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A Assessoria Humanizada

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MARCELA BRITO 
JEFFERSON SAMPAIO DE MOURA
A ASSESSORIA
HUMANIZADA
PARA UM NOVO PARADIGMA NO SECRETARIADO
PARA UM NOVO 
PARADIGMA NO 
SECRETARIADO: A 
ASSESSORIA 
HUMANIZADA
MARCELA BRITO é bacharela 
em Secretariado Executivo 
Trilíngue, pela Universidade do 
Estado do Pará. Especialista 
em Secretariado Executivo 
com ênfase em Gestão de 
Negócios, pela Uninter. 
Cofundadora da Iventys 
Educação Corporativa. 
Mentora de carreira. Site da 
autora: www.marcelabrito.com 
 
JEFFERSON SAMPAIO é 
Bacharel em Secretariado 
Executivo Bilíngue, pela 
Faculdade Jesus Maria José - 
FAJESU. Especialista em 
Docência do Ensino Superior. 
Mestre em Direitos Humanos e 
Cidadania, pela Universidade 
de Brasília - UnB. Coordena o 
curso superior de Tecnologia 
em Secretariado, do Instituto 
Federal de Brasília - IFB, onde 
atua como docente de 
educação básica, técnica e 
tecnológica. Site do autor: 
www.jeffersonsampaio.com 
Teóricas e teóricos do Brasil inteiro vêm sinalizando o quanto 
a profissão de secretariado é antiga, dizem que os escribas 
são nossos antepassados, profissionalmente falando 
(CARVALHO, 1998; MAERKER, 1998; MEDEIROS e 
HERNANDES, 1999; SABINO e MARCHELLI, 2009). Há quem 
diga, numa perspectiva mais religiosa, que Eva foi a primeira 
secretária (NONATO JUNIOR, 2009). 
Nesse momento, você provavelmente deve estar achando 
que esse será mais um texto acadêmico sobre a profissão de 
secretariado. Confessamos que também acharíamos a mesma 
coisa. Todavia, não será, não somos muito fãs de alguns 
moldes acadêmicos que, por muitas vezes se tornam 
excludentes, exploradores e elitistas. Sempre nos 
questionamos: de que modo a ciência produzida dentro das 
universidades tem alcançado a maior parte da sociedade? O 
discurso é acessível? A produção acadêmica tem se tornado 
senso comum? Muitos questionamentos que preferimos não 
tocar por agora. 
Voltemos ao foco: o secretariado. Essa profissão surge no dia 
30 de setembro de 1985, quando é sancionada a lei nº 7377, 
que dispõe sobre o exercício da profissão de secretário. Isso 
não quer dizer que antes não existia o exercício dessa função. 
Todavia, o secretariado era uma ocupação, uma área de 
atuação não regulamentada, logo qualquer pessoa poderia 
exercê-la sem uma formação básica.  
Os postos de trabalho eram ocupados por pessoas que viam 
interesse na área, existiam cursos de formação básica, como 
datilografia, além de cursos de graduação, como o Bacharel 
em Secretariado Executivo, ofertado desde 1969 pela 
Universidade Federal da Bahia. Mesmo com a existência 
desses cursos, não havia regulamentação. Com o passar dos 
anos, a lei surge e torna essa ocupação uma profissão, com 
registro profissional e Código de Ética. Dizer que os escribas 
foram os primeiros secretários é minimizar a atuação do 
profissional de secretariado do século XXI. Afirmamos isso 
com base na nova roupagem que a profissão tomou, com a 
globalização e os avanços tecnológicos, saímos do 
secretariado puro e nos tornamos assessores. 
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1. O ser humano como ser social, o profissional de 
secretariado como ser ajudante 
Primeiro de tudo, precisamos conceber e reafirmar que o ser humano é um ser social. Teóricos 
de diversas áreas do conhecimento trabalham essa ideia, dentro da Psicologia do 
Desenvolvimento teremos Lev Vygotsky (1896-1934), Alexis Leontiev (1903-1979), Henri 
Wallon(1879-1962), dentre outros que defendem esse posicionamento. 
Wallon (2008) mesmo afirma que nos formamos como sujeitos por meio da interação com o 
meio. Desenvolvo funções cognitivas, por meio do afeto, pela emoção, pelo desejo de estar 
com o outro e de cativá-lo. Não consigo me excluir desse meio e é isso que nos torna humanos. 
Nesse meio caminho, vamos nos identificando com o mundo em um processo de imitação e até 
mesmo de repetição, com o passar do tempo eu consigo desenvolver um senso crítico próprio 
que me possibilita agregar valor àquilo que gosto ou não, de modo em que torno-me então 
sujeito de minha própria história, ao tempo em que me constituo sujeito coletivo de histórias e 
interações humanas. Novamente, voltamos à interação.. 
O ser humano precisa da interação para existir como ser social, cultural e histórico. Desde 
quando nascemos, é a interação com o diferente, com a mãe e com o meio ao meu redor que 
permite a nossa formação cognitiva. Nossa mente é constituída por essa cognição, articulada 
com a emoção e o afetivo. Poderíamos ousar dizer que o social está no DNA humano. Muito 
cedo percebemos a necessidade de interagirmos com o outro, que já não é só um ser externo, 
mas parte de minha personalidade como sujeito. 
O secretariado surge dessa interação e da disponibilidade e desejo de ajudar o outro, mas não 
só isso, tanto que não conseguimos datar o início dessa atuação. Não queremos cair no erro de 
sermos simplistas por demais e positivar uma data de origem ou uma situação e atuação 
parecida que pudesse ser encarada como o início do secretariado. Podemos sim falar de 
rupturas e mudanças paradigmáticas: a atuação surge da necessidade humana de ajudar o 
próximo; tivemos ocupações durante a história humana que atuavam de modo parecido com 
algumas funções do profissional de secretariado, mas que não eram secretários; tivemos a 
transformação da ocupação “secretária” para a profissão de secretariado, em 1985; com os 
avanços tecnológicos e a globalização, transcendemos e nos tornamos assessores executivos. 
O profissional de secretariado é um ser dotado de conhecimentos técnicos e operacionais que 
consegue otimizar o cotidiano administrativo da empresa. Além disso, é um profissional 
articulado que consegue manter relações amistosas e desenvolver de modo excelente aquilo 
que lhe é confiado. Para atuar como tal, é preciso ter uma formação básica na área, seja em 
nível técnico e/ou de graduação. É uma profissão linda, mas que encara ainda hoje vários 
paradigmas.  
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2. Paradigmas: os rumos da profissão
Os paradigmas ao redor da profissão de secretariado são uma realidade e que precisam ser 
enfrentados, transformados e reinventados. Paradigmas são como ideais e projeções 
postuladas sobre algo ou alguém, podem ser positivos ou negativos, além de preconceituosos 
ou conscientes. Vamos a um exemplo: secretária serve café. Em algum momento histórico, a 
secretária serviu café, era um paradigma aceito e condizente com a realidade, hoje já não mais 
acontece, logo é um paradigma vencido. Se ainda utilizam desse exemplo para menosprezar a 
profissão, está aí um paradigma preconceituoso que não condiz com a realidade. Outro 
exemplo de paradigma, agora um contemporâneo e consciente: a(o) profissional de 
secretariado executivo hoje tem uma formação que lhe permite atuar como assessor, gestor, 
empreendedor e consultor. 
Paradigmas surgem e desaparecem, constantemente. Com o passar dos anos e os avanços 
tecnológicos, muitas coisas mudaram, mudanças que direcionaram para a construção de novos 
paradigmas relacionados a algumas profissões. Tínhamos, há alguns anos atrás, a formação em 
administração que te habilitava a trabalhar com uma gama de áreas: recursos humanos, 
controladoria, marketing, finanças e entre outras. Hoje já temos cursos de tecnologia 
específicos para cada área dessas que citamos. E no que isso influencia? Em várias coisas: uma 
fragmentação do mercado; uma super especialização, a ponto de muitas dessas formações não 
conseguirem lidar e trabalhar com o todo; concorrência de mercado, pois vagas que eram de 
um profissional, hoje são abertas para candidatos de diversas formações; e, não menos 
importante, influenciados por essa concorrência, o fortalecimento de discursos excludentes, 
invalidadores e preconceituosos acerca de algumas profissões que surgiram nesse processo de 
expansão e fragmentação do mercado. 
O secretariado tomou outras roupagens com o decorrer da história, assumimos funções que 
antes eram de outrasáreas e que hoje são de outras áreas também, ficou confuso, né?! Então, 
vamos adotar um exemplo para ficar mais fácil: a organização de eventos, antes era muito 
comum ver profissionais de relações públicas responsáveis por essa área, hoje temos o 
tecnólogo em eventos, e como se não bastasse, essa é uma das áreas de atuação do 
profissional de secretariado. Aí surge a disputa, quando poderia ocorrer um processo de 
colaboração e troca entre as áreas, uma vez que a atuação fim pode ser a mesma. E nesse 
caminho, discursos preconceituosos são direcionados para áreas específicas, buscando 
silenciar suas habilidades e competências e intensificar alguns preconceitos. No secretariado, é 
comum ver pessoas de outras áreas dizendo que somos amantes do chefe, que servimos café, 
que somos babás dos filhos do chefe, que não precisamos de formação para atender telefone e 
mais um monte de coisa. E em meio a isso tudo, temos diversos profissionais de secretariado: 
as(os) que intensificam esses paradigmas, as(os) que ignoram, as(os) que fazem ainda hoje o 
que esses paradigmas dizem, as(os) que problematizam isso e as(os) que enfrentam esse 
cenário. 
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Amamos o secretariado, e por amá-lo é que problematizamos a profissão. Por amá-lo, 
problematizamos a profissão para nossas alunas, nossos alunos e nossas(os) colegas de 
profissão. Já não há mais lugar para um profissional somente tecnicista. Geramos uma polêmica 
agora. Os moldes tecnicistas também mudaram com o decorrer da história, o profissional que 
antes apertava o parafuso, hoje precisa conhecer a função daquele parafuso para fazer a 
máquina funcionar. Ao tempo em que fragmentamos o conhecimento e super especializamos 
pessoas, o mercado exige profissionais com visão ampla, completa e que consiga se adaptar 
aos diferentes perfis dos postos que podem vir a ocupar. 
Se antes a(o) profissional de secretariado trabalhava somente com funções técnicas, hoje 
trabalham com funções altamente elaboradas que exigem uma atuação muito mais consciente, 
assertiva e reflexiva, além da prática. Se antes a ocupação era “secretária”, hoje já não só 
ocupamos uma vaga e executamos trabalhos técnicos, o secretariado hoje é profissão, 
estabelecida por lei, com código de ética e sindicatos espalhados por todo o Brasil. O que 
mudou? Mudou que se antes tínhamos nossas funções limitadas, hoje ampliamos nosso leque 
de atuação e conseguimos entrar em vagas que melhor se adequam ao nosso perfil. Hoje 
temos: assessoria executiva; assessoria diplomática; assessoria parlamentar; assessoria jurídica; 
assessoria documental; assessoria pública; assessoria internacional; assessoria de marketing; 
organização de eventos; mentoria; coaching; docência; assessoria de cultura; assessoria 
financeira; assessoria contábil; assessoria de viagem; assessoria remota; assessoria de mídias 
sociais; assessoria de estilo; assessoria pessoal; e mais um monte de áreas que poderíamos 
passar o dia inteiro citando. Algumas delas você consegue atuar só com a formação básica, 
outras vão te exigir uma formação complementar, seja em nível de especialização, mestrado 
e/ou doutorado. 
Falamos de assessoria, não de secretariar. Já não basta guardar o secreto, hoje você precisa 
tomar uma postura consciente perante a esse secreto. O secretariar puro hoje transcendeu-se 
na assessoria, uma atuação respaldada teoricamente, consciente, ética, questionadora, 
problematizadora, inovadora, humanizada, pautada no respeito ao próximo e no prazer em 
ajudar as pessoas, proativa, viva, onde a(o) profissional toma uma postura de sujeito e não 
objeto, vivendo sob ordens e executando cegamente o que lhe propõem. Com alguns tutoriais 
do Youtube, qualquer um faz um memorando, faz uma pauta, atende um telefonema e anota o 
recado e recepciona, mas para assessorar é necessário formação, formação ampla, complexa, 
intercultural, interdisciplinar e humanizada, sempre humanizada. 
Junto a isso, outra mudança deve ser levada em consideração: se antes, a tecnologia era 
limitada, hoje ela já faz de tudo um pouco. E agora? Agora que existe uma coisa que a 
tecnologia não consegue fazer: relacionar-se com humanos, de modo humanizado, a permitir 
resultados mediados e favoráveis para ambas as partes.  
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3. A(o) profissional de assessoria como sujeito humanizado
Não existe nada tão complexo quanto as relações humanas. E aqui cabem exemplos de todos 
os tipos, pessoas, profissões, segmentos e períodos históricos. Há pessoas que afirmam que 
poderiam viver muito bem sozinhas, mas se ficassem 24 horas sem interação com outra pessoa, 
certamente sofreriam com o tédio. E o grande paradoxo é que somos seres sociais, criados para 
viver em comunidade, dependemos uns dos outros, mas nosso grande desafio, especialmente 
neste século, é conseguirmos conviver pacificamente. 
Quando nos baseamos na profissão de secretariado executivo, percebemos que nosso trabalho 
depende única e exclusivamente de outras pessoas e, neste quesito, nota-se claramente a 
importância da habilidade interpessoal ou, para os amantes das novas nomenclaturas da 
Psicologia, da inteligência relacional. E o que exatamente seria isso? Nada mais é do que a 
capacidade de fazer com que as pessoas manifestem interesse em estar com você e a realizar 
ações inspiradas por acreditarem no que você comunica. 
As tecnologias baseadas em inteligência artificial tem avançado em busca de humanizar ao 
máximo as máquinas, porém existe um atributo emocional e psicológico que é exatamente o 
que nos define em nossa humanidade. O profissional que atua em assessoria entende 
perfeitamente este atributo. E mais uma vez, vamos aos exemplos: imagine receber 
informações e ouvir comentários de todas as naturezas sobre as pessoas com as quais você 
precisa se relacionar profissionalmente. Agora, pense no que você decide fazer com essas 
informações. O assessor tem o poder de pacificar um ambiente, inclusive evitando conflitos até 
iniciar uma guerra corporativa com o indevido repasse de informações sigilosas e nutrindo 
intrigas por motivos fúteis. 
Nesta mesma linha, pense em um profissional com tamanha habilidade relacional e emocional, 
que consegue acalmar um gestor em fúria, ao passo em que consegue convencê-lo, com 
dados e argumentos bem fundamentados a retroceder em uma decisão que poderia prejudicar 
potencialmente os colaboradores da empresa. Nós os indagamos: que tecnologia conseguiria 
fazer isso? 
Eu digo: na essência, no tom de voz, no olhar preocupado, nas noites de parceria quando só se 
ouvem o ruído dos teclados e suspiros de cansaço pelos corredores corporativos, uma máquina 
não teria condição de alcançar tamanho resultado. O que nos diferencia é nossa capacidade de 
ler o outro. Esse outro que faz parte da minha história, pelo simples fato de existir no mesmo 
espaço que eu. Ir ao encontro do outro é ir ao encontro desse outro dentro de mim. No fundo, 
eu conheço essa floresta e consigo manter relações amistosas com os seres presentes nela. 
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Ler o outro é um desafio e uma habilidade que somente nós humanos conseguimos fazer. Uma 
máquina pode até ser pré-programada para entender algumas expressões humanas, mas não 
conseguirá compreender o seu sentido em diferentes situações que presenciamos no cotidiano. 
Essa leitura, contextualizada e intencionalizada, é o ser humano que faz. Por isso, 
assessoramos, sentamos ao lado, não acima nem abaixo, mas ao lado, colocando-nos como 
iguais, como humanos que entendem de humanos, com uma formação ampla que nos permite 
ajudá-los em suas dificuldades. 
Nesse caminho, a assessoria não é constituída somente pelo conhecimento técnico e 
especializado, mas pelas vivências culturais, históricas e sociais. A(o) profissional de assessoria 
consegue articular com maestria todos os conhecimentos e saberes diários necessários para 
alcançar determinado objetivo. Não é um(a) profissional que se exclui como sujeito durante suaatuação, mas que consegue atuar de modo estratégico e intencionalizado, mediando os 
saberes e conhecimentos necessários naquela ocasião. 
A Antropologia nos ensina que a cultura é fruto das nossas interações e de toda a herança que 
recebemos por meio dos círculos onde convivemos ao longo da vida. Não é determinada pela 
genética. Somos seres sociais e, como tal, o que determina nossa conduta em sociedade são 
aos laços que construímos com as pessoas por meio dos relacionamentos. 
Laraia (2000), afirma que a cultura é preexistente ao indivíduo, isto é, está além da nossa 
natureza. Isso quer dizer que podemos, ao longo de nossa história de vida, assimilar novas 
identidades culturais e passarmos a incorporar os traços do meio onde vivemos maior parte de 
nossa vida. Isso nos permite afirmar, ainda, que somos seres flexíveis e com alta capacidade de 
adaptação a diferentes círculos do convívio social. 
Sob uma ótica ampliada, relacionada ao secretariado executivo, devemos dizer que esta 
capacidade natural humana de absorver a cultura do local onde vive maior parte do tempo se 
conecta diretamente à realidade dos grupos aos quais nos associamos ao longo da vida, dos 
quais adquirimos algumas características e hábitos que nos aproximam, que nos tornam mais 
iguais. A endoculturação, conceito também definido por Laraia (2000), diz que nosso processo 
evolutivo social está baseado no processo de aprendizagem. Imagine se não fosse verdade, 
hoje não teríamos a bela referência de Nelson Mandela que, em um de seus eternizados 
discursos, afirmou que se não nascemos amando ou odiando ninguém e ao longo da vida 
aprendemos a odiar por variadas razões, também podemos aprender a amar. 
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E se falamos em amor, para os que também creem em Jesus, a despeito de qualquer 
posicionamento religioso, o conceito de relacionamento pregado pelo líder nazareno nos diz 
muito sobre como deveríamos nos portar em relação ao próximo. Jesus andou lado a lado com 
pessoas marginalizadas da sociedade de sua época, foi insultado, julgado e sofreu a pior 
condenação possível. Mas ele amou, ele perdoou, ele ensinou, ele confrontou. 
Relacionamento, especialmente o profissional e especialmente na área secretarial, requer 
muito mais que técnicas (fundamentais na operacionalização do ofício, porém dispensáveis no 
trato humano de cada dia), exige conhecimento de pessoas. Esta é a parte mais desafiadora 
deste trabalho. Muitos desistem ao longo do caminho e o dispêndio de energia no 
desenvolvimento desta atuação profissional faz com que muitos se aposentem cedo, porque 
entender pessoas, lidar com elas, liderá-las e acalmá-las é um trabalho de alto nível de 
estresse. 
Sobre o futuro da profissão, as pessoas que conseguirem afiar mais esta habilidade, terão a 
oportunidade de viver experiências majestosas junto aos seus colegas de trabalho, junto a 
parceiros, clientes e futuros sucessores. Sim, teremos sucessores, e quanto antes pensarmos 
em encontrá-los, mais cedo viveremos nossos maiores sonhos. Esta é outra mágica resultante 
de muito trabalho, maturidade e compreensão da importância atribuída ao fator humanizado 
nas relações de trabalho lideradas pelo profissional de secretariado. 
A capacidade de se relacionar em algum momento encontra a habilidade de encontrar 
substitutos a altura, do jeito que se gosta, com os detalhes que se preza e todas as 
“esquisitices” que temos que cumprir, de acordo com a política da organização onde se trabalha 
(palavra em aspas citada pela Stefi Maerker durante palestra de Marcela Brito no COINS 2017, 
27/10/2017). 
Portanto, entendemos que a humanização do trabalho de assessoria executiva e suas linhas 
paralelas dentro da atuação em secretariado executivo, exige um esforço individual em 
aprender a ver e ler pessoas de maneiras abertas e diferenciadas. A grande dificuldade é 
exatamente ver o outro sem a lente da nossa própria vivência, pensar o outro sob uma 
perspectiva isenta de conceitos pré-concebidos e, finalmente, ler o outro com o leitor humano 
da condição natural mais básica, do atributo de intersecção que nos iguala: nossas fragilidades. 
Hofstede e Hofstede (2005) afirmam que nossa mente assimila os códigos de convivência social 
(processo cognitivo da mente) e os incorpora à personalidade do indivíduo sem uma 
aprendizagem formal. 
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Por isso que para o que nos é mais inerente e natural, não precisamos de aprendizagem formal. 
Vamos reconhecer muita sensibilidade, em alguns momentos, em pessoas de pouca formação 
acadêmica e, constantemente, pouca habilidade no trato humano em pessoas de alto nível de 
instrução intelectual. Nós, profissionais de secretariado, estamos no caminho do meio e temos 
o privilégio de transitarmos entre os doutores do conhecimento em diversos níveis e segmentos 
do mercado e as pessoas do chamado “chão de fábrica”, cujo trabalho é especializado e muitas 
vezes não terão acesso ao centro do poder institucionalizado. 
Como profissionais desta área este é nosso maior trunfo e nosso maior obstáculo: ser capaz de 
traduzir os números em informações de linguagem fácil e de rápida compreensão, em um tom 
adequado, respeitoso e coerente. Se formos capazes, ao longo de nossa atuação, de 
realizarmos tamanha façanha, seremos capazes de reproduzir esta mesma conduta em outros 
espaços sociais e, então, nosso trabalho terá feito todo o sentido enquanto intermediadores da 
palavra, operacionalizadores de grandes estratégias e, sobretudo, líderes de equipes. 
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Referências
CARVALHO, Antonio Pires de. Manual do Secretário Executivo. São Paulo: D`Livros Editora, 1998. 
HOFSTEDE, Geert. HOFSTEDE, Geert Jan. Cultures and organizations: software of the mind. New 
York, USA: McGraw Hill, 2005. 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Jorge Zahar Ed., 2000. 
MAERKER, Stéfi. Secretária, uma parceira de sucesso. São Paulo: Gente, 1998. 
MEDEIROS, João Bosco. HERNANDES, Sonia. Manual da Secretária Lei no. 9.26l/96. 7 ed. São 
Paulo : Atlas, 1999. 
NONATO JUNIOR, Raimundo. Epistemologia e Teoria do Conhecimento em Secretariado 
Executivo: A Fundação das Ciências da Assessoria. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2009. 
SABINO, Rosimeri Ferraz & MARCHELLI, Paulo Sérgio (2009). O debate teórico-metodológico no 
campo do secretariado: pluralismos e singularidades.Cadernos Ebape. BR, vol. 7, nº 4, artigo 6, 
Rio de Janeiro. 
WALLON, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. São Paulo: Vozes, 
2008.  
09

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