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Unidade I LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA E DIFERENÇA A problematização do Cânone e o Pós-Colonial Profa. Ma. Andréa Cotrim Objetivos Identificar o conceito “literaturas e diferenças”. Compreender o universo pós-colonial de língua inglesa. Estudar manifestações literárias de ex-colônias inglesas. Abarcar literaturas como forma de resistência e afirmação indetitária. Objetivos específicos Discutir os conceitos de “canône” e “pós-colonialismo”. Cânone de Língua Inglesa e literatura de Língua Inglesa pós-colonial. O “entre-lugar”. O que é diáspora. Identidades culturais. Conteúdo da Unidade I Tópico 1 – “A questão do pós-colonial” Tópico 2 – “O pós-colonial e o pós-modernismo” Tópico 3 – “O canônico e o marginal” Tópico 4 – “A diáspora e o entre-lugar” Conteúdo da Unidade II Na segunda unidade, serão trabalhados os gêneros: poesia; teatro; romance de alguns países pós-coloniais, dentre eles: Índia, África do Sul e Nigéria. O pós-colonial Trata de representações sociais. Na literatura, considera elementos, anteriormente, à margem de uma estética, considerada refinada. Por essa razão, temos o cânone e o marginal. O que está à margem é desvalorizado e, até mesmo, apagado. Tópico 1 – A questão do pós-colonial A Índia e alguns países africanos ex-colônias do Império Britânico, tais como a África do Sul e a Nigéria, por exemplo, são considerados países pós-coloniais. Historicamente, o pós-colonialismo deu-se na segunda metade do século XX quando ex-colônias inglesas conquistaram sua independência. Nesse processo, houve também uma grande diáspora mundial – o que significou uma reconfiguração sociopolítico-cultural do velho mundo. Points to ponder O termo pós-colonial não se refere apenas à produção cultural advinda do processo de independência, mas resgata, por exemplo, manifestações literárias anteriores à colonização como a literatura oral indígena. O termo também é utilizado para estudos que versam sobre a dominação até os dias de hoje, pois não é somente sobre o período das agressões europeias, mas também sobre suas consequências até hoje. A terminologia também tem a ver com a crítica cross-cultural que se formou. Narrativas pós-coloniais As narrativas pós-coloniais são reveladas como expressão de resistência ao colonial. Trata-se de um discurso crítico, portanto, no qual configura-se um movimento de expressão literária que tem como efeito a construção de um lugar político de voz do oprimido ou de minorias anteriormente caladas. O pós-colonial não é somente um período histórico, mas uma teoria social, a manifestação cultural via literatura e outras artes, por meio de um discurso crítico. Teoria pós-colonial O efeito da colonização foi devastador! Molda a linguagem. Impõe um sistema educacional. Impõe uma religião. Restringe sensibilidades artísticas e culturais. Teoria pós-colonial (2) A teoria pós-colonial responde não somente ao discurso imperialista de dominação, mas analisa o movimento histórico-político. É engajada. Procura a resistência ao modelo eurocêntrico de verdade. Estuda e desconstrói os efeitos no discurso histórico, cultural, pedagógico etc. Teoria pós-colonial (3) Inevitavelmente, o pós-colonialismo se atém para: peças teatrais, romances, filmes; expressões de resistência à colonização. Como discurso crítico, analisa o colonialismo e desvela suas estruturas de poder, presentes nos textos. (GILBERT e TOMPKINS, 2002, p. 14) O discurso colonial x o pós-colonial O pós-colonial, portanto, desconstrói, por meio dos textos acadêmicos ou literários, instituições estabilizadoras da condição de colonizado. Trata-se de um desmantelamento do colonial ou das instituições que se consagraram no período colonial. A palavra nega uma identidade “original” ou uma “singularidade” aos objetos da diferença – sexual ou racial. “O discurso colonial é uma forma de discurso crucial para a ligação de uma série de diferenças e discriminações que embasam as práticas discursivas e políticas da hierarquização racial e cultural” (BHABHA, 1998, p. 107). De colônia a colonizador Todavia, os Estados Unidos, apesar de terem passado pelo período histórico de descolonização, não são considerados como pós-coloniais, pois se tornaram potência econômica. Seu status político-econômico no mundo os levou a uma condição de colonizador do mundo e não de ex-colônia. Os Estados Unidos Os EUA são neoimperialistas, mas há a presença de literatura da diferença. A literatura das consideradas minorias – negros, mulheres, hispânicos, indígenas, homossexuais, entre outros – pode ser estudada sob o âmbito da diferença. Tal significa o lugar da alteridade – a relação com o outro. No âmbito dos Estados Unidos, há uma relação entre centralidade e marginalidade e tais literaturas são consideradas como marginais. Interatividade Assinale a alternativa incorreta em relação aos Estados Unidos: a) São neoimperialistas e, portanto, não possuem literatura de diferença. b) A literatura dos indígenas pode ser considerada da diferença. c) O estudo da relação com o outro tem a ver com o lugar da alteridade. d) Literaturas de negros, mulheres e homossexuais são consideradas marginais. e) Passaram pela descolonização. Tópico 2 – O pós-colonial e o pós-moderno “[...] Pós-modernidade é uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a ideia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. Contrariando essas normas do iluminismo, vê o mundo como contingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível, um conjunto de culturas ou interpretações desunificadas gerando um certo grau de ceticismo em relação à objetividade da verdade, da história e das normas, em relação às idiossincrasias e à coerência de identidades.” (EAGLETON, 1998, p. 7) Pós-modernidade x pós-modernismo Pós-modernidade não é sinônimo de pós-modernismo. Embora tenham ideias semelhantes, o primeiro termo refere-se ao período histórico e contextual, o segundo refere-se a um estilo de cultura. Contextualmente, a pós-modernidade seria uma era em que o pós-modernismo, “um estilo de cultura”, segundo Eagleton (1998), atua. Pós-modernidade x pós-modernismo (2) Ainda Eagleton afirma que: “Pós-modernismo é um estilo de cultura que reflete um pouco essa mudança memorável por meio de uma arte superficial, descentrada, infundada, autorreflexiva, divertida, caudatária, eclética e pluralista, que obscurece as fronteiras entre a cultura ‘elitista’ e ‘cultura popular’, bem como entre a arte e a experiência cotidiana” (EAGLETON, 1998, p. 7). Pós-modernidade/Era Moderna Há, ainda, a concepção de Hall (2005) de que a pós- modernidade – período histórico, contextual – seria semelhante à “modernidade tardia” ou a simplesmente, como afirma Giddens (1990), “era moderna”. O que é “moderno”, para Giddens, diz respeito à dinâmica social, mudança constante e rápida. É interessante considerarmos um fato: pós-modernismo não é sinônimo de pós-colonialismo. Pós-modernidade/Era Moderna (2) A pós-modernidade, por sua vez, é uma abordagem teórica, filosófica, muito mais abrangente do que o pós-modernismo, que é simplesmente uma ideia, um estilo cultural. Na literatura, podem ocorrer relações entre “pós-modernismo” e “pós-colonial”, mas não podemos considerá-los como manifestações equivalentes. Diferenças e similitudes Embora o pós-modernismo tenha um discurso semelhante ao pós-colonialismo, no que diz respeito à estética variada, à forma desconstruída e à estética híbrida, o pós-colonialismo apresenta uma agenda específica, a qual desmantela, como bem colocam Gilbert e Tompkins, os limiares hegemônicos. Você, caro aluno, estudará as manifestações literárias de países ex-colônias britânicas. Serão abordadas as literaturas da Nigéria, da Índia, da África do Sul, dentre outros. Tópico 3 – O canônico e o marginal Você já pensou no termo “cânone” ou “literatura canônica”? No contexto de Literatura de Língua Inglesa, o que seria considerada canônica? Qual a relação entre cânone e Literaturas de Língua Inglesa produzidas nas ex-colônias? Por que estas não são consideradas canônicas? Formação dos estudos de literatura canônica Durante o Império Britânico, principalmente quando a Inglaterra dominou a Índia, a Literatura Inglesa Canônica era utilizada para fins de dominação. O processo de dominação inglesa, via aculturação, também era feito via instituição da disciplina “Literatura Inglesa” nas escolas indianas – e escolas nas colônias inglesas, em geral. A finalidade do ensino da Língua Inglesa, via literatura canônica, era “modelar” o povo indiano (e demais) à luz da civilização britânica. Função da disciplina English Studies A disciplina “English Studies” apareceu no século dezenove, no auge do colonialismo inglês, em tensão com os estudos clássicos – grego, latim e hebraico. Tinha a finalidade de civilizar trabalhadores, mulheres e colonizados. Pretendia contribuir para a formação de uma tradição nacional na Inglaterra e ajudar no desenvolvimento de sua identidade nacional. Foi levada às colônias, portanto, com o fim de civilizar os colonos. O surgimento das literaturas de língua inglesa A partir da década de 1960, a disciplina passou a ser problematizada e resistida por parte daqueles que tinham sido o alvo desse processo de “civilização”: mulheres, nativos, ex-colonizados. Houve uma desconstrução e reescrita da tradição. Essas novas vozes resistiam à tradição literária inglesa como sendo representativa do homem branco e europeu, produzindo assim uma mudança na consideração da “Literatura Inglesa” de um conceito de literatura nacional única, universalista e um conceito de literatura multicultural: social, situada e múltipla. O surgimento das literaturas de língua inglesa (2) Isso se deu por meio da criação de novas literaturas nacionais em inglês, que foram chamadas de “pós-coloniais”: indiana, africana, caribenha, neozelandesa, canadense, norte-americana. Por sua vez, esse processo levou a uma reconsideração dos conceitos de literatura, do currículo e, por conseguinte, das práticas pedagógicas (FESTINO, p. 171). Literatura como instrumento civilizatório O lugar da literatura de língua inglesa era, antes de a Inglaterra tornar-se Império, como uma disciplina secundária, geralmente instituída às mulheres. Posteriormente, ela passou a ser elemento civilizatório. O cânone inglês tinha uma função pedagógica: levar os povos colonizados, os “não civilizados” à luz; manter a hierarquia na arte; banir da literatura qualquer elemento que contaminasse a erudição da linguagem e a perfeição da forma (JACOMEL, p. 5). Interatividade O estudo de termos dicotômicos como “nós e eles”, “primeiro mundo e terceiro mundo”, “branco e negro”, “colonizador e colonizado” perfazem os estudos do(a) chamado(a): a) Pós-modernismo. b) Crítica cultural. c) Pós-colonialismo. d) Pós-modernidade. e) Pós-estruturalismo. Narrativas hegemônicas O cânone, na verdade, tem de legitimar, hierarquizar o lugar da literatura. Quando pequenos, até hoje, costumamos contar histórias, fábulas oriundas da literatura ocidental europeia. Tal herança trata-se de uma hegemonia sobre as culturas locais. O cânone também tem esse tipo de relação: consideram-se determinados textos como modelares. Processo de aculturação A seleção dos textos de autores considerados consagrados do universo literário britânico é senão uma imposição cultural, o processo de aculturação que: adormece as culturas locais – a indígena e a de outros povos e enaltece autores que, por meio dos seus textos, levam uma cultura a ser considerada superior, refinada, legítima. A esse processo chamamos de pedagogia impositiva. A forma como tais textos também são ensinados configura o status canônico. Por que ensinar tais textos como exemplares se eles são oriundos do colonizador? Onde ficam as literaturas locais? Processo de aculturação (2) A tradição em se escolher “mestres” da arte de escrever sustenta uma espécie de domínio sobre o público leitor. Isso comprova que o cânone literário não se restringe apenas às questões estéticas do texto literário, mas também a fatores sociais e morais do universo do escritor. Por isso, as “listas” não agregam mulheres, negros, ex-colonizados; enfim, personalidades que não preenchem os critérios ideológicos estabelecidos pela crítica tradicional. Os perigos da história única Trata-se, portanto, de uma tradição greco-latina de se considerar textos legítimos, modelares, exemplares, pertencentes a uma determinada sociedade privilegiada ou dominante. O mesmo ocorre com o Império Britânico. Ensinam-se aos colonizados textos de autores como Chaucer, Shakespeare, Milton, Coleridge, entre outros. Os perigos da história única (2) As histórias únicas são validadas, legitimadas sutilmente, por meio do processo de imposição cultural. Muitas vezes, a leitura dos cânones pode formar histórias únicas, pois as narrativas designam verdades sobre determinado povo. E as narrativas de um povo sobre o outro também fomentam as perversas histórias únicas. Os perigos da história única (3) “A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis em face de uma história, principalmente quando somos crianças. Porque tudo que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Os perigos da história única (4) Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos... Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são.” (ADICHIE, 2009) Representações de poder A história única trata de uma relação de poder, de visão de mundo, de legitimação. O estereótipo faz parte de uma construção generalizada e equivocada. Tal processo acontece por meio da invasão cultural de países desenvolvidos em relação aos subdesenvolvidos. Os valores, as culturas de outrora são adormecidos. O cânone também tem este papel: o de legitimar o que significa ser literário. Descolonização e literatura da diferença Entende-se por descolonização o processo de independência de ex-colônias. O que isso significou para a produção literária nas ex-colônias? A impulsão da arte produzida nas ex-colônias era a de criar ou resgatar uma identidade. Formar um cânone ou recuperar aquele que havia sido apagado seria uma das funções da arte. O desenvolvimento das literaturas pós-coloniais também. Com estética própria e uma política afirmativa. Construindo uma nova identidade A narrativa do outro decorre da mudança de sujeito. Ele é construído a partir de uma tradição, não mais a inglesa, mas uma nova tradição – a das próprias nações. Há uma tentativa de reconstrução ou resgate cultural refletida nessa narrativa. A língua nessanova agenda teórica é uma ferramenta utilizada de diversas formas. Não serve somente como uma função de comunicar, mas de traduzir, caracterizar e identificar novas culturas. Trata-se de uma reapropriação cultural. English(es) Com letra minúscula, nesse contexto, significa a língua de resistência. O English, como é conhecido, representa a língua do dominador. Temos as línguas vernáculas de países africanos, ex-colônias britânicas. A condição de ser Negro também é incentivada pelo movimento de negritude. No entanto, tem sido alvo de críticas. Tópico 4 – A diáspora Nesta seção, será abordada a questão da diáspora, uma teoria social que inclui as manifestações artísticas e literárias, e a do entre-lugar. Quando pensamos em “diáspora”, pensamos no termo “deslocamento”. A diáspora sempre lida com questões de identidade. Todavia, tal deslocamento não é somente uma mudança física; refere-se às questões de construção de sujeito e representação. Definição A diáspora é definida por conjunturas históricas, pessoais e estruturais. É um deslocamento, um descentramento, a fragmentação do sujeito, uma fricção. Vai deslocar demarcações étnicas, de classe, nacionalidade, gênero, religião, sexualidade. Diáspora no Caribe Contexto do Caribe: Recebeu muitos migrantes, entre eles: escravos africanos e indianos. Estes migraram no período de descolonização, após a Índia ter adquirido sua independência do Império Britânico, em 1947. O Caribe é uma complexidade cultural, justamente, porque sua identidade é híbrida, mesclada e dinâmica. Não se pode falar sobre o Caribe como uma nação primária, constituída por um ou outro grupo. Stuart Hall: exemplo do movimento diaspórico Por ter origem africana e europeia e ter sido criado na Inglaterra, Hall não era considerado inglês, mas um caribenho inglês. Por que os negros britânicos não são considerados simplesmente britânicos? Eles seriam britânicos, mas de origem caribenha. Categorias impostas (Stuart Hall) Uma geração pode, incidentalmente, tornar-se “caribenha”, não no Caribe, mas em Londres! Existem as semelhanças com as outras populações ditas de minoria étnica, identidades “britânicas negras” emergentes, a identificação com os locais dos assentamentos, também as reidentificações simbólicas com as culturas “africanas” e, mais recentemente, com as “afro-americanas” – todas tentando cavar um lugar junto, digamos, à sua “barbadianidade” [Barbadianness] (HALL, 2009, p. 26-27). Interatividade O que não é certo dizer sobre a diáspora caribenha? a) Recebeu muitos migrantes e escravos africanos. b) Recebeu muitos indianos que migraram durante a colonização britânica. c) A identidade no Caribe é híbrida. d) O Caribe tem uma complexidade cultural enorme. e) Quem tem origem africana e europeia e é criado na Inglaterra, pode não ser considerado inglês, mas um caribenho inglês. Diásporas A diáspora caribenha diz respeito, no âmbito de deslocamento físico, à mudança de africanos negros ao continente americano (América Central). Também pode-se falar da diáspora dos indianos em relação à ex-metrópole Inglaterra, bem como a diáspora – deslocamento – de indianos à América Central. Identidades móveis Identidades móveis afetam e são afetadas pelos movimentos transnacionais. Modificam, por sua vez, os sujeitos que se movem pelas fronteiras, bem como aqueles que se encontram enraizados. Torna-se possível, então, falar não apenas de uma identidade nacional ou subjetividade individual, mas sim de identidades híbridas e afiliações múltiplas que definam os sujeitos. Identidades móveis Esses sujeitos são detentores de uma cidadania transitória, refletindo um posicionamento que os situa em relação a um contexto espacial específico, local, mas ao mesmo tempo movente e transnacional (GOULART, p. 12). A busca do novo paradigma é o desafio dos estudos culturais atuais que funda o sentido de “entre-lugar”. O entre-lugar O que anteriormente parecia básico, singular, estático, tais como os conceitos de gênero, classe, comunidade ou nação, passam a ser irregulares. Há uma desconstrução, novas posições. O entre-lugar de Bhabha, portanto, trata-se da subjetivação – a própria interpretação – que pode ser realizada individualmente ou coletivamente – desses signos. O entre-lugar (inbetweeness) não se trata de um lugar geográfico. Trata-se de um lugar cultural, híbrido, dinâmico e irregular. O entre-lugar (2) O entre-lugar de Bhabha (1998), em “The location of Culture” (o lugar da cultura) pode ser um lugar narrado, fora das tradições inglesas ou da narrativa em língua inglesa do lugar alheio (other place – a colônia). O entre-lugar também questiona o cânone. Existe uma tradição inglesa para levar a inglesidade (Englishness) aos povos das ex-colônias. O entre-lugar (3) O afastamento das singularidades de “classe” ou “gênero” como categorias conceituais e organizacionais básicas resultam em uma consciência das posições de sujeito – de raça, gênero, geração, local institucional, localidade geopolítica, orientação sexual – que habitam qualquer pretensão à identidade no mundo moderno. O que é teoricamente inovador e politicamente crucial é a necessidade de passar além das narrativas de subjetividades originárias e iniciais e de focalizar aqueles momentos ou processos que são produzidos na articulação de diferenças culturais. O entre-lugar (4) “Esses entre-lugares fornecem o terreno para a elaboração de estratégias de subjetivação – singular ou coletiva – que dão início a novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no ato de definir a própria ideia de sociedade.” (BHABHA, 1998, p. 20) Movimento de negritude Na América, o movimento de negritude foi desenvolvido pelos trabalhos de Fanon, a fim de desenvolver uma espécie de identidade negra. Identidade Negra. Na África, sua teoria foi desenvolvida como pan-africanismo, que procurou articular características culturais comuns e diferenças do legado colonial. Negritude nos EUA O escritor negro norte-americano Richard Wright escreveu obras autobiográficas as quais tratavam do que significava ser negro no Mississipi no início do século XX. Em seu romance, conhecido também como autobiografia, “Black Boy”, Wright, desde a mais tenra idade, questiona as relações raciais. Embora seja considerado um escritor oriundo de um país não pós-colonial, podemos considerá-lo um escritor que se encaixa na agenda pós-colonial, pelo fato de se ter uma necessidade de expressão. Wright, em um texto de 1945, tenta entender o que é ser negro. Negritude nos EUA (2) Sendo um dos maiores escritores do século XX, Richard Wright problematiza sua condição em toda sua obra literária. Por ter vivido em um ambiente hostil e racista no sul dos Estados Unidos, Mississipi, sua obra “Black boy” retrata a infância de um garoto em um ambiente de segregação. O menino da história não consegue entender o que significa ser negro, categoria pré-definida por brancos. Negritude nos EUA (3) É interessante verificarmos que a noção de diferença que foi destinada aos negros norte-americanos, no universo sulista. “Black boy” pode ser considerado um entre-lugar social, devido à condição de sê-lo em um ambiente hostil. Afinal, ser negro significa pertencer àquele espaço? O negro seria um “ambulante” que está em constante movimento. Essa oscilação é o questionamento da própria existência do negro. Por isso, podemos considerar essa obra, mesmo que seja norte-americana, sob o âmbito do entre-lugar. Negritude nos EUA (4) Em suma, podemos também concluir que a diáspora refere-sea um movimento de identidades culturais, o qual vai além do espaço físico. Trata-se do espaço social e o espaço também das representações. O entre-lugar, teoria de Bhabha, dialoga com a questão do movimento da Diáspora de Stuart Hall, por envolver lugares sociais e questões de pertencimento. A questão do entre-lugar existe, principalmente, na literatura pós-colonial de língua inglesa. Interatividade O que é incorreto afirmar sobre o “entre-lugar”? a) É movimento de identidades do espaço físico. b) Trata-se de um deslocamento da esfera física, social e representacional. c) Envolve questões de pertencimento. d) É um movimento de aceitação rápida pelos nativos do lugar que recebem as ondas migratórias. e) Existe, principalmente, na literatura pós-colonial de língua inglesa. ATÉ A PRÓXIMA!
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