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Jesus Alexandre Artur Naueia Leovelgildo Leal Pequina Ruben de Laura Tiorenço João de Araújo Tema: Indivíduos e Contexto Social do Trabalho (Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações) Universidade Rovuma Nampula 2023 Jesus Alexandre Artur Naueia Leovelgildo Leal Pequina Ruben de Laura Tiorenço João de Araújo Indivíduos e Contexto Social do Trabalho Percepção interpessoal, formação de impressões, atribuições causais e grupos e equipas de trabalho nas Organizações (3º Grupo) Nampula, Abril de 2023 i Trabalho de carácter avaliativo a ser entregue na Faculdade de Educação e Psicologia, Curso de Psicologia Social e das Organizações, na cadeira Psicologia das Organizações, leccionada pelo Prof.Doutor: António dos Santos João, 3º ano, Laboral Índice I. Introdução ........................................................................................................................ 4 1.1. Contextualização .............................................................................................................. 4 1.2.Objectivos ......................................................................................................................... 5 1.2.1. Objectivo geral .............................................................................................................. 5 1.2.2. Objectivos específicos .................................................................................................. 5 II. Referencial teórico ....................................................................................................... 6 2.1. Percepção interpessoal: formação de impressões ............................................................ 6 2.1.1.Abordagens da formação de impressões ........................................................................ 6 2.1.1.1.Breve referência às experiências de Asch ................................................................... 6 2.1.1.2. Abordagem cognitiva da formação de impressões .................................................... 7 2.1.1.3. Modelos de formação de impressões ......................................................................... 8 2.1.1.4. Modelo do processo dual de Brewer .......................................................................... 9 2.1.1.5. Modelo do Continuum de Fiske e Neuberg (1990) ................................................. 10 2.2. Atribuições causais ........................................................................................................ 11 2.2.1. Kelley: o processamento da informação ..................................................................... 12 2.2.2. Jones e Nisbett: a divergência de perspectivas entre actor e observador .................... 13 2.2.3. Weiner: atribuição em contextos de realização .......................................................... 14 2.3. Grupos e equipas de trabalho nas Organizações ............................................................ 14 2.3.1. Grupos ......................................................................................................................... 14 2.3.1.1. Definição de grupos ................................................................................................. 15 2.3.1.2. Características dos grupos ....................................................................................... 16 2.3.1.3. Interacção grupo x comportamento ......................................................................... 16 2.3.1.4. Poder e influência dos grupos .................................................................................. 17 2.4. Equipas de trabalho ........................................................................................................ 18 2.4.1. Definição e Características das equipas de trabalho ................................................... 19 2.4.2. Tipos de equipas de trabalho ...................................................................................... 21 ii 2.4.3. Estágios de desenvolvimento das equipas de trabalho ............................................... 23 2.4.4. Elementos que afectam a estrutura das Equipas de trabalho ...................................... 25 2.4.5. Efectividade das equipas de trabalho .......................................................................... 27 2.4.6. Equipas de trabalho efectivas...................................................................................... 28 Conclusão .............................................................................................................................. 30 Referências bibliográficas ........................................................................................................ 31 iii v 4 I. Introdução 1.1. Contextualização O presente trabalho da cadeira de Psicologia Organizacional, do curso de licenciatura em Psicologia Social e das Organizações, é fruto de uma pesquisa feita com o tema de “Indivíduos e contexto social do trabalho”, onde de forma clara, objectiva e precisa debruçar- se-á sobre a percepção interpessoal, formação de impressões, atribuições causais, grupos e equipas de trabalho nas organizações. Sabemos que a Psicologia Organizacional ou mesmo das Organizações estuda os problemas organizacionais ligados a gestão de recursos humanos, a forma de ocorrência das interacções entre os trabalhadores, métodos e técnicas para alcançar a produtividade, entre outros diversos factores. Este trabalho é de grande importância para mim, os trabalhadores e para toda sociedade académica, uma vez que, fornece um leque de saberes em relação a diversos aspectos verificáveis dentro das organizações, ajudando-nos a ter uma compreensão mais ampla do comportamento do individuo quando se encontra no seu local de trabalho. Também será possível mitigar e/ou até mesmo extinguir todo e qualquer comportamento prejudicial a própria organização. 5 1.2.Objectivos 1.2.1. Objectivo geral Compreender o comportamento do individuo quando inserido no contexto organizacional. 1.2.2. Objectivos específicos Descrever a percepção e formação de impressões no âmbito organizacional; Explicar a forma de ocorrência das atribuições causais, também conhecidas como justificações; Falar dos grupos e equipas de trabalho nas organizações. 1.3. Metodologia de pesquisa Para a realização do presente trabalho usou-se o método bibliográfico que constituiu no uso de obras e artigos publicados na Internet. No dizer de Gil (1991), a pesquisa bibliográfica é um trabalho de natureza exploratória, que propicia bases teóricas ao pesquisador para auxiliar no exercício reflexivo e crítico sobre o tema em estudo. 6 II. Referencial teórico A estrutura visível de uma empresa (móveis, equipamentos, instalações) nos mostra uma parte do que ela é, mas não nos mostra tudo. Afinal, esses elementos tornam possível que a empresa exerça suas actividades, mas não são, na verdade, a empresa em si. Uma empresa é feita por pessoas e, por isso, é feita de relacionamentos. A capacidade de produzir e de gerar resultados, que é o verdadeiro património de uma empresa, depende, é claro, da estrutura que ela tem, sobretudo, do modo como seus funcionários agem dentro dela. 2.1. Percepção interpessoal: formação de impressões Para formarmos uma impressão acerca de uma outra pessoa habitualmente não necessitamos de muita informação que pode ser obtida de forma directa, através da interacção com o sujeito e da observação do seu comportamento verbal e não-verbal e de forma indirecta, através do “ouvi dizer” (Caetano, 1993). São inúmeros os factores presentes nasimpressões que formamos de alguém. A aparência, o cheiro, hábitos e comportamentos consideram-se como aspectos relevantes, no entanto, no primeiro contacto não temos acesso a todas essas informações e desta forma as impressões que formamos não são exactas. Apesar disto, nada abala a nossa convicção. Criamos uma impressão unificada apesar da pessoa revelar características diferentes, ou mesmo contraditórias (Caetano, 1993). 2.1.1.Abordagens da formação de impressões 2.1.1.1.Breve referência às experiências de Asch O estudo da formação de impressões iniciou-se com a abordagem “gestáltica” ou configuracional de Asch entre 1946 e fins dos anos 50. A abordagem “gestáltica” pressupõe que as pessoas integram a informação, de modo a formarem um todo coerente. Asch (1946, citado por Caetano, 1993) considerou que o processo de formação de impressões teria um carácter holistico, ou seja, os traços que caracterizam uma pessoa organizar-se-iam de tal modo que o todo seria diferente da simples soma das partes. No entanto, dado que nem todas as características conhecidas sobre uma pessoa contribuem com o mesmo peso para a formação de impressões, Asch definiu a hipótese de que algumas características são mais centrais, enquanto outras são secundárias. 7 Numa das suas mais conhecidas experiências, Asch apresentou a diferentes grupos de sujeitos, uma lista de traços que, supostamente, caracterizavam um sujeito. A tarefa dos participantes consistia em escrever um comentário sobre o sujeito descrito e seleccionar, numa lista de pares de traços na sua maioria opostos, o adjectivo que em cada par, mais se ajustava à dimensão que tinha formado (Caetano, 1993). Um dos grupos recebia a seguinte lista: “inteligente, hábil, trabalhador, caloroso, determinado, prático, prudente”. Um segundo grupo recebia uma lista idêntica: “inteligente, hábil, trabalhador, frio, determinado, prático, prudente”. A diferença entre as duas listas era a presença do adjectivo caloroso e frio (Caetano, 1993). Depois de lerem os traços os sujeitos deviam formar uma impressão acerca daquele indivíduo. Das descrições recolhidas, uma típica do indivíduo caloroso era a seguinte: “uma pessoa que acredita que certas coisas são justas, que pretende que os outros considerem o seu ponto de vista, que seria sincero numa discussão e gostaria de ver vencer o seu ponto de vista”. A descrição do indivíduo frio era a seguinte: “uma pessoa cheia de ambição e talento que não permitirá que nada nem ninguém o impeça de atingir os seus objectivos. O que importa é a sua opinião, está determinado a não ceder, aconteça o que acontecer” (Caetano, 1993). Segundo Asch (1946, citado por Caetano, 1993), as características apresentadas não têm todas o mesmo peso para os participantes definindo assim características centrais e características periféricas. Ao mesmo tempo, conclui que a mudança de um traço periférico tem um efeito mais fraco na impressão global, do que a mudança de um traço central. Um traço quando é central tem um conteúdo e um peso diferente do que quando é periférico, no entanto um traço não tem sempre um sentido fixo. O seu conteúdo pode ser central numa impressão e tornar-se periférico noutra. 2.1.1.2. Abordagem cognitiva da formação de impressões Desde os finais dos anos 70 que se entrou num novo período em que a maior parte das pesquisas se inserem no quadro da abordagem da memória de pessoas ou cognição social. A abordagem cognitiva procura analisar os processos que dizem respeito à aquisição e recuperação da informação. Formar uma impressão aparece assim como uma actividade que depende dos processos de memória (Caetano, 1993). Têm sido propostos vários modelos explicativos, como os de Brewer (1988), Fiske e Neuberg (1990), Hastie (1980), Srull e Wyer (1989), Wyer e Carlston (1979), Wyer e Srull 8 (1986). A maioria destes modelos têm procurado explicar e integrar os resultados de inúmeras pesquisas que incidem sobre a memória das pessoas e formação de impressões (Caetano, 1993). Os indivíduos, geralmente, não necessitam de muita informação sobre os sujeitos para formar as primeiras impressões. À medida que adquirem a informação, os indivíduos organizam-na e representam-na na memória, numa estrutura cognitiva que traduz o conhecimento acumulado sobre o sujeito. Se, por exemplo, o recrutador se aperceber que o indivíduo chegou atrasado à entrevista marcada para a vaga num posto de trabalho, poderá ficar com a impressão que seja um indivíduo pouco responsável e com uma certa dificuldade em cumprir horários. Embora a primeira impressão possa ser posteriormente modificada, a informação adquirida em primeiro lugar terá um impacto maior na tomada de decisão feita pelo recrutador “Efeito de precedência”. No entanto, este efeito nem sempre se verifica, podendo dar lugar, em certas condições, a um “Efeito de recência”, ou seja, se no momento em que tomam conhecimento da informação os sujeitos não tiverem como objectivo formar uma impressão e esta for pedida, a avaliação pode basear-se nos últimos comportamentos (Asch, 1946, citado por Caetano, 1993). 2.1.1.3. Modelos de formação de impressões Os sujeitos com os quais interagimos no nosso dia-a-dia e sobre os quais formamos impressões e fazemos julgamentos, são membros de grupos e normalmente, possuímos estereótipos ou expectativas sobre esses mesmos grupos. A questão que se levanta, é saber quando é que uma pessoa é percebida como um indivíduo e quando é que é percebida como integrada num grupo. Derivada desta temos outra questão que é saber quando é que as nossas impressões e julgamentos dessa pessoa, serão baseados nas nossas impressões sobre o grupo ao qual está integrada e quando serão baseados em informação individual, pertinente, para aquela pessoa. Os modelos de Brewer (1988) e Fiske e Neuberg (1990), procuram dar resposta a estas questões, procurando definir como é que as impressões são formadas e quais os processos envolvidos nos julgamentos que fazemos dos outros. Chamam também à atenção para a distinção entre as influências baseadas no indivíduo e as baseadas no grupo, na formação dessas impressões (Caetano, 1993). 9 2.1.1.4. Modelo do processo dual de Brewer Brewer (1988) propõe um modelo dual de formação de impressões, de acordo com o qual, a impressão será resultado de um processamento da informação baseado quer em categorias (top-down ou theory-driven), quer em representações de pessoas (bottom-up ou data- driven). Este modelo, pressupõe que um processo se pode desenvolver oscilando entre estas duas hipóteses, e diz que esta oscilação ocorre no decorrer de várias etapas (Caetano, 1993): Identificação inicial: a apresentação de uma pessoa (estímulo), activa os processos de classificação que ocorrem automaticamente e sem intenção consciente. Produz-se uma primeira categorização em função de dimensões bem estabelecidas nas estruturas cognitivas dos percepcionadores (e.g., sexo, idade, raça, etc.) ficando a pessoa (estímulo) classificada nessas categorias; Categorização ou tipificação: Esta etapa consiste em procurar, de uma forma deliberada, uma categoria apropriada para a pessoa-estímulo, mas no caso de a adequação da categoria à pessoa (estímulo) ser insuficiente, passa-se à etapa da individualização; Individualização: Consiste numa diferenciação intracategorial, criando-se subtipos ou subcategorias que se mostrem apropriadas ao estímulo. Personalização: Esta etapa refere-se à formação de um tipo diferente de estrutura cognitiva, na qual o indivíduo se torna a base para a organização de toda a informação relevante. Quando a informação é personalizada, a pertença à categoria é guardada como uma característica do indivíduo, para ser integrada com outra informação sobre aquela pessoa. Quando a informação é personalizada, os atributos ou comportamentos que são inconsistentescom as expectativas previamente estabelecidas, serão processados extensivamente e incorporada na representação da pessoa. As etapas realizam-se sequencialmente e nem sempre têm de ocorrer todas, ou seja, o processo termina quando, em qualquer das etapas, a impressão ficou criada. 10 Em resumo, o modelo de Brewer (1988) assume a intervenção de dois tipos de processamento da informação social (processamento automático, não consciente, na etapa da identificação, e processamento mais controlado nas restantes etapas). O seu aspecto dual reside no facto de assumir um processamento baseado nas características do estímulo (data- driven), na etapa de personalização, e um processamento categorial (theory-driven), nas restantes (Caetano, 1993). 2.1.1.5. Modelo do Continuum de Fiske e Neuberg (1990) Este modelo supõe um processo contínuo que vai da criação de impressões a partir de teorias e conceitos preexistentes (theory-driven), a processos de combinação dos atributos do alvo, peça-a-peça (data-driven) (Caetano, 1993). O modelo supõe a existência de quatro etapas entre os dois extremos (Caetano, 1993): Categorização inicial; Categorização confirmatória; Recategorização; Integração peça-a-peça. 1) Categorização inicial Perante a pessoa (estímulo), verifica-se uma categorização inicial, que ocorre de uma forma automática. É baseada em indícios físicos ou em outro tipo de informação disponível que permita activar qualquer tipo de estereótipo ou preconceito. Se a pessoa não for muito interessante ou irrelevante, a impressão poder terminar neste momento, mas se a pessoa for interessante, passa-se a dar atenção à informação disponível sobre os seus atributos. Primeiramente, categorizamos os outros, mas depois de reunirmos a informação que permita definir uma categoria social. Essa informação poder ser na forma de características físicas, na forma de uma categoria verbalizada ou inferida do comportamento da pessoa. 2) Categorização confirmatória Se a pessoa-alvo for realmente interessante ou relevante, passa-se a dar atenção à informação disponível sobre os seus atributos, de modo a confirmar a categorização inicial. A confirmação verificar-se-á no caso de essa informação se revelar consistente com a categoria inicial, ou não tiver carácter diagnosticante. Quando os sujeitos encontram uma 11 categoria social e atributos consistentes com a categoria, formam impressões baseadas na categoria. Numa série de estudos de Fiske et al. (1984, citado por Caetano, 1993 ), os sujeitos invariavelmente demoravam menos tempo a formar impressões dos alvos, quando os atributos eram consistentes com a categoria. Os sujeitos ao encontrarem atributos consistentes com a categoria, aparentemente não gastavam tempo a formar impressões mais individualizadas. A confirmação da categoria é bem sucedida quando, a categoria é acompanhada por atributos interpretados como consistentes, quando a categoria é acompanhada por atributos interpretados como consistentes e inconsistentes e finalmente, quando uma categoria bem definida é acompanhada por atributos interpretados como irrelevantes quer para a categoria, quer para o julgamento. 3) Recategorização Esta etapa ocorre quando a pessoa-alvo é categorizável, mas não em termos da categoria inicial que foi automaticamente utilizada. Torna-se necessário aceder a uma subcategoria, ou a uma nova categoria que se mostre mais adequada às características da pessoa-estímulo. O processo de recategorização não se baseia somente no processamento categorial, nem está dependente da categoria inicial, a nova categoria é, maior parte das vezes, determinada pelos atributos particulares da pessoa-alvo. 4) Integração peça a peça Se mesmo recorrendo a estes processos, o percepcionador não consegue formar uma impressão sobre a pessoa-alvo, mas tem motivação e tempo para compreender aquele alvo em particular, passará a uma fase de processamento de informação peça a peça. Nesta etapa, o percepcionador pode adicionar todas as características particulares da pessoa-alvo, até chegar a uma impressão final. 2.2. Atribuições causais O conceito de teoria da atribuição na psicologia social surgiu por volta de 50 anos nos Estados Unidos e tem sido objecto de estudo para os psicólogos sociais desde os primeiros trabalhos realizados por Fritz Heider em 1958. O principal idealizador e criador da teoria das atribuições foi Heider que apresentou as primeiras ideias da atribuição de causalidade. Em seguida, outros autores como Jones e Davis, Kelley, Jones e Nisbett, Bernard Weiner e Russel 12 deram seguimento às ideias pioneiras de Heider, na qual contribuíram para o estudo da teoria da atribuição (Coleta e Coleta, 2006). Segundo Coleta e Coleta (2006, s.p) o conceito da atribuição de causalidade baseado na responsabilidade, pode ser definido como as experiências vividas do sujeito na busca do entendimento da causalidade fenomenal, ou seja, a busca pelo fato que deu origem à causa atribuída ao resultado. O entendimento dessa causalidade forma uma relação entre as mudanças que acarretaram resultado do indivíduo e o seu comportamento. Heider (1958 apud Coleta e Coleta, 2006) em seus estudos apresentou uma das primeiras definições de atribuição de causalidade. Segundo o autor a atribuição de causalidade é um processo de busca de justificativas acerca da razão dos acontecimentos; é um grande componente, pois auxilia o indivíduo a entender e controlar o seu comportamento e o comportamento de outros indivíduos. 2.2.1. Kelley: o processamento da informação Kelley (1967) afirma que as pessoas atribuem uma causa a uma situação, processando informação sobre a variação, situacional ou não, das condições e circunstâncias que acompanham a situação. Assim, se um evento ocorre sempre na presença de algo, atribui-se a esse algo a causa do evento. Por exemplo, se, todas as vezes que me constipei, estava frio, atribuo ao frio o surgimento da constipação. O mesmo autor evoca três princípios importantes na análise de um comportamento: a distintividade, a consistência ou constância e o consenso. A consistência refere-se ao conhecimento que o percipiente tem acerca da história do comportamento do actor. Ela é considerada elevada quando uma pessoa revela o mesmo comportamento em diferentes ocasiões. Ou seja, se, sempre que o estímulo estiver presente, a pessoa produz um comportamento igual ou semelhante, mesmo que possa variar a forma de interacção com o estímulo (consistência no tempo e na modalidade). Por exemplo, quando alguém grita ou demonstra medo sempre que vê uma cobra ou quando observa fotografias de cobras. Quando o comportamento ocorre de forma intermitente perante o mesmo estímulo, a consistência considera-se baixa (Kelley, 1967). A distintividade refere-se a forma como o actor se relaciona com outras entidades. Consiste na percepção de que determinado comportamento é emitido pela pessoa perante qualquer 13 estímulo ou apenas quando está presente um estímulo específico. Se o comportamento aparece apenas quando um estímulo específico está presente, diz-se que esse comportamento tem alta distintividade; caso contrário, o comportamento tem baixa distintividade (Kelley, 1967). O consenso diz respeito a forma como outros atores reagem a entidade em questão. Ele é considerado alto se várias pessoas agem de maneira semelhante perante o mesmo estímulo; caso contrário, o consenso é considerado baixo (Kelley, 1967). Kelley (1967) diz-nos que, quando o comportamento de uma pessoa diante de um estímulo possui baixa distintividade, baixa consistência e baixo consenso, tendemos a atribuir o comportamento a causas específicas da pessoa (atribuição interna); quando possui alta distintividade, alta consistência e alto consenso, tendemos a atribuir causas referentes a aspectos característicos da entidade em si (atribuiçãoexterna). 2.2.2. Jones e Nisbett: a divergência de perspectivas entre actor e observador Jones e Nisbett são autores muito referenciados no campo da atribuição, tendo centrado a sua atenção nas razoes para a divergência de perspectivas entre actor e observador. Atores e observadores de uma acção são influenciados por um viés ou tendenciosidade divergente nas suas atribuições. Os atores, ao analisarem o seu comportamento, percebem-no como uma resposta adaptativa as forças situacionais, tendem a fazer atribuições situacionais (externas), enquanto os observadores de uma acção tendem a fazer atribuições disposicionais (internas ao actor), inferindo as causas do comportamento do actor em função das suas características pessoais (Jones e Nisbett, 1972). Assim, quando observamos o comportamento dos outros, tendemos a atribuir-lhes causalidade pessoal; ao analisarmos o nosso próprio comportamento, atribuímos o seu aparecimento mais a causas externas. Para os autores, essa tendenciosidade divergente entre atores e observadores decorre da diferença de informações que possuem. O actor tem mais acesso a informações relativas ao seu comportamento passado em situações semelhantes, o que lhe permite pesar melhor a influência de causas externas no seu comportamento específico (Malle, 2006). 14 2.2.3. Weiner: atribuição em contextos de realização Weiner (1986) admite que a busca de uma explicação para um acontecimento é mais crível ocorrendo fracasso do que sucesso e que, também, é mais provável após um evento inesperado do que depois de um evento esperado. Afirma, ainda, que a importância subjectiva associada ao evento também influencia na busca do conhecimento causal. Seguindo de perto a proposta teórica de Heider, Weiner postula que, em contextos relacionados com realização, as pessoas atribuem o resultado, sucesso ou fracasso a determinadas crenças causais. Inicialmente, considerou como principais causas percebidas em contextos de realização quatro elementos atribucionais fundamentais: a capacidade, o esforço, a dificuldade da tarefa e a sorte (Weiner et al., 1971). Esses elementos seriam utilizados pelos indivíduos tanto para interpretar como para predizer resultados e foram enquadrados, num primeiro momento, numa taxonomia atribucional de duas dimensões: A primeira dimensão, locus de controlo, refere-se ao fato de a causa ser interna ou externa ao indivíduo. Assim, as atribuições relacionadas com a capacidade e o esforço eram classificadas como internas ao indivíduo, enquanto aquelas que diziam respeito a dificuldade da tarefa e a sorte eram classificadas como externas. A origem dessa dimensão encontra-se nas ideias de Heider (1958), que garante que o resultado de uma acção é consequência de uma interacção entre duas forças distintas, as relacionadas com a pessoa e as relacionadas com o ambiente; A segunda dimensão, estabilidade, é pertinente a forma como a causa varia ao longo do tempo. As atribuições associadas com a capacidade e a dificuldade da tarefa eram classificadas como estáveis, enquanto atribuições relacionadas com o esforço e a sorte eram consideradas como instáveis. 2.3. Grupos e equipas de trabalho nas Organizações 2.3.1. Grupos Um peixe, se consciência tivesse, provavelmente não se daria conta de que vive permanentemente na água. Nós, raramente tomamos consciência de que vivemos imersos numa grande camada de oxigénio. Do mesmo modo, quase nunca nos apercebemos que vivemos em contacto directo com os grupos e as instituições. Somente quando o peixe é 15 retirado da água, quando sofremos alguma privação de oxigénio, quando nos afastamos ou perdemos um grupo de referência, é que sentimos o quanto estávamos envolvidos por este meio ambiente, que nos abraça de forma tão sútil, tão cotidiana, que o temos como um fato, pouco nos importamos com ele. A vida humana é grupal. Nascemos em uma família na qual nos relacionamos com nossos pais e irmãos. Também existem os tios, tias, primos e toda uma gama de pessoas que formam um conjunto perfeitamente identificável, que transmite características próprias, de sorte que muitas vezes exclamamos ante um determinado comportamento: “só poderia ser da família tal!”. Observe que não nos referimos nesse momento ao sujeito do comportamento, e sim ao comportamento. É como se essa pessoa reflectisse uma espécie de linhagem comportamental perfeitamente identificada através dos diversos actos que já observamos em outros membros de sua família. Ocorre o mesmo com algumas profissões, os advogados têm um estilo, os militares outro, pedreiros agem de forma parecida, e os consertadores de electrodomésticos têm uma maneira muito sua de tratar os prazos acertados. Todos estes citados anteriormente, têm um modo próprio de comportar-se que ao mesmo tempo reflecte a sua individualidade, mas também o grupo de referência a que pertence. 2.3.1.1. Definição de grupos Grupo pode ser definido como “um conjunto de indivíduos que interagem entre si compartilhando certas normas numa tarefa” Bleger (1998, p. 114). Osório (2003) utiliza o termo sistema humano: “Sistema humano é, em nosso entender, todo aquele conjunto de pessoas capazes de se reconhecer em sua singularidade e que estão exercendo uma acção interactiva com objectivos compartilhados.” Segundo Zanelli (2004), um grupo “é um conjunto formado por duas ou mais pessoas, que para atingir determinado objectivo necessita de algum tipo de interacção”. De acordo Fonseca (1988, p. 184): “Grupos são no seu sentido mais geral, configurações sociais de mediação da relação entre indivíduo e a totalidade social a que ele se vincula; entre a universalidade da sociedade a particularidade do indivíduo. São, pois, instâncias intermediárias que articulam a relação do indivíduo com a totalidade social, servindo como elementos de mediação.” Existem dois tipos de grupos, sendo a família um grupo primário e os grupos secundários se referindo ao trabalho, estudos, instituições entre outros. Nos grupos, cada sujeito possui seu 16 lugar e papel, seu modo de ser em colectividade, e o que constitui sua identidade. É possível compreender que mesmo pertencentes a determinado grupo, com regras e normas que regem o processo relacional, cada um de seus integrantes, imprime sua identidade sobre o mesmo, por meio de sua forma de agir, pensar, falar, contribuindo assim para a ampliação de conhecimentos que constitui aquele grupo, definindo-o em sua multiplicidade (Grossi; Bordin, 1992). 2.3.1.2. Características dos grupos Os grupos possuem determinadas características como serem pequenos, ou seja, as pessoas se conhecem entre si, existe uma relação face a face; compartilham objectivos e aceitam as normas construídas pelo próprio grupo. Geralmente pouca conta nos damos de que partilhamos normas e ao mesmo tempo estamos contribuindo para a sua construção através dos diversos encontros que temos com nossos companheiros, familiares, cônjuges, enfim, com quem nos relacionamos socialmente. Quando fofocamos, estamos estabelecendo normas de comportamento. Se fulano fez isto ou aquilo, passa por nosso comentário, maldoso ou não, a aceitação do seu comportamento. Assim, estamos nesse instante determinando se aquele comportamento é coerente com o que desejamos ou se pelo contrário ele deve ser modificado, e estabelecemos sanções ou reforços destinados a manter ou a mudar a maneira o individuo comportou-se. Essas normas são conhecidas por todos os membros do grupo. Não estão escritas, porém quase sempre são seguidas à risca. Pertencer ao grupo implica em se submeter às suas regras e normas. Para isto são também estabelecidos prémios e castigos. Os prémios em geral se dão na forma de aceitação e prestígio. As punições variam desde as que se administram em forma de brincadeiras, passando por admoestações explícitas, até a expulsão. As organizações nãofogem à regra, ali também os grupos existem e constituem a matéria- prima do seu desenvolvimento. Em duas organizações que têm mesmo objectivo, como dois colégios, duas lojas comerciais ou duas fábricas de automóveis, muitas vezes o que vai diferenciar uma da outra é a maneira como as normas grupais foram estabelecidas. 2.3.1.3. Interacção grupo x comportamento Somos fruto de nossa personalidade, porém somos ao mesmo tempo resultado da interacção dessa personalidade com os grupos a que pertencemos, aos quais valoramos. Todos queremos aparecer bem ante os demais. A questão é que não a todos os demais e sim àqueles que 17 elegemos como mais importantes para nós. Em outras palavras, nosso comportamento é também fruto da interação com os outros, até quando estes não estão fisicamente presentes. Pensa-se que o comportamento é só o indivíduo, mas não, é resultante do indivíduo e suas circunstâncias, seus grupos de referência. E mudar o indivíduo sem entender o grupo ao qual pertence é muito mais complicado. Mais fácil resulta mudar o grupo, e como consequência o indivíduo, do que o contrário. Zanelli (2004, p. 364) Ainda segundo o autor, para administrar pessoas, devemos compreender que o grupo é maior do que os indivíduos, embora por eles seja constituído. Possuir uma visão global ou sistémica é o caminho mais adequado para conseguir estabelecer padrões de comportamento desejáveis em uma organização. Compreendendo que os grupos existem, que estabelecem normas de convivência e que estas normas podem ir a favor ou em contra dos objectivos organizacionais, o administrador pode estabelecer suas próprias regras comportamentais de forma a interagir de maneira adequada com os diversos grupos e assim lograr seus objectivos. Embora possa parecer simples, gerenciar o comportamento humano é uma tarefa complexa. Os membros da organização reconhecem as diferenças entre os comportamentos socialmente sustentados pelo seu grupo e as cobranças feitas pela organização. Nestas circunstâncias, a comunicação constitui um elemento que favorece o adequado gerenciamento. Contudo, ela é benéfica apenas na medida em que as pessoas encarregadas de gerenciar esses indivíduos conhecem os grupos aos quais pertencem assim como as regras que, nesses grupos, norteiam o comportamento. 2.3.1.4. Poder e influência dos grupos Para compreender o funcionamento dos grupos é necessário entender a natureza da influência social. As pressões para a uniformidade se exercem mediante a interacção social na qual os membros tentam modificar suas crenças, atitudes e acções mutuamente. Surgem processos similares sempre que um grupo tenta tomar decisão sobre metas a escolher ou sobre a maneira como alcançá-las. Coordenar as actividades de grupo exige que a conduta de cada membro se ajuste a dos outros, e se efectue a liderança mediante processo de influência sobre os demais. Tajfel (1981) Fundamentalmente, existe um jogo de papéis que podem ser influenciados tanto pelos traços de personalidade quanto pelo tipo de tarefa a ser cumprido. Isto nos leva a que uma pessoa 18 tenha influência sobre outra se algum comportamento dela gera uma mudança no comportamento da outra. Os grupos majoritários são considerados aqueles que representam o poder formal, instituído ou da maioria, mesmo que muitas vezes não guardem relação com o número de pessoas que os compõem. Por exemplo, quando falamos que as mulheres formam uma minoria, estamos nos referindo a que elas formam uma minoria em relação ao poder social, mesmo sendo maioria populacional. O mesmo ocorre com outros segmentos sociais, e é interessante salientar que uma pessoa pode participar de vários grupos com posições diferentes. Pode participar de um grupo na posição majoritária e em outro na posição minoritária. Tajfel (1981) Nas organizações também acontece algo semelhante. Grupos que são minoritários em um determinado momento, em outro passam a exercer o poder. Uma das características dos grupos em relação ao poder, é que ele é exercido de forma desigual entre os seus membros. Vai existir um núcleo central que detém maior poder, que vai se diluindo a medida que se afasta desse núcleo. Quanto mais central, mais identificado com o grupo, e mais resistente às mudanças. Essas discrepâncias de poder e consequentemente de influência nos grupos e nos indivíduos geram divisões, rachas, que tendem a ir se transformando ao longo do tempo e que podem gerar a constituição de novos grupos, muitas vezes antagónicos, ou então modificações na própria estrutura de poder do grupo. 2.4. Equipas de trabalho Para quem percorre os cenários organizacionais é evidente que a adopção de equipas de trabalho, também chamados de grupos de trabalho, círculos de qualidade, comités de gestão, ou simplesmente times, têm-se incrementado nos últimos anos. Este incremento responde, em última instância, à procura de mecanismos que favoreçam a eficácia do desempenho dos indivíduos, portanto das organizações. Embora exista grande confusão em relação às denominações encontradas, maior precisão pode ser conseguida a partir da adopção de uma definição precisa do que são as Equipas de trabalho, assim como da descrição das suas características e funcionamento. 19 2.4.1. Definição e Características das equipas de trabalho A definição de equipas de trabalho não é única e podem ser encontradas divergências dependendo do aspecto enfatizado pelos autores interessados no seu estudo. Assim, Arrow e McGrath (1995) definem o grupo de trabalho como um padrão complexo de relações dinâmicas entre um conjunto de pessoas (membros), que utilizam uma determinada tecnologia para atingir propósitos comuns. Nesta definição, os autores apontam a existência de três elementos constitutivos: os membros, o propósito ou objectivo e a tecnologia. Esta última compreendida como as ferramentas e procedimentos utilizados para a efectiva realização do trabalho. Guzzo e Dickson (1996), por sua vez, definem grupo de trabalho como “indivíduos que se percebem e são percebidos pelos outros como uma entidade social, interdependentes por causa das tarefas que desempenham, e inseridos num sistema social maior, a organização”, que é afectada pelo desempenho do grupo. Conforme o leitor pode observar, esta definição não prioriza os propósitos, mecanismos ou produtos do trabalho da Equipa, mas os indivíduos que as integram. A ênfase recai principalmente nas relações internas mantidas entre eles, assim como com o meio externo ao qual pertencem. West Borrill e Unsworth (1998) definem o grupo de trabalho como uma “entidade social, inserida no contexto organizacional, desempenhando tarefas que tanto contribuem para que o objectivo da organização seja atingido, como afectam outros indivíduos dentro e fora da organização”. Segundo estes autores, os membros desta entidade social, são interdependentes entre si para a execução das tarefas e são identificados como grupo dentro e fora da organização. Esta definição, portanto, incorpora alguns dos aspectos apontados pelas duas anteriores. Machado (1998), a investigar empiricamente o desempenho dos grupos de trabalho, os define como: “Um sistema de relações dinâmicas e complexas entre um conjunto de pessoas, que se identificam a si próprias e são identificadas por outras pessoas dentro da organização como membros de um grupo relativamente estável, que interagem e compartilham técnicas, regras, procedimentos e responsabilidades, utilizadas para desempenhar tarefas e actividades com a finalidade de atingir objectivos mútuos.” (p.7). A definição dada por esta autora congrega os pontos principais adoptados pelos autores anteriormente citados, como também ressalta que o grupo de trabalho não é caracterizado por se tratar de um conjunto de pessoas mais pela dinamicidade presente nas relações mantidas 20 entre eles assim como na execução dastarefas, que estão orientadas para a consecução de um objectivo determinado. Desta forma, destaca a importância dos elementos constitutivos do grupo de trabalho, a saber: membros, tecnologia e objectivos. A partir das definições apresentadas, podemos nos questionar se os termos grupo e Equipa de trabalho são sinónimos quando usados para descrever unidades de trabalho inseridas no seio da organização. Pois bem, apesar de guardarem semelhanças, trata-se realmente de estruturas diferentes pelo que a seguir tais diferenças serão enfatizadas. Greenberg e Baron (1995) destacam que parte da confusão é decorrente do uso corriqueiro da palavra time ou Equipa quando a estrutura apontada nem sempre responde as características que uma Equipa deveria ter. Com certa frequência a palavra Equipa é usada para definir conjuntos de pessoas que trabalham num mesmo departamento ou seção, sendo que elas nem sempre têm um objectivo comum, claramente especificado. Por exemplo, no caso de funcionários do departamento financeiro de uma empresa, embora o objectivo de trabalho de todos eles seja cuidar das finanças da empresa, cada empregado funciona como uma unidade mais ou menos independente. Constituir-se-iam uma Equipa de trabalho no momento em que, alguns deles, fossem chamados a juntar os seus esforços, interagirem e relacionarem-se com a finalidade de atingir um objectivo específico como traçar um plano de trabalho que permitisse à empresa alcançar novos mercados. Assim, os autores apontam o primeiro aspecto que diferencia grupos de Equipas. Nos grupos, a realização do trabalho depende fundamentalmente do esforço individual, enquanto que na Equipa, depende tanto do esforço individual como do esforço conjunto. Uma segunda diferença diz respeito à responsabilidade em quem recai a realização do trabalho. Embora, em determinadas circunstâncias, os membros do grupo possam fazer um esforço conjunto para atingir determinados objectivos, a responsabilidade pelos resultados obtidos é individual. Portanto, cada empregado se responsabiliza apenas pelos seus resultados. No caso das Equipas de trabalho, a responsabilidade pelo resultado final é compartilhada, seja em maior ou menor grau. Em terceiro lugar, as Equipas de trabalho se caracterizam por ter um objectivo de trabalho compartilhado. Ainda que cada membro possa ter metas específicas que devam ser atingidas, haverá um objectivo global, da Equipa, que é a razão pela qual foi criada e que é compartilhado por todos. A relação entre o esforço individual e o objectivo geral é mais próxima do que nos grupos, pelo que exige um certo grau de comprometimento no sentido de 21 direccionar o esforço à sua consecução. No caso dos grupos, os objectivos são distantes e vagos pelo que não se observa, de maneira clara, o comprometimento dos membros com eles. Por último, Greenber e Baron (1995) afirmam que os grupos se diferenciam das Equipas na relação que mantêm com a empresa. Os objectivos de trabalho que devem ser atingidos pelos membros do grupo, por exemplo os funcionários do departamento financeiro, são definidos pela organização que também estabelece os passos a serem seguidos, as atribuições individuais e as normas que regem comportamentos e desempenhos. No caso das Equipas de trabalho, por exemplo uma Equipa de pesquisa, se bem o objectivo geral seria definido pela organização, certamente os membros teriam mais flexibilidade na tomada de decisões e no estabelecimento de mecanismos de acção a ser implementados para atingir o objectivo trazendo como resultado, não apenas o sucesso na tarefa mas reacções afectivas positivas dos seus membros. Desta forma, é possível afirmar que as Equipas de trabalho são, por natureza, células semiautónomas ou autónomas. Outros autores interessados no estabelecimento de diferenças entre grupos e Equipas de trabalho são González, Silva e Cornejo (1996). Estes autores manifestam que elas (as diferenças) são claras pois enquanto os grupos se caracterizam por: a) ter um líder claramente designado por um elemento externo perante o qual responde pelo grupo, b) trabalhar em prol do objectivo da organização, c) enfatizar em aspectos individuais para o desempenho, definição de responsabilidades e estabelecimento de recompensas, e, d) ter a sua efectividade evidenciada a partir da influência que exercem sobre outros membros ou grupos da organização, as Equipas se caracterizam por: a) compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder, b) trabalhar em prol de um projecto específico e próprio, c) enfatizar no esforço conjunto tanto para o desempenho como para recompensas e responsabilidades, e, d) ter a sua efectividade evidenciada a partir dos produtos da Equipa. 2.4.2. Tipos de equipas de trabalho Quando o objetivo é identificar os tipos de Equipas de trabalho, há grande dificuldade para oferecer ao leitor uma classificação única. Esta dificuldade é decorrente da diversidade de propostas que podem ser encontradas na literatura da área, associada ao fato já comentado, que é a utilização da denominação Equipas para unidades de desempenho cujas características nem sempre respondem às de uma Equipa. Portanto, pode se afirmar que as classificações são diversas e o consenso a este respeito ainda não tem sido atingido. Tais classificações diferem a partir do ponto enfatizado pelo autor, e podem ser encontradas classificações realizadas com 22 base no tempo de duração, missão ou natureza da atividade, organização dos seus elementos, finalidade das tarefas da Equipa, só para citar alguns exemplos. Se o ponto enfatizado é o tempo de duração, então a classificação é de Equipas permanentes e temporárias (Bcuhcanan & Huczynski, 1985). No cenário organizacional, podem ser identificadas Equipas de trabalho que são criadas para atingir um objetivo específico como, por exemplo, a criação de uma nome para uma novo produto que será divulgado por meio de uma campanha publicitária. Uma vez cumprida a tarefa (criado nome) a Equipa se desfaz. Há também as esquipes que existem de maneira permanente e nem por isso deixam de ser consideradas Equipas. Por exemplo, a Equipa de trabalho que, fazendo parte do dentro do departamento de atendimento ao cliente, deve monitorar a satisfação dos consumidores com os novos produtos. Se permanentemente são lançados novos produtos, então a necessidade de realização desta tarefa também será permanente. Se o aspecto enfatizado nas Equipas é a sua missão, então a tipologia resultante contempla as chamadas Equipas de trabalho, cujo objetivo é executar tarefas que devem ser realizadas para permitir a efetividade da organização, e as Equipas de desenvolvimento criadas com o objetivo de incrementar a efetividade dos processos organizacionais (Ivancevich & Matteson, 1999). Se a classificação é realizada de acordo com o elemento da estrutura da Equipa que é priorizado, então os tipos resultantes são: grupos força-tarefa, Equipas propriamente ditas e tripulação (Arrow & McGrath, 1995). Os elementos aos quais Joseph McGrath, autor desta proposta, se refere, e já apontados na definição de Equipas de trabalho, são: a) o projeto ou objetivo a ser alcançado pela Equipa, b) os membros que a compõem e c) a tecnologia ou formas de desempenho das tarefas associadas às ferramentas utilizadas. Nos grupos força tarefa, o elemento priorizado é objetivo a ser alcançado, como por exemplo apagar um incêndio. Quando o objetivo é atingido, a Equipa se desfaz. Neste tipo de grupo é enfatizado o cumprimento da tarefa antes que a sobrevivência da Equipa. Nas Equipas propriamente ditas, o elemento mais importante são os indivíduos e as suas relações interpessoais positivas, consideradas fundamentais para o sucesso da tarefa. Um segundo elemento de importância é a tecnologia traduzida nos conhecimentos ou habilidades 23 específicas dos membros. Neste tipode Equipa a sobrevivência, como unidade de desempenho, é um indicador de efetividade que somente é alcançada a partir de interações bem sucedidas, como no caso de um time de futebol. Finalmente, nas tripulações, o elemento mais importante é o objetivo e em segundo lugar a tecnologia que é considerada complexa. O exemplo característico deste tipo de grupo é a tripulação de um avião onde a escolha dos membros é realizada com base no seu domínio de determinada tecnologia que, no exemplo colocado, pode ser um bombardeiro ou um avião de carga. 2.4.3. Estágios de desenvolvimento das equipas de trabalho As Equipas de trabalho, após o seu nascimento ou formação, passam por diferentes fases até atingir o estágio em que o desempenho das tarefas é favorecido. Estas fases não são uma peculiaridade das Equipas de trabalho. São fases do desenvolvimento na vida dos grupos e como as Equipas constituem um tipo específico de grupo, passam também por elas. De maneira adicional cabe destacar que nem todas essas etapas são sequenciais e pode ocorrer de voltar de uma etapa para a anterior antes do que ir para a seguinte. Isto pode ser consequência de mudanças ou pressões vindas do meio externo. Também é possível que uma Equipa nunca atinja o estágio final ou até faça o possível para não atingi-lo. Ainda assim, algumas fases do desenvolvimento das Equipas são claramente apontadas por diversos autores (Bcuhcanan & Huczynski, 1985; Greenberg & Baron, 1995; Ivancevich & Matteson, 1999; Tosi, Rizzo & Carroll, 1994) pelo que serão brevemente descritas a seguir. A importância de identificar essas fases é reconhecer que certos períodos de turbulência fazem parte do processo de desenvolvimento da Equipa, pelo que é necessário saber em que momento é prudente uma intervenção externa. 1) Formação Quando os membros da Equipa iniciam os contactos com vistas à realização do trabalho, começa um processo de descobrimento do outro, mesmo que esse “outro” seja um colega de trabalho já conhecido. Nesta fase, os indivíduos procuram identificar quem é o outro e em que ele pode contribuir para atingir o objectivo estabelecido para a Equipa. É neste momento que inclusive o objectivo da Equipa, usualmente definido de maneira prévia pela organização, será mais bem delimitado. As regras do jogo também serão definidas, tanto em termos de desempenho quanto de comportamentos sociais, como por exemplo concordar em se reunir duas vezes por semana para checar os avanços e/ou dificuldades encontradas por cada membro em relação à tarefa e não chegar atrasado mais do que cinco minutos do horário 24 combinado. Frequentemente esta fase se caracteriza pela incerteza, tanto sobre regras, normas, procedimentos como sobre comportamentos, responsabilidades e papéis de cada membro, pois nada ainda está bem definido. Tende a ser mais conturbada quanto mais diferenças existirem entre os membros (por exemplo grupos multiculturais) e finaliza quando os indivíduos passam a se reconhecer como membros da Equipa. 2) Conflito Uma vez identificados os membros da Equipa, dá-se inicio a um processo de ajuste ou negociação. Ajuste no sentido de estabelecer o que será realizado, por quem e de qual maneira. Negociação, porque os membros da Equipa podem não concordar com as decisões que os atingem e, neste momento, tentarão redefinir as regras. Se lideranças formais não foram estabelecidas pela organização é nesta fase que elas começam a se perfilar e pode ocorrer que dois membros entrem em pugna pelo controle do grupo. O poder do grupo começa a ser dividido e disputado entre os membros, com base nas vantagens que cada um considera ser a sua arma. Contudo, ainda que havendo conflito, nem sempre esta fase é vivida da forma aqui retratada: como uma guerra. As negociações podem ocorrer de maneira menos acalorada embora certa discordância entre os membros seja esperada. O estilo de negociação vai depender do estilo pessoal dos membros que compõem a Equipa assim como das regras gerais da empresa às quais estão submetidos. Nesta fase é importante saber lidar com o conflito antes do que tentar eliminá-lo, pois ele faz parte do processo de formação e estruturação da Equipa. 3) Normatização Se o conflito é a característica da fase anterior, a coesão e identificação dos membros da Equipa, são características desta. Relações mais próximas entre os membros, sentimentos e percepções compartilhadas frequentemente surgem nesta fase. A troca de informações tende a ser mais aberta e espontânea havendo maior tolerância face às divergências. Pode também ser identificada nesta fase uma concordância explícita com as metas e objectivos da Equipa. As lideranças, tendo sido aceitas pelos membros, definem, junto com eles, os papéis, tarefas e responsabilidades de cada um, assim como as normas de desempenho que favorecem a consecução dos objectivos da Equipa. Esta fase conclui quando há aceitação das normas de comportamento assim como dos procedimentos que irão pautar as tarefas a ser cumpridas. 25 4) Desempenho O quarto estágio no desenvolvimento da Equipa constitui a execução das actividades. É o trem andando a todo vapor. Uma vez tendo sido aceites as normas de comportamento e desempenho, as metas a serem atingidas e o comando das lideranças, toda a energia do grupo está voltada para a realização das tarefas. Pode se dizer que é a fase da produtividade embora nem sempre se espere que ela ocorra em níveis constantes. Dependendo da tarefa, algumas Equipa irão se aprimorar no seu desempenho pelo que poderá haver um incremento dos níveis de produtividade. 5) Desintegração A última fase no processo de desenvolvimento dos grupos portanto das Equipas de trabalho, é a desintegração. Esta fase ocorre quando os objectivos que levaram à criação da Equipa são atingidos e não há mais razão para ela continuar a existir. Contudo, conforme fora mencionado, parte da efectividade das Equipas de trabalho é a sua capacidade de sobrevivência pois a desintegração poderia ser um indicador de fracasso ou pelo menos de ineficácia. Assim, esta fase está presente apenas na vida de um tipo específico de equipas de trabalho: as temporárias. Já as permanentes procurarão sempre sobreviver e se fortalecer a partir de processos de renovação seja de metas, tecnologia ou se preciso da troca de alguns membros. O gráfico a seguir representa as etapas de evolução na formação de equipas de trabalho. 2.4.4. Elementos que afectam a estrutura das Equipas de trabalho Ao falar sobre os elementos que afectam a estrutura das Equipas de trabalho é necessário saber que não se trata de características exclusivas das Equipas. São características dos grupos. Esses elementos são: as normas, os papéis e a posição dos membros ou o seu “status” dentro da Equipa. 1) Normas São padrões de comportamentos e desempenhos tolerados, aceitos e esperados, sustentados pelos membros das Equipas, criados com o objectivo geral de regulamentar e estabelecer o que pode, ou não, ser feito. Estas normas, que dizem respeito aos membros das Equipas, se diferenciam das regras da organização por ser informalmente estabelecidas. Usualmente não estão escritas e apesar disso os membros da Equipa são capazes de identificar as mais relevantes. Essas normas são estabelecidas em relação a aspectos considerados significativos 26 para as Equipas. Assim, se a produção constitui o ponto mais importante, as normas principais serão a respeito da produtividade como diversidade de indicadores ou níveis esperados. Já se um dos aspectos mais importantes é a cooperação, então normas sobre esse assunto serão mais frequentes. Há também outros tipos de normas que surgem espontaneamente e servem para estabelecer, de maneira mais evidente, quem pertence ao grupo e quem não. Por exemplo, qual o tipo de roupa que pode ser usada. Por fim, em relação às normas das Equipas de trabalhopode se afirmar que cumprem com o objectivo específico de direccionar comportamentos e/ou desempenhos de maneira a tornar a convivência entre os membros mais estável e o futuro mais previsível em decorrência do estabelecimento das “regras do jogo”. 2) Papéis Outros elementos característicos da estrutura das Equipas constituem os papéis atribuídos e desempenhados por seus membros. Geralmente, é na fase de negociação, quando os papéis a ser desempenhados por cada membro são estabelecidos. Atrelados a eles estão os comportamentos esperados. Se a um membro do grupo é atribuído o papel de negociador com o meio externo, dele será esperado o cumprimento de certas tarefas, como, por exemplo, representar a Equipa num encontro com o administrador ou líder da organização. As cobranças, em termos de comportamentos e resultados, não estão baseadas na pessoa que desempenha o papel, mas no papel em si. A este respeito pode se afirmar que não interessa quem é negociador da Equipa. O que interessa é que, seja quem for, cumpra com a missão estabelecida. Isto é, cumpra com as expectativas decorrentes do papel que desempenha. A atribuição de papéis nem sempre é o resultado de processos de decisão ou evolução da Equipa. Por vezes ocorre da organização definir certas posições como a do líder, cujo papel de coordenador do desempenho da Equipa é formalmente estabelecido. Neste caso, o papel não é atribuído de maneira espontânea. É o resultado de uma decisão institucional. Atrelado a ele estão certos comportamentos esperados e que também não foram delegados pelos membros da organização, mais que deverão ser sustentados por eles, ainda que seja tomando como base o poder do líder. Se o papel decorrente da posição não é sustentado pelos outros membros, o conflito pode surgir resultando em instabilidade da Equipa, a ponto de culminar na troca do líder imposto ou até na desintegração da Equipa. 3) Prestígio ou Status O terceiro e último elemento da estrutura das Equipas é o prestigio ou status dos membros. O prestígio pode ser compreendido como o reconhecimento social dado a um membro ou à 27 Equipa como um todo. A importância deste elemento na estrutura da Equipa, é a influência que o indivíduo ou indivíduos com prestigio podem ter no comportamento e no desempenho da Equipa. Considerando que o prestígio é o reconhecimento de alguém, por conta de certas características, não pode ser imposto pela organização. O que a organização pode fazer é sinalizar os aspectos valorizados por ela e que tornariam o indivíduo merecedor de reconhecimento. Por exemplo, comportamentos como: comprometimento com a organização, lealdade, conhecimento, domínio de certa tecnologia. Contudo, são os membros da Equipa de trabalho que vão decidir se ser leal à organização é uma característica valorizada a ponto de fazer com que quem a demonstra, mereça ser reconhecido ou venha a ter prestígio entre os seus colegas. Pode inclusive ocorrer que a lealdade, tão valorizada pela organização, seja motivo de desconfiança por parte dos membros de uma Equipa de trabalhadores. Assim, o prestígio de um dos membros da Equipa de trabalho pode trazer consequências tanto positivas, quanto negativas para a organização, em decorrência do poder que essa pessoa detém sobre os outros membros da Equipa. 2.4.5. Efectividade das equipas de trabalho Nadler, Hackman e Lawler (1979) destacam que a efectividade das Equipas de trabalho pode ser compreendida a partir da observação de três critérios fundamentais: os resultados produtivos do trabalho em si, a satisfação dos membros e a sobrevivência da Equipa. Em relação aos resultados produtivos do desempenho, Nadler et al. (1979) estabelecem que eles devem atingir ou exceder os padrões organizacionais, tanto em relação à quantidade como à qualidade. Esclarecem que se o produto do desempenho da Equipa, não possui características que o tornem pelo menos aceitável, então não é possível afirmar que a Equipa teve sucesso na execução da tarefa incumbida. No que diz respeito à satisfação dos membros, os autores manifestam que a experiência vivida pela Equipa, como unidade de desempenho, deve permitir que os membros tenham as suas necessidades individuais satisfeitas ao invés de frustradas. Caso no grupo sejam desenvolvidos padrões de comportamento destrutivo que atinjam o bem-estar dos membros e boa parte deles conclua que a convivência em Equipa frustra a suas necessidades e atua como uma barreira que os impede de atingir os seus objectivos pessoais, então dificilmente poder- se-ia afirmar que a Equipa foi bem sucedida. 28 Finalmente, em relação à efectividade das Equipas, os autores defendem que os processos sociais que envolvem a execução do trabalho, devem manter ou incrementar a possibilidade da Equipa sobreviver, para a realização das etapas subsequentes do trabalho. Exemplificam este critério afirmando que, por vezes, o processo produtivo leva aos membros da Equipa a adoptar determinados mecanismos de trabalho ou formas de relacionamento que esgota a capacidade de se manterem unidos como célula de desempenho. Nestes casos, ainda que o produto da Equipa tenha atingido os padrões de quantidade ou qualidade definidos pela organização, não poderia ser concluído que a Equipa é efectiva pois o resultado final certamente seria a sua desintegração. Após o estabelecimento dos critérios que devem ser observados para definir se uma Equipa de trabalho é efectiva, é imprescindível destacar quais os mecanismos que favorecem essa efectividade. 2.4.6. Equipas de trabalho efectivas É importante ter em mente que a efectividade da Equipa de trabalho depende, em grande parte, do cenário em que ela está inserida. Assim, se a Equipa de trabalho faz parte de uma organização que está passando por um processo de redução do quadro de funcionários, a instabilidade e o fantasma do desemprego perturbam o sono de boa parte deles, mesmo que os membros da Equipa tenham seu emprego garantido, o clima externo irá influenciar, em maior ou menor grau, o desempenho dessa Equipa. Diríamos que não é possível encontrar uma tripulação que calmamente guie o barco no meio de uma tempestade. Pode até ter sucesso e levar o barco para águas mais tranquilas, mas não o fará sem apreensão e nervosismo. Embora não exista uma receita de sucesso para as Equipas de trabalho, alguns aspectos devem ser cuidadosamente investigados pois existem evidencias, obtidas a partir de resultados de pesquisas empíricas, que mostram o seu impacto sobre os resultados do desempenho da Equipa. Um desses elementos é a correspondência entre a quantidade de membros que compõe a Equipa e as tarefas designadas. Equipas que afirmam ter um número inadequado de membros em relação à tarefa que devem executar (muitos ou muito poucos), tendem a apresentar piores resultados que as Equipas que afirmam ter o número adequado de membros. Além da adequação do número de membros, é necessário que os membros da Equipa tenham as habilidades necessárias para atingir os resultados esperados. Portanto, a adequação diz também a respeito das habilidades e conhecimentos de que a Equipa precisa para cumprir com os objectivos estabelecidos. Caso estas habilidades, tanto relativas a procedimentos técnicos e 29 conhecimento como relativas ao relacionamento interpessoal, negociação ou comunicação, não estejam presentes, treinamentos dirigidos a sanar essas deficiências serão imprescindíveis. A Equipa deve contar com o suporte de que necessita para poder executar as tarefas incumbidas. Este suporte não se refere apenas à quantidade qualidade de recursos materiais. Refere-se também ao suporte social. Assim, é necessário que goze de uma certa margem de liberdade, de confiança, de maneira que possa gerenciar os seus recursos e tomar decisões com independência sem ter de recorrer sempre às lideranças organizacionais. Esta independênciaoutorgada aos membros da Equipa promove o sentimento de controle sobre o seu desempenho e de responsabilidade pelos resultados. Obviamente, dependendo da situação e das características da tarefa, pode ser necessária uma dose de controle externo. Contudo, Equipas que precisam de aprovação de membros externos para tomar todas as decisões, têm grandes possibilidades de fracassar, talvez não na realização da tarefa mas certamente na satisfação dos membros, no tempo gasto ou na qualidade dos resultados. Isto é, na sua efectividade. Por fim, um elemento que pode contribuir favoravelmente na efectividade das Equipas de trabalho constitui o sistema de recompensas oferecidas pela organização como consequência dos resultados do desempenho. Mas, a respeito do desempenho, é importante destacar que um aspecto característico das Equipas de trabalho é a dificuldade de identificação da pessoa responsável pela realização de certas tarefas pois são assumidas como sendo da Equipa. A responsabilidade diluída deve ser motivo de atenção por parte de quem lida com Equipas de trabalho, pois pode levar os membros da Equipa a assumir riscos excessivos com consequências negativas não somente para a Equipa, como também para a organização. Também pode ocorrer a queda do nível de esforço individual. 30 Conclusão Tendo chegado ao fim do trabalho, conclui-se que a percepção é o processo pelo qual as pessoas escolhem, organizam e reagem às informações do mundo que as rodeia. Essa informação é obtida através dos cinco sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfacto. A percepção não é necessariamente igual a realidade, assim como as percepções e respostas de duas pessoas não serão necessariamente as mesmas quando descrevem o mesmo fato. Através da percepção as pessoas transformam as informações em respostas que envolvem sentimentos e acção. Assim sendo, dentro das organizações as reacções perceptivas provavelmente variam entre gestores e ou subordinados. Olhando-se para a diferença existente entre os grupos e equipas de trabalho, constatou-se que nos grupos, a realização do trabalho depende fundamentalmente do esforço individual, enquanto que na Equipa, depende tanto do esforço individual como do esforço conjunto. As Equipas de trabalho se caracterizam por ter um objectivo de trabalho compartilhado. Ainda que cada membro possa ter metas específicas que devam ser atingidas, haverá um objectivo global, da Equipa, que é a razão pela qual foi criada e que é compartilhado por todos. No caso dos grupos, os objectivos são distantes e vagos pelo que não se observa, de maneira clara, o comprometimento dos membros com eles. 31 Referências bibliográficas Arrow, H. & McGrath, J. (1995). Membership dynamics in groups at work: a. Londres : JAI Press Inc. Ash, S. (1946). Forming impressions of personality. Journal of Abnormal & Social Psychology. Bleger, J. (1998). O grupo como instituição e o grupo nas instituições. 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