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ESTATUTO-DO-IDOSO - LIVRO

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ESTATUTO DO IDOSO 
 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
Sumário 
Unidade 1: Direitos do Idoso ................................................................................... 4 
Seção 1.1: Garantias Constitucionais e Infraconstitucionais ................................... 4 
Seção 1.2: Garantias Infraconstitucionais: Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003
 ............................................................................................................................... 5 
Seção 1.3: O Código Civil de 2002 e as pessoas com idade igual ou superior a 60 
anos ....................................................................................................................... 7 
Unidade 2: Princípios Constitucionais ................................................................. 10 
Seção 2.1: Princípios Constitucionais norteadores da proteção outorgada ao idoso
 ............................................................................................................................. 10 
Unidade 3: O Estatuto do Idoso ............................................................................ 13 
Seção 3.1 Panorama geral do Estatuto do Idoso e a justiça ................................. 13 
Seção 3.2: O Estatuto do Idoso e os direitos fundamentais .................................. 17 
Seção 3.3: As finalidades do Estatuto do Idoso no Brasil ..................................... 24 
Seção 3.4: O Conceito de Cidadania: Status de cidadão...................................... 25 
Seção 3.5: Crimes cometidos contra idosos previsto no estatuto ......................... 27 
Unidade 4: O acesso à Justiça .............................................................................. 30 
Seção 4.1: O acesso à justiça e a (in)eficácia do Estatuto do Idoso ..................... 30 
Seção 4.2: Outras considerações sobre o Acesso à Justiça ................................. 39 
Unidade 5: A inclusão social de idosos ............................................................... 42 
Seção 5.1: A inclusão social de idosos na sociedade contemporânea ................. 42 
Seção 5.2: O Assistente Social e a atenção à população idosa ........................... 43 
Seção 5.3: A assistência a grupos particulares, incluindo os idosos ..................... 47 
Seção 5.4: Serviços e benefícios assistenciais ..................................................... 48 
Referências............................................................................................................. 51 
 
 
4 
 
 
 
Unidade 1: Direitos do Idoso 
 
Seção 1.1: Garantias Constitucionais e Infraconstitucionais 
 
A proteção as pessoas idosas tem suas raízes na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948, a qual, expressamente, determina a igualdade de todos 
sem nenhuma distinção perante a mesma (art. I) e no art. XXV, 1, prevê: “Toda pessoa 
tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem 
estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços so-
ciais indispensáveis, o direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invali-
dez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circuns-
tâncias fora de seu controle”. 
Nesse mesmo sentido isonômico a CF/1988, entre outros, no art. 5º, “caput”, 
proclama a igualdade de todos perante a lei e a inviolabilidade dentre outros do direito 
à vida, à liberdade e à segurança; no inciso X, prevê a inviolabilidade da honra e da 
imagem, também do idoso e no inciso XXXV, garante ao idoso recorrer ao Poder Ju-
diciário, na hipótese de qualquer lesão ou ameaça a seu direito. 
Ainda, nossa Carta Magna, no Título VIII, Capítulo VII, que trata especifica-
mente da família, criança e adolescente, jovem e idoso, em seu art. 229 prevê a reci-
procidade de direitos e deveres entre pais e filhos, ao determinar: “Os pais têm o dever 
de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar 
e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Em seguida o art. 230 da 
Carta Magna, impõe também à família, à sociedade e ao Estado o dever de amparar 
as pessoas idosas; assegurando-lhes participação na comunidade; defendendo sua 
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. Além disso, o mesmo dispo-
sitivo constitucional determina que os "programas de amparo aos idosos serão exe-
cutados preferencialmente em seus lares" e que às pessoas maiores de 65 anos "é 
garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos" (art. 230, §§ 1º e 2º, da 
CF/1988). 
Além dos citados dispositivos constitucionais, outros que regulamentam a ma-
téria sobre o idoso, serão citados quando for analisada a Lei n. 10.741/2003, em razão 
da reprodução de alguns dos artigos da CF/1988, por essa lei. 
5 
 
 
 
Seção 1.2: Garantias Infraconstitucionais: Lei n. 10.741, de 1º de outubro 
de 2003 
 
A Lei n. 10.741/2003 é o principal instrumento legislativo infraconstitucional, 
que regulamenta a situação jurídica das pessoas idosas. Isso ocorre, entre outras 
razões, porque essa lei agasalha várias circunstâncias que envolvem esses cidadãos; 
tutela os direitos próprios e inerentes a essas pessoas em consonância com a 
CF/1988; abarca princípios essenciais de outros instrumentos como os da Lei n. 
8.842, de 04 de janeiro de 1994 e altera outros diplomas legais. 
Além dos direitos fundamentais, que serão analisados posteriormente, a Lei n. 
10.741/2003 dispõe sobre as medidas de proteção tanto gerais como específicas, as 
quais visam à segurança física, social, psíquica do idoso; à política de atendimento ao 
idoso, desenvolvida por meio de ações governamentais e não governamentais; ao 
acesso à justiça quando necessitam “reivindicar seus direitos e/ou resolver seus lití-
gios sob os auspícios do Estado” (CAPPELLETTI, 1988, p. 8 e 31) e os crimes prati-
cados contra a pessoa idosa. 
Em suas disposições finais e transitórias (art. 110), a legislação especial, mo-
dificou, alterou ou deu nova redação a vários artigos do Código Penal brasileiro, tais 
como: o art. 61, II, h, inclui entre as circunstancias agravantes o fato de o crime ser 
praticado contra o idoso; o art. 121, § 4º, determina o aumento da pena em casos de 
homicídio doloso contra pessoa maior de 60 anos; o art. 140, §, 3º, também prevê que 
injúria consiste na utilização de elementos referentes à condição de pessoa idosa e 
ao art. 133, § 3º, foi acrescentado o inciso III, para determinar que o crime de aban-
dono de incapaz sofrerá aumento da pena se a vítima for maior de 60 anos. 
Ainda, no mesmo diploma penal, ao caput do art. 244, foi dada nova redação, 
para determinar que deixar, sem justa causa, de prover a subsistência, entre outros 
do maior de 60 anos, não proporcionandoos recursos necessários ou faltando ao 
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada, cons-
titui crime de abandono material. Observa-se em todos os dispositivos penais acima 
elencados que as modificações vieram sempre com o propósito de aumentar a pena 
cominada aos crimes em que os idosos figuram como vítimas. 
6 
 
 
A mesma Lei n. 10.741/2003, respectivamente nos arts. 111, 112 e 113, acres-
centou o parágrafo único ao art. 21, do Decreto-Lei n. 3.688/1941, a fim de aumentar 
a pena se as vias de fato forem praticadas contra vítima maior de 60 anos e deu nova 
redação ao inciso II do § 4o do art. 1o da Lei n. 9.455/1997, para estabelecer que no 
caso de crime de tortura, a pena será aumentada, entre outros casos, se o crime é 
cometido também contra maior de 60 anos e ao art. 1º da Lei n. 10.048/2000, para 
instituir que entre as pessoas que gozam de atendimento prioritário figuram as pes-
soas com idade igual ou superior a 60 anos. 
O Estatuto aplica-se subsidiariamente nas ações judiciais decorrentes da prá-
tica de violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 13 da Lei n. 11.340/2006). 
Portanto, “quando a vítima de violência doméstica contar com mais de 60 anos, não 
há como aplicar a Lei dos Juizados Especiais” (DIAS, 2007, p. 415). 
Importante contribuição foi trazida pela Lei n. 8.842/1994, a qual dispôs sobre 
a Política Nacional do Idoso e criou o Conselho Nacional do Idoso. Pereira (2010, p. 
49) aponta que essa lei, ao propor a implantação da Política Nacional, assegura ao 
idoso seus direitos sociais, cria condições para promover sua integração e facilita sua 
efetiva participação na sociedade. Ainda, segundo o autor, diversos “diplomas legais 
foram implantados em todos os âmbitos, sobretudo nos municípios, onde a cada dia 
são sancionadas leis de proteção desta parcela da população” (PEREIRA, 2010, 49-
50). Alguns artigos da Lei n. 8.842/1994 serão investigados no momento em que forem 
analisados os direitos fundamentais expressos na Lei n. 10.741/2003, em razão da 
reprodução dos artigos daquela lei por essa. 
Finalmente, sobre a legislação infraconstitucional é pertinente comentar que 
resguardadas as diferenças previstas no Estatuto do Idoso e no Estatuto da Criança 
e do Adolescente (Lei. n. 8.069, de 13 de julho de 1990), inerentes aos mais velhos e 
aos mais jovens, nota-se que há certa semelhança entre os respectivos Estatutos. 
Isso ocorre em razão da diferenciada proteção integral tutelada por ambos, cujas ori-
gens, na época contemporânea, estão na Declaração Universal dos Direitos Humanos 
de 1948 e na CF/1988; tanto os mais novos como os mais velhos são carecedores de 
cuidados especiais; os respectivos Estatutos identificam os direitos fundamentais 
tanto da criança e do adolescente como do idoso e impõem à família, à comunidade, 
à sociedade em geral e ao Poder Público o dever de assegurar aos respectivos bene-
ficiados esses direitos, além de estabelecerem sobre as medidas de proteção, o 
acesso à justiça e os crimes tanto os praticados contra a criança e o adolescente como 
7 
 
 
contra o adulto. Nesse diapasão orienta Dias (2007, p. 413): “crianças e idosos en-
contram-se em polos opostos do ciclo existencial, mas ambos, ainda que por motivos 
diversos, são merecedores de tutela diferenciada”. 
 
Seção 1.3: O Código Civil de 2002 e as pessoas com idade igual ou supe-
rior a 60 anos 
 
No Direito de Família, vários são os institutos que regulamentam situações nas 
quais estão envolvidas as pessoas idosas. Entre eles destacam-se os institutos do 
regime de separação legal ou obrigatória de bens no casamento; dos alimentos e da 
tutela e curatela, respectivamente previstos, entre outros, nos arts. 1.641, II, 1.694 e 
1.736, I, do Código Civil brasileiro (CC/2002). 
Sobre a imposição para as pessoas com mais de 70 anos –, antes da Lei n. 
12.344/2010, a idade prescrita era de 60 anos –, do casamento ser celebrado obriga-
toriamente sob o regime de separação de bens (art. 1.641, II do CC/2002), concorda-
mos com os autores abaixo, no sentido de que a norma é discriminatória e inconstitu-
cional, pois fere os consagrados princípios da dignidade da pessoa humana, da igual-
dade e da liberdade e o exercício da autonomia da vontade do nubente (TARTUCE e 
SIMÃO, 2012, p. 146; DINIZ, 2012, p. 209-210; DIAS, 2007, p. 416). 
Quanto à união estável, Tartuce e Simão (2012, p. 264) entendem que, apesar 
das controvérsias sobre o assunto, por ser norma restritiva da autonomia privada, a 
regra da imposição do regime de separação obrigatória no casamento não se aplica 
à união estável, mesmo se um ou ambos os conviventes tiverem idade igual ou supe-
rior a 70 anos. Portanto, quando essas pessoas iniciarem uma união estável, terão 
como regime a comunhão parcial (art. 1.725, CC/2002) e não a separação obrigatória, 
mas podem, mediante "contrato escrito, estabelecer o regi-me que lhes aprouver". 
Diniz (2012, p. 210), apesar de concordar que o nubente tem maturidade para 
tomar decisão sobre seus bens; ser capaz de exercer atos da vida civil e sofrer capitis 
diminutio imposta pelo Estado, parece reconhecer que ele se torna “mais vulnerável 
psicológica ou emocionalmente, podendo, por isso, ser alvo fácil do famoso chamado 
'golpe do baú”. 
Complementa Dias (2007, p. 417) lecionando que a "limitação à autonomia da 
vontade por implemento de determinada idade, além de odiosa é inconstitucional" e 
8 
 
 
que a capacidade plena da pessoa é adquirida com a maioridade, mas que ela só 
poderá ser afastada em situações extremas e através do rigoroso processo judicial de 
interdição (Código de Processo Civil 1.177 a 1.186). Gagliano e Pamplona Filho (2012, 
p. 329) também se mostram contra, comentando: "O que notamos é uma violência 
escancarada ao princípio da isonomia, por conta do estabelecimento de uma velada 
forma de interdição parcial do idoso". 
Apesar, dos entendimentos doutrinários, de forma quase unânimes, se posici-
onarem dessa forma, encontra-se quem defende ao contrário. Silva (2010, p. 292), 
coautora do memorável "Curso de Direito Civil" do Emérito Professor da Faculdade 
de Direito da USP, Washington de Barros Monteiro, comentando sobre a obrigatorie-
dade do regime da separação de bens prevista no art. 1.641, II do CC/2002, argu-
menta que, por prudência legislativa, no Brasil, nesses casos, o regime de separação 
de bens, "vigora a quase cem anos", com o escopo de proteger o cônjuge idoso e 
seus familiares de sangue e, lembra: 
[...] que o direito à liberdade, tutelado pela Lei Maior, em vários incisos de seu 
art. 5º, é o poder de fazer tudo o que se quer, nos limites resultantes do or-
denamento jurídico. Portanto, os limites à liberdade individual existem em vá-
rias regras desse ordenamento, especialmente no direito de família, que vão 
dos impedimentos matrimoniais (art. 1.521, I a VII), que vedam o casamento 
de certas pessoas, até a fidelidade, que limita a liberdade sexual fora do ca-
samento (art. 1.566, I) 
 
Quanto aos alimentos, o art. 1.694 do CC/2002 determina que os parentes, 
cônjuges ou companheiros têm o direito de exigir, uns dos outros, os alimentos ne-
cessários à própria subsistência a qual abrange os alimentos naturais e os civis ou 
côngruos (PEREIRA, 2010, p. 541). Na legislação ordinária a obrigação é subsidiária, 
ou seja, primeiro tal obrigação cabe aos parentes mais próximos, apesar de a solida-
riedade ocorrer entre todos os parentes. 
Dias (2007, p. 453) aponta que em razão de o legislador do Código Civil nunca 
ter declarado a natureza da obrigação alimentar e constar no art. 265 do mesmo di-
ploma que a solidariedade não se presume, devendo ser expressa pela lei ou pela 
vontade das partes, “pacificaram-se a doutrina e a jurisprudência entendendo que o 
dever de prestar alimentos não era solidário, mas subsidiário e de caráter complemen-
tar”. 
Quando a pessoa pleiteantede alimentos for considerada idosa perante a le-
gislação, a norma especial (Lei n. 10.741/2003) reforça a obrigação dos descendentes 
de prestar alimentos; estabelece, ainda, a existência de solidariedade, ou seja, o idoso 
9 
 
 
poderá optar entre os prestadores (art. 12). Quanto à obrigação do Estado, o Estatuto 
dispõe: 
Na ausência de condições do idoso bem como de seus familiares de lhe pro-
verem o sustento, a obrigação é imposta ao poder público, no âmbito da as-
sistência social (EI 14). Trata-se do dever de amparo, nada mais do que a 
obrigação do Estado de lhe prestar alimentos. Aliás, o valor dos alimentos – 
pelo menos a quem tem mais de 65 anos – está previamente definido: um 
salário mínimo mensal (EI 34) (DIAS, 2007, p. 415). 
 
Ainda, nos termos do atual Código Civil, as pessoas com mais de 60 anos po-
dem eximir-se de exercerem a tutela (art. 1.736, II). Quanto à possibilidade da recusa 
do exercício da curatela, Dias (2007, p. 418) orienta que ao idoso aproveita-se a es-
cusa da tutela porque o legislador determina que se aplicam a curatela as disposições 
concernentes a tutela. 
Comentando o fato de a norma prevista no art. 1.736, II, CC/2002 ser ou não 
discriminatória, como ocorre com a imposição do regime de separação obrigatória de 
bens ao maior de 70 anos (art. 1.641, II, CC/2002), Tartuce e Simão (2012, p. 503) 
consideram que a norma não é discriminatória e explicam que o primeiro caso “não é 
de incapacidade, mas de escusa, de um direito potestativo colocado a favor do idoso”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
Unidade 2: Princípios Constitucionais 
 
Seção 2.1: Princípios Constitucionais norteadores da proteção outorgada 
ao idoso 
 
Verifica-se da leitura do Estatuto do Idoso que há vários princípios que norteiam 
a proteção das pessoas por ele asseguradas. De forma não exaustiva tem-se os prin-
cípios da dignidade da pessoa humana; da solidariedade e da afetividade. 
O respeito à dignidade da pessoa humana consagrado pela CF/1988, art. 1º, 
III, como fundamento do Estado Democrático de Direito, desde o início da Era Cristã, 
vem exercendo grande influência sobre as relações intra e extrafamiliares (RI-VA, 
2012, p. 115). Como princípio, segundo Tartuce e Simão (2008, p. 26), ele tem grande 
ingerência e atuação no direito privado, sendo difícil conceituá-lo, “por tratar-se de 
uma cláusula geral, de um conceito legal indeterminado, com variantes de interpreta-
ções”. 
Pereira apud Riva (2012, p. 115) afirma o princípio da dignidade da pessoa 
humana como “uma coleção de princípios éticos”; assegura que hoje ele é um dos 
esteios que sustenta os ordenamentos jurídicos contemporâneos, sendo impossível 
“pensar em direitos desatrelados da ideia e conceito de dignidade”, e que a “dignidade 
é um macroprincípio sob o qual irradiam e estão contidos outros princípios e valores 
essenciais como a liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade, alteridade e 
solidariedade”. 
O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, segundo Diniz (2009, 
p. 23) constitui a base da comunidade familiar (biológica ou socioafetiva) e tem “por 
parâmetro a afetividade, o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus 
membros”. A CF/1988, ao elevar a dignidade da pessoa humana como valor e princí-
pio máximo do ordenamento jurídico brasileiro, estabelece que todos os demais prin-
cípios deverão ser compatibilizados com esse (RIVA, 2012, p. 115). 
Sobre o princípio da dignidade da pessoa humana, virtude que só ao homem é 
facultada, é possível afirmar, ao mesmo tempo, que na prática e com o propósito de 
facilitar a vida das pessoas ele: 1) sustenta a norma de conduta de um para com o 
outro e vice-versa; 2) norteia o comportamento entre os membros que compõem a 
11 
 
 
unidade familiar; 3) faculta, a cada um, uma existência digna, honesta, honrada, res-
peitosa e responsável; 4) garante o exercício de direitos, o cumprimento de deveres 
e a proteção de interesses; e 5) contém a 'velha' ideia de relação, fundada na solida-
riedade, da qual se irradiam direitos e deveres recíprocos (Riva, 2012, p. 115). 
As relações sociais solidárias, elevadas à categoria de princípio jurídico pela 
Carta Magna em seus arts. 3º, I, e 229, estão fundamentadas na solidariedade hu-
mana como uma “necessidade natural e um dever moral de todos os seres humanos”, 
que se satisfaz na convivência com outras pessoas (DALLARI, 2006, p. 39). 
O princípio da solidariedade familiar está previsto na responsabilidade impu-
tada à família, à sociedade e ao Estado diante dos cuidados e assistências especiais 
que devem ser dispensados ao idoso. Na ótica civil, de acordo com Dias (2007, p. 63, 
negrito da autora), o princípio da solidariedade familiar, “que tem origem nos vínculos 
afetivos, dispõe de conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o próprio signifi-
cado da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade e a reciprocidade” 
(destaques no original). 
Tartuce e Simão (2008, p. 52) ressaltam que a solidariedade na perspectiva 
das relações familiares é patrimonial, afetiva, psicológica e social e “o princípio da 
solidariedade familiar também implica em respeito e consideração mútuos em relação 
aos membros da entidade familiar”. 
Nota-se que in casu trata-se da solidariedade in solidum, a qual se prende à 
ideia de responsabilidade integral - de todos por todos - de obrigação de caráter social 
e não de obrigação solidária, regulamentada pelo Direito Civil, porque essa não se 
presume e deve sempre resultar da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC/2002). 
O afeto, do latim affectu, como sentimento e elemento formador da família, há 
muito tempo permeia as relações sociais. No entanto, a afetividade, elevada à cate-
goria de princípio jurídico norteadora do Direito de Família e apontada, atualmente, 
“como o principal fundamento das relações familiares” (TARTUCE e SIMÃO, 2008, p. 
41), é uma orientação relativamente nova em nosso direito positivo (RIVA, 2012, 117). 
Lôbo (2009, p. 48 e 51) informa que o princípio da afetividade implícito no texto 
constitucional em vários artigos, entre eles nos arts. 226 e 227, “especializa, no âmbito 
familiar, os princípios constitucionais fundamentais da dignidade da pessoa humana 
(art. 1º, III) e da solidariedade (art. 3º, I), e entrelaça-se com os princípios da convi-
vência familiar e da igualdade”. Na qualidade de princípio jurídico, aplicado em várias 
situações no Direito de Família, a afetividade “não se confunde com o afeto, como fato 
12 
 
 
psicológico ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este faltar na realidade 
das relações; assim, a afetividade é dever imposto aos pais em relação aos filhos e 
destes em relação àqueles, ainda que haja desamor ou desafeição entre eles”. Com-
plementa o autor aduzindo que a “força determinante da afetividade, como elemento 
nuclear de efetiva estabilidade das relações familiares de qualquer natureza, nos dias 
atuais, torna relativa e, às vezes, desnecessária a intervenção do legisladora”, porque 
a “afetividade é o indicador das melhores soluções para os conflitos familiares” 
(LOBO, 2009, p.48 e 51; PEREIRA, 2005, p.183-184; RIVA, 2012, p. 117-118). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Unidade 3: O Estatuto do Idoso 
 
Seção 3.1 Panorama geral do Estatuto do Idoso e a justiça 
 
O Brasil não é mais um país jovem. A população brasileira está envelhecendo 
e aumentando o índice de idosos no país face ao avanço tecnológico que tem possi-
bilitado o prolongamento da vida. Entre os benefícios, Julião (2004) cita o progresso 
da medicina que permitiu o combate das doenças; o desenvolvimento da indústria e 
a agricultura que possibilitaram uma alimentação de melhor qualidade; o saneamento 
básico que melhorou as condições de higiene. Dessa forma, a longevidade aumentou 
muito. Conformedados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 
acordo com Censo de 2010, existem 20 milhões de idosos no Brasil. 
Os idosos passaram, portanto, a representar parcela significativa da população. 
No entanto, ter mais tempo de vida não significa qualidade de vida. Verifica-se que, 
apesar de haver legislação que o protege, há um desrespeito aos direitos dos idosos 
em relação à legislação, ou seja, muitos direitos ainda não estão efetivados na vida 
do idoso. 
Para proteger os idosos, algumas Constituições Federais incluíram, inicial-
mente, alguns resquícios de direitos previdenciários. A Constituição Federal de 1988 
ampliou, no entanto, o rol de direitos e garantias do idoso. Nesse sentido, a Constitui-
ção Federal foi a primeira a abordar os direitos dos idosos de forma mais genérica. As 
Constituições anteriores preocuparam-se unicamente com os direitos previdenciários 
decorrentes da atividade laboral do indivíduo, estendendo-se o direito destes aos ido-
sos ou, por outro lado, nem mencionaram direito algum dos idosos, como por exemplo, 
a Carta Imperial de 1824 e a Primeira Constituição Republicana, de 1891. A partir da 
Constituição de 1934, a pessoa idosa foi mencionada no texto constitucional, mas 
instituindo sempre a obrigação de previdência social ao trabalhador, conforme se ve-
rifica no art. 121, parágrafo 1º, alínea h, da Constituição Federal de 1934: 
 
[...]; h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegu-
rando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do 
emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, 
do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da materni-
dade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. 
14 
 
 
As Constituições de 1937, 1946, 1967 também legislaram no mesmo sentido, 
inovando em palavras, mas mantendo o cerne do direito do idoso apenas à previdên-
cia social. Em momento algum, se observam dispositivos mencionando o direito ao 
lazer, às atividades físicas, ao bem-estar, transporte, educação, programas de quali-
dade de vida etc. Ou seja, os idosos não tinham outros direitos, exceto o previdenci-
ário. 
Para Cielo e Vaz (2009), a CF/88 não se limitou apenas a apresentar disposi-
ções genéricas sobre os direitos dos idosos, mas cuidou especialmente da proteção 
dos mesmos em seu artigo 229, ao dispor que: “Art. 229. Os pais têm o dever de 
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e 
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. O artigo 230 estendeu a prote-
ção aos idosos, além da família, à sociedade e ao Estado. Assim, a Lei Maior possi-
bilita a participação do idoso na sociedade, defende sua dignidade e o direito à vida. 
Vale dizer, conforme destaca Sampaio (2004, p. 2) que: 
[...] a Carta Política vigente, como nenhuma anteriormente o fez, dedicou vá-
rios versículos às pessoas idosas e, ainda, no pertinente à velhice fala na 
assistência social, na proteção que se deve dar aos velhos [...] , sobre o am-
paro e o dever que os filhos maiores têm na ajuda dos genitores na velhice, 
na carência ou nas enfermidades 
 
A Constituição Federal estendeu aos idosos os direitos sociais que até então 
não estavam elencados em Constituição. Assim, apesar de parecer aos olhos da so-
ciedade pouco, houve um grande avanço na proteção aos direitos dos idosos na Lei 
Maior, garantindo a eles o exercício de sua cidadania. Outras legislações (leis, decre-
tos, portarias, ementas etc.) foram aprovadas em proteção aos direitos dos idosos, 
dentre as quais, citam-se as mais importantes: a Lei nº 8.842/94, que instituiu a Polí-
tica Nacional do Idoso, e a Lei 10.741/03, que instituiu o Estatuto do Idoso. 
A Lei 8.842/94, meramente programática, estabeleceu princípios e diretrizes 
para promover os direitos dos idosos, no entanto, foi falha na efetivação dos mesmos, 
conforme esclarece Julião (2004, p. 12): 
No que se refere aos direitos dos idosos, apesar da Lei 8.842/94, não houve 
uma efetiva implementação das políticas públicas nela estabelecidas para 
assegurar tais direitos. Da mesma forma, o Estado não se instrumentalizou 
para assegurar aquilo que havia sido previsto em lei. E, o pior, não havia 
nenhuma previsão legal de qualquer penalidade para o caso de omissão ou 
descumprimento daquilo que estava disposto naquela legislação, que é me-
ramente programática. 
 
15 
 
 
Conforme se constata nas palavras da autora, os direitos assegurados ao cida-
dão não estavam, na prática, sendo efetivados, tanto pela sociedade como pelo Es-
tado, e o agravante era que não se podia cobrar ações, pois não havia qualquer pe-
nalidade para essas omissões. Face a isso, cresceu a necessidade de um Estatuto, 
onde poderiam ser estabelecidas sanções penais e administrativas para quem des-
cumprisse a lei. Dessa forma, o Estatuto do Idoso, conforme adverte Bulos (2007), 
assegurou minuciosamente os direitos constitucionais que foram então implementa-
dos pela Lei nº 10.741/03 que consagrou o Estatuto do Idoso. 
Conforme o autor, 
[...] os direitos e garantias fundamentais dos idosos, por assim dizer, ganha-
ram, com o advento da Lei n. 10741/2003, um valiosíssimo impulso legisla-
tivo, cujo escopo foi 'amparar a terceira idade'. Nesse sentido tem entendido 
o STF em seus julgados, corroborando o fato da 'terceira idade' ter merecido 
tutela constitucional destacada, providência muito oportuna, pois o respeito 
aos idosos deve ser levado a sério, em todos os seus termos. (BULOS, 2007, 
p. 1334). 
 
Os direitos dos idosos foram, portanto, reconhecidos com a Lei nº 10.741/03, 
que estabeleceu benefícios e garantias à terceira idade, além de penas severas àque-
les que desrespeitarem ou abandonarem os idosos. O Estatuto do Idoso atribui ao 
Estado, inicialmente, a proteção à vida e saúde do idoso mediante políticas públicas, 
em seu art. 9º: “É obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à 
saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelheci-
mento saudável e em condições de dignidade”. E, para a efetivação desses direitos, 
nomeia o Ministério Público como um dos instrumentos da sociedade. Com essa dis-
posição, o Ministério Público ou o Poder Judiciário a requerimento daquele, poderá 
determinar, entre outras medidas: 
Art. 74. Compete ao Ministério Público: 
I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos 
e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais ho-
mogêneos do idoso; 
II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou 
parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem 
a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos 
em condições de risco; 
III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, con-
forme o disposto no art. 43 desta Lei; 
IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóte-
ses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público 
justificar; 
V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo: 
a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso 
de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condu-
ção coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar; 
16 
 
 
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades mu-
nicipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como 
promover inspeções e diligências investigatórias; 
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas; 
VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instaura-
ção de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas 
de proteção ao idoso; 
VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantiaslegais assegurados 
ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; 
VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os 
programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administra-
tivas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verifi-
cadas; 
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, 
educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas 
atribuições; 
X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos pre-
vistos nesta Lei. (BRASIL, 2003). 
Assim, a instituição passou ser a guardiã dos direitos e interesses da pessoa 
idosa. Importante ressaltar, conforme adverte Freitas Junior (2011), que o Ministério 
Público só deve intervir nos casos em que houver interesse público, ou pessoas ido-
sas em situação de risco. 
O Ministério Público atuará, portanto, conforme art. 75 do Estatuto do Idoso, 
 Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obri-
gatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que 
cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes, po-
dendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, 
usando os recursos cabíveis. 
 
Ainda, segundo o art. 77 a falta de intervenção ministerial acarreta a nulidade 
do feito. Isso pressupõe que o Ministério Público deverá, segundo Freitas Junior 
(2011), atuar em todos os processos que estejam em discussão interesses dos idosos. 
A atuação do Ministério Público já vinha sendo definida no âmbito da defesa dos inte-
resses sociais e individuais na CF/88, ao dispor em seu art. 127 que: “Art. 127. O 
Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis”. Dessa forma, o Título V, Capítulo II, destinado à 
atuação do Ministério Público, deve ser interpretado em consonância com o art. 127 
da CF/88. 
É importante ressaltar, ainda, segundo Julião (2004) que todos os crimes pre-
vistos no Estatuto do Idoso são de Ação Pública Incondicionada. Isso significa que o 
Ministério Público pode apresentar denúncia, mesmo que o idoso, vítima, não queira 
17 
 
 
representar contra o seu agressor, que pode ser até mesmo a família. Com essa ino-
vação, acredita-se que muitas questões que hoje são de difícil solução, serão resolvi-
das ou encaminhadas para que sejam solucionadas com o tempo. 
 
Seção 3.2: O Estatuto do Idoso e os direitos fundamentais 
 
A proteção dos direitos fundamentais, os quais são “direitos humanos reconhe-
cidos expressamente pela autoridade política” (COMPARATO, 2010, p. 74), e consti-
tuem-se de elementos capazes de garantir o respeito aos mais básicos direitos do ser 
humano como a vida, a dignidade, a igualdade e a liberdade, estão assegurados nos 
arts. 5º a 17 da CF/1988. 
A Lei n. 10.741/2003 e outras legislações reafirmam ou reproduzem os direitos 
fundamentais vinculados àqueles previstos na Carta Magna, direcionados às pessoas 
com idade igual ou superior a 60 anos, sempre com o objetivo de protegê-las e am-
pará-las. 
O Estatuto do Idoso elenca como fundamentais os direitos à vida; à liberdade, 
ao respeito e à dignidade; aos alimentos; à saúde; a educação, cultura, esporte e 
lazer; à profissionalização e ao trabalho; à previdência social; à assistência social; à 
habitação e ao transporte (arts. 8 a 42 do Estatuto). É por meio da garantia desses 
direitos e da proteção integral prevista na mesma lei que o Estado busca assegurar, 
sob vários aspectos, a parcela da população abrigada pela legislação especial ora 
comentada. 
Todos os direitos elencados no Estatuto do Idoso, como a própria denominação 
prevê, são fundamentais e estão interligados entre eles ou a outros que, embora não 
estejam expressamente previstos, também são essenciais para assegurar a dignidade 
da pessoa idosa no plano material e imaterial. Dessa forma, a ordem estabelecida no 
Título II, do Estatuto do Idoso não é taxativa ou exaustiva. 
Com exceção do direito a alimentos, acima analisado, abordar-se-ão, a seguir, 
sumariamente, os demais direitos fundamentais constantes no Estatuto do Idoso. An-
tes, porém, anota-se que de acordo com a CF/1988, art. 230 e a Lei n. 8.842/1994, 
art. 3º, I, a Lei n. 10.741/2003, art. 3º, também prevê que é “obrigação da família, da 
comunidade; da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta pri-
oridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, 
18 
 
 
ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e 
à convivência familiar e comunitária”. 
Cury (2002, p. 22-23), em seus comentários sobre a Lei n. 8.069, de 13 de julho 
de 1990, informa que a família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público 
compreendem respectivamente: a família natural ou substituta; o grupo social próximo 
à criança ou adolescente (vizinhos, escola, igreja etc.); o conjunto de pessoas físicas 
ou jurídicas que compõem o grupo social e o conjunto de poderes e instituições em 
todos os níveis. Idêntica orientação deve ser aplicada ao Estatuto do Idoso. 
O direito à vida considerado como um “dos mais sagrados direitos fundamen-
tais da pessoa” (FRANCO, 2012, p. 40), ou o maior dos direitos, é “indisponível e 
oponível erga omnes, por excelência, a tal ponto que não se pode emitir qualquer 
enunciado tendente à sua supressão” (VILAS BOAS, 2011, p. 11). Silva (1992, p. 182), 
comentando sobre o direito à vida (art. 5º “caput” da CF/1988), ensina que no “conte-
údo do seu conceito se envolvem o direito à dignidade da pessoa humana”, o direito 
à privacidade, o direito à integridade física e moral e o direito à existência. 
Viver e envelhecer são direitos personalíssimos, inatos, inerentes ao homem, 
ou seja, “que aninham no interior do ser humano” (VILLAÇA, 2003, p. 21) e a sua 
proteção um direito social (art. 8º do Estatuto do Idoso), ou seja, um direito que o idoso 
possui por viver e conviver em sociedade, o qual deve “ser respeitado por quem quer 
que seja não podendo ser violado em qualquer hipótese”; a violação desse direito, 
conforme o caso enseja ao agente responsabilidade penal, civil e administrativa 
(FRANCO, 2012, p. 40). 
Comentado sobre esse direito, Cretella Júnior (1992, p. 182) diz que ele tem 
dois sentidos: 1º) o direito de continuar vivo, o qual se liga "à segurança física da 
pessoa humana, quanto a agentes humanos ou não, que possam ameaçar-lhe a exis-
tência" e o 2º) o direito de subsistência, vinculado ao de ter suas necessidades físicas 
providas. 
O direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, do mesmo modo que o direito 
à vida é inerente à natureza humana. O direito à liberdade – como ocorre com o direito 
à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade – é inviolável e essa garantia está 
prevista igualmente a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país (art. 5º 
“caput”, da CF/1988). 
O art. 10, § 1º, da Lei n. 10.741/2003, determina que o "direito à liberdade com-
preende, entre outros, os seguintes aspectos": faculdade de ir, vir e estar; opinião e 
19 
 
 
expressão; crença e culto religioso; praticar esportes e diversão; participação na vida 
familiar, comunitária e política e a faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. 
Além disso, deve ser respeitada sua condição física, psíquica e moral enquanto 
pessoa humana e sujeito de direitos individuais, civis, sociais e políticos garantidos na 
CF/1988 e na legislação ordinária e especial posterior e sua dignidade "colocando-o 
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou cons-
trangedor" (art. 10, §§ 2º e 3º, da Lei 10.741/2003). 
A saúde, tanto física quanto psíquica, deve ser prioridade em qualquernível de 
governo e ser assegurada por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda, 
nos termos do Estatuto, art. 15, a efetivação da prevenção e da manutenção da saúde 
do idoso é realizada por meio de várias ações articuladas a fim de garantir a atenção 
integral a sua saúde através do amplo atendimento pelos setores responsáveis. Essa 
mesma lei especial, art. 19, prevê que os casos de suspeita ou de confirmação de 
maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais da 
saúde aos seguintes órgãos: autoridade policial; Ministério Público ou aos Conselhos 
Municipal, Estadual ou Nacional do Idoso. 
Comentando sobre o direito à saúde, Vilas Boas (2011, p. 28) anota que o Es-
tatuto inclui prioritariamente o idoso “na atenção integral, universal e igualitária diante 
das ações e serviços de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde. O 
Estatuto do Idoso atentou de lado especial para as doenças que afetam preferencial-
mente os idosos”. O autor continua apontando que a “seguridade social vem definida 
como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da socie-
dade com o fim de assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistên-
cia social” (VILAS BOAS, 2011, p. 28). 
Entre as garantias dos direitos fundamentais estão às destinadas a educação, 
cultura, esporte e lazer, previstas nos arts. 205 e seguintes da CF/1988; arts. 20 a 25, 
do Estatuto do Idoso e art. 10, incisos III e VII, da Lei n. 8.842/1994. 
Segundo Vilas Boas (2011, p. 42), o direito a “cultura, esporte e lazer são es-
pécies do gênero ‘educação’ e se veem mostrados, genericamente, no art. 205 da 
CF”, o qual dispõe: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen-
volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação 
para o trabalho” (art. 205, CF/1988). 
20 
 
 
O Estatuto do Idoso em seu art. 20 garante ao idoso o “direito a educação, 
cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua 
peculiar condição de idade”. A mesma legislação especial nos artigos seguintes, do 
mesmo capítulo, prevê várias formas para proteger o acesso à educação; à divulgação 
de informações sobre essas questões pelos meios de comunicação e ao apoio para 
a criação de universidade aberta para pessoas idosas e para sua produção intelectual. 
A Lei n. 8.842/1994, em seu art. 10, VII, determina providências respectiva-
mente nas áreas da educação e da cultura, esporte e lazer: a) garantir ao idoso a 
participação no processo de produção, reelaboração e fruição dos bens culturais; b) 
propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços reduzidos, 
em âmbito nacional; c) incentivar os movimentos de idosos a desenvolver atividades 
culturais; d) valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habili-
dades do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade 
cultural; e) incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividades físicas que pro-
porcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na 
comunidade. 
O direito à profissionalização e ao trabalho (art. 26 e seguintes do Estatuto do 
Idoso), anteriormente era reconhecido pela CF/1988 (arts. 5º, XIII e 7º, XXX). O res-
peito às condições físicas, intelectuais e psíquicas do idoso, reafirmado, pelo art. 26 
da legislação especial, em relação às atividades trabalhistas é uma das formas en-
contradas de assegurar tanto o ingresso como a permanência do idoso no mercado 
de trabalho e, por consequência, mantê-lo no exercício de atividade laboral produtiva. 
Vilas Boas (2011, p. 59, itálico nosso) comenta que a CF/1988 “ao tratar da 
Ordem Social, estabeleceu suas disposições e nomeou-as com suporte no primado 
do trabalho, e como objetivo, o bem-estar e justiça social. A Seguridade Social, como 
parte da Ordem Social, é gênero onde a Previdência Social e a Assistência Social são 
espécies”. 
Nos termos do art. 194, “caput” da CF/1988: “A seguridade social compreende 
um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, 
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência 
social”. Assim sendo, de acordo com a CF/1988, a seguridade social (arts. 194 a 204), 
além de compreender a previdência social (arts. 201-202) e a assistência social (arts. 
203-204), também é integrada pela saúde (arts. 196-200). 
21 
 
 
Sobre as diferenças básicas entre a Previdência e a Assistência Social, Silva 
apud Vilas Boas (2011, p. 59) mostra: ‘A previdência social compreende, como vimos, 
prestações de dois tipos: benefícios e serviços. Os benefícios previdenciários são 
prestações pecuniárias aos segurados e a qualquer pessoa que contribua para a pre-
vidência social na forma de planos previdenciários... A assistência social não tem na-
tureza de seguro social, porque não depende de contribuição. Os benefícios e servi-
ços serão prestados a quem deles necessitar, caracterizados; a) pela proteção à fa-
mília, à maternidade, à velhice, à infância e à adolescência ...’. 
A Lei n. 8.842/1994, ao mesmo tempo assegura que na área de promoção e 
assistência social, deverão ser prestados serviços e desenvolvidas ações voltadas 
para o atendimento das necessidades básicas do idoso, mediante a participação da 
família, da sociedade e de entidades governamentais e não-governamentais. Entre 
essas ações destacam-se: “estimular a criação de incentivos e de alternativas de aten-
dimento ao idoso, como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-
lares, oficinas abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros” (art. 10, I, a 
e b). 
Importante observar que entre os objetivos reservados à Assistência Social pre-
vistos nos arts. 34 do Estatuto do Idoso e 2º, I, V da Lei n. 8.742/1993 (Lei Orgânica 
da Assistência Social), está a garantia de um salário mínimo mensal ao idoso que não 
possua meios de prover sua subsistência ou de tê-la provida por sua família. A idade 
prevista pela primeira lei retro citada é de 65 anos. 
O direito a habitação consagrado respectivamente pela CF/1988, art. 6º, pela 
EC n. 26/2000 e pela Lei. n. 8.842/1994, incisos V, alínea “c”, também foi reafirmado 
pelo Estatuto do Idoso (arts. 37 e 38). Há unanimidade entre os autores consultados 
de que o direito a habitação, enquanto um direito social fundamental visa a uma mo-
radia “digna e adequada” para todos os membros do grupo familiar (VILAS BOAS, 
2011, p. 69; LENZA, 2010, p. 839). A consagração de uma moradia “digna e ade-
quada” prevista na CF/1988 está em consonância com a “ideia de dignidade da pes-
soa humana (art. 1º, III); direito à intimidade e à privacidade (art. 5º, X) e de ser a casa 
asilo inviolável (art. 5º, XI)” (LENZA, 2010, p. 839). 
No tocante à habitação, o Estatuto do Idoso, em seu art. 37 dispõe que: “O 
idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desa-
companhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição 
pública ou privada.” 
22 
 
 
O convívio familiar, conforme Freitas Junior (2011), não pode ser imposto ao 
idoso. Dessa forma, deve ser respeito o direito de livre escola, para conduzir a sua 
vida do modo que atenda às suas expectativas. No entanto, em casos que, indepen-
dentemente das razões, o idoso residir numa instituição, esta deverá, segundo o art. 
38: 
 [...]. § 2º Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a 
manter identificação externa visível, sob pena de interdição, além de atender 
toda a legislação pertinente. § 3º As instituições que abrigarem idosos são 
obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades 
deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveisàs normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei. 
 
No caso, ainda, de o idoso optar por casa própria, o Estatuto atribui ao Poder 
Público a concessão da aquisição de casa própria por meio de programas habitacio-
nais, públicos ou subsidiados com recursos públicos. Estabelece, em seu art. 38, in-
ciso I, para tanto, a reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habita-
cionais aos idosos. Salienta-se ainda a eliminação de barreiras arquitetônicas e urba-
nísticas para a acessibilidade do idoso (inciso III). 
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos 
públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia 
própria, observado o seguinte: 
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habitacionais 
residenciais para atendimento aos idosos; (Redação dada pela Lei nº 12.418, 
de 2011) 
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso; 
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de 
acessibilidade ao idoso; 
IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposen-
tadoria e pensão. Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para 
atendimento a idosos devem situar-se, preferencialmente, no pavimento tér-
reo. (Incluído pela Lei nº 12.419, de 2011). 
 
Como ocorrem com os demais direitos fundamentais, foi assegurada a gratui-
dade do transporte aos maiores de 65 anos, nos termos da CF/1988, art. 230 e do 
Estatuto do Idoso arts. 39 a 42. Em comentário ao mencionado art. 39, Franco (2012, 
p. 98) alerta para a seguinte questão: Em que pese à importância deste artigo e boa 
intenção do legislador em prestigiar o idoso com a gratuidade de transporte entende-
mos que por se tratar de empresas privadas com a privacidade que lhe é peculiar e o 
livre exercício do comércio, pagando seus impostos e taxas ao governo e os custos 
do transporte, torna-se difícil para elas concederem transporte gratuito ao idoso na 
forma aqui determinada. O correto seria o governo firmar convênio com essas empre-
sas, através de órgãos competentes: federais, estaduais e municipais para ressarci-
23 
 
 
las do prejuízo que terão neste sentido. O ressarcimento poderá ser feito através de 
incentivos fiscais. 
O idoso tem direito a qualquer meio de locomoção (rodoviário, ferroviário, aé-
reo, aquaviário, marítimo), pois a lei não especifica o tipo de transporte a que tem 
direito o idoso, no entanto, restringe apenas aos serviços seletivos e especiais, caso 
sejam prestados em complementação aos serviços regulares (FREITAS JUNIOR, 
2011). A lei determina ainda, em seu art. 39, § 2º, que deverão ser reservados 10% 
(dez por cento) dos assentos para os idosos em transporte público coletivo. Em seu 
art. 40, se manifesta sobre o transporte coletivo interestadual: 
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos 
termos da legislação específica: (Regulamento) I – a reserva de 2 (duas) va-
gas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) 
salários-mínimos; II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no 
valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com 
renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos. Parágrafo único. Caberá 
aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício 
dos direitos previstos nos incisos I e II. 
 
No art. 41 dispõe sobre as vagas nos estacionamentos: “Art. 41. É assegurada 
a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas 
nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma 
a garantir a melhor comodidade ao idoso.” 
Finaliza com o artigo 42, que assegura a prioridade do idoso no embarque no 
sistema de transporte coletivo. 
Finalmente, o material acima analisado permite informar que o respeito aos 
valores acima elencados, são fundamentais para se preservar e respeitar a velhice, 
citada por Erikson (1998, p. 57) como o "último estágio na escala do desenvolvimento 
psicossocial", e assinalada por esse autor como o "estágio da sabedoria". 
É possível concluir, que as mobilizações populares foram armas poderosas 
para que a pessoa idosa passasse a ser valorizada e pudesse contar com um Estado 
mais solidário. Visando a valorização do idoso e sua proteção, o legislador regulou a 
atuação permissiva de o Órgão do Ministério Público instaurar o inquérito civil e a ação 
civil pública para a proteção dos direitos individuais homogêneos do idoso. 
A finalidade da Política Nacional do Idoso conforme o art.1º é inserir novamente 
o idoso na sociedade e proporcionar a sua ressocialização através de políticas públi-
cas que garanta os direitos sociais ao idoso num Estado Democrático de Direito. Essa 
24 
 
 
nova ideologia trazida pela Política Nacional quebrou paradigmas e, consequente-
mente surge novos, de que a pessoa idosa é plenamente capaz de permanecer em 
sociedade como cidadão comum. 
A Política Nacional do Idoso tem justamente esse propósito que é permitir que 
o idoso tenha autonomia e que não se abstenha de exercer seus direitos de forma 
que iniba atos de discriminação e desrespeito por ser apenas velho. As pessoas que 
alcançaram a terceira idade não podem ser vistas como seres dispensáveis. O povo 
Japonês tem muito respeito pelos idosos e lá o idoso é visto como pessoa sabia e 
merecedora de respeito e atenção. Considerar direitos sociais como fundamentais, 
sem, contudo, existirem meios de garanti-los, é bobagem é como “ter muito dinheiro 
e desejar comprar saúde”. 
Dessa maneira saúde não se compra, acontece o mesmo como os direitos dos 
idosos, não adianta existir tutela para a concretização desses direitos, se não houver 
políticas públicas que viabilize a aplicação desses direitos no seio da sociedade. Con-
templa o artigo 5º da CF/88 o Princípio da Igualdade, estabelecendo a proibição de 
quaisquer distinções, porque todos são iguais perante a lei passando garantindo a 
todos os direitos básicos, tais como à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, refletindo igualmente aos direitos do idoso. 
O Estatuto do Idoso, Lei 10.741/2003, veio resgatar os princípios constitucio-
nais relativos à dignidade da pessoa humana, pois o idoso goza de todos os direitos 
fundamentais conforme depreende o artigo 2ª da Constituição Federal. Nesta oportu-
nidade não esgotaremos todo o tema, percorreremos um caminho breve quanto ao 
assunto. 
 
Seção 3.3: As finalidades do Estatuto do Idoso no Brasil 
 
Como já abordado, a principal finalidade do Estatuto do Idoso é proteger os 
idosos e assegurar que seus direitos sejam efetivados, pois a realidade denota situa-
ções de violação de direitos dos idosos, principalmente pelo fato de serem mais vul-
neráveis. 
Para Cielo e Vaz (2009, p. 42), 
Criado com o objetivo de garantir dignidade ao idoso, [...] o Estatuto do Idoso 
[...] veio em boa hora, com objetivo de dar continuidade ao movimento de 
universalização da cidadania, levando até o idoso a esperança de que seus 
anseios e necessidades estão de fato garantidos 
25 
 
 
 
Para isso, o Estatuto nominou o Ministério Público para defender o Idoso em 
seus direitos em relação à família, aos cuidadores, instituições de abrigo e, principal-
mente, ao Estado, que deve desenvolver políticas públicas visando ao bem-estar e 
qualidade de vida do idoso. Cabe destacar ainda a importância do Estatuto do Idoso 
na concepção de Braga (2005, p. 186 apud CIELO; VAZ, 2009, p. 42) que se expressa 
da seguinte forma: 
Esta lei é um marco importante no estudo dos direitos dos idosos brasileiros. 
Tanto assim que merece estudo próprio e individualizado, no entanto, é impossível 
deixar de citar, ao menos, alguns de seus pontos importantes. E uma vez definida a 
pretensão, podemos afirmar que sua maior contribuição é, sem dúvida alguma, a pu-
blicidadedada à temática do envelhecimento. 
A sociedade começa a perceber-se como envelhecida e os índices já divulga-
dos pelos institutos de pesquisa passam a ser notados. O Estatuto do Idoso é um 
instrumento que proporciona autoestima e fortalecimento a uma classe de brasileiros 
que precisa assumir uma identidade social. Ou seja, o idoso brasileiro precisa apare-
cer! Precisa se inserir na sociedade e, assim, passar a ser respeitado como indivíduo, 
cidadão e participe da estrutura politicamente ativa. 
O Estatuto não inova apenas na proteção aos direitos do cidadão idoso, mas 
cobra da família e da sociedade também a responsabilização pela concretização do 
que está posto na legislação. 
 
Seção 3.4: O Conceito de Cidadania: Status de cidadão 
 
No Direito Romano, segundo Cretella Júnior (1992, p. 138), ao “homem’, que 
se opunha ao escravo, à res”, eram conferidos direitos: "o ius libertatis, que outorgava 
a libertas, ou prerrogativa de ser livre, o ius familiae, que distinguia o sui iuris do alieni 
iuris, e o ius civitatis, que atribuía a todo habitante do mundo romano, o status da 
civitas, classificando-o em romano e não romano”. Portanto, em “Roma, o homem livre 
ou era ‘cidadão’, tinha ‘cidadania’, ou era ‘não cidadão’, sendo estrangeiro ou pere-
grino". 
Ainda, nesse Direito, a cidadania que podia ser adquirida ou perdida de várias 
maneiras (MARKY, 2008, p. 34-35), conferia ao cidadão romano: a possibilidade de 
26 
 
 
usufruir direitos além de ser submetido a “obrigações ligadas à qualidade de membro 
de determinada cidade” (CRETELLA JÚNIOR, 1992, p. 139) e a capacidade jurídica 
integral no campo político e civil, naquele destaca-se a capacidade para ser eleito 
magistrado e a faculdade de votar e nesse a faculdade de casar, de realizar negócios 
jurídicos patrimoniais; de testar; de servir de testemunha e de agir em juízo (ALVES, 
2000, p. 106). 
O atributo da cidadania durante os períodos que marcaram a história do Direito 
Romano ou posteriores a ele sempre foi considerado muito importante, a tal ponto 
que, as Constituições dos diferentes países costumam estabelecer as condições que 
classificam os indivíduos segundo sua nacionalidade em cidadãos e não cidadãos. O 
Brasil tem “interesse em que se aplique o princípio do ius soli, sendo nacionais os que 
aqui nascem, independentemente da condição dos pais”, outros países como a Ale-
manha, a Itália e o Japão têm interesse que se aplique o ius sanguinis (CRETELLA 
JÚNIOR, 1992, p. 139). O mesmo autor continua explicando: 
Toda pessoa física que se encontra no território brasileiro, ou é ‘nacional’ ou é 
‘estrangeiro’. Se nacionalidade é a sujeição por nascimento ou por adoção, do indiví-
duo ao Estado, para o gozo e exercício dos direitos políticos, cidadania é a habilitação 
do nacional para o exercício desses mesmos direitos, cumpridos os requisitos legais 
(CRETEL-LA JÚNIOR, 1992, p. 139). 
Segundo Diniz (2008, p. 653), cidadania é a “qualidade ou estado de cidadão; 
vínculo político que gera para o nacional deveres e direitos políticos, uma vez que o 
liga ao Estado. É a qualidade de cidadão relativa ao exercício das prerrogativas polí-
ticas outorgadas pela Constituição de um Estado democrático”. 
Apesar de cidadania ser um dos fundamentos do Estado Democrático de Di-
reito (CF/1988, art. 1º, II) e ter como principal característica a titularidade de direitos 
políticos, por ser conceituada como uma qualidade ou uma capacidade conferida ao 
cidadão – portanto, inata e inerente à pessoa humana – ela também é capaz de ga-
rantir ao cidadão além dos direitos políticos (CF/1988, arts. 14 a 16) e de todos os 
demais direitos fundamentais constitucionalmente previstos (CF/1988, arts. 5º a 17), 
direitos de outra natureza como os sociais, o civil, o penal, o trabalhista etc. 
Portanto, por ser cidadão, ou seja, ligado ao seu status, o indivíduo tem o gozo 
de todos os direitos inerentes a sua nacionalidade. Além disso, no que concerne ao 
tema, Piovesan (2012, p. 441) ensina: "O conceito de cidadania se vê, assim, alargado 
e ampliado, na medida em que passa a incluir não apenas direitos previstos no plano 
27 
 
 
nacional, mas também direitos internacionalmente enunciados". A autora conclui: 
"Hoje se pode afirmar que a realização plena e não apenas parcial dos direitos da 
cidadania envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos humanos, nacional e inter-
nacionalmente assegurados" (PIOVE-SAN, 2012, p. 441). 
 
Seção 3.5: Crimes cometidos contra idosos previsto no estatuto 
 
O Estatuto do Idoso traz em seu título VI, importante disposição acerca da Tu-
tela Penal ao idoso. Tal proteção tem como bem jurídico a dignidade da pessoa hu-
mana. Análise de alguns tipos penais: Há no Estatuto do Idoso um capítulo inteiro 
apenas dedicado aos crimes em espécies, elencados nos arts. 95 a 108. 
Logo de início o art. 97 que trata de omissão de socorro ao idoso, punindo com 
detenção de (06), seis meses a (01) um ano, aquele que não prestar assistência ao 
idoso, quando poderia fazê-lo sem risco pessoal em situação de eminente perigo, in-
correrá também neste crime, quem se recusar, retardar ou dificultar assistência á sa-
úde do idoso sem justa causa ou ainda não pedir assistência de autoridade Pública. 
O art. 98, encontra-se o crime de abandono de idoso em hospitais, casa de Saúde, 
entidade de longa permanência ou congêneres. A pena é de detenção de 06 meses 
à 03 (três) anos. 
Esta pena também recai aquele que não prover as necessidades básicas do 
idoso, quando for obrigado por mandado; No art. 99, há o crime de exposição á perigo 
da integridade e da saúde física ou psíquica sob condição desumana ou degradante 
ou ainda, quando for compelido a fazê-lo, priva-lo de cuidados indispensáveis à so-
brevivência humana, bem como sujeitando–o a trabalho, exercício inadequado. O su-
jeito ativo deste crime é a pessoa com idade igual ou superior a (60) sessenta anos. 
Haverá qualificação desta infração se de seu resultado ocorrer de morte ou lesão cor-
poral de natureza grave. 
No art. 102, observa-se uma modalidade bem específica de crime de apropria-
ção indébita. Aqui se pune a conduta ao agente que se apropria ou desviar bens pro-
ventos, pensão ou qualquer outro rendimento de propriedade do idoso legando-lhe 
outras aplicações de sua finalidade. A pena fixada em reclusão de (01) um a (04) 
quatro anos e multa, foi imposta pelo legislador com vista a proteger o patrimônio do 
idoso representado ou benefício previdenciário. 
28 
 
 
Destarte foi criado no art. 104, o crime de retenção de cartão magnético de 
conta bancária, concernente a benefícios, proventos, ou pensão do idoso, assim como 
quaisquer outros documentos com intuito de assegurar recebimentos ou ressarci-
mento de dívida, será punido com detenção de 06 (seis) meses a 02(dois) anos e 
multa. Já aquele que coagir sob qualquer maneira, o idoso a doar, contratar, testar ou 
outorgar procuração atentando contra sua liberdade individual, incidirá a pena de re-
clusão de 02(dois) a 05(cinco) anos como dispõe o art. 107 do Estatuto do Idoso. 
Pelo que se depreende do art. 108, segue alguns atos notórios que envolva a 
pessoa idosa desprovida de discernimento de seus atos, for lavrado sem a devida 
representação legal, sem a obrigatória interveniência de seu curador regularmente 
nomeado estará o agente sujeito a pena de reclusão de 02 (dois) a 04 (quatro) anos. 
Encontra respaldo no art. 96 do Estatuto do Idoso, a discriminação do idoso, punindo 
aquele que impedir ou dificultar o acesso do idoso à operação bancária, aos meios de 
transportes, ao direito de contratar, ou descriminá-lo por qualquer outro meio ou ins-
trumento necessário ao exercício da cidadania, tendo como base a sua idade. Nesta 
situação, a pena será 06 (seis) meses a 01(um) ano de reclusão. 
Do mesmo modo o indivíduo que exibir ou veicular por qualquer meio de comu-
nicação, televisão,jornal, revista, rádio, etc., informação ou imagem depreciativa ou 
injuriosa à pessoa do idoso incorrerá na pena de detenção de 01 (um) a 03 (três) anos 
e multa. No art. 100, estão listados várias condutas que dizem respeito ao idoso que 
podem vir a serem caracterizados como infração penal, são estes: Impedir o acesso 
de alguém, a qualquer cargo público, por motivo de idade; negar a alguém, emprego 
ou trabalho; recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistên-
cia à saúde, sem justa causa à pessoa idosa: Ainda no art. 100, reserva-se atenção 
ao inciso V; recusar, retardar, ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura 
da ação civil, objeto desta Lei, quando requisitado pelo Ministério Público. 
Aqui, o instrumento fornecido pelo Ministério Público é restrito ao idoso para 
instrução e propositura da ação Civil Pública, sem que tenha ocorrido sua revogação. 
Esta hipótese é ventilada pelo princípio da especialidade. (Lei 7.347/85- Lei da ação 
civil pública), sem que tenha ocorrido a sua revogação. Lei 7.347/85, diz o art. 10: 
Constitui crime, punido com pena de reclusão de 01(um) a 03 (três) anos, mais multa 
de 10 a 1000 obrigações do Tesouro Nacional, (O T N), a recusa, o retardamento ou 
a omissão dos dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando re-
quisitado pelo Ministério Público. Igualmente imposto no artigo acima referido, está o 
29 
 
 
inciso III do art. 100; onde a conduta do agente que deixar de cumprir, retardar ou 
frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação em que for 
parte ou interveniente o idoso, incidirá a pena privativa de liberdade com detenção de 
06 (seis) meses a 01 (um) ano e multa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
Unidade 4: O acesso à Justiça 
 
Seção 4.1: O acesso à justiça e a (in)eficácia do Estatuto do Idoso 
 
A Constituição Federal reserva ao Ministério Público a defesa dos direitos co-
letivos da sociedade, incluindo-se os idosos (art. 127 e 129). No campo individual, 
conforme art. 134, os idosos carentes devem contar com o apoio da Defensoria Pú-
blica. Para assegurar essas garantias constitucionais, foram editadas leis ordinárias: 
Política Nacional do Idoso (Leis 8.842/94) e o Estatuto do Idoso (10.741/2003). O 
acesso à justiça está assegurado nessas leis, no entanto, já vinha também disposto 
no Código de Processo Civil, que defendia, além dos direitos do cidadão, a prioridade 
sobre os processos tramitados em defesa dos idosos, que mais tarde veio a ser con-
templada então pela Lei n° 10.173/2001. Segundo o CPC, em seus arts. 1.211-A, 
1211-B e 1.221-C: 
Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou inter-
veniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos terão 
prioridade na tramitação de todos os atos e diligências em qualquer instância. 
Art. 1.211-B. O interessado na obtenção desse benefício, juntando prova de 
sua idade, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir 
o feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpri-
das. Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, esta não cessará com a morte do 
beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou 
companheira, com união estável, maior de sessenta e cinco anos. 
 
Dessa forma, pela primeira vez surgiu uma lei que delegou em favor da priori-
dade de processos que tem alguma das partes o idoso. Essa alteração limitou-se a 
apresentar alguns requisitos para que o direito pudesse ser exercido e estabeleceu a 
amplitude de sua eficácia (inclusive após o falecimento da parte, em benefício dos 
herdeiros), deixando a cargo dos órgãos do Poder Judiciário fazer sua aplicação. 
O Estatuto do Idoso reforçou esse direito, em seu art. 71, ao estabelecer que: 
 
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimen-
tos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte 
ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, 
em qualquer instância. 
§ 1° O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo 
prova de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária competente 
para decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas, ano-
tando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo. 
§ 2° A prioridade não cessará com a morte do beneficiário, estendendo-se 
em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união es-
tável, maior de 60 (sessenta) anos. 
31 
 
 
§ 3° A prioridade se estende aos processos e procedimentos da administra-
ção pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições finan-
ceiras, ao atendimento preferencial junto à defensoria pública da união, dos 
estados e do distrito federal em relação aos serviços de assistência judiciária. 
§ 4° Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos 
assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e 
caracteres legíveis 
 
O Estatuto apenas abrigou os artigos 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C do Código de 
Processo Civil que já vigoravam desde 2001, alterando apenas a idade, que de 65 
anos passou para 60 anos (art. 71 do Estatuto) e estendeu o benefício ao processo 
administrativo que fugia da competência do Código de Processo Civil. Ainda no Pro-
cesso Civil, há a possibilidade da criação de Varas Especiais e exclusivas para idosos, 
porém de concreto nada se efetivou nesse campo. 
Legislações existiam, tanto no âmbito federal, estadual ou municipal, que po-
deriam se pautar na CF/88 para proteger os direitos dos idosos, no entanto, o desco-
nhecimento dessas diversas legislações poderia prejudicar o idoso. Nesse sentido, a 
iniciativa de consolidar os direitos dos idosos numa Lei específica, para que fosse de 
conhecimento de todos. 
Posições contrárias surgiram com o argumento de que existem outros grupos 
de jurisdicionados litigantes que se apresentam mais carentes, incapazes ou hipossu-
ficientes do que as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, conforme argu-
menta Figueira Junior (2011). Estes também teriam que ter uma norma específica que 
os privilegiassem então, pois, com certeza, existem outras instâncias que precisam 
ter prioridade, mas, devido à idade do idoso, é preciso dar preferência ao seu processo 
para que em vida ainda possa usufruir desse direito. A questão é, certamente, a idade, 
por isso a preferência e a urgência em julgar os processos. 
Com vistas ao zelo e proteção ao idoso, o Estatuto, em seu art. 19, nominou, 
além da Defensoria Pública, outros órgãos para tomar as devidas providências 
quando notificados, quais sejam: 
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra 
idosos serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde pú-
blicos e privados à autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente 
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: (Redação dada pela 
Lei nº 12.461, de 2011) 
I – autoridade policial; 
II – Ministério Público; 
III – Conselho Municipal do Idoso; 
IV – Conselho Estadual do Idoso; 
V – Conselho Nacional do Idoso. (BRASIL, 2003, grifo do autor). 
 
32 
 
 
Esse é outro aspecto positivo do Estatuto do Idoso que atribuiu ao Estado a 
responsabilidade pelo idoso, e este, por sua vez, dividiu as suas atribuições. Por outro 
lado, o Estatuto também traz um aumento significativo nas responsabilidades das en-
tidades de atendimento ao idoso, além de sanções administrativas, em caso de des-
cumprimento das previsões legais. 
Em relação à autoridade policial, Freitas Junior (2011) adverte que o ideal seria 
ter delegacias especializadas para apurar a ocorrência de crimes praticados contra 
idosos. No entanto, a maior parte dos municípios não possui setores policiais especí-
ficos para proteção do idoso.Importante é, nesse sentido, segundo Julião (2004), que 
o Estatuto traz também um rol de crimes específicos praticados contra os idosos que 
não estavam previstos em nenhuma legislação, como a discriminação, que passa a 
ter pena de seis meses a um ano de reclusão e o abandono de idoso, que será punido 
com detenção de seis meses a três anos, além de multa. A lei, nesse sentido, não é 
também cumprida, pois se observa todo tipo de discriminação e violência contra o 
idoso até da própria família, como o abandono, maus tratos, invisibilidade, desvalori-
zação, preconceito. 
Em relação aos Conselhos Municipais compete, dentre outras funções, a fisca-
lização e a análise dos programas das entidades de atendimento aos idosos, sejam 
governamentais ou não governamentais. Cada município pode elaborar a respectiva 
lei que regulamente a atuação do Conselho Municipal do Idoso, desde que observe 
os preceitos do Estatuto do Idoso e da Lei 8842/1994. Na falta deste, as atribuições 
são devidas ao Conselho Estadual (FREITAS JUNIOR, 2011). No entanto, essa tam-
bém é outra ineficácia que se observa em relação à lei, pois não existem tais Conse-
lhos. 
O Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI, criado pelo Decreto n° 
4.227, de 13 de maio de 2002, na estrutura do Ministério da Justiça, como órgão con-
sultivo, tem como dever supervisionar e avaliar a Política Nacional do Idoso, conforme 
aduz Rulli Neto (2003, p. 106 apud CIELO; VAZ, 2009, p. 40): 
Ao CNDI também compete elaborar proposições, objetivando aperfeiçoar a 
legislação pertinente à Política Nacional do Idoso; estimular e apoiar tecnica-
mente a criação de conselhos de direitos do idoso nos Estados, no Distrito 
Federal e Municípios, propiciar assessoramento aos Conselhos Estaduais, 
do Distrito Federal e Municipais, no sentido de tornar efetiva a aplicação dos 
princípios e diretrizes estabelecidos na política nacional do idoso. Cabe ao 
CNDI também zelar pela efetiva descentralização político-administrativa e 
pela participação de organizações representativas dos idosos na implemen-
tação de política, planos, programas e projetos de atendimento ao idoso; bem 
33 
 
 
como pela implementação dos instrumentos internacionais relativos ao enve-
lhecimento das pessoas. Também ao CNDI é atribuída a função de zelar pelo 
cumprimento do Estatuto do Idoso. 
 
Complementando a assertiva, Freitas Junior (2011, p. 39), diz que ao Conselho 
Nacional do Idoso compete “a elaboração das diretrizes, instrumentos, normas e pri-
oridades para a formulação e implementação da política nacional do idoso, além de 
controlar e fiscalizar as ações executivas do Poder Público.” 
Apesar de existir várias legislações em defesa dos direitos do cidadão, muitas 
não são respeitadas. Segundo Cielo e Vaz (2009), nem mesmo a Política Nacional do 
Idoso tem sido eficientemente aplicada. Conforme advertem os autores, 
Infelizmente, essa legislação não tem sido eficientemente aplicada. Isto se 
deve a vários fatores, que vão desde contradições dos próprios textos legais 
até o desconhecimento de seu conteúdo. A área de amparo à terceira idade 
é um dos exemplos que mais chama atenção para a necessidade de uma 
ação pública conjunta, pois os idosos muitas vezes são vítimas de projetos 
implantados sem qualquer articulação pelos órgãos de educação, de assis-
tência social e de saúde, o que contraria a ideia do capítulo 3º, parágrafo 
único, da referida lei que determina que os Ministérios das áreas de saúde, 
educação, trabalho, previdência social, cultura, esporte e lazer devem elabo-
rar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao fi-
nanciamento de programas nacionais compatíveis com a Política Nacional do 
Idoso. (CIELO; VAZ, 2009, p. 38). 
 
Ana Maria Viola de Sousa (2004, p. 9 apud CIELO; VAZ, 2009, p. 39) acres-
centa que não basta a lei para que os idosos conquistem sua dignidade, respeito e se 
sintam inseridos na sociedade. 
A preocupação com a real situação dos idosos em nosso país nos levou a 
repensar formas ou meios que conduzissem o legislador e o aplicador do di-
reito a fazer justiça a essa camada crescente em nossa sociedade. Contudo, 
direitos apenas formalmente inseridos na lei não conferem aos idosos a dig-
nidade, o respeito, e a integração no novo modelo da sociedade atual e nem 
mesmo na futura. 
É preciso, portanto, uma conscientização da sociedade para que o idoso tenha 
seu espaço no âmbito familiar e da própria sociedade, como também o cumprimento 
da lei, conforme assevera Sousa (2004, p. 178 apud CIELO; VAZ, 2009) assevera 
que: 
Com o envelhecimento populacional e a ascensão dos direitos humanos, os 
idosos estão obtendo a revalorização e o reconhecimento de seus direitos na 
atual sociedade, mas, ainda que legislações de âmbito federal, estadual e 
municipal estabeleçam atendimentos prioritários, ocorrem diuturnamente 
descumprimentos impunes. 
 
O Estatuto do Idoso não traz um mecanismo capaz de modificar o tratamento 
dado ao idoso pela sociedade. Portanto, ainda assim existe um abismo entre a lei e a 
34 
 
 
realidade dos idosos no Brasil. Para que a situação mude, faz-se necessário que a lei 
continue sendo debatida e reivindicada em todos os espaços, pois somente a mobili-
zação da sociedade é capaz de levar até os idosos a esperança de uma nova visão 
sobre o processo de envelhecimento dos cidadãos brasileiros, mostrando que enve-
lhecer é um direito de todos (CIELO; VAZ, 2009). Dessa forma, o envolvimento do 
Estado, juízes, Promotores advogados é imprescindível, pois a violação dos direitos 
é constante na vida do idoso. 
Sob a égide de que os direitos dos idosos não são impositivos, muitos diplomas 
legais referentes a eles são relegados, ou seja, a lei é descumprida. Na busca de 
tornar efetiva as declarações dos direitos do idoso, o Ministério Público foi, conforme 
já exposto, delegado para representar o idoso. No entanto, os direitos dos idosos con-
tinuam sendo violados no tocante à saúde, trabalho, profissionalização, cuidados etc. 
A começar pelo direito à alimentação. Sobre esse direito, o Estatuto do Idoso 
remete ao Código Civil legislar sobre a matéria. Em seu art. 1694, o Código Civil de-
termina que cabe essa responsabilidade aos parentes, cônjuges ou companheiros. 
No âmbito legal cabe aos cônjuges ou companheiros e, em relação a parentes, recai 
sobre os ascendentes e descendentes (art. 1696). No caso de o idoso não ter parente, 
cônjuge ou companheiro, ou mesmo os tendo mas as pessoas não tenham condições 
financeiras para suportar qualquer encargo alimentar, impõe ao Estado a obrigação 
de suprir as necessidades básicas do idoso. Vê-se, portanto, que o Poder Público só 
se responsabiliza quando o cônjuge não tem ninguém para prover seu sustento. Assim 
é a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que 
entende que um familiar pode sustentar o idoso e, portanto, ao Estado se exime desta 
obrigação. 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. AUSÊNCIA 
DE PROVA DE NECESSIDADE DO RÉU QUE HÁ MUITO ALCANÇOU A 
MAIORIDADE E AINDA NÃO CONCLUIU OS ESTUDOS. POSSIBILIDADE 
DE ESTUDAR À NOITE E TRABALHAR DURANTE O DIA PARA SE SUS-
TENTAR. REALIDADE COMPATÍVEL COM A CONDIÇÃO SOCIAL DAS 
PARTES LITIGANTES. 1. Dadas as condições econômicas e sociais dos liti-
gantes, não é exigível que o pai leve uma condição de vida miserável quando 
o filho pode perfeitamente estudar à noite e trabalhar durante o dia para ga-
rantir seu sustento. 2. A opção por escola privada não pode servir para onerar 
o alimentante (que é idoso e aposentado, com ganho de é idoso e aposen-
tado, com ganho de 1.359,05), e manter a obrigação alimentar quando há 
diversas outras instituições que oferecem custos técnicos gratuitos. 3. Evi-
denciado que o beneficiário dos alimentos tem 23 anos, goza de perfeita sa-
úde e tem condições de prover o próprio sustento, procede a pretensão de 
exoneração da obrigação alimentar. DERAM PROVIMENTO.

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