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Regionalização e Geopolítica APRESENTAÇÃO Professora Mestra Maria Carolina Beckauser ● Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual do Paraná – Campus de Paranavaí. ● Especialista em MBA de Auditoria, Perícia e Educação Ambiental pela UniFatecie. ● Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá. ● Professora de Geografia da Educação Básica da UniFatecie. Experiência docente com a educação básica, cursos pré-vestibulares e demais cursos preparatórios para concursos e afins. Link de acesso para o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7768522098002460 http://lattes.cnpq.br/7768522098002460 #APRESENTAÇÃO DA APOSTILA# Querido(a) aluno(a), Seja muito bem-vindo (a) à disciplina de Regionalização e Geopolítica, espero que os conhecimentos adquiridos ao longo dessa etapa de sua formação, sejam substanciais para a construção do seu saber geográfico. No decorrer deste percurso iremos estudar quatro unidades, sendo elas: Unidade I: Geopolítica e poder; Unidade II: Fundamentos históricos e geopolíticos das relações internacionais contemporâneas; Unidade III: Geopolítica e a Nova Ordem Mundial; e a Unidade IV: Geografia Política e a Geopolítica no Brasil. Pois bem, na unidade I, vamos conhecer os principais conceitos, origens e limites que envolvem a geografia política e a geopolítica, assim como as contribuições das escolas alemãs, francesas e norte americana na elaboração e desenvolvimento da geografia. Enquanto que na unidade II, iremos compreender um pouco mais sobre as relações internacionais contemporâneas, assim como a formação e o desenvolvimento do sistema interestatal capitalista, sendo este o atual modelo econômico vigente na sociedade. Na sequência, na unidade III, falaremos a respeito da ordem mundial, compreendendo os acontecimentos ocorridos durante a formação, desenvolvimento e declínio da Ordem Bipolar, popularmente conhecida como Guerra Fria. E para fechar a unidade, você irá conhecer a Nova Ordem mundial e o seu poderio militar. Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina, compreendendo a construção do Estado brasileiro e a produção do seu território, assim como a sua atual divisão territorial. Sendo assim meu (minha) caro(a), espero que a nossa construção do saber geográfico ocorra da maneira mais atrativa possível, afinal faremos uma viagem no tempo, com o objetivo de compreender a atual organização do espaço geográfico global e seus arranjos. Bons estudos! UNIDADE I GEOPOLÍTICA E PODER Professora Mestra Maria Carolina Beckauser Plano de Estudo: ● Conceitos, origens, limites e novas abordagens da Geografia Política; ● Fundamentos da Geografia Política e da Geopolítica; ● Princípios da teoria do poder terrestre; ● Contribuições das escolas alemãs, francesas e norte americanas. Objetivos de Aprendizagem: ● Compreender os principais conceitos da Geografia, assim como a origem e limites das novas abordagens da Geografia Política; ● Entender a diferença existente entre os conceitos de Geografia Política e Geopolítica; ● Apresentar os princípios da teoria do poder terrestre; ● Expor as contribuições das escolas alemãs, francesas e norte americana na construção da ciência geográfica. INTRODUÇÃO Caro(a) aluno (a) iniciaremos a nossa primeira unidade do curso de Regionalização e Geopolítica, denominada Geopolítica e poder. Essa unidade está dividida em quatro tópicos. Vamos lá, vou explicar certinho para você como ficou distribuído o conteúdo em cada um dos tópicos. No tópico 01: Conceito, origens, limites e novas abordagens foi definido os principais conceitos da geografia, chamados inclusive de conceitos chaves. No final deste tópico, estão organizadas as definições de alguns conceitos importantes do ramo da Geografia Política. Esse conteúdo é de extrema importância para a compreensão dos demais tópicos, tanto dessa unidade, quanto das próximas. Já no tópico 02: Fundamentos da Geopolítica e da Geografia Política estão organizadas as contribuições dos autores ao longo da história para a definição da Geografia Política e da Geopolítica. Enquanto que no tópico 03: A Teoria do Poder Terrestre é apresentada, inicialmente e são expostos seus antecedentes, posteriormente o seu autor e suas contribuições acerca da formulação dessa teoria, por fim, é realizada uma análise dos principais fatos históricos correlacionados com essa teoria e a sua aplicação atual. Por fim, no tópico 04: Escola Alemã, Francesa e Norte Americana vamos conhecer as contribuições das escolas de desenvolvimento da geografia, assim como os seus principais autores e contribuições. A contextualização histórica desse tópico é de suma relevância para entender a formação da Geografia enquanto ciência. Lembrando que esse momento é tratado como a Geografia Tradicional. Pois bem, meu (minha) caro (a), espero atender todas as suas expectativas no ramo do conhecimento geográfico. No final da unidade, deixei várias sugestões para complementar seus estudos, espero que gostem. Bons estudos! 1 CONCEITOS, ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS DA GEOGRAFIA POLÍTICA https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sketch-geography-class-working-little-people- 1377498509 Para dar início ao nosso curso de Regionalização e Geopolítica é de extrema importância que tenhamos muito bem claro alguns conceitos, que são essenciais para a compreensão do conteúdo que virá por seguinte. Porém é necessário enfatizar que tais conceitos, são amplamente discutidos ao longo da história, e recebem contribuições de diferentes autores em diferentes momentos. Então, para isso, tentaremos compreender de uma forma um pouco mais simplista, mas sem perder a essência acerca da definição. 1.1. Conceitos Geográficos Nesse primeiro momento, não iremos nos preocupar com as contribuições de cada autor para cada conceito ao longo da história, mas sim, com a definição mais próxima do que queremos estudar nesse momento. Diante dessa necessidade, inicialmente, iremos buscar definições acerca dos conceitos mais amplos da Geografia, sendo eles: espaço geográfico, território, região, paisagem e lugar. 1.1.1. Espaço Geográfico Iniciaremos com o conceito que é o objeto de estudo da atual ciência geográfica, o conceito de espaço geográfico, ao qual é amplamente discutido por Milton Santos (2003), em inúmeras obras, porém para a nossa definição, iremos utilizar a obra denominada a Natureza do Espaço: Técnica, Razão e emoção. Sendo assim Milton Santos (2003) define o espaço geográfico como sendo o espaço com um conjunto indissociável de sistema de objetos (conjunto de forças produtivas) e de ações (conjunto de relações sociais de produção). Outra importante contribuição de Milton Santos ocorreu em 1986, quando o autor destaca que o espaço é resultado da ação dos homens sobre o espaço, ele enfatiza que essa ação é dotada de técnica, ao qual o próprio homem produz e transforma o espaço. Henrique (2003) ao analisar as obras de Milton Santos, nos conta que o espaço geográfico é a transformação inicialmente da natureza natural pela natureza socializada, com a utilização das técnicas desenvolvidas pelos homens, ou seja, os humanos transformam a natureza e produzem o espaço. Dentro de toda complexidade envolvendo o conceito de espaço geográfico desenvolvem-se conceitos como os que veremos por seguinte. 1.1.2. Território Sobre o território, Costa e Rocha (2010), já nos alerta que o conceito vendo sendo amplamente discutido recentemente, porém os autores nos apresentam a definição da palavra território, sendo ela proveniente do latim, “territorium”, compreendida como um pedaço de terra apropriado, dentro dos limites de uma jurisdição político-administrativa.Um dos estudos mais emblemáticos da contemporaneidade acerca do conceito de território é o de Jean Gottmann publicado originalmente em 1975 denominando de “The evolution of the concepto of territory”, traduzido como a Evolução do conceito de território, publicado no Brasil no ano de 2010. Então, segundo Gottmann (2012) território é: [...] uma porção do espaço geográfico que coincide com a extensão espacial da jurisdição de um governo. Ele é o receptor físico e o suporte do corpo político organizado sob uma estrutura de governo. Descreve a arena espacial do sistema político desenvolvido em um Estado nacional ou uma parte deste que é dotada de certa autonomia. Ele também serve para descrever as posições no espaço das várias unidades participantes de qualquer sistema de relações internacionais. Podemos, portanto, considerar o território como uma conexão ideal entre espaço e política (GOTTMANN, J. 2012, p.523). Diante dessas contribuições, podemos considerar o território uma parte integrante do espaço, onde ocorrem relações/disputas de poder. 1.1.3. Região A escola francesa já nos definiu que o conceito de região está associado à diferenciação de áreas. Nesse sentido, Côrrea (2003, p.22) nos alertou que a “superfície terrestre é composta por áreas diferentes”. Cunha (2000) nos apresenta as atuais definições do conceito de região, ao qual o autor define que: “A região – enquanto fração do espaço geográfico catalisador de determinadas relações e convenções -- como um ator social fundamental na transformação de comunidades regionais e locais” (CUNHA, L.A.G., 2000, p.53-54). Diante disso, o atual processo de globalização tem influenciado não só o conceito de região, mas também a sua delimitação, devido ao processo de desigualdade de distribuição das técnicas desenvolvidas pelos homens para modificação do espaço geográfico. 1.1.4. Paisagem O conceito de paisagem sempre se fez muito presente na Geografia. Inicialmente estudava-se somente a paisagem natural, depois preocupou-se com a questão da relação do homem com a natureza, na chamada paisagem humanizada. Segundo Santos (1986) a paisagem é tudo aquilo que a visão alcança, ou seja, tudo aquilo que vemos, ouvimos, sentimos, em suma tudo o que percebemos. Claval (2001) nos alerta que a paisagem nos traz sempre lembranças, sempre algumas cicatrizes, sobre as formas antigas de ocupação e modificação na natureza em determinado espaço, esse poder de alteração está diretamente associado ao grau de capacidade técnicas de cada sociedade, assim como as influências culturais ao longo do tempo. Mas é importante deixar bem claro que a paisagem não é a mesma coisa que espaço geográfico. Segundo Maximiano (2004) a paisagem deve ser compreendida como uma manifestação do espaço, e o espaço é o objeto de estudo da geografia. 1.1.5. Lugar As contribuições da geografia tradicional e da geografia humanistas foram substanciais para a definição do conceito de lugar. De acordo com Costa e Rocha (2010) Lugar é o espaço vivido, dotado de significados próprios e particulares que são transmitidos culturalmente. Sendo assim, podemos, então, compreender que o conceito de lugar, refere-se à porção do espaço que é carregada de sentimentos, afetividade e significado, para aqueles que habitam ou habitavam aquele espaço. 1.2. Geografia Política: Conceitos Para finalizar este tópico, iremos, então, discutir alguns conceitos que são mais específicos no ramo da Geografia Política, sendo eles: escalas, fronteiras, limites, poder, Estado moderno, povo e nação. Novamente, não focaremos no processo de construção histórica dos conceitos, e sim, no atual uso e definição. 1.2.1. Escalas O conceito de escala é um dos mais polêmicos na ciência geográfica, primeiro devido à confusão que gera entre escala cartográfica e escala geográfica. Mas, neste momento, nos nossos estudos, focaremos na definição de escala geográfica e sua relação com a Geografia Política. O conceito de escala geográfica, está sempre em construção e reformulação. Nesse sentido, usaremos as contribuições de Santos e Silva (2014) que estudaram o geógrafo norte americano Neil Smith (1954-2012) e suas contribuições para definição do conceito de escala geográfica. O autor Smith afirma que: “[a] produção e reprodução da escala expressa tanto a disputa social quanto à geográfica para estabelecer fronteiras entre diferentes lugares, localizações e sítios de experiência” (SMITH, 2000, p.42. Apud SANTOS e SILVA, 2014, p.22). Para isso, o autor criou “sete categorias de escala geográficas para análise, sendo elas: 1) corpo; 2) casa; 3) comunidade; 4) espaço urbano; 5) região; 6) nação; 7) fronteiras globais” (SANTOS e SILVA, 2014, p. 23). Sendo assim, é importante salientar que a escala geográfica não é apenas uma hierarquia de níveis de análise, mas ela é uma representação de fenômenos, dos quais serão visíveis mediante o tipo/grau de escala utilizados para representá-los. Para fechar nossa definição acerca de escalas geográficas, usaremos a fala de Castro (2014): “O jogo de escalas é, pois, um jogo de relações entre fenômenos de amplitude e natureza diversas, e a compreensão da escala como a pertinência da medida para a análise permite estabelecer recortes espaciais nos quais a investigação do fenômeno propicia respostas mais adequadas” (CASTRO, 2014, p. 96). Nesse sentido, a questão crucial é entender que a escala é socialmente produzida a partir das relações das sociedades, daí a sua importância para a Geografia Política. 1.2.2. Fronteiras X Limites Uma das utilizações mais comuns para o conceito de fronteira, é a que se refere ao limite entre dois países. Porém essa definição está no campo do senso comum. Na Geografia Política, o fim e o começo de um domínio político territorial linear, são conhecidos como limites, ao qual é visível somente em mapas. O conceito de fronteira é mais amplo e polêmico nesse campo. Ferrari (2014) nos alerta que o termo fronteira faz referência a uma zona geográfica entre dois sistemas estatais diferenciados. Nesse sentido, as zonas de fronteiras apresentam características muito particulares, devido à interação e trocas entre povos de diferentes nacionalidades, sendo, então, um sistema muito complexo. Portanto, é preciso deixar claro que fronteiras e limites não são sinônimos. 1.2.3. Poder Raffestin (1993) escreveu um livro denominado “Por uma Geografia do Poder”, em sua obra ele apresentou a seguinte definição: “O poder visa o controle e a dominação sobre os homens e sobre as coisas” (RAFFESTIN, 1993, p. 58). Diante dessa definição, utilizaremos as contribuições dos estudos feitos por Fonseca et al. (2020) em que eles afirmaram que o poder indica os meios pelos quais o homem governa o homem. Nesse sentido, podemos compreender que estar no poder significa que você foi colocado nessa posição por algum grupo humano, sendo assim, o poder não é uma propriedade de um indivíduo, ele pertence a um grupo, ao qual existe enquanto esse grupo estiver unido, caso esse grupo desapareça, o poder também irá desaparecer. 1.2.4. Estado Moderno O Estado Moderno é entendido como a atual organização política de uma sociedade, sendo produto da modernidade. Para definir o Estado, vamos usar a contribuição feita por Lopes (2010): Estado é a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público/comum, com governo próprio e território determinado. O Estado Moderno surge como uma necessidade para a união da soberania, territorialidade e do povo, garantindo assim um único governo soberano, diante disso o termo Estado como sociedade política só vai aparecer no século XVI, devido à decadência do sistema feudal, porém existem algumas controvérsias a respeitoda sua origem. Sobre esse assunto, não nos aprofundaremos aqui neste tópico, pois na unidade II, vamos falar com mais propriedade sobre ele, a ideia aqui é apenas expor o conceito básico. 1.2.5. Povo X Nação O termo povo refere-se à população do Estado, diante do aspecto jurídico. Sendo também caracterizada como grupo humano encarado na sua integração numa ordem estatal determinada; “E é o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas leis, são os súditos, os cidadãos de um mesmo Estado, detentores de direitos e deveres” (LOPES, 2010, p. 11). Enquanto que Nação é uma representação coletiva. “Sendo entendida como uma entidade moral. Também reconhecida como um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns, e principalmente, por ideias e aspirações comuns. É uma comunidade de consciência, unidas por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o patriotismo” (LOPES, 2010, p. 11). Sendo assim, podemos considerar o povo como sendo meramente a população de um local que respeita às mesmas leis, e a nação refere-se ao grupo de pessoas que se sentem parte integrante de um território, possuindo, assim, um elo de união mais forte e delimitado. Fechamos assim, o nosso primeiro tópico, em que foi apresentado alguns conceitos básicos, que irão aparecer sempre no decorrer do nosso curso. Fique atento (a)! No próximo tópico vamos conhecer a diferença entre Geografia Política e Geopolítica, assim como as contribuições dos autores ao longo do tempo. 2 FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GEOPOLÍTICA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/definition-word-political-dictionary-264652433 Caro (a) aluno (a), existe uma situação muito emblemática na ciência geográfica, tal situação se refere à diferenciação dos conceitos de geografia política e da geopolítica. Embora tais conceitos aparentam ser sinônimos, existe uma diferença cultural e temporal que os separa. Para entender as reais definições e as atuais aplicações desses conceitos, teremos que voltar um pouco no tempo para compreender em que momento histórico eles foram discutidos, e quais foram as suas reformulações e novas estruturações. 1.1. Geografia Política O termo geografia política foi utilizado de maneira subentendida por inúmeros filósofos em vários momentos da história. Por exemplo, Aristóteles (384-322 a.C.) quando apresentou suas definições acerca de cidades-Estados, explorou o tamanho e a localização do território. Maquiavel (1469-1527) discutiu sobre a localização e a defesa da fortaleza do príncipe. Em ambos os casos, o conceito de geografia política estava diluído em meio às discussões apresentadas por tais estudiosos (VESENTINI, 2011). Porém, em meados do século XIX, mais precisamente, em 1897, quando o alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) publicou sua obra Politische Geographi, traduzida como Geografia Política, houve uma sistematização do conceito. De acordo com Costa (2008), nesta obra, o autor procurou definir o conceito de geografia política, como sendo o estudo geográfico da política. Antes de nos aprofundarmos nos estudos de Ratzel sobre a geografia política, devemos fazer um breve resgate do contexto histórico do momento em que o autor realizou os seus estudos. Conforme relata Costa (2008), Ratzel teve sua formação inicial como zoólogo e não como geógrafo, recebendo influência das ideias darwinistas, além do mais, ele viveu o momento de unificação da Alemanha e presenciou o atraso de seu país em relação às demais nações europeias. Conforme exposto acima, tais situações contribuíram para a formulação do conceito de Estado por Ratzel. Sendo definido como um organismo vivo que deve ser concebido com íntima relação com o espaço. Sendo assim, o Estado como forma de vida deveria se comportar como organismos na natureza. Nesse sentido, o Estado precisa de certas condições naturais para se desenvolver (COSTA, 2008). Essas definições a respeito do Estado, por Ratzel, auxiliaram para a formulação do seu conceito mais memorável, o conceito de Espaço Vital, ao qual é definido como sendo a quantidade dos elementos naturais necessários para o desenvolvimento de uma sociedade. Essas ideias que nortearam a definição de espaço vital por Ratzel, receberam influências de Thomas Malthus (economista britânico, responsável por alegar que a população cresceria em proporção geométrica e os alimentos em proporções aritméticas). Daí a necessidade da ampliação de espaços dominantes por parte dos Estados. Embora tais ideias tenham sido formuladas no século XIX, foi durante a II Guerra Mundial, que Hitler utilizou o conceito de espaço vital, proposto por Ratzel, para justificar a sua tomada de território na Europa, houve algumas contribuições de Haushofer, que também se inspirou em Ratzel. Esse princípio da Geografia Política proposto por Ratzel caracterizou-a como um elemento de dominação por parte do Estado, dado o contexto instável em que a Alemanha se encontrava na época. A escola alemã representada por Ratzel, recebeu uma crítica significativa da escola francesa, apresentada por Camille Vallaux (1870-1935), cuja obra principal foi o El Solo y el Estado (1914), traduzida como O solo e o Estado. O título da obra de Vallaux já expõe suas ideias contrárias a Ratzel, pois ele questiona de que forma os solos (elemento físico da natureza) poderia influenciar a maneira como os Estados se organizaram. Costa (2008) nos conta que Vallaux entende que, cada lugar tem sua base física diferente, assim como o tempo em que as sociedades ocupavam esses lugares. Resultando, portanto, em diferentes desenvolvimentos de Estados. Essa diferenciação se dá pelo tempo e o espaço. Diante desses fatos, podemos já evidenciar que uma das suas principais críticas diz respeito à aproximação das ciências da natureza com as ciências sociais, que acaba se equivocando ao definir o Estado como um organismo biológico. Vallaux, vai ainda mais longe e acaba afirmando que as teorias naturalistas mais atrapalharam do que auxiliaram no desenvolvimento das ciências sociais. Mas esse posicionamento de Vallaux era visto como algo muito avançado para a época, pois a geografia tradicional via a sociedade e a natureza como uma unidade (COSTA, 2008). Em suma, podemos perceber que as contribuições do francês Vallaux no campo da geografia política se contrapõem de maneira explícita com as contribuições do alemão Ratzel. “Afinal, Vallanaux propõe que o objeto de estudo da geografia política seja o estudo das sociedades políticas e dos Estados como entidades particulares” (COSTA, 2008. p. 46) 1.2. Geopolítica O termo geopolítica é um pouco mais recente que o termo geografia política. O sueco Rudolf Kjellén (1864-1922) foi quem criou a palavra geopolítica, para expor a relação entre o Estado e o território. Tal conceito fica explícito em suas obras As Grandes Potências (1905) e O Estado como forma de vida (1916). Em ambas as obras, o autor atribui a geopolítica como um ramo da geografia política, que é um sub-ramo da geografia (COSTA, 2008). Kjellén era um fã do imperialismo e estimava a unificação da Europa sob o comando de um império germânico, sendo assim, o autor era um crítico da forma tradicional como a geografia política vinha sendo desenvolvida, e afirma que os objetivos dessa nova ciência seriam desenvolvidos e aplicados por Estados maiores, dos quais ele o denominou de geografia política da guerra, ou simplesmente geopolítica (COSTA, 2008). Esses ideais propostos por Kjellén, contribuíram para o termo geopolítica ganhar forma e se espalhar, principalmente, nos discursos de poder de vários líderes políticos e militares de países com regimes fascistas na Europa da época. Não há como falar de geopolítica e não citar o geógrafo-general alemão Karl Haushofer (1869-1946),que viveu no período entre as duas grandes guerras. “E após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o autor desenvolve a ideia de que a Alemanha deveria se tornar uma grande potência mundial” (ARCASSA e MOURÃO, 2011). Arcassa e Mourão (2011), apresentam a diferenciação feita por Haushofer para os conceitos de geografia política e a geopolítica: [...] a geografia política interroga-se sobre a distribuição do poder estadual no espaço, bem como sobre o seu exercício nesse espaço, enquanto a Geopolítica tem por objeto a atividade política em um espaço natural. A Geografia Política observa as formas do ser estadual‖, enquanto a Geopolítica se interessa pelos processos políticos do passado e do presente (ARCASSA E MOURÃO, 2011, p. 8). Porém o fracasso da Alemanha na II Guerra Mundial, vem acompanhado da queda da geopolítica alemã, olhada como ciência alemã, entra em uma crise, a qual ocorre questionamento dos seus pressupostos fundamentais (ARCASSA e MOURÃO, 2011). Após a II Guerra Mundial, muitos autores passaram a utilizar o termo geografia política em seus estudos, pois houve uma redução pragmática do termo geografia política e geopolítica, para aplicar em situações concretas do jogo de poder. Provocando o empobrecimento teórico das análises apresentadas por exemplo de Ratzel e Vallaux e outros. Vesentini (2011) afirma que em meados de 1970, a geopolítica ganha uma ascensão e passa ser novamente debatida principalmente em pequenos círculos militares, e ganha uma nova “roupagem”, não mais como ciência, mas sim como técnicas à serviços dos Estados. Sendo então a geopolítica estratégia de disputas de poder no espaço mundial. Ainda com base nos estudos de Vesentini (2011), podemos sintetizar a Geografia Política como uma modalidade da ciência geográfica e a Geopolítica como sendo uma parte constituinte da geografia política. Ao longo desse tópico, compreendemos o processo histórico de definição dos conceitos de Geografia Política e Geopolítica, assim como a sua diferenciação. No próximo, iremos compreender os princípios da teoria do poder terrestre e como este se deu ao longo do tempo e espaço. 3 PRINCÍPIOS DA TEORIA DO PODER TERRESTRE https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ancient-old-globe-on-vintage-map-1526476961 Neste tópico, iremos conhecer uma das mais importantes teorias da geopolítica, que foi fundada no século XX, mas se faz tão presente nos dias de hoje. Deixei para você uma sugestão de leitura complementar no final dessa unidade, essa leitura irá ilustrar perfeitamente a contemporaneidade da Teoria do Poder Terrestre. Pois bem, vamos conhecer um pouco sobre os antecedentes de sua criação, o seu criador e sua obra. Para compreender a Teoria do Poder Terrestre, precisamos conhecer alguns conceitos que fundamentam essa teoria. Começaremos pelo conceito de Heartland, posteriormente o de World Island e iremos finalizar com a definição de Midland Ocean. Antes da formulação da teoria do poder terrestre, existia a teoria do poder marítimo, que foi proposta pelo norte americano Alfred Thayer Mahan (1840-1914), “o autor via os Estados Unidos como uma ilha geopolítica, devido às saídas para os principais oceanos do planeta e a ausência de ameaças territoriais, tais condições proporcionaram aos Estados Unidos a conquista de alguns territórios como por exemplo o Mar do Caribe” (SCALZARETTO e MAGNOLI, 1996, p. 6). A grande oposição a teoria do poder marítimo é a teoria do poder terrestre, proposta pelo britânico Halford John Mackinder (1861-1947), estudioso das representações cartográficas (mapas e globos terrestres), ao qual “hierarquizou o espaço geográfico, criando ilhas de importância estratégica, pois para o autor o mundo era um sistema fechado, onde um evento em um local poderia provocar consequências em outro” (ASSIS, 2008, p. 9). Para Halford a junção da Europa, Ásia e África, formaria a World Island, traduzido como a Ilha Mundial, com 20% das terras emersas e grande parte da população mundial, “enquanto que a América e a Austrália seriam denominadas de Ilha do Exterior, e a área central dentro da Ilha Mundial, seria denominada de Heartland (figura 1), traduzida como terra coração” (ASSIS, 2008, p. 9). Figura 1: Localização de Heartland. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51165319 Essa área denominada de terra coração, que também pode ser chamada de região pivô, apresentava um certo isolamento em relação ao mundo exterior, conforme apresentado na figura 1, também possuía reservas de recursos naturais e uma topografia plana que facilitava a mobilidade na região. Para Halford, “quem domina a Europa Ocidental, controla o Heartland; quem domina o Heartland controla a World Island; quem domina a World Island controla o mundo.” O autor ainda cogitava a ascensão de um poder anfíbio, que consistia na dominação da região pivô, juntamente com a dominação do poder marinho. Sobre esse conceito de poder anfíbio, Mello (1999) nos esclarece que: O poder terrestre poderia conquistar as bases do poder marítimo, caso conseguisse adicionar à sua retaguarda continental uma frente oceânica que lhe possibilitasse tornar-se um poder anfíbio, ou seja, simultaneamente terrestre e marítimo (MELLO, 1999, p. 39). A noção de região pivô tinha como objetivo alertar os políticos ingleses sobre a posição geoestratégica da área. Na época da definição do conceito, a região era ocupada pela Rússia. Halford evidenciava as inovações tecnológicas como elemento de garantia de hegemonia. Para o autor, o poder marítimo era decorrente das técnicas de navegação oceânicas (bússola – barco à vapor), mas as novas técnicas dos meios de transporte terrestres (locomotivas – ferrovias) favorecem a conexão entre espaços, proporcionando, então, a ascensão do poder terrestre. Nesse cenário, a Alemanha, que era detentora dos processos industriais, sendo a maior potência da época, caso se juntasse com a Rússia, possuidora da região pivô, poderiam se tornar a grande potência mundial, desequilibrando a balança de poder. Mello (1999) apresenta em sua obra “Quem tem medo de geopolítica?”, as derrotas conceituais da teoria do poder terrestre de Halford em vários momentos da história: ● O primeiro aconteceu na I Guerra Mundial (1914-1918): Quando a Rússia se aliou à Inglaterra contra a Alemanha, e retirou-se do conflito em 1917 após a Revolução Russa. Halford atribuiu a vitória do poder marítimo inglês sobre o poder terrestre alemão ao fato da Rússia ter se aliado à Inglaterra e não à Alemanha, dividindo suas forças. ● O segundo ocorreu na II Guerra Mundial (1939-1945): A Inglaterra não foi invadida pelos nazistas devido à proteção no Canal da Mancha, enquanto que a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – atual Rússia), foi invadida pelo exército alemão em 1941, mesmo sendo expulso tempo depois, essa situação mostra as fragilidades das fronteiras terrestres frente à marítima. ● O terceiro momento se deu com o fim da Guerra Fria (1947-1991): A URSS se dissolveu, dando origem a 15 países independentes e os Estados Unidos saiu vitorioso, lembrando que a URSS representava o poder terrestre e os Estados Unidos o poder marítimo. A morte de Halford ocorreu em 1947, mas antes disso o autor deixa um outro conceito importante, “o de Midland Ocean (Oceano Central) que envolvia a região do Atlântico Norte, os mares do Caribe, Mediterrâneo e Báltico, as áreas insulares da Inglaterra, Groenlândia e Islândia, e as regiões marginais da Europa e leste da América do Norte” (ASSIS, 2008, p 10). Conforme afirma Mello (1994), essa região apresentava três elementos: 1) A cabeça de ponte na França; 2) Aeródromo protegidos por mares e canais na Inglaterra; 3) Reservas de forças e recursos nos Estados Unidos e Canadá. O elemento 1 e 2 é essencial parao desenvolvimento do poder anfíbio. Ainda segundo Mello (1994), esse conceito de Midland Ocean previu dois acontecimentos históricos, sendo eles: ● O primeiro, ficou conhecido como Dia D (6 de junho de 1944): Quando ocorreu o desembarque de tropas de soldados dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Canadá na costa da Normandia na França. ● O segundo, foi a formação da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte – 1949): Quando se agrupou as potências marginais e insulares dos dois lados do Atlântico Norte. Mello (1994, 1999) destaca que Halford no início do século XX, em 1904, já propunha o mundo como um sistema fechado, onde a política e a economia mundial se interagia independente da distância, sendo uma formulação revolucionária para época, o que hoje conhecemos como Globalização ou Mundialização. Essa definição não ocorre de maneira genérica, Halford aponta constatações fidedignas, quando apresenta “o sistema global fechado como resultado da sua pesquisa histórica sobre o final da exploração europeia colombiana, e também quando enfatiza as novas tecnologias de transportes terrestres da época” (MELLO, 1999, p.50). A teoria do poder terrestre já foi vista como “cachorro morto”, mas Mello (1994) nos alerta: O núcleo duro do pensamento de Halford continua vivo e atual: é uma ferramenta útil e necessária à análise realista da política de poder das grandes potências que controlam o tabuleiro geopolítico mundial (MELLO, 1994, p.69). Diante dos fatos apresentados podemos verificar que a Teoria do Poder Terrestre é composta de vários conceitos: Word Island, Heartland e Midland Ocean. E que mesmo sendo elaborada no século XX, ainda se faz presente nos dias atuais. No próximo tópico, iremos conhecer as principais escolas que ajudaram na formulação da Geografia Tradicional, assim como seus principais estudiosos e suas principais teorias e conceitos. 4 CONTRIBUIÇÕES DAS ESCOLAS ALEMÃS, FRANCESAS E NORTE AMERICANAS https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-globe-on-vintage-map-background-1397061767 Agora, iremos finalizar a nossa primeira unidade. Este tópico é de suma importância para a compreensão do surgimento da Geografia enquanto ciência. Inicialmente, iremos abordar quais foram as contribuições da escola alemã, bem como os seus principais autores/estudiosos, posteriormente iremos fazer a mesma reflexão acerca das contribuições das escolas francesas e norte americanas, buscando sempre destacar a diferença entre elas. Para fundamentar os nossos estudos, iremos utilizar a obra de Ruy Moreira (1993) O que é Geografia, e também a obra de Antônio Carlos Robert Moraes (1990) Geografia: Pequena História Crítica. Além de outros autores que publicaram artigos no meio acadêmico, organizando os fatos e pensamentos sobre o assunto que estamos estudando. Pois bem, para iniciarmos, precisamos compreender quando e como surgem as primeiras discussões a respeito da ciência geografia. Moreira (1993) já nos alerta que a geografia é um saber tão antigo quanto a própria história dos homens. Então, para isso, iremos retornar à Antiguidade Grega, mas é preciso deixar claro que nesse momento a geografia estava dispersa e diluída em relatos e estudos da época. Nesse sentido, podemos elencar as contribuições feitas por Tales (624 a.C.- 546 a.C) e Anaximandro (610 a.C. – 547 a.C) que privilegiaram a medição do espaço e construíram uma discussão a respeito da forma da Terra, que hoje é definida como Geodésia. Podemos ir mais adiante no tempo e recordar também as contribuições de Cláudio Ptolomeu (100-168) em sua obra denominada Síntese Geográfica, em que o autor procurou fazer um resgate das descobertas do pensamento grego clássico (MORAES, 1990). Então, durante a antiguidade, a geografia ainda não era vista como uma ciência, ela aparecia de maneira subentendida em alguns relatos de viagens, ou curiosidades a respeito de lugares exóticos, ou somente como dados quantitativos e estatísticos da administração de um local. Essa situação se mantém até meados do século XVIII. Moraes (1990) nos alerta que somente no século XIX, a sistematização da ciência geográfica acontece e, esse processo, só ocorre devido ao avanço das relações capitalistas de produção. Pois o interesse por parte dos Estados nos territórios começa a mover uma busca técnica, sobre os recursos presentes no espaço. Paralelamente a isso, houve o aprimoramento das técnicas cartográficas que foram utilizadas para dominação do espaço. Moreira (1993) pede para que tenhamos a compreensão de que antes do século XVIII, a geografia não apresentava nenhuma escola, porém, é a partir daí, que a escola alemã começa a se desenvolver. Já Moraes (1990) nos conta que é na Alemanha, que a geografia apresenta suas primeiras teorias e propostas metodológicas, assim como as suas primeiras correntes de pensamentos. 1.1. Escola Alemã Em 1754 a geografia, então, inicia seu caminho para o status científico. Para compreender esse caminho iremos estudar três autores alemães, sendo eles: Alexandre Von Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-1859) e por fim iremos retomar algumas contribuições de Friedrich Ratzel (1844-1904), lembrando que já fizemos uma abordagem inicial sobre Ratzel no tópico 2, a respeito da Geografia Política. Humboldt possuía formação naturalista e realizou inúmeras viagens, ele foi conselheiro do rei da Prússia. Para o autor a geografia era uma ciência de síntese dos conhecimentos da Terra. Esse viés naturalista, garantiu a Humboldt o título de Pai da Biogeografia, onde ele define que o mundo é uma unidade cósmica e o homem é um dos elementos (CAMPOS, 2001). Humboldt define o “objeto da geografia como sendo a contemplação da universalidade das coisas, de tudo o que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na Terra” (MORAES, 1990, p.47-48). Um conceito importante deixado por Humboldt, é o conceito de “empirismo raciocinado”, como sendo a impressão que a paisagem causa no observador, que combinada pela observação sistemática e filtrada pelo raciocínio lógico, explicaria a causalidades das conexões (MORAES, 1990). Diante disso, podemos concluir que Humboldt define a geografia como uma disciplina com base na observação e contemplação da natureza, daí o seu viés naturalista. Karl Ritter, foi tutor de uma família de banqueiros, inicialmente formado em Geografia e História, sua obra mais conhecida foi a “Geografia Geral Comparada” (1817- 1859), seus estudos apresentava um forte viés religioso, por conta disso o homem era colocado como o centro das reflexões, caracterizando suas ideais antropogênicas (CAMPOS, 2001). O autor considerava a Geografia uma ciência empírica, baseada em observações, cujo objeto era a superfície terrestre. Sua metodologia de estudo era inicialmente realizar as observações do espaço, depois fazer comparações e, por fim, proceder às categorias. Nesse sentido, ele buscava compreender as particularidades de cada área, caracterizando a Geografia como o estudo dos lugares, buscando a individualidade do lugar, sendo um dos precursores da geografia regional. Sempre entendendo os arranjos individuais, das relações do homem com a natureza utilizando a observação (CAMPOS, 2001). Sobre Ratzel, ele foi responsável por sistematizar a Geografia. Seus conhecimentos foram utilizados como estratégia de poder para a expansão do Estado alemão, após o processo de unificação da Alemanha, e ainda em seus discursos fica muito claro, a sua admiração pelo imperialismo (CAMPOS 2001). Na sua obra, Moraes (1990) nos conta sobre essa admiração de Ratzel: “Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo. Na história moderna a recompensa da vitória sempre foium proveito territorial” (MORAES, 1990, p. 55). Ratzel foi considerado o pai do determinismo, por dizer que “o homem é produto do meio, e as condições naturais é quem determina a história”. Essas ideias foram radicalizadas por seus discípulos, o que gerou uma forte contribuição errônea para fundamentar teorias racistas, como a do “Subdesenvolvimento como fruto da tropicalidade” (CAMPOS, 2001). Um dos conceitos mais importante de Ratzel foi o do Espaço Vital, e Moraes (1990) esclarece o conceito dito por Ratzel como: “A proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir as necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir as suas permanências territoriais” (MORAES, 1990, p.56). A última teoria proposta por Ratzel, foi a da escola “ambientalista”, em que a natureza não é vista como uma determinação, mas um suporte para a vida, essa corrente propõe o estudo do homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere (MORAES, 1990). Entretanto o nome de Ratzel se faz mais presente no determinismo do que no ambientalismo. Finalizamos assim, o conhecimento sobre as contribuições da escola alemã, em especial os estudiosos Humboldt, Ritter e Ratzel, que auxiliaram para com o desenvolvimento da ciência geográfica. 1.2. Escola Francesa Agora daremos início as informações referentes à escola francesa, em que iremos abordar dois autores, sendo eles: Paul Vidal de La Blache (1845-1917) e Elisée Reclus (1830-1905). De acordo com Moreira (1993) a escola francesa surge após a derrota da França para Alemanha na guerra prussiana (1870), como uma estratégia de servidão à burguesia e recuperação de perdas territoriais. No momento da guerra prussiana a geografia da França era atrasada e meramente descritiva associada ao ensino de História, enquanto que na Alemanha já havia grandes evoluções no campo da geografia. Então, graças às críticas por parte dos franceses para as contribuições do alemão Ratzel, surge a escola francesa com a teoria do possibilismo. La Blache, inicialmente, é formado em história, porém ao longo de sua trajetória acadêmica conheceu o campo da geografia e passou a se dedicar a aprender o ofício de geógrafo, e uma das suas tarefas mais importantes foi a produção de um grande atlas para a França (CLAVAL, 2014). Porém não podemos deixar de enfatizar a teoria mais importante da escola franca, o possibilismo geográfico: O possibilismo é uma teoria apoiada em dados da história e da etnografia, onde é apresentado as influências entre o homem e o meio, destacando que o homem possui uma ampla possibilidade de dominação do meio, essa situação fica evidente quando encontramos meios iguais com culturas diferentes e vice-versa (MOREIRA, 1993, p. 38-39). Outra contribuição de La Blache foi feita em sua obra denominada “Geografia Universal”, onde expõe um dos seus principais conceitos, o de região, definindo-o como uma unidade de análise geográfica, onde o homem organiza o espaço (MORAES, 1990). Quando estudamos as escolas francesas, fica evidente o papel de destaque de La Blache, porém as contribuições de Reclus, foram muito significativas para a época, mas Reclus não teve a mesma visibilidade que La Blache naquele momento, para entender isso, vamos conhecer um pouco sobre outro autor francês. Reclus foi aluno de Ritter assim como Ratzel na Universidade de Berlim. Devido às guerras napoleônicas (1803-1815) sofreu com o exílio em vários países e se tornou um geógrafo por ocasião dessas viagens, nesse sentido, ele é considerado um cidadão do mundo, sendo uma grande figura internacional anarquista. Suas principais obras foram: A Terra (1868) e a Geografia Universal (1876-1894), a qualidade de seus trabalhos era fruto do produto de suas viagens pelo mundo (CLAVAL, 2014). De acordo com Claval (2014) as ideias de Reclus não eram aceitas pela academia francesa, afinal ali só havia espaço para as ideias lablacheana, e Reclus era visto como anarquista, engajado no movimento socialista desde a juventude. O autor, analisa a difusão espacial do povoamento humano pelo mundo, e as vitórias conquistadas contra a opressão, caracterizando um verdadeiro hino à liberdade. Uma das maiores contribuições da escola francesa é o possibilismo, porém essa junção da geografia com o pensamento possibilista se perpetuar até 1950, quando ocorre, então, a ascensão da geografia nas escolas norte americanas. 1.3. Escola norte-americana Então, para finalizar a nossa caminhada pelas escolas geográficas, iremos, agora, verificar as contribuições da escola norte americana, para isso, vamos conhecer um pouco sobre os estudos de Richard Hartshorne (1899-1992). Hartshorne foi formado em Matemática em 1920 e finalizou o doutorado em Geografia em 1924. Já em 1938 foi para a Europa e realizou estudos sobre a evolução do pensamento geográfico, e em 1939 publicou o resultado desse estudo em sua obra mais emblemática denomina “The Nature of Geography”, traduzida como a Natureza da Geografia, onde buscou propor soluções sobre a teoria e o método da Geografia (ARCASSA, 2014). Ainda de acordo com Arcassa (2014), Hartshorne foi um grande estudioso de Geografia Política, e sua definição mais emblemática, está apresentada no conceito de fronteira, ao qual ele define como: “associações de todo tipo das diferentes partes da border área com cada um dos bordering states”. Arcassa (2014) expõe as classificações genéticas das fronteiras propostas por Hartshorne (1936) em quatro subdivisões, sendo elas: I) Fronteira Antecedentes: antes do povoamento; II) Fronteiras Subsequentes: posteriores ao desenvolvimento econômico; III) Fronteiras Superpostas: áreas de unidade cultural; IV) Fronteiras Consequentes: regiões escassamente povoadas, ou desabitadas, ou ainda com barreiras físicas; (ARCASSA, 2014, p. 276). Hartshorne foi um dos geógrafos mais emblemáticos da Geografia Tradicional, afinal suas contribuições de caráter teórico-metodológico foram substanciais para o desenvolvimento da Geografia enquanto ciência. Além do mais, não podemos deixar de mencionar as mudanças significativas propostas e o resgate da Geografia Política, juntamente com o conceito de fronteiras. Após essa longa caminhada de conhecimento, desde os primórdios da Geografia até meados da década de 1970, quando finalizamos a etapa do que se chama de Geografia Tradicional, ficou evidente quais foram as contribuições das escolas alemãs, francesas e norte-americana na formação da Geografia enquanto ciência. SAIBA MAIS QUANTO CUSTARIA RESTABELECER CONTROLES DE FRONTEIRA NA EUROPA? Por: Nils Zimmermann Em junho de 1985, um acordo para formar na Europa uma zona sem controles de fronteira foi assinado na pequena cidade de Schengen, em Luxemburgo. Na época, o acordo incluía apenas a Alemanha, a França e os três países do Benelux: Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Desde então, o chamado Espaço Schengen se expandiu, a ponto de hoje abranger 22 dos 28 países da União Europeia (UE), além de Liechtenstein, Noruega, Islândia e Suíça. O Acordo de Schengen é largamente considerado uma das principais conquistas da integração europeia. Ele permitiu que pessoas e bens circulassem livremente através das fronteiras dentro da Europa, sem ter que parar para verificações de passaporte ou controles de qualquer tipo. Isso tem sido especialmente útil para empresas de caminhões que transportam mercadorias pela Europa. Antes do Acordo de Schengen, os motoristas às vezes ficavam na fila por longas horas, aguardando inspeções de carga. Isso causava atrito, atrasos e incertezas para as cadeias de suprimento europeias, em bens que vão desde frutas frescas sendo transferidas a partir do sul da Europa até partes de automóveis e outros bens industriais. Nos últimos três anos,no entanto, o Espaço Schengen tem sido cada vez mais colocado em questão. O motivo: a livre circulação de pessoas, bens e serviços sem controles nas fronteiras também significa a livre circulação de migrantes ilegais, bem como de criminosos e terroristas. Vários países chegaram a introduzir controles temporários de fronteira – entre Áustria e Alemanha, por exemplo. Como disse a Comissão Europeia num comunicado de 2016: O conflito e a crise na Síria e noutros locais da região [Oriente Médio] provocaram um número recorde de refugiados e migrantes chegando à União Europeia, o que, por sua vez, revelou sérias deficiências em partes das fronteiras externas da União e resultou numa abordagem de portas abertas aplicada por alguns Estados-membros. [...] Isso levou à criação de uma rota através dos Bálcãs Ocidentais, que permite que os migrantes se desloquem rapidamente em direção ao norte. Em reação, vários Estados-membros recorreram à reintrodução de controles temporários nas fronteiras internas, ameaçando o bom funcionamento do Espaço Schengen de livre circulação e os seus benefícios para os cidadãos europeus e para a economia europeia, prosseguiu o texto. A reação da Comissão foi tentar evitar a reintrodução dos controles fronteiriços por parte dos governos nacionais. “A restauração do Espaço Schengen, sem controles nas fronteiras internas, é de fundamental importância para a União Europeia como um todo”, afirmou o órgão em 2016. Mas com governos populistas sendo eleitos grande parte da Europa, com seus partidários motivados principalmente pela hostilidade à imigração descontrolada do Oriente Médio e da África, a Comissão Europeia está gradualmente perdendo a luta contra a reintrodução de controles de fronteira nos pontos de fiscalização fronteiriça nacionais dentro da Europa. Isso terá efeitos econômicos significativos – embora sua magnitude não possa ser conhecida com precisão. Fonte: ZIMMERMANN, Nils. Quanto custaria restabelecer controles de fronteira na Europa. Carta Capital. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/mundo/quanto-custaria-restabelecer-controles-de- fronteira-na-europa/. Acesso em: set. 2021. #SAIBA MAIS# https://www.cartacapital.com.br/mundo/quanto-custaria-restabelecer-controles-de-fronteira-na-europa/ https://www.cartacapital.com.br/mundo/quanto-custaria-restabelecer-controles-de-fronteira-na-europa/ REFLITA Com base nos conhecimentos aprendidos na Unidade I, reflita sobre o título da Obra o importante geógrafo Yves Lacoste, denominada de: “A geografia serve em primeiro lugar para fazer guerra” de 1988. Reflita: ● O que será que o autor quer dizer com esse título? ● Quais foram as suas referências? ● Quais foram as situações vividas para o autor elaborar e escrever esse livro? Fonte: o autor. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Bom, aluno(a) (a), chegamos ao final na nossa primeira unidade da disciplina de Regionalização e Geopolítica, espero ter atendido às suas expectativas, neste primeiro momento. Vamos, então, dar uma breve revisada no que aprendemos ao longo desta unidade. No tópico 01: conceito, origens, limites e novas abordagens da geografia política, conhecemos os principais conceitos geográficos, dentre eles: espaço geográfico, território, região, paisagem e lugar. Depois foi a vez de conhecermos os principais conceitos da Geografia Política, como: escalas, fronteiras, limites, poder, Estado Moderno, povo e nação. Nesse primeiro momento, foi buscada a definição desses conceitos, que são tão importantes para nos ajudar a entender os próximos conteúdos. Já no tópico 02: Fundamentos da Geografia Política e da Geopolítica, fizemos uma verdadeira viagem no tempo, e voltamos mais precisamente no século XIX, quando o alemão Ratzel usou o termo Geografia Política e depois conhecemos as contribuições do francês Vallaux sobre o tema já no século XX. Sobre a Geopolítica, inicialmente, entendemos a colocação do sueco Kjellén, no início do século XX, que usou o termo pela primeira vez, depois conhecemos as contribuições do alemão Haushofer. Por fim, pudemos compreender que, atualmente, a Geografia Política é usada como uma modalidade dentro do campo da Geografia, enquanto que a Geopolítica é uma parte da geografia política e não uma ciência. No tópico 03: Princípios da teoria do poder terrestre, conhecemos o britânico Halford John Mackinder, que desenvolveu essa teoria. Para Halford criar a teoria do poder terrestre, ele criou alguns conceitos, como: o de ilha mundial, de região pivô, e o de oceano central. O autor acreditava que quem dominasse a região pivô seria considerada a potência mundial. Essa teoria, proporcionou o autor a antever várias situações que viriam a acontecer no tabuleiro da geopolítica mundial. E, por fim, no tópico 04: Contribuições das escolas alemãs, francesas e norte- americanas. Voltamos ao primórdio da geografia, inicialmente na escola alemã conhecemos Alexandre Von Humboldt, Karl Ritter e Fredrich Ratzel e suas contribuições como, por exemplo, o determinismo geográfico, na escola francesa conhecemos Paul Vidal de La Blache e Eliseé Reclus e a teoria do possibilismo geográfico em resposta ao determinismo alemão. Para fechar esse tópico, conhecemos a escola norte-americana e o autor Richard Hartshorne, que contribuiu para a evolução teórica e metodológica da Geografia enquanto ciência. Sendo assim, fechamos essa unidade com a clareza das contribuições teóricas ao longo da história. Lembrando que, para darmos continuidade na nossa caminhada de conhecimento geográficos, se torna indispensável a dominação dos conceitos aqui apresentados, assim como as contribuições dos autores citados e suas respectivas teorias, pois, agora, iremos continuar, porém com situações e exemplos práticos que foram ocorrendo ao longo da história. LEITURA COMPLEMENTAR Caro(a) (a) estudante, como leitura complementar, deixo para você uma reportagem da BBC, acerca da utilização da teoria do poder terrestre (discutida no tópico 03 dessa unidade) no século XXI. ● Título: Heartland: como um geógrafo do século 19 desenvolveu a teoria que rege a geopolítica atual ● Link: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57353573 ● Data: 26 janeiro 2020 ● Autor: Phil Tinline Boa leitura! LIVRO • Título: A invenção da natureza: A vida e as descobertas de Alexander Von Humboldt • Autora: Andrea Wulf • Editora: Crítica • Sinopse: A invenção da natureza revela a extraordinária vida do explorador, geógrafo e naturalista alemão Alexander von Humboldt (1769-1859). Com suas descobertas, fruto de expedições pelo mundo afora (escalando os vulcões mais altos do mundo, cruzando a Sibéria em plena epidemia de praga, navegando pela então ameaçadora Amazônia), gerou inveja em Napoleão Bonaparte, inspirou Simón Bolívar em sua revolução e Darwin a zarpar com seu navio Beagle. Sua história é contada neste livro de forma saborosa e profunda, partindo de uma ampla pesquisa sobre o homem que concebeu a maneira como vemos a natureza hoje. FILME/VÍDEO • Título: A lista de Schindler • Ano: 2019 • Sinopse: A inusitada história de Oskar Schindler (Liam Neeson), um sujeito oportunista, sedutor, "armador", simpático, comerciante no mercado negro, mas, acima de tudo, um homem que se relacionava muito bem com o regime nazista, tanto que era membro do próprio Partido Nazista (o que não o impediu de ser preso algumas vezes, mas sempre o libertavam rapidamente, em razão dos seus contatos). No entanto, apesar dos seus defeitos, ele amava o ser humano e assim fez o impossível, a ponto de perder a sua fortuna, mas conseguir salvar mais de mil judeus dos campos de concentração. REFERÊNCIAS ARCASSA, Wesley de Souza. MOURÃO, Paulo Fernando Cirino. Karl Haushofer: a Geopolitik alemãe o III Reich. Departamento de Geografia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, n. 11, v.1, janeiro a junho de 2011, p. 1-14. ARCASSA, Wesley de Souza. Anais do I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território, 2014. Rio de Janeiro. Porto Alegre: Editora Letra1; Rio de Janeiro: REBRAGEO, 2014, p. 267-280. ISBN 978-85-63800-17-6. ASSIS, José Ferreira. A teoria geopolítica clássica de Mackinder validada pelas ações e acontecimentos envolvendo a Rússia na atualidade. Monografia. Escola de Guerra Naval. Rio de Janeiro – RJ, p. 25. 2008. CAMPO, Rui Ribeiro de. A escola alemã de geografia. Geografia, Rio Claro, V. 26, N. 2, p. 9-67, 2001. CASTRO, Iná Elias de. 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Objetivos de Aprendizagem: ● Diferenciar as teorias dos Estados nacionais e das relações internacionais; ● Apresentar a formação do sistema interestatal capitalista; ● Expor a origem do poder, do desenvolvimento e da pobreza no mundo. INTRODUÇÃO Estudante, agora iremos dar início à segunda unidade intitulada Fundamentos Históricos e Geopolíticos das Relações Internacionais Contemporâneas, da nossa disciplina de Regionalização e Geopolítica. Essa unidade está segmentada em três tópicos. O primeiro tópico, Fundamentos das teorias dos Estados nacionais e das teorias das relações internacionais, está subdivido em dois momentos. Inicialmente está apresentada a Teoria dos Estados Nacionais, e por fim, é apresentada a Teoria das Relações Internacionais, juntamente com seus pressupostos históricos. No segundo tópico, A Formação do Sistema Interestatal Capitalista, também está segmentada em dois momentos. No primeiro momento, conheceremos a Origem do Capitalismo e, no segundo momento, estão apresentadas as fases do capitalismo, juntamente com o seu modelo econômico, com destaque para o papel das empresas e do Estado. E, no terceiro e último tópico, vamos conhecer as Origens do Poder, do Desenvolvimento e da Pobreza. Para isso vamos nos pautar nas obras dos autores Daron Acemoglu e James Robinson, que escreveram o livro “Por que as nações fracassam: As origens do poder, da prosperidade e da pobreza”, publicado no ano de 2012. Portanto, espero que nesta unidade, você compreenda um pouco mais da dinâmica envolvendo as relações entre os países no mundo atual. Bons Estudos! 1 FUNDAMENTOS DAS TEORIAS DOS ESTADOS NACIONAIS E DAS TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/country-flag-symbols-on-chessboard-figures- 1310671316 Para facilitar nosso estudo, neste tópico, irei dividir a explicação em duas partes, inicialmente iremos compreender como surgiram os Estados Nacionais e quais são as suas principais características, posteriormente iremos conhecer a teoria das Relações Internacionais. 1.1. Teoria dos Estados Nacionais A palavra Estado vem do latim que significa estar firme, e aparece pela primeira vez na obra “O Príncipe” em 1513, do italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), depois disso, o termo ganha uma certa popularidade entre os italianos e, somente, durante os séculos XVI e XVII a expressão passa também ser utilizada por franceses, alemães, ingleses e espanhóis (DALARI, 1998). Porém, alguns autores, acreditam que o Estado só existiu em algumas sociedades políticas que apresentaram características bem definidas, ou seja, nem sempre ele existiu. Diante dessa situação, o alemão Carl Schmidt (1888-1985), afirma que o Estado surge apenas quando nasce a prática de soberania. O italiano Balladore Pallieri (1905- 1980) é ainda mais preciso ao afirmar que o Estado surge somente com o acordo da “Paz de Vestfália” em 1648. Antes de dar continuidade, vamos entender um pouco do que foi o acordo de Paz de Vestfália e quais foram as suas contribuições. De acordo com Silva (2012) em 1648, foi assinado um conjunto de acordo entre o sacro Império Germânico, a França e a Suécia, que colocaria fim à Guerra de Trinta Anos e traria a essas nações, o chamado equilíbrio de poder baseado no respeito da soberania nacional de cada território. O acordo de Paz de Vestfália marcou o início do que iremos chamar a partir de agora, de Estado Moderno,que tem como característica um território ocupado por um povo e um poder soberano sobre esse território. Para compreender essa estrutura do Estado Moderno, vamos, então, definir alguns conceitos que são alicerces para a estrutura do Estado Moderno, como: soberania, território e povo, para isso iremos utilizar a obra de Dalari (1998). O conceito de soberania aparece, pela primeira vez, na obra do teórico político francês, Jean Bodin (1530-1596) em seu livro intitulado “Les Six Livres de la République”. “O autor afirma que a soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma República. A palavra República, faz referência ao atual Estado” (DALARI, 1998, p. 31). Em 1762, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) publicou sua obra “Contrato Social”, em que destacou o conceito de soberania quando afirmou que, “O contrato social gera um corpo político, chamado Estado quando passivo, Soberano quando ativo e Poder quando comparado com os seus semelhantes”. O autor atribui à soberania a característica de inalienável e indivisível, para isso o autor ainda afirma que: “O pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus membros, e este poder é aquele que, dirigido pela vontade geral, leva o nome de soberania” (DALARI, 1998, p. 31). Sendo assim, a soberania é o poder soberano que o Estado exerce sobre seu território e sobre o povo que está dentro do seu território. Nesse sentido, o Estado tem a obrigação jurídica de respeitar a soberania de outros Estados em outros territórios. Para ficar mais claro essa situação, vamos compreender o segundo conceito elementar do Estado Moderno, o território, para isso, ainda, vamos continuar usando a obra de Dalari (1998). Para Dalari (1998) o território é um comente do Estado Moderno, e a existência de soberania limitada a esse espaço, que foi denominado de território, foi fundamental para garantir o equilíbrio de poder entre os Estados Modernos. Em seus estudos, Dalari (1998) apresenta três conclusões sobre a relação do território com o Estado, sendo elas: 1) Não existe Estado sem território; 2) O território estabelece a delimitação da ação soberana do Estado; 3) O território é um elemento construtivo necessário e um objeto de direitos do Estado. Para fechar nosso eixo elementar de elementos formadores do Estado Moderno, vamos discutir sobre o conceito de povo. Para Dalari (1998) é unânime a aceitação da necessidade do elemento pessoal para a constituição e a existência do Estado, uma vez que sem ele não é possível haver Estado e é para ele que o Estado se forma. Sendo assim, o povo é um componente essencial do Estado, mesmo após ele ser constituído. Portanto, o povo refere-se ao conjunto de indivíduos que se uniram para constituir o Estado em um território, e depois passa a ser subordinado ao poder soberano do Estado. Para fechar a nossa discussão sobre a Teoria dos Estados Nacionais, vamos conhecer um pouco sobre as funções do Estado, conforme os objetivos que esse busca atingir (DALARI, 1998): ● FINS EXPANSIVOS: visa o crescimento do Estado, anulando o indivíduo. Essa teoria é a base dos Estados Totalitários, sendo subdividida em Utilitárias (teoria de bem-estar material) e Éticas (teoria da moral oficial); ● FINS LIMITADOS: refere-se à baixa participação do Estado nas atividades da sociedade, sendo popularmente conhecida como o Estado mínimo (teoria do Estado-Liberal), outro viés é o Estado apenas como aplicador de leis, em que pode haver criação de leis que beneficiam os próprios governantes; ● FINS RELATIVOS: popularmente conhecida como teoria solidarista, em que o Estado manifesta a vida solidária dos homens com três grandes categorias, conservar, ordenar e ajudar, sendo indispensável garantir igualdade entre todos nas condições da vida social. Neste subtópico conhecemos um pouco sobre o surgimento do Estado Moderno, e seus principais pilares, a soberania, o território e o povo, juntamente com os seus principais objetivos e finalidades. Compreender o Estado Moderno é de suma importância para entender as Relações Internacionais, que será apresentado no subtópico seguinte. 1.2. Teoria das Relações Internacionais A história das Relações Internacionais é marcada pelas contribuições do francês Pierre Renouvin (1893-1974), que se torna historiador após perder seu braço em um conflito no meio da I Guerra Mundial (1914-1918), após esse triste episódio Renouvin decide coletar documentos e materiais para compreender a história da guerra e suas consequências e, em 1934, foi lançado seu livro “Le crise européenne et la Première Guerre Mondiale” (GONÇALVES, 2007). Tais fatos evidenciam como a I Guerra Mundial despertou um interesse por parte dos Estado para compreender as relações internacionais, com o objetivo de evitar novos grandes conflitos. Diante disso, em 1919 ocorreu a Conferência da Paz de Paris, estudiosos da Europa e dos Estados Unidos perceberam que para haver paz no mundo seria necessário realizar algumas mudanças nas instituições, como: ● Respeito à autodeterminação dos povos; ● Utilização de regimes democráticos, invés de autoritários; ● Adoção do livre-comércio e fim das barreiras protecionistas; ● Livre navegação nos mares; ● Melhorias no direito internacional; ● Cumprimento dos acordos de Paz por parte dos Estados; Mas todas essas ideias, que foram estabelecidas durante a Conferência da Paz de Paris, foram abaladas em 1929, quando os Estados Unidos sofreram com a crise de superprodução, que acabou por quebrar a Bolsa de Valores de Nova York. Diante dessa situação, algumas medidas foram reforçadas, como: a volta de regimes autoritários, o protecionismo econômico e o nacionalismo exacerbado. Tais fatos provocaram a Segunda Grande Guerra entre 1939-1945. Após a II Guerra Mundial, é a vez do mundo viver a bipolaridade imposta pela Guerra Fria (1947-1991), em que de um lado está a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) com o modelo econômico socialista e do outro lado estão os Estados Unidos com o modelo econômico capitalista. Nesse contexto de Guerra Fria, que Reunovin publica sua obra, traduzida como “Introdução à história das Relações Internacionais” em 1964. Outro autor, pioneiro importante para a compreensão da Teoria da Relações Internacionais, foi “Hans Morgenthau (1904-1980), ele afirmou que o meio internacional é uma arena, onde os Estados vivem em luta pelo poder, e é essa luta pelo poder que dá sentido às relações internacionais” (GONÇALVES, 2007, p. 33). Morgenthau ainda nos conta que “cada Estado mobiliza seus recursos com o objetivo de aumentar seu poder e isso iria possibilitar a realização dos interesses nacionais, que dizem respeito à defesa da soberania nacional, sendo comum a todos Estados” (GONÇALVES, 2007, p. 33). Para a definição mais atual das relações internacionais (RI) iremos no pautar nas palavras de Seitenfus (2004), que diz o seguinte: As RI é o conjunto de contatos que se estabelecem através das fronteiras internacionais entre grupos socialmente organizados. Portanto, são internacionais todos os fenômenos que transcendem as fronteiras de um Estado, fazendo que os sujeitos, privados ou públicos, individuais ou coletivos, se relacionem entre si. “As RI surgem quando dois ou mais grupos socialmente organizados intercambiam bens, ideias, valores e pessoas, tanto em um contexto juridicamente definido, quanto de maneira circunstancial e pragmática” (SEITENFUS, 2004, p. 2). Tanto a teoria dos Estados, quanto a teoria das Relações Internacionais, foram sendo formuladas ao longo da história, mediante modificação de acordo com os acontecimentos ao longo do tempo, mas se faz presente nas discussões atuais. No próximo tópico, vamos compreender um pouco da formação do sistema capitalista. 2 FORMAÇÃO DO SISTEMA INTERESTATAL CAPITALISTA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/accumulation-wealth-capitalism-1886792233Neste tópico, compreenderemos qual foi o contexto histórico em que surgiu o sistema econômico capitalista. Posteriormente, conheceremos suas mudanças estruturais ao longo do tempo de acordo com a inserção das doutrinas econômicas. Ao longo dessa trajetória histórica, vamos sempre nos atentar ao papel do Estado na sociedade. Antes de realizarmos a definição do conceito de capitalismo, vamos retornar no tempo e voltar no momento em que o capitalismo surge, acredito que, dessa forma, ficará mais fácil compreender a sua definição. 1.1. Origem do Capitalismo Pois bem, antes da existência do capitalismo como sistema econômico, era o feudalismo quem ditava as regras na Idade Média (V – XIV) na Europa Ocidental. Somente quando o feudalismo entra em crise, por volta do século XIV e XV, é que o capitalismo entra em cena. Porém esse processo foi uma transição que se deu ao longo dos séculos XVIII e XIX, ocorrido com base em crise demográficas, revoltas no campo e nas cidades, fome e a peste negra. É nesse cenário caótico, que a burguesia se fortalece e o modo de vida urbano se consolida, paralelamente a isso, ocorreu a expansão marítima. Tais fatos contribuíram para a acumulação de capital, consolidando a transição do feudalismo para o capitalismo. De acordo com Catani (1979) no ideal marxista, o capitalismo é um sistema econômico: [...] pelo qual os meios necessários à produção são apropriados, como as relações se estabelecem entre homem a partir de suas vinculações ao processo de produção. Sendo assim, o capitalismo não significa apenas um sistema de produção de mercadorias, mas também um sistema no qual a força do trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca. Para que exista capitalismo faz- se necessária a concentração da propriedade dos meios de produção em mãos de uma classe social e a presença de uma outra classe para que a venda da força de trabalho seja a única fonte de subsistência (CATANI, 1979, p. 10). Sendo assim, podemos entender que o capitalismo é um sistema econômico que envolve as forças produtivas e as relações de produção, com o objetivo de gerar mais riquezas, ou seja, maximizar o lucro. Ainda, segundo os estudos realizados por Catani (1979), o capitalismo apresenta algumas características fundamentais, como: 1) propriedade privada dos meios de produção; 2) Divisão da sociedade em classes (burguesia x proletariado); 3) Economia de mercado; 4) Busca pelo lucro. Neste subtópico não iremos nos aprofundar na definição e estruturação do capitalismo, aqui é importante apenas que você tenha conhecimento de quando e como surgiu o capitalismo, e seu conceito básico. A seguir, vamos fazer uma caminhada ao longo do desenvolvimento do capitalismo, sempre destacando o papel do Estado. 1.2. Fases do Capitalismo e Doutrinas Econômicas O capitalismo como sistema econômico apresenta inúmeras contradições e crises econômicas, que receberam diferentes respostas ao longo da história, basicamente por dois agentes: Estado e empresas. Diante disso, desde seu surgimento o capitalismo apresentou diferentes fases e modelos econômicos, conforme apresentado na tabela 1. Tabela 1 - Fases do capitalismo e seus modelos econômicos FASE COMERCIAL INDUSTRIAL FINANCEIRO INFORMACIONAL MODELO ECONÔMICO Mercantilismo Liberalismo Fordismo- Keynesianism o Neoliberalismo DATA XVI-XVII XVIII-XIX 1930-1970 Atual Fonte: autor. A primeira fase ocorreu entre o século XV e XVII e foi denominada de capitalismo comercial, nesse momento, a produção artesanal foi convertida em manufaturas, os artesãos passaram a fazer parte do processo de produção de um produto e não mais de todo o processo e recebiam um salário por isso, enquanto que os donos das manufaturas disponibilizavam matérias primas e ferramentas para a produção, os produtos eram feitos mais rápidos e apresentavam maior semelhança. Outra importante caraterística desse momento foi a forte intervenção do Estado (nacionais e absolutistas) na economia, em que o objetivo era de fortalecer o Estado e aumentar as riquezas, baseando-se na busca de metais preciosos, e no protecionismo econômico. Esse momento ficou marcado como mercantilismo, sendo que as Grandes Navegações e o colonialismo foram ferramentas fundamentais para a consolidação desse modelo econômico. Ao final do século XVIII e início do século XIX, ocorre a Primeira Revolução Industrial na Inglaterra, e o capitalismo comercial é substituído pelo capitalismo industrial, o modelo econômico mercantilista é trocado pelo liberalismo econômico. A chegada da máquina à vapor, a expansão da indústria têxtil e das ferrovias, deram novos rumos para a sociedade capitalista. Agora mulheres e crianças vão servir de mão de obra barata nas fábricas, as cidades apresentaram divisão socioespacial, onde os donos das fábricas moram em bairros ricos e os operários em bairros pobres. No modelo econômico do liberalismo, o Estado apresenta participação mínima, estipulando apenas leis gerais, como, por exemplo, a propriedade privada dos meios de produção e a definição da moeda nacional. O liberalismo econômico tem como seus principais teóricos o Adam Smith (1723- 1790) e David Ricardo (1772-1823), que definiram a lei da oferta e da procura e a concorrência. A lei de oferta e da procura refere-se ao preço da mercadoria de acordo com a quantidade de produto no mercado. Já a concorrência refere-se ao livre-comércio entre as empresas, que com o tempo iriam melhorar e baratear suas mercadorias. Porém, as ideias liberalistas foram abaladas pelo fortalecimento das empresas, que formaram grandes conglomerados, o que contribuiu para uma grande concentração de capital na mão de poucas pessoas. Os trabalhadores tinham baixos salários, pois as empresas visavam cada vez mais o seu lucro, com isso, o consumo diminuiu, gerando crises de superprodução, afinal tinha-se mercadorias, mas não se tinha consumidores, ou seja, houve um aumento da produção sem um aumento de venda, a situação piora com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. As empresas começaram a quebrar, o desemprego aumentar, o consumo cair mais ainda. E o modelo liberalista dá lugar para o modelo fordista-keynesianista, e o capitalismo industrial sai de cena, para a entrada do capitalismo financeiro. No final do século XIX e início do século XX ocorreu a Segunda Revolução Industrial, e as mudanças provocadas pela chegada do petróleo e do motor de combustão interna revolucionaram a sociedade. A popularização do automóvel promoveu a popularização do modelo econômico fordista. O modelo fordista baseava-se na produção em massa e no consumo em massa. Essa produção se dava com os ideais de Taylor (1856-1915) que consistia na especialização do trabalhador em apenas uma tarefa, ou seja, uma parte do meio de produção, com o tempo ele se tornaria especialista e faria o processo mais rápido. Henry Ford (1863-1947) aperfeiçoou as técnicas de Taylor e aplicou a metodologia da esteira rolante, em que o trabalhador não iria precisar se locomover para realizar a tarefa, fazendo-a, assim, mais rápida ainda. Ford não se preocupava somente com a produção em massa de produtos, mas também com os seus consumos em massa. . E utilizava-se dos meios de comunicação em massa para despertar desejos e criar a ideia de necessidade nas pessoas, em paralelo a isso, havia um aumento de salário e diminuição dos preços, evitando, assim, crises de superprodução como as ocorridas anteriormente. Mas essas ideias de Ford não foram suficientes para superar o liberalismo, foi necessário a intervenção do modelo proposto por Keynes (1883-1946), que consistia na interferência do Estado na economia, afinal o modo de agir somente das empresas não seria o bastante para acabar com as crises econômicas. No keynesianismo
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