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1 Disciplina: Fundamentos epistemológicos da interação sociedade-meio ambiente FICHAMENTO LEFF, Enrique. Racionalidade Ambiental: A reapropriação Social da natureza. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Cap 3- O retorno da ordem simbólica: a capitalização da natureza e as estratégias fatais do desenvolvimento sustentado. p. 121-168 Além do sugerido no exemplo é importante destacar qual epistemologia é abordada por Leff nesse capitulo, quem são Baudrillard e Derrida, qual sua contribuição e relação com as discussões do capítulo, o conceito de desenvolvimento sustentado e outros aspectos que são objeto de discussão no capítulo. REFERÊNCIA LEFF, Enrique. Racionalidade Ambiental: A reapropriação Social da natureza. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Cap 3- O retorno da ordem simbólica: a capitalização da natureza e as estratégias fatais do desenvolvimento sustentado. p. 121- 168 OBJETIVO O autor busca fazer a associação entre a crise ambiental e a saturação dos sentidos provocados pelo conceito que procura aprisionar e fixar a realidade. Isso tudo se associa, precipuamente, à hiper-realidade, vez que o ambiente vai se moldando à nova ordem social e à nova racionalidade do campo da externalidade das ciências. TEMA EXCERTO/ PARÁFRASE/ CITAÇÃO A objetivação do mundo e a metástase do conhecimento “Com o advento da modernidade e da racionalidade do Iluminismo, a natureza não apenas foi fraturada e fragmentada. O conceito de natureza pura e simplesmente fracassou” (p. 123) “A vontade de conhecimento engendrada pela epistemologia gerou um excesso de objetividade no mundo. A ánsia de iluminar o mundo através da razáo até torná-lo transparente, de nomear e normatizar as coisas com palavras e uma linguagem para designá-las sem ambivaléncia, de ordenar a realidade empírica com formulagóes lógicas e fórmulas matemáticas até alcangar a verdade absoluta, engendrou urna realidade onipresente no horizonte da natureza humana. Esta hiper-realidade deslocou a ordem simbólica.” (p. 124) “Baudrillard articula urna narrativa sobre o reflexo deformado do conhecimento e do real, sobre as certezas apoiadas nos princípios de cientificidade, determinagáo e objetividade que sustentam o projeto epistemológico da modernidade. Baudrillard vé nas estratégias fatais do Objeto a forma como o ente se torna cenário em um mundo coisificado, no qual a realidade "aparece" diante do sujeito fora de todo devir, de toda história, de toda causalidade, de toda referencialidade. A aparigáo (produgáo) dessa hiper-realidade em um mundo tornado extremamente objetivo desloca a ontologia do real para uma 2 estratégia de simulagáo. Os modelos náo representara a realidade, mas a simulam; e, ao simulá-la, a constroem á sua imagem e semelhanga” (p. 124) “A hiper-realidade — a monstruosidade do Mundo Objeto — náo é resultado de urna evolugáo da matéria, de urna teleologia da existéncia. Sáo as formas de conhecimento do ente e das coisas que foram geradas pela objetivagáo do mundo” (p. 125) “A crise ambiental e a "catástrofe" de nossos mundos de vida náo foram provocadas pela proliferagáo dos significados desencadeados depois de Babel, e sim pela saturagáo do sentido e dos sentidos provocados pelo conceito que procura aprisionar e fixar a realidade. A verdadeira fatalidade da hiper-realidade do mundo náo é a do excedente de significante que está radicado no poder de significagáo e sentido da palavra, da linguagem, dos sonhos e da poesia.” (p. 126) “O ambiente vai se configurando assim dentro como um novo saber e de urna nova racionalidade no campo da externalidade das ciéncias, no horizonte invisível do conhecimento, além das fronteiras do Mundo Objeto (Leff, 2001a, 2001b, 2003)” (p. 127) “Baudrillard passa da metafísica da representagáo á metafísica do código: coloca em cena um discurso que simula as manifestagóes do Mundo Objeto como metáfora do domínio do DNA, do código genético. Além das analogias dos "ismos" — isonomias, isomorfismos — do estruturalismo, das teorias "anti" que geraram o racionalismo crítico, das doutrinas da lógica dialética e do pensamento da complexidade, do campo social construído em torno da produgáo e do trabalho, da ética e da moral; além da ontologia, da significagáo e do sentido da palavra, o mundo pós-moderno aparece como um jogo de simulagóes entre o DNA como operador das possibilidades de manipulagáo dos códigos genéticos e os códigos de linguagem que os imitam em urna pura simulacro do ente.” (p. 128) “O discurso de Baudrillard reflete a condigáo do sujeito na pós-modernidade, dominado e seduzido pelo Objeto. Náo é um discurso teórico que tenta apreender urna realidade. É a manifestagáo textual das estratégias fatais do Objeto Mundo urna vez rompida a imagem especular do conhecimento, perdido o referente de todo saber.” (p. 131) “A racionalidade ambiental procura discernir os efeitos do pensamento metafísico e científico na hipereconomizagáo do mundo e os impactos e conseqüéncias da entropizagáo do planeta na pobreza, na iniqüidade e na degradagáo socioambiental.” (p. 132) “A volta ao ser e a transigáo a um futuro sustentável estáo tensionadas por urna diferenga real: o hiperconsumo, que, regido pela lei da demanda através da manipulagáo do desejo, continua remetendo ao imperativo da lucratividade e da necessidade da produgáo, da exploragáo do trabalho, da espoliagáo da natureza, da contaminagáo do ambiente; de urna pobreza que náo consegue esconder seu rosto” (p. 133) 3 “e. O colapso ecológico e a crise ambiental sáo o sintoma e o efeito dessas formas de conhecimento, onde hoje em dia se decantam diversas estratégias de poder pela reapropriagáo da natureza. Nessa malha discursiva se aninha a insuportável leviandade da globalizagáo económica e se desdobram as estratégias fatais do desenvolvimento sustentado.” (p. 133). A crise ambiental e o discurso da sustentabilidade “O princípio da sustentabilidade emerge no discurso teórico e político da globalizagáo económico-ecológica como a expressáo de urna lei-limite da natureza diante da autonomizagáo da lei estrutural do valor.” (p. 133) “A sustentabilidade ecológica aparece assim como um critério normativo para a reconstrugáo da ordem económica, como urna condigáo para a sobrevivéncia humana e para um desenvolvimento durável; problematiza as formas de conhecimento, os valores sociais e as próprias bases da produgáo, abrindo uma nova visáo do processo civilizatório da humanidade” (p. 133 – 134). “[...] surge o interesse teórico e político em valorizar a natureza com o propósito de internalizar as externalidades ambientais do processo de desenvolvimento [...] ” (p. 134) “No entanto, a produgáo continua guiada e dominada pela lógica do mercado. A protegáo do ambiente é considerada como um custo e condigáo do processo económico, cuja "sustentabilidade" depende das possibilidades de valorizagáo da natureza” (p. 134). “A degradagáo ambiental irrompeu na cena política como sintoma de urna crise de civilizagáo, marcada pelo modelo de modernidade regido sob o predomínio do conhecimento científico e da razáo tecnológica sobre a natureza. A questáo ambiental problematiza assim as próprias bases da pro- dugáo: aponta para a desconstrugáo do paradigma económico da moderni- dade e a construgáo de urna nova racionalidade produtiva, fundada nos limi- tes das leis da natureza, assim como nas potencialidades ecológicas e na cria- tividade humana. No entanto, a visáo sistémica e pragmática do ecodesen- volvimento careceu de uma base teórica sólida para construir um novo para- digma produtivo e velou o potencial dos saberes culturais e dos movimentos sociais pela apropriagáo da natureza na transparéncia das práticas da plani- ficagáo ambiental [...] ” (p. 136) “[...]As contradigóes náo apenas se fazem manifestas na falta derigor do discurso, mas também em sua coloca- gáo em prática, guando surgem os dissensos em torno do discurso do desen- volvimento sustentado/sustentável e os diferentes sentidos que este conceito adota em relagáo aos interesses contrapostos pela apropriagáo da natureza (Redclift, 1987; Martínez Alier, 1998; Escobar, 1999, cap. 4)” (p. 138) A capitalização da natureza e as estratégias fatais do “[...]e. Ante a impossibilidade de assimilar as condigóes de sustentabilidade e os princípios que orientam a construgáo de urna racionalidade ambiental, a política de desenvolvimento sustentado vai desativando, diluindo e pervertendo as 4 desenvolvimento sustentado perspectivas abertas pelo conceito crítico do ambiente a um desenvolvimento alternativo [...]” (p. 139) “[...] os processos ecológicos e simbólicos sáo reconvertidos em capital natural, humano e cultural, para serem assimilados pelo processo de reprodugáo e expansáo da ordem económica, reestruturando as condigóes da produgáo mediante uma gestáo economicamente racional do ambiente [...]” (p. 140). “[...]0 discurso da sustentabilidade aparece assim como um simulacro que nega os limites do crescimento para afirmar a corrida desenfreada em diregáo á morte entrópica do planeta. Afirma-se, assim, um processo que se aparta de toda lei de conservagáo ecológica e reprodugáo social para dar curso a um processo que desborda toda norma, referéncia e sentido para controlá-lo. O discurso da sustentabilidade opera como urna estratégia fatal, urna inércia cega que se precipita em diregáo á catástrofe [..]” (p. 140) “[...]A questáo náo se apresenta como um dilema do sujeito — do controle racional diante da falta de medidas do desejo —, e sim da própria racionalidade económica, cujo falso princípio de racionalizagáo da escassez o conduz a todos os excessos, que perverte a ética iluminada pelo pensamento da complexidade e da natureza ecologizada.[...]” (p. 141) “ [...]O discurso do desenvolvimento sustentado colonizou a natureza, convertendo-a em capital natural. A forga de trabalho, os valores culturais, as potencialidades do homem e sua capacidade inventiva se transmutam em capital humano. Tudo é redutível a um valor de mercado e representável pelos códigos do capital. O capital clona identidades para assimilá-las a urna lógica, a urna razáo, a urna estratégia de poder para a apropriagáo da natureza como meio de produgáo e de reprodugáo da racionalidade económica. Dessa maneira, as estratégias de sedugáo e de simulagáo do discurso do desenvolvimento sustentado constituem o mecanismo extra-económico por exceléncia dda pósmodernidade para manter o domínio sobre o homem e a natureza [...]” (p. 142) “[...]O discurso do crescimento sustentado ergue uma cortina de fumaga que mascara as causas da crise ecológica. Ante o aquecimento global do planeta, é ignorada a degradagáo entrópica produzida pela atividade económica — cuja forma mais degradada é o calor — e nega-se a origem antropogénica do fenómeno ao qualificar seus efeitos como desastres "naturais"[..]”.(p. 143)
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