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52 CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LIBRAS FERNANDA SILVA FERREIRA RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA L1 E L2 MARINGÁ 2020 53 FERNANDA SILVA FERREIRA RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO Relatório apresentado como requisito parcial para a conclusão da disciplina Estágio Supervisionado em Língua de Sinais Brasileira L1 e L2 do curso de Licenciatura em Letras/Libras da Faculdade EFICAZ, orientado pela Professora Ercilia Alves Ferreira. MARINGÁ 2020 54 FOLHA DE APROVAÇÃO Relatório apresentado como requisito parcial para a conclusão da disciplina Estágio Supervisionado em Língua Brasileira de Sinais L1 e L2 do curso de Licenciatura em Letras da Faculdade Eficaz, orientado pela Professora Ercilia Alves Ferreira. Aprovado em ___de __________ de 2020 _________________________________________________________ Ercilia Alves Ferreira 55 RESUMO O presente relatório de Estágio Supervisionado relata as atividades desenvolvidas pelo estagiário da disciplina de Libras L1 e L2. O estágio iniciou-se em 16 de outubro e terminou em 24 de novembro , incluindo a produção de 10 videoaulas de Libras para surdos L1 com carga horária de 20h/a, estudos e planejamentos das atividades e videoaulas 80h/a, relatórios e plano de aula 50h/a. Produção de 10 videoaulas de Libras para ouvintes 20h/a, estudos e planejamentos das atividades e videoaulas 80h/a, relatórios e plano de aula 50h/a. totalizando uma carga horária de 300h/a com a supervisão da Professora Ercilia Alves Ferreira. Palavras-chave: Palavras-chave: Libras. Surdo. Educação. 56 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................06 2 CARACTERIZAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTÁGIO..............................07 3. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................23 4 DESENVOLVIMENTO............................................................................31 4.1 Regência...........................................................................................31 4.1.1 Relato da regência do estagiário em L1........................................32 4.1.2 Planos de aula em L1...................................................................33 4.1.3 Relato de regência do estagiário em L2.......................................40 4.1.4 Planos de aulas em L2.................................................................42 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................53 ANEXOS ANEXO A – TERMO DE CONVÊNIO ANEXO B TERMO DE COMPROMISSO ANEXO C – CONTROLE DIÁRIO DE ESTÁGIO ANEXO D – TERMO DE RESPONSABILDADE DO ISOLAMENTO SOCIAL ANEXO E – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NAS VIDEOAULAS 57 1 INTRODUÇÃO O estágio é o momento no qual o estudante tem a oportunidade de estar na escola vivenciando experiências como professores, bem como observar o que estudou e aprendeu nos encontros teóricos. Não existe dicotomia entre a teoria e prática, são momentos que ocorrem em espaços diferenciados, mas que são interdependentes. Nessa compreensão, pode-se afirmar que a atuação do professor em sala de aula é o momento de observar, fazer, planejar e interagir com o estudante em uma relação que deve ser ação/reflexão/ação. Desse modo o estágio não é apenas um momento de prática, é também uma reflexão da teoria aprendida em sala de aula. O Ensino Fundamental I é um dos espaços de atuação do professor e como tal, deve ser o local onde o estudante possa atuar e vivenciar todas as atividades de uma escola. Assim sendo, o estágio no Ensino Fundamental para o estudante é um importante momento de sua formação. A prática educativa (institucional) é um traço cultural compartilhado e que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e de suas instituições. No estágio dos cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros professores se apropriem da compreensão dessa complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais, como possibilidade de se prepararem para sua inserção profissional. É, pois, uma atividade de conhecimento das práticas institucionais e das ações nelas praticadas. Pode-se concluir que o estágio supervisionado é um momento de extrema importância para o estudante. A experiência e vivência do estudante de matemática em uma escola do ensino fundamental tem papel fundamental em sua formação como futuro docente. É nesse espaço, escola, que o estudante vai interagir com as crianças, professores e todo o funcionamento de uma instituição. A escola pública e privada tem de se preparar para atender a todos, indiscriminadamente conforme reza a legislação brasileira. O estágio mostrou as necessidades dos estudantes na sala de aula, as carências dos estudantes do fundamental I em relação à linguagem matemática, e, sobretudo como é a realidade de uma escola inclusiva, na qual tem a presença de interpretes para garantir a mediação entre uma pessoa surda e os ouvintes com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). 58 2 – CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO 2.1 ENSINO DE LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA COMO PRIMEIRA LÍNGUA: currículo em práticas no estágio do Letras Libras As primeiras referências à maneira de expressão dos surdos remontam, aproximadamente, ao ano 368 a.C., quando o filósofo grego Sócrates comenta no Crátilo de Platão: “Se não tivéssemos voz nem língua e ainda assim quiséssemos expressar coisas uns aos outros, não deveríamos, como aqueles que ora são mudos, esforçar-nos para transmitir o que desejássemos dizer com as mãos, a cabeça e outras partes do corpo?” (PIMENTEL-SOUZA, 2008, p. 67). Mais adiante, sobre o modo de interagir dos surdos, Vygotsky, nos Fundamentos da Defectologia (1989), traz registros quanto à importância do uso da “mímica” na educação de surdos. De acordo com os dados históricos, no entanto, o reconhecimento do status linguístico da(s) Língua(s) de Sinais só ocorreu na década de 1960, quando William Stokoe publicou a primeira descrição estrutural da Língua de Sinais Americana – ASL, na qual faz analogia desta com as línguas orais e propõe uma análise das unidades sinalizadas em unidades mínimas (queremas/quiremas)6. (PIMENTEL-SOUZA, 2008, p. 68) Quanto ao uso de sinais na educação de crianças surdas, a historiografia nos conta que o abade francês Charles Michel de L’Epée (1712-1789), reconhecido como criador do Gestualismo, na intenção de educar indivíduos economicamente desfavorecidos, ensinando-lhes a língua francesa falada e escrita, criou os “Sinais Metódicos”, agregando à linguagem de sinais dos surdos parisienses outros sinais inventados em sua interação com seus educandos (SACKS, 1998; LEITÃO, 2003; PIMENTEL-SOUZA, 2008). Nesses registros, constatamos que L’Epée, mesmo na intenção de ensinar o francês, não somente criou a primeira escola para surdos e o Gestualismo, mas também inaugurou os primeiros passos de ensino da língua(gem) de/para surdos. Anos mais tarde, os surdos formados pela escola – o Instituto de Surdos-Mudos de Paris – passavam a compor o quadro de professores da própria instituição. No Brasil, antes mesmo do reconhecimento da língua de sinais, como meiode interação de seus falantes, no ano de 2000, a Lei da Acessibilidade, n.º 10.098, inclui em seu Artigo 17, as garantias de acesso dos surdos aos diversos espaços e 59 informações a que todo cidadão tem direito. Dois anos mais tarde, enfim, a Libras foi oficializada em nível federal, por meio da Lei n.º 10.436, em 24 de abril de 2002, a qual foi regulamentada no Decreto n.º 5.626, em 22 de dezembro de 2005. Esse Decreto traz uma série de implicações, entre as quais se encontra a obrigatoriedade da inclusão da disciplina de Libras no currículo dos cursos de formação de professores em níveis médio e superior, de instituições públicas e/ou particulares, e nos cursos de fonoaudiologia; além de orientações relacionadas à formação de professores, instrutores e tradutores e intérpretes de Libras; educação bilíngue, entre outros aspectos. Desse modo, não somente como modo de interação, mas como língua legítima, a Língua de Sinais Brasileira ficou reconhecida oficialmente como: [...] forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei n.º 10.436, Art. 1.º, Parágrafo único). Convém destacar que as línguas de sinais não são ágrafas, muito embora não haja ainda um sistema de escrita universal padronizado. Nesse contexto, tem-se o sistema signwriting, já utilizado em diversos países e que se constitui uma forma de registro totalmente diferente do sistema alfabético, mas legítimo; sendo criado especificamente para retratar os caracteres próprios de uma língua visuoespacial. Após a regulamentação da Lei de Libras pelo Decreto citado, o ensino da Libras, até então abordado mais numa perspectiva de ensino de segunda língua (L2) para ouvintes, em cursos oferecidos por entidades de surdos9, passou por novos olhares numa perspectiva de primeira língua (L1), a partir do curso de Letras Libras ofertado, em 200610, com as disciplinas de metodologias de ensino e estágios. Vários são os desafios no âmbito da educação de surdos. Entretanto, no âmbito do ensino de Libras como L1, a investidura de pesquisas e resultados de práticas didáticas ainda se apresenta incipiente, visto haver muitas questões relacionadas aos currículos dos cursos de Letras Libras e lacunas nas práticas e nos currículos da disciplina de Libras como língua materna, nas escolas. No ensino de Libras como L1, ainda há muitos passos a trilhar, da mesma forma que o ensino das línguas orais para seus falantes nativos ainda são fontes de 60 investigação, pois “é de se supor que o conhecimento sobre língua aperfeiçoará o uso da língua pelas crianças” (STUBBS, 2002, p. 153). Assim, esboçadas as reflexões do contexto exposto, segue-se a próxima seção com a apresentação de nuances específicas do Estágio Curricular Supervisionado em discussão. O Estágio Curricular Supervisionado (ECS) constitui uma atividade obrigatória, vinculada ao Projeto Pedagógico do Curso, integrando o itinerário formativo dos estudantes. De acordo com a Lei Federal n.º 11.788/2008, o Estágio é garantido como uma: preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. Nesse contexto, a referida Lei busca garantir ao educando o aprendizado necessário ao cumprimento de atividade profissional ante a contextualização curricular, a fim de promover o seu desenvolvimento para a vida cidadã e para o trabalho. No âmbito da Universidade Federal do Ceará (UFC), essa complementação curricular do ensino e da aprendizagem é realizada pelos estudantes matriculados e efetivos junto a pessoas jurídicas de direito privado, organizações não governamentais (ONGs), órgãos da administração pública e instituições de ensino (UFC, 2016a). As experiências de ECS relatadas nesse estudo ocorreram em duas escolas específicas para educandos surdos11, o Instituto Cearense de Educação de Surdos (ICES) e o Instituto Filippo Smaldone (IFS), por se tratar do ensino de Língua de Sinais Brasileira (Libras) como primeira língua (L1). Sem abordar por ora a questão curricular, eis um dos primeiros desafios: o campo restrito de estágio, visto que, Fortaleza possui (apenas) duas escolas com a disciplina Libras na grade curricular. As escolas de inclusão com surdos matriculados não possuem a disciplina Libras como componente curricular. Assim, as poucas salas a serem distribuídas pelos estagiários tornaram-se menos ainda, pois, no período do estágio, 2017.1 e 2017.2, tais escolas também acolhiam estagiários do Curso de Instrutores de Libras de uma escola profissionalizante do sistema estadual de ensino. Esse grupo de estagiários já ocupava a maioria das salas. 61 Nesse sentido, em face da necessidade de ampliação do campo de estágio para acolher os formandos em Letras Libras e atender, não somente à LDB, que já definia os profissionais a atuarem na Formação Básica, mas também ao Decreto n.º 5.626/2005, cabe às escolas a verificação desses documentos, como o Decreto que esclarece: Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Ainda tratando sobre os campos de atuação de profissionais, o Decreto n.º 5.626/2005 também aponta aspectos relacionados à educação infantil e aos anos iniciais do ensino fundamental, a partir de sua formação, conforme esclarece o Art. 5.º desse Decreto: A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue. Nesse contexto, surge uma questão: as escolas e entidades estão cientes do campo de atuação do Instrutor de Libras e, portanto, de seu campo de estágio? O Decreto veio regulamentar variados aspectos relacionados à Libras, como a questão do ensino a ser ministrado, seja por Professor de Libras, seja por Instrutor de Libras, estes últimos inicialmente formados por entidades, como a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (Feneis) ou como Associações de Surdos. Sobre a Formação destes, reza o Art. 6º que: A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. A LDB n.º 9.394/1996, entre diversas considerações, aponta quais são os campos de estágio e atuação do Pedagogo e de Profissionais de Letras. O Decreto n.º 5.626/2005 evidencia, por sua vez, os campos específicos de atuação do 62 Pedagogo Bilíngue (formado nos cursos de graduação em Pedagogia Bilíngue), do Professor de Libras (graduado em Letras Libras), assim como do Instrutor de Libras, seja para o ensino de tal língua como L1 seja como L2. Desse modo, parece claro que as salas de aula das escolas de Educação Básica constituem-se campo de estágio, prioritariamente, dos cursos de Pedagogia (bilíngue ou não) e Letras Libras, resguardados os devidos níveis de ensino. Os aspectos suprarrelacionados fazem alusão aos espaços de atuação de um grupo de profissionais ou aprendizes, um panorama comum em várias regiões do país.Tal panorama pode apresentar situações mais desafiadoras nos locais em que não há escolas específicas/bilíngues, onde os educandos surdos não estão partilhando o mesmo espaço com seus pares. Nesse sentido, em consonância com o modo visual de SER SURDO, o ECS do Ensino de Libras como L1 do Curso de Letras Libras da UFC segue a legislação nacional, bem como as normas internas das instituições concedentes (as escolas) e a Resolução CEPE n.º 32/2009 (UFC, 2009), além das orientações da Agência de Estágio/UFC e de manuais próprios. Para dar continuidade à discussão iniciada, segue uma seção que descreve as vivências realizadas durante as atividades de ECS, suscitando reflexões que buscam promover discussões com vistas a dirimir “fios frouxos” na trama do ensino de Libras como L1, mas que evidenciam nuances e colorido que o produto criativo pode despontar. Língua (gem) e mediação nas experiências de ECS: alguns passos sócio interacionistas no processo de consciência (meta) linguística O comportamento do ser humano diante daquilo que o rodeia é resultado de mecanismos biológicos elementares e de atividades mentais complexas, consideradas superiores. Estas últimas, segundo os postulados vygotskyanos, exigem comportamento deliberado, tipicamente humano, como o fato de praticar solidariedade, ficar atento enquanto o outro fala, entre outros. Nessa perspectiva, as relações do homem com o mundo não se dão de forma direta e, sim, essencialmente mediada. Segundo Vygotsky (1993), as relações se dão por dois elementos mediadores: os instrumentos e os signos. Os primeiros são, por exemplo, os instrumentos propriamente ditos, que levam a ações como ler livros, aparar gramas com um cortador ou arrumar as unhas com uma lixa. Os segundos ocorrem num plano simbólico, podendo estar ou não sendo representados por algum “símbolo” concreto, como o uso das placas ilustrativas ou uma explicação de 63 alguém, ou ainda, pode ocorrer diretamente em caráter interior. Assim, a linguagem é o ponto – chave dessa mediação. O respaldo sócio interacionista no âmbito de escolares surdos encontra uma considerável relevância, ao atentarmos para o fato de que, sem a LS, tais sujeitos12, no geral, expressam seus pensamentos estreitamente relacionados à presença de instrumentos, um tipo de pensamento por complexos na teoria vygotskyana. Assim, vale ressaltar que, numa sala de aula com discentes surdos, independente da equivalência de suas idades, evidencia-se um distanciamento no grau de proficiência. Isto significa que, no caso do processo de ensino e aprendizagem de/para surdos, importa saber o período de contato de tais sujeitos com a LS, que adquirem espontaneamente, mas com que nem sempre o contato se dá desde a mais tenra idade. Para os alunos surdos, além do processo de inclusão, há também a necessidade de aprendizado da Língua Brasileira de Sinais – Libras, reconhecida pela Lei Federal nº 10.436/02, que legitima a Libras como meio de comunicação dos surdos, reconhecimento que fortalece as estratégias de conquistas dos movimentos de surdos (QUADROS, 2007). Essa legislação garante ao surdo o direito linguístico de ter acesso aos conhecimentos escolares na língua de sinais. Essa lei é um instrumento legal que reconhece e afirma a Libras como uma das línguas brasileiras usadas pela comunidade surda do Brasil. A língua de sinais é uma língua natural, com gramática própria e, por ser visual/espacial, é adquirida sem dificuldades pelas pessoas surdas. A aquisição da língua de sinais permitirá à criança surda, além do desenvolvimento linguístico, o desenvolvimento dos aspectos cognitivo e sócio-afetivo-emocional. Permitirá também o desenvolvimento de identificação com o mundo surdo, um dos dois mundos aos quais ela pertence. E mais, a língua de sinais servirá como base para a aquisição da língua majoritária, preferencialmente na modalidade escrita. Finalmente, o fato de ser capaz de utilizar a língua de sinais será uma garantia de que a criança surda possa usar pelo menos uma língua (PEREIRA; VIEIRA, 2009, p. 64). De acordo com o Decreto nº 5.626/05, as pessoas com surdez [1] têm direito a uma educação que garanta a sua plena formação; em seu Art. 2º, “considera-se pessoa surda àquela que, por ter perda auditiva, compreende e interagem com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras” (Brasil, 2005, p. 1). Para que a inclusão ocorra, além da Língua Brasileira de Sinais como primeira língua que o 64 Surdo adquire (L1), deverá também aprender no âmbito escolar a sua segunda língua, que é o português (L2), preferencialmente na modalidade escrita, língua de formação/instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo (PEREIRA; VIEIRA, 2009). A escola, no século passado, insistia na oralização dos alunos surdos, com o fim de integrá-los na sociedade ouvinte (Perlin; Strobel, 2006). Os Surdos eram submetidos a longos treinamentos auditivos e de fala, na busca de que eles deixassem de ser menos deficientes ou se aproximassem mais dos ouvintes e mais normais. O foco na oralidade reflete a preocupação com a “reparação” da surdez, o que poderia ser conseguido com investimento na linguagem oral. Para isso, professores e alunos deveriam falar, sendo que a recepção da fala pelos alunos se daria por meio da leitura orofacial, ou seja, dos movimentos dos lábios e dos músculos da face. A língua de sinais era proibida porque se acreditava que ela inibiria o uso da fala (SÃO PAULO, 2007, p. 15). As escolas no Brasil historicamente têm excluído os surdos, oferecendo apenas a aquisição da linguagem oral e escrita nas salas de ensino regular. Influenciadas por tais pressupostos, iniciativas específicas para a escolarização dos surdos passaram a ser sistematizadas e postas em prática no Brasil com um caráter eminentemente normatizador, filantrópico e assistencialista em instituições voltadas para esse fim, de forma mais recorrente a partir do final do século XIX até meados do século XX, resultando na criação de instituições especiais que contavam com a atuação de professores especializados na área da surdez (GUARINELLO; Et al., 2006, p. 318). O desafio que se enfrenta na atualidade é transformar a escola de todos para todos numa instituição igualitária, renovando suas práticas educativas para atender à realidade dos desafios que chegam à sociedade, na formação de um cidadão pleno de seu compromisso. Em 1988, a Constituição Federal trouxe em seu Art. 208, Inciso III, que o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, deve se dar preferencialmente na rede regular de ensino” (Brasil, 1988, p. 70); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9.394/96) estabelece que os sistemas de 65 ensino devam assegurar principalmente professores especializados ou devidamente capacitados para atuar com qualquer pessoa especial na sala de aula. A aquisição da linguagem por crianças surdas deve acontecer por meio de uma língua visual-espacial, no nosso caso por meio da Libras (Quadros, 2004). As crianças surdas vão à escola sem uma língua adquirida; com isso, a escola precisa estar atenta a programas que garantam acesso à Língua Brasileira de Sinais mediante a interação social e cultural com pessoas surdas. O processo educacional ocorre mediante a interação linguística e deve ocorrer, portanto, na Língua Brasileira de Sinais (Quadros, 2003). Quando a criança chega à escola sem linguagem, o trabalho deve ser direcionado para aquisição da linguagem por meio de uma língua visual-espacial. O currículo escolar no Ensino Fundamental deveria estar organizado a partir de uma perspectiva visual-espacial, segundo Quadros (2004), para garantiro acesso a todos os conteúdos escolares na própria língua da criança, porque a língua da escola para os alunos surdos precisaria ser desde o princípio, a Língua Brasileira de Sinais. Mais do que uma língua, as pessoas com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento e exercitem a capacidade cognitiva desses alunos. Obviamente, são pessoas que pensam, raciocinam e que precisam como os demais de uma escola que explore suas capacidades, em todos os sentidos (DAMÁZIO, 2005, p. 113). De acordo com o Art. 58 da LDB (Brasil, 1996), os alunos surdos têm garantidos seus direitos de serem atendidos nas escolas públicas, porém muitos professores, ou na sua grande maioria, não estão preparados para receber esses alunos, e sem esse preparo, por mais que os professores se esforcem e busquem metodologias de ensino-aprendizagem que melhor se adéquem para promover a inclusão, infelizmente podem ocorrer insucessos (QUADROS, 2007). Para que o processo de ensino-aprendizagem em salas com educandos surdos ocorra de forma plena, tem-se o papel do profissional intérprete, que medeia esse processo e é facilitador no diálogo professor-alunado. A Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de Libras (TILS); esse profissional realiza a interpretação simultânea nas duas línguas (Libras e língua portuguesa) (Brasil, 2010). Em seu artigo 6º, discorre sobre a função do intérprete: efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras 66 para a língua oral e vice-versa; interpretar, em Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais (BRASIL, 2010, p. 2). O profissional deve dominar a língua de sinais e a língua portuguesa. Uma especificidade do intérprete de Libras é seu trabalho na educação, denominado intérprete educacional (IE) (LACERDA, 2006). O objetivo principal não é apenas traduzir, mas buscar, juntamente com o professor, meios diferenciados de ensino para que o aluno surdo possa ser favorecido em uma aprendizagem especificamente elaborada e pensada e, consequentemente, eficiente. Nas escolas de Ensino Fundamental, a inclusão dos alunos surdos ocorre por intermédio de um intérprete, que traduz para a Língua de Sinais os conteúdos que o professor ministra e avalia o educando (Libâneo, 1994). Assim, o papel do professor junto com o intérprete é conseguir realizar o processo de inclusão o aluno surdo (Santos; Festa, 2014). É notório que a presença do intérprete na sala de aula é importante para os alunos surdos, mas somente a presença desse profissional não garante a inclusão (Olah; Olah, 2010). Por essa razão, é importante a atuação conjunta de ambos – professor e intérprete – na garantia da inclusão do educando surdo (Oliveira, 2012). Além dessa parceria profissional, deve-se criar um ambiente favorável, em que o educando surdo tenha possibilidade de desenvolver suas potencialidades, sendo necessário que a escola disponibilize os recursos necessários para que esse processo de desenvolva (SANTOS; FESTA, 2014). De acordo com Silva (2003), a integração escolar tem como objetivo inserir o aluno com deficiência na escola regular, porém essa escola permanece organizada da mesma forma, e é o aluno que foi inserido que deve se adaptar a ela. No entanto, no sistema de ensino inclusivo é a escola que se reorganiza para atender à especificidade de cada aluno (OLIVEIRA, 2012). Sendo assim, o foco da integração é o aluno com deficiência; o foco da inclusão é o sistema de ensino, que tem que oferecer um ensino de qualidade a todos (OLIVEIRA, 2012). 67 Para Garcia e Rocha (2013) e Marques et al. (2013), as escolas ainda não apresentam um quadro de inclusão de alunos com necessidade especial, como os alunos surdos. Nas escolas faltam salas apropriadas, materiais, recursos visuais e metodologias, professores especializados capacitados e intérpretes, entre outros. Para o aluno surdo construir seu conhecimento em uma sala de aula inclusiva, ele precisa estar integrado ao processo de ensino-aprendizagem (QUADROS, 2007). O professor deve desenvolver estratégias pedagógicas para despertar o interesse desse aluno. Porém o que ocorre nas escolas do Ensino Fundamental é um ensino oferecido de modo tradicional, sem considerar as necessidades especificas dos alunos surdos, que, sendo assim, não conseguem desenvolver uma aprendizagem significativa (Quadros, 2003). As metodologias didático-pedagógicas não têm atendido às necessidades desse educando por muitas vezes ignorar os aspectos cultural e social que fazem parte do processo educacional, deixando a criança surda à margem da escola (Lacerda, 2006). Na difícil tarefa da inclusão, cabe ao professor desenvolver estratégias, buscar novas metodologias, instrumentos e tecnologias de ensino, utilizar recursos diferenciados e processos avaliativos adequados, como meios de tentar minimizar a desigualdade e trabalhar a diversidade. Nesse contexto, é dever dos órgãos públicos, da família e da comunidade escolar estar juntos. O nível de importância da aquisição da Língua de Sinais para os surdos vai além da necessidade de comunicação com seus pares e familiares. Exige integração maior dos ouvintes com a Língua de Sinais e dos surdos com a língua portuguesa (DELGADO; CAVALCANTE, 2011). As crianças surdas, assim como as ouvintes, precisam ter conhecimento de sua própria língua, pois sem esse conhecimento fica difícil as crianças surdas avançarem de maneira significativa nem com relação a Libras nem do aprendizado do português escrito, seja nos aspectos relativos à leitura e compreensão de textos, seja em relação à escrita e produção de textos (QUADROS, 2007, p.87). Diferentemente das crianças ouvintes, que chegam à escola falando português, as crianças surdas muitas vezes não têm o domínio adequado da sua língua; assim, a preocupação da escola deve ser criar um ambiente em que essas crianças possam adquirir primeiramente a Língua de Sinais e depois o português (DELGADO; CAVALCANTE, 2011). No caso das crianças que começam sua vida 68 com o conhecimento da Língua de Sinais, seja por terem pais surdos ou porque seus pais os expuseram ao contato com a Libras, independentemente deles, a escola deve proporcionar condições para a prática e o exercício da Libras (QUADROS, 2007). Portanto, a escola deve ser um espaço em que o surdo possa livremente usar sua língua, mas muitas escolas não estão ainda preparadas, pois não possuem intérpretes para ajudar as crianças surdas a adquirir o conhecimento da Libras (DELGADO; CAVALCANTE, 2011). Sem o fomento dessas condições na escola, a educação da criança surda vai estar sempre aquém da educação que é destinada à criança ouvinte, e as dificuldades para ela aprender o português vão permanecer (XAVIER; VIOTTI, 2011). Além desses fatores, o ensino de Libras pode ocorrer em duas situações distintas: na primeira, são os educandos surdos que aprendem Libras como primeira língua (L1); na segunda, os educandos ouvintes é que aprendem a Libras como segunda língua (L2). Esse aprendizado pode ocorrer simultaneamente, quando em uma escola inclusiva (Basso et al., 2009; Gesser, 2010). Para o ensino de Libras como L1, o professor deve estar ciente de que a Língua Brasileira de Sinais é principalmente visual, e para o educando surdo esseé o sentido pelo qual irá apreender toda a estrutura gramatical dessa linguagem. Nasce aí a Pedagogia Visual ou da Diferença (Basso et al., 2009). Para o ensino de Libras como L2, sendo Libras uma língua visual e o educando sendo ouvinte, este irá disponibilizar tanto a visão para compreender o gestual da linguagem como a oralização do significado dos sinais. Esse educando contará com seus principais sentidos nesse processo. Para que efetivamente ocorra o aprendizado da Libras pelo educando surdo, na atualidade há uma gradativa adoção da Pedagogia da Diferença, cujo princípio está nas diferenças culturais (MANTOAN, 2015). Ao ressignificar a surdez como uma marca cultural e não como uma patologia, a Pedagogia da Diferença necessita de uma postura educacional que assuma seu papel emancipatório e transformador e que veja o surdo como uma pessoa completa (...). Na Pedagogia da Diferença, há a diferença cultural e a diferença linguística, e não uma relação de dominação e supremacia de um grupo sobre outro (BASSO; Et al., 2009, p. 17). É nessas diferenças que se compõem a individualidade do ser e as características essenciais de uma comunidade, que são o arcabouço para adentrar e 69 buscar significados e contextos para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra – ressignificando e contextualizando (MANTOAN, 2015). Essa pedagogia, por sua vez, vem transmutando e se adaptando para as especificações da criança surda, visto que há uma Pedagogia Surda totalmente voltada para o ensino-aprendizagem desses educandos (Vilhalva, 2004). A Pedagogia Surda tem um sistema educativo próprio, abrangendo sem limite de lugar, podendo ser contemplada através das histórias em Libras e passada pelos Surdos sinalizadores mais velhos. É informalmente que observamos a evolução gradual da comunicação sinalizada que hoje é respeitada e valorizada pela comunidade surda brasileira (VILHALVA, 2004, p. 1). Para que essa pedagógica seja efetiva, há um trabalho do docente de estar atento à vida do educando surdo, observando “os acontecimentos do dia a dia que os alunos trazem e sinalizam no ambiente escolar e dentro da sala de aula; os sinais, as histórias, os hábitos que fazem a formação visuoespacial, tudo que pertence a Cultura Surda transmitida pela Língua de Sinais, através dos Surdos mais velhos” (VILHALVA, 2004, p. 1-2). Para Santos Filho et al. (2016), a modalidade visual no ensino da Libras ao educando surdo deve estar sempre no ápice do planejamento didático do professor, para que os conteúdos sistematizados com base nos aspectos da gramática da linguagem, estabelecidos por Quadros (2007, p. 32): “estabelecimento nominal, estudo do sistema verbal, estabelecimento do olhar, formação de sinais (derivação, flexão e incorporação), exploração do espaço como marca temporal, aspectos não manuais, classificadores e sintaxe”. Gesser (2010) descreve em detalhes em sua obra 11 metodologias para o ensino da Libras como L2, adotando posturas didático-pedagógicas para serem aplicadas em situações específicas ou combinadas, dependo do educando que se pretende ensinar. Esses métodos são: Clássico; Tradução e gramática; Seriado; Direto; Audiolingual; Silencioso; Comunitário de aprendizagem de línguas; Resposta física total; Sugestopedia; Natural; A importância do conhecimento e o domínio dos métodos fornecem ao professor uma gama de competências e habilidades para atuar nas mais diversas situações e necessidades encontradas frente aos seus educandos, visando sempre ao pleno desenvolvimento educativo e garantindo assim um amplo processo de ensino-aprendizagem (LIBÂNEO, 1994). 70 Uma educação voltada para alunos surdos precisa considerar a língua de sinais como artefato cultural, entretanto para conquistar o direito de se comunicar na sua língua visual espacial, os surdos passaram por opressões, discriminações e resistências. Como sabemos na Antiguidade os surdos eram vistos como incapazes de desenvolver o pensamento, com um tempo à sociedade acreditavam que através da fala é que se poderiam pensar, então os ensinaram pelo método Oralismo, e assim no Congresso de Milão em 1880, foi discutido e determinado à proibição da educação de surdos através da língua de sinais, e assim os surdos foram obrigados a serem alfabetizados pelo método oralista, mas não prosperou. No século XX surge a Comunicação Total que é o uso de gestos, da oralidade, leitura labial, enfim várias formas de ensinar a comunicação, porém os surdos não desenvolveram, mais uma vez comprova que a educação de surdos deve ser através da língua de sinais, então a partir de estudos linguísticos, do pesquisador Stokoe em 1960, afirma que as línguas de sinais apresentam propriedades, características que uma língua oral possui, e assim aos poucos a sociedade “aceita” o método do bilinguismo, o uso de duas línguas, a primeira sendo a visual e a segunda oficial do país, mas não foi e não é fácil as pessoas ouvintes entenderem que a forma bilíngue é a melhor estratégia de ensinar ao surdo. A Lei n° 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão e determina que se tenha apoio e difusão da mesma. Para reafirmar esta Lei o Decreto nº 5.626/05 regulamenta para que alunos surdos tenham a sua disposição a inclusão da Libras como disciplina no currículo escolar, aborda também a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, já a Língua Portuguesa para eles deve ser a segunda língua, como princípio uma educação bilíngue, como também a inclusão de Libras como disciplina curricular na Educação Superior na formação de professores e de fonoaudiologia seja obrigatório, e facultativo nos outros cursos de graduação. O Decreto ainda aborda no Art. 14 sobre a formação do professor para o ensino de Libras, além do uso a difusão na comunidade escolar, que a educação disponibilize equipamentos, acesso as novas tecnologias, assim como materiais alternativos para um ensino de qualidade. Com esse olhar para educação inclusiva, precisamente para educação de surdos, resulta em uma nova concepção sobre o papel do professor através de 71 mecanismos que auxiliem no processo ensino-aprendizagem, promover a socialização e a interação do conhecimento no ambiente escolar. A metodologia aplicada à educação de surdos tem como contexto à educação bilíngue, e quanto mais cedo o surdo tiver contato com a língua de sinais mais rápida desenvolve a comunicação, sabemos que vai depender da família, da escola, ou seja, o lugar que está inserido. O contexto bilíngue da criança surda configura-se diante da coexistência da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa. No cenário nacional, não basta simplesmente decidir se uma ou outra língua passará a fazer ou não parte do programa escolar, mas sim tornar possível a coexistência dessas línguas, reconhecendo-as de fato, atentando-se para as diferentes funções que apresentam no dia-a-dia da pessoa surda que está se formando. (QUADROS, 2007, p.13) Para entender a Libras e a pessoa surda, é preciso consciência de que esse aluno pertence a uma minoria linguística, que se desenvolve por meio da vivência com os falantes da mesma língua, no caso da língua de sinais, com pessoas surdas. Ainda encontramos barreiras no âmbito educacional, ainda perdura a forma de “empurrar com a barriga”, achando que o aluno com deficiência estando na escola ele já faça parte da inclusão, sabemos que não é dessa forma incluir. Devemos procurar meios para que a pessoa com necessidades específicas faça parte do grupo escolar de forma participativa. A inclusão de todos na escola independentemente do seu talento ou deficiência, reverte-se em benefícios para os alunos, para os professores e para a sociedade em geral. O contato das crianças entre si reforça atitudes positivas, ajudando-asa aprenderem a ser sensíveis, a compreender, respeitar, e crescer, convivendo com as diferenças e as semelhanças individuais entre seus pares. Todas as crianças, sem distinção, podem beneficiar-se das experiências obtidas no ambiente educacional (FERREIRA, 2005, p. 124). Lutar por uma escola inclusiva, principalmente para surdos, tem que refletir a situação sociolinguística, a acessibilidade para os surdos, que não se garante apenas com o intérprete na sala de aula, a língua de sinais precisa está articulada com os conteúdos trabalhados durante o currículo escolar, trabalhar com projetos que ultrapasse as paredes da sala e envolva toda a comunidade escolar. 72 A língua de sinais inserida na comunidade ouvinte promove acessibilidade aos surdos, visto que os mesmos buscam soluções para lacunas de questões que são relevantes, seja em suas residências e no meio social como um todo, então, compartilhar informações se destaca como uma característica da cultura surda. “Para os surdos que vivem em um mundo ocupado basicamente por pessoas que ouvem, soluções são necessárias para viver de forma eficiente neste mundo”. (KARNOPP; e Et all, 2011, p.139). É importante compreender o que se considera como identidade surda, já que encontramos cinco tipos de classificação de identidade surda, cada uma está relacionada ao perfil do surdo, segundo Silva (2009) aponta que os estudiosos como Perlin, Skliar e Lunardi (1998) conceituam as identidades surdas a partir da heterogeneidade: a primeira é classificada por Identidade surda, esta pertence às pessoas que nascem surdas ou que se aceitam como são, e interagem através da língua de sinais; a segunda é Identidade surda híbrida, está relacionada à pessoa que nasce ouvinte, depois fica surda e aprende a língua de sinais; a terceira é a Identidade surda de transição, quando o surdo nasce em uma família de ouvintes e tem o contato tardio com a comunidade surda; a quarta é a Identidade surda incompleta, pois o surdo não convive com outros pares e tem preferência de ser chamado deficiente auditivo e a quinta é a Identidade surda flutuante, é caracterizada por uma dificuldade de comunicação seja pela língua oral ou visual, o surdo não se aceita como surdo e não pertence à comunidade ouvinte nem tampouco a comunidade surda. Através dessa classificação percebemos que a diversidade está relacionada aos discursos construídos quanto à natureza das relações sociais: O sujeito se constrói por meio da relação, no tempo e no espaço, com diferentes outros, emergindo e sendo revelado nas práticas discursivas. Reconstituindo o discurso [...] a identidade não é construída exclusivamente por uma língua, mas também pela língua que constrói nossa subjetividade. Não é a pessoa que escolhe sua identidade, ela é determinada pelas práticas discursivas, impregnadas por relações de poder simbólicas. (SILVA, 2009, p.27) A identidade surda está centralizada na apropriação da língua de sinais, então a busca pela identidade surda proporciona ao grupo uma valorização enquanto pessoas que lutam pelos seus ideais. 73 “A busca dessa identidade acaba por proporcionar ao surdo o sentimento de que ele pertence a determinado grupo, um grupo específico de surdos, e de que só por meio da língua de sinais é que o sujeito constituirá uma identidade, já que não é ouvinte”. (SILVA, 2009, p.25) A experiência visual proporciona ao sujeito surdo perceber o mundo de maneira diferente e assim reflete a sua subjetividade, emoções, histórias e cultura, portanto, sua arte explora sua criatividade a partir de um novo “olhar”. Uma educação voltada para estudantes surdos precisa considerar a língua de sinais como artefato cultural (objetos, tradições, valores, normas, produtos confeccionados) do povo surdo, pois são importantes para disseminação de sua cultura. Para Strobel (2008) são em número de oito os Artefatos Culturais: experiência visual, linguística, familiar, literatura surda, vida social e esportiva, artes visuais, política e materiais, portanto o sujeito produz seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o que lhe cerca. Vale ressaltar que não é apenas obrigatoriedade do professor conhecer a Libras e promover acessibilidade ao surdo, mas é preciso oferecer a formação a todos que fazem parte do cotidiano da escola, ou seja, todos os profissionais que atuam na instituição. [...] os educadores, professores e os auxiliares de ação educativa necessitam de formação específica que lhes permita perceber minimamente as problemáticas que seus alunos apresentam que tipo de estratégia deve ser consideradas para lhes dar resposta e que papel devem desempenhar as novas tecnologias nestes contextos. (CORREIA, 2008, p.28) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146/15 esclarece sobre acessibilidade, tecnologia assistiva, as barreiras: urbanistas, arquitetônicas, locomoção, atitudinais e de comunicação, esta legislação em seu art.28 fala sobre a oferta da educação bilíngue em escolas inclusivas ou bilíngues. Então, não há o que questionar, mas praticar as ações afirmativas de reconhecimento da língua de sinais no processo educativo. 74 3- REFERENCIAIS TEÓRICOS 3.1. O SURDO E A LIBRAS: no contexto da aprendizagem. Fernandes ressalta a importância da língua tanto para os indivíduos ouvintes quanto para os surdos: [...] a partir do momento em que a língua passa a fazer parte do universo linguístico de representações de um indivíduo (primeiros anos de vida), linguagem e pensamento interagem num processo de interpretação significativa de seu universo conceitual. O individuo passa a perceber o mundo usando a palavra como símbolo representativo desse universo e a língua passam a fazer parte intrínseca de seus mecanismos mentais. (FERNANDES, 2006, p. 21). A língua de sinais apresenta-se na modalidade sinalizada diferentemente da língua oral, não subtraindo o caráter e validade linguísticos, apresentando sintaxe, gramática e semântica completas. Quadros pontua diferenças entre as duas línguas e suas respectivas modalidades: São sistemas linguísticos independentes dos sistemas das línguas orais, desmistificando a concepção “e”. São línguas naturais que se desenvolvem no meio em que vive a comunidade surda. As pessoas surdas de uma determinada região encontram-se e comunicam-se através de uma língua de sinais de forma análoga a qualquer outro grupo sociocultural que utiliza a língua falada. (QUADROS, 2007, p. 46-47). A LIBRAS, enquanto língua possibilita a estruturação e expressão do pensamento, Quadros ressalta o papel da Libras para os surdos, pois: A voz dos surdos são as mãos e o corpo que pensam, sonham e expressam. As línguas de sinais envolvem movimentos que podem parecer sem sentido para muitos, mas que significam a possibilidade de organizar as ideias, estruturar o pensamento e manifestar o significado da vida para os surdos. Pensar sobre a surdez requer penetrar no 'mundo dos surdos' e 'ouvir' as mãos que, com alguns movimentos, nos dizem o que fazer para tornar possível o contato entre os mundos envolvidos, requer conhecer a 'língua de sinais'. Permita-se 'ouvir' essas mãos, pois somente assim será possível mostrar aos surdos como eles podem 'ouvir' o silencio da palavra escrita. (QUADROS, 2007, p. 119). Assim, a Libras é entendida como língua natural, pois as crianças surdas adquirem-na de maneira espontânea, sem que haja treinamento ou ensino 75 específico. A língua favorece aos surdos a estruturação do pensamento, o acesso ao conhecimento de mundo, a aprendizagem dos conteúdos curriculares. A aprendizagem da língua de sinais deverá efetivar-se nos primeiros anos de vida, pois assim a língua poderá trazer benefícios tanto para os próprios surdos quanto para a dinâmica familiar e escolar. As pesquisas de Quadros (2007), com bebêssurdos que conviveram com a Libras desde o nascimento demonstram semelhanças no processo de aquisição de línguas dos bebês ouvintes. Entretanto, percebemos que a maioria dos estudantes que iniciam a escolarização no Ensino Fundamental está em processo inicial de aprendizagem da língua, neste sentido por falta do uso da língua de sinais no período adequado acaba comprometendo a aprendizagem sobremaneira. Portanto, a aprendizagem da língua está relacionada efetivamente com as condições linguísticas favoráveis o seu uso com usuários fluentes. Sacks (2010) explica a importância da aprendizagem da língua de sinais por crianças surdas nos primeiros anos de vida: As crianças surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Assim que a comunicação por sinais for aprendida, poderá ser considerada fluente aos três anos de idade. Não há indícios de que o uso de uma língua de sinais iniba a aquisição da fala. De fato, provavelmente ocorre o inverso. (SACKS, 2010, p. 38). Quadros (2007) ressalta algumas evidências relativas às pesquisas realizadas a partir da importância da língua de sinais para os surdos: A questão da língua implica reconhecimento do status da língua nos níveis linguísticos, cultural, social e político. No nível linguístico, temos investigações de várias línguas de sinais desde Stokoe, na década de 60, até o presente, oferecendo evidências que tais línguas apresentam todos os níveis de análise das teorias linguísticas. Atualmente, não há dúvidas em relação ao estatuto linguístico das línguas de sinais. Interessantemente, nos últimos anos, as pesquisas linguísticas estão atentas aos efeitos de modalidade das línguas para as teorias com o intuito de identificar não apenas o que era “igual” entre línguas faladas e línguas sinalizadas, mas também o que era “diferente” com o objetivo de enriquecer as teorias linguísticas atuais. (QUADROS, 2007, p. 195). Portanto, se as famílias recebessem orientações desde o nascimento a respeito da importância da LIBRAS no desenvolvimento linguístico, cognitivo e social dos seus filhos surdos haveria maior valorização e aceitação dessa língua por parte das famílias ouvintes. 76 Mas, muitas famílias não aceitam ou desconhecem a importância da Libras na vida de seus filhos surdos, tal situação acarreta uma comunicação rudimentar, fato esse que provoca um atraso considerável no desenvolvimento da língua desses surdos, isso porque muitos iniciam o contato com a Libras somente a partir da escolarização com professores e instrutores surdos. Quadros (2007) discorre a respeito dessa questão tão importante para a aprendizagem da Libras por crianças surdas: As crianças surdas, filhas de pais surdos, têm acesso á Libras porque as crianças usam a mesma língua que seus pais. Além disso, a Libras não é somente usada com a criança, os pais usam-na para se comunicarem entre eles e com amigos. Além disso, todos os estudos que foram apresentados sobre a aquisição de crianças surdas filhas de pais surdos evidenciam um processo análogo ao processo de aquisição em crianças ouvintes. Entretanto, com crianças surdas filhas de pais ouvintes a situação é completamente diferente. Mesmo quando os pais usam algum tipo de comunicação gestual, usam-na somente com a criança, pois é um sistema criado em função da criança nascida “deficiente”. (QUADROS, 1997, p. 80). Rangel e Stumpf (2012) reforçam essa questão da utilização da Libras tanto pela família quanto pelos professores que trabalham com os surdos nos primeiros anos de escolarização. Nesse contexto, a escola necessita trabalhar em conjunto objetivando fornecer condições linguísticas para que os estudantes surdos possam aprender a Libras não somente como forma de comunicação, mas também como forma de compreender os conteúdos curriculares. 3.1.1 Libras: Direito Linguístico O reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão dos surdos brasileiros através de Lei Federal nº 10.436/2002: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (LEI FEDERAL, nº 10.436 de 2002). 77 Decreto nº 5.626/2005 considera surdos os indivíduos que utilizam a Libras como forma de comunicação, Libras como disciplina obrigatória nos cursos de formação de professores, a formação de profissionais que trabalhem no ensino e tradução dessa língua em cursos de Letras-Libras e em cursos de especialização em Libras: Art. 2º Para os fins deste Decreto considera-se pessoa surda àquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Art. 3 o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - Escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - Escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio 78 ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. (DECRETO, 5.296, de 2 de dezembro de 2005). A diferença entre a língua oral e as de sinais está na modalidade de articulação, sendo que na primeira a modalidade praticada é oral-auditiva, pronunciada oralmente e, na segunda, apresenta-se visual-espacial, representada por sinais. Neste sentido, nas duas línguas encontramos presentes itens lexicais e todo aparato linguístico necessário para a efetivação da comunicação entre seus usuários. Os sinais são formados com base nas combinações de cinco parâmetros básicos que permitem a elaboração, compreensão, identificação e utilização dos conceitos: - configuração das mãos; - pontos de articulação; - movimento; - expressão facial e/ou corporal; - orientação. Por exemplo, o sinal desculpar é formado a partir das combinações dos seguintes parâmetros básicos: a)Configuração das mãos: Mão em Y. b) Ponto de articulação: queixo. c) Movimento: tocando o queixo. d) Expressão facial: arrependimento. e) Orientação: palma para trás. Ferreira (2010), em suas pesquisas a respeito da gramática da Libras, enfatiza: Todos os sinais que se incorporarem ao léxico utilizam os parâmetros considerados gramaticais e aceitos dentro dessa língua. Isso constitui um dos aspectos que confirmam que a Libras é um sistema linguístico que constrói a partir de regras, distanciando-a dos gestos naturais e das mímicas que não possuam restrições para a articulação. Mesmo os sinais com interferência da língua oral, a serem incorporados à língua de sinais, obedecem às regras e restrições de sua estrutura. Por exemplo, VOVÔ pode ser soletrado através do alfabeto manual, mas, obedecendo ao ritmo e à economia temporal que se constituem em restrições desta língua de sinais, realiza-se rapidamente com a mão parcialmente fechada, palma para frente, levantando e abaixando os dedos indicador e médio, mas sem chegar a estendê-los. (FERREIRA, 2010, p. 36). A Libras, tanto quanto as outras línguas apresentam estrutura e regras gramaticais próprias. A sintaxe da Libras é composta pela seguinte ordem básica: sujeito(S), verbo(V) e objeto(O), e que também ocorre uma topicalização ou tópico- 79 comentário, ou melhor, quando a distribuição dos elementos da frase sem seguir a ordem SVO. 2.1.2 AQUISIÇÃO DA LIBRAS a) Estágios Quadros (2007, p. 70-79), explica que o processo de aquisição da língua de sinais por crianças surdas acontece em fases e períodos como em crianças ouvintes. Sendo assim, crianças surdas também adquirem a língua aproximadamente até o terceiro ano de vida, tal quais as ouvintes. Neste sentido, classifica que a aquisição da Libras ocorre em quatro estágios: pré-linguístico, estágio de um sinal, estágio das primeiras combinações e estágio das múltiplas combinações. Pré- Linguístico (do nascimento até aproximadamente quatorze meses) Para Quadros (2007, p. 70-71), inicialmente as crianças surdas e ouvintes passam pelas mesmas características, ou seja, é a fase do balbucio, entretanto, começam a diferenciar se quando sentem a falta do estímulo auditivo, e as crianças ouvintes começam a repetir sons que ouvem. A autora ressalta que os bebês surdos aos poucos deixam “o balbucio oral” e os bebês ouvintes abandonam “o balbucio manual”. Os bebês surdos desenvolvem o que denominamos de balbucio manual, ou seja, são gestos espontâneos e o uso do apontamento dos objetos, tanto os bebês surdos quanto os bebês ouvintes desenvolvem o balbucio oral e manual. Karnopp esclarece (1999, p. 28), "o bebê ouvinte tem a capacidade linguística em oral auditiva pela fala, e o surdo na capacidade espaço visual pelos gestos". E em (KARNOPP, 1999, p. 30), "o bebê surdo, com a atenção visual voltada para a face do interlocutor, capta indícios sutis no rosto, que lhe servirão para atribuir significados aos sinais de sua língua". A mesma autora também pesquisou sobre os três aspectos do desenvolvimento infantil, sendo primeiramente a questão da percepção visual, seguindo da produção manual e também a importância do input visual. b) Estágio de Um Sinal (doze meses até aproximadamente 2 anos) 80 Para Quadros (2007, p. 71), é o período que as crianças deixam de somente apontar para os objetos e pessoas, a fase da "apontação" puramente gestual típica do estágio pré-linguístico para começar a entendê-la enquanto um elemento eminentemente linguístico, próprio da língua de sinais. c) Estágio das Primeiras Combinações (inicia aproximadamente aos dois anos até dois anos e meio) No estágio das primeiras combinações inicia a questão do estabelecimento da ordem das palavras, sendo utilizadas as relações gramaticais. Quadros e Schmiedt explicam a respeito desse estágio: A língua de sinais vai ser adquirida por crianças surdas que tiverem a experiência de interagir com usuários de língua de sinais. Se isso acontecer, por volta dos dois anos de idade, as crianças estarão produzindo sinais usando um número restrito de configurações de mão [...]. As crianças nesta fase começam a marcar sentenças interrogativas com expressões faciais concomitantes com o uso de sinais [...]. Nesse período, também é verificado o início do uso da negação não manual através do movimento da cabeça para negar, bem como o uso de marcação não manual para confirmar expressões comuns na produção do adulto. (QUADROS, 2007, p. 20). d) Estágio das Múltiplas Combinações (a partir dos dois anos e meio a três anos) Karnopp (1999, p.30) explica que, no estágio das múltiplas combinações, as crianças surdas podem utilizar os mesmos “erros gramaticais na língua de sinais” que as crianças ouvintes na língua oral. Quadros e Schmiedt ressaltam os principais avanços desse estágio: A partir desse período, elas começam a combinar unidades de significado menores para formar novas palavras de forma consistente [...] Nesse período, as expressões faciais são usadas de acordo com a estrutura produzida, isto é, as produções não manuais das interrogativas, das topicalizações e negações são produzidas corretamente [...]. Aos poucos, torna-se mais claro o uso da direção dos olhos para concordância com os argumentos, bem como o jogo de papéis desempenhados através da posição do corpo. (QUADROS, 2007, p. 22). Embasado nas pesquisas de Quadros e Schmiedt (2006, p. 19-24), fica evidente que a surdez não impede a aquisição da língua ou a comunicação e 81 aprendizagem, mas evidenciam a importância de um trabalho contínuo de exposição a Libras desde os primeiros meses de vida. De acordo com Quadros e Schmiedt (2006, p. 20), "95% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes e, portanto, na maioria dos casos, estes não dominam uma língua de sinais". A prática escolar aponta para uma triste estatística, a de que a maioria dos alunos surdos matriculados no ensino fundamental iniciam os primeiros contatos com a Libras, sua L1, somente no período escolar, o que acarreta muitas dificuldades e atrasos na aprendizagem desses. Neste contexto linguístico, é imprescindível que os professores estudem e pesquisem sobre a aprendizagem da Libras em relação aos alunos surdos, para que possam iniciar um trabalho conciso e permanente em relação à língua de sinais. Rinaldi (1997, p. 27), destaca que o objetivo da escola é "propiciar às crianças surdas o desenvolvimento espontâneo da língua de sinais como forma de expressão linguística, de comunicação interpessoal e como suporte do pensamento e do desenvolvimento cognitivo, mas, para tanto, o professor deve estar apto”. 82 4 DESENVOLVIMENTO 4.1 REGÊNCIA Em 2020, com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia do COVID-19, o cenário extraordinário de isolamento social trouxe para o mundo a necessidade de adotar medidas excepcionais. Tendo em mente a necessidade da continuidade aos estudos, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) elaborou o Regime de Estudo Não Presencial para os alunos da rede estadual de ensino. Instituído pela Resolução SEE nº 4310, de 17 de abril de 2020, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais, constitui-se de procedimentos específicos, meios e formas de organização das atividades escolares obrigatórias destinadas ao cumprimento das horas letivas legalmente estabelecidas, à garantia das aprendizagens dos estudantes e ao cumprimento das Propostas Pedagógicas, durante o período de suspensão das atividades escolares presenciais. Desta forma, a regência será através de vídeo aulas, com os conteúdos direcionados aos alunos, de acordo com planejamento Letras/Libras para L1 e para L2. Com a problemática de ensino durante a pandemia houve uma adesão imediata às tecnologias:os professores deveriam produzir e editar vídeos, realizar reuniões online e avaliações à distância, aderir aos programas televisivos com aulas gravadas e disponibilizar materiais impressos. Aos/Às alunos/as, cabia acompanhar o fluxo de informações, participar de atividades simultâneas ou não, acessar via tecnologias um conhecimento que estava ali, disponível para ser recebido e aprendido. No fundo dessa proposta, na opacidade do não dito, estava uma ideia de escola como um repositório de conhecimento e a relação entre professores/as e alunos/as como um processo linear, destituído de afeto, sociabilidade e interação. O surdo no contexto das aulas online somente aprenderá a língua portuguesa, se submetido a um processo formal de aprendizagem, com metodologia específica e professores especializados para esse fim. Assim, ensinar ao surdo a L1, significa, em primeiro lugar, entender que o impedimento auditivo lhe traz novas possibilidades de conhecimento, baseando-se em experiências visuais do que em experiências auditivas. Se há pouca ou nenhuma audição, a visão por sua vez será 83 o sentido mais importante para a aprendizagem da L2 pelo surdo. Nesse sentido, ninguém tem o direito de impedi-lo de se comunicar por outras vias, embora esta não seja a utilizada convencionalmente. Negar ao surdo este direito é negar-lhe o direito de aprender e de se desenvolver. 4.1.1 RELATO DA REGÊNCIA DO ESTAGIÁRIO EM L2 No processo de aquisição da L2 pelo surdo, é fundamental e mais que necessário o interesse/motivação do professor para ensinar a escrita da Língua Portuguesa para o aprendiz surdo, as estratégias de aprendizagem com adaptações necessárias e o ensino bilíngue. E por meio da Língua de Sinais o surdo estabelece relações com outros da comunidade surda e através dela, permitir um processo mental para que haja a aquisição da L2. O processo educativo do surdo vem ocupando um espaço nas interações sociais, assim quando realizadas tais interações favorecem e muito, ao ensino- aprendizagem da L2 pelo surdo, pois a ausência de linguagem oral demonstra-se o seu maior obstáculo para seu ingresso à rede regular de ensino. As aulas de Língua portuguesa para os alunos surdos ocorreram de forma online, com vídeo aulas gravadas ou transmitidas pelo Google Meet, seguindo as determinações da SEE do Estado de Minas gerais. Os conteúdos lecionados foram diversificados e atenderam o planejamento de cada disciplina. O aprendizado da Língua Portuguesa do surdo se esbarra em quatro barreiras: a primeira consiste em que o aprendizado da L2 pelo surdo irá se processar como o ensino de uma língua estrangeira, pois os surdos ao adquirem uma segunda língua na qual sua estruturação gramatical seja diferente de sua língua materna, terá que aprendê-la de forma artificial, pois os componentes estruturais da Língua Portuguesa difere de sua língua-base: a Língua de Sinais. A segunda barreira diz respeito às diferenças quanto à organização dos níveis linguísticos de ordem morfológica, fonológica, sintática e semântica da Língua Oral e da Língua de Sinais. A terceira consiste no fato de que o surdo irá aprender a L2 levando consigo toda a estrutura da Língua de Sinais- L1. Porém, muitas vezes, a influência da L1 sobre a L2 não chega a ocorrer porque muitos surdos não dominam 84 nem a sua própria língua, sendo este outro obstáculo à aprendizagem da L2 pelo mesmo. A regência foi uma experiência muito importante para mim, que acrescentou novas visões quanto ao trabalho docente, às dificuldades, e os caminhos a serem tomados, bem como a importância do planejamento para a regência. O estágio como experiência foi uma oportunidade de aprofundar os conhecimentos e a capacidade criativa na resolução dos impasses encontrados durante esse período. É claro que o estágio não foi perfeito, devido a nossa crise sanitária atual e ao isolamento social, mas estas experiência e aprendizagens também fazem parte do processo de aprendizagem, aonde vimos à importância das tecnologias, da comunicação social, e do valor ao próximo. Realizei durante o estagio e na construção deste relatório uma reflexão do que vivenciei durante o mesmo, percebi então o quanto foi válido e produtivo, onde adquiri experiência e superei problemas de percurso, tais como: a insegurança frente a esse desafio, tempo entre as atividades, adaptações nos conteúdos, etc. Contudo, não tive maiores problemas, a professora regente contribuiu muito para o meu estágio, por conhecer a escola e seu contexto, todos os funcionários me ajudaram muito desde os primeiros estágios cumpridos na escola. Adquirir novos conhecimentos dentro desse novo contexto, e vejo que a educação é algo vivo, palpitante e também em constante mudança e evolução. Percebe-se também a grande responsabilidade que tem um professor. 85 4.1.2 PLANOS DE AULA EM L2 PLANOS DE AULA Turma: 5 ª ano do Ensino Fundamental 20 horas/ aulas Aula 01 Estágio: L2 Tema: A História dos Surdos Objetivo: Apresentar a história dos surdos e sua cultura a fim de compreender a importância da Libras para inserção do surdo na sociedade e respeito a sua língua L1; desenvolvendo o espírito de cidadania e respeito aos surdos. Conteúdo: A história dos surdos e cultura surda, desde as suas conquistas até os dias atuais. Procedimentos: A aula terá dois momentos: 1ª etapa: Apresentação da história dos surdos no Brasil e também a sua cultura , mostrando importância da L1 para desenvolvimento dos alunos surdos , através de aulas com dinâmicas. Apresentar os sinais mais utilizados no ambiente escolar com oficinas temáticas para que os alunos venha a conhecer alguns sinais da Libras. 2ª etapa: Participação dos alunos nas dinâmicas , verificação do aprendizado e desenvoltura dos alunos ao realizar os sinais ensinados e conhecimento da cultura do indivíduo surdo e como o surdo vê o mundo dentro da sua cultura. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação se dará no desenvolvimento, interesse e desenvoltura nas dinâmicas propostas a cada aluno a partir do que foi ensinado nas aulas, como os sinais do ambiente escolar, história dos surdos e sua cultura. 86 Aula 02 Estágio: L2 Tema: Os animais Objetivo: -Estimular o uso da lingua de sinais; -Reconhecer os sinais dos animais; Conteúdo: Os animais: diversidades Procedimentos: -Mostrar um vídeo, onde contém animais que serão trabalhados nesta aula. - Levar animais em material de plástico ou borracha, e proporcionar o contato do mesmo pelos alunos. Neste momento o professor irá mostrar o sinal de cada animal, e pedir que o aluno faça o mesmo.. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: Os alunos serão avaliados através de seu desempenho no uso da lingua de sinais e também de acordo com a assimilação, em relação ao sinal e o animal proposto. 87 Aula 03 Estágio: L2 Tema: Aprendendo os sinais das cores Objetivo: -Trabalhar os sinais das cores -Assistir a um vídeo onde é apresentado as cores em Libras. Conteúdo: As cores Procedimentos: - Os alunos assistirão um vídeo no YOUTUBE, das cores em LIBRAS. - Irão trabalhar com os jogos interativos, dinâmicas e com cartazes e jogos de encaixe. - Deverão ser capazes de identificar todos os sinais das cores em Libras ao final da aula. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentaçãodo produto final, no pátio da escola, apresentando as cores em LIBRAS e fazendo os sinais em Libras como foi ensinado nas aulas. 88 Aula 04 Estágio: L2 Tema: Ensinando Libras para ouvintes e surdos Objetivo: -Trabalhar o alfabeto móvel em LIBRAS, através de jogos; visualização em cartazes em EVA; jogo de memória, dominó; encaixe, etc. -Assistir a um vídeo onde é apresentado o alfabeto em Libras no Youtube Conteúdo: Alfabeto em LIBRAS. Procedimentos: - Os alunos assistirão a um vídeo no Youtube, do alfabeto em LIBRAS. - Irão trabalhar com os jogos interativos do alfabeto de Libras. E com cartazes e jogos de encaixe. - Deverão ser capazes de identificar todos os sinais do alfabeto em Libras ao final da aula. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final, no pátio da escola, apresentando o alfabeto em LIBRAS e fazendo os sinais em Libras. 89 Aula 05 Estágio: L2 Tema: Material escolar Objetivo: -Trabalhar os sinais do ambiente escolar, tanto como o espaço como os objetos. Conteúdo: Objetos do ambiente escolar Procedimentos: - Os sinais dos materiais escolares serão apresentados e ensinados aos alunos diante do ambiente escolar, abordando sinais do local em que estão; - Irão trabalhar com os jogos interativos, diálogos para que possam memorizar os sinais. - Deverão ser capazes de identificar os sinais do ambiente ao final da aula. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, lapis, canetas ,espaço escolar reservado para explorar. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final, apresentando o alfabeto em LIBRAS e fazendo os sinais. 90 Aula 06 Estágio: L2 Tema: Os numerais Objetivo: -Estimular o uso da lingua de sinais; -Reconhecer os sinais dos numerais e a diferença dos sinais dos numeros ordinais e cardinais; Conteúdo: Os numeros ordinais e cardinais Procedimentos: -Ensinar aos alunos os numerais, sinalizando e os alunos repetindo os mesmos - Apresentar as diferenças dos numerais quando se tratar de quantidade ou ordem. Neste momento o professor irá mostrar o sinal e pedir que os alunos façam o mesmo. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: Os alunos serão avaliados através de seu desempenho no uso da lingua de sinais e também de acordo com a assimilação dos sinais dos numerais usados corretamente. 91 Aula 07 Estágio: L2 Tema: os personagens turma da Mônica. Objetivo: -Trabalhar os sinais dos personagens principais, principalmente as que são utilizadas pelos alunos, a fim de despertarem neles, um interesse maior por serem sinais relacionados ao cotidiano desses alunos. -Assistir a um vídeo ensinando os respectivos sinais, posteriormente treinar com os alunos os sinais apresentados. Conteúdo: pronunciamentos, jornais, revistas, cinema, televisão, rádio, sítios, CDs, DVDs, videocassetes; facebook, youtube, whatsapp, Messenger, instagram entre outros meios de comunicação. Procedimentos: - Os alunos assistirão a um vídeo que ensino os sinais dos personagens. - Irão trabalhar através de diálogos elaborados por eles mesmos, contendo sinais aprendidos no vídeo anterior e assim verificar que eles são capazes de identificar todos os sinais ao final da aula. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final, a partir da desenvoltura e afinidade dos alunos nos dialogos. 92 Aula 08 Estágio: L2 Tema: Alfabeto com música Objetivo: -Trabalhar o alfabeto com música e fixar aprendizado através de jogos; visualização em cartazes; jogo de memória, dominó; jogos de encaixe, etc. -Assistir a um vídeo onde é apresentado a musica “alfabeto da Xuxa” Conteúdo: Alfabeto da Xuxa Procedimentos: - Os alunos assistirão a um vídeo no Youtube contendo os Sinais necessários para interpretarem a música. - Irão trabalhar com os jogos interativos com figuras para os alunos sinalizar como foi apresentado no vídeo, com cartazes e jogos de encaixe. - Deverão ser capazes de identificar os sinais apresentados ao final da aula. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final. O aluno será avaliado a partir de sua desenvoltura nas dinâmicas . 93 Aula 09 Estágio: L2 Tema: Os sinais dos sentimentos Objetivo: -Trabalhar o alfabeto os respectivos sinais dos sentimentos, através de jogos; visualização em cartazes, jogo da memória, dominó; encaixe, etc. -Assistir a um vídeo ensinando os sinais dos sentimentos como, alegria tristeza, ódio, angústia amor, carinho, etc. Conteúdo: Os sentimentos e as expressões faciais. Procedimentos: - Os alunos assistirão a um vídeo em que apresenta os sinais em LIBRAS, atentando-se principalmente para as expressões faciais. - Trabalhar os sinais, treinando a partir dos jogos interativos, imagens para melhor memorização dos sinais, com cartazes e jogos de encaixe. - Os alunos irão fazer os sinais utilizando-os em diálogos. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final. O aluno será avaliado a partir de sua desenvoltura nas dinâmicas. 94 Aula 10 Estágio: L2 Tema: Os dias da semana Objetivo: -Trabalhar Os sinais dos dias da semana; fazendo a exposição através de jogo de memória, dominó; etc. -Assistir a um vídeo onde são apresentados os sinais - Treinar com os alunos os sinais dos dias da semana, datas especiais, aniversários e meses do ano. Conteúdo: -Dias da semana - Datas comemorativas Procedimentos: - Os alunos assistirão a um vídeo para aprender os sinais, os mesmos irão sinalizar juntamente com o professor. - Irão trabalhar com os jogos interativos, imagens, com cartazes e jogos de encaixe e diálogos elaborados, utilizando os sinais. - treinar os sinais ensinados junto com o professor. Recursos Utilizados: Data show, computador com internet, quadro , giz, jogos e espaço escolar reservado para dinâmicas. Avaliação: A avaliação será feita através da participação real e interesse de todos os alunos em todas as atividades propostas e do seu envolvimento na apresentação do produto final. O aluno será avaliado a partir de sua desenvoltura nas dinâmicas . 4.1.3 RELATO DA REGÊNCIA DO ESTAGIÁRIO EM L1 A aula é um evento que se constrói por uma metodologia. O significado de uma aula, aquilo que o aluno leva consigo para a vida, advém do método que define o evento, não somente em sua ordenação, mas principalmente enquanto realização 95 potencial para o conhecer. Os
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