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DIREITOS HUMANOS 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Tiemi Saito 
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CONVERSA INICIAL 
O Sistema Africano de Direitos Humanos e dos Povos será objeto desta 
aula. Vamos percorrer brevemente o histórico de sua estruturação abordando os 
principais instrumentos que o informam. 
Aprofundaremos um pouco mais nossos conhecimentos sobre a Carta 
Africana de Direitos Humanos e dos Povos em específico, abordando inclusive 
o protocolo que estabeleceu a Corte ADHP. Vamos analisar também os
procedimentos que se instauram perante a comissão e a Corte Africana. 
TEMA 1 – BREVE HISTÓRICO E PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO 
O Sistema Africano de Proteção aos Direitos Humanos e dos Povos se 
instaura diante de uma realidade bastante diferente das características do 
Sistema Europeu e Interamericano, por apontar em suas raízes a luta dos povos 
africanos em face da escravidão e do colonialismo. 
Assim, surgem junto à antiga Organização da Unidade Africana os 
debates que deram origem ao início formal das atividades de elaboração do 
projeto que veio a constituir a Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos. 
1.1 A Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos 
A fim de consolidar os trabalhos até então constituídos na seara dos 
direitos humanos, entra em vigor em 1986 a Carta Africana de Direitos Humanos 
e dos Povos, também conhecida como Carta de Banjul, com traços específicos 
da cultura e formação histórica africana. 
Neste sentido, importa destacar suas três principais características: a 
consagração dos valores tribais como corolário do espírito da carta, constante 
em seu preâmbulo; a previsão não apenas de direitos, mas também de deveres 
dos indivíduos para com seus grupos familiares; e a consolidação dos direitos 
dos povos, como o direito à independência, autodeterminação e autonomia dos 
Estados africanos. 
Na busca por uma melhor proteção aos direitos elencados na Carta 
Africana, ficou instituída a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos 
Povos, um órgão que, muito embora não tenha caráter jurisdicional, exerce 
marcada importância na estrutura deste sistema de proteção aos direitos 
humanos regional. 
 
 
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1.2 Protocolo à Carta Africana e o estabelecimento da Corte Africana de 
Direitos Humanos 
O trabalho da Corte Africana de Direitos Humanos, de acordo com o 
Protocolo à Carta Africana, é analisar as denúncias de casos de violação aos 
direitos humanos na África e deve ser complementar ao da Comissão Africana, 
trabalhando ambos os órgãos de maneira harmônica na proteção e garantia dos 
direitos humanos no continente. 
TEMA 2 – COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS 
A Comissão Africana de Direitos Humanos é composta por 11 membros 
eleitos pela Assembleia de Chefes de Estado e Governo da União Africana, que 
se reúnem pelo menos duas vezes ao ano para sessões ordinárias, podendo 
haver também a convocação de sessões extraordinárias. 
Com fundamento nos termos da própria Carta Africana, a Comissão 
Africana exerce diversas funções de órgão de supervisão, entre elas, funções de 
cunho contencioso e não contencioso em busca da promoção dos direitos 
humanos na África. 
TEMA 3 – MECANISMOS NÃO CONTENCIOSOS E A COMPETÊNCIA 
CONTENCIOSA DA COMISSÃO AFRICANA 
Este importante órgão do Sistema Africano de Direitos Humanos e dos 
Povos, qual seja a Comissão Africana, exerce funções consultivas e 
contenciosas. Entre as consultivas, podemos citar a elaboração de relatórios 
temáticos, a apreciação dos relatórios periódicos emitidos pelos Estados-
membros, a atividade interpretativa da Carta Africana, o desenvolvimento de 
estudos e pesquisas, e audiências e sessões públicas. 
Já no campo das atividades contenciosas, é possível citar a investigação 
e apreciação de denúncias, o exame e deliberação de processos sigilosos, a 
elaboração de recomendações, a publicação do relatório etc. 
3.1 Condições das comunicações 
As comunicações, ou denúncias, de violação de direitos humanos e dos 
povos africanos devem observar alguns critérios para que sejam apreciadas, tais 
 
 
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como: a identidade do autor; a compatibilidade com os direitos previstos pela 
Carta Africana, a não existência de termos pejorativos, ultrajantes ou 
insultuosos; os fatos narrados não podem ser mera réplica de notícias difundidas 
por meios de comunicação de massa; o esgotamento dos recursos internos; a 
observância de um prazo razoável de apresentação; e a não existência de outras 
comunicações que versem sobre os mesmos fatos e com as mesmas partes. 
TEMA 4 – CORTE AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS 
A Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos atua como órgão 
jurisdicional na análise das denúncias de violação aos direitos humanos apenas 
em relação aos Estados que tenham ratificado o protocolo, reconhecendo a sua 
competência. 
Desta feita, realiza quatro sessões ordinárias por ano, podendo realizar 
sessões extraordinárias por determinação do presidente da corte ou pela maioria 
de seus membros. 
Muito embora tenha competência consultiva e contenciosa, quando a 
questão for de natureza consultiva, não pode ter sido objeto de análise pela 
Comissão Africana. 
No que se refere ao trâmite das denúncias processadas perante a Corte 
Africana de Direitos Humanos e dos Povos, é importante frisar que ela pode ser 
proposta pela Comissão ADHP, pelo Estado que tenha ou contra quem tenha 
sido apresentada comunicação à comissão, Estado cujo cidadão seja vítima de 
violações de direitos humanos, indivíduos ou ONGs. 
Recebida a denúncia, a corte pode propor uma solução amistosa, a qual 
pode encerrar a demanda ou partir para análise de requisitos de admissibilidade. 
Verificada a admissibilidade da denúncia, a corte poderá estabelecer medidas 
provisórias ou partir para instrução probatória, que funciona como um inquérito 
de investigação. Finalizada a parte de instrução, a demanda é julgada. 
TEMA 5 – DIREITO DOS POVOS E O SISTEMA AFRICANO 
O Sistema Africano de Proteção aos Direitos Humanos se difere 
grandemente dos demais sistemas regionais de proteção aos direitos humanos 
por consequência da própria história de colonização e subjugação pela qual 
passou o continente. 
 
 
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Desta forma, a Carta Africana estabelece que os Estados devem 
respeitar, proteger, promover e realizar os direitos nela consagrados, entre os 
quais: o direito à igualdade entre os povos, coibindo a dominação entre eles, a 
autodeterminação dos povos, o desenvolvimento econômico, social e cultural, a 
segurança, a paz e o meio ambiente sadio. 
NA PRÁTICA 
No caso Kevin Mgwanga e outros X Camarões, o governo de Camarões 
transferiu projetos econômicos geradores de riquezas de uma região povoada 
pela minoria étnica do país para outra povoada pela maioria, de forma 
injustificada. 
Diante da análise da denúncia, a comissão entendeu que tal ocorrência 
feriu a igualdade dos povos, pois a transferência ilegitimamente gerou efeitos 
negativos para a economia e a vida do povo minoritário. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, encerramos nossos estudos sobre os sistemas regionais de 
proteção aos direitos humanos abordando em específico o Sistema Africano de 
Proteção aos Direitos Humanos e dos Povos. 
Vimos que este sistema traz em si toda a bagagem histórica da África, 
estabelecendo os direitos humanos em uma perspectiva mais coletiva, 
preocupando-se com a independência e autodeterminação dos povos. 
Analisamos a Carta Africana e alguns de seus principais protocolos, bem 
como os órgãos que atuam na promoção, proteção e fiscalização da garantia 
dos direitos nela declarados, quais sejam a Comissão Africana e a Corte Africana 
de Direitos Humanos. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRANT, L. N. C.; PEREIRA, L. D. D.; BARROS, M. A. de. O sistema africano 
de proteção dos direitos humanos e dos povos. Disponível em: 
<http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/africa/ua_brant_sistema_africano_leonardo_nemer_caldeira_brant.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2019. 
FACHIN, M. G. (Org.). Guia de proteção dos direitos humanos. Cadernos 
Universitários, Uninter.

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