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MEDICINA LEGAL APLICADA À INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Profa. Me. Larissa Comparini da Silva Nascimento CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. N244m Nascimento, Larissa Comparini da Silva Medicina legal aplicada à investigação criminal. / Larissa Com- parini da Silva Nascimento. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 108 p.; il. ISBN 978-85-7141-296-5 1. Medicina legal – Brasil. 2. Criminalística – Brasil. 3. Investigação criminal – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 345.8105 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Introduçâo Á Medicina Legal .....................................................07 CAPÍTULO 2 Ciências Forenses – Parte I .......................................................41 CAPÍTULO 3 Ciências Forenses – Parte II ......................................................77 APRESENTAÇÃO O livro da disciplina de Medicina Legal Aplicada à Investigação Criminal para auxiliar na compreensão e entendimento do acadêmico no assunto. A Medicina Legal é a base primordial na perícia técnico-científica e nas ações demandadas pelos juizados nas diferentes esferas judiciais, sendo utilizada como parâmetro, principalmente para elucidar casos como estupro, homicídios, suicídios, lesões corporais nos mais diversos graus, entre outros. As diferentes causas de morte em cadáveres encontrados hoje em dia possivelmente só podem ser elucidadas através do seu estudo e compreensão. Ao longo do livro, você, acadêmico, poderá conhecer e assimilar melhor os conhecimentos já obtidos durante sua graduação, seja na área do Direito Penal, Direito Civil, Direito Trabalhista ou Direito Familiar. CAPÍTULO 1 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: conceitos básicos pertinentes a perícia, elaboração de laudos e pareceres técnicos, distinção das diferenças na Medicina Legal. Fazer: elaborar laudos e pareceres técnicos; distinguir as diferenças entre os cargos dentro da área pericial; analisar e compreender os objetos de estudo que envolvam as perícias. A proposta do nosso módulo é: familiarizar você, acadêmico, com a terminologia utilizada na Medicina Legal e em ciências forenses correlatas; enfatizar a importância e a interligação das ciências médico-forenses com o Direito; auxiliar no entendimento das leis e materiais processuais relacionados à Medicina Legal; auxiliar o acadêmico a ler, entender e interpretar as funções dos peritos e assistentes técnicos, assim como de outros auxiliares de Justiça. 8 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 9 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A Medicina Legal é uma área da Medicina aplicada ao estudo do Direito, como forma de prova pericial, laudo necroscópico ou cadavérico, elucidação de crimes sexuais, agressões e maus-tratos. Seu objeto de estudo normalmente é o ser vivo, ou cadáver, que sofreu algum tipo de crime. Durante seu estudo, será possível analisar conceitos básicos, tais como: pericias, laudos, diferenças entre peritos, assistentes técnicos e auxiliares, tipos de morte e de lesões (perfurocortantes, por esganadura, enforcamento, asfi xia, afogamento, por arma de fogo, por agressão). Ao fi nal do módulo, você, acadêmico, terá facilidade na interpretação e redação de laudos e processos dentro de sua área de atuação. Para França (2017), a Medicina Legal é vista como “a contribuição médica e da tecnologia e ciências afi ns às questões do Direito, na elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina”; ou como “o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito e cooperando na elaboração do laudo pericial, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais no seu campo de ação aplicado à medicina”. Neste capítulo, vamos abordar temas distintos, como: diferenças entre peritos, perícias e assistentes técnicos; diferenças periciais e conceitos utilizados na Medicina Legal. 2 DIFERENÇAS ENTRE PERITOS, PERÍCIAS E ASSISTENTES TÉCNICOS Nesse contexto, vamos abordar as diferenças primordiais entre cada função na área da perícia, visando esclarecer possíveis dúvidas: 10 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 2.1 Peritos A denominação de perito é dada ao auxiliar da Justiça, sendo esse uma pessoa hábil que tenha conhecimento em determinada área técnica ou científi ca, nomeada por autoridades competentes e que devem esclarecer um fato de natureza duradoura ou permanente. O perito presta serviços à Justiça e é isento de sigilo profi ssional, pois tem o dever de informar ao juiz sobre o fato do ponto de vista técnico (ORNESTI, 2012). O Código de Processo Civil cita dezenas de vezes o termo perito, sendo por ele classifi cado como o cidadão que irá produzir um relatório para constar como prova no processo. O perito representa a Justiça na prova/ perícia judicial. A nomeação é realizada por autoridade policial ou judiciária. Hoje, admitem- se em processos penais os peritos particulares ou assistentes técnicos, conforme mostra o artigo 421 da Lei no 8.455 (BRASIL, 1992). Art. 421 – o juiz nomeará o perito, fi xando de imediato o prazo para entrega do laudo (Redação dada pela Lei n° 8.455, de 24.08.1992) S1° Incumbe as partes, dentro em 05 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I - Indicar o assistente técnico; II - Apresentar os quesitos; O perito é qualquer pessoa capaz para alvos da vida civil com conhecimento técnico-formal, idônea e hábil, podendo ser substituída durante o processo se for verifi cado que não possui conhecimento técnico-científi co para o caso ou deixar de prestar o compromisso. Existem impedimentos para determinados casos, sendo assim, não podem exercer a função de perito: o incapaz, pois não é apto para o exercício de seus direitos civis, além de não possuir conhecimento técnico-científi co; pessoas impedidas (CPC, art. 144 – sendo testemunhas, cônjuges, ou qualquer outro parente, em linha reta ou colateral até o 3° grau), e nos casos de suspeição (CPC, art. 145 – o amigo íntimo ou inimigo capital de uma das partes). Os peritos podem ser ofi ciais ou não ofi ciais (respectivamente, funcionários públicos ou particulares). O exame de corpo de delito e as perícias em geral 11 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 são realizados pelo perito, apreciador técnico, assessor do juiz com a função de fornecer dados instrutórios de ordem técnica e proceder a verifi cação e formação do corpo de delito. A perícia deve ser realizada por perito ofi cial, o que constitui a regra. Não havendo o perito ofi cial, o exame deve ser realizado por duas pessoas idôneas que, obrigatoriamente, devem ser portadoras de nível superior. Devem ainda ser escolhidas, de preferência, entre aquelas que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame, por exemplo: médicos para exames necroscópicos e de lesão corporal, engenheiros para avaliação de imóveis, entre outros. “o perito não defende nemacusa. Sua função é verifi car o fato e indicar a causa que o motivou...” (visum et repertum) (ORNESTI, 2012). 2.1.1 PreVisÃo Legal dos Peritos OFiciais (Direito Penal) CÓdigo de Processo Penal O artigo a seguir prevê no Código de Processo Penal as condições sobre realização do exame de corpo de delito, que primeiramente deve ser realizado por Perito Médico-Legal e no caso de não haver o mesmo, deve ser realizado por duas pessoas idôneas, capacitadas e especializadas para tal fi m. Art. 159. O exame de corpo de delito de outras pericias serão realizados por perito ofi cial, portador de diploma de curso superior. S 1°. Na falta de perito ofi cial, o exame será realizado por 02 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área especifi ca, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. S 2° os peritos não ofi ciais prestarão o compromisso de bem e fi elmente desempenhar o encargo. S 3° serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação dos quesitos e indicação de assistente técnico. 12 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 2.1.2 PreVisÃo Legal dos Peritos OFiciais (Direito CiVil) CÓdigo de Processo CiVil Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou cientifi co, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no Art. 421. S 1° os peritos serão escolhidos entre profi ssionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitando o disposto no Livro I, Título VIII, Seção VII, deste Código. S 2° os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre a qual deverão opinar, mediante certidão do órgão profi ssional em que estiverem inscritos. S 3° nas localidades onde não houver profi ssionais qualifi cados que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz. 2.1.3 PreVisÃo Legal dos Peritos OFiciais (Direito TraBalHista) CÓdigo de Leis TraBalHistas Art. 195. A caracterização e a classifi cação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo do Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho registrados no Ministério do Trabalho. 2.1.4 DeVeres do Perito Aceitar o encargo de executar a perícia, exercer a função, respeitar os prazos, comparecer às audiências desde que intimado com antecedência de cinco dias, sob pena de condução coercitiva, fornecer informações verídicas (dever com lealdade); 13 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 Segundo Tourinho (1994), prova é o elemento demonstrativo da autenticidade ou da veracidade de um fato. Seu objetivo é “formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a decisão da causa”. O objeto de sua apreciação são todos os fatos, principais ou secundários, que demandam uma elucidação e uma avaliação judicial. Tão grande é a importância da prova, que se pode afi rmar que todo processo consiste nela. É o norte que aponta o rumo da lide. A prova é a voz do fato. Chama-se prova proibida aquela que é obtida por meios contrários à norma. Diz-se que ela é ilícita quando agride uma regra de direito material e de ilegítima quando afronta princípios da lei processual. A avaliação da prova pode ser feita por três sistemas conhecidos: 1. Sistema legal ou tarifado: em que o juiz se limita a comprovar o resultado das provas e cada prova tem um valor certo e preestabelecido; 2. Sistema da livre convicção: em que o magistrado é soberano, julga segundo sua consciência e não está obrigado a explicar as razões de sua decisão; 3. Sistema da persuasão racional: quando o juiz forma seu próprio convencimento baseado em razões justifi cadas. Este último é o sistema adotado entre os peritos. Nele, mesmo que o juiz não esteja adstrito às provas existentes nos autos, terá que fundamentar sua rejeição. A sentença terá que discutir as provas ou indicar onde se encontram os fatos do convencimento do juiz. O artigo 157 do Código de Processo Penal diz que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova. Não se deve confundir convicção íntima com livre convencimento do juiz na apreciação das provas. Dessa forma, o livre convencimento do julgador não é um critério de valoração alternativo secundum conscientizam, mas um princípio racional e metodológico que o leva a aceitar ou rejeitar um resultado pericial capaz de fundamentar sua decisão. A avaliação da prova deve ter o mesmo sentido que tem a decisão judicial: sem motivação ideológica ou emocional, mas tão só baseada na racionalidade e na lei. Assim, ao julgador não se pede uma certeza absoluta, senão que ele encontre a solução mais racional e a juridicamente mais correta para a lide. Não pode ele operar com meras probabilidades ou conjecturas. Considerando-se o princípio constitucional expresso no artigo 5o – II que diz: “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de Lei” e, ainda, o que assegura o STF dizendo “ninguém pode ser coagido ao 14 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal exame ou inspeção corporal, para a prova cível” (RJTJSP 99/35, 111/350, 112/368 e RT 633/70), está evidente que ninguém é obrigado a ser submetido a qualquer tipo de exame pericial sem sua permissão. Mesmo que se trate de matéria de ordem pública, em que o interesse comum prepondera ao do particular, ainda assim a averiguação da verdade não pode nem deve se sobrepor aos direitos e ao respeito que se impõem ao examinado, que venha a se omitir ou a se deixar examinar. Não cabe dizer que “os fi ns justifi cam os meios”. 2.1.5 Cadastro Do Perito – AuXiliar De Justiça Para questões civis, pode haver um cadastro de peritos, conforme estabelece o Código de Processo Civil, quando assim se expressa: Art. 156 – O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científi co. § 1º – Os peritos serão nomeados entre os profi ssionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científi cos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. § 2º – Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profi ssionais ou de órgãos técnicos interessados. § 3º – Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação profi ssional, a atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados. § 4º – Para verifi cação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, nos termos dos artes. 148 e 467, o órgão técnico ou científi co nomeado para realização da perícia informará ao juiz os nomes e os dados de qualifi cação dos profi ssionais que participarão da atividade. § 5º – Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha do juiz e deverá recair sobre profi ssional ou órgão técnico ou científi co comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. O caput deste artigo se refere ao termo “perito” de forma generalizada, pois a perícia será defi nida a partir do objeto da perícia. Quando se diz que o juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia, ou seja, na área de especialidade, nos parece que não se trata de especialidades médicas e sim de 15 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 pessoas que atuem na área de conhecimentos técnicos pertinentes ao tipo de perícia desejada, portanto não há impedimento legal ou ético para que o médico, quando devidamente registrado no ConselhoRegional de Medicina da sua jurisdição e que se sinta capacitado a realizar perícia médica, seja nomeado como perito do juiz. Desta forma, entendemos que o cadastro de peritos especialistas dos Tribunais poderá ser feito a partir da lista de médicos inscritos no CRM independentemente de ter ou não o Registro de Qualifi cação de Especialidade em Medicina Legal ou Perícia Médica (ver o Parecer CFM nº 45/2016). 2.1.6 Direitos do Perito Escusar-se do encargo, pedir prorrogação de prazos, receber informações, ouvir testemunhas, verifi car documentos de qualquer lugar, ser indenizado das despesas relativas do serviço prestado e receber honorários condizentes com o trabalho. 2.1.7 Falsa Pericia O perito será penalizado judicialmente, conforme previsto no art. 342 do Código de Processo Civil, nos casos onde ocorrer comunicação de falsa pericia, alcançando peritos ofi ciais e não-ofi ciais, negando a verdade ou fazendo falsa afi rmação sobre o caso, ou até mesmo silenciando sobre pontos importantes para a elucidação do caso. 2.2 Assistente TÈcnico Segundo o Código de Processo Civil, o assistente técnico é o profi ssional que representará a parte na perícia, sendo, portanto, alguém de sua confi ança. O pagamento dos honorários do assistente técnico será efetuado diretamente pela parte contratante. Este profi ssional tem como função acompanhar o trabalho pericial, fi scalizando-o em nome da parte que o constituiu. Segundo o Código de Processo Civil, Art. 429 – para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografi as e outras quaisquer peças. 16 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal O assistente técnico atua através de parecer técnico, ou elaboração de quesitos ao Perito Judicial ou Ofi cial. Esses quesitos são elaborados após o despacho de nomeação do perito, a intimação do despacho, em que em cinco dias as partes devem indicar o assistente técnico, e formular os quesitos ao perito. Os mesmos também podem ser elaborados como suplemento após o laudo do perito. “Art. 425 do Código de Processo Civil – poderão as partes apresentar, durante a diligência, quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária” (BRASIL, 2002) Não há referência no Código de Processo Civil ao termo Perito Assistente, porém, ouve-se a expressão em diversas regiões do País. Alguns dizem perito assistente para designar o assistente técnico. O ideal é não utilizar a nomenclatura supracitada, para não haver dúvidas. 2.3 PerÍcia O termo Perícia é designado como o meio de prova feita pela atuação de técnicos ou doutos promovida pela autoridade policial ou judiciaria com a fi nalidade de esclarecer a justiça sobre o fato de natureza duradoura ou permanente. Segundo França (2017), a perícia, segundo seu modo de realizar-se, pode ser sobre o fato a analisar (perícia percipiendi) ou sobre uma perícia já realizada (perícia deducendi), o que para alguns constitui-se em um parecer. Assim, a perícia percipiendi é aquela procedida sobre fatos cuja avaliação é feita baseada em alterações ou perturbações produzidas por doença ou, mais comumente, pelas diversas energias causadoras do dano. Ou seja, perícia percipiendi é aquela em que o perito é chamado para conferir técnica e cientifi camente um fato sob uma óptica quantitativa e qualitativa. E por perícia deducendi, a análise feita sobre fatos pretéritos com relação aos quais possa existir contestação ou discordância das partes ou do julgador. Aqui o perito é chamado para avaliar ou considerar uma apreciação sobre uma perícia já realizada. Todavia, tanto na perícia percipiendi como na deducendi existe o que se chama de parte objetiva e parte subjetiva. A parte objetiva é aquela representada pelas alterações ou perturbações encontradas nos danos avaliados. Estas, é claro, como estão baseadas em elementos palpáveis ou mensuráveis, vistas por todos, não podem mudar. Essa parte é realçada na descrição. No entanto, a avaliação dos elementos da parte objetiva pode levar, no seu conjunto, a raciocínios divergentes e contraditórios, por exemplo, em se determinar a causa jurídica de morte (homicídio, suicídio ou acidente), e onde possam surgir conceitos e teorias discordantes. Essa parte subjetiva é sempre valorizada na discussão. 17 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 A perícia tem como fi nalidade levar o conhecimento técnico ao juiz, produzindo provas para auxiliá-lo em seu livre convencimento e levar ao processo a documentação técnica dos fatos, o qual é feito através de documentos legais. De acordo com estudos realizados por França (2017), as perícias de natureza criminal estão reguladas pela Lei no 12.030, de 17 de setembro de 2009, estabelecendo como normas gerais que “no exercício da atividade de perícia ofi cial de natureza criminal, é assegurada autonomia técnica, científi ca e funcional, exigido concurso público, com formação acadêmica específi ca, para o provimento do cargo de perito ofi cial” (BRASIL, 2009). Mais: “Em razão do exercício das atividades de perícia ofi cial de natureza criminal, os peritos de natureza criminal estão sujeitos a regime especial de trabalho, observada a legislação específi ca de cada ente a que se encontrem vinculados”. E fi nalmente que observado o disposto na legislação específi ca de cada ente a que o perito se encontra vinculado, são peritos de natureza criminal os peritos criminais, peritos médico- legistas e peritos odontologistas com formação superior específi ca detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão e por área de atuação profi ssional (BRASIL, 2009). Nas ações penais, o laudo médico-legal não é documento sigiloso. É uma peça pública, como o boletim de ocorrência e o inquérito policial ao qual ele é anexado. Quando a autoridade policial acredita que sua divulgação pode prejudicar o andamento da investigação, solicita a um juiz que decrete segredo de Justiça sobre o caso. Nas ações penais privadas, apenas o juiz nomeará o perito, e tal fato não o coloca vinculado à perícia e, por isso, não fi cará ele adstrito ao laudo, podendo aceitar ou rejeitá-lo no todo ou em parte (sistema do livre convencimento). Com as modifi cações do artigo 159 do Código de Processo Penal (Lei no 11.690, de 9 de junho 2008), o exame de corpo de delito e outras perícias poderão ser realizados por perito ofi cial, portador de diploma de curso superior, e na sua falta pode-se contar com duas pessoas idôneas, “portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específi ca, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”. Como inovação o fato de ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado o direito da formulação de quesitos e a indicação de assistente técnico; essa indicação do assistente técnico dar-se-á a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames, elaboração do laudo pelos peritos ofi ciais e conhecimento das partes. Quando se tratar de perícia complexa poder- se-á designar mais de um perito ofi cial e a parte indicar mais de um assistente técnico. Entende-se por perícia complexa aquela que abranja mais de uma área de conhecimento especializado. Nas perícias de natureza civil, o juiz pode nomear o perito tendo as partes cinco dias, depois da intimação de despacho de nomeação 18 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal de perito, a faculdade de indicar assistentes e apresentarem quesitos. O perito apresentará laudo em cartório, no prazo fi xado pelo juiz, até vinte dias antes da audiência de instrução de julgamento. Os assistentes técnicos entregarão seus pareceres dez dias após a apresentaçãodo laudo do perito, sem necessidade de intimação. As pericias devem ser realizadas o mais rápido possível, respeitando algumas situações: • Exame necroscópico: mínimo seis horas; • Exame de lesão corporal: mínimo de 30 dias • Nomeação do Juiz: até 10 dias, com exceção em casos de: cessação de periculosidade (um mês ou 15 dias); incidente ou insanidade (até 45 dias); dilação solicitada pelos peritos; de acordo com o Código de Processo Penal. • Prazos determinados pelo Juiz, respeitando, algumas exceções: dilação solicitada pelo perito do juízo; 10 dias a mais para os assistentes técnicos; de acordo com o Código de Processo Civil. O perito deve ser neutro em todas as situações as quais é exposto, de acordo com o previsto: • Suspeição: o perito não pode ter vínculo com nenhuma das partes envolvidas no processo; • Impedimento: o perito não pode ter relação de interesse com o objeto do processo; • Incompatibilidade: o perito por outras razões de conveniência previstas nas leis de organização judiciária; Situações previstas em lei, nos artigos: arts. 252, 253 e 254 do Código de Processo Penal e nos arts. 134 e 135 do Código de Processo Civil. 2.3.1 DiFerenciaçÃo das PerÍcias A seguir vamos descrever as diferenças entre os tipos de pericias existentes. 2.3.1.1 PerÍcia MÉdica Ocorre quando a perícia em questão versa sobre questões médicas, tendo a necessidade de um perito médico. São requisitadas pelas autoridades 19 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 competentes (normalmente Juiz), salvo se a mesma se faz necessária na fase de inquérito, quando será solicitada pela autoridade policial. Pode ser requisitada em qualquer fase do processo, isto e, na instrução, no julgamento ou até mesmo na execução. São pericias médicas: as pericias psiquiátricas, psicológicas, psicanalíticas, necroscópicas, traumatológicas, entre outras. 2.3.1.2 PerÍcia NÃo MÉdica Ocorrem normalmente na avaliação de imóveis, documentos contábeis, processos e produtos químicos, ambientes administrativos, entre outros. Sendo realizadas por profi ssionais qualifi cados dentro da esfera requerida. É utilizada em foros civis, criminais e trabalhistas: • Criminais: atua quando se trata de identifi cação de pessoas, identifi cação de espécie animal, determinação de morte, prova de virgindade ou conjunção carnal, diagnóstico de lesões corporais e dos instrumentos ou meios que causaram, apreciação do estado mental do criminoso ou da vítima. • Civis: visa documentar situações para favorecer a aplicação do Código Civil, declarar a insanidade de pessoas para fi ns de interdição de direitos, prova de impotência cuendi, visando anulação de casamento, investigação de paternidade, entre outras causas. • Trabalhistas: estuda os acidentes de trabalho, as lesões que ocorreram no trabalho, avalia o grau de incapacidade resultante do acidente, estabelece o nexo da causa e efeito, analisa a insalubridade, periculosidade de determinado local, entre outros. Todo e qualquer exame elaborado por médicos, destinados ao uso judicial são denominados Perícias Médico-Legais; já os exames elaborados por profi ssionais de outras áreas, desde que destinados à prova em juízo, são denominadas pericias. As perícias podem ser diretas (onde os exames são realizados diretamente nas vítimas), ou indiretas (exames realizados através de documentos, fi chas hospitalares, autos processuais). Existem três tipos de perícias a serem estudados: • Percipiendi: ou perícia de retratação, é feita através de narração minuciosa do fato observado pelo perito “visum et repertum”. • Deduciendi: ou perícia interpretativa, é realizada através da interpretação dos fatos e das circunstancias que levarão a uma conclusão técnica. 20 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal • Opinativa: é a perícia composta por um parecer do assistente especialista no assunto. As perícias podem ser retrospectivas, onde analisam e relatam fatos ocorridos no passado, visando perpetuar as provas, fornecendo provas ao processo. Ou, prospectivas, onde analisam situações presentes que levarão a efeitos futuros, principalmente na esfera de benefícios INSS, periculosidade e insalubridade, entre outros. 2.3.2 EXame de CorPo de Delito e CorPo de Delito O corpo de delito é a soma dos elementos e vestígios encontrados no local dos fatos, nos instrumentos utilizados, nas peças encontradas, nos objetos vivos ou mortos. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confi ssão do acusado (Código de Processo Civil). Em delitos que deixam vestígios, então, necessariamente deverá existir exame pericial, sob a pena de nulidade processual. O exame de corpo de delito é todo exame relacionado a um fato criminoso, inclusive aqueles feitos nos laboratórios da Policia Cientifi ca. • Vivos: a perícia é realizada nos casos como violência sexual, conjunção carnal, atos libidinosos, gravidez, parto, lesão corporal, estimativa de idade, dosagem alcoólica, exames toxicológicos, infortúnios do trabalho. • Cadáveres: a perícia indicará a realidade da morte, causa da morte, necropsia em mortes violentas e suspeitas, cronologia da morte, identifi cação, exames toxicológicos das vísceras e outros complementares. • Esqueleto: a perícia é realizada para identifi cação antropológica, sexo, estatura, idade, achados da violência. • Locais e Objetos: a perícia é realizada em impressões digitais, armas de fogo, manchas em vestes e em instrumentos. 21 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 3 MEDICINA LEGAL Segundo França (2017), a Medicina Legal é uma ciência de largas proporções e de extraordinária importância no conjunto dos interesses da coletividade, porque ela existe e se exercita cada vez mais em razão das necessidades da ordem pública e do exercício social. É uma especialidade concomitantemente médica e judiciária que utiliza conhecimentos técnico-científi cos da medicina para o esclarecimento de fatos de interesse da Justiça. O especialista medico praticante é denominado médico legista. Variam as defi nições, conforme os autores. Algumas delas: "É a contribuição da medicina e da tecnologia e ciências afi ns às questões do Direito, na elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina" (FRANÇA, 2017). "Arte de pôr os conceitos médicos a serviço da administração da Justiça" (Lacassagne). "A aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na elaboração e execução das leis que deles carecem" (Flamínio Fávero). "É o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos, destinados a servir ao Direito e cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais no seu campo de ação de medicina aplicada" (Hélio Gomes). Hélio Gomes (1958) acervava que: não basta um médico ser simplesmente um médico para que se julgue apto a realizar perícias, como não basta um médico ser simplesmente médico para que faça intervenções cirúrgicas. São necessários estudos mais acurados, treino adequado, aquisição paulatina da técnica e da disciplina. Nenhum médico, embora iminente, está apto a ser perito pelo simples fato de ser médico. É-lhe indispensável educação médico- legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, noção clara da maneira como deverá responder aos quesitos, prática na redação dos laudos periciais. Sem esses conhecimentos puramente médico-legais, toda a sua sabedoria será improfícua e perigosa. A Medicina Legal não se preocupa apenas com o indivíduo enquanto vivo, mas alcança-o ainda quando ovo e pode vasculha-lo muitos anos depois, na 22 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal escuridão da sepultura. É muito mais uma ciência social do que propriamente um capítulo da medicina, devido à sua preocupação no estudo das mais diversas formas de convivência humana e do bem comum. Comopodemos observar na Figura 1, nos primórdios, as autópsias ou necropsias eram realizadas de forma precária, sem os devidos equipamentos de proteção individual e em qualquer lugar. Desde os primórdios da humanidade, existe a curiosidade sobre o corpo humano suas formas e funções, assim como se faz necessário o entendimento da causa mortis do indivíduo, seja por causa natural ou não. Figura 1 – Autópsia, 1890 (Enrique Simonet) Fonte:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_legal#/media/File:Enrique_ Simonet_-_La_autopsia_1890.jpg. >. Acesso em: 7 nov. 2018. 3.1 ClassiFicaçÃo A Medicina Legal pode ser classifi cada e subdividida da seguinte forma: 3.1.1 Medicina Legal Geral • Medicina Legal Legislativa – contribui para a elaboração de leis, regendo o Direito Constituendo; • Medicina Legal Pericial – é a realização das perícias médicas em todos os campos do Direito, regendo o Direito Constituído; 23 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 • Deontologia e Diceologia Médicas regem a Jurisprudência Médica; • Medicina Legal Especial – é a realização de perícias para atender ao Código Penal. 3.1.2 Medicina Legal EsPecial A Antropologia médico-legal: estuda a identidade e a identifi cação médico- legal e judiciária. A Traumatologia médico-legal: estuda as lesões corporais sob o ponto de vista jurídico. A Sexologia médico-legal: estuda sexualidade do ponto de vista normal, anormal e criminoso. A Tanatologia médico-legal: estuda a esfera que cuida da morte e dos fenômenos as ela relacionados. A Toxicologia médico-legal: estuda os cáusticos e venenos. A Asfi xiologia médico-legal: estuda e detalha aspectos da asfi xia. A Psicologia médico-legal: estuda e analisa o psiquismo normal e as causas que podem deformar a capacidade de entendimento da testemunha, da confi ssão, do delinquente e da vítima. A Psiquiatria médico-legal: estuda transtornos mentais e problemas da capacidade civil, do ponto de vista médico-forense. A Criminalística: estuda e investiga tecnicamente os indícios materiais do crime. A Criminologia: estuda e preocupa-se com aspectos da crimino gênese, do criminoso da vítima e do ambiente. A Infortunística: estuda os acidentes e doenças de trabalho. A Genética médico-legal: estuda e especifi ca questões voltadas ao vínculo genético e à identifi cação médico-legal. A Vitimologia: estuda e trata da vítima como elemento inseparável na justifi cativa dos delitos. Para entendermos melhor sobre a Medicina Legal e suas aplicações, precisamos conhecer um pouco mais sobre a História da Medicina Legal, abaixo citaremos alguns pontos importantes, desde os primórdios da medicina legal, até os dias atuais, com sua utilização e aplicação principalmente na área pericial. 24 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 3.1.3 HistÓria Da Medicina Legal no Mundo Segundo Ornesti (2012): Os primórdios da Medicina Legal ocorreram inicialmente na Babilônia antiga, Babilônia em XVIII a.C., onde criou-se o Código de Hamurabique previa a punição por erro médico. Já no Antigo Egito, as grávidas não podiam ser torturadas e nem ter seus corpos violados. Na China – 1240 a.C. – Hsi yuan lu instruía sobre o exame post-mortem para possível verifi cação do óbito e de sua causa. Na Pérsia antiga, houve a Classifi cação das lesões corporais por ordem de gravidade e por causa. Numa Pompilio (715-672 a.C.) auxiliou e estabeleceu a Abertura do útero das mulheres que morriam grávidas; Justiniano (483 a 565 d.C.) estabeleceu que médicos deveriam e poderiam ser testemunhas especiais em juízo; Carlos Magno (742 a 814 d.C.) – “Capitularias”: juízes instruídos a ouvir os médicos em casos de lesão corporal, infanticídio, suicídio, estupro, impotência etc.; Papa Gregório IX (1234) – decretou que a opinião médica, nos casos de exame médico de virgindade servia para ser utilizada nas anulações de casamentos; Em 1374 a Faculdade de Montpellier recebeu a primeira permissão do Papa para realizar necropsias. Século XVI: Em 1521 o Papa Leão X foi o primeiro Papa a ser necropsiado; Em 1532 – "Constitutio Criminalis Carolina" – Carlos V, na Alemanha, foi responsável por um grande marco da história da Medicina Legal no século XVI, quando vários temas médico-legais; necropsias em casos de morte violenta foram discutidos. Foi considerado embrião da Medicina Legal como uma disciplina distinta e individualizada para utilização em elucidações de crimes ou exclusão de indivíduos. Século XVI: Ambroise Paré, 1575, na França, foi responsável por editar o primeiro livro ocidental de Medicina Legal. Sendo considerado o “Pai da Medicina Legal”; Séculos XVII e XVIII: Paulus Zacchias – Roma: “Questiones medico-legales”, foi um conjunto de 10 livros publicados entre 1621 e 1658, que serviu de grande Infl uência até o século XIX; Séculos XVII e XVIII: 1650 – Universidade de Leipzig teve o primeiro curso especializado em Medicina Legal; 25 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 1682 – Caso de Bratislávia – Schreyer - Docimasia de Galeno 1782 – Berlim – primeiro periódico Século XIX: O século dourado da Medicina Legal Medicina Pública 1821 – Orfi lla – iniciou os estudos sobre a Toxicologia Forense 1829 – “Anales d’Hygiene Publique et Medicine Legale” 1834 – Devergie foi o primeiro curso prático de Medicina Legal na França Século XIX: 1850 e 1856 – Casper – escreveu sobre “Dissecção Forense” e “Manual Prático de Medicina Forense”, Brouardel, Tardieu, Lacassagne, Legrand du Saulle, Matin, Thoinot, Vibert e Bauthazard, na França; 3.1.4 HISTÓRIA DA MEDICINA LEGAL NO BRASIL Segundo Ornesti (2012), a Medicina Legal francesa teve grande infl uência nos estudos e na aplicação da Medicina Legal no Brasil: 1808 – Criadas as Faculdades de Medicina; 1830 – Primeiro código penal brasileiro; 1832 – Criada a perícia profi ssional; 1854 – Conselheiro Jobim – uniformização da prática dos exames médico- legais; 1856 – Criada a assessoria médica junto à Secretaria de Polícia da Corte; 1900 – Assessoria médica da polícia transformada em Gabinete Médico- Legal; 1903 – Decreto 4.864 – (Afrânio Peixoto) normas detalhadas para a conclusão das perícias médicas; 1907 – Decreto 6.440 – Transforma o Gabinete em Serviço Médico-Legal; 1924 – Serviço Médico-Legal passa para o Instituto Médico-Legal, Souza Lima, Nina Rodrigues, Afrânio Peixoto, Oscar Freire, Hélio Gomes; As lições de anatomia, em seus primórdios, vieram colaborando com os estudos em Medicina e consequentemente Medicina Legal, onde era fundamental o conhecimento sobre o corpo humano e seu funcionamento para realização dos procedimentos cirúrgicos pouco conhecidos na época. A seguir, na Figura 2, a ilustração que marca um ponto inicial nos estudos em cadáveres e na utilização dos mesmos para elucidação de crimes e de causa morte. 26 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Figura 2 – Rembrandt – A Lição De Anatomia Do Dr. Jan Deyman (1956) Fonte: <http://amsterdammuseum.nl/en/gallery-golden-age-0>. Acesso em: 7 nov. 2018. A Medicina Legal veio ao encontro da necessidade de se conhecer mais o corpo humano e de elucidar as causas de mortes, identifi cando os cadáveres, elucidando homicídios e suicídios através de sua prática, como exemplifi cado na Figura 3. Figura 3 – Medicina Forense, Qual Sua Função Fonte: <https://www.saludymedicinas.com.mx/centros-de-salud/salud-masculina/ articulos-relacionados/medicina-forense-funciones.htm>. Acesso em: 7 nov. 2018. 27 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 3.1.5 CaracterÍsticas CadaVÉricas Existem algumas características dos cadáveres ou em vivos que devem ser levadas em consideração durante o processo de elucidação de crimes. Vamos citar algumas, exemplifi cando com ilustrações: • Contusões e Equimoses: são termos utilizados para defi nir lesões idênticas, porém, existe diferença entre eles. As contusões são resultantes de ações mecânicas, contundentes, traumatismosobre partes moles ou duras do organismo, resultando em extravasamento de sangue nos tecidos, podendo existir no vivo ou no cadáver; As equimoses ocorrem por difusão de sangue nos tecidos, em consequência da ruptura de vasos capilares, existindo somente no vivo, Figura 4. Figura 4 – Equimose Palpebral Fonte: <https://renato07.jusbrasil.com.br/artigos/242632854/estudo- das-contusoes-em-geral>. Acesso em: 8 nov. 2018. • Escoriações e Lesões de Defesa: as escoriações ocorrem em consequência deperdas da epiderme em uma superfície corporal, sendo produzida por atrito violento ou arranhões. As Lesões de Defesa são produzidas nas partes em que a vítima oferece de anteparo à ação do instrumento ou dos instrumentos ofensores, localizando-se normalmente nos membros e raramente nas regiões da cabeça, Figura 5. 28 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Figura 5 – Escoriações Fonte: Dicionário da Saúde (2016) Salienta-se nesse aspecto de verifi cação de lesões e causa da morte, a posição anatômica: indivíduo em posição ortostática ou bípede, olhar voltado ao horizonte, membros estendidos ao lado do troco, palmas das mãos voltadas para cima, calcanhares juntos e pontas dos pés ligeiramente afastadas uma da outra. A posição anatômica é tida como referência de estudo em diversas regiões do mundo (Figura 6 e 7). Após o óbito é necessário esperar ao menos seis horas para manuseio e necropsia, devido, ao volume sanguíneo e refl exos neuronais que possam estar presentes. Figura 6 – Decúbito Dorsal, Ventral E Lateral Fonte: Personall Plus, 2015 29 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 Figura 7 – Posição Anatômica Fonte: Personall Plus (2015) • Cogumelo de Espuma: normalmente ocorre através da mistura de gases e de líquido nos alvéolos pulmonares, em casos de afogamento, soterramento e edema pulmonar agudo (Figura 8). Figura 8 – Cogumelo De Espuma Fonte: <http://www.malthus.com.br/mg_imagem_zoom. asp?id=821>. Acesso em: 21 jan. 2019. 30 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal • Colheita de Impressões Digitais em Cadáveres: em casos de pessoas ainda não identifi cadas, realiza-se a colheita das impressões digitais, quando possível, para reconhecimento e identifi cação. O cadáver, quando em estado de rigidez, permite a colheita de impressões nítidas, limpas, sem borrões; o que pode não acontecer nos casos de pessoas vivas, uma vez que podem mexer os dedos durante o processo de colheita. Nos cadáveres em estado de putrefação também é possível realizar a colheita das impressões digitais, com facilidade. No estado de decomposição na fase gasosa (quando os gases se acumulam e se infi ltram nos tecidos), há desprendimento das peles das mãos e dos dedos como se fosse uma luva. Para realizar a colheita, basta colocar uma luva cirúrgica em sua mão e posteriormente vestir a luva cadavérica, assim fi ca fácil pressionar sobre o papel e fazer a análise de digitais (Figura 9). Figura 9 – Impressão Digital Com Luva Cadavérica Fonte: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAg5ZQAA/perito- papiloscopista?part=3>. Acesso em: 21 jan. 2019. 4 ATESTADOS, NOTIFICAÇÕES, LAUDO, AUTOS E PARECERES TÉCNICOS Iremos demonstrar e exemplifi car, alguns tipos de documentos judiciais. 4.1 Atestados É um documento escrito de afi rmação simples e exata de um fato e suas consequências. Tem por fi nalidade informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para realização de determinado ato. 31 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 Deve ter cabeçalho ou preâmbulo, a qualifi cação do examinado, o nome de quem solicitou, descrição do caso e, se absolutamente necessário, diagnóstico através do CID (Código Internacional de Doenças). Podemos realizar a consulta ao CID.10, através de sites de busca, como o Google, ou similares, sendo as formas mais rápidas para utilização de pesquisa). Os atestados podem ser de natureza clínica (onde é realizada simples declaração para certifi car condições de sanidade ou enfermidade); para fi ns previdenciários (para comprovação de estado patológico – INSS); de óbito (em casos já estabelecidos de morte). Este, por sua vez, identifi cará a morte como sendo: natural (atribuído por um médico, que tenha acompanhado o paciente); natural mas por doenças mal defi nidas ou suspeitas (de causas inesperadas, sem motivo evidente, é solicitada a verifi cação do óbito junto ao SVO – Sistema de Verifi cação de Óbito); ou violenta (ocorre em casos de acidentes, e homicídios, o cadáver é encaminhado ao IML – Instituto Médico Legal). 4.2 NotiFicaçÃo É um documento de comunicação compulsória às autoridades competentes de um fato médico por necessidade social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças infectocontagiosas (Código Penal, Art. 269). São alguns exemplos de doenças de notifi cação compulsória: sarampo, tuberculose, sífi lis. Também podemos utilizar como exemplos de notifi cações compulsórias as notifi cações oriundas de processos de despejo, ou demais processos nas esferas judicias. A notifi cação é o ato pelo qual alguém é cientifi cado de um fato pertinente ao interesse das partes envolvidas. Existem situações de controvérsia em que uma das partes pode estar disposta a buscar uma solução amigável antes de recorrer aos meios legais. Neste caso, ela poderá se valer de uma notifi cação para solicitar a presença da outra em uma tentativa de alcançar amigavelmente uma resolução para o problema (Figura 10). 32 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Figura 10 – Modelo Simples De Notifi cação Fonte: <https://www.modelosimples.com.br/modelo-de-notifi cacao-para- tratar-de-assunto-de-interesse.html>. Acesso em: 8 nov. 2018. 4.3 Autos É denominado o relatório da perícia médica, ditado diretamente ao escrivão. Trata-se do conjunto de peças reunidas para formar um processo judicial ou administrativo. É a representação física do processo. Sendo fundamentado nos artigos referidos a seguir: Arts. 53, § 2º e 93, II, "e" da CF Arts. 216, 842, 1.756 e 2.015 do CC Arts. 39, parágrafo único, 40, 59, 83, I, 122, parágrafo único, 141, IV, 155, 159, 161, 167, 190, 196, 267, § 1º, 434, 510, 674, entre outros do CPC Art. 356 do CP Arts. 6º, VIII, 10, § 1º, 11, 17, 21, 58, entre outros do CPP. 4.4 Laudo É o documento escrito feito pelo perito. São suas partes: preâmbulo (que deve conter dados e nome do perito designado ao caso), seus títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perícia, nome e qualifi cação do indivíduo a ser examinado; histórico “anamnese do caso”, colheita de informações do fato, local, envolvidos; descrição (a qual é a parte mais importante e deve ser minuciosamente relatada envolvendo as lesões e sinais do indivíduo, e se envolver cadáver deve constar os sinais da morte, identidade, exame interno e externo); discussão ou diagnóstico (onde o perito externará suas opiniões, relatando os 33 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 critérios utilizados); conclusão ou resumo do laudo do ponto de vista do perito, baseando-se nos elementos objetivos e comprovadores de forma segura; e por fi m, respostas aos quesitos levantadas pelas partes e pelo Juiz. Modelo de Laudo Pericial: SUMÁRIO I – OBJETIVO p.3 II – RESPOSTAS AOS QUESITOS DO EXECUTADO p.4 DA EXEQUENTE p.6 III – CONCLUSÃO p.7 IV – ENCERRAMENTO p.7 LAUDO PERICIAL NOME DO PERITO_________________________ N° do conselho:______________ SEÇÃO JUDICIÁRIA DO _______________ __ª VARA ________________________ PROCESSO: ______________________ AÇÃO: _____________________ Requerente: NOME DO RequerenteRequerido: NOME DO Requerido DATA DE ENTREGA DO LAUDO: ___ de ___________ de 20__ Após a confecção e verifi cação da veracidade do laudo, o perito deve peticionar o mesmo eletronicamente ou fi sicamente, no Fórum ou Juizado competente, protocolando o laudo; e solicitando a expedição de alvará ou guia de recolhimento dos honoráriospericiais. 4.5 Parecer TÉcnico É um documento solicitado sempre que o relatório médico deixar dúvidas, por qualquer pessoa a um especialista (perito ofi cial ou qualquer médico, desde que não estejam envolvidos na perícia, isto é, o assistente técnico). Procura 34 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal documentar o processo com os resultados dos exames e considerações médicas referentes a determinadas situações de interesse jurídico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou vários especialistas sobre o valor científi co do laudo em questão. O parecer é tido como a resposta aos conclusos. São suas partes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto, inclusão as perguntas e respostas. 4.6 PetiçÕes As petições são documentos de cunho legal que visam requerer algo ou informar sobre algo, por exemplo, requerer honorários ou informar laudo pericial. Ao aceitar a designação, o perito deve protocolar a petição inicial de aceite e de pedido de honorários, conforme modelo a seguir: A petição inicial, como o nome já diz, é o primeiro ato para a formação do processo judicial. Trata-se de um pedido por escrito, onde a pessoa apresenta sua causa perante a Justiça, levando ao juiz as informações necessárias para análise do direito. Por meio dela, o indivíduo acessa o Poder Judiciário e o provoca a atuar no caso concreto, gerando uma decisão que substitui a vontade das partes. No mundo jurídico são utilizadas várias expressões como sinônimos de petição inicial: peça vestibular, peça autoral, peça prefacial, peça preambular, peça exordial, peça isagógica, peça introdutória, petitório inaugural, peça pórtica, peça de ingresso. Excelentíssimo Sr(a). Dr(a). Juiz(a) de Direito da ___° Vara ____________ do Fórum da Comarca de ___________________. Processo n° ____________________________ NOME DO PERITO____________________________________, FORMAÇÂO____________________, perito judicial designado na área ____________ (especifi car a área de atuação e da perícia), RG n°__________________, inscrito no CPF sob n°___________________ e no Conselho Regional de _________________ n°_______, perito nomeado no processo em epigrafe (fl s. N°___, número da página de nomeação no processo), vem respeitosamente, perante Vossa Excelência apresentar Aceite dos trabalhos periciais e valores de honorários periciais, conforme planilha abaixo: 35 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 Planejamento n°___ horas Pesquisa documental n° ___ horas Resposta dos Quesitos n° ___ horas Elaboração do Laudo n° ___ horas Total n° ___ horas Considerando-se que o trabalho terá a duração de n° ___ horas, o valor total dos honorários será de R$ ___________ (________ reais), sendo certo que o valor de cada hora é de R$ _____________ (_____________ reais). Os honorários deverão ser depositados 50% antes do início do trabalho pericial e levantados mediante alvará judicial para este fi m, que deverá ser expedido no momento da entrega do laudo em cartório. Início dos trabalhos: ___ de _____ de 20__ Local: __________________________ Termos em que pede deferimento, Cidade, __ de ______ de 20__. Assinatura do perito Perito Judicial n°___________ Cada solicitação que o perito ou assistente técnico venha a fazer deve ser através de peticionamento eletrônico ou físico. As petições são subdivididas em: Petição Inicial, Petição Diversa, Petição intermediária, sendo comumente mais utilizada em processos a petição diversa. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao longo do capítulo, pudemos analisar e verifi car juridicamente as funções e deveres do Perito, Assistente Técnico, onde também foi possível verifi car os critérios e parâmetros para elaboração de documentos judiciais como laudos, pareceres técnicos e entender a importância de cada documento dentro da esfera judicial. 36 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Ao estudarmos Medicina Legal, aprendemos como enxergar o objeto (cadáver ou vivo) com sensibilidade e percepção sensorial, uma vez que ali está a maior prova a ser examinada e que poderá incriminar ou inocentar alguém. Dentro do campo de estudo da Medicina Legal, podemos discorrer sobre todos os tipos de mortes ou lesões, o que serão tratados mais adiante ao longo do livro. Salienta-se que o Perito Médico Legal é o profi ssional médico qualifi cado para o cargo após passar em concurso. Os peritos auxiliares de Justiça, ou peritos judiciais, atuam na análise documental e de provas levantadas ao longo dos processos, podendo ser físicas ou documentais, o que possibilita atuar em um campo maior de trabalho. Espera-se que você, acadêmico, ao chegar ao fi nal desse capítulo, tenha assimilado os conceitos e artigos, para que assim possa futuramente efetuar seu cadastro e prestar serviço à Justiça. 1 O exame de corpo de delito direto é feito a partir da análise: a) ( ) dos depoimentos prestados pelas testemunhas em juízo. b) ( ) dos elementos físicos ou materiais do crime. c) ( ) de documentos que possibilitem um conhecimento técnico por dedução. d) ( ) de fi chas clínicas do hospital que atendeu a vítima. e) ( ) dos depoimentos prestados pela vítima. 2 O exame de corpo de delito consiste na perícia realizada sobre vestígios materiais deixados por um delito. Acerca de perito, perícias e documentos médico-legais, assinale a opção CORRETA. a) ( ) Ao se confeccionar o laudo pericial, a resposta aos quesitos é parte fundamental, sendo nulo o laudo que não contenha esse item. b) ( ) As perícias a céu aberto devem ser realizadas somente à luz do dia, pois a luz artifi cial pode adulterar os resultados. c) ( ) O exame de marcas de digitais é considerado exame de corpo de delito por via indireta. d) ( ) O perito equivale à testemunha, devendo ser intimado a comparecer ao juízo, caso seja necessária a obtenção de prova. 37 INTRODUÇÂO Á MEDICINA LEGAL Capítulo 1 e) ( ) O exame de corpo de delito indireto é realizado em material que não seja a própria vítima ou em instrumento que não esteja diretamente relacionado à cena do crime. 3 Assinale a opção CORRETA no que se refere a procedimentos da perícia médico-legal e seus documentos. a) ( ) A necessidade de realização de exame balístico pode ser suprimida caso o médico legista descreva no laudo as características detalhadas do projétil de arma de fogo retirado do cadáver. b) ( ) A fi m de se evitar deterioração do sangue que foi colhido de cadáver para realização de alcoolemia, costuma-se adicionar formol ao frasco de armazenamento. c) ( ) Antes de se iniciar o exame cadavérico pelo médico legista, o cadáver a ser submetido a necropsia deve estar despido e lavado para melhor visualização das lesões. d) ( ) Para conservação de fragmentos de vísceras retirados de cadáveres, com vistas à realização de exame histopatológico, a adição de formol ao frasco é a medida mais adequada. e) ( ) O laudo pericial deve ser ditado ao auxiliar de necropsia, passando, então, a denominar-se auto. REFERÊNCIAS ANGHER, J. Dicionário Jurídico. 6. ed. São Paulo: Editora Rideel, 2002. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 21 jan. 2019. ______. Lei n. 8.455, de 24 de agosto de 1992. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/L8455.htm>. Acesso em: 21 jan. 2019. DICIONÁRIO DE SAÚDE (2016). Escoriações. Disponível em: <http:// dicionariosaude.com/escoriacao/>. Acesso em: 8 nov. 2018. FRANÇA, G. V. de. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro. Editora Guanabara-Koogan, GEN. 2017. 38 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal GOMES, Hélio. Medicina Legal. 5. ed., v. 1. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. MALTHUS (2018). Cogumelo de espuma (2018). Disponível em: <http://www. malthus.com.br/mg_imagem_zoom.asp?id=821>. Acesso em: 7 nov. 2018. MEJIA, R. Medicina forense, qual suas funciones? 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Disponível em: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAg5ZQAA/perito-papiloscopista?part=3>. Acesso em: 7 nov. 2018. TOURINHO FILHO, F. C. Processo penal. V. 3, 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. WIKIPEDIA. Autópsia (1890). Enrique Simonet. Disponível em: <https:// pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_legal#/media/File:Enrique_Simonet_-_La_ autopsia_1890.jpg>. Acesso em: 7 nov. 2018. 40 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal CAPÍTULO 2 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: ao fi nal do presente capítulo, você, acadêmico, deverá saber as formas de estudo da Medicina Legal, formas de verifi cação de óbito e tipos de óbito existentes, local da perícia e objetos envolvidos. Fazer: ao fi nal do presente capítulo, você, acadêmico, deverá fazer a distinção dos tipos de estudos através dos caracteres físicos, étnicos e genéticos dos indivíduos, assim como identifi car formas de óbitos por asfi xia, tais como esganadura, enforcamento. 42 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 43 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO No presente capítulo, iremos abordar os temas introdutórios no estudo da Medicina Legal e da elucidação de crimes, sendo de fundamental importância sua compreensão e entendimento. Ao discorrermos sobre o assunto, iremos exemplifi car as situações tornando melhor seu entendimento. Você aprenderá sobre os estágios de putrefação, estágios esses os quais os cadáveres apresentam características diferentes, podendo dizer muito sobre sua morte, as possíveis causas e principalmente seu agressor. As mortes em decorrência de asfi xias, podem ser por diversas causas, desde asfi xia mecânica ou acidental. Abordaremos as características de cada tipo de asfi xia, que auxiliarão na elucidação do óbito. O estudo da morte, suas causas e meios deve ser aprofundado com estudos adicionais, estudos de casos e atualização constante. Bom estudo! 2 ANTROPOLOGIA FORENSE A Antropologia forense é a aplicação prática ao Direito de um conjunto de conhecimentos da Antropologia Geral visando principalmente as questões relativas à identidade médico-legal e à identidade judiciária ou policial. É o estudo responsável pelos métodos de investigação e identifi cação de indivíduos. 2.1 IDENTIDADE X IDENTIFICAÇÃO Segundo França (2017), a Identidade é o conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. É um elenco de atributos que torna alguém ou alguma coisa igual apenas a si próprio. Arbenz (1983) ensinava que “identidade é o conjunto de atributos que caracterizam alguma coisa ou alguma pessoa”. E fazia diferença entre semelhança, igualdade e identidade. Semelhança como relação de qualidade; igualdade como relação de quantidade; e identidade como a essência de uma coisa ser ela mesma. 44 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Segundo Croce (2012), quando se trata do ser humano, é a identidade o conjunto de características pessoais e peculiares que diferencia o indivíduo dos outros e lhe confere uma situação tempo espacial específi ca e status social único. A identidade, por SER passível de simulação e de dissimulação, reveste-se de importância tanto no foro civil como no criminal, pois a responsabilidade somente pode ser atribuída após prévia identifi cação. Desse modo, depreende-se haver um dever e um direito de identidade, protegendo a identifi cação, os interesses individuais e coletivos. Ao Direito interessa, particularmente, a investigação da identidade do homem, que se faz pela identifi cação. Cada dia que passa, maiores são as exigências no que diz respeito à identidade individual nos interesses da vida civil ou de comércio, sem se falar na necessidade de se estabelecer a falsa identidade ou caracterizar o reincidente criminal. Tudo isso em relação ao vivo. Acrescentem-se mais os imperativos de identifi car cadáveres decompostos, restos cadavéricos, esqueletos e até mesmo peças ósseas isoladas. Aqui, pois, trataremos da identidade objetiva e não subjetiva. A identidade objetiva é aquela que nos permite afi rmar tecnicamente que determinada pessoa é ela mesma por apresentar um elenco de elementos positivos e mais ou menos perenes que a faz distinta das demais. A identidade subjetiva é tida como a sensação que cada indivíduo tem de que foi, é e será ele mesmo, ou seja, a consciência da sua própria identidade, ou do seu “eu”. Segundo França (2017)), a Identifi cação é o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou de uma coisa, ou um conjunto de diligências cuja fi nalidade é levantar uma identidade. Portanto, identifi car uma pessoa é determinar uma individualidade e estabelecer caracteres ou conjunto de qualidades que a fazem diferente de todas as outras e igual apenas a si mesma. Não se discute hoje o valor da identifi cação. As relações sociais ou as exigências civis, administrativas, comerciais e penais exigem e reclamam essa forma de comprovação. Mesmo na vida social, há instantes em que o indivíduo tenta provar que é ele mesmo e não consegue, a menos que obtenha prova de sua identidade. Tais processos podem efetivar-se no vivo (desaparecidos, pacientes mentais desmemoriados, menores de idade, recusa de identidade); no morto (desastres de massa, cadáveres sem identifi cação, mutilados, estados avançados de putrefação e restos cadavéricos); e no esqueleto (decomposição em fase de esqueletização, esqueletos e ossos isolados). Em qualquer perícia dessa natureza, suatécnica é realizada em três fases: (a) um primeiro registro, em que se dispõe de certos caracteres imutáveis do indivíduo e que possa distingui-lo dos outros; (b) um segundo registro dos mesmos caracteres, feito posteriormente, na medida em que se deseja uma comparação; (c) a identifi cação propriamente dita, em que se comparam os dois primeiros registros, negando ou afi rmando a identidade procurada. 45 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I Capítulo 2 Os fundamentos biológicos ou técnicos que qualifi cam e preenchem as condições para um método de identifi cação ser considerado aceitável são: Unicidade. Também chamado de individualidade, ou seja, que determinados elementos sejam específi cos daquele indivíduo e diferentes dos demais. Imutabilidade. São as características que não mudam e não se alteram ao longo do tempo. Perenidade. Consiste na capacidade de certos elementos resistirem à ação do tempo e que permanecem durante toda a vida, e até após a morte, por exemplo, o esqueleto. Praticabilidade. Um processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no registro dos caracteres. Classifi cabilidade. Este requisito é muito importante, pois é necessária certa metodologia no arquivamento, assim como rapidez e facilidade na busca dos registros. Segundo França (2017), a identifi cação do vivo ou do cadáver é mais fácil. Já a identifi cação do esqueleto fundamenta-se em uma criteriosa investigação da espécie, da raça, da idade, do sexo, da estatura e, principalmente, das características individuais. Dessas características individuais, as mais importantes são os dentes, mas para tanto é necessário existir previamente uma fi cha dentária bem assinalada, não só com o número de dentes, como também com as alterações, anomalias e restaurações. Ou, por exemplo, pela identifi cação de uma prótese, de uma anomalia mais rara ou de uma alteração de caráter ortopédico, de uma radiografi a com sequelas traumatológicas, de uma simples radiografi a óssea ou dentária, ou de um exame da Impressão Digital Genética do DNA, para serem confrontados com os padrões analisados. Finalmente, é necessário que se diferencie o reconhecimento da identifi cação. O primeiro signifi ca apenas o ato de certifi car-se, conhecer de novo, admitir como certo ou afi rmar conhecer. É, pois, uma afi rmação laica, de um parente ou conhecido, sobre alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. Pode essa pessoa que reconhece, inclusive, assinar um “termo de reconhecimento”, cujos formulários habitualmente existem nas repartições médico-legais. Já a identifi cação é um conjunto de meios científi cos ou técnicas específi cas empregado para que se obtenha uma identidade. É um procedimento médico- legal cuja fi nalidade é afi rmar efetivamente por meio de elementos antropológicos ou antropométricos que aquele indivíduo é ele mesmo e não outro, conforme afi rmam diversos autores. A identifi cação divide-se em médico-legal e judiciária ou policial. 46 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 2.2 IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL A identifi cação médico-legal utiliza-se do estudo de várias espécies para responder determinadas perguntas referentes ao indivíduo objeto do estudo. Poderá ser feita no vivo, no cadáver inteiro ou espostejado, ou ainda reduzido a fragmentos ou a simples ossos. O exame é realizado em relação a raça, sexo, estatura, idade, identifi cação pelos dentes, peso e conformação, malformações, sinais profi ssionais, sinais individuais, como as cicatrizes, aos tipos sanguíneos, tatuagens, dinâmica funcional e aos caracteres psíquicos. Esse estudo mais detalhado pode ser realizado em: 2.2.1 Raça ou GruPo Étnico O estudo através da Raça ou Grupo Étnico, ao qual o indivíduo pertence, é realizado através de identifi cação, da seguinte forma (Figura 1): • CAUCASIANO – Pele branca ou trigueira. Cabelos crespos ou lisos, louros ou castanhos. Íris azul ou castanha. Contorno craniofacial ovoide ou ovoide poligonal. Perfi l facial ortognata e ligeiramente prognata. • MONGÓLICO – Pele amarela. Cabelos lisos. Face achatada de diante para trás. Fronte larga e baixa. Arcadas superciliares pouco salientes. Espaço interorbital largo. Fenda palpebral pouco ampla, em amêndoa. Nariz curto, largo. Maxilares pequenos e mento saliente. • NEGROIDE – Pele negra. Cabelos crespos, em tufos. Crânio geralmente dolicocéfalo. Perfi l facial prognata; fronte alta, saliente, arqueada. Íris castanha. Nariz pequeno, de perfi l côncavo e narinas curtas e afastadas. Zigomas salientes. Prognatismo acentuado. Mento pequeno. • INDIANO – Pele amarela trigueira, tendendo para o avermelhado. Estatura alta. Cabelos lisos como crina de cavalo, pretos. Íris castanha. Crânio mesocéfalo. Supercílios espessos. Ausência de barba e bigode. Orelhas pequenas. Nariz saliente, longo e estreito. Fronte vertical. Zigomas salientes e largos. Mandíbula desenvolvida. • AUSTRALOIDE – Estatura alta. Pele trigueira. Cabelos pretos, ondulados e longos. Fronte estreita. Zigomas proeminentes. Nariz curto com narinas afastadas. Prognatismo, maxilar e alveolar. Dentes fortes. Maxilares desenvolvidos. Cintura escapular larga; bacia estreita. 47 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I Capítulo 2 Figura 1 – A Variabilidade Fisionômica Na Espécie Humana Fonte: <https://alunosonline.uol.com.br/biologia/raca-na- especie-humana.html>. Acesso em: 21 jan. 2019. 2.2.2 Formas de Crânio É a verifi cação através do estudo dos contornos verticais, anteriores, posteriores e laterais do crânio, onde se realiza a associação com fi guras geométricas, para verifi cação da espécie ou grupo étnico ao qual cada crânio pertence. 2.2.3 Índice CeFálico É a relação entre a largura e o comprimento do crânio, onde é feita a verifi cação utilizando-se a forma de Retzius: • Dolicocéfalos: presente nos grupos étnicos caucásicos nórdicos (escandinavos, ingleses), nos negroides africanos e nos australoides. O índice cefálico nesses grupos é igual ou inferior a 75. • Mesaticéfalos: presentes no grupo étnico dos Mongólicos. O índice cefálico deve ser entre 75 e 80. • Braquicéfalos: presente no grupo étnico dos caucásicos (europeus centrais). O índice cefálico deve ser superior a 80. 48 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal 2.2.4 CaPacidade do Crânio É dada pela capacidade de chumbo miúdo necessário para encher o crânio após prévia obturação de seus orifícios, sendo esse chumbo posteriormente colocado em vaso graduado em centímetros cúbicos, determinando-se dessa forma o seu volume em capacidade: • Homem raça branca é aproximadamente 1.558 cm3 • Homem raça amarela é aproximadamente 1.518 cm3 • Homem raça vermelha é aproximadamente 1.437 cm3 • Homem raça negra é aproximadamente 1.430 cm3 2.2.5 Índice Facial É a relação entre o diâmetro nasoalveolar, situado na raiz do nariz na região da sutura nasofrontal, e o ponto médio da sutura nasofrontal. O ponto alveolar situa-se entre os dois incisivos superiores. 2.2.6 Ângulo Facial Segundo França (2017), serve para determinar o prognatismo, ou seja, a proeminência, especialmente dos maxilares, das raças. Quanto mais agudo for o ângulo facial, tanto mais pronunciado será a prognatismo. Suas medidas se fazem com os goniômetros, como o de Broca, e obedecem a vários critérios. Esse processo consiste em se traçar um triângulo facial por intermédio das linhas facial e aurículo-espinal como foram descritas no método de Jacquart, e uma outra linha tangente ao mento e aos incisivos mediais inferiores. Conhecidos os comprimentos dos três lados do triângulo obtido, calcula-se facilmente os seus ângulos por meio de tábuas logarítmicas. Daí termos os seguintes tipos: — ortognatas: mais de 73º; — mesognatas: de 72,99º a 70º; — prognatas: menos de 70º. As partes moles (principalmente os lábios) impedem a determinação do prognatismo no vivo e no cadáver recente. Outrossim, qualquer que seja o método goniométricoempregado pelos diferentes autores na determinação do ângulo 49 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I Capítulo 2 facial, não se deve conceder ao prognatismo a importância de outrora e, sim, a de caráter morfológico designativo simplesmente da proeminência do maciço ósseo da face, ou seus diversos segmentos, adiante da caixa craniana. Importa saber que o ângulo facial é máximo na raça branca e menor na raça negra. 2.2.7 Estatura A determinação da estatura do indivíduo é feita medindo-se o indivíduo em posição ereta, sem os calçados, ou deitados em plano horizontal, e medindo-se a distância entre os dois planos verticais que tocam as plantas dos pés e a cabeça, chamados planos de delimitação do corpo humano. Quando se trata de partes de cadáver, ou de ossos, ainda é possível calcular a estrutura do indivíduo, usando-se algumas tabelas que nos dão a relação entre a medida de cada parte do corpo com a estatura. Essas proporções podem ser alteradas por doenças e malformações congênitas ou adquiridas, tais como acondroplasia, acromegalia, fraturas ou traumatismos. 2.2.8 DeterminaçÃo do SeXo Existem diferentes tipos de sexo, que são levados em consideração durante os processos de identifi cação do indivíduo ou identifi cação cadavérica. Sexo morfológico: É representado pela confi guração fenotípica do indivíduo. Ou seja, é a manifestação visível de um genótipo. Sexo cromossomial: É defi nido pela avaliação dos cromossomos sexuais por uma marcação fl uorescente que irá depender da técnica empregada fl uorescente. É masculino aquele que apresentar 46 XY e tiver corpos fl uorescentes, e feminino quando apresentar uma constituição cromossômica de 46 XX e não contiver corpos fl uorescentes. Esse conjunto de cromossomos chama-se cariótipo. Sexo gonadal: Caracteriza o masculino como portador de testículos e o feminino como portador de ovários. Sexo cromatínico: Determinado pelos corpúsculos de Barr, pequenos corpos de cromatina que se encontram no nucléolo das células dos organismos femininos, daí a classifi cação em cromatínicos positivos (femininos) e cromatínicos negativos (masculinos). Cada cromossomo encerra informações codifi cadas em genes através de moléculas de DNA. 50 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal Sexo da genitália interna: Caracteriza o masculino quando houve o desenvolvimento dos ductos de Wolff, e o feminino quando desenvolvidos os ductos de Müller. Sexo da genitália externa: Defi ne o masculino com a presença de pênis e escroto, e o feminino com a presença de vulva, vagina e mamas. Sexo jurídico: É o designado no registro civil, ou quando a autoridade legal manda que se registre uma pessoa em um ou outro sexo, após suas convicções médico-legais, morais ou doutrinárias. Está regulamentado pela Lei dos Registros Públicos (Lei no 6.015/73). Sexo de identifi cação ou psíquico ou comportamental: É aquele cuja identifi cação o indivíduo faz de si próprio e que se refl ete no comportamento. Também é chamado por alguns de sexo moral. Sexo médico-legal: É constatado por meio de uma perícia médica nos portadores de genitália dúbia ou sexo aparentemente duvidoso, por exemplo, um portador de uma grande hipospadia, facilmente confundível com uma cavidade vaginal. Segundo França (2017), em um ente normal, vivo ou morto recentemente, a determinação do sexo não é uma atribuição complexa. Há, na verdade, situações complicadas, como em um cadáver em avançado estado de putrefação, com destruição da genitália externa, ou no esqueleto, ou, ainda, em situações como nos estados intersexuais e no pseudo-hermafroditismo, nas quais são empregadas técnicas mais sofi sticadas, entre elas a pesquisa da cromatina sexual ou do corpúsculo de Barr, que é encontrado no sexo feminino. 2.2.9 DeterminaçÃo da Idade A idade pode ser determinada de diversas maneiras, subdividindo-se em vida intrauterina e vida extrauterina. A vida intrauterina leva em consideração os aspectos morfológicos desde o momento da concepção até o nascimento, pelo comprimento dos ossos, estatura através de exames de ultrassonografi a e raios x. Considera-se embrião, o período entre a fecundação (ovo ou zigoto) até o 3° (terceiro) mês de vida intrauterina. Após esse período, considera-se como feto até o parto. Em crianças nascidas a termo (ou seja, no tempo correto gestacional, 51 CIÊNCIAS FORENSES – PARTE I Capítulo 2 que pode ser até a 43° semana de gestação em alguns casos), observa-se em aproximadamente 98% (noventa e oito por cento) dos casos o ponto de ossifi cação de Blecard, normalmente de tonalidade arroxeada sobre a cartilagem com diâmetro entre 0,4 a 0,5 mm, localizado na extremidade distal do fêmur. Após o nascimento, o termo correto a ser utilizado é infante-nascido. Esse termo é utilizado para aqueles que ainda não receberam os cuidados necessários de higiene e saúde após o nascimento. É considerado recém-nascido, aquele que já recebeu os cuidados médicos e de higiene hospitalar até o primeiro mês de vida. A primeira infância é considerada até os 7 (sete) anos de vida; a segunda infância é dos 8 aos 11 anos de vida; a adolescência dura dos 12 aos 18 anos de vida normalmente. A maioridade é dos 18 aos 21 anos; adulto dos 22 aos 60 anos de idade; velhice dos 61 aos 80 anos de idade; e a senilidade após os 80 anos de idade. Para verifi cação da idade do indivíduo, são utilizados diversos pontos importantes para serem avaliados: A aparência do indivíduo é levada em consideração quando fazemos a distinção de um velho, para um adulto ou uma criança. A pele é um objeto de extrema importância na determinação da idade. Consiste na formação de rugas, que surgem inicialmente entre os 25 aos 30 anos perto das pálpebras. Posteriormente, elas aparecem nas regiões nasolabiais, pescoço e na fronte. Os pelos também são utilizados para determinação de idade em homens e mulheres, onde, no sexo feminino aparecem por volta dos 12 anos de idade com o início da puberdade e da primeira menarca. E nos meninos por volta dos 13 aos 15 anos, também em decorrência das mudanças hormonais características da faixa etária. O arco senil também é verifi cado. Caracterizado por formação de faixa periférica e acinzentada ao redor da córnea, composto por colesterol, triglicérides e fosfolípides, sendo aparente mais no sexo masculino e correlacionado com determinadas doenças, como diabetes, carências nutricionais e hipertensão arterial. Comumente, leva-se em consideração a contagem e o formato dos dentes. Considera-se fase de dentição de leite aquela que se inicia por volta dos 5 meses 52 Medicina Legal APlicada À InVestigaçÃo Criminal de vida até os 6 anos de idade, e dentição permanente aquela que se inicia por volta dos 7 anos de idade. Quando falamos sobre ossos, podemos fazer a análise levando-se em consideração o tamanho dos ossos longos e o canal epifi sário (ex. fêmur, tíbia, fíbula, úmero, ulna, radio, metacarpos e metatarsos, assim como esterno); e os ossos do crânio, onde são analisadas as suturas (regiões de articulações fi brosas entre os ossos do crânio). Essas suturas, no recém-nascido, apresentam-se móveis para acomodar o encéfalo no momento do parto e também acompanhar o desenvolvimento da criança. Por volta de um ano de idade começa o processo de fi brose e junção dessas suturas para proteção do encéfalo e do líquor. Podemos realizar a identifi cação cadavérica ou do indivíduo por sinais característicos individuais, como: tatuagens (levando-se em conta localização, desenho e coloração), sinais individuais (manchas na pele, verrugas, nevos congênitos são utilizados para exclusão em casos de identifi cação), malformações (como por exemplo, lábios leporinos, pé torto, consolidação de fratura e desvios de coluna), cicatrizes (auxiliam na identifi cação pessoal, podendo ser traumáticas, patológicas ou cirúrgicas). A identifi cação ou exclusão através das linhas
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