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CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 1 1. FUNDAMENTOS DO CONCRETO ARMADO: 1.1. Introdução: Até março de 2003 a principal norma para o projeto de estruturas de concreto armado era a NBR 6118/80, ou a NB1/78. Após passar por vários anos em processo de revisão, a NB 1/78 foi substituída por uma nova versão, a NBR 618/2003 “Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento”, que incluiu também as estruturas de Concreto Protendido. As recomendações para a execução das estruturas de concreto passaram a fazer parte da norma NBR 14931/03. 1.2. Composição do concreto: Os primeiros materiais a serem empregados nas construções foram a pedra natural e a madeira, sendo o ferro e o aço empregados séculos depois. O concreto armado só surgiu mais recentemente, por volta de 1850. Para um material de construção ser considerado bom, ele deve apresentar duas características básicas: resistência e durabilidade. A pedra natural tem resistência à compressão e durabilidade muito elevadas, porém, tem baixa resistência à tração. A madeira tem razoável resistência, mas tem durabilidade limitada. O aço tem resistência elevadas, mas requer proteção contra a corrosão. O concreto é um material composto, constituído por cimento, água, agregado miúdo (areia) e agregado graúdo (pedra ou brita), e ar. Pode também conter adições (cinza volante, pozolanas (1), sílicas ativa (2), etc.) e aditivos químicos com a finalidade de melhorar ou modificar suas propriedades básicas. 1. Os modernos cimentos pozolânicos são uma mistura de pozolanas naturais e industriais com cimento Portland. Para além do seu uso em obras submersas, a alta alcalinidade dos cimentos pozolânicos torna-os resistentes às causas mais comuns de corrosão, incluindo à provocada por sulfatos de origem atmosférica, em especial os resultantes das chuvas ácidas. Depois de completamente endurecido (após um período de cura em geral longo), as argamassas pozolânicas são em geral mais duras do que misturas semelhantes contendo apenas cimento Portland. Essa dureza deve-se à sua menor porosidade, o que também as torna menos propensa a absorver água por capilaridade e menos atreitas a fragmentação superficial (spalling). O cimento Portland pozolânico (conforme norma ABNT NBR 5736), em geral conhecido pela sigla CP IV, é constituído por clínquer e gesso: 45 a 85%; escórias: 0 a 5%; pozolanas: 15 a 50%; material carbonatado: 0 a 5 2. Sílica ativa é um produto resultante do processo de fabricação de ferro-silício ou de silício metálico. Para obtenção destes utilizam-se como matérias-primas o quartzo (SiO2) e fontes de carbono CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 2 2.1. Agregados: Os agregados podem ser definidos como os “materiais granulosos e inertes que entram na composição das argamassas e concretos”. São classificados quanto à origem em naturais (encontrados na natureza: areias de rios e pedregulhos) e artificiais (passam por processo para obter as características finais: britas originárias da trituração de rochas). • Brita 0 - 4,8 a 9,5 mm; • Brita 1 – 9,5 a 19 mm; • Brita 2 – 19 a 38 mm; • Brita 3 – 38 a 76 mm; • Pedra-de-mão - > 76 mm. Por que não devemos usar areia da praia no concreto? O problema de sua utilização está na composição. A areia de praia é composta por grãos extremamentes finos e por sais e partículas de decomposição marinha (ostras, conchas etc.). Os sais diminuem a durabilidade do concreto, pois aumentam a corrosão do aço e sua granulometria exige uma adição maior de água e cimento. Portanto, mesmo que lavássemos essa areia retirando os sais, ainda inviabilizaria pelo aumento de cimento. 2.2. Água: A água é necessária no concreto para possibilitar as reações químicas do cimento, chamada reações de hidratação, que irão garantir as propriedades de resistência e durabilidade do concreto. Tem também a função de lubrificar as demais partículas para proporcionar o manuseio do concreto. Normalmente a água potável é a indicada para a confecção dos concretos. 2.3. Armadura: Aço é uma liga metálica formada essencialmente por ferro e carbono, com percentagens deste último variando entre 0,008 e 2,11%. Distingue-se do ferro fundido, que também é uma liga de ferro e carbono, mas com teor de carbono entre 2,11% e 6,67%. A diferença fundamental entre ambos é que o aço, pela sua ductibilidade, é facilmente deformável por forja, laminação e extrusão, enquanto que uma peça em ferro fundido é fabricada pelo processo de fundição. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 3 A armadura é a denominação dada a montagem do aço para compor a peça dimensionada que será formada por concreto armado. 1.3. Conceito do Concreto Armado: O concreto é um material que apresenta alta resistência às tensões de compressão, porém, apresenta baixa resistência à tração (cerca de 9% da sua resistência à compressão). Assim sendo, é imperiosa a necessidade de juntar ao concreto um material com alta resistência à tração, com o objetivo deste material, disposto convenientemente, resistir às tensões de tração atuantes. Com esse material composto (concreto e armadura – barras de aço), surge então o chamado “concreto armado”, onde as barras da armadura absorvem as tensões de tração e o concreto absorve as tensões de compressão, no que pode ser auxiliado também por barras de aço (pilar). No entanto, o conceito de concreto armado envolve ainda o fenômeno da aderência, que é essencial e deve obrigatoriamente existir entre o concreto e a armadura, pois não basta apenas juntar os dois materiais para se ter o concreto armado. Para a existência do concreto armado é imprescindível que haja real solidariedade entre ambos o concreto e o aço, e que o trabalho seja realizado de forma conjunta. Em resumo, pode-se definir o concreto armado como “a união do concreto simples e de um material resistente à tração (envolvido pelo concreto) de tal modo que ambos resistam solidariamente aos esforços solicitantes”. De forma esquemática pode-se indicar que concreto armado é: Concreto armado = concreto simples + armadura + aderência Com a aderência, a deformação εs num ponto da barra de aço e a deformação εc no concreto que a circunda, devem ser iguais, isto é: εc = εs. 2. Fissuração no concreto armado: A fissuração nos elementos estruturais de concreto armado é causado pela baixa resistência à tração do concreto. Apesar de indesejável, o fenômeno da fissuração é natural (dentro de certos limites) no concreto armado. O controle da fissuração é importante para a segurança estrutural em serviço, εs = épsilon CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 4 condições de funcionalidade e estética (aparência), desempenho (durabilidade, impermeabilidade, etc.). Eliminar completamente as fissuras seria antieconômico, pois teria-se que aplicar tensões de tração muito baixas na peça e na armadura. Isso leva a que o concreto armado deve conviver com as fissuras, que não serão eliminadas e sim diminuídas a valores de abertura aceitáveis (geralmente até 0,3 mm) No concreto armado, a armadura submetida a tensões de tração alonga-se, até o limite máximo de 10 %o (1 % = 10%o = 10 mm/m), imposto pela NBR 6118/2003 a fim de evitar fissuração excessiva no concreto. Pode-se imaginar um tirante com 1 m de comprimento tendo dez fissuras com abertura de 1 mm, distribuídas ao longo do seu comprimento. PROPRIEDADES DO CONCRETO E DO AÇO: A NBR 6118/2003 (item 8.2.1) impõe que “as estruturas de concreto armado devem ser projetadas e construídas com concreto classe C20 ou superior. A classe C15 pode ser usada apenas em fundações, conforme a NBR 6122, e em obras provisórias.” C15 e C20 indicam concretos de resistência característica à compressão (fck) de 15 e 20 Mpa, respectivamente. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 51. MASSA ESPECÍFICA: A massa específica dos concretos simples gira em torno de 2.400 kg/m³. A NBR 6118/2003 se aplica a concretos com massa específica entre 2.000 kg/m³ e 2.800 kg/m³. Não sendo conhecida a massa específica real, pode-se adotar o valor de 2.400 kg/³ para o concreto simples e 2.500 kg/m³ para o concreto armado. Em situações diferentes das correntes deve-se estudar parâmetros mais consistentes para a massa específica do concreto armado. Considerando para as estruturas comuns uma taxa média de armadura de 100 kg de aço para cada metro cúbico de concreto, a massa específica do concreto armado resulta 2.500 kg/m³. 2. PROPRIEDADES MECÂNICAS As principais propriedades mecânicas do concreto são: resistência à compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade. Essas propriedades são determinadas a partir de ensaios, executados em condições específicas. Geralmente, os ensaios são realizados para controle da qualidade e atendimento às especificações. 2.2.1 Resistência à compressão A resistência à compressão simples, denominada fc, é a característica mecânica mais importante. Para estimá-la em um lote de concreto, são moldados e preparados corpos-de-prova para ensaio segundo a NBR 5738 – Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos de concreto, os quais são ensaiados segundo a NBR 5739 – Concreto – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. O corpo-de-prova padrão brasileiro é o cilíndrico, com 15 cm de diâmetro e 30 cm de altura, e a idade de referência para o ensaio é 28 dias. Após ensaio de um número muito grande de corpos-de-prova, pode ser feito um gráfico com os valores obtidos de fc versus a quantidade de corpos-de-prova relativos a determinado valor de fc, também denominada densidade de freqüência. A curva encontrada denomina se Curva Estatística de Gauss ou Curva de Distribuição Normal para a resistência do concreto à compressão (Figura 2.1). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 6 Figura 2.1 – Curva de Gauss para a resistência do concreto à compressão Na curva de Gauss encontram-se dois valores de fundamental importância: resistência média do concreto à compressão, fcm, e resistência característica do concreto à compressão, fck. O valor fcm é a média aritmética dos valores de fc para o conjunto de corpos-de-prova ensaiados, e é utilizado na determinação da resistência característica, fck, por meio da fórmula: fck = fcm −1,65s. O desvio-padrão s corresponde à distância entre a abscissa de fcm e a do ponto de inflexão da curva (ponto em que ela muda de concavidade). O valor 1,65 corresponde ao quantil de 5%, ou seja, apenas 5% dos corpos-de-prova possuem fc < fck, ou, ainda, 95% dos corpos-de-prova possuem fc ≥ fck. Portanto, pode-se definir fck como sendo o valor da resistência que tem 5% de probabilidade de não ser alcançado, em ensaios de corpos-de-prova de um determinado lote de concreto. Como será visto posteriormente, a NBR 8953 define as classes de resistência em função de fck. Concreto classe C30, por exemplo, corresponde a um concreto com fck = 30MPa. Nas obras, devido ao pequeno número de corpos-de-prova ensaiados, calcula se fck, est, valor estimado da resistência característica do concreto à compressão. 2.2.2 Resistência à tração Os conceitos relativos à resistência do concreto à tração direta, fct, são análogos aos expostos no item anterior, para a resistência à compressão. Portanto, tem-se a resistência média do concreto à tração, fctm, valor obtido da média aritmética dos resultados, e a resistência característica do concreto à tração, fctk ou simplesmente ftk, valor da resistência que tem 5% de probabilidade de não ser alcançado pelos resultados de um lote de concreto. A diferença no estudo da tração encontra-se nos tipos de ensaio. Há três normalizados: tração direta, compressão diametral e tração na flexão. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 7 a) Ensaio de tração direta Neste ensaio, considerado o de referência, a resistência à tração direta, fct, é determinada aplicando-se tração axial, até a ruptura, em corpos-de-prova de concreto simples (Figura 2.2). A seção central é retangular, medindo 9 cm por 15 cm, e as extremidades são quadradas, com 15 cm de lado. Figura 2.2 – Ensaio de tração direta b) Ensaio de tração na compressão diametral (spliting test) É o ensaio mais utilizado. Também é conhecido internacionalmente como Ensaio Brasileiro. Foi desenvolvido por Lobo Carneiro, em 1943. Para a sua realização, um corpo-de-prova cilíndrico de 15 cm por 30 cm é colocado com o eixo horizontal entre os pratos da prensa (Figura 2.3), sendo aplicada uma força até a sua ruptura por tração indireta (ruptura por fendilhamento). Figura 2.3 – Ensaio de tração por compressão diametral O valor da resistência à tração por compressão diametral, fct, sp, encontrado neste ensaio, é um pouco maior que o obtido no ensaio de tração direta. O ensaio de compressão diametral é simples de ser executado e fornece resultados mais uniformes do que os da tração direta. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 8 c) Ensaio de tração na flexão Para a realização deste ensaio, um corpo-de-prova de seção prismática é submetido à flexão, com carregamentos em duas seções simétricas, até à ruptura (Figura 2.4). O ensaio também é conhecido por “carregamento nos terços”, pelo fato das seções carregadas se encontrarem nos terços do vão. Analisando os diagramas de esforços solicitantes (Figura 2.5) pode-se notar que na região de momento máximo tem-se cortante nula. Portanto, nesse trecho central ocorre flexão pura. Os valores encontrados para a resistência à tração na flexão, fct,f, são maiores que os encontrados nos ensaios descritos anteriormente. Figura 2.4 – Ensaio de tração na flexão Figura 2.5 – Diagramas de esforços solicitantes (ensaio de tração na flexão) CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 9 d) Relações entre os resultados dos ensaios Como os resultados obtidos nos dois últimos ensaios são diferentes dos relativos ao ensaio de referência, de tração direta, há coeficientes de conversão. Considera-se a resistência à tração direta, fct, igual a 0,9 fct,sp ou 0,7 fct,f, ou seja, coeficientes de conversão 0,9 e 0,7, para os resultados de compressão diametral e de flexão, respectivamente. Na falta de ensaios, as resistências à tração direta podem ser obtidas a partir da resistência à compressão fck: fctm = 0,3 fck 2/3 fctk,inf = 0,7 fctm fctk,sup = 1,3 fctm Nessas equações, as resistências são expressas em MPa. Será visto oportunamente que cada um desses valores é utilizado em situações específicas. 2.2.3 Módulo de elasticidade Outro aspecto fundamental no projeto de estruturas de concreto consiste na relação entre as tensões e as deformações. Sabe-se da Resistência dos Materiais que a relação entre tensão e deformação, para determinados intervalos, pode ser considerada linear (Lei de Hooke), ou seja, σ = E*ε, sendo σ a tensão, ε a deformação específica e E ou Módulo de Elasticidade ou Módulo de Deformação Longitudinal (Figura 2.6). Figura 2.6 - Módulo de elasticidade ou de deformação longitudinal CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 10 Para o concreto a expressão do Módulo de Elasticidade é aplicada somente à parte retilínea da curva tensão-deformação ou, quando não existir uma parte retilínea, a expressão é aplicada à tangente da curva na origem. Neste caso, tem-se o Módulo de Deformação Tangente Inicial, Eci (Figura 2.7). Figura 2.7 - Módulo de deformação tangente inicial (Eci) O módulo de deformação tangente inicial é obtido segundo ensaio descrito na NBR 8522 – Concreto – Determinação do módulo de deformação estática e diagrama tensão-deformação. Quando não forem feitos ensaios e não existirem dados mais precisossobre o concreto, para a idade de referência de 28 dias, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade inicial usando a expressão: Eci = 5600 fck 1/2 Eci e fck são dados em MPa. O Módulo de Elasticidade Secante, Ecs, a ser utilizado nas análises elásticas do projeto, especialmente para determinação de esforços solicitantes e verificação de limites de serviço, deve ser calculado pela expressão: Ecs = 0,85 Eci Na avaliação do comportamento de um elemento estrutural ou de uma seção transversal, pode ser adotado um módulo de elasticidade único, à tração e à compressão, igual ao módulo de elasticidade secante (Ecs). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 11 2.2.4 Coeficiente de Poisson Quando uma força uniaxial é aplicada sobre uma peça de concreto, resulta uma deformação longitudinal na direção da carga e, simultaneamente, uma deformação transversal com sinal contrário (Figura 2.8). Figura 2.8 – Deformações longitudinais e transversais A relação entre a deformação transversal e a longitudinal é denominada coeficiente de Poisson e indicada pela letra ν. Para tensões de compressão menores que 0,5 fc e de tração menores que fct, pode ser adotado ν = 0,2. 2.2.5 Módulo de elasticidade transversal O módulo de elasticidade transversal pode ser considerado Gc = 0,4 Ecs. 2.2.6 Estados múltiplos de tensão Na compressão associada a confinamento lateral, como ocorre em pilares cintados, por exemplo, a resistência do concreto é maior do que o valor relativo à compressão simples. O cintamento pode ser feito com estribos, que impedem a expansão lateral do pilar, criando um estado múltiplo de tensões. O cintamento também aumenta a dutilidade do elemento estrutural. Na região dos apoios das vigas, pode ocorrer fissuração por causa da força cortante. Essas fissuras, com inclinação aproximada de 45°, delimitam as chamadas bielas de compressão. Portanto, as bielas são regiões comprimidas com tensões de tração na direção perpendicular, caracterizando um estado biaxial de tensões. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 12 Nesse caso tem-se uma resistência à compressão menor que a da compressão simples. Portanto, a resistência do concreto depende do estado de tensão a que ele se encontra submetido. 2.3 ESTRUTURA INTERNA DO CONCRETO Na preparação do concreto, com as mistura dos agregados graúdos e miúdos com cimento e água, tem início a reação química do cimento com a água, resultando gel de cimento, que constitui a massa coesiva de cimento hidratado. A reação química de hidratação do cimento ocorre com redução de volume, dando origem a poros, cujo volume é da ordem de 28% do volume total do gel. Durante o amassamento do concreto, o gel envolve os agregados e endurece com o tempo, formando cristais. Ao endurecer, o gel liga os agregados, resultando um material resistente e monolítico – o concreto. A estrutura interna do concreto resulta bastante heterogênea: adquire forma de retículos espaciais de gel endurecido, de grãos de agregados graúdo e miúdo de várias formas e dimensões, envoltos por grande quantidade de poros e capilares, portadores de água que não entrou na reação química e, ainda, vapor d’água e ar. Fisicamente, o concreto representa um material capilar pouco poroso, sem continuidade da massa, no qual se acham presentes os três estados da agregação – sólido, líquido e gasoso. 2.4 DEFORMAÇÕES As deformações do concreto dependem essencialmente de sua estrutura interna. 2.4.1 Retração Denomina-se retração à redução de volume que ocorre no concreto, mesmo na ausência de tensões mecânicas e de variações de temperatura. As causas da retração são: • Retração química: contração da água não evaporável, durante o endurecimento do concreto. • Retração capilar: ocorre por evaporação parcial da água capilar e perda da água adsorvida. O tensão superficial e o fluxo de água nos capilares provocam retração. • Retração por carbonatação: Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O (ocorre com diminuição de volume). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 13 2.4.2 Expansão Expansão é o aumento de volume do concreto, que ocorre em peças submersas. Nessas peças, no início tem-se retração química. Porém, o fluxo de água é de fora para dentro. As decorrentes tensões capilares anulam a retração química e, em seguida, provocam a expansão da peça. 2.4.3 Deformação imediata A deformação imediata se observa por ocasião do carregamento. Corresponde ao comportamento do concreto como sólido verdadeiro, e é causada por uma acomodação dos cristais que formam o material. 2.4.4 Fluência Fluência é uma deformação diferida, causada por uma força aplicada. Corresponde a um acréscimo de deformação com o tempo, se a carga permanecer. Ao ser aplicada uma força no concreto, ocorre deformação imediata, com uma acomodação dos cristais. Essa acomodação diminui o diâmetro dos capilares e aumenta a pressão na água capilar, favorecendo o fluxo em direção à superfície. Tanto a diminuição do diâmetro dos capilares quanto o acréscimo do fluxo aumentam a tensão superficial nos capilares, provocando a fluência. No caso de muitas estruturas reais, a fluência e a retração ocorrem ao mesmo tempo e, do ponto de vista prático, é conveniente o tratamento conjunto das duas deformações. 2.4.5 Deformações térmicas Define-se coeficiente de variação térmica αte como sendo a deformação correspondente a uma variação de temperatura de 1°C. Para o concreto armado, para variações normais de temperatura, a NBR 6118 permite adotar αte = 10 -5 /°C. 2.5 FATORES QUE INFLUEM Os principais fatores que influem nas propriedades do concreto são: • Tipo e quantidade de cimento; • Qualidade da água e relação água-cimento; • Tipos de agregados, granulometria e relação agregado-cimento; • Presença de aditivos e adições; • Procedimento e duração da mistura; • Condições e duração de transporte e de lançamento; CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 14 • Condições de adensamento e de cura; • Forma e dimensões dos corpos-de-prova; • Tipo e duração do carregamento; • Idade do concreto; umidade; temperatura etc. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 15 3. ADERÊNCIA E ANCORAGEM Aderência (bond, em inglês) é a propriedade que impede que haja escorregamento de uma barra em relação ao concreto que a envolve. É, portanto, responsável pela solidariedade entre o aço e o concreto, fazendo com que esses dois materiais trabalhem em conjunto. A transferência de esforços entre aço e concreto e a compatibilidade de deformações entre eles são fundamentais para a existência do concreto armado. Isto só é possível por causa da aderência. Ancoragem é a fixação da barra no concreto, para que ela possa ser interrompida. Na ancoragem por aderência, deve ser previsto um comprimento suficiente para que o esforço da barra (de tração ou de compressão) seja transferido para o concreto. Ele é denominado comprimento de ancoragem. Além disso, em peças nas quais, por disposições construtivas ou pelo seu comprimento, necessita-se fazer emendas nas barras, também se deve garantir um comprimento suficiente para que os esforços sejam transferidos de uma barra para outra, na região da emenda. Isto também é possível graças à aderência entre o aço e o concreto. 3.1 TIPOS DE ADERÊNCIA Esquematicamente, a aderência pode ser decomposta em três parcelas: adesão, atrito e aderência mecânica. Essas parcelas decorrem de diferentes fenômenos que intervêm na ligação dos dois materiais. 3.1.1 Aderência por Adesão A aderência por adesão caracteriza-se por uma resistência à separação dos dois materiais. Ocorre em função de ligações físico-químicas, na interface das barras com a pasta, geradas durante as reações de pega do cimento. Parapequenos deslocamentos relativos entre a barra e a massa de concreto que a envolve, essa ligação é destruída. A Figura 3.1 mostra um cubo de concreto moldado sobre uma placa de aço. A ligação entre os dois materiais se dá por adesão. Para separá-los, há necessidade de se aplicar uma ação representada pela força Fb1. Se a força fosse aplicada na horizontal, não se conseguiria dissociar a adesão do comportamento relativo ao atrito. No entanto, a adesão existe independente da direção da força aplicada. Figura 3.1 – Aderência por adesão CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 16 3.1.2 Aderência por Atrito Por meio do arrancamento de uma barra em um bloco concreto (Figura 3.2), verifica-se que a força de arrancamento Fb2 é maior do que a força Fb1 mobilizada pela adesão. Esse acréscimo é devido ao atrito entre a barra e o concreto. Figura 3.2 – Aderência por atrito O atrito manifesta-se quando há tendência ao deslocamento relativo entre os materiais. Depende da rugosidade superficial da barra e da pressão transversal σ, exercida pelo concreto sobre a barra, em virtude da retração (Figura 3.2). Em barras curvas ou em regiões de apoio de vigas em pilares, aparecem acréscimos dessas pressões de contato, que favorecem a aderência por atrito. O coeficiente de atrito entre aço e concreto é alto, em função da rugosidade da superfície das barras, resultando valores entre 0,3 e 0,6 (LEONHARDT, 1977). Na Figura 3.2, a oposição à ação Fb2 é constituída pela resultante das tensões de aderência (τb) distribuídas ao longo da barra. 3.1.3 Aderência Mecânica A aderência mecânica é devida à conformação superficial das barras. Nas barras de alta aderência (Figura 3.3), as saliências mobilizam forças localizadas, aumentando significativamente a aderência. Figura 3.3 – Aderência mecânica em barras nervuradas A Figura 3.4 (LEONHARDT, 1977) mostra que mesmo uma barra lisa pode apresentar aderência mecânica, em função da rugosidade superficial, devida à corrosão e ao processo de fabricação, gerando um denteamento da superfície. Para efeito de comparação, são apresentadas superfícies microscópicas de: barra de aço enferrujado, barra recém laminada e fio de aço obtido por laminação a quente e posterior encruamento a frio por estiramento. Nota-se que essas superfícies estão muito longe de serem efetivamente lisas. Portanto, a separação da aderência nas três parcelas - adesão, atrito e aderência mecânica - é apenas esquemática, pois não é possível quantificar isoladamente cada uma delas. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 17 Barra enferrujada Barra recém laminada Fio estirado Figura 3.4 - Rugosidade superficial de barras e fios lisos (LEONHARDT, 1977) 3.2. TENSÃO DE ADERÊNCIA Para uma barra de aço imersa em uma peça de concreto, como a indicada na figura 3.5, a tensão média de aderência é dada por: Figura 3.5 – Tensão de aderência �� = ��� ∙ � ∙ � Rs é a força atuante na barra; φ é o diâmetro da barra; lb é o comprimento de ancoragem. A tensão de aderência depende de diversos fatores, entre os quais: • Rugosidade da barra; • Posição da barra durante a concretagem; • Diâmetro da barra; • Resistência do concreto; • Retração; • Adensamento; • Porosidade do concreto etc. Alguns desses aspectos serão considerados na seqüência deste texto. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 18 3.3. SITUAÇÕES DE ADERÊNCIA Na concretagem de uma peça, tanto no lançamento como no adensamento, o envolvimento da barra pelo concreto é influenciado pela inclinação dessa barra. Sua inclinação interfere, portanto, nas condições de aderência. Por causa disso, a NBR 6118 (2003) considera em boa situação quanto à aderência os trechos das barras que estejam com inclinação maior que 45º em relação à horizontal (figura 3.6 a). FIGURA 3.6 – Situações de boa e de má aderência (PROMON, 1976) As condições de aderência são influenciadas por mais dois aspectos: • Altura da camada de concreto sobre a barra, cujo peso favorece o adensamento, melhorando as condições de aderência; • Nível da barra em relação ao fundo da forma; a exsudação produz porosidade no concreto, que é mais intensa nas camadas mais altas, prejudicando a aderência. Essas duas condições fazem com que a NBR 6118 (2003) considere em boa situação quanto à aderência os trechos das barras que estejam em posição horizontal ou com inclinação menor que 45º, desde que: • para elementos estruturais com h < 60 cm, localizados no máximo 30 cm acima da face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima (Figuras 3.6b e 3.6c); • para elementos estruturais com h ≥ 60 cm, localizados no mínimo 30 cm abaixo da face superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima (Figura 3.6d). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 19 Em outras posições e quando do uso de formas deslizantes, os trechos das barras devem ser considerados em má situação quanto à aderência. No caso de lajes e vigas concretadas simultaneamente, a parte inferior da viga pode estar em uma região de boa aderência e a parte superior em região de má aderência. Se a laje tiver espessura menor do que 30 cm, estará em uma região de boa aderência. Sugere-se, então, a configuração das figuras 3.6e e 3.6f para determinação das zonas aderência. 3.4. RESISTÊNCIA DA ADERÊNCIA DE CÁLCULO A caracterização da superfície de aderência das barras de aços destinados a armaduras para concreto armado é feita pelo coeficiente de conformação superficial ƞ(eta), através de ensaio estabelecido pela NBR 7477. Os valores mínimos para este coeficiente, apresentados na NBR 7480 são estabelecidos em função da categoria do aço. Para a NBR 6118, a conformação superficial é medida pelo coeficiente ƞ1. Os valores para este coeficiente são estabelecidos em função do tipo de superfície lateral das barras. As relações entre os coeficiente ƞ e ƞ1, apresentadas pela NBR 6118, item 8.3.2, são mostradas na Tabela 3.1. Superfície ƞ1 ƞ Lisa (CA-25) 1,00 ≥ 1,0 Entalhada (CA-60) 1,40 ≥ 1,5 Nervurada (CA-50) 2,25 ≥ 1,5 Tabela 3.1 – Relação entre ƞ e ƞ1 A NBR 6118, item 9.3.2.1, estabelece que a resistência de aderência de cálculo entre armadura e concreto na ancoragem de armaduras passivas deve ser obtida pela seguinte expressão: �� = ƞ ∙ ƞ� ∙ ƞ� ∙ f��� Eq. 3.1 Sendo: ��� = ���,����� 1,00 (barras lisas) Ƞ1 = 1,40 (barras entalhadas) 2,25 (barras nervuradas ou alta aderência) Ƞ2 = 1,00 (situação de boa aderência) 0,70 (situação de má aderência) Ƞ3 = 1,00 (ø ≤ 32 mm) 0, 92 (ø = 40 mm) CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 20 Na falta de ensaios para a determinação mais precisa do valor da resistência à tração do concreto, é permitido pela NBR 6118, item 8.2.5, o uso das seguintes expressões: ��,� = 0,3 ∙ � ��� ���,� = 0,7 ∙ ��,� (valores em MPa) Eq. 3.2 ���,�"# = 1,3 ∙ ��,� Sendo fckj ≥ 7 MPa, as expressões da Equação 3.2 podem também ser usadas para idades diferentes de 28 dias. Combinando a Equação 3.1 e a Equação 3.2, tem-se: ���,� = 0,7 ∙ ��,� = 0,7 ∙ %0,3 ∙ � ��� & = 0,21 ∙ � ��� ��� = ���,����� = 0,21 ∙ ( ��� �� �� = ƞ ∙ ƞ� ∙ ƞ� ∙ f��� = ƞ ∙ ƞ� ∙ ƞ� ∙ )0,21 ∙ ( ��� �� * �� = +,,� ∙ƞ-∙ƞ.∙ƞ /0 1 ∙ ( ��� (fck em MPa) Eq. 3.3 1,40 (combinações normais) Os valores de γc = 1,20 (combinações especiais ou de construção) 1,20 (combinações excepcionais) CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 21 Os valores de fdb para situações de boa aderência e barras com diâmetro igual ou menor a 32 mm estão mostrados na Tabela 3.2. fdb ø ≤ 32 mm (boa aderência) γc = 1,4 concreto barras lisas entalhadas nervuradas C20 1,11 MPa 1,55 MPa 2,49 MPa C25 1,28 MPa 1,80 MPa 2,89 MPa C30 1,45 MPa 2,03 MPa3,26 MPa C35 1,60 MPa 2,25 MPa 3,61 MPa C40 1,75 MPa 2,46 MPa 3,95 MPa C45 1,90 MPa 2,66 MPa 4,27 MPa C50 2,04 MPa 2,85 MPa 4,58 MPa Tabela 3.2 – Valores de fbd 3.5. COMPRIMENTO DE ANCORAGEM – VALORES DE CÁLCULO Os valores de cálculo para comprimento de ancoragem de barras , a serem usados em projetos de estruturas de concreto armado, são obtidos da Equação 3.3 substituindo τb,inf por fbd, de tal forma que: �,�2� = ∅4 ∙ 56�78 Eq. 3.4 No caso particular em que a tensão normal σs corresponde ao valor limite de cálculo fyd, tem-se: � = ∅4 ∙ �98�78 Eq. 3.5 A NBR 6118, item 9.4.2.4, define o valor de lb da Equação 3.5 como sendo o comprimento de ancoragem básico, necessário para ancorar a força limite As fyd, atuante na barra, admitindo, ao longo desse comprimento, resistência de aderência uniforme e igual a fbd. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 22 Deve ser observado que o valor do comprimento de ancoragem necessário (lb,Nec da Equação 3.4) será sempre menor ou igual ao comprimento de ancoragem básico (lb da Equação 3.5) pois σs ≤ fyd. De acordo com a NBR 6118, item 9.4.2.4 – Comprimento de ancoragem básico. “Define-se comprimento de ancoragem básico como o comprimento reto de uma barra de armadura passiva necessário para ancorar a força limite As fyd nessa barra, admitindo, ao longo desse comprimento, resistência de aderência uniforme e igual a fbd, conforme item 9.3.2.1.” O comprimento de ancoragem básico é dado por: �,�2� = ∅4 ∙ ;� �� 9.4.2.5 – Comprimento de ancoragem necessário. O comprimento de ancoragem necessário pode ser calculado por: �,�2� = < ∙ � ∙ =�,�>?=�,2� ≥ �,��� Sendo: α = 1,0 para barras sem gancho; α = 0,7 para barras tracionadas com gancho, com cobrimento no plano normal ao longo do gancho ≥ 3ø; α = 0,7 quando houver barras transversais soldadas conforme 9.4.2.2; α = 0,5 quando houver barras transversais soldadas conforme 9.4.2.2 e gancho, com cobrimento no plano normal ao do gancho ≥ 3ø; lb = calculado conforme 9.4.2.4; lb,min = o maior valor entre 0,3.lb, 10ø e 100 mm. Permite-se, em casos especiais, considerar outros fatores redutores do comprimento de ancoragem necessário. Deve ser observado que a apresentação do comprimento de ancoragem necessário apresentado pelo item 9.4.2.5 da NBR 6118, aparentemente, difere do estabelecido pela Equação 3.4. No entanto, os dois modos de apresentação são equivalentes, como demonstrado a seguir. A Equação 3.4 decorre da Figura 3.5 onde é mostrado que: ;� = A�=� = A�=�,2� Onde As representa a área transversal efetiva (As,ef) da barra tracionada pela força Fs. Desta forma, a Equação 3.4 pode ser escrita �,�2� = ∅4 ∙ ;� �� = ∅4 ∙ 1 �� ∙ A�=�,2� CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 23 Como uma força pode ser sempre representada pelo produto de uma área por uma tensão, para a força Fs vale: A� = =�,�>? ∙ B� Onde As, cal representa a área a ser calculada (As, cal ≤ As, ef), para que a tensão σs atuante na bara tracionada pela força Fs resulte igual a fyd. Desta forma, tem-se: �,�2� = ∅4 ∙ 1 �� ∙ A�=�,2� = ∅4 ∙ 1 �� ∙ =�,�>? ∙ B�=�,2� Ou ainda: �,�2� = ∅4 ∙ �98�78 ∙ C6,0DEC6,FG = � ∙ C6,0DEC6,FG Eq. 3.6 A Equação 3.6 é, portanto, a mesma apresentada pela NBR 6118, item 9.4.2.5, a menos do fator α. Desta forma, o valor de lb, Nec pode ser calculado por: �,�2� = < ∙ � ∙ =�,�>?=�,2� ≥ H 0,3 ∙ �10∅10IJ K A combinação da Equação 3.4 com a Equação 3.6, resulta em: �,�2� = ∅4 ∙ ;� �� = ∅4 ∙ B� �� ∙ =�,�>?=�,2� De tal forma que, a tenso atuante na barra tracionada fica definida por: ;� = C6,0DEC6,FG ∙ B� Eq. 3.7 CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 24 Os valores de lb para CA-50, situações de boa aderência e barras com diâmetro igual ou menor de 32 mm estão mostrados na Tabela 3.3. lb γc = 1,4 ø ≤ 32 mm CA-50 γs = 1,15 (boa aderência) concreto Barras lisas entalhadas nervuradas C20 98ø 70ø 44ø C25 85ø 61ø 38ø C30 75ø 54ø 33ø C35 68ø 48ø 30ø C40 62ø 44ø 28ø C45 57ø 41ø 25ø C50 53ø 38ø 24ø Tabela 3.3 – Comprimento de ancoragem básico – CA-50 (obs.: para situação de má aderência, dividir os valores da tabela por 0,7) 4. DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÕES Os domínios são representações das deformações que ocorrem na seção transversal dos elementos estruturais. As deformações são de alongamento e de encurtamento, oriundas de tensões de tração e compressão, respectivamente. Segundo a NBR 6118/03 (item 17.2.2), o estado limite último (ELU) de elementos lineares sujeitos a solicitações normais é caracterizado quando a distribuição das deformações na seção transversal pertencer a um dos domínios definidos na Figura 4.1. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 25 Figura 4.1 – Diagrama possíveis dos domínios de deformações O estado limite último pode ocorrer por deformação plástica excessiva da armadura (reta a e domínios 1 e 2) ou por encurtamento excessivo do concreto (domínios 3, 4, 4a, 5 e reta b). O desenho mostrado na Figura 88 representa vários diagramas de deformação de casos de solicitação diferentes, com as deformações limites de 3,5 ‰ para o máximo encurtamento do concreto comprimido e 10 ‰ para o máximo alongamento na armadura tracionada. Os valores de 3,5 ‰ e 10 ‰ são valores últimos, de onde se diz que todos os diagramas de deformação correspondem a estados limites últimos. As linhas inclinadas dos diagramas de deformações são retas, pois se admite a hipótese básica das seções transversais permanecerem planas até a ruptura. A capacidade resistente da peça é admitida esgotada quando se atinge o alongamento máximo convencional de 10 ‰ na armadura tracionada ou mais tracionada, ou, de outro modo, correspondente a uma fissura com abertura de 1 mm para cada 10 cm de comprimento da peça. Os diagramas valem para todos os elementos estruturais que estiverem sob solicitações normais, como a tração e a compressão uniformes e as flexões simples e compostas. Solicitação normal é definida como os esforços solicitantes que produzem tensões normais nas seções transversais das peças. Os esforços podem ser o momento fletor e a força normal. O desenho dos diagramas de domínios pode ser visto como uma peça sendo visualizada em vista ou elevação, constituída com duas armaduras longitudinais próximas às faces superior e inferior da peça. A posição da linha neutra é dada pelo valor de x, contado a partir da fibra mais comprimida ou menos tracionada da peça. No caso específico da Figura 88, x é contado a partir da face superior. Em função dos vários domínios possíveis, a linha neutra estará compreendida no intervalo entre - ∞ (lado superior do diagrama no desenho da Figura 88) e + ∞ (lado inferior do diagrama). Quando 0 ≤ x ≤ h, a linha neutra estará passando dentro da seção transversal. São descritas a seguir as características da cada um dos oito diferentes domínios de deformações. 4.1. RETA A O caso de solicitação da reta a é a tração uniforme (também chamada tração simples ou tração axial), com a força normal de tração aplicada no centro de gravidade da seção transversal CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 26 (Figura 4.2). A linha neutra encontra-se no - ∞, e todos os pontos da seção transversal, inclusive as armaduras estão com deformação de alongamento igual à máxima de 10 ‰. As duas armaduras, portanto, estão com a mesma tensão de tração, a de início de escoamento do aço, fyd (ver diagrama σ x ε dos aços na Figura 4.3). Como exemplo, existem os elementos lineares chamados tirantes. Figura 4.2 – Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas Com ou sem patamar de escoamento Figura 4.3 – Tração uniforme na reta a 4.2. DOMÍNIO 1 O domínio 1 ocorre quando a força normal de tração não é aplicada no centro de gravidade da seção transversal,isto é, existe uma excentricidade da força normal em relação ao centro de gravidade. Neste domínio, ocorre a tração não uniforme, e a seção ainda está inteiramente tracionada, embora com deformações diferentes (Figura 4.4). Também se diz que a solicitação é de tração excêntrica com pequena excentricidade, ou flexo-tração. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 27 Figura 4.4 – Tração não uniforme no domínio 1: a) linha neutra com valor – x; b) linha neutra com x = 0 A deformação de alongamento na armadura mais tracionada é fixa e vale 10 ‰. A linha neutra é externa à seção transversal, podendo estar no intervalo entre – ∞ (reta a) e zero (limite entre os domínios 1 e 2), com x tendo um valor negativo. A capacidade resistente da seção é proporcionada apenas pelas armaduras tracionadas, pois o concreto encontra-se inteiramente fissurado. Como exemplo de elemento estruturais no domínio 1 há o tirante. 4.3. DOMÍNIO 2 No domínio 2 ocorrem os casos de solicitação de flexão simples, tração excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande excentricidade. A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 4.5). O domínio 2 é caracterizado pela deformação de alongamento fixada em 10 ‰ na armadura tracionada. Em função da posição da linha neutra, que pode variar de zero a x2lim (0 ≤ x ≤ x2lim), a deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de zero até 3,5 ‰. Quando a linha neutra passar por x2lim, ou seja, x= x2lim, as deformações na armadura tracionada e no concreto da borda comprimida serão os valores últimos, 10 ‰ e 3,5 ‰, respectivamente. No domínio 2 diz-se que a armadura tracionada (As2) é aproveitada ao máximo, com εsd = 10 ‰, mas o concreto comprimido não, com εcd ≤ 3,5 ‰. O domínio 2 é subdividido em 2a e 2b em função da deformação máxima de encurtamento no concreto comprimido. No domínio 2a considera-se a deformação variando de zero a 2 ‰ e no domínio 2b de 2 ‰ a 3,5 ‰. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 28 Figura 4.6 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 2. 4.4. DOMÍNIO 3 Os casos de solicitação são os mesmos do domínio 2, ou seja, flexão simples, tração excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande excentricidade. A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 4.7). O domínio 3 é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida. A deformação de alongamento na armadura tracionada varia da deformação de início de escoamento do aço (εyd) até o valor máximo de 10 ‰, o que implica que a tensão na armadura é a máxima permitida, fyd (ver Figura 4.2). Figura 4.7 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 3 A posição da linha neutra pode variar, desde o valor x2lim até x3lim (x2lim ≤ x ≤ x3lim), que delimita os domínios 3 e 4. A deformação de encurtamento na armadura comprimida é menor mas próxima a 3,5 ‰, por estar próxima à borda comprimida, onde a deformação é 3,5 ‰. Na situação última a ruptura do concreto comprimido ocorre simultaneamente com o escoamento da armadura tracionada. 4.5. DOMÍNIO 4 Os casos de solicitação do domínio 4 são a flexão simples e a flexão composta (flexo compressão ou compressão excêntrica com grande excentricidade). A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 4.8). O domínio 4 é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida. A deformação de alongamento na armadura tracionada varia de zero até a deformação de início de escoamento do aço (εyd), o que implica que a tensão na CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 29 armadura é menor que a máxima permitida, fyd (ver Figura 4.2). A posição da linha neutra pode variar de x3lim até a altura útil d (x3lim ≤ x ≤ d). Figura 4.8 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4. 4.6. DOMÍNIO 4A No domínio 4a a solicitação é de flexão composta (flexo-compressão). A seção transversal tem uma pequena parte tracionada e a maior parte comprimida (Figura 4.9). O domínio 4a também é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida. A linha neutra ainda está dentro da seção transversal, na região de cobrimento da armadura menos comprimida (As2), ou seja, d ≤ x ≤ h. Ambas as armaduras encontram-se comprimidas, embora a armadura próxima à linha neutra tenha tensões muito pequenas. Figura 4.9 – Solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4a. 4.7. DOMÍNIO 5 No domínio 5 ocorre a compressão não uniforme ou flexo-compressão com pequena excentricidade (flexão composta). A linha neutra não corta a seção transversal, que está completamente comprimida, embora com deformações diferentes. As duas armaduras também estão comprimidas. A posição da linha neutra varia de h até + ∞ (Figura 4.10). O que caracteriza o domínio 5 é o ponto C a 3/7 h , como mostrado na Figura 88. A linha inclinada do diagrama de deformações passa sempre por este ponto no CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 30 domínio 5. A deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de 2 ‰ a 3,5 ‰ e na borda menos comprimida varia de 0 a 2 ‰, em função da posição x da linha neutra. Com exceção do caso da linha neutra x = h, a forma do diagrama de deformações será a de um trapézio. Figura 4.10 – Compressão não uniforme no domínio 5. 4.8. RETA B O caso de solicitação da reta b é a compressão uniforme (também chamada compressão simples ou compressão axial), com a força normal de compressão aplicada no centro de gravidade da seção transversal (Figura 4.11). A linha neutra encontra-se no + ∞, e todos os pontos da seção transversal estão com deformação de encurtamento igual a 2 ‰. As duas armaduras, portanto, estão sob a mesma deformação e a mesma tensão de compressão. Figura 4.11 – Compressão uniforme na reta b. 4.9. DETERMINAÇÃO DE x2lim E x3lim Tendo como base os diagramas de domínios mostrados na Figura 88, os valores limites de x2lim e x3lim podem ser deduzidos. Da Figura 4.12 deduz-se o valor de x2lim: CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 31 L�?��3,5 = N13,5 L�?�� = 0,26 ∙ N Sendo PQ = Q� tem-se: PQ�?�� = 0,26 Figura 4.12 – Diagrama de deformações para a dedução de x2lim Com procedimento análogo pode-se deduzir o valor de x3lim. Da Figura 4.13 encontra-se: L�?��3,5 = N3,5 + SB� L�?�� = 3,5 ∙ N3,5 + SB� Sendo PQ = Q� tem-se: PQ�?�� = 3,5 ∙ N3,5 + SB� CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 32 Figura 4.13 – Diagrama de deformações para a dedução de x3lim Como se observa nas equações acima os valores de x3lim e βx3lim dependem de εyd, isto é, dependem da categoria do aço da armadura passiva. A Tabela 1 mostra os valores de x3lim e βx3lim em função da categoria do aço. AÇO TUV(‰) Z[\]^ _Z[\]^ CA-25 laminado a quente 1,04 0,77 d 0,77 CA-50 laminado a quente 2,07 0,63 d 0,63 CA-60 trefilado a fria 2,48 0,59 d 0,59 Tabela 1 – Valores de εyd, x3lim e βx3lim em função da categoria do aço CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 33 5. FLEXÃO NORMAL SIMPLES – VIGAS 5.1. INTRODUÇÃO A flexão simples é definida como a flexão sem força normal. Quando a flexão ocorre acompanhada de força normal tem-se a flexão composta. Solicitações normais são aquelas cujos esforços solicitantes produzem tensões normais (perpendiculares) às seções transversais dos elementos estruturais. Os esforços que provocam tensões normais são o momento fletor (M) e a força normal (N). Nas estruturas de concreto armado são três os elementos estruturais mais importantes: as lajes, as vigas e os pilares. E dois desses elementos, as lajes e as vigas, são submetidasà flexão normal simples, embora possam também, eventualmente, estarem submetidas à flexão composta. Por isso, o dimensionamento de seções retangulares e seções T sob flexão normal simples é a atividade diária mais comum aos engenheiros projetistas de estruturas de concreto armado (SANTOS, 1983). De modo que o estudo da flexão simples é muito importante. O estudo da flexão normal simples tem como objetivo proporcionar ao aluno o correto entendimento dos mecanismos resistentes proporcionados pelo concreto sob compressão e pelo aço sob tração, em seções retangulares e T, visando levá-lo a bem dimensionar ou verificar a resistência dessas seções. O equacionamento para a resolução dos problemas da flexão simples é deduzido em função de duas equações de equilíbrio da estática, e que proporciona as aqui chamadas “equações teóricas”, que podem ser facilmente implementadas para uso em programas computacionais. Também é apresentado o equacionamento com base em coeficientes tabelados tipo K, largamente utilizado no Brasil. É importante esclarecer o aluno que no estudo desta apostila ele aprenderá a dimensionar as seções transversais das vigas aos momentos fletores máximos, e fazer o detalhamento das armaduras de flexão apenas na seção transversal correspondente. Nesta disciplina o estudo das vigas está apenas iniciando. O estudo completo das vigas simples ou contínuas, com dimensionamentos aos esforços cortantes e momentos torçores, bem como o detalhamento completo e ancoragem das armaduras, só será alcançado ao término da disciplina 1309- Estruturas de Concreto II. Além disso, outros tópicos relativos às vigas, como fissuração e flecha, serão estudados na disciplina 1365 – Estruturas de Concreto IV. 5.2. DEFINIÇÃO DE VIGA São elementos lineares em que a flexão é preponderante (NBR 6118/03, item 14.4.1.1). Elementos lineares são aqueles em que o comprimento longitudinal supera em pelo menos três vezes a maior dimensão da seção transversal, sendo também denominada barras. 5.3. COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXÃO E À FORÇA CORTANTE Considere uma viga de concreto armado bi apoiada (Figura 5.1), submetida a duas forças concentradas P crescentes e de igual intensidade. A armadura é composta por armadura longitudinal, resistente às tensões de tração provenientes da flexão, e armadura transversal, dimensionada para resistir aos esforços cortantes, composta por estribos verticais no lado esquerdo da viga e estribos e barras dobradas no lado direito da viga. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 34 A Figura 5.2a mostra as trajetórias das tensões principais de tração e de compressão da viga ainda no estádio I. Observe que no trecho de flexão pura as trajetórias das tensões de compressão e de tração são paralelas ao eixo longitudinal da viga. Nos demais trechos as trajetórias das tensões são inclinadas devido à influência dos esforços cortantes. Enquanto a resistência à tração do concreto é superior às tensões principais de tração, não surgem fissuras na viga. As primeiras fissuras de flexão só surgem na região de máximos momentos fletores, no instante que as tensões de tração atuantes igualam e superam a resistência do concreto à tração na flexão (Figura 5.2b). Para este nível de carregamento a viga apresenta trechos fissurados, no estádio II, e trechos não fissurados, no estádio I. Note que a direção ou inclinação das fissuras é aproximadamente perpendicular à direção das tensões principais de tração, ou seja, a inclinação das fissuras depende da inclinação das tensões principais de tração. Por esta razão, na região de flexão pura, as fissuras são verticais. A Figura 5.2c mostra os diagramas de deformações e de tensões nas seções a e b da viga, nos estádios I e II, respectivamente. No estádio I a máxima tensão de compressão (σc) ainda pode ser avaliada de acordo com a lei de Hooke, o mesmo não valendo para o estádio II. Com o carregamento num patamar superior começam a surgir fissuras inclinadas nas proximidades dos apoios, por influência das forças cortantes atuando em conjunto com os momentos fletores. Essas fissuras inclinadas são chamadas de fissuras de cisalhamento (Figura 5.2d), que não é um termo adequado porque tensões de cisalhamento não ocorrem por ação exclusiva de força cortante. Sugerimos fissura de “flexão com cortante”. Com carga elevada, a viga, em quase toda a sua extensão, apresenta-se no estádio II. Apenas nas proximidades dos apoios a viga permanece no estádio I. Figura 5.1 – Viga biapoiada e diagramas de esforços solicitantes. (LEONHARDT & MÖNNIG - 1982). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 35 Figura 5.2 - Comportamento resistente de uma viga biapoiada. (LEONHARDT & MÖNNIG - 1982). No caso de uma viga biapoiada sob carregamento uniformemente distribuído, no estádio I, as tensões principais na altura da linha neutra (a meia altura da viga) apresentam inclinação de 45° (ou 135°) em relação ao eixo longitudinal da viga, como mostrado na Figura 5.3. Observe que nas regiões próximas aos apoios as trajetórias das tensões principais inclinam-se por influência das forças cortantes, mantendo, no entanto, a perpendicularidade entre as trajetórias. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 36 Figura 3 - Trajetória das tensões principais de uma viga biapoiada no estádio I sob carregamento uniformemente distribuído (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). O carregamento induz o surgimento de diferentes estados de tensão nos infinitos pontos que compõem a viga, e que podem ser representados por um conjunto de diferentes componentes, em função da orientação do sistema de eixos considerados. Como exemplo, a Figura 4 mostra a representação dos estados de tensão em dois pontos da viga, conforme os eixos coordenados x-y e os eixos principais. O estado de tensão segundo os eixos x-y define as tensões normais σx, as tensões σy e as tensões de cisalhamento τxy e τyx. O estado de tensão segundo os eixos principais definem as tensões principais de tração σI e de compressão σII. A tensão σy pode ser em geral desprezada, tendo importância apenas nos trechos próximos à introdução de cargas. O dimensionamento das estruturas de concreto armado toma como base normalmente as tensões σx e τxy. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 37 Figura 4 – Componentes de tensão segundo os estados de tensão relativos aos eixos principais e aos eixos nas direções x e y (LEONHARDT & MÖNNIG, 1982). 6. HIPÓTESE DE CÁLCULO Na determinação dos esforços resistentes de elementos fletidos, como vigas, lajes e pilares, são admitidas as seguintes hipóteses básicas (NBR 6118/03 item 17.2.2): a) As seções transversais permanecem planas até a ruptura, com distribuição linear das deformações na seção; b) A deformação em cada barra de aço é a mesma do concreto no seu entorno. Essa propriedade ocorre desde que haja aderência entre o concreto e a barra de aço; c) No estado limite último (ELU) despreza-se obrigatoriamente a resistência do concreto à tração; d) O encurtamento de ruptura convencional do concreto nas seções não inteiramente comprimidas é de 3,5 % (domínios 3, 4 e 4a); e) O alongamento máximo permitido ao longo da armadura de tração é de 10 %, a fim de prevenir deformações plásticas excessivas; f) A distribuição das tensões de compressão no concreto ocorre segundo o diagrama tensão-deformação parábola-retângulo. Porém, é permitida a substituição desse diagrama pelo retangular simplificado, com altura y = 0,8x, e a mesma tensão de compressão σcd, como mostrado na Figura 6.1. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 38 Figura 6.1 – Diagramas σ x ε parábola-retângulo e retangular simplificado para distribuição de tensões de compressão no concreto. A tensão de compressão no concreto (σcd) é definida como: a) no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, não diminuir dalinha neutra em direção à borda comprimida (Figura 6.2), a tensão é: ;�� = 0,85. �� = ,,bc.�0d/0 (Eq. 1) Figura 6.2 - Seções com tensão de compressão igual a 0,85 fcd . b) em caso contrário, isto é, quando a seção diminui (Figura 6.3), a tensão é: ;�� = 0,8. �� = ,,b.�0d/0 (Eq. 2) Figura 6.3 - Seções com tensão de compressão igual a 0,8 fcd . c) A tensão nas armaduras é a correspondente à deformação determinada de acordo com as hipóteses anteriores e obtida nos diagramas tensão-deformação do aço (ver Figura 6). CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 39 7. SEÇÃO RETANGULAR COM ARMADURA SIMPLES Embora as vigas possam ter a seção transversal com qualquer forma, na maioria dos casos da prática a seção adotada é a retangular. Define-se por viga com armadura simples a seção que contém, como armadura longitudinal resistente, apenas a armadura tracionada, e não tem a necessidade de armadura longitudinal na região comprimida. Por questões construtivas são colocadas no mínimo duas barras longitudinais na região comprimida para amarração dos estribos, não sendo, no entanto, consideradas nos cálculos como barras resistentes. Na seção com armadura simples as tensões de compressão são resistidas unicamente pelo concreto. Mais a frente será estudada a seção com armadura dupla, que é aquela que contém também uma armadura resistente comprimida, além da armadura resistente tracionada. 7.1. EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO A formulação dos esforços internos resistentes da seção é feita com base nas equações de equilíbrio das forças normais e dos momentos fletores: → ∑ f = 0 → ∑ f = 0 (Eq. 3) A Figura 7.1 mostra a seção transversal de uma viga sob flexão simples, de forma retangular e solicitada por momento fletor positivo, com largura bw e altura h, armadura As e área A’c de concreto comprimido delimitada pela linha neutra. A linha neutra é demarcada pela distância x, contada a partir da fibra mais comprimida da seção transversal. O diagrama de deformações ao longo da altura da seção, com as deformações notáveis εcd (máxima deformação de encurtamento do concreto comprimido) e εsd (deformação de alongamento na armadura tracionada) e o diagrama retangular simplificado de distribuição de tensões de compressão, com altura y = 0,8x, e as respectivas resultantes de tensão (Rcc e Rst) também estão mostrados na Figura 7.1. Figura 7.1 – Distribuição de tensões e deformações em viga de seção retangular com armadura simples. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 40 Para ilustrar melhor a forma de distribuição das tensões de compressão na seção, a Figura 7.2 mostra a seção transversal em perspectiva, com os diagramas parábola-retângulo e retangular simplificado, como apresentados no item 6. O equacionamento apresentado a seguir será feito segundo o diagrama retangular simplificado, que conduz a equações mais simples e com resultados muito próximos aqueles obtidos com o diagrama parábola-retângulo. Figura 7.2 – Distribuição de tensões de compressão segundo os diagramas parábola-retângulo e retangular simplificado. a) Equilíbrio de Forças Normais Considerando que na flexão simples não ocorrem forças normais solicitantes, e que a força resultante das tensões de compressão no concreto deve estar em equilíbrio com a força resultante das tensões de tração na armadura As, como indicadas na Figura 7.1, pode-se escrever: ��� = ��� (Eq. 4) Tomando da Resistência dos Materiais que ; = hC, a força resultante das tensões de compressão no concreto pode ser escrita como: ��� = ;�� ∙ =′� = 0,85 ∙ �� ∙ 0,8Ljk = 0,68 ∙ jkL �� (Eq. 5) E a força resultante das tensões de tração na armadura tracionada: ��� = ;�� ∙ =� (Eq. 6) Com ;�� = tensão de cálculo na armadura tracionada; =� = área de aço da armadura tracionada CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 41 b) Equilíbrio de Momentos Fletores Considerando o equilíbrio de momentos fletores na seção, o momento fletor solicitante deve ser equilibrado por um momento fletor resistente, proporcionado pelo concreto comprimido e pela armadura tracionada. Assumindo valores de cálculo, por simplicidade de notação ambos os momentos fletores devem ser iguais ao momento fletor de cálculo Md, tal que: l�m?�� = ln2���� = l� As forças resistentes internas, proporcionadas pelo concreto comprimido e pela armadura tracionada, formam um binário oposto ao momento fletor solicitante, podendo ser escrito: l� = ��� ∙ o�� (Eq. 7) l� = ��� ∙ o�� (Eq. 8) Onde: ��� ∙ o�� = momento interno resistente, proporcionado pelo concreto comprimido; ��� ∙ o�� = momento interno resistente, proporcionado pela armadura tracionada. Com o�� = N − 0,4L e aplicando a Eq. 5 na Eq. 7 fica: l� = 0,85 ��0,8Ljk(N − 0,4L) l� = 0,68jkL ��(N − 0,4L) (Eq. 9) Onde: jk = largura da seção; L = posição da linha neutra; �� = resistência de cálculo do concreto à compressão; N = altura útil; Md é definido como o momento interno resistente proporcionado pelo concreto comprimido. O valor de Md deve ser considerado em valor absoluto na Eq. 9. Substituindo a Eq. 6 na Eq. 8 define-se o momento interno resistente proporcionado pela armadura tracionada: l� = ;��=�(N − 0,4L) (Eq. 10) Isolando a [área de armadura tracionada: =� = q8568(�r,,4Q) (Eq. 11) As Eq. 9 e 11 proporcionam o dimensionamento das seções retangulares com armadura simples. Nota-se que são sete as variáveis contidas nas duas equações, o que leva, portanto, na necessidade de se adotarem valores para cinco das sete variáveis. De modo geral, na prática CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 42 fixam-se os materiais (concreto e aço) e a seção transversal, e o momento fletor solicitante geralmente é conhecido, ficando como incógnitas apenas a posição da linha neutra (x) e a área de armadura (As). Com a Eq. 9 determina-se a posição x para a linha neutra, e comparando x com os valores x2lim e x3lim defini-se qual o domínio em que a viga se encontra (2, 3 ou 4). Nos domínios 2 ou 3 a tensão na armadura tracionada (σsd) é igual à máxima tensão possível, isto é, fyd (ver diagramas nas Figura 5 e Figura 6). Definidos x e σsd calcula-se a área de armadura tracionada (As) com a Eq. 11. Se resultar o domínio 4, a seção deverá ser dimensionada com armadura dupla, como se verá no item 8. Caso não se queira dimensionar a viga com armadura dupla, alguma alteração deve ser feita de modo a tornar x ≤ x3lim , e resultar, como conseqüência, os domínios 2 ou 3. Portanto, algum parâmetro deve ser alterado para diminuir o valor de x. Conforme a Eq. 9 verifica-se que para diminuir x pode-se: - diminuir o valor do momento fletor solicitante (Md); - aumentar a largura ou a altura da viga (> d); - aumentar a resistência do concreto. Dessas possibilidades, geralmente a mais viável de ser implementada na prática é o aumento da altura da viga (h). Senão, resta ainda estudar a possibilidade de fazer a armadura dupla. No caso da seção transversal da viga for de apoio ou de ligação com outros elementos estruturais, há ainda outras considerações a serem feitas. Segundo a NBR 6118/03 (item 14.6.4.3), “a capacidade de rotação dos elementos estruturais é função da posição da linha neutra no ELU. Quanto menor for x/d, tanto maior será essa capacidade”. Com o intuito de melhorar a ductilidade das vigas nessas situações, a norma impõe que a posição da linha neutra deve obedecer aos seguintes limites: a) βx = x/d ≤ 0,50 para concretos C35 ou de menor resistência (fck ≤ 35 MPa); ou b) βx = x/d ≤ 0,40 para concretos superiores ao C35 (fck > 35 MPa). (Eq. 12) Com esses limites a norma quer aumentar a ductilidade das vigas, que é a capacidade dela deformar-se mais até a ruptura. No entanto, nas seções ao longo dos vãos, não ocorrendo ligação da vigacom outros elementos estruturais, não será necessário limitar a posição da linha neutra aos valores da Eq. 12. c) Permanência da Seção Plana Do diagrama de deformações mostrado na Figura 7.1 define-se a relação entre as deformações de cálculo na armadura (εsd) e no concreto correspondente à fibra mais comprimida: s08s68 = Q�rQ (Eq. 13) Considerando-se a variável βx, que relaciona a posição da linha neutra com a altura útil d, tem-se: CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 43 PQ = Q� (Eq. 14) Substituindo x por βx . d na Eq. 13 fica: PQ = s08s08ts68 (Eq. 15) 7.2. CÁLCULO MEDIANTE COEFICIENTES TIPO K Com o intuito de facilitar o cálculo manual, há muitos anos vem se ensinando no Brasil a utilização de tabelas com variáveis do tipo K. Para diferentes posições da linha neutra, expressa pela relação βx = x/d, são tabelados coeficientes Kc e Ks, relativos à resistência do concreto e à tensão na armadura tracionada. Os coeficientes Kc e Ks encontram-se apresentados nas Tabela A- 1 e Tabela A-2, constantes dos Anexos colocados no final desta apostila. A Tabela A-1 é para apenas o aço CA-50 e a Tabela A-2 é para todos os tipos de aço para concreto armado. Considerando a Eq. 9, Md = 0,68bw x fcd (d − 0,4x), substituindo x por βx . d encontram se: l� = 0,68jkPQN ��(N − 0,4PQN) l� = 0,68jkPQN² ��(1 − 0,4PQ) Introduzindo o coeficiente kc: l� = jkN�v� Com w0 = 0,68PQ ��(1 − 0,4PQ (Eq. 16) Isolando o coeficiente Kc tem-se: v� = �x�.q8 (Eq. 17) O coeficiente Kc está apresentado na Tabela A-1 anexa. Observe na Eq. 16 que Kc depende da resistência do concreto à compressão (fcd) e da posição da linha neutra, expressa pela variável βx. O coeficiente tabelado Ks é definido substituindo-se x por βx . d na Eq. 11: =� = q8568(�r,,4Q) =� = q8568( r,,4yz)� =� = 568( r,,4yz) (Eq. 18) A área de armadura tracionada As, em função do coeficiente Ks é: =� = v� q8� (Eq. 19) CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 44 O coeficiente Ks está apresentado na Tabela A-1 anexa. Observe que Ks depende da tensão na armadura tracionada (σsd) e da posição da linha neutra, expressa por βx. 7.3. EXEMPLOS NUMÉRICOS As vigas têm basicamente dois tipos de problemas para serem resolvidos: de dimensionamento e de verificação. O dimensionamento consiste em se determinar qual a armadura necessária para uma viga, sendo previamente conhecidos: os materiais, a seção transversal e o momento fletor solicitante. Esse tipo de cálculo normalmente é feito durante a fase de projeto das estruturas, para a sua futura construção. Nos problemas de verificação a incógnita principal é o máximo momento fletor que a seção pode resistir. Problemas de verificação normalmente ocorrem quando a viga pertence a uma construção já executada e em utilização, e se deseja conhecer a capacidade de carga de uma viga. Para isso é necessário conhecer os materiais que compõem a viga, como a classe do concreto (fck), o tipo de aço, a quantidade de armadura e o seu posicionamento na seção transversal, as dimensões da seção transversal, etc. Na grande maioria dos casos da prática os problemas são de dimensionamento, e esporadicamente ocorrem os problemas de verificação. 1º) Calcular a área de armadura necessária e as deformações nos materiais de uma viga, como mostrada na Figura 7.3, para o momento fletor máximo, sendo conhecidos: Mk,máx = 10.000 kN.cm d = 47 cm γc = γf = 1,4 ; γs = 1,15 concreto C20 (fck = 20 MPa) aço CA-50 c = 2,0 cm φt = 5 mm (diâmetro do estribo) concreto com brita 1 obs.: a viga tem ligação com outros elementos estruturais. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 45 Figura 7.3 - Viga biapoiada. RESOLUÇÃO CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 46 8. SEÇÃO RETANGULAR COM ARMADURA DUPLA Define-se seção com armadura dupla a seção que, além da armadura tracionada, contém também armadura longitudinal resistente na região comprimida, calculada para auxiliar o concreto a resistir às tensões de compressão. A armadura dupla é um artifício que permite dimensionar as seções cujas deformações encontram-se no domínio 4, sem que haja a necessidade de se alterar algum dos parâmetros inicialmente adotados. A seção com armadura dupla surge como solução ao dimensionamento anti-econômico e contra a segurança (ruptura frágil, sem aviso prévio) proporcionado pelo domínio 4. Este domínio é evitado alterando-se a posição da linha neutra para o limite entre os domínios 3 e 4, ou seja, com a linha neutra passando por x3lim. Desse modo, aproveita-se a máxima seção comprimida possível dentro do domínio 3. Ao se fazer assim, a área de concreto comprimido não mais considerada para a resistência da seção é “compensada” pelo acréscimo de uma armadura longitudinal próxima à borda comprimida, que irá auxiliar o concreto no trabalho de resistência às tensões de compressão. Por outro lado, os novos limites impostos pela NBR 6118/03 (item 14.6.4.3) para a posição da linha neutra (mostrados na Eq. 12), a fim de melhorar a ductilidade das estruturas nas regiões de apoio das vigas ou de ligação com outros elementos estruturais, são também motivos de utilização da armadura dupla. Quando a linha neutra excede os limites, ao invés de se aumentar a altura da seção, por exemplo, é possível manter todos os dados iniciais colocando uma armadura na região comprimida da viga, e sem ultrapassar os limites impostos. Na maioria dos casos da prática a necessidade de armadura dupla surge nas seções sob momentos fletores negativos, nos apoios intermediários das vigas contínuas. Como os momentos fletores negativos são significativamente maiores que os momentos fletores positivos nos vãos, eles requerem seções transversais com alturas bem maiores que os momentos positivos. Fixar a altura das vigas em função dos momentos negativos aumenta o seu custo, pois se na seção de apoio a altura fixada é a ideal, nas seções dos vãos a altura resulta exagerada. Por outro lado, não seria prático executar as vigas com alturas diferentes nos apoios e nos vãos. Para as seções retangulares, uma solução simples e econômica pode ser fixar a altura da viga de tal forma a resultar armadura dupla nos apoios e armadura simples nos vãos. 8.1. EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO Do mesmo modo como feito na dedução das equações para a seção com armadura simples, a formulação será desenvolvida com base nas duas equações de equilíbrio da estática (Eq. 3). A Figura 8.1 mostra a seção retangular de uma viga, com armadura tracionada As e armadura comprimida A’s, submetida a momento fletor positivo. O diagrama de distribuição de tensões de compressão no concreto é aquele retangular simplificado, com altura 0,8x. CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 47 Figura 8.1 – Seção retangular com armadura dupla a) Equilíbrio de Forças Normais Na flexão simples não ocorre a força normal, de forma que existem apenas as forças resultantes relativas aos esforços resistentes internos, que devem se equilibrar, de tal forma que: Rcc + Rsc = Rst (Eq. 26) sendo: Rcc = força resultante de compressão proporcionada pelo concreto comprimido; Rsc = força resultante de compressão proporcionada pela armadura comprimida; Rst = força resultante de tração proporcionada pela armadura tracionada; σ’sd = tensão de cálculo na armadura comprimida; σsd = tensão de cálculo na armadura tracionada. Considerando que R = σ. A, as forças resultantes, definidas com auxílio da Figura 8.1, são: Rcc = 0,85 fcd 0,8 x bw (Eq. 27) Rsc = A’s σ’sd (Eq. 28) Rst = As σsd (Eq. 29) b) Equilíbrio de Momentos Fletores O momento fletor solicitante tem que ser equilibrado pelo momento interno resistente, proporcionado pelo concretocomprimido e pelas armaduras tracionadas e comprimidas, que podem ser representados pelo momento fletor de cálculo Md: Msolic = Mresist = Md Fazendo o equilíbrio de momentos fletores em torno da linha de ação da força resultante Rst, o momento resistente à compressão será dado pelas forças resultantes de compressão multiplicadas pelas suas respectivas distâncias à linha de ação de Rst (braços de alavanca – zcc e zsc): Md = Rcc . zcc + Rsc . zsc Substituindo Rcc e Rsc pelas Eq. 27 e 28 fica: CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 48 Md = 0,85 fcd 0,8 x bw (zcc) + A's σ'sd (zsc) Aplicando as distâncias zcc e zsc a equação torna-se: Md = 0,68 bw x fcd (d - 0,4x) + A's σ'sd (d - d') (Eq. 30) Com o intuito de facilitar o cálculo pode-se decompor o momento fletor Md em duas parcelas, como indicado na Figura 8.2, tal que: Md = M1d + M2d (Eq. 31) Figura 8.2 – Decomposição da seção com armadura dupla O momento fletor M1d corresponde ao primeiro termo da Eq. 30, cujo significado físico é o de ser o momento interno resistente proporcionado por uma parcela As1 da armadura tracionada e pela área de concreto comprimido com a maior altura possível, conforme esquema mostrado na Figura 8.2b. M1d = 0,68bw x fcd (d − 0,4x) (Eq. 32) O valor de x deve ser adotado conforme os critérios da NBR 6118/03 já apresentados no item 8.1, havendo as seguintes possibilidades: a) x = x3lim (0,77d para o aço CA-25, 0,63d para CA-50 e 0,59d para CA-60) nas seções que não sejam apoio da viga nem de ligação com outros elementos estruturais; b) x = 0,5d para concretos até C35 nas seções de apoio da viga ou de ligação com outros elementos estruturais; c) x = 0,4d para concretos de classes acima do C35 nas seções de apoio da viga ou de ligação com outros elementos estruturais. Determinada a primeira parcela M1d do momento fletor total, pode-se calcular a segunda parcela como: CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 49 M2d = Md −M1d (Eq. 33) A armadura comprimida A’s equilibra a parcela As2 da armadura tracionada total (As), e surge do equilíbrio de momentos fletores na seção da Figura 8.2c, como a força resultante na armadura comprimida multiplicada pela distância à armadura tracionada: M2d = Rsc . zsc Aplicando a Eq. 28 de Rsc fica: M2d = A’s σ’sd zsc = A’s σ’sd (d – d’) Isolando a área de armadura comprimida: =′� = q.85{68(�r�{) (Eq. 34) A tensão σ’sd na armadura comprimida depende do tipo de aço e da posição dessa armadura dentro da seção transversal, expressa pela relação d’/d, e da posição x assumida para a linha neutra, conforme um dos três valores indicados (x3lim, 0,5d ou 0,4d). Os valores para a tensão na armadura comprimida (σ’sd) estão mostrados nas Tabelas anexas Tabela A-5, Tabela A- 7 e Tabela A-9, em função da relação d’/d, da posição assumida para a linha neutra e do tipo de aço. As parcelas As1 e As2 da armadura tracionada resultam do equilíbrio de momentos fletores nas seções b e c indicadas na Figura 8.2. São dadas pelas forças resultantes nas armaduras tracionadas multiplicadas pelos respectivos braços de alavanca, isto é, a distância entre as resultantes que se equilibram na seção. Para a seção b da Figura 8.2: M1d = As1 σsd zcc = As1 σsd (d − 0,4x) Isolando a parcela As1 da armadura tracionada: =′� = q-85{68(�r,,4Q) (Eq. 35) Para a seção c da Figura 8.2: M2d = As2 σsd zsc = As2 σsd (d – d’) Isolando a parcela As2 da armadura tracionada: =′�� = q.85{68(�r�{) (Eq. 36) A armadura total tracionada é a soma da parcelas As1 e As2: As = As1 + As2 (Eq. 37) CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 50 onde: As1 = parcela da armadura tracionada As que equilibra o momento fletor resistente proporcionado pela área de concreto comprimido com altura x; As2 = parcela da armadura tracionada As que equilibra o momento fletor resistente proporcionado pela armadura comprimida A's. d) Permanência das Seções Planas Conforme o diagrama de deformações mostrado na Figura 8.1 definem-se as relações entre as deformações de cálculo nas armaduras tracionada (εsd) e comprimida (ε’sd) e no concreto da fibra mais comprimida da seção. s08s68 = Q�rQ (Eq. 38) s08Q = s|68�rQ = s68�rQ (Eq. 39) Assumindo a relação entre a posição da linha neutra e a altura útil d pode-se também escrever: PQ = LN PQ = s08s08ts68 (Eq. 40) 8.2 CÁLCULO MEDIANTE COEFICIENTES TIPO K Como já apresentado no item 7.2 o cálculo de dimensionamento das vigas à flexão simples pode ser feito com equações mais simples, fazendo-se uso dos coeficientes K, como mostrados nas Tabelas anexas Tabela A-1 e Tabela A-2. Inicialmente deve-se definir qual será a posição da linha neutra na seção transversal. Se for seção de apoio da viga ou existir ligação com outros elementos estruturais, a variável βx será adotada em função da classe do concreto: a) βx = x/d = 0,5 para concretos até C35; b) βx = x/d = 0,4 para concretos de resistência acima do C35. Se a seção não for de apoio ou de ligação com outros elementos estruturais, a posição da linha neutra poderá ser assumida passando por x3lim, isto é, no limite entre os domínios 3 e 4. Para o aço CA-50 deverá ser assumido, portanto, βx = 0,63. Definida a posição da linha neutra, deve-se determinar os valores correspondentes de Kclim e de Kslim nas Tabela A-1 ou Tabela A-2, conhecendo-se a classe do concreto e a categoria do aço. O momento fletor M1d fica assim determinado: CONCRETO 1 Prof. Eng. Miquéias V. Lemes Pág. 51 l � = �x.�.w0 E}~ (Eq. 41) A parcela M2d do momento total também fica determinada: l�� = l� − l � (Eq. 42) A área total de armadura tracionada fica determinada por: =� = v� ?�� q-8� + q.8�98.(�r�{) (Eq. 43) A área de armadura comprimida é: =′� = v′� q.8(�r�{) (Eq. 44) O coeficiente K’s é o inverso da tensão na armadura comprimida, assumindo diferentes valores em função da relação d’/d e da posição adotada para a linha neutra, que pode estar localizada em x3lim, 0,5d ou 0,4d. Os valores de K’s estão mostrados nas Tabelas anexas Tabela A- 6, Tabela A-8 e Tabela A-10: v′� = 5|68 (Eq. 45) EXEMPLOS: 1º) Dimensionar e detalhar a armadura longitudinal de flexão para o momento fletor negativo no apoio intermediário de uma viga contínua, considerando os dados a seguir: bw = 20 cm h = 50 cm Mk = - 15.700 kN.cm concreto C20 aço CA-50 c = 2,0 cm φt = 6,3 mm brita 1
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