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Capítulo 18 Organizações e redes sociais Organüzações As organizações enquanto burocracias O espaço físico das organizações Organizações transnacionais Organizações económicas Para além da burocracia Mudança organizacional- o modelo japonês A transformação das práticas de gestão O estudo das práticas de gestão O estudo das redes As redes sociais As redes e as tecnologias da informação Capital social - os laços que unem Novos laços sociais? Conclusão Sumário Leituras adicionais Ligações à Internet ·-··-- -······-·--------·-·--··· -·--- .. ·-- ------------·---- Capítu~o 18~ Organizações e redes sociais Costuma frequentar os restaurantes McDonald's? Em caso afirmativo, da próxima vez que lá for, observe como o restaurante se encontra organizado. Compare-o com outros restaurantes. A diferença mais óbvi.l reside na eficiência de todo o processo, pelo menos aparentemente - o leitor entra no restaurante cheio de fome, mas fica saciado num instante. Em vez de haver um empregado que o encaminha para a sua mesa e lhe serve a refeição, vai directamente ao balcão e a sua comida é-lhe entregue imediatamente. Se escolher comer no restaurante, não existem toalhas de mesa e o número de talheres é mínimo. Com excepção do tabuleiro, tudo aquilo de que necessita para comer, bem como o invólucro no qual a comida lhe é entregue, é descartável. No final da sua refeição, é o próprio quem coloca no lixo as embalagens onde vinha a comida - e não um assalariado. Na realidade, a comida e o serviço pres- tado num McDonald's podem ser facilmente quan- tificados e calculados. O objectivo da McDonald's é «dar mais valor ao seu dinheiro» 1 - o leitor pode comprar «refeições de valor», «Big Mac's» e «grandes pacotes de batatas fritas». E o serviço também é, de acordo com as medições, rápido. O fundador da McDonald's, Ray Kroc, tinha como objectivo fornecer um hambúrguer e um batido aos seus clientes em menos de 50 segundos. Se olhar para trás do balcão muito provavelmente irá ver que cada empregado trabalha executando uma tarefa em particular: um faz as batatas fritas, outro vira os hambúrgueres, um terceiro coloca os hambúrgueres numa embalagem e adiciona a salada. Também irá reparar que grande parte do processo está automatizado: os batidos são feitos depois de premir um botão, os instrumentos eléctricos para fritar funcionam através de temporizadores que alertam os funcionários quando a comida se encon- 1 Nota do tmdutor: Expressão no original: «more hang for rhc buck». tra pronta; até as caixas registadoras têm um botão pam cada item que é adquirido, o que significa que os funcionários não necessitam de conhecer o preço de cada produto. Se já visitou um restaurante da McDonald's em duas cidades ou países diferentes, reparou que exis- tem muito poucas dil:c.renças entre eles. A decora- · ção interior pode variar ligdram<::nre c a linguagem utilizada irá muito provavelmente variar de país para país, mas a aparência exterior, os menus, o· procedimento para encomendar, os uniformes do · pessoal, as mesas, a embalagem c o «serviço com um sorriso» são virtualmente idênticos. A «expe- riência McDonald's» foi concebida de modo a ser uniforme e previsível, seja em Lima ou em Londres.·. Independentemente do lugar onde está localizado o restaurante McDonald's, os visitantes sabem que '- irão encontrar um serviço rápido e um produto que é satisfatório e consistente, em qualquer um 31 000 restaurantes que existem espalhados por 120 países no Mundo inteiro. O sociólogo americano George Ritzer (1 1993, 1998) argumenta que o McDonald's é metáfora viva das transformações que estão a lugar nas sociedades industrializadas. O defende que assistimos à «mcdonaldização» sociedade. De acordo com Ritzer, a tu~·uuJ,liwu'""'<"·u,· é «o processo pelo qual os princípios em que tam os restaurantes de comida rápida estão a nar um número cada vez maior de sectores da dade americana, bem como o resto do Ritzer utiliza os quatro princípios orientadores restaurantes McDonald's -·eficiência, cálculo, midade e controlo através· da automatização - demonstrar que, com o tempo, a nossa sacie está a tornar-se cada vez mais racionalizada. O esclarece que não têm nenhum desejo particular implicar com a cadeia McDonald's - ela é mente o melhor exemplo deste processo. Para disso, o auror faz notar que o termo «nKctolltal~W --------·-·--·--·------------·-·-··--·-·-·-------.. ·-·--·-.. ····-............................ ·------ zaçúo .. tica mais no ouvido do que as expressões «Bun!:cr Kingização»! ou «Starbaquização»·'. Ri,m:r, como o sociólogo clássico Max \'V'eber ante' dde, n.:ceia os efeitos prejudiciais da racionali- zado. Como iremos constatar ao longo deste capí- tulo, \\'d)cr percebeu que a racionalização crescente do mundo moderno escava a produzir resultados irr~tcionais, pois as burocracias como que ganhavam uma \·ida própria e se disseminavam por várias áreas da vida social. Da mesma forma, Ritzer defende que 0 proê..:sso aparentemente racional da mcdonal- diza~i\o produz uma série de irracionalidades - o amor designa este processo por «irracionalidade da racionalidade». Tal processo inclui os efeitos nocivos para a saúde (decorrentes de uma dieta com elevados níveis de calorias, gorduras, colesterol, sal · e açúcar) e para o ambiente- uma vez que todas as ... embalagens são atiradas para o lixo após cada refei- ção. Mais do que isso, argumenta Ritzer, a mcdonal- f dização é « desumanizante ». Alinhamo-nos em filas ·; para pedir um hambúrguer, tal como se estivéssemos ~ ~: numa cadeia transportadora, enquanto os empre- ~: ·gados, do outro lado do balcão, repetem a mesma t". tareEl especializada vezes sem conta, como se fossem lf;' robôs numa linha de montagem. A tese de Ritzer r; tem sido particularmente influente na sociologia, ~' mas, tal como veremos mais adiante neste capí- ~~:. tulo, ao mesmo tempo que foi alvo de importantes ~~;:críticas também contribuiu para que a corporação ~::.-!'1cDonald's se visse forçada a mudar as suas práticas ~~~para s~breviver na. ~conomia global. . , . ~ ....... Extste uma dtferença entre a expenencta dos ~~';clientes - eloquentemente descrita por Ritzer - e ~.a experiência dos trabalhadores dos restaurantes Í~: McDonald's. Os clientes apenas ~experienciam a >,:,.«face pública» dos restaurantes McDonald's e iCfonnam a sua opinião acerca da empresa a partir ,;:dessa experiência. Contudo o pessoal da empresa IJ'n ' ~fJvlcDonald's, nos seus diversos níveis hierárquicos, ~t ------- 'E • .xprcssão no original: «Burgcr Kingization ». 3 Expressão no original: «Starbuckization >>. ----------·-----.. ··--··-·--·- .. ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 885 poderá ver as coisas de um modo diferente a partir do interior da mesma. Enquanto os clientes vivem a experiência de um restaurante cficienre c altamente organizado, o pessoal pode estar mais informado sobre as ineficiências e os problemas internos que resultam de pressões exteriores. Trata-se de uma empresa true é, afinal, uma organização capitalista multinacional cujo objectivo é a maximização dos lucros. Compreender como funcionam as organi- zações exige que se investigue os seus mecanismos internos, as suas práticas de gestão e o seu papel no seio da sociedade. E isto requer pesquisas empíricas e desenvolvimentos teóricos. O esrudo c a teoria das organizações consti- tuem aspectos muito importantes da sociologia, c constituíram uma preocupação central do clássico Max Weber - cujas ideias influenciaram Ritzer . Consequentemente, Weber serà uma figura central ao longo deste capítulo. Iremos examinar o que Weber e outros sociólogos disseram sobre as organi- zações, e investigar se as organizações ainda são rele- vantes. Trata-se, acrualmentc, de um aspecto perti- nente, pois afigura-se estarmos a assistir ao rápido crescimentode redes sociais menos rígidas base- adas em tecnologias avançadas, as quais, segundo alguns, parecem estar a tomar o lugar de algumas das funções das organizações formais anteriores. Assim, a segunda parte deste capítulo explora a emergên- cia de redes sociais glob<lis e o argumento de que estamos a assistir ao nascimento da «sociedade em rede» ( Castells, 1996). Organizações Com alguma frequência, há pessoas t1uc se unem de modo a poderem alcançar determinados objecti- vos que não seria possível concretizar caso agissem isoladamente. Um dos principais meios de atingir tal cooperação é através de uma organização, um grupo com mecanismos de filiação públicos que leva a cabo determinadas acções colectivas de moiclc a atin- gir objectivos comuns (Aldrich c Marsden, 1988). ---· ...... -·-·-------------- · .. 886 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS Uma organização pode ser um grupo pequeno de indivíduos que se conhecem pessoalmente, mas é mais provável que seja um grupo amplo c impessoal. As universidades, os grupos religiosos e as empresas são exemplos de organizações. Tais organizações são uma característica central de rodas as sociedades. Nas sociedades industriais e pós-industriais modernas, as organizações tendem a ser extrema- mente formais. Uma organização formal é, habi- tualmente, racionalmente planeada para atingir objectivos de acordo com regras explícitas, regula- mentos e procedimentos. A organização burocrática moderna (a discutir mais adiante neste capítulo), é um dos exemplos acabados de uma organização formal. Tal como Max Weber tinha notado nos anos 20 do século XX (1979 [1925]), existe uma tendên- cia antiga de formação de organizações formais na Europa e nos Estados Unidos da América. As razões para esta tendência residem, em parte, no facto de a formalização ser um requisito para o seu reconhe- cimento legal. Para serem reconhecidas legalmente, uma escola, ou universidade, têm de satisfazer deter- minados critérios, tal como terem procedimentos de funcionamento escritos, estejam eles relacionados com as políticas de avaliação do pessoal (docente e não docente) ou com os procedimentos em caso de incêndio. Actualmente, as organizaçõ.es formais continuam a ser a forma dominante de organização em todo o Mundo. A maior parte dos sistemas sociais no mundo tradicional desenvolveram-se ao longo do tempo em resultado de costumes e de hábitos. Por outro lado, as organizações foram concebidas e consolidadas com determinados objectivos em vista, e alojadas em edifícios e locais específicos com vista à concretiza- ção desses mesmos objectivos. Os edifícios nos quais os hospitais, as escolas e as empresas levam a cabo as suas actividades estão geralmente situados em locais tipificados. Podemos, portanto, afirmar que as organizações têm um efeito regulador: as orga- nizações influenciam e moldam o comporramemo dos indivíduos de determinada forma; e algumas dessas organizações representam determinados valo- res sociais. Por exemplo, e conforme veremos mais adiante, Michel Foucault defendeu que as clínicas, as escolas, os hospitais e as prisões partilham um principio idêntico de organização Hsica, o que nos diz bastante sobre as relações de poder na socie- dade e sobre o modo como o comportamento dos «prisioneiros» é limitado. As organizações desempenham actualmente um papel muito mais importante nas nossas vidas quoti- dianas do que antigamente. Além de nos ajudarem a vir ao Mundo, acompanham o nosso desenvolvi- mento até morremos. Até mesmo antes de nascer- mos, as nossas mães, e provavelmente também os nossos pais, participam em aulas, exames de gravi- dez, e por aí adiante, levados a cabo nos hospitais e noutras instituições médicas. Hoje em dia, todos os recém-nascidos são registados em organizações governamentais que reúnem informações sobre nós· -desde o nascimento à morte. Actualmente, a maior parte das pessoas morre em hospitais - e não em casa, como já aconteceu em tempos -e cada morte, à semelhança do nascimento, terá de ser formalmente registada pelas autoridades locais. É fácil verificar por que razão as organizações são tão importantes para nós nos dias que correm. No mundo pré-moderno, as famílias, os mais próximos e os vizinhos proviam a grande maio- ria das suas necessidades - comida, a instrução das . crianças, trabalho e actividades de lazer. Nos tempos modernos, a grande maioria da população encontra- -se muito mais dependente do que alguma vez f~i 1'!9 passado. Pessoas que nunca conhe~emos e que podem viver a muitas centenas de quilómetros nós, atendem a muitas das nossas necessidades e exigências. Em tais circunstâncias, é necessária uma -·-·----· --·-·--·------... -·-----... -.- --· ·-·-·-. ·- ... ·--··- -·------ ................... -- ·--........ ___ , __ _ ..;r<tnde coordenação das actividades e dos recursos f•roporcionados por essas organizações. Contudo, a influência tremenda que as organiza- •;ôcs passaram a exercer nas nossas vidas não pode ser ·;ista como totalmente positiva. As organizações têm i"rt.:quentemente o poder de tirar as coisas das nossas m:íos, colocando-as sob o controlo de autoridades c ,k especialistas sobre os quais temos pouca influên- cia. Por exemplo, todos nós somos obrigados a E1zer .:erras coisas que o Estado nos diz para fazer - pagar impostos, obedecer às leis, combater em guerras - sob a ameaça de sanções. As organizações, enquanto fontes de poder social, podem assim subjugar o indi- víduos e levá-lo a agir de acordo com ditames face aos quais podem não ter poder para resistir. As organizações enquanto burocracias A palavra burocracia foi cunhada por De Gournay, cm 1745, que juntou o prefixo bureau -original- mente em francês e que tanto significa escritório como secretária - ao termo cracia, derivado do verbo grego para «governar». A burocracia é, por conseguinte, o poder dos funcionários. A princípio o termo era aplicado apenas . aos funcioná!ios do governo, mas o seu uso generalizou-se gradualmente para referir as grandes organizações em geral. O conceito foi usado desde o seu início de modo depreciativo. De Gournay referiu-se ao desenvol- vimento .. do. puder. dos funcionários como uma «doença chamada buromania»: O romancista fran- cês Honoré de Balzac retratava a burocracia como «o poder gigante dos pigmeus». O autor checo Franz Kafka deixou-nos uma descrição terrífica de uma burocracia impessoal e ininteligível no seu romance O Processo, publicado originalmente em 192 S. Este cipo de opinião tem persistido até aos nossos dias. A burocracia é frequentemente associada à forma- lidade, à ineficiência e ao desperdício. Contudo, os ~--················· ------------·--·------····--.. ···- .. ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 887 estudos sociológicos sobre as organizaçôes enlluanto burocracias têm sido dominados pela obra de Max Weber (ver «Escudos clássicos 18.1 » ). Relações formais e informais A análise da burocracia realizada por \Xfebcr dá primazia às relações f{mnais nas organizações - as relações entre os indivíduos segundo o que está estipulado nas regras da organização. Weber pouco disse acerca das ligações informais e das relações entre pequenos grupos que podem existir em todas as organizações. Nas burocracias, os modos infor- mais de actuação permitem alcançar uma flexibili- dade que não poderia ser alcançada de outra forma. Num estudo clássico, Peter Blau ( 1963) analisou as relações informais num departamento gover- namental encarregado de investigar possíveis fugas ao fisco. Os funcionários que se confrontavam com problemas que não sabiam exactamente como resol- ver deveriam discuti-los com o seu superior hierár- quico; as normas de procedimento estabeleciam que essçs problemas não podiam se discutidos com colegas do mesmo escalão. Todavia, a maior parte dos funcionáriosera prudente quando se tratava de consultar os superiores, pois pensavam que tal pode- ria sugerir incompetência, e, por conseguinte, levar a reduzir as suas hipóteses de promoção. Por isso, os funcionários consultavam-se normalmente uns aos outros, violando as normas oficiafs. Isto não só os ajudava a obter informações correctas, como dimi- nuía também as ansiedades decorrentes do traba- lho individual. Desenvolveu-se assim um conjunto sólido de lealdades em pequenos grupos de traba- lhadores do mesmo escalão. Blau concluiu que os problemas com que esses funcionários se deparavam eram provavelmente enfrentados com maior efidcia deste modo. 888 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS Max Web.er: a modernidáde enquanto dominação burocrática A. problemática ela jnvestigação, . ' A vida moderna exige alguma organizaçã~ dadc dos asshntos respeitantes à governaÇão. Mas formal para que ás actividades possam decorrer só nos tempos modernos é que as burocracias se sem percalços. Contudo, J,nUitas pessoas vêem as desenvolveram completamente. organiz.aÇões de um modo negativo, pois consi- De àco,rdo com Max .Weber, a expansão da· deram que elàs retiram criatividade individual e bm;ocracia .é um fenómeno inevitável das sodedà- · cria,ril muitas êlfficuldades·qriándó precisamos do des modç;.p.as;. a autoridade burocrática é a~iéa .seu, aq#lio~ Porque ·será assim? Por que razão as forma de lidar. c~~ a~ ·i~pÍic~çÕes. adminls.ti~Çi:· . ~ · o~gan1:z;açÇ)es são vista$ ~orno . simt~ltanearnente vas de granci~s sistemas. s~dais. Cof\tudo, W~per . r:i<:ê.9$~â.ria.~ e. inúteis? T~!!-t~~~e~á ape~a.s ·de u~ tainbé~ aÇr~dita~a qu,e a burocracia aprese.~t~:. : probletrt~.' .d~. pe~cçpÇóes · c;life,i:erttes: eti de algo grandes 4efitiências que têm bastantes ÚripJÍç~:· ... ' m#ifo maifé:üi.'aizadõ e 'múlto mais sedo) ções n9- natur!!zá.da. vid~$pçiW, m..ode,rna ... i . . . ·. ; · ::.Q s<;>ci6l~go ~e~ãoM~·Web~~.dese~volveu a · :De_ m;ah.eir~ ·a· ~studar as origens e a nã~~i~~~ , ~ pri~ii~~ 'i'ri~~tp~et~çaó'~ist~~~tic~· da ·e~~-r~ên~ia da expànsãb 'âis'''t)igiliiiàçôes ·htito'Crátkas, ~r, das' otgifíizitÇoes mode~n'âs.·S~giu1do estÇ ~l.itôt, W~ber cons.truiu u.lh. tipo ideal de burocçaÇi~/. : as .. org#fit!l~Õ~s . .constiÇ~~ri). forgi?-S de cootdertàr «ÍdeàÍ», hO. sentido qúe aqui ~e confer®~s; ~··i ª~ á~t~:\riMdes 49s sere.s ·hiwili.çYs. de ti~ ~o do não ·se refe~e ao quç Ç .mais desejável, mas á. ~( . . t6hstartt~:'i{(Fté1hp·o·'"· ~e:.:'n'· .. : .... ·. '=·s"p'': .. : ".·,:, • .,,?~'.r: ·. ,; · ·•· · ;.t . : · ,,,. · ' .. « fo.rm.. a ·.P·. ura >.:>< 4~ .or~ .. Jtii ... ~é.ªo .. Jn~.ÇQçç#, ~ça, .. : .. u.· .. ·.· ri.l .... ·." . ·., . . .. . ... . .. , . . o e .aço_. :weuer reaJ.ÇQU o;:: • . -. ·- - ·ql!e: o· ~Ç~~-~v9lyiniel11:ô d,:i~ organizàçÕ~s àssertta tipo id,eaté-.~a descrição ãbst~acta const~il.Úi{:L .\ . ~8 doffi,!~~~·:4~Wótclaç~~; ~g~~)lariclõ à!!l'lPOJ;- ~artir. d~ .~nfatiz~ção de determina~as car;tc.~7rf:s;~:· .. J~g~~&~~'L9f&:~f:~~B:P.:t2&~~~2·L~~Y.?tg~i~~Ǫo, :· tl,~~ ·~e.s~.~~ ·rer~· ~e ;rno~o ~ ~~~f soh,re~~~~~:~::,:. i fiêÇ~~sita i:l!!·. t~gta.s · éscfiéi§:··pari ·{uriCiõ)la,r-e::·.ae:·-·-·"ru:~~te.rí~~1ç~-'~~~~n.~1?-15·.( Y.er .Q9-p~t~o ;l)~:·W,~h'tF.~ t fi~~eirb~ o~q~ ·~· .. ~!:la ~<trt~rilo~i~~; s~ja · ~iroa~e- . (1979 {f.9.f<?]) ~n\.Wl~ro1,1 as $Ggu~nçes c~r~ç:~,ç:#$~t~;:';:,: na;'d·'ra:·:.:p'''.'0''r-''i:·m··~:":~w."J::'.·b····:-•;··a·:'··,-t_,.., . .:,.t·.'i>:::·<·::~.,,,. ,:· .•.. _,,'" .. ;;i'.:: ...• ,.:.,:... . c~~.:Ào _t1no 1deal de b. urocracia: . . . .. . ~ , we er e ec ouaenstenc1aue um:a . · __ ... ···:·li":-.•.. , ... ,,.,, .. ".,,. ...... :"'''"., .•. _" ........ :· ·qp~~:t,~~6{::~~~.c.J~~-:~.4~.:\~{i~~~ç;·~N;f!:~~ :P~g~~- ·~. · ~~~~e.,~~ ;~~.~r~r~~i~. ,de :~~f~t:idade ~Y:\#~~}'~~fi. 1 ... .'P.:~Z~9.~e.s· mti_{~r~~~ '((á denipCl:~éla' que acrêcil.tava . '. A~ t~:FP~p:·que. !!-S:·tru:ef~s ha .or~ªf1Ji}!Ç~9;~~gr·~ ·tt\r~gt.~q,ç~.:.çó~~~qtiêrt~i~ ·a:61ii;JJã~id~s.óci~i~ ... ~ .... ··-··'<#~f~~~)i~4~~:-ee~o·--«·d~l;.er~~cifi~íais>>~.:Urija·· '•: · ..:: · · j. ." • · __ · :ottÇõ.CrãÇiã~ãs~~mêlha:;se a illriãpitâmid.e--ci:>nr:.- . ·A.·élt~w~~~~'~!·~f~li~"·· . . .. ·. ~~~~{~r~~;~~{-~Í~!~ D~e:_ ~~qrd() cbtp,. Web~r, ·. :~ç_4a~ ~s org~i .. ?:açõe~ dqt.dg~ :~ :pase e torn:t. pó~síve~ i c~ptder~9~8 ·: . --: .. erri.;gíihd6:~calá:.têri,dêili'}(~t~ !fatt:iteZ'a buro- · ·das .to.i,nada,s de decisão. cOada funCionário de • . ··.··i~f~j~i~t·l~ri~df\i·-·~.~~~~~~!Epe~.~tof~.0t!s:' Hav~~·.:P.9Í' ~~y,111plo~ ~w·f#ti~ioílalismo burocrá- 2. ú regúlariú:nto esçrito governa a condtita dos ' · ·tiEo·.n.~·'Ç}?.Jij~i.ff1p:~i~~.·Fê~p9.ns~v~l·pel~·ge.ne~ali- . · funcionirios' .em -todos os níveis da o~gablza- · ''" ' ' . • ••• • • •• "• ou ••• •• ~ -- • • • • < • A- ' ~--··----... -·--··-·--.. ---·~---····---· --····--- ..... ··--·--· ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 889 ----- -----·-··.-------,-··----·-···' '. ' ....... , .......... , .... - .. 890 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS ·:'-i!J'HCJ.J.,11;P;.4CLQ:L•1rrió Q~;~it~l::::~ ;:f.tJrr~fti.é:P:.tJ~§"i!~tit:tq$· ':2f.iti~~s:.êori~úl~" · ... ,.,...' -,".·,.· :·.rf.iwi(/ri~~a- · O grupo foi capaz de desenvolver procedimen- tos informais que permitiam maiores iniciativa e responsabilidade do que as conferidas pelas regras formais da organização. As re<ies informais tendem a desenvolver-se a I todos os níveis das organizações. Os laços e as rela- ções pessoais poderão revelar-se mais importantes para a estrutura real do poder do que as situações formais no âmbito das quais as decisões são supos- tamente remadas - mesmo nos cargos de topo das organizações. Veja-se, por exemplo, o caso das reuni- ões entre a administração e os accionistas, durante as quais, supostamente, se determinam as políticas das empresas. Na prática, e com frequência, são s6 alguns dos membros da administração quem gere a empresa, tomando as suas decisões de um modo informal e esperando que os restaures as aprovem. As redes informais deste tipo podem também estender- -se a diferentes organizações. Os administradores de diferentes empresas consultam-se frequentemente entre si, de um modo informal, e podem pertencer aos mesmos clubes ou associações de lazer. Para John Meyer e Brian Rowan ( 1977), as r~g_~as e os procedimentos formais' das organizações estão, habitualmente, muito distantes das práticas real- mente adoptadas pelos seus membros. Na sua pers- . pectiva, as regras formais são geralmente «mitos» que as pessoas professam, mas que têm muito pouca substância na realidade. Elas servem para legitimar - e justificar - o modo como as tarefas são leva- das a cabo, muito embora este «modo de fazer as coisas» possa divergir enormemente do modo como as coisas «devem supostamente ser feitas» à luz das regras estabelecidas. -·~--· ... ~~--.- ~·- .. ·~- ··-··· ........ ~ ... ~- .. ------------------···- I : ., -- ' .. ----- No mundo empresarial e noutras organizações, as redes infor- mais são criadas pelos indivíduos que se juntam durante as horas de trabalho ou fora delas. Meyer e Rowan assinalam que os procedimen- tos formais ·t:êm -geralmente. um carácter cerimo- nioso ou ritual. As pessoas simulam a adesão a estes procedimentos para poderem continuar a fazer o seu trabalho, enquanto usam procedimentos mais informais. Por exemplo, as regras que governam os procedimentos de vigilância num hospital justifi- cam o modo como as enfermeiras reagem face aos pacientes: a enfermeira irá fielmente preencher o processo do paciente e pendurá-lo aos pés da cama do mesmo; mas a enfermeira também irá confir- mar qual é o progresso do paciente de acordo com outros critérios informais - se a pessoa apresenta --------------··-·-······-······' ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 891 um bom aspecto e se parece atenta ou desperta. 0 cumprimento rigoroso do processo clínico pode impressionar o paciente e satisfazer os médicos, mas nem sempre é essencial para a avaliação do estadodo paciente pela enfermeira. Saber até que ponto os procedimentos informais são úteis ou constituem obstáculos à eficácia das organizações não é uma questão simples. Os sistemas que se assemelham ao tipo ideal de Weber tendem a originar um vasto número de formas não oficiais de agir. Isto acontece, em parte, porque a flexibilidade inexistente pode ser adquirida através de ajustamen- tos não oficiais das regras formais. Para aqueles que desempenham funções insípidas, os modos infor- mais de actuar podem ajudar a criar um ambiente de trabalho mais agradável. As relações informais entre funcionários que ocupam cargos superiores podem ser eficazes e contribuir para a organização no seu todo. Por outro lado, estes funcionários podem estar mais preocupados em subir na carreira, ou proteger os seus próprios interesses, do que com o futuro da organização. As disfunções da burocracia Robert Merton, um sociólogo de orientação funcio- nalista, analisou o tipo ideal de burocracia de Weber e concluiu que vários elementos inerentes à mesma podiam levar a consequências prejudiciais para o funcionamento da própria burocracia (Merton, 1957). Merton referiu-se-lhes como «disfunções da burocracia». > > Para mais infórma,'()l'S sobre o ruuciona· ismo, ver o C;tpí t ulo I, •:<,() quc~ê a Wct()[o: gia?·· e o C:apíwlo .), <s'l(:ori.t~ e pcrspccriv,ts cm sociologia,,. Em primeiro lugar, Merton sublinhou que os burocratas são treinados pafa confiar unicamente nas regras e nos procedimentos escritos. Neste sentido, não são encorajados a ser flexíveis, a usar as ·~ 892 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS suas próprias capacidades de raciocínio nas tomadas de decisão ou a procurar soluções criativas; a buro- cracia trata da gestão de casos de acordo com um conjunto de critér.ios objectivos. Merton receava que esta rigidez pudesse levar ao ritualismo burocrático, siwação em que as n.:gras são protegidas a rodo o custo, mesmo em casos cm que outra situação pode- ria ser mais benéfica para a organização no seu todo. Uma segunda preocupação de Merton é a de a adesão às regras burocráticas poder eventualmente assumir-se como prioridade face aos objectivos subjacentes à organização. Dada a grande ênfase colocada no procedimento correcto, é possível perder de vista o que realmente interessa. Um buro- crata responsável pelo processamento de apólices de seguros pode, por exemplo, recusar compensar um segurado por danos legítimos, evocando a ausência de um formulário ou o preenchimento incorrecto do mesmo. Por outras palavras, o processamento correcto do pedido poderá ser assumido como uma prioridade perante as necessidades do cliente que sofreu uma perda. Merton previu, em casos como este, a possibili- dade da existência de uma tensão entre o público e a burocracia. Esta preocupação não era inteiramente infundada. A maioria de nós relaciona-se regular- mente com grandes burocracias - desde o Serviço Nacional de Saúde e as autoridades cam<mÍ.rias às autoridades fiscais. Debatemo-nos não ra~as vezes com situações em que os funcionários públicos e os burocratas parecem não estar preocupados com as nossas necessidades. Uma das maiores fraquezas da burocracia reside na dificuldade que tem em lidar com casos que exigem uma consideração e um trata- mento especiais. As organizações enquanto sistemas mecanicistas e orgânicos Os procedimentos burocráticos podem ser aplica- dos de modo efectivo a todos os tipos de trabalho? Alguns estudiosos sugeriram que a burocracia faz sentido para desenvolver tare6ls rotineiras, mas pode ser problemática cm contextos em que as exigências do trabalho mudem de forma imprevisível. Na sua pesquisa sobre a inovação e a mudança nas compa- nhias de electrónica, Tom Burns e G. M. Sralker ( 1996) constatar;un que as burocracias eram de eficácia limitada em indústrias onde a flexibilidade e a inovação são preocupações primordiais. Burns e Stalker distinguiram dois tipos de orga- nizações: mecânicas c orgânicas. As organizações mecânicas são sistemas burocráticos em que existe uma cadeia hierárquica de comando, com a comu- nicação a fluir num sentido vertical através de canais específicos. Os empregados são responsáveis por uma tarefa particular; assim que a tarefl está concluída, a responsabilidade passa para o empregado seguinte. O trabalho no seio deste sistema é anónimo, com as pessoas «no topo» e «na base» a comunicarem muito raramente entre si. As organizações orgânicas, pelo contrário, caracterizam-se por possuírem uma estrutura mais flexível na qual os objectivos gerais da organização assumem a primazia sobre as responsabilidades defi- nidas de modo estreito. Os fluxos de comunicação e as «directivas» são mais difusas, movendo-se em muitas trajectórias e não apenas em trajectórias verti- cais. Considera-se que todos os que estão envolvidos na organização possuem um conhecimento legítimo e contributos que podem ser utilizados para a reso- lução de problemas; as decisões não são um domínio exclusivo do «topo». De acordo com Burns e Stalker, as organi- zações orgânicas estão muito melhor equipadas para lidar com as exigências em mudança de um mercado inovador, como o das telecomunicações, o do sfl/Jware .de cort1putadores ou o da biotecno- logia. A estrutura interna mais fluida traduz-se em respostas mais rápidas e mais apropriadas a mudan- ças no mercado e na criação de soluções mais cria- tivas e céleres. As organizações mecânicas são mais adequadas a formas tradicionais e estáveis de produ- ções menos susceptíveis às mudanças no mercado. ' ' ·~ Embora tenha sido publicado há mais de 30 anos, este estudo é muito relevante para as discussões actu- ais sobre a mudança organizacional. Burns e Stalker anteciparam muitos dos assuntos que tomaram um lugar central nos debates recentes sobre a globaliza- ção, a especializado, a flexibilizacão e a desburocra- ' ' tização. A burocracia contra a democracia? Mesmo em países democráticos, as organizações governamentais detêm quantidades enormes de informações a nosso respeito, desde os registos de nascimento, escolares c profissionais, passando pelos registos de rendimento usados no pagamentos de impostos, até às informações utilizadas para emitir cartas de condução ou cartões de beneficiário da segurança social. Uma vez que nem sempre sabemos qual é a informação an~1azenada sobre nós, e quais são os organismos que a detêm, algumas pessoas temem que tais formas de vigilância possam comprometer os princípios democráticos. Tais medos perpassam o famoso romance de George Orwell intitulado 1984, no qual o Estado- designado como «Big Brother» - exerce uma vigilância sobre os seus cidadãos de molde a suprimir as críticas internas e as diferenças de opinião usuais em qualquer democracia. Algumas propostas, como a introdução de cartões de identidade em alguns países, feitas com o intuito de combater o terrorismo global e proteger os cidadãos contra o roubo de identidade, têm susci- tado. as preocupações acima referidas. Tais cartões contêm, habitualmente, a fotografia do detentor, os seus nome, morada, sexo e data de nascimento, mas actualmente também um microchip onde estão regis- ta~as informações biométricas como as impressões digitais, a imagem da íris ou as dimensões faciais. Os críticos destes meios de identificação têm expri- mido preocupações relativamente ao facto de as bases de dados nacionais - que contêm informação sobre a identidade dos cidadãos -, não serem segu- ras e constituírem uma ameaça aos direitos indivi- ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 893 duais à privacidade e à não-discriminação. Aqueles que apoiam a emissão destes cartões de identidade argumentam que alguns tipos de vigilância podem, de facto, proteger alguns princípios democráticos, na medida em que permitem uma maior vigilância daqueles que pretendem pô-los em causa.Pensar de um modo crítico Reflicta sobre alguma das vezes em que teve de lidar com o sistema burocrático - por exem- plo, o serviço nacional de saúde, uma repar- tição dos serviços de segurança social ou um organismo governamental - e f.'lça uma lista de todos os aspectos neg,ttivos desse episódio. Ficou satisfeito com o modo como os funcio- nários comunicaram consigo? Considera que se tratou de um processo eficiente? De seguida, enumere todos os aspectos positi- vos do mesmo episódio. Acha que o carácter relativamente formal e regulamentado das burocracias é a única forma possível de lidar com um grande número de pessoas? De que modo entende que os sistemas burocráticos poderiam ser melhorados, de acordo com a sua própria experiência? Robert Michels ( 1967), um aluno de Weber, inventou uma expressão para se referir à perda de poder da base para o topo que se tornou famosa desde então. Segundo o autor, nas grandes organi- zações, e de uma forma geral nas sociedades domi- nadas por organizações, existe uma lei de ferro da oligarquia- <.Juerendo c9m «oligarquia» significar «governo de poucos». De acordo com Michels, a transferência do poder para o topo é simplesmente inevitável num mundo cada vez mais burocratizado -daí a expressão «lei de ferro». Será que Michels tinha razão? É certamente correcto dizer que as grandes organizações envol- ~.· 894 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS vem a centralização do poder. No entanto, existem boas razões para supor que a «lei de ferro da oligar- quia» não é tão dura nem tão célere quanto Michels supunha. As relações entre oligarquia c centraliza- ção burocrática são mais ambíguas do que Michels admitia. Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que a desigualdade de poder não é, como Michels sugere, apenas urna característica que advém do tamanho das organizações. Em grupos mais pequenos também podem existir diferenças de poder muito marcantes. Por exemplo, em pequenos negócios, onde as activi- dades dos funcionários são muito mais visíveis para os empregadores, pode existir um controlo mais apertado do que em grandes escritórios c organiza- ções. De facto, as relações de poder tornam-se menos rígidas à medida que as organizações aumentam de dimensão. Aqueles que se encontram em posições intermédias, e na base, podem ter pouca influência sobre as decisões tomadas no topo. Mas, por outro lado, devido à especialização de funções e às compe- tências envolvidas na burocracia, os indivíduos que se encontram no topo podem perder o controlo sobre muitas decisões administrativas realizadas por aqueles que ocupam cargos de base. ·,. ~ -•r•. • :,:: ' . '~..:. .: ~. ,'.:. . i \ ' l ': ' -.·····~·~•·'"' ___ ...... ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 895 :;:7>fl. < • ~·. ____________ . ____ ., ........ . 896 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS Em muitas organizações modernas, o poder decisório é também delegado de modo frequente c abertamente num sentido descendente, isto é, de superiores para subordinados. Em muitas das gran- des empresas, os administradores estão tão ocupados a coordenar diferentes departamentos, a lidar com crises ou a analisar orçamentos e quadros estatísticos l1Ue têm muito pouco tempo para ter pensamentos originais. Os administradores delegam questões relativas à definição das políticas da empresa a subordinados, cuja função é o desenvolvimento de propostas. l'v[uiros líderes de companhias assumem muito francamente que, na maior parte das situa- ções, se limitam a aceitar as conclusões que lhes são apresentadas. !;rn~tru:a Catbett: Ditectot Malvado de 1-1. R. T Bmos tBgistos das tuas ,; r;;:,. ===========::::.':"l chamadas, das cotululhul ; .. ~ ~ contta a nossa ~olítíca Walfy, a Bfll~tB!la gabB tudo !lobte ti da fntetMt e de todos os ~ rnatat m: nossos funcionátio!! teus e-msí/!1. T amos tarnbérn i B substituí-1m: ~ot irnitadotBS o teu teste ds utina, as tuas ~ mal ~agos. Mas gostávamos notas da escola, o tau salá- i quB soubessss quB \ tio, B os tsus contactos g isso é ~ossível ... farniliate!l... I .. LL~~~==~~~~~~-=-~----~~i~~~~~• O espaço físico das organizações A maioria das organizações modernas funciona em espaços físicos especificamente concebidos para o efeito. O edifício onde se aloja uma determinada organização tem características próprias relevantes para a sua actividade, mas partilha também carac- terísticas arquitectónicas importantes com os edifí- cios de outras organizações. A arquitectura de um hospital, por exemplo, é em certos aspectos diferente da arquitectura de uma empresa ou de uma escola. No hospital existem enfermarias separadas, consul- tórios, salas de espera e gabinetes que dão ao edifí- cio um aspecto próprio, enquanto uma escola tem salas de aula, laboratórios e recintos desporrivos. Há, no entanto, uma semelhança genérica: ambos terão provavelmente um grande número de corre- dores com portas de acesso e uma decoração e um -----------···------------·---·-··. mobiliários estandardizados. Com excepção das diferenças no vestuário das pessoas que se movimen- tam pelos corredores, os edifícios onde as organiza- ções modernas normalmente se instalam têm uma certa semelhança entre si. E são geralmente muito semelhantes quer do ponto de vista interior, quer do ponto de vista exterior. Não é pouco habitual passar- mos por um edifício e perguntarmo-nos: «aquilo é uma escola?»; e receber como resposta: «não, é um hospital». As organizações e o controlo do tempo e do espaço Michel Foucault (1971, 1978) mostrou que a arqui- tectura de uma organização está directamente impli- cada na ordenação social e no sistema de autoridade. O seu trabalho demonstrou que através do escudo ' . ' ' i . I . .. ' ' ~ ( ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 897 .] ! . ~· I ! ~ -, I. A organização física deste espaço onde trabalhavam dactilógrafas nos anos 40 do século XX resulta na disposição destas trabalhado- ras de molde a mantê-las sob uma vigilância apertada. Nas organizações modernas a vigilância assume novas formas. das características físicas das organizações podemos observar de outro ângulo os problemas analisados por Weber. Os escritórios que Weber discutiu de forma abstracta são também esoacos arauitectóni-• ' . cos - divisões separadas por corredores. Por vezes, os edifícios de grandes firmas estão estruturados fisicamente de forma hierc'trquica, de modo a que quanto mais elevada for a posição do indivíduo na hierarquia da autoridade, mais próximo do topo esteja o seu gabinete; a expressão «o último andar» _______________________ ....... . é por vezes usada para designar aqueles que detêm o máximo poder na organização. A geografia de uma organizé!Çáo afecta de diver- sas formas g seu funcionamento, especialmente quando assenta em gran~e medida cm relações informais. A proximidade física facilita a formação de grupos primários, ao passo que a distância física pode incrementar a polarização dos grupos - uma atitude de contraposição entre «nÓs» c «eles» no relacionamento interdepartamental. 898 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS A vigilância nas organizações A disposição das salas, dos corredores e dos espaços abertos dos edifícios de uma organização pode forne- cer pistas básicas sobre o modo como o seu sistema de autoridade funciona. Em algumas organizações, há grupos de pessoas que trabalham colectivamente em espaços abertos. Dada a natureza monótona e repetitiva de determinados tipos de trabalho indus- triais, como o das linhas de montagem, é necessária uma supervisão regular para assegurar o ritmo de trabalho. O mesmo se aplica ao trabalho de rotina dos operadores de cal! centres, os quais, muitas vezes, têm as suas chamadas e tarefas monitorizadas pelos supervisores. Foucault enfatizou a forma como a visibilidade, ou a sua ausência, nas estruturas arqui- tectónicas modernas influenciae imprime padrões de autoridade. O nível de visibilidade determina a facilidade com que os subordinados podem ser sujeitos àquilo a que Foucault chama vigilância, ou supervisão das actividades no seio das organizações. Nas organizações modernas, todos, mesmo aqueles que estão em posições de autoridade relativamente elevadas, estão sujeitos a vigilância; mas, quanto mais baixo for o cargo de um indivíduo, mais o seu trabalho tende a ser fiscalizado. A vigilância assume várias formas. pma é a supervisão directa do trabalho dos subordinados por parte dos seus superiores. Tome-se o exemplo de uma ·sala de aula. Os alunos sentam-se nas carteiras, geralmente dispostas em filas, todos eles à vista do professor. Supostamente, as crianças devem estar atentas ou então concentradas nos seus deveres. Naturalmente, se isto realmente acontece na prática depende da capacidade do professor e da di$posi- ção dos alunos para corresponderem ao que deles se espera. Um segundo tipo de vigilância é mais subtil, mas igualmente importante. Consiste em manter arqui- «Üs sensores indicam que o cubículo n.0 2 está ocupado há mais de 18 minutos. Necessita de ajuda?» vos, registos e o historial do indivíduo. Weber assina- lou a importância dos registos escritos (hoje em diiJ. predominantemente informatizados) para as organi- zações modernas, embora não tenha explorado devi- damente o modo como eles podem ser usados para regular o comportamento. Os ficheiros dos funcio- nários fornecem todo o seu historial, registam dados pessoais e fazem muitas vezes juízos de carácter. Estes registos são usados para fiscalizar o compor- tamento dos funcionários e ponderar hipotéticas promoções. Em muitas empresas, os indivíduos em cada nível hierárquico apresentam relatórios anuais acerca do desempenho daqueles que se encontram no nível imediatamente inferior. As classificações escolares e os diplomas constituem outros exemplos de fomes usadas para avaliar o desempenho de cada indivíduo à medida que ele avança na organização. Isto aplica-se também ao corpo docente. Por último, existe também a autovigilância. Neste caso, o pressuposto de que alguém pode estar a vigiar as nossas actividades poderá limitar e alte· raro comportamento que se tem. Pense no exemplo acima referido do operador de call centre. O opera- ''i . ' ' ..... _ .... -.: . ! • ! ., .! ~ dor não tem nenhuma forma de saber se as suas chamadas estão a ser monitorizadas, ou a frequência com que os supervisores ouvem as suas chamadas telefónicas. Contudo, os operadores podem pressu- por que estão sob vigilância e manter as suas chama- das curtas, eficientes c formais, de acordo com as directrizes da empresa. ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 899 Pensar de um modo crítico Reflicta sobre a sua experiência na escola, em locais de trabalho e noutros locais públi- cos. De que modo estão estes locais a ser sujeitos a formas de vigilância? ~e tipo de vigilância esd a ser introduzida em cada um destes locais? ~e razões levarão as pessoas a acolher um aumento de vigilância? ~is os aspectos positivos decorrentes da vigilância crescente? ~~ Estudos clássicos 18.2 • ' ,. • •~ • • "•''" '' -..wo~,_,,,.,, '" -•,':'" '," ,· •v·:"~··.~•••• : ::;\M~~~~~)~~.~~~~~~i.~:::~~n~,ptico e à :Y~9:~_i.~~ci·a. · ·· ::\· :. : ... :.''c·:~>~ _j~ ~~;,::~.:l.·T:< :~:-·: - .: .. ·: . ·: 'I , .. : w ••• :. • ~ ---------------·--·----·-·---........ . ,. 900 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS '~ •• : ',,., • • "• •' ' ' ' 'q' : ~ ·. ~~iW4if~;i:1~~~~~i\~-~~ t:afri tra ós-:sêmêlllâfit"di:'aós-.·do ·,Pah&<'liC&~·;I? 't: <l =~~~~íi~~/~~\i.~~~~~~~#t~tlt~~\(''1 '. ·J?ió;fl~ :-·--------··--------·· ·--····· ----- .... ·- ...... ····--·--·-···------- ·-·-··-.. ·--- ..... --- .... __ .. ___________ _ ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 901 ' ,. . também g~rpt1. :q,s Jjl~sili.q~ A~ç~F()J:it~htamell,~o~, . ~~l~~i~t~~~~~i~~~:!~ . dàs soclediá~s."c:bifníD.'istis de ~s~llà sovi~tico: ' ... ·~,:~ .•. :.~\·,.·,.··: - ~·· .·. ~:.·~··· -·;<. . 902 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS As organizações não conseguem operar eficien- temente se o trabalho dos funcionários for deixado ao acaso. Como salientou Weber, nas empresas espera-se que as pessoas trabalhem um número regu- lar de horas por dia. As suas actividades têm de ser bem coordenadas no tempo e no espaço, algo que só se consegue através tanto da disposição física das organizações como da calendarização precisa forne- cida por horários detalhados. Os horários laborais regulam as actividades no tempo e no espaço - nas palavras de Foucault, «distribuem eficientemente os corpos» pela organização. Os horários são uma condição da disciplina organizacional, pois articu- lam as actividades de um grande número de indiví- duos. Se uma universidade não tivesse um horário rigoroso que gerisse as suas salas de aulas, por exem- plo, rapidamente entraria em colapso e num caos completo. Um horário torna possível o uso intensivo do tempo e do espaço: cada horário pode ser preen- chido por muitas pessoas e muitas actividades. Organizações transnacionais Pela primeira vez na história, as organizações tornaram-se verdadeiramente globais na sua escala. As tecnologias da informação e da comunicação tornaram as fronteiras nacionais insignificantes, uma vez que estas já não conseguem conter activi- dades-chave no âmbito da economia, da cultura e do ambiente. Como consequência, espera-se que as organizações internacionais continuem a crescer em número e imporÍ:ânci~, tÓrnan'do-se algo previ- sível e estável num mundo em que os Estados-nação deixaram de ser os actores poderosos que eram no passado. Assim sendo, os sociólogos estudam as organiza- ções internacionais de modo a perceberem melhor como é possível a criação de instituições que atraves- sam as fronteiras nacionais, e quais serão os seus efei- tos. Alguns sociólogps chegam mesmo a argumentar que as organizações globais irão contribuir para que os países se assemelhem uns aos outros (Thomas, 1987; Scott e Meyer, 1994; McNeely, 1995). Porém, as organizações internacionais não são novas. As organizações destinadas à regulação do comércio entre diferentes países, por exemplo, exis- tiram ao longo de séculos. Uma dessas organizações foi a Liga Hanseática, uma aliança comercial alemã entre mercadores e cidades que dominou o comér- cio no mar do Norte e no mar Báltico desde meados do século XIII até meados do século XVII. Mas só após a criação da Sociedade das Nações, em 1919, mau grado a sua curta duração, é que se formaram organizações globais com elaboradas burocracias e juntando como membros nações de todo o Mundo. As Nações Unidas, organização criada em 1945, é porventura o exemplo moderno mais significativo de uma organização global. Os sociólogos dividem as organizações interna- cionais em dois tipos: as organizações governamen- tais internacionais abrangem os governos nacio- nais, enquanto as organizações internacionais não governamentais abrangem as organizações privada,s, Iremos abordar separadamente cada um destes tipos. Organizações governamentais internacionais O primeiro tipo de organização global é a organi- zação intergovernamental internacional (OGI)S, um tipo de organização internacional estabelecida através de tratados entre governos com o intuito de estabelecer relações regulares entre os países- .... -membros. Estas organizaÇões emergiram p~;·~oti vos de segurança nacional- tanto a Liga das Nações como as Nações Unidas foram criadas depois de guerras mundiais extremamente destrutivas -, com o fito de regulamentar o comércio - por exemplo, a Organização Mundial do Comércio -, por ""'v'"~----~· de bem-estar social e direitos humanos, e, crescente- mente, por razões de conservação ambiental. 5 No original: international governmental organization (IGO). ----·-·-.. ----····----··-----·-· -----·----·--·--- ............ -· ... ""'"" """"" ................... . Actualmente, algumas das organizações gover- '-- namentais internacionais mais·poderosas foram cria- das para unificar economias nacionais em blocos de comércio poderosos e amplos. Uma das mais avança- das é a União Europeia (UE), cujas regras têm gover- nado, desde Maio de 2004, 25 Estados-membros europeus. A União Europeia foi formada para criar uma única economia europeia na qual os negócios pudessem ser conduzidos livremente entre frontei- ras, em busca de mercados, e para que o trabalho e os trabalhadores se pudessem mover livremente em busca de empregos. Os Estados-membros da União Europeia possuem políticas económicas comuns e, desde 2002, 12 deles partilham uma moeda única (o euro). Contudo, nem todos os europeus vêem com bons olhos este desenvolvimento, argumentando que os países-membros irão eventualmente delegar a maior parte das suas decisões em matéria de política económica na União Europeia. As organizações governamentais internacionais podem possuir um poder militar considerável, se os seus Estados-membros assim o quiserem. Por exem- plo, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e as Nações Unidas usaram o poderio mili- tar dos seus membros contra o Iraque na primeira Guerra do Golfo em 1991, e no Kosovo, integrado na antiga Jugoslávia, em 1999. Contudo, uma vez que cabe às nações, em última instância, controlar o uso da sua força militar, existem limites à autoridade das organizaç?~~ __ governamentais internacionais militares mais poderosas, cuja força deriva da parti- cipação voluntária dos Estados-membros. ~ndo confrontados com violentos conflitos civis como, por exemplo, na Bósnia e em países africanos como a Somália, o Ruand·a e a região do Darfur, no Sudão, os esforços das forças de paz das Nações Unidas revelaram-se amplamente ineficientes. Na maioria dos casos, as organizações governa- mentais internacionais tendem a reflectir frequen- temente as desigualdades de poder no seio dos - ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 903 seus países-membros. Por e-9Cemplo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas é responsável por manter a segurança e a paz internacionais; como tal, é a organização mais poderosa no interior das Nações Unidas. Os seus cinco membros permanen- tes incluem a Grã-Bretanha, os Estados Unidos da América, a China, a França e a Rússia, o que concede a estes países um controlo significativo sobre as acções levadas a cabo pelo Conselho de Segurança. Os restantes dez países são eleitos pela Assembleia Geral das Nações Unidas para mandatos de dois anos, o que faz com que tenham menos poder contí- nuo do que os membros permanentes. No início do século XX existiam no mundo apenas cerca de 36 organizações governamen- tais internacionais, muito embora a informação disponível à época não seja inteiramente fiáveL Em 1981, quando foram adoptados critérios de recolha de informação consistentes, existiam 1039 organizações governamentais internacionais e, em 2006, existiam cerca de 7350, algumas das quais já não estão em actividade (Union of Inrernational Organizations, 2007). Organizações não-governamentais internacionais O segundo tipo de organização global é a organiza- ção não-governamental int&-nacional (ONG). As organizações não-governamentais internacionais são estabelecidas através de acordos entre os indivíduos e as organizações privadas que compõem o conjunto dos seus membros. Alguns exemplo~ incluem a Associação Internacional de Sociologia, o Conselho Internacional das Mulheres e o grupo ambientalista Greenpeace. Tal como sucedeu com as organizações governamentais internacionais, o número de organi- zações internacionais não-governamentais cresceu exponencialmente nos últimos anos - passaram de pouco mais de 200, no começo do século XX, para ·_, 904 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS cerca de 15 000 nos anos 90 do século XX (Union of International Associations, 1996-1997). Em 2006 existiam cerca de 51 509 organizações internacio- nais não-governamentais, muito embora cerca de um terço se encontrassem aparentemente inactivas (Union ofinternational Organizations, 2006). De um modo geral, as organizações internacio- nais não-governamentais estão interessadas prima- riamente em promover os interesses globais dos seus membros, seja através de influências junto das Nações Unidas ou através de outras organizações internacionais não-governamentais e de governos nacionais. As organizações internacionais não- -governamentais também promovem a investigação, a educação e a difusão de informação por meio de conferências internacionais, encontros e jornais especializados. As organizações internacionais não- -governamentais têm tido sucesso em influenciar as políticas de nações poderosas. Uma das mais proeminentes (e bem sucedidas) organizações internacionais não-governamentais é a Campanha Internacional para a Eliminação de Minas. A campanha, juntamente com a sua funda- dora, Jody Williams, receberam o Prémio Nobel da Paz em 1997 pelo seu sucesso em convencer a maio- ria dos países do Mundo a assinar um tratado desti- nado a banir o uso devastador de minas anti~pessoal. O comité do Prémio Nobel elogiou a campanha por ter conseguido transformar «Uma ideia numa reali~ dade exequível», e acrescentou que «este trabalho transformou~se num exemplo convincente de uma política efectiva para a paz que pode ser absolu~ tamente decisiva no esforço internacional para o desarmamento» (ICBL, 2011). A Campanha Internacional para a Eliminação de Minas reúne mais de 1000 outras organizações internacionais não~governamentais sediadas em 60 países. Em conjunto, têm despertado a opinião pública para os perigos que representam para os civis os mais de 100 milhões de minas anti-pessoal - herança mortal de guerras anteriores travadas na Europa, na Ásia e em África. Estas minas não são como outras armas, pois podem permanecer activas durante muitas décadas depois das guerras, aterro- rizando e encurralando populações inteiras. Por exemplo, no Camboja, as terras férteis foram mina- das, ameaçando de fome os agricultores, os quais não estão dispostos a levar a cabo acções que os possam d I I ' \ f: '[' \ con enar a e es propnos e as suas amt tas a morte. Os esforços da Campanha Internacional para a Eliminação de Minas conduziram à assinatura de um tratado que baniu o uso, a produção, o arma- zenamento e a manipulação de minas anti~pessoal. O tratado foi assinado por 1 50 países e tornou-se lei internacional em Março de 1999. Muito embora sejam muito mais numerosas do que as organizações governamentais internacio- nais, e tenham obtido algum sucesso, as organiza- ções não-governamentais internacionais têm muito menos influência, pois o poder legal (incluindo a acção executiva) está, em última instância, nas mãos dos governos. Por exemplo, no âmbito das acções empreendidas para banir o uso de minas anti~pessoal, e pese embora o facto de quase todas as grandes potências do Mundo terem assinado o tratado, os EUA recusaram-se a fazê-lo, invocando preocupa- ções de segurança na Coreia, assim como a Rússia. Contudo, algumas organizações internacionais não governamentais, como a Amnistia Internacional e o movimento Greenpeace, conseguiram alcançar uma influência considerável. Organizações económicas As sociedades modernas são, na definição de Marx, capitalistas. O capitalismo é uma forma de orga- nização da vida económica que se distingue por possuir as características seguintes: posse.Rçivada dos meios de produÇâo; lucro como motoreé:onó- mico; liberalização da concorrência e dos mercados na compra e venda de mercadorias, na aquisição de matérias-primas baratas e na utilização de trabalho mal remunerado; e uma expansão e um investimento incansáveis na acumulação de capital. O capitalismo, _______ ..., _______ ,.,. ____ 000---n-----··-····-········~··-· .. ·-·--·--·······-······~··-- 0000 M 00 que começou a expandir-se no começo do século XIX com o crescimento da Revolução Industrial, é um sistema económico muito mais dinâmico do que qualquer outro que o tenha precedido histori- camente. Muito embora o sistema capitalista tenha tido muitos críticos, como Marx, é actualmente a forma de organização económica mais difundida em todo o Mundo. Ao longo deste capítulo, olhámos para o trabalho do ponto de vista das ocupações e dos empregados. Estudámos os padrões de trabalho e os factores que influenciam o desenvolvimento de sindicatos. Agora iremos tratar de analisar a natureza das firmas onde a mão-de-obra se encontra empregada. (Contudo, deve reconhecer-se que muitas pessoas estão actu- almente empregadas em organizações governamen- tais, embora não as contemplemos neste capítulo.) O que está a acontecer actualmente nas empresas? E como é que elas são geridas? Empresas e poder empresarial Desde a viragem do século XX, as economias capita- listas modernas têm sido crescentemente influencia- das pelo advento de grandes empresas. Um inqué- rito recente, levando a cabo junto das 200 maiores empresas do ranking mundial, mostrou que as vendas combinadas dessas empresas cresceram, entre 1983 e 1999, do equivalente a 25 para 27,5% do PIB mundial. Durante o mesmo período, os lucros destas empresas cresceram 362,4%, enquanto o número de pessoas .que .trabalhavam nelas aumentou somente 14,4% (Anderson e Cavanagh, 2000). É verdade que ainda existem na economia britâ- nica centenas de pequenas e médias empresas. Nessas empresas, a imagem do empresário- o chefe que é o proprietário e o gerente da empresa -Í'Íão é de todo obsoleta. As grandes empresas são algo diferente. A ideia de que a maioria das grandes empresas não é gerida pelos seus proprietários é aceite desde que AdolfBerle e Gardiner Means publicaram, nos anos 30 do século XX, o seu estudo muito celebrado ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 905 The 1\tfodern Corporation anel Private Property (Berle e Means, 1997 [1932]). Em teoria, as gran- des empresas são propriedade dos seus accionistas, os quais têm o direito He tomar as decisões mais importantes. Porém, Bcrle e Means defenderam que, em virtude de a propriedade das acções ser tão dispersa, o controlo real passou para as mãos dos executivos que gerem as empresas no dia-a-dia. A propriedade das empresas está, portanto, separada do seu controlo. O poder das grandes empresas é imenso, sejam elas geridas pelos proprietários ou pelos adminis- tradores executivos. ~ando uma empresa ou um conjunto de empresas dominam uma determinada indústria, geralmente cooperam na fixação de preços, ao invés de competirem livremente umas com as outras. Deste modo, as empresas gigantes de petróleo seguem normalmente o preço da gasolina cobrado pelas suas concorrentes. ~ando uma determinada empresa ocupa uma posição dominante numa dada indústria, diz-se que tem uma posição de monopó- lio. A situação de oligopólio, em que há o predo- mínio por parte de um pequeno grupo de empresas gigantes, é mais comum. Em situações de oligopólio, as empresas conseguem determinar mais ou menos os termos de aquisição das mercadorias e serviços às pequenas empresas que são os seus fornecedores. Tipos de capitalismo empresarial Existiram três estádios gerais no desenvolvimento das grandes empresas, muito embora estes estádios se tenham sobreposto uns aos outros e todos conti- nuem a coexistir actualmente. O primeiro estádio, característico do século XIX e do princípio do século XX, foi designado por capitalismo familiar. · As grandes empresas eram geridas por empresários ou por membros da ·mesma família, sendo a sua propriedade transmitida posteriormente aos seus descendentes. Famosas dinastias empresariais como os Sainsbury no Reino Unido e os Rockefeller no EUA pertencem a esta categoria. Estes indivíduos ' 906 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS e famílias não são apenas detentores de grandes empresas, possuindo também interesses económicos muito diversos e situando-se no «cume» de impé- rios económicos. A grande maioria das grandes empresas forma- das por famílias empreendedoras tornou-se entre- tanto constituída por empresas cujo capital foi aberto ao público- isto é, as acções destas empresas são comercializadas no mercado livre - e passaram a ser controladas administrativamente. Mas existem aspectos importantes do capitalismo familiar que ainda permanecem, mesmo nas maiores empresas do Mundo. Tal é o caso da empresa automobilística Ford, cujo chefe executivo é William Claig Ford Jr., bisneto de Henry Ford, o fundador original da empresa6• O capitalismo familiar continua a ser predominante entre as pequenas empresas, como as lojas locais geridas pelos seus proprietários ou os pequenos negócios de canalização e pinturas. Algumas destas empresas cujas lojas permanecem nas mãos da mesma família por duas ou três gera- ções também são dinastias, mas a uma escala menor. Contudo, o sector das pequenas empresas é muito instável e o falhanço económico é bastante comum -a percentagem de empresas detidas por membros da mesma família durante longos períodos de tempo é residual. No sector das grandes empresas o capitalismo familiar foi sendo substituído pelo capitalismo de gestão. Com o crescimento das grandes empresas, os empresários passaram a ter uma influência cada vez maior, substituindo assim as grandés famílias empresariais. Este resultado tem sido descrito como a substituição da família na empresa pela própria empresa. A empresa emerge assim como uma acti- vidade económica mais definida. Num estudo sobre as 200 maiores companhias industriais dos EUA, Michael Allen (1981) descobriu que, nos casos em 6 Exewtiue chaimzan. Na Ford, os cargos de presidente c CEO (director executivo), exercidos por Ford até 2006, são detidos actualmente por um quadro sem relações com a família fundadora e accionista. que se registava uma diminuição do lucro, as empre- sas controladas por famílias eram incapazes de proce- der à substituição do director executivo, ao contrário das empresas controladas por um director-geral. Não existe nenhuma dúvida em relação à marca deixada pelo capitalismo de gestão na sociedade moderna. Na sociedade contemporânea, a grande empresa influencia tanto os padrões de consumo como a experiência de trabalho - é muito difícil imaginar quão diferente seria a vida de trabalho das pessoas nas sociedades desenvolvidas na ausên- cia de grandes fábricas e burocracias empresariais. Os sociólogos identificaram outra área na qual a grande empresa deixou a sua marca nas instituições modernas. Por capitalismo do bem-estar entende- -se a uma prática encetada no final do século XIX e que procurou orientar as grandes empresas - ao invés do Estado e dos sindicatos - _para a protec- ção primária contra as incertezas do mercado no contexto da vida moderna industrial. As grandes empresas começaram então a providenciar alguns serviços para os seus empregados, como apoios sociais às crianças, inka.-estruturas de lazer, planos de partilha dos lucros, férias pagas e seguros de vida e de desemprego. Estes programas tinham frequen- temente um tom paternalista, como sucedia quando as grandes empresas promoviam «visitas às casas» dos trabalhadores para a sua «educação moral». De um ponto de vista menos benevolente, um dos grandes objectivos do capitalismo de bem-estar foi a coerção, pois os empregadores usavam todo o tipo de táctiCas - incluindo a violência :.... para ·impedir a sindicalização dos trabalhadores. No seu estudo sobre o movimento sindical nos EUA, Sanford Jacoby ( 1997) d~fende que a histó- ria convencional indica, de um modo geral, que o capitalismo do bem-estar teve o seu ocaso dürante os anos da Grande Depressão nos anos 30 do sééúló XX, quando os sindicatos atingiram níveis de influ- ência sem precedentese a administração de Franklin Roosevelt, com o seu programa «New Deal», começou a garantir aos trabalhadores muitos dos benefícios dados pelas empresas. Contrariamente a esta interpretação corrente, Jacoby argumenta que o capitalismo do bcm-estar não desapareceu, mas adoptou uma posição clandestina durante o apogeu do movimento sindical. Nas grandes empresas que evitavam a sindicalização, durante os anos 30 e 60 do século XX - como as companhias americanas Kodak, Sears e Thompson -, o capitalismo do bem- -estar foi modernizado, ocultando os seus aspectos mais paternalistas enquanto tornava rotineiros os programas de benefícios aos trabalhadores. ~ando o movimento sindical começou a perder a sua força, ao longo dos anos 1970, estas empresas tornaram-se um modelo para as suas congéneres, pois eram capa- zes agora de se afirmar perante sindicatos enfraque- cidos, reafirmando desta forma o papel da empresa enquanto «domínio industrial»7• Apesar da influência esmagadora do capitalismo gestionário sobre a economia moderna, para muitos estudiosos estão agora a emergir os contornos de uma terceira fase na evolução das grandes empre- sas. Esses estudiosos argumentam que o capitalismo de gestão monopolista está actualmente a dar lugar ao capitalismo institucional. Entende-se por esta designação a emergência de uma rede consolidada de lideranças empresariais que se ocupa não apenas da tomada de decisões numa ·única empresa, mas também do desenvolvimento do poder empresarial para além dos seus limites habituais. O capitalismo institucional assenta na partilha de acções entre várias empresas. Em virtude disto, agregados arti- culados de-ex~eut:i-v:os--exercem um controlo muito para além da paisagem empres~rial. Isto faz com que o processo de controlo crescente de cada empresa pelos seus gestores seja revertido, pois o peso do seu portefólio de acções é anulado pelo dos grandes blocos de acções detidos por outras empresas. Uma • 7 Nota do revisor cientifico: no original, ind11strial manor. E uma referência ao sistema dominial (agrícola) próprio de grande parte da Europa medieval e de Antigo Regime, que implicava um enorme controlo do senhor sobre o trabalho, o rendimento e os produtores agrícolas. ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 907 das principais razões para a expansão do capitalismo institucional reside na mudança dos padrões de investimento ocorrida nos últimos 30 anos. Em vez de investirem directamente num dado negócio atra- vés da compra de acções, actualmente os indivíduos investe~ no mercado monetário, em organizações de gestão de bens ou propriedades ou em fundos de pensões e seguros controlados por grandes organiza- ções financeiras, as quais, por sua vez, investem estes valores agrupados em grandes empresas. As empresas transnacionais Com a intensificação da globalização, a maior parte das grandes empresas opera actualmente no contexto económico internacional. ~ando as grandes empresas estabelecem filiais em dois ou mais países, são designadas como multinacionais ou empresas transnacionais. A designação «transna- cional » é geralmente preferida de modo a indicar que estas empresas operam independentemente das fronteiras nacionais. As maiores empresas transnacionais são gigan- tescas; a sua riqueza supera em muito a de vários países. Metade das 100 maiores unidades económi- cas do Mundo são Estados-nação; a outra metade é composta por empresas transnacionais. O alcance das operações destas empresas é desconcertante. As 600 maiores empresas transnacionais acumulam mais de um quinto do total da produção industrial e agrícola na economia global; cerca de 70 são respon- sáveis por metade do total global de vendas (Dicken, 1992). Os lucros das 200 maiores empresas trans- nacionais subiu dez vezes entre meados dos ano~ 70 e 90 do século XX, tendo atingindo 9,5 biliões de dólares em 2001. Em 2003, estimava-se que o conjunto das dez maiores companhias farmacêuti- cas do Mundo controlava cerca de 53% da quota do mercado global. Ao longo dos últimos 20 anos, as actividades das empresas transnacionais tornaram- -se cada vez mais globais: nos anos 50 do século XX apenas três das maiores empresas do Mundo tinham 908 ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS subsidiárias industriais em mais de 20 países; cerca de 50 possuem-nas actualmente. Ainda constituem uma pequena minoria; a grande maioria das empre- sas transnacionais tem subsidiárias cm dois ou cinco países. Em 2000, as empresas norte-americanas domi- navam a lista das 200 maiores empresas do ~fundo, ocupando 82 posições ( 41% do total); as empresas japonesas vinham cm segundo lugar com 41 posi- ções (Andersen c Cavanagh, 2000). Contudo, a percentagem de grandes empresas norte-americanas na lista das 200 maiores empresas do Mundo dimi- nuiu significativamente desde os anos 60 do século XX- época em que somente cinco empresas japone- sas ocupavam um lugar nessa lista. Contrariamente ao que pensa o senso comum, cerca de três quartos de todo o investimento directo estrangeiro é feito entre países industrializados. Contudo, o envolvimento de empresas transnacionais nos países em desen- volvimento é expressivo, com o Brasil, o México e a Índia a apresentarem os níveis de investimento estrangeiro mais elevados. A taxa de crescimento de investimento empresarial mais dinâmica tem sido, sem dúvida, a registada nos países recentemente industrializados da Ásia- como Singapura, Taiwan, Hong Kong, Coreia do Sul e Malásia. A amplitude que as empresas transnacionais alcançaram nas últimas décadas não teria sido possí- vel sem os avanços registados nos transportes e nas comunicações. Actualmente, o transporte aéreo permite o movimento de pessoas pelo Mundo a u1:11a velocidade que. teria sido inconcebívei há 60 anos. O desenvolvimento de grandes embarcações maríti- mas (navios cargueiros), juntamente com contento- res que podem ser mudados de uma transportadora para outra, tornou possível o transporte sem dificul- dades de mercadorias volumosas. As tecnologias das telecomunicações permitem hoje uma comunicação mais ou menos instantânea de uma parte do Mundo para outra. Os satélites têm sido utilizados nas telecomunicações comer- ciais desde 1965. Nessa época, o primeiro saté- lite a ser utilizado conseguia operar 240 conversas telefónicas simultaneamente. Os satélites actuais permitem realizar ao mesmo tempo, no mínimo, 12 000 conversas telefónicas. Hoje cm dia as maio- res empresas transnacionais possuem o seu próprio sistema de comunicações baseado no uso de satéli- tes. A empresa Mitsubishi, por exemplo, possui uma rede extensa ao longo da qual são transmitidas c recebidas diariamente cinco milhões de palavras na sua sede em Tóquio. Tipos de empresas transnacionais As empresas transnacionais têm vindo a adquirir uma importância crescente na economia mundial ao longo do século XX. São empresas que possuem uma importância fundamental na divisão inter- nacional do trabalho - a especializáção na produ- ção de mercadorias para o mercado mundial, a qual divide várias regiões em zonas de produção industrial ou agrícola, por um lado, ou, por outro, em zonas de mão-de-obra muito especializada ou pouco especializada (McMichael, 1996). Tal como as economias nacionais são cada vez mais concen- tradas - e dominadas por um· número limitado de grandes empresas -, o mesmo sucede com a econo- mia mundial. No caso do Reino Unido, e de outros países que lideram o processo de industrialização, as grandes empresas não só dominam o panorama nacional como possuem uma presença internacional muito significativa. Muitos. secÇQre,c; d;J, .. prPP!.tǪ-º····-· mundial (como a agro-indústria) são oligopólios- a produção é controlada por três ou quatro grandes empresas que dominam o mercado. Ao longo das últimas duas ou três décadas, os oligopólios interna- cionais têm-se desenvolvido nas indústrias automo- bilísticas,electrónica e de microprocessadores, e na ·· produção de outras mercadorias comercializadas em todo o Mundo. H. V. Pcrlmutter (1972) dividiu as empresas transnacionais em três tipos. O primeiro consiste na empresa transnacional etnocêntrica; neste tipo ---------••oooooo-oo••-•••ooooooo ••• o ..• ., •• ••·••oo•o""'"""'-"" """""" """"""""" ••·• ••••••••""""'" •••- --·----·--- a política da empresa é delineada c posta em prática a partir de uma sede principal no país de origem. As empresas e as f.1.bricas que este tipo de empresa possui pelo Mundo são, por assim dizer, «exten- sões culturais» da empresa de origem - as suas pdricas estão estandardizadas em todo o mundo. Uma segunda categoria é a empresa transnacional policêntrica. Neste caso, as empresas subsidiárias são geridas pelas empresas locais do respectivo país. A sede principal, situada no país ou países de origem, estabelece as directrizes gerais segundo as quais as empresas locais gerem os seus próprios assuntos. Finalmente, existem ainda as empresas tmnsnacio- nais geocêntricas, que são inteiramente internacio- nais na sua estrutura de gestão. Os seus sistemas de gestão estão integrados numa escala global e os seus directores-gerais têm bastante mobilidade, deslo- cando-se de um país para outro conforme as neces- sidades. · As empresa~ japonesas tendem a ser as mais emo- cêntricas no conjunto de todas as empresas transna- cionais, de acordo com a tipologia de Perlmutter. As suas operações mundiais são, no geral, estreitamente controladas pela empresa-mãe e, em alguns casos, envolvem o próprio governo japonês. O Ministério de Comércio e Indústria japonês desempenha um papel muito mais directo na supervisão da expansão estrangeira das empresas baseadas no Japão do que os governos do Ocidente em relação às suas. Nas últimas duas décadas, o Ministério de Comércio c Indústria japonês-elaborou um conjunto de planos de desenvolvimento que coordenam a expansão de empresas japonesas no estrangeiro. As empre- sas comerciais gigantes, designadas por sogo shosha, constituem um tipo de empresa transnacional espe- cificamente japonês. Estas empresas são conglome- rados colossais cuja principal preocupação reside no financiamento e no apoio ao comércio, fornecendo serviços de informação, de finanças e de organização a outras empresas. Cerca de metade das importações e exportações japonesas são encaminhadas através das dez maiores sogo shosha. Algumas delas, como --------------------··--····-. --------···--···--·----····-············ .. - ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 909 a Mitsubishi, também possuem grandes interesses próprios na indústria. O planeamento à escala global A\s grandes empresas tornaram-se as primeiras orga- nizações com capacidade para efectuar um plane- amento à escala global. Os anúncios publicitários da Pepsi c da Coca-Cola, por exemplo, conseguem chegar a milhares de milhõe~ de pessoas em todo o Mundo. Um petlueno conjunto de empresas, com uma rede global bem consolidada, consegue influenciar as actividades comerciais de diversas nações. Richard Barnet c John Cavanagh ( 1994) defendem que existem na nova economia mundial quatro redes de actividade comercial interligada: o bazar cultural global, o centro comer'Cial global, o local de trabalho global e a rede financeira global. O bazar cultural global é o mais recente de todos, mas já possui uma escala superior aos restantes. Imagens e sonhos são difundidos globalmente sob a forma de filmes, programas de televisão, música, vídeos, jogos, brinquedos e t-shirts. Por todo o mundo, mesmo nos países em desenvolvimento mais pobres, as pessoas usam os mesmos aparelhos electrónicos para ver os mesmos espectáculos ou ouvir as mesmas músicas. O centro comercial global é um «supermercado planetário de coisas para comer, beber, vestir e desfrutar com um grau de disseminação espantoso». É mais exclusivo do que o bazar cultural global porque os pobres não têm os recursos necessários para poderem participar nele - os pobres apenas têm o estatmo de «consumidores de montr:ts» 8• Do conjunto dos 5500 milhões de pessoas que perfazem a população mundial, 3500 milhões não têm dinheiro suficiente, ou crédito, para comprar quaisquer bens de consumo. A terceira rede global, o local de trabalho global, consiste na divisão do trabalho global crescente e complexa que nos afecta a todos. Nela se incluem s No original: windotv shoppers. ·-·---·----·------------- -··s 91 O ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS Anúncios publicitários da Pepsi e da Coca-Cola em Tripoli, no Líbano. uma enorme variedade de escritórios, fábricas, congéneres dos meados do mesmo século. Muitos restaurantes e milhares de outros locais, onde os nomes não mudaram - General Motors, Ford ou produtos são produzidos e consumidos, ou onde a IBM, por exemplo -, mas juntaram-se-lhes os de informação é trocada. Esta rede está estreitamente outras empresas gigantescas, na sua maioria desco- relacionada com a rede financeira global, a qual é nhecidas nos anos 50 - como é o caso da Microsoft sua fornecedora e financiadora. A rede financeira e da Intel. Todas estas firmas detêm bastante poder e global consiste em biliões ~=---~~t:. ~~--i~~~-r~~~~~ .. os-seus executivos de topo co.ntiriü"iim.ãatteeir~g~~oliiecês···---.-·-:; armazenados -·em:···comJfüfael.ores e exibidos nos nos edifícios portentosos que dominam os centros monitores dos mesmos. Esta rede implica operações d . 'd d N t b ênc 1 ·as da e mmtas c1 a es. o entan o, so as apar intermináveis de câmbio, transacções de cartões de lh , c,í • c .:es seme ança a superr1 c1e, ocorreram transrormaço crédito, planos de seguros, além da compra e venda fi d A . d c - 'd d _ fi . pro un as. ongem . estas transrormaçoes res1 e e acçoes nance1ras. d 1 num processo que temos reencontra o ao ongo A transformação das grandes empresas? Existem diferenças significativas entre as grandes empresas da primeira década do século XX e as suas d~s~e livro: a globalização. Durante este período, as grandes empresas foram-se envolvendo, cada vez mais, numa competição cuja escala também ia cres- cendo - daí resultot.t a transformação da sua esrru- tum e da sua própria índole. Um antigo secretário de Estado do Trabalho norte-americano, Robert Reich, escreveu a este propósito (1991): Em última análise, tudo está em transforma- ção. As empresas-mãe norte-americanas já não planeiam nem implementam a produção de um grande volume de mercadorias e de serviços; já não investem num conjunto de fábricas, labora- tórios, máquinas, matérias-primas e em quaisquer outros bens tangíveis; já não empregam exércitos de operários e de encarregados ... Na verdade, a empresa-mãe já nem sequer é norte-americana. Trata-se, cada vez mais, de uma fachada, atrás da qual se agrupa um conjunto de grupos e subgru- pos descentralizados que contratam, de modo contínuo, em rodo o Mundo, outros grupos igual- mente difusos. ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS 911 cações e aos computadores. Os Estados-nação conti- nuam a tentar influenciar o fluxo de informação, de recursos e de dinheiro que transpõem as suas fron- teiras. No entanto, as tecnologias de comunicação actuais tornam cada vez mais difícil, se não impos- sível,- tal influência e ou controlo. O conhecimento e as finanças podem ser transferidos para qualquer ponto do globo, à velocidade da luz e sob a forma de sinais sonoros luminosos e electrónicos. De igual modo, os produtos das empresas trans- nadonais têm um cariz internacional. De que modo nos podemos certificar de que algo foi «fabricado em Portugal» ou não? Já não existem respostas inequívocas. No Capítulo 4, «História da huma- nidade e globalização», demos como exemplo a Barbie, a boneca « 100% norte-americana», em cuja embalagem se lê «fabricado na China». Tivemos então a oportunidade de verificar que a origem do seu corpo
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