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DIÁLOGO ENTRE A TELENOVELA LADO A LADO E A LEITURA DO TEXTO CRÍTICAS AO PENSAMENTO DAS SENZALAS E CASA-GRANDE

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
 CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
 INSTITUTO DE PSICOLOGIA 
 CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DIÁLOGO ENTRE A TELENOVELA “LADO A LADO” E A LEITURA DO TEXTO “CRÍTICAS AO PENSAMENTO DAS SENZALAS E CASA-GRANDE”
Trabalho apresentado como avaliação da disciplina “Psicologia e Relações Étnico-raciais”.
Rio de Janeiro
SETEMBRO/2022
Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso é coisa de americano. Aqui não tem diferença porque todo mundo é brasileiro acima de tudo, graças a Deus. Preto aqui é bem tratado, tem o mesmo direito que a gente tem. Tanto é que, quando se esforça, ele sobe na vida como qualquer um. Conheço um que é médico; educadíssimo, culto, elegante e com umas feições tão finas... Nem parece preto. (Lélia Gonzales, 1984, p.226)
No presente estudo, a telenovela “Lado a Lado”, trasmitida pela emissora Rede Globo entre os anos de 2012 e 2013 será analisada a partir da leitura do capítulo IV “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”, do livro “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre e do artigo “Críticas ao pensamento das senzalas e casa grande”, de Henrique Cunha Junior. Nesse sentido, o mito da democracia racial será um dos temas abordados, conversando com a citação da obra “Racismo e Sexismo”, na qual Lélia Gonzales enfatiza com ironia que não há igualdade racial no Brasil.
A produção artística mencionada retrata a cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1903 e 1910, em que se vivia o pós-abolicionismo, a partir da perspectiva do pensamento dos anos em que estava sendo veiculada, trazendo consonâncias com a atualidade da sociedade brasileira no que dizia respeito ao âmbito social, econômico e político. Nesse sentido, em seu enredo possuem cenas que representam a dinâmica das relações inter-raciais no Brasil pós-abolicionista, em que uma baronesa branca não aceita o romance do filho com uma mulher negra quando o mesmo resolve assumir ela e seu filho. Além disso, representa a dificuldade de inserção do negro e o mito da democracia racial nas cenas das demolições dos cortiços, da luta pela descriminalização da capoeira e das diferenças de oportunidades de empregos dos negros e brancos. Nessa perspectiva, também apresenta cenas como a de um jovem negro para ser contratado por um time de futebol tem que usar pó de arroz no rosto para “disfarçar” a cor de sua pele e sua contratação não virar um escândalo na sociedade, enfatizando o racismo presente.
Em sua renomada obra “Casa Grande e Senzala”, Freyre aborda o tema da mestiçagem e, a partir disso, enreda uma ideologia de democracia, de igualdade entre as populações preta e branca e entre as oportunidades oferecidas a ambas. Segundo ele, todos os brasileiros possuem sangue negro, ou seja, todos estão em pé de igualdade. Além disso, o autor comenta sobre a importância do negro africano para o desenolvimento econômico e cultural do Brasil, defendendo que os navios negreiros trouxeram toda sua força, negritude, cultura, beleza e sexualidade, que foram essenciais para a construção da nação. É importante pontuar a diferenciação que é feita em relação ao povo indígena, que não dava conta de fazer certos trabalhos devido à sua falta de presteza e sabedoria.
 Em contrapartida, em seu artigo“Críticas ao pensamento das senzalas e casa grande”, Henrique Cunha Junior aponta que a obra de Freyre em nada ajuda a população negra a tomar seu espaço na sociedade, já que as pessoas são vistas relacionadas com o que a sociedade pensa sobre as culturas de origem, independente de quem elas sejam, e o livro em questão serviu apenas para desqualificar a cultura negra reafirmando um suposto atraso civilizatório da população negra em comparação à portuguesa, além de atenuar os enfoques que apontavam a sociedade brasileira como racista e naturalizar fatos históricos. Nesse sentido, o autor aponta que a obra “Casa Grande e Senzala” perpetua ideias erradas a respeito da escravização no Brasil e da forma como as pessoas escravizadas viviam.
Em seguida, o autor se propõe a evidenciar a forma errônea como Freyre aborda as questões relacionadas ao período da escravização no Brasil. Um ponto frisado por Junior é que o conteúdo da obra de Freyre já foi estudado e evidenciado anteriormente - demonstrando através de citações anteriores de autores negros que o texto de Freyre não possui o caráter inovador, o qual muitas vezes é atribuído ao mesmo. É importante notar que isso ocorre devido ao fato do apagamento de autores negros anteriores. Outra questão relevante apresentada pelo autor é a veracidade da forma como Freyre apresenta o modo de vida das pessoas escravizadas e das pessoas brancas naquele período sendo, segundo o autor, nada condizente com a realidade.
Desse modo, a narrativa contada na telenovela “Lado a Lado” pode ser pensada a partir do conceito de mito da democracia racial, já que a história se passa no Brasil pós-abolicionista e demonstra claramente os reflexos de uma sociedade racista. A obra de Gilberto Freyre romantiza, em alguns momentos, o que foi a vinda dos negros africanos para o Brasil, os quase 400 anos de escravidão e a desigualdade proveniente disso. Ainda hoje, é visível que o racismo está presente na sociedade e as oportunidades não são iguais para todos; ter a consciência disso é o primeiro passo para a luta antirracista, fechar os olhos para esse fenômeno só beneficia a branquitude e mantém seus privilégios.
 
Referências Bibliográficas
Gonzales, L. (1984). Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, 2(1), 223-244.
Junior, H. C. (2013). Críticas ao pensamento das senzalas e casa grande. Revista espaço acadêmico, 13(150), 84-100.
Siani, A. C.; Borges, R. F. C. (2018). A novela “Lado a Lado” e as narrativas negras sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil. Rizoma, Santa Cruz do Sul, v. 6, n. 1, p. 113.

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