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Tradução José Paulo de Bem 
 
 
 
 
 
1. Parque da Rambla del Celler, Batlle i Roig, Sant Cugat del Vallès, Barcelona 1988. 
 
Um novo estrato 
Do terrain vague ao jardim da metrópole 
 
“Metrópole! Que palavra! Emblema da modernidade da década de 1930, clichê terminológico da de 
1960. Só a menção dessa palavra sugere de imediato grandes manchas sobre um mapa, eixos e traços 
de múltiplas ruas e trilhos, movimento veloz de pessoas dirigindo. Parece que somente ao falar de 
metrópole reconheceríamos a mancha de azeite, a expressão especulativa e maciça, as infinitas 
urbanizações suburbanas. 
 
Poucas cidades foram capazes de dominar sua dimensão metropolitana. Racionalmente, através de 
planos e projetos, bem poucas. Copenhagen, na década de 1960, com seu famoso “Plano dos cinco 
dedos”, penetrações de cidade que se fundem no verde maximizando a superfície de contato entre 
edificação e natureza. Paris, por via tecnocrata e poder estatal somando suas forças, que consegue 
acertar seu esquema de cidades novas “metrópoles de descongestão”, como as chamam. Algo que nos 
últimos quinze anos poucos cérebros sérios haviam apostados ao que hoje reconhecemos, inclusive 
seus detratores, consegue um respeitável grau de acertos. Londres vive todavia do “green belt” de sir 
Patrick Abercrombie, o escocês percursos, e dos subúrbios jardim da década de 1950. Mas, poucos 
casos a mais. Todas as grandes cidades fazem planos, mas não há porque pensar que tenham êxito. 
Uma opção cultural sobre a metrópole não pode pretender-se todos os anos, nem em todos os casos. 
De fato, quase que sequer se intenta.”1 
Manuel de Solà-Morales, “Un nuevo Paseo de Gràcia” 
 
No panorama urbanístico atual, a referencia aos novos fenômenos de transformação da cidade e de 
seu território encontra formas de expressão e concepção muito diversas. Da suburbanização às 
metrópoles, da difusão à dissolução urbana. 
 
Nos últimos anos se levaram ao cabo inúmeros projetos urbanos em grande escala nos grandes vazios 
no interior das cidades, resultantes em muitos casos da obsolescência dos grandes equipamentos 
industriais, da transformação dos velhos portos ou das mudanças das estações ferroviárias e seus 
espaços de serviço. Sem dúvida, um olhar mais detalhado sobre as cidades mostra como as metrópoles 
tem muitos outros vazios, ligados em muitos casos aos fatores geográficos mais importantes. A 
superposição de usos e infra-estruturas das metrópoles tende a constituir um contínuo urbano não 
compacto, onde os vazios resultantes se correspondem, em muitos casos, com acidentes naturais, 
como por exemplo, as cumeadas e colinas, rios, costas e praias. Estes espaços, possíveis futuros 
espaços de projeto, são restos de áreas industriais obsoletas, áreas agrícolas em processo de 
desaparição ou espaços naturais fortemente degradados. A grande quantidade de solo disponível e a 
 
1. Sol˜-Morales, Manuel, “Un nuevo Paseo de Gràcia”, El País (Babelia, 19, 20 de junio de 1996 
impossibilidade de todo resolvê-lo desde a realização de grandes projetos urbanos, desde o uso como 
parques públicos tradicionais ou como parques temáticos específicos, faz com que resulte necessária a 
busca de alternativas que coloquem soluções mais globais, que reconheçam as problemáticas meio-
ambientais sem renunciar a seu uso como espaços livres metropolitanos ou a formalização com relação 
às áreas urbanas nas quais este solo é um interstício. Ante tal problemática, se pretende superar as 
considerações de quem enfrenta o fenômeno exclusivamente desde um ponto de vista social e 
econômico, de quem sublima estes novos lugares desde um ponto de vista estético e com uma atitude 
romântica, ou de quem promove a conservação integral de determinados âmbito naturais para permitir a 
destruição integral do resto das paisagens. 
 
O objetivo seria centrar a discussão sobre as possibilidades de vertebração da metrópole desde os 
vazios gerados na ocupação do território. Atualmente, quando os grandes condicionantes da forma das 
cidades se estabelecem desde as grandes infra-estruturas ou desde os projetos urbanos em grande 
escala, é necessário incidir na necessidade de encontrar estratégias mais globais para o futuro desses 
ocos metropolitanos. 
 
A capacidade de poder integrar em um único âmbito – físico, de projeto, conceitual – a disposição das 
novas infra-estruturas, a resolução dos problemas meio-ambienais e a necessidade de novos espaços 
livres, assim como a possibilidade de formalizar a nova imagem da metrópole, gerada desde a riqueza 
do vazio, que pode dar lugar a um novo estrato, sobreposto aos múltiplos estratos de construção e 
significado que constituem o fato metropolitano. 
 
O novo estrato do qual falamos é o produto da acumulação de todos os espaços livres da nova cidade 
metropolitana, desde os parques naturais aos parques urbanos, desde os rios às praias, desde os 
corredores verdes às novas agriculturas metropolitanas, desde os bosques aos novos jardins temáticos, 
desde os espaços que resolvam as problemáticas meio-ambientais aos entornos das grandes infra-
estruturas que necessitamos. 
 
Este novo estrato quer refazer o terrain vague metropolitano para tratar de desenhar a nova geografia 
da cidade. Se trata de um estrato livre que pretende ajudar a definir um novo modelo de ordenação 
territorial desde o que aqui denominamos jardim da metrópole. 
 
A nova realidade metropolitana se define desde as paisagens vagues produto da crise dos limites entre 
cidade e território. As infra-estruturas, as novas tipologias, os programas de ocupação do território, a 
novidade radical de determinadas situações e solicitações deram lugar a uma cidade e a um território 
que já são uma só coisa, sem limites, com um sem fim de vazios urbanos existentes ou possíveis. O 
Jardim da metrópole trata de resolver esta crise de limites entre a cidade e seu território a partir das 
possibilidades desses vazios urbanos. 
 
Frente ao “não lugar” universal, produto da amnésia topográfica moderna,2 descobrimos que estes 
vazios têm dinâmicas próprias, muito distantes do suposto espaço plano que passa a ser um espaço 
rugoso,3 onde o curso das águas, a vibração dos solos ou os diversos processos agroflorestais passam 
a converter-se em chaves para sua compreensão e ser origem da riqueza de cada lugar. O estrato livre 
se consolida desde a valorização positiva dessas riquezas. 
 
Como assinala Antonio Font, a cidade do sul da Europa e mediterrânea tem uma especificidade e uma 
qualidade urbana produto de sua história, que se define em um longo processo de acumulação de 
estratos sobre um território característico. Nos processos de crescimento territoriais atuais, encontramos 
duas tendências, aparentemente opostas ou contraditórias, que Antonio Font define em seu artigo 
“Anatomia de uma metrópole descontínua: a Barcelona metropolitana” da seguinte maneira: “Por um 
lado, a tendência à homogeneização, derivada dos processos gerais de globalização que afetam os 
sistemas produtivos e seus setores, forma dos artefatos, etc., que para observadores pouco atentos 
pode fazer crer que as arquiteturas, as cidades, os territórios são iguais. Por outro, a afirmação da 
especificidade e da diferença do decisivo papel do contingente, do local, como mecanismo de reação e 
de defesa, mas também de definição e afirmação frente a um mundo aparentemente cada vez mais 
igual.”4 
 
 
2. Ver: Virilio, Paul, La machine de vivión, Galilée, Paris, 1992 (versión castellana: La máquina de la visión, Cátedra, Madrid, 1989). 
3. Ver: Deleuze, Gilles e Guattari, Felix, Mille Plateaux, Éditions de Minuit, Parisd, 1980 (versión castelhana: Mil mesetas: capitalismo y 
esquizofrenia, Pre-Textos, Valencia, 1998). 
4. Font, Antonio, “Anatomia de una metrópole discontinua: la Barcelona metropolitana”, Papers, nº 26, Barcelona, 1997. 
Nessa leitura do local podemos encontrar a força que defineeste novo estrato metropolita no que pode 
ser o jardim da metrópole, um estrato cheio de relações verticais e lugar das habituais relações 
horizontais, utilizando a terminologia de Giuseppe Dematteis em seu livro Progetto implícito.5 
 
O estrato livre se constrói desde o aproveitamento dos processos naturais que podem conservar-se ou 
potenciar-se e que, como Ian L. MacHarg expos em Proyectar con la naturaliza,6 nos ajudarão a decidir 
o papel da natureza nas áreas metropolitanas. 
 
O estrato livre está composto por espaços que procedem do trabalho em todas as escalas desde todas 
as circunstâncias. Aos espaços gerados a partir da cidade habitualmente como espaços livres (praças e 
parques), se somam os espaços que, desde a geografia (montanhas, rios, etc.), a agricultura (bosques, 
prados, etc.) ou o meio ambiente (corredores verdes, espaços de proteção de infra-estruturas, etc.) 
podem ser considerados como os novos espaços livres da metrópole. 
 
A sistematização e organização do estrato livre é a origem do jardim da metrópole, uma nova versão 
dos sistemas de espaços exteriores, adaptada à realidade das cidades. Uma versão atual do sistema 
de ruas e passeios da cidade compacta: “Avenida agrícola, verde, aberta. Versão atual do que um 
passeio pode ser. Espaço unitário também: imagem visível da continuidade entre as partes da cidade. 
Espaço de circulação, sem dúvida, no qual o movimento é tão importante como a comunicação 
simbólica, visual, que expressa a escala superior do território”.7 
 
Este sistema de espaços exteriores pode interconectar os espaços naturais próximos com o conjunto de 
drenagens do território, os diferentes corredores existentes ou possíveis e os diferentes espaços livres 
urbanos que produzem as cidades. Se trata de uma estrutura complexa, definida a partir das 
possibilidades de uso como espaço livre, da vertebração com a cidade e da compreensão da paisagem. 
O projeto dessa estrutura (jardim da metrópole) pode converter-se na melhor base para um novo 
modelo de planejamento territorial, ainda que seu aproveitamento agroflorestal e meio-ambiental pode 
representar a melhor contribuição para as cidades que intentam ser sustentáveis. 
 
O estrato livre 
 
“Na realidade, durante anos, tudo aquilo que normalmente se denomina terrain vague foi objeto de 
preocupações por parte de uma cultura que enfrentava o fenômeno exclusivamente desde um ponto de 
vista social e econômico constituindo assim uma imagem de pura degradação. É através do olhar de 
alguns artistas que levaram em consideração estes lugares abandonados de um ponto de vista estético, 
e não como lugares sem interesse, mas ao contrário, com uma atitude romântica elevada ao sublime 
vincada na civilização contemporânea... Em tais afirmações, volta a fascinação das figuras dos grandes 
arquitetos paisagistas do passado, como Frederick Law Olmsted, com seu exemplo e sua capacidade 
de determinar diretrizes essenciais para o desenvolvimento urbano através do projeto de parques e 
bairros imersos na vegetação. Somaria uma última nota: adaptado de uma forma extensiva para indicar 
uma massa heterogênea de situações ambientais diversas, o termo ‘parque’ não parece adequado para 
descrever as novas realidades ambientais. A noção de jardim precisa melhor o sentido destas 
propostas. O termo ‘jardineiro’, apesar de ser inconcluso e romântico, leva consigo a noção essencial do 
ritual: de cultivo, agricultura, manutenção e tempo, todos eles bases conceituais cruciais para criar e 
compreender o âmbito público”.8 
Pierluigi Nicolin, “La terra incolta” 
 
Entre os espaços preservados e os espaços públicos urbanos conservados existe outro tipo de espaço 
livre que se pode potenciar e valorizar, espaços que requerem novas definições entre o natural e o 
artificial, que devem construir-se sobre a base de novos programas e idéias, e que podem ser coesos 
para dar lugar a este novo estrato, o do espaço livre, o estrato livre. 
 
No passado, muitos parques foram implantados em áreas degradadas ou marginais, mas sua solução 
projetual dependia das tradições estéticas de cada época e se construíam dentro dos princípios da 
arquitetura e da engenharia. Em contraposição a este modelo, os movimentos ecologistas defendem a 
conservação de espaços supostamente não contaminados como amostras de uma natureza que está 
desaparecendo. Entre os “construtores” das áreas degradadas e os “conservadores” de restos naturais, 
 
5. Dematteis, Giuseppe, Progetto implícito, Il contributo dela geografia umana alle scienze del território, Franco Angeli, Milán, 1995. 
6. MacHarg, Ian, Design with Nature, Natural History Press, Garden City, 1969 (versão castelhano: Proyectar con la naturaliza, Editorial 
Gustavo Gili, Barcelona, 2000). 
7. Solà-Morales, Manuel, op. Cit. 
8. Nicolin, Pierluigi, “La terra incolta”, Lotus, nº 87, 1995. 
certos artistas defendem a preservação de espaços de fronteira no interior das cidades como mostra do 
caos inevitável no qual nos encontramos. 
 
2. Caminho em um parque natural, Ohiopyle (Pensilvania) Estados Unidos. 
 
 
3. Parc de Catalunya, Sabadell, Barcelona, Espanha, 1992, Batlle i Roiga arquitectes. 
 
Neste debate, os arquitetos da paisagem apresentam uma posição intermediária entre a ação dos 
artistas, dos ecologistas e das soluções tradicionais da arquitetura e da engenharia. Está se procurando 
uma nova dimensão do projeto que intente não se apresente condicionado pelas limitações tradicionais 
da arquitetura e do planejamento. O resultado desta posição pode dar lugar ao desenvolvimento de 
umas operações de diversas inclinações e escala que, dispostas como um patchwork sobre o território 
pelo caráter acidental das oportunidades, podem chegar a representar um inesperado significado no 
desenvolvimento dos projetos territoriais modernos. Nessa nova dimensão urbana se busca a 
conservação das vantagens da cidade compacta e a possibilidade de compatibilizá-la com aquelas que 
a natureza pode oferecer. Como diz Ian McHarg em Projetar com a natureza, se trata de conseguir uma 
boa combinação: “O ideal poucas vezes consiste em eleger uma só possibilidade entre duas, mas 
também a combinação dessas duas ou de outras mais. Desejamos que o museu e o cabaré, a sala de 
consertos e o estádio estejam próximos, mas também seria estupendo que as montanhas, o oceano e o 
bosque natural estivessem na porta da casa e que a águia posassem em nosso ático”.9 
 
Estas operações tem como objetivo reinventar a paisagem a partir do estabelecimento de novas 
interdependências entre a cidade e o território. Rossana Vaccarino fala de “as paisagens refeitas” como 
resultado das novas relações físicas, metafóricas e programáticas entre a cidade e o parque, a cidade e 
a natureza, ou o parque e a natureza.10 O resultado é um mutante, um híbrido entre o urbano e o 
natural, o fim de uma tipologia (o parque urbano) e o nascimento de um novo estrato (o estrato livre). 
 
Para dar sentido ao espaço livre se requerem novas idéias que permitam promover um território frágil 
sujeito a uma infinidade de forças que o vão esmigalhando, dividindo ou reduzindo. Não se trata de 
recorrer a elementos supérfluos, nem de inventar novas tipologias de espaços, mas de conhecer o lugar 
sobre o qual trabalhamos e potenciar as tipologias que já conhecemos. O estrato livre que estamos 
tratando de definir se constrói desde a utilização das tipologias convencionais da paisagem – as 
margens de um rio, um bosque, um campo, um arvoredo, um pântano, etc. – que, com ligeiros ajustes, 
podem promover efeitos significativos sem necessidade de ter que eliminá-los ou encobri-los. 
 
O estrato livre deve ser visto num mapa que tem que ser produzido e construído, que sempre pode ser 
desmontado, alterado ou modificado, mas que deve conservar sua essência; um estrato codificado 
desde a vitalidade que contem e pode chegar a ter um lugar, e que podemos redescobrir no projeto de9. McHarg, Ian, op. Cit. 
10. Vaccarino, Rossana, “I paesaggi ri-fatti”, Lotus, 87, 1995. 
drenagens do território, dos bosques da metrópole, das agriculturas urbanas, das infraestruturas verdes 
e dos jardins temáticos. 
 
As novas paisagens se converterão na base da nova forma da cidade e em referência obrigatória de 
todas as demais associações. 
 
As novas idéias implicarão numa mudança da ordem de valores em nossas atuações, onde não será 
estranho pensar em conter as águas de um pequeno riacho, encharcar um território e estabelecer um 
projeto integral de nossas bacias; ou que repovoar as terras baldias próximas das cidades sobre as 
bases de um projeto global dos bosques da região pode ser o melhor patrimônio para o futuro e a 
melhor contribuição para obter microclimas mais adequados. Novos projetos que, como no caso do 
estabelecimento das novas indústrias agrícolas ou dos futuros espaços da sustentabilidade, 
requereriam novas maneiras de enfrentar o desenho do espaço exterior. 
 
A nova situação permite falar de indícios de que algumas das idéias expostas nesse livro possam 
passar do terreno da ingenuidade ao factível. As drenagens do território, os bosques da metrópole, as 
agriculturas urbanas, as infra-estruturas verdes, os jardins temáticos e os espaços da sustentabilidade 
são projetos imprescindíveis que podem somar-se ao resto dos projetos da metrópole, com a vontade 
de transformar umas paisagens agora obsoletas no conjunto do estrato livre. 
 
Se trata de lugares que poderiam ser como os de sempre – um riacho, um bosque, um campo, um 
vertedouro e uma autopista, etc. –, mas que também poderiam ser novos motores da forma do território, 
para assim deixar de ser o vazio, o espaço residual, o interstício ou a borda de uma estrada e passar a 
ser umas novas paisagens, vigorosas, úteis, aproveitáveis e, porque não, também igualmente belos. 
 
O estrato livre é o jardim da metrópole. 
 
As drenagens do território 
 
 
4. IBA Emscher Park, Duisburg Nord, Alemanha, 1999. 
No coração dessa operaçãoo de paisagismo se encontrava o rio Emscher. Uma das primeiras ações realizadas foi reconstituir sua forma e 
melhorar a qualidade de suas águas. O rio recuperou seu caráter natural e as diversas atuações que se realizaram em seu entorno disso se 
aproveitaram. 
 
Os projetos de drenagem do território partem do reconhecimento de que a água é um recurso básico, e 
tem como primeiro objetivo limpar e proteger seus cursos. Se trata de considerar um fato que já 
conhecíamos: que o vale fluvial não existiria sem a presença e a história do rio ou a drenagem. É 
importante considerar as iniciativas dos corredores fluviais estudando todo o âmbito da bacia. A 
compreensão da totalidade do sistema natural permite efetuar uma aproximação ecológica mais 
completa e pode ajudar a determinar as soluções mais corretas para os pontos de conflito que 
habitualmente encontraremos nas zonas mais urbanizadas. 
 
Reter a água e irrigar o território pode contribuir para resolver as problemáticas hidráulicas, mas 
também a criar novas paisagens. Em primeiro lugar, se tratará da aplicação de estratégias hidráulicas 
de pequena escala, de retenção da água em reservatórios, para reduzir sua velocidade, para irrigar o 
território e para o controle hidrológico nos entornos florestais, agrícola e urbano. Em segundo lugar, o 
fomento da manutenção de todas as drenagens do território e a acumulação em todas as escalas dos 
caudais de água disponíveis dará lugar à novas paisagens úmidas, ligados aos bosques, aos espaços 
agrícolas e à novas áreas urbanas. Em terceiro lugar, a aplicação das medidas enunciadas suporá, em 
caso de chuvas intensas, a diminuição dos caudais de água nos tramos principais dos rios e das terras, 
assim como uma evidente diminuição de sua velocidade e a melhor prevenção de todo tipo de 
inundação. Pode ser que os problemas atuais se minimizem, mas, ao mesmo tempo, obterão 
qualidades paisagísticas e meio-ambientais somadas, como o aumento da massa florestal, o 
aproveitamento das águas para a rega, a melhoria dos lençóis freáticos, a diminuição da erosão nos 
solos, a criação de novas áreas úmidas com possíveis novos ecossistemas e a possibilidade de originar 
novas paisagens no entorno de rios e terras. E, por último, a aplicação de várias medidas simultâneas 
pode ser a melhor estratégia hidráulica para evitar projetos sem sentido, e conseguir assim, que todo o 
território participe das problemáticas da água e possa somar uma clara potencialidade econômica à 
evidente potencialidade ecológica dessas atuações, que as converteria em possíveis e talvez, inclusive, 
em imprescindíveis. 
 
Redescobrir a continuidade da água através das drenagens do território permite recuperar um conceito 
que sua ocupação indiscriminada havia eliminado: a continuidade dos espaços exteriores. Se 
redescobrimos a continuidade da água, podemos recuperar a continuidade ecológica das drenagens do 
território e teríamos posto a primeira pedra para obter as continuidades cívicas que o jardim da 
metrópole requer. Se, na atual cidade dispersa o único estrato com continuidade é o das infra-
estruturas, lembrar que as drenagens do território podem ser um sistema contínuo ajuda a começar 
corretamente a construção desse estrato livre que pretende ser o jardim da metrópole. Recuperar as 
drenagens do território permite tornar visíveis ao cidadão os processos da água, ao mesmo tempo que 
se desenha um ciclo hidrológico razoável que dá lugar a um novo ecossistema urbano. Como temos 
enunciado ao examinar as estratégias ecológicas de pequena escala, nossas drenagens são os jardins 
de água da nova cidade, uns espaços integrados nos jardins da metrópole: bacias de retenção 
pequenas represas, depósitos de acumulação, drenagens secundárias, redes alternativas de diversos 
abastecimentos de água, plantas de tratamento de águas residuais, filtros verdes, etc., e uma infinidade 
de espaços possíveis que, junto com os riachos principais, os rios e a linha da costa, podem definir o 
sistema hídrico metropolitano. 
 
A continuidade do sistema de drenagem permite a recuperação de uns fatos geográficos primordiais na 
construção da cidade. A gestão da água desde os novos parâmetros enunciados e o projeto dos 
espaços vinculados a esta gestão permitirá obter um sistema (contínuo por definição) que não só 
considerará os grandes cursos de água (rios e córregos), mas que também poderá ser visível em todas 
as escalas e incluir pequena depressão topográfica, que passará a ser uma peça a mais desse projeto 
imprescindível. 
 
 
5. Parque Atlântico en la Vaguada de las Llamas, Santander, Espanha, 2008. Batlle i Roig, arquitectes. 
 
As drenagens do território se converterão em autênticos corredores verdes porque poderão garantir em 
um mesmo encadeamento a inelutável continuidade da água com as continuidades da biodiversidade 
que possibilitarão um trabalho adequado das margens da drenagem. A continuidade da água e da 
biodiversidade poderá ser complementada com as possíveis continuidades para os cidadãos através de 
caminhos que seguem a drenagem ou que permitam as conexões com os tecidos urbanos próximos. O 
projeto das drenagens do território fará visível a continuidade de uma gota d’água, de um pássaro, de 
um javali perdido, de um ganho de biodiversidade, de ar limpo e de tudo aquilo que possa ser 
compatível com ditos princípios. 
 
Os bosques da metrópole e as agriculturas urbanas 
 
Os benefícios do bosque são conhecidos por todo o mundo, mas não há nada que empreenda um 
plano de criação e conservação de bosques. Nossos entornos metropolitanos são um território ideal 
para por em prática um plano de bosques públicos que contribua para a melhora paisagística, ambiental 
e ecológica de nossas cidades. 
 
Em 1920, Manuel Raventós apresentou para a Mancomunidad de Cataluña um plano sobre as 
vantagens e a necessidade de bosques, como elemento imprescindível para conseguir a Catalunha 
“rica e plena” desejada. O texto começavada seguinte maneira: “O bosque é o grande acumulador, e a 
maior parte de suas vantagens provem deste fato. O bosque acumula o calor solar, que são calorias e 
energia; cria uma imensa riqueza no alto da montanha... Como acumulador de calor, de folhas, lenha, 
madeira, refresca o ar à grandes distâncias, ao seu redor e até grandes alturas. Para esse esfriamento 
condensa o vapor da água em forma de garoa e chuva. Regula as temperaturas extremas, dá calor no 
inverno e frescor no verão, dá frescor nos dias de sol forte e calor nas noites de inverno modificando os 
climas de uma forma extraordinária”.11 
 
Reflorestar as terras de cultivo e as montanhas pode contribuir para resolver as problemáticas florestais, 
mas também as ambientais.12 Em primeiro lugar, se tratará de um plano de reflorestamento, de 
recuperação das superfícies arbóreas, de controle hidrológico florestal e de melhora da produção 
florestal. Em segundo lugar, de um plano ambiental de melhora das condições climáticas, da 
preservação de incêndios e inundações, de manutenção e aumento dos valores paisagísticos. Em 
terceiro lugar, do fomento das vocações florestais dos territórios, que compensará a tendência ao 
abandono dos terrenos agrícolas e poderá somar à potencialidade ecológica destas atuações uma 
possível potencialidade econômica, se si estabelecem gestões adequadas desses âmbitos florestais. E, 
em último lugar, no contexto das novas estruturas urbanas, estas novas superfícies florestais se 
converterão nos espaços livres da nova cidade dispersa, espaços que contribuirão para vertebrar a 
forma do território desde a adequada proteção urbanística, que em lugar de considerá-los terrain vague 
sujeito a futuras operações urbanas, os considerará um novo sistema urbano geográfico: os bosques da 
metrópole. 
 
Fomentar as estruturas agrárias vigorosas e evitar os cultivos obsoletos pode contribuir para evitar a 
fragilidade de uns territórios sujeitos a todo tipo de agressão. Em primeiro lugar, se tratará de conhecer 
e potenciar a agricultura: a cultura da terra, a experiência de anos de intervenção do homem com 
finalidades produtivas, o repertório de imagens e técnicas das paisagens agrícolas, o processo ideal 
para a gestão da paisagem. Em segundo lugar, a experiência da agricultura tradicional – técnicas de 
cultivo, de conservação de solos, de controle da erosão, de aproveitamento dos recursos hidráulicos, 
etc. – será o ponto de partida para afrontar a aplicação das novas técnicas de cultivo e dos novos 
sistemas de gestão do território, com o fim de encontrar soluções mistas para a implantação das novas 
indústrias agrícolas. Em terceiro lugar, se partirá da aceitação de que cada nova agricultura requer uma 
nova paisagem, um novo projeto de paisagem, e, do mesmo modo do passado todas as agriculturas 
que agora valorizamos e queremos preservar transformaram seus territórios, talvez poderemos chegar 
a reinventar todas as agriculturas e descobrir que as novas gerações de cultivo também podem ser 
belas. E, em último lugar, se o que não é indústria agrária vigorosa é bosque ou rio, estaremos 
estabelecendo as bases de um sistema potente de conservação da paisagem. De que paisagem? Das 
novas paisagens que teremos projetado. 
 
 
11 . Raventós, Manuel, Sobre replobació de boscos, Mancomunitat de Catalunya, Barcelona, 1920. 
12 . Ver: Gómez Mendonza, “Plantaciones forestales y restauración arbórea”, Revista de Occidente, nº 149, Madri. 
Constatar a grande quantidade de solo de que dispomos nos pode ajudar a pensar que opções como o 
jardim da metrópole todavia são possíveis. Para nos aproximarmos desta afirmação só serão 
necessárias duas comparações no âmbito do caso de Barcelona: uma sobre a superfície florestal catalã 
e outra sobre os espaços não construídos da metrópole. 
 
A superfície florestal ocupa, estatisticamente, 62% do território da Catalunha, mas uma parte muito 
importante de dita superfície é atualmente improdutiva e não dispõe de nenhum modelo de gestão, 
apesar dos importantes benefícios ambientais e sociais que proporciona, e de que contribui para a 
conservação da diversidade biológica. Esta superfície nos resulta surpreendente porque está muito 
distanciada da sensação que se percebe quando se viaja pela Catalunha, posto que uma grande parte 
desses 62% são zonas não arborizadas, queimadas ou sítios com uma rentabilidade nula. Nos entornos 
metropolitanos encontramos uma situação equivalente, agravada pela forte pressão urbanística e de 
considerável abandono de terrenos agrícolas ou florestais. 
 
A ocupação por usos urbanos se aproxima dos 30% da superfície da área de Barcelona. Pese a 
importante superfície livre, não dá esta sensação ao mover-se pela metrópole, posto que uma grande 
parte do 70% restante é correspondente à zonas ocupadas por usos não controlados, espaços 
agrícolas abandonados ou de muito baixa qualidade. Assim mesmo, as infra-estruturas trituram os 
espaços livres resultantes e acentuam a sensação de dispor de pouco espaço. Não obstante, o espaço 
existe, e poderia ser utilizado em planejamentos coerentes que tratarão de evitar os contínuos urbanos 
indiferenciados, que, largamente, impossibilitarão a conexão entre as diferentes áreas naturais ou 
aquelas que poderiam integrar-se no conjunto dos jardins da metrópole. O reflorestamento também 
pode ajudar a recuperar todos esses espaços. 
 
A proposta do jardim da metrópole trata de conservar e aumentar a superfície florestal, mas 
proporcionando os modelos de conservação e gestão adequados. Como já se disse anteriormente, se 
deve “reflorestar as terras e as montanhas” mediante sistemas de gestão potentes e incorporando 
novas idéias que tratem de obter uns bosques ricos e belos; uns bosques da metrópole auto-suficientes 
que possam continuar gerando benefícios ambientais e sociais;13 uns bosques que não sejam 
considerados como um valor residual, mas com um valor agregado.14 Como diz Martí Boada, “O bosque 
não é marginal”.15 Os bosques da metrópole requerem um sistema múltiplo de gestão de uso que 
promova simultaneamente o uso social desses âmbitos e a produção de matérias primas no mesmo 
lugar. Para obter adiante um sistema com essas características, deve-se superar o dilema tradicional 
entre produção e conservação. Não se tratará de implantar sistemas intensivos de gestão florestal 
produtiva, nem tampouco de promover a conservação estática sem realizar nenhum tipo de gestão. Os 
sistemas de gestão florestal intensivos promovem a implantação de árvores de crescimento rápido, com 
um rejuvenescimento continuado dos bosques e uma preferência pelos espaços regulares e específicos 
de uma só espécie. 
 
Frente a esse tipo de posicionamento, podem implantar-se sistemas que promovam diversidade e 
complexidade estrutural dos bosques, com massas irregulares compostas por espécies diferentes e 
tamanhos variados. Nesse tipo de gestão, pode promover-se um aproveitamento importante dos 
recursos naturais respeitando a beleza e as funções ambientais do bosque. Os bosques da metrópole 
têm que ser implantados tratando de evitar a fragmentação em peças isoladas que, largamente, implica 
o desaparecimento de espécies vegetais e animais, e dificulta o movimento e a colonização de 
espécies, assim como a manutenção dos intercâmbios genéticos. A promoção da conectividade entre 
os diferentes bosques da metrópole se converte em uma estratégia básica para conservar sua riqueza e 
diversidade. 
 
Os bosques da metrópole podem compatibilizar-se com vários tipos de agriculturas urbanas, desde 
agriculturas integradas no conceito de bosque (exploração controlada do bosque, plantações 
tradicionais nas clareiras do bosque) àquelas produtivas mais intensivas que podem ocupar áreas de 
maior dimensão (vinhas com denominação de origem, viveiros de árvores, parques agrícolas). Os 
bosques da metrópole e as agriculturas urbanas são rentáveis em escala local, pois deles pode obter-se 
madeiras,alimentos ou ócio, e podem ser rentáveis em escala global porque capturam o dióxido de 
carbono e reduzem a mudança climática; porque retém a água, controlam a erosão e evitam as 
inundações; e porque se convertem em reservas de biodiversidade.16 
 
 
13. Ver: Lucas, Oliver W. R., The Design of Forest Landscape, Oxford University Press, Oxford, 1991. 
14. Ver: Folch, Ramon, “Valor añadido o valor residual”, La Vanguardia, 13 de junho de 1995. 
15. Ver: Boada, Martí, “El bosque no es marginal”, El País, 8 de agosto de 1999. 
16. Ver: Hodge, Simon J., Woodlands around Towns, The Forestry Authority, Londres, 1996. 
O fomento das novas agriculturas urbanas dará lugar a novas economias da paisagem metropolitana, 
desde os viveiros ao vinho; desde a produção de madeira local à criação dos novos materiais que pode 
produzir-se a partir dos resíduos vegetais; desde as hortas individuais ao fomento dos alimentos 
próximos: uns alimentos locais de boa qualidade em uma época de globalização sem limites. 
 
As infraestruturas verdes 
 
A história das infraestruturas verdes podia começar recordando as plantações em alinhamento com as 
estradas, canais e vias públicas na França. Nessas vias, as plantações em alinhamento ressaltam a 
presença das infraestruturas: a linearidade e a regularidade geométrica das estradas e canais se 
convertem em um componente a mais da paisagem que ajudam a estruturar. 
 
 
6. Alinhamento de plátanos em uma estrada. 
 
O rei Enrique II foi o primeiro a ordenar, no ano 1552, a plantação sistemática de árvores nos caminhos 
públicos: “A todos os grandes senhores justiceiros, a todos os camponeses e habitantes das cidades, 
povoados e paróquias, que plantem e façam plantar ao longo das vias e grandes caminhos públicos 
importantes muito bons e grandes olmos para que, com o tempo, nosso reino possa estar 
suficientemente bem plantado”.17 
 
As plantações em alinhamento ao longo das infraestruturas francesas foram se sucedendo durante os 
séculos seguintes com um triplo objetivo: as possibilidades econômicas decorrentes de uma produção 
de madeira efetuada em terreno público com grande facilidade de acesso e transporte; a vontade de 
embelezar as obras públicas realizadas por uns profissionais que conheciam os requerimentos técnicos 
concretos para construí-las e que, por sua vez, atendiam as pequenas sensibilidades da arte da 
paisagem; e a ambição política que utilizava as vias públicas como meio de afirmação sobre o território 
do poder do rei e da unidade do país. 
 
Depois de uns anos em que se puseram em pesquisas desde um ponto de vista da segurança da via, o 
governo francês estabeleceu as leis necessárias para garantir a proteção dos arvoredos em 
alinhamento de suas vias públicas. O novo olhar sobre a paisagem havia convertido as plantações em 
alinhamento em um patrimônio cultural do país. 
 
Esta história também poderia começar recordando que a mobilidade se converteu em um dos 
fenômenos imprescindíveis de nossas vidas e, por conseguinte, da formalização das cidades. 
 
Esta mobilidade constitui a base do novo organismo territorial e dos elementos físicos que o garantem: 
redes de estradas, estradas de ferro, portos e aeroportos resultam um dos principais apoios funcionais 
do sistema econômico. Seus traçados imprescindíveis se caracterizam por ser uma das agressões mais 
intensas ao território e, por sua vez, a transformação que gera maiores expectativas de 
desenvolvimento do próprio território. 
 
 
17. Bourgery, Corinne e Castaner, Dominique, Les plantations d’alignement, Institut pour le Développement Forestier, Paris, 1988. 
A mobilidade é uma das expressões mais claras de nossas metrópoles, e as infraestruturas que a 
fazem possível um dos elementos mais característicos das novas paisagens metropolitanas. As 
infraestruturas verdes são a paisagem resultante da correta implantação da cada infraestrutura que 
necessitamos; são o equivalente moderno das plantações em alinhamento das estradas francesas 
antes citadas. 
 
 
7. Corredor de ônibus entre Castell-defels y Cornellà, Barcelona, Espanha, 2009. Batlle i Roig arquitectes. 
 
A continuidade das redes de infraestrutura permite toda uma série de movimentos necessários para o 
bom funcionamento da cidade, mas seus traçados a miúdo esquecem o resto de outras continuidades 
que requer a metrópole. O projeto da infraestrutura verde pretende obter as melhores mobilidades 
incluindo nesse conceito as mobilidades lentas – pedestres, bicicletas – e as ecológicas. 
A estratégia habitual para enfrentar os projetos das novas infra-estruturas se concentra exclusivamente 
na resolução técnica do problema concreto colocado, obviando todas as implicações urbanas que a 
infra-estrutura produzirá sobre o território onde se implanta. Joan Roig reclamava uma recuperação da 
“urbanidade” das obras de infra-estrutura em seu artigo “El puente como espacio público”.18 
 As infraestruturas verdes são o resultado da aplicação de uma nova estratégia no momento de resolver 
os projetos das grandes infraestruturas em nossos entornos metropolitanos. Primeiro, se tratará de 
resolver a necessidade inelutável de implantar as grandes infraestruturas que nossas metrópoles 
requerem: novas vias de comunicação, aeroportos, portos, grandes estações intermodais, centrais 
energéticas sustentáveis, espaços da sustentabilidade, etc. Em segundo lugar, se deve partir da 
evidência de que na maior parte das ocasiões estas infraestruturas devem implantar-se sobre uns 
territórios todavia “vazios”, suscetíveis de ser utilizados na organização do que estamos denominando o 
jardim da metrópole. Em terceiro lugar, há que se constatar a coincidência – nem sempre casual, senão 
devida habitualmente à razões geográficas de origem – em um mesmo lugar a necessidade de resolver 
duas problemáticas a princípio contraditórias: por um lado, a necessidade de traçar uma infra-estrutura 
e, por outro, a constatação de que aquele lugar é imprescindível para as continuidades do novo sistema 
de espaços livres da metrópole. E, por último, se deve analisar as grandes possibilidades que oferecem 
os projetos das novas infraestruturas se si desenvolvem de forma adequada com a pretensão de 
resolver as diversas complexidades que a metrópole apresenta. As infraestruturas podem resolver 
desde o projeto problemáticas que não são só as vinculadas a seu problema básico. As infraestruturas 
têm – ou podem chegar a ter – uma capacidade de gestão que abarque um território maior que o 
estritamente utilizado pela infraestrutura concreta, um território que poderá contribuir para resolver estas 
complexidades. 
A estratégia das infraestruturas verdes parte, portanto, da oportunidade que apresentam estas 
operações para tratar de resolver outras problemáticas da metrópole. Uma estratégia que buscará o 
consenso entre infraestrutura e paisagem; que não se baseará somente na correção dos impactos 
ambientais que toda infraestrutura produz, mas nas possibilidades que se desprendem de transformar 
os projetos das infra-estruturas em grandes projetos de paisagem. 
 
 
18. Roig, Joan, “El puente como espacio público”, Arquitectura, nº 285, Madrid, 1990. 
Se conseguirmos outorgar às infraestruturas este sentido de projeto de paisagem, poderemos inverter a 
tendência habitual que elas apresentam como algo necessário e imprescindível, mas que destruirá 
nossas paisagens e que nos causará danos de difícil correção. As grandes infraestruturas dentro de 
uma unidade de paisagem que podem ser gestadas desde suas próprias forças e importância, 
permitirá superar os duvidosos estudos de impacto ambiental dos novos aeroportos, das autopistas, dos 
novos traçados ferroviários, para passar a pensar na possibilidade de obter umas novas paisagens, 
construídas e gestadas desde a própria infra-estrutura, mas vinculadas às lógicasdo sistema de 
espaços livres que se intentará consolidar. O parque do aeroporto, o bosque da autopista ou a 
paisagem do lixão podem converter-se em novos lugares, em novos espaços livres que resolverão as 
necessidades de implantar novas infra-estruturas, mas também a de encontrar novas maneiras de criar 
e gestar nossas paisagens. Sua finalidade terá sido, como comentam Rossana Vaccarino e Torgen 
Johnson em seu artigo “Paisajes reciclados”,19 criar entornos sustentáveis capazes de gerar paisagens 
próprios, que integrem os usos concretos e criam novos espaços para o ócio. 
 
Os jardins temáticos 
 
O estrato livre estará composto por várias unidades de paisagem consolidadas a partir dos projetos de 
drenagem do território, dos bosques da metrópole e das agriculturas que podem ser compatíveis com 
os entornos urbanos. 
 
O estrato livre contribuirá a estruturar os diferentes espaços livres da metrópole, buscando as 
continuidades urbanas e ecológicas e tratando de vincular seu funcionamento à estrutura urbana onde 
se inserta. O estrato livre também incorporará os entornos das infraestruturas, paisagens resultantes a 
enfrentar com o projeto das infraestruturas verdes, que terão que se resolver no mesmo território 
disponível que se trata de organizar. 
 
O estrato livre requererá uma nova política de planificação que, em lugar de considerar estes espaços 
como vazios urbanos, os considere cheios de vida natural, agrícola e florestal. Uma política de 
planificação que não os considere tão só como espaços ornamentais, mas como uns espaços básicos 
para o correto funcionamento da cidade. 
 
O território ocupado por este novo modelo de espaços livres se estenderá, por tanto, desde sua 
vocação ecológica e urbana, como um conjunto de espaços naturais ou agro-florestais que 
compatibilizarão sua gestão desde a ecologia e a agricultura com o uso como espaços livres da nova 
metrópole. Seu papel como nova geografia da cidade, como reserva ecológica da metrópole, ou como 
espaço exterior aberto aos cidadãos, passa a ser a chave em sua compreensão e definição. Mas o 
jardim da metrópole quer ser algo mais na organização das cidades futuras; também é um lugar que 
pode receber outras temáticas concretas. 
 
Os jardins temáticos são espaços do jardim da metrópole que se destinam a um uso concreto, a uma 
atividade complexa mas compatível com a filosofia desse estrato livre. Os jardins temáticos estarão 
destinados ao ócio, aos distintos serviços da cidade ou aos espaços da sustentabilidade que tratarão de 
resolver as diferentes problemáticas meio-ambientais da metrópole. 
 
A vinculação dos jardins temáticos ao conjunto do estrato livre provém de uma tripla constatação. 
Primeiro, a necessidade de resolver a situação de muitas atividades cidadãs que, por uma parte, não 
encontram seu lugar adequado no conjunto dos tecidos urbanos mais consolidados e que, por outra, 
poderiam ser compatíveis com estes lugares. Segundo, se avalia a grande quantidade de solo 
disponível nos interstícios de nossas metrópoles e a impossibilidade de destiná-los totalmente a 
espaços naturais ou agro-florestais sem atividades complementárias. E, por último, se comprova a 
possibilidade de que estas novas atividades podem ser capazes de gestão de um espaço superior ao 
que requerem e que, por conseguinte, possa definir-se uma unidade de paisagem que inclua a atividade 
e que se compatibilize com o resto dos espaços livres da metrópole. 
 
Os jardins temáticos se definem como uns espaços – grandes ou pequenos, abertos ou fechados – 
dentro do conjunto do jardim da metrópole, e podem destinar-se a usos de muito diversa índole, mas 
sempre relacionados com um sistema que se explica desde raciocínios mais gerais que os próprios da 
nova atividade proposta. 
 
 
19. Vaccarino, Rossana e Johnson, Torgen, “Paisajes reciclados: el reciclaje como motor de cambio”, 2G, nº 3 (Landscape Architecture: 
estratégias para la construcción del paisaje), Barcelona, 1997, p. 137-143. 
 
8. Cemintério Lyngby integrado no sistema de parques de Copenhague, Dinamarca, 1967. Plum e Iversen. 
 
Os jardins com tema ecológico darão lugar aos espaços da sustentabilidade. A aplicação de todo o tipo 
de estratégias ecológicas podem contribuir para resolver as problemáticas meio-ambientais, mais 
também a fomentar novas maneiras de ocupar o território. Em primeiro lugar, produto de todas as 
estratégias ecológicas, aparecerão os espaços da sustentabilidade, espaços que darão respostas às 
diferentes problemáticas meio-ambientais de nosso país: depuração das águas, reservas de água, 
controle da erosão, tratamento de resíduos de todo tipo, criação de energias alternativas, recuperação 
de espaços degradados, conservação da diversidade da fauna e da flora, integração das grandes infra-
estruturas no território, etc. Em segundo lugar, estes espaços da sustentabilidade serão o resultado do 
aproveitamento das possibilidades que se desprendem da solução dos problemas meio-ambientais 
desde uma perspectiva ecológica, o que motivará novas maneiras de ocupar o território e originará 
novas paisagens, evidentemente artificiais – como, por outro lado, quase todas as paisagens que 
conhecemos –, produto da aplicação das tecnologias disponíveis a uns novos objetivos. Em terceiro 
lugar, o fomento deste tipo de espaços em nossa paisagem contribuirá à exploração racional dos 
recursos ecológicos e poderá somar potencial econômico ao potencial meio-ambiental evidente nestas 
atuações, que se destaca da solução de uns problemas que, por outra parte, requerem solução, E, por 
último, os espaços da sustentabilidade, autênticas fábricas de paisagem, serão tanto um equipamento 
meio-ambiental como um novo tipo de espaço livre, que estabelecerá novas formas de integração na 
paisagem da nova metrópole. 
 
 
9. Parque Central, Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha, 1994. Batlle i Roig arquitectes. 
 
Os jardins temáticos poderão desenhar-se como um fenômeno de paisagem polivalente quando seja 
possível compatibilizar a função requerida com algum tipo de paisagem; ou poderão organizar-se 
através de alguma estrutura complexa que sirva para ordenar conjuntamente os espaços com usos 
concretos e os espaços livres que se possam conter temas. Os jardins temáticos poderão ser uma 
pequena edícula para olhar a paisagem ou uma depuradora natural de águas residuais, um conjunto de 
hortas privadas ou um estacionamento, um viveiro de árvores para a cidade ou um clube de golfe, uma 
escola primária ou o entorno de uma fábrica, uma área de piquenique ou um desaguadouro sustentável, 
um cemitério ou uma área de esportes municipais. Jardins que compreenderão todo um leque de 
tipologias diversas, desde as follies sobre a paisagem aos pacotes de usos muito concretos, desde 
edifícios no parque aos espaços da sustentabilidade. 
 
O estrato livre, ecológico e agro-florestal se constrói desde as drenagens do território, os bosques da 
metrópole e as agriculturas urbanas; mas também é um espaço cheio de novos significados que aceita 
as novas necessidades da cidade e as transforma no projeto das infraestruturas verdes e dos diversos 
jardins temáticos. Uns jardins que voltam a vincular a magia da palavra jardim a qualquer dos 
modernos temas que a metrópole requer. Um conjunto diverso de jardins temáticos para um bom jardim 
da metrópole. 
 
O jardim da metrópole 
 
“Todas as ações que empreendemos com relação à água, o bosque, o ócio, o fogo, a agricultura... têm 
um mesmo segundo objetivo: evitar a degradação de nosso entorno imediato”.20 
Wenche E. Dramstad, James D. Olson e Richard T. T. Forman, Landscape Ecology Principles in Landscape Architecture and Land-
Use Planning 
 
“A principal característica de um sistema de espaços livres é seu desenho como uma série de parques, 
cada um com seu caráter paisagístico específico e com umas funções recreativas especiais, ligados por 
uma cadeia de passeios, caminhos e avenidas, formandoum grande parkway que se estenda desde o 
coração da cidade até os cenários rurais dos subúrbios”.21 
Frederick Law Olmsted 
 
“Se trata, definitivamente, de se dar conta de que o verde é nas cidades muito mais que uma simples 
pincelada decorativa e benigna, que seu correto aproveitamento beneficia âmbitos cidadãos de 
natureza muito diversa, e que sua gestão é delicada e complexa. Necessário e difícil, o verde urbano é 
um sinal de mais do que alguns pensam”.22 
Ramon Folch, Que lo hermoso sea poderoso 
 
A Consideração conjunta e inter-relacionada nos âmbitos metropolitanos das matrizes ecológicas de 
Richard T. T. Forman, da reinterpretação contemporânea dos sistemas de parques de Frederick Law 
Olmsted e dos espaços gerados desde a sustentabilidade como resposta aos problemas meio-
ambientais, constitui o embrião do nascimento do que aqui denominamos jardim da metrópole. 
 
A superposição intencional da matriz ecológica metropolitana, do sistema de espaços livres urbanos e 
dos entornos com valor agregado dá como resultado o jardim da metrópole, um conjunto de espaços 
que integram os valores ecológicos que já não podemos depreciar, que potenciam os valores cívicos 
que nossas cidades requerem e que recolhem todos os valores agregados que podemos tratar de 
conseguir em cada intervenção que realizemos sobre o território. 
 
O Jardim da metrópole pode desenvolver-se em chave de sistema urbano através de uma gestão 
integrada de todos seus espaços e de todas suas implicações. O jardim da metrópole não é só a soma 
de todos os retalhos verdes da cidade ou a conseqüência de aplicar nossa vontade ornamental sobre 
os âmbitos urbanos, senão que pretende ser um sistema contínuo que se explica em chave de matriz e 
que dispõe de personalidade própria. As matrizes ecológicas, ordenadas segundo o modelo de Forman 
através da trilogia patch-corridor-matrix,23 são aplicáveis a qualquer território. Os mosaicos que definem 
cada uma das paisagens que conhecemos são absolutamente diversos, mas suas possibilidades de ser 
transformados em um sistema ecológico organizado em chave de matriz são sempre muito elevadas. O 
modelo elaborado por Forman permite analisar qualquer paisagem, mas o modelo interessa, sobretudo, 
por suas possibilidades de converter-se em uma proposta de ordenação de nossos entornos 
metropolitanos. Se trata de um modelo com analogias em muitas disciplinas e que pode ser 
redesenhado em função dos requerimentos que se estabeleçam. 
 
As matrizes ecológicas aplicadas aos entornos metropolitanos podem permitir vincular os espaços que 
ainda conservam algum interesse natural com os espaços degradados suscetíveis de recuperação, ou 
aos espaços livres que podem ser obtidos a partir dos processos de transformação urbana. As matrizes 
ecológicas metropolitanas dão valor a espaços abandonados à espera de conhecer seu destino 
 
20. Dramstad, Wenche E.; Olson, James D. e Forman, Richard T. T., Landscape Ecology Principles in Landscape Architecture and Land-Use 
Planning, Harvard University Graduate School of Design, Cambridge (Mass.), 1996. 
21. Olmsted, Frederick Law, citado em Fein, Albert, Frederick Law Olmsted, George Braziller, Nova York, 1972. 
22. Folch, Ramon, Que lo hermoso sea poderoso, Altaffula. Barcelona, 1990. 
23. Ver: Forman, Richard T. T., Land Mosaics. The Ecology of Landscapes and Regions, Cambridge University Press, Cambridge, 1995. 
definitivo e nos prepara o território para poder desenvolver um crescimento sustentável aceitável. As 
matrizes ecológicas fazem emergir todas as possibilidades ecológicas de nossos territórios e, ao 
mesmo tempo, nos ajudam a decidir a forma mais adequada de atuar em cada uma das intervenções. 
 
Os sistemas de espaços livres urbanos nasceram como desenvolvimento do modelo elaborado por 
Olmsted nos primeiros system park.24 Um modelo que estabelecia a superação dos conceitos 
estabelecidos nos primeiros parques públicos e somava a sua definição inicial uma maior integração 
urbana, uma cuidada sistematização dos elementos utilizados e uma intenção de classificar os usos 
oferecidos. Como já se comentou anteriormente, os jardins domesticaram a natureza para o ócio, os 
parques a introduziram nas grandes cidades e os sistemas trataram de organizá-la com o objetivo de 
conseguir uma melhor ordenação das paisagens urbanas. Os novos sistemas verdes tratam de 
conseguir os mesmos objetivos que os sistemas de espaços livres urbanos tradicionais no marco da 
realidade atual das metrópoles. O estabelecimento desses novos sistemas permite vincular os espaços 
livres urbanos tradicionais no marco da realidade atual das metrópoles. O estabelecimento desses 
novos sistemas permite vincular os espaços livres urbanos da cada pacote urbano – rua, avenida, 
passeio, praça e parque – aos espaços livres que podem ser obtidos através da revitalização de todos 
os interstícios metropolitanos. 
 
A matriz ecológica metropolitana, composta por espaços de interesse natural que podem conservar- se 
e pelos corredores verdes que podem ser potenciados, pode compatibilizar-se com o sistema de 
espaços livres urbanos composto pelos espaços públicos de cada pacote urbano e pelas vias parque 
que podem ser obtidas em cada nova intervenção sobre o território. Dessa compatibilização nasce um 
novo sistema que recolhe os valores ecológicos das matrizes e os valores cívicos dos espaços públicos, 
um novo sistema que pretende atender tanto à escala territorial da metrópole como a escala próxima de 
cada assentamento urbano. 
 
Este novo sistema quer ser capaz de aglutinar as velhas idéias dos sistemas de parque de Olmsted e 
as novas necessidades de nossos entornos metropolitanos. Recupera as continuidades que Olmsted 
explorou em Prospect Park no Brooklin ou no sistema de parques de Boston, e as complementa com as 
continuidades que a ecologia valida agora como indispensáveis. 
 
Não obstante, os espaços disponíveis para formar parte desse novo sistema são também frágeis, estão 
sujeitos a diferentes expectativas que podem fazer que resultem inutilizados como espaços potenciais 
do jardim da metrópole. Se trata de espaços que se consideram pendentes de urbanizar, ou que podem 
ser o melhor lugar para dispor as novas infraestruturas. Também é nesses lugares onde a metrópole 
resolve seus problemas meio-ambientais, ou onde tem que circular as energias que se consome. O 
jardim da metrópole não pretende obviar todas essas problemáticas, mas propõe compatibilizá-las no 
marco de sua implantação sobre o território. Os entornos com valor agregado são os espaços livres que 
se podem gerar desde a resolução de cada problema proposto. Os entornos com valor agregado tratam 
de compatibilizar a existência do jardim da metrópole com o desenvolvimento de novos assentamentos, 
o traçado de novas infraestruturas, a implantação de novos usos metropolitanos ou a necessidade de 
espaços destinados a resolver as problemáticas meio-ambientais. Os entornos com valor agregado 
podem converter-se em novos fenômenos de paisagem que atenderão tanto a Problemática concreta 
que se esteja resolvendo como o aumento da qualidade dos espaços naturais próximos. 
 
Os entornos com valor agregado são novos espaços livres que se destinam a uma temática concreta, 
mas que não renunciam a obter a melhor qualidade ambiental possível. Os entornos com valor 
agregado podem ser novos jardins – os jardins temáticos – que também podem integrar-se no conjunto 
do jardim da metrópole. Os entornos com valor agregado são o resultado da boa gestão de um 
problema, a conseqüência de aceitar os crescimentos urbanos que requer a cidade sem renunciar a ele 
para obter o maior número possível de espaços livres de qualidade. Os entornos com valor agregado 
também podem integrar os espaços que denominamos intraestruturas verdes, os entornos corretos das 
infraestruturas que necessitamos. 
 
Os valores agregados dos jardins temáticos e das infraestruturas verdes complementamos valores 
ecológicos e cívicos da matriz ecológica metropolitana e do sistema de espaços livres urbanos. O 
conjunto de todos eles compõe este novo estrato que denominamos o jardim da metrópole. 
 
A sociedade atual magnífica duas situações contrapostas: os espaços naturais protegidos e a cidade 
compacta bem urbanizada. Entre esses dois mundos, o jardim da metrópole trata de estabelecer um 
 
24. Fein, Albert, op. Cit. 
modelo que permita ordenar corretamente a cidade e seus espaços livres. Para consegui-lo, o jardim 
da metrópole aceita que é resultado da confrontação entre estas duas situações e que, portanto, não só 
têm que se defender os parques naturais ou as cidades acabadas, mas que se deve trabalhar nos 
territórios de fronteira entre ambos, para dar lugar a novos espaços que assumam seu papel de lugares 
de transição. O futuro do jardim da metrópole se determina a partir de um bom desenho desta 
confrontação, o que aqui denominamos limites complexos. Os limites complexos são também o 
resultado de uma valorização especial do espaço intermédio, do que se encontra entre o espaço livre e 
o construído, entre o jardim da metrópole e a cidade consolidada. Uns bons limites complexos servem 
para melhorar as condições dos elementos que separam e unem. 
 
Um espaço intermediário que em lugar de buscar a confusão entre as diferentes partes da cidade nos 
pode ajudar a encontrar a identidade positiva de cada uma delas, e que, tal com expressou o paisagista 
Gustav Lange, pode ser o elemento mais expressivo do conjunto: “A poesia se cria com a distância 
entre os elementos”.25 
 
A valorização da distância entre os elementos nas periferias metropolitanas permite potenciar os vazios 
como elementos interessantes que definem a separação justa entre as diferentes partes da cidade. 
Bernardo Secchi fala do conceito da “distância justa”26 e Manuel de Sola-Morales de “distância 
interessante”27 para intentar definir a regularização deste novo componente físico das cidades. 
 
 
10. Par Central, Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha, 1994. Batlle i Roig arquitectes. 
 
Na construção do jardim da metrópole, a distância interessante nos ajudará a definir as relações justas 
entre a cidade construída e uns vazios urbanos que já haverão encontrado sua identidade. A vontade 
de estabelecer claramente a identidade destes vazios urbanos através de idéias, como as do estrato 
livre, é uma das diferenças principais entre este trabalho e as propostas dos autores que defendem 
conservá-los, mas que consideram que se trata de um território que não requer nenhum tipo de 
desenho. Desde os setores ecologistas se promove a conservação destes vazios como espaços 
necessários para poder conservar os sistemas naturais dentro da metrópole, enquanto que desde os 
setores do planejamento urbanístico também se promove sua conservação como espaços de defesa do 
crescimento urbano e como espaços de reserva para atividades urbanas futuras. O jardim da metrópole 
quer ser o elemento que encontre o equilíbrio entre as distintas propostas, recolhendo as melhores 
virtudes de cada uma e tratando de resolver as confrontações sem evitá-las. 
 
Talvez o destino final do que estamos tratando de definir se resuma na busca de um modelo para 
desenhar o território metropolitano compreensível e coerente no qual nossa sociedade possa ver-se 
representada de alguma maneira. Bernardo Secchi p resume brilhantemente com as palavras 
seguintes: “Nos dizem depois que também é importante interconectá-los com uns corredores porque 
assim as diferentes espécies, botânicas e animais, podem emigrar de um lugar a outro, e que estas 
migrações aumentam a biodiversidade. Aumentam a diversidade das espécies que se acham presentes 
em cada uma dessas áreas, espécies botânicas e animais. E um aumento da biodiversidade redunda 
em um aumento da capacidade de resistência do sistema ecológico para enfrentar-se com toda a 
artificialidade que nós introduzimos, Eu não sei si é certo ou não... A mim me agrada o tema; as 
migrações mesclam as espécies, aumentam a biodiversidade, aumentam a capacidade de resistência... 
Me agrada porque me parece uma grande metáfora social. Se nós nos mesclamos , nos fazemos mais 
 
25. De um artigo de Gustav Lange na Bienal de Paisagem de Barcelona, março de 2001. 
26. De uma conferência de Bernardo Secchi proferida no curso “Planejamento urbanístico em controvérsia” no Centro de Cultura 
Contemporânea de Barcelona (CCCB), julho de 2001. 
27 
fortes todos... Mas sobre o que quero chamar a atenção é sobre isso; eu falei de ponto, de linha e 
superfície. Começam a converter-se em uma linguagem minha, de arquiteto, de pessoa que projeta um 
território. Começo a ver coisas que sei como manejar, materiais com os quais trabalhar na construção 
de um projeto. Todos nossos projetos são composições feitas a base desses elementos. É esse o 
aspecto que me interessa. Não usar o sistema ambiental só para conter a expansão urbana ou para 
conter o consumo do solo da cidade, senão utilizá-lo ademais para dar um desenho ao território onde se 
reconheça, talvez, seu último sentido. Talvez, na cidade decimonônica nós conseguimos sentirmo-nos 
em casa porque encontramos uma cidade feita de ruas, de calçadas, de pontos, de monumentos que 
restituíam a seu ponto justo a ordem urbana, e era isso precisamente o que a cidade decimonônica 
pretendia. Talvez a sociedade da primeira parte do nosso século, um pouco enamorada de todo o 
maquinismo, de todas as grandes obras de engenharia, se reconhecia a si mesma nos grandes 
sistemas infra-estruturais. Talvez hoje nós não podemos usar estes elementos para compreender a 
forma da cidade, que pelo contrário cresce, se dispersa e se confunde por todas as partes, 
convertendo-se em um amálgama de objetos muito heterogêneos. Mas podemos, pelo contrário, usar 
uma correta projeção do sistema ambiental, ponto, linha e superfície do sistema ambiental, para 
conseguir desenhar o território. Com um desenho compreensível, coerente, um desenho no qual nossa 
sociedade, de alguma forma, consiga sentir-se representada”.28 
 
A matriz ecológica metropolitana 
 
A sustentabilidade e a biodiversidade formarão parte dos mitos desse novo século. Pese a ambiguidade 
da definição e a multiplicidade de interpretação que oferecem, são conceitos que começam a estar 
presentes em cada uma de nossas atividades. A matriz ecológica metropolitana é o resultado do 
emprego de ditos conceitos no desenvolvimento territorial das cidades. Como o define Manlio Vendittelli, 
a sustentabilidade está deixando de ser uma quimera para ser um paradigma, e idéias como matriz 
ecológica metropolitana talvez possam converter-se em um novo paradigma da ordenação territorial 
metropolitana.29 
 
 
Patches e corridors Trampolins Matriz 
11. Matrizes ecológicas. Wenche E. Dramstad, James D. Olson e Richard T. T. Forman. 
A idéia de matriz ecológica metropolitana parte da aplicação dos princípios do landscape acology sobre 
nossos entornos metropolitanos. Os teóricos da landscape ecology, como Wenche E. Dramstad, James 
D. Olson e Richard T. T. Forman,30 desenvolvem o modelo patch-corridor-matrix desde a perspectiva de 
que todos os mosaicos estão compostos pela combinação desses três tipos de elementos espaciais. O 
estudo e a análise das diferentes características desses espaços lhes permite chegar a um melhor 
conhecimento da paisagem, com o objetivo de poder ajudar a desenhar ordenações territoriais mais 
corretas e conseguir definir as correlações necessárias para um melhor funcionamento dos sistemas 
ecológicos. 
 
A idéia que tratamos de desenvolver aqui complementa este enfoque desde a perspectiva urbana de 
nossas cidades. A matriz ecológica metropolitana é o resultado de desenvolver o modelo patch-corridor-
matrix a partir das possibilidades que nosoferece a atual situação de nossas metrópoles. Os patches 
(unidades de paisagem) são os espaços de interesse natural existentes ou possíveis que podemos 
encontrar em nosso território. Os corridors (corredores) são os elementos que nos permitem obter a 
conectividade ecológica entre os diferentes espaços de interesse natural. As matrix (matrizes) são a 
malha ou estrutura ecológica que explica a forma e o funcionamento de um mosaico. A matriz ecológica 
metropolitana é o sistema composto pelos diversos espaços de interesse natural que podemos 
potenciar e por diferentes corredores verdes que podemos estabelecer. 
 
As análises da ladscape ecology estudam os atributos específicos de cada um desses elementos para 
estabelecer a linguagem a utilizar em sua classificação. Falam, por exemplo, de patches grandes ou 
 
28. Secchi, Bernardo “La práctica actual de la proyetación territorial” (conferência proferida no Máster de Projetação Urbanística da Universitat 
Politécnica de Catalunya), em Eizaguirre, Xabier (ed.), La construcción del território disperso, Edicions UPC, Barcelona, 2001. 
29. Vendittelli, Manlio, La sostenibilità da chimera a paradigma, Franco Angeli, Milán, 2000. 
30. Dramstad, Wench E.; Olson, James 
pequenos, alargados ou redondos, irregulares ou suaves... Os corredores podem ser largos ou 
estreitos, com muita ou pouca conectividade, e podem formar meandros ou ser retilíneos. As matrizes 
podem ser extensivas ou limitadas, contínuas ou perfuradas, variadas ou homogêneas. 
 
Na nossa perspectiva, a aplicação desses princípios aos entornos metropolitanos não só tem que 
trabalhar com os espaços que contam com uma alta valorização ecológica, mas que também há de 
incluir todos aqueles que podem se recuperar ou se potenciar, igualmente como todos aqueles lugares 
que se podem criar de novo a partir de cada uma das intervenções que se realizam. Também se 
estabelece a necessidade de assimilar estes espaços desde todas as escalas de trabalho, incorporando 
tanto os grandes espaços de interesse natural já protegidos como os pequenos lugares que podem 
oferecer alguma valorização ecológica, por pequena que seja. 
 
Os espaços de interesse natural (patches) foram os primeiros lugares sobre os quais se centrou o 
interesse dos ecologistas, uns espaços que podem ser delimitados e se associar a uma ilha natural no 
meio de território. Muitos deles são objeto de algum tipo de proteção, que dá lugar às normas que hão 
de tornar possível sua conservação. Suas características e a distribuição sobre o território determinam 
os benefícios ecológicos que podemos obter. 
 
Sem dúvida, uma leitura mais cuidadosa do território mostra que os espaços de interesse natural 
existentes ou possíveis são muito mais numerosos que os protegidos ou em processo de conservação. 
Uma análise mais detalhada dos territórios pode oferecer muito mais unidades de paisagem que 
contribuam a desenhar uma distribuição ecológica mais homogênea. Assim mesmo, uma maior 
confiança nas possibilidades de intervenção sobre o território abre as portas à criação de novos 
espaços naturais que complementam os existentes e os potenciais. Os benefícios ecológicos que nos 
oferece a combinação dos espaços de interesse natural – existentes, recuperados ou criados ex novo – 
distribuídos adequadamente pelo território, permite estabelecer novos critérios para determinar que 
modelos de ordenação territorial são mais coerentes. 
 
O estudo dos corredores tem ajudado a entender melhor determinados ecossistemas, e se converteu 
em um fator chave na hora de pensar nas possíveis aplicações urbanas das teorias da ecologia da 
paisagem. Os corredores ecológicos ou corredores verdes existentes permitem a conectividade entre os 
diferentes espaços de interesse natural e mostram as enormes possibilidades que podem ser obtidas 
graças a eles. 
 
As funções dos corredores verdes são reguladas por duas características básicas: sua largura e 
conectividade. No marco das situações metropolitanas, a conectividade ecológica sofre habitualmente 
muitas interrupções devido às infraestruturas, nas novas implantações ou nas possibilidades físicas 
reais de estabelecer um novo corredor. O vento facilita determinados movimentos de espécies se a 
distribuição de espaços de interesse natural os coloca suficientemente próximos uns dos outros, mas 
não garante a continuidade física requerida. Os sistemas de drenagem do território são os corredores 
mais estáveis e contínuos, e os que têm uma maior capacidade de recuperação ainda que totalmente 
degradados.31 
 
As unidades de paisagem e os corredores conformam as matrizes cuja saúde ecológica se mede pela 
capacidade de comunicação e conectividade dos sistemas naturais existentes. As matrizes com vários 
circuitos oferecem uma conectividade de melhor qualidade ecológica e permitem pensar em rotas 
alternativas para os diferentes movimentos de espécies. A escala e o tamanho da rede que defina a 
matriz determinarão a efetividade e as possibilidades de conservá-la e melhorá-la. As interseções entre 
diferentes corredores ou os pontos nos quais um corredor conecta-se com uma unidade de paisagem 
se converterão em lugares suscetíveis de conservação, com o fim de manter o equilíbrio ecológico da 
matriz. 
 
Os limites dos diferentes espaços que compõem uma matriz ecológica definem sua formalização física 
e garantem a efetividade de seus conteúdos; são os espaços mais frágeis de uma matriz, mas também 
os que podem ser manipulados com maior facilidade para melhorar as condições ecológicas de um 
sistema. A forma dos limites e o tamanho dos espaços de transição determinam indiretamente as 
influências que se estabelecerão entre ambos sistemas contrapostos: a matriz ecológica e a cidade 
construída. 
 
 
31. Ver: Saunders, Denis A. E Hobbs, Richard J., The Role of Corridors, Surrey Beatty & Sons, Chipping Borton, 1991. 
A simplicidade formal que adotam os esquemas gráficos das complexas decisões ecológicas tenderá a 
adaptar-se aos difíceis territórios metropolitanos através de um trabalho muito mais detalhado que 
considere as múltiplas peculiaridades destes lugares. A matriz ecológica metropolitana deverá construir-
se a partir de espaços de tipologias muito diversas, algumas das quais talvez não apresentem a 
qualidade ecológica desejada desde uma perspectiva científica, mas que não tenderíamos a depreciar 
porque contribuem a construir o mínimo sistema possível. 
 
A matriz ecológica metropolitana não poderá ser só uma operação de conservação de espaços de 
interesse natural, mas uma operação de projeto urbano que tenha em conta os princípios básicos que 
se tenha estabelecido. A potenciação de uma matriz ecológica em um entorno metropolitano supõe a 
ativação de sistemas naturais capazes por si mesmo de melhorar a qualidade ambiental do conjunto e, 
por conseguinte, talvez consigam a transformação de espaços degradados em uns que queremos 
conservar. 
 
Uns sistemas naturais emergentes que contribuirão para a construção de uma matriz ecológica 
metropolitana cada vez mais eficiente. 
 
A matriz ecológica metropolitana poderá integrar em seu conjunto espaços de usos muito diversos, 
como os espaços agrícolas compatíveis com os espaços livres e esportivos de alto valor natural. Os 
entornos metropolitanos não podem renunciar ao duplo interesse destes tipos de espaço, posto que se 
trata de lugares destinados a uma atividade concreta – agricultura, ócio, esporte, etc. – que, 
simultaneamente, nos podem oferecer um valor natural totalmente compatível com os princípios 
ecológicos da matriz. 
 
A construção da cidade requererá uma multiplicidade de atuações que muitas vezes colocarão em crise 
determinados lugares da matriz ecológica. Em ocasiões, a matriz não será efetiva devido a intervenções 
mal planejadas ou a desenvolvimento de ordenações que ignorem ditos princípios. Em outras, alguns 
destespontos terão uma grande importância estratégica para conseguir que o sistema ecológico 
funcione. Estes pontos estratégicos podem ser objeto de uma atenção especial que os converta em 
lugares a resolver. São o que Richard T. T. Forman denomina military points (pontos militares),32 um elo 
débil da cadeia, o lugar imprescindível sem o qual o sistema pode carecer de sentido. Sem esses 
pontos, o sistema se dilui, mas uma resolução brilhante pode conseguir convertê-los na porta do 
sistema, em um de seus pontos de máxima tensão e expressão. Um de nossos máximos objetivos será 
conseguir que a construção da cidade seja compatível com a potenciação da matriz. Desta 
compatibilização podem nascer muitos territórios de projeto, pontos estratégicos que validarão a 
qualidade e a vigência de ambos sistemas. 
 
Para aproximarmo-nos do papel que podem desenvolver as matrizes ecológicas no contexto 
metropolitano, podemos analisar as propostas de anéis verdes das cidades espanholas de Vitória e 
Barcelona. As propostas têm a pretensão de superar o simples desenho que agrupa diferentes espaços 
de interesse natural que tiveram a sorte de receber algum tipo de proteção legal, para iniciar a análise 
de suas vantagens como embrião da possível matriz ecológica metropolitana. No caso de Vitória, o anel 
está consolidado em grande parte, e serviu de instrumento para impulsionar novos projetos, como os 
caminhos urbanos entre o centro e a periferia. No caso de Barcelona, o anel é a simplificação de um 
projeto mais ambicioso que trata de definir a matriz ecológica metropolitana de Barcelona. 
 
 
12. Matriz ecológica metropolitana de Barcelona, Espanha. 
Desenho da possível matriz ecológica metropolitana de Barcelona, a partir da superposição dos espaços que compõem o anel verde de 
Barcelona, do conjunto das drenagens do território, os diversos corredores verdes, os diversos espaços agrários que podem ser potenciados e 
de alguns entornos com valor agregado que poderiam ser incorporados. 
 
 
32. Forman, Richard T. T., Land Mosaics,op.cit. 
As propostas formulam critérios que são válidos para todas as escalas de trabalho, desde a territorial, 
que nos permite sonhar com os anéis verdes na escala de projeto urbano para construir uma pequena, 
mas importante, aproximação ao conjunto do jardim da metrópole. E assim se poderia continuar 
desenhando, ou planejando, com a mesma ilusão e os mesmos critérios, em todas as escalas, até 
chegar ao último detalhe ecológico, ao último detalhe cívico, ao último detalhe acrescentado, e sempre 
com todos os valores estéticos possíveis. 
 
 
13. Zonas húmidas de Salburua, anel verde de Vitória, Espanha. 
 
O sistema de espaços livres urbanos 
 
Os espaços livres urbanos da metrópole atual seguem sendo a rua, a avenida, as calçadas, a praça e o 
parque de cada unidade urbana. Sem dúvida, as distintas ocupações dos interstícios metropolitanos 
também oferecem outros espaços livres, que muitas vezes têm outros índices de utilização mais 
elevados que alguns espaços urbanos tradicionais. Os espaços livres do centro de ócio, do centro 
comercial, do aeroporto, do recinto universitário, do centro empresarial, de algum complexo industrial 
privado, de alguma instalação esportiva são também espaços livres urbanos que, em geral, respondem 
exclusivamente ao programa concreto do agente que os faz possível. 
 
Entre as unidades urbanos com espaços livres urbanos tradicionais e os interstícios metropolitanos 
cheios de novas ocupações – os novos espaços livres urbanos –, fica o terrain vague metropolitano, 
com todo sua desordem formal, mas com toda sua riqueza natural potencial. O aproveitamento destes 
territórios de fronteira permite completar e enriquecer ambas as situações: a dos espaços livres urbanos 
de cada unidade urbana, que habitualmente se desenvolve no limite entre a cidade compacta e algum 
espaço natural degradado, e a dos novos espaços livres urbanos, que, por definição, já se desenvolvem 
sobre lugares com muitas potencialidades, frequentemente esquecidas. 
 
 
14. Sistema de parques de Barcelona, Espanha, 1926. Nicolau Maria Rubió i Tudurí. 
 
A idéia de organizar os espaços livres da cidade e de tratar de vinculá-los aos espaços naturais 
próximos tem sido considerada reiteradamente ao longo da história. Em 1926, Nicolau Maria Rubió i 
Tudurí o apresentava assim: “As ‘reservas de paisagem’ são extensões consideráveis de campo, ou de 
bosque, que as grandes cidades adquirem, em lugares pitorescos, às vezes nos limites municipais 
vizinhos, com o objetivo de prever o desenvolvimento futuro da população e de garantir aos cidadãos o 
gozo da paisagem que rodeia a cidade. Se aumenta a eficácia destes espaços livres unindo-os, no 
possível, por meio de avenidas-jardim que permitam aos passeantes transladar-se de uns a outros sem 
ter que passar pelo tumulto do tráfego. Ademais, convém que os parques suburbanos formem uma 
cintura e que os parques exteriores se introduzam às vezes até ela, em forma de cunhas de paisagem 
cravadas na cidade. Uma melhor circulação do ar puro e uma aparência de maior proximidade do 
campo livre são as consequências benéficas desse sistema”.33 
 
A recuperação da idéia de sistema de parques aplicada às metrópoles atuais permite recuperar o 
conceito de conexão entre os diferentes espaços livres, aproveitando as possibilidades que oferece a 
situação urbana antes enunciada. A metrópole atual se estende desde a rede de infra-estrutura que a 
conecta, e só começa a ser uma cidade eficiente quando esta galáxia de comunicações é 
suficientemente completa. A idéia de que as redes de ruas, de autopistas, de energia, de 
telecomunicações e de transporte público tem que ser completas, é uma demanda aceita que só atrasa 
a negligência das Administrações. A idéia de uma rede de conexões verdes para pedestres, bicicletas, 
etc., só é um sonho embrionário que frequentemente se reivindica, mas que na maior parte das vezes 
se destrói. 
 
 
15. Passeio da margem do rio Arianzón, Burgos, Espanha. 
 
As conexões verdes através de vias parques permitem conectar os espaços livres urbanos tradicionais 
de um unidade urbana com outro, ou com um espaço livre de nova geração. As conexões verdes 
também permitem a conexão com os espaços naturais que compõem a matriz ecológica, e estabelecem 
assim uma rede continua de caminhos que complementaria o resto das redes de comunicações 
imprescindíveis para a metrópole. 
 
Os novos sistemas verdes se constroem desde a idéia da recuperação das conectividades perdidas, 
mas também abre a base que pode estabelecer cada um dos novos espaços livres. Estes novos 
espaços livres – margem de cidade compacta ou interstício metropolitano – não podem ser desenhados 
exclusivamente desde o programa local que os possibilita, mas devem recolher e assumir o papel que 
lhes corresponda dentro de um suposto sistema ideal. Estes espaços livres poderão formar parte de 
uma sucessão de espaços que tratem de estabelecer alguma conectividade ou ser imprescindíveis para 
recuperar algum lugar natural degradado. Estes novos parques também poderão vincular-se aos 
sistemas naturais que todavia se encontrem no lugar ou aos novos sistemas naturais que se 
estabeleçam para fazer emergir os valores ecológicos que antes se havia anulado. 
 
Um sistema de espaços livres urbanos que se explicará desde essa dupla perspectiva, a de uns 
espaços que se organizam como um sistema como meio de consolidar as conectividades, e uns 
espaços construídos a partir de uns sistemas naturais potenciados ou recuperados. Manlio Vendittelli o 
explica como uma contraposição ao modelo de parque tradicional, que se entende como uma ilha de 
felicidade em meio de um mar de insustentabilidade, e nos solicita esta dupla idéia: a de parque como 
sistema natural e a de sistema de parques como instrumento de conectividade.34 
 
A consolidação deste novo sistema de espaços livres requer a realização de múltiplas conexõese 
uniões verdes entre os diferentes âmbitos da cidade e entre os diferentes espaços livres existentes. As 
uniões verdes são uma nova versão das vias parque dos velhos system park de Frederick Law Olmsted, 
umas uniões que promovem o passeio, que apresentam um elevado interesse metropolitano porque 
 
33. Rubió i Tudurí, Nicolau Maria, El problema de los espacios libres. Divulgación de su teoria y notas para su solución práctica, Ayuntamento 
de Barcelona, Barcelona, 1926. 
34. Ver: Vendittelli, Manlio, op. Cit. 
permitem a comunicação dos cidadãos com todos os espaços livres disponíveis, porque estabelecem 
uma rede que oferece a possibilidade de eleger e alargar os caminhos. Nos arredores de Paris se 
consolidou uma importante rede de liaisons vertes que oferece aos cidadãos uns percursos de 
qualidade e uma melhoria ambiental evidente.35 
 
As uniões verdes são compatíveis com a revitalização das vias locais como elementos que permitem 
estruturar as tramas urbanas dispersas pelo território. Todo espaço não construído permite uniões 
urbanas e pode ser o apoio de uma união verde. É importante analisar a grande quantidade de espaços 
livres infra-utilizados ou marginalizados como espaços residuais, situados em áreas densamente 
povoadas. Estes espaços também são suscetíveis de construir boas uniões verdes, e muitas vezes 
constituem as últimas possibilidades que ficam para estabelecer percursos entre as partes construídas 
e os espaços naturais. As margens das estradas, autopistas, vias férreas e outras infra-estruturas ; os 
traçados de infra-estruturas obsoletas, margens de rios e riachos, grandes equipamentos esportivos ou 
educativos com percursos interiores fechados ao público, praias, etc.,são só alguns exemplos de 
espaços que podem permitir a continuidade desejada. Nos Estados Unidos, este tipo de espaço público 
é o mais solicitado pelos cidadãos, tal como explica Arturo Soria em seu artigo “O passo seguinte”, onde 
analisa a política de criação das greenways (vias verdes) que permitem aos cidadãos sair da cidade a 
pé, a cavalo ou de bicicleta, quer dizer, sem necessidade de recorrer ao automóvel.36 
 
As dimensões de uma união verde como passeio são variáveis e dependerão sempre das 
disponibilidades físicas ou das previsões urbanísticas. Uma união verde pode reduzir-se a um passeio 
de cinco metros de largura ao longo de algumas centenas de metros, ou pode converter-se em um 
autêntico corredor verde de largura suficiente e uns poucos quilômetros de comprimento. Não há regras 
estritas, mas os espaços de mais de trinta metros de largura que garantissem a continuidade ao longo 
do território começam a constituir umas vias eficientes. 
 
As uniões verdes se entenderão basicamente como espaços arborizados que também poderão exercer 
funções de drenagem das águas da cidade. Será essencial a continuidade dos percursos para 
pedestres e bicicletas, e, portanto, a boa resolução de todos os cruzamentos com o resto das infra-
estruturas. As uniões verdes poderão ser simples passeios urbanos ou aproximarem-se ao conceito de 
corredor ecológico, garantindo assim as continuidades naturais. A reconversão desses espaços em 
drenagens vistos da cidade permite aproveitar a água da chuva para criar espaços úmidos que 
passarão a formar parte do sistema de parques e do próprio sistema natural. As uniões verdes são uma 
peça a mais do sistema de percursos urbanos das cidades. 
 
Para ilustrar as possibilidades destes sistemas no marco dos entornos urbanos catalães, podemos 
empregar dois exemplos realizados desde a órbita municipal, mas que são uma boa contribuição para 
complementar a matriz ecológica metropolitana: o sistema de parques de Sant Cugat del Vallès e o 
corredor urbano do canal de Sant Climent em Viladecans. 
 
 
16. Parc del Monestir, sistema de parques de Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha, 1996. Batlle i Roig arquitectes. 
 
Ambos casos são propostas que intentam estabelecer um sistema de parques no interior da cidade 
aproveitando os vazios que a própria cidade gerou na ocupação do território. Estes vazios (talvegues 
em ambos casos) se converteram em novos espaços livres da cidade e dão lugar a umas continuidades 
para o pedestre antes inimagináveis. Estes sistemas de parques se converteram no melhor plano de 
ordenação para empreender o futuro desenvolvimento de ditas populações, e oferecem três vantagens 
claras: em primeiro lugar, se obtém muitos espaços livres para a cidade e se conservam os valores 
naturais do território original: em segundo, se permite o crescimento controlado da cidade com novos 
bairros que completam o contínuo urbano prévio e definem a forma perimetral do sistema de parques; e, 
 
35. Ver: Liaisons vertes em milieu urbain, Institut d’Aménegement et d’Urbanisme de La Région d’Ile-de-France, Paris, 1987. 
36. Soria, Arturo, “El paso siguiente”, em AA VV, La reconquista de Europa, Espacio público urbano 1980-1999, Centre de Cultura 
Contemporânea de Barcelona (CCCB), Barcelona, 1999. 
por último, se consegue uma sequência de espaços que conectam o interior da cidade com os espaços 
naturais próximos. A vinculação entre os novos crescimentos urbanos e o estabelecimento dos sistemas 
de espaços livres apresenta outra vantagem evidente porque possibilita o financiamento conjunto de 
todo o âmbito. 
 
No caso de Sant Cugat del Vallès, o embrião do sistema de parques permite um passeio que, por um 
parte, leva desde o centro da cidadeaté o parque agrícola de Torrenegra e o parque de Collserola e, por 
outra, até Sant Llorenç del Munt, através do hipotético corredor verde de Vallès. Vários espaços livres 
procedentes de operações urbanísticas independentes acabam formalizando um sistema de parques 
face a inexistência de um plano municipal a respeito. Espaços de tipologias diferentes acabam 
encontrando a unidade na continuidade da vegetação, até conseguir a unificação de um vale agrícola 
reconvertido em parque, os espaços livres de um novo bairro e o parque que acompanha um talvegue. 
 
 
17. Parc de La Marina, sistema de parques de Sant Climent, Viladecans, Barcelona, Espanha, 2008. Batlle i Roig arquitectes. 
 
Em Viladecans, os espaços livres gerados em torno do de Sant Climent permitem estabelecer um 
percurso entre o mar e a montanha que corta e une, simultaneamente, todo o município. Por um lado, 
se vinculam ao sistema do parque natural de Garraf e, por outro, para o mar, se põem em contato com 
o parque agrário do Llobregat e os espaços naturais do desta do rio Llobregat. O impulso municipal de 
recuperação do talvegue de Sant Climent se converte em um plano marcante que ordena todas as 
intervenções ao longo de seu curso. Um parque que se desenha desde a lógica dos sistemas naturais 
dos talvegues e que consegue desenhar um sistema de parques que atravessa toda a cidade; que 
aproveita todos os espaços que encontra para converter-se em uma união verde entre a montanha e o 
mar. Em ambos exemplos, o planejamento geral não previa estas opções, e os planejamentos parciais 
optaram por uns espaços livres desagregados e relacionados a partir de unas lógicas mais urbanas. O 
resultado é uma mostra da capacidade que têm estas idéias de ser transformadas em realidade 
mantendo todos os demais parâmetros urbanísticos. Ambos os sistemas de parques foram financiados 
pela iniciativa privada, mas com o controle municipal que supervisionava a execução. 
 
Os entornos com valor agregado 
 
Os entornos com valor agregado são o resultado do melhor estudo de impacto ambiental que podemos 
elaborar sobre as intervenções no território. São o resultado positivo de uma boa interação entre o 
programa concreto a implantar e as capacidades naturais da paisagem que o suportará. São um espaço 
livre que pode completar os conjuntos da matriz ecológica metropolitana e do sistema de espaços livres 
urbanos, para dar lugar ao jardim da metrópole.Estes entornos podem ser um valor agregado à intervenção concreta que se está realizando. 
Habitualmente, se considera que este tipo de intervenção sempre é nocivo para a paisagem que a 
suporta e que, por conseguinte, cabe determinar o impacto ambiental que produz para, mais tarde, 
poder praticar as correções necessárias. 
 
Em seu livro Que lo hermoso sea poderoso, Ramon Folch comenta: “O último episódio desse processo 
começa quando a obra civil se está terminando, se bem que pode continuar longo tempo depois de que 
esta esteja terminada: é a restauração de todas as feridas causadas. Se trata de fixar taludes, de 
regenerar zonas afetadas por armazenamentos e instalações temporárias, de construir passagens para 
animais que efetuam deslocamentos através do lugar, etc. Este processo se reduz demasiado 
frequentemente a uma jardinagem de circunstâncias que pouco tem a ver com uma verdadeira 
restauração global e que, ademais, sai ser cara de implantação e caríssima de manutenção: se destruiu 
desnecessariamente o que já havia e não custava nada, e se colocou o que não existia, vive mal e 
custa muito”.37 
 
Sem dúvida, os entornos com valor agregado aspiram ser algo mais que umas correções ambientais 
bem realizadas: querem ter sentido por si mesmos, converter-se em um fato paisagístico superior à 
intervenção concreta realizada. Se trata de atuar com energia com os materiais próprios da paisagem, 
evitando o desastre e desenhando a natureza com a confiança de que se está buscando um mundo 
melhor. Lewis Munford o explicava assim na introdução do famoso livro de Ian L. McHarg: “Ainda que se 
apresenta como uma chamada à ação, não está destinado aos que crêem nos programas intensivos ou 
nas soluções imediatas, senão melhor, o que nos oferece é um fresco caminho de pedrinhas sobre a 
paisagem já existente. Nessa obra encontramos os cimentos de uma civilização que, sem dúvida, 
recolocará um mundo contaminado, de terrenos maltratados pelos grandes deslocamentos de terra, 
dominado pelas máquinas, desumanizado, ameaçado por explosões e que,nesses momentos, está se 
desintegrando e desaparecendo ante nossos olhos. Ao apresentarmos esta impactante visão da 
exuberância dos elementos orgânicos e do deleite humano que a ecologia e o desenho ecológico 
prometem desentranhar, McHarg reaviva a confiança em um mundo melhor”.38 
 
Como sugere McHarg,39 da correta relação entre as intervenções e a natureza devem surgir estes 
valores agregados desejados. Os valores agregados destas intervenções poderiam ser os espaços 
livres que permitam efetuar uma integração correta do objeto correspondente no marco do projeto de 
paisagem daquele lugar. Estes espaços livres poderiam ser o entorno adequado para a correção 
necessária do impacto que se produz, ou o resultado de aproveitar a intervenção prevista como se si 
tratasse de um espaço livre. 
 
Em ambos casos, se trata de considerar o conjunto como uma só unidade de paisagem que agrupa a 
intervenção concreta e seu entorno. Esta unidade tenderia à gestão simultânea da intervenção e do 
entorno, de maneira que um e outro fossem elementos inseparáveis. Os entornos com valor agregado 
seriam os espaços livres dessas intervenções, mas também se relacionariam com o sistema global de 
espaços livres metropolitanos, cumprindo funções cívicas e ecológicas que complementam o conjunto. 
O projeto das infraestruturas e dos equipamentos necessários para obter ditos valores agregados dá 
lugar ao que antes temos denominado de infraestruturas verdes,uns híbridos de programas concretos e 
paisagem, uma nova tipologia do espaço livre. As infraestruturas verdes são os entornos com valor 
agregado que podem complementar o conjunto formado pela matriz ecológica metropolitana e o 
sistema de espaços livres urbanos. 
 
O Parc del Nus de La Trinitat e o Par del Tramvia, situados na envoltória de Barcelona,são dois 
exemplos das dificuldades intrínsecas da transformação das infra-estruturas em infra-estruturas verdes, 
dois exemplos onde o projeto dos entornos das infra-estruturas consegue corrigir as carências iniciais 
do projeto da própria infra-estrutura. O Parc del Nus de La Trinitat solta um parque no interior de um 
grande nó viário, enquanto que o Parc del Tramvia trata de conseguir uma nova paisagem sobre o 
traçado coberto de uma autopista. 
 
O Parc del Nus de La Trinitat é o entorno de uma infra-estrutura e uma paisagem em si mesmo, o 
resultado de um bom estudo de impacto ambiental da complexa infra-estrutura que deveria executar-se. 
Sem dúvida, o parque é o resultado de um projeto de paisagem que busca referências mais globais, 
com o objetivo de superar a complexidade do problemas e com a pretensão de obter um parque público 
para os bairros próximos. O parque é uma paisagem construída desde a topografia e a agricultura, mas 
também é uma estrutura complexa que tem a pretensão de organizar-se como um espaço livre em meio 
ao nó viário. A solução adotada trata de vincular este lugar com um suposto sistema geral de espaços 
exteriores, através da continuidade das diferentes fileiras de árvores que entram na cidade 
acompanhando as diferentes autopistas. O parque é uma infraestrutura verde e o resultado de enfrentar 
o projeto de um difícil ponto de conflito. 
 
O Parc del Tramvia ocupa os espaços que o planejamento havia reservado para a passagem de uma 
autopista. No momento da execução desta infraestrutura, as insistentes reivindicações municipais 
conseguiram que a autopista fosse construída de forma semienterrada, o que possibilitou a construção 
de um parque nos terrenos que ficaram liberados. O parque ocupa uns espaços desconexos e muito 
mal relacionados com os tecidos urbanos próximos, e trata de converter-se em um elemento de 
 
37. Folch, Ramon, Que lo hermoso sea poderoso, op. Cit. 
38. McHarg, Ian, op.cit. 
39. IBID. 
conectividade urbana entre as diferentes partes, transformando o lugar em um bosque metropolitano 
que poderia rastrear todo o traçado da autopista. O resultado final é um percurso verde que permite as 
conexões entre dois municípios e um bosque metropolitano que pose ir-se ampliando: um entorno de 
uma infraestrutura com uns valores agregados que os municípios podem seguir consolidando. 
 
 
18. Parc del Nus de La Trinitat, Barcelona, Espanha, 1993. Batlle i Roig arquitectes. 
19. Parc del Tranvia, Tiana-Montgat, Barcelona, Espanha, 2001. Batlle i Roig arquitectes. 
 
Ambos os projetos põem de manifesto as possibilidades das infraestruturas para levar espaços livres 
aos entornos urbanos que atravessam. As soluções adotadas só mostram uma parte das imensas 
possibilidades que poderiam se apresentar se si pudessem projetar as grandes infraestruturas desde a 
ótica das infraestruturas verdes. O projeto conjunto das infraestruturas e de seus entornos urbanos 
pode oferecer muitos valores agregados à cidade e ajudar a consolidar o sistema do jardim da 
metrópole. 
 
Os limites complexos 
 
Boa parte dos espaços que podem conformar o jardim da metrópole são frágeis, degradados e 
suscetíveis de ser utilizados para outros usos. Poderiam potenciar-se com valores ecológicos e 
agrícolas, mas a indefinição dos limites e a falta de concreção urbanística os converte em espaços de 
reserva para ocupações futuras. Os espaços urbanizados são habitualmente duros, fechados em si 
mesmo e se encontram incomunicáveis com a paisagem. Estes lugares têm espaços livres, mas quase 
sempre se projetam desde lógicas exclusivamente urbanas. Estão sempre perto de lugares com valores 
naturais, mas quase nunca se vinculam diretamente com eles. 
 
Os limites complexos pretendem aproximar estes dois tipos de espaços para evitar o isolamento 
habitual entre ambos. A aceitação da interdisciplinaridade entre ecologistas e urbanistas pode permitir 
conjugar estes dois mundos diversos, para tratar de conseguir o melhor de um e de outro. Frente à 
amnésia geográfica dos urbanistas e a oposição constante dos ecólogos,podem se colocar gestões 
integradas que tratem de ordenar o conjunto para potenciar os espaços ecológicos e melhorar os 
urbanizados. Os limites complexos promovem a urbanização correta dos espaços da ecologia e a 
naturalização dos espaços urbanizados. 
 
Os limites complexos são um intento de conciliação entre as duas situações antes enunciadas, um 
intento de encontrar uma paisagem coerente a partir do equilíbrio entre urbanistas e ecologistas. Como 
reclama Juan Manuel Fernández Alonso em seu artigo “A produção contemporânea da paisagem”: 
“Pode resultar alguma paisagem coerente do intento de conciliação e diálogo entre o novo 
geocentrismo – síntese da renovada preocupação pelo futuro da natureza e seus eco-sistemas – e o 
sistema econômico mundial, quando se enfrentam pela formalização do território? Isto é, 
provavelmente, a interrogação que a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo devem tratar de ir 
descobrindo”.40 
 
Os limites complexos são também a estratégia que nos pode permitir obter continuidades entre as 
diferentes partes da cidade, o elemento que “liga” o vazio e o cheio, e que permite pensar em uma 
cidade continua, no marco das novas condições metropolitanas; talvez seja o elemento que 
necessitamos para poder desenvolver corretamente o modelo em “mancha de azeite” que Manuel de 
Solà-Morales trata de recuperar quando polemiza sobre o modelo de metrópole universal.41 
 
Esta idéia de contigüidade de nossas cidades pode recuperar-se desde o desenvolvimento do que 
estamos denominando limites complexos. A contigüidade se obtém a partir de um bom desenvolvimento 
do grano pequeño, sem perder de vista os objetivos mais gerais. Os limites complexos são o resultado 
do trabalho conjunto nessas duas escalas: a geográfica, que trata de implantar um modelo de 
organização territorial, e a próxima, que nos permite construir com habilidade cada um dos lugares que 
tenha que se resolver. 
 
 
20. Ilustrações do artigo de Xavier Eizaguirre “El território como arquitectura”. 
 
Os limites complexos não se constroem desde a dupla visão habitual: aos que renunciam à escala 
grande por considerá-la impossível, e só confiam em sua ação individual, que frequentemente esquece 
qualquer globalidade, ou a de outros que pretendem traçar grandes idéias sobre os planos que 
formalizem o futuro da cidade, mas não confiam no projeto individual de cada uma das problemáticas 
colocadas. Os limites complexos se constroem desde o virtuosismo das distâncias curtas, desde o que 
Manuel de Solà-Morales compara ao jogo futebolístico defendido por Johan Cruyff, quando explica que 
nas distâncias curtas é onde se resolvem as grandes questões.42 
 
A nova estrutura da cidade poderá explicar-se desde a formalização desses limites complexos, uns 
limites que definirão a forma dos tecidos que compõem a cidade e o espaço livre, a cidade como 
conjunto de espaços construídos, o espaço livre como jardim da metrópole. 
 
O jardim da metrópole – como conjunto de interstícios da cidade e configurado desde a construção 
desses limites complexos – adquire a forma de uma estrutura lógica, similar às estruturas dos tecidos 
animais e vegetais. Esta estrutura coletará grande parte do existente, mas tratará de explicar uma forma 
nova. No fundo, se trata de uma revitalização da geografia existente, para dar passo a uma nova 
geografia da cidade. Como argumenta Xabier Eizaguirre em seu artigo “O território como arquitetura”, a 
arquitetura pode ter um papel importante na construção do território, ao mover-se além do campo 
analítico próprio da geografia e preocupar-se de propor, eleger ou discernir as opções a realizar.43 As 
imagens que acompanham este artigo resultam muito sugestivas pela capacidade que tenham os 
territórios de adquirir uma estrutura atual, e nos mostram as semelhanças das possibilidades da cidade 
com outros tecidos intersticiais. Os limites tradicionais entre espaço livre e cidade expressavam a 
relação buscada entre uma cidade compacta e um pedaço de natureza insertada em seu interior. Os 
novos assentamentos específicos que poderão implantar-se sobre o sistema de espaços livres, também 
 
40. Fernández Alonso, Juan Manuel, “La producción contemporânea del paisaje”, Circo, nº 44, Madri, 1997. 
41. Sola-Morales, Manuel de, “Contra El model de metròpoli universal”, em Español, Joaquim, Arquitectes em El paisatge, Col-legi d’Arquitectes 
de Catalunya, Girona, 2000. 
42. Ibid. 
43. Eizaguirre, Xabier, “El território como arquitectura”, DAU nº12 (Les escales del paisatge), Lleida, 2000. 
se resolverão através de uns limites concretos que expressam a relação estabelecida entre o novo uso 
e os espaços que conformam o jardim da metrópole. 
 
Em ambas situações, se busca a especificidade sem renunciar à contigüidade: na primeira , parque e 
cidade se unem e se separam com clareza, e estabelecem a transição de um mundo a outro; na 
segunda, o uso específico fica delimitado dentro do conjunto de espaços livres, separando os espaços 
com função concreta daqueles que definem o sistema. 
 
O espaço disperso tende a borrar todas as articulações entre interior e exterior. Em seu lugar, pode 
trabalhar-se a partir da transição que se articula mediante lugares intermediários definidos que 
permitem conhecer simultaneamente l mais significativo. 
 
No espaço livre pode produzir-se certa estratificação espacial, interpretável como uma sucessão 
escalonada de coisas dentro de coisas, onde os limites entre as partes acentuam o caráter da cada 
uma e ajudam a controlar a qualidade dos diferentes espaços da cidade. Robert Venturi falava do limite 
entre o interior e o exterior como um dos fatos básicos da arquitetura, que também poderia sê-lo da 
construção de nossas cidades: “O desenhar tanto desde fora para dentro como desde dentro para fora 
cria tensões necessárias que nos ajudam a fazer arquitetura. Já que o interior é diferente do exterior, o 
muro – o ponto de transição – passa a ser um fato arquitetônico. A arquitetura como muro entre o 
interior e o exterior é o registro espacial e o cenário do encontro entre as forças interiores e exteriores 
de uso e de espaço”.44 
 
As novas implantações requerem limites mais complexos, que permitam resolver corretamente a 
transição entre uns assentamentos habitualmente muito contundentes e uns espaços livres que se quer 
preservar. A disposição dos novos assentamentos residenciais nas margens da cidade construída 
permite conseguir uma transições de qualidade entre ambas paisagens e estabelecer assim uns limites 
complexos, atentos tanto ao programa concreto que se está resolvendo como ao entorno próximo que 
se quer integrar. 
 
Os limites complexos são o oposto dos indefinidos – o resultado da atual situação das cidades com um 
crescimento disperso que não valoriza os entornos próximos e com ocupações indiscriminadas atentas 
só aos programas imediatos –. Os limites indefinidos são também o resultado da extensão 
indiscriminada de infraestruturas e da crise evidente das agriculturas próximas, que abandonam 
territórios ante as novas expectativas. 
 
Os limites complexos têm a pretensão de ser uma alternativa aos limites indefinidos, sublimados por 
alguns como a aceitação da realidade dispersa das metrópoles. Os limites complexos são o resultado 
da investigação das possibilidades do espaço livre como elemento capaz de articular uma alternativa à 
facilidade com que se desenvolvem os limites indefinidos. 
 
O jardim da metrópole confia nos limites complexos para articular sua relação com a cidade e explicar 
sua vinculação com o território. Na atual situação das metrópoles, só um elemento como o espaço livre 
pode ser capaz de articular, organizar, definir, explicar e dar sentido à forma da cidade. Os espaços 
livres po0dem definir os novos limites da cidade. 
 
A proposta do jardim da metrópole trata de superar ao que parece a inevitável crise dos limites, para 
intentar controlar a dimensão metropolitana desdeo trabalho de ditos limites possíveis. Se a palavra 
metrópole sugere de imediato grandes manchas sobre um mapa, eixos e traçados de múltiplas estradas 
e trens, movimentos rápidos de pessoas e veículos, a nova proposta trata de obter a máxima superfície 
de contato entre o edificado e a natureza, e intenta promover a continuidade entre as partes: uma 
versão atual do que pode ser uma cidade contínua, espaços livres e espaços de circulação onde todo 
tipo de movimentos são tão importantes como a comunicação simbólica, visual, que expressa a escala 
geográfica do território.45 
 
Este modelo é perfeitamente compatível com um modelo de cidades compactas, distribuídas em 
unidades urbanas conectadas mediante uma rede de transporte público eficiente. Na fronteira dessas 
unidades urbanas – cidades com identidade própria – encontramos importantes zonas de transição, 
articuladas junto à cidade já consolidada e dos espaços suscetíveis de incorporar-se ao jardim da 
 
44. Venturi, Robert, Complexity and Contradiction in Architecture, Museum of Modern Art, Nova York, 1966 (versão espanhola: Complejidad y 
contrdicción en arquitectura, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1974). 
45. Ver: Sola-Morales, Manuel de, “Um nuevo Paseo de Gràcvia”, op. Cit. 
metrópole. Nessas áreas de transição encontramos enormes possibilidades de crescimento para as 
cidades, mas também a chave que, portanto, permite evitar uma maior dispersão da urbanização pelo 
território. O projeto destas transições, do limite complexo entre a cidade e o jardim da metrópole, pode 
resultar o melhor plano de ordenação territorial, posto que consegue integrar em uma só operação três 
vantagens claras. Em primeiro lugar, se consegue revitalizar o valor da matriz ecológica metropolitana, 
porque define com acerto os limites e os acessos. Em segundo, se trata de um valor acrescentado para 
cada projeto urbano, porque lhe confere seu sentido desde as virtudes dos espaços livres. E, por último, 
o projeto desses limites complexos trará novos espaços livres ao projeto do jardim da metrópole, novos 
parques ou novos jardins temáticos, situados entre cada uma das unidades urbanas que constituem o 
fato metropolitano e o conjunto de espaços que compõem o jardim da metrópole. 
 
Os limites complexos explicam a vinculação entre a nova cidade sustentável e seu jardim da metrópole. 
Os limites complexos nos podem permitir enfrentar a dispersão e a fragmentação das cidades mediante 
a hibridação dos diversos usos e a conectividade entre as diferentes partes, tal e qual descreve Nan 
Ellin em seu artigo “Slash City”.46 
 
O jardim da metrópole pretende, talvez de forma atrevida, ser uma opção cultural sobre a metrópole. 
Em palavras de Manuel de Solà-Morales, 47 o jardim da metrópole também é um espaço unitário e 
aberto: a imagem visível da continuidade da cidade. O novo estrato que constrói o jardim da metrópole 
é o novo modelo de espaço livre para conseguir uma cidade sustentável, e pode chegar a ser a idéia 
que condense e defina a nova forma da metrópole. 
 
 
 
 
 
 
 
 
46. Ellin, Nan, “Slash City”, Lótus, nº 110, Milan, 2001. 
47. Sola-Morales, Manuel de, “Um nuevo Paseo de Gràcia”, op. Cit.

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