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Resumo - Direito Eleitoral

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FICHAMENTO DA OBRA “CRIMES ELEITORAIS: SUA FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL E A DEFICIÊNCIA DE PROTEÇÃO EPNAL EM ALGUNS ASPECTOS DO PROCESSO ELEITORAL”
- Aluno
O Código Eleitoral, publicado em 1965, congregador das regras que disciplinam os vários aspectos do processo eleitoral foi de grande importância que de mudança do mundo e, em particular, a sociedade brasileira. Dentre essas mudanças estão a volta do regime democrático e a promulgação de uma nova Constituição marco de uma nova ordem jurídica com valores na proteção dos direitos fundamentais do indivíduo e da sociedade. Contudo ainda continua a vigorar o Código Eleitoral, ainda que modificado por leis posteriores. Tais normas adaptaram vários aspectos do processo eleitoral a nova ordem constitucional, surgindo daí, por exemplo, novo regime de inelegibilidades, regramento do processo eletrônico de votação, definição da captação ilícita de sufrágio e das condutas vedadas sancionamento de arrecadação e gastos ilícitos de campanha e regulamentação da propaganda na Internet (Lei 9504/97 e suas alterações). Essas inovações instituíram nova configuração para o processo eleitoral. Contudo em um aspecto o dos crimes eleitorais as inovações legislativas foram muito tímidas e por consequência percebem-se importantes desencontros entre o novo regime legal do processo eleitoral e a proteção penal dos bens jurídicos nele envolvidos.
A respeito do aspecto constitucional dos crimes eleitorais, destaca-se que os princípios constitucionais exercem diferentes funções em relação ao Direito Eleitoral, servindo de fundamento para o direito Eleitoral; fornecem coerência e unidade ao direito eleitoral como sistema; orientam o intérprete e o aplicador na busca do sentido e alcance das demais normas que integram o Direito Eleitoral. Dentre eles, é possível mencionar o princípio republicano, o princípio federativo e o princípio democrático.
Com efeito, a evolução do estudo das relações entre Constituição e Direito Penal tem trazido a compreensão de que, além de estabelecer limites ao direito de punir, o texto constitucional tem como papel eleger valores que merecem a proteção de normas penais. Isso porque os bens jurídicos envolvidos no processo eleitoral estão conectados aos princípios fundamentais do Estado brasileiro, como a liberdade de escolha do eleitor, às normas que promovem a igualdade entre os candidatos e à legitimidade do resultado do pleito, pois todos traduzem claramente o papel do processo eleitoral.
Hoje, entende-se que os crimes eleitorais tem natureza comum, segundo a própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Entretanto, doutrinariamente existe uma certa controvérsia relacionada ao tema. Na verdade, conforme leciona Suzana de Camargo Gomes (GOMES, 2010, p. 36-45), a doutrina diverge sobre a natureza jurídica dos crimes eleitorais, havendo relevante linha de pensamento, de autores como Fávila Ribeiro e Nelson Hungria, que os vê como crimes políticos, porquanto tutelam bens jurídicos ínsitos ao processo eleitoral e, portanto, à investidura no poder político.
O bem jurídico tutelado nos crimes eleitorais
A análise dos crimes eleitorais previstos no Código Eleitoral ou em leis esparsas demonstra que os vários tipos penais têm como objetividade jurídica a proteção dos diversos aspectos do processo eleitoral, com a finalidade de garantir a efetividade das normas que visam obter a mais legítima manifestação da vontade popular. Assim, vai-se de crimes que protegem a regular formação do corpo de eleitores até aqueles que procuram garantir a igualdade entre os postulantes aos mandatos ou mesmo a liberdade de consciência do eleitor.
Em verdade, são vários os bens jurídicos envolvidos, mas todos trazem a nota comum de integrantes do processo eleitoral. Essa diversidade faz surgir na doutrina a variação de classificações dos crimes eleitorais, porém, uma vez mais, vale destacar a lição de Suzana de Camargo Gomes (GOMES, 2010, p. 64), haja vista que sistematiza a matéria mediante combinação da objetividade jurídica imediata com a fase do processo eleitoral em que se dá a conduta. 
Característica dos crimes eleitorais
	
A criminalidade eleitoral apresenta nítido caráter difuso, na mesma linha dos tipos penais que tutelam bens jurídicos de natureza difusa ligados aos chamados direitos fundamentais de terceira geração, tais como o meio ambiente e as relações de consumo.
 As lesões a bens jurídicos dessa natureza mostram-se de difícil ou inviável recomposição, além de apresentarem potencial para atingir interesses que ultrapassam a esfera individual. Por conseguinte, colocam em risco aspectos fundamentais da sociedade e acabam por reclamar tratamento penal característico, diverso daquele atribuído à criminalidade clássica.
É nesse sentido que, nos crimes eleitorais, são fartamente utilizados os tipos formais e os de mera conduta, pois o desvalor das condutas que melindram tais bens jurídicos já justifica a intervenção do Direito Penal. Pela mesma razão, não se tem a tipificação de crimes culposos, pois, ausente o resultado, a conduta danosa é aquela praticada deliberadamente.
Análise de algumas condutas danosas ao processo eleitoral e seu tratamento no âmbito dos crimes eleitorais
	
Evidenciada a fundamentação constitucional dos crimes eleitorais e analisada sua objetividade jurídica, há base para breve exame sobre três condutas evidentemente lesivas a aspectos cruciais do processo eleitoral e o tratamento que recebem no âmbito criminal, inclusive sob o ponto de vista da suficiência da proteção aos bens jurídicos envolvidos.
Violações no processo eletrônico de votação
A implantação do sistema de votação eletrônica pelo Tribunal Superior Eleitoral, que hoje alcança todo o território nacional e permite rapidez e segurança tanto na colheita dos votos quanto na apuração do resultado, fez com que o Brasil passasse a ser admirado pela eficiência desses procedimentos.
O indubitável ganho no campo da efetividade desse sistema não poderia ser mantido sem uma ampla proteção contra fraudes que pudessem comprometer o resultado das eleições e, assim, todo o processo democrático. Além dos necessários investimentos em tecnologia capaz de inibir tentativas de burla ao sistema, não há dúvida de que surgiu a necessidade de incriminação de condutas violadoras do processo eletrônico de votação e apuração. Foi de tal monta a inovação no campo dos fatos que a mera manutenção dos tipos penais do Código Eleitoral que tutelavam o processo manual de votação e apuração não seria capaz de dar adequada garantia à legitimidade do resultado eleitoral, haja vista que não tipificava e, portanto, inibia condutas lesivas inerentes à nova tecnologia empregada.
Diante dessa necessidade, o legislador cuidou de criar tipos penais adequados à nova realidade, mostrando assim atenção aos princípios constitucionais envolvidos nesse crucial aspecto do processo eleitoral.
A primeira questão que se apresenta diz com a severidade da pena cominada (cinco a dez anos), o que reflete a elevada lesividade da conduta. Ainda que se possa debater sobre a adequação de pena mínima tão elevada, certo é que expressa a preocupação do legislador com o bem jurídico protegido.
Outra conclusão que se pode extrair da norma é a grande utilização de crimes formais ou de mera conduta, na medida em que vários dos verbos nucleares empregados prescindem de qualquer resultado material para a configuração do crime. Afora o disposto no inciso III e a conduta “provocar qualquer outro resultado diverso do esperado em sistema de tratamento automático de dados usados pelo serviço eleitoral”, no inciso II, as demais condutas não exigem qualquer resultado concreto para sua integração. Essa característica, como já referido, reflete uma técnica legislativa voltada a evitar o dano, antecipando a ele o momento da criminalização, para que a extremada sensibilidade dos princípios fundamentais envolvidos e a difusão do bem jurídico na sociedade possam ser adequadamente preservadas.
Também se destaca o caráter doloso das condutas, salientando-seque, no inciso I, há, além do dolo genérico, necessidade de elemento subjetivo do injusto, ou dolo específico na dogmática clássica, pois deve o agente atuar com o especial fim de “alterar a apuração ou a contagem de votos”. É necessário concluir, ainda, que se trata de crimes comuns quanto à autoria, pois não se exige qualquer especial qualidade do agente.
Corrupção eleitoral
A corrupção eleitoral, um dos crimes eleitorais mais importantes, vem tratada no art. 299 do Código Eleitoral, que tem por objetivo assegurar a liberdade de consciência do eleitor ao votar, ou seja, impedir que o sufrágio seja influenciado por fatores outros que não a convicção política do eleitor. Essa garantia é expressão clara da liberdade política, da igualdade entre os candidatos e da legitimidade do pleito, logo, apresenta ligação direta com os princípios constitucionais fundamentais.
A norma estabelece o tipo penal na conduta de “dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar o voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita”, cominando pena reclusiva de até quatro anos e multa. 	A existência do crime destinado a atingir bem jurídico tão significativo merece destaque, porém, de modo diverso do que ocorre nos crimes tratados no tópico anterior. A evolução do mundo fático não parece ter sido acompanhada pelo legislador no sentido de assegurar proteção suficiente aos valores constitucionais envolvidos. A propósito, a sanção de até quatro anos para aquele que corrompe o processo eleitoral mostra-se flagrantemente insuficiente, especialmente quando comparada com delitos que ferem bens de menor relevância social, como o estelionato, por exemplo. O resgate da proteção ao bem jurídico aqui tutelado passa, portanto, por sanções que reflitam a real gravidade das condutas. Desse modo, parece clara a necessidade de revisão do crime de corrupção eleitoral para que se dê adequada proteção penal aos princípios mais caros ao processo eleitoral.
Conclusões
	Com base na argumentação exposta, pode-se concluir que os princípios republicano, federativo e democrático, fundamentos do Estado brasileiro, estão diretamente envolvidos no processo eleitoral, decorrendo dessa relação a necessidade de que o legislador e o aplicador das normas que o compõem observem diretrizes constitucionais para a proteção suficiente dos bens jurídicos envolvidos.
	Os crimes eleitorais desempenham papel importantíssimo nessa missão, porém, pode-se constatar déficit de proteção criminal, especialmente no que diz respeito à corrupção eleitoral e à movimentação de recursos não declarados nas prestações de contas dos candidatos, temas que reclamam a atenção do legislador e do Poder Judiciário.

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