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Lustosa - Trabalho Ante Projeto Escrito-2


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL
CLAUDIA FREITAS
HELENA KIRA
THAYANE LINS
LIBERDADE DE ESCOLHA: POR QUE A MULHER QUE NÃO DESEJA A MATERNIDADE É CONSIDERADA CRIMINOSA?
Rio de Janeiro – RJ
Junho/ 2015
CLAUDIA FREITAS
HELENA KIRA
THAYANE LINS
LIBERDADE DE ESCOLHA: POR QUE A MULHER QUE NÃO DESEJA A MATERNIDADE É CONSIDERADA CRIMINOSA?
Trabalho de anteprojeto de pesquisa apresentado à universidade Federal do Rio de Janeiro, exigência parcial para a aprovação na disciplina de Pesquisa Social
Orientador: Dr. Rogério Lustosa
Rio de Janeiro
2015
Introdução
Liberdade de escolha? Por que a mulher que não deseja a maternidade é considerada criminosa? A decisão sobre a maternidade, em pleno século XXI, coloca as mulheres em condição de submissão, falta de autonomia e liberdade para decidir. Ainda hoje as mulheres não conseguiram ter total controle ou decisão sobre a maternidade. A identidade feminina está totalmente vinculada à figura da mãe e ao instinto materno, fazendo com que, as mulheres brasileiras que engravidam não desejam ser mãe, tornem-se vítimas do julgamento da sociedade.
Em ultima instância, a maioria das mulheres, que não desejam ser mãe, opta por realizar um aborto. Essa decisão geralmente é formada de maneira solitária, pois no Brasil o aborto é crime e ainda tratado como tabu.
O objetivo desse trabalho é problematizar a falta de divulgação da possibilidade que todas as mulheres que engravidam e não desejam ser mãe podem recorrer às varas de família e comunicar o seu desejo de colocar a crianças para a adoção. Esse recurso não é divulgado, tanto pelos grupos que lutam pela legalização do aborto, quanto pelos órgãos oficiais e aqueles que são contrários à prática do aborto. Portanto, o crime pode ser evitado. Então, fica a seguinte questão: a mulher não tem o direito de não querer ser mãe? Cabe a reflexão para toda a sociedade
As varas de família necessitam facilitar esse processo, pois é necessário que as mulheres gestantes saibam que as crianças geradas poderão ser criadas por famílias que estejam preparadas para recebê-la, que a desejam e que terão um lar seguro. Isso tudo além do fato de que essas mesmas mulheres se submetem aos riscos de morte quando decidem por realizarem o aborto por não terem, geralmente, condições financeiras ou apoio familiar para continuar gerando aquela criança que está por nascer.
Precisamos falar mais abertamente sobre essa possibilidade de adoção, livre de preconceito, ou qualquer tipo de descriminação, eliminando todas as formas de julgamento de valor contra a mulher que não quer ser mãe, porque, como já dissemos a identidade feminina não deve está intrinsicamente ligada à figura da mãe e ao instinto materno.
	Em relação ao homem, o tratamento é muito diferente. Não se exige que ele represente o mesmo papel, isso porque vivemos em uma sociedade patriarcal, porém a acusação sobre a maternidade é um direito fundamental das mulheres no âmbito dos direitos reprodutivos. A mulher deve ter garantido o direito de escolha sobre o seu corpo, sem que discernimentos de qualquer natureza. A maternidade não pode se sobrepor à mulher, assim como a paternidade não se sobrepõe ao homem. A cobrança que a sociedade atual faz das mulheres, de terem a função de garantir a procriação, acaba dando aos homens a sensação de total irresponsabilidade. Nenhum homem se sente obrigado a se responsabilizar pela gestação da sua prole, o que revoga inúmeras contradições, pois já que a maternidade é tão importante e só as mulheres são capazes de gerar “naturalmente” novos seres humanos, por que essa importância e respeito não se revelam na totalidade das relações sociais? Basta verificarmos o número de assassinatos cometidos pelos homens, assim veremos explicitamente essa contradição. As mulheres são desrespeitadas em todos os sentidos, inclusive o momento em que não lhe é dado o direito de escolha de se tornar ou não mãe.
A partir da ausência de liberdade consciente da mulher para dispor de seu próprio corpo, pode-se dizer que a opção pelo aborto é uma necessidade imposta pela sociedade. Segundo a professora de filosofia da USP, Marilena Chauí, as mulheres abortam porque estão aterrorizadas com a própria gravidez e é assim que são submetidas às péssimas condições das clínicas clandestinas. Dessa forma, mais uma vez, a possibilidade da adoção poderia evitar essa experiência traumática e extremamente arriscada em que muitas dessas gestantes passam, ou seja, as mulheres que não querem a maternidade podem se planejar e evitar o crime (aborto) que prevê punições nas esferas cível e criminal.
“E como se tem discutido o aborto? Há, quase sempre, duas posições contrárias. Os que têm uma posição conservadora consideram que o que faz da mulher um ser ‘feminino’ é a maternidade e encaram a sexualidade através da procriação (mulher = mãe). Do ponto de vista das feministas liberais, a mulher é encarada como uma pessoa que pensa, que ama, que tem consciência, que é capaz de se comunicar e se relacionar com os outros, que é livre e dotada de direitos e, portanto, pode escolher ou não a maternidade”. (CHAUÍ; MARILENA, 1984)
 
A ideia de “instinto materno” ou o discurso que a sociedade prega de que toda mulher nasce para ser mãe são fatores que potencializam o julgamento e a falta de liberdade da mulher. A partir da obra “Um amor conquistado: o mito do amor materno” de Elisabeth Badinter o “instinto materno” passa por uma analise histórica e mostra que se baseia apenas por uma mera construção social. Ou seja, a mulher não nasce com a condição de amor materno, ele não é um determinismo, mas algo que se é adquirido.
"Deduzindo-se o feminino da capacidade materna, define-se mulher pela que ela é e não pelo que escolhe ser. E não há definição simétrica do homem, sempre apreendido pelo que faz e não pelo que é." (BADINTER; ELISABETH, 1980)
Além disso, o livro mostra que a ideia de “amor materno” é uma aquisição recente e que nos séculos passado o conceito de amor de mãe aos filhos era diferente. As crianças eram cuidadas por amas de leite e só voltavam ao lar depois de cinco anos. Sendo assim, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo com as flutuações socioeconômicas da história.
Para concluir e fazendo uma analise geral, o patriarcado teria o maior peso no discurso que insere “toda mulher nasce para ser mãe”. E que hoje, com o movimento feminista (que desconstrói o caráter instintivo que foi dado às mulheres e que lutam pelo direito de escolha da mesma), a ideia de que nem todas as mulheres tenham espontaneamente o desejo de ser mãe vem à tona. Mas ainda assim, sofrendo diversos preconceitos e sendo condenadas quando, por exemplo, recorrem ao aborto, além de julgadas como egoístas individualistas e até anormais por não se encaixarem ao padrão social que lhe foram impostas.
Problemática
O problema científico é uma indagação com possibilidade de mensuração, ou seja, com termos, linguagem, etc. aceitos pela ciência (pelo mundo acadêmico), referente a algo que se pode provar. Ele é composto por um termo principal (a) e outro que, dialeticamente, irá entrar em conflito com esse primeiro (b). O resultado será em forma de pergunta, relacionando os dois à um aspecto presente na sociedade (x), de tal forma que seja compreendido não apenas pelo mundo acadêmico, mas também por todo o povo, ou seja, deverá ser criada uma ponte entre o povo e o conhecimento.
A partir da fórmula a + b = x
A = Maternidade
B = Liberdade de escolha
X = Por que a mulher que não deseja a maternidade é considerada criminosa?
Revisão Bibliográfica
Segundo Geórgia F. Martins Nunes, a falta de autonomia da mulher sobre o próprio corpo e a íntima relação dela com a reprodução, baseadas na ideologia do instinto materno, ainda é um marco de extrema desigualdade entre homens e mulheres no âmbito familiar. Apesar de que os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres terem legitimidade internacional, não é suficiente paragarantir o exercício deles, pois passa por interferências religiosas, políticas, sociais e culturais, além da incapacidade dos Estados de promoverem, garantirem ou implementarem direitos.
Para Marilena Chauí, a decisão sobre a maternidade é algo que só diz respeito à própria à mulher, de modo que ninguém poderá julgá-la e criminalizá-la a partir de sua escolha, de ser ou não mãe. É necessária a compreensão por parte da sociedade entre mulher ser equivalente a mãe e mulher ser equivalente à pessoa, não necessariamente uma mulher deve ser mãe. Portanto, o aborto só é realizado devido ao desespero da mulher diante a gravidez. 
Por fim, conforme Elisabeth Badinter expõe em seu livro, o desejo à maternidade não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, não é natural ou instintivo, mas sim algo que se adquire, conforme o contexto social. Dessa forma, é descontruída a ideia de que a mulher nasce para ser mãe e que é seu papel exercer tal função a qual foi “destinada”.
Metodologia
Pesquisa bibliográfica
Cronograma 
2015.1
	
	Março
	Abril
	Maio
	Junho
	Julho
	Levantamento bibliográfico
	 
	
	
	
	
	Estudo individual
	
	
	
	
	
	Orientação 
	
	
	
	
	
	Texto preliminar
	
	
	
	
	
	Relatório preliminar
	
	
	
	
	
	Férias 
	
	
	
	
	
2015.2
	
	Agosto
	Setembro
	Outubro
	Novembro
	Dezembro
	Levantamento bibliográfico
	 
	
	
	
	
	Estudo individual
	
	
	
	
	
	Orientação 
	
	
	
	
	
	Texto final
	
	
	
	
	
	Relatório final 
	
	
	
	
	
	Férias 
	
	
	
	
	
Referência bibliográfica
CHAUÍ, Marilena. Mãe, Mulher ou Pessoa: discutindo o aborto. Lua Nova, São Paulo  vol.1 no.1  junho/1984
NUNES, Geórgia F. Martins. Ser ou não mãe: eis a questão de Direito Humanos. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/publicacao/ufsc/livro.php?gt=195. Abril/2015
BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 370p.

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