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DA TEORIA À PRÁTICA CURSO GENOGRAMA 360º Adriana Bonneterre Algumas sugestões da equipe de produção. "A borda preta pontuda pode ter ficado um pouco pesada. Seria possível algo mais curvo e menos escuro? O corte de baixo (verde) também poderia ser algo mais sutil talvez. Na identidade visual que adotamos para este curso costumamos utilizar elementos bem suaves e trabalhar bastante com círculos. Envio em anexo os slides de uma das aulas para que você possa captar a ideia melhor. Poderia tentar deixar o Ebook com uma cara mais próxima dos slides?" meu email: adriana.bonneterre@gmail.c om Obrigada SUMÁRIO 54 Aula 3.1 - Casos apresentados da literatura Aula 3.2 - Caso clínico Aula 3.3 - Intervenções realizadas no caso clínico 1 5 MÓDULO 01 ..................................................... Quem é Adriana Bonneterre Introdução Introdução à Abordagem Sistêmica Aula 1.1 – Pensamento sistêmico Aula 1.2 - Principais escolas sistêmicas Aula 1.3 - Sistêmica transgeracional ....................................................... ............................... 3 4 2 28 MÓDULO 02 ..................................................... Desvendando o Genograma Aula 2.1 - A história da criação do genograma Aula 2.2 - A importância das entrevistas para o êxito na construção Aula 2.3 - Símbolos estruturais e relacionais do genograma 3 45 MÓDULO 03 ..................................................... Genograma na Prática 4 MÓDULO 04 ................................................. Referência Bibliográfica ..................................... 59 Produção online 56 5 MÓDULO 05 ................................................. Live QUEM É ADRIANA BONNETERRE Psicóloga clínica e professora. Mestre em Saúde da Família pela Universidade Estácio de Sá, com especialização em Psicologia Hospitalar e Saúde Mental & Atenção Psicossocial. Participou da implantação do Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE) para os alunos do curso de Medicina da Universidade Estácio de Sá. Atuou como coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) do curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, campus NorteShopping (Rio de Janeiro). Atualmente participa como consultora do desenvolvimento de programas e ações de fortalecimento socioemocional e suporte psicológico no Centro de Promoção e Saúde (Cedaps). INTRODUÇÃO O curso Genograma 360°: da teoria à prática tem como objetivo apresentar a importância da ferramenta para a prática clínica, contribuir de forma eficaz para o aprimoramento do diagnóstico e da avaliação, além de ampliar as possibilidades de intervenção. Foi desenvolvido em cinco módulos, dos quais três são de conteúdo teórico e dois de atividades práticas. No módulo 1, o conteúdo apresentado está relacionado à abordagem sistêmica, cujo objetivo é auxiliar na compreensão da utilização do genograma, sua relevância e poder transformador. Iniciamos com os pressupostos do pensamento sistêmico, seguimos passando pelas principais escolas sistêmicas e finalizamos com a abordagem sistêmica transgeracional. Tratamos da abordagem sistêmica porque, sendo o genograma a principal ferramenta desta abordagem psicológica, precisamos de seu embasamento teórico como referência no levantamento de hipóteses, avaliações e intervenções. No segundo módulo apresentamos a história e o conceito do genograma, seu contexto e como deve ser aplicado na prática clínica. No módulo 3, consolidamos o conhecimento através da apresentação de casos clínicos na literatura. Este momento é importante para o aprofundamento na aplicação da ferramenta. No quarto módulo a orientação se dá na prática através de um site gratuito em que apresento a construção on-line de um genograma. E, por último, no quinto módulo, teremos encontros semanais através da plataforma Zoom, por meio de link que será sempre disponibilizado com antecedência. Este será o momento em que estaremos juntos trocando experiências sobre o curso, nossas práticas e abrindo espaço para orientações. Seja bem-vindo ao curso Genograma 360°: da teoria à prática! BONNETERRE, A. 4 Introdução à Abordagem Sistêmica C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 6 INTRODUÇÃO À ABORDAGEM SISTÊMICA MÓDULO 01 BONNETERRE, A. AULA 1.1 – PENSAMENTO SISTÊMICO Antes de entrarmos propriamente na introdução à abordagem sistêmica, é importante recordar os conceitos básicos sobre desenvolvimento humano, na medida em que ao revisitar as histórias estaremos acessando as experiências de todos os envolvidos dentro do nosso sistema familiar. Será como se todos voltassem à sua própria história para contribuir com informações para o processo de nosso cliente. Portanto, esse é um caminho que precisa ser bem-estruturado para não causar mais perdas do que ganhos. Conceituando Desenvolvimento Humano Desenvolvimento humano é o estudo que avalia as mudanças e estabilidades que ocorrem com o ser humano ao longo de todo o seu ciclo vital, envolvendo suas dimensões física, cognitiva e psicossocial. O ciclo de vida aceito nas sociedades ocidentais se divide em oito fases: período pré-natal (da concepção ao nascimento); primeira infância (do nascimento aos 3 anos); segunda infância (de 3 a 6 anos); terceira infância (dos 6 aos 11 anos); adolescência (dos 11 a aproximadamente 20 anos); início da vida adulta (dos 20 aos 40 anos); vida adulta intermediária (de 40 a 65 anos); e vida adulta tardia (de 65 em diante). Os estudos sobre o assunto levam em consideração os diferentes contextos nos quais o sujeito está inserido, assim como os diferentes tipos de influências sofridas por ele advindas do seu sistema familiar, do tempo histórico que vive, da cultura em que está agregado, entre outras. 7 BONNETERRE, A. Essas informações serão relevantes pois servirão para lembrar dos contextos e influências que fazem parte da construção do sujeito, no nosso caso, o sujeito sistêmico. Quando falamos nas diversas influências que sofremos ao longo de todo o nosso ciclo vital, podemos dizer que estas irão afetar nossas dimensões física, cognitiva e psicossocial. Dessa forma, será necessário compreender esse sujeito que estará diante de nós através do modelo preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que se refere ao indivíduo como um sujeito biopsicossocial espiritual. Assim, será interessante observar como nosso cliente chegará até nós com sua demanda, sendo importante perguntar sobre sua condição física, o seu funcionamento fisiológico, porque muitas vezes há uma questão hormonal, uma anemia profunda, que podem interferir numa série de comportamentos. Com relação às demandas psicológicas, emocionais e relacionais, estas ficam por conta do profissional de psicologia, espaço no qual o genograma servirá como uma ferramenta bastante útil para o processo de ganhos na qualidade de vida e saúde mental do sujeito em sofrimento. Outra dimensão importante no processo é a chamada dimensão espiritual, que significa aquilo que energiza, que dá força para o sujeito, lembrando que existe a possibilidade de, ao revisitar a sua história, muitas questões serem revividas, muitos segredos serem descobertos e ele vir a precisar de uma rede de apoio amplificada. Sendo assim, a espiritualidade e as suas crenças podem ser um fator bastante importante nesse momento. Por esse motivo, abra espaço para esse diálogo se achar conveniente. Nós também teremos na abordagem sistêmica um ciclo de vida específico, no qual vários marcos importantes, que na verdade vão interferir muito no funcionamento tanto individual quanto do sistema familiar e do casal, surgirão. Por exemplo, a chegada de um filho num sistema familiar, a saída de um filho de casa, uma gestação de produção independente, enfim, temos alguns marcosque podem repercutir dentro das relações, sendo dessa forma importantes em nossas avaliações. 8 BONNETERRE, A. PENSAMENTO SISTÊMICO Para dar início aos nossos estudos sobre pensamento sistêmico, vamos começar definindo o conceito geral de sistemas, a compreensão do papel da primeira e segunda cibernética na construção do pensamento sistêmico, assim como a comunicação. O entendimento sistêmico requer uma compreensão dentro de um contexto, de forma a estabelecer a natureza das relações, em que a principal característica da organização dos organismos é a natureza hierárquica. TEORIA GERAL DOS SISTEMAS OU TEORIA SISTÊMICA Na década de 1950, Ludwig von Bertalanffy, um biólogo, começa a estudar os diferentes sistemas. Seu interesse era saber como funcionavam. Primeiro, pensa diferentes sistemas em diferentes espaços, descobrindo que existem em todos os lugares. A partir dos sistemas, dos seus estudos com a biologia, com os seres vivos e com a natureza, ele começa a perceber que esses sistemas que se interconectam são interdependentes, isto é, eles também acontecem nos sistemas sociais, nos sistemas das organizações, enfim, Bertalanffy sugere que tudo é sistema. Em seus estudos estava o interesse em analisar como esses sistemas se conectam sem perder sua funcionalidade, ou seja, sem que percam aquilo que é individual; que sejam funcionais e que um precise dos elementos do outro para se desenvolver, mas sem perder as suas características, sem se tornarem disfuncionais ou se autodestruírem. Principais transições ecológicas 9 BONNETERRE, A. Vejamos os conceitos que compõem a Teoria Geral dos Sistemas: • Globalidade: funcionam como um todo coeso, uma parte alterada modifica o todo; • Circularidade: causalidade circular, causa e efeito, do que produz efeito; • Não somatividade: o sistema não é a soma das partes, embora o indivíduo faça parte da família, ele mantém sua individualidade. • Homeostase: processo de autorregulação mantendo a estabilidade do sistema; • Morfogênese: o oposto da homeostase , característica dos sistemas abertos de absorver aspectos do meio e mudar sua organização; • Equifinalidade: está relacionado ao sistema aberto. O ponto de partida não determina o resultado. No sistema fechado, o estado de homeostase é dado pelas condições iniciais. Cibernética é o estudo dos mecanismos de retroalimentação ou feedback em sistemas que se autorregulam. A retroalimentação garante a circulação da informação entre os elementos do sistema, podendo ser negativa ou positiva: • Negativa: quando o sistema mantém a homeostase. • Positiva: quando o sistema responde pela mudança sistêmica (morfogênese). Essa interação denominamos de sinergia, a falta dela entropia. Um sistema retroalimentado é um sistema dinâmico, um ciclo de retroação, uma saída capaz de alterar a entrada que a gerou, e consequentemente a si própria, porque é circular (causa e efeito). FEEDBACK = REALIMENTAÇÃO = RETROAÇÃO 10 BONNETERRE, A. CIBERNÉTICA DE PRIMEIRA ORDEM São características da primeira cibernética: Na primeira cibernética surge o conceito de homeostase, ou seja, a necessidade de o organismo do sistema em manter-se em equilíbrio. Dessa forma, ele vai buscar várias maneiras de autorregulação e de automanutenção do sistema com o objetivo de manter a homeostase de seu funcionamento, mesmo que para isso precise manter o sintoma e a disfuncionalidade do sujeito. Esse mecanismo é chamado de retroalimentação negativa. Na psicologia clínica infantil o mecanismo fica bastante evidente, a criança é identificada pela família como o problema, pois ela traz o sintoma, mas na medida em que o processo psicoterápico avança fica claro que a disfuncionalidade é do sistema. A criança só ocupa o lugar do sintoma para manter o equilíbrio dessa família. Na medida em que essa criança começa a melhorar, o que acontece? Ela desestrutura esse sistema. Nesse momento normalmente os pais ou a figura de cuidado interrompem a psicoterapia, eles precisam dessa criança nessas condições de sintoma para que esse sistema continue no seu processo de homeostase, mesmo que de forma disfuncional, é o que chamamos de retroalimentação negativa. SEGUNDA CIBERNÉTICA E SUAS CARACTERÍSTICAS São características da segunda cibernética: • Retroalimentação negativa e retroação reguladora; • Retorno à homeostase - processo morfoestático; • Autorregulação e automanutenção do sistema; • Input e output; • Observador fora do sistema. • Retroalimentação positiva e retroalimentação amplificadora de desvios – se não destruir o sistema, será capaz de promover a transformação (processo morfogenético); • Input, output e feedback; • Automudança do sistema. 11 BONNETERRE, A. Na segunda cibernética o sintoma não é a questão; o olhar é ampliado com o objetivo de compreender o sistema, seu funcionamento. Essa função amplificadora, se não destruir o sistema e se a estrutura permitir, acaba por promover a transformação do sistema. Neste caso é considerado como uma retroalimentação positiva, porque essa retroalimentação é amplificadora, indo além do sintoma, buscando de verdade, a mudança desse sistema. Através de quê? Da entrada, do processamento, da saída e do feedback das informações. Então, na medida em que tenho a entrada de informações, processamento, saída e um feedback, eu consigo fazer os ajustes necessários na comunicação até que o sistema se torne funcional novamente, assim as trocas de informações vão ocorrendo orientadas para a solução do problema, as pessoas vão se organizando, buscando saídas para que o sistema volte a funcionar de forma equilibrada para todos e não simplesmente com o foco em eliminar o sintoma, mas, sim, proporcionar bem-estar e equilíbrio que sejam muito mais focados no coletivo, de uma forma amplificada, não individual. CIBERNÉTICA DE SEGUNDA ORDEM E SUAS CONTRIBUIÇÕES Também chamada de cibernética da cibernética, contribui para o entendimento do funcionamento do sistema a partir dos conceitos apresentados abaixo: • Complexidade – ligada ao sistema, causalidade, pensamento complexo; • Instabilidade – relacionada à desordem; • Intersubjetividade – observador incluso e autorreferência. TEORIA DA COMUNICAÇÃO HUMANA Afirma que a comunicação afeta o comportamento, ocasionando implicações nas relações interpessoais. A atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, tudo possui valor de mensagem. 12 BONNETERRE, A. Gregory Bateson, junto com o grupo de Palo Alto, descreveu a comunicação patogênica na família de pacientes com esquizofrenia e apresentou a hipótese de duplo vínculo, ou seja, uma forma paradoxal que tem profundas implicações nas relações interpessoais. Por exemplo, através da linguagem verbal posso transmitir uma informação de afeto, enquanto que, através da linguagem não verbal, ou seja, dos gestos, das expressões faciais e corporais, emito outro tipo de informação, como raiva, desprezo. Essa dicotomia provoca uma dificuldade de interpretação do que de fato está sendo comunicado. A comunicação abrange fatores como: A origem da comunicação humana envolve 3 dimensões: Na psicologia, os sistemas são estruturas organizadas hierarquicamente que precisam ser analisadas em sua totalidade desde seus aspectos macro, de ordem social, passando por níveis intermediários, como as culturas das comunidades locais, até atingir seu nível mais proximal: a família. O PENSAMENTO SISTÊMICO E O CAMPO DA PSICOLOGIA CONTEÚDO FORMA LINGUAGEM O que dizemos Como dizemos Verbal e não verbal SINTAXE SEMÂNTICA PRAGMÁTICA Transmissão da informação Significação dos símbolos Aspectos comportamentais da comunicação • TEORIA GERAL DOS SISTEMAS • CIBERNÉTICA• TEORIA DA COMUNICAÇÃO • MUDANÇA DE FOCO DO INTRAPSÍQUICO PARA O INTER-RELACIONAL 13 BONNETERRE, A. AULA 1.2 - PRINCIPAIS ESCOLAS SISTÊMICAS ESCOLA DE PALO ALTO • TEORIA DA COMUNICAÇÃO • CONTRIBUIÇÃO DE DIVERSOS TEÓRICOS O grupo de Palo Alto era composto por diversos pesquisadores, como Bateson, Watzlawick, Hall, Goffman e Satir, que ali se instalaram e produziram muito conteúdo a partir dos estudos com saúde mental, especificamente com pacientes esquizofrênicos e suas famílias. As contribuições no campo da comunicação ampliaram o olhar para além da transmissão de uma informação, chegando à construção de significado na interação através de palavras, gestos, olhares, interespaços (espaço de diálogo entre saberes). Esse grupo mencionava a existência de dois tipos de linguagem: uma análoga e outra digital. A análoga seria a nossa linguagem verbal e a digital seriam as nossas expressões corporais, as nossas posturas, a nossa expressão facial, o nosso tom de voz, os espaços que a gente dá entre uma fala e outra. Então tudo isso, na verdade, também seria uma forma de comunicação que iria muito além do simples ato de falar. Os autores e suas colaborações: • Gregory Bateson: Fundador da Escola de Palo Alto. Antropólogo, cientista social, linguista e semiólogo inglês. Elaborou a teoria do duplo vínculo; • Paul Watzlawick: Um dos fundadores da Mental Research Institute de Palo Alto, notável teórico da teoria da comunicação , tendo contribuído de forma significativa para o campo da terapia familiar e psicoterapia; • Edward T. Hall: Criador da teoria da comunicação proxêmica, na qual descreve o espaço pessoal de cada indivíduo na sua interação social (distância íntima - para abraçar, pessoal - interação amigos próximos, social - interação entre conhecidos e pública - falar em público); • Erwing Goffman: Cientista social, antropólogo e sociólogo. Desenvolve a ideia de metáfora teatral para a compreensão das interações sociais; 14 BONNETERRE, A. AS CONTRIBUIÇÕES DE GREGORY BATESON Para Bateson, era impossível não ocorrer comunicação ainda que sem fala. Acreditava que mesmo em silêncio a pessoa está comunicando algo. Outra questão estudada pelo cientista foi a teoria do duplo-vínculo: para ele, era possível nos comunicarmos de duas formas diferentes ao mesmo tempo, tornando nossa mensagem incongruente. Por exemplo, a pessoa pode dizer “eu te amo” e a fisionomia expressar algo completamente diferente daquilo que está dizendo. Apesar de ter se tornado famosa como teoria, também foi muito criticada, principalmente pelas mães de pacientes esquizofrênicos, já que seus estudos se desenvolveram a partir da observação dessa comunicação entre as mães e seus filhos, deixando-as ressentidas por ter a sua relação construída com seus filhos avaliada dessa maneira. De fato, a teoria da comunicação tem esse objetivo, o estudo da comunicação, que vai muito além do modelo simples em que existe um emissor, uma mensagem, normalmente verbal, e um receptor. Ou seja, a comunicação é repleta de significados. Portanto, precisamos estar atentos durante nossa observação clínica, em algumas situações considerando até a participação de um coterapeuta, para que o psicoterapeuta possa, no seu trabalho, estar mediando, prestando atenção no que está sendo dito, sem perder a informação mas seguro de que há outra pessoa também atenta àquilo que vem através de outra linguagem. AS CONTRIBUIÇÕES DE VIRGINIA SATIR Na Escola de Palo Alto, Virginia Satir contribuiu com diversas técnicas para o trabalho com famílias, dentre elas o trabalho com esculturas no próprio corpo.Nesse processo um membro da família cria as esculturas no corpo dos outros membros de acordo com as situações, trabalhando percepções e sentimentos, inclusive do próprio escultor. Fica-se um tempo assim, e depois é perguntado como cada um se sentiu naquela posição. 15 BONNETERRE, A. A técnica propicia que se comece a perceber o que se sente, normalmente não temos esse hábito. Muitas vezes quando somos questionados com relação ao que sentimos, respondemos com o que estamos fazendo, ou como o outro nos atingiu, mais ou menos assim: pergunta – “Como você está se sentindo?”; resposta – “Hoje foi tudo muito corrido, e acabei ficando irritada porque fulano me irritou”. De acordo com a demanda trazida, vamos trabalhando escultores, esculpidos, funções e situações vivenciadas no cotidiano do sistema familiar. Exemplo de uma ação: pede-se à pessoa colocada como paciente identificada para esculpir o pai, a mãe, um irmão mais novo, ou um irmão mais velho e coloca-se ele em situações dentro do contexto em que muitas vezes ele se sente desamparado ou se sente injustiçado, enfim. As pessoas se perceberem desse jeito é uma maneira extremamente rica de se trabalhar, porque todo mundo vai começar a sentir os desconfortos, muitas vezes ocorridos nas suas interações, buscando dessa forma, com a identificação, iniciar um processo empático. Virginia também fala do direcionamento positivo, movimento de fazer olhar para dentro de todo aquele caos em que o cliente se encontra e começar a apresentar possibilidades, caminhos para que a pessoa possa ir buscando ou vislumbrando soluções. Isso é muito importante porque seu trabalho é focado em mudanças. 16 BONNETERRE, A. Vejam a segunda cibernética, na qual a autorregulação, o processo de homeostase não está no sintoma e, sim, na busca por esse reequilíbrio do sistema como um todo, em que na verdade você vai estar promovendo a mudança. Outra questão também muito interessante que a autora pontua é a autorreflexão do terapeuta, para que ele se perceba dentro do processo e também veja que mudanças e reflexões precisa fazer. Ao falar para o seu cliente, o terapeuta também está se ouvindo, então há um processo de ganho mútuo, por isso quando se estabelece um processo de trabalho dentro da sistêmica o terapeuta também passa a fazer parte do sistema daquele cliente e o cliente passa a fazer parte do sistema do terapeuta. Isso vai alterando, vai acompanhando os processos de mudança dentro dessa relação que se estabelece, dessa comunicação que começa a ser definida, que não vai ser só de ordem verbal, mas também de ordem não verbal, cujo objetivo é a melhoria das interações dentro dos diversos sistemas, através da mudança do padrão de comunicação. Finalizando, a Escola de Palo Alto e seus teóricos nos deixaram como herança toda essa atenção à linguagem, à importância da comunicação nos processos de cuidado no restabelecimento das relações familiares, base fundamental em nosso trabalho como psicoterapeutas sistêmicos. ESCOLA ESTRUTURAL O teórico principal da escola estrutural é o psicanalista Salvador Minuchin, que a partir da sua vasta experiência na clínica buscou a compreensão do funcionamento do indivíduo dentro do seu sistema familiar. • SUBSISTEMAS • FRONTEIRAS • ALIANÇA TERAPÊUTICA • CICLO VITAL 17 BONNETERRE, A. Inspirado na Teoria Geral de Sistemas, ele traz a ideia dos subsistemas parental, conjugal e fraternal. Seu foco é na família nuclear, na família em análise, buscando compreender seus subsistemas: • Parental: são as funções paternas (aqui incluem os deveres de cuidado); • Conjugal: companheirismo, trocas; • Fraternal: divisões, concessões. O psicanalista também refletiu acerca das fronteiras, que são as regras que definem quem participa e como participa do subsistema, limites na verdade que vão proteger esses subsistemas. Proteger em que sentido? Para que eles não se misturem, para que eles possam se preservar e funcionar de acordo com a sua proposta, com a sua função. As fronteiras podem ser: • Rígidas: relações distanciadas, sem intimidade, regras acima de tudo e pouco afeto; • Nítidas: clareza de limitese funções, assertividade; • Difusas: invasão de espaço, comunicação confusa. Falando um pouco mais sobre as fronteiras, podemos dizer que as nítidas são aquelas em que fica muito bem-definido o que é um subsistema e o que é outro subsistema, isto é, existe um diálogo, existem trocas, mas eu sei exatamente a função de cada um; as rígidas exigem distanciamento mesmo quando há afeto, como forma de preservar a individualidade, a autonomia, caso contrário veremos subsistemas operando de forma disfuncional; e na difusa existe uma mistura, em que, na verdade, perde-se muito a autonomia, há dependência emocional e insegurança entre as pessoas envolvidas. Então, estamos falando de disfuncionalidades dentro das relações no sistema familiar. 18 BONNETERRE, A. Outro conceito definido por Minuchin é a aliança terapêutica, que se refere à associação feita entre o psicoterapeuta e o paciente identificado dando lugar e voz a ele dentro do processo. A aliança de fato ocorre quando a família passa a se comportar na presença do psicoterapeuta como se estivesse em casa sem se importar com a presença de um “estranho”. Então, essas são algumas das contribuições de Minuchin para esse movimento, no qual inicia-se a saída do olhar individual para o sintoma, primeira cibernética, e começa o deslocamento para a segunda cibernética, em que o sintoma não é o foco e, sim, olhar o todo. Como é dito, eu não olho para a árvore, eu olho para a floresta. Esta é uma metáfora que explica a segunda cibernética. Minuchin compreende a relação do sujeito e seu sistema familiar da seguinte forma: na medida em que ele se transforma, irá transformar e ser transformado pelo sistema, ocorrendo uma interatividade, ele vai ser impactado e irá impactar. E, na medida em que esses processos de transformação acontecem, vão dando continuidade ao sistema, dando vida a esse sistema. O autor define o sistema familiar como um sistema sociocultural em processo de transformação. O segundo ponto de Minuchin é o desenvolvimento da família a partir das etapas vitais, que são o casamento, a chegada do primeiro filho, a ida do filho para o colégio, a ida do filho para a faculdade, a saída do filho de casa, enfim, todas essas etapas vitais que desorganizam o sistema obrigando o sujeito a se (re)estruturar. Então, é um indivíduo alterando o sistema a partir da sua etapa vital e fazendo com que o sistema também o influencie nesse processo. 19 BONNETERRE, A. Essas adaptações, na verdade, farão com que o sistema tenha uma continuidade, ele vai sobrevivendo, se desenvolvendo a partir desse processo dinâmico. ESCOLA ESTRATÉGICA A escola estratégica tem seu foco em um sistema breve, com seus conceitos desenvolvidos através dos estudos de Jay Halley e Cloé Madanés. O objetivo é a resolução de problemas, não há pretensão de transformar ou modificar o sistema familiar e, sim, identificar a demanda e resolver o problema em si. O psicólogo da escola estratégica terá como prática em um primeiro momento estabelecer a etapa social do acolhimento, ou seja, momento de identificação da demanda, do problema, e seguir para a etapa seguinte, cujo objetivo será fixar metas para construção de possibilidades de resolução. Essa busca será o levantamento de alternativas que possam vir a resolver o problema apresentado. Portanto, é uma psicoterapia diretiva, não há espaço para insights e reflexões. O problema é identificado e vamos junto com o cliente em busca de possibilidades reais, alcançáveis para que em um período, em um curto espaço de tempo seja possível alcançar a solução, atingir as metas. Se essas ações irão mudar o meu sistema familiar ou não é uma outra questão, não é esse o foco da escola estratégica. Por esse motivo é breve e com foco na resolução de problemas. ESCOLA DA TERAPIA FAMILIAR EXPERIMENTAL SISTEMA BREVE FOCO: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DEFINIÇÃO DE METAS ESPAÇO LÚDICO PROCESSO PSICOTERÁPICO EM TRÊS FASES IDEIA DO COTERAPEUTA 20 BONNETERRE, A. Carl Whitaker foi o principal teórico, seu objetivo com o processo terapêutico era a percepção do sentimento, de conjunto, de pertencimento dos integrantes para o desenvolvimento e para a sensação de união. E como ele fazia isso acontecer? Através do lúdico, por meio do qual as pessoas, os integrantes da família estariam desenvolvendo a sua flexibilidade através da criatividade. O espaço terapêutico era um lugar que deveria proporcionar um nível de estimulação para que a parte mais criativa dos integrantes da família pudesse exercer toda a sua criatividade e dessa forma se relacionar, compartilhar e começar a desenvolver o senso, a sensação, a verdade de união, percebendo-se como um conjunto familiar. Esse era o objetivo de Whitaker dentro do seu processo de psicoterapia. Ele foi bastante criticado quando criou as três fases desse processo psicoterápico: a primeira nomeia como inicial, no qual a família vai ter um nível de dependência, digamos assim, de demanda do psicoterapeuta. Nesse momento a família vai demandar muito do psicoterapeuta. Num segundo momento, que denomina o meio, a fase média do processo, a família já começa a ter autonomia no desenvolvimento das práticas e a ter uma certa independência com relação ao psicoterapeuta. E, por último, a fase final, na qual essa família já estaria autônoma a ponto de definir o término do processo terapêutico. 21 BONNETERRE, A. Ele também cria a ideia de um coterapeuta, ou seja, de atuar dentro desse cenário terapêutico com a participação de um outro psicoterapeuta. Com que objetivo? Já que trabalharia dentro de um cenário de muitas experimentações, muito lúdico, com muitos elementos, enfim, muitas informações iriam aparecer dentro dessas práticas. Além de ter uma outra pessoa que pudesse observar todas as informações que iriam surgir a partir das interações seria muito enriquecedor. Com isso, ele se torna o responsável pela ideia do coterapeuta dentro do processo familiar, da terapia familiar. TERAPIA FAMILIAR CENTRADA NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS Apesar de lembrar a escola estratégica no que tange ao estabelecimento de metas, a centrada na solução de problemas, difere quando traz a reflexão para as alternativas a serem consideradas, entendendo que mesmo não dando certo existem elementos que podem ser reaproveitados, que podem ser refletidos e pensados para novas possibilidades, para serem novamente utilizados dentro de uma outra perspectiva. Então, essas tentativas anteriores são valorizadas e, em algumas situações, até reaproveitadas dentro de uma outra perspectiva. De novo, o problema, a questão vai ser centrada na resolução do problema e não buscando a raiz, o desenvolvimento do problema, o foco vai ser sempre na solução de uma forma racional a partir de definição de metas. AULA 1.3 - SISTÊMICA TRANSGERACIONAL Vamos iniciar conversando sobre como nos formamos enquanto sujeitos, neste caso sujeito sistêmico. Nossa construção se dá a partir de um patrimônio familiar que trazemos e que nos influencia desde nosso nascimento. RACIONAL DEFINE METAS ESTUDA TENTATIVAS ANTERIORES CENTRADA NO PROBLEMA – “DESENVOLVE O PROBLEMA” CENTRADA NA “SOLUÇÃO” – DISSOLVE O PROBLEMA 22 BONNETERRE, A. Mas que patrimônio é esse? São os valores das nossas famílias, a cultura, o momento do nosso nascimento, como nossa família estava organizada então, quais crenças têm sido repassadas ao longo das gerações, as tradições, segredos e lealdades que muitas vezes, na maioria das vezes, são invisíveis. Mesmo sem ter consciência reagimos a elas, e ficamos paralisados devido à angústia que são capazes de provocar quando tentamos quebrá-las. Esse modelo transgeracional se refere a um patrimônio relacional que vai sendo repassado de geração para geração atéque alguém o quebre. Vai se perpetuando para as gerações futuras e assim, sucessivamente, até que alguma geração rompa com esse padrão transgeracional. É claro que existem padrões benéficos, aqui nos referimos aos que comprometem o bem-viver do sujeito. É muito interessante que quando se toma consciência de todo esse movimento, podemos não só quebrar os padrões para os que virão depois de nós, como também é possível rever os padrões dos nossos pais, se eles ainda estiverem vivos. Então, essas relações podem ser ressignificadas. É um processo de transformação mágico e libertador! Portanto, quando falamos na abordagem sistêmica nos referimos à busca pela compreensão do funcionamento sistêmico da família como forma de entender o comportamento do indivíduo. Assim, sua construção teve a colaboração de vários teóricos dos três pilares da psicologia na época: a psicanálise, o humanismo e o behaviorismo. Esse deslocamento de teóricos, clínicos, estudiosos, enfim, produziu uma riqueza para a construção da abordagem. Murray Bowen foi um desses grandes colaboradores, aliás, pioneiro da abordagem. Murray Bowen, psiquiatra e psicanalista americano pioneiro da sistêmica Reprodução internet 23 BONNETERRE, A. Murray Bowen foi pioneiro na abordagem sistêmica familiar. Na década de 50, teve seus estudos baseados em seu trabalho com saúde mental, principalmente nas relações familiares de seus pacientes portadores de esquizofrenia. Essa curiosidade inclusive o levou a elaborar uma ferramenta para auxiliar sua investigação com relação a essas interações familiares, nomeada por ele de diagrama familiar, conhecida atualmente como genograma familiar, objeto deste curso. Seu trabalho com pacientes esquizofrênicos o fez perceber que quando estes retornavam para as suas casas, tinham em alguns casos retrocesso em seu quadro clínico, observando que não bastava simplesmente cuidar do paciente, porque a família, o sistema familiar também estava adoecido. A partir dessas constatações, criou alguns conceitos que são muito importantes para nossa compreensão das dinâmicas familiares, como: conceito de individuação, de diferenciação, de triangulação, de projeção e de transmissão multigeracional. Bowen considera o sistema familiar uma unidade emocional, ou seja, o lugar onde os afetos circulam, e é dessa maneira que o sujeito se sente motivado a se relacionar. Então, vamos começar pelo primeiro ponto que diz respeito ao processo de individuação, que ocorre dentro do sistema familiar quando o indivíduo vai tendo o entendimento de que ele é uma pessoa com suas próprias necessidades, desejos e autonomia para estar no mundo. Consegue se perceber seguro e capaz de se relacionar com ele e com o mundo, relaciona-se com as pessoas sem se perder de vista, sem perder o entendimento de quem ele é, das suas características, das suas potencialidades, enfim, do ser quem ele é. Esse é o processo de individuação que deve vir acontecendo ao longo do desenvolvimento em que o bebê, a criança, o adolescente, o jovem vai se percebendo um ser diferente dos outros membros da família, cada um com sua subjetividade. Lembrando que a criança ao nascer é uma massa indiferenciada que vai se diferenciando ao longo do seu desenvolvimento. A diferenciação possibilita saber quem é você e quem é o outro, estar mais ou menos diferenciado vai depender da intensidade da pressão vinda da ansiedade. Quanto menos pressão, mais liberdade para ser. 24 BONNETERRE, A. Quanto mais pressão, maior a dificuldade nas relações, mais insegurança, baixa autoestima. O sujeito consegue se diferenciar, porém não se sente capaz de se colocar, de corresponder e atender às expectativas perante si mesmo, ao outro e ao mundo. Na medida em que eu tenho menos pressão, ou seja, menos ansiedade nesse meio, mais diferenciado, mais seguro, mais autônomo, mais capacidade de resposta eu vou tendo e com isso eu me relaciono melhor. Outro conceito construído por Bowen foi o da triangulação, no qual uma terceira pessoa se faz presente para diminuir a pressão entre uma díade: pai e mãe em conflito; filho assume a posição para diminuir a pressão entre o casal, assumindo uma postura que não cabe a ele, chamada de parentalização, função para a qual não tem condição cognitiva, emocional e tampouco cronológica para executar. Essa função vai gerar uma condição intensa de ansiedade e frustração, prejudicando seu desenvolvimento. Nessa triangulação, dois fazem uma aliança e um ficaria mais distanciado, e isso poderia ser um jogo que vai se movimentando. Outra questão também são as projeções – de novo –, os pais, na verdade, em processo de projeção das suas expectativas em relação aos seus filhos. Então eu projeto – vejam bem todos esses conceitos eles vão criando e produzindo um nível de ansiedade muito grande –, essa ansiedade é como se fosse, na verdade, um regulador (quanto mais tenso, quanto mais tensão eu tenho no meio, mais disfuncional as relações vão estar sendo, vão estar se dando). E quanto menos pressão eu tenho, mais funcionalidade eu vou ter nesse meio. Desse modo, é importante que a gente observe isso. A projeção sobre esse indivíduo também vai ser muito difícil porque vai gerar uma expectativa de correspondência que muitas vezes não vai ficar no plano da consciência, vai ficar no plano da inconsciência, e ele vai assumir uma lealdade de corresponder, de estar ali dando uma resposta esperada. Então eu me torno ali prisioneiro dessa projeção, daquilo que é esperado de mim (é possível ver esse fato nas escolhas profissionais). Há nesse cenário grande dimensão multigeracional, ou seja, tudo isso sendo repassado através de gerações e quando Bowen fala a respeito está falando “repassado” de que maneira? 25 BONNETERRE, A. Por meio dos padrões repetitivos que vão sendo transmitidos através das gerações. Por isso, quando a gente faz o genograma, quando a gente constrói o nosso genograma, ou o genograma dos nossos clientes, enfim, a gente vai trabalhar com, no mínimo três gerações. Para que a gente possa entender de uma forma muito clara como esses padrões se repetem. Andolfi também trabalha com a ideia da transgeracionalidade, mas traz a importância da influência dessa evolução histórica do sistema familiar, dizendo que dentro de um casamento não há um homem e uma mulher, mas dois sistemas familiares. Por quê? Porque esse casal traz todo um sistema familiar que o antecede. O autor vai trabalhar com a questão de que para entender o casal é preciso ter a compreensão desses sistemas que o acompanha. Para começar a pensar nessa pirâmide que vai sendo construída, temos um casal que na verdade se amplia, pois de cada um sai um par de pais, e assim sucessivamente, compondo uma grande ramificação, sendo possível observar toda a evolução histórica das gerações, vendo a dimensão de todas as tensões, de todas as crenças, de onde vêm às vezes informações que a gente sequer tem noção, porque isso vem de muito longe. Por isso o olhar sistêmico é ampliado, pois precisa compreender todo esse patrimônio relacional, ele tem uma evolução, uma história, um longo percurso que nos leva a uma ancestralidade que de alguma forma chega até nós e nos constrói como sujeitos sistêmicos. E a gente tem que estar avaliando, a gente não pode perder isso de vista, isso faz parte da nossa construção e da avaliação do nosso trabalho. Maurizio Andolfi, neuropsiquiatra infantil Reprodução internet 26 BONNETERRE, A. Nagy é um psiquiatra húngaro-americano que trouxe grandes contribuições para a abordagem sistêmica, como as lealdades da parentalização e a ideia de débitos e créditos. Quando fala das lealdades invisíveis, traz a noção de que é a partir dessas gerações que ações vão sendo estabelecidas dentro do nosso sistema familiar, como se o indivíduo fosse estabelecendo dentro do seupadrão relacional uma lealdade aos membros da família. Como é que isso pode acontecer? A partir, por exemplo, do estabelecimento de deficit e créditos. Digamos que eu tenha na minha relação com o meu avô (ou com a minha mãe, com o meu pai, enfim) uma relação em que eu entendo que eu recebo muito deles. Na medida em que eu recebo muito, passo a ter uma dívida, ou seja, eu fico em débito com eles, fico devendo a eles. Portanto, nessa relação de débitos e créditos, eles então passam a ter créditos, eu me torno leal a eles, passo a ter uma série de obrigações, de dar continuidade a coisas que são importantes de acordo com sua perspectiva. Então eu me torno, na verdade, leal a determinados padrões que são padrões importantes para eles. Um exemplo. Às vezes há situações em que é verbalizado por um determinado indivíduo que seu nascimento não foi planejado e que só nasceu porque seu avô morreu e sua avó pediu que não fosse abortada. Naquele momento em que ela não era desejada, de alguma maneira lhe foi dada a oportunidade de nascer. Em outras palavras, essa criança nasce devendo a alguém, passando a ser leal a seu credor e a tudo que aquela pessoa acredita e é, sendo provável passar sua existência tentando pagar essa dívida. Só que essa lealdade não vai ser uma lealdade clara, não vai ser uma lealdade explícita; ela vai ser implícita, e ela vai ficar ali, internalizada, de uma maneira inconsciente. Iván Böszörményi-Nagy, psiquiatra húngaro-americano Reprodução internet 27 BONNETERRE, A. Mas que vai estar movimentando e produzindo comportamentos que a prendem a uma determinada situação, a uma repetição de padrões, como não assumir relacionamentos sérios, não aceitar propostas de emprego, não ser bem-sucedida, tudo que ela inconscientemente acredita ser deslealdade. Com isso chegamos ao final do nosso módulo 1, no qual aprendemos sobre o desenvolvimento humano, o pensamento sistêmico e as principais escolas sistêmicas. Desvendando o Genograma C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 29 DESEVENDANDO GENOGRAMA MÓDULO 02 BONNETERRE, A. AULA 2.1 - HISTÓRIA DO GENOGRAMA Murray Bowen, psiquiatra e psicanalista pioneiro na abordagem sistêmica, na década de 50 cria o diagrama familiar com o objetivo de aprofundar seus estudos e atendimentos aos pacientes portadores de esquizofrenia e suas famílias. Sua curiosidade surge na medida em que observa um agravamento de sintomas quando seus pacientes saíam do hospital para manter contato com seu sistema familiar, o que o levou a pensar na hipótese de que esse sistema também havia adoecido e, portanto, não bastava só tratar o paciente, era preciso cuidar de todo o sistema familiar. Bowen constatou que o funcionamento do sistema tinha uma série de repetições de padrão que garantia sua homeostase, contribuindo para a manutenção do sintoma. Ele começou a entender que também havia ao longo da história familiar uma série de situações que vinham se repetindo ao longo de gerações e que era preciso estudar isso. Dessa forma viu que não adiantava entender ou olhar só para o indivíduo adoecido, que era fundamental também olhar para essa família. É interessante porque nesse tempo o olhar da psicologia estava voltado para o indivíduo, a terapia familiar estava iniciando e os teóricos da época estavam começando a sair do olhar individualista para entender e ver a importância dos sistemas familiares; entender que o indivíduo não poderia mais ser visto só como um ser isolado, mas, sim, que ele precisava ser contextualizado dentro dos sistemas dos quais fazia parte. 30 BONNETERRE, A. Então Bowen, através dos seus estudos com pacientes esquizofrênicos, começa a observar a questão da ancestralidade, de todo esse movimento multigeracional que iria comprometer a vida presente do sujeito e suas relações dentro do seu sistema atual. Dessa maneira, cria o diagrama familiar que mais tarde foi rebatizado de genograma familiar. Por isso foi considerado não só o pioneiro da abordagem sistêmica como também o criador do genograma. O organograma é a sistematização gráfica voltada para a estrutura formal de uma organização. Diz respeito às relações de poder e como estão estruturadas hierarquicamente. O genograma, batizado por Bowen como diagrama familiar, é a representação gráfica do sistema familiar. Dá forma à história de nosso cliente, apresentando suas lealdades e repetições de padrões. Muitas vezes o cliente se surpreende com algo que parecia tão óbvio, que estava diante dele e não conseguia ver; é completamente expresso, percebido ali nessa representação gráfica. O genograma traz informações de dentro desse núcleo, de dentro do sistema familiar, das estruturas, relações e da dinâmica. É importante compreender que esse sistema familiar é um organismo vivo, que está o tempo inteiro em interação, em crescimento, em desenvolvimento. O ecomapa é a representação gráfica da rede de apoio que o sujeito está inserido, ou seja, ele sai do sistema familiar e vai para as relações externas desse sujeito, com a sua comunidade, com toda a rede de apoio que esse sujeito tem estabelecido ou pode vir a estabelecer. Então tem-se no meio do ecomapa o genograma, ou seja, a representação do sistema familiar desse indivíduo, fora todas as redes de apoio das quais ele faz parte. As informações abaixo irão clarificar as diferenças entre as representações gráficas mais comuns e seus objetivos. ORGANOGRAMA Representação gráfica da estrutura formal de uma organização GENOGRAMA/GENETOGRAMA Representação gráfica de um sistema familiar ECOMAPA Representação gráfica da rede de apoio do sujeito no seu ecossistema 31 BONNETERRE, A. PSICOLOGIA CLÍNICA SAÚDE COLETIVA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA PESQUISA QUALITATIVA Enfim, eu vou ali tendo toda essa rede de apoio, que são as instituições ou as pessoas com quem eu posso contar nas adversidades, ou seja, que vão estar disponíveis para virem ao meu auxílio caso seja necessário. Portanto, em nosso trabalho podemos ter a necessidade de realizar um mapeamento para traçar um programa singular e, para isso ser possível, saber qual é a rede de apoio que esse sujeito tem, a fim de realizar um planejamento singular terapêutico e saber se de fato ele terá condições de realizar o tratamento proposto. CONTEXTOS O genograma é a principal ferramenta da abordagem sistêmica, utilizada no contexto clínico. Muitas vezes dentro do processo psicoterápico o profissional se confronta com alguns nós, ou seja, o processo está fluindo e de repente para, ou ficamos diante de alguns impasses. Esse pode ser um momento interessante para a utilização do genograma. Eu posso ter o meu sistema familiar no centro e o ecomapa ser a instituição religiosa da qual eu faço parte, o meu trabalho, se eu estou fazendo algum tipo de tratamento médico, a clínica da família, por exemplo, a minha rede de amigos, a minha comunidade. Exemplo de ecomapa - McGoldrick, Gerson & Petry (2012) 32 BONNETERRE, A. Outro contexto muito utilizado é na saúde coletiva, não só o genograma como o ecomapa também. O mapeamento, por exemplo, do padrão de repetição das questões ligadas à saúde do indivíduo como forma de prevenção e promoção da saúde. Então, se eu sei que dentro da sua estrutura familiar, dentro da sua genética, existe um padrão de repetição relacionado ao processo de adoecimento, eu posso promover a saúde. Eu não preciso que esse sujeito adoeça, eu posso fazer ações que previnam e que promovam a saúde desse sujeito, através de uma reeducação alimentar, de ações, de intervenções realmente voltadas para a promoção ou para a prevenção, sabendo que na prevenção eu vou fornecer, na verdade, insumos, ou seja, recursos para que ele, enfim, cuide da sua saúde, e na promoção,além desses insumos, eu também promovo, eu também ofereço informação que possa transformar a sua maneira de olhar para o seu comportamento, de forma que possa ser transformado. Na medida em que eu tenho esse processo de educação internalizado pelo sujeito, eu estou falando da promoção, ou seja, ele não vai simplesmente utilizar aquilo porque dizem que é bom, e sim porque aquilo passa a fazer parte da nova visão dele com relação à sua saúde, enfim, ao seu bem-estar. Então é dessa maneira que a gente procura trabalhar dentro da saúde coletiva com o genograma, apresentando muitas vezes, não só falando: “Olha é bom você fazer isso, isso é bom para o seu cuidado.”, mas “Olha, dentro da sua estrutura familiar você vem tendo uma série de consequências em função desses maus hábitos, então vamos trabalhar isso aqui? Vamos prevenir e vamos promover a sua saúde para que você não tenha esse mesmo desfecho, para que você possa quebrar esse padrão repetido através das suas gerações?”. Isso é muito importante. Na psicologia comunitária a gente também pode trabalhar junto com jovens, adolescentes, construindo genogramas para que eles possam compreender de uma forma mais objetiva a repetição de padrões, como por exemplo, a gravidez na adolescência, a associação ao tráfico, uma série de padrões que estão sendo repetidos dentro da comunidade e que podem ser quebrados e podem ser revistos. E também é muito importante a gente ressaltar que o genograma não aponta só para os padrões repetidos negativos. 33 BONNETERRE, A. Vale ressaltar que dentro dessa construção a gente pode visualizar padrões familiares positivos, que venham a nos ajudar a reforçar escolhas que sejam extremamente saudáveis e produtivas para a vida daquele sujeito, fortalecendo as ações para a transformação e a internalização de novos padrões de qualidade de vida, que já acontecem na sua família, na sua história familiar. Por fim, o genograma também pode ser utilizado na pesquisa qualitativa através de estudos de caso, para traçar situações de padrões de repetição. Apresentamos assim contextos nos quais o genograma pode ser aplicado e através de seus resultados produzir enormes contribuições tanto para o individual como para o coletivo. AULA 2.2 - CONSTRUÇÃO DO GENOGRAMA Importante ressaltar que o genograma é uma ferramenta que propicia um recontar, um revisitar da nossa história, portanto as entrevistas serão o nosso roteiro para essa viagem, sendo um recurso muito rico de coleta de dados, que para ser bem-aproveitado é importante ter um roteiro bem-construído. Quando falamos dessa entrevista, vamos ter dois momentos: a entrevista em que nós, psicoterapeutas, vamos estar fazendo ao nosso cliente, e num segundo momento quando o nosso cliente estará fazendo entrevistas, ou seja, coletando dados junto ao seu sistema familiar. Objetivo: coleta de dados Como já mencionado, a entrevista é um instrumento para coleta de dados. Nesse processo, nós temos algumas preocupações: primeiro, esclarecer dúvidas com relação a este momento; depois identificar a demanda. Quando falo de identificação da família, claro que eu posso ter uma entrevista com o indivíduo, com um casal ou com o grupo familiar. 34 BONNETERRE, A. Identificação da família e sua demanda A primeira parte da entrevista é dedicada à identificação: nomes, endereço, telefone, todos esses dados para que se possa ter contato posterior com o cliente, além da definição da demanda inicial. Sabemos que dentro da abordagem sistêmica não vamos ficar presos a essa questão da demanda específica ou do sintoma específico, o nosso olhar é sempre um olhar ampliado. Mas o ponto de partida tem que ser aquilo que o cliente nos traz inicialmente. Conhecendo a estrutura da família Depois nós vamos ter como objetivo nessa coleta conhecer a estrutura dessa família. Se é uma família tradicional, se ela é homoparental, se é homoafetiva, se tem recasamento(s), se tem abortos. Enfim, como essa família se estrutura com base em no mínimo três gerações. Compreendendo o funcionamento da família E também compreender o funcionamento da família e sua dinâmica, nesse caso como as pessoas se relacionam entre si. Se existe, por exemplo, apelido entre irmãos, entre as pessoas, se as relações são respeitosas, ou se existem relações conflituosas. Como é a qualidade relacional dentro desse sistema familiar. Estrutura da família Arquivo pessoal (2020) 35 BONNETERRE, A. Então as entrevistas vão ter muito esse objetivo, de coletar dados, para que a gente possa na verdade mapear que família é essa, como ela se estrutura e como funciona. É claro que muitas vezes isso não vai ser possível numa única entrevista, muito provavelmente a gente vai ter que fazer várias entrevistas. MUITA ATENÇÃO! DEVE-SE TER CUIDADO COM A NOSSA FALA AO REALIZAR AS PERGUNTAS. O QUE DEVEMOS SABER NA HORA DE REALIZAR AS PERGUNTAS COM RELAÇÃO AO SISTEMA FAMILIAR? Novamente, o ponto de partida será a demanda trazida pelo cliente. Exemplos com relação às questões: Relacionamentos familiares Arquivo pessoal (2020) ESCUTA EMPÁTICA VINCULAÇÃO COMUNICAÇÃO VERBAL E ASPECTOS PARALINGUÍSTICOS COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL CÓDIGOS FAMILIARES Estrutura familiar Arquivo pessoal (2020) 36 BONNETERRE, A. • Éticas e morais – infringiram a lei na sua família? Como reagiram? • Sexuais - qual a cultura familiar com relação ao sexo? O número de entrevistas será de acordo com a necessidade para início do processo de construção. Quando o atendimento é com família e casal o período é mais bem- definido porque os atendimentos têm início, meio e fim, porém no atendimento individual tem-se mais tempo para as identificações, então, é possível estabelecer um outro ritmo de coleta. Vamos a um exemplo, uma questão de adicção dentro do sistema familiar: o cliente traz a questão de não estarem sabendo lidar com a adicção de um filho, de um irmão dentro do sistema familiar. Então muitas vezes, além das perguntas básicas de identificação dessas estruturas, de como é a família – se tem recasamento(s), se é uma família monoparental, enfim, perguntas relacionadas às estruturas – as ampliamos, digamos assim: quantos irmãos, quem se casou com quem, se houve separações, divórcios, abortos, enfim, essas perguntas mais estruturais. Para os valores familiares diante de questões relacionadas à lei, se é uma família que segue uma forma bastante rígida, as questões relacionadas à ética e à moral são perguntas elaboradas de acordo com a demanda e não questões generalistas. Quando, por exemplo, as questões são relacionadas ao sexo, você recebe uma adolescente que está muito preocupada, ou preocupado, com a sua primeira relação sexual, podemos perguntar como é a cultura familiar. De novo, mantenho as perguntas básicas, estruturais e agrego a pertinente à demanda, como o posicionamento familiar com relação à primeira relação sexual. Muitas vezes é uma família que tem uma religiosidade que não cabe sexo antes do casamento. Nesse caso são informações relevantes que irão afetar a condução do nosso trabalho. Quanto ao número de entrevistas, vai depender muito da demanda e da nossa necessidade de já ter dados suficientes para iniciar o processo. 37 BONNETERRE, A. Sempre compreendendo que à medida que o processo de construção do genograma avança novas necessidades vão aparecendo e isso é muito natural. O que eu preciso é ter um número de dados suficiente para que eu possa dar início ao processo de análise e intervenção. Dados suficientes significa que já consigo organizar a estruturação da família, de seu funcionamento básico e a demanda está identificada. Feito isso, podemos dar início às perguntas mais específicas.A escuta deve estar sempre disponível, pois, ao recontar, revisitar a história, novas perguntas vão surgindo e precisamos estar abertos para a construção de novos roteiros já que o genograma é um processo e quanto mais se explora novas possibilidades podem surgir. Outro fator importante é que muitas vezes quando começamos a avançar nos sistemas dos antepassados o cliente não tem as informações e terá que pesquisar junto aos familiares. Aqui começa a segunda etapa: a entrevista dele com seu sistema familiar, com as pessoas que detêm a informação. Há pessoas que os pais já não estão mais vivos, então terão de pesquisar junto a outros membros da família que possam contar essa história. Às vezes há outras que grande parte da sua família já é falecida, então vai haver grandes lacunas; essa ausência de informação é um dado com o qual também vamos precisar lidar. 38 BONNETERRE, A. Teremos de ser acolhedores, ter um escuta empática para ter atenção com aquilo que vamos perguntar e como vamos perguntar. Porque estaremos mexendo com a história de vida dessa pessoa, vamos revirar sua trajetória de vida e de sua família, das suas gerações, da sua ancestralidade, podendo revelar segredos, provocar lutos. Não temos ideia do que podemos, junto com nosso cliente, acessar. Na maioria das vezes são fatos reveladores que podem causar surpresas maravilhosas, mas também podem trazer muita dor. Então precisamos ter muito cuidado com a nossa fala, ter muita atenção à comunicação não só verbal, mas também à comunicação não verbal para com a pessoa diante de nós. ECOMAPA E SUAS PERGUNTAS O ponto de partida será a demanda trazida pela família/casal ou indivíduo que esteja em atendimento, ou a ser atendido, para a construção de sua rede de apoio a partir de seu genograma. EXEMPLO: UM CASO NA CLÍNICA DA FAMÍLIA Quando falamos em ecomapa, “eco” já nos dá uma pista: eco de sistema, eco do nosso habitat, onde nós estamos inseridos. Portanto, nosso olhar será para fora, ao contrário do genograma, que privilegia as questões familiares. No ecomapa o olhar é para fora, as perguntas são direcionadas para a rede de apoio do indivíduo, quais são suas conexões com seu ecossistema. Por exemplo, vamos imaginar que chegue uma pessoa na clínica da família com palpitações, com braço dormente, com falta de ar, e o médico generalista da clínica da família precisa que essa pessoa faça exames clínicos não específicos. É solicitado o mapeamento de sua rede de apoio, inicialmente vamos compreender seu sistema familiar. E depois começar a saber da sua rede, para que possa se encaminhar para exames complementares. 39 BONNETERRE, A. Mas se ela mora no interior, numa clínica da família do interior, talvez ela tenha que fazer esse exame em uma outra cidade, ela vai precisar de deslocamento, de meio de transporte para isso. Ela tem quem a leve? Ela vai passar por uma série de situações de ansiedade em função dessa novidade em sua vida, teria uma rede de apoio psicológica? Ela tem, por exemplo, alguma crença? Enfim esse mapeamento irá ser útil para o planejamento singular terapêutico, dentro das possibilidades do sujeito e do sistema. ATENÇÃO! Deve-se ter cuidado com a nossa fala com relação a: Dentro de todo o processo sempre é muito bom lembrar a relevância da escuta e da observação, diante de tudo que nós falamos até agora. Nada disso vai ser possível se a gente não partir de uma escuta empática, de se disponibilizar de fato para estar ali ouvindo aquela pessoa. Mas essa escuta, essa disponibilidade precisa ser autêntica. Eu não posso estar ali fingindo, ou forjando uma disponibilidade, ou um prazer de estar ali ouvindo aquela pessoa. Ela precisa sentir genuinamente a minha presença ali diante dela. Isso é escutar com empatia. É quando, muitas vezes, você ao perguntar faz alguma pontuação sobre alguma coisa que ela já falou lá atrás. Ela vai pensar: “Nossa! Ela está prestando atenção no que eu estou falando. Ela repetiu uma coisa que eu já falei há um tempão atrás.” Ou seja, a partir dessa escuta empática dar convicção de que a pessoa de fato está disponível para ouvi-la, e não simplesmente esperando que ela pare para que você possa falar. Ela começa a criar uma vinculação, se sente à vontade para falar da sua história. É como se ela abrisse as portas da sua história e te convidasse a entrar. Escuta empática; Vinculação; Comunicação verbal e aspectos paralinguísticos; Comunicação não verbal; Códigos familiares. 40 BONNETERRE, A. Isso não é possível se você não tiver essa escuta empática, se de fato você não se disponibilizar para estar com ela e se de fato essa vinculação não for feita. Esses são pontos importantíssimos; hoje nós sabemos que existe uma dificuldade muito grande dessa disponibilidade, as pessoas de modo geral estão muito carentes de serem ouvidas genuinamente. Então esse é um ponto extremamente relevante. Quando se está nesse processo de entrevistas não basta simplesmente fazer as perguntas, a gente precisa observar como as respostas virão. Então, como é que vai ser a comunicação? Como é que essa pessoa vai me comunicar verbalmente aquilo que eu perguntei? Como é que vão ser os aspectos paralinguísticos? Como é que vai ser esse tom de voz? Essa voz, essa resposta virá em que tom? Em determinado momento ela vai acelerar o seu tom de voz, ela vai falar mais baixo, ela vai falar mais alto, ela vai falar agressivamente, ela vai gaguejar? Ela vai dar um tempo maior na sua comunicação? Como é que vai ser feita essa comunicação a partir das perguntas que eu vou estar fazendo? Deve-se também ficar muito atento à comunicação não verbal. O nosso corpo fala, muitas vezes eu estou comunicando verbalmente uma coisa e o meu corpo está comunicando outra. Então essa congruência do que falo e do que expresso em termos corporais e faciais vai ser extremamente importante na nossa observação. Quando a gente está fazendo, por exemplo, terapia de família, como é que os códigos familiares circulam nesse momento? 41 BONNETERRE, A. Porque estão, de certa forma, todos expostos ali, falando, respondendo às perguntas. Muitas vezes, quando a gente vai atender uma família grande, é muito importante a presença de um coterapeuta, porque na medida em que vou falando, fazendo as perguntas e interagindo tenho ali alguém ao meu lado que vai estar observando toda essa comunicação, todo esse manejo verbal e não verbal, agregando muita no momento do levantamento das hipóteses diagnósticas, como também no processo de intervenção. O que também não impede que dentro de um atendimento familiar eu possa chamar para ser meu coterapeuta, digamos assim, o paciente não identificado, entendendo que isso pode ser já um processo de intervenção. Mas não num primeiro momento, só um pouco mais adiante, na medida em que você já tem um certo conhecimento, uma compreensão da estrutura e do funcionamento da família. 42 BONNETERRE, A. Paciente identificado masculino Pessoa índice masculino Paciente identificado feminino Pessoa índice feminino Homem ( a idade deverá ser colocada no centro da figura) Data de nascimento (deverá ser colocada no lado esquerdo da figura Mulher ( a idade deverá ser colocada no centro da figura) Data de nascimento (deverá ser colocada no lado esquerdo da figura Sexo indefinido, utilizado para gestação Adoção interna ( dentro do sistema familiar) Adoção externa ( fora do sistema familiar) Morte ( a data do falecimento deve ser colocada ao lado direito da figura) Uso abusivo de álcool e/ou outras drogas Em recuperação do uso de abusivo de álcool e/ou outras drogas Transtorno mental Animal de estimação Linhas contínuas, indicam ligação – podem ser usadas para simbolizar casamento, viver no mesmoespaço, relações de apego, vínculo, sólidas, ligações sanguíneas Linhas pontilhadas indicam distanciamento (podem ser usadas para simbolizar adoções, relações distanciadas, moradias próximas, ligação de namoro, morar junto sem oficializar casamento), como também desconexões, pouca interação do ponto de vista afetivo entre seus membros, ligações não sanguíneas Linhas com barras representam relações rompidas, não há contato entre os membros da família, ainda que exista e mantenham ligação emocional entre si Setas são utilizadas para representar fluxo de energia e/ou recursos (vamos ver sua presença na construção de rede de apoio) Esta seta pode ser utilizada também para indicar uma relação harmoniosa, na qual os membros da família alimentam sentimentos positivos entre si – há diferenciação entre eles e compartilham de uma maturidade emocional Esta seta é utilizada para representar relações vulneráveis – não há um conflito explícito, porém, em determinadas situações de transição ou de tensão, existe grande possibilidade de surgir conflito Indicado para representação de uma relação triangulada (tríade), que envolve três membros – o membro triangulado terá a função de regular a tensão existente entre os outros dois membros 43 BONNETERRE, A. Coalizão, situação na qual dois membros da família se unem contra um terceiro Estas linhas indicam muita ligação, representam uma relação muito estreita; neste caso há predominância da fusão e dependência emocional entre seus membros Linha que indica conflitos frequentes, com estreita dependência emocional, provocando dificuldade na diferenciação entre seus membros Linha com tensão, hostilidade, indica relacionamento conflituoso no sistema familiar – desqualificações, desavenças são a base da comunicação, podendo chegar à violência física Imigração – duas ondinhas significam que existe movimento de saída de familiares de uma país para o outro Essas duas linhas paralelas representam relações que se estruturam em lealdades invisíveis, que a princípio podem produzir interações positivas, mas também dificultar o processo de diferenciação entre os membros Linha indicativa para abuso Linha indicativa de abuso sexual Indicativo de uma relação de controle Relação de manipulação Indicam relação de uma raiva intensa Relações reestabelecidas Quando não houver nenhum tipo de conexão Casamento (c: data do casamento) Separação conjugal (s: data da separação) Divórcio (d: data do divórcio) Morando junto (j: data que começaram a morar juntos) Dentro da estruturação podemos ter um casal que tem o processo de separação e depois o divórcio, então podemos definir as datas dentro dos cortes na linha contínua 44 BONNETERRE, A. Filho biológico (traçado contínuo) – masculino feminino A representação da estrutura pode ser feita das duas maneiras Filho adotivo: masculino figura feminino figura A representação da estrutura pode ser feita das duas maneiras Representação do aborto espontâneo Representação do aborto induzido Gêmeos idênticos: se for masculino um em cada ponto do triângulo ou o A Sendo feminino, um em cada ponta do triângulo Gêmeos – masculino à esquerda e feminino à direita Natimorto: representação do masculino e do feminino, porém as figuras devem estar em um tamanho reduzido Exemplo Podem ser usadas as duas configurações o triângulo ou o A 45 BONNETERRE, A. Filho biológico (traçado contínuo) – masculino feminino Os filhos devem ser posicionados do mais velho para o mais novo, começando pela esquerda. Se for o paciente identificado ou pessoa índice também pode ser representado em altura e tamanho diferente dos irmãos, se tiver. Relação extraconjugal (linha pontilhada) Filho adotivo (com ligação pontilhada) Filho de criação sem linha de ligação Filha adotiva (com ligação pontilhada) Filha de criação (sem linha de ligação) Linha contínua indica que os membros da família moram juntos Linha pontilhada indica que moram próximos 46 BONNETERRE, A. SIGLAS DO GENOGRAMA hábitos bucais nocivos HBN deficiência física DEFFIS hipertensão arterial HA deficiência auditiva DEFAUD diabetes DIA deficiência visual DEFVIS hanseníase HAN deficiência mental DEFMENT tuberculose TB deficiência múltipla DEFMULT hiv HIV gestante de alto risco GAR aids AIDS idoso frágil IDFRAG uso de substâncias lícitas ou ilícitas/drogas DROG recém-nascido RN alcoolismo ALC prematuro RNPT transtorno mental TME baixo peso RNBP câncer CA anemia ANE doença/acidente de trabalho DAT ostomia OST desnutrição DESN tabagismo TAB obesidade OBES história de câncer bucal HCAB atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ATDNPM atividade de doença bucal ADB asma ASM fluorose moderado a severa FL hipotireoidismo HIPOT UFMG (2021) Genograma na Prática C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 48 MÓDULO 03 BONNETERRE, A. GENOGRAMA NA PRÁTICA AULA 3.1 - CASOS APRESENTADOS NA LITERATURA DEMANDA PARA O ENCAMINHAMENTO A família procurou atendimento pela mãe concluir que não havia controle com relação ao comportamento da filha do meio, chamada Bárbara. DORES ESTOMACAIS GENOGRAMA – OBJETIVO DE SUA UTILIZAÇÃO INTERVENÇÕES EM MEDICINA DE FAMÍLIA Ty Anderson McGoldrick, Gerson & Petry (2012) 49 BONNETERRE, A. GENOGRAMA – OBJETIVO DE SUA UTILIZAÇÃO Compreensão da linguagem estabelecida entre os membros da família. DEMANDA PARA O ENCAMINHAMENTO Planejamento singular terapêutico para uma menina de 7 anos de idade. GENOGRAMA – OBJETIVO DE SUA UTILIZAÇÃO Mapeamento de rede de apoio. Família Montessinos-Nolan McGoldrick, Gerson & Petry (2012) 50 BONNETERRE, A. Representação gráfica do genograma Nascimento (2003) Representação gráfica do genograma Nascimento, Rocha & Hayes (2005) 51 BONNETERRE, A. AULA 3.2 - CASO CLÍNICO DEMANDA PARA O ENCAMINHAMENTO Susan relata uma dificuldade muito grande de pertencimento., Se sente solta, desgarrada. Não sente saudade de nada e de ninguém. GENOGRAMA – OBJETIVO DE SUA UTILIZAÇÃO Mapeamento da qualidade das relações de Susan: ao estruturar o genograma, percebeu-se que sua relação com a finitude começou cedo, teve perdas desde sempre, suas histórias com os personagens foram mais contadas do que vivenciadas, já nasceu em uma estrutura de muitas perdas, de enlutamento. As figuras de maior apego também foram perdidas. Podemos levantar como hipótese a superficialidade das relações como forma de proteção (Susan abandona antes da perda), assim estabelece o controle, não sendo surpreendida. GENOGRAMA – Representação gráfica Arquivo pessoal (2020) 52 BONNETERRE, A. INTERVENÇÕES REALIZADAS NO CASO CLÍNICO A partir da identificação dos padrões repetitivos ou lealdades invisíveis, as informações passam a fazer parte dos conteúdos do nível da consciência, portanto possíveis de serem trabalhados e ressignificados para a tomada de novas decisões e escolhas. Para isso podemos fazer uso de diferentes técnicas de acordo com a abordagem norteadora da prática psicológica. Nesse caso estimular a aproximação de grupos, de fazer parte de atividades coletivas que despertem o propósito e sentido. AULA 3.3 - GENOGRAMA E PRODUÇÃO TEXTUAL Toda a organização/nomeação será construída em conjunto com o cliente, não há certo e errado, tampouco engessamento de estrutura. O importante é perceber, no ato da organização, como a atividade é realizada, sentida e percebida. INTRODUÇÃO DA HISTÓRIA Minha história começa com o encontro ou desencontro dos meus pais… Família de origem •Alfredo – pai • Maria Francesca – mãe • Mário – irmão • João – irmão Família nuclear • Bel – filha Personagens maternos • Avó Ivone • Avô Francesco 53 BONNETERRE, A. • Mulher do avô - Sarita • Mãe - Maria Francesca • Padrastro - Sobral Personagens paternos • Avó - Odete • Avô - Olavo • Tia - Selma • Tia - Sueli • Namorada do Pai - Sonia Outros personagens • Sara - cunhada mulher do João • Breno - sobrinho filho do João • Rodrigo - ex marido • Flavio - ex marido Produção Online C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 55 MÓDULO 04 BONNETERRE, A. PRODUÇÃO ONLINE O módulo 4 será o momento para a construção de um genograma através do instrumento “Álbum e Família”. Vou mostrar como fazer apresentando os elementos estruturais e os elementos relacionais. https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ Live C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 57 MÓDULO 05 BONNETERRE, A. LIVE O quinto módulo será no formato de live semanal. Esse será o momento de estarmos juntos para tirarmos todas as dúvidas que você tiver, depois de ter assistido as aulas gravadas e feito os seus genogramas. A live é exclusiva par os alunos do curso, você receberá o link do aplicativo Zoom para participar. C U R S O G E N O G R A M A 3 6 0 º D A T E O R I A À P R Á T I C A 59 BONNETERRE, A. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDOLFI, M. A terapia familiar multigeracional: instrumentos e recursos do terapeuta. Tradução: Juliana Seger Sanvicente. Belo Horizonte: Artesã, 2018. BOSZORMENYI-NAGY, I.; SPARK, G. M. Lealtades invisibles: reciprocidad en terapia familiar intergeneracional. Buenos Aires: Amorrortu, 2017. KRÜGER, L. L.; WERLANG, B. S. G. O genograma como recurso no espaço conversacional terapêutico. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v. 7, n. 3, p. 415-26, dez. 2008. MCGOLDRICK, M.; GERSON, R.; PETRY, S. Genogramas: avaliação e intervenção familiar. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. NASCIMENTO, L. C. Crianças com câncer: a vida das famílias em constante reconstrução. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003. NASCIMENTO, L. C.; ROCHA, S. M. M.; HAYES, V. E. Contribuições do genograma e do ecomapa para o estudo de famílias em enfermagem pediátrica. Texto & Contexto – Enfermagem, Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 280-6, abr./jun. 2005. OSORIO, L. C.; VALLE, M. E. P. do (Orgs.). Manual de terapia familiar. v. 1. Porto Alegre: Artmed, 2009. UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Violência por parceiro íntimo no contexto familiar. Série: Violência e Saúde. Autoria do módulo: Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré e Scheila Krenkel. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Faculdade de Medicina. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. Álbum de Família: genograma. WENDT, N. C.; CREPALDI, M. A. A utilização do genograma como instrumento de coleta de dados na pesquisa qualitativa. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 21, n. 2, p. 302-10. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000300013 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000300013 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712008000300013 https://repositorio.usp.br/item/001344011 https://repositorio.usp.br/item/001344011 https://repositorio.usp.br/item/001344011 https://repositorio.usp.br/item/001344011 https://repositorio.usp.br/item/001344011 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072005000200017&lng=en&nrm=iso https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://unasus-cp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/166153/mod_resource/content/91/modeloUn1/index.html https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/genograma/ https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v21n2/a16v21n2.pdf