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SANEAMENTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE AULA 4 Profª Ana Lizete Farias 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos compreender aspectos do manejo dos resíduos sólidos como um serviço público de saneamento básico e conheceremos o conjunto de infraestruturas e instalações operacionais que servem aos seus objetivos. Para isso, abordaremos alguns pontos importantes sobre a legislação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entendendo a dimensão dos seus desafios. Conheceremos a problemática da destinação dos resíduos sólidos e as principais formas de destinação final utilizadas e seus impactos no meio ambiente. Nesse contexto, estudaremos sobre as águas subterrâneas, um bem precioso e estratégico, buscando entender como prevenir e controlar a sua poluição. Após, vamos estudar o que são os planos municipais de saneamento básico e como está garantida a participação popular na formulação e controle das políticas públicas relacionadas ao saneamento. Em nossa prática, conheceremos uma tecnologia revolucionária que transforma resíduos humanos em adubo, sem água ou conexão a um sistema para funcionar. TEMA 1 – POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010, regulamentada pelo Decreto n. 7.404, de 23 de dezembro de 2010 (Brasil, 2010). O art. 1º resume os objetivos, a saber, disciplina a gestão integrada e o gerenciamento dos resíduos sólidos, fazendo uso de princípios, objetivos e instrumentos que a viabilizem e atribuindo responsabilidade aos geradores, ao poder público e às pessoas físicas ou jurídicas responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão de resíduos sólidos. Depois de 19 anos tramitando no Congresso, foi sancionada em agosto de 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A PNRS trouxe propostas modernas para o que fazer com todo o material gerado pelo consumo humano, seja ele orgânico (como restos de alimentos), reciclável (embalagens de plástico, vidro, papelão etc.) ou, finalmente, um rejeito comercialmente irrecuperável. 3 Essa lei inovou, distribuindo a responsabilidade do problema entre os diferentes setores envolvidos: governantes, setor privado e sociedade civil, como um todo. Os principais pontos abrangidos pela lei são os seguintes: Acabar com os lixões até o ano de 2014, ou seja, no país não poderiam mais existir lixões a céu aberto devendo estes serem substituídos por aterros sanitários ou aterros controlados; Aterros sanitários somente podem receber rejeitos, ou seja, a parte do lixo que não pode ser reciclada; Os municípios devem adotar planos municipais para os resíduos sólidos bem como planejar e instalar de meios para a logística reversa. Por fim, até o mês de agosto do ano de 2014, os 2.810 municípios do país deveriam apresentar práticas de tratamento do lixo, incluindo cuidados com a contaminação do solo, da água e disseminação de doenças; A lei também apresenta três conceitos cruciais, a saber, a gestão integrada dos resíduos sólidos, a responsabilidade compartilhada e a logística reversa, assim definidas: Quadro 1 – Conceitos da PNRS RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA, GESTÃO INTEGRADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS LOGÍSTICA REVERSA. A cada setor foram atribuídos diferentes papéis a fim de solucionar ou mitigar os problemas relacionados aos resíduos sólidos: Governantes: estabelecer planos, garantir a infraestrutura para disposição adequada dos resíduos, organizar e fiscalizar o cumprimento da lei. Setor privado: introduziu o conceito de “logística reversa”, que deu às empresas envolvidas na cadeia de um produto a responsabilidade de recuperá- lo e fazer seu descarte corretamente depois de usado. População: separar e descartar seus resíduos e rejeitos de modo adequado. O conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, considerando as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Instrumento previsto para, por meio de ações, procedimentos e meios adequados, viabilizar a coleta e restituição pós-consumo dos resíduos, embalagens, produtos com validade vencida, equipamentos obsoletos ou avariados aos setores empresariais para reaproveitamento nos ciclos produtivos ou outras destinações ambientalmente adequadas. Fonte: Elaborado pela autora. http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/gestao-integrada-dos-residuos-solidos/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/gestao-integrada-dos-residuos-solidos/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/responsabilidade/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/logistica-reversa/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/logistica-reversa/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/responsabilidade/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/responsabilidade/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/gestao-integrada-dos-residuos-solidos/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/gestao-integrada-dos-residuos-solidos/ http://hotsite.mma.gov.br/4conferencia/pnrs/logistica-reversa/ 4 No entanto, mesmo após o longo período desde a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos pelo governo brasileiro até a atualidade, tem-se, por um lado, a ausência de um plano com medidas e metas claras a serem adotadas por estados e municípios; por outro, o descumprimento do prazo, vencido em 2014, De acordo com dados da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 59% dos municípios disseram não contar com planos próprios sobre o tema, 48% dos municípios disseram descartar todo resíduo sólido coletado em lixões (dados de 2016) e 8% em aterros controlados (espaços com estrutura mínima e, por isso, também considerados inadequados). No conjunto, então, apenas 41% dos municípios descartam seus resíduos sólidos coletados em aterros sanitários, (Abrelpe, 2017). TEMA 2 – LIXÕES E ATERROS SANITÁRIOS Como vimos no tema anterior, aos municípios cabe a atribuição de coletar e dispor o seu lixo adequadamente, mas, por diversas razões, como escassez de recursos, deficiências administrativas e falta de visão ambiental na maioria dos municípios, os resíduos são colocados em locais inapropriados, o que provoca degradação do solo, contaminação dos rios e lençóis freáticos, por meio do chorume e poluição atmosférica, devido à liberação do biogás (Abrelpe, 2017). Para resolver as disposições em locais inadequadas, existem os aterros sanitários, obras de engenharia projetadas sob critérios técnicos, que têm por finalidade garantir a disposição dos resíduos sólidos urbanos sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente. Atualmente, os aterros são uma das técnicas mais eficientes e seguras de destinação de resíduos sólidos, pois permitem um controle eficiente e seguro do processo e quase sempre apresentam a melhor relação custo-benefício, pois podem receber e acomodar vários tipos de resíduos, em diferentes quantidades, sendo adaptáveis a qualquer tipo de comunidade, independentemente do tamanho. Todo projeto de aterro sanitário deve ser elaborado segundo as normas preconizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 5 De acordo com a Norma NBR 8419/84, o projeto de um aterro sanitário deve ser obrigatoriamente constituído das seguintes partes: memorial descritivo, memorial técnico, apresentação da estimativa de custos e do cronograma, plantas e desenhos técnicos. Assim como os aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos têm normas específicas, outros tipos de aterros, como os de resíduos perigosos, também devem ser elaborados seguindo os princípios técnicos estabelecidospelas normas (ABNT, 1992). Por outro lado, ainda temos os lixões, que são a forma inadequada de dispor os resíduos sólidos urbanos sobre o solo, sem nenhuma impermeabilização, sem sistema de drenagem de lixiviados e de gases e sem cobertura diária do lixo, causando impactos à saúde pública e ao meio ambiente. É comum encontrar nos lixões vetores de doenças e outros animais. Nesses locais também é frequente a presença de pessoas excluídas socioeconomicamente, inclusive idosos e crianças, trabalhando como catadores, em condições precárias e insalubres. Essas áreas devem ser remediadas e fechadas para propiciar segurança à população do entorno, melhoria da qualidade dos solos e das águas superficiais e subterrâneas, e minimização dos riscos à saúde pública, garantindo harmonia entre o meio ambiente e a população local (Van Elk, 2008). Concluindo, cabe-nos fazer uma ressalva em relação aos aterros sanitários, pois diante dos graves problemas que os lixões apresentam, a implantação de um aterro sanitário pode ser vista como uma solução definitiva e eficiente, mas que, no entanto, não leva em consideração as possiblidades de reaproveitamento e reciclagem. Nesse sentido, é importante que as soluções para esse imenso desafio sejam também direcionadas não somente ao reaproveitamento e transformação da maior quantidade possível de todo o resíduo gerado pela nossa sociedade, mas também por meio do desenvolvimento de novas tecnologias, estímulo à economia de matéria-prima e energia. Outro aspecto de suma importância que o tema traz relaciona-se ao nosso modelo de desenvolvimento econômico, que privilegia o consumo excessivo, sem levar em consideração os limites físicos de nosso planeta. 6 TEMA 3 – MEDIDAS DE CONTROLE DE POLUIÇÃO EM CORPOS D’ÁGUA SUBTERRÂNEOS As aguas subterrâneas, um dos recursos mais importantes em termos de disponibilidade de uso, como já apresentado ao longo das aulas, apesar de estarem protegidas por camadas de solos e de rochas, também estão suscetíveis a fontes de contaminação de águas subterrâneas. Segundo nos explica Hirata (2008, citado por Feitosa, 2008), o processo de contaminação dessas águas ocorre por meio da percolação de líquidos com potencial contaminante que, ao se infiltrarem no solo, atingem o nível d’água. A vulnerabilidade das águas subterrâneas à contaminação é definida então em função de um conjunto de características físicas, químicas e biológicas da zona não saturada e/ou do aquitardo confinante que, juntas, controlam a chegada do contaminante ao aquífero, como mostra a ilustração a seguir: Figura 1 – Aquífero Créditos: Designua/Shutterstock. Esses líquidos contaminantes podem ter origem diversa, como se mostra no quadro a seguir com as atividades que potencialmente geram carga contaminante para o subsolo, de acordo com Hirata (2008). AQUITARDO: uma formação geológica que, embora possa armazenar quantidades importantes de água, é de natureza semipermeável e, portanto, transmite água a uma taxa muito baixa. ZONA SATURADA: a parte de um aquífero, abaixo do lençol freático (water table), em que a maioria dos poros e fraturas se encontram saturados com água 7 Quadro 2 – Origem dos líquidos contaminantes URBANIZAÇÃO INDUSTRIALIZAÇÃO Saneamento sem rede de esgoto Vazamentos na rede; Lagoas de oxidação de efluentes; Área de descarga de efluentes; Descarga de efluentes em rios; Lixiviação de efluentes de aterros sanitários ou lixões; Tanques de combustível; Drenagem de estradas. Vazamento de tanques ou tubulações; Derramamentos acidentais de produtos químicos; Lagoas de águas de processo ou efluentes; Área de descarga de efluentes; Descarga de efluentes em rios; Lixiviação em aterros de resíduos sólidos e lixões; Drenagem por valas de infiltração; Deposição de poluentes transportados por dispersão aérea. PRÁTICAS AGRÍCOLAS MINERAÇÃO Culturas Utilização de agroquímicos; Irrigação; Com excremento animal; Com utilização de efluentes na irrigação. Mudanças no regime de fluxo; Descarga de águas drenadas; Lagoas de água de processo e efluentes; Lixiviação em aterros de resíduos sólidos e bota foras. Criação de gado e processamento de culturas Lagoa de efluentes; Área de descarga de efluentes; Descarga de efluentes em rios Fonte: Elaborado pela autora. Os processos que ocorrem estão submetidos à lenta circulação das águas subterrâneas, à capacidade de adsorção dos terrenos e pequeno tamanho dos canalículos e por isso uma contaminação pode levar muito tempo até manifestar- se de forma clara. O poder de depuração dos aquíferos, em relação a muitos contaminantes, somados ao grande volume de água que armazenam, fazem com que as contaminações extensas se manifestem muito lentamente e as contaminações localizadas somente apareçam depois de algum tempo e, mesmo assim, quando deslocadas para captações em explotação. Em outras palavras, os aquíferos são muito menos vulneráveis à poluição do que as águas superficiais, mas, uma vez produzida, a recuperação, a depender do tipo de contaminante, pode levar muitos anos e até mesmo tornar- se economicamente inviável. Dessa forma, segundo Hirata (2008), programas de proteção das águas subterrâneas devem buscar inicialmente a identificação de áreas que necessitam de maior atenção ambiental ou mesmo atividades que representem maior ameaça à qualidade das águas subterrâneas; o controle da ocupação, seja urbana ou rural, nessas áreas que são mais sensíveis bem como proteção de mananciais importantes que são ou serão utilizados para o abastecimento público. 8 TEMA 4 – OS PLANOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO Como já vimos anteriormente, a legislação brasileira para o saneamento básico é considerada avançada e ambiciosa ao estabelecer as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a Política Nacional de Saneamento Básico. A lei também trouxe como diretrizes a universalização ao acesso aos serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, além de englobar a limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos como componentes do saneamento básico. Nesse sentido, os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) são as ferramentas para o alcance dessas diretrizes e, portanto, essenciais na medida em que condicionam tanto a prestação dos serviços, que precisam ser regulados e submetidos ao controle social; quanto o acesso aos recursos orçamentários da União para fins de implantação de ações de saneamento básico. Os PMSB devem ser elaborado por técnicos da prefeitura e abranger quatro áreas: serviços de água, esgotos, resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais urbanas. Após a sua conclusão são, então, encaminhados para aprovação pelo Governo Federal e somente após essas etapas é que as verbas para obras de saneamento serão liberadas. Esses planos devem estar em consonância com os planos diretores, com os objetivos e as diretrizes dos planos plurianuais (PPA), com os planos de recursos hídricos, com os planos de resíduos sólidos, com a legislação ambiental, com a legislação de saúde e de educação, além de dever ser compatível e integrado com todas as demais políticas públicas, planos e disciplinamentos do município relacionados ao gerenciamento do espaço urbano. Também deve ser assegurada a efetiva participação da população em todas as fases da elaboração do PMSB, prevendo o envolvimento da sociedade inclusive durante a aprovação, execução, avaliação e revisão – a cada quatro anos – do PMSB. A figura a seguir apresenta os principais direcionamentos da elaboração do PSMB. 9 Figura 2 – Principais direcionamentos da elaboração do PSMB Fonte: Funasa, 2012. No entanto, como temos visto ao longo das nossas aulas, o acesso e a universalização dos serviços de saneamento, a garantia da qualidade dos serviços e a sustentabilidade financeirados serviços ainda são desafios com que o setor se depara. Decorrente disso observamos a existência de grandes disparidades regionais entre as populações urbanas e rurais observadas. Nesse aspecto, segundo dados dos Planos Municipais de Saneamento, num levantamento realizado pelo Ministério das Cidades (Brasil, 2017), cerca de 5.570 municípios brasileiros, 1.667 (em torno de 30%) não informaram quaisquer informações, 2.091 (cerca de 38%) estão elaborando os planos; 1.692 (cerca de 30%) já possuem os PMSB; e 120 (cerca de 2%) possuem inconsistências nas informações do PMSB como podemos ver na tabela a seguir: 10 Tabela 1 – Informações do PMSB ELABORAÇÃO DO PMSB QUANTIDADE % DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Municípios com informações 3.903 70% Municípios com PMSB 1.692 38% Municípios com PMSB em elaboração 2.091 20% Municípios com Inconsistência na Informação 120 2% Municípios sem informações 1.667 30% Fonte: Brasil, 2017. No mapa a seguir, visualizamos essa grande disparidade em termos regionais, ou seja, a concentração nas regiões Sul e Sudeste de municípios com planos elaborados e de municípios com planos elaborados ou sem informações nas demais regiões. Figura 3 – Panorama dos Planos Municipais de Saneamento Básico L Fonte: Brasil, 2017. 11 Um último aspecto a salientar em relação à elaboração dos planos municipais são as dificuldades de municípios com menor capacidade de formulação de projetos, de captação de recursos, de execução de obras e de manutenção dos serviços, o que se torna um agravante no provimento dos serviços de saneamento e, por conseguinte, afetando a situação dos recursos hídricos como um todo. TEMA 5 – A PARTICIPAÇÃO POPULAR PARA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DO SANEAMENTO O Marco Legal Nacional do Saneamento também institui a participação dos cidadãos e, por isso, as discussões em relação ao seu cumprimento têm enfatizado a importância do exercício da cidadania ativa, expresso mediante a participação da comunidade na solução de problemas de interesse público. A participação e controle social são interpretadas como ferramentas compartilhadas para a gestão e a avaliação das ações recomendadas pela Lei n. 11.445/2007. Nesse cenário, portanto, são definidos como um conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e participações nos processos de formulação e de fiscalização das políticas relacionadas aos serviços de saneamento. Num contexto histórico, podemos considerar que a participação e o controle social na gestão do saneamento no Brasil nunca existiram, considerando-se, inclusive na época do Planasa (Plano Nacional de Saneamento Básico), a participação de usuários como um elemento ameaçador de uma gestão racional, técnica e eficiente dos serviços, estando, portanto, descartada (Britto, 2001). Brito (2001) entende que, segundo as leis relativas à área de saneamento básico, são dois canais distintos em que pode ocorrer a participação popular: a. Participação dos usuários como consumidores, dentro de padrões adequados de qualidade; e b. Participação dos usuários nos órgãos colegiados normativos ou deliberativos da estrutura de regulação e controle. Mas o que geralmente acontece é que as questões como participação e controle social e prestação de contas à sociedade são ignoradas ou deixadas em segundo plano. 12 Informações obtidas por meio de uma pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil / IBOPE (Cresce..., 2012), que teve por objetivo verificar o nível de conhecimento do brasileiro sobre os serviços de saneamento básico, demonstrou que, quando se trata de mobilização para cobrar melhorias dos serviços, o cidadão brasileiro, apesar de reconhecer a importância do saneamento básico, não se mobiliza para conquistar avanços nesses serviços. A pesquisa mostrou que, ao serem perguntados sobre o tema, 75% das pessoas afirmaram não fazer cobranças, e a maior parte daqueles que cobram referem- se à solicitação de limpeza de bueiros (7%) e de desentupimento do esgoto existente (5%). Além disso, as perguntas questionavam o que o cidadão poderia fazer para ajudar a melhorar o saneamento, e cerca de 25% afirmaram não saber ou não respondeu; 18% opinaram que os problemas encontrados deveriam ser informados à Prefeitura; 15% achou que os serviços deveriam ser fiscalizados; e 10% atribuem a garantia de conquistas à mobilização dos moradores. Dessa forma, resumidamente, pode-se concluir que, apesar da existência de marcos regulatórios que asseguram direitos sociais, de mecanismos e instrumentos de gestão compartilhada, do processo de descentralização de recursos e de atribuições legais para a gestão municipal e dos líderes trabalhados se encontrarem como representantes da comunidade, isso não tem contribuído para elevar a participação dos cidadãos Estimular o diálogo social e a difusão dos mecanismos que garantam o poder das autoridades governamentais e comunidades, em um esforço de diálogo e cooperação nos serviços de saneamento, continua sendo um desafio para o exercício da democracia representativa no Brasil. NA PRÁTICA Saiba mais Bill Gates apresentou vaso sanitário tecnológico que não usa água ou esgoto para funcionar O fundador da Microsoft, o milionário Bill Gates, no dia seis (6) de novembro de 2018, apresentou um vaso sanitário que transforma os resíduos humanos em adubos, sem usar água ou precisar de conexão a qualquer sistema de depuração para funcionar. Na exposição “Vaso Sanitário Reinventado”, em evento realizado em Pequim, que contou com apresentação de novas 13 tecnologias, na busca pela inibição da propagação de doenças, Bill Gates carregou um pote com fezes humanas .O filantropo milionário disse em seu discurso que, naquele pote, poderia haver “nada menos que 200 trilhões de rotavírus, 20 bilhões de bactéria Shigella e 100 mil ovos de vermes parasitas”, e brincou sobre seu interesse no assunto: “Eu preciso admitir: uma década atrás, eu não poderia imaginar que um dia saberia tanta coisa sobre cocô. Eu definitivamente nunca pensei que a Melinda precisaria me pedir para parar de falar sobre vasos sanitários e dejetos fecais na mesa de jantar”. A Fundação Bill & Melinda Gates, do milionário e de sua esposa, já gastou mais de US$ 200 milhões em pesquisas nessa área nos últimos sete anos, mostrando a importância crescente do tema e o surgimento de uma nova oportunidade de mercado. Na China, a “revolução do banheiro” é vista como uma prioridade política e, para isso, a presença de Gates ajuda a divulgar o evento, que teve duração de três dias e exibiu 20 produtos sanitários de ponta, que são destinados a revolucionar as tecnologias sanitárias, separando os líquidos de sólidos e eliminando subprodutos nocivos à saúde. O fundador da Microsoft acredita que são “os avanços sanitários mais significativos em 200 anos”. Em sua conta oficial no Twitter, Gates falou sobre a importância do tema e explicou que alguns modelos de vasos sanitários tecnológicos já estão sendo testados na cidade de Durban, África do Sul, onde também estão sendo adotados modelos alimentados por outras fontes, como a energia solar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2,3 bilhões de pessoas ao redor do mundo ainda não têm acesso a instalações sanitárias básicas, o que pode provocar doenças que matam centenas de milhares de pessoas a cada ano, como cólera, diarreia e disenteria. A Organização das Nações Unidas informa que quase 900 milhões de pessoas se veem obrigadas a defecar ao ar livre por não ter acesso a um banheiro. A fundação de Bill Gates espera que os novos vasos sanitários sejam implementados primeiro em escolas e edifícios residenciais, até que os custos caiam e se tornem acessíveis para residências individuais. Fonte: Bill Gates...,2018. 14 FINALIZANDO Ao longo da nossa aula, conhecemos uma das leis mais importantes que apoiam diretamente a gestão do saneamento no Brasil, que é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Na sequência, aprendemos a diferença entre os lixões e os aterros sanitários. Diretamente associado a esses conceitos, entendemos um pouco mais sobre os processos de contaminação das águas subterrâneas, sua vulnerabilidade e, portanto, a complexidade na sua proteção. Após, aprendemos sobre os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) e ainda sobre a importância da participação popular na formulação das políticas de saneamento. Em nossa prática, conhecemos uma nova tecnologia apresentada pelo fundador da Microsoft e que pode revolucionar todo o universo do saneamento caso seja bem-sucedida na sua implantação, e os indícios vão ao encontro exatamente disso, uma vez que há o apoio da ONU e da China, um dos maiores interessados. Dessa leitura podemos pensar como ficarão as tradicionais estruturas de saneamento: serão alteradas? Desaparecerão? E os países mais pobres ou na situação do Brasil onde há tanto a fazer? No entanto o projeto aponta que há soluções rápidas e eficientes para todos os desafios do saneamento. 15 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos – Procedimento. NBR-8419/84. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2017. Disponível em: <http://abrelpe.org.br/download-panorama-2017/>. Acesso em: 22 jan. 2019. BILL GATES apresentou vaso sanitário tecnológico que não usa água ou esgoto para funcionar. Brasil Econômico, 7 nov. 2018. Disponível em: <https://tecnologia.ig.com.br/2018-11-07/bill-gates-vaso-sanitario.html>. Acesso em; 22 jan. 2019. BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 ago. 2010. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Básico. Panorama dos Planos Municipais de Saneamento Básico no Brasil. Brasília: Ministério das Cidades; Secretaria Nacional de Saneamento Básico, 2017. BRITTO, A. L. A regulação dos serviços de saneamento no Brasil: perspectiva histórica, contexto atual e novas exigências de uma regulação pública. In: Anais do IX Encontro Nacional da ANPUR – Ética, planejamento e construção democrática do espaço, p.1080-1092. Rio de Janeiro, 2001. CRESCE nível de conhecimento do brasileiro sobre saneamento básico. Governo do Brasil, 22 maio 2012. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/infraestrutura/2012/05/cresce-nivel-de- conhecimento-do-brasileiro-sobre-saneamento-basico-aponta-pesquisa>. Acesso em: 22 jan. 2019. FEITOSA, F. A. C. et al. (Org.) Hidrogeologia: conceitos e aplicações. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: CPRM; LABHID, 2008. FUNASA – Fundação Nacional de Saúde. Termo de referência para a elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico: procedimentos relativos ao convênio de cooperação técnica e financeira da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA/MS. Brasília: Funasa, 2012. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/documents/20182/33144/2b_TR_PMSB_V2012.pdf/ 2c7aacad-5932-42cd-99d3-73c56788d730>. Acesso em: 22 jan. 2019. 16 HIRATA, R. Gestão da qualidade das águas subterrâneas em cidades. São Paulo: Cepas – USP, 2008. SCHNEIDER, V. E.; TIEPPO, S. F.; GIMENEZ, J. R. O saneamento básico no brasil: aspectos fundamentais. Módulo 1 do EaD em Planos Municipais de Saneamento Básico. Brasília: Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento. Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica, 2013. VAN ELK, A. G. H. P. Redução de emissões na disposição final. Rio de Janeiro: IBAM, 2007.
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