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i Barbara Correia Neves Qualidade de vida de idosos residentes em um município de pequeno porte do interior de São Paulo CAMPINAS 2014 ii iv v vi vii Resumo As mudanças demográficas e epidemiológicas nos levam a refletir sobre o que traz qualidade de vida na velhice, não só para idosos da comunidade, mas principalmente para aqueles mais vulneráveis, como os institucionalizados. Objetivo: Avaliar e comparar a qualidade de vida de idosos institucionalizados e não institucionalizados residentes em um município de pequeno porte do interior do Estado de São Paulo. Métodos: Foram entrevistados 21 idosos de uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) e 322 da comunidade. Aplicaram-se os questionários de qualidade de vida WHOQOL–BREF e WHOQOL-OLD e realizou-se levantamento de dados sócio demográficos e do estado de saúde. Na comparação dos escores dos domínios de ambos os instrumentos utilizou-se a Análise de Variância e o teste post-hoc de Tukey, para as amostras independentes utilizou- se o teste “t”. Testes com nível de significância de 0,05. Resultados: Predominaram as seguintes características: mulheres na comunidade (61,8%), homens na ILPI (71,43%), nível fundamental de escolaridade (77,95%) na comunidade e 85,71% na ILPI; idosos casados (65,53%) na comunidade e 28,57% na ILPI. A participação e frequência a clubes e associações foram relatadas por 75,78% de idosos da comunidade e 61,90% da ILPI. Para aos instrumentos utilizados os idosos da comunidade obtiveram maiores escores que os institucionalizados. Idosos da ILPI que frequentavam clubes e associações obtiveram maiores escores em todos os domínios de QV dos dois instrumentos e a renda mensal obteve significância estatística para maiores escores em idosos da comunidade. No WHOQOL-BREF a maior pontuação obtida pelos idosos da comunidade foi no domínio psicológico (70,83) e a menor no domínio físico (60,71). Para os da ILPI a maior pontuação foi para o domínio psicológico (58,33) e os menores no domínio social e nas questões gerais (50,0). Na avaliação pelo WHOQOL-OLD para os idosos institucionalizados o domínio morte e morrer apresentou o menor score (12,50), para os idosos da comunidade este foi o domínio de maior pontuação (81,25). Conclusão: Os achados do estudo evidenciaram que idosos institucionalizados apresentaram piores escores de QV comparativamente aos da comunidade revelando que a inclusão social e participação em diferentes atividades contribuem significativamente para a melhoria da qualidade de vida. Descritores: qualidade de vida, envelhecimento, idoso, instituição de longa permanência para idosos. viii ix Abstract Demographic and epidemiological changes lead us to reflect on what brings quality of life in old age, not only to community-based elderly, but, more importantly, to the most vulnerable, the institutionalized individuals. Objective: To evaluate and compare the quality of life of institutionalized and non-institutionalized elderly in a small city in the state of São Paulo. Methods: Twenty-one people in a long-term care facility for the elderly (LTCF) and 322 living in the community were interviewed. The WHOQOL-BREF and WHOQOL-OLD quality of life questionnaires were applied and sociodemographic and health status variables were recorded. Analysis of variance tests was used to compare scores of the domains of both instruments; the post-hoc Tukey test was used when the p- value <0.05. The t-test was used for independent samples. The level of significance was set at 0.05 in all statistical tests. Results: The following characteristics prevailed: women in the community (61.8%), men in LTCF (71.43%); elementary education, 77.95% in the community and 85.71% in LTCF; married people, 65.53% in the community and 28.57% in LTCF. Participation and attendance in clubs and associations was reported by 75.78% and 61.90% of the community-based and LTCF elderly, respectively. Moreover, community- based elderly had higher scores than institutionalized individuals according to the instruments used. LTCF elderly who participated in clubs and associations had higher scores in all QOL domains of the two instruments and monthly income was associated with higher scores in community-based elderly. The highest score obtained by non- institutionalized elderly in the WHOQOL-BREF was for the psychological domain (70.83) and the lowest score for the physical domain (60.71). For the LTCF elderly, the highest score was for the psychological domain (58.33) and the lowest for the social domain and general issues (50.0). While the lowest scoring domain of the WHOQOL-OLD for institutionalized elderly was death and dying (12.50), it was the highest scoring domain (81.25) for the community-based elderly. Conclusion: The study findings show that institutionalized elderly have worse quality of life scores compared to community-based individuals demonstrating that social inclusion and participation in different activities contribute significantly to improving the quality of life. Keywords: Quality of life, aging, aged, homes for the aged. x xi Sumário Agradecimentos Lista de Abreviaturas e Siglas Lista de Tabelas 1- Introdução 1.1 Contextualização 1.2 Qualidade de vida 1.3 Qualidade de vida do idoso 1.4 Instrumentos de medida de Qualidade de Vida 1.5 A institucionalização de idosos 2- Objetivo 2.1 Objetivo geral 2.2 Objetivos específicos 3- Material e Métodos 3.1 Tipo de estudo 3.2 Campo de estudo 3.3 Sujeitos 3.4 Instrumentos de coleta de dados 3.5 Procedimentos 3.6 Análises estatísticas 3.7 Aspectos Éticos xiii xv xvii 1 2 5 9 12 16 16 17 17 19 20 22 22 23 xii 4- Resultados 4.1 Dados sócio demográficos 4.2Qualidade de vida segundo WHOQOL-BREF 4.3 Qualidade de vida segundo WHOQOL-OLD 5- Discussão 6- Conclusões 7- Considerações finais 8- Referências Bibliográficas 9- Anexo Anexo I- Parecer Comitê de ética em Pesquisa (CEP) Anexo II - WHOQOL-BREF Anexo III- WHOQOL-OLD 10- Apêndices 9.1 Termo de consentimento livre e esclarecido 9.2 Questionário sóciodemográfico 24 26 33 40 43 44 45 50 53 55 60 61 xiii Agradecimentos Agradeço á minha família. Mamãe e Carlinhos pelo apoio e incentivo incondicional durante toda minha caminhada da graduação até a pós-graduação. Ao meu irmão Thiago Neves, quem primeiro me instigou sobre pesquisa científica e me incentivou a buscá-la logo em meu primeiro ano de graduação sem poder imaginar que por esta eu me apaixonaria e chegaria a esta dissertação de mestrado. Ao meu esposo Carlos Eduardo Sabino por todo auxílio, incentivo incondicional e companheirismo nessa caminhada. A minha orientadora Profa. Dra. Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt primeiramente por me escolher e me aceitar como orientanda e também por toda sua atenção, obrigada pela acolhida e pelos ensinamentos. Á Profa Dra Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler exemplo de perseverança e luta. Obrigada por ser minha inspiração para buscar e insistir em meus sonhos buscando aprender mais e com humildade. Aos docentes, discentes e coordenação do Programa de Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da Universidade Estadual de Campinas, pela dedicação, partilha de seus conhecimentos interdisciplinares que muito enriqueceram meu aprendizado. As minhas queridas colaboradoras na coleta de dados: Maria Cristina, Carla Luciana, Syrléia Santos, sem vocês não teria alcançado a amostra necessária. Á todos os idosos que participaram desta pesquisa, obrigada pela disposição, disponibilidade simpatia e acolhida. Á banca examinadora, pela atenção, orientação e pelo pronto aceite ao convite. xiv xv Lista de Abreviaturas e Siglas AVD: Atividades de Vida Diária ILPI: Instituição de Longa Permanência para idosos IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OMS: Organização Mundial de saúde ONGS: Organizações não governamentais PNI: Política Nacional do Idoso PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios QV: Qualidade de Vida SUS: Sistema Único de Saúde SM: Salário Mínimo TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido WHOQOL-BREF: Instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde. WHOQOL-OLD: Instrumento de avaliação de qualidade de vida para idosos da Organização Mundial de Saúde. xvi WHOQOL Group: Grupo de estudo de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde. QVRS: Qualidade de vida relacionada a saúde. xvii Lista de Tabelas Tabela 1- Variáveis sócio demográficas, General Salgado 2014. Tabela 2. Variáveis de saúde, General Salgado, 2014. Tabela 3. Médias e Mediana dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF dos idosos, General Salgado 2014. Tabela 4. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF de acordo com o sexo dos idosos, General Salgado 2014. Tabela 5. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF de acordo com à frequência e participação em clubes e associações, General Salgado, 2014. Tabela 6. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF em relação à renda mensal dos idosos não institucionalizados, General Salgado, 2014. Tabela 7. Médias e Mediana dos escores dos domínios do WHOQOL-OLD dos idosos, General Salgado 2014. Tabela 8. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-OLD de acordo com o sexo dos idosos, General Salgado 2014. Tabela 9. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-OLD de acordo com à frequência e participação em clubes e associações, General Salgado, 2014. Tabela 10. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-OLD em relação à renda mensal dos idosos não institucionalizados, General Salgado, 2014. 25 26 27 28 30 32 33 35 37 38 xviii Tabela 11. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-OLD em relação à saída dos idosos da ILPI para atividades de lazer, General Salgado, 2014. 39 1 1.Introdução 1.1 Contextualização Envelhecer não é mais privilégio de poucos, é um fenômeno mundial. O envelhecimento populacional em países desenvolvidos/industrializados vem ocorrendo desde o início do século XIX concomitantemente com maior incidência e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que sem o devido acompanhamento e controle aumentam o número de pessoas incapacitadas e dependentes de cuidados de longa duração. 1 Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2013) mostram que o número de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 55% entre 2001 e 2011. Isso significa que a população idosa passou de 15,5 para 23,5 milhões de pessoas em dez anos no Brasil. Com isso os idosos passaram a representar cerca de 10% da população total brasileira, que é de aproximadamente 195 milhões de pessoas. 2 De acordo com o IBGE, as mulheres idosas são maioria, assim como a população feminina em geral. Elas representam 55,7% das pessoas com pelo menos 60 anos de idade, contra 44,3% de homens e apresentam incapacidades de saúde superior, provavelmente por terem em média uma vida mais longa que a dos homens. Aproximadamente 84% dos idosos brasileiros vivem em regiões urbanas do país, enquanto somente 16% estão em áreas rurais. Outro dado significativo é que apesar da idade avançada, 63,7% dos idosos continuam sendo pessoas de referência na família, ou seja, responsáveis pela manutenção das condições no domicílio, contudo 14,4% dos idosos brasileiros vivem sozinhos, sem parentes, parceiros, filhos ou agregados. Os dados também revelam que 76,8% deste grupo recebe algum tipo de beneficio da previdência social. Idosos mais dependentes vivem em instituições de longa permanência para idosos (ILPI), o que pode implicar na diminuição da autonomia e do contato social dos mesmos. 3 Com a expansão mundial das mudanças demográficas e epidemiológicas cresceu em toda a comunidade científica a necessidade e o interesse em se pesquisar a qualidade de vida (QV) das pessoas idosas, a fim de se conhecer os fatores que influenciam no envelhecimento com qualidade para com isto se estabelecer metas e politicas que proporcionem bem estar na velhice. No Brasil o Ministérioda Saúde incluiu a saúde do 2 idoso como item prioritário na agenda de saúde do país com objetivo de garantir atenção integral a essa parcela da população, enfatizando a importância do envelhecimento saudável e ativo. Para tanto, foi instituída a Política Nacional do Idoso – PNI – (lei 8.842/2004), considerada uma das mais avançadas do mundo, com um projeto amplo com vistas a atingir a melhoria da qualidade de vida do idoso em todos os aspectos. Tal política objetiva promover ações setoriais integradas, em que organizações não governamentais (ONGs) e ministérios em conformidade com suas atribuições, viabilizem programas sociais, focalizando o bem estar da população idosa em todas as esferas, sua integração social, dando agilidade nas opções de atendimento às pessoas em processo de envelhecimento. 4,5 Entre outras coisas, a PNI assegura a assistência asilar aos idosos, sendo que a mesma deve ser prestada pela União, por estados e municípios. Devido às mudanças demográficas, epidemiológicas e sociais citadas anteriormente houve um crescimento na assistência asilar para idosos tornando necessário a realização de estudos que enfatizem a população residente em tais instituições, a fim de melhor conhecer suas características, necessidades na busca de otimizar formas de atenção ao idoso institucionalizado.6 1.2 Qualidade de vida Historicamente, os primeiros estudos relacionados à percepção subjetiva de satisfação com a vida ocorreram em 1953, com trabalhos do psicólogo Harvard Jones seguido por Guryn e colaboradores. Para tais estudiosos, a satisfação ou felicidade na vida tem duas dimensões, uma positiva e outra negativa, importando não só a presença da primeira, mas também a ausência da segunda. Apesar destes estudos iniciais, a primeira citação do termo qualidade de vida ocorreu apenas em 1966, quando Elkinton publicou um editorial intitulado “Medicina e qualidade de vida,” no qual criticava o modelo médico assistencial vigente, que não se preocupava com o bem estar e satisfação dos pacientes. Subsequentemente foram surgindo estudos agregando análises de medidas subjetivas de bem estar e satisfação em avaliações de saúde. 7 Não existe apenas uma definição para o construto qualidade de vida (QV), já que decorre de muitos pontos de vista, que variam nas diversas épocas, em diferentes países, culturas, posições sociais e de indivíduo para indivíduo, além de sofrer influência do estado de espírito e do humor de uma mesma pessoa. 3 Para Bowling (1995), Qualidade de vida é um conceito amorfo, utilizado por muitas disciplinas – geografia, literatura, filosofia, publicidade, economia, promoção de saúde, ciências médicas e socias (p.ex.;sociologia e psicologia). É um conceito vago; é multidimensional e incorpora, teoricamente, todos os aspectos da vida humana (‘...’) 8 Para Minayo et al (2000), O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da realidade cultural (‘...’) 9 Embora não haja um consenso a respeito do conceito de qualidade de vida, a Organização Mundial de Saúde através de um grupo de especialistas de diferentes culturas propôs três aspectos fundamentais referentes ao construto qualidade de vida, são eles: subjetividade, multidimensionalidade e bipolaridade (inclusão de dimensões positivas e negativas). O desenvolvimento destes elementos conduziu à definição de qualidade de vida como: A percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (‘...’) (The WHOQOL Group – 1994) 10 A partir da necessidade e da importância de se medir QV e da carência de instrumentos que avaliassem a QV em contexto transcultural a OMS com o grupo WHOQOL desenvolveu na década de 90 primeiramente um instrumento genérico de avaliação de QV: o QHOQOL-100. Tal instrumento foi elaborado e desenvolvido por especialistas de diversas culturas, em 15 diferentes centros, com objetivo de torná-lo o mais transcultural possível. O reconhecimento da multidimensionalidade do construto refletiu-se na estrutura do instrumento baseada em 6 domínios: domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, meio-ambiente e espiritualidade / religião / crenças pessoais. 4 Após uma série de análises psicométricas do desempenho dos itens deste instrumento o grupo WHOQOL desenvolveu a versão abreviada do instrumento, o WHOQOL-BREF permitindo o desempenho em ótimos níveis e facilitando a aplicação do mesmo. Partindo-se destes instrumentos o grupo WHOQOL passou a envolver-se na elaboração de instrumentos específicos de avaliação de QV para grupos específicos como, por exemplo, os idosos. Em virtude do aumento da população idosa mundial elaborou-se o WHOQOL-OLD, específico para população com mais de 60 anos de idade. 11,12 As características do construto QV descrita pelo grupo WHOQOL são subjetividade, a multidimensionalidade e bipolaridade. A subjetividade se dá uma vez que a percepção de sua posição na vida é individual e depende da forma com que o sujeito se vê, se entende, se percebe. A multidimensionalidade refere-se ao fato que no mínimo as dimensões física, psicológica e social são essenciais para a mensuração da QV. E a bipolaridade, a partir das dimensões positivas e negativas o que enfatiza a percepção do indivíduo em sua QV. A literatura acrescenta a temporalidade, complexidade e mutabilidade, pois como já dito a QV varia com o tempo, pessoa, lugar, contexto social, estado de espírito e humor. 13 São utilizados dois modelos de avaliação de QV: o funcionalista e o de satisfação. O modelo funcionalista enfoca a função do indivíduo enquanto capacidade de realizar tarefas de modo satisfatório, por meio de suas atividades de vida diária. Já o modelo de satisfação depende da expectativa subjetiva do indivíduo e de seu nível de satisfação consigo mesmo e com tudo que o rodeia, do que ele espera de si mesmo enquanto sujeito e de como pretende realizar suas tarefas somado ao que ele entende ou espera como satisfatório. As críticas ao modelo funcionalista devem-se ao fato de que pesquisas qualitativas mostram que indivíduos com diminuição da funcionalidade e com graves doenças relatam sua qualidade de vida como excelente ao contrário da percepção de observadores externos. Isto revela que a busca pela qualidade de vida vai além do campo de intervenção em saúde, pois abrange políticas sociais, noção de direitos e cidadania sendo assim uma questão coletiva e não apenas individual. 14,15 Proporcionar qualidade de vida à população demanda a integração de vários setores, como o social, o político, a saúde, a previdência e envolve questões de gênero, desigualdades e demais determinantes sociais. Fatores intrínsecos como genética e gênero, 5 e extrínsecos como estilo de vida, engajamento social influenciam no aumento da probabilidade de viver mais com uma maior qualidade de vida. Fatores intrínsecos não podem ser modificados, contudo os extrínsecos são modificáveis, pois ao se levar uma vida mais saudável, abandonando hábitos nocivos, pode-se melhorar a qualidade de vida na velhice. E é justamente atuando nos fatores extrínsecos que os governos, a sociedade e os profissionais dedicados à gerontologia conseguirão resultados significativos. 16,17 As desigualdades em saúde e as vulnerabilidades são geradas pelos efeitos das mudanças demográficas, pelas condições de vida e trabalho e pelo comportamento e estilo de vida de maior risco. Doenças crônicas e deficiências em idosos tendem a ser resultantes das condições de saúde no curso da vida, no modo como esse indivíduo conduziu seuestilo de vida e também de seus determinantes sociais. 18,19,20 1.3 Qualidade de vida do idoso A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) define envelhecimento como: “um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte”. 21 Existem várias maneiras de ser velho e diferentes padrões de envelhecimento. À medida que as pessoas envelhecem, as mudanças físicas e as perdas biológicas se acentuam. O que se diferencia no envelhecimento, além do estilo de vida com que esta pessoa manteve em sua juventude, são principalmente as formas com que cada idoso lida individual e socialmente com o envelhecimento e com as perdas e os diferentes modos de se ver, se aceitar nesta fase do ciclo vital que caracterizam a qualidade de vida na velhice. 22 Estudos sobre qualidade de vida no envelhecimento tiveram início na década de 40 na escola de Chicago. Para os pesquisadores envelhecer bem engloba estar satisfeito com o estado atual de sua vida e ter planos para o futuro, o que direcionou os estudos dessa área para a percepção da satisfação. Em 1960 o Kansas City Studies of adult life investigou os efeitos da participação em atividades sobre o envelhecimento bem sucedido. Estudos mais 6 atuais investigam as funções das redes sociais no envelhecimento e mostram que estas são capazes de diminuir os impactos emocionais negativos na velhice. 14 Para Lawton (1991), “qualidade de vida na velhice é uma avaliação multidimensional referenciada a critérios sócio normativos e intrapessoais, a respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo maduro ou idoso e o seu ambiente”. 23,24 O construto de QV proposto por Lawton compreende quatro dimensões sobrepostas e inter relacionadas: condições ambientais, competência comportamental, QV percebida e bem estar subjetivo. A competência comportamental abrange a avaliação do funcionamento do indivíduo no tocante à saúde, funcionalidade, cognição, comportamento social e utilização do tempo. Condições Ambientais diz respeito ao contexto ecológico construído e tem relação direta com a competência comportamental. A qualidade de vida percebida é a avaliação subjetiva que a pessoa faz de seu funcionamento em qualquer domínio das competências comportamentais (como saúde percebida, etc.) E o bem-estar subjetivo reflete a avaliação pessoal sobre o conjunto e a dinâmica das relações entre as três áreas precedentes, gerando indicadores cognitivos (como graus de satisfação) e emocionais (como estados afetivos). O construto de Lawton auxilia o processo de investigação e intervenção nos mais diversos âmbitos, principalmente devido ao foco no senso de ajustamento entre o indivíduo e seu meio, gerando, por exemplo, provisão de serviços de adequação ambiental.25 Em 1995 Bowling investigou a qualidade de vida em diferentes faixas etárias e determinou que conforme envelhecemos as respostas de satisfação com a vida aumentam gradualmente apontando para a necessidade de instrumentos específicos e diferenciados para abordar esta população em particular. Farquhar (1995) por meio de questões abertas identificou definições de QV em indivíduos acima de 65 anos. Os idosos estudados identificaram como determinantes da QV em ordem de importância: o contato social, saúde\mobilidade\habilidade, circunstâncias materiais, e atividades. 14 Em 1999 iniciou-se o projeto WHOQOL-OLD com intuito de investigar quais questões influenciavam na qualidade de vida dos idosos e que não estavam sendo estudadas 7 pelos questionários já existentes. Foi desenvolvido, então, de forma transcultural o WHOQOL-OLD como instrumento de uso adicional ao WHOQOL-BREF quando a população alvo for idosos. 26 A perspectiva do envelhecimento ativo é a que atualmente norteia o programa da Organização Mundial da Saúde (OMS). O conceito é definido como “o processo de otimizar oportunidades para saúde, participação e segurança de modo a realçar a qualidade de vida na medida em que as pessoas envelhecem”. Na visão dos formuladores, este conceito adotado a partir da década de 1990 é mais inclusivo que envelhecimento saudável, na medida em que seu fundamento é o sentido de participação e não somente a habilidade para manter-se fisicamente ativo ou inserido na força de trabalho. A participação é pensada em sentido abrangente, na família, em assuntos sociais, econômicos, cívicos, culturais e espirituais, e como uma possibilidade também dos idosos portadores de doença ou incapacidade. Propõe a abordagem do curso de vida para o envelhecimento ativo, ou intervenções que criem ambiente de suporte e favoreçam escolhas saudáveis em todos os estágios da vida, bem como a possibilidade de prevenir ou postergar o surgimento de doenças não transmissíveis, principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade de idosos em todo o mundo. 27 Estudos apontam que a percepção dos indivíduos quanto a sua qualidade de vida é diretamente afetada por seu estado psicológico, suas relações sociais, sua interação com o meio ambiente, sua saúde física sendo ainda influenciado pelos valores individuais e da sociedade em que ele vive. Com os idosos pode-se observar que os mesmos apontam a saúde e mobilidade como mais importantes que bens materiais e trabalho, o contrário do observado em adultos jovens, o que mostra que os domínios considerados importantes para a qualidade de vida mudam com a idade. 28,29 Para melhor compreender qualidade de vida e envelhecimento ativo é preciso entender o envelhecimento bem sucedido, conceito muito utilizado na gerontologia. Trata- se de um conceito subjetivo, relacionado à individualidade e às diferenças sócioculturais. O conceito de envelhecimento bem-sucedido tem sido discutido sob a perspectiva biomédica na qual o sucesso depende da presença ou ausência de patologias e a psicossocial em que o sucesso depende das condições mentais, da aceitação e da satisfação com a vida. Estudiosos dessa linha defendem a necessidade de ampliar o conhecimento dos critérios de auto 8 avaliação do envelhecimento bem-sucedido, particularmente através da realização de entrevistas qualitativas com os idosos. 30 Em 1987 Rowe e Kahn, propuseram a distinção entre o envelhecimento típico e o bem-sucedido, defendendo que o último é caracterizado pela probabilidade baixa de doenças e de incapacidades relacionadas às mesmas, alta capacidade funcional, cognitiva e física e engajamento ativo com a vida. Essa noção de envelhecimento bem-sucedido considera a existência dos déficits cognitivos e fisiológicos associados à idade que são geneticamente determinados, mas pressupõe também que algumas condições podem ser modificadas. Segundo estes autores desvalorizar a heterogeneidade individual e cultural reduz a importância da interação dos fatores biopsicossociais no envelhecimento, e propõem que as condições de envelhecimento saudável, patológico e bem-sucedido sejam consideradas trajetórias em um continuum que pode tender para o declínio ou para a reversão e minimização de perdas por meio de intervenções. Através de pesquisa realizada com idosos na Itália, Motta et al. (2005) concluíram que há dificuldade de preenchimento do terceiro critério de Rowe e Kahn (1997) para os indivíduos em idade avançada, pois, apesar da longevidade e boa condição de saúde, esses centenários não poderiam ser considerados bem-sucedidos segundo o modelo. 31 Baltes (2000) propõe que o envelhecimento bem-sucedido pode ser alcançado por uma sequência de seleção, otimização e compensação (SOC). A etapa da seleção consiste no direcionamento eletivo do desenvolvimento, incluindo a escolha das estruturasdisponíveis para a obtenção satisfatória de metas. Essas metas são redefinidas conforme a repercussão das perdas nas atividades individuais e sociais. A otimização é o processo de potencializar os meios selecionados para o percurso, envolvendo o uso de recursos internos e externos para que o resultado seja eficiente. A compensação associa-se à otimização e se caracteriza pela aquisição ou ativação de novos meios e aprendizagens para compensar o declínio que coloca em risco a funcionalidade efetiva. O foco deste conceito é a busca contínua de uma maneira efetiva de lidar com as perdas por meio de estratégias psicológicas, alocando-se recursos internos e concretos se aproximando de uma teoria de desenvolvimento adaptativo. Pra Lupien e Wan (2004) a não inclusão das variáveis biológicas limita a aplicação do modelo SOC porque os atributos resiliência e enfrentamento variam também em função da saúde física e cognitiva. 9 Riley e Riley (1994) enfatizam que há necessidade de se considerar o desenvolvimento humano, observando os aspectos ambientais, sociais e históricos da vida pessoal. Os autores propõem que o dinamismo do envelhecimento humano se encontra à frente das mudanças estruturais, havendo uma “defasagem estrutural”. Segundo esses pesquisadores, o modelo atual que organiza a sociedade por faixas etárias deverá transformar-se em uma sociedade integrada pela idade. Enfim, Kahn (2002) observa que os modelos de Rowe e Kahn (1987), Baltes e Baltes (1990) e Riley e Riley (1994) podem ser complementares. O primeiro enfatiza a possibilidade de os indivíduos manterem e melhorarem a capacidade física e mental, enquanto o segundo considera a importância da satisfação com a vida, a participação social e os recursos psicológicos. O terceiro estabelece que as sociedades podem proporcionar oportunidades de envelhecimento bem-sucedido ao implementarem recursos externos por meio de políticas públicas. 31 Por apresentarem maior número de doenças e incapacidades os idosos acabam por demandarem mais atenção dos serviços de saúde, contudo a saúde do idoso no Brasil ainda se mostra ineficiente e de alto custo. Para tornar os programas de saúde mais eficientes e aumentar a adesão aos mesmos seria necessário priorizar a manutenção da capacidade funcional dos idosos com ações preventivas de saúde e educação com cuidados qualificados, integrais e multidimensionais, com foco em agregar qualidade aos anos adicionais de vida, levando-se em conta a capacidade funcional, autonomia, participação e atuação social, autocuidado e autossatisfação. 32,33 1.4 Instrumentos de medida de Qualidade de Vida A partir da década de 1970 o crescimento do número de pesquisas e artigos referentes à mensuração da qualidade de vida resultou na inclusão do termo “qualidade de vida” como palavra-chave no Medical Subject Heading (MeSH) da US National Libray of Medicine (PubMed). Nas últimas décadas, o número crescente de publicações nessa área tem demonstrado o interesse pela Qualidade de Vida. Inicialmente na década de 1970, os pesquisadores se concentraram na construção e no desenvolvimento de instrumentos que buscavam quantificar a QV. Entretanto com a elaboração do Quality of Well Being Scale 10 (QWB), em 1973, as funções dos instrumentos de avaliação foram ampliadas, incorporando julgamentos de valor na avaliação do status de saúde ou nos resultados do tratamento. 34 Os instrumentos de mensuração de QV existentes podem ser divididos em genéricos e específicos, sendo os genéricos multidimensionais, possibilitando a mensuração de diversos aspectos como capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, emocionais e saúde mental. Geralmente são aplicados em vários tipos de doenças, intervenções médicas, tratamentos e em culturas e lugares diferentes. Os instrumentos específicos, em geral, avaliam diversos aspectos quanto à percepção geral da qualidade de vida, entretanto sua ênfase é sobre os sintomas, incapacidades ou limitações. A carência de ferramentas que avaliassem a qualidade de vida na perspectiva transcultural levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) na década de 90 a criação do instrumento WHOQOL-100, posteriormente a versão abreviada deste instrumento o WHOQOL-BREF e o módulo adicional para mensurar QV em idosos o WHOQOL-OLD. Todos estes instrumentos foram traduzidos e validados no Brasil. 17 Além dos instrumentos do grupo WHOQOL outros também foram traduzidos e validados no Brasil. Em 1987 um grupo de pesquisadores de diferentes países da Europa se reuniu para desenvolver um instrumento genérico que possibilitasse descrever e medir a qualidade de vida. O instrumento EUROQOL (EQ-5D) foi desenvolvido e modificado com o passar dos anos, atualmente é constituído por duas partes, uma destinada à medição de saúde do indivíduo, e outra destinada a avaliar estados de saúde. O EUROQOL possui cinco dimensões: mobilidade, cuidados pessoais, atividades habituais, dor/mal estar, ansiedade/depressão e costuma ser utilizado para evolução de saúde de pacientes ao longo do tempo. 34 A criação do instrumento SF-36 baseou-se numa revisão de diversos instrumentos já existentes na literatura, nos últimos 20 anos, que avaliavam alterações e limitações em várias dimensões como capacidade funcional, aspectos sociais, saúde mental e percepção geral da saúde. Para os autores do instrumento, a maior dificuldade no desenvolvimento do SF-36 foi à seleção dos oito conceitos de saúde, entre mais de 40 conceitos e escalas analisadas pelos estudos de avaliação de saúde. Alguns conceitos foram seriamente considerados, mas não escolhidos, como por exemplo, a função sexual e os distúrbios do 11 sono. O SF-36 é um questionário genérico de avaliação de QV composto por 36 questões divididas em 9 domínios: 1) atividade física, 2) atividade social, 3)limitações pela incapacitação física, 4) limitações pela capacidade emocional, 5) saúde mental, 6) vitalidade,7) dores, 8) percepção da saúde em geral e 9) percepção da melhora do problema específico na saúde. A pontuação varia de 0 a 100 e quanto maior o número significa melhor saúde e menos dor. 35 Cabe ainda destacar o uso do 12-Item Short Form Health Survey (SF-12) para avaliação de qualidade de vida relacionada a saúde em estudos populacionais, afim de comparar o estado de saúde entre grupos de pacientes com as mesmas condições clínicas, rastrear problemas de saúde e identificar fatores que levam a alterações do estado de saúde. Desde sua elaboração, em 1994, o SF-12 tem se mostrado um instrumento breve e de rápida aplicação, com o seu preenchimento em torno de dois a três minutos. Este instrumento apresenta as medidas psicométricas do SF-36, com uma acurácia de 90%. A análise dos resultados do SF-12 é realizada mediante a atribuição de escores que são resumidos em dois grandes componentes, o componente físico – ou physical component score (PCS) – e o componente mental ou mental component score (MCS). Para cada questão os valores são transformados em uma escala de 0 a 100, em que 0 equivale a uma pior qualidade de vida relacionada a saúde (QVRS), e 100 a uma melhor QVRS. 36 Dos itens do SF-36 foi construído ainda o instrumento SF-6D (versão de 2002), sendo que os itens utilizados foram capacidade funcional; limitação global; aspectos físicos; aspectos emocionais; aspectos sociais; dor; saúde mental e vitalidade. Na versão brasileira do questionário SF-6D (SF-6D Brasil), todos os itens foram extraídos da versão brasileira do SF-36, previamente traduzida, adaptada e validada em nosso meio. 37 A avaliação da qualidade de vida se tornou popular nas últimas décadas, o que instigou pesquisadores a estudarem cada vez mais o assunto e buscarem desenvolver instrumentos cada vez mais apurados e sensíveis. No Brasil e no mundo é crescente o número de estudos que propõema criação, validação e tradução de instrumentos de avaliação de QV. 12 1.5 A Institucionalização de Idosos O envelhecimento populacional acompanhado das desigualdades sociais que afetam as condições de vida da população gera idosos desamparados, muitos com doenças crônico- degenerativas, impossibilitados de enfrentar os problemas cotidianos, outros abandonados pelas famílias que não estão preparadas para cuidar de seus idosos, acarretando abandono e institucionalização dos mesmos. 38,39 Entende-se instituição asilar como uma casa de assistência social onde são recolhidas, para sustento ou também para educação, pessoas pobres e desamparadas, como mendigos, crianças abandonadas, órfãos e idosos. Relaciona-se assim, à idéia de guarita, abrigo e proteção ao local denominado asilo, independentemente do seu caráter social, político ou de cuidados com dependências físicas e/ou mentais. Devido ao caráter genérico dessa definição outros termos surgiram para denominar locais de assistência a idosos como, por exemplo, abrigo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e ancionato que tem sido a modalidade mais antiga e universal de atendimento ao idoso fora de seu convívio familiar. 40,41 Para diferenciar os asilos que abrigavam todos os tipos de pessoas necessitadas, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) propôs o termo Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) a fim de caracterizar tais instituições como: “instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a domicilio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania.” O Decreto Federal n°1.948 de 03 de julho de 1996, em seu artigo 3° refere que a instituição asilar tem por finalidade atender em regime de internato o idoso sem vínculo familiar ou sem condição de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e conivência social. 4 Historicamente o cristianismo foi pioneiro no amparo aos velhos, havendo registro de que o primeiro asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que transformou a sua casa em um hospital para idosos com a prática assistencialista e de caridade cristã. No Brasil, o Asilo São Luiz para a Velhice Desamparada, criado em 1890, foi a primeira instituição para idosos no Rio de Janeiro. Quando ainda não existiam instituições específicas para idosos, 13 estes eram abrigados em asilos de mendicidade, junto com outros pobres, doentes mentais, crianças abandonadas e desempregados. Em fins do século XIX, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo oferecia assistência a mendigos e, com o aumento crescente de internações de idosos, esta passou a ser definida como instituição gerontológica em 1964. 42,43 O modelo asilar brasileiro foi criado assemelhando-se ao modelo de instituições totais que, segundo Goffman (1987): Instituição total é um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam a vida fechada e formalmente administrada (‘...’) 44 Para o autor, a vida humana em uma instituição total, é reprimida conduzindo a mortificação do eu, isto é, o contexto institucional impede que a pessoa tenha o controle de sua vida, prevalecendo a necessidade de adaptação a normas administrativas que inclui disciplina em horários para deitar, levantar e comer, perder objetos pessoais, uso de uniformes. 38 A maioria das instituições de longa permanência, no Brasil, ainda segue este modelo, o que as tornam inapropriadas e inadequadas às reais necessidades dos idosos, dificultando as relações humanas interpessoais e comunitárias, influenciando na diminuição da cidadania e favorecendo a inatividade física e mental. São locais com área física semelhante a grandes alojamentos, com número diminuído de pessoal especializado para assistência social e de saúde do idoso, com regras de entradas e saídas rígidas que dificultam a vida social, afetiva e sexual. Esses fatores acabam por diminuir a autonomia e produtividade dos idosos nelas institucionalizados. 44,45 Devido às diferenças culturais e desigualdades socioeconômicas, as instituições de idosos no Brasil são muito heterogêneas, quanto a padrões de atendimento, qualidade da estrutura, organização financeira e população atendida. No Brasil os principais fatores de risco para internação em ILPI’s são as dependências físicas ou mentais, a miséria e o abandono. As instituições de abrigo estão em maior número nas regiões metropolitanas e são na sua maioria (65,2%) são instituições de natureza filantrópica, mantidas pela sociedade civil. No geral, são pequenas, abrigando cerca de 30 residentes e costumam sempre trabalhar com lotação completa. O certificado de filantropia assegura às instituições 14 isenções de taxas e de alguns impostos, maiores chances de receber doações e contarem com pessoal voluntário e/ou cedido do Estado. As instituições brasileiras vivem principalmente de recursos aportados pelos residentes e/ou familiares, sendo o financiamento público a segunda fonte de recursos mais importante. 44,46 A necessidade de se proporcionar cuidados ao idoso, conforme seu grau de dependência tem levado as ILPIs a criarem setores especializados para diferentes categorias de clientela. No entanto, verifica-se que faltam critérios claros para estabelecer o grau de dependência. Os protocolos de avaliação são pouco utilizados e o processo passa a depender muito do bom senso dos responsáveis por este cuidado. Para a adequação e fiscalização das ILPIs em relação à infraestrutura e cuidados aos idosos, foram desenvolvidas várias leis, portarias e políticas públicas, como: - “Normas para funcionamento de Casas de Repouso, Clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento do idoso” – Portaria n. 810/89 do Ministério da Saúde; - “Política Nacional do Idoso” – Decreto n.1948/96, que regulamenta a PNI, e enfatiza a assistência asilar como sendo assegurada aos idosos, devendo ser prestada pela União, por estados e municípios; - “Normas de Funcionamento de Serviços de Atenção ao Idoso no Brasil (Modelo para Financiamento de Projetos de Atenção à Pessoa Idosa)” – Portaria n. 73/2001 – SEAS; -“Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/2003)” que regulamenta princípios garantidos pela Constituição de 1988, além de determinar que entidades governamentais e não governamentais responsáveis pela assistência aos idosos deverão inscrever seus programas junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e ao Conselho Municipal da Pessoa Idosa e que a fiscalização das entidades de atendimento ao idoso, e especificamente das ILPIs, fiquem a cargo dos Conselhos do Idoso, do Ministério Público e da Vigilância Sanitária; - “Política Nacional de Assistência Social” de 2004, que institui o Sistema Único da Assistência Social (SUAS) enfatizando que o atendimento em ILPI enquadra-se como um serviço de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, e que deverá ser executado em parceria com os estados, municípios e a sociedade civil, além de ficar estabelecido que os 15 cuidados de longa permanência dirigem-se aos idosos que perderam parte de sua autonomia física ou mental e cuja família não possui meios financeiros, físicos ou emocionais para prestar o cuidado adequado; - “Regulamento Técnico para o Funcionamento das Instituições de Longa Permanência para Idosos” – RDC n. 283 de 2005 – ANVISA: são estabelecidas as normas gerais de funcionamento das ILPIs e seis indicadores de notificação anual e obrigatória para a avaliação de desempenho e padrão da ILPI; - “Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI)” - 2006 reafirma a importância da capacidade funcional dos pacientesidosos e atribui um acompanhamento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da RDC Nº 283/2005 aprovou o Regulamento Técnico que define normas de Funcionamento para as ILPI a fim de assegurar as condições mínimas de funcionamento das instituições de atendimento ao idoso com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, de modo a garantir a atenção integral, defendendo a sua dignidade e os seus direitos humanos. Dispõe que a ILPI deve possuir alvará sanitário atualizado expedido pelo órgão sanitário competente, estatuto registrado, registro de entidade social, regimento interno. Deve ainda possuir um Responsável Técnico pelo serviço, com formação de nível superior, que responderá pela instituição junto à autoridade sanitária local. Estabelece ainda padrões de infra estrutura física, de RH e de processos operacionais. 41 A ANVISA ainda define as características e as modalidades de ILPI’s, as quais são divididas em: Modalidade I: destinada a idosos independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de auto ajuda. Modalidade II: destinada a idosos com dependência funcional (dependência em qualquer atividade de auto cuidado: alimentação, mobilidade, higiene, entre outras) , e que necessitem de auxílios e cuidados especializados. Modalidade III - destinada a idosos com dependência que requeiram assistência total nas atividades de auto cuidado. Cada tipo de modalidade de ILPI’s requer diferentes quadros de recursos humanos com diferentes cargas horárias de trabalho. 41 Além da ILPI tradicional existe a chamda Instituição Residencial sob Sistema Participativo - CASA LAR: integrada por idosos sob sistema participativo, em caráter residencial com ou sem suporte familiar, podendo ser gratuito ou não, tendo por objetivo a 16 promoção do bem-estar e da autonomia do idoso, com capacidade máxima para doze residentes, ambas devem seguir as normar e regulamentos técnicos da RDC n. 283/2005. 41 O número de ILPI no Brasil vem crescendo significativamente, pois fatores demográficos, sociais e de saúde conduzem à maior demanda pela institucionalização de idosos. Logo, é de extrema importância conhecer este segmento de institucionalização para que quando inevitável, a internação se torne uma alternativa que proporcione dignidade e qualidade de vida aos idosos, que seja uma opção e uma saída para romper com a idéia de segregação arraigada na história da institucionalização. 43 2. Objetivos 2.1 Objetivo geral Avaliar e comparar a qualidade de vida de idosos institucionalizados e não institucionalizados residentes em um município de pequeno porte no interior do Estado de São Paulo. 2.2 Objetivo específico Caracterizar demográfica e socioeconomicamente as pessoas idosas dos dois grupos estudados. Identificar as variáveis sociais, demográficas que interferem na qualidade de vida dos idosos em questão. 17 3. Casuística e Métodos 3.1 Tipo de estudo Trata-se de um estudo do tipo exploratório, descritivo, com abordagem quantitativa da qualidade de vida de idosos institucionalizados e não institucionalizados de um pequeno município do interior do Estado de São Paulo, buscando-se, na revisão de literatura, compreender o contexto social, econômico e de saúde em que esses indivíduos estão inseridos. A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis, sendo que uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática. 47 3.2 Campo de estudo O estudo foi realizado em um município de pequeno porte do interior do estado de São Paulo, General Salgado, situado há 548 quilômetros da capital, com economia baseada na agricultura e pecuária, essencialmente sucroalcooleira. A população do município conta com 10.669 pessoas, das quais 1637 são idosas, ou seja, 15,3% possuem 60 anos ou mais. A população é predominantemente urbana, tendo apenas 1585 moradores da zona rural. A expectativa de vida do município é de 68,60 anos. No município existe apenas uma ILPI, a qual foi alvo deste estudo (IBGE, 2010). A ILPI da cidade é uma instituição filantrópica mantida por doações da sociedade, pelas aposentadorias dos idosos residentes, por recursos financeiros da Secretaria Municipal de Promoção Social e por um repasse de verba estadual. Possui capacidade para abrigar 55 idosos, sendo 42 vagas restritas à ala masculina e 13 vagas na ala feminina. No entanto, na época da coleta de dados a instituição abrigava 43 idosos, sendo 30 homens e 13 mulheres, dos quais apenas 21 satisfizeram os critérios de inclusão no estudo. Pelo fato de ser a única ILPI da cidade os idosos chegam à instituição por livre demanda e de acordo com a disponibilidade de vagas e condições sócio econômicas eles são ali institucionalizados ou não. Muitos são provenientes de cidades vizinhas que não possuem ILPI. Devido ao predomínio da atividade agrícola na região, muitos dos 18 institucionalizados residiam na zona rural, o que explica a maior procura por vagas masculinas e consequentemente a oferta de mais vagas masculinas que femininas. O quadro de funcionários da instituição é composto por uma diretora voluntária, um funcionário administrativo, uma enfermeira, quatro auxiliares de enfermagem, uma nutricionista, uma assistente social, um fisioterapeuta, uma ajudante de cozinha e duas funcionárias da limpeza. A enfermeira e os técnicos de enfermagem trabalham 48 horas semanais. A nutricionista realiza turnos diurnos de 10 horas semanais nos quais controla a cozinha e as dietas dos moradores. A assistente social assiste aos idosos 30 horas por semana e o fisioterapeuta realiza atividades individuais com alguns moradores cumprindo 10 horas semanais. A nutricionista, fisioterapeuta e assistente social são profissionais da prefeitura municipal que prestam serviço na ILPI e também em outros centros de saúde do município. Quanto às rotinas da instituição, os horários da alimentação são rígidos e pré- estabelecidos não proporcionando ao idoso a escolha da hora em que deseja comer. A nutricionista mantém cardápio específico para idosos hipertensos e diabéticos, e na hora das refeições os idosos são servidos individualmente por funcionários de acordo com sua prescrição. Os banhos são preconizados durante a manhã, contudo aqueles que quiserem se higienizar mais de uma vez ou em outros horários e tiverem condições para fazê-lo sem auxílio, tem liberdade para tanto. As medicações são realizadas pelos profissionais de enfermagem de acordo com as prescrições médicas de cada idoso, valendo reforçar que estes são acompanhados por médico da UBS do município. Não há na instituição programas e atividades diárias, sejam de lazer ou recreação, para os idosos. Eventualmente a assistente social realiza atividades como bingo e carteado com os moradores como forma de entretenimento e socialização. Os idosos com saúde mental e condições físicas preservadas são autorizados a sair da ILPI para atividades de lazer, recreação e atividade física na comunidade. Aqueles que saem relataram que passeiam pela praça e comércio além de frequentarem atividades oferecidas para idosos pela prefeitura e por instituições religiosas. As ações de saúde, como vacinação, são realizadas na própria instituição, por enfermeiras da Unidade Básica de Saúde (UBS) do município que se deslocam da unidade até a ILPI. Acompanhamentos médico para os idosos que apresentam doenças crônicas são 19 agendados na UBS e nas datas das consultas são levados e acompanhados por um funcionário no carro da instituição. A medicação em sua maioria é fornecida pela farmácia da UBS, ressalvando os casos em que não se encontrana farmácia e desta forma, os idosos ou familiares compram em farmácias particulares. Quanto à estrutura física, a ILPI possui uma sala de lazer com televisão e sofás de alvenaria recobertos por almofadas, uma varanda externa com cadeiras, voltada para um jardim e para a rua. Possui ainda uma sala de fisioterapia, sala de procedimentos, um refeitório com mesas e cadeiras com encosto e uma cozinha. Os dormitórios são divididos em duas alas, uma feminina e outra masculina. Os quartos são compartilhados sempre por dois idosos. Com exceção para os dois casais da instituição, os quais ocupam quartos especiais com cama de casal e em ala separada no fundo da instituição, não ficando, portanto nem na ala feminina nem na masculina, o que lhes proporciona maior privacidade. A maioria dos idosos recebe do INSS, pensão ou aposentadoria de até um salário mínimo. Aqueles que não recebem benefício tem sua estadia custeada pelos recursos financeiros do município e doações. Os idosos aposentados entregam parte da sua renda para sua manutenção na instituição, ficando com uma pequena quantia para seus gastos pessoais, como cigarro e medicação que não conseguem pegar do município. Poucos são os idosos que recebem visita dos familiares e amigos, e aqueles que não saem da instituição, ou por não terem condições de saúde ou por não desejarem, ocupam a maior parte do tempo, sentados na varanda ou na sala assistindo televisão. Durante as entrevistas pode-se perceber que a solidão é um sentimento comum entre eles, pois sempre se alongavam com outros assuntos e os idosos em sua maioria solicitavam que as entrevistadoras ficassem mais tempo e voltassem sempre que puderem. 3.3 Sujeitos Para determinar a amostra inicialmente, realizou-se levantamento junto à Unidade Básica de Saúde (UBS), com a finalidade de identificar o número total de idosos residentes no município, por ser este o local onde se mantém um cadastro atualizado da população idosa. Foram levantados também os equipamentos sociais e de saúde direcionados a esta população em funcionamento na época da pesquisa. Foi encontrada uma população de 1637 idosos residentes no município, dos quais 43 se encontravam institucionalizados. Fez-se 20 contato com a direção da ILPI, para se obter autorização para a realização do estudo na instituição. A investigação contou com dois grupos de sujeitos. Grupo 1: idosos residentes na instituição de longa permanência e Grupo 2: idosos residentes na comunidade da cidade de General Salgado. Referente à determinação amostra, o grupo 1 (institucionalizados) que contava com 43 moradores, de acordo com os critérios de inclusão foram elegíveis apenas 21 idosos. Quando à amostra do grupo 2, realizou-se o cálculo estatístico para se obter uma amostra significativa da população idosa do município. O cálculo do N amostral da população não institucionalizada foi realizado com base no N populacional, respeitando-se o nível de significância de 0,05 ou 5%. Sendo o N populacional de 1637 idosos, substituindo esse valor na fórmula, o N amostral foi de 322 pessoas. 𝑁𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎𝑙 = 10,052×𝑁𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙10,052+𝑁𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 Os critérios de inclusão na investigação utilizados foram ter 60 anos ou mais, com capacidade de comunicação preservada, residentes no município estudado, que não apresentassem problemas mentais ou doença que afete os aspectos cognitivos e que consentirem em participar da pesquisa. Como critérios de exclusão: idosos com capacidade de comunicação e cognição não preservadas, que inviabilizassem a entrevista. 3.4 Instrumentos de coleta de dados Para coleta de dados foram utilizados três instrumentos: um questionário de caracterização sócio demográfico e de estado de saúde, e dois instrumentos de avaliação da qualidade de vida já consagrados: o WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD, sendo que o uso associado dos dois instrumentos segue as recomendações da OMS. O questionário de caracterização sócio demográfico e de estado de saúde utilizado foi construído pelas pesquisadoras, utilizando-se como base dados significantes e interferentes na QV segundo a literatura estudada. O instrumento foi testado em estudo piloto com 20 idosos a fim de observar a compreensão dos sujeitos em relação às questões 21 abordadas, sendo com isso possível realizar algumas alterações que melhoraram e facilitaram as entrevistas. O WHOQOL-BREF foi desenvolvido pelo Grupo WHOQOL da OMS (The WHOQOL Group, 1996), com o objetivo de disponibilizar um instrumento de mensuração de qualidade de vida que demande menor tempo para preenchimento e com características psicométricas satisfatórias. Trata-se de um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, composto por 26 questões, sendo duas questões gerais e 24 questões representando cada uma das facetas do WHOQOL- 100. Partindo-se do conceito da OMS a qualidade de vida envolve o estado físico, psicológico, o nível de independência, relações sociais, o meio ambiente, aspectos religiosos, saúde, educação, poder de compra, habitação, saneamento básico e outras circunstâncias da vida. Assim sendo, o WHOQOL-BREF é composto por quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio ambiente. Ele proporciona uma medida genérica, multidimensional e multicultural, para uma avaliação subjetiva da qualidade de vida, podendo ser utilizada num largo espectro de distúrbios psicológicos e físicos, bem como com indivíduos saudáveis. O WHOQOL- BREF foi validado para o Brasil por Fleck (2000). A versão em português do instrumento apresentou características satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, validade de critério, validade concorrente e fidedignidade teste-reteste. (10,11,12,17) O WHOQOL-OLD foi desenvolvido com o intuito de adaptar o WHOQOL para a aplicação em adultos idosos. Foi desenvolvido como um módulo adicional aos instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-BERF. É um módulo complementar e deve ser aplicado em conjunto com o WHOQOL-BREF, sendo composto por 24 questões seccionadas em seis facetas: Habilidades sensoriais, Autonomia, Atividades passadas, presentes e futuras, Participação social, Morte e morrer, Intimidade. Tanto o WHOQOL-OLD quanto o WHOQOL-BREF foram traduzidos e validados em diversos países. No Brasil os estudos de tradução e validação foram realizados por Fleck, Chachamovich e Trentini. 22 3.5 Procedimentos Para a coleta de dados além da pesquisadora o estudo demandou três entrevistadoras devidamente treinadas para tal, enfatizando-se o objetivo das entrevistas, o modo de aplicação do questionário e a importância de deixar o entrevistado responder sem interferências nas respostas. Foi realizado estudo piloto, com coleta de 20 entrevistas a fim de se observar o modo como cada entrevistadora estava aplicando os questionários, e também para se verificar se as perguntas de caracterização sócio demográfica e de estado de saúde (II Apêndice) estavam de fácil compreensão tanto para os entrevistados quantos para as entrevistadoras. O Grupo 1 (idosos institucionalizados) foi recrutado em visitas à instituição asilar de longa permanência, onde os idosos foram abordados individualmente e convidados a participar da pesquisa, após explicação do TCLE e assinatura do mesmo. Os dados foram coletados individualmente em sala disponibilizada pela instituição. O Grupo 2 (idosos da comunidade) foi recrutado nos espaços de interação social de idosos do município, entre eles: salão municipal da terceira idade, salão paroquial, ginásio de esportes, centro dia, praça da matriz. Houve vários casos em que os idosos agendavam dia e horário, conforme sua conveniência e as entrevistas foram realizadas no domicílio. Foram explicados os objetivos da pesquisa, a função do TCLE, requerida a assinatura do mesmo e os dados foram coletados individuale reservadamente. Os dados foram coletados entre os meses de outubro de 2013 e Fevereiro de 2014, dos idosos abordados nenhum se recusou a participar da pesquisa. 3.6 Análises estatísticas A análise quantitativa referente à comparação dos escores dos domínios, restringindo a situação dos idosos, foi realizada por meio da aplicação do teste de Análise de Variância e teste post-hoc de Tukey quando P<0,05. A comparação dos escores entre os idosos (institucionalizados e não institucionalizados) referentes a cada um dos domínios foi realizada pela aplicação do teste “t” para amostras independentes. Além disso, os escores dos domínios para ambos os instrumentos utilizados em relação à idade foi realizada por meio da aplicação do teste de correlação de Pearson. Todos os testes estatísticos foram 23 aplicados com nível de significância de 0,05. O software utilizado para análise foi o Minitab 17 (Minitab Inc.). Após realizar a análise univariada, sabendo que as variáveis estudadas influenciaram na QV (de forma univariada), não foi necessário realizar a análise multivariada, pois esta confirmaria os resultados obtidos com a univariada. A análise multivariada é muito utilizada quando as variáveis independentes não influenciam nas variáveis dependentes (no caso, na qualidade de vida). Desse modo, se não tivéssemos resultados significativos na análise univariada, a análise multivariada seria interessante para verificar tendências e relações entre as variáveis e a qualidade de vida. 3.7 Aspectos Éticos Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP com parecer de número 409.349 de 28 de setembro de 2013, seguindo a Resolução 466/12. 24 4. Resultados 4.1 Dados sóciodemográficos Os achados obtidos através do questionário sócio demográfico apresentados na Tabela 1 revelaram a esperada feminilização da velhice na comunidade que representou 61,8% da amostra, enquanto na ILPI predominou pessoas idosas do sexo masculino (71,43%). A idade dos idosos não institucionalizados (n=322) apresentou média de 70,29 anos com desvio padrão de 7,24 anos e mediana de 69 anos. Os dados não seguiram a normalidade, havendo presença de um valor discrepante, sendo o valor de idade máxima de 93 anos. A idade mínima observada foi de 60 anos e a máxima de 93 anos. Para os idosos institucionalizados (n=21), a idade média foi de 70 anos com desvio padrão de 8,85 anos e mediana de 68 anos. Os dados não seguiram normalidade e não houve presença de valores discrepantes. A idade mínima foi de 60 anos e a máxima de 92 anos. A escolaridade predominantemente foi o nível fundamental (mesmo que incompleto), sendo 77,95% para idosos da comunidade e 85,71% para idosos da ILPI. Idosos da comunidade ainda apresentaram o curso médio e superior (15,22%). A maioria da amostra estudada era casada, sendo 65,53% da comunidade e 28,57% da ILPI. Quanto à situação ocupacional, 82,30% dos idosos residentes na comunidade eram aposentados e 9,63% ainda se mantinham em atividade profissional. Dentre os idosos institucionalizados 95,24% eram aposentados. Referente à profissão, foi realizado agrupamento por setores: indústria, comércio, agrícola, serviços, do lar (doméstico) a fim de se obter representatividade amostral necessária para as análises estatísticas. A renda mensal de até um salário mínimo foi referida por 69,88% dos idosos da comunidade enquanto para os moradores da ILPI esse valor correspondia à renda de 90,48% dos entrevistados. Quanto à situação de moradia, 91,93% de idosos da comunidade residiam em casa própria. (Tabela 1) 25 Tabela 1. Variáveis sócio demográficas, General Salgado 2014. Variáveis sócio demográficas Não institucionalizados Institucionalizados N % n % Sexo 322 100,00 21 100,00 Feminino 199 61,80 6 28,57 Masculino 123 38,20 15 71,43 Escolaridade 322 100,00 21 100,00 Analfabeto 22 6,83 3 14,29 Fundamental Completo 251 77,95 18 85,71 Médio Completo 16 4,97 - - Superior Completo 33 10,25 - - Estado civil 322 100 21 100 Casado 211 65,53 6 28,57 Separado 17 5,28 5 23,81 Solteiro 16 4,97 5 23,81 Reside com 322 100 21 100 Companheiro (a) Companheiro e familiares 158 52 49,07 16,15 - - - - Familiares 51 15,84 - - Outros 4 1,24 - - Sozinho Asilo 57 - 17,70 - - 21 - 100 Profissão 322 100 21 100 Agrícola 11 3,42 - - Comércio 11 3,42 - - Do lar e doméstica 127 39,44 - - Serviços 173 53,73 21 100 Renda mensal 322 100 21 100 Até 1SM 225 69,88 19 90,48 2 a 3 SM 63 19,57 2 9,52 4 a 5 SM 13 4,04 - - 6 SM ou mais 21 6,52 - - Situação do domicílio 322 100 21 100 Alugado 26 8,07 - - Próprio Asilo 296 - 91,93 - - 21 - 100 Frequenta clubes, associações 322 100 21 100 Não Sim 78 24,22 244 75,78 8 13 38,10 61,90 Na tabela 2 encontram-se os dados relativos aos relacionamentos sociais. No que diz respeito à participação social e frequência a clubes e associações 75,78% dos idosos da comunidade referiam ter participação ativa enquanto entre os idosos da ILPI esse valor foi 26 de 61,90%. A prática de alguma atividade física foi referida por 26,71% entre os idosos da comunidade e 23,81% entre os institucionalizados. Cabe ressaltar que dos 21 idosos que tinham permissão para sair, 17 (80,95%) saiam da ILPI para atividades de lazer. Nas questões referentes às condições de saúde, observou-se a presença de doenças crônicas em 53,42% dos moradores na comunidade que referiam uma ou mais doenças. Entre os idosos institucionalizados essa questão representou 71,42%. A utilização da rede pública de saúde (SUS) foi mencionada por 69,87% dos idosos da comunidade enquanto 95,24% dos institucionalizados são SUS dependentes (Tabela 2). Tabela 2. Variáveis de saúde, General Salgado, 2014. Variáveis de saúde Não Institucionalizados Institucionalizados n % n % Doenças crônicas 322 100 - - 0 150 46,58 6 28,57 1 100 31,06 9 42,85 2 46 14,29 6 28,57 3 26 8,07 - - Serviço de saúde que utiliza 322 100 21 100 Convênio 85 26,40 1 4,76 Particular 12 3,73 - - SUS 213 66,15 20 95,24 SUS e convênio 6 1,86 - - SUS e particular 5 1,55 - - SUS, convênio e particular 1 0,31 - - Prática de atividade física 322 100 21 100 Não 236 73,29 16 76,19 Sim 86 26,71 5 23,81 4.2 Qualidade de vida segundo WHOQOL- BREF Na avaliação da qualidade de vida verificou-se que os idosos institucionalizados não apresentaram diferenças significativas (P=0,814) quando os escores dos domínios foram comparados. Já, para os idosos não institucionalizados, as diferenças tornaram-se significativas (P<0,001), sendo que o domínio psicológico foi o que apresentou maior escore, se diferenciando de forma isolada dos demais domínios. Os domínios geral, social e ambiente não se diferenciaram de forma significativa, no entanto, é válido considerar a diferença existente entre os domínios social e físico, sendo esse último o que apresentou 27 menor escore dentre os domínios avaliados. Assim, para os idosos não institucionalizados, o domínio psicológico foi superior em relação ao domínio físico. Os resultados subsequentes referem-se aos escores dos domínios da qualidade de vida de acordo com o instrumento WHOQOL-BREF (Tabela 3). Tabela 3. Médias e Mediana dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF dos idosos, General Salgado 2014. Domínios Institucionalizados (n=21) Média±desvio (Mediana) Não Institucionalizados (n=322)3 Média±desvio (Mediana) Valor P1 Geral 52,38±27,84 (50,00) 64,20±16,48bc (62,50) 0,069 Físico 51,36±21,17 (53,57) 62,28±16,03c (60,71) 0,030 Psicológico 57,34±21,93 (58,33) 70,32±11,94a (70,83) 0,014 Social 50,40±19,98 (50,00)65,99±14,27b (66,66) 0,002 Ambiente 55,80±16,66 (56,25) 63,21±12,98bc (62,50) 0,059 Valor P2 0,814 <0,001 1Valor P referente ao teste t para amostras independentes a P<0,05. 2 Valor P referente ao teste de Análise de Variância (ANOVA) a P<0,05. 3 Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem-se de forma significativa pelo Teste de Tukey (P<0,05). Comparando-se os idosos das duas amostras aos domínios do WHOQOL-BREF, verificou-se que os domínios físico, psicológico e social apresentaram escores significativamente diferentes. Em todos os domínios mencionados, o escore dos idosos não institucionalizados foi superior em relação aos idosos institucionalizados. 28 Tabela 4. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF de acordo com o sexo dos idosos, General Salgado 2014. Idosos institucionalizados Domínios Sexo Média±desvio padrão (Md) Valor P1 Geral Feminino (n=6) 39,60±33,00 (50,00) 0,269 Masculino (n=15) 57,50±24,91 (50,00) Físico Feminino (n=6) 43,50±28,00 (37,50) 0,404 Masculino (n=15) 54,52±17,98 (57,14) Psicológico Feminino (n=6) 47,20±26,60 (50,00) 0,274 Masculino (n=15) 61,39±19,32 (58,33) Social Feminino (n=6) 48,60±27,10 (41,70) 0,841 Masculino (n=15) 51,11±17,50 (50,00) Ambiente Feminino (n=6) 46,88±16,65 (46,88) 0,154 Masculino (n=15) 59,38±15,80 (59,38) Idosos não institucionalizados Domínios Sexo Média±desvio padrão (Md) Valor P1 Geral Feminino (n=199) 63,82±16,59 (62,50) 0,590 Masculino (n=123) 64,84±16,35 (62,50) Físico Feminino (n=199) 61,74±15,63 (60,71) 0,440 Masculino (n=123) 63,18±16,68 (60,71) Psicológico Feminino (n=199) 69,17±11,69 (70,83) 0,029 Masculino (n=123) 72,19±12,15 (75,00) Social Feminino (n=199) 66,45±14,44 (66,67) 0,384 Masculino (n=123) 66,87±14,01 (66,67) Ambiente Feminino (n=199) 63,23±13,15 (62,50) 0,972 Masculino (n=123) 63,19±12,76 (62,50) 1Valor P referente ao teste t para amostras independentes a P<0,05. Os escores referentes aos idosos institucionalizados não apresentaram diferenças significativas em relação ao sexo, ou seja, o sexo não é uma variável que interferiu de 29 forma significativa na qualidade de vida dos idosos institucionalizados. Em relação aos idosos não institucionalizados, o sexo dos entrevistados influenciou de forma significativa no domínio psicológico, sendo que neste domínio os homens apresentaram escores superiores em relação às mulheres. 30 Tabela 5. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF de acordo com à frequência e participação em clubes e associações, General Salgado, 2014. Idosos institucionalizados Domínios Frequenta clubes e associações Média±desvio padrão (Md) Valor P1 Geral Não (n=8) 42,19±24,94 (43,75) 0,184 Sim (n=13) 58,65±28,59 (62,50) Físico Não (n=8) 41,96±17,57 (37,50) 0,097 Sim (n=13) 57,14±21,72 (60,71) Psicológico Não (n=8) 48,44±24,08 (52,08) 0,179 Sim (n=13) 62,82±19,43 (58,33) Social Não (n=8) 38,54±15,39 (33,33) 0,023 Sim (n=13) 57,69±19,38 (50,00) Ambiente Não (n=8) 52,34±19,89 (53,13) 0,507 Sim (n=13) 57,93±14,80 (56,25) Idosos não institucionalizados Domínios Frequenta clubes e associações Média±desvio padrão (Md) Valor P1 Geral Não (n=78) 64,26±16,58 (62,50) 0,973 Sim (n=244) 64,19±16,48 (62,50) Físico Não (n=78) 62,32±17,14 (57,14) 0,987 Sim (n=244) 62,28±15,70 (60,71) Psicológico Não (n=78) 69,98±13,22 (70,83) 0,782 Sim (n=244) 70,44±11,53 (70,83) Social Não (n=78) 66,35±16,64 (66,67) 0,823 Sim (n=244) 65,88±13,46 (66,67) Ambiente Não (n=78) 62,18±12,96 (59,38) 0,418 Sim (n=244) 63,55±13,00 (62,50) 1Valor P referente ao teste t para amostras independentes a P<0,05. 31 Os resultados mostram que somente um domínio foi influenciado de forma significativa quando a frequência dos idosos em clubes e associações foi avaliada. Para os idosos institucionalizados, o domínio social apresentou escores significativamente diferentes (P=0,023), sendo que os idosos que frequentam clubes e associações apresentaram escores superiores em relação aos idosos que não frequentam clubes e associações. Em relação aos demais domínios, não houve influência da frequência dos idosos nesses locais. Além disso, esse resultado também foi observado nos idosos não institucionalizados, visto que nenhum dos domínios avaliados apresentou diferenças significativas (P>0,05). 32 Tabela 6. Médias e Mediana dos escores do WHOQOL-BREF em relação à renda mensal dos idosos não institucionalizados, General Salgado, 2014. Domínios Renda Média±desvio padrão (Md)2 Valor P1 Geral Até 1SM (n=225) 61,56±15,75 (62,50)b <0,001 2 a 3 SM (n=63) 64,48±15,43 (62,50)b 4 a 5 SM (n=13) 77,88±12,66 (75,00)a 6 SM ou mais (n=21) 83,33±12,71 (87,50)a Físico Até 1SM (n=225) 59,50±13,98 (57,14)b <0,001 2 a 3 SM (n=63) 62,81±17,63 (60,71)b 4 a 5 SM (n=13) 79,40±15,44 (85,71)a 6 SM ou mais (n=21) 79,93±14,88 (78,57)a Psicológico Até 1SM (n=225) 69,63±11,39 (70,83)b 0,002 2 a 3 SM (n=63) 68,98±12,18 (70,83)b 4 a 5 SM (n=13) 74,68±12,20 (79,17)ab 6 SM ou mais (n=21) 79,17±13,37 (79,17)a Social Até 1SM (n=225) 65,66±13,40 (66,67)b 0,002 2 a 3 SM (n=63) 62,83±15,10 (66,67)b 4 a 5 SM (n=13) 71,79±19,11 (75,00)ab 6 SM ou mais (n=21) 75,40±13,56 (75,00)a Ambiente Até 1SM (n=225) 61,04±11,00 (59,37)b <0,001 2 a 3 SM (n=63) 63,19±13,92 (59,38)b 4 a 5 SM (n=13) 74,52±16,33 (75,00)a 6 SM ou mais (n=21) 79,61±13,06 (75,00)a 1Valor P referente ao teste de Análise de Variância a P<0,05. 2Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem-se entre si pelo Teste de Tukey a P<0,05. Os resultados dessa análise restringem-se aos idosos não institucionalizados, visto que esse dado resultou em falta de representatividade amostral para o grupo de idosos institucionalizados com renda de 2 a 3 SM (somente 2 idosos), prejudicando a análise. 33 Os resultados pressupõem que, para todos os domínios avaliados, os idosos que apresentam maior renda mensal, apresentam maior qualidade de vida, ou seja, para todos os casos, os idosos com 6 SM ou mais por mês apresentaram os maiores escores para todos os domínios avaliados. Em contrapartida, os idosos que ganham mensalmente até 1 SM foram os que apresentaram os menores escores para todos os domínios avaliados. De forma geral, à medida que a renda mensal aumenta, a qualidade de vida do idoso também aumenta em todos os domínios. A análise da correlação entre os escores dos domínios e a idade dos idosos não resultou em correlações significativas, pressupondo que a idade, tanto dos idosos institucionalizados como não institucionalizados, não influencia significativamente na qualidade de vida. 4.3 Qualidade de vida segundo WHOQOL-OLD Avaliando os resultados dos idosos institucionalizados, é possível pressupor diferenças significativas (P=0,005) entre os escores dos domínios, sendo que a diferença está entre os escores do domínio intimidade e morte e morrer (Tabela 7). Tabela 7. Médias e Mediana dos escores dos domínios do WHOQOL-OLD dos idosos, General Salgado 2014. Domínios Institucionalizados (n=21)3 Média±desvio padrão (Mediana) Não Institucionalizados (n=322)3 Média±desvio padrão (Mediana) Valor P1 Funcionamento dos sentidos 45,83±14,97 (43,75)ab 65,18±18,74 (62,50)b <0,001 Autonomia 47,62±14,85 (50,00) ab 56,73±15,65 (56,25)c 0,013 Morte e morrer 28,57±31,84 (12,50) b 74,22±22,68 (81,25)a <0,001 Atividades passadas, presentes e futuras 47,62±15,24 (43,75)ab 64,36±13,54 (62,50)b <0,001 Participação social 43,15±21,73 (43,75) ab 62,77±14,59 (62,50)b 0,001 Intimidade 54,76±23,79 (56,25) a 72,88±15,72 (75,00)a 0,002 Valor P2 0,005 <0,001 1Valor P referente
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