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BIOÉTICA PROFA. DANIELLI A. LAVELLI REITORIA: Dr. Roberto Cezar de Oliveira PRÓ-REITORIA: Profa. Ma. Gisele Colombari Gomes DIRETORIA DE ENSINO: Profa. Dra. Gisele Caroline Novakowski EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS: Diagramação Revisão textual Produção audiovisual Gestão WWW.UNINGA.BR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5 1. CONCEITOS GERAIS .................................................................................................................................................6 1.1 ÉTICA X MORAL .......................................................................................................................................................6 1.2 BIOÉTICA .................................................................................................................................................................8 2. HISTÓRIA DA BIOÉTICA ..........................................................................................................................................9 2.1 ORIGEM DA BIOÉTICA ............................................................................................................................................9 2.2 CRIAÇÃO DOS COMITÊS DE ÉTICA ..................................................................................................................... 10 2.3 NOÇÕES BÁSICAS DE ÉTICA PROFISSIONAL NA MEDICINA VETERINÁRIA ................................................. 11 3. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA ....................................................................................... 13 3.1 HISTÓRICO ............................................................................................................................................................. 13 BIOÉTICA PROFA. DANIELLI A. LAVELLI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: BIOÉTICA 44WWW.UNINGA.BR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.2 MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL ................................................................................................................ 14 3.3 SÍMBOLO DA MEDICINA VETERINÁRIA ............................................................................................................. 15 3.4 JURAMENTO .......................................................................................................................................................... 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 16 5WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A Bioética tem como objetivo facilitar o enfrentamento de questões éticas/bioéticas que surgirão na vida profissional. Sem os conceitos básicos da bioética, dificilmente alguém consegue enfrentar um dilema, um conflito e se posicionar diante dele de maneira ética. Assim, esses conceitos devem ficar bem claros para que as pessoas possam refletir e saber como se comportar em relação às diversas situações da vida profissional em que surgem os conflitos éticos. O conteúdo da Unidade 1 se divide em 3 partes: (1) Conceitos gerais, (2) origem da bioética e (3) história e evolução na medicina veterinária. Ao final da leitura desta unidade, você saberá diferenciar os conceitos em torno da ética, moral e bioética, conhecerá os fatores históricos que influenciaram a origem da bioética e aprenderá sobre a história da medicina veterinária. Além disso, será capaz de refletir para responder a questões como: “Será que minha conduta profissional está fundamentada em princípios éticos?” ou “Estou agindo da maneira mais adequada?” 6WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. CONCEITOS GERAIS 1.1 Ética X Moral O jeito próprio de cada indivíduo ou de cada povo viver, relacionar-se, se organizar e agir no mundo é o que denominamos de ethos. Ética e Moral têm o mesmo significado, porém uma tem origem grega, e a outra vem do latim. A palavra “Ética”, do grego ethos, quer dizer ciência dos costumes, caráter ou modo de ser. Os romanos traduziram o ethos grego para o latim “mos” ou “mores”, que traz o mesmo significado, ou seja, a ciência dos costumes, normas de conduta própria de uma cultura e de uma sociedade, valores, de onde surgiu a palavra moral (BENTO, 2005). Tanto ethos como mos indicam um tipo de comportamento humano que não é natural, mas é adquirido ou obtido por hábito, conduta de vida que é específica do homem. Etimologicamente, refere-se a uma realidade humana que é produzida socialmente e historicamente baseada nas relações coletivas dos indivíduos, no meio social onde nascem e vivem. Figura 1 - Diferença entre ética e moral. Fonte: Netmundi.org (2022). Na rotina as pessoas não diferenciam ética e moral. Entretanto, para possibilitar o entendimento daquilo que se quer dizer, alguns conhecedores preferem fazer uma diferenciação entre as duas palavras. Deste modo, a moral é prática, representa um conjunto de ideias, de normas, princípios, preceitos, costumes, valores, atos repetidos tradicionais, que orientam o comportamento do indivíduo no seu grupo social em um determinado local em um determinado período, declarado válido por uma determinada comunidade (BENTO, 2005). A moral consiste em princípios e regras morais fixas, ou seja, ela é normativa. Por exemplo, não mentir, não matar, não roubar são normas morais presentes nas culturas em que todos estão de acordo. Mas não se trata somente de questões mais graves, pode-se aplicar a questões simples do dia a dia de uma sociedade como a regulamentação da vida em uma faculdade. Por exemplo, se professores e alunos estabelecem princípios de conduta, estes estão fazendo ética. Em uma universidade, se alunos e professores concluem que, durante o ano letivo deverão se relacionar segundo os princípios da igualdade, da compreensão, da solidariedade, do diálogo, e da liberdade entre as pessoas, eles estarão estabelecendo normais morais e fazendo ética. Isso quer dizer que a ética é muito democrática e que as normas morais podem ser estabelecidas de forma democrática (JUNQUEIRA, 2007). 7WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A ética é definida como a ciência do comportamento moral dos humanos, é teoria, estudo, reflexão, debate, que visa justificar, compreender, explicar racionalmente e criticar a moral (valores e ideias), buscando assegurar harmonia social e ajustar interesses individuais e coletivos. Enquanto a moral é mais concreta, ela julga o que é uma boa ou má conduta. Tanto ética como moral se referem à convivência humana e devem ser realizadas em favor da experiência dos valores fraternos e harmônicos. Ambas são comunitárias e tem por objetivo buscar a harmonia, a felicidade humana e a união com o universo (BENTO, 2005). Figura 2 - Ética x moral. Fonte: isto é filosofia.com.br (2022). Portanto, a ética está relacionada à discussão dos valores e da moral. Entretanto, ser ético não se constitui simplesmente em seguir a moral e os costumes predominantes na sociedade. Obedecer ao que é determinado por outro, simplesmente não torna um indivíduo ético. A ética tem relação com autonomia pessoal. O caráter é formado justamente nas decisões éticas das pessoas. Consequentemente, a ética nos coloca em situações de escolha. Quando precisamos escolher entre dois caminhos, em que ambos apresentam aspectos positivos e negativos, estamos testando nossa ética. Deste modo, são indispensáveis consciência e responsabilidade para uma vida ética (FORTES, 2003). 8WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.2 Bioética Bio: conhecimento científico. Ética: Ciência que julga os atos humanos como “bons” ou “maus”. A bioética surgiu no início da década de 1970, após apublicação de duas obras de suma importância de um professor pesquisador americano da área de oncologia, Van Rensselaer Potter. Figura 3. Van Rensselaer Potter. Fonte: Bioethics: the bridge to the future (1971). Um dos conceitos que define Bioética (“ética da vida”) diz respeito à ciência que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001). Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de uma metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de diversas áreas (medicina, psicologia, veterinária, educação, direito, sociologia, economia, teologia etc.) devem participar das discussões sobre os temas que envolvem o impacto da tecnologia sobre a vida. Todos terão alguma contribuição a oferecer para o estudo dos diversos temas de Bioética. O progresso científico não é um mal, mas a “verdade científica” não pode substituir a ética (JUNQUEIRA, 2007). A Bioética contribui para que as pessoas determinem “uma ponte” entre o conhecimento científico e o conhecimento humano, com o intuito de evitar impactos negativos que a evolução tecnológica pode trazer sobre a vida. Em decorrência da influência histórica, social e cultural vivenciada, é preciso estar atento; pois do contrário, pode-se correr o risco de perder os princípios que conduzem às atividades profissionais, para que as atitudes sejam éticas. Se o processo de construção da reflexão ética/ bioética, partindo do fundamento bioético e do respeito a seus princípios, for seguido, agir eticamente diante de uma situação ou conflito ético acontecerá naturalmente (JUNQUEIRA, 2009). 9WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. HISTÓRIA DA BIOÉTICA 2.1 Origem da Bioética Um artigo publicado em 1927, no periódico alemão Kosmos, Fritz Jahr usou a palavra bioética pela primeira vez. Ele a definiu como sendo o reconhecimento das obrigações éticas, para todos os seres vivos, não apenas ao ser humano (CNS, 2016). Fritz Jahr, ao final do seu artigo, sugere um “imperativo bioético”: respeita todo ser vivo essencialmente como um fim em si mesmo e trata-o, se possível, como tal. No entanto, a criação da bioética é conferida a Van Rensselaer Potter, como vimos anteriormente, caracterizando-a como a ciência da sobrevivência, em 1970. Potter conceituou a Bioética como sendo uma Ponte (COSTA JÚNIOR, 2015), no sentido de determinar uma conexão entre as ciências e a humanidade, o que assegura a possibilidade do futuro. A Bioética teve uma outra origem paralela em língua inglesa. Ainda no ano de 1970, André Hellegers utilizou esse termo para denominar os novos estudos que estavam sendo propostos na área de reprodução humana, ao criar o Instituto Kennedy de Ética, então denominado de Joseph P. and Rose F. Kennedy Institute of Ethics. Posteriormente, no final da década de 1980, Potter enfatizou a característica interdisciplinar e abrangente da Bioética, denominando-a de global (KOTTOW, 2008). O objetivo era incluir as discussões e reflexões nas questões da medicina e da saúde, ampliando as mesmas aos novos desafios ambientais, ou seja, ele buscava restabelecer o foco original da Bioética, incluindo, e não restringindo. Em 1998, Potter redefiniu a Bioética como sendo uma Bioética profunda (deep bioethics). A Bioética profunda é “a nova ciência ética”, que combina humildade, responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural, que potencializa o senso de humanidade (KOTTOW, 2008). A Bioética, dessa forma, nasceu provocando a inclusão das plantas e dos animais na reflexão ética, já realizada para os seres humanos. A visão integradora do ser humano com a natureza como um todo, em uma abordagem ecológica, foi a perspectiva mais recente. Assim, a Bioética não pode ser abordada de forma restrita ou simplificada (SCHRAMM; PALACIOS; REGO, 2008). No Brasil, a Bioética incluiu-se como um campo de estudos, adaptando-se à realidade brasileira e às propostas discutidas mundialmente, somente a partir de 1990 (GARRAFA, 2000). O país esteve sob a ditadura militar, o que dificultou a consolidação de uma área de conhecimento que se propunha a discutir questões éticas pertinentes à autonomia e à dignidade humana (GARRAFA, 2005). No âmbito nacional, sua evolução refere-se diretamente com a promulgação da Constituição democrática de 1988, tornando-se de imenso valor o trato das questões inerentes aos direitos humanos. No mesmo ano, aconteceu a elaboração de um novo código de ética médico, que passou por um processo de revisão, atualização e ampliação, modificando as relações no país no fim da década de 80 e contribuindo para o processo de redemocratização. Esta atualização produzida durante a 1ª Conferência Nacional de Ética Médica, realizada de 24 a 28 de novembro de 1987, trouxe avanços significativos para o exercício da medicina em todo Brasil. A bioética brasileira até o ano de 1998, ainda era uma cópia colonizada dos conceitos vindos dos países do Hemisfério Norte, porém a narrativa começou a mudar a partir de 2002 (VIEIRA, 1988). 10WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.2 Criação dos Comitês de Ética Durante a segunda Guerra Mundial, houve os maiores e piores crimes contra a humanidade, ultrapassando todos os limites de crueldade, indignidade e irresponsabilidade contra prisioneiros de guerra em campos de concentração. As barbaridades envolvendo médicos e pesquisadores alemães foram reveladas para a sociedade, que se organizou para julgar os criminosos de guerra no Tribunal de Nuremberg, em 1947, julgamento este promovido pelos Estados Unidos da América (FIGUEIREDO, 2011). Muitas pessoas foram obrigadas a participar de experimentos de sofrimento de dor extrema. Principalmente os médicos alemães lideravam experimentos da medicina pseudocientífica, aplicando-os em centenas de pessoas, dentre os prisioneiros dos campos de concentração, sem o consentimento da vítima (COSTA JUNIOR, 2015). No Tribunal de Nuremberg 20 médicos foram condenados por acusações de tortura disfarçada de pesquisa (KOTTOW, 2008). Após as condenações pelo Tribunal de Nuremberg, houve uma preocupação com os direitos dos pesquisados e da ética envolvida nessas pesquisas. Posteriormente às condenações, foi criado o Código de Nuremberg. Nele, foram ditadas as primeiras normas éticas internacionais para pesquisas envolvendo seres humanos, ficando explícita a obrigatoriedade da livre vontade do indivíduo em fazer parte do experimento (KOTTOW, 2008). O Código de Nuremberg, por vários anos, estabeleceu-se como medida da valorização e do respeito ao ser humano no campo da experimentação científica (XAVIER, 2000). Todavia, apesar da existência de diretrizes internacionais sobre a ética em pesquisa, apresentada no Código, essas diretrizes não eram amplamente aplicadas pelos médicos e cientistas em seus estudos. Isto evidenciava que as pesquisas realizadas em países desenvolvidos não expressavam critérios éticos aceitáveis e normatizados (COSTA, 2009). Essas circunstâncias levaram a Associação Médica Mundial a elaborar a Declaração de Helsinque, em 1964, na Finlândia, com o objetivo de estabelecer critérios éticos para subvencionar as pesquisas na área médica. A Declaração de Helsinque alcançou uma força histórica, tornando- se um documento normativo global, denotado como referência moral e posto, muitas vezes, acima da própria legislação de países, a partir de sua unânime aceitação mundial (GARRAFA; LORENZO, 2008). O relatório de Belmont surgiu em 1978, apresentando alguns princípios éticos que devem ser exigidos em todas as pesquisas com humanos. É importante destacar que, após esse relatório, a Declaração de Helsinque foi revisada mais três vezes, em 1983, 1989 e 2000 (MELGAREJO; SOTT, 2011). Constata-se que, em todas as revisões,houve um avanço significativo nas pesquisas médicas e biomédicas realizadas em humanos. Contudo, alguns pesquisadores continuavam conduzindo experimentos abusivos pela falta de regulamentação e organizações que fiscalizassem suas ações. Percebeu-se, no decorrer dos anos, a necessidade da criação de comitês de ética em pesquisa que seriam fiscalizadores da atuação dos pesquisadores, impedindo experimentos danosos aos indivíduos pesquisados, garantindo-lhes seus direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana (MELGAREJO; SOTT, 2011). O Livro, Experimentação com seres humanos, de Hossne e Vieira, foi publicado em 1988 e apontado como um marco deste período acerca das pesquisas que envolvem seres humanos e as preocupações geradas em torno delas. 11WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No Brasil, somente na década de 80, demonstra-se o interesse do Conselho Nacional de Saúde pelo controle das atividades em pesquisa (FREITAS, 2006). Havia a preocupação de um grupo de pesquisadores sobre experimentos envolvendo seres humanos e a indústria farmacêutica, já que o Brasil participava em pesquisas, cujos autores estavam em países centrais, que exigiam comprovadamente medidas de proteção para as pessoas envolvidas. Nesse período, já se discutia sobre questões de ética em pesquisa com seres humanos e seus desdobramentos em países de todo o mundo. A primeira norma que estabelecia critérios para pesquisa no Brasil – nº 1 de 18 de junho de 1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) – previa a criação de comitês de ética em pesquisa para avaliação de projetos na área de saúde. Esse era um assunto relevante para o CNS – instância colegiada com representantes de diferentes segmentos da sociedade –, pois compreendia controle social e participação da comunidade (FREITAS, 2006). Os comitês de ética em pesquisa, no Brasil, passaram a ser regulamentados pela resolução 466/12, de 2012, revisando as pesquisas para garantir que fossem realizadas dentro dos princípios da ética (MELGAREJO; SOTT, 2011). Atualmente, os comitês de ética em pesquisa são considerados colegiados interdisciplinares e independentes, de relevância pública, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, desenvolvidos para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para colaborar na evolução da pesquisa dentro dos princípios éticos (CNS, 2012). 2.3 Noções Básicas de Ética Profissional na Medicina Veterinária Um profissional deve cumprir os princípios éticos da sociedade e as normas e regimentos internos das organizações. A ética profissional proporciona ao profissional um exercício diário e prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, entre muitos outros que direcionam o seu comportamento e a tomada de decisões em suas atividades. A gratificação vem através do reconhecimento, não só pelo seu trabalho, mas também por sua conduta exemplar (ARRUDA, 2001). Com base nos valores morais existentes, existem alguns fundamentos da ética profissional que determinam que a sociedade valoriza os profissionais que possuam os seguintes requisitos éticos: • Honestidade enquanto ser humano e profissional. • Perseverança na busca de seus objetivos e metas. • Conhecimento geral e profissional para oferecer segurança na execução das atividades profissionais. • Responsabilidade na execução de qualquer tarefa. • Iniciativa para buscar solucionar para as questões apresentadas. • Imparcialidade na execução do trabalho e na apresentação de resultados e sugestões. • Atualização constante e contínua. • Trabalho em grupo de modo que seja construído um espírito de equipe. • Eficiência na execução das tarefas, buscando aprimorar a qualidade. • Eficácia ao fazer o trabalho, visando atingir o resultado esperado. • Ambição na busca de crescimento pessoal e profissional. 12WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Controle emocional nos relacionamentos pessoais e profissionais, visando a administração de conflitos. • Relacionamento interpessoal baseado na compreensão, ajuda mútua, respeito e consideração. • Postura profissional, privilegiando as boas maneiras, a boa educação, a comunicação adequada, os bons hábitos e a boa aparência. Um bom profissional executa suas atividades com zelo e cuidado. Dentre as ações éticas profissionais, destacamos: • Comunicar-se corretamente. • Aprender ouvir os outros. • Melhorar o vocabulário. • Nunca insultar ou gritar. • Evitar violência. • Oferecer informações. • Praticar a Ética profissional. • Chamar o outro pelo nome. • Usar linguagem clara que facilite a compreensão. • Perguntar objetivamente e com clareza. • Ouvir as respostas com atenção e sem fazer interrupções. • Sintetizar o que ouviu. • Dar respostas adequadas às perguntas do interlocutor. • Olhar nos olhos, braços soltos, movimentos leves com as mãos. • Cuidar de sua apresentação pessoal. • Ao lidar com público, manter um sorriso cordial (ARRUDA, 2001). Vídeo: Ética Profissional; como agir de forma ética no ambiente de trabalho. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pEXhGE7Fd6s. https://www.youtube.com/watch?v=pEXhGE7Fd6s 13WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ações antiéticas: • Roubar a ideia dos outros. • Mentir. • Enganar. • Omitir informações. • Coagir ou abusar de outra pessoa. • Permitir abusos na organização. • Violar regras institucionais. • Falar mal de colegas para você sobressair. • Sabotar o trabalho dos outros. O Código de ética é um documento criado pelos principais gestores de uma organização, ou pelos Conselhos que regem uma profissão (Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), na Medicina Veterinária), que tem por objetivo apresentar os princípios, a missão, as atitudes e comportamentos adequados do Médico Veterinário ou empresa, de forma a atender às necessidades e aos anseios da sociedade. Discutiremos de forma mais aprofundada sobre os comitês e legislação na Medicina Veterinária no próximo módulo (CAMARGO, 1999). 3. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA 3.1 Histórico A medicina veterinária ou “ARS VETERINARIA” (a arte de curar animais, como foi denominada na Roma Antiga) originou-se de observações e princípios elementares desenvolvidos paralelamente com a “Medicina Humana” (MELO, 2014). Pode-se dizer que o início do ensino formal da Medicina Veterinária se deu no período após a Guerra dos 30 anos (início da Idade Moderna), onde houve um crescente aperfeiçoamento da Medicina, inclusive da Veterinária, resultando na necessidade de ensinar os serviçais a tratarem dos animais feridos ou enfermos (BIRGEL, 2014). A primeira escola de Medicina Veterinária do mundo foi instituída em Lyon, na França, criada pelo hipologista e advogado francês Claude Bougerlat, a partir do Édito Real assinado pelo Rei Luiz XV, em 04 de agosto de 1761. A primeira turma de médicos veterinários iniciou com 8 alunos, em 19 de fevereiro de 1762. A partir daí, novas escolas foram abrindo e a profissão foi se tornando cada vez mais comum, alcançando, no final do século XVIII, 19 escolas, das quais 17 estavam em funcionamento (KOSHIYAMA, 2014). 14WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.2 Medicina Veterinária no Brasil A família real portuguesa se viu forçada a mudar para o Brasil devido à crise política e econômica enfrentada por Portugal. A instalação da sede do Império no Rio de Janeiro trouxe avanços consideráveis para a Medicina Veterinária, como para as áreas científicas e a vida cultural do país. No Brasil, até então, não existiam bibliotecas, imprensa e ensino superior. As primeiras faculdades foram fundadas em 1815 - faculdade de Medicina, 1827 - faculdade de Direito e 1874 - faculdade de Engenharia (KOSHIYAMA, 2014). As ciências agrárias despertavam imenso interesse em D. Pedro II. Foi quando, viajando à França, em1875, ele visitou a Escola Veterinária de Alfort e se impressionou com a instituição e com uma conferência ministrada pelo médico-veterinário fisiologista Gabriel-Constant Colin (1825-1896) (CRMV-SP, 2019). O imperador retornou ao Brasil com o anseio de criar uma instituição semelhante. D. Pedro II foi o primeiro homem público a reconhecer a importância da formação de médicos- veterinários qualificados e, portanto, a necessidade de uma organização de ensino científico sobre a Medicina Veterinária (CRMV-SP, 2019). No início do século XX, já sob regime republicano, foram criadas as duas primeiras instituições de ensino de Medicina Veterinária brasileiras, ambas na cidade do Rio de Janeiro (RJ): Decreto nº 2.232, de 6 de janeiro de 1910 - Escola de Veterinária do Exército: aberta em 17 de julho de 1914. Decreto nº 8.919, de 20 de outubro de 1910 - Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária: aberta em 4 de julho de 1913 (CRMV-SP, 2019). A primeira mulher diplomada em Medicina Veterinária no Brasil foi Nair Eugenia Lobo, em 1929, pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária, hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 15WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.3 Símbolo da Medicina Veterinária Embora não seja uma norma, lei ou diretriz, o símbolo da Medicina Veterinária representa grande parte dos princípios éticos preconizados pelos Órgãos reguladores da profissão e pelo Código de Ética do Médico Veterinário. Até 1994 não havia um símbolo que representasse a Medicina Veterinária no Brasil, logo, cada Conselho, Clínica, Instituição de ensino e outras empresas usavam o símbolo que achassem mais apropriado. Com o objetivo de padronizar o símbolo em nosso país, em outubro do ano citado, o CFMV instituiu um concurso, em nível nacional, em que, entre 172 sugestões, uma foi escolhida (Figura 4) (CFMV, 2019d). Figura 4 - Símbolo da Medicina Veterinária. Fonte: CFMV (2019d). 3.4 Juramento Ao final de nossa graduação, ao colarmos grau, proferimos o juramento do Médico Veterinário, a seguir, também presente no Código de Ética: Sob a proteção de Deus, PROMETO que, no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial respeito ao Código de Ética da profissão, sempre buscando uma harmonização entre ciência e arte e aplicando os meus conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico em benefício da sanidade e do bem-estar dos animais, da qualidade dos seus produtos e da prevenção de zoonoses, tendo como compromissos a promoção do desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade, a melhoria da qualidade de vida e o progresso justo e equilibrado da sociedade humana. E prometo tudo isso fazer, com o máximo respeito à ordem pública e aos bons costumes. Assim o prometo (CRMV, 2022). 16WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Medidas atuais, como a criação dos comitês de ética, bem como o ensino da ética, moral e bioética nas instituições, colaboram com o avanço científico e o progresso do respeito da relação homem-animal. As questões éticas farão parte do cotidiano de todas as profissões, cabendo a cada um buscar e tomar decisões respeitando os princípios fundamentados na ética e na moral. Nesta unidade, abordamos importantes conteúdos históricos de como se originou a bioética e a Medicina Veterinária no mundo e no Brasil. Esse conteúdo nos faz refletir que não houve conquistas fáceis e do quanto ainda é atual e de extrema relevância falarmos e discutirmos sobre ética dentro das profissões, principalmente na Medicina Veterinária, tendo em vista o respeito pelos seres vivos. Um bom profissional alcançará o triunfo a partir de um espírito tenaz, forte, obstinado, mas acima de tudo com ética, respeito e com amor à profissão. 1717WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 19 1. REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE MÉDICO VETERINÁRIO E LEGISLAÇÃO ............................................20 1.1 REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL ....................................................................................................................20 1.2 CONSELHOS DE MEDICINA VETERINÁRIA ........................................................................................................20 1.3 OUTRAS RESOLUÇÕES DE IMPORTÂNCIA NA MEDICINA VETERINÁRIA ......................................................22 2. CÓDIGO DE ÉTICA DO MÉDICO VETERINÁRIO ....................................................................................................22 2.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ..............................................................................................................................23 2.2 DEVERES PROFISSIONAIS ..................................................................................................................................23 2.3 DIREITOS DO MÉDICO VETERINÁRIO ................................................................................................................26 2.4 COMPORTAMENTO E RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL ..........................................................................26 DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO PROFA. DANIELLI A. LAVELLI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: BIOÉTICA 1818WWW.UNINGA.BR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.5 SIGILO PROFISSIONAL.........................................................................................................................................27 2.6 INFRAÇÕES E PENALIDADES ..............................................................................................................................27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................29 19WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O termo Deontologia deriva das palavras gregas déon ou deontos, que significam dever; e logos, que significa tratado. Sendo assim, podemos definir a deontologia como um conjunto de deveres ou princípios de conduta adotados por uma classe de profissionais, em nosso caso, os Médicos Veterinários. Tais princípios são estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), órgão federal que regula e fiscaliza as atividades referentes à profissão, em consonância com os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMV). Nesta unidade, iremos abordar os fatos históricos que levaram a regulamentação da profissão no Brasil, bem como a criação dos conselhos federal e regionais de Medicina Veterinária. Além disso, vamos destacar algumas resoluções, normas e diretrizes que visam assegurar os direitos e deveres dos graduados em Medicina Veterinária e assegurar o bem-estar animal e da população. 20WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE MÉDICO VETERINÁRIO E LEGISLAÇÃO 1.1 Regulamentação Profissional Apesar de as primeiras escolas brasileiras surgirem no início do século XX, o exercício da profissão só foi reconhecido em 1933, por meio do Decreto nº 23.133, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, tendo como ministro da Agricultura Juarez do Nascimento Fernandes Távora, reconhecido posteriormente como patrono da Veterinária no Brasil. O decreto legalizou e regulamentou o exercício da profissão de médico-veterinário, além de estabelecer as diretrizes do ensino na área, que deveria seguir o padrão da Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV, 2019). O decreto representou um grande marco na evolução da profissão no Brasil. Por mais de três décadas, foi ele que estabeleceu as condições e os campos de atuação para o exercício da Medicina Veterinária. Por esse motivo, a datade publicação do Decreto, 9 de setembro, foi escolhida para comemorar o Dia do Médico Veterinário no Brasil. O mesmo estabeleceu a obrigatoriedade do registro do diploma, o que começou a ser feito a partir de 1940, pela Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura, órgão igualmente responsável pela fiscalização do exercício profissional. DECRETO Nº 23.133 DE 9 DE SETEMBRO DE 1933 (CRMV, 2022) Revogado pelo Decreto nº 99.678, de 1990 Regula o exercício da profissão veterinária no Brasil e dá outras providências O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, usando das atribuições que lhe confere o artigo 1º do decreto n. 19.398 de 11 de novembro de 1930, resolve: Art. 1º Fica criado o padrão do ensino de medicina veterinária no Brasil constituído pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária do Ministério da Agricultura. Art. 2º O exercício da profissão de médico veterinário ou de veterinário em qualquer de seus ramos, com as atribuições estabelecidas no presente decreto só será permitido no território nacional. Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1933, 112º da Independência e 45º da República. 1.2 Conselhos de Medicina Veterinária O panorama econômico mundial do final dos anos de 1960 e o aumento da produção e da comercialização de carnes no Brasil (em 1970, o consumo de carne bovina atingiu 65% do total dos produtos de origem animal) reacenderam a chama entre os médicos veterinários que defendiam a regulamentação do exercício profissional e o estabelecimento do Conselho Federal e dos Regionais de Medicina Veterinária (CFMV/CRMVs). O primeiro passo neste sentido havia sido dado, em 1953, com a mobilização da classe em torno da elaboração de um projeto de lei que reivindicava a instituição de uma entidade representativa, apresentado ao Congresso Nacional, em 1957 (CRMV, 2019). 21WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A promulgação da Lei nº 5.517, em 23 de outubro de 1968, estabelece a criação do CFMV e dispõe sobre o exercício da Medicina Veterinária no País. A publicação da Lei 5.550, que trata do exercício da Zootecnia, aconteceria apenas dois meses depois, em 4 de dezembro de 1968, estabelecendo que o registro e fiscalização do exercício profissional ficaria também a cargo dos Conselhos de Medicina Veterinária, e não mais do Ministério da Agricultura. O Sistema CFMV/ CRMVs foi estabelecido como autarquia federal, dotada de personalidade jurídica de direito público, adquirindo então, autonomia técnica, administrativa e financeira, a partir do Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969. Com a decisão, cada Conselho Regional passaria a atuar como um braço do Conselho Federal nas diversas regiões do Brasil. Os primeiros Conselhos Regionais foram estabelecidos por meio da Resolução CFMV nº 05, de 28 de julho de 1969, de acordo com a competência delegada por lei, sendo inicialmente 14 CRMVs, designados pela ordem numérica e por região de atuação, todos localizados em capitais (CRMV, 2019). Figura 1- Conselho Federal de Medicina Veterinária. Fonte: cfmv.gov.br (2022). Um ano após a publicação, em 1969, nasce o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), nas dependências da Sociedade Paranaense de Medicina Veterinária. A eleição para a primeira diretoria do Conselho foi realizada no dia 9 de setembro daquele ano, com vitória do médico veterinário José Quirino dos Santos, o primeiro presidente eleito do CRMV- PR. Diretamente ou por meio dos CRMVs, o CFMV tem como finalidades: • fiscalizar o exercício profissional; • orientar, supervisionar e disciplinar as atividades relativas à profissão de médico- veterinário e do zootecnista em todo o território nacional; e • servir de órgão de consulta dos governos da União, dos estados, dos municípios e dos territórios, em todos os assuntos relativos à profissão de médico-veterinário ou ligados, direta ou indiretamente, à produção ou à indústria animal. Figura 2 – CRMV. Fonte: crmv-pr.org.br (2022). 22WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Nesse contexto, o CFMV vem seguindo uma forte caminhada voltada a promover a transparência e a modernização do Sistema CFMV/CRMVs. Sempre com o objetivo claro de disciplinar a Medicina Veterinária e a Zootecnia, assume o papel de articulador da promoção da Saúde Única, conceito que engloba o tripé de saúde humana, animal e meio ambiente (CFMV, 2021). 1.3 Outras Resoluções de Importância na Medicina Veterinária Resolução Nº 879, de 15 de fevereiro de 2008: Dispõe sobre o uso de animais no ensino e na pesquisa e regulamenta as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia brasileiras e dá outras providências. Resolução Nº 1000, de 11 de maio de 2012: Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências. Resolução Nº 1330, de 16 de junho de 2020: Aprova o Código de Processo Ético- Profissional no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs. Lei Arouca Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008: Regulamenta procedimentos para o uso científico de animais (CFMV, 2021). 2. CÓDIGO DE ÉTICA DO MÉDICO VETERINÁRIO O código de ética do Médico Veterinário é o documento que norteia as ações, direitos e deveres dos profissionais na área. O documento é confeccionado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) em consonância com os Conselhos Regionais (CRMV). O código de ética atual foi publicado no diário oficial da união, em janeiro de 2017, passando a vigorar no dia 09 de setembro de 2017, dia do Médico Veterinário (CFMV, 2019a). O documento, constituído por 17 capítulos e 51 artigos, aborda os princípios fundamentais da profissão, deveres e direitos dos médicos veterinários, comportamento profissional, honorários, responsabilidade técnica, interação com os consumidores, animais e meio ambiente, infrações e suas penalidades (CFMV, 2019a). É direito e dever de todo médico veterinário conhecer o código de ética. A seguir, abordaremos os principais pontos do documento. A Sede atual do CRMV-PR, localizada na Rua Fernandes de Barros, 685, no Alto da XV, foi inaugurada em 9 de setembro de 2002 e está em pleno funcionamento desde abril de 2003. 23WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.1 Princípios Fundamentais São 5 os princípios fundamentais inerentes à profissão (CFMV, 2019b). I - Exercer a profissão com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade. II - Denunciar às autoridades competentes qualquer forma de agressão aos animais e ao seu ambiente (CFMV, 2019b). Muitos municípios contam com órgãos públicos voltados para o atendimento de animais abandonados ou em condições de maus-tratos. No município de Maringá, a Secretaria de Meio Ambiente e Bem-estar Animal (SEMA) presta atendimento a animais de rua doentes, vítimas de maus-tratos e de acidentes de trânsito. Denúncias de situações suspeitas ou confirmadas de maus-tratos podem e devem ser feitas por qualquer cidadão, incluindo profissionais da área. III - Empenhar-se para melhorar as condições de saúde animal e humana e os padrões de serviços médicos veterinários. IV - No exercício profissional, usar procedimentos humanitários para evitar sofrimento e dor ao animal. V - Defender a dignidade profissional, quer seja por remuneração condigna, por respeito à legislação vigente ou por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético profissional da medicina veterinária em relação ao seu aprimoramento científico (CFMV, 2019b). 2.2 Deveres Profissionais Os 15 deveres dos médicos veterinários listados no código de ética estão diretamente relacionados com os 5 Princípios Fundamentais da profissão, complementando-os. Os mesmos resumem-se a: I - Aprimoramento contínuo do conhecimento (CFMV, 2019b). Ao ingressarmos na faculdade, achamos que 5 anos de estudo é muito tempo. No entanto, ao término deste período percebemos que muitos conhecimentosadquiridos precisam ser aprofundados ou, até mesmo, reaprendidos. Com o avanço constante da ciência e tecnologia, novas informações a respeito da fisiologia dos animais, das doenças que os acometem e dos métodos para tratamento surgem todos os dias. Logo, para nos mantermos atualizados e, portanto, competitivos frente ao mercado de trabalho, o aprimoramento contínuo dos conhecimentos é imprescindível, seja por meio de leitura diária ou através de programas de pós-graduação e especialização. II – Exercer a profissão de forma ética do ponto de vista comercial, não pensando apenas no lucro, e sim no que é justo frente ao serviço que está sendo prestado. III – Combater o exercício ilegal da Medicina Veterinária (CFMV, 2019b). O Artigo 5º da Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, dispõe sobre as atividades e funções privativas dos médicos veterinários. Enquanto profissionais da área, cabe a nós denunciar às autoridades qualquer tipo de violação ao descrito na lei. 24WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA IV – Profissionais em cargo de direção devem trabalhar para que os demais médicos veterinários possuam as condições mínimas para o seu desempenho. V – Relacionar-se com os demais médicos veterinários, respeitando a opinião profissional de cada um (CFMV, 2019b). Em nossa rotina profissional nos deparamos com condutas médicas que divergem daquelas que preconizamos. No entanto, embora diferentes, nem sempre uma necessariamente está errada. É muito comum atendermos animais que já passaram pela avaliação de outros veterinários e, segundo os proprietários, continuam apresentando o mesmo problema. Porém, antes de tomarmos como errada a conduta do profissional anterior é necessário levar em consideração que muitos fatores podem contribuir para a manutenção ou recidiva de um determinado quadro clínico. Ademais, em situações como essas, se constatado alguma falha no atendimento anterior, existem formas corretas de comunicarmos aos envolvidos sem agredir a ninguém. A mesma situação pode ser aplicada para aqueles casos em que precisamos trabalhar em conjunto com outros médicos veterinários, porém existem divergências a respeito de condutas médicas. A melhor forma para a solução é o diálogo e o respeito mútuo. VI – Exercer somente atividades que estejam no âmbito de seu conhecimento profissional. VII – Notificar aos órgãos responsáveis doenças de notificação obrigatória e fornecer todas as informações necessárias a respeito dos casos (CFMV, 2019b). São denominadas doenças de notificação obrigatória (compulsória) aquelas cuja suspeita ou confirmação, conforme critérios pré-estabelecidos, devem ser notificadas aos Serviços Veterinários Oficiais dos Estados ou Unidades Veterinárias Locais. Todos os anos, comissões da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) se reúnem e, levando em consideração critérios como taxa de disseminação das doenças, presença de países livres, possibilidade de transmissão para seres humanos (zoonoses), taxas de mortalidade e morbidade elevadas, existência de testes de diagnóstico bem padronizados, são formuladas listas de doenças de notificação obrigatória. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) utilizam as listas divulgadas pela OIE e os dados locais para elaborar as listas vigentes no país (BRASIL, 2013a). A portaria do MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014, define a lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos em todo o território nacional (BRASIL, 2014). Por sua vez, a instrução normativa nº 50, de 24 de setembro de 2013, do MAPA, estabelece a lista de doenças de notificação obrigatória do serviço veterinário oficial (BRASIL, 2013b). Exercício da profissão e áreas de atuação privativas dos Médicos Veterinários - Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5517.htm. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5517.htm 25WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA VIII – Denunciar pesquisas, testes, práticas de ensino ou quaisquer outras realizadas com animais sem a observância dos preceitos éticos e dos procedimentos adequados (CFMV, 2019b). Todos os procedimentos e atividades experimentais, tanto de ensino quanto de pesquisa, envolvendo animais, devem seguir as determinações do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). Para avaliar o cumprimento, projetos que envolvam animais devem ser encaminhados para as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUA). Toda instituição de ensino ou pesquisa credenciada que desenvolva atividades com animais deve possuir CEUAs (BRASIL, 2008). Profissionais de diferentes áreas como Medicina Veterinária, Agronomia, Farmácia, Biomedicina e Odontologia podem fazer parte das comissões e irão julgar se a metodologia dos trabalhos enviados a eles segue os preceitos básicos de bem-estar animal. IX – Não se utilizar de dados estatísticos falsos ou alterar sua interpretação científica para obtenção de resultados esperados ou satisfatórios. X – Informar a abrangência, limites e riscos de suas prescrições e ações profissionais a quem possa interessar. XII – Manter-se regularizado junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CFMV, 2019b). Para o exercício da medicina veterinária no território nacional, o profissional é obrigado por lei (Lei Federal 5.517/1968; Lei Federal 5.550/1968 e Resolução 680/2000) a se inscrever no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Estado onde exercerá suas atividades. Lista de Doenças de Notificação Obrigatória do Serviço Veterinário Oficial – Instrução Normativa nº 50, de 24 de setembro de 2013. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sa- nidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-pu- blicacoes-de-saude-animal/Listadedoencasanimaisdenoti- ficacaoobrigatoria.pdf. Para mais informações a respeito da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UNINGÁ, Centro Universitário Ingá, acesse: https://uninga.br/institucional?p=trab_conosco. http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/Listadedoencasanimaisdenotificacaoobrigatoria.pdf http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/Listadedoencasanimaisdenotificacaoobrigatoria.pdf http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/Listadedoencasanimaisdenotificacaoobrigatoria.pdf http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-animal/Listadedoencasanimaisdenotificacaoobrigatoria.pdf 26WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA XIII – Realizar a eutanásia de acordo com os princípios éticos e normas do CFMV. XIV – Não se apropriar de bens que não tenha posse ou desviá-lo em benefício próprio ou de outros. XV – Comunicar ao CRMV qualquer infração ao Código de Ética (CFMV, 2019b). 2.3 Direitos do Médico Veterinário Todo médico veterinário tem direito a exercer sua profissão independente de religião, sexo, opção sexual, raça, idade, opinião política e qualquer outra questão. Adicionalmente, entre outros direitos, vale destacar que todos os profissionais podem prescrever o tratamento que julgar mais indicado e escolher livremente seus pacientes e clientes, exceto nos casos a seguir: ausência de outro médico veterinário na região, quando outro colega solicitar sua colaboração e nos casos de extrema urgência ou de perigo imediato para a vida do animal ou do homem. Caso o profissional tenha cumprido com todas as suas obrigações e estiver insatisfeito com a postura do cliente, fica a seu critério retirar a assistência, exceto nos casos citados anteriormente (CFMV, 2019b). 2.4 Comportamento e ResponsabilidadeProfissional O código de ética afirma que médicos veterinários serão responsabilizados, civil e penalmente, por infrações éticas praticadas com dolo ou culpa que venham a causar danos ao paciente ou ao cliente. A prática profissional de atos que caracterizem imperícia, imprudência ou negligência podem acarretar em penalidades, como perda do registro no CRMV, multas e processos (CFMV, 2019b). A seguir, discutiremos o significado de cada uma destas três palavras. A imperícia é caracterizada pela falta de competência ou habilidade para a realização de determinada atividade. Portanto, ao se sentir inseguro quanto à capacidade técnica para a realização de determinado procedimento, o ideal é encaminhar o animal para um profissional que possua tal capacitação. Por sua vez, a imprudência caracteriza-se pelo ato de agir perigosamente ou sem precaução. Por exemplo, o protocolo normalmente empregado antes de qualquer procedimento cirúrgico é a realização de exame de sangue do paciente para avaliar se as condições gerais se encontram dentro da normalidade. Ao ignorar a realização de tal exame, o profissional está sendo imprudente, uma vez que intercorrências que podem trazer risco à vida do paciente durante a cirurgia poderiam ser previstas e evitadas através do mesmo. Para mais informações a respeito do CRMV/PR, acesse https://www.crmv-pr.org.br/. https://www.crmv-pr.org.br/ 27WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Por último, negligência, também conhecida por desatenção, omissão ou falta de cuidado. Por exemplo, antes da realização de um procedimento cirúrgico, o local onde será realizada a incisão deve ser limpo (antissepsia) para diminuir as chances de infecção. Existe todo um protocolo para a realização da antissepsia do local, devendo este ser cumprido à risca para garantir seu sucesso. O médico veterinário que não realizar o procedimento de antissepsia incorreto por estar com pressa, por exemplo, está sendo negligente, ou seja, está agindo com falta de cuidado, colocando em risco as condições de saúde de seu paciente. A diferença entre as três palavras é pequena e normalmente levam a atos bem parecidos. Enquanto médicos veterinários devemos nos esforçar ao máximo para evitá-las. Adicionalmente, o código de ética reforça a proibição de ações, muitas vezes consideradas óbvias, porém, realizadas por muitos profissionais da área. Dentre elas podemos citar: deixar de fornecer laudo médico quando solicitado pelo cliente, permitir que seu nome conste no quadro de profissionais de empresas sem nelas exercer nenhuma função, deixar de dar as explicações necessárias ao cliente, receitar medicamentos sem a realização de exames prévios, usar títulos que não possui e criticar trabalhos profissionais ou serviços de colegas (CFMV, 2019b). 2.5 Sigilo Profissional Todo mundo adora ver fotos daquele cachorro fofinho e peludo que foi visitar o Médico Veterinário, certo? No entanto, de acordo com o previsto no código de ética, médicos veterinários não podem exibir pacientes ou suas fotografias em qualquer meio de comunicação sem a autorização expressa do cliente. O mesmo vale para o fornecimento de informações ou fazer referências a casos clínicos identificáveis (CFMV, 2019b). Portanto, não se esqueça de pedir autorização sempre que necessário. 2.6 Infrações e Penalidades Infrações cometidas ao código de ética serão classificadas em levíssimas, leves, sérias, graves e gravíssimas, de acordo com a análise dos fatos, causas do dano e suas consequências. Fatores como reincidência, falso testemunho, ações dolosas, violência, entre outras, são consideradas agravantes. Por sua vez, algumas situações podem ser atenuantes, por exemplo, ausência de punições anteriores e auxílio na elucidação do caso (CFMV, 2019b). Os infratores são julgados pelos Conselhos Regionais e as penalidades aplicadas se baseiam no Art. 33 da Lei nº 5517, de 23 de outubro de 1968, e no Art. 34 do Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969 (CFMV, 2019b). A seguir, estão descritas as penalidades de acordo com o grau de infração: • Levíssimas: advertência confidencial. • Leves: censura confidencial (punição moral dada ao médico veterinário reservadamente). • Sérias: censura pública. • Graves: suspensão do exercício profissional. • Gravíssimas: Cassação do exercício profissional. 28WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A lista completa de infrações de acordo com os graus de gravidade está descrita no Capítulo XV do Código de Ética do Médico Veterinário. Para mais informações, acesse: http://portal.cfmv.gov.br/uploads/codeticacfmv.pdf. http://portal.cfmv.gov.br/uploads/codeticacfmv.pdf 29WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, abordamos como se deu a regulamentação do Médico Veterinário no Brasil, a criação dos órgãos regulamentadores da profissão, os principais pontos referentes ao Código de Ética dos Médicos Veterinários, bem como as principais leis, decretos e outras legislações ligadas a estes tópicos. Muitas são as leis, normas e diretrizes que regulam a nossa profissão e o mercado de trabalho que atendemos. É de extrema importância o conhecimento de nossos direitos e deveres enquanto Médicos Veterinários, no entanto, se faz mais importante ainda colocarmos tais deveres em prática. Agir de forma ética e respeitando os animais, seres humanos e a natureza não só contribuiu para nos tornar ótimos profissionais, mas também para a formação de uma sociedade melhor. “Nosso direito termina onde começa o direito do próximo”. Em uma sociedade tão atribulada, uma simples gentileza faz toda a diferença, tanto em se tratando dos animais quanto de nossos clientes e concorrentes. Busquem a perfeição e o sucesso profissional, porém, sem nunca deixar de lado as qualidades que nos definem como “boas pessoas”. 3030WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................32 1. BEM-ESTAR ANIMAL (BEA) E DIREITO DOS ANIMAIS .......................................................................................33 1.1 CONCEITOS .............................................................................................................................................................33 1.2 CINCO LIBERDADES DO BEA................................................................................................................................33 2. LEGISLAÇÃO DE DIREITOS ANIMAIS ....................................................................................................................35 3. EUTANÁSIA ANIMAL .............................................................................................................................................. 41 3.1 CONCEITOS E INDICAÇÕES .................................................................................................................................. 41 3.2 NORMAS PROFISSIONAIS ...................................................................................................................................42 3.3 MÉTODOS ACEITOS ..............................................................................................................................................42 3.3.1 MÉTODOS QUÍMICOS ........................................................................................................................................43 BEM-ESTAR ANIMAL PROFA. DANIELLI A. LAVELLI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: BIOÉTICA 3131WWW.UNINGA.BR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.3.2 MÉTODOS FÍSICOS ............................................................................................................................................44 3.3.3 SITUAÇÕES RELEVANTES .................................................................................................................................46CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................................48 32WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Há uma preocupação cada vez maior da relação do homem com os animais e com suas intervenções no meio ambiente, já que os atos humanos podem alterar irreversivelmente os processos da vida. A bioética é um valor universal, construída com a união da reflexão ética, questões morais humanas e questões morais da saúde (RUIZ; TITTANEGRO, 2017), sendo responsabilidade de todo profissional médico veterinário. Alguns temas da bioética são: eutanásia, experimentação em animais, manipulação genética, transplantes e a clonagem (MOORE; MEPHAN, 1995). Com as novas biotecnologias, os animais são expostos a fatores de risco que podem implicar em seu bem-estar, tais como: efeitos de mutações, efeitos de expressão, efeitos metodológicos e efeitos sistemáticos. Os efeitos de mutação podem gerar consequências imprevisíveis. Os efeitos de expressão podem resultar em alterações fisiológicas que afetam o bem-estar animal. Os efeitos metodológicos são resultado de situações geradas do processo de tecnologia, podendo produzir animais com anomalias, expondo-os a sofrimentos. Em relação aos efeitos sistemáticos, considera-se a situação de como os animais em experimentação científica serão mantidos e tratados (ambiental e manejo), podendo comprometer seu bem-estar (MOORE; MEPHAN, 1995). As questões éticas ainda são pouco discutidas e, no Brasil, são raras as atividades de ensino sobre bem-estar animal durante a graduação de Medicina Veterinária. Contudo, posturas para alcançar a evolução dessas questões têm sido observadas, tais como: formação de comissões de ética e de bem-estar no uso de animais, políticas de classificação da dor e sofrimento animal e ensino da bioética nos cursos de Medicina Veterinária (FARACO, 2010). Como exemplo, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), por meio da sua comissão de ética, bioética e bem-estar animal (CEBEA/CFMV), elaborou o Guia Brasileiro de Boas Práticas para Eutanásia em Animais, o qual visa dar suporte aos profissionais envolvidos no processo da eutanásia animal. 33WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. BEM-ESTAR ANIMAL (BEA) E DIREITO DOS ANIMAIS 1.1 Conceitos Os animais são capazes de sentir emoções (medo, felicidade, irritação, angústia, entre outras), ou seja, são seres sencientes (DUNCAN; DAWKINS, 1983). Animais de todas as áreas (produção, companhia, silvestres e de laboratório) estão envolvidos no bem-estar único, que integra não só o bem-estar animal, mas também o bem-estar humano e a sustentabilidade, conceito ligado ao de saúde única (CFMV, 2013). O estudo do bem-estar animal (BEA) tem por objetivo reconhecer as necessidades básicas dos animais e estabelecer meios de aplicabilidade desta ciência (KEELING et al., 2011). Isso inclui as necessidades fisiológicas, físicas, comportamentais e ambientais. Além disso, o conhecimento do bem-estar animal pode auxiliar na melhoria de práticas que utilizam animais, trazendo também benefícios à humanidade (UFV, 2018). Nos anos 60 foi criado o conceito sobre o bem-estar animal e as cinco liberdades: livre de sede, fome e desnutrição; livre de desconforto; livre de dor, lesões e doenças; livre para expressar seu comportamento natural; livre de medo e distresse (FAWC, 2009; CFMV, 2013). Figura 1 - Os três círculos (Físico, Naturalidade e Mental) provedores do bem-estar animal. Fonte: Adaptado de Fraser (2008). 1.2 Cinco Liberdades do BEA As cinco liberdades possibilitam avaliar e mensurar aspectos que influenciam na qualidade de vida dos animais (FAWC, 2009). Sendo eles: • Livre de sede, fome e desnutrição ou “Liberdade nutricional”: inclui o acesso à água e comida em quantidade e qualidade adequadas para manter a saúde plena. Animais privados de água e comida manifestam alterações orgânicas importantes, como a desidratação e desnutrição, gerando desequilíbrio da homeostasia (FAWC, 2009; CFMV, 2013) (Figura 2). 34WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Livre de desconforto ou “Liberdade ambiental”: inclui instalações adequadas para cada espécie. O ambiente deve conter abrigo confortável, temperaturas ideais, área de descanso e espaço disponível (FAWC, 2009; CFMV, 2013). • Livre de dor, lesões e doenças ou “Liberdade sanitária”: inclui prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças e lesões, evitando dor e sofrimento animal. Além disso, muitas doenças são consideradas zoonoses e prover a saúde única é fundamental para prevenção destas doenças (FAWC, 2009; CFMV, 2013). • Livre para expressar seu comportamento natural ou “Liberdade comportamental”: a sanidade animal está intimamente conectada ao comportamento e qualidade de vida. Animais supostamente saudáveis podem apresentar alterações comportamentais se não permitirem que eles expressem o comportamento natural de sua espécie (BROOM; FRASER, 2007). Ter um espaço adequado e estimular o animal com atitudes e objetos que incentivam o instinto natural são importantes para expressar este comportamento. Adicionalmente, a companhia de outros animais da mesma espécie também ajuda (FAWC, 2009; CFMV, 2013). • Livre de medo e do estresse ou “Liberdade psicológica”: inclui evitar situações de estresse excessivo, que pode levar ao sofrimento. A orientação do médico veterinário neste aspecto é de grande valia para ajudar o tutor/produtor a identificar transtornos psicológicos do animal (CFMV, 2013). Figura 2 - Fornecimento de água limpa aos animais. Fonte: Filosofia e Cultura (2017). 35WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. LEGISLAÇÃO DE DIREITOS ANIMAIS A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no ano de 1978, em Bruxelas, criou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que é reconhecida mundialmente. Tem como propósito gerar amparo jurídico para os países que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos animais. Esta declaração motivou vários países a criar novas leis para proteção animal. No texto da Declaração Universal dos Direitos Animais é descrito: Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza; Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros; Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante; Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais, proclama-se o seguinte: Artigo 1º Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência. Artigo 2º 1.Cada animal tem direito ao respeito. 2.O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais, ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros animais. 3.Cada animal tem direito à consideração, à cura e à proteção do homem. Artigo 3º Para entender melhor sobre a evolução e importância do bem-estar animal, assista ao filme Temple Grandin – o filme. Baseado em uma história real, ele conta a história de Temple Grandin, uma jovem autista que observa como os trabalhadores da fazenda lidam com a criação de gado e, apesar de sua limitação, ingressa na faculdade e desenvolve diversas pesquisas direcionadas ao bem- estar animal. Após assistir a esse filme, você, aluno, irácompreender sobre tratamento racional de animais vivos em fazendas e abatedouros, além de inspirar-se com uma célebre profissional, altamente respeitada no seguimento de manejo pecuário. Figura 3 – Filme Temple Grandin. Fonte: Beefpoint (2014). 36WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis. 2.Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia. Artigo 4º 1.Cada animal que pertence a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu ambiente natural terrestre, aéreo e aquático, e tem o direito de reproduzir- se. 2.A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito. Artigo 5º 1.Cada animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie. 2.Toda a modificação imposta pelo homem para fins mercantis é contrária a esse direito. Artigo 6º 1.Cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de vida conforme sua longevidade natural 2.O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Artigo 7º Cada animal que trabalha tem o direito a uma razoável limitação do tempo e intensidade do trabalho, e a uma alimentação adequada e ao repouso. Artigo 8º 1.A experimentação animal, que implica em sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra. 2.As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas Artigo 9º Nenhum animal deve ser criado para servir de alimentação, deve ser nutrido, alojado, transportado e abatido, sem que para ele tenha ansiedade ou dor. Artigo 10º Nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A exibição dos animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. Artigo 11º O ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida. Artigo 12º: 1.Cada ato que leve à morte um grande número de animais selvagens é um genocídio, ou seja, um delito contra a espécie. 2.O aniquilamento e a destruição do meio ambiente natural levam ao genocídio. Artigo 13º 1.O animal morto deve ser tratado com respeito. 2.As cenas de violência de que os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim mostrar um atentado aos direitos dos animais. Artigo 14º 1.As associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representadas a nível de governo. 2.Os direitos dos animais devem ser defendidos por leis, como os direitos dos homens (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS ANIMAIS, 1978). 37WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No Brasil, o primeiro decreto que estabeleceu medidas de proteção aos animais foi o Decreto Nº 24.645 – Lei Getúlio Vargas de Proteção aos Animais, de 10 de julho de 1934. Posteriormente, foram criadas outras Leis: • Lei Federal nº 11.794/08 – Lei Arouca – Normas para Pesquisas com Animais: estabelece regulamentos à pesquisa com animais no Brasil. • Portaria 117/97 – IBAMA – Compra e Venda de Animais Silvestres: estabelece diretrizes para comercialização de animais vivos, abatidos, partes e produtos da fauna silvestre. • Lei 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais: estabelece sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. • Substitutivo ao Projeto de Lei 121/99 – Lei da Posse Responsável de Cães: estabelece as diretrizes legais para posse, transporte e guarda responsável de cães. • Substitutivo ao Projeto de Lei 116/2000 – Lei Trípoli: estabelece diretrizes para criação, propriedade, posse, guarda, uso e transporte de cães e gatos. Além destas Leis Federais, existem Leis Estaduais e Municipais, porém, só abrangem alguns estados e municípios do Brasil (Figura 4). Para se informar sobre o regulamento, instituído pelo CFMV, para conduta do médico veterinário e zootecnista em relação à constatação de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais, acessar: CFMV. Resolução nº 1236, de 26 de outubro de 2018. Portal on-line do Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2018. Disponível em: http://portal.cfmv.gov.br/lei/index/id/903. http://portal.cfmv.gov.br/lei/index/id/903 38WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 4 - Tópicos dos Códigos Estaduais de Proteção aos Animais que abordam o bem-estar animal. Fonte: Franchi et al. (2012). A Assembleia Legislativa do Estado do Paraná instituiu, no ano de 2003, o Código Estadual de Proteção aos Animais, que estabelece diretrizes para proteção dos animais do Paraná, visando compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a preservação ambiental. Em 2017, foi criado o Conselho Estadual de Proteção ao Animal, que visa trabalhar nas questões que envolvem o bem-estar dos animais no estado. O conselho é composto por representantes de órgãos estaduais, como Secretaria Estadual da Saúde e do Meio Ambiente, Força Verde, Bombeiros, Polícia Militar e Detran. Sua função atual é apoiar organizações não governamentais (ONGs) em relação à legislação, a favor dos animais, e investir na fiscalização de maus-tratos (Figura 5). 39WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 - Folheto explicativo sobre como denunciar crimes ambientais e maus-tratos aos animais. Fonte: Assessoria de Comunicação do Conselho Federal de Medicina Veterinária (2018). 40WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O comércio de animais, cujos criadores realizam a procriação indiscriminadamente, ou os deixam em gaiolas para esta prática, é considerado maus-tratos (Figura 6). No município de Maringá - PR, existe a Lei 10.467/2017, que penaliza estes criadores com R$ 2 mil reais de multa, por animal. Figura 6 - Condição de maus-tratos em criadouro clandestino. Fonte: Tomas (2012). Para se informar sobre as diretrizes do município de Maringá - Paraná contra a prática de maus-tratos aos animais, acessar: Leis Municipais. Lei 10.467/2017, de 25 de agosto de 2017. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei- ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467- 2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa- sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles- que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09- 17-versao-compilada. https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compiladahttps://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada 41WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. EUTANÁSIA ANIMAL 3.1 Conceitos e Indicações O termo eutanásia pode ser julgado como “indução da cessação da vida animal, por meio de método tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado, analisando sempre os princípios éticos” (BEAVER et al., 2001; CFMV, 2002). Sua indicação se dá quando o animal constituir risco à saúde pública e/ou ao meio ambiente, quando o animal for objeto de ensino ou pesquisa, quando o tratamento (custo) for incompatível com a atividade produtiva do animal ou com os recursos financeiros do tutor e quando o bem-estar animal estiver comprometido de modo irreversível (AVMA, 2007). A eutanásia faz parte da rotina médica veterinária e deve ser tratada com profissionalismo e respeito aos animais e às pessoas envolvidas. A equipe técnica deve estar treinada para manejar adequadamente os animais, com a escolha do método ideal para cada caso, dentro das normas prescritas (AVMA, 2007; CFMV, 2013). O bem-estar animal deve ser mantido em todos os momentos. Minimizar a ansiedade e medo é essencial para realização de eutanásia sem sofrimento. O ambiente calmo e a contenção cuidadosa do animal, de preferência realizada por um indivíduo familiar, pode ajudar a diminuir o estresse (LUNA; TEIXEIRA, 2007). O animal chamado de “comunitário” é reconhecido pela Lei Estadual como aquele que estabelece vínculo com a comunidade em que vive, laços de dependência e de manutenção, ainda que não possua responsável único e definido. Quais ações a loja Carrefour, de Osasco, deveria ter frente ao caso “Manchinha”, cão espancado pelo segurança da loja, no dia 28 de novembro de 2018? A repercussão do caso trouxe debates e questionamentos sobre o assunto “maus- tratos”. Não basta a empresa criar um dia por ano de “Pet Day” ou feiras de adoção, a questão vai além de apoios às entidades de acolhimento e defesa animal. Deve- se prevenir que crises aconteçam, por meio de construção de reputação voltada às boas práticas de gestão, transparência e confiança da população. Implementar campanhas sobre posse responsável e aderir como “comunitário” o cão que estabelece vínculo de dependência com a comunidade da região em que ele vive, são medidas que podem ajudar a diminuir crimes cometidos pelos homens em relação aos animais. 42WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Estudar fisiologia animal e compreender as alterações dos parâmetros vitais em relação à eutanásia também é de suma importância, pois a angústia, dilatação das pupilas, taquicardia, tremores, salivação e imobilidade pelo medo influenciam nas respostas fisiológicas no momento da eutanásia e isso pode levar o profissional ao erro em relação à inconsciência do animal (AVMA, 2007). Para minimizar o sofrimento do animal submetido à eutanásia, o procedimento de inconsciência seguida de morte deve ser o mais rápido possível. A depressão cerebral geral sempre deve anteceder a parada cardiorrespiratória (LUNA; TEIXEIRA, 2007; BEAVER et al., 2001). Realizar eutanásia para controlar a população de animais de ruas nas cidades deve ser desencorajada. Esta situação é analisada pelas autoridades competentes junto ao Poder Público (CFMV, 2013). 3.2 Normas Profissionais A presença do médico veterinário na coordenação dos atributos técnicos da eutanásia é indispensável. Para tal, o profissional deve estar devidamente registrado pelo Conselho Regional (CFMV, 2002). Todo médico veterinário deve explicar, de modo claro e evidente, ao tutor sobre a indicação e a técnica do processo de eutanásia. Posteriormente, é obrigatório requisitar autorização, por escrito, para o ato do procedimento. Ademais, se o responsável legal do animal desejar assistir, fica consentido, desde que não haja possíveis riscos (LUNA; TEIXEIRA, 2007). O prontuário médico consiste em um documento no qual revela todos os procedimentos, evolução do paciente e as anotações realizadas durante a permanência do animal na clínica ou no hospital veterinário. É vetado negar acesso ao prontuário ao tutor e/ou às autoridades competentes (LUNA; TEIXEIRA, 2007). O ambiente onde o ato da eutanásia ocorre deve ser tranquilo, limpo e adequado, respeitando as indicações dos órgãos de fiscalização referente à estruturação médica veterinária (CFMV, 2002). O profissional responsável pela técnica da eutanásia deve atestar o óbito do animal, identificando as características: ausência de movimentos respiratórios, ausência de batimentos cardíacos e pulso, perda da coloração das mucosas, ausência de reflexos protetores (palpebral e corneal), perda do brilho e umidade das córneas e presença de midríase paralítica bilateral. Observar estes aspectos e confirmar a morte do animal são essenciais para evitar falhas no procedimento (CFMV, 2002; CAFFREY et al., 2011). Em relação ao descarte, o médico veterinário deve proceder conforme regem as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 3.3 Métodos Aceitos Objetiva-se sempre buscar melhoria nos procedimentos referentes à eutanásia, no sentido de diminuir o estresse e atender às necessidades do animal, bem como proporcionar conforto e amenizar a dor (LUNA; TEIXEIRA, 2007). Os métodos de eutanásia recomendados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) são os métodos químicos e métodos físicos. 43WWW.UNINGA.BR BI OÉ TI CA | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.3.1 Métodos químicos Fazem parte dos métodos químicos: Agentes injetáveis (barbitúricos, anestésicos injetáveis aceitos somente com combinação, outros agentes anestésicos injetáveis e agentes complementares); Agentes inalatórios (anestésicos inalatórios e outros agentes inalatórios); Agentes de imersão (BEAVER et al., 2001; CFMV, 2013). Os agentes injetáveis induzem ao óbito rapidamente, sendo considerados eficazes na eutanásia quando usado em dose e técnica corretas. No entanto, a maioria dos fármacos necessita de associação com outros agentes. Ademais, deve-se atentar em relação aos medicamentos controlados que requerem autorização para a compra, transporte e armazenamento adequados e registro de uso. As vias de administração aceitas são: intravenosa (IV), intraperitoneal (IP), intracardíaca (IC) e intratecal (IT). Estas duas últimas vias, IC e IT, só podem ser realizadas quando o animal estiver sob anestesia geral ou em estado de coma (CFMV, 2013). São agentes injetáveis: - Barbitúricos: considerados depressores gerais do sistema nervoso central (SNC), obtendo-se efeito imediato na indução da perda de consciência até atingir o centro cardiorrespiratório bulbar, além de ser um fármaco anestésico de custo baixo. Os barbitúricos mais usados são o tiopental e o pentobarbital. - Anestésicos injetáveis aceitos somente com combinação: fazem parte o T-61® e o hidrato de cloral. Composto por uma associação de três fármacos, o T-61® é um produto comercial indicado para uso intravenoso, promovendo anestesia geral, paralisia do centro respiratório e paralisia dos músculos estriados esqueléticos. O hidrato de cloral é um sedativo que proporciona depressão lenta no SNC, e o óbito ocorre devido a hipoxemia, sendo aconselhado utilizá-lo em associação com barbitúricos ou com outros anestésicos gerais. - Outros agentes anestésicos injetáveis: cetamina, xilazina, propofol e etomidato, em dosagens altas, podem ser empregados na eutanásia animal. A cetamina não é um anestésico geral, por este motivo, sua utilização é indicada somente em associação com miorrelaxantes de ação central, como por exemplo a xilazina, em animais de laboratório. Os indutores gerais propofol e etomidato, promovem
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