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Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos

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DESCRIÇÃO
A proteção dos direitos humanos no plano internacional por meio de sistemas internacionais.
PROPÓSITO
Compreender como funcionam os vários sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos existentes na atualidade é de absoluta importância nos âmbitos nacionais e
internacional, considerando um mundo cada vez mais globalizado e internacionalizado.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos um dicionário jurídico para entender determinados
termos específicos da área. Tenha, também, a Convenção Europeia de Direitos Humanos e a
Convenção Americana de Direitos Humanos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o papel desempenhado pela ONU na proteção dos direitos humanos
MÓDULO 2
Listar os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos
MÓDULO 3
Descrever finalidade, competência, composição e atuação do Tribunal Penal Internacional na
proteção dos direitos humanos
INTRODUÇÃO
Entre os estudiosos, é comum a afirmação de que os horrores da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) e toda a barbárie perpetrada contra a vida e a dignidade humana durante esse triste
período da história da humanidade constituem o ponto de partida para a consagração dos
direitos humanos tais como são conhecidos atualmente.
Os direitos humanos são entendidos hoje como um conjunto de direitos considerado
imprescindível para a existência da vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade,
direitos esses dos quais todas as pessoas são titulares, pelo simples fato de pertencerem à raça
humana.
Neste conteúdo, estudaremos sobre o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU) e,
por meio desse organismo internacional de caráter global, o estabelecimento de um sistema
global de proteção dos direitos humanos.
Veremos também o surgimento de sistemas regionais de proteção de direitos humanos, com
vistas a complementar a proteção global desses direitos, a partir de organizações internacionais
regionais, tais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Conselho da Europa (CE)
e a União Africana (UA).
Por fim, focaremos a formação do Direito Penal Internacional, a partir de um conjunto de normas
jurídicas internacionais estabelecedoras de direitos humanos, e a criação e atuação do Tribunal
Penal Internacional, considerando a sua estrutura, competência e funcionamento.
MÓDULO 1
 Identificar o papel desempenhado pela ONU na proteção dos direitos humanos
A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E
OS DIREITOS HUMANOS
 O Escritório das Nações Unidas em Genebra, na Suíça, é o segundo maior centro da ONU,
depois da sede das Nações Unidas, em Nova York
Neste módulo, aprenderemos como está estruturado e como opera o sistema universal de
proteção dos direitos humanos, também conhecido como sistema onusiano ou sistema global
de proteção dos direitos humanos.
O objetivo do módulo é proporcionar a compreensão da arquitetura existente na área da ONU
para a proteção dos direitos humanos, notadamente por meio da análise de seus principais
instrumentos normativos e da estrutura organizacional especificamente relacionada à proteção de
tais direitos.
A CRIAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E O INÍCIO DA
EDIFICAÇÃO DO TEMPLO DOS DIREITOS
HUMANOS
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS É A PORTA DE ENTRADA DO TEMPLO
DOS DIREITOS HUMANOS.
(CASSIN, 1951)
Antes do término da Segunda Guerra Mundial, os países aliados já arquitetavam a construção de
um novo organismo internacional — que viria substituir a antiga Liga das Nações — que tivesse
como um de seus mais importantes objetivos a proteção da vida e a salvaguarda da dignidade
humana em uma escala global.
É nesse contexto que nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), criada por meio da
Carta das Nações Unidas (ou Carta de São Francisco), um tratado internacional assinado em
São Francisco (EUA), em 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização
Internacional da Nações Unidas.
 Bandeira da ONU.
A Carta das Nações Unidas dispôs que uma das principais finalidades da organização é a
promoção dos direitos humanos e sua efetivação em nível global, assim como a manutenção da
paz e da segurança internacional (arts. 1º; 13.1, b; 55, c; 62, 2; 68 e 76, c). Desse modo, logo
após a sua instituição, a ONU passou a desenvolver trabalhos específicos para o alcance de tais
objetivos. O primeiro resultado desses esforços foi a proclamação da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(Resolução 217 A III) em 10 de dezembro de 1948.
Não há dúvida de que a DUDH constitui um documento marco na história mundial dos direitos
humanos, sendo responsável pela gênese e pelo desenvolvimento da proteção internacional
desses direitos, hoje consubstanciada em um ramo específico do Direito Internacional,
denominado e conhecido globalmente como Direito Internacional dos Direitos Humanos
(DIDH), que visa proteger e promover a dignidade humana em todo o mundo ao consagrar uma
série de direitos (universais, indivisíveis e interdependentes) dirigidos a todas as pessoas, sem
distinção de qualquer natureza, inclusive de nacionalidade ou do Estado em que o indivíduo se
encontre.
A DUDH inaugurou uma nova era na história internacional, dando origem à concepção moderna
ou contemporânea dos direitos humanos, especialmente por ser um instrumento que transcendeu
as fronteiras nacionais, ultrapassando os espaços soberanos em que a precária proteção dos
direitos se encontrava confinada até então, dando voz a uma herança cultural de toda a
humanidade e alçando a proteção desses direitos ao nível internacional.
CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS
javascript:void(0)
Esta Carta foi incorporada ao sistema jurídico-legislativo brasileiro pelo Decreto n.º 19.841, de 22
outubro de 1945.
 A brasileira Bertha Lutz na Conferência de 
São Francisco, nos Estados Unidos, que elaborou 
a Carta da Organização das Nações Unidas – ONU
Seja no plano ideológico, filosófico ou jurídico-normativo, nenhum documento na história da
humanidade tem contribuído tanto para a defesa e garantia dos direitos humanos como a DUDH,
razão pela qual é sempre importante uma reflexão sobre a sua origem, natureza e seu legado,
dentre outros aspectos que envolvem esse notável documento.
Nas palavras de René Cassin (1951, p. 277, tradução nossa, grifo nosso), um dos grandes
juristas responsáveis pela redação do texto final, a DUDH teve como mérito constituir o “pórtico
de entrada do grande templo dos direitos humanos que foi construído a partir dela”.
O ARCABOUÇO NORMATIVO DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO DA ONU
Com a criação da ONU e, mais especificamente, com a proclamação da DUDH, aos poucos o
sistema global de proteção dos direitos humanos foi ganhando forma e contornos cada vez
javascript:void(0);
mais específicos. Impulsionados pela ONU, os Estados-membros da organização
sucessivamente passaram a adotar uma série de tratados internacionais, juridicamente
vinculantes para os Estados, bem como outros instrumentos de caráter não vinculante (por
exemplo, resoluções, declarações, regras mínimas, princípios etc.), todos eles voltados genérica
ou especificamente para a proteção universal dos direitos humanos.
 A Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 10 de dezembro de 1948.
COMO FRUTO DESSA ATIVIDADE, TEMOS HOJE UM
AMPLO ARCABOUÇO NORMATIVO QUE CONSTITUI
O CORPUS JURIS INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS. ESSES TEXTOS
NORMATIVOS TÊM SIDO APLICADOS EM LARGA
ESCALA PARA A SOLUÇÃO DE MUITOS TIPOS DE
CONFLITOS, TANTO PELAS CORTES E TRIBUNAIS
INTERNOS DOS ESTADOS, COMO PELA JUSTIÇA
INTERNACIONAL, COMPOSTA POR CORTES,
TRIBUNAIS, COMISSÕES E COMITÊS, ENTRE
OUTROS ÓRGÃOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS.
Dois tratados de grande importância no âmbito da ONU são o Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e
Culturais (PIDSEC), ambos adotados pela Assembleia Geral da ONU em1966, responsáveis
por complementar material e processualmente a DUDH, e que em conjunto com ela receberam o
nome de Carta Internacional dos Direitos Humanos.
Além desses, vale a pena conhecermos outros instrumentos normativos onusianos, responsáveis
por consagrar os direitos humanos para todas as pessoas, independentemente de qualquer fator
comumente utilizado para promover a discriminação. São documentos que estabelecem uma
proteção genérica (para todos) ou específicas (mulheres, negros, crianças, idosos, pessoas com
deficiência etc.) ao redor do globo.
Alguns desses importantes instrumentos, juridicamente vinculantes para os Estados-partes são:

Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948).

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951).

Convenção Suplementar sobre Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das
Instituições e Práticas Análogas à Escravatura (1956).

Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966).

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
(1966).

Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados (1967).

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW)
(1979).

Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
(1984).

Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1989).

Convenção sobre os Direitos da Criança (1989).

Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e
dos Membros das suas Famílias (1990).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher (1999).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Referente à Venda de Crianças,
à Prostituição Infantil e à Pornografia Infantil (2000).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Relativo ao Envolvimento de
Crianças em Conflitos Armados (2000).

Protocolo de Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas, especialmente Mulheres e
Crianças, Complementar à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional (2000).

Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (2002).

Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento
Forçado (2006).

Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo (2007).

Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (2008).
Outras regras que não são juridicamente vinculantes, mas que servem de diretrizes e princípios
para a atuação dos Estados-membros da ONU no tocante à proteção dos direitos humanos são:
As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (Regras de
Mandela), de 1955.
As Regras Mínimas da ONU para Administração da Justiça da Infância e Juventude
(Regras de Beijing), de 1985.
As Regras Mínimas da ONU para Proteção dos Jovens Privados de Liberdade, de 1990.
As Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de
Riade), de 1990).
A Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993.
As Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas não
Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok), de 2010.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO
ÂMBITO DA ONU
 Palácio das Nações, escritório das Nações Unidas em Genebra (Suíça)
Ao lado da proteção de caráter normativo, que se dá por meio dos tratados internacionais e por
textos de outra natureza, conforme elencados anteriormente, o sistema global de proteção dos
direitos humanos conta ainda com órgãos e mecanismos internacionais de proteção e
monitoramento dos direitos humanos, que são responsáveis pela aplicação e efetivação das
normas internacionais relativas a esses direitos e por prestar auxílio aos Estados no tocante ao
fomento e efetivação dos direitos humanos em seus respectivos territórios.
A ONU POSSUI ÓRGÃOS PRÓPRIOS E TAMBÉM
RELAÇÕES DE APOIO ADMINISTRATIVO E TÉCNICO
COM VÁRIOS ÓRGÃOS CRIADOS PELOS DIVERSOS
TRATADOS INTERNACIONAIS ELABORADOS SOB
SEU PATROCÍNIO, VOLTADOS À PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS. ESSE CONJUNTO DE
MECANISMOS DE PROTEÇÃO GERIDOS TANTO
PELOS PRÓPRIOS ÓRGÃOS ONUSIANOS QUANTO
POR AQUELES PREVISTOS NOS TRATADOS TAMBÉM
INTEGRA O DENOMINADO SISTEMA GLOBAL DE
DIREITOS HUMANOS.
O que os une tais órgãos é a atuação da ONU, quer diretamente, por meio daqueles da própria
organização; ou indiretamente, mediante a atuação de organismos independentes, previstos em
tratados elaborados sob seu patrocínio e que recebem apoio técnico e administrativo da
organização. Vamos conferir quais são os principais deles.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) é o
principal órgão da ONU encarregado de promover e proteger os direitos humanos. Foi criado
pela Resolução n.º 48/141 da Assembleia Geral da ONU, de 1993, a partir de recomendação da
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena, ocorrida no mesmo ano.
[A] FUNÇÃO PRECÍPUA DO OHCHR É PROMOVER E
PROTEGER OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO E
LIDERAR OS ESFORÇOS DAS NAÇÕES UNIDAS
NESSE SENTIDO, CONFERINDO TAMBÉM MAIOR
RELEVÂNCIA POLÍTICA AO TRATAMENTO DO TEMA
(...) INCLUI, ENTRE SUAS COMPETÊNCIAS
ESPECÍFICAS, O APOIO AOS DEMAIS ÓRGÃOS DA
ONU ENVOLVIDOS COM A MATÉRIA, ABRANGENDO
A COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES QUE
DESENVOLVEM E O ESFORÇO PARA QUE TODAS AS
ÁREAS DAS NAÇÕES UNIDAS INCLUAM
CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À PROTEÇÃO DA
DIGNIDADE HUMANA NO TRATAMENTO DOS TEMAS
DE SUA COMPETÊNCIA.
(PORTELA, 2017, p. 914)
Outro importante órgão da ONU é o Conselho de Direitos Humanos, criado em 2006, por meio
da Resolução n.º 60/251 da Assembleia Geral da ONU. O Conselho substituiu a antiga Comissão
de Direitos Humanos (1946-2006), que havia sido criada pelo Conselho Econômico e Social da
ONU (ECOSOC).
 Sala usada pelo Conselho de Direitos Humanos das 
Nações Unidas no Palácio das Nações, em Genebra (Suíça).
Sua principal função é promover o respeito universal aos direitos humanos por meio da
supervisão do cumprimento dos compromissos internacionais celebrados pelos entes estatais na
matéria. É composto por 47 Estados-membros, escolhidos por votação secreta da Assembleia
Geral da ONU, para um mandato de três anos. Tem competência para promover e fiscalizar a
observância da proteção de direitos humanos pelos Estados da ONU e fazer, atualmente, a
gestão do Sistema de Procedimentos Especiais e do Mecanismo da Revisão Periódica
Universal (RPU), que são instrumentos pelos quais fiscaliza o cumprimento e a proteção dos
direitos humanos por parte dos Estados-membros da ONU.
 Sala usada pelo Conselho Econômico e Social 
das Nações Unidas, em Nova York (EUA).
Os Relatores Especiais de Direitos Humanos também são órgãos onusianos de proteção dos
direitos humanos. A partir da criação dos procedimentos especiais pelas Resoluções n.º 1235
(procedimento público) e n.º 1503 (procedimento confidencial) do Conselho Econômico e
Social da ONU (ECOSOC), especialmente em razão do primeiro, surgiu a necessidade de
nomeação de órgãos de averiguação de violações de direitos humanos, cuja abrangência pode
ser geográfica (por país) ou temática.
Tais órgãos podem ser unipessoais ou coletivos e a denominação é variada, isto é, nos casos
unipessoais, há o uso da expressão “Relator Especial” ou ainda “Especialista Independente”; no
caso dos órgãos colegiados, utiliza-se a expressão “Grupo de Trabalho”.
Conforme explica André de Carvalho Ramos (2021), o trabalho desses órgãos “consiste em
realizar visitas aos países, em missões de coleta de dados (fact-finding missions), bem como em
agirdiante de violações de direitos humanos solicitando (não podem exigir) atenção do Estado
infrator sobre os casos. Seus relatórios não vinculam, apenas contêm recomendações, que são
enviadas aos Estados e também ao Conselho de Direitos Humanos e Assembleia Geral da
ONU”.
Por fim, importante também mencionar os comitês criados por tratados internacionais de
âmbito universal, que têm como principal atribuição monitorar o cumprimento das obrigações
assumidas pelos Estados dentro do sistema global ao aderirem ou ratificarem determinado
tratado. Estão voltados, portanto, a assegurar a observância das normas convencionais, seja de
um único tratado ou de uma restrita série de acordos específicos.
São exemplos desses comitês: o Comitê de Direitos Humanos; o Comitê de Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais; o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial; o Comitê sobre a
Eliminação da Discriminação contra a Mulher; o Comitê contra a Tortura; o Comitê para os
Direitos da Criança; o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; e o Comitê contra
Desaparecimentos Forçados.
 Sra. Navanethem Pillay, alta comissária para os Direitos 
Humanos, no Dia da Eliminação da Discriminação Racial de 2010.
ESSES COMITÊS GERALMENTE PODEM TER A SUA
COMPETÊNCIA RECONHECIDA PELOS ESTADOS
PARA ANALISAR PETIÇÕES DE INDIVÍDUOS QUE
LHES SERÃO DIRIGIDAS NOTICIANDO VIOLAÇÕES
DE DIREITOS HUMANOS.
Em termos conclusivos, podemos afirmar que, no âmbito da ONU, existe atualmente um
sofisticado sistema de proteção dos direitos humanos em nível universal voltado para todas as
pessoas pelo simples fato de serem humanas, sem discriminação de qualquer natureza.
Agora, o professor Luciano Meneguetti apresenta os órgãos e mecanismos de proteção e
monitoramento dos direitos humanos na ONU.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Listar os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos
SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS
Paralelamente à ONU, outras organizações internacionais regionais começaram a surgir após o
término da Segunda Guerra Mundial, tais como a Organização dos Estados Americanos
(OEA), em 1948; o Conselho da Europa (CE), em 1949; e, um pouco mais tarde, a
Organização da Unidade Africana (OUA), de 1963, que teve como sucessora a União
Africana (UA), em 2002. Na área dessas organizações também surgiram e passaram e ser
desenvolvidos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos, com vistas a
complementar a proteção global desses direitos, anteriormente instituída pela ONU. Na
atualidade coexistem, em uma relação de complementariedade, o sistema global e os sistemas
regionais de proteção dos direitos humanos.
 Sessão da Assembleia Parlamentar do Conselho 
da Europa na antiga Casa da Europa em Estrasburgo em 1967.
Atualmente, existem três sistemas que se encontram estruturados em diferentes continentes:
 Bandeira do Conselho da Europa.
O sistema europeu de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito do Conselho
da Europa (CE).
 Bandeira da Organização dos Estados Americanos.
O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito da
Organização dos Estados Americanos (OEA).
 Bandeira da União Africana.
O sistema africano de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito da União
Africana (UA).
Apesar da existência de alguns documentos voltados à proteção dos direitos humanos no plano
regional árabe-islâmico, não é possível afirmar, na atualidade, a existência de um sistema árabe-
islâmico de proteção dos direitos humanos, o que ainda é uma grande aspiração. Nesse
contexto, é possível destacar a existência de alguns poucos instrumentos: (i) a Declaração
Universal Islâmica de Direitos Humanos, de 1981; (ii) a Declaração dos Direitos Humanos
do Cairo ou Declaração dos Direitos Humanos do Islam, adotada em 1990 pela Organização
para a Cooperação Islâmica (OCI); e (iii) a Carta Árabe dos Direitos do Homem, adotada pelo
Conselho da Liga dos Estados Árabes, em 1994 e atualizada em 2004.
VALE DESTACAR TAMBÉM QUE OS DIREITOS
HUMANOS PARA OS POVOS ÁRABES GERALMENTE
SE APRESENTAM COMO UM PODER DERIVADO DE
UM PODER DIVINO, O QUE ACABA POR PRODUZIR
SITUAÇÕES COMPLEXAS E VIOLADORAS DE
DIREITOS HUMANOS PARA DETERMINADOS
SEGMENTOS SOCIAIS, COMO MULHERES E
CRIANÇAS.
Por sua vez, no continente asiático não existe até o presente momento qualquer documento
relevante sobre a proteção dos direitos humanos e sequer uma expectativa de conclusão de uma
convenção regional ou sub-regional de direitos humanos.
Antes de passarmos à análise específica de cada um dos sistemas regionais, é necessário
esclarecer que eles atuam paralela e complementarmente ao sistema global. Portanto, esses
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos não se excluem, ao contrário, se
completam. Como já vimos, a finalidade do sistema global é atuar de forma ampla em todos os
Estados soberanos, ao passo que os sistemas regionais têm uma atuação complementar àquele,
buscando aperfeiçoar e fortalecer as determinações dos moldes gerais, bem como tratar das
especificidades relativas aos direitos humanos em cada âmbito regional.
Rhona K. M. Smith (2014, p. 87), ao apontar algumas vantagens dos sistemas regionais, destaca
que, “na medida em que um número menor de Estados está envolvido, o consenso político se
torna mais facilitado, seja com relação aos textos convencionais, seja quanto aos mecanismos de
monitoramento. Muitas regiões são ainda relativamente homogêneas, com respeito à cultura, à
língua e às tradições, o que oferece vantagens”.
O SISTEMA REGIONAL EUROPEU DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O sistema europeu de proteção dos direitos humanos é atualmente o mais desenvolvido dos
sistemas regionais. Foi o primeiro efetivamente instalado, fato que se deu em 4 de novembro de
1950, com a adoção da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das
Liberdades Fundamentais ou simplesmente Convenção Europeia de Direitos Humanos
(CEDH). A Convenção foi elaborada no âmbito do Conselho da Europa, órgão criado em 5 de
maio de 1949, com o objetivo de unificar a Europa.
O ARCABOUÇO NORMATIVO
A CEDH é o tratado-regente do sistema europeu, que entrou em vigor internacional em 3 de
setembro de 1953, e continua a ser o mais expressivo catálogo europeu de direitos humanos.
Logo em seu art. 1º, estabelece a obrigação geral de os Estados-partes respeitarem os direitos
humanos.
A principal finalidade da CEDH é disciplinar as diretrizes referentes à proteção dos direitos da
pessoa humana e garantir os instrumentos para sua aplicação. Ela também institucionaliza um
compromisso dos Estados europeus em cumprir efetivamente as normas protetivas nela
previstas, não adotando quaisquer concepções contrárias em seus respectivos ordenamentos
jurídicos internos.
 Edifício do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem em Estrasburgo, na França.
A CEDH também determina a submissão dos países europeus ao Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem (TEDH), órgão criado para atuar jurisdicionalmente caso haja o desrespeito
às normas impostas pela Convenção, julgando e condenando os Estados violadores de suas
disposições e de outras normas integrantes do sistema europeu de proteção.
A CEDH é estruturada basicamente em três partes. A primeira (arts. 2º a 18) regulamenta os
direitos e as liberdades fundamentais de natureza civil e política, que se baseiam no direito à
vida, na proibição da tortura, na proibição da escravidão e do trabalho forçado, na garantia da
liberdade, da segurança, da vida privada e familiar, do processo judicial equitativo e nas
liberdades de expressão, pensamento, consciência e religião, na liberdade de reunião e de
associação, na proibição da discriminação, entre outros. A segunda parte do texto (arts. 19 a 51)
diz respeito à estrutura interna e funcionamento da Corte EDH, órgão responsável por julgar os
casos de violação de direitos humanos consagrados e positivados pela Convenção. Por fim, aterceira parte (arts. 52 a 59) estabelece disposições gerais, tais como a assinatura e ratificação,
as reservas, a denúncia e a aplicação territorial.
Além do texto principal da CEDH, vários outros instrumentos normativos foram criados para a
consagração desses direitos no continente europeu, com destaque para os protocolos relativos à
Convenção, que ampliaram o rol dos direitos protegidos. A seguir, estão destacados os
protocolos mais importantes:
Protocolo n.º 1 (1952), que dispôs sobre o direito de propriedade; o Protocolo n.º 2 (1993),
que trata do direito à educação.
Protocolo n.º 4 (1963), que cuida da liberdade de locomoção.
Protocolo n.º 6 (1983), que dispôs sobre a abolição da pena de morte em tempo de paz.
Protocolo n.º 7 (1984), que estabeleceu o direito de apelar em questões de natureza
criminal, o direito a uma justa compensação por erro judiciário e o direito à igualdade entre
os cônjuges.
Protocolo n.º 12 (2000), que prevê o direito à não discriminação.
Protocolo n.º 13 (2002), que trata da abolição da pena de morte em tempo de guerra.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Junto à CEDH e aos seus protocolos, o sistema europeu conta atualmente com mais de 185
instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, todos adotados pelo Conselho da
Europa. Dentre eles, merecem destaque a Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e
de Tratamentos Desumanos e Degradantes (1987), a Carta Europeia para as Línguas Regionais
ou de Minorias (1992) e a Convenção para a Proteção de Minorias Nacionais (1995).
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA
De início, com a finalidade de monitorar os direitos previstos na CEDH e desenvolver métodos
eficazes na produção de resultados protetivos dos direitos consagrados, a própria Convenção
estabeleceu três órgãos distintos, cada um com competências específicas previamente
instituídas: a Comissão Europeia de Direitos Humanos, a Corte Europeia de Direitos
Humanos e o Comitê de Ministros do Conselho da Europa.
 Salão da Corte Europeia de Direitos Humanos.
Enquanto um dos órgãos inicialmente criados pela CEDH, a Comissão tinha uma competência
política e “semijudicial”. Sua função era analisar as queixas ou comunicações apresentadas pelos
Estados-membros do sistema europeu e também pelos indivíduos (ONGs ou grupos de
indivíduos), acerca de uma violação da Convenção, buscando resolver o problema de uma
maneira mais informal e conciliatória, privilegiando-se a busca pela solução rápida.
A Comissão realizava uma espécie de juízo de admissibilidade das petições protocoladas,
atuando como mecanismo de filtragem para decidir quais petições seriam consideradas
admissíveis. Também atuava propondo aos litigantes a solução pacífica dos conflitos e também
aplicando medidas protetivas de caráter preliminar. Caso restassem infrutíferas as tentativas de
conciliação e solução dos litígios, à Comissão cabia submeter o caso à Corte.
UM DOS ÓRGÃOS MAIS IMPORTANTES CRIADOS
PELA CEDH FOI A CORTE, INSTITUÍDA EM 20 DE
ABRIL DE 1959, COM FUNÇÃO JURISDICIONAL. A
SUA PRINCIPAL TAREFA ERA A APLICAÇÃO DAS
PREMISSAS DA CONVENÇÃO AO JULGAR OS CASOS
QUE LHE ERAM SUBMETIDOS E A COMINAÇÃO DE
EVENTUAIS SANÇÕES AOS PAÍSES VIOLADORES
DOS DIREITOS PROTEGIDOS, REALIZANDO ASSIM O
JUÍZO DE MÉRITO DOS CASOS.
Ao logo do tempo, contudo, o sistema europeu passou por vários processos de aperfeiçoamento,
concretizados por diversos Protocolos (tratados modificativos e complementares à CEDH). Em
razão do Protocolo n.º 11 (1998), profundas alterações foram realizadas no âmbito do sistema,
dentre elas a extinção da Comissão e da Corte inicialmente criadas (que atuavam em tempo
parcial) e a criação do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), agora único e
permanente, com competência obrigatória para a realização dos juízos de admissibilidade e de
mérito dos casos de violações de direitos humanos que lhe são submetidos.
Nesse contexto, vale ressaltarmos que o sistema europeu também se destaca por ser o único
sistema regional de proteção dos direitos humanos que permite o acesso direto de indivíduos,
ONGs e grupos de indivíduos ao TEDH (jus standi), a fim de que possam, por meio do exercício
do direito de petição (CEDH, art. 34), exigir uma reparação devido à violação de direitos por um
Estado-parte na CEDH. Essa alteração ocorreu por meio do Protocolo n.º 11; antes dele,
somente Estados e a extinta Comissão eram legitimados para provocar a Corte.
JUS STANDI
Legitimidade conferida aos indivíduos para comunicar diretamente a violação de direitos
humanos para um órgão internacional, no caso o TEDH.
Com sede em Estrasburgo, o TEDH é regulado pela CEDH e tem competência contenciosa
para se pronunciar sobre todas as questões relativas à interpretação e à aplicação da
Convenção (arts. 32 a 46). Pode receber petições de qualquer pessoa singular, ONG ou grupo
de particulares que se considerem vítimas de violação dos direitos previstos na Convenção pelos
Estados-partes (art. 34) e também pode apreciar denúncias feitas por um Estado-parte sobre a
violação de tais direitos por outro Estado-parte (art. 33). Contudo, para que o Tribunal possa
conhecer as questões que lhe são submetidas, condições de admissibilidade devem estar
presentes, dentre elas, o esgotamento dos recursos internos (art. 35).
Além da competência contenciosa, o TEDH tem também uma competência consultiva,
segundo a qual, por solicitação do Comitê de Ministros, formula pareceres e opiniões consultivas
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sobre questões jurídicas relativas à interpretação da CEDH e de seus protocolos (arts. 47 e 48).
O TEDH é composto por um número de juízes equivalente ao número de Estados-partes da
CEDH (art. 20). Todos eles exercem suas funções a título individual — com independência e não
como representantes de seus Estados de origem — e devem gozar da mais alta reputação
moral, bem como reunir as condições requeridas para o exercício de altas funções judiciais ou
ser jurisconsultos de reconhecida competência (art. 21). Os juízes são eleitos, por maioria de
votos expressos, pela Assembleia Parlamentar, com base em uma lista de três candidatos
indicados por cada Estado-parte da CEDH (art. 22), para um período de nove anos, não sendo
reelegíveis (art. 23).
Quanto à sua estrutura interna de funcionamento, o TEDH atua por meio de um Tribunal Singular,
comitês, seções e Tribunal Pleno (art. 26). As decisões, quando proferidas pelo Tribunal Pleno,
são definitivas (art. 44) e têm força vinculante para os Estados condenados, que devem cumprir
integralmente as condenações fixadas nas sentenças proferidas (art. 46).
O SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO
DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos está arquitetado no âmbito da OEA,
uma organização de vocação regional, criada pela Carta da Organização dos Estados
Americanos (ou Carta da OEA), aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana,
realizada em Bogotá, em 1948. Pode-se afirmar que tal sistema foi “inaugurado” formalmente por
esse tratado, que destacou em seu preâmbulo a necessidade de contemplar um sistema capaz
de garantir o respeito aos direitos humanos no continente americano.
Na mesma Conferência em que foi adotada a Carta da OEA, os Estados americanos também
proclamaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), que foi o
primeiro instrumento regional americano específico sobre direitos humanos.
 Edifício da sede da União Pan-Americana 
em Washington em 1943.
O ARCABOUÇO NORMATIVO
A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (CADH), também conhecida como Pacto
de San José da Costa Rica, é o tratado-regente do sistema interamericano de proteção dos
direitos humanos. Foi adotada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos
Humanos, ocorrida em San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, e entrou em vigor
internacional em 18 de julho de 1978.
Trata-se do textode direitos humanos mais importante e expressivo das Américas, tornando-se
um dos pilares da proteção dos direitos humanos, ao consagrar direitos políticos e civis, bem
como os relacionados à integridade pessoal, à liberdade e à proteção judicial. Em seu art. 1º,
estabelece a obrigação geral de os Estados-partes respeitarem os direitos e as liberdades nela
reconhecidos e garantirem seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua
jurisdição, sem discriminação de qualquer natureza.
Além de prever um amplo rol de direitos civis e políticos, a principal finalidade da CADH é
estabelecer as diretrizes referentes à proteção dos direitos da pessoa humana, garantindo
importantes mecanismos para sua aplicação. Ela também institucionaliza um compromisso dos
Estados-partes em cumprir efetivamente as normas protetivas nela previstas, não adotando
quaisquer concepções contrárias em seus respectivos ordenamentos jurídicos internos.
A CADH é estruturada basicamente em três partes. A primeira (arts. 1º a 32) regulamenta os
direitos e as liberdades fundamentais de natureza civil e política, que se baseiam no direito à
vida, à integridade pessoal, na proibição da escravidão e da servidão, no direito à liberdade
pessoal, nas garantias judiciais, na proteção da honra e da dignidade, na liberdade de
consciência e de religião, na liberdade de pensamento e de expressão, no direito à
nacionalidade, na proteção da família, nos direitos políticos e de personalidade, entre outros.
A segunda parte (arts. 33 a 73) diz respeito à estrutura interna e funcionamento dos órgãos de
proteção dos direitos humanos componentes do sistema. Por fim, a terceira parte (arts. 74 a 82)
trata das disposições transitórias, abordando tópicos como assinatura, ratificação, reserva,
emenda, protocolo e denúncia à Convenção, bem como disposições gerais sobre a Comissão e
a Corte.
O Brasil aderiu à CADH em 25 de setembro de 1992, mediante o depósito da carta de adesão
junto à Secretária-Geral da OEA, momento em que entrou em vigor no plano internacional para o
Estado brasileiro. No plano interno, o Congresso Nacional aprovou a Convenção por meio do
Decreto Legislativo n.º 27, de 26 de maio de 1992, mas somente entrou em vigor no plano
doméstico brasileiro em 6 de novembro de 1992, com a promulgação do Decreto n.º 678, pelo
presidente da República, momento em que passou a integrar o direito brasileiro, conforme a
prática brasileira de internalização dos tratados.
ALÉM DA CARTA OEA, DA DECLARAÇÃO
AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM
E DA CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
HUMANOS, O SISTEMA INTERAMERICANO CONTA
AINDA COM DIVERSOS OUTROS INSTRUMENTOS
(TRATADOS E DECLARAÇÕES) QUE COMPÕEM O
CORPUS JURIS INTERAMERICANO.
Dentre os principais instrumentos juridicamente vinculantes podemos citar os seguintes:

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985).

Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, conhecido como Protocolo de San Salvador (1988).

Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referente à Abolição da Pena de
Morte (1990).

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
conhecida como Convenção de Belém do Pará (1994).

Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas (1994).

Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência (1999).

Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância (2013).

Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância (2013).

Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas (2015).
Dentre os instrumentos que não possuem força jurídica vinculante para os Estados, podemos
destacar a Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão (2000), a Carta Democrática
Interamericana (2001), e a Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2016).
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA
Visando garantir a promoção, fiscalização e efetiva proteção dos direitos humanos previstos na
CADH e nos demais instrumentos normativos do sistema interamericano, foram instituídos dois
importantes órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), previstos no art. 33 da CADH e
disciplinados especialmente em outros dispositivos da Convenção.
 Sede da Corte Interamericana de Direitos Humanos, 
na cidade de San Jose, na Costa Rica.
A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
 Edifício da sede da União Pan-Americana em Washington, nos EUA.
A Comissão é um órgão criado inicialmente pela OEA para “promover o respeito e a defesa dos
direitos humanos e servir como órgão consultivo da Organização” sobre a matéria (Carta da
OEA, art. 106 e CADH, art. 41). Por determinação da norma prevista na Carta da OEA, a CADH
regulamentou a Comissão, dispondo sobre a sua organização, suas funções, sua competência e
seu procedimento em seus arts. 34 a 51 (salvo disposição em contrário, os artigos citados a
seguir estão previstos na CADH). Além dessas previsões, a Comissão conta também com um
Estatuto e um Regulamento.
Situada em Washington, D.C. (EUA), a Comissão realiza pelo menos dois períodos ordinários de
sessões por ano, no lapso determinado previamente, bem como tantas sessões extraordinárias
quantas considerem necessárias.
É composta por sete membros, denominados comissários ou comissionados, que devem ser
pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos (art.
34). Esses membros são eleitos a título pessoal (não como representantes dos seus Estados de
origem), pela Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos propostos pelos governos
dos Estados-membros, sendo que cada governo pode propor até três candidatos, nacionais do
Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da OEA. Quando for proposta uma
lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser de Estado diferente do proponente
(CADH, art. 36). No tocante ao mandato de seus membros, eles serão eleitos por quatro anos e
só poderão ser reeleitos uma única vez, não podendo fazer parte da Comissão mais de um
comissário de um mesmo Estado (art. 37).
A CADH criou um sistema de petições individuais e de comunicações interestatais,
possibilitando à Comissão o recebimento de denúncias ou queixas contendo alegações de
violações de direitos humanos protegidos pela Convenção e por outros instrumentos normativos
do SIDH. O procedimento de petição individual é considerado de adesão obrigatória para os
Estados que aderem ou ratificam a CADH (art. 44). Por outro lado, o procedimento de
comunicação interestatal (entre Estados) é estabelecido pela própria Convenção como facultativo
(art. 45).
Para que um procedimento de petição individual contendo uma denúncia ou queixa de violação
dos direitos humanos previstos na CADH possa ser iniciado junto à Comissão, devem estar
presentes algumas condições de admissibilidade, conforme o estabelecido pelo art. 46 da
Convenção. Em suma, são elas: (i) o esgotamento dos recursos internos (local remedies rule); (ii)
a ausência do decurso do prazo de 6 meses, contados do esgotamento dos recursos internos,
para a apresentação da petição; (iii) ausência de litispendência internacional; (iv) ausência de
coisa julgada internacional; e (v) identificação do peticionário.
A Comissão já apreciou diversos casos envolvendo várias espécies de violação de direitos
humanos pelo Estado brasileiro, sendo que um deles resultou em uma recomendação ao país
para elaboração de uma lei voltada à prevenção e ao combate à violência doméstica, que
resultou na edição da Lei n.º 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha.
A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS
O segundo órgãode proteção dos direitos humanos do SIDH é a Corte Interamericana de
Direitos Humanos (Corte IDH), uma instituição judicial autônoma que é um órgão da CADH. Sua
criação decorre diretamente do art. 33, “b”, da Convenção.
A CORTE IDH TEM SUA PRINCIPAL DISCIPLINA
JURÍDICA NA CADH, QUE ESTABELECEU A SUA
ORGANIZAÇÃO, SUAS COMPETÊNCIAS, FUNÇÕES,
SEUS PROCEDIMENTOS E SUAS DISPOSIÇÕES
COMUNS NOS ARTS. 52 A 73. ASSIM COMO A
COMISSÃO, ALÉM DA REGULAÇÃO PREVISTA NA
CONVENÇÃO, A CORTE TAMBÉM CONTA COM
NORMAS REGULAMENTADORAS EM SEU ESTATUTO
E REGULAMENTO.
Em 22 de maio 1979, durante o VII Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da
OEA, os Estados-partes na CADH elegeram os membros que, por sua capacidade pessoal,
seriam os primeiros juízes a compor a Corte. A sua primeira reunião foi realizada em 29 e 30 de
junho de 1979, na sede da OEA, em Washington. Atualmente a sede da Corte está situada em
San José, capital da Costa Rica.
De acordo com o art. 1º do seu estatuto, a Corte “é uma instituição judiciária autônoma cujo
objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos”,
exercendo suas funções em conformidade com as disposições da Convenção e do seu Estatuto.
Trata-se, portanto, de um tribunal “com o propósito primordial de resolver os casos que lhe são
apresentados por supostas violações aos direitos humanos protegidos pela Convenção
Americana” (GUERRA, 2015, p. 166).
Em relação ao seu funcionamento, de acordo com o art. 22.1 do seu estatuto, a Corte pode
realizar sessões ordinárias e extraordinárias (pois não é um tribunal permanente como o TEDH),
sendo que os períodos ordinários de sessões serão determinados regularmente pela própria
Corte (art. 22.2) e os períodos extraordinários de sessões serão convocados pelo presidente ou
por solicitação da maioria dos juízes (art. 22.3).
Conforme estabelece o art. 11 de seu regulamento, a Corte realizará os períodos ordinários de
sessões que se fizerem necessários durante o ano para o pleno exercício de suas funções, nas
datas que tiver fixado em sua sessão ordinária imediatamente anterior.
No tocante à sua composição, conforme dispõe o art. 52.1 da CADH, a Corte IDH é composta de
sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA, eleitos a título pessoal, que devem ser
pessoas de alta autoridade moral e de reconhecida competência em matéria de direitos
humanos, reunindo as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções
judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser
como candidatos.
Seus juízes são eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez (art.
54.1). A eleição ocorre por meio de votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos
Estados-partes da Convenção, na Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos
propostos pelos mesmos Estados (CADH, art. 53.1). Cada governo pode propor até três
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da OEA.
Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de
Estado diferente do proponente (CADH, art. 53.2). Não deve haver dois juízes da mesma
nacionalidade compondo a Corte simultaneamente (CADH, art. 52.2).
De acordo com a CADH, a Corte IDH pode exercer uma função consultiva (art. 64), segundo a
qual emite pareceres ou opiniões em resposta às consultas que lhe são dirigidas pelos Estados,
bem como uma função contenciosa (arts. 61, 62 e 63), de acordo com a qual analisa e julga os
casos de violações de direitos humanos que lhe são submetidos.
A competência contenciosa da Corte não é automática, mas precisa ser reconhecida
expressamente pelo Estado-parte da CADH. Assim, para que a Corte possa exercer sua
jurisdição contenciosa sobre determinado Estado, no momento da adesão ou ratificação (ou em
qualquer outro momento), o ente estatal deve declarar expressamente que reconhece como
obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial a competência da Corte em todos os
casos relativos à interpretação ou aplicação da Convenção (CADH, art. 62.1).
NO BRASIL, ESSE RECONHECIMENTO FOI
APROVADO PELO CONGRESSO NACIONAL POR
MEIO DO DECRETO LEGISLATIVO N.º 89, DE 3 DE
DEZEMBRO DE 1998. POR MEIO DE NOTA
TRANSMITIDA AO SECRETÁRIO-GERAL DA OEA NO
DIA 10 DE DEZEMBRO DE 1998, O BRASIL
RECONHECEU A JURISDIÇÃO E A COMPETÊNCIA
OBRIGATÓRIA DA CORTE IDH, CONFORME
DISPOSTO NO DECRETO N.º 4.463, DE 8 DE
NOVEMBRO DE 2002.
Acerca da legitimidade para provocar a Corte IDH, de acordo com o art. 61 da CADH, somente
os Estados-partes (que tenham também reconhecido a jurisdição da Corte) e a Comissão têm o
direito de submeter casos para sua apreciação e julgamento. Contrariamente ao que ocorre no
âmbito do sistema europeu, no SIDH os indivíduos dependem da Comissão ou de outro Estado
(actio popularis) para que suas vindicações possam chegar à Corte IDH, pois até o presente
momento lhe é vedado o direito de ação internacional (jus standi).
As sentenças proferidas pela Corte IDH são de cumprimento obrigatório por parte dos Estados-
partes na CADH em todo caso em que forem partes, conforme disposto no art. 68.1 da CADH. O
art. 67 da CADH determina que a sentença é definitiva e inapelável, sendo que no caso de
divergência sobre o sentido ou alcance da decisão, a Corte deverá interpretá-la, a pedido de
qualquer das partes.
Desde o ano de 2006, a Corte IDH já julgou dez casos envolvendo o Brasil, sendo que apenas em
um deles o país não foi condenado. São eles: Caso Ximenes Lopes vs. Brasil (2006); Caso
Nogueira de Carvalho e outros vs. Brasil (2006); Caso Escher e outros vs. Brasil (2009); Caso
Garibaldi vs. Brasil (2009); Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil (2010);
Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (2016); Caso Cosme Rosa Genoveva,
Evando de Oliveira e outros (“Favela Nova Brasília”) vs. Brasil (2017); Caso do Povo Indígena
Xucuru e seus membros vs. Brasil (2018); Caso Herzog e outros vs. Brasil (2018); e Caso
Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil
(2020).
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Além dos casos já julgados, até o presente momento outros três casos envolvendo o país
encontram-se pendentes de julgamento. São eles: Caso Barbosa de Souza e outros vs. Brasil
(2019), Caso Barbosa de Souza e outros vs. Brasil (2020) e Caso Tavares Pereira e outros vs.
Brasil (2021).
A execução forçada das decisões da Corte IDH, em sentido próprio, não existe. Os casos de não
cumprimento dessas decisões por parte de um Estado condenado podem ser levados ao
conhecimento da Assembleia Geral da OEA por meio de um relatório anual. Desse modo, é
ativado um shaming mechanism (mecanismo da vergonha), visando motivar o Estado envolvido
à execução da decisão.
CASO EMPREGADOS DA FÁBRICA DE FOGOS
DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS E SEUS
FAMILIARES VS. BRASIL
Foi o caso submetido à Corte em 19 de setembro de 2018. A Comissão Interamericana de
Direitos Humanos submeteu à jurisdição da Corte Interamericana o Caso Empregados da
Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares contra a República Federativa do
Brasil. O caso está relacionado à explosão de uma fábrica de fogos de artifício em Santo Antônio
de Jesus, ocorrida em 11 de dezembro de 1998, em que 64 pessoas morreram e 6
sobreviveram, entre elas 22 crianças. A Comissão determinou que o Estado violou: i) os direitos
à vida e à integridade pessoal das supostas vítimas e de seus familiares, uma vez que não
cumpriu suas obrigações de inspeção e fiscalização, conforme a legislação interna e o Direito
Internacional; ii) os direitos da criança; iii) o direito ao trabalho, pois sabia que na fábrica vinham
sendo cometidas graves irregularidades que implicavam alto risco e iminente perigo para a vida
e a integridade pessoal dos trabalhadores; iv) o princípio de igualdade e não discriminação, pois
a fabricação de fogos de artifício era, no momento dosfatos, a principal e, inclusive, a única
opção de trabalho dos habitantes do município, os quais, dada sua situação de pobreza, não
tinham outra alternativa senão aceitar um trabalho de alto risco, com baixa remuneração e sem
medidas de segurança adequadas; e v) os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial,
pois nos processos civis, penais e trabalhistas conduzidos no caso, o Estado não garantiu o
acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos, a investigação e punição dos
responsáveis, nem a reparação das consequências das violações de direitos humanos ocorridas.
Agora, o professor Luciano Meneguetti apresenta os órgãos de proteção dos direitos humanos
no âmbito interamericano.
O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
 Cúpula do 50º Aniversário da União Africana em Adis Abeba, Etiópia.
O sistema regional africano de proteção dos direitos humanos está estruturado no âmbito da
União Africana (UA) e nasceu somente em 1981, com a adoção da Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos (CADHP), também conhecida como Carta de Banjul. A Carta foi
aprovada na Conferência Ministerial da então Organização da Unidade Africana (hoje
denominada União Africana), em Banjul, Gâmbia, entrou em vigor internacional em 1986, e
constitui-se o tratado-regente do referido sistema.
EM UMA ESCALA DE DESENVOLVIMENTO, O
SISTEMA EUROPEU É O MAIS DESENVOLVIDO E O
SISTEMA INTERAMERICANO SE ENCONTRA EM UMA
POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA. JÁ O SISTEMA
AFRICANO É AINDA INCIPIENTE E SE ENCONTRA EM
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO, EVOLUÇÃO E
AMADURECIMENTO.
O ARCABOUÇO NORMATIVO
A CADHP está estruturada em três partes. A primeira (arts. 1º a 29) elenca os direitos e os
deveres dos cidadãos, contemplando-se, inclusive, além dos direitos de 1ª e 2ª geração, também
os direitos de 3ª geração, tais como o direito ao meio ambiente sadio, ao desenvolvimento e à
paz. A segunda parte (arts. 30 a 63) estabelece as medidas de salvaguarda da Carta, dispondo
sobre a composição e a organização da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
(Comissão ADHP), sobre o processo perante a Comissão, além dos princípios aplicáveis. Por
fim, a última parte (arts. 64 a 68) fixa disposições diversas, tais como a entrada em vigor da Carta
e o processo para emenda ou revisão do texto.
Vários outros instrumentos integram o arcabouço normativo do sistema africano de direitos
humanos, tais como a Convenção da UA que Regula Aspectos Específicos dos Problemas
dos Refugiados na África (1969), a Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança
(1990), o Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e Dos Povos sobre os Direitos
das Mulheres na África (2003), a Carta Africana para a Democracia, Eleições e
Governação (2011) e o Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
sobre os Direitos das Pessoas Idosas na África (2018). Há, ainda, outras disposições não
dotadas de força vinculante, como princípios e diretrizes.
ALÉM DA CADHP E DOS INSTRUMENTOS REGIONAIS
ACIMA MENCIONADOS, OS ESTADOS AFRICANOS
TAMBÉM ADERIRAM E RATIFICARAM A MAIORIA
DOS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS DO SISTEMA GLOBAL
(ONU).
OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA
Diferentemente dos sistemas europeu e interamericano, que inicialmente estabeleceram dois
órgãos de proteção dos direitos humanos (uma Comissão e uma Corte), a CADHP criou apenas
a Comissão ADHP. Foi somente em 2004, quando entrou em vigor o Protocolo à Carta ADHP,
adotado em 1998, que surgiu a Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Corte ADHP).
Por isso, costuma-se dizer que o sistema africano se desenvolveu em duas etapas.
A COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E
DOS POVOS
À semelhança da extinta Comissão EDH e da Comissão IDH, a função da Comissão ADHP, em
funcionamento desde 1987, é promover os direitos humanos e dos povos e assegurar sua
respectiva proteção no continente africano. Ressalta-se que este foi o primeiro e único órgão de
proteção dos direitos humanos criado pela Carta ADHP (art. 30).
A Comissão é composta por onze membros, que devem ser escolhidos entre personalidades
africanas que gozem da mais alta consideração, conhecidas pela sua alta moralidade, sua
integridade e sua imparcialidade, e que possuam competência em matéria dos direitos humanos
e dos povos (art. 31). São eleitos, a título individual (para uma atuação com independência), por
escrutínio secreto pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, de uma lista de
pessoas apresentadas para esse efeito pelos Estados-partes na Carta ADHP (art. 33). Os
membros da Comissão são eleitos para um mandato de seis anos, sendo renovável (art. 36).
A Comissão ADHP exerce sua função de proteção dos direitos humanos mediante aceitação (i)
de petições individuais, que lhe são enviadas por indivíduos ou ONGs, denunciando violações
de direitos previstos na Carta ADHP, bem como (ii) de comunicações estatais, feitas pelos
Estados-partes da Carta, nas quais igualmente denunciam tais violações.
A CORTE AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E
DOS POVOS
A Corte ADHP foi criada pelo Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos (art. 1º), adotado em 10 de junho de 1998, por ocasião da 34ª Sessão Ordinária da
Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Organização de Unidade Africana (atual
União Africana), reunida em Ouagadougou, no Burkina Faso. O Protocolo entrou em vigor
internacional em 25 de janeiro de 2004 e a Corte foi oficialmente inaugurada em 2006, tendo a
sua sede permanente em Arusha, República Unida da Tanzânia.
Conforme dispõe o próprio preâmbulo do Protocolo, a criação da Corte ADHP tem como
finalidade o fortalecimento da proteção dos direitos humanos e dos povos consagrados na Carta
ADHP, visando conferir maior eficácia à atuação da Comissão.
A Corte é composta por onze juízes, que devem ser nacionais dos Estados-membros da UA. São
eleitos por sua capacidade individual e devem ter elevada reputação moral e reconhecida
competência em matéria de direitos humanos e dos povos, não podendo haver dois juízes
nacionais do mesmo Estado (Protocolo, art. 11). Os juízes são eleitos para um mandato de seis
anos e podem ser reeleitos uma única vez (Protocolo, art. 15.1).
Podem submeter casos à Corte ADHP: (i) a Comissão ADHP; (ii) o Estado-parte que submeteu
o caso perante a Comissão; (iii) o Estado-parte contra o qual o caso na Comissão foi submetido;
e, (iv) as organizações africanas intergovernamentais (Protocolo, art. 5.1).
O Protocolo também prevê que a Corte “poderá conferir a relevantes organizações não
governamentais com status de observadora perante a Comissão e a indivíduos a prerrogativa de
submeter-lhe casos diretamente, de acordo com o art. 34 (6) do Protocolo” (art. 5.3). Esse
dispositivo convencional revela a previsão de acesso direto de indivíduos e ONGs à Corte ADHP
(jus standi), ainda que tal fato esteja condicionado ao aceite do Estado, conforme prevê o art.
34.6 do Protocolo.
Tal como ocorre com a Corte IDH, a Corte ADHP tem uma competência consultiva e também
contenciosa.
COMPETÊNCIA CONSULTIVA
No exercício de sua competência consultiva, a pedido de um Estado-membro da União Africana,
da própria UA, de um de seus organismos ou de uma organização africana reconhecida pela UA,
a Corte ADHP pode emitir pareceres ou opiniões consultivas sobre a interpretação da Carta
ADHP ou de outro instrumento de direitos humanos (Protocolo, art. 4º).
COMPETÊNCIA CONTENCIOSA
No tocante à sua competência contenciosa, a Corte ADHP tem competência por todos os casos
e litígios que lhe forem apresentados relativos à interpretação e aplicação da Carta ADHP, do
Protocolo sobre o estabelecimento da Corte e de outros instrumentos de direitos humanos que
tenham sido ratificados pelos Estados envolvidos (Protocolo, art. 3º).
As decisões da Corte ADHP são vinculativas para os Estados-partes envolvidos no litígio, que
estão obrigados a garantir a execução da decisão em seus respetivos territórios(Protocolo, art.
30). O monitoramento da execução de uma decisão é responsabilidade de um Conselho de
Ministros (Protocolo, art. 29.2). A execução forçada das decisões da Corte em sentido próprio
não existe. Os casos de não cumprimento dessas decisões por parte de um Estado podem ser
levados ao conhecimento da Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo em um relatório
anual. Desse modo, deve ser ativado um shaming mechanism (mecanismo da vergonha),
visando motivar o Estado envolvido à execução da decisão.
Em 2008, foi adotado o Protocolo Relativo aos Estatutos do Tribunal Africano de Justiça e
dos Direitos Humanos, mediante o qual se faz uma fusão do Tribunal Africano dos Direitos do
Homem e dos Povos e do Tribunal de Justiça da União Africana (este último, criado pelo
Protocolo do Tribunal de Justiça da União Africana, adotado pela Conferência da União em
Maputo, Moçambique, em 2003).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Descrever finalidade, competência, composição e atuação do Tribunal Penal
Internacional na proteção dos direitos humanos.
O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O
DIREITO PENAL INTERNACIONAL
 Artilharia Real durante o treinamento em Ellesmere, na Inglaterra, em agosto de 1943.
A história da humanidade é marcada por incontáveis guerras através dos séculos, sendo esse um
de seus aspectos mais sombrios. Como é de conhecimento geral, o mundo já presenciou duas
grandes guerras mundiais, sendo que a Segunda Guerra constituiu o mais sangrento e brutal
conflito armado já ocorrido. Milhões de vidas foram ceifadas, tanto combatentes como civis. O
número exato nunca saberemos.
Além dessas guerras de abrangência mundial, inúmeros conflitos armados já ocorreram
internamente a muitos países ao redor do globo. Tristemente, as guerras civis também têm sido
frequentes na história humana, deixando por vezes um rastro de atrocidades e violações da vida
e da dignidade humana.
É nesse contexto que surge a conhecida expressão genocídio, aqui entendido como o
extermínio em massa de pessoas ou, mais tecnicamente, como uma ação coordenada para
exterminar uma nação, um povo ou um grupo étnico. A história humana é marcada por
genocídios, tais como os que ocorreram na Circássia (1864 a 1867), na Armênia (1915 a 1922),
no Holocausto (1939 a 1945), no Camboja (1975 a 1979), em Ruanda (1994) e na antiga
Iugoslávia (1995), que conjuntamente a muitos outros, vitimaram milhões de pessoas.
 Judeus holandeses no campo de concentração 
de Buchenwald, na Alemanha.
COMO UMA REAÇÃO A ESSE TRISTE QUADRO,
ALGUNS PAÍSES E, POSTERIORMENTE, TODA A
SOCIEDADE INTERNACIONAL ESTABELECERAM UM
CONJUNTO DE NORMAS JURÍDICAS DESTINADAS À
PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS HORRENDOS
CRIMES COMETIDOS, BEM COMO CRIARAM
ÓRGÃOS ESPECÍFICOS PARA REALIZAR O
JULGAMENTO E APLICAÇÃO DAS PENAS
IMPOSTAS.
Surge assim o Direito Internacional Penal (DIP), entendido como um ramo do Direito ou das
Ciências Jurídicas que se ocupa de assuntos criminais em uma esfera global, mediante o
estabelecimento de normas jurídicas voltadas à tipificação de condutas que configuram graves
crimes que atingem a consciência da humanidade. Essas normas criam e regulamentam a
jurisdição e a competência para o julgamento e a aplicação de sanções penais por órgãos
internacionais de natureza penal, vinculados à Justiça Internacional, tal como reconhecida pela
sociedade internacional. Nas palavras de Kai Ambos (2005, p. 1), trata-se do “conjunto de todas
as normas de Direito Internacional que estabelecem consequências jurídico-penais”.
 Ex-oficiais nazistas no banco dos réus no 
Julgamento de Nurembergs, entre 1945 e 1948.
Adjacente ao conjunto de normas voltado à punição de indivíduos responsáveis por genocídios e
massacres em larga escala, tribunais penais também passaram a ser instituídos com o objetivo
específico de julgar os crimes cometidos nesse cenário. A título de exemplo, citamos o Tribunal
de Nuremberg, o Tribunal Militar Internacional de Tóquio e os Tribunais Penais para
Ruanda e para a ex-Iugoslávia.
Esses tribunais, que são conhecidos como tribunais de exceção ou tribunais ad hoc, sempre
foram muito criticados, especialmente por serem constituídos em caráter temporário ou
excepcional, após a ocorrência dos fatos (e não ex post facto). Outra crítica preponderante se
deve à sua composição por juízes que, em tese, não teriam a imparcialidade necessária para o
julgamento, uma vez que não são previamente investidos de jurisdição de acordo com leis
estabelecidas, ofendendo-se com isso o princípio do juiz natural, consagrado no Direito
Internacional e no âmbito do Direito interno dos Estados.
É nesse cenário que a sociedade internacional viu a necessidade de criar um Tribunal Penal
Internacional de caráter permanente e com competência legalmente instituída para o julgamento
dos graves e bárbaros crimes que atentam contra a consciência coletiva de toda a humanidade.
Ademais, seria até mesmo falacioso falar-se na proteção internacional dos direitos humanos
(global e regional), conforme estudamos nos módulos anteriores, sem a contrapartida da
instituição da responsabilidade criminal dos indivíduos no plano internacional (MAZZUOLI,
2019).
O ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL
PENAL INTERNACIONAL E A CRIAÇÃO DO
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI)
O TPI foi criado pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, um tratado
internacional adotado pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários para o
Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional, em 17 de julho de 1998. Entrou em vigor em
1° de julho de 2002, conforme estabelecido em seu art. 126, e somente os Estados que
expressaram formalmente o seu consentimento são obrigados a se submeter às previsões do
TPI.
 Edifício do Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.
O Brasil é um dos Estados-partes do referido tratado, submetendo-se à jurisdição do TPI. O
Estatuto foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo n.º 112, de 6 de
junho de 2002. Posteriormente, foi ratificado pelo país por meio do depósito do instrumento de
ratificação em 14 de junho de 2002, passando a integrar o ordenamento jurídico brasileiro por
meio do Decreto n.º 4.388, de 25 de setembro de 2002. Além da ratificação do Estatuto, que foi
suficiente para caracterizar a submissão do Estado brasileiro à jurisdição do TPI, visando reforçar
o reconhecimento do Tribunal, a Emenda Constitucional n.º 45, de 30 de dezembro de 2004,
incluiu o § 4º ao art. 5º da CRFB, que assim dispôs: “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.
O Estatuto de Roma do TPI é composto por 128 artigos que abrangem um preâmbulo e 13 partes
assim divididas:
I – Criação do Tribunal
II – Competência, admissibilidade e direito aplicável
III – Princípios gerais de direito penal
IV – Composição e administração do Tribunal
V – Inquérito e procedimento criminal
VI – O julgamento
VII – As penas
VIII – Recurso e revisão
IX – Cooperação internacional e auxílio judiciário
X – Execução da pena
XI – Assembleia dos Estados-partes
XII – Financiamento
XIII – Cláusulas finais
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PRINCIPAIS ASPECTOS DO TRIBUNAL
PENAL INTERNACIONAL
Instalado oficialmente em 11 de março de 2003, em Haia, na Holanda, o TPI foi criado (Estatuto,
art. 1º) mediante o reconhecimento pelos Estados de que “milhões de crianças, homens e
mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a
consciência da humanidade”, e que “os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto, não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser
efetivamente assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da
cooperação internacional”, conforme dispõe o Preâmbulo do Estatuto.
O Tribunal, que é independente e tem personalidade jurídica internacional (Estatuto, art. 4.1), é
“umainstituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de
maior gravidade com alcance internacional (...) e será complementar às jurisdições penais
nacionais” (Estatuto, art. 1º), sendo que a competência e o funcionamento do Tribunal são regidos
pelo seu Estatuto constitutivo. Precisamos destacar, portanto, que a sua atuação é subsidiária,
pois de acordo com o próprio Estatuto, atua “complementarmente” à jurisdição dos Estados
soberanos, não visando substituir esta última.
 ATENÇÃO
É importante salientarmos que o TPI julga indivíduos (pessoas físicas) pelo cometimento dos
crimes de sua competência, diferentemente das demais cortes internacionais de direitos
humanos estudadas nos módulos anteriores, competentes para julgar Estados por violações de
direitos humanos.
COMPETÊNCIA
Os crimes de competência do TPI, que são imprescritíveis (Estatuto, art. 29), estão previstos no
art. 5º do Estatuto, sendo eles: o crime de genocídio; os crimes contra a humanidade; os crimes
de guerra; e o crime de agressão.
CRIME DE GENOCÍDIO
De acordo com o Estatuto, o genocídio é entendido como qualquer ato praticado com intenção de
destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, o que compreende
segundo o art. 6º:
Homicídio de membros do grupo.
Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo.
Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição
física, total ou parcial.
Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo.
Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.
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CRIMES CONTRA A HUMANIDADE
O Estatuto compreende qualquer ato cometido no quadro de um ataque, generalizado ou
sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque. Compreende-
se especificamente os vários atos descritos no art. 7º do Estatuto, 15 ao todo, pelos quais pode
ser cometido um crime contra a humanidade. Dentre eles, destacam-se:
 Imagem do Genocídio Armênio perpetrado pelo 
Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial.
Homicídio
Extermínio
Escravidão
Deportação ou transferência forçada de uma população
Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas
fundamentais de direito internacional
Tortura
Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização
forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável
Desaparecimento forçado de pessoas
Crime de apartheid
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Conforme afirma Valerio Mazzuoli (2019), a “expressão ‘crimes contra a humanidade’ geralmente
conota quaisquer atrocidades e violações de direitos humanos perpetrados no planeta em larga
escala, para cuja punição é possível aplicar-se o princípio da jurisdição universal”.
CRIMES DE GUERRA
Também conhecidos como crimes contra as leis e costumes aplicáveis em conflitos
armados, “são fruto de uma longa evolução do direito internacional humanitário, desde o século
passado, tendo sido impulsionado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ganhando foros
de juridicidade com as quatro Convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949, e com as
bases teóricas do direito costumeiro de guerra” (MAZZUOLI, 2019).
 Assinatura da primeira Convenção de Genebra em 1864, retratada por Charles Édouard
Armand-Dumaresq.
Conforme dispõe o Estatuto, os crimes de guerra são entendidos como graves violações às
Convenções de Genebra, consistentes nos atos enumerados no art. 8.2(a) do Estatuto,
dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos. Destacam-se as Convenções de
Genebra que estabelecem o Direito Internacional Humanitário, isto é, o Direito aplicável na
guerra – jus in bello, notadamente para a proteção dos direitos humanos.
Ainda conforme estabelece o art. 8.2(b) do Estatuto, também são considerados crimes de guerra
“outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no
âmbito do direito internacional”, conforme os atos enumerados no referido dispositivo
convencional.
O Estatuto determina que, no caso de conflitos armados que não sejam de índole internacional,
também são considerados crimes de guerra as graves violações do artigo 3º comum às quatro
Convenções de Genebra, consistentes nos atos descritos no art. 8.2(c) do Estatuto, cometidos
contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das
forças armadas que tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a
combater devido à doença, lesão, prisão ou a qualquer outro motivo, assim como outras graves
violações das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter internacional,
no quadro do Direito Internacional, conforme os atos enumerados no art. 8.2(e) do Estatuto.
CRIME DE AGRESSÃO
Inicialmente, não havia no Estatuto de Roma uma definição do que seria o crime de agressão.
Previa-se somente que o Tribunal poderia exercer a sua competência em relação a tal crime
desde que, nos termos dos arts. 121 e 123 do Estatuto, fosse aprovada uma disposição
definindo o crime em questão — obrigatoriamente compatível com as disposições pertinentes da
Carta das Nações Unidas (art. 5.2) — e que se enunciassem as condições em que o Tribunal
teria competência relativamente a esse crime.
A definição do crime foi adotada por meio da emenda do Estatuto de Roma do TPI, na primeira
Conferência de Revisão do Estatuto em Kampala, Uganda, em 2010, de modo que o crime de
agressão foi definido como “o uso de força armada por um Estado contra a soberania,
integridade ou independência de outro Estado”. Em 15 de dezembro de 2017, a Assembleia dos
Estados-partes adotou, por consenso, uma resolução sobre a ativação da jurisdição do Tribunal
sobre o crime de agressão a partir de 17 de julho de 2018.
COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO
No tocante à sua composição, o TPI é composto pelos seguintes órgãos: a Presidência,
responsável pela administração do Tribunal; uma Seção de Recursos, uma Seção de Julgamento
em Primeira Instância e uma Seção de Instrução; o Gabinete do Procurador; e a Secretaria
(Estatuto, art. 34).
NOS TERMOS DO ESTATUTO, O TPI É UMA PESSOA
JURÍDICA DE DIREITO INTERNACIONAL QUE TEM A
CAPACIDADE NECESSÁRIA PARA O DESEMPENHO
DE SUAS FUNÇÕES E DE SEUS OBJETIVOS NO
TERRITÓRIO DE QUALQUER ESTADO-PARTE E, POR
ACORDO ESPECIAL, NO TERRITÓRIO DE QUALQUER
OUTRO ESTADO, CONFORME O DISPOSTO NO
PRÓPRIO ESTATUTO (ART. 4º).
O TPI é composto atualmente por 18 juízes, eleitos pela Assembleia dos Estados-partes no
Estatuto. Seus membros devem ser pessoas de elevada idoneidade moral, imparcialidade e
integridade, que reúnam os requisitos para o exercício das mais altas funções judiciais nos seus
respectivos países, e têm mandatos de nove anos não renováveis (Estatuto, art. 36). No âmbito
de suas atividades, garantem julgamentos justos e proferem suas sentenças, emitem mandados
de prisão ou intimações para o comparecimento perante o Tribunal, autorizam as vítimas a
participar dos julgamentos e ordenam medidas de proteção às testemunhas, dentre outras
atividades. Também elegem, entre si, o presidente do Tribunal e dois vice-presidentes.
O Tribunal possui três divisões judiciais, que julgam as matérias em diferentes fases do
processo: pré-julgamento, julgamento e recursos.
Em suma, os juízes de pré-julgamento (geralmente três juízes por caso) decidem se há evidências
suficientes para um caso ir a julgamento e, em caso afirmativo, confirmam as acusações e
submetem o caso para julgamento.
Os juízes de julgamento (geralmente três juízes por caso) conduzem julgamentos justos, decidindo
se há evidências suficientes para provar, além de qualquer dúvida razoável, que o acusado é
culpado da acusação e, em caso afirmativo, os julgam pronunciado asentença em público,
momento no qual emitem ordens de reparação às vítimas, incluindo a restituição, a compensação
e a reabilitação.
Por fim, os juízes de recursos (cinco juízes) apreciam os recursos apresentados pelas partes,
podendo confirmar, reverter ou alterar uma decisão sobre a culpa ou inocência, ou sobre a
sentença e, se necessário, solicitam um novo julgamento perante uma Câmara de Julgamento
diferente.
Agora, o professor Luciano Meneguetti discorre sobre o Tribunal Penal Internacional.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste estudo, podemos concluir que os direitos humanos atualmente não apenas são
tutelados pelos ordenamentos jurídicos internos dos países, mas também contam com
sofisticados esquemas de proteção no âmbito internacional.
Conforme estudamos, o sistema global de proteção dos direitos humanos, instituído no âmbito da
ONU, conta com um amplo arcabouço normativo e com uma rede integrada de órgãos e
mecanismos destinados à promoção, fiscalização e tutela dos direitos e da dignidade humana
para todas as pessoas do globo, sem discriminação de qualquer natureza.
Além do sistema onusiano, vimos que a proteção dos direitos humanos se dá também por meio
dos sistemas regionais, que hoje são três — europeu, interamericano e africano — e estão
estruturados no âmbito de organizações internacionais específicas, buscando tutelar os direitos
humanos em distintas regiões do globo, considerando as características e peculiaridades de
cada região.
 PODCAST
Agora, o professor Luciano Meneguetti aborda questões sobre a proteção dos direitos humanos
e as instituições internacionais que os defendem.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMBOS, K. A construção de uma parte geral do Direito Penal Internacional. In: AMBOS, K.;
JAPIASSÚ, C. E. A. Tribunal Penal Internacional: possibilidades e desafios. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005, p. 1-31.
CASSIN, R. La Déclaration Universelle et la Mise en Oeuvre des Droits de L’homme. In:
Recueil des Cours de l’Académie de Droit International; tomo 79, II, 1951, p. 237-367.
COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS. Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre
Direitos Humanos. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.
GUERRA, S. Direitos Humanos: curso elementar. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MAZZUOLI, V. de O. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019. E-book.
PORTELA, P. H. G. Direito Internacional Público e Privado: incluindo noções de Direitos
Humanos e de Direito Comunitário. Salvador: JusPODIVM, 2017.
RAMOS, A. de C. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. E-book.
SMITH, R. K. M. Textbook on International Human Rights. 6. ed. Oxford: Oxford University
Press, 2014.
TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Convenção Europeia dos Direitos do
Homem. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.
EXPLORE+
Que tal aprofundar o seu estudo sobre direitos humanos e os sistemas que os protegem?
Para um estudo sobre a história da Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua
importância para a construção dos direitos humanos, leia o artigo de autoria de Luciano
Meneguetti Pereira, intitulado A Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua Importância
na Gênese, Desenvolvimento e Consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
disponível no site Academia.edu.
Acerca da força jurídica da Declaração Universal dos Direitos Humanos, veja artigo de autoria de
Luciano Meneguetti Pereira, intitulado Reflexões sobre a Natureza Jurídica e a Força Vinculante
da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos 70 (1948-2018), disponível no site
Academia.edu.
Sobre a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, você ainda pode assistir no
YouTube ao vídeo intitulado Há 70 anos: adotada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para entender as diferenças e similaridades entre os sistemas regionais de direitos humanos,
assista à palestra Análise comparativa e crítica dos sistemas regionais de proteção dos direitos
humanos, promovida pela Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa
de Relações Internacionais (IPRI).
Uma visão específica e aprofundada do sistema europeu de proteção dos direitos humanos é
apresentada no artigo de Valerio Mazzuoli, intitulado O Sistema Regional Europeu de Proteção
dos Direitos Humanos, disponível na Revista Cadernos da Escola de Direito.
Ainda sobre a proteção dos direitos humanos no continente europeu, leia o artigo de autoria de
Luciano Meneguetti Pereira e Ana Paula Grossi, intitulado A Proteção dos Direitos Humanos no
Continente Europeu: Breves Apontamentos, disponível na Revista Fides.
Para conhecer os demais casos brasileiros que foram julgados na Corte Interamericana de
Direitos Humanos, busque pelo portal da Corte IDH.
Por fim, para complementar os seus estudos, acesse o material sobre os sistemas internacionais
de proteção dos direitos humanos, desenvolvido pela Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão.
CONTEUDISTA
Luciano Meneguetti Pereira
 CURRÍCULO LATTES
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