se estender às cidad es o co nc eito d e cooperação "contanto que ele não seja redu zido apenas à associação dos trabalhadores na unidade de produção, mas sim que se torne um instrwnento essencia l do de senvo lvi m e nto na produção social" [grifos no original]. Marx deixa clara a existência de dois excedentes: um oriundo da s forças pro- dutivas que potencializam o trabalho individual e outro decorrente da s chamadas "causas gera is da elevação da produtividade do trabalho" ou "força produtiva soc ial do trabalho". A questão é assim colocada por ele referindo-se à construção de estra- das, mas propomos a transferência do raciocínio para as aglomerações representadas pelas cidades. "Co ncentração é sempre acréscimo da parcela da capa cidade de tra- balho que cada indivíduo pode empregar na con strução de estradas, além de seu trabalho particular; mas não é somente acréscimo. A unificação de suas forças au- menta suas força s de produ ção; entretanto , isso não significa de maneira alguma o mesmo que dizer que todos num erica mente somados, possuiriam a m esma capaci- dade de tra balho que teriam se não trabalhassem em conjunto , portanto, se à soma de suas capacidades de trabalho não fos se acrescentado o excedente existente so- mente no e através de seu trabalho unificado e combinado ( 1977, 528; grifos no original)."* Esse valor de uso oriundo ela força produtiva social do trabalho da aglomera- ção cidade cons iste no valor de uso das localizações. No valor de uso dos pontos o u localizações está incluída uma parcela desse excedente decorrente da força produ- tiva soc ial do trabalho; sig nifica isso que inclui uma parcela correspondente única e exc lusivamente ao valor de uso decorrente de sua inserção num a aglomeraç ão cuja produção se faz' 'segundo um plano ". Há outras parcelas, como o va lor ele uso decor- rente da infra -es trutura (q ue não depende de de slocame nt o), por exe mpl o. O valor do pont o, entretanto, é o que mais pesa no valor, e portanto no preço, da loca liza- ção. Por causa dele é qu e um terreno no centro de São Paulo tem muito mais valor • "Co11ccnlratio11 is nlways lhe acldilion ofthc parl uf lab our ca pacily wh it:h cac h indivicluul can cmp loy on road building apn11 lrum his pai ticuhlr work; b11t i1 is 1101 011/y tultl ilw11. Tlw unili cation of their forces incrca ses thcir Jorres o[ prod11ctio11; but Lhis is by no mea ns Lhe sa mc as saying thnt ull of th cm arlclcd logether , num cric;illy would po ssscss lh e sa mc labo ur capaci ty iíthc y did not work tog,:tlwr, hrnct', il'lo thc sum oíthcir labour ca paci lies wcrc not nddcd 1hcsurp/11s existing on ly in ,md l hrough th cir 1111itcd. co1111Ji11<1rl labour ." 77 que um no centro de Ca mpinas, apesar de nn1bos tere n1 o n1esmo valor no tocante à infra-e trutura Es e valor não se confu nd e, po r co n seg u inte, com o valordosedífí. cio,, dns rua ·, da infra-es trut u ra, em born o va lor deste s se tran s fira tamb ém para o \alar do ponto. Est.í ai a espec ific idade do va lor do ponto, da loca lização ("pura") e, portanw . da terra urbana. Tal va lor é captado co n1 clareza pe los di ferenciais de pre- ço entn .. dots terrenos . um ce nt rn l e o u tro per ifé ri co, d e u ma c idade que não tivesse nc-nhuma infrn-e t ruturn, ou e nt ão pe lo o p os to - p e lo d ifere n cia l de pre ço, entre dai, terreno· , ·ago , um cen tra l e o u t ro p e ri fér ico, d e u ni a c idade onde Lodos os terreno . ciw•ssem todo os t ipos d e infr a -es trutur a (ve ja Vill aça , 1985 ). Há décadas, Lénm, por exemplo, es tabelecia a re laçã o entr e va lor d a terra e acessibilidad e, ao apontar a e peculação fu n diár ia pr o n1ov id a p e los b a n cos, aprove it a ndo -se das vias de tmnsportes, "poi a alta do p reço dos ter re n os, a po ss ibilid ad e de vendê -losvan. rn10-~mcntc cm lotes, etc. dcpe nd cn1 s obr et udo d a co modid ade das comunica ções com o centro da cidade, e essas co muni ca ções estão pr ccisa n1ente nas mãos das grande compa nhias ligad as a esses m esmo s b a n co s p e lo s is t em a d e participa ções e de repnrtição dos pos tos de dire çã o" (Lê nin, 198 5,82).* No te-se q u e Lênin está se rcfrrindo ao transportes q u ando fal a d e "cornuni ca ções c o m o ce n tro da cidade". Se e, 11ves e se referindo realm ent e a Mcomunicaç õ e s", n ão pr ecisaria enfatizar que era com o centro da cida de, já qu e a "con1odidad e d as c omuni cações" é a mesma para qualquer parte da c idad e. Os poncos do es p aço intr a- urb a no condicionan1 a p art icipação do seu ocu- pante tanto na força p rodutiv a soci a l repr ese ntada p e la c id a d e com o na absorção, ntr'3\ és do consumo, das vant age n s d a aglomeraç ã o . É esse o va lo r d e u so do ponto - sua capaci dade de faze r com qu e se re lacionern entre s i o s di ve rsos elementos da cidade. Esse "re lacio n an1ent d' se dá de diver s a s forma s e por m e io de diversosflu . .>..os - o transpor te de m erca d or ias, d e c on s u1nidor es, d e for ça de tra balho ou as comunicações - , os q ua is tên1 impo r tâ nci a e p a p é is di fe re nt es con forme se trate de e~paço regional ou in t ra -u rba n o. Dessas co nsid e rações d ecor re qu e n o es p aço urb a no n ã o h á a renda diferenci- al que Marx desenvolve u para as terras ag ríc ol as. É um equívo co co n1p ara r a fertilida· de da terra agríco la - "um dom gra tuit o d a n a tur eza" - co m a loca lização, fruto de trabalho socia lm ente necessário. Aqu ilo a qu e se c h a rn ar ia de ren d a di ferencial no espaço urbano é na verdade um d ife rencia l d e va lor. Os t erre n os tên1 pr eços diferen· tes porque têm valores d ifere nt es, e n ão p o rq u e p ro d u za n1 rendas d iferentes. A valori· 1,.ação de um terr eno vago é acréscimo d e va lor res ul ta nt e da pro du ção da cidade ena ddade. Te rreno vago não gern ren da dif ere n c ia l. A locali z ação , ou a "terra- localização (Villaça 1985), te m valor; se u p reço, p o rtan to, é a expressão mone tá ria desse valor. A~ mudanças de uso o u tran sfo rrn ações urb a n as n ão ge ran1 re nd as diferen· ciais, mas reajustes o u a tu a lizações d e pr eços da terra , o p reço osc ilan do em torno • ... car IJ mont~c du pdx dcs tc rrain s, la poss ibilit é de le s vc ndr c nvn lagcu sc m cnl par lots etc. dépe11dcn1 su1101 uc la comrnoclité eles com mun ica t ions avcc lc ce nt re de la v ill c c t ces comnrnnications sonl p!'l'cascmcm JU.X mains dcs grandes co m pa ngni cs li écs à ccs m C:m cs bn nqu cs p ar lc systémc clcporticipntions cr la répJ 11ition dcs postes direccor iaux.'' 78 do valor. A terra ainda ocupada por uma residência de dois pavimento s na avenida Vieira Souto, em Ipanema, está com a realização de seu valor obstruída, entrava da , por essa residência. Sua demolição, por exemplo, para nela construir um edifício de apartamentos, fará com que esse valor seja "liberado"; possibilitará atualizar o pre- ço do terreno, tornando-o cond izente co m seu valor atual. Somente com a demoli- ção da residência o preço poderá se r liberado. A demolição, entretanto, é condição nec essária mas não suficiente para a atualização do preço. Esta só ocorre quando o terreno for efetivame nte utilizado por uma atividade e um edifíc io condizentes com seu va lor. No mercado , condições diversas podem fazer com que o preço dos terre- nos oscile em torno do va lor - como ocorre com os preços em geral. Assim, o incorporador libera o preço do terreno ao demolir a casa. Define, então-tem con- dições de fazer oscilar o preço em torno do LJalor - , um preço para a compra do terreno e outro para su a venda, depois de edificado, decorrendo daí seu lucro. Ape- nas os terrenos vagos têm seu preço cont inua mente atualizado; só, entretanto, quan- do estiverem com o uso certo no momento certo, estarão com seu va lor plenamente realizado. O terreno urbano vago ajuda a elucidar a di stinção entre a renda e o valor da localizaç ão. A renda diferencial agrícola não existe se não houver atividade pro- dutiva no terreno, já que ela é captação de parte do valor criado por essa atividade. Se o terreno urbano vago apre se nta um acréscimo de valor, esse acréscimo deriva da alteração de sua localização e esta, por sua vez, d eriva do trabalho social dispendido na produção de todo o espaço urbano. Tal alteraçã o ocorre também na terra agrícola, e nela também não é renda. O preço da terra urbana tem, portanto, doi s componentes. Um que decorre do seu preço d e produ ção, e outro que é um preço de monopólio . Quanto à renda , se considerar mo s - como deve ser considerada - a renda absoluta uma forma de renda de monopólio , a única renda que existe no caso urbano é a renda de monop ó- lio. Esta, em alguns casos- a minoria- , pode ser enorme, e em outros- a maioria -, pode ser pequena. Em qualquer caso, contudo, afetará o preço do terreno . Seja no espaço intra-urbano, seja no regional, a estrutura espacial advém das transformações dos ponto s: se us atributos, valores e preços, seus usos, os quais decorrem, em última in s tância, da melhoria de acessibilidade. Isso ocorre, seja na exploração de terras valorizada s p elas ferrovias através da s ditas "companhia s de colonização" (das quais Londrina e Marin gá não são se não alguns portentoso s exemplos), se ja nas grandes obras urbana s que ou introdu zem novas acessibilida- de s - a avenida Rio Branco, as várias ave nida s beira-mar e os túnei s, no Rio; a Nova Paulista, a avenida Luís Carlos Bcrrini ou a Nova Faria Uma , em São Paulo; a Via de Contorno Norte , em Florianópolis, as já mencionada s renovações dos ce n- tro s de Porto Alegre e São Paulo na década de 1940 , etc. - , ou aproveitam a aces- sibilidade já existe nte, como no caso do desmonte do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro. As acessibilidades variam ainda de acordo com os vefcuJos utilizado s. Variam, portanto, com as classes so ciai s: com a distinção , por exemplo , entre a acessibilidade para quem depende de transporte público e para quem possui transporte individual. 79 Sendo os transportes intra -urb anos os maiores determinante s da s transfor- n1ações do s pontos, as vias d e transportes têm enorme influência não só no arranjo int e rno das cidades, 1nas também sobre os di ferenc iais de expansão urb ana.Vamos ver como elas opermn no espaço urbano. Vias regionais e urban ização Re iteran1os aq ui que o ob j eto desta obra n ão é o proce sso de urbaniz ação, mas o de estr uturação do es paço intra-urbano. Portanto, quando se diz, porexem- plo, que unrn via provoca o crescimento ou desenvolvimento urba n o nesta ou na- quela direção, esta mos nos referindo ao arranjo espacial do cresc imento, não à sua causa primeira. É claro que um a via, por s i, n ão provoca nem crescimento nem de- senvolvime nto urbano. O prime iro efeito que uma via regional ou terminal d e tr ansporte urbano pro- voca nos terrenos ad ja centes é a melhoria d e s ua acess ibilid ade e, daí, sua valoriza- ção. Corno exposto aci ma , essa expressão deve ser tomada no sent ido rigoroso da teoria do valor- tr aba lho. Há um au1nento d e valor - criação de valor-, que é fruto do trabalho socía ln1ei1te n ecessár io dispendido na construção da via e na produção de todos os pontos que a ela po ssa m se r contatados - todos os pontos do espaço construido. O va lor da terra que passa a ser determinado por uma via é em geral maior que o da própria via. Como vimos, o valor es pe cífico do espaço urbano-a localização - não se confunde com o valor da s estruturas - ed ifí cios, redes ou es- tradas - que o co nstitue m. Em virtude do au m ento da acess ibilidade, ern últim a instância, ao centro da ci- dade, aqueles terrenos adjacen tes trarão economia d e transport e a seus eventuais ocu- pantes; seus valores se alterarão e se u s propri e tário s embolsarão essa valorização. A garantia de uma demanda e a po ss ibilidad e qu e os proprietários da terra têm de especu lar fazem com que a terra r u ra l atinja o estágio de potencialmente urbana, antes, no tempo e no es pa ço, de s u a efe tiva ocupação por atividades ur- banas. Note-se que estamos falando de acess ibilidad e ao ce n tro e não "proximida- de à cidade "; não se pode dizer q u e aq uel es ocupantes procur am pr oxim idade (me- lhoria de acessibilidade) à cidade: e les proc ur am a c idade. Como manifestação do crescimento urbano já "são cidade" (do ponto de v ista socia l e eco n ômico) e, quan- do se localizam naque les pontos , já estão na cidade (do ponto de v is ta espacial)- e não próximos a eJa. Daí a afirmação de q u e os ocupantes procuram proximidad e ao centro da cidade. A simp les proximidade física de um terreno rural à c id ade não o torna poten- cialmente urbano. É necessário haver acessibilidade, isto é, um s istema de transporte de passageiros a preços compa tíve is com os que podem ser pagos pe la demanda. Nesse sistema cabe um destaque às vias, aos terminais e aos pontos de parada dos veículos, que são os elementos onde se concretiza ou pode se conc retizar a acessibilidade. Para examinar essa que stão, é ilustrativo focalizar os casos extremos de vias e term inais que não exerce m nenhuma atração sobre a urb anização, precisamente por- que não oferecem acesso a transporte intra-urbano, n1esmo q u e se lo calize m dentro 80 de cidade s. São os casos- ext remos, repetimos - das aerovias e do s aeroportos, ou das hidrovias e portos. Um porto ou aeroporto podem até fazer surgir uma cidade em torno de si, mas não pelos transpo rtes que oferecem e sim pelos empregos; estes , sim, podem vir a gerar um a demanda por tran sporte - que será intra-urbano e nada terá que ver com o transporte oferecido pelo porto ou aeropo rto. Com o tra nsporte extra- urbano apenas, sem o transporte intra-urbano de passageiros, não pode ha ver expan - são urb ana. O oposto oco rre com um a rodovia qu e, ao longo de todo se u percurso, oferece possibilidade de concret ização de transporte urba no de passagei ros; ou com uma ferrovia, onde a acessib ilidade se concret iza somente nas esta ções. As linhas dos grandes transat lânt icos não atraem a expansão de uma cidade ao longo do litora l, contínu a ou intermitentemente, nem a formação de povoados em locais intermediá - rios da costa. Entretanto, os serviços de lanchas de passageiros ent re cidades, por apre- sentar possibilidad e de fazer um ponto de parad a em qu alqu er lugar do litoral entr e elas, podem gera r povoados e futuras cidades. Nossas ferrovias foran1 co nstruída s para ate nd er a urna demanda regional de transportes. Não foram construídas para o trans port e urb ano de passage iros. É bem verdade qu e já em meados do sécu lo XIX havia serv iço ferroviário suburbano no Rio de Janeiro, mas não foi esse o moti vo princip al da const ruç ão da ferrovia. As atuais estações suburbana s surgiram ou para ate nder a cidades qu e já existi am an tes da fer- rovia (mesmo que dela afastadas), ou em função de pa radas ca rgueira s ou industriais, ou então pa ra atend er à expansão urbana junto à ferrovia, em locais onde ainda n ão havia parada. Mesmo ass im, a população e as indústrias ali se radicavam n a perspec- tiva de qu e o acesso pud esse um dia se con cretiza r. No primeiro caso, as estações geraram cidades. Exemplos são Santo André , nascida da estação que atendfa a São Bernardo, ou Nova Iguaçu, que atendia a Iguassú Velha, ambas localizadas lon ge da ferrovia. O intenso desenvolvimento urbano em torno das estações - manifestação descon tínua do crescimento da cidade cent ral - pa ssou a sup erar o dos povoados que a elas deram origem. A Estação de São Bernardo (que depois veio a ser Santo André) cresceu mai s que a própria São Bernardo , e o mesmo aco nteceu com Nova Iguaçu. Em ou tros casos aind a, as estações eram ape nas paradas para carga, como se vê pelas seguintes mençõe s feitas a localidades ao longo da então E.F. São Paulo Railway, as quais, em 1908, estavam certamen te .além dos limites metropolitanos de então; atendiam portanto a uma demanda regional ou extra -urb ana. "Na estação imediata , Rio Grande, existe uma serraria, o que dá la gar a um pequeno con1ércio de madeiras. Negocia-se também com lenha e pa lmit os. Não há povoado no logar." Trata -se da sede do atual município de Rio Grande da Serra, no alto da Serra do Mar, que mais tarde viria a integrar a Área Metropolitana de São Paulo. Refetindo-se a outra parada, a mesma fonte afir ma: "Pirituba é a estação segu int e: se m imp or tânc ia . Exporta le- nha, pedra s e col la" (Cunha, 1909, 320, 321). Tais localidades não era m atendidas por trens de pa ssage iros nem tinham estações de passage iros, ma s já representa- vam uma demanda urbana sobre um sistema de tran spo rte extra-urbano. Os quadros 4, 5 e 6 m ostram a enorme multiplicação das est ações ao longo de trecho s ferroviár ios pró ximo s a São Paulo e Rio de Jane iro . Essa multipli cação j á 8 1 representa uma demanda intra-urbana, visando atender ao crescimento da cidade central ao longo de uma ferrovia que não foi construída para atender a seu trans. porte urbano, mas que a cidade aproveita para essa finalidade. Esses quadros mos. tram que as estações aumentavam em função do avanço da vanguarda da expansão urbana; com efeito, na linha Centro da então Estrada D. Pedro IT, depois Central do Brasil, entre o ponto inicial e Cascadura, surgiram catorze novas estações entre 1858 e 1890, enquanto entre esse ano e 1919 surgiu apenas uma. No entanto, entre Cascadura e Nova Iguaçu (trecho seguinte) surgiram apenas três estações entre 1858 e 1890, e sete no período seguinte; isso mostra que s6 neste último período a van. guarda urbana alcançou a região mencionada. Fenômeno semelhante ocorre com a rodovia. O transporte rodoviáriocontu. do é mais flexível, pois, em qualquer ponto ao longo da via, o potencial pode con. eretizar-se, ou melhor, pode concretizar-se a acessibilidade ao centro da cidade.sem transbordo, inclusive através de um simples ponto de parada que um ônibus inte. rurbano faça na área rural próximo à periferia urbana. A partir de enlão, esseponlo passa a ser servido por transporte urbano (intra-urbano) oferecido por uma viain- terurbana, ou extra-urbana. É a via interurbana transformando-se em via intra-ur- bana. No caso do automóvel, o veículo é de propriedade individual e privada, e avia é pública; o uso do veículo depende apenas de uma decisão individual de seu pro. prietário. Assim, a simples presença da via já significa, imediatae automaticamen- te, melhoria de acesso. Em virtude dessa facilidade para concretizar o acesso, o au- tomóvel e as rodovias provocam um tipo de expansão urbana distinto do da ferrovia, que é mais rarefeito e menos nucleado. O sistema interurbano de transporte, quando apresenta a possibilidade de oferecer transporte urbano de passageiros, atrai a ocupação urbana nos pontos aces- síveis ou potencialmente acessíveis, visto que altera o valor de uso da terra, gerando uma oferta de novas localizações que são ocupadas por uma parte do excedentede população e atividades geradas a partir da cidade central em expansão. A via regional, surgida a partir de uma demanda extra-urbana constituio motor inicial que provoca a causação circular, entre oferta e demanda de transporte urbano de passageiros ao longo de seu traçado. Essa via surge em função de uma demanda estranha e externa à cidade, ou melhor, às necessidades intra-urbanas.A própria locação intra-urbana de tais vias é ditada pela posição da região pore!as atendida em relação à cidade. O transporte intra-urbano surge, então, como um subproduto do sistema interurbano. representado por uma parte desse sistema que a cidade recebe não só antes da demanda, mas também gratuitamente. À medida que a cidade cresce, ela se apropria e absorve os trechos urbano! das vias regionais, como nos casos das rodovias antigas que, com o tempo, se trans· formaram em vias urbanas. É a mudança de função da via (que passa a ter tráfegc intra-urbano), e não sua localização (dentro ou fora da cidade), que transformaumi via regional em urbana. Em alguns casos essa absorção pode ser total, abrangendo todos os elemen tos do sistema de transportes, e de direito, como aconteceu e acontece com trechoi 82 de rodovias não expressas que se transformam em ruas- e há inúmeros exemplos disso em nos sas cidades. A estrada velha para Santos é hoje uma simples rua tanto em São Paulo como em São Bernardo. Nesses casos a cidade absorve não apenas a via, mas também sua operação, manutenção e administração, que pas sam para a alçada dos governos municipais. Em outros, pode haver uma absorção urbana de fato, mas não de direi lo, como aco ntece com trechos urbanos de rodovias expressas. Nesses casos, como no da via Anchieta, até São Bernardo, a maior parte do tráfego pode ser intra -urbano, porém a via continua se ndo estadual ou federal. Quadro 4- Estações ferroviárias existentes em períodos selecion ados RIO DE JANEIRO 1. Estrada de Ferro Central do Brasil (antes D. Pedro 11): linha Centro em 1858 Corte sao Cristóvão Engenho Novo Casca dura Nova lguassú Queimados Todos os Santos em 1890 Pedro li Marítima São Diogo São e ristóvão Derby Club Mangue ira São Francisco Xavier Rocha Riachuelo Sampaio Engenho Novo Meyer Todos os Santos Engenho de Dentro Encantado Piedade Quintino Bocaiúva Casca dura Madure ira Deodoro Mesquita Nova lguassú Queimados 83 em 1919 Pedro li Marítima São Diogo Lauro Muller São Cristóvão Derby Club Mangueira São Francisco Xavier Riachuelo Sampaio Engenho Novo Meyer Engenho de Dentro Encantado Piedade Quintino Bocaiúva Encantado Madureira D. Clara Oswaldo Cruz Prof. Bento Ribeiro Marechal Hermes Deodoro V1c. de Albuquerque Anchieta Engenheiro Neiva Mesquita Nova lguassú Morro Agudo Austim Queimado s Quadro 5 - Estações ferroviá rias ex istentes em períodos se lecio n ados RIO DE JANEIRO 2. Estrada de Ferro Central do Brasil: linha auxiliar em 1914 Alfredo Maia São Cristóvão Mangueira Triagem Heredia de Sá Vieira Fazenda Dei Castilho Cintra Vidal Terra Nova Thomas Coelho Cavalcante Engenheiro Leal Eduardo Araújo Magno lnharajá Sapé Honório Gurgel Barros Filho Costa Barros Thomazinho Rocha Sobrinho Andrade de Araújo em 1898 São Cristóvão Mangueira Dei Castilho lnharajá Costa Barros Andrade de Araújo Quadro 6- Estações ferroviár ias existe n tes em pe rí o d os se lecionados SÃO PAULO Estrada de Ferro Central do Brasil (antes D. Pedro 11) em 1875 Norte Penha ltaquera Lageado Poá Suzana Mogy das Cruzes em 1914 Norte Guayaúna ltaquera Lageado Poá Suzano Santo Ângelo Mogy das Cruzes em 1967 Roosevelt (Norte) C. Falcão Engenheiro Gualberto Carlos de Campos (Penha) Vila Matilde Patriarca Artur Alvim ltaquera 1 5 de Novembro Guaianazes (Lageado) Ferraz de Vasconcelos Poá Calmon Viana Suzano Jundiapeba (Santo Ângelo) Brás Cubas Mogi das Cruzes Fontes dos quadros 4, 5 e G: Ministério de Viação e Obras Ptíblicas, EstaLíst icas das Estradas de Ferro da União e das fiscalizadas pela União relativas ao ano de 1919. p . 34 a 86. As estações foram enquadradas nos distintos períodos segundo a data de sua s iuaugurações. Pnra São Paulo em 1967: Prefeitura Municipa l de São Paulo; Hochtief, Montreal, Deconsult, Sistema Integrado de Transporte Rápido Coletivo da Cidade de São Paulo. p. 217. 84 No caso da ferrovia, a presença da via não sign ifica automática e necessaria- mente acesso urbano, inclusive porque a cidade não pode operar o sistema e ofere- cer os veículos. Há ainda uma questão a ser esclarecida tocante ao tema da relação entre a via regional e o crescimento urbano. Por que o crescimento das cidades é tão atraído pelas vias regionais mais importantes - em geral as que as ligam a regiões ou cida- des mais importantes - se essa importância, por referir-se a um tráfego regional, não significa necessariamente melhor atendimento urbano? Para um dado sistema de transportes, o tempo e o custo dos transportes s5.o função das qualidades técnicas da via e do serviço e da demanda de transportes que ela atende, mesmo se for extra-urbana, ou seja, apenas regional. Entre dois pontos da área rural junto à cidade, a igual distância do centro urbano e junto a du as vias da mesma natureza (ferrovia ou rodovia e, em alguns casos, até mesmo hidrovia), po- rém com diferentes volumes de tráfego e de características técnicas e operacionais, aquele que estiver junto à via com maior volume de tráfego e melhores característi- cas técnicas apresentará probabilidades maiores de receber transporte intra-urba- no e, quando isso ocorrer, terá menores tempo e custo de deslocamento ao centro urbano. Será, por isso, o primeiro a ser ocupado por atividade urbana. As caracterís- ticas técnicas de um sistema de transporte - via, estruturas complementares e os serviços - em geral são melhores nas vias de maior volume de tráfego regional. Entretanto, há casos de vias de melhores característ icas técnicas, atendendo a regiões de menor demanda regional. Nesse casoi a expansão urbana é atraída mais forte- mente pelo maior volum e de tráfego. Em São Paulo, por exemp lo, a rodovia Castelo Branco tem características e técnicas muito melhores que a via Dutra; nem por isso atrai mais urbanização e indústrias do que essa rodovia. As vias regionais de transportes constituem o mais poderoso elemento na atração da expansão urbana; note-se que até aqui não se falou em localização de indústrias, pois a expansão urbana não está necessariamente correlacionada com a localização de indústrias. São Paulo mostra-o exemplar men te, como veremos adiante. Outro elemento que mais influencia a expansão urbana - agora no sentido de obstruí-la, e portanto adensar o tecido urbano -são os obstáculos naturais, tais como serras, zonas de proteção de recursos naturai s, etc. Cidades em vales tendem a crescer mais no sentjdo do vale do que transversalmente a ele. No Brasil, até a década de 1970, as grandes vias regionais só atraíam a expan- são urbana representada pelos bairros das camadas de baixa renda. Com a difusão do automóvel e das auto-estradas de iJ1teresse regional, algumas daquelas vias pas- saram a atrair também bairros de alta renda. É o caso da rodovia Castelo Branco, em São Paulo, mas não da Rio-Sanlos nem da Estrada do Coco, em Salvador. Nessas rodovias, a região que atravessam já estava marcada paraser de alta renda antes de elas se tornarem rodovias regionais de alguma importância. Dada a pequena parti- dpação dessas camadas no tota l da população, a expansão urbana ao longo das vias regionais não tem sido significativamente afetada. Como veremos, as frentes de cres- 85 cimento de nossas metrópoles continuam sendo ocupadas sobretudo pelas cama. das de 111enor renda. O período pré-ferroviário Antes da construção das ferrovias, nos sas cidades cresciam mais ao longo dos prin cipais can1inhos do que em outras direções . A Figura 13 mo st ra que , aindaern 1914, a área edificada de São Paulo desenvolvia claro s tentáculos ao longo dos anti- gos caminhos, apesar de já haver ferrovia s h á mai s de um quar to de séc ulo. Salvador , por ocupar un1a ponta qu e avança s obre o mar e pelos acidentes do sítio, tinha, co1no o Rio, somente duas direções para crescer: a dir eção do interiorda baí a (do Recôncavo ), ou a direção da orla de alto-mar. A F igur a 14 mostra qu e,jápor volta da dé ca da de 1870, o crescimento de Salvador era ma is pronun cia do na dire- ção do interior do que na direção da orla de alto-mar. Para i sso, foram decisivos dois fatores: os caminhos que levavam ao já povoado Recôncavo e interior da província, en1 que p ese o fato de a maior parte dos tran sp ort es regionais se r por mar; a estrat ificação social, com diminuta participação das camadas de alta renda que, então, já cresciam mais na direção oposta. O caminho par a o int erior era mais im- portante do que o da orla , que levava para Vila Velha ou Rio Vern1elho. Depois de afirmar que , na "direção norte" (do interior do Recô ncavo ), a Cidade Alta terminava no Con vento da Soledade, prossegue Vilhena (Ce ntro de Estudos de Arquitetura na figura 13 -Área edi ficada de São Paulo cm 1914 86 10'"' • ............ C51RAOAS DC FCJt:•o JIQl1E - R000"'AS nlN112: 1''--l'A an.... OA CIDMX DC Solo l'A!Jltl 00Y$$ÃO c;coQl.(flCA C CtOU)QC:A UCN.A-L - \ \' ., 1 \ ol.:\'IIO \ l ,. CJ -::, d :g u 1 -:1' - RJhi, 19,~ \ '.!. 95)· "dai para o nort e. cont inuava entre roça s a es trad a principal qu\· emra na Bahia, chamada vulgarmente 'da s Boiada s', atual Estrada da Liberda. dl: - pür cmrarem por ela todas as que do s se rtõe s de scern par a a Bahfa". Thale~ dr -\zl"\tdo 09~5. 348) afirma que , co m "a reaber tur a do antigo caminho da Mata Ct. .,o J ão,. '· em l652, fez-se a ligação definitiva do Sertão p ela qu e viria a ser <1enonnad.1 'e-;trada da boiadas' e pela qual vinham as reses mai s direta menie do qur pe!o Rto \"cm1elho. para os currais da n1atança próxi1no s à atual fortaleza do BJrbalho·. Ra?ões de cgura nça e defesa não podem ser in vocada s para exph. caro mJ1or dc~en\olvimento de alvado r para o int er ior na seg und a metade do ·culo \\ 111 e no início do XLX. Em primeiro lugar , ne ssa época, as inva sões já não amcaçar~m tanco o paf como no sé culo XVII e, em segundo, as probabilid ades de ln\J ão pelas praias de alto-mar ou do Recôncav o eran1 praticamente idênticas. {)e_cre\C~ndo a ah a dor da época, relata Rocha Pita que "na par te hoje denomina. da. ledade ,. l e ra o forte do Barbalho ( ... ) agora po sto em grandeza competen- te a defender o desembarque de qualquer inimigo que , quer porTapagipe ou pela rrn1a Grande ,onde ·altara m em terra os belgas na guerra da Bahia ), a qui ser inva- dir" , Plla, eirado por Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia, 1979, v. 2, 40). Ante. do ad\ ento da ferrovia, o crescimento do Rio de Jan eiro em direção ao norte foi impu1sionado pela fusão, na periferia urbana de então, e naquela direção, de dua importantes correntes do tráfego que saíam e entravam na cidad e: uma se destma\a a ão Paulo e outra a Minas Gerais (veja figuras 15 e 16). Só muito forada t.;dade é que essas direções se bifurcavam. É interessante acompanhar o desenvol- , 1menl0 dos setores urbanos associa dos a essas duas direçõ es e a reviravolta que ofreu o cresc1mento espacial do Rio de Janeiro en1 face da alteração da importância ctas \ 1.t~ regionais de transport e ligadas às duas direções em questão .* TaJ reviraYolca mostra muito ben1 o efeito das vias regionais mais importan· 'LS •-i..>bre as direções preferenciais da expansão urbana. Os quadro s 7 e 8 permi- tem-nos concluir que, até a déca da de 1940, o setor de Santa Cruz era mais popu- lo!,o que o de !\O\'a lguassú . fsso revela duas coisas in1portantes: en1 primeiro lugar que a expansão urbana se manteve preferencialmente ao longo da via qu e ligava a cidade a região com a qual mantin ha fluxos mais intensos de t ráfego . Mudando a dm:ção dessa região, mudou também - embora lentament e - a expansão urba· na. Lm segundo lugar, demons tra como é duradoura a expansão urbana ao longo de um setor, antes da reversão. O setor de Snnta Cruz manteve -se mais populoso do que o de No\'a lguassú por cerca de ce m ano s após este últirno ter recebido a ferro\ ia. O fato de a ant iga rodovia Rio-São Paulo c oincidir en1 grande parte com o setor de Santa Cruz pouco contribuiu para a resistência desse seto r, uma vez que na maior parte daquele período o tra nsport e rodoviário foi de import ância insignificante. • Também aqui, 3 grande predominância da s ca m adas d e baixa renda na estratificação social vai detcrmin:ir a predomin ància do crcscimcmo urbano, já que estas são majorit a riam ent e atraída s p e las vias regionais.. 88 Quadro 7 - Rio de Janeiro (século XIX) População dos setores de Nova Iguassú e Santa Cruz NOVA IGUASSÚ Paróquias e freguesias Santo Antônio da Jacutinga Nossa Senhora da Piedade de lguassú São João de Mirity Nossa Senhora da Conceição do Marapicu Total Santa Cruz Campo Grande Santa Cruz Total 1872 4 485 2 524 7 009 9 686 2 631 12 317 1890 6 564 3 576 2 970 4456 17 566 15 950 1 O 954 26 904 Fonte: Ministério da IndtísLria, Viação e Obras Públicas, Dirccloria Geral de Estatística, recenseamentos de 1872e l890. Quadro 8-População em alguns setores ferroviários em São Paulo e Rio de Jane iro (século XX) Setor Ferrovia Distância ao População total e direção centro em km (1) 1920 1940 1950 RIO DE JANEIRO Nova Iguaçu (2) CB-SP 29 30 573 140 606 268 517 Duque de Caxias (2) Leopoldina MG/ES 20 2 823 74 565 176 306 Campo Grande (3) EFCB Mangaratiba 29 68 911 146 568 242 028 SAO PAULO Penha-São Miguel (4) CB-Rio 12 1 O 782 62 392 148 118 São Caetano-Santo André SJ-Santos 13 12 036 62 440 152 843 Osasco-Barueri (5) S-Sorocaba 15 4 909 17 992 42 752 Pirituba-Perus (6) SJ-Campinas 13 5 195 35 651 (1) ( 1) Distâncias cm linha rela dos centros de São Paulo e Rio alé a .írca mai s adensada do vérlicc mai s central do setor. (2) O setor engloba os atuais municípios de Nova Tguaçu, Nilópoli s e São João de Merili . A população de 89 li ! 1· 1 ,. "" 1920 corre sponde aos então di s trito s lgua ss ú, Cav a , Be lfort Roxo , Qu e imado s, Pa vun a e São Mateus todos do entã o munic1pio de lguassú. A populaçã o e m 1920 do atua l município d e Duque de Caxiasé~ d o então Dis trit o de Xcrém . (3) Refere -se ao territóri o qu e, em 1940 e 1950, co rr espo ndia às circ un sc ri ções de Sa nta Cruz, Campo Grande e RcaJc ngo . Em 1920 esse te rritório se aproximava basta n te do s e nt ão distritos de Campo GrandcfW di s trito , qu e incluia os ntí cleos de Campo Grande, Ba n g u e RcaJengo) e Santa Cr u z. (4) Refere -se à área que , cm 1940 e 1950, co rres pondia ao s ubdi s trito da Pe nha e aos distritos de São Miguel Pauli sta, Gu a ian azcs e lcaqucra; e m 1950, es s a área corres p o ndi a ape n as ao subdistrito da Penha cao di s trito de São Miguel. Co m o a análise está se l imitando a período s a n ter iores a 1950, o setor foi car:-icteri z.'ldO ap enas pe lo trec ho Penha-São Mi gu el. Na década d e 1970 esse se to r atingir ia Mogidas Cni zcs . (5) Inclui os atuai s municípios de Osasco, Carap icufba, Bar u e ri, It apev i e Jand ira. Em 1920,essa área compreendia o su bdistri to de Osasco, d o então di s trito de São Paulo, e o distrito de Barueri, do então município de Para nahyba. (6) Refere -se à área que , cm 1920 e 1950, co rr espon d ia ao s ubdi str it o de Pirituba e ao s dis trito s dcJaraguá e Pe rus. Em 1920, e la co r res p ondia apenas ao então di str ito d e P iritub a. Font e: FIDGE , Cen sos Demográficos. Essa superioridade demográfica do setor* de Santa Cruz é um a reminiscên- cia do p eríodo anterior ao transporte ferroviário . Foi sem dúvida por essa importân- cia urba na , de corrente de u m sistema de transportes regionai s a nt er ior (mais que a necessidade d e ligação com o porto de Mangaratiba), que a regi ão Campo Grande/ Santa Cruz foi brindada com um ramal da Estrada de Ferro Centra1 do Brasil (EFCB). Como vimos, a Estrada Real de Santa Cruz era a principal via terrestre qu e ligavao Rio a impor tan tes regiões vizinhas; não só a São Paulo, ma s a imp ortantes portos exportadores de ouro, como Angra dos Reis e Parati e a rica s zonas nuais do litoral. Por outro lado, Iguassú ficava no trecho in icial- que era por mar- d a ligação com Mina s . Em meados do século XIX, a direção oeste era ma is urb ani zada que a noroes- te (Jgua ss ú) . Entretan to , o desenvo lvimento ferroviário na segunda metade desse século , por razões regionais, passou a priv ilegiar mais a direção noro este (nova dire- ção da ligação co m São Paulo ), onde surg iu não u ma via , mas um feixe d e vias-ao qual se integrava inclusive a Estrada de Ferro Leopoldina-, que passou a concen- trar o tráfego de ligação do Rio com o restante do país. No fin a l do século XIX, as mell 1oria s ferrov iárias passaram a privilegiar a direção noroe ste (Nova Iguaçu) e as obra s do ramal de Mangarat ib a/S anta Cruz caminhavam muito lenta m ente. Só em 1878 o ramal atingiu Santa Cr uz, e m 1884, a estação do Matadouro e em 1914 che- gou a Mang aratiba (Ministério da Viação e Obras Pública s, 19 24, 34-43). Essa via férrea ass umiu um papel modesto , diferente do que t inha o caminho no séculoX\flíl. Mesmo ass im, em nome da demanda já ali instalada pelo sistema d e transporte an- terior, o ramal foi con s tnúdo com b oas ca racterí sticas técnica s, e mbora, cronologi- camenl e, com significativo a traso em relação ao desenvo lvim e nto da s ferrovias na direç ão noroe ste. Paula Pe ss oa (1901, 391 e 392), em 1901, afirmava que o ramal de Santa Cn1z "parte da esquerda da estação de Sa popemba no km 21,975 e termina no • íleileramos qu e a expr ess ão setor será s empre utilizada, como em Hoyt, no se ntido d e se tor de círculo. 90 Matadouro, km 56,065 com extensão de 34 090 m todo em bitola de 1,60 me linha dupla. ( ... ) As condições técnicas desse ramal são iguai s às da primeira secção da linha do centro". No h1ício do século XIX, o Rio de Janeiro crescia predominantemente na direção do int erior (oeste, figuras 15 e 16), pois para essa direção se irradiava a prin- cipal rede de vias terrestres e marítimas que atendia à cidade. Por sua com.lição de capital, de importante porto e por suas condições econõmicas e demográficas, o Rio já mantinha um intenso tráfego com as regiões vizinhas pr óximas e rcmotas- Minas, especialmente. Uma parte desse tráfego apresentava uma primeira etapa, junto à cidade, que era feita por mar e pelos rios que deságuam na baía de Guanabarn. Essas hidrovias fizeram, assim, nascer povoados como Igua ssú, Estrela, Inhomi rim, Pilar e outros. Outra parte era feita por terra, com destino a São Paulo (via Santa Cruz, Angra dos Reis e Parati), ou à rede de florescentes fazendas e engenhos nas vizinhanças da cidade. Todo esse tráfego e esse sistema viário regional eram recolhi- dos, já na periferia urbana de então, por um feLxe de vias urbanas de senYolvido na direção oeste. Nessa direção desenvolveu-se , portanto , o melhor sistema viá rio ur - bano e regional que atendia ao Rio de Janeiro. "Um dos mais célebres desses cami- nhos antigos é o que do Rio demandava Santa Cruz, aberto pelos jesuítas, numa época que não se pode precisar com rigor , mas sem dúvida no século XVll. (. .. ) t\lais tarde a estrada é prolongada até Angra dos Reis de maneira a entroncar-se com o cam inho que, de Parati, dirigia-se para São Paulo. (. .. ) Com a vinda da família real revitalizou-se(. .. ), foi melhorada(. .. ), aumentando consideravelmente seu movimen- to com uma linha regular de diligência." Havia também o Caminho Novo, cujo rotei- ro "muito se aproxima, no território fluminense, ao que é seguido pela chamada 'linha auxiliar' da Central do Brasil". Do Caminho Novo havia var iantes qu e iam aos portos da baixada, e não para a cidade do Rio de Janeiro. Só um ia para essa capital; era o Caminho da Serra, que partia "da ddade do Rio e dirigia-se para o Pono da Estrela( ... ) e subia a serra'' (Matos, 1949, 51). Convém ressaltar que, no final do século J\.'VIII e no início do XIX, a expansão do Rio na direção oeste concretizou-se, apesar das dificuldades do sítio, o que exigiu enormes investimentos na me lhoria do terreno , pois grande parte da cidade havia se expandido sob re pântanos. Note-se o poder das vias de transportes em direcionar a expansão urbana, que predominou embora as características físicas do terreno não lhe fossem favoráveis. Se características dessa natureza tivessem sido o fator mais importante no direcionamento da expansão urbana, esta teria predominado ao longo da orla oceânica, onde os custos de urbanização (ta nto para o setor públi- co como para o privado) seriam menor es, dada a extensão mais reduzida dos pânta- nos e lagoa s. Não é possível alegar que dificuldades de sítio limitaram a expansão urbana para a orla sul. No entanto, um µlano elaborado para o então estado da Guanabara, no final dos anos 60, a pedido do governador Carlos Lacerda. dá a en- tender que a topografia teria sido o fator determinante da expansão urbana nas dí - reções oeste e norte. Referindo-se à segu nd a metade do sécu lo XlX, declara que: Figura 15- Cidade do Rio de Janeiro cm 1858 J r:»,,i:. 1'J. 'lr• l>l CC>\llt llC E :IC ~ -=,C.:~lilC.~·-,,..,._,_ ··---- • r:...'lt. ,..,w:-.:,,.co,.:,,. ;,e; ~:ir~ ~~~~..__ J-'-S - ~ :ir "[a' - ~ .,,.,........,,., . _, .. f igura 16-Cidade do Rio de Janeiro em 1858 (mostrando a localização do Paço São C.-isto,·3" 92 "durante esse período a cidade cobriu completamente as áreas de Flamengo e Botafogo e sub iu pelas encostas de Laranjeiras; Santa Teresa e Botafogo espalha- ram-se pelo sul. Ao mesmo tempo a cida de se de senvo lveu para oeste e norte, onde a topografia era menos inconveniente, especialme nt e depois do projeto de recupe- ração da área do Canal do Mangue em 1857" ( estado da Guanabara , 1965,25 ).,.. Por que foi gasto dinheiro na recu peração dos pântanos de São Diogo (para o oeste ) e não na urbanização na direção sul? Um eventual confinamento do sítio na direção sul não teria sido uma limitação significati va; com efeito, a á rea urbanizáye} existente no Catete , no Flamengo, Botafogo e Laranjeira s era ent ão mais que sufi - ciente para aloja r a expansão urbana que ocorria a oeste , ocupando e ultrapassando os pântanos de São Diogo. Em 1964, na en tão região admini strativa de Botafogo (que eng lobava aqueles bairros ), a área terrHorial urbanizá vel, abaixo da cota de 80 metro s, era de 1001 hectare s, do s quais 701 eram ocupados por edificaçõe s (idem, ibid., 43). Essa área teria sido mais qu e suficiente par a abrigar o Rio de Janeiro intei - ro de cem ano s ante s, nas décadas de 1860 ou 1870, já que a sua área urbanizada em 1858 era de 735 hectares. No entanto , a cidade expandiu- se sobre os rerrenos de piores condições fís icas - os pântanos-, mo stran do que a economia em termos de tempo e custos de deslocamento s (transportes ) que seria feita com o crescimen- to urbano ao oe ste, junto ao siste ma viário regional, compensava os gastos com ar er- ros de pántano s. Além disso, cabe sem preatentar para o conteúdo de classe da ex- pan são urbana. No final do século XIX, as camadas de mais alta renda já se haYiam apropriado da zona Sul, tornando mai s difícil - ma s não impos sível - o cresci - mento, ali, da maioria da população. Orientando-se então para oeste, a popu lação, nessa direção, preferiu a proximidade às vias regionai s, onde já havia , desde 1858, até serviços de tren s suburbano s. Naquela época - mais que hoje - as camadas popu lares dependiam do transporte público. O trem era o mais imporrante de- les.colaborando, aJíás, para a segregação espacial. Por outro lado, não é convincente a lentativa de explicar a preferên cia da di- reção oeste pela atração qu e sobre ela teria exercido o Paço de São Cris tóvão (Figura 16). Um paço isolado não atraí a expansão urbana de centenas de milhares de famí- lias dac; camadas popu lare s. Poderia Ler atraíd o - como de fato atraiu - algumas famílias aristocrática s, qu e não chegaram a fazer com que aquele "pedacinho " da zona Oeste sobrevive sse como região nobre. A isso se lin1itou o "poder de atração " do Paço. Além disso, a cidade já se expandia mai s naquela direção ante s da chegada de dom João VI. quando pânlano s e lagoa s já haviam sido aterrados. As planta s cadastrais do início do séc ulo XIX mo stram que mesmo a urbanização que se da va pum o sul, ao longo da cosla em direção à Lapa, dobrou à direita , contornou os mor- ros de Sant<> Antônio e do Senado e tomou o rumo oeste, fixando-se ao longo dos • " IJ11ri111~ 1hh pcrln d, lh e c;i1y co rnpl c tc ly covcrctl lh e arca s o f Flam engo , and 80 1afogo and grm-v up 1hc 1lop1•,i nf l.ar:inj r:irns; Santa 'forcza anel Bota fogo spread to Lhe sou Ih . Al lh e sarn e Lime, Lhe city developed lo Ih,; wc::,1 a11cl norl li, whcrc lop ogra ph y was lcss prohibili vc, cspccially afler lhe recla mali o n project of Canal tio M1111r,111; in tf!!)7." 93 cam inhos de Mata-Porcos e Mata-Cavalo s (atu ais ruas Riachu elo e Frei Caneca}, atra- ída por estes. Por outro lado, não devemo s esquecer que a mansão de Elias António Lopes, doada ao recém-chegado rei, já existia antes de ser Paço, mo strando quepes- soas abastadas já ocupavam a região. No Rio ele Janeiro, a expansão urbana ao longo do ramal de Mangaratíba da anliga Estrada de Ferro Central do Brasil, foi, a partir da dé ca da de 1940 {Quadro8 e íiguras 20 e 21), menos intensa que a ocorrida na an tiga Linha Centro da mesma ferrovia . Isso ocorreu porque houve na Linha Centro mai s melhoria s tecnológicas {como de fato hou ve), ou tais melhoria s foram introduzida s ne ssa linha porque aJi houve mais urbanização, ou seja, mais demanda? Ou por que , como pretende Abreu ( 1978,164 ), a Linha Centro seri a a única que atravessava terrenos secos? O ramal de Mangara tiba - que também atravessa terreno seco - é cerca de vinte anos mab novo que a Linha Centro. A Estação de Nova Iguaçu, por exemplo, é de 1858, e a de Santa Cruz é de l 878 (Ministério da Viação e Obras Públi cas, 1924, 34-431. Também a eletrificação começou na Linha Centro antes que no ramal: iniciada em 1935, chegou primeiro naque la linha, até Nova Iguaçu (km 35), enquanto nesse rnmal para va cm Bangu (km 31). Em janeiro de 1942 , referindo- se aos planos para prolongamento da eletr ificação, a Revista Ferroviária (1 1) noticiav a: "Acenrua-se assim o desnível entre os melhoramento s da Linha Centro e do Ramal, onde a ele- trificação sequer atingia Santa Cruz". Note-se que esses melhoramentos destina- vam-se a atender a uma demanda urbana (tr ens de subúrbio ) e não regional, pois só as linh as suburba nas era m eletrificadas. A pergunta qu e se faz é: por que a de- mand<t urbana era mais bem atendida numa linha que na outra? Por que a região que tinha maior demanda urbana (zona Oeste) não foi priorizada pelo s melhora- mento s, e sim a região de menor demanda urbana (a Noroeste )? Como captar o início da "causação circular" respon sável pelo fato de haver , hoje , grand e cresci- mento urbano no setor noroeste do Rio (Nova Iguaçu) e outros dois menores, um na direção oeste e oulro em direção ao nord es te (Duque de Caxias), todos gerados por ferrovias? As análises mostra ram que é a importância regional da via que de- termina suas melhorias, mais que a demanda urbana, pois a via region al não rem o objetivo de atender a essa demanda . Evidentemente deve haver um mínimo de demanda urbana para justíficar as melhoria s. Com o desenvolvimen to das estrada s de ferro e do estado de São Paulo, o Rio passou a crescer mais ao longo das linha s Cen tro e Auxiliar da então Estrada de Fer- ro CenLrnl do Brasil do que ao longo do Ramal de Mangaratiba ou da Estrada de Ferro Leop oldina. A partir de 1940 o prim eiro setor ultrapa ssou o de Mangaratiba. /\ direção inicial da expan são urbana do Rio - a de Santa Cruz - conti- nuou dcmograficamenle muito significativa, apesa r do declín io do impul so inici- al qu e desencadeou ali a causação circular entr e ofe na e demanda de transporte. ls&o mostra que a dinf1mica da simbi ose urbani zação - via de tran sporte pode du- rar mais de um s6culo. No caso , o se tor continuou a se desenvolver no final do séc 1llo XIX (Vjla Militar, Fábrica de; Tecido s Bangu , etc.). Na década de 1920 im- pla11IOLHiC nesse &ctor a rodovia ílio -São Paulo . Porém, pela precariedad e que o 94 I transporte rodoviário de então apresentava, pouca influência ela teve se com parda à do transporte ferroviário. Até hoje o setor para Santa Cruz é mai s populo so que aquele gerado pela Es- trada de Ferro Leopoldina. Essa ferrovia foi inaugurada em 1886 com apenas doi s trens por dia , indo de São francisco Xavier a Meriti, hoje Duque de Caxias (Cruls, 1965,v. 2, 772), todavia com características té cnicas infetiores às do ramal de Santa Cruz, exatamente por atender a uma região econômica e clemogrníicamente menos importante. A urbani zação ao longo da Estrada de Ferro Leopoldina só veio ocorrer bem mais tarde, produzindo Duque de Caxias. Esse se tor tem hoje metade da popu- lação do setor de Santa Cruz. No entanto, seu vérlice, que corresponde mais ou menos ao centro de Duqu e de Caxias, está tão distante do centro do Rio quanto o vértice do setor Santa Cruz-Mangaratiba, que corresponde à região Bangu-Realengo. Alguns culparão o terreno pantanoso. No entanto, a partir da década de 1960, tanto a in- dustrialização como a urbanização ignoraram o terreno pantanoso e Duque de Caxias tinha nada menos que 667 821 habitantes em 1991. Além disso, a parte pantanosa do município é relativamente pequena, se comparada com a de terreno seco ao lon- go do qual foi implantada a ferrovia. Em virtude da sua grande conso lidação urbana, o setor Mangaratiba-Santa Cruz adquiriu impulso próprio, mas remonta sua longínqua origem à Estrada Real de Santa Cruz e à importância da ligação - então extra-urbana-que ela efetuava. Em mea- dos do século XX, entretanto, o setor Duque de Caxias passou a apresentar um ritmo de crescimento superior ao de Santa Cruz, embora não o tenha superado, em termos absolutos, até hoje. Isso porque, por volta de 1920, quando começou a crescer , o pri- meiro era praticamente despovoado (correspondia mais ou menos ao distrito de Xerém, então com 2 823 habitantes); em 1940- bem antes da instalação da refinaria -, já apresentava uma população de 74 565 habitantes e já havia constituído o muni- cípio de Duque de Caxias. Entre 1940 e 1960, esse setor apresentou um crescimento demográfico de 227 %, enquanto o setor Campo Grande-Santa Cruz cresceu 156%. Os anos 60 marcaram uma etapa na rede de transportes da Área Metropolitana do Rio de Janeiro que se iniciou nos anos 50, com a rodovia Presidente Dutra (com um traçado diferente do da antiga São Paulo-Rio), e prosseguiu com o desmantelamento das ferrovias e com a nova Rio-Petrópolis. Essas transformações, entretanto, apesar da desativação de alguns ramais ferroviários, mantiveram grande concentração espa- cial de vias regionais importantes,e a direção de São Paulo e interior do Brasil conti- nuou comandando a expansão territorial do Rio (figuras 2 e 21) . O Quadro 9 mostra o atual predomínio do setor urbano orientado na diJeção de São Paulo (setor Noroeste). Nessa divisão por setores, foi delimitada uma zona central - que não é setor-, ao contrário do que foi feito com São Paulo e Belo Horizonte, como será visto adiante. Isso ocorreu porque a limitação do sít io natural, no Rio, provocou grande convergê n- cia de vias importantes na direção norte (tanto a noroeste como a nordeste); isso tor- nou inviável e mesmo desnecessária a extensão dos setores até o centro da cidade. Antes de concluirmos a análise sobre o Rio de Janeiro, cabe tecer algu111as considerações acerca do papel da topografia sobre a expansão urbana, no que diz 95 r Quadro 9- Área Metropolitana do Rio de Janeiro População da área central e do s setore s (1991) Area central, setores Area central, setores e regiões administrativas População e regiões administrativas 1- Central 721 786 IV - Oeste Portuária 44 085 Bangu Centro 49 095 Campo Grande Rio Comprido 82 344 Santa Cruz Botafogo 251 668 ltaguaí Copacabana 169 680 Mangaratiba Santa Teresa 44 554 São Cristóvão 80 360 V - Leste 1 Niterói li - Nordeste 1 866 484 São Gonçalo Ramos 283 416 ltaboraí Penha 314 981 lnhaúma 208 117 VI - Leste 2 Ilha do Governador 197 158 Maricá Ilha de Paquetá 3 257 Duque de Caxias 667 821 VII - Intermed iário Magé 191 734 Tijuca Vila Isabel Ili - Noroeste 3 268 306 Jacarepaguá Méier 4 14 826 Madureira 373 753 VIII - Sul !rajá 210 889 Lagoa Pavuna 179 256 Barra da Tijuca Anchieta 141 587 Guaratiba Nilópolis 158 092 São João de Meriti 425 772 Nova Iguaçu 1 297 704 Paracambi 36 427 Total 9 814 574 População 1362 384 595 960 380 942 254 500 113 057 17 925 1 378 729 436 155 779 832 162 742 46 545 46 545 821 373 194 483 198 817 428 073 378 967 219 964 98 229 60 774 População residente. Fonte: IBGE, censo de 1991 ,Tabela 1.4 pa ra o mun icípio do Hio de Janeiro e 1.5 para os demais municípios. res peit o a mon tanha s, e não mais a pântano s. Tanto no ca so de São Paulo como no de Belo Horizonte , a topografi a será mencionada, ma s esse não o foi no caso do Rio. Isso pod erá par ecer es tranho a muito s. Afinal, é ba s tante comentado o papel da to· pografia na modelagem da ocupa çã o urbana na zona Sul do Rio. Em prim eiro lugar cab e regi strar qu e, ao contrário da crença predominan te, a topografia teve influ ência mínima na expan são urbana do Rio de Janeiro. A zona SuJ - aquela qu e é condi cionada pela topografia acid entada- contém parcela mí· 96 nima da popul ação da área metropolitana: nela incl11indo as regiões administrati - vas de Lagoa, Barra, Bota fogo e Copacabana, i.,;ua população ai ingia c:m 1 ~)9 J ,ipcnas 739 541 habitantes, ou seja, 7,54% da popula<,:ão metropolitana. (}uanclo lntlarmo s da ideologia associada à segregação urbana, voltaremo s a essa quc srno, cn lcnclcn- do-a melhor. Em segundo lugar, embora ccrl amcnlc exista, o pap el dos aciclenlcs topográficos no constrangime nto da zona S11I é bem menor do que se imagina. Nos- sas orlas marítimas têm provocado grande adcnsarncnto ao longo delas - as pri - meiras quatro ou cinco quadras - , mesmo na ausônc ia de obslé'ículos topográílco s, como bem ilustra m inúmero s casos, cio Balnc6rio Carnboriú a Hccifc, ele Santos a Forlaleza (Figura 17). Esses casos mostram que, mesmo na ausência de obstáculos topográficos, é grande o adensamento ao longo elas praia s. Trata-se de um tipo de adensamento provocado fundamentalmente pela acessibilidade à praia, não por obstáculo topográfico. Além disso, nossa preocupação com os obstáculo s topográfi - cos refere-se a quando eles afclam grandes parcelas da mclrópol e, eventualmente até a metrópole como um lodo. O crescimenlo explosivo de São Paulo leve início na década de 1870. Enlre- lanto, tal como ocorreu no Rio, os caminhos continuaram atraindo a urbanização ainda por várias décadas depois da chegada da ferrovia (Figura 13). Essa figura também mostra que os tentáculo s mais acentuados eram aqueles cm direção ao Rio, que mais tarde se transformariam nas avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, em direção a Santos e em direção a Campinas, onde a urbanização atingia a Lapa ao longo da anliga avenida Água Branca. A ferrovia para Santos - a São Paulo Railway- foi aberta ao tráfego em 1867, e a Estrada de f erro D. Pedro íl, para o Rio, data de 1875. Os se rviços ferroviários suburbanos foram reduzidos se compa- rados com os do Rio, mesmo porque, em 1900, por exemplo, o município de São Paulo tinha 239 820 habitante s e o Distr ito Federal, 811 443 (FIBGE, Anuário Esta- tístico do 13rnsil,19891 79). O Quadro 6 mostra que, em 1908, a Estrada de Ferro São Paulo Railway, então já com mais de quatro décadas ele idade, atendia, no planal- to, apenas à estação de São 13ernardo (Cunha, 1909, 320), cm torno da qual nasceu Santo André. Em 1915, como mostra o quadro em foco, a Eslrada de Ferro Centra l do Brasil tinha, entre São Paulo e Mogi das Cruzes, somente seis estações, exclusive os dois extremos. Os quadros J O, l J e 12 mostram, sob diferentes formas, o crescimento da popu- lação ela Área Metropolitana de São Paulo segundo setores de círculo (Figura 18). Procurou -se traçar esses se tores ele maneira a fazer corresponder, cada um deles, ela melhor maneira possível, a uma - e apenas uma - ferrovia ou rodovia importante. Procccl imenlo semelhant e foi adotado para Belo l lorizonle. lsso foi impossível no Rio (e impo ssível e desnecessário cm Porto Alegre), dada a proximi- dade das vias ele transporte entre si. O Quadro 11 mostra que: 1. O crescimento rclntivo - ou aumcnlo da participação - nos seto res ferro- viários cm gera l foi menor que no s rodoviários. O único setor ferroviário cm 97 ... Figura 17 -Vistas do Balneário Camboriú. Copacabana e Suntos. 98 CJ11ndro 10 /\n•:1 Mt•t ropol it;1 na ele São Paulo Cn•srlm1·11ll1 da popul:1<;~10 srgun do setores , 010 1, I1,1\ll lt' / ,1 (1 ou H) (' ditt'ç,10 População 1 q1,1 1~'.J/10 1970 1980 1991 Crescimento (%) 40/70 70/91 1 H Htt, 111 700 66 789 566 077 746 136 1 260 054 8,48 2,23 li 1 H1t1 1% 10'1 3 10 T)6 1 7 17 740 2 756 497 3 589 468 5,52 2,0 9 Ili 1 " · 111 ltl', l '.>2 tl !.,!., 290 436 1 507 567 1 915 334 2 130 544 5, 19 1,41 IV R \ ,11,to, 1J'.J lJ 31 99 '115 783 237 1 287 248 1 528 588 7,88 1,95 V !'-,1111{11\111,110 Cl/ HO'.:i 177 99 '1 993 835 1 889 568 2 240 495 7.76 2,25 VI I~ '-,ui dn p,l Í'> 1)3 l)t13 105 908 598 027 1 161 878 1 603 21 O 5,64 2,68 Vil 1 '!ui do p,1fo.. 1'101 '11 180 94!:> 643 305 979 154 1216745 3,56 1,89 VIII I /H C. 1111pint1'i 68 S'11 107 / 36 688 136 968 098 1 199 343 6,39 1,74 1 %3 1) 13'10 16 557 624 884 867 676 499 4, 16 1,21 101,11 ()11 713 1 473965 8 055 548 12 588 780 15 444 946 5,66 1,92 (Juadro ! ! - Área Mel ropo lil ana de São Paulo l'nrt iri pa~·fin cios divN sos setore s na popula ção tota l (%) 5<'10 1, ll,1 lLIIC/cl (1~ OU r) C dllPÇ.°lO 193ll 1940 1970 1980 1991 1- H Rio 5,66 4,69 7,03 5,93 8, 16 11- r - lM 2 1,50 21,82 21,32 21,89 23,24 Ili 1 Sc1nto~ 16,69 20,40 18,7 1 15,21 13,79 IV - R San lo<, 6, 12 6,9 8 9,72 10,22 9,90 V - Santo A1nn10 1 o, 71 8,99 12,34 15,09 14,5 1 VI H Sul do p;ifs 5,9 1 7,44 7,42 9,23 10,38 Vll - 1- Sul do püf~ 15,36 12, 71 7,99 7,78 7,88 VIII 1/R C.1mp111,1s 7,51 7,57 8,60 7,69 7,77 IX - lntc>1 med,:u 10 10,55 9,4 1 6,92 7,03 4,38 lott1I 100,01 100,01 100,05 100,07 100,01 Notn: H :-i~11ilka Sl' IOI I ndovi:írio e F, fc 1 roviário. F111111•s: :M l mo, VIU AÇI\ , l !.J7U, !M. Parn 1980 e 199 1, novas elaborações do autor a partir de dados dos <'l' t\So~ do lllCE. Quudro 12 - Área Metropolitana de São Paulo. Síntese das direções de expansão urlxma. Participação da popula ção met ropo litana (%) Dirnçao 1940 1970 1980 1991 Rio 26 ,51 28,35 26,82 3 1,30 Santo!> 27,38 28,43 25,4323,69 Sul do paíc; 20, 15 15,41 16,91 18, 16 )dlHO Anw10 8,99 12,34 15,09 14,51 CamµínJs 7,57 8,60 7,69 7,77 99 Figur;_1 18 -J\1c:1 M<'I ropoli1a11a de São P.11110: sctt11l''i Figura 19- Ãrc:i Me1ropnlt tana de Belo l lorizonlc · !>CIOrcs 100 tt"i+t í"'JTMIA-; K ff/ltllO --- 1"fflllt1 - LIWll'tt<"'~- fC><ll "'-LAÇA. 1111 ____ .,:.• - ,t...,.fffifADASD<IUUIO - -i - RTCIII:, ICIOlrC. \IU,<l".A 1976 ......,_,.. ~ ·· ... 1p111 lt1111\ 1 11111111111111 ,1,, p ,11111 lp :11,. 11, (' 11111f.lll1(1 ,l\lllJJ 1:,r,rn1•r11,• mt últuni1 d1 1 Ili l.1 ,111 1,1 1 li 111 ;,.;x f I ti li 1,1'1 nt 11•11 fl Vltll 111 p ,11 a li Hio NrJ." ., tJ( •• for rnv1á- 1l1111111,1'111111111" 1•, 11,, , , ,111 d,, p:ih 1 , 1 p ,1111, 1p ,11: 1111 :1111, 1·,JH,:e;1alnwn11· n,•1,te ,111111111 1, llll 11111• 11111 n11111 ,1 ( 11", 1' 111,, 11111lu 11/ ,11 ari de, pai•,, tJ ( f"' r t•rlle ,ipri- 111111 11111•11111 d11, 111d11· 1,1 , , o d,, 11111n d.,, t,, ,,,, 1.1, v r·1,1 ,if,·1:111d<, n, d1wr,oc:s ,l ,1 1 p ,111 111 1t tl 1,11111 f) 111111 11 I IIIVl,11 IIJ p ,11.t t,:t t1I0\ 1 r•JlltPI, ilt1 :1mcJa Sf: 111i111l 11111 1111111 li,,.,, 1 1111111,11• p11p11l11•1q I' ,1 il lll''t,111 p .ir:t S;1111,,. (() 1,1(1,,, )2), ,1 11f!H11d11 III Hi•• 1111p1tl11• " 11,j 11111 11111•111pl11 d, • , 1111111 11111 ,1,,f " ' ' tri d .1 111 ,,.,,,:11, (1,, B1atil na r•< ,,11,,mia 1111111.!1 ti 11 l11d11 ,111.1 .11111,1111,h llf .111 ,t prnl1• :tlt ·la r ,, c·•,Jrnt.,t> urb:rnr, d:ts 111,'11111111', •1 d11 p 11I, N11l1• ,,,•, 1 , ,11111d11, 1111« , .. ,,,,. ,1NJ"'' 1,, nar, t,r• n•fcr,• r11•rn as , 1 h 1 · d111 ,q , 1111l11i111111111111 .1 . 111,111011 ,111,1111111,1t, 111•· da , e ,,,,,,mi:a rmrndial- ' 1111111 ,, 1!l11h, d1J:,11, 111, I'"' ,•x,•111pl11 A 111d11 ,1, ta a11101nr,l,iJ,-,11c ;1 tr•m ,~w1tro d,, 1111,,,. ti, · ,d ,111,• ,. 1,1 .111.iv ,·•,•,011 v.11i.1•, 11•,c 11:11,,,, • .,, ,tf.;-,Jltl, ,,,11,, ;is duac. úhi- 11111·, ,., 1p,111 do d, 11 ,1•11\ 111\ 11111•11111, ap1 t, d 1•,l,1, ,, l111d1'>1110 ,. ;r acmnul,H,,1,, ílcxí- , ,•I •,, •11111q1 1, 1, 11111, 11111 tl, ·111111,1 p :i1,1 .1p:111·1 , ., ,. 1wtl; 1 i11dic-a q tH' sr· rcladorw 11,•111111111 . , , 11·, ,1,11, ,11·· 1w111, 11111 a•, 1•t ,1p,1•, 1111·111 io11nd ,h "' im;, ,' 11 ,.,-1111 11•1111\ 11111111•111 cl 111·1 ,111r1111!111111,11111· ,, , •,, . ltr•gc•111ê>11ic o cl11rnnl<' 11,clo 11 p, •11111111 11·111 ·,lcln 11 •wl111 d,· 111,tlllr pop1d,11 ,: 111 d ;1 :ín•:i 111r•11,,pr,ll1.i1w, dc- 1111111111•11111• ~1 1 "u ,, .1 I",, tl ,1 pop11l111 .i11 l11l:tl C 1rn111111r1 pai til 1pa~w, r•s1a g11;i- d.i n11· l 1111(), 1 ll1 1Ht Ili il ,1(11111'111 ili lllfl '""" 111'11\ l 'J' J I J, •,:-,,l rJJí ll ll l l í ' II C,ílO, bem , 11111,111 cl1 •1,1,1q11.-d11 •,1•11111 11111•,11am 11,111•,o 11111, 11111 < JC·s in ir·111,, 1•m direção 1 11•1:11,1 111,11·, 111q11111 1111«·, 111,1•, t,1111lw 111 {Jllll l ,11111·1111· c:11111 ,, , .1so do rn111nl d,, ~l 1111!, ll •II 11,.1, 1111 ll1t, d1 • J,11w1111) e 0111n r d111,1do 1110 , , 1'1t•11n de um siste- 111,1d1 • 11,111,111111,· 11111•,11111 q11.111do ,tllJ t" 111111 ,,111·o rr c·11lc·-a rod ovia J>n.: i- d1•111,, 111111,1, 1111 1 i1•,11 11111 111,11, q11,· , .. , ,,1 1rnlo v 1:i lt·nh a a1r;1ído a urhaniz:.i- l,.111 " ·"• 11111111,1·, d1•1 ,11!.1•,, ,t•tt 1-,1'1111 ( 1 li U111) aind a dc·1é r11 ape nas H, 1 fi% d,1 p11p11l.11, .i11111t.tl 11, ,1,11111,1 •1tt q111 11 •,1· 1111 l1•1111v 1,11l111·111 d iH•1; a11 ;111 Hio. ,, m aior d.i 111c tr<, p<,- l11, 1,•1111'•111q11í·,·,l 11111 l11d11•.i 11,1•,, •,1·11tl11 11111 •,1' l1J1 1•1111111•11tl' lllt'lll< · 1c.si dr •11c tal po- p11l,11 1 11111 lid •,1• , •111 111111,, 111 clt ,•,11 q111• 11,u1 11.i, 111•1 , .. , ,:i 1i .1111P 1111•, H·l,1(·a,, l'll trc· o , ,, .. ,, 11111•11111 cl.1l'"l'"l ,11 1 ,1111• n d,1 111cl11•,111,1 < > 111,·i-.1110 ,11 0111(·1·1• tH, HtfJ d1· Janeiro. 1 l •,,•1111 111,11•, l11d11•,111,il tz, 1d11 1h111111· tl1· e ,1xrn s , . nwno c., populc, ,e, q 11<· 1, m c- 1111• l11d11•.i11nll111,l11 N 11\ ,I 11:11,11, 11 (Vl ' J,I ()11 ,1d10 ' )) v ,,11,11<·1111, ... 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Revela assim a tendência da metrópole de crescer cm direção às cidc1des e regiões mais importantes, ou seja, com as quais mantém maiore s fluxos de tráfego. Em primeiro lugar, cm direção no vale do Paraíba, Rio de Ja1wiro e Nordeste; em segundo lugar, , antos - o porto. Con tantemcnte se fala cm "tendência'' no sentido de movimento provocado por um força que predomina sobre outras. A expressão pressupõe) sempre, a atua- ção de várias forças, dentre as qua is uma predomina sobre as demais. Eventualmen- te a resultantt" - como na física- das úllimas pode até superar a primeira. Quanto ao efeito da topografia, o sítio acidentado é a única explicação possí- vel para a frágil participação do setor da direção de Campinas, principalmente se lembrarmos de que nele, ha décadas, juntam- se tant o a ferrovia como a rodovia. Essa direção conduz a grande parte do interior do estado de São Paulo, ao Triângulo !\lineiro, a fato Grosso do Sul e ao sul de Goiás, regiões sabidamente ricas e que mantêm com a metrópole paulistana intensos fluxos de tráfego. Seus subúrbios são atrofiados, cons tituindo um frágil seto r urbano. Nessa direção, a urbanização-es- pecialmente a industrialização-de São Paulo apresenta alta descontinuidade, pois na \'Crdade só vai se manifestar em Jundiaí e em Campinas. A Figura 19 mostra a conu rbaçã o Belo Horizont e-Contagem dividida em se- tores de círculo, de modo que correspondam, na medida do possível, esses setores a ferrovias e rodovias. O Quadro 13 mostra a evolução da população de Belo Horizon- te segu ndo esses setores no período de 1950 a 1980. Esse quadro mostra a clara predominância do setor dominado pela ferrovia para o Rio e pela rodovia para São Paulo (Contagem e Betim). A atração da expansão urbana pela rodovia para o Rio é neutralizada em parte pela acidentada topografia da Serra do Curral. É notório que, nessa direção, predominam as camadas de alta renda, as quais só recentemente começaram a ser atraída s pelas vias regionais. A significativa participação desse setor - 18% em 1980 - deve-se ao adensamento das cama das de alta renda contra as encostas da Serra do Curral, movidas pela bus- ca do sít io atraente e pela necessidade de manterem seu crescimento sempre na mesma direção (veja no capítulo 8, seção "Belo l Iorizonte"). J\ atração dessas cama- das por rodovias regionais está apenas se iniciando em Belo Horizonte, precisamen- te com a supe ração da Serra do Curral e a invasão de Nova Lima pelas camadas de mais alta renda. Trata-se de tendência ainda incipiente. O mesmo está ocorrendo- mais inten same nte, mas ainda pouco significat ivamen te em termos metropolita- nos- com a desenvoJvimento da alta renda de São Paulo, ao longo da rodovia Cas- telo Branco (Alphaville, Tamboré, Aldeia da Serra). A atração por outras vias regionais é fraca, já que elas se dirigem a cidades menos importantes e longínquas, como Brasília e Vitória. Entretanto, o desenvolvi-mento da região Brasflia-Goiânia-Anápolis tem provocado, mais recentemente, maior crescimento nessa direção. Infelizmente, porém, não foi possível obter dados do 102 \,h1tnlt \\ 1 :1 1\1pn l\h•t1npnlit :m11 de l\l'lo l lorizont c 1 H~I, 111111,·,)n dn pop1tln, ·:111 prn :·il'lon• s dt• cfn :1110 ( J D50- J980) \ 1•!1 li I' dilf' l,,lll l lJ l )l) 1970 1980 .ilr ,I '¼1 al)sl. % abst. % \1 1(111 1 111.1 .. 11!,1 , , 11 11() () 111 ,8 1//S1 8 13, 1 228 625 14,7% \1•h ,, li l ,l(J\\l \, 111\,1 C1 i /00 ) 1,0 787 117S 2 1,2 338 451 21,8% '<'1111 111 \/111·,11.1 {i 11 1,1,0 ) 1,11 2 19 127 16,2 265 59 1 17,2% \1•1111 1\ 1)1 ()()() 1 (,,O 1119 705 11 1 1 ·k 'wll11 V H111 i l ()1,0 10,8 1 O 19 969 7 ,5 278 007 18,0% 'l'l111 \I ', l\ 1ul1, 11 H1n ,11.J 1100 IG,? 111 / 698 30,9 436 92 1 28,2% h ,t.tl me, ;oo 100,) 1 353 '187 100,0 1 547 595 99,9% Nutn.,. 1'111,1 1:11,0. ,1pr-11,1:- 111111111ktpio dt' lll'lo l lori zo11Lt•. Pani 1!)70 e H.)80, inclui Conta gem . • t l -.t>tn1 1\ 1:,;11111•1-,11•) MI nl , 11• .111· 1 !170. A p1111 li' d1•:,,w ano, deve );Cr considera cio junto com o V (Sul). h11111•, . l'.11,1 1 '1' ,0, 1 ,llt 111t I a p.111 li d1· 111:ip11 da pop11laçiio ele Belo l loriznnl c por ponlos de : SAG~fACS, h 111111111!,11' 1 h 1111,1111~11111, I h,111i111</11 ogltm111m('f1" 11r/Jmu1 d1• /Jelo I /ori zo11 te, 1959, dat. Pa rn L970, La bu lação ,·, 111•1 i.d d11l'1•11-.1111111 S,•1t11c-., C:t•11:,i1;íli11:- (Vill11~·:i, l !l711). Para l!lllO, i'LJ\MOEL, Pesq uisa 0D, 19H0-8 1. n·11~11 lk IHD 1 p:11:1 veririr.ir essa hip ótese. Forn cio se tor VI (Oeste, Contagem-Betim ) t' dn Sul. rnlw ll'gis tr:1r a gr,mde parlidpaçfto ela Hegião Norte e, nos setores I e II, sq :u11dn 11111.1 hígica q11t• :-wní nl>orclada no capítu lo 5, na seção "A metrópole interior". F111 P111 ln /\kgrc - ro 1110 cm parle no Hio e ao contrário de Belo Horizonte e Süo P.111ln , :1 po:-d\·ao costeira e a situação regional fizeram com que as principais vias 1q~in11:1is M' .1pwse11tcrn conc c11tradas cm um a única direção-a norte -, atra - \' l' S d:1 quul l' ptl SSf \/\'I ,Jlingir todo o país. As demai s vias regionais que servem Porto 1\kgn· síln IH"rn nwno s importante s. No l'i11:ll do s<~nilo p,1ssado a zo 11a ele imedia la influ ência de Porto Alegre, de- 1rn11i1wd,1 pl'ln I ra11sportc liidroviário, se concen lrava na região de São Leopoldo , ra- z,111 p1•l:1 q11nl a est iad a de l'crro, que mai s tarde alingiria Novo Hambur go e a reg ião snw11:1, loi ro 11s trnída na sua dire~·ão. /\s relações ent re Port o Alegre e São Leopoldo s~n ,111.1lis,1d:1s po1 Singcr ( 19GU, 1 S7, 158, l 64), para qu em a capita l gaúcha foi inici- .t111w11ll' "upl'11as um 111crcaclo de con s um o para os excedentes agrícolas de São Ll'Opoldo". /\ pari i1 ela dvcada uc l 8GO, "urna boa parle dos produtos de São Leopoldo 11k:111~·n111 ( ... ) o 11wrr,1do na cional vin Parlo Alegre". Posteriormente , o crescimento dl'ssa rnpi1al vi11c1ilot1-s c ao "dcscnvo lvimcnl o da co loni zação alemã e italiana na 1)1•p1l'Ssao C t·111 ral e na zu na serrana do es tado ". Nascia então a base da marcante li11l'ariLlade que , refor çada pela f'crrovin e depois pela rodovia, daria à metrópol e ga1h'll:1 a forma 11rlrn11n de u111 tínico tcnlácufo: o eixo PortoAlegre-Novo Hambtugo (figuras 7 ' 22). l)a1 a fragilidad e uo cresci mento de Porto Alegre nas direções s ul , lcstt• t' 111 •s1110 o<·slt' , onde o Guaíba não é maior obstáculo do qu e, por exemp lo, a 1 rn ( a d a e ; u a 11 r1 li a ra . 103 li 1 Não e convincente a alegaçao ele que o nípido ne sd111c1110 d11 rnpltal gmícha fora de seu município, cm Canoas, teria sido provorado p<'las pxcc•ssivns f•xigl'ncln~ da legislação urbanística do município de Porto /\lrgre. O rápido c.:rcsci1ncnl0 de Canoas é anterior a essa legislação. Sen;lo, vcjnmos: "npcna s n gadnrin povonva Ioda a região do nosso 1'1 Distrito, onde se expande cm ritmo inusitado a cidade de Ca- noas quando, a 2G de novembro de L871, teve início a construção da cstradíl de ferro"(Silva, 1964, 72). Nessn épocn, 13clém Velho, povonclo localizado no município de Porto Alegre, porém ao sul, já era freguesia, e Viamão, a leste, já cm cidade. O primeiro não experimentou um crescimento urbano comparável ao que ocorreu nas décadas de 1950 a 1970 no restan te do município de Porto Alegre, sujeito ;1s mesmas "excessivas exigências". Pelo contrá rio, estagno u-se./\ PlanLadaPovoaçãoe Terrenos Adjacentes daFreguesiade Nossa Senhora rleBeléni, datada de julho ele 1855. existente no setor da mapoteca da Secretaria Municipal ele Obras e Viação (SMOV), da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, mostra que a praça e o arranjo das casas existentes em torno da igreja, em Belém Velho no final da década de 1970, eram idênticos aos existentes em 1855, revelando a estagnação daquele núcleo. Entre 1920 e 1940 - antes da legislação urbanística supostamente restritiva - Canoas desmembrou-se de Gravataí e sua população tota l passou de 2 971 habitantes para 17 630 habitantes, um aumento de 493%, ou seja, a uma taxa geométrica de 9,4% ao ano; entre 1940 e 1950 esse crescimento foi de 8,5% ao ano, tendo o município atin- gido uma população de 39 826 habitantes. O crescimento de Canoas não decorreu apenas da implantação da estrada de ferrei pois muita s outras cidades gaúchas re- ceberam estradas de ferro na época, sem apresentar, no entanto, crescimento se- quer próximo ao de Canoas. Sua excepcional expansão reílete o foto de que foi o crescimento de Porto Alegre que, atraído pela ferrovia, começou a manifestar-se mais na direção norte do que em qualquer outra, transbordando ali os limites do municí· pio da capital e ali fazendo surgir núcleos urbanos que se transformariam em muni- cípios (veja o capítulo 3). Entre 1920 e 1970, na atual Área Metropolitana cte Porto Alegre, foi criado um município a oeste - Guafba -, um a leste - Alvorada-, e sete ao norte - Canoas, Cachoeirinh a, Sapucaia do Sul, Campo Bom, Sapirnnga, Esteio e Estância Velha. O caso de Porto Alegre mostra como o sistema regional de transportes pode moldar o espaço urbano, fazendo com que se comporte como se fosse constrangido por fortes - mas inexistentes - obstáculos do sítio ou até mesmo massas nrnríri- mas. A mancha urbana de Porto Alegre (veja figuras 7 e 22) é claramente mais linear e alongada que a do Grande Rio, apesar de não ter, como esta, obstáculos que difi- cultem sua expansão para o sul ou leste. Os morros de Santana ou da Polícia, locali- zados em uma part e da região leste do município de Porto Alegre, não constituem obstáculo significat ivo; ocupam pequena parcela do sítio disponível para a expan- são urb ana, e por esta já estão sendo contornados. Além disso, por volta da década de 1940, quando Porto Alegre já invadia Canoas, aque les morros, mesmo que cons- tituíssem obstáculos, estavam bastante distantes da área urbana de então, não re- presen tando para ela qualquer constrangimento. 104 Embora dispondo de amplo espaço para expansão a leste e ao sul, a man cha urban a de Porto Alegre vem se comportando como se estivesse compr imida por uma imaginária cadeia de montanha s paralela ao Guaíba, ou como se se u sítio fosse um longo cabo com cerca de 6 quilômetros de largura e 60 quilôm etros de extensão avançando sobre a água. A grande concentração dos fluxos int erurbano s de trans- pones numa única direção, fazendo com que nela os tempo s e os custos de trans- portes sejam menores, transformou o sítio natural de Porto Alegre num cabo. Finalmente, ca be ressaltar que a urbanização ao longo da s ferrovia s não foi necessariamente provocada pela localização de indú strias. Em alguns casos, de fato, a indústria provocou a acelerada expansão urbana, como em São Caetano do Sul ou em Santo André, em São Paulo , e Contagem e Betim , em Belo Horizonte. Em outros , entre tanto, o desenvolvimento industrial foi e ainda é muito pequeno e, no entanto , a população - sem emprego local- é muito grande. Nametrópole paulistana , o de senvol vimento industrial nos dois ramai s ferroviários que deman- davam o Rio foi muito pequeno. Todavia, o desenvolvimento urbano - quase ex- clusivamente residencial - foi enorme, desenvolvendo ali enorme conjunto de bairro s dormitório s. Só a rodovia para o Rio atraiu indust rias; a ferrovia não. O Quadro 14 mostra que o número de empregos na indústria no seto r ferroviário em direção ao Rio era, em 1967, muito menor que no setor em direção a Santos. No entanto , sua população era maior. Desde 1934, pelo menos, esse setor vem se man- tendo como o mais populoso da Área Metropolitana de São Paulo. Os setores ferroviários ainda se destacam no mapa físico e demográfico de nossas metrópoles, após quatro décadas da implanta ção da indústria automobi- lística e três décadas da difusão das auto-estradas. São eles pr edomi nan temente ocupados por população de baixa renda. Por quê? Se o trem, como meio de trans- porte de passageiros a longas distâ ncias, surgiu no sécu lo passado e manteve-se durante o início deste, atendendo fundamentalmente às elites, como explicar o fato de elas não terem ocupado os set ores ao longo das ferrovias e transformado os serviços suburbanos em meio de transporte das camadas de alta renda, como ocorreu , por exemplo, nos Estados Unidos até a vulgar ização do automóvel? Hou- ve, por certo , algum uso do transporte ferroviário de pa ss ageiros urbanos por parte das elites recifenses, paulistanas e cariocas para as corridas de cavalo, quan- do eram realizadas no Derby Club (Rio) e no Hipódromo da Moóca (em São Pau- lo). No Recife, ia-se de trem passar um dia ou um final de semana nos arrabaldes da cidade. Esse transporte, entretanto, pouco se desenvo lveu no âmbito intra- urbano. Foi abandonado pelas elites e deixado às camadas populares qu e passa- ram a depender de seus se rviços cada vez mais precário s. Dadas as enormes di- mensões das massas populares - e dada sua dependência em relação aos transportes ferroviários suburbanos-, nossas metrópoles ainda crescem mais ao longo das ferrov ias. 105 Quadro 14 -Área Metropolitana de São Paulo Popula ção e emprego na indústria cm setores ferroviário (1967) Setor '1) São Caetano-Mauâ (2) Penha-Ferraz de Vasconcelos (3) Em direção a Santos Rio Empregos industriais 76 044 14 286 População 535 258 721 707 fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo, Plan o Urbanístico Béísico (PUíl), São Paul o, v. 2, p. 200. ( 1) As cxt.remidades mais ccntraic; desses setores - São Cac tnno e Penh a - distam. nrnbas, cerca de 10 quilõmecros do centro de São Paulo. (2, lnclui as unidade~ territoriais de São Caetano, Santo André e Mau.i do Pla no Urhanístico Básico. (31 lnclui as unidades territoriais de Penha , São Miguel, Guaianazcs, Tta(Juera, Poá e Pcrraz de Vasconcelos do Plano Urbanístico Básico. A precariedade desse tran sport e em nossas metrópole s fez com que as elites opta ssem pela proximidade ao centro urbano em áreas dep end entes do bonde. Com ou sem indúst rias, os setores ferroviários foram, então, ocupados pelas camada s de mais baixa renda . A busca por uma proximidade ao emprego industrial ao longo da ferrovia explica apenas em parte o fato de os setore s ferroviários serem predominanteme nte ocupado s por tais camadas. Elas procuravam facilidade de transportes e proximidade , sim; não às zonas industriais, porém, mas ao centro prin- cipal, por apresentar grande- a maior - concentração de empregos e subempregos. Os grande s setores com poucas indú strias- Nova Iguaçu , no Rio, zona Leste de São Paulo e zona Norte de Belo Horizont e - são as piores localizações dessas metrópo- les, já que estão longe - sempr e em termo s de tempo e de custo e em comparação com outra s zonas - das indústria s e do centro principal, que são as maiores con- cen trações de empregos. São as localizações que sobraram para os derrotados na competição espacial, ou seja, os que não conseguiram nem proximidade ao centro nem às principa is zonas industriais. Esses argumentos serão mais desenvolvidos no capítuJo 6. A influê ncia da ferrovia foi enorme e, hoje, continua importante na estrutu- ração territorial das metrópoles brasileiras. Não apenas no tocant e a direções e in- tensidade da expansão territorial , mas também quanto à distribuiç ão territorial das camadas sociais, ao desenvolvimento, tamanho e natureza dos subcentros de co- mércio e se rviços, além, evidentemente , de ter influenciado a localização das indús- trias. É significativo que grandes subcentro s de comé rcio e serviços das nossas re- giões metropolitan as, até hoje incluído s dentr e os maiores, tenham surgido e/ou sofrido forte expansão em função da ferrovia. Madureira , Méier, Nova Iguaçu, Du- que de Caxias (na Área Metropolitana do Rio); Santo André, Osasco, Lapa, Penha e São Caetan o (na de São Paulo); Canoa s, São Leopoldo e Novo Hamburgo (na de Por- to Alegre); e o Barreiro (na de Belo Horizonte) são alguns exemplos. Por outro lado, 106 qua se todos esses subcc ntro s sã o eminentemen te populare s. Os que ainda não o são Lotalmcntc , como os de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Mogi da s Cruzes, ten- derã o n sê- lo cm poucas décadas, em função da s transformações soc iais da popula- ção em suas zonas de influênc ia (veja figura s 1 a 12). Setores oceânicos Embora de enorme importância na det ermina ção espa cial da expan são ur- bana, as vias regionais de tran sport e não são a úni ca força nessa determina ção. Mesmo desempenha ndo eventualmente um papel dcmogréifi ca e territorialmente secundário, os a tr a tivos do s ítio natural têm constituído importante fator de atração da expa nsão urba na. A imp ortância desse fator decorr e especia lment e do fato de ele - ao contrário das via s regionais - atraírem popula ção de alta renda. Por grande que seja, a atra tividad e do sítio natural não sup era aquela exercida pela ace ssibili - dade e inserção na es trutura urbana. Em alguns casos - como em São Paulo - houve época em que o sít io natura l atraente terminou (veja o capít ulo 8, seção "São Paulo' '), mas mesmo assim a dire ção de expansão das camadas de alta renda não se alterou. Isso será exposLo adiante. Há, entretanto, outros casos no s quai s o sítio na- tural não só apresenta grande bele za, como também pare ce int erm inável. Por essas características transformaram-se em traço típico da metrópol e bra sileira : são os ca- sos das orlas de alto-mar. Os exemp los mai s notáveis-que serão por isso des tacado s aqui-são os de Recife, Salvador e, ob viamente , o Rio de Janeiro. Contudo, tal como no caso de São Paulo e das demais metrópoles aqu i estudadas, esses exem plo s se rão plenament e - . . desenvo lvido s some nte no capít ulo 8, quando forem abordados os proces sos histó -::j ~ ... ricos de co nstituição dos bairros residenciais de alta renda. . ~ l o que há de p ec uliar na orla de alto-mar é qu e, ao contrário dos setores rodo- ie viár ios e ferrov iá rios, onde a cidade "ganha gratuitamente" um com ponente vital da infra -est rutura urbana (um sisten1a de transpo rt es) deci dido, inclu sive quanto a seu traçado, por entidades e razões supralocais , a urbani za ção ao longo das or las nas metr ópo les litorâneas, inclusive e especia lm e nt e a infra-estrutura de transportes, deco rre de decisões que atendem a interes ses intra -urbano s. Tais intere sses são os das camadas de alla renda e se us agentes imobiliário s. Não são as vias regionais de transportes que "puxa m" (valorizam a terra e prov ocam a expan são urbana ) a urba- nização ao long o das praia s de alto -m ar: são os interesses intra-urbanos que trazem um sistema viário local e a urbanização . Nesses setores define -se uma área que atrai o interesse da s ca mada s de alta renda. Estas, pelo poder políti co que apresentam, pre ss ionam o Estado , que inves te nes ses setores. A orla oceâ nica atua como fator a atrair a expan são urbana antes de haver significativa melhoriado s istema de trans- porte s regional e mesmo do loc al. Ela faz nascer um se tor em que a demanda ante- ced e a oferta de transportes (ao contrário das vias regionai s) e do restante da infra- estrutura; essa demanda se manifesta inicialment e por meio do interesse no setor imobiliário enquanto agente daquelas camadas, ou seja, os emp reendedores que 107 conhecem com bastante antecedência as áreas que estão fadadas a serem ocupa- das por essas camadas. Manifesta-se, também, através do intere sse de poucasfa. mflias pioneiras que ocupam a região - inclusive com casas de veraneio-; só mais tarde, e cedendo a pressões políticas das burguesias, é que o Estado introduz melhorias na infra-estrntura viária e, muito mais tarde, na de saneamento e de comunicações. Assim ocorreu, por exemplo, nas décadas de 1960 e 1970 tanto na Barra da Tijuca como na orla de Salvador, ou na década de 1920 em Boa Viagem (veja capítulo 13, seção "A segregação e o controle do espaço intra-urbano") e na Granja Viana, cm São Paulo. No início dn urbaniza ção das orlas, a terra tem seu preço elevado não em função de uma accssibil idade que tenha antecedido a de- manda - como no caso das vias regionais -, mas em virtude de uma demanda de alta renda que incide sobre terras pdvilegiada s e bem loca1izadas, embora com acessibilidade precária. Outro exemplo típico é Copacabana, que já estava loteada e já atraía o inte- resse da alta e média burguesias vinte anos antes da abertura do primeiro túneJ (veja capítulo 8, seção "O Rio de Janeiro"). Tais terras têm no seu preço um enorme com- ponente de preço de monopólio (frente para o mar, primeira quadra da praia, se- gunda quadra, etc.). É claro que algum acesso precisa existir; este, entretanto, é ini- cialmente muito precário. Depois da primeira melhoria significativa de acesso, intensifica-se a ocupação urbana que, por sua vez, demanda novas melhorias - mais túnejs, aterros, novas pistas, etc - e assim por diante. O motor inicial é a atrat ividade do sítio. O setor ao longo da orla ocennica sul do Rio começou a se de- senvolver em meados do século passado, na Glória e no RusseJ, apesar de não haver ali - ao contrário da zona Norte- nenhuma via importante de acesso; havia ape- nas precários caminhos que demandavam algumas fazendas e engenhos localiza- dos na Lagoa. Preferida pelas elites, a zona Sul do Rio começou a apresentar uma impressionante sucessão de melhorias de acesso envolvendo grandes investimen- tos, jamais vistos em qualquer outra parte da cidade ou em qualquer metrópole do país. Da mesma maneira que, até meados do século XIX, não recuara diante dos atoleiros e morros que se antepunham a sua expansão, construindo praticamente uma cidade sobre pântanos, a elite carioca e o Estado por ela dominado não recua- ram, a partir do final do século XIX, diante dos morros graníticos nem do próprio mar. Até 1905 o mar chegava até o Passeio Ptíblico. "Desde 1905 foi o mar dali afasta- do pela interposição da avenida Beira-Mar. Em 1921-1922, ainda maior aterro se lhe formou na frente" (Rosa, 1924, 91). A abertura da avenida Beira-Mar iniciou-se em 1905. "Ela teria 5 200 m sempre ao longo da costa, exceto no Morro da Viúva( ... ) e segundo os cálculos dos engenheiros municipais custaria 9 240 contos.( ... ) As obras seriam pagas em apólices da PrefeHura, cujo orçamento( ... ) só em 1906 é que anda· ria pela casa dos 26 000 contos" (Gerson,1965, 88). Em l921-1922 foi construída a avenida Rui Barbosa, contorna ndo o Morro da Viúva. Em 1892 inaugurou-se o pri· mciro ttínel para Copacabana; cm l 906, out ro e depois outros ainda. Posteriormen· te, o gigantesco aterro do Flamengo e cm seguida o da praia de Copacabana com a nova avenida Atlântica; depois o elevado do Toá e o túnel Dois Irmãos. Essa impres- 108 ~m!IACA5CCF1ll!IO - -AS ro,,:s, l'l,INTA oo SOll'CO ccocm-,c:o ll'Ut~ cc 1112 c.,r.,. oo s~ Cl(OCIWW:O oo ();t'IIOTo Ili[ 1uJ oc.<J,OW.... c,___, <,ot figura 20-i\rcn Mctmpoli1ana do Rio de Janeiro: .irca edificndn cm 1922 (Niterói e São Gonçalo em 1933) o (} tlll> º""""'' O( ltMO .._.. --!Wrts· :-o~i=S~Jcl~\'ó"° ClOGMnl:O ,,..,._._,.., L .,._ Figura 21 -Á rea Metr<>poli tann cio Hio de Janeiro: área ecliílcacla cm 1958 109 sionante sucessão de obras re\·ela não só a atraçã o que a orla oceâ nica do Rio n?m exercendo sobre as camadas de alta renda , ma - principalmente o fato de que o 1m- peto em lançar terras no mercado imobiliário onde essas camadas constituem ade- manda não foi contido por dificuldade de acesso. Para \·cnce-I.1s, convoca-se o Es- tado, inclusive para despender vulto-os recursos. A história de Salvador não é essencialmente diferente. Embora não tenha tido que vencer obstáculos do sítio como no Rio. a expan ·ão da classes de alta renda no setor oceánico de Salvador comou com a generosa colaboração do E tado em um ambicioso sistema viário. Tal sistema incluiu não apenas as das da orla propna- mente, mas também a a,·enida Paralela (Gm·ernador Luís \"iana Filho'. mda a rede de avenidas de fundo de vale que sen-e as regiões de Garcia. Broras Federação. Gra- ça, Ondina, Rio Vern1elho, etc. Xo final da década de 1980. a orla recebeu grandes obras de paisagismo e urbanização , e o sistema \iário ao longo das praias foi signifi- cativamen te melhorado. No entanto , na década de 1960. o ace·so era precário. mas as burguesias soteropolitanas já ha, i am se apropriado da orla, embora nela não pre- dominassem. Nessas orlas oceânicas , pode e,·enrualmente surgir uma \ia de interesse re-- gional, mas ela independe da urbanização que ali ocorre. embora possa beneficiá- la. São os casos, por exemplo, da rod ovia Rio-Santos, no caso do Rio, e da esfrad2 do Coco, em Salvador. Essas estradas são pavimemadas somente depois que a ocupa- ção já foi concretizada pelas burguesias, mesmo que de maneira incipiente. Essas considerações trazem à baila o limitado desem ·ohimento de um setor urbano ao longo das margens do Guaíba, em Porto .-\legre. :\ razão básica pelas quais as burguesias gaúchas não ocuparam maciçamente aquela oda não deYe ser bfüca- d a em eventuais dificuldades de acesso. Como ,imos. as melhorias de acesso s.io efeito, conseqüéncia da preferência das elites, e não causa. \·eremo · mais aài:mrc que as burguesias de Pono Alegre preferiram os sítios alws da lndependen ci,1 em deir imento da orla do Guafüa. :\lesmo assim , entretanto , um cenue setor resid~ncial com alguma participação de camadas médias e acima da média desern-oln:>u-sf naquela orla, produzindo um setor que pode se enquadrar . em parte . no caso Jqui examinado, no qual a atração exercida pela costa é que constitui a causa primefroda urbanização e das melh orias de acesso. ~a zona Sul do Recife, chamam a arenção as várias pomes e especiaJmen-e l) feixe de longas avenidas \"oleadas para o atendimento de uma parte relati\dmeme pequena da área metropolitana: as a, ·enidas Boa\ ·iagem. Conselheiro Aguiar c.3 E:1- genh eiro Domingos Ferreira , sem contar a anmida ~lare chal ~lascarenhas de ~to- rais. !\o entamo, já nos primórdios do bonde, com acesso precário. Boa\ i agem era cobiçada pela aristocracia pernambucana. ReaJizaram-se as melhorias urbanas em Boa\ 1agem com cama ame<:edê1K1J em refação a uma ocupação consolidada que podem dar a impressão de que forcll:: as causadoras da ocupação do bairro pelas camadas de alia renda , e não o romr-u: Essas camadas já estavam "de olho " em Boa\ 1agem na década de 1920 quando e.is melhorias foram levadas a cabo. Não há dú,ida de que, como afirma Dini: ~torara 1 IO (1994, 7), a avenida Beira-Mar do Recife "é um exemplo bem claro de como as elites procuravam a todo custo modernizar a cidade". A pergunta que se faz é (re- corde-se que este é um estudo de localizaçõe s): por que as elites resolveram mo- dernizar a cidade naquele local e não em outro qualquer? É Diniz Moreira quem responde: "A partir desse momento, na cidade do ílecife, o mar é associado defini - tivamente como signo da modernidade". Está selada a identidade entre n orlu e os interesses das elites. Os melhoramentos urbano s de Boa Viagem foram trazido s pelas elites, e não o contrário. Olhando para o Rio de Janeiro, essas elites já viam o futuro de Boa Viagem. Segundo o citado autor, essa "modernidade" tran sparecia na convicção de um cronista local que "comparava o Rio de Janeiro, com sua ave- nida Copacabana, com o Recife e lamentava o fato de sua cidade não possuir ain- da uma avenida daquele porte" (idem, ibid.). figura 22-Área Metropolitana de Porto J\Jcgre: área edificada cm 1940/44 111 i t /\ estrutura t1rbana básica Esta obrn parte da premissa de que, por terem sido produ zidas pela mesma formação social , pelo mesmo Estado e no mesmo momento hi stór ico, nossas me- tropoles devem apresentar importantes traços comuns de organização intra-urba- na. Tais traços eslão representados na Figura 23, que mostra sínte ses das estruturas intra-urbana s <le algumas met rópoles bra sileiras. Trata-se de figura s baseadas no modelo por seto res de círcu lo de Hoyt (1959). Como sínteses que são, tais modelos reduzem o espaço metropo litano a seus elementos mais fundamen tais, além de exa- gerar na segregação e na simplifi cação das formas. Os subcentro s de comércio e serviços - elementos importan tes da estru tura urbana - são desprezados , neles aparecendo ape nas o centro principal. É curioso qu e o modelo de Burgess (1967) tenha se tornad o ma is famoso e difundido do que o de Hoyt, apesa r de este corr esponder mais à realid ade do que aquele. É que Burgess e seus colegas de Chicago tinham maiores ambi ções intelec- tuais que Hoyt. Tinham, inclu sive, pretensões a uma teoria da organ ização intra- urbana , que desenvo lveram sob o nome de "ecologia humana " (Park, 1967, 2). Hoyt não consegu iu ultrap assar a mera descrição. Nn verdade, nossas metrópoles têm uma organização intern a que é um pou - co um misto de círculo s concênt ricos e de setores de círculo , ape sa r de os ultímos predominarem so bre os primeiros e apresentarem maior potencial exp lica tivo - até hoje pouco utilizad o - dos processos espaciai s intra -urbano s, como ,·eremos. Esta obra procura explorar esse poder explicati vo. O modelo de círculo s concêntri - cos, entretanto, vale mai s do qu e a simpl es descrição de nos sas metrópol es sendo constituídas de centro e periferia. Há ta mb ém urna dispo sição de bairro s de classe média em torno do centro em áreas outras que n ão o setor de alta rend a. No Rio, esses bairros incluem aTijuca, o Rio Comprido, São Cristóvão , a Ilha do Govern ador 113 e Nitc:r6i. bn )íl<J Pa11l<J, liá e h,rn.,, rmccJJtnH,<JC'> de da<;'if.! média na zon a fone- ",;11Jt mia, ( . .snlarcirn, J,wlirn <,;hJ l',u ilCJ, 'J rr.;rnt~mb(> , na ;,,m a f ,e5tc -A lto da Moóc.a ,. ·r ai w1p<:. Lc,nl wlo , n alui hurg tH''>líJ rrn<J c:c,Ui ali pre sente.:<; não'>(; organi za cm dr- < 1110., < ,,ncémt riu,• ,; <•c:,1:í umnm Lrach1 n11m 1íni< ,, "><'tor. CJaro que , cm termos de fa. mflir1., Í!-iolad;1c,, f mnfliar, da ;;iJt;t hurgtH",iH p<>dcm r1c.orrcr cm qualquer parte da me- l 16pol<·. J:nq twnt o cla<ic:,e e· e;nqmrnlo lrnír ro, por ém, i<-isrJ não é po ssível Como prc·t c·ndc·nw•) mr1·~1 rnr 11c.,,~ ohrn , é a nrganiza çiio por c,etorc'> que dom ina a estrutu- HH/tO do í!!,JHiÇ<J inl ra urlrnno. /\ mc:tndol<,gía científica não rode pre scindir de hoa s obc;ervações, descri- eyoc!'> <· cJ;,c,c:,ifJut<i,cs d,, ., procc.,~os. Uma nh1-,crvnç.ão defeituo sa leva a uma cxplíca- 'rªº igwtlnwntc· clc·fcituosa. /\s con'iiclcrnçõcs dc"itc uipítuJo n ão objetivam ser mui- to 1m1íc, q11c c:,rr11p)C'<; dc,;cri çoc., e dc•liniçõcs de Lipologia s. Para isso, os chamados modelo.., .,,mp hfi cndo<; clC! c.•slrnturn urbana são útei s, desde que não se pretenda t rrnr deles nrnis cio quc-podem oferecer. f'am clcc,cnvolvcr l:'iis modelo<;, cons iderou-se qu e, tendo em vista as limira- çoc'> do 11wio f f.,ico, ()', metrópole s brasileira s <!presentam- se segundo três catego- rias. rts que: tôm 'HiO grnw; p;ira •w desenvolver - São Paulo, Belo 1 Jorizonte e Curitiba , ,,., quc tém J 80 grnus - Hccifc, Forlalcza e Porto Alegre - e as que têm apenas90 graus - Hio dc Janeiro e Srdvaclor. Os modelo s apresentado s na Figura 23 atendem a c:ssa da~i, ifü.aç,w. bc for feita - c;orno deve ser - a abslrnção da baía da Guanabara, o Hi<J de J:uw,ro, fundidc, a Ni.tcróí, terá ü dispo sição lBO graus. A metrópole in tcrior 'J:1n10 ~ft<J Paulo como Ifolo J Jorizonle apresentam seme lhanças de estrutura que: prmrii1<:m c•1JCJ1rndrá-las cm t1m mesmo modelo. Na verdade, os pontos em co- mum apn :'ic:11t,1cl,,s pc,r nmba s as metrópole s são ma io res do que os que aparecem rrn Hgurn i; L /\líft s, esses pontos ~[lo co mun s a i11úmcras cidades do sul do Brasil ai rnvc.:•)1;,1Cfa1, por ferrovias, no fimtl do séc ulo XIX, nas quai s estas se alojaram num fundo de.; vale, próxi1no no cc nlru, clívidindo o espaço urbano cm duas metades: ttq uc.:J.1 <mele c;!>lé'Í ,, ccn I rn da cidade e ,1 ou Ira . E·,tc:h "iflO o~ po11lo s cm <.;onwm : 1. /\ mctr6pr,Jt: é i11lc;riora1rn; isso significa que dispõe de área para expansão ,m, 1ocl;1<; c1s dirc:ç<ws: :wo graus. i . N" início d e.: s11í1 c;xpnn sfw, o cspnço urbano depara com uma barreira que o divide ;,o m eio: 11111 va le ror 011cle corre um pequeno rio - Arrudas ou 'J:1m111Hl1wlcf , cujc, 1 rnn sbordnm cnto f'rcqíicntcmcntc inunda as terras ad· j:1,·c.;111<;:-,, e: 11111<1 f'crrnvi;i q11c se .1loj.i junto ao ri o. Evidentemente o centro da e.idade f icíl c:11111n1 dc!sses dois lélClos. O conjunlo vale-ferrovia funciona então c(11 110 11111<1 l>í1rrnirn que clcf'illC.: - lcnclo como referência o centro da cidade o " lado de l:'i" (opo sto no u:ntro) e o "lado ele cá" (o lado onde está o cen· 1 ro) . A lrn1 , l'irn dívidl ! o espaço urbano cm duas pa rtes que têm custos e tem- p<,.11 de: dc:.-..Joc.::1111<:1110 HO ccn lro difcrnn ciaclos. Num estágio inicial da expan· 114 R;O O( JAA'ORO (l""c:lull,e NíT[RÓI) R~ CE JANElRO (Inclusivo NITEROI) SÃO P.NJLD PORTO /IJCCRE OEt.0 HORIZONTC H~m-n~ oc rnRo - M~ IIU.Cl(HCWS CMS CAMAM1 ll( klHOA 1,1.1;, ,11,t,, D OU1AAS AA(AS RlSlO(NCWS D .IAW IHOl/'1RWS CJct"1110 f-igura 23 - &ilruturas espaciais de algumas áreas metropolitanas sc~undo o 111odclo do l loyt L 15 são urbana - as primeiras d r eadas uo século XX- , dados dois pontos a igual distância do centro, porém um localizado além da barreira e outro aquém, o primeiro apresenta maior temp o e custo de des locamento do que o segundo. Define-se, então, um lado do espaço urbano mais vanLnjoso que o outro, do ponto de vista deste fator fundamental que 0 a acessibilidade ao centro. 3. Em virtude dessa vantagem, o lado em C]llC cstü o centro tende, inicialmente, a abrigar maior parcela do cresc imento urbano do que o "lndo <ic léí". Veremos como, no caso de Belo Horizonte, isso foi só inicial e efomcramcnt·e prejudi- cado pelo planejamento da cidade. 4. As camadas de mais alta renda tendem a se concentrar no lado mais vantajo- so, embora a recípro ca não seja verdadeira, ou seja, no lado onde se localiza o centro há também camadas de baixa renda. O lado oposto ao centro, entre- tanto , passa a ficar "fora de mão" e os bairros de alta renda tendem a não vingar ali, como a região de Pampulha, em Belo Horizonte (veja capítulo 8, seção "Belo Horizonte"). 5. No lado oposto ao centro, num ponto estratég ico parn o qual converge o sis- tema viário do "lado de lá"', surge o p rimeiro grande subcentro de comércio e serviços. Esse subcentro é popular, por atender à população de baixa renda localizada além-barreira, que não tem acesso econô mico ao centro principal, j á que este pertence às cama das médias e altas. No caso de São Paulo, o subcentro foi o Brás e, no de Belo Horizonte, a Lagoinha. Vejamos como e por que esse padrão territorial se formou em São Paulo e em Belo Horizonte. São Paulo Em 1867,quando foi inaugurada, a Estrada de Ferro São Paulo Railway veio acentuar ainda mais a bipartição do espaço disponível para a expansão de São Pau- lo. Implantada no vale do Tamaduateí, a ferrovia aumentou a barreira representada não só pelo rio, mas também por sua ampla várzea inund ável (Figura 13). Com isso, dificultou-se o acesso ao centro pela região situad a além dessas barreiras- a zona Leste-, uma vez que sua superação se limitava a alguns locais onde havia pontes, possibilidade de cruzamento da ferrovia e alerro da várzea. Do lado oposto, ou seja, a oeste do Tamanduateí, também havia um obstáculo: o vale do Anhangabmí. Esse vale, porém , apresen tava uma dificuldade de supe ração bem menor do que o do Tamanduateí. Em primeiro lugar, não havia ferrovia. Em segund o, tTatava-se de um vale menor, de um córrego menor, com um vale mais fundo e estreito, quase sem várzea alagável. A expansão urbana ocorreu, ent ão, predominantemente além do Anhangabaú, isto é, do mesmo lado da barreira (Tamanduat ef-ferrovin) onde se en- contrava o centro. A cidade tinha então, no final do século XIX, três áreas para ex- pansão: 1. A zona Leste, plana, e cuja ocupação exigia a tran spos ição cio obstáculo re- pre sentado pela barreira Tamaduateí-ferrovia-várzea inund ável. J l 6 2. t\ lona Oc•stc•, qt1l' c•xigia a tran sposi ção do vale do Anhangabaú . :1. 1\ < llllll't'iia di\hora de> água<; entre o<; doic; rios (onde aliéís Já r.srnva a cidade), na d11p~·,to do Bixiga e cln Liberdade, que não exigia a transpoc;ição de ne- nhum ohst.íruln. tratava -sr, cnlretnnto. ele um sítio estreito, vincado de• vales. A ridncll1 sc> t•xpnncliu t·m todas essas clircçocs, porém, sdccivamenw. A ex- pan~ao alt>m do J\nhangahmí crn cio mesmo lado da mmor barrcirn onde estava o rrntro da l'idade. ApP1rnc; isso jtí tornava csc;a área mais vanlajo<;a qur a do "lado de !:\". Alrm dh~n, o /\nlwngnba ú era uma barreira mais suave r., uma vc7 transposta, dava acesso a uma regiao de topografia levemente ondulada, de altitude crei;cente, de grandl' bclczn nnt11rnl e que conduzia ao espigão da região, onde mais tarde se aJoja- ria n nwnick1 Paulista. Por outro lado, a direção oposta tinha grandes desvantagens. Havia um rio maior, n ferrovia e uma ampla várzea inundável. Superados esses obs- lnculos, tinhn-sc acesso a uma região plana, sem qualquer atrativo naturaJ. Na pri- meira região surgiram os loteamentos das camadas de mais alta renda. A ségunda região foi dcsprcznda por essas camadas e deixada às classes populares. Uma parcela minoritária cln classe média ocupou parle da região desvantajosa, fazendo surgir na década de J 940, bairros como o AI to da Moóca e o Tatua pé; a alta burguesia, todavia, restringiu-se il região vantajosa. Como já dissemos, a recíproca não é verdadeira. Durante várias clécc1das, a cidade de São Paulo organizou-se em apenas duas partes bastante separndas pela barreira córrego-ferrovia. Até atingir uma população da ordem de 2 milhões de habitante s, era possível dividir a cidade apenas em leste e oeste. Essa conformação inicial leve duradoura influência sobre a estrutura urbana: tanto sobre a distribuição territorial das classes sociais como sobre o desenvo lvi- mento dos subcentros de comércio e serviços. Vamos dedicar outras parte · deste livro a esse assunto, mas é possível abordá-lo brevement e. A partir do final do século passado iniciou-se a constituição e o enorme crescimento das camadas populares urbanas no Brasil, de maneira que o crescimento da cidade na parte pior- o leste - passou a ser maior que na parte melhor - o oeste. Em 1890, 72% do 60 564 habitantes ele São Paulo moravam a oeste do Tamc1nduatcí e apenas 28% a leste (a paróquia do Senhor Bom Jesus de Mattozinhos do Brás). Em 1920, 57% e, cm 1950, 40,6% da população de São Paulo se encontrava a oeste, como mostra o Quadro 15. Isso mostra como a maior participação das camadas populares a leste fez com que essa região crescesse com maior velocidade que a oeste. Encrernnto, a partir de 1950, já não se podia mais dividir São Paulo apenas cm leste e oeste. Já nesse ano, o ABC abrigava 8% da população da metrópole e a zona Norte, 11 %. As histórias dos bairros da cidade de São Paulo pouco esclarecem sobre os bairros e loteamentos populare s, enquant o há abund antes informações sobre Cam- pos Elíscos, l ligicnópolis, Jardim América e avenida Paulista, etc. - a história não é feita pelos vencedores sobre os vencedores?) Richard Morse ( 1970, 259) avalia que "a distribuição de classes na cidade em 1890 era a seguinte: 5% a superior, 25% a média e 70% a inferior". Por maiores que sejam as reservas que se possam fazer a esses dados e conceitos, e por mais imprecisos e vagos que possam ser, é forçoso 117 Quadro 15 - Di s Lribuição ter r itorial da cxpnnsão d a população da Área Mctrop0• lita na da Grand e São Paulo Sub-regiões 1920(**) 1934(* *) 1950(* * *) absolutos % absolutos % absolutos % A oeste do Tamaduate l 345 226 57, 13 548 470 48. 97 978 066 40,60 A les~e do TamaPduateí 192 893 31,92 368 41 0 32,89 805 506 33,44 Ao norte do Tietê 36 736 6,07 100 727 8,99 278 097 11,54 Sarito Amaro ,~ 26 918 2,40 81 494 3,38 Suburb1os a oeste 4 178 0,69 12 091 1,07 41 326 1,71 Subúrbios a sudeste (ABC) 25 2 15 4 , 17 59 814 5,34 216 159 8,97 )Lburb10s a nordeste (Perus e Jaraguá) 3 504 0,31 8 150 0,33 Total 604 248 100,0 1 119 934 100,0 2 408 798 I00,0 Nota,. - Dado não disponível. • Em 19::!0 e 1934, incluía os distritos e subdistritos de 1970 de San to J\rnaro, fbirapucra , Capela do Socorro e ParcU1ciros. quando formavam o município de Santoi\maro. •• População tot:il. 1\cs~cs anos, o e nt ão município de São ncrnardo elo Campo eng lobava todos os atuais municípios tio ABC. De todos, some nte a popu lação urbana de São Caetano e Santo André representava, cm 193•1, 59% do total. ou seja, 35 204 habitante s. ••• População urbana apcnns. Fonte· IDGR. censos demográficos nacionais para 1920 e l950. Para l931J, Censo do Estado de São Paulo. reco nhecer que, se 72% da cidade se encontrava a oeste doTamanduateí, uma signi- ficativa parcela das camadas de baixa renda também ali estava. Quanto à classe média, a sim ple s obse rvação dos bairros que aparecem nos mapas da cida de do início do século-Vila Mariana, Vila Clementino, Ipiran ga, Per- diz es, Cerque ira César, Água Branca, Vila Romana, etc. - indica que a maior parte de ss a dasse também estava a oeste da cidade. Finalme nte a oeste e depois a su doe ste, surg irarn os primeiros bairros exclu- sivos da aristocracia paulistana: Ca mpo s Elíseos, Higienópoli s e avenida Paulista. A locali zação desses bairros pioneiros defin iu uma tendência qu e, como veremos a- diante , se manlém até hoje, quando a alta bur g u es ia atinge Aldeia da Serra, os vários /\lphaville s, Granja Viana e ltapecer ica da Serra, já fora do n1unkípio de São Paulo. Para concluir a ap resentação da s regularidade s espaciais comuns à estrutu- ração inicial de São Paulo e Belo Hor izo nt e, cabe regi st rar que foi também além cio 1àmanduatcí, polarizando a p o pula ção do "lado d e lá", que surgiu o primeiro subcentro de comércio e serviços da reg ião metropolitana: o Brás . Esse subcentro era, e ainda é, eminentemente popu lar. Como se vê, o modelo por setores mantén1-se até os dias atuais. Belo I-Iorizonte A mesma análise pode ser utilizada para explicar a estruturação territorial de Belo Hori zon te e m suas primeira s década s e a permanência , até hoje, de alguns 1 18 11,,\·,1, ilHptHl,lllll'' d1's:--a L'St1utur,1ç,10 t'nÜ1(,1,1 rnm r~nJ, ,.u1.1Ple, n; ,l 1, de- l°(lll''llh'~ dl, pl,1m·1,mwntn d,l rid,idt.' \h,\ s. t'"-hl ,m,1lt,t' ,~n e. p:tr,1 :~10 ·,-,lf t 0~10 .1~ llH(,l ' d,, nwh .tdt' c,mdu ·1d,1:,, pda prt'lc..'rt.'ttci.1 da, b.irg1•c,1.H '-l llt'r,uam ,1.._ t111 pl,uwj.mwn1,,. dt' m.nwit,\ qut.' [klo 11,)t 1.:01\tt' n.w (Om,t t,it t"\t t'\ào dcncre l\l1~s.1s nwtwpPh.•,. nn qu,' t,mgt' ~ sti.1 l'!-ll ulllr.tç,i.r,.\ l\lptt.tl lll\lll'll,\, t,11 conw ~ão P,lllln. unpl,llltllll · '-t' num ,1(10 con,, rnído pt,t um , .,lt- ll t.hi 11bci1 ,h, dos \ 11 uda-. - rom, ,lí'C',l ltt'qm•ntt'mcmc 1m,mt1da t' nndt', H't,1111 ,,, ,1h11,1r l'" l I ilho~ de umJ estr.1d,1 dt" ft.•r cr, .• 1 rnt:io Ct"llral do Bra,,l F~st' , ak dc:-t'l\\ ,,h l' :-t.' ,,pw \ i m,1d,mH•nte no sent tdt, IC',ll'· <H",tt' dr maneira qt,e a ddndt · ir.t:-t'dt.':Wll\Oh t.'l ,tnnO\tl'eao~uldf'IC'(\t."i.ta 11~Ultl, 2 1.126. \art',tcon·- tnllll' tln pl,mn tk \, li ,tl) Hds ('rn ronsritu1da por lrt.•s 1ona~· a primeira era ,t zona urh,11rn. limitnd,1 1wl,t ,\\'t'ni dn do Cont o rno e llh lÍS freqücntemC'nte assoc1ad.1 à área "pla1wjad,t" dl' lklo l lori1o ntr : rm·olvcndo cssn zo na ha, ia unrn ourra que o plano rh,11na,'.l dL' "snhmbana ... rom um plan o Yiririo men o, clabomdo r que foi mms de- solwdrrido que 1m 1011.1 urbnnn . Finalmente. lrn,·ia uma 7ona chamada de c:nios L'm·olwm ln n suhurb .rna . t\ diferença de padrão urbantstico cntn"' a ,ona urbana e a $Uburbann L' rcn:-1:'ldn pelo Quadro 16. De aco rdo com ele. a zona suburbana. ape ~ ar de t('r u1rn1 an.•a três ,·czcs mai or que n urbana . tinha uma e'<tensào de rua menor qm' o dobro, al~m de nprcsentnr muito meno · praça e avenidas . O plano revela. portanto, a SL'mrntc de um modelo de círculo s co ncêntricos .. \ zona urbana era cla- ramcncc n zona "no bre " da cidade e a suburbana . a popular .. \ quase-totalidade da zona urba nn, de planejamento mais aprimorad o. e a mai or pane da zona suburba- na e de sírios cstnvnm localizada s ao sul da barreira constituída pelo ribeirão e pela íerrovia ao longo dele. Dentro da zo na urbana , a Comissão Construtora da Nova Capitnl rixou que inicialmente só seriam cedidos ou vendidos os lotes sit uados den - tro de uma faixa compree ndida entre as avenidas Cristóvão Colomb o- nome que na época se estendia a toda a atual avenida Bias Fone s - e Araguaia - atual Fran- cisco Salles (veja n r-igura 26). O sentido dessa faixa era SE - NO. A rirea em questão destinava-se a co mportar uma população inicial de 30 mil hab icanres, estipulada nas diretrizes traçada s pelo governo esradual para o plan o da nova capiral. Nessa área começaram as primeiras obras de urbani zação. Numa pane dessa faLxn foram selecionados os primeiros lote s a se rem ocupado s por residência s. Os primeiros ocu- pantes eram integrant es de camadas média s, poi s eram ou íuncionários publicas transíeridos de Ouro Preto - a antiga capital- , ou proprietári os de imoveis nessa cidade ou no antigo Arraial do Curra l dei-Rei. totalmente de sapropriado para a cons- crução da nova capital, ou ainda pioneiros que se aventuraram a co mprar os primei- ros !ores vendidos em hasta pública . Só mais tard e, à medida que a cidade se forma- va e se constit uía como urna cap ital , é que vieram a alra e a media burguesia s, ou seja, os altos funcionários e comerei.antes e, posteriormente, os grandes industriais. O bairro pioneiro, onde predominavam os funcionários ptíblicos, tem até hoje o nome de "Funcionários " e ocupa principalmente a encosta leste da elevação cm cujo cume está o Palácio da Liberdade (figuras 26 e 39). Quando a burguesia chegou , instalou-se na mesma faixa pioneira, ocupando porém mais a encosta oeste. Essa l 19 Quadrn 16- Relo l lorizomc: algun1.11; carae lt' l tstirn, do Pl,111<1 ,k \,11,lll Ht'" Area (hectares) Urhana 881,54 Suburbana 2 '193,08 Ext ~nsão da Extt>nsflo d ~s ruas (qullôme ros avenidas 87,76 1 ,IQ,89 38 S3 1 18 f:onh• PI '\ '\ ·\ 01.1vin l'\ntm rrn n(l/ogirm 1/1• /k/11 I /111 i-::11111,• I' 17 9 <'nrosln era mais próxima da éÍí<'íl onde. junto à <'SlJÇ,ll) fNtm 1.m.1. lorm.1,.1 \t'O < t>ntro cfa cidade, que não hnvia sido definido no Plnno. t\li,,, , nem o Pl.11w n1•m, t omh~;io Constrntora definiram qualquer zorwament o para ,1 eid,l<k lh primt'ltm C\tahclccimentos de comércio e se rviços começaram, logirílnwnlt' ,, nrnll,ir uma rua que. panindo da praça da estação fcrro\'iária, subiíl em dtrl'Ç,'lu ,) p ,Hlt' mh \'alorinda da futura cidade, ou seja, n encosttt oeste. T.11 cm cxntamenct• .1qu1·bqut fora rc C'n·ada para a burguesia; além <lis o, tangcncia, ·a a Praça d,\ llht>rd,1tlt· re· scn ·acfa ao palácio do governo. Era a run cln Bahia. Portanto, lambém em Belo l lorizontc. o centro da ritlatlt• t' th h,1 rrn res1dcncrnis das camadas de mai s nlta remela orgnniznrnm-sc <lo me~nw l.tJod• barreira rio-vale-ferrovia. Poder-se -á alegar que isso tcrin sido uma dt.'l'tHrt~lll'W do Plano. uma vez que praticamcnre toda a área plancjnda L'St,n·a do 111t•,mo!JJ da barreira e que a localização do comércio ccnlrnl e das burgut?sid$ fo1 i:t\ttdtl11 nnda pela localização dos lotes que lhes foram oferecidos. Ctbt• imt•:-.11g.u t'nt.1n que crilério teria guiado a Comissão Construtorn nn sclcç.io desses lo!t'~ 1 \,1h1!~ admití1 que essa escolha não poderín cont rnrinr o gosln. os hnl>iltlS t' .1 tt111tlil Jt• morar dessas classes e que elas não aceitariam·· locnlizn(ões 1 uins", qu<'r p,11J ~M casas, quer para seus negócios. Em suma, n demanda precisava ser ,1lt'tllhd,1 fam bém é valido admitir que, precisamenLc por ter sido pln1wjnda parn .1h11~.11,1:-b11r guesias e seus negócios (como os fatos comprovarnm). ,l :\t(',l uth,llhl lt'11,1 ,1J11 concebida por Aarão Reis, de um tínico lado do Arrudas . Elt• s,1hi,1 qtH'. ,r t'"t ' ribeirão viesse a secciona r a cidade ao meio, cstnrin sendo c:ri,1d,1 lllll,t ,111•,1 pl,111l jnda que tinha um ]ado melhor e outro pior, o que st'ri.1 in,ll't'tta, t'l : a att',1 pl.lllt"' da, sendo destinada às burguesias, linha que scr" boa·· intl'grnlmrnh' \, l,1111.11!.1, populares foram alojadas fora da área plancjncln. Fm Bras1li,1. pnr ar,1:-.0, 1t,, ,ltt,• rente? Como afirma Milton Sane os (1993, 89), "n1111ca t' dt'111,1is lt•mh1.n ,Jlll' m,•1 cado e espaço, ou, ainda melhor , mercado e tcrritorio süo si11fü11n1t,s Um n.hi-1· entende sem o outro". Inicialmente o crescimenlo de Belo l lorilonte foi maior ,w sul d,1 h,111,· 1r.1 definida pelo ramo norte da avenida do Contorno-, m1 st'in, do llll':mm l.1d111\lllk se formava o centro da cidade (figuras 24, 25, 2G e 3~)). l la\'in prnzos fi\Oll p.u.1.1 construção das casas, tanto por part e dos adquirentes dos H·rrenos ro11w pm p.uh· 120 1900 1910 1930 Figura24 · - -Cidade de Belo l lorizonte: áreas ed ificad as en tro 1900 o 1 !MO 12 1 > 1920 rl)Hlh 1'1/Wllll. r,l'. AV. CIMl'IM o - ~~ _ - - Ci e de Belo Honzonte: área edificada em 1964 Fi:.,ira 26- Cidade de Belo Hori7.0ntc; localu.ação das prunciras residências 122 -~«,no: _ ,...(õj\i4!: í ~ •• l:lht!J • :J!Cli.1;,:Z ~:,w'O, -2- dos proprietário s em Ouro Preto, que os haviam recebido em doação. Nessas cond i- ções, somente famílias com posses adquiriram ou aceitaram lote s cm doação com aquele compromisso. O crescimento inicia l maior ao sul incluiu e su perou a área dos primeiros lotes ocupados. Esse crescime n to maior só ocorreu porque as cama- das populares, os candangos cons trutores da cidade, foram inicial e provisoriamen- te toleradas dentro da avenida do Contorno. Nos p rimeiros anos de vida da cida de, as camadas de mais baixa renda ainda se localizavam na área urbana, ocupando favelas, barra cões de obras das empreiteiras, alojamentos ou casas velhas do Arraial ainda não demolidas. 1 Pelo menos até 1912, pod e-se afirmar com seg urança que a população ao sul do Arrudas superava a do norte. Depoi s, ta l como em São Paulo, nas década s de 1920 e 1930, enqua nto a participação da população localizada nesse lado caía, aumentava a da que se local izava no lado oposto (veja os quadros 17 e 18) à área desvantajosa, predominantemente popular, situada fora da área plan ejada, ao norte da barreira. À medida qu e as obras de urban ização pro ssegu iam, a cidade crescia e as camadas médias e altas ocupavam a parte planejada, os alojamento s e habitações provisórios eram demolidos e as cafuas transferidaspara fora da avenida do Contorno. Em virtude da faixa liberada primeiro pela Comissão Construtora e da existência, anterior ao plano, do núcleo da Lagoinha , a expan são inicial deu- se no sentido nor te-s ul e, em ambas as extremidades , extrapolou a zona urbana , limitada pela avenida do Contorn o. Ao norte, além do Arrudas, formaram- se, ou consolida- ram-se, a Lagoinha e a Floresta. Quadro 17-População inicial de Belo Horizonte Zonas Zona urbana Zona suburbana Zona de sítios Fontes: 1905 (*) 7 694 5 847 4047 19 12 (**) 12 033 14 842 11 947 Aumento (%) 56 153 193 • Relatório aprese ntado ao Conse lho Deliberativo da cidade de 13ello I lorízont e pelo Prefeito francisco Bressane de Azevedo cm se tembro de 1905. ílello Ilorizont e, Imprensa Official de Minas Geracs, 1905. p. 92. Trata-se de um censo referente ao disLrito de Belo I Iorizontc. ºP ENNA, Otávio. Notas cronológicas de Belo llorizo nle, 13do Horizonte. Estabe leciment os Gráfico s Sant a Maria S.A., p. 14 7. A partir daí, o Plano começou a condicionar cada vez mais a expansão urba - na. Paradoxalmente, entretanto, esse "condicionamento'' era determinado com vis- tas à expansão urbana ocorrer cada vez mais/ora da área planejada, fora da avenida do Contorno. Era, tal como em Brasília, o antiplano. Já em 1920, como mostra a Figura 24, havia mais cidade fora do Plano do que dentro. O grande cresc imento da população suburbana, com predominância das camadas de baixa renda, é revelado 123 • l 1wl<1 Qu.1dro 1-. \ ow-se qu e c..,,e padrno de rrcsci mcnl o suburbano nada INnq \ l,, 1.. om o seu t'qun alrntL' nns cid.1drs comu ns. que apresentam. na pcnfen:i tani <h. crv,dmcnto mais alt,ts que 1m, part es mais ccmrais. Nessas cidades as p~rttt cen 1.1 · 1.1 c:-tão ocupada s- quando não "iaturnda s- (' nelas a populaç,1,, f·mh<,ra trc,rl nc'o a ta,a mcnore'i, e maior que na per if<'ria rarefeita. l;m Bclc, 1 forwinr,,_ como no, pnmordios de Bras11ia- . dc•u-sc> o opo ... 10. A {rrca central é quPrrn r,w·'··· ta. \mda t'lll 1940 ha\ia quadras 111Lc1ras, ,1gns denr roda avenida cio Conr,,rn,, .;·~ 1920 a m,nnr palle da ~írr•a u1 bana eslava vaga e não foi ror qualquer v1sl11rnbr1:é! .smura~'ilo que <.'la nfto absorveu o crcscimcnw urb.ino de e mão . 1~m mo:;, c~s.1 ;,~ apre"it"IHa\a a baixí sima densidade bruta ele• 8,7 hab./ lrn. C', em 1912, apena\ n~ O Qtwdro 17 permite-nos analisar a distribuição do crescimento urb,rnr,em lermos demograficos. Segundo esse quadro, a população urbana em 1912 cr?. d, 12 033 h.-tbirame . A Figura 2.J mostra que a população .suburbana se local!1.a•.aao ..,u). lt')•ae e norte. ~lesmo que a maior parte dessa população estivesse ao nor" ~ pane ~uburbana sul. mais a parte urbana- também ao sul -englobariam a ma1r,r part1..• dl' !>CU habitantes. Por conseguinre. no início de sua expansão urbana. Belo Horizonte realrr:1:r.- tc-rre,ceu mais ao sul da barreira-lado do centro -do que ao norte. Entretanto a medida que a classe média e a burgue sia ocupavam a parte planejada , expu,sav:!m a camada~ populares para fora da a\'cnida do Contorno. Dentre as áreas ex1s1l'ntn fota de a a\·enida. as mais acessíveis ao centro eram as situadas imediatamentel'm freme a este, do lado oposto da barreira. Ali começaram a se expandir os bairros populares. de maneira que , em 1950, a população ao nonc da barreira supermaado ,ui. O Quadro 18 mostra a disrribuição da população de Belo Horizonre em relação ao ribeirão dos J\rrudas. Quétdro 18- Distribuição da população da t\rcn f\letropolitana de Belo HoriLonte Localização Ao norte do Arrudas Ao sul do Arrudas Total 1950 174 650 131 550 306 200 1970 684 115 669 372 1353487 ~ut.1 1 aJJ 19!'i0 ::-omcnlc a cidade dL' Belo 11011.tomc; 1n.1pa da população por pomos elaborado pot ..... \C~L\C'I Para Hro o mun1c1pio::-de Cont. 1gem l' Bclu l lu11zontc; popul.1çãu por serores ccfüuano.1. l ·untc;\'I11..\ÇA. 1978.p 95. Pelo censo de 1950, a população prc~ence cotai. urbana e rural. de Belo Hori· zonre era de 352 724 habitanres. O total que aparece no Quadro 18 é, ponanw, uma amostra mab que suficiente para validar ns porcentagen s obtidas a panir dele. Tal como em São Paulo, a população do "lado de lá" -o lado popular, opo~to 12-t ,tn do e cnt 10 - c 1csd a num I itmo mai s rápido que• a pnpul a~, o do "I, do d,•< o t.1do ond<' se locali1a o e entro. f\lcc;mo não c;rndo mai s poss ív •I d 1v1clir u, ntí'tlf~po lt•, t' lll duas mctaclc>.,, cabe rcgic;Lrar a cxic,tênci,1 clt• algunM s 111,u ·ri,r11 ·~ 1,">1·!'l c;onnu,~ t' Imponamc ... Tanto cm São Paulo como em Belo l lon,nnle r'<I-.Ic111 Ir<'~ g ra nd t·s w~~ii">r principai .... L·m Belo 1101 izontc , por ser menor que Sao Paulr1 e tmnlH·rn ()(JJ tl'r 11ma região )C'-.te pcquPna, cs'ias trêc; granclrc; rC'gifü•c; pri11n paic; dao e ,,nr.t d,· ,,u,1 se toda a metrópole . Em São Paulo, não. 11<1 qur c;r cft-finir 0111rns grnnd, •i;; r ·g1 , • • além dessa" três . Fm ambas as metrópoles, grande parte dac; camada s d<' alia rr•ndn l ,,nr PrJlr s ..,<' na Rrgino Centr al e em um sPtor (Sul cm Belo l lorLmntc c> <;udof' Slf· ('lrl <i,11, l',JU lo). Nolc-s(> que a recíproca não é verdadeira. Fn1 ílelo l lorizontP . um tinH ,, r11f.i1nu, ahrnngc tanto a Hcgião Central como a Sul. que tamb ém concentra ac; < ,1m,11la~ d· alta renda, no distrito Centro-S ul. Para fins de co mpara ção, foi e nad a (•rn Sã" Paulc, um:-i Região Central (que também apresenta s ignificat iva pan.:Pla da-; , anrndas d· alta renda), que, se acrescida à Grande Região Sudoe ste, pos~uidora ela m ,11<11 , ,m- ccntração de camadas de alta renda, torna-se equivalente à Grande fü:giãr, Sul (,,u Centro-Sul) de Belo Ilori zon tc. São estas as três regiões principais (veja Figura 27 e quadros IH e l 'J): J. Uma Grande Região Popular, no lado da barreira oposto ao centru e• rclauva- mente com poucas indústrias; em São Paulo essa grande rcgiao é a 1.ona Le le, onde 19,94% dos chefes de domicílios são pobr es e miseráveis, íslo é, g.mham menos que 1,5 salários-mínimos. Esse percentual é o maior de toda s as n.:gio,•&. Em Belo Horizonte, essa região popular e com pou ca:, indústria s é a CJrandc Região Norte. Nela, 37,28% dos chefes são pobre s ou miseráveis. 2. A Grande Região dos Subúrbios industriais Ferrovidrios: C..omagem, Bcum , Ibirité e Ribeirão das Neves em Belo Horizonte; ABCD, Mauá e Hibt!1rãu Pires em São Paulo. Essas grandes regiões são também popula re5. Em SacJ P·1ulo, apresenta menos miseráveis que a primeira , a Grand e Região Popular . I , .2'.1 , contra 19,94%. Em Belo Horizonte não; os subúrbios ind ustriais têm ma,or participação (41,62%) de pobres e miserávei s que a zona Norte (37 lH %). A tendência, entretanto, é a de Belo Horizont e se aproximar do padráo dt SãCJ Paulo (veja capítulo 6), uma vez que as camada s de alta renda que arnda o brevivem na zona Norte (Pampulha e vizinhan ças) tendem a ~e estagnar c,u a crescer ali, em ritmo mais lento que as camada s popula1e 5. Além <.Jí,;so, no ~ subúrbios industriais, a classe média baixa, que consegue proximidade: ao emprego industrial, tende a expulsar dali os miserá vei5 que dependem de subempregos e do setor terciário localizado s no centro. Os subúrbio s indu s- triais de Belo Horizonte, por outro lado, têm 40,21 % dos pobres e mberávei s da área metropolitana, enquanto a Região Popular - a None- tem 38,33%. 3. A Grande Região de Concentração das Camadas de Alta Renda. ~udoe stc em São Paulo e Centro-Sul em Belo Horizonte. Em São Paulo essa região de1ém 125 r1r,,r;·p10 do, ( lwfci; de domidlios que ganham mnis que vinte salários-míni- 1110~ . 1-111 Bt'lo 1101 izon te c-ssn cifrn, parn a região Centro-S ul é semelhante: S],!)b% (vcjn o C)uad1 o 20). Por outro lado, cm Belo Horizonte, 20,40% dos t lt<'II'~ clc•ssn rt•gião ganham nrnis que vinte salários-mínimos enquanto em \ao Paulo, 11:1 rcgifío c·quivalcnle - Ccnlrn l mais Sudoes te-, esse número r· cl.1 ordt>mele 2 l ,!i7% (c;omn das linlrnc; 3 e 4). São cifras bastante semelhan- 1 t•s (()11.iclr o 19). Notc•-sc, entretan to, que o Ccntro-Sudoes re de São Paulo é m11i10 m.tio1 - em tcrmoc; absolutos e relativos - que sua região equíva- le111 e· c•111 fklo llotlzon te - a região Centro-Sul - , pois detém 35,51% do tntrd ele• domi tíl ios, enquanto cm Belo l lorizontc detém apenas 10,60%. Daí sr· rom: lui, incidcnl alm cntc, que Belo I Iorizon tc é mnis segregada que São P:nrlo, poi~ pnrn ê1brnngcr rar ccla se melhante de ricos foi necessário traçar, t'lll ~ª" Puulo, área rclalivamcntc mu ito maior que em Belo Horizonte. 11 rí1wl111cn1c, há cm São Paulo regiões não equivalentes às de Belo Horizonte, pois I rnla -sc de metrópole maior e mais com plexa: as grandes regiões Nor1e- No1o<•stc e Nordeste (Guarnlh os). [:sw úllima é contígua à zona Leste e a ela poderia ser ~onrnda. Nesse caso, a zona Leste, inclusive Guarulhos, deteria -~ 1 ,'J0% cios domicílios <ln ;írca melropolilann; desse modo, superaria are- grnc, ~udoc~Lc. Das se is regiões da Área Metropolitana de São Paulo, a Nor- dPslc, composlé.l por Guanrlhos, é a terceira cm pobreza. O ()11adro 20 mostra a distribuição elas difcrcmcs faixas de rendimentos dos e lwfc•s, c;c•gundo .is Grandes Hegiõcs, cxcclua nclo a zona Leste de Belo Horizonte, CJIH' <~ muito pC'qucna (detém apenac; 10,8% dos do micílios ela área metropolitana)e 11fif, l<·m similar cm <,iio Pmilo. ·ra111bérn corno cm <;ão Paulo, as camadas populares que cresciam do lado mais dew;111tc1joso, com acessibilidade mais baixa ao cen tro principal, passaram a c·cm~t it uir dcmélnda para o centro comercial, que alend ia às suas necessidades. Sur- giu, {·nlflu, cm determinado ponlo, para onde convergiam os fluxos de transportes pMH 1rnnspnr a barreira cm direção ao centro, um ponto que otimizava c1 <1cessibili- d:tdcJ dw , Jmbítante s da região desvantajos«. Nesse ponto, junto à barreira, surgia um, í•111m tomerdal popular , próximo ao cen tro da cidade, porém dele radicalmente difn<·n1c e atendendo a outra dientcla: a da região desvantajosa, que não tinha acesso (!(.,,ni,rnicn a,, centro. Em Belo Horizonte , foi o centro come rcial da Lagoinha, e em ~ª'' Pm1Jo o do Brás. Lm 5ao Paulo, em J 875, foi inaugurada a faLrada de Ferro D. Pedro II, ligando é1 e 1dMle a c..apiral do Impér io, e n estação 1crminal locali zava-se exatamen te no Brás. I~t..<,;1 formvia reforçou a região lrihulária do Brás, desenvolvendo o setor (com pou- , ar, 1ndtís1rias) em direção ao Rio e fortalecendo ainda mais esse bairro como cen- tr,, e <>rrwrc íal. Alguns acreditam que o Brás, como importante cen tro comercial, foi fr11tfJ cJ:i <.:(,lé1çãr, elo None. J\ estação cercnmcnle reforçou o centro, mas não foi seu fotr,r dc:tcrminanw . Se fosr;e, caberia indr1gar: por que, no Rio, a estação D. Pedro fJ - t,;,e;tantc! afastada do centro no século XlX- não determinou o desenvolvimento 126 lhd li 1 l ~ ,, r 111 11 \ 1 ' 1 \ 11 11 1 l 1 ' ' 1 1, 1, 1 '• 1 1 \ \ \ \ '. r' 1 ) li 11 I ' 1 li \ \ 1 til l I 1 lll'l" ' l'llll I ~~PI~ 11 tlill'I 11 \d l ~jl IH\ 1\ .. , 1 t I j \ 11 1 \ \' \ . ' \ \ I 1' ,\ 1 1 IIIIW \ l t ~. 11 ' \ li 1 1 ' \ \ ( 1 \ t \ \ ~ \li\ 11 \ 1 ,111,c,1 ', li ( ' ( ( \ 1 ( ' ,Al) l'Alll () .. • Quadro 19 -Áreas Metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte Grandes regiões por rendim entos dos chefes de domicílio (1991) Grandes regiões Porcentagens dos chefes de domicílios São Paulo Belo Horizonte Até De 1.5 a Mais de Até De 1,5 a Mais de 1,5 20 20 1,5 20 20 salános- salários- sa lá nos- salarios- salários- salMios- mínimos mínimos mínimos mfn1mos mínimos mlnirnos 1. Grande região popular com 19,94 7 1,63 2, 16 37,28 56,71 2,33 poucas indústria s Zona Leste em São Paulo e Norte em Belo Horizonte 2. Subúrbios industriais 15,26 74,59 4,0 7 41.62 53,42 1,70 f errov1ânos. ABCD em São Paulo e setor Oeste em Belo Horizonte 3 Grande região de concen 14,08 69,61 9,92 19,55 58,60 20,40 tração das camadas de alta renda. Sudoeste em São Paulo e Centro-Sul em Belo Horizonte 4. Centro (sô para São Paulo) 8,59 72,99 11,65 5. Região Norte -Noroeste (idem) 16,98 72,99 3,62 6 Região Nordeste (Guarulhos) 16,87 72,90 2, 15 Notas: O quadro computa apenas mLmicípios com mais de 50 miJ habitant es. As linhas deveriam totalizar 100%. A diferença é representada pelos chefes sem rendimentos e pelos que nã o os declararam. Fonte: FIBGE, censo de 1991. de um grande su bcentro ao seu redor? Nada surgiu ali que se compare ao centro de Madureira, Nova Igua çu ou Méier. Deve-se perguntar também: por qu e a estação da Luz não teve o mesmo efeito, apesar de, nas primeiras décadas deste século, estar afastada do centro de São Paulo? Por que não se dese nvolveu ali um subcentro di- versificado, comparável ao da Lapa ou ao do Brás? O Brás foi, durante décadas, o maior subcentro da metrópole paulistana. Até por volta da década de 1960, quando os centros pr incipais de nossas me- trópoles pertenciam às burguesias , era comum as classes popular es, que a eles não tinham acesso social e econômico , desenvolverem o seu ''centro p rincipal " junto aos primeiros. Milton Santos (1959, 68-a) captou pione iramente esse aspecto em Salva- 128 Qundro 20 - Chtsst's ele rendimentos de chefes de domicílios srgu ndo as Grandes Hegiões t 1 ~)~) 1 ) Grandes Reorões Porcentagens dos chefes de domrclhos São P;mlo Belo Horrzonte At~ De 1,5 d Md tS df' /\té De 1,5 c1 Mc11s de 1.5 20 20 1,5 20 20 sal,lnos- salários- s,,lários- 'i,11.11 IOS· Srllánoc;- sal~rros- mínimos mínimos mínimos mínimos mínima,; mínimos 1 Grande rt•o1c10 pop11iar com 33, 12 26,84 10,'18 38,67. 38,98 22,26 poucas mdust11as lo na l este pm S,10 P,1ulo e> Norte em Belo Hor11onte 2 ~ubllrb,os industriais ferro- 15,33 16,92 11,96 45,2 1 38,52 17,05 v1á11os ABCD em São Paulo e setor Oe,te em Belo Horizonte 1 G ande reg áo de concentra- 26,99 30, 11 55,53 5,60 11.14 53.96 <ão oas camadas de alta renda. Sudoeste em São Paulo e (ermo-Sul em Belo Horizonte -1 Centro (so para São Paulo) 2,40 4,61 9,52 5 Reg•ão Norte-Noroeste (idem) 16,98 16,47 10,58 6 Região Nordeste (Guarulhos) 5, 18 5,05 1,93 Total 1 ºº·ºº 100,00 100,00 1 ºº·ºº 100,00 100.00 Nota: ver Quadro l 9. dor, quando chamou a Baixa do Sapateiro de "varejo pobre" e a rua Chile de ''comércio de luxo". Voltaremos a essa questão quando tratarmo s dos centros principais. Tanto o Brás como a Lagoinha mantiveram sua importância por mu iLas déca- das. O Brás, até a década de 1960, a Lagoinha, por volta dos anos 70. A partir de então, sofreram grandes transformaçõe s em deco rrência de transformações da es- trncura metropolitana global. A popu larização do centro principal , cm São Paulo e em Belo Horizonte, esvaziou esses subcentros. Antes, eles eram próximos do centro mas dele distantes econô mica e socialment e. Não competiam entre si. Agora, não. São próximos física e socioeconomicamente. Concorrem, então, entre si e o centro principal evidentemente ganha a concorrênc ia, esvaziando a Lagoinlta e o Brás. No caso da Lagoinha, ela foi lamb ém desfigurada por várias intervençõe s viárias. Dei- xou de ser um subcentro diversificado; tornou -se especia lizado, principalment e em oficinas. Note-se, entretanto , que não foi essa a causa principal de seu fim, pois 129 o comércio diversificado exibido outrora poderia ter-se expandido nas áreas rema- nescentes depois das intervenções viárias. Ainda como em São Paulo, a divisão da cidade de Belo Horizont e em duas metades somente foi possível até por volta da década de J 970 -1960 para São Pau- lo-, quando essa estrutura foi rompida, à seme lhança do ABC em São Paulo, pelo setor industrial-ferroviário proletário de Conta gem-Betim. Em Belo Horizonte, a ferrovia atraiu o dcsc nvolvim en to de um grande setor industrial-popular na direção oeste (Contagem-Betim), desviando para ali parte da expansão urbana quevinha ocorrendo ao norte . Proce sso idêntico ocorreu em São Paulo, com o desenvolvime nto do ABC. Em ambas as metrópole s, o setor in- dustrial-ferroviário alterou a estrutura inicial bipartida, provocando inclusive o de- senvolvimento e a constituição de novos subcentro s populare s. Os esquemas de Belo.Horizonte e São Paulo apre sentam em comum aJguns aspectos do funcionamento do mercado imobiliário, por meio do qual as classes sociais disputam as melhores localizações. Tais localizaç ões são definida s, em pri- meiro lugar, em termos de custo e tempo de deslocamento ao centro da cidade; em segundo, em termos de atratividade do sítio. Nos casos aqui examinados, a barreira vale-rio-ferrovia aumenta os tempos e custos de deslocamen to ao centro, uma vez que constrange os fluxos- ou as possibilidade s de fluxos- de transporte apenas aos trajetos que se utilizam dos pontos de transposição da barreira . No caso do rio, esses pontos são representados por um limitado número de ponte s; no iní- cio da expansão urbana, uma ou duas apenas. De forma análoga, o cruzamento da ferrovia também representa um constrangimento sério, talv ez mais sério que o rio, pois os viadutos transpondo as ferrovias foram construídos somente depois que São Paulo e Belo Horizonte eram já metrópol es importantes. Nada disso ocor- re com relação aos pontos a partir dos quais é pos sível atingir o centro sem a ne- cessidade de transpor obstáculos. Por essa razão, as áreas situadas além das bar- reiras são rejeitadas pelas classes de maior renda e seus terreno s passam a ter preço inferior aos daqueles localizados aquém das barreira s. São então ocupado s por zonas comerciais e residenciais das camadas de renda mai s baixa. Ao contrário, os terrenos aquém da barreira apresentam preços m.ais altos (mesmo que a iguais distâncias do centrn da cidade), pois têm maior valor de uso. A estrutura básica acima descrita é comum, como disse mo s, a várias cida- des médias do sul do Brasil, cujo espaço urbano foi dividido em dois, pela barreira rio-ferrovia. Quando a cidade atinge dimensões metro politana s, essa divisão não é mais possível e o subseqüente desenvolvimento dessa estrutura básica, inclusive o destino do subcentro popular que polariza a região de baixa renda, dependerá do impacto que outros fatores terão. · Vejamos agora a eslrutura intra-urbana básica da met rópol e litor ânea. A metrópole litorânea A metrópole litorânea pode ser reunida em dojs grupos: as que têm um terri- tório para expansão de cerca de 90 graus - Rio (sem Niterói) e Salvador , por exem- 130 pio- t' aquelas que dispõem de 180 graus - Reci fe, í onalcza Po rto Alegre r Hio, 1rdusm.~ :'\ill~ro1 .\ mctropole htorúnca expandiu-se em função do ponto escolhido para o porto ,1 pa11ir <lo qunl rnmc,-a a se desc•n, oi ver a aglomeração e seu ccncro. :\, atind,Hlrs pnt tuá ria5 têm requisitos loeac ionais próprios- água" profun- das. ptotl'~·ão contra mar rc,·olto, etr. Sua localização-e/ou poste rior expansão ou rt'lllilllCJamcnto - t' determinada, tal co mo as vias regionais dr Lransportcs e as ,tmas indu triais. por rnlões externas à cidade. A ferrovia, ao ser implantada. veio a formar com os portos um binômio altam ente art iculado. Por seu lado, a ferrovia procurara fund0:; de ,·ali.! ou planícies e, por razões ele espaço regiona l - mais do que por ra?õcs topográficas-, raramente pen etrou na metr ópole costeira, pela orla dealto-mnr. Ou pcnclro u no espaço urbano pe lo inter ior, ou- nas cidades que têm apt:'na. 90 graus de te rra firme - pela orla marít ima voltada para o inreno r (da baía àa Guanabara ou da de Todos os Santo s, nos casos de Rio e Salvador). i\ lais tarde, condicionantes espaciais regiona is fizeram com que tamb ém as prin cipai rodovias regionais riessem a ocupar a mesma posição dentro do espaço urban o. No Rec ife, uma de suas rerrovias foi locada ao longo da cos ta, mas se localiza razoavelmente afastada dela (veja figuras 1 a 12). O pano passa a marcar um ponto de encontro entre dois sistemas de erans- é; porte. O conjunto porto-ferrovia ass ume então dupla determinação no espaço ur- m ::. bano da metrópole litorânea. Marca , de um lado, o local que se tornaria o centro dn f; ,-r cidade e, de outro, o eixo - no caso das metrópoles que têm 90 graus-, ou os eixos ~ ,1 (nas que têm 180) ao longo dos quai s foram imp lantadas as primeiras indústria s e ªi E ~ ~ . amrnzéns. Mais tarde, as mesmas razões regionais fizeram com que as gran des aut o- :.- 1'J estradas se localizassem també m nas mesmas direções. Em algun s casos, mesmo til ~ := havendo mudança na locação intra-urban a de rodovias- corno houve no Rio entre ~ i ~ a antiga São Paulo-Rfo e a via Dutra - essa diferença é desprezível em termos de "" ;: espaço urbano, pois a nova via cont inua locada - pelas mesmas razões do espaço e:: regional- na mesma região geral da cidade que as anteriore s. ~ ~ Em Porto Alegre, embora o sítio permitisse a expansão urbana num arco 1 de 180 graus, a região tributária da cidade , concen trand o-se ao norte , detenni- - nou, como vimos, a localização, num único feixe viário, das mais imp or tantes - vias regionais que atendem à cidade. Essa concentração viária - e não os cons- 1 1 lrangimentos do sítio ou a legislação urbanística - condicionou tão fortemente o crescimento da metrópo le naquela direção que , apesar de ter 180 graus para expansão, Porto Alegre se transformou na mais linear de todas as conurbações metropoUtanas brasileiras. Nesse sentido , Porto Alegre pas sou a ter sua estrutura ção mais assemelhada a metrópoles que têm sítio restrito - as de 90 grau s, comó Rio e Salvador-do que com Recife, por exemplo, que tem, tal como a capital gaücha , 180 graus para ocupação. Analisemos então, inicialmente para o Rio de Janeiro e Salvador, co mo se processou a ocupação das áreas que foram deixad as fora do eixo porto-ferrovia - indústrias. 13 1 No curto período pré-fcrrovi.irio, tanto no Hio como em Salvador, as camadas de alta renda cresciam pnrn o interior. Somente no final do ~éculo XIX é que cssí1s cama.das começaram a se direcionar pnrn a orla occflnicc1 ele alto-mar . O cnso dr Porto Alegre é cu rioso. No final do século XIX havia uma coroa de 180 grnus de lcrrn firme disponível para a expansão urbana - no con trfrrio do íHoc Snlvndor- e não havia, também ao contrário do Rio e Salvnclor, uma orla oceânica tão ntrnentc com prnias, beleza natural e melhor micro clima. Apenas uma estreita fnixa ao norte foi cornpromcticln pelo eixo indú sl ria-ferrov ia-ba irros popularc s. lla- via, então, várias direções que as burgue sias gmíchas pod eriam esco lher para sua expansão; nenhuma delas, porém, se destacava nitíclarnenlc sobre as demais. Uma direção, cntrctnnto, apresentava uma pequena diferença valorizada pela burguesia: os sítios mais elevados. J\s burgucsias porlo -a lcgrcnscs - tais comn as paulistanas - dcmonstrnrnm sua preferência pelos sítios alloc; da Jndepcndênc ia, valorizando os atributos das margens do Guaíba, mas não a ponto ele concorrer favoravelmente com os altos da Independência. Por outro lado, muitas alternativas locacionaisso- brarnrn para as camadas de baixa renda, as quais , como vimos, ocuparam predomi- nantemente o eixo Porto Alegre-Novo Hamburgo. No Rio de Janeiro, os sítios altos, muilo atracnlc s - Santa Teresa e Alto da Boa Vista-, foram ocupados pelas burguesias. Porém, a jndescrilívcl beleza da orla marítima e seu microclima mai s agradáve l superaram esses sítios na prefe- rência burguesa. As áreas por elas ocupadas, no caso a orla de alto-mar ou os sírios altos, e o eixo ferroviário-indust rial definiram a estrutura básica do Rio, Salvador e Porto Alegre. Rcciíe é, denlre as metrópoles aqui estudadas, a que teve determinantes de eslruturação mais frágeis. Não teve, e não tem, vias regionais concentradas, como Rio, Salvador ou Porto Alegre. Não apre sentou, his toricamente, diferenças ambientais acentuadas,pois seu srno é plano e razoavelmente homogêneo. No século XfX, quando se formo u a burguesia do Recife, a orla marítima foi por ela desprezaLla, que se concentro u nas margens do Capibaribe, a oes te. Na época, essa era a única área que se destacava um pouco por se us atributos naturai s, num sítio pobre. Recife tem, ao contr ário elo Rio e de Salvador, uma coroa de 180 graus de terreno disponível para a expansão urbana. Entretanto, não tem uma grande melrópole próxima, que defina uma única ou dua s direções preferenciais dos flu- xos de tráfego regional e que atraiam a expansão urbana. Ao contrário, tem rodo- vias e ferrovias de importância razoavelmente equilibrada cm várias direções. Re- cife será mais bem analisada no capítulo 8, cm seção ded icada espec ificamente a ela. Por ora, é suficiente identificar as causas hi s tórica s da diferença entre a estruturação do Recife e a de todas as demais metrópoles aq ui anali sadas. Nesse sflio de frágeis determinaçõe s locacionais, em que as burg11esias se instalaram ao longo do Capiba ribe, as primeiras indústria s concenlraram-se no eixo porto-fer· rovia, na direção sul. /\o longo do Capíbarib e as burgue sias se conso lidaram até a década de 1960. Nessa época, ocorreu, tard iament e no Recifc1 a vaJorização das praias para fins residenc iais e o eixo de expansão das residências burguesas come- J32 .. t 1 , 1 .,, 1,,1,. , H1,,1 \ '·'H' 111 1 1l111,11 11,• 111 d 11·,vt1, , 1111111v1111111111 , , 1 , ,,,, l 1 ' ' \ , •' •1 '' 1111·1h , l ,'1 ll' I\ ,\ ~ llt ", d 1•1 ,11l.1 , , lt,•111,• ' ' ' '' " ' lllll li• ,1, ,1111 (l p j ,t, ,, ,,,,, ,,, ·H , •• 11 dt• .tlt. l ll' lld 1 11111.t .1111•· 11 l l .tpt l1,11 ll11tJ t i 11111111 ' "' 111 , g, ,,, Vi,,,, ,,, 1 1' 11, •• , • l , ,' ' 1 t ,:-..ll'' ' 'tl1 111d.1d1• pnd1 • lt-, ,11111111,1l l:.l11p 11111pt111,t,,, ,,,,1,, 111 ,,,,,1, ,,,,, t.1l', ' • ( , 1 I t'\ l ,•,,l 11 t \ll q11.1d1n l li " , l t • lt \ Ili 11•t 1 1t ,1,l,1 d l t 1 1111 l11q11,f1 l,111 Jl, JI 1 • t' \11\1, l~c·, 111 • t! H i l\l ll,11 ,1 e1p111 l1tlll1l.1d1• 11111• 11 1111 Ili' 11111 11•111 111111 111 , 1 1df 111/IIII \, \tl\l•' • , t 11 ,, , ,l \it1 ' ,l , ll\,\1 1:-.1• d ,11·· .l111t111.u, 111111111,1111l1,111.11p 11, ,11 1•11d,, , ,1111J1111, . ,n, hlt ,1, • ' . \ \1, , 1• d 1, \ t ' t. 11 l t 11 111, li l' li \ 1 1' 1 Ili 1 1 •, d t ' I' ·d 11 11 li 111 1111 111 1111 11 1 11 1 r , l 1 • , 1 1 111 li 1 • t ' 1 1 ',:,. (. t • 1 1 1 1 1 1 j \ 111t'I,\ 11\,lllt'll. 1 Il i 1111 l i, ll ,1111 ,\ li ' IH ' l) l llfll l ll ') e 11111'1 li• 11 1•t1ljl l,lt I l i t;II t• , tl l' \1 1,I ' ,t • (' l \ 11\\qlll'li'll ll l\ll' lll ,\,lll ,)lb1 • di 1tl t' ll1 11P lfll' lpt1 1ll '1l l f tl lll 1ll , 1'1f 1 1,ll 11/ IIII \ h \l ll':- t 1 • 1 l • • 'I td 1 1 1,1110 lllll pt t)( l 'S'i (\ , .. ( 111110 tnl, •11111 ,tl1111d,1p 1'1111 ' lc 111,111.1, Ili l tf / ' "'' . 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J\ 1!•1111· ,,,. 1·111.111 , . 11111cl1111.11111, ,11,• p.lí, l tmtro 1w1 i~,, dos "mod1•lns", ;tl e 111 clc• s 111 '1lll1pltl1t ,1, .111 ,, <0 ,11111•111,1111.u, ,11, f~I,·~ :-:1() t'S(,ttk()S: n ,\l) r :tpl,llll lt ' lldt ' IH'Íil l\l'III 11\!IVilll<'lllll . •\ s L'S(I llllll ,IS illt 1.l- lll'b,lll ,lS dt• lll> SS:ts 1111•11 º' 11111"1 f' lll ' UIII I " ' " 1l l ' l 'JII dl11·,,.11 ,es t':-tagios de um ll\t' Stl\O 1w1c11rso llistc)1 Ir o. ,~.,.,,, 111ovl111t•11t11 •10 ·,1•1,í, ,1p1.,d,, ·,, junrnrmos a gl'ngrnl'in 1• n hlslnrln, t11I ro11H11•s 11111111-i t1•11l1111d11 11111·1 .11p11 H:111," 1 nandotlcssn lor m,1, c nrnpn ' t'lttlc Sl' 11ll1 ll 1<11 11111:1 stqHi-,lu ,, 1·v1·11111.il 1· ·<t ,,, .1,, , , ,,, , ,, a do Rl'rif L'. q u r 1r111 dua s un•ns de• grar11lt• 1'1H IC'<·1111 ,1(, rn de· ,d1i1 ll'r1d, 1 /\ 1<• ,, l111,11 dest.l obra l'S!)N.lll\O S dt'lllOI\ Sll'ill ljll\ ' élS for~'íl'I íllllt1llll "1 •,ol,tt• ,1 111,I III ILll,lt 1 :tt1 d1• nossns mc trn polrs p10d111.t.•m 1111l,1 ll 'M illnlll< ' q111· t1•111IP a l.i11 •1 , 11111 q111• , .. ,,,1, 1 • nham aprn,1s tllll ,\ :1n •.i d(1 grande l 'OIH ' t'1tl1a~ ·,10 d,t"t l a 111ad,1"1 dl' ,dl. 1 11•11cl,1 A·, ,. gundn mn1or :l lL'a dt.• c1rnr e11lrn~·:10 de~sa:,; d 11s-. t' 'i (Nl1,·11 i, 1111 H111, 1.1111,1 r1 11111·, 1·111 ão Paulo; Pampulh n, ·m lklo 1101 iznllll '. t•lc .) t' ~l t11111ri1C1 loi1~w d.,,,, 11111·11.a, 111, ,,w· se rrferr ao mmwro l' ;1, iqll<' i' .l cios s1•11s I ir os ( h Ílllt ·11•,;1, , ·-. d :1•, , J.1•,•,1" , ,•11111111 ,1,H, lemm a um .i un ira ,li C':-t g t•ral dt' sua sc•grt').Ft~·:m, l' i ,'i n vc•111rn 11111·11clq 11:í e 1·111 ,1111, ·, em nossas mclrópolcs. As nwsnws íotçns qut• ,1tu,1111 -.o l>11· a t 11,t1111111:t<,,H1 d.1, cf,. mnis m c trüp o lt'S aluam tamiH ' lll :m l,1(• o Hl'd lt·: a l1"11dc111t ia a 11'1 .1p1•11,1•, 11111,1 ri,, ,1 de scgregaçfw cl:ts bur gucsias. O mo vimc 1 1110 r t•x.11:i111t·11tc· o 11w-,11J1J q 111· 11 , b1•, d, maism etrópolt's. Capt ando -se o movi11w1llo, v1•1 ifica se· q11c: 11111.i d ;1•1 flH•:p, d, · g1:a11 de concentração das l>urguesins e slti c111 dt!d111lo <!1tc1111111fo lal pw x i111irlml1••, cl,, Capib nribc - , e a outra - Bon Viagem cs ttí e111 a S<'C'IIHiH,. O H,·c llr· 1•11q11:1dr :i •,,!, assim. nn 1cndêncin das clcnrnis mc·l rópoles . 13J s .\s estruturns qtH' nn,llis,rnins ,lqui s~io d1,1mad,1s de lmsicns no sentido de qu 're\cldm as duas for(as fundaml'ntais qlH'. f'lll 11!1 im,1 inslànc-in. as drtcrminam: ,\ h.waliza,·:10 - tft-tt'rmin,1d.1 pot f.1tmcs cxt r.1- urh,rnns - cfos vias regionais de t r.1n~portt.' t' das i ndust ri,1s junto ,1 l'l,1s e ,1 lor,1 li 1n~·ão - determ irrndn pelas cama. das de alta n'nda - dr• se us bni1 ros rl'Sidrnci,1is . Os int0rcs srs déls burgucsias lo- cais a rt'Spl'itn do L'Spa,·o local ronsticucm l> principal elemento intra -urbano da t'st rutur ,l t'SIMcial metropolicana, jn que o oucro e c•xtrn -urban o. Os demais com- pntH .'nt<.'s fundanH'ntnis dt'ss.1 l.'S!rutura - o ccnLro principnl, os bairros rcsidrnciab d.is demais rlasscs sociais t' os su hc-C'ntros de co m ércio e scr\'iços- formnr -sc-üo interagindo com os l'IL•mrnlos anteriorC's. mns sendo, em tíltima ins- tância. por eles dctcrminndos. ota 1. O rC'latdrio nprC'scntado ao Conse lho Dclibrrn civo pelo prc>feito dnutor Oernardo Pinto ~lonceiro , compr ce ndrndo o pNíodo clC' 12 de sete mbro de 1 H~Hl a :11 de ngosto de 1902, dá conta, :i pngina G,J. da expedi~·fio dt' " J líl lircnc;as para a constru ção de cafuas 110 Bairro Opcr,ir io. 8·1 seção urbana da cidade" . Essa se~·ão ficava numa pa rte bnixn, ent re a avenida Amazo nas e o ribciran dos J\rruclas. À p~igina fü), afirnia -sc> que, naqu cle período, ''foram expedi do s 286 títulos prov isórios de conccssiiogratuita de !erre no s a npcr,h ios e soldados", mns não csdarece se na zona urbana ou suburbn na. Abílio Barreto (1936, 3~)6) transcreve um relatório <ln engenheiro -chefe da Comissão Construtora de nbril de 1896, segundo o qual havi ,1 folra de casas para oper drios; "apesar do co ntínu o leva nt amento de cafuas e peque nas barraca s pelos própr ios openírio s parn sua res idência, to rn ava-se isso causa de grandes embnrn~·os, or iginand o queixas nessa classe. Por esse motivo foram construídas pela Comissão pequenas cas as de pau-a-piqu e, cober tas de zinco, com acomodação para famílias e solrciros ns qu ais se achavam toda s alugad as por módica mensalidade". É provável que muitas dessas casas se localizasse m provi soriam ente na zona urban a, como se pode inferir do seg uinte trec ho de um observador (Barreto, op. ci c., 657) referindo -se a 1897, ano de inauguração da cidad e. "Do antigo arraia l ainda existe m muit os vestígios: casas velhas, ca fua s, choup anas, ruas estrei tas e rortas, largos e pra ças irregular es.( ... ) ümas centenas de ca fuas e bar racões que se vêem agrupa dos ou disse minados aqui , aco lá, s:io tendas dos ope r~írios da nov a cidad e, e que são demo lidos com a m esma fac ilidad e com que são construí dos, conforme as exigências cio and amento dos serviços o reclamam. Belo l lorizonte é hoje um cont raste de velharias e novidades; ao pé de uma ca fua de bar ro coberta de capim ou de zinco, eleva-se um edifíci o elegante e só lido". À página 35 1, Barreto declara que em 1895 "já iam surgind o os turbul entos bairros provisó rios de ca fuas e barrac ões-Có rrego do Leitão e Favela ou Aho da Estação ". Esses loca is ficava m dentro da área urban a, embora o ú ltimo se situ e ao norte do Arrud as. Referindo- se a "casos concretos ele simpl es observaç.io loca l", qu e reve lnm a situa ção nos anos 40, Se111rn (1948) revela que "na velha favela de ca funs da Barro ca, a meio caminho do centro da cidade para o Calafa te, hoje se estende o e.isa rio mod ern o do elegante e pop uloso bairro de Lo urd es". Entr etant o, à medida que as obras prossegu iam (até os anos 40 havia aind a obras de urb anização dentro da avenida cio Contorno). a cidade se expandia e as célmad as médias e alta s ocupavam a parle plantljada cfa cidade. Tal qua l ílrasília. 134 rd Capítulo 6 Os setores industriais. A articulação espacial entre metrópole e região Este capítulo se detém sobre a localização industrial na metrópole brasileira. A simples observação indica que as grandes zonas industriais se desenvolveram ao longo das grandes vias regionais, inicialmente ao longo das ferrovias, depois tam- bém ao longo de rodovias. Isso pode ser observado em São Paulo , no Rio de Janeiro, em Salvador, em Porto Alegre e Belo Horizonte . Em várias des sas cidades as principais ferrovias e rodovias são muito próxi- mas umas das outra s, e não é possível saber se houve , por parte das indústrias , op- ção por uma ou por outra. Em quase todos os casos , entretanto , as principais zonas industriais se desenvolveram junto às vias regionais mais movimentadas , ou seja , aquelas que estabeleciam as ligações regionais mais importantes. São Paulo é a metrópole brasil eira mais interessante para estudar a localiza- ção industrial. Em primeiro lugar porque - ao contrário do Rfo, Salvador ou Porto Alegre-apresenta rodovias e ferrovias separadas umas das outras e orientadas para diferentes direções, o que permite correlacionar melhor a localizaçã o industrial com o sistema viário regional e com vias específicas. Em segundo lugar, pela óbvia razão de ser a metrópole brasileira mais desenvolv ida industrialm ente . Em se tratando de estudo da indústria, é bom reiterar que nosso objeto de estudo é sempre a organização espacial intra-urbana e, para tanto, são irrelevantes as razões ou origens do desenvolv imento industrial da cidade estudada. Para a aná- lise do espaço intra-urbano é irrelevante saber se a industrialização de São Paulo originou-se do capital mercantil, da agricultura cafee ira, ou de qualquer outra ra- zão. Dado que a metrópole se industr ializou, pergunta-se: por que as indústrias se localizaram da maneira como se localizaram, e não de outra manei ra qualquer? Quais as implicações disso para o espaço intra-urbano? 135 a análise das dirc~~õcs de crescimento urbano já foi abordada a articulação entre as cspacializações da região e da e trutura intra-urbana. Mostrou-se que as direçõe preferenciais de cresc iment o são determinadas pela inserção regional da mct rópole , ocorrendo nas direções nas quai s. ão mai s intensos os fluxos de trans- portr regional, o que se dá, via de regra, nn direção da grande metrópole ou região mais próxima (de de que não excessivamente longe ) dn cidade ou metróp ole con- siderada. Acidentes do sítio natural podem dificultar ou condicionar essa expan- são - como a de São Paulo na direção de Campinas, ou de Belo Horizonte para o sudeste. A Figura 28 mostra a distribuição das indústrias na Região l\1etropolitanade ão Paulo em 1957, segundo levantamento de SAGMACS, Economia e Hum anismo, por ocasião da chamada Pesquisa Lcbrct, co nform e elaborações desenYohidas por esse autor dois anos depois. Essa figura permite tecer as seguintes considerações sobre a metrópole paulistana: até a década de 1950 as indústrias, claramente, não se local izavam uniformemente ao longo das várias ferrovias. Houve um desenvohi- mento industrial diminuto tanto ao longo da ferrovia na direção do interior (Campi- nas, interior do Estado, su l de Mato Grosso, etc.) como junto às ferrovias (linha tronco e ramal ) em direção ao Rio de Janeiro. A ferrovia para o Rio desenvolveu, como \i- mos, aquele que sempre foi o mais populoso setor urbano da metrópole. o enran- lo, a zona Leste, do Brás a Mogi das Cruzes, atraiu pouquíssimas indtístrias. A ferro- via para Campinas, por razões de topografia. atraiu pouca população e pouca indústria. Em contraposição, foi grande a concentração industrial na ferrovia em direção de Santos. Por quê? Com o advento das modernas rodovias , isso não mais ocorre. Prossegue. é verdade, o desenvolvimento industrial e demográfico junto à rodovia em direção a Santos, mas desenvolve-se também, e com grande velocidade, um enorme seror in- dustrial e demográfico ao longo da direção do Rio (via Dutra ), formando aquilo que pode ser chamado de o primeiro setor complexo da megametrópole, pois pan:e de Guarulhos já atinge São José dos Campos e mesmo Taubaté. Pergunta-se: por que a ferrovia para o Rio não atraiu indústrias e a rodmia o fez~ A resposta está exatamente na inserção regional-nacional, na verdade-àa metrópole e nas transformações ocorridas no sistema nacional de transportes. Os transportes sempre foram, em qualquer modo de produção , os n1aiores modeladores do espaço, tanto intra-urbano como regional. Até a década de 1950, o porto de Santos desempenhava um papel de excep- cional importfmcia no intercâmbio en tre a indtístria paulistana e o restante do pru~ e mesmo com o mundo. Até essa década, assemelhava-se o Brasil a um arquipélag<à tanianha a autonomia que tinham suas diferentes regiões, que, na verdade. eram "cercadas de água por todos os lado s", pois quase todo o transporte que se fazia entre elas era pelo mar. A Área l'vfetropolitana de São Paulo comercia\'a com o Brasil através de Santos, tanto na importa ção de matérias-primas como na exportação de produtos industrial izados. Os fluxos de transporte entre Santos e a metrópole eram excepcionalmente intensos. Junto às vias que atendiam a esses fluxos, as indúsrrias procuravam acesso ao país todo. Entretanto, a partir de 1950, uma rede de rodovias 136 r ,, / .. IS ~ , ··-.. . ·· -~.-· ; ----. , .. ~Ar.MACS e v,na~a 1960 Fonie • "' · J · 1 ·as e ·- Paulo · locaJfa.açao de 111< u-. n • . 28 Área Metropolitana de Sao Figura - ...... ....... •' . . ' u . - t ' ln l •>57 locais de l1t1balhuda pupu a~· p,1\"1mrnladac; começou a integrar o território nacional, e a via Outra passou a ligar mnis do que São Paulo ao Rio, o que jn cm suficientemente importante, mas também ... ao l\mlo ao i'\orc1cstc e a uma pm te de t,.Jinas. /\ industria, que antes privilegiava a chreção de Sumos. começou então a locnlizm-sc tmnbém ao longo da via Outra, a nova localização "pro~nM no Brasil''. Ao longo dessa rodovia e já agora extrapolando a área m<'tmpolitnna oficial, in~talou-se não só a indusllia automobilística - a General \lotor.s l' a \·oll-.swagen -. mas a nova indlistrin de ponta- a de guerra, a espacial, a l."lctromca e n aeronáutica . . \s industrias, oltndas pnm n exportação, isto é, para o mercado extra-urbano, tem sua locnliznçào ditada por fatores também extra-urbanos. Isso vale não só para São Pnulo. mas também para Belo 1 lorizonlc e Porto Alegre. \pro\'eilarcmos a Figurn 28 para aprofundar o esluclo das relações entre ns .1rcas industriais e o restante da cstrnturn metropolitana. A:lém das indústrias, a fí- gura 28 mostra os locais de trabalho ela população, cm 1957, da seguinte maneira: • Bairros onde a maior parte da populaçfio trabalhava no centro principal; • Bnirros onde a maior pane da populnção trabalhava no próprio bairro ou nos bairros próximos. Os primeiros acham-se assim agrupados: a maioria se concentra no quadrante udoe-;tc, que era-e ainda é, como veremos- a região de maior concentração dos bauro, residenciais das camadas de mais alta renda {veja a Figura 29). Havia uma grande coincidência entre a área desses bairros e a área onde a maior parrc da po- pulação Lrabalhm·a no centro. Em segundo lugar, há um pequeno agrupamento da- quelt>s bairros na zona Norte. Essa zona, já cm L957, era a segunda maior concentra- ção dr bairros de mais alta renda, emborn muito menor e com muito menos ricos que o quadrante sudoeste. Finalmente, há alguns bairros onde a maioria da popula- çüo trabalhava no centro - porém longe dele-, espalhados na zona Leste, que é a região de mais baixa renda da metrópole. Os bairros cuja população trnbalhavn cm sua maioria no próprio bairro ou no-, bnirros vizinhos nclrnm-se agrupndos em áreas que coincidem quase exatamente com as zonas industriais: Ipirnnga, ABC, Moóca, 13clém, Tntuapé, Osasco, Jurubatuba (distrito indusLrial em Santo Amaro). [ possível fazer então a seguinte análise: na época desta pesquisa, o centro era dns Lamaclas de mais alta renda. Nele se concentravam não só os empregos des- sas camadas. mas também seus profissionais liberais, seus lugares de divcrsão- cinemas, leal ros, boates, restaurantes e lojas. A população de mais alla renda con- centrou-\C no quadrante sudoeslc, a parlir do centro e junlo a ele. Ao se afastar do centro - sempre no quadrante suclocslc -, lllí.Hllcvc o acesso a ele por meio do melhor sistema de vias radiais da cidade - as .ivcnidas Angélica, Consolação, Rebouças, No,·c de Julho/Santo Amaro e C3rigaclciro Luiz Antônio. Produziu desse modo, para si, a acessibilidade à suJ principnl concentração de empregos, de locais de compras e de serviços, além do local onde se instalaram os aparelhos do Estado e e.la Igreja. 1\ssim se produziu a melhor localização possível para as burguesias mora- rem. Junlo às indústrias, localizou-se a classe operárin média baixa.Tal camada con- 138 1 ~ CI.Wt ,c.w. 11A wt!,, D CIASS[ MÓI.\ mmJ ru si r 11t:ll,\ r.<l<A ~ O A:51: ONJ~ Fonte SAGMACS e V11laça 1960 ~29 - Árca mctropolilana de São Paulo: distribuição das classes sociais cm 1957 seguelocalizar-se junto ao local de emprego, mas tem de ficar longe do cen tro prin- cipal da cidade. Sem acesso - inclusive soc ial e econômico - ao centro principal, essa classe desenvolve então subc entros de comércio e serviços para seu uso pró- prio.Osubcentro é uma área pequena, com alta concentração diversificada e equi- librada de comércio e serviços. Todos os grandes subcentros - o de Pinheiros, de Samana, da Lapa, da Penha, de Santo Amaro, etc. - são popular es. Eles não pos- suem a riqueza do centro principa l nem a presença dos aparelhos do Estado. Essa localização ocupada pelas classes média e média baixa é a segunda melhor localiza- ~ãodacidade, pois fica longe do centro principal e perto do emprego. f-inalmcnte, hâaquelesqueestão longe de tudo. Localizam-se em bairros afastados na zona Les- te.uma região com poucas indú st rias; estão, portanto, longe do centro principal e longe do emprego industrial. Note-se que há , na zona Leste, vários bairros onde a maioria da população trabalha no centro, apesar de estar longe dele. É a região dos 'derrotados" nessa competição espacial. Esse pro cesso deu-se lentam ente na pri- meirametade do século XX, período em que havia muita classe média na zona Leste lnoAl!odaMoóca, noTaluapé). Essa classe, porém, foi diminuindo, cm termos rela- lkos, pois os bairros citados se mantêm até hoje como os únicos de classe média e média alta da zona Leste. O proce sso de "decadência " dessa zona prosseguiu e até intensificou-se depois da década de 1950. A zona Leste desenvolveu o maior subcentro da metrópole- o Brás "decaiu" com o empobrecimento da zona de que faz parte (veja capítulo 8, seçã o "São Pau lo"). Ela também desenvolv eu seus 139 t f F ,ut,l ·cnl h h \ e \'t'llh'I ·u> t· '-t'I\ ·~·,,~ . lll ,h ,·m lllt'I\Ot llllllll'lO, st' rom paraclo~, por ,., .... lplll 'l'l'l ,, ... d.t ll'gl,ll' d,, \n ( • \ 7.tlll,l l l''ill' l<ll llt>ll • -"l' ,l g, ,llldl' rcgi:1 0 de ron- \'C.'!ll ,l,,\\l \,.•, l',llll,ld,\, d,• b,11\,\ lt'lh.l,t 1,1 CÍll.td t•, t' ,1 1,1 ',10 t' ,l CJIIC' Sl' llll'llt'IOíl0U .1qu . \ ,, h\ni~,, d,i-. dt.·t ,ld,h t'llltll,\11111 t) \HC rll•:-;ci.1 cnmo rq~i.w opcr,lrla drrlasi.c "t'tli,l , ., t"l,l l ,•,tt• ,•111ptlht,·t · i.1 t' ,, Bt.1, d,·,·,ll,i" t ' 111no sulH t·ntro, ou seja, t'lllPO· htt'\ ' l,l l,Ul\bl'\ll t' pt·tdt,I ,u.1:-; i:1.tlllk!- lt)J,\S t' St'I\ tt;o-. \ p,11111 d,1 dc1..-.1d.1 dt• l ~l o, ., qu,1111 id,1dt• d,• pol>ll's cm11l'~·n11 11 crcscrr na 1.tHl,\ Sul d,· ~.w l\llllt 1 - 11wlu:--l\ t' u1111 o .1p,11,•,·111H'11 l<l do~ 111i:-;t•1 .l\'t'is. Ocupando - it\\,tdtnt.ltl' tl'l1,1, p.11,1 lllllt,11. ,•ss,t:- ,·,1111.1d,1, 11lis1•1,1vc•i~ 11.~10 mais lt1111 que p.tg.11 1 d,, lug.11 d,• Sthl ç,1-.,1 \ 1111,1 Sul tem shhi .1 p1d,·1 ida p, 1rn l'ssas ocup.içôcs,c .h 1,\\ l'l.1~ tt"m ,'h':O:L'tdl, h,l!-t,llltL' .tlt ~t•g1111du t~1sd1n,· 1 ( 11>m;, 105) ··o fcnônwno da 1.1, d.1 ,•m ~-'"' l\n1l0 M', .n s,• dt•,t•n, oh L't t' ll\ l,llg,1 l',c,tl.1 nu,:; .uws 70". Não foram ,lht1do~ d.1dn" StlhH' ,1 d1~t11ht11~,ll' t•sp,1n.tl tl.1~ 1.1,'l''"' n,1 .\n•,1 lt•1ropoliwno de ~.H.) l'.mh,. l lltlt'l,lllhl, ,lpt'n,1:- '"'" d,tdos do lllllllll 1p10 -.,m slllkil't11cmcntc s11gcs11- \ t'' t.' nw~t r,tm ,, nt'~l·111wntn oro, r lllo ll,t zo 11,1 S\I I Sq.~u ntln Ta.;;clrní'r (idem, tclih.) t' l.1sd11w1 t' \ l't,1s ( l ~)~lO .• ,:,. ci1,111dn Sl'I 1 \B), ., p.tt l ll'tp,11;:10 da zonn Sul no total de dr1m11..·tll('S l'lll t:\\'d,ts do 1m1111r1pin dl' S.io l\lllln <·vnh1111 d.i M"guinl<' manl'im: 2ll.8G°'o t'm 1 ~173: .w.:-r:-·1\, t'lll l 9H7 l' -12,:1 l 1\\ 1..•m l 9~lJ. Note M.' qw• a q11t•da <ll' 1987 pnrn 1993 ll,ll) tt'ptt'~t·nt,l lH'l 't'S~. u 1.1nw1llt' dt•rlini<> d., 1011.1 Sul, pois c m l •rm os de nrc:1 me- l wpolll,Hhl t'ss., qtwd.1 pútfr H'Pl t'Sl'll t ar t'h )M' tnll'ttlo 101 ,\ dl·la no /\BC por rxcm- ph.) Dt• l}lhllqttl'l 101 lll,\, ll ,\li ll\l'lll n dL' 20.nnt';, l'lll 1 n, J p.11 ,1 ldgo l'lll tomo dr lllíllS dt• w~r., l'Ill l 99J l' l'twrnw. Isso, c•m oro1 rendo em ,·11 t uth.• dL' l'SS,l n'gi;1o estar mais p11..1\m1,1 dl.1~ h,111 w~ d.,s rl,t:-'-t'$ 1m·t.lia l' ,t ll,1 ln,1 llllt .i S11th.wsll'}, ond~ l'stão os ,uhl•mprq:~os do:- mist't,\\ ,•1s n.10 M' dos dll'lc~ dl' l,ulllli,t. mas lambém das mà~s. do~ 10,·1..•ns e d.t~ cri,11w,1~ Fst., m.\ls pro,1t1111 dns lnr,tb de• su lwmprcgo dt' cmprl'g,1- d,i dotnl'Slil',1. dt' l.n-.1do1 dl' .tulomon•I. de ;-unhul a11t1'. tlt• 11,rnclinha, ele•wnckdor de 111.1. dl' nwndigo. d1.• .1ss. 1lr,1nll', l'll'. () Jll l','O do ll'l l l 'l10 l' ti,, casa 11úo pcsn mnis nn <.'srolh,1 d,, loealiza,·Jo como Jlt'S,l\',1 antl'S; po, isso, l'SS('S mi:-l'l\tveis prcfcrrm uru· p,1r lL'rr,,s 11.1 ,o n,1 Sul, prnximo .1n qu,1d1,111tL' sudof':HC.'. dn qtu' na cm.ln vez mais long1nqu.1 zü 11a 1 t' · t t'. l't.•mo:-L'nlúo l ' istu v,\ll' parn ns dt•m,1is nwt rnpo k s dois elementos da l'Sll llllll a urb,rn,t, q li<' s:\o os m,1 is p t>dt•n>sus n,1 l'St 111 l u 1,1,·ao do t•spa(o mctropoli- t,lllo no B1 ,lsil· ~ts zonn~ 1mlusl1 i,rn; l' .1 IL'gi,10 dl' l'OIH'l' lH 1.1,·.10 dos b.1in os das ~. 1111n- d,1s dl' 111.11s .,11,1 u•mkt Os dt•m. tis dl'llH'lltos tl,l l'Sltllllll,t ll\ll'l,lgt'lll l'Ol\l ell'scvi- dl'llll'llll'llll' , pnis ludo illll't,lgL' ro111 tudo lllllll,t l'St1u1ura, ma s são mais mtlut•nn.1dos por L'SSL'S doi, ckmt•nws d<1 qtH', ICl' wrsa . \ lonll' dt' Sl'll podcrcst,1 no g1,rn ck indl'PL'lld('nd,t qut' d('sl1 utam n,1 t''>l ·ol11,1 1 ptmh1,·.10 dL' suas loraliza· ,·fws .. \ do p1 mw110 l'll'llll'lllt> ,, dl'lt•1 mm.1d:1 JHH lo1,·.1s t''.\.ll'l'll,ts ?l rid,ldt•; ,1 tio st'· gundo demento, pelos inll'lt'Sst•s dL• l'lHlSllll\ll d,1:-, hui guc•si,ts qut', comaml,mdo o Sl'lrn tmobili.u io u, lwno, ckddt'lll ,, l'M.'t>lh.1 / pwdu, ·,11, dt· su, 1s localita(Ol'S IL'Sidrn l'i,1h:. F ,t fot<;,1111l1,l·t1rl>,1n,, qut• lll,11 s p mkms,llnt' llll ' mllt1t•m·i,1 :1 l'Sf111l11t:1(i10tlo csp,1,·o 11wtropolit.mo. Vnmos nos dedicai ag11rn a l' ssn t' SI n11111 :1,·110. l '01110 st•11,1m•, nosso guia será n lti ·toria. (ap1tulo 7 A egregação urbana As análises feitas até aqui já começaram a revelar a segregação como um proces~o fundamental para a compreensão da estrutura espacial intra-urbana. Como a segregação adquirirá cada vez maior import ância no decorrer desta obra, convém desde jft considerá-la com um pouco mais de atenção. Milton Santos (1993,96) define o conceilo de sítio social observando que a "especulação imobiliária deriva, em última análise, da conjugação de dois movi- mentos convergente s: a superposição de um sítio social [grifo no original! ao sítio natural e a disputa entre atividades e pessoas por dada localização. ( ... ) Criam-se ~ítios sociais, uma vez que o funcionamento da sociedade urbana transforma sele- tivamente os lugares, afeiçoando-os às sua exigências funcionai s. ú assim que cer- tos pontos se tornam mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também , uns e outros, mais valorizados. Poris so são atividades mais dinâmicas que se instalam nessas árc·as privilegiadas; quanlo aos lugares de residênc .ia, a lógica é a mesma, com as pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde lhes pareça mais con- veniente, segundo os cânones de cada época, o que também inclui a moda. É des- se modo que as diversas parcelas da cidade ganham ou perdem vnlor ao longo do tempo". O conceito é útil tanto para a análise dos bairros residenciai s produzidos pelas e para as burguesias, como Lambém das áreas comerciais que elas igualmen- te produzem, também para si. Uma das características mais marcante s da metrópole brasileira é a segre- gação espacial dos bairros residenciais das distintas classes sociais, criando-se sí- tios sociais muito particu lares. Nas páginas precedentes fizemos referências a esse aspecto. Nos próximos capílu!os vamos aprofundar a questão, analisando inicial- mente a segregação dos bairros residencia is das camadas de mais alta renda. 14 l p Obc;crvando os mapas da distribuição tc1 ritorial de classes sociais em nossas mrlrópolcs (figuras 30 a 35), notn-se que a segregação das camadas de mais aha rcncla pode ser identificada cm todas elas. Em LOdas as metrópoles aqui estudadas, vem-se desenvolvendo nos últimos cem anos mais ou menos (mais no caso do Rio, mcno5 no caso do Recife) uma região geral na qual tendem a se concentrarcrescen. lC"i parcelas de tais camadas. Em todas as metrópoles, exceto cm Recife, essa cen- cl(•ncia já produziu um setor da metrópole onde se concenlrn a maioria dos mem- bros dessas camadas. Embora a mesma tendência exista cm Recife-co mo veremos ndinnle - , ela sofreu recentemente uma rcvirnvolln, de maneira que Recife ainda exibe, hoje, dois seto res com grande concentração de camadas de alta renda, sem que nenhum deles, isoladamente, detenha a maior pane dessas camadas. Entrccan. to, a tendência de prevalecer apenas um setor é inequívoca, como veremos no capf. tulo 8, seção "Recife". Partindo dessas constatações, consideramos importante responder às se- guintes indagações: por que a forma de setores e não outra forma qualquer, inclu- sive a forma de bairros segregados, porém espalhados por diferentes locais does- paço urbano? Por que a segregação se dá em determinados locais e não em outros quaisquer? As causas das localizações escolhidas pelas burguesias são específicas de cada cidade ou há causas gerais, comuns? Quais seriam elas? E, por fim, as per· guntas mais importantes: qual a razão da segregação? Seria a conveniência de mo- rar perto dos "iguais"? Seria a busca de prestígio e do status social? Seria a preserva· ção cios valores imobiliários? Com vistas a responder a essas perguntas- e ou1ras que surgirão no decorrer da investigação-, serão ana lisados inicialmente o con- ceito de segregação e depois os processos concretos de constituição da segregação nas nossas metrópoles. O conce ito de segregação liá segregações das mais variadas naturezas na metrópole brasileira, prin· d paimente de classes e de etnias ou nacionalidades. Vamos abordar a segregação das classes sociais, que é aquela que domina a estruturação das nossas metrópoles. 'fal como aqui enlendida, a segregação é um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentesre· giões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole. Hefcrindo- se à concentração de uma classe no espaço urbano, a segregação não impede a presença nem o crescimento de oulras classes no mesmo espaço. Não existe presença exclusiva das camadas de mais alta renda em nenhuma região gemi <lc nenhuma metrópole brasilcirn (embora haja presença exclusiva de cama· das ele baixa renda em grandes regiões urbanas). Na melhor das hipóteses, pode haver tal exclusividade em bairros. É claro que há favelas na zona Sul do Rio e que o se tor Sudoeste de São Paulo, onde se concentram as camadas de mais alta renda dessa metrópole, é pontilhado de bairros populares, os quais podem até conter a maioria da população em um seto r ele alta renda. Mais que isso: outras classes po· 142 ,. .. • ~ . •. \,,. -....rt!.(~ - - ;()t">r. c::::J ».> ~ r w • -17 o ~:.c-.?>~"' "' - ~11 r,,-i_ ,cw,! CC • f7 ~' "' D"'..A.1~ ' ~~-- =:-~-;3()-Áreas mciropoliLanai. de São Paulo. Arcas de grande concent ração de camadas de alta renda ar:nestar presentes numa mesma região geral onde se concentram as camadas de at,rendae até crescer com velocidade maior que a velocidade de crescimento des- sa;camadas. Se isso ocorrer, a participação dessas classe s na região de concentra- cãodaclasse alta aumentará. Não importa. Nada disso altera a tendência à concen- "açáodas camadas de mais alta renda naque las regiões. O ímportante é que o setor ~tgregado detenha uma grande parte - talvez a maior - de uma dada classe, no caso a média e alta burguesias. O que determina, em uma região, a segregação de t:na cla~se é a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer oa1ra região geral da mclrópolc. A Rocinha não é a região geral de maior conccntra- '.ir,dt população de baixa renda do Rio, mas a zona Sul, apesar de todas as suas 'uias é a região geral de maior concemração das camada s de mais alta renda do R:,J de Janeiro. O mais conhecido padrão de segregação da metrópole brasileira é o do cen- 1roxperíferia. O primeiro, dotado da maioria dos serviços urbano s, públic os e pri- ;ados, é ocupado pelas classes de mais alta renda.A segunda, c;ubequipada e lon- tnqua, é ocupada predominantemente pelos excluídos. O espaço atua como um mecanismo de cxcl usão. Para Lojkine (1981, 166), a segregação é uma manife stação da renda fundiária urbana, um fenómeno "produz ido pelos mecanismo s de formação dos preço s do wlo, e\tes por sua vez, determinado s ( ... ) pela nov a divisão social e espacia l do 143 rz • e ~, / p \ .. c,,f 7 b .. o @NIU. II)f'IC,&A\ OI 1tt 5 - D CNJJDJ,S OE ALTA RCHOA OI .,., íDHTES: IIIMJDI IM'f:. 1915 11'1.A'óltlO, 1119~ OCAAGIWICt< . , .... F.gum 31 - .-\rea Metropolitana do Rio de Janeiro. Áreas de grande concentração da s camadas de alta renda A • § AAU. lDnc:AD,,\ OI \O &l. ICllll1'. LJ C»Jl>/JAS 0( ALTA ROCA OI 1991 - AVíNOA DO c:a-m:iRNO -- UMITt DC wUHfCl,10 fONTt: 19<1: ac,uo,,,JrJ;,_ . ....., ____ ,_ figt.:.ra 32 - Area MelrOpoli tana de Belo Horizonte. Áreas de grande concentração das camadas de alta renda 144 • • D uo ~ °' , .. , - D -- Dl ... IA 11(,- "' '" ' - 1.Mlt at ,uó,o rOon'[S;WC-....IM I IIT•GOPOT ac.c,. ......... • J•-- Rgur.i 33-Ârca Metropolitana de Porto Alegre. Área de grande concentração das camadas de .ilta renda, 1986 C) ·-~ o Qi ~~ VIJ ~ .. <ô D fflv.t~°' ''" - D c.w.o,.s DC AlfA - (),1 , .. , n>l<Tt CONOC'll 1111, - ....... """"' . - -WWW Figura34-Á rco Metropolitana de Salvador . Área de grande concentração das camadas de alta renda, 1991 145 • 4 D C..W.C'-5 CE "1-:"-'iD,'l)A OI ºPi ' - UMl1i: OC IJIU'uCP.0 rO!llE. aa: ~ow,c:.,; ,_ Figura 35 -Arca Mclrop olita na do Recife. _Areas de grande concenLração das camadas de alta ~r.d3 trabalho". Essa idéia refere-se a um conceito e a uma manifestacão nn1ito amnlos . . de segregação: aquela que divide a metrópole em centro e perifer ia . Xum a ,isâu mais detalhada, ela não resiste a um teste empírico. Lojkine n ão esclarece como a seg regaç ão é produzida , ma s presume-se que, no final, as classes de mai: alta ren- da fiquem com a terra mais cara e as de mais baLxa renda , com a mais baraia . EsSJ tese já foi derrubada com vár ios, caso s empíricos , desde o chamado .. parado:'.>..O dt> Alonso" (Alonso, W., 1965 ) referente às cidades americanas. Entre nós, nem sem- pre as camadas de alta renda moram em terra cara (no que di z respeiw ao preç<'\ uniUírio do metro quadrado ), ma s em geral é isso que ocorre - de frente l ara o mar em Boa Viagem ou no Leblon; Higienópoli s, em São Paulo ; Campo Grand~, cm Salvador, Piedade, em Recife; Moinhos de Vento, e1n Porco Alegre ; Lounie-s. em Belo Horizonte por exemplo. Entretanto , a alta renda também ocupa terra barnt,1 na perif e ria, na Gran ja Viana ou Alpha ville, em São Paulo, ou no Recreio dos B,m- cle irantes, no Rio. Nesse se ntido, portanto, não é rigorosamente \·erdadeiro que o preço da terra determina a di st ribuição espacial das classes sociais. Ficaríam os 146 um pouco mais próximos (mas ainda não totalmente ) da verdade se aíirmássc- mosque os rerrcnosmais caros são ocupados pela s camadas de alta renda, pois na periferia dr metro quadrado barato a alta renda ocu pa terreno s grandes ou, cm se 1ratando de condomínio:-. vert icais, grande s quotas ideais de Lcrrcno. Finalmente, de\'e-sc considerar que a classe média também ocupa terra cara no que se refere ao preço do mct10 quadrado de terreno, consumindo pouca Lerrn per capita ou por familia, como cm Copacabana, no Itaim ou Moema, ambos cm São Paulo. Ainda segundo Lojkinc (op. cil. 167), um submcrcado específico, constítuído pelos imdvcis de escritórios, poderia, através do jogo cios preços cio solo, "adquirir rapidamente um papel motor, dclerminanle, na formação cios preços imobiliários para o conjunto do ccnlro das grandes metr ópo les e garantiria assim uma segre- gação económica e socia l quase automát ica das fu nçõcs e das classes soc iais que conseguem residir no centro". Lojkine distingue três tipos de segregação urbana: l)umaoposição entre o centro, onde o preço do so lo é mais alto, e a per iferia; 2) uma separação crescente entre as zonas e moradias reservadas às cama das sociais mai privilegiadas e as zonas de moradia popular; 3) um esfacelamento generali- zado das funções urbanas dissem inadas em zonas geograficamente distintas e cada rez mais especializadas: zonas de escritórios, zona industrial, zona de moradia, eic. Esses três tipos de segregação não são excludentes. Neste trabalho, vamos pri- \ilcgiar o segundo tipo porque, corno esperamos mostrar, ele e a formação das zonas industriais são as principais forças atuantes sob re a estruturação do espaço metropolitano no Brasil. A sociologia americana derivada da Escola de Chicago e aquela que Castells 11978, 204) chama de "tradição de soc iologia empír ica" norte-americana afirmam quea"segregação ecológica" procede do fato de os habita ntes da cidade serem dife- remes entre si e interdepe ndentes (Gist e Fava, 1968, 159). Ainda segundo esses au- rores (idem, ibid). "na luta pela posição social e por uma conveniente implanlação espacial dentro da cidade, tais diferenças e interdepend ências contr ibu em para determinar que espaço as pessoas consideram desejável e até que ponto lhes é possível obtê-lo. O resultado é a segregação ecológica, ou seja, a concentração, dentro de uma mesma área residencial, de pessoas que reúnem características se- melhantes entre si". É curioso que, embora se trate nilidamenle ele um processo de classe, esses aulorcs insisLem em falar de "pessoas" ou indivíduos. Prosseguem eles (idem, 160}, distinguindo a "segregação volunt ária" da "involuntária". A pri- meira "se produz, quando o indivíduo, por sua própria iniciativa, busca viver com outras pessoas de sua classe". A segregação involuntária ocorreria quando o "indi- víduo ou uma família" se vêem obr igados, pelas mais variadas forças, a morar num mor, ou deixar de morar num setor ou bairro da cidade. Nesse sentido, a segrega- ção dos excluídos na periferia das metrópoles brasi leiras seria uma segregação involuntária. O que cabe registrar nessas considerações é o caráter de lula da se- gregação. Trarn-sc, entretanto, de uma luta de classes. Se héí lula, há, evident e- mente, vitoriosos e derrotados. Os primeiro s desenvolvem a segregação voluntá- ria e os segundos, a involunlária. Na verdade, não há dois tipos de segregação, mas 147 f - lllll 'l' \ $t'~lt'g,H;,w t' urn p1,nrl':-:-n d i,ilt•tko, L'lll que• .i sc grrgn~:(10 de uns provoca .w r lt'",nll' lt'HlJ'l' l' pl'lt) Hll ' "IIW pl <H l'sS1l, ;1 st·gtl' gt t~·ao ele• out ros. Segue n mesrn~ '-h,ll 'lll',t dn t'SCt,l\ú t' d1l st•nhot. \ r1.·<.,lngi,l l .,te,, 1,11 thl:,, ,lll<''- (iO I l',tli 1ou i 111111H·ros cs tuclús sobre segregação. ll) h,~. t'lltl<.'l,llltl) Pll't)Cltp,ld(l:,, l'lll llll'di · l,l. (' 11:JO {' ll l rx pli cn . Ja. 1 PL':--:-.l:--cr1n~1dc1,,,·ot's ,,111ws rl'tl't dua s qu cs lôc s: primc ir ;i rncn lc a segrega. ·,tt' d1.'rt\ ,\ dt' um.t lut,l llll disput,1 po r lor.tlL ~a~·c C'S; c1-tn se dá , no entanto, entre grnpc.,, :-tlt't,11s tlll L'llln' rt.,sst·s . \1p 111rn·irn cas o n•ferc ·~w. por exem plo, à segrega. ·,'h, t'tnk.1 ('IH pt,1 n,H'Íl'H,1lid,1dc·s. rn mo .i do s orie11tnis na Liberclacle, ou a dosju. llt't1' t'tn l hgl('tH)JWh:-. c'nt ~:u) l\1ulo . ,\ di me nsrin de· lu ta npa rccc qu ando se in1ro. 1.1t1. ,1 :st'~lt'g.1,·,h) pnr l'1.1ssl'. lt •sle segundo caso, po r exe mpl o, é irrelevante a etnia do~ qut' t)cupam .1 :nt.',t cl'nt r:il dt· S:IO Pau lo e pass n a se r re levant e a segregação por d,1sst'. o~ qut' ontp,un ,1 area rentrnl cstào, por exe m plo, im ped ind o que ela seja ,.wup.1d.1 pt'll)~ mais pnhrt's, qu<' estão 1m pe ri l'eri a o u nas fave las afastadas. A segre- g.1 ',1o L'ntn' n•ntro e perit'crb pod e se r co ns iclcrncla uma seg regação por classes. -!.1m qut' ha muit.1 periferia no ccnlrn e vice-ve rsa (Milt on Sa nt os, 1979, 59), mas de lll3netrn geral t'ssa dicotomia corres po nd e n verda de. Vamo s nos preocuparcom a ~t·greg,1ç.1o por classes. uma vez que é n qu e te m as im p licações mais profundas sobre a ('Strutura urbana, como ,,c rem os. \ segund .l que~tno pnr.i reflexão refe re-se ao po rqu ê da luta. Para a ecologia hum .. 111.1. J luta seria pela "pos içt'io socia l e por um a co nve ni e nt e implan tação espa- nal dentro da cidade". l;randc pa rte deste li vro te m o obj et ivo de esclarece r esses mou,os. O primeiro motivo não nos parece ne m mui to co mpl exo, nem muito im- pon,mte. Quanto ao segundo, o que se p rocura ao lutar po r um a "conveniente im- pl.'mtação e ·pacinl dentro dn cidade"? Nesse sc nl ido, Castc lls avança um pouco. Para Castells (1978, 203 e 204), a dis tribui ção da s res idências no espaço pro- duz. ·u,, diferenciação social e há uma estrntificaçiio urbana correspondente a um istenrn de estratificação social e, no cnso em qu e a di stâ ncin soci~,l te m unu1 forre e~p,essão e ·pacinl, ocorre a segregação urb a na . Segundo ele, "em um primeiro entido se enrendení por segregação urb ana a tend ência à orga nização do espaço em zonds de force homogeneidade socia l int e rn a e d e fort e disparidade social en- lrt' elas, enrcndendo-se essa dispa ridade não só c m termos de di ferença como tam- bém de hierarquia''. e combinar m os esse pe nsa m e n to co m o ut ro do mesmo au- ror, teremos n chave para a co mpr ee nsão do pap el d a segreg ação . Diz ele ainda lidem. 1-11) que "toda a proble m ática soc ia l te m s ua orige m e nl re esses dois ter- mo lnamrcza e cultura ) através do processo di a lé tico m e dianl e o qual uma espé- cie biologica particular (particu lar, pos to qu e es t á di vidida e m cla sses), o 'homem', se t ransfor ma e crnnsforma seu me io a mbi e nl e en1 s u a lu ta pela vida e pela apro- pri ,wão diferenciada do prod u Lo de se u trabalh o". Em grand e parle , este livro pre· tende in\'estigar como se dá a apro priação diferenciada do espaço urban o enquanto produto do trabalho h umano. Desrnque-se a me n ção de Caste lls à tend ê ncia. Ela de corr e do foto de, scgun· do e ·se autor, toda cidade ser um ent re laça mento hi stóric o de vá rin s cstrnt'llrns so· 148 dais e de toda sociedade se r contraditória , ou se jn, fruto da ação de várias for ças aruando em diferent es dir eç õe s. Castells fala em" áreas de grande homogeneidade interna ". Copacabana tem homogeneidade int ern a'? Essa é uma forma incorreta de expor a que s tão. Ela não se refere a uma tend ência. Copa cabana tende a ter homogeneidade interna? Diante da primeiraperguntti- a forma errônea -, pode-se até ficar cm dúvida, mas diante da segunda é mai~ fácil res ponder afirmativamente. O processo socioespacial por que passou Copacabana por volta da década de 1940 destruiu a homogeneidad e e im- plantou outro pro cesso tend endo a uma nova homoge neização. No alllnl estágio deste processo, élcrcditamos ser válido dizer que, embora Copacabana esteja hoje mais heterogênea do qu e em 1930, ela está tendendo a uma nova homogeneização. A consciência ele que a segregação é processo, é tendência, é pois fundamental. Quando Cas tell s, di s correndo sobre a organização do espaço, fala em "homogeneidade interna ", eslá se referindo obviamente a uma área, a uma unidade espacial no interior da qual ocorre a homogeneidade. Que área é essa, como identificá-la ou escolhê -la? É útil nesse momento o concei .to de bairro, que existe ainda em grande quantidade na s metrópoles brasileiras. Nossos bairros tendem a uma homogeneidade social muito grande. Entretanto, a partir da década de 1970, com a proliferação das favelas em áreas ocupadas, a "homogeneidade interna " de muitos bairros de no ssas metrópoles ficou comprometida. O que se pretende e>..l)lo- rar com essa que stão é o tamanho da "área homogênea" ou a forma de seu traçado. Se uma favela invade o interior de um bairro tendente à classe média ou média alta, duas situações são possíveis, ambas ligadas à questão da delimitação da área· segregada, ou melhor, à área tendente à segregação. Na primeira situação, traçar-se- ia um perímetro que englobasse ambas as áreas, delimitando-se assim uma única área, a qual evidentemente não tenderia à homogeneidade interna. Dir-se-á que a área traçada não tende à segregação, mas sjm à heterogeneidade. Na segunda situa- ção, traçar-se-iam duas áreas, uma dentro da outra. Neste caso, haveria duas áreas, ambas tendentes à segregação. Queremos evita r questões desse tipo, através da idéia de tendcncia e da de região geral da cidade. Em primeiro lugar, vamos esclarecer porque a idéia de se- gregação pode estar eventualmente comprometida com a idéia de homogeneidade total e também com a idéia de "estado", ou seja, uma idéia estática, e não de pro- cesso. É enquanto estado que, acred itariam alguns, ela não existiria em muitas metrópoles do l3rasil. Já ouvi mo s dizer, por exemplo: "Esse negócio de segregação é coisa de São Paulo. No Rio ou Salvador, o que há é mistura". Essa comparação é radical e incorreta, pois pressupõe um limite rígido, arb itrário e falso, que divide o estado de segregação do estado de não-segregação. Há, portanto , dois reparos - no mínimo - a serem feitos nessa colocação. Seria necessário fixar (congelar) o tempo e depois relativizar (mais que, m enos que) a co locação." Hoje, no Rio ou em Salvador há mais mistura do que em São Paulo." Não se trataria de indagar se em São Paulo há ou não seg regação, mas sa ber se ela é maior ou menor que n o Rio ou em Salvador. De qualquer maneira, independentemente disso, co mo veremos, não 149 h, thíc-r "ll\êl ~1~n1íkn 1iva ele Sl'Kr<'gc.t~·ã o en tr(• Hio, C.,ão Paulo e Snlvador. Em se. gund, lug~r. \ am(ls Lh--.taL ,tr - e rxpl" ar o po rq u(• - a c;egrega çao por regiãogc mi nu < on11111to clt• b.m ros ela mel rnpole, c•m opos i~·ã o à ~eg regaç ão por bairro. O nnporrnntc- <' Pnt, nd<·r por que o s hni 1 'º" da., nrnrn d a-; d f' m a is alta renda tendem a se c;cgr"~ar (n-; pnSprios haitrns ) rn11na lll t"'·illlél regirio ,wral da cidade , e não ase e palhar. IP,Horrnrn <·nt c· por toda a e idadl' . L ... sa q ucc;;1 ão é fundamental e nela está a cha\t> para a compI <'P n sã o dn p1 on .•,..,o dC' sC'grcgnçi io . Se o prin c ipal móvel da seg~n\aO fo~s,• a huscél de' pn,içao sodal. do s tal u ... , ela pr o teção do s valoresimo- h1h~nú'i, nu proximidadr ,l "1guai""· h n..,turi a hn vc r a ~cgrcgaçã o por bair ro (área d~ forte homng f•1widaclc• intP rn a, rrn,s 1vcl d e um c;cnlid o de hierarqui a); uns ao norte· . outros a ot·st<\ outro.., a lc"ilC e o utro ,; aincl:i ao s ul d a mclrópole . Isso não ocorn'. pon•m. A tcmcléncia é clC' o~ pr o prio s ba irr os se s egr e gar e m numa mesma rcg1í\n geral da m etr ó po le. Po t qu ê? 1t-1e·c~m n"gl"i t I o a~ pe squi sas de Pin çon -Charlot et alli (] 986 ) sobre scgrega- çao na Jl•gião parisicns ". Su ns inves tigaçõ es, en tr etanto, não têm por objetivo mer- gulhar na ,·om1nccnc:.ão das forças so ciai s qu e levam à segregação, nem seu papel, mas sim con, t,1tnr uma co rre laç ão entre a s egregação e a ação do Estado na produ- çao dl· cqm pamcntos co letivos}! :\ tóm ca do.., es tudo s sobre segregação incidem ou no mecanismo de defesa - ca~u das segregações é tni cas, por exem plo - , ou na busca de prestígio e de status. ln duem-~P aí as cha mad as "socia l areas", analisadas pela ecologia american a das d cadas de 1950 e 1960. As cau sas profundas da segregação por classes, porém, são surprcc ndcntcmcn tc p o u co es tu dada s . Menos es tudada ainda é a expJicação da- quiln a quC" chamare m os ele ma cro ss egrcgação, ou seja, a segregação por regiões da c,datle e nao por bai rros . O exemplo clássico da macrossegrcgação analisado pela qua c:-tornh dadc dos es tudo s é a o rgani zação espacia l seg und o centro e periferia, n1ja cxplico1rãn e c.om cúclo de c lass e parecen1 tão óbvios que não estimulam muito a busc ,• d(· cxplicaçõc>s. l"'.s~a organização, nole- se, se dá d e acordo com círculosco11- c{>11tru <H \ análise d a es trutura espacial intra-urbana segu ndo setores de círculo, que <·ráo ,1qui cnfa tíza clos, faz apare cer um aspecto até agora negligenciad o pelos estudw-;o~ L~~c pad rão dP segr ega çã o apare ce com enor me importância e pOlen- crnl expl1Cativo e reve la a natureza profu nua da seg regação. A segregação é um pro- n~sso nc c..c~sário a d om in açã o c.;o c ial, ec on ô mica e política por meio do espaç o. Essa f! uma d.is rnai~ 1mpo n a nt cs conclu sõ es clcs tn obra. Hc~umindo : a m aiori a da !> análbc s sobre segregação parl e ele um espaço urbano da d o. que é me lhor, se ja qua l for o motivo, e po r iss o atrai os mais ricos.os que po'>sucm ma is pr es tígio, poder e s tatu s . No s casos em que não há atributo natural c~pccial, não cog itam como ess e espaço melhor foi produzido - transfor· mado cm m elhor. No caso c m qu e mo s tram ess a produção - como o de Pinçon- Charlol -, lim ita m -se a c on ,;talar uma cor relação en tr e a cla sse social que ocupa dctc rmmada r<'giã o e O!> equipamento s púb licos de que e la é dotada. As posições que afir m am se r a se grega çã o um produto "do m ecan ismo d e formação de preços cio <.,o)o" ( Lo jk in c, supra ) es tã o na in c ômoda po s iç ão de ter de demostrar essa tese, 150 , \ • I , 1111 • 11 \ t' 1 d li li· 1' , 1 1 • 1 li Ili I LI d 1 , f 11 li 1 ,, li I IJ I' 1, • ,, , 1 1 ,t 11 1, )t 1 1, 'I 111• 1 .. 1 li p\ ,1 1 111 ,1 1 qtll' 1 • qtf•'ttill,•''' l· 1111111 tl,I 1 • 11/ 1' 1 1111 ,li ,,, l "• I'' '' 1111 ,, d., ,l 'Hl l'lt•tl '"' · 111111 11111·11111, 11111 1 ,IJ'lld 1 11• ,., .,,•111 1 1 "' 11,,1\ ' I , 1,,111111 ,11lt1 , . o p1qwl d11 '' "1'•11,1, 111li.11111 1p11· ,1•11t.1 1111111 ,, 11111 "' 111' li • i-, ,, lltt•ll, ' 111 1 I ti 1, ,11, I \1' 111' 11111111111! l l1•l111 11111,11 ,I' 1111 ,tll/,11 Ili 111111 1 111 )1,11111•, ! 11111 H''' 1 ,1111•11 ' 11 ,., .. 111111 • 1 •1111 n,,w "I d,, ., p1 "1',11,11,. 11111 v•·v d ,, ,1 , .. , .. 1 , . 1,11 ,, .,,, 11111 , ,, 1111·J1o 111 1 111·1111' 1 " I 1 t i•lll 11 .-IH 11du 11' 111 ,11111111111 1 11111,1111 li ',li Ili ' 11', ll ' I lll',11 , ,I IC f,11'. t 1 1, ,,, ,1, 1 1 111 li 111111,11 111 111111111 , ll11111,1q11, · 1 lt.it1H1"1 lllll11 • ,p,1l1, tll 111111nllli1 •111y, 111d1lt 1111, , . 111 1 11 t) • ' ' ,,,,"l l'li il 1111111 .. ,., ,,p1 •1,111111: wll l1111 llw I t l 'r h111 11~;t11,,111111,1111~1 1111,111111d1 1d11,d \ l , 11w··1111• , ,IJ 1•,,111111• •11• 1·111,11, ., 1·•i1111l.1111111H11•,•,11111 ,,11,• A,1,1111,,.11,11 , 1111, .. ,, 1 ,' ( 1d1•t1I, 1 • ' 111111111 1 I ,k dl'lt· 1111 i11i11, 1111 d11 • .. tlnt lc 1,. 11.i11 Ld1 111•111 ,. 111ndl(l 1 .1111, pri , 1111,d,111 1 ,, 11 1, 1 p11111''' 1 I 1 ,Ili il.t ·, np1111111111l.1d1", de• f' llll)ll 'HII (p1111',tl1•g1111.1 ,) , riJr,p, 11,1,r,1 1 flltl 1 h11 ., ,,. \ 1 1 . 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A n·lit(:IO c•11l 11· li :,t•g11 •g 11t;: to I' :1 po,~il>llld :1111• d,• :qi111p11-111 ,\11 dr· v:11lli1W'll"' l'rnt1iln1irm, c·-.1~ i1ulinu lu . A q11<·s 1:10 do d11111í11io do•, ll•111p,,1, d t• d1 .. ,l11ca1111·11111 pain 110s, vi1nl ap,11c 1< <' <'lll 11.11 vc·y apt·1rn , q11,111d111·11· t 11111·1;11 i1111.1 r,• . ..,,tl,11 i"" roma lornliza(:ln "dt• o p11r l 1111itl:1dt• 1-1 ti!· c•111p1<•go' ' b·,',íl :1qp11n1·11l.t \.lll o d1· ,1;i . q11t• !1 lol':1111.11~·;111 dt· 0/IOI /1111it/({(/( 1 \ ,t,, l ' IIIJJll' J!I) dt·ixn ( l,1111 q111•, "º l.il,11 l'III ln r aliza~·:111, 11.11 \ t •y o la1. <1 111 11·1:t\·no ao l<·111po de• tl1·,l 111,11111·11101• 11,111 ,1 d1•,po111b1li dad1• dt• i1il1a 1•,11111111:1. N:io 1,·111 -.c·111ido l:d .11 1•111 leu ,tli 1,11;a11 dt· 111>c11t 1111itlatl1·-. dc•1•mp11•go..,, c•111c·11clt•11<lo lornli z:aç:10 e 011111 -.1· 111•.-.1· 1 :11,1111·111.111., p t·l.1 di• , p1111il11- liclndc· d1· 1111,a c·sl111111r:a; n llíl' J ~.r1 a de• 11:111, prnl t·, q111• 1·-.1,1 lig,1d.1 ,10 l1·1111u> de• drslcu t111w1110 Vamo -. c·xplo, a, a, p,.,tas ti.ida ., 1wl11" 111•-. 11l1111u, ... :1111ow-. l l ,11 vry C\jlN.ialt1w111t· <· ,111i1lha1 tOlllCJ t>< 011<' a do111i11:1 ~: 111 po1 11u·10 de, c•, p a\O e• o papc•I cio rn11111111• 1>11 <10111 í11io do s 11•111pm , dl ' dl' "iltH .11111•1110 li<"·"ª tl1111,i11 :111,10 1101 Oll(IIJ lado, Ioda t!Xlo1 :,,:to lt·tll lllll n,11 ulti11111 de• I H 1 1ll (' 'i lill llll tlt· llillllH'/ ,,1 l'l' C)l\t ) n~ica. En11t•la11lri, t' lil two pt<' sci11dc• d<' t·Xpt•di<•11tr·-: dt• 1i.1l1111•z,1 polflt< H t· 1dc·ol<i gll'il. E11luo, la;,, st· ll ('n ·ss :ít io i11v1·sli1{.il w, a :,,pl'< l w, iclt·l>l1igico ,, 1•c u11<11111< w, e· • " ... lht• Sll\'l.al 1)1011•1,•rnl wa1:1· dc•11·1111irn1t 11111 1-. 1 i.11 t ly 111111ll llc·d hy I lla111~1", 111 1111• 1111 ,1111111 oi 1·111 ph1y11 w111 "Pllllllllllllit••, (t,y 1'1111'~\III ÍI",) 11111111.ll('d wllh 'ha111t1::, 111 IC",ld1•11ll,al 111111111111111111·, (hy ty111·) .. 1 5 1 políticos da dominação e da extorsão através da produção da estruturação espaci- al intra-urbana. A visão de segregação mais próxima da que aqu i adotamos - inclusive rela- cionando-a com a compreensão da es trutura ção urbana - é dada por Short (1976, 78), quando procura encarar os padrões espaciais como produto da estrutura so- cial, ou seja, "to define what is meant by social structu re and to develop concepts appropriate to deal with urban structures anel segrcgation patterns. We can now attempt to view these as thc result of a specific co njun ct urc of economic, political and ideological systems articulated in a social formation". Caldeira (1992) atualiza e especifica o concei to de segregação numa ótica antropológica (diferente, portanto, da nossa) para São Paulo na década de 1980. Numa rica análise dos condomínios fechados, propõe-se a "demonstrar a necessi- dade de refazer o mapa cognitivo da segregação soc ial na cidade, atualizando as referências nos termos pelos quais são entendidas sua vid a cotidiana e relações sociais. Argumentarei que a extensão das mudanças é ta l que, a não ser que modifi- quemos a maneira pela qual concebemos a encarnação da discriminação social na forma urbana, não poderemos compreender os atuais predicados da cidade. Em segundo lugar, desejo sublinhar as mudanças e seus instrumentos a fim de argu- mentar que eles constituem, na esfera do ainbiente construído , a mesma constru- ção de estereótipos e classificações simp listas constituídasnas narrativas do cri- me; estratégias de segregação, de reordenação e de reconfiguração do que seria a norma. As narrativas de crimes revelam a n1esn1a obsessão em erguer barreiras sociais manifestada pelos residentes na construção de muros e cercas para enclausurar suas casas e vizinhanças . É enquanto corporificação de novas estrn· tégias de segregação, forjadas no contexto de maior proximidade de diferentes gru- pos sociais, crise econômica, incertezas e medo do crime, que devemos ler a nova cidnde de muralhas".* É interessante destacar uma dimensão espacial imp ortante da visão de Caldei- ra: a maior proximidade entre diferentes grup os sociais. A obsessão de construir mu- ros e cercas fechando os bairros dos mais ricos ocorre não só num momento de incer· teza econômica e de medo da criminalidade, mas também quando os mais riras começam a ficar mais próximos dos pobres e miseráveis excluídos, ou seja, quando os ricos começam a ir para a peri.feria. Note-se, contudo, que essa maior proximidade dos ricos aos pobres excluídos n ão nega a ex istência de segregação. • " ... Lo demonstratc the need to rcmukc the cognitivc map of soc ial scg rcgat ion in thc city, upd:Hing lhe rcfcrences in tcrms of which its cveryday liíc and soc ial rela l ion sh ips are unclcrsrood. 1 sh:ill arguc thnt tJ1e cxtent of changc is such that unless wc modify Lhe wny i11 which wc conccive of lh e cmboclimrnt o( social discrimi11ation in urban form, we c.innot under stand thc ci1y's prc sc nt µrcdicn111c11t. Srcond, l wanl to stress thc changcs and thcir insLrumcnts in ordcr lo ,.u-guc that thcy constilutc aL thc le,·l'I ofthc cons!ructcd cnvironment tJ1e sarne construction of s tcrentypc s n11d sirnplistic.; cl11ssificatio11 constitntl'<i in Lhe narra tives or crime: slralcgics of segrcgation, of re-ordination anel of rc-íiguration of Lhr pnipcr. Narratives of crime rcveal lhe same obsession wilh building socia l barricrs as Lhe rcsiclcnts disptar in 1hr construction of walls and fences to enclose lh eir hou ses and ncighborhood s. lt is as thc embodinll'nl of new strategies of segrcgation, forged i n a conlcxL of grea Ler p roxi m it y of d i ffcrent social ~roups. ecunomk crisis, uncerLaínty and fear of crime, that we shoulcl read lhe ncw city ofwalls." 152 o~ setores \ l'llll'-l,11.t, ,ll) dl' qm• a e-.11 ul u rnça o t•sparial h:hdrn ela 11w1 r6pol<· bia si lcirn h'lhk ,1 :-t' ll'ah, ,li :-.l'gumln :wtott'" de• c1rrulo, m,,is do qm• S<'gundo d rr ulos ccrn- 1·l•nt1icll:-, l,w1lnwnlt' nos 11.ll h nwntc um prc H"l'SSo t•spncial urb ano lrnslélnl c co- nhl'l't<lll llH':-.nw IH'hls h•1g,,s o dt• que• os bnirros rcsidcndni s de allíl rcndn "andnm" Nt dcsll1r,1m-M'" st•mpre na nwsm;1 dite(no. l)p sirn 111nrwira form:1111, <·vidcntcmcn - 1t'. um ~t'tl,r, t' n.in ttm,t rorna dt• cí rculo. No Rio, por ('X<'ltl p lo, t•sses bni rros comcça- r.un lllMS n:w St' ltmi1.1r.11n a l's:--c• sc•tor) nn C~lória e no Hussel, depoi s foram parn o Flamm~n C.1ll'lt'. p.ua Hntalogo, Copacabana, l...cblon, Ipan ema, Süo Conrado , Bar- ra. l'tl'. NJo St' dt'\'t' prrtt'm lcr ver prcrisão matcm át ica nessa scqiiên cia. Em São Paulo. partiram dt• t ·ampos Ehseos, foram pnra 1 l igicn 6poli s e Vila Buarqu e, c.lcrois para.la\L'nida Paulista, lmdim 1\m érica e /\lto de Pinh eiro s, Mornmbi, Jardim Leonor, l,mitm Guedala, C1,rnja \'imrn, /\ lphn vill c, ele. - também aqui a seqü ência pod e n,,oserprccisa; 1wm por isso deixa de ser verdndcirn .Também ns indtí stria s tendem .1 st' desC'mol\'l'r num scnt ido rntlial. Em São Paulo - a melhor met rópole para ~,emphlknr('s~w ra~o - , ,1s indústrias co meçaram no I3rás e na Moóca, depois, cm dm~ç.io n S:unos, foram para a Vila Prud ente e lpirang a, São Caetano, Santo André e ~laua. O mesmo ocorre ao longo da Dutrn. No caso das indtí slria s, esse caminha- mento ainda e compreensível, pois elas seguiam a ferrovia e hoje seguem rodovi- ~-E no c,tso da~ residências? :\ cs êncin do sentido radial - e portanto dos setores - é a necess idade de manter o nccsso ao centro dn cidad e. Há outros fatore s, por ém. O''peso espacial" da athidadc - moradia, comércio ou indú stria - tamb ém conta na otimização do acesso ao centro. Quanto mnis restrita cspacialmente a atividade , maio r sua ten - dência de se conccntrnr num setor. A residência de a lta renda, as grandes indlístrias e o comércio médio e grande são atividades espacia.1 mente minori tárias em face das áreas residenciais de classe média e abaixo da média e das enormes "poeiras" de pequenas indlistrias, oficinas e pequ eno comércio. O deslocamento das nossas bu rguesias segundo setores e não círculos con· cêntricosdecorrc também ele suas diminuta s dim ensões e do enorme desequilíbrio entre as classes sociais existente no Brasil. Nos países do Primeiro Mundo, as classes médias são enormes, constituem a mc1ioria da pop ulação e não só formam círculos concêntricos, como se deslocam mai s ou meno s igualmente, mantend o, assim, o padrão de círculos concêntrico s. Vimos no capítu lo 2, seção "Abordagens do espaço intra-urbano e regional" como Sch teigar l e Torre s descrevem a posição das classes médias argentinas em torno do cen tro de Buenos Aires, uma metrópole que tem uma estrati(icação social mais próxima das cio Primeiro Mundo do que as nossas. Citam o grande desenvolvimento da classe média argentina a partir da Pr imeira Guerra Mundial e retalam que ela ocupa um amp lo leque cm torno do centro (Buenos Aires tem apenas 180 graus de área de expansão, daí o "leque", e não o círculo). Nes- sas situações, desenvolve-se uma forte simbiose entre essas classes e o cen l ro, am- bos se reforçando mutuamente e man tendo suas localizações. Essa simbiose man- 153 p tt\m n vilalidacle do ccnlro - qu e, afina], depende da freguesia representada pelas classes m --dia e acima dn média - e essa vitalidad e mant é m a permanência dessas classes µroxim,1s ao ce ntro . Vamos aprovcilar esta oportunidade p a ra adiantar algumas consi.derações sobrt' .1 relação entre n estratificação socia l) o d ese nvolvimento de se tores de círculo x r1rrulos concrntricos, a chamada "deca d ên c ia do centro" e o afastamento dele, por p;:utc das classes média e m édia alta. Toda grande m etrópole tem uma parte do .seu n"ntro ocupada por classe m éd ia alta e pela alta: Quinta Avenida e a ParkAvenue, cm Nova Iorque; Ile de Saint-Louis, cm Paris, etc. Entre nós, as dimensões dessas dasses sno tão pequenas que elas não con seg uiram formar uma coroa, nem mesmo um lequl' , em torno do centro. Ivlantiveram co m e le tão-somente um pequeno pon- to de contato. Em ão Paulo . esse po nto íoi representado pelas ru a São Luiz, pelos fundos da esco la Caeta no de Campos e as rua s Martin s Fontes e Vieira de Carvalho. No Rio, por anta Teresa. Em virtude d e s ua complexidade como metrópole, São Paulo é a que mc-lho r se pres ta a esse tipo de anál.ise. A partir de um ponto de conta- co com o centro , essas classes se expandiram num setor de círculo por bairros próxi- mos ao centro - mas não encostados ou dentro dele - , como Higienópolis e Pncaembu. Também a classe média ocupou áreas centrais e contíg uas ao centro: Campo , Elfscos (rua 13arão de Limeira ), Vila Buarque e Santa Cecflia. Aqui nova- ment0 suas diminutas dimen sões impediram o desenvolvimento de fortes relações mtít uas com o cemro . Ess as classes não geraram uma simbio se com o centro com- panh ·c) àque la que existiu e se mantém em Buenos Aires, por exemplo, ou nascida- des do Primeiro f\•[undo . Elas romp e ram com o centro. Esse rompimento, embora sem dúvida exist isse, não era tão sé rio até por volta da década de 1970. A partir de então. out ro fator es p ec ificament e brasil eiro co laborou inegavelmente para agravar e -sa ruptura e aniquilar a frágil simbiose centro-classes média e média alta centrais: n toma<ln do cen tro pe la violência, mais do que sua tomada pelos miseráveis. Essa foi a gota d 'água que fez com que as classes média e média ai ta abandonassem defi- niti\ ·amc n ce o cen tro , ab rind o s ua s portas para a entrada do s miseráveis e dosam- bulances. A tomada do ce ntro é mais efeito do qu e causa do abandono do centro por parte das classes média alta e alta. Assim, regiõe s como as das ruas São Luiz e Martins Fomes e a dos fundos da esc ola Cae tano de Campo s, citadas acima , foram abando- nada s por essas classes no s ano s 70, principalm ente por causa da violênc ia urbana que cm nossas metr ó pol es atingiu nívei s muito mai s graves do que os de Buenos Aires ou das m e tr ó po les primei ro- mundistns. Voltaremos a falar do centro num ca- pítulo específico. Voll emos à formação dos s etore s de círcu lo. Além das áreas industriais, as grande ~ ürcas comerciais se d ese1wo lvem se gundo lon gas radiai s (o eixo Copacababa · Lcblo n ou as lo ngas v ias co mer c iai s, por exemplo). Essas formações linear es, aliás, mo ·tram de man eira cloqücnlc o papel decisivo q u e a acess ibilidad e ao centro e o tr.1nspo rt e do se r humano d ese mp e nham na es truluração intra-urbana. É essa lin ea ridad e - as soc iad a aos siste ma s viár io s fortemente radiais que predominam em nos sas metrópol es - e ainda o desnível social entre classes e a 154 ,··,1· ''t' ,: 11nt'1 :-,h' d,h ~·.un,td.1s lh)pnl, ttt.'S l" misc1 ,l\ ris que IL•,·am ,ws:-.as mc·I, opo - :,.: :~''\'' '! :,1: dc:-t.h .td<, p.1d1 .1t, t':-pad.11 sl'gundo Sl' lOlt'S tk r11niln . Qt1,tnln llll' · . ._., .,ú'".t:.t.i.t .1 t',t1,ll1llc,11\·.1,, -:nn.11 de um.1 tnt'ltópoit'. m,tinr a lt.•nclênri,1 ;1 ,;,u,1 ,' ~.:·• ... ~,.h' :-t·pm,h,, untlo:- conn:n tril'o~. Sê nossa soci edade ,tpíl'Sen tasc.c um.1 ,•,:'..\. i,-.1,:t,, , ,,,·,.,, 11,.,;, \llllh)t mt'. m,1i~ sr mrlh,rnle ,1 muiws nwlropolcs do Pri- ··t·,· \ll.'h:,, 1ws,,h lllt.'lrop,,tt--: ,tptl'SL'ntnriam um espaço tambem mais homo - ~-'"l\' t' m.fü l'h'\lllh' .1 c11 n1los n,nr{•nt dc0s. ~ ~ lC'smo ,\ pari idp,1çüo ela classe mc - :: ... t·:, ·:,,:-~,, t' , tllllur,1 s,,r1,1l t' muitn pequc1h1. ,\s sim sc•ndo, ,1 01ganitnção L'Spadal ,'..> ,· ,b$t'S :-t'~undn St'lMl'S de rurulo permite , como v<.·remo" nn ult ímo rnpll ulo, "'..1\'l ú'ntrt,lt-dt) t.'~p.t(n, .1tr,1n's do controle do merendo imobiliário (desloca ndo ,'ú';1lfl' p11ndp,1I. pM t'\l 'mp lo), do Estndo e' da ldC'ologin - maior do que srr i:1 ·· .. 11·1,ll'h'ntu,11 ~1..'grl'ga(:1t) sq~undo rírrulos conri'·nc ricos. J\p roxi 111n mo-nos t'n l ão, f:-' ~,n11wirt.' lug.,r. do p,Hlr.1o ctc segregação segundo lima tínicn rcgifio gcrnl cln ·:1.-:r~)lk'k t' t'm st'gundo lug.tr. d.1 !-cgregaçào segundo sccor<.·s de círculo. Dcscn - ,-.,:\t'rt.'mo:: m,tis l'SS,ts idL;ias no tina! dcsra obra. ~Oli.l. : ~Jr.:um l'\t'mpln brasill'iro da Ecologi.1 Fatorial. ver: ~IORRIS. Fred B. ·~\ geografia social no :t,,dt> 1ant>1ro: 1%cr. ln: Rr1·1sra Bm.-.ilf'im de Geografia, Hio 'dr Janeiro, ano 35, n.1. jiln./mar. '.~~3. 3-6~1 : \ rijuipe t·onsunnda por :\ lonique Pinçon-Chnrlot, Edmond Pretcceillc e Paul Remiu 1cm -1;1;.rentl'llH'ntl' um.1 prl"locupação política em suas invcstiga\'Ot's, r n:\o grogrüfica ou ,ociológk,1. :\ ênfost• de suas pesquisas não estú na comprl'l'nsão Lia segrega\·:-to: cst:i em mosrrar a existência til' unrn correlação entre classes sociais, scgrcga~·~o e rquipaml'ntns cole1iros. \ 'isam mostrar que a ação do Estado na produção dt• cquip~mHmtos coletivos pnrilegia a$ ,ireas de mais alta renda, como mostra o próprio título dl' :ma obra aqui citada: Stgrt1gario11 11rbni11e: classes socinles er éq11ipenumcs rollectifs e11 Region l'nrisi('IIIIC. Essa corrrlaç.io cen amenrc existe no Brasil. Nesta obra procuramos desvendar por que a segregação facilita - na verdade possibilita - a açáo do Estado cm favor das camadas de mais alta renda. \'eja a bibliografia. ' 'As porccmagcns do wtal de chefes ele domicílio ganhando mais que vi111c salürios-m111imos - t· qur corresponde grosseiramente, porém de maneira 101:.1lmcn1c adcqundn aos llns tksll' trahnlho. no que estamos chamando de burgucsias ou camadas de alta r(mda - sob1-c o lolnl de domit:t1ios t'rn n sl!guintc em 1991: 5.-liªó na J\rca Metropolitana de São Paulo; 3,82% 1m de Belo l lorizontC': :\,füi% nn tio Hio: e' 3.29% na de S..tlvador. Fonte: H3GE, Censo de 1991. 155 (:1p1ltllO 8 o· bairro residenciais das ca1nada .. d alta re11da O Rio de Janeiro Em todas as üreas metropolitanas- e mesmo nas cidades médias lilorâné~ts bra~ileira, com praia~ de alto-mar, com exceção de Salvador-. as orlas estão sendo .ri',rentememc ocupadas pelas camada s de mais alta renda: Balneário Camhorhi, J"' 1~·Sã0Vicente-Guarujá, Rio-Niterói, Vitória, Recife, Fortaleza, etc. Esse proces- ,., Je ocupação não se deu de modo simultâneo em todas as nossas mctropolcs. Ocorrru primeiramente no Rio de Janeiro e cm Santos - no final do éculo XIX e no mício do 'iéculo XX- e só na sua segunda metade se difundiu nas melrópolc~ nor- d('stinas [m alguns casos, houve uma primeira direção que foi ocupada pelas ca- mada'> de alta renda, antes da orla oceânica, como o setor Oeste no Rio e no Recife. ~oRio,essaprimeirn direção há muito tempo foi totalmente abandonada por aquc- laHamadas e, no Recife, elas ali ajnda resistem , embora seja clara a lc11t.lênri,1 dt' suatran'lfcrência para a orla das praias, como veremos neste cap ítulo, adiante. Ao tentar dE::~vendar as razões da ocupação da orla oceânica da cidad l' do Rio de Janeiro pelas camadas de mais alta renda , o investigador e levado a se afoslnr no :empo até as décadas finais do sécu lo XIX, quando essa ocupnçno lL'\ 't' inicio de iorma sigmficatha. 1!111 seguida, é obrigado a afastar-se ainda mab, ,ué o mício do ~€culoXIX. para de~cobrir onde morava a aristocracia carioca nntc ' de ,r conccn - trarna orla oceânica. Desde a chegada de dom João VI, começou a se conslituir na capilal do reino, depois Império, uma estratificação social já típica de uma sociedade urbana capila- lista,cóm dimensões e práticas socia is que se revelaram suficicnlcs pam dar início a algurnasegrcgação espacia l de seus bairros residenciais . Na segunda metade do sc- culoXIX, o Rio era a maior metrópole da América Latina, comparáv el alé a alp;umas 157 • capitais européias. Como se vê pelo Quadro 2 1, por volta d e 1870 , o Rio era maior que a Cidade do t-.1éxico e bem maior que Bueno s Aires. Entretanto, esse recuo até o final do éculo XIX revela- e in suficiente, poi s o Rio já cm uma grande metrópole há mais cempo. Co m efeito, se o Rio já era uma grande cap ital ant es do final do século XIX e ua elite capit alista já começara a se formar cm meado s desse séc ulo, cabe perguntar: qual a localização de se us bairros rcsicknciai s na prim e ira metade do sécu lo XIX? O que teria motivado a ocupação dessa localização? Quais teriam s ido as razões do aban- dono destas cm favor dn orla oceânica? Para respo nder a ess as indagações, o pesqui- sado r é levado a investigar a estruturação do Rio ele Janeiro a partir do início do século XIX, épo ca cm que localizamos .as raízes des ses proces sos. Es e afastame nto no tempo permitiu descobrir não só que a maior parcela daquela elites oc upa va a proximidade do centro, predominantemente na direção oeste, como também um aspecto inusitado que, se não era desconhecido, nunca foi sufi cienteme nte destacado. Na primeira metade do século XIX, uma significativa parce la da elite urbana carioca morava/ora da cidade, num estilo de casa e de vida muito diferente - no tempo e no espaço - do das chácaras, comuns nas capitais brasileiras no final do século passado, de Porto Alegre a Salvador. Em 1821, o ílio tinha uma população total de 112 695 habitantes, dos quais 79 321 eram urbanos. Pelo censo de 1838, essa população era de 137 078, dos quais 97 162 eram urbanos. Era uma cidade bastante grande para os padrões da época. E n ão só isso: era se de de uma corte razoavelmente ativa em termos econômicos, so- ciais e culturais. Quadro 21- População de algumas