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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS BACHAREL EM CIÊNCIAS SOCIAIS ELETIVA - DEMOCRACIA, CIDADANIA E JUSTIÇA POR QUE GÊNERO É UMA CATEGORIA ÚTIL PARA A ANÁLISE POLÍTICA? Mirella Lauana Rodrigues da Silva A categoria gênero surgiu nas discussões e aqueles que se propõem a codificar os sentidos das palavras lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como ideias e as coisas que elas significam, têm história. A política é a prova que durante décadas existe uma divisão de classe de gênero, sendo denominada totalmente um assunto masculino até ser provado ao contrário ao longo desses anos. Mulheres têm conquistado seu espaço por direito, competência e através da luta contra o patriarcado vem se tornado movimento ecumênico. A política em si é de todos para todos, tornando o direito de fala, posição e questionamento. Na teoria pode até se aplicar, já na prática, não se garante a liberdade de expressão como deveria. O eixo de uma ação governamental orientada pela perspectiva de gênero consiste na redução das desigualdades de gênero, isto é, das desigualdades entre homens e mulheres (e entre meninos e meninas). Falar em reduzir desigualdades de gênero não significa negar a diversidade. Trata-se de reconhecer a diversidade e a diferença - entre homens e mulheres mas atribuindo a ambos ""igual valor", reconhecendo, portanto, que suas necessidades "específicas e nem sempre "iguais" devem ser igualmente contempladas pela sociedade e pelo Estado. Se não se pára para pensar nestas maneiras diferentes de estar na sociedade, corre-se o risco de propor e implementar ações que aparentemente atendem a todos, mas, que, na verdade, não reconhecem necessidades diferenciadas. Podemos apreender ou visualizar de forma clara este risco de negligenciar a diferença, este risco de esquecer a diferença, considerando, por exemplo, um projeto de um edifício público concebido, em tese, para todos, mas que não tenha rampas de acesso ou elevadores: portadores de necessidades especiais e idosos estarão excluídos do acesso a este edifício que. desta forma. não será um edifício para todos No caso de gênero. o processo é similar , embora menos evidente, pois não estamos habituados em nossa sociedade a olhar as ações - governamentais e não-governamentais, incluindo nossas ações cotidianas - a partir desta perspectiva, a partir deste olhar. Podemos refletir o gênero na política quando se trata de alguns exemplos: Uma política de acesso à moradia, à casa própria, que conceda o título de propriedade ao "chefe da família", entendido exclusivamente como o pai, o "cabeça do casal": as mulheres - casadas ou não; mulheres chefes de família ou não - estarão excluídas do acesso a esta política: Uma política de segurança pública tradicional não tem espaço para atender vítimas de violência doméstica. pois não conta com pessoal preparado e com estratégias de ajuda efetiva às vítimas, num caso em que o agressor é distinto do agressor estranho. pois ele está "dentro de casa". Assim, mulheres estão desprotegidas, tanto na esfera privada como na pública; Uma política de apoio ao pequeno produtor frequentemente concede crédito e o título de propriedade da terra apenas a homens, excluindo, portanto, inúmeras mulheres responsáveis pela atividade produtiva. Diversos outros exemplos poderiam ser citados, mas o que interessa aqui é destacar que é preciso "um novo olhar" para se poder perceber se os diferentes - homens e mulheres - estão sendo "atendidos", se estão tendo oportunidades e espaços iguais, inclusive para semanilesar. É preciso um novo olhar para se poder perceber que a "desigualdade" entre homens e mulheres em nossa sociedade se reflete em pequenas (e grandes) discriminações, em pequenas (e grandes) dificuldades enfrentadas pelas mulheres em seu cotidiano, em dificuldades de inserção no mercado de trabalho, em dificuldades de acesso a serviços, em um cotidiano penoso na esfera doméstica. As ações governamentais, as políticas públicas e os programas desenvolvidos por governos podem exercer um papel importante diante deste quadro de desigualdades: Podem reforçar as desigualdades, o que ocorre, em geral, pelo fato de os governos e as agências estatais não estarem "atentos" às desigualdades de gênero. E, mais que isto, em decorrência também de a própria sociedade não estar atenta a estas desigualdades. Mas as ações governamentais, as políticas públicas, podem também contribuir para a redução da desigualdade de gênero. Necessário analisar como se dá a divisão do trabalho entre homens e mulheres. Essa divisão é marcada por uma série de estereótipos de gênero que atribuem às mulheres funções relacionadas ao cuidado e à reprodução, enquanto os homens são responsáveis pelo sustento da família e pelo trabalho produtivo. Essa exclusão de gênero está presente na teoria do contrato social de Pateman, e tem consequências profundas na estruturação da sociedade e na manutenção das desigualdades de gênero. A partir do momento em que as mulheres são excluídas do contrato social, elas são também excluídas da esfera pública e política, sendo relegadas ao espaço privado da casa e da família. Isso reforça a ideia de que as mulheres são responsáveis pelo cuidado da casa e dos filhos, enquanto os homens são responsáveis pelo trabalho remunerado e pela participação na vida política. Essa divisão sexual do trabalho é reforçada pela ideologia patriarcal, que naturaliza os papéis de gênero e atribui às mulheres a responsabilidade pelo cuidado da casa e da família. Essa ideologia é reforçada pela própria estrutura do Estado, que é dominada por homens e que reproduz as desigualdades de gênero em suas políticas e práticas. Nesse contexto, o trabalho produtivo é aquele que gera lucro e riqueza para os proprietários dos meios de produção, enquanto o trabalho reprodutivo é aquele que se refere às atividades relacionadas ao cuidado da casa e da família, como a limpeza, a alimentação e o cuidado com as crianças e idosos. Essa divisão sexual do trabalho se estabeleceu de forma naturalizada, como se fosse uma escolha individual das mulheres se dedicarem ao trabalho reprodutivo, enquanto os homens se dedicam ao trabalho produtivo. No entanto, essa divisão é resultado de uma construção social que atribui às mulheres a responsabilidade pelo cuidado da casa e da família, enquanto os homens são incentivados a buscar sucesso profissional e financeiro. Essa naturalização dos papéis de gênero no trabalho se reflete na baixa participação das mulheres em cargos de liderança e em profissões consideradas masculinas. Além disso, as mulheres enfrentam uma série de obstáculos para conciliar o trabalho remunerado com as atividades de cuidado da casa e da família. No entanto, é importante destacar que a teoria de justiça como equidade de Rawls também tem sido criticada por não levar em conta as desigualdades de gênero e outras formas de opressão. A teoria parte do pressuposto de que todos os indivíduos são iguais e livres para escolher seus próprios objetivos e planos de vida, mas não leva em conta as desigualdades estruturais que impedem as mulheres e outros grupos marginalizados de exercerem plenamente sua liberdade e alcançarem seus objetivos. Nesse sentido, a teoria de justiça como equidade precisa ser complementada por uma análise crítica das desigualdades de gênero e outras formas de opressão, de forma a garantir que os princípios de liberdade e igualdade sejam aplicados de forma justa e equitativa para todos os indivíduos, independentemente de sua identidade de gênero, raça, classe social ou orientação sexual. Além disso, é importante destacar que a justiça não pode ser vista apenas como uma prática, não é simples e requer uma análise crítica das estruturas sociais e econômicas que perpetuam as desigualdades. Além disso, é necessário considerar as desigualdades de gênero e outras formas de opressão que afetam a vida das pessoas de forma diferenciada. Essa ordenação dos princípiosde justiça proposta por Rawls é fundamental para garantir que as liberdades básicas sejam protegidas e que as desigualdades sejam corrigidas de forma justa e equitativa. A prioridade do primeiro princípio sobre o segundo significa que as liberdades básicas devem ser protegidas a todo custo, mesmo que isso signifique limitar as desigualdades sociais e econômicas. Além disso, a ordenação dos princípios também estabelece uma hierarquia dentro do segundo princípio, dando prioridade à igualdade equitativa de oportunidades sobre o princípio da diferença. Isso significa que é preciso garantir que todos tenham acesso igualitário às oportunidades antes de pensar em corrigir as desigualdades que naturalmente surgem na sociedade. Essa ordenação dos princípios de justiça proposta por Rawls é uma importante contribuição para a teoria política e para a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Referências bibliográficas: Carole Pateman, O contrato sexual. Tradução de Marta Avancini. 2ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2020. Rawls J. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes; 2000. Marta F. Gênero e políticas públicas. Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Brazil. disponível: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2004000100004
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