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AULA 4 CRIATIVIDADE E GESTÃO DE IDEIAS PARA INOVAÇÃO Profª Sonia Regina Hierro Parolin 2 CONVERSA INICIAL A quarta aula é complementar à terceira. Ambas abordam técnicas de criatividade. Na aula de hoje, vamos abordar as técnicas que são mais aplicadas em grupos, como S.C.A.M.P.E.R., P.N.I., Mindmapping e T.R.I.Z. Essa última, menos difundida, é usualmente mais aplicada para desenvolvimento de produtos. Lembramos que em todas elas é imprescindível adotar uma postura de “abertura da mente” e, durante a aplicação, é importante afastar julgamentos e participar livremente - trata-se de ingredientes fundamentais para que as ideias surjam. Afinal, quando o assunto é geração de ideias, quantidade significa qualidade! CONTEXTUALIZANDO A utilização de técnicas de criatividade em grupos viabiliza a denominada polinização cruzada, como vimos na aula anterior. Com exceção de momentos criativos especiais, em que os indivíduos estão envoltos em momentos de inspiração, as técnicas de criatividade em grupos sempre oferecem uma gama maior de ideias e sugestões. Para esta aula, você pode imaginar-se em sua atividade profissional, em sua atividade de lazer, em atividades domésticas ou até em outras atividades voluntárias. Para melhorar exercitar as técnicas de criatividade, imagine-se como participante do Desafio Inovação Carrefour Brasil x Hello Tomorrow BR1, que tem como objetivo valorizar soluções inovadoras para o desenvolvimento da comida do amanhã para todos. Veja quais são os desafios propostos pelo Carrefour: Comida mais saudável. Uma comida que faz bem para o corpo, que é nutritiva, saudável e de qualidade garantida. Comida mais sustentável. Uma comida que faz bem para o planeta, que não agride o meio ambiente, da qual conhecemos a origem, e que seja produzida com segurança e responsabilidade. 1 Vide os seguintes sites: CARREFOUR lança desafio de inovação. Disponível em: <http://anprotec.org.br/site/2017/04/carrefour-lanca-desafio-de-inovacao/>. Acesso em: 27 de setembro de 2017. DESAFIO inovação. Disponível em: <https://hellotomorrow2017.typeform.com/to/HbdK6t>. Acesso em: 27 de setembro de 2017. 3 Sem desperdício. Uma comida que faz bem para a sociedade, no sentido do controle de desperdício. Que tal levantar ideias para o desafio utilizando algumas técnicas de criatividade? Em todas as nossas atividades, poderemos colher ideias e sugestões das demais pessoas, com diferentes técnicas. Imagine-se em uma situação real em qualquer um desses contextos, e verifique qual das técnicas a seguir seria mais adequada para resolver seus problemas, colher sugestões ou desenvolver situações ou projetos. TEMA 1 – Técnica S.C.A.M.P.E.R. Para começar, sugerimos que você pesquise no site da 3M o que a empresa comenta sobre essa técnica: ela é tida como importante estímulo ao pensamento criativo e como apoio ao desenvolvimento de novos produtos, novos processos, serviços inovadores ou mesmo um novo negócio. Mas, principalmente, a técnica ajuda muito no refinamento das ideias já existentes para inovação, ou dos problemas ou situações que podem ser melhoradas. Ou seja, trata-se de uma técnica considerada “poderosa”. Ao oferecer perguntas como um “cardápio” de opções, estimula amplamente o pensamento divergente no processo criativo. O termo S.C.A.M.P.E.R. é um acrônimo surgido de sete iniciais de palavras denominadas operadores da técnica: Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Procurar, Eliminar e Rearrumar. A técnica foi proposta por Alex Osborne em 1953, também autor da técnica do brainstorming, e aprimorada por Bob Elerle, em 1971, em seu livro SCAMPER: Jogos para Desenvolvimento de Imaginação. Os operadores propõem exercitar a criatividade a partir de diferentes ângulos que promovem a geração de ideias. Os sete ângulos são apresentados no formato de perguntas preestabelecidas como possíveis soluções genéricas que estimulam as pessoas a pensar em soluções mais específicas. Você pode ver definição de cada operador no quadro a seguir. 4 Quadro 1 - Operadores S.C.A.M.P.E.R Definição dos Operadores Perguntas S Substituir Processo com a intenção de determinar o que é que pode ser utilizado como substituto. A ideia consiste na substituição. - Quais materiais ou recursos poderiam substituir ou serem trocados para melhorar o produto? - Que outro produto ou processo poderia ser usado? - Que regras poderiam ser substituídas ou eliminadas? - O produto (processo, etc.) poderia ser utilizado em outro lugar, ou como um substituto para outra coisa? - O que acontecerá se os sentimentos ou atitudes em relação ao produto forem mudados? C Combinar Processo que investiga como a ideia pode ser combinada com outro fato (ideia, etc.) para gerar algo novo. A proposta é combinar para desenvolver novos produtos ou serviços. - O que aconteceria um produto fosse combinado com outro, para criar algo novo? - E se propostas ou objetivos fossem combinados? - O que seria possível combinar para maximizar os usos do produto? - Como combinar talentos e recursos para criar uma nova abordagem para o produto? A Adaptar Processo que consiste em saber como é possível adaptar uma ideia existente, ou outras ideias. - O que mais o produto, processo, serviço, negócio sugere? - Que outra ideia o produto sugere? - O que pode ser copiado para adaptar à ideia? - Em que contexto seria possível inserir o produto? - Que outros produtos ou ideias poderiam ser utilizados como inspiração? M Modificar, minimizar, maximizar Processo pelo qual, a partir de uma ideia já existente, busca-se atribuir-lhe uma nova utilização, efetuando uma modificação em qualquer nível (forma, dimensão, peso, tempo, frequência, velocidade, entre outros). - De que maneira o produto ou serviço pode ser modificado, aumentado ou reduzido? - Como é possível mudar a forma, a aparência ou a sensação do produto? - O que poderia ser adicionado para modificar o produto, processo, serviço ou negócio? - O que poderia ser enfatizado ou destacado para criar mais valor? - Qual elemento do produto, processo, serviço ou negócio poderia ser fortalecido para criar algo novo? P Procurar, pensar em outros usos Processo que pretende encontrar utilizações alternativas para ideias existentes. Pode ocorrer a utilização do produto para outra finalidade completamente diferente. - A ideia, produto, etc. pode ser utilizada em outros mercados? - Pode ser utilizada em outro lugar, talvez em outra indústria? - Quem mais poderia usar o produto, processo, serviço? - Como o produto se comportaria de forma diferente em outra configuração? - É possível reciclar o desperdício do produto para criar algo novo? 5 E Eliminar Processo de eliminação, redução ou adição de novos ingredientes, componentes, partes de produção ou serviços, de maneira a alterar a ideia original para solucionar problemas. - Como é possível racionalizar ou simplificar o produto? - Quais características, peças, regras, etapas, etc. podem ser eliminadas? - Como poderia torná-lo menor, mais rápido, mais leve ou mais divertido? - O que aconteceria se uma parte do produto fosse retirada? O que seria colocado em seu lugar? R Rearrumar, reverter, rearranjar Processo que visa reverter o produto ou o serviço de modo a criar uma outra ideia, que pode ocorrer pela inversão de tarefas ou conversão do tempo e espaço. - O que aconteceria se esse processo fosse revertido ou sequenciado de maneira diferente? - E se tentasse fazer exatamente o oposto do que está se tentando fazer agora? - Quais componentes poderiam ser substituídos para alterar a ordem do produto? - Que papéis poderiam ser revertidos ou trocados? - Como seria possível reorganizar o produto, processo, serviço ou negócio?Fonte: Elaborado com base em Crea Business Idea, 2010. 1.1 Como aplicar Primeiramente, o tema (produto, processo, serviço, negócio ou a ideia em forma de situação-problema em pergunta ou frase etc.) precisa estar bem definido. Como vimos, essa recomendação serve para todas as técnicas de criatividade. Essa técnica tem o brainstormig como base, com perguntas que auxiliam a geração das ideias, e assim as normas são muito parecidas: não se deve julgar as ideias, deve-se permitir que todos contribuam, e por fim a quantidade de ideias é muito relevante nessa fase. O moderador poderá adotar vários procedimentos na condução da técnica. Em qualquer procedimento, as sugestões deverão ser apresentadas ao final da sessão, sem julgamento (essa será a outra fase). Sugerimos alguns procedimentos. Por exemplo, as perguntas S.C.A.M.P.E.R. podem ser escritas em papéis de flip-chart, separadamente: em cada folha, um dos operadores e suas respectivas perguntas. As pessoas poderão contribuir em todos os operadores, de forma rotativa – por exemplo, com um tempo acordado para estacionar em cada operador. É também possível dividir os participantes em subgrupos, para que trabalhem com um ou dois operadores. Em qualquer das circunstâncias, o ideal é que ninguém trabalhe sozinho com algum operador. Outra sugestão é a adoção de um formulário de todos os operadores (ou um por operador), como guia do trabalho em grupos. 6 Quadro 2 – Formulário S.C.A.M.P.E.R S. SUBSTITUIR: lugares, coisas, pessoas, funções... (preencher com as sugestões) C. COMBINAR: temas, emoções, funções, conceitos, ideias... (preencher com as sugestões) A. ADAPTAR: ideias, outros lugares, outros temas, usos... (preencher com as sugestões) M. MODIFICAR: algum conceito, ideia, produto... (preencher com as sugestões) P. PROCURAR OUTROS USOS: explorar opções... (preencher com as sugestões) E. ELIMINAR: conceitos, funções, tecnologia, partes, usos... (preencher com as sugestões) R. REARRUMAR: inverter elementos, fazer ao contrário... (preencher com as sugestões) TEMA 2 – TÉCNICA P.N.I. (POSITIVO, NEGATIVO E INTERESSANTE) Essa técnica é utilizada para avaliar e selecionar as melhores ideias ou sugestões acerca de um problema produto já definido. Ao invés de a pessoa simplesmente aceitar ou rejeitar uma proposta, o P.N.I. favorece a argumentação. Quadro 3 – Significado do P.N.I. POSITIVO As coisas boas, o que gostei; podem apresentar vantagem competitiva NEGATIVO As coisas ruins, o que não gostei; aspectos que requerem precaução na implementação INTERESSANTE O que achei interessante e que merece aprofundamento; aspectos que podem ter especial relevância Fonte: Adaptado de Crea Business Idea, 2010, p. 39. 2.1 Como aplicar As argumentações de cada item (positivo, negativo, interessante) podem ser consideradas atributos, ainda sem julgamento. Esses atributos devem ser transformados em frases de fácil compreensão, que irão formar uma tabela em que cada atributo poderá ser enumerado. 7 Após organizar a tabela dos atributos P.N.I, o passo seguinte é a análise cuidadosa de cada um desses atributos, considerando-os como enriquecedores das sugestões iniciais. Somente após essa análise é que se procede à dos atributos, com somatória posterior. Esse procedimento poderá ser efetuado para cada solução de determinado tema, produto, processo etc. Ou seja, se o grupo tiver três propostas para um determinado tema, para cada proposta deverá é preciso desenvolver uma tabela P.N.I diferente. Segundo o Manual de Criatividade Empresarial (Crea, 2010), a votação resultará em valores de 1 a 10 (sendo 1 a sugestão menos importante e 10 a mais importante). A sugestão com maior nota será apontada como a melhor solução, ou a solução mais viável naquele momento. Vide exemplo de tabela, com as pontuações correlatas e alguns critérios de avaliação estabelecidos a partir de uma sugestão de solução. Quadro 4 – Exemplo de utilização POSITIVO NEGATIVO INTERESSANTE Permite ampliar mercados internacionais. (+5) O prazo de retorno do investimento em tecnologia, para o desenvolvimento do protótipo, é alto. (-4) Ocupa pouco espaço e é de fácil manejo para o utente. (+3) Os materiais para sua fabricação são baratos. (+3) O retorno positivo do investimento para o desenvolvimento do novo produto tem um prazo longo. (-8) O processo de fabricação é contaminante. (-2) Seu desenvolvimento colocar-nos-ia numa situação vantajosa em relação aos competidores. (+7) Requer trabalhadores altamente qualificados, os quais a empresa não dispõe. (-2) Permite aceder a fontes de financiamento público. (+2) 5+3+7 = 15 (4+8+2 = -14) 3-2+2 = 3 15 – 14 + 3 = 4 Fonte: Adaptado de Crea Business Idea, 2010, p. 40. A técnica P.N.I. auxilia a verificar argumentações opostas, a ver diferentes perspectivas sobre as mesmas coisas, a ampliar a visão sobre determinado assunto, a exercitar o não-julgamento na exploração de ideias (semelhante ao brainstorming) e a fundamentar decisões com base em vários pontos de vista. Sua aplicação em empresas é bastante comum, pois pode abranger um grande número de contribuições para vários fins: estratégias, serviços, processos, produtos etc. Por outro lado, pode ser trabalhosa, pelo mesmo motivo. A tabela pode ser gerada em arquivos digitais e enviada para várias pessoas contribuírem 8 com os critérios de avaliação (positivos, negativos e interessantes). Na etapa seguinte, as ideias são submetidas a uma votação. Ao final, são contabilizados os pontos positivos, negativos e interessantes de cada ideia, para enfim proceder à seleção daquela que obtiver um valor mais elevado. Usualmente, um comitê representativo da empresa trabalha na gestão do processo, desde a geração dos desafios para a acolhida de sugestões até a contabilização das ideias melhor pontuadas. Cabe ao comitê comunicar para o corpo diretivo o andamento do processo e garantir o alinhamento estratégico das ideias selecionadas. O comitê deverá submeter os resultados ao julgamento das demais pessoas, além de compilar, analisar e validar os dados, com o apoio do corpo diretivo. Por fim, devolverá as informações aos participantes para difusão e envolvimento. Essa técnica, quando bem utilizada, tende a ser bem democrática. TEMA 3 – SEIS CHAPÉUS PENSANTES E SEIS SAPATOS ATUANTES As técnicas Seis Chapéus Pensantes e Seis Sapatos Atuantes foram criadas por Edward de Bono. Elas contêm ferramentas para a criatividade voltadas para a prática de inovação radical. 3.1 Seis chapéus pensantes Trata-se de uma técnica simples e eficaz, que ajuda as pessoas a tornarem- se mais produtivas, ensinando-as a separar o pensamento em seis categorias distintas. Cada categoria é identificada com seu próprio "chapéu de pensamento" metafórico e colorido. Ao mudar mentalmente de "chapéus", podemos facilmente nos concentrar ou redirecionar os pensamentos, a conversa ou a reunião. Podemos aproveitar melhor a sabedoria do coletivo, e verificar como elas funcionam bem juntas, com os seguintes objetivos: realizar reuniões críticas sem intervenção exagerada da emoção, resultando em decisões ruins; evitar decisões fáceis, mas medíocres, aprendendo a “cavar mais fundo” com a contribuição das pessoas; aumentar a produtividade e buscar maior eficácia; adotar como norma a necessidade de soluções criativas; maximizar e organizar os pensamentos e ideias de cada pessoa; 9 acessar a solução certa rapidamente e com uma visão compartilhada. Vamos aos significados de cada um dos seis chapéus. Quadro 5 – Seis chapéus Chapéu branco: Exige informações conhecidas e necessárias. Chapéu vermelho: Significa emoções, percepções e intuições. Chapéu preto: Significa o julgamento, criticidade,por que algo pode não funcionar, com base em dados ou percepções. Chapéu amarelo: Simboliza brilho e otimismo em torno da ideia. Chapéu verde: Centra-se na criatividade: as possibilidades, as alternativas e as novas ideias. Chapéu azul: É usado para gerenciar o processo de pensamento. Fonte: Adaptado de Six Thinking Hats, 2017, tradução nossa. A técnica pode ser utilizada para explorar as diferentes perspectivas de uma situação ou de um desafio complexo – por exemplo, com relação a determinada questão de cultura organizacional que necessita ser mudada. Os componentes do grupo que participarão da técnica devem utilizar todos os chapéus para que possam testar e expressar seu ponto de vista por vários ângulos. Enxergar uma situação por vários ângulos é, muitas vezes, uma boa opção para o entendimento da complexidade do problema e dos processos de tomada de decisões, favorecendo a “abertura da mente”. 3.2 Seis pares de sapatos atuantes Esta técnica sugere projetar uma ação. “Sapatos” são associados ao movimento, para atingir um destino. “Sapatos são para ação como chapéus são para o pensamento (…) e requerem estilos diferentes de ação. A ação delicada e necessária para pintar uma casca de ovo é diferente da ação necessária para uma partida de boxe” (Bono, 1994, p. 03). 10 Vamos imaginar uma situação. Pense em quando você vai comprar um sapato novo: o que você busca? Como os seus pés reagem a um sapato novo? Quando você calça um sapato usado, qual a sensação? Quando é preciso abandonar um par de sapatos de que você tanto gosta, que você tanto usa, como você se sente? Vamos aos significados de cada um dos seis pares de sapatos. Cabe ressaltar aqui que De Bono escolheu a cor e a forma do sapato também, pois a forma traduz o tipo de vigor na ação. Quadro 6 – Seis pares de sapatos atuantes Sapato formal marinho Cobre rotinas e procedimentos formais. Sapato tênis cinza Relacionado à exploração, investigação e coleta de evidências. Sapato pés-de-boi marrom Envolve praticidade e pragmatismo. Usados para trabalho duro. Sapato botas de borracha laranjas Sugere cuidados com os perigos e com a segurança. Sapato chinelos rosas: Sugere cuidados, compaixão e atenção aos sentimentos e sensibilidades humanas. Sapato botas roxas: Sugere liderança e comando, como um papel oficial. Fonte: Elaborado com base em de De Bono, 1994. Como exemplo, essa técnica pode ser aplicada para estabelecer uma estrutura prática de ação, a partir de uma estrutura de sugestão de estilos de ação, ou para viabilizar a implementação de um projeto inovador. Mas o autor frisa que “os modos de ação não devem ser usados para categorizar pessoas” (Bono, 1994, p. 125). Aproveitamos para ressaltar os cuidados necessários com estereótipos nas cores dos sapatos – por exemplo, chinelos rosas para mulheres, pés-de-boi marrom para homens. Se for necessário, é possível trocar as cores e as formas dos sapatos, desde que as convenções de cada ação sejam mantidas. 11 TEMA 4 – TÉCNICA DO MINDMAPPING Criada por Tony Buzan, essa técnica vem sendo altamente explorada em todos os campos do conhecimento e aplicada em diversas as áreas. Segundo site de Tony Buzan, trata-se de uma poderosa técnica gráfica que fornece uma chave universal para desbloquear o potencial do cérebro. Ela aproveita toda a gama de habilidades corticais – palavra, imagem, número, lógica, ritmo, cor e consciência espacial – de uma maneira única, excepcionalmente poderosa. Ao fazê-lo, dá-lhe a liberdade de percorrer as extensões infinitas de seu cérebro. O mindmapping pode ser aplicado a todos os aspectos da vida, de modo que uma aprendizagem melhorada e um pensamento mais claro irão melhorar o desempenho humano (Tony Buzan, 2017, tradução nossa). Baseia-se no funcionamento dos nossos neurônios, em como o pensamento flui livremente em nossas mentes de um lado para o outro. Basta você se perceber ao fazer qualquer coisa, quando já dominamos algumas habilidades: tomamos banho com o pensamento em algum outro lugar. Mas não deixamos de nos limpar adequadamente por conta disso. Para aqueles que sabem cozinhar, é possível preparar comidas diferentes ao mesmo tempo, e ainda pensar em outras coisas. Essa fluência do pensamento (pensamento radiante) pode ser captada pelo mindmapping. 4.1 COMO APLICAR Segundo Tony Buzan (2017), os seguintes passos são necessários para a utilização da técnica: 1. Comece no centro uma página em branco virada de lado (na horizontal). Por quê? Porque começar no centro dá a liberdade do seu cérebro espalhar- se em todas as direções e se expressar de forma mais livre e natural. 2. Use uma imagem ou um desenho para representar sua ideia central. Por quê? Porque uma imagem vale mais do que mil palavras e ajuda você a usar sua imaginação. Uma imagem central é mais interessante, mantém você concentrado! 12 3. Use cores em todas as partes. Por quê? Porque as cores são tão emocionantes para o seu cérebro quanto as imagens. A cor adiciona vitalidade e vida extra ao seu mindmap, adiciona energia ao seu pensamento criativo e torna o processo divertido! 4. Conecte suas principais ideias filiais à imagem central e conecte seus ramos de segundo e terceiro níveis ao primeiro e segundo níveis, e assim por diante. Por quê? Porque o cérebro funciona por associação. Ele gosta de vincular duas (ou três ou quatro) coisas juntas. Se você conectar os ramos, você entenderá e lembrará muito mais facilmente. 5. Faça os ramos curvados, ao invés de alinhados diretamente. Por quê? Porque nada além de linhas retas é tedioso para o cérebro. 6. Use uma palavra-chave por ramo (linha). Palavras únicas dão ao seu mindmap mais poder e flexibilidade. 7. Use imagens por toda parte. Cada imagem, como a imagem central, também vale mais do que mil palavras. Então, se você tem apenas dez imagens no seu mindmap, já é igual a 10.000 palavras anotadas! Uma dica importante: após registrar o tema no centro do papel (por imagens ou palavras), desdobre o mapa de quatro a seis ramos principais, com cores diferentes entre si. Esses ramos devem ser a estrutura que irá desdobrar as ideias. Veja o exemplo da figura abaixo, extraída da galeria de exemplos de mindmapping no site de Tony Buzan (2017). Figura 1 - Mindmapping Fonte: Tony Buzan, 2017. 13 O tema central da figura acima foi saúde e seus principais ramos foram: stress, exercícios, ajuda?, dietas e descanso. Quando o mapa está sendo desenvolvido em grupo, essas ramificações podem ser feitas por consenso. Suas aplicações são inúmeras. Citamos algumas para inspirá-los: Entrevistas de candidatos a emprego: o nome do(a) candidato(a) pode estar no centro e as ramificações podem ser: formação, experiência, idiomas, comportamento, habilidades, referências; Resumo de livros, capítulo de livros ou artigos: o tema do livro/capitulo/ artigo ao centro; os ramos iniciais podem ser os principais capítulos/seções – que, por sua vez, terá as ramificações sequenciais; Reuniões: cada tema da reunião poderá ser um dos ramos principais e, em suas ramificações, sempre haverá um ramo que aponte providências, encaminhamentos etc. Pode ocorrer, por exemplo, que em uma reunião o grupo precise tratar sobre uma situação ou um desafio complexo, relacionado à determinada questão da cultura organizacional que necessita ser mudada. Sugere-se que os componentes do grupo que participarão da técnica utilizem todos os chapéus para que possam testar e expressar seu ponto de vista por vários ângulos. Observar uma situação por vários ângulos é, muitas vezes, uma boa opção para a o entendimento da complexidade do problema e dos processos de tomada de decisões, favorecendo a “abertura da mente”. A técnica dos Seis Chapéus do Pensamento é muito útil para tratar de questões complexas ou polêmicas.Pode ocorrer, por exemplo, que uma pessoa com maior tendência à lógica (cor preta) também esteja pessimista com relação ao problema. Quando ela utilizar a cor amarela, poderá reunir emoções renovadas de esperança e trabalhar para ajudar a vencer os problemas da empresa. Alguns lembretes importantes: Utilizar as cores, símbolos, imagens e palavras para acompanhar a fluência do pensamento. Algumas imagens ou símbolos podem ser utilizados como lembretes dos sentimentos captados naqueles momentos, ou naqueles assuntos, que são importantes na geração das ideias; O mapa deverá ser preenchido livremente sem que seja preciso deter-se em cada ramo até esgotá-lo, para depois seguir a outro ramo. Preencha em todas as direções, à medida que as ideias surgem na mente; 14 Ideias repetidas podem aparecer em diferentes ramos: não tem problema! São conexões cerebrais que podem ser evidenciadas por tracejados que unem as ideias repetidas nos diversos ramos; Não menospreze ideias simples que surgem de forma tímida, ou aparentemente desconectadas com o tema central ou os ramos: anote em algum lugar do mapa, sem julgamento! Lembre-se que a mente está trabalhando em conexões cerebrais. Ao término da sessão, o grupo poderá deter-se, de forma proativa, no entendimento de certas conexões. Por fim, para melhor apreensão dessa técnica, sugerimos um vídeo de Marcus Miaddi2, em português, em que ele apresenta o processo passo a passo, de maneira bem didática, e enfatiza as regras principais. Também existem variados softwares livres para criação de mindmapping. TEMA 5 – TÉCNICA T.R.I.Z. (TEORIA DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS) T.R.I.Z. é um acrônimo das palavras russas “теория решения изобретательских задач”; em alfabeto latino escreve-se teoriya resheniya izobretatelskikh zadatch (abreviatura TRIZ), que significa “teoria da resolução inventiva de problemas". Também conhecida como Theory of the Solution of Inventive Problem (TSIP). É uma ferramenta de resolução de problemas, análise e previsão, derivada do estudo de padrões de invenção na literatura global de patentes. Trata-se de uma metodologia sistemática para a solução inventiva de problemas, orientada ao ser humano e baseada em conhecimento, especialmente aplicada ao desenvolvimento e à melhoria de produtos. Não é tão popular como as demais técnicas, pois seu uso é mais restrito aos profissionais de design e engenharias que buscam formar equipes multidisciplinares em sua aplicação – de preferência, com formações bem diferenciadas entre si. Esse é um dos motivos de nos ocuparmos com sua divulgação, visando ampliar seu uso em várias frentes. A T.R.I.Z. surgiu a partir do trabalho de G. S. Altshuller. Ele começou a desenvolver a lógica da técnica entre 1946 a 1948, enquanto trabalhava no departamento de Inspeção de Invenções da flotilha da Marinha Soviética no Mar 2 NEURA TV. Como fazer um Mapa Mental passo a passo: Parte prática (mindmaps). 2015. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=amFlO_Rqu3w>. Acesso em: 27 de setembro de 2017. 15 Cáspio: ajudava na abertura de propostas de invenção, fazia correções, documentava-as e preparava os requerimentos ao escritório de patentes. Durante esse tempo, analisou 200 mil certificados de patentes, selecionou 40 mil documentos para estudar mais detidamente e desenvolver sua técnica (árduo e dedicado trabalho!). Percebeu que um problema requer uma solução inventiva quando há uma contradição não resolvida, ou seja, quando a melhoria de um parâmetro causa impacto negativo sobre outro. Mais tarde, ele chamou a isto de "contradições técnicas". Por exemplo: estrutura reforçada versus estrutura leve. Essa contradição técnica leva ao desenvolvimento de pesquisas sobre novos materiais que possam ser reforçados, ainda que leves. Para pontes, por exemplo, trata-se de inovações tecnológicas muito úteis (Carvalho, 2003). A T.R.I.Z. baseia-se em 39 parâmetros de engenharia que são analisados no cruzamento com 40 princípios inventivos, que formam uma Matriz de Contradições para cruzamento das informações. Adaptamos o material publicado pelo Prof. Marco Aurélio de Carvalho, um dos maiores especialistas no assunto no Brasil, para demonstração. Quadro 7 – Parâmetros utilizados pela T.R.I.Z. 39 Parâmetros de Engenharia 1.peso do objeto em movimento 21.potência 2.peso do objeto parado 22.perda de energia 3.comprimento do objeto em movimento 23.perda de substância 4.comprimento do objeto parado 24.perda de informação 5.área do objeto em movimento 25.perda de tempo 6.área do objeto parado 26. quantidade de substância 7.volume do objeto em movimento 27.confiabilidade 8.volume do objeto parado 28.precisão de medição 9.velocidade 29.precisão de fabricação 10.força 30.fatores indesejados atuando no objeto 11.tensão 31.efeitos colaterais indesejados 12.pressão 32.manufaturabilidade 13.estabilidade do objeto 33.conveniência de uso 14.resistência 34.mantenabilidade 15.durabilidade do objeto em movimento 35.adaptabilidade 16. durabilidade do objeto parado 36.complexidade do objeto 17.temperatura 37.complexidade de controle 18.brilho 38.nível de automação 19.energia gasta pelo objeto em movimento 39.produtividade 20.energia gasta pelo objeto parado Fonte: Carvalho, 2003. Observe que esses parâmetros da engenharia podem ser analisados por leigos no assunto, durante uma sessão de geração de ideias. É só imaginar a 16 quantidade de ideias que todos nós teríamos, com base em alguns desses 39 parâmetros, sobre “geladeiras do futuro”. Caberá aos engenheiros e designers o desenvolvimento das soluções de inovação tecnológicas para as ideias geradas. A partir daí entram os 40 Princípios Inventivos. Quadro 8 – Princípios da T.R.I.Z. 40 Princípios Inventivos 1.segmentação, fragmentação 15.dinamização 29.uso de pneumática e hidráulica 2.remoção, extração 16.ação parcial ou excessiva 30.uso de filmes e cascas 3.qualidade localizada 17.mudança para nova dimensão 31.uso de materiais porosos 4.assimetria 18.vibração 32.mudança de cor 5.união ou mistura 19.ação periódica 33.homogeneização 6.universalização 20.continuidade da ação útil 34.descarte e regeneração 7.alinhamento 21.aceleração 35.mudança de estado físico ou químico 8.contrapeso 22.transformação de prejuízo em lucro 36.mudança de fase 9.compensação prévia 23.realimentação 37.expansão térmica 10.ação prévia 24.mediação 38.uso de oxidantes fortes 11.proteção prévia 25.auto serviço 39.uso de atmosferas inertes 12.equipotencialidade 26.cópia 40.uso de materiais compostos 13.inversão 27.uso de objetos descartáveis 14.recurvação 28.substituição de meios mecânicos Fonte: Carvalho, 2003. A Matriz de Contradição, organizada na forma de tabela, presta-se à análise de parâmetros de engenharia que devem ser melhorados (na vertical) em comparação aos parâmetros piorados (na horizontal), com base no princípios inventivos (listagem lateral). Figura 2 – Matriz utilizada pela T.R.I.Z. Fonte: Carvalho, 2003. 17 5.1 Como aplicar Como comentamos, trata-se de uma ferramenta de resolução de problemas, análise e previsão, derivada do estudo de padrões de invenção e de princípios da engenharia. Ela é orientada para o desenvolvimento humano e baseia-se em conhecimento, sendo mais aplicada ao desenvolvimento de produtos. Como gerar soluções com a T.R.I.Z.? Tomando um problema concreto, específico, pode-se substituí-lo por outro genérico (2), que pode ser resolvido com princípios conhecidos contidos na ferramenta T.R.I.Z., por meio de analogias. Com isso, serão encontradas as soluções genéricas que poderão ser aplicadas para a solução específicas do problema. Figura 3 – Soluções por meio da T.R.I.Z. A utilização da Matriz de Contradições pode seguir o fluxo abaixo. Figura 4 – Fluxo de solução 2. PROBLEMA GENÉRICO3. SOLUÇÕES GENÉRICAS 1. PROBLEMA CONCRETO 4. SOLUÇÕES ESPECÍFICAS ABSTRAÇÃO APLICAÇÃO 18 FINALIZANDO Nesta aula, abordamos as técnicas de criatividade mais voltadas ao uso de grupos. Constatamos a diversidade entre elas e estudamos como aplicá-las de maneira a obter o melhor resultado em relação ao objetivo inicial – lembrando que o resultado também depende da habilidade de envolver as pessoas em torno do que se pretende alcançar. A aplicação das técnicas é variada; desde que se tenha clareza sobre o que se pretende com elas, seu uso pode ser intensivo em várias frentes. 19 REFERÊNCIAS BONO, E. Seis sapatos atuantes. São Paulo: Pioneira, 1994. BUZAN, T. Mapas mentais e sua elaboração. São Paulo: Cultrix, 2005. CARVALHO, M. A. de. O que é a TRIZ? 2003. Disponível em: <http://www.decarvalho.eng.br/triz.html>. Acesso em: 28 set. 2017. CREA BUSINESS IDEA. Manual de Criatividade Empresarial. 2010. Disponível em: <http://www.cria.pt/media/1366/manual-creatividade-portugues_pt_web.pdf>. Acesso em: 28 set. 2017. GREGERSEN, J. O.; CHRISTENSEN, C. M. DNA do Inovador: Dominando as 5 habilidades dos inovadores de ruptura. São Paulo: HSM Editora, 2011. SIX THINKING HATS. Disponível em: <http://www.debonothinkingsystems.com/tools/6hats.htm>. Acesso em: 28 set. 2017. TONY BUZAN. Disponível em: <http://www.tonybuzan.com/about>. Acesso em: 28 set. 2017.