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FACULDADE ANHANGUERA CURSO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA POLIANA DE CASTELO SOUZA DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR. TAGUATINGA DF 2019 POLIANA DE CASTELO SOUZA DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR. Portfólio apresentado no curso de PEDAGOGIA faculdade Anhanguera de Brasília DF como requisito parcial para conclusão das disciplinas Psicologia da Educação e da Aprendizagem, Ética, Política e Cidadania, Políticas Públicas da Educação Básica, Metodologia Científica, Educação e Diversidade, Práticas Pedagógicas Gestão da Aprendizagem, Ed- Interpretação de Texto, Educação e Tecnologias, Educação Inclusiva, Libras – língua Brasileira de Sinais, Ed- Gramática. Tutor: Cinthia Gomcalves Maziero Taguatinga DF 2019 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 5 IGUALDADE DE GÊNERO ...................................................................................... 5 O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. ......................................... 6 COMO A FAMILIA PODE AJUDAR. ....................................................................... 7 REFLEXÕES SOBRE A IGUALDADE DE GÊNERO. ............................................ 8 1.1 A igualdade do homem-juiz e da mulher-juíza .................................................. 9 1.2 A igualdade de gênero no processo civil ............................................................ 9 1.3 O princípio da igualdade — artigo 13.º ............................................................ 10 GÊNERO E SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA .................................................... 10 1.1 O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) E A DISCUSSÃO DE GÊNERO NAS ESCOLAS .................................................................................... 12 Considerações Finais ................................................................................................. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 15 INTRODUÇÃO Busca-se analisar as políticas públicas no campo da educação de gênero a partir da década de 1990. Porque entendemos que houve uma nova direção em relação as tendências cultural educacionais, com trajetórias de diferentes paradigmas científicos onde a diversidade cultural está cada vez mais presente em nosso cotidiano. Nas últimas décadas foram sancionadas novas leis e diretrizes que abarcam. A temática de gênero e educação. Portanto, ressalta-se importância desse campo investigativo, no intuito de colaborar para o conhecimento dos modos como tem sido os debates em torno das desigualdades entre homens e mulheres e a contribuição de ações governamentais na construção de um mundo mais justo e igualitário. Neste sentido, Bucci diz “política pública como um conjunto de ações ou normas de iniciativas governamentais, visando a concretização de direitos” (2002,p.94). Diante disso, consideramos a política pública, como mecanismo que deve buscar a efetivação de direitos e reduzir as desigualdades sociais, ou seja, ajudar na construção de relações igualitárias PARA TODAS. Meninas e meninos têm momentos de amadurecimento diferentes, necessidades e capacidades físicas distintas e requerem condições e atenção específicas para o gênero. Entretanto, o maior desafio quando falamos em colocar em pé de igualdade os dois gêneros, independente de idade, é a construção história e a nossa bagagem social. Ainda que a passos lentos venham se quebrando algumas injustiças sociais contra as mulheres, percebemos uma sociedade muito machista, com diversos privilégios. Dessa forma, o reflexo da sociedade, enquanto quadro geral, é transplantado para as suas diversas áreas e situações cotidianas, como, por exemplo, as escolas e a tentativa de igualdade entre os gêneros. A temática de igualdade de gênero no espaço escolar tem sido uma temática de grande importância e relevância para a educação de jovens, no sentido de expôr a realidade em que vivemos, no sentido de ainda configurar-se como uma sociedade machista e patriarcal. DESENVOLVIMENTO IGUALDADE DE GÊNERO O objetivo geral está na análise das ações de promoção da igualdade de gênero na educação. Os objetivos específicos apresentam-se nas análises das primeiras impressões sobre gênero e equidade na escola e observando o comportamento dos professores na geração de debates sobre o tema proposto e a descrição das práticas pedagógicas direcionadas à promoção da igualdade de gênero e a investigação de ações de promoção à igualdade. Construir a igualdade de gênero na escola é evitar que processos de discriminação ocorram; entretanto é importante que seja praticada desde os primeiros anos da vida escolar. A participação do professor é necessária para que a sala de aula não seja um espaço gerador e reprodutor de uma educação discriminatória, e sim um espaço de construção de igualdades, pois sabemos que a escola contribui de forma significativa para a manutenção dos padrões estabelecidos na sociedade. Nesse contexto, buscaremos analisar as posturas de meninos e meninas no ambiente escolar e as ações dos educadores e programas desenvolvidos voltados para a discussão de gênero, analisando as falas dos docentes que podem melhor auxiliar os estudantes nesse processo de construção de identidade, tendo, dessa forma, uma escola que promova igualdade de gênero, visando formar uma sociedade livre de ódio, violência e discriminação, justificando assim a vertente proposta aqui, pautada na igualdade de gêneros e de sexualidades, estabelecida por meio de práticas, aprendizagens e experiência. Concordamos que o gênero é uma construção social, realizada por meio das relações interpessoais e enfatizada nas interações das pessoas com o contexto em que estão inseridas, que faz estabelecer relações de poder entre os sujeitos do mesmo gênero ou distintos. Pensar o gênero também como construção social permite ver a diversidade de formas de manifestar a feminilidade e a masculinidade. Faz perceber que podemos transitar entre os estereótipos do masculino e do feminino em momentos nos quais somos mais sensíveis (Casagrande; Tortato, 2016, p. 27). O conceito de gênero diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o desenvolvimento das noções de “masculino” e “feminino” como construção social. O uso desse conceito permite abandonar a explicação da natureza como a responsável pela grande diferença existente entre os comportamentos e os lugares ocupados por homens e mulheres na sociedade. Essa diferença historicamente tem privilegiado os homens, na medida em que a sociedade não tem oferecido as mesmas oportunidades de inserção social e exercício de cidadania a homens e mulheres. Mesmo com a grande transformação dos costumes e dos valores que vem ocorrendo nas últimas décadas, ainda persistem muitas discriminações, por vezes encobertas, relacionadas ao gênero (p. 321-322). O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. O Brasil tem realizado um esforço especial para produzir políticas públicas para o enfrentamento das desigualdades, do racismo e da homofobia. Porém, infelizmente, no contexto em que vivemos, a combinação histórica entre pobreza, desinformação, patriarcado e as diversas formas de homofobia, sexismo e violência marcam o cotidiano de mulheres e homens das diversas regiões de nosso país.Esse contexto constrói e estrutura diversos campos da vida social, inclusive as instituições sociais, dentre as quais encontra-se a escola. Se é possível construir os fatores negativos dessas desigualdades, encontramos um sinal de que também é possível reverter essa situação; construir uma nova sociedade reflexiva, crítica, igual e empoderar as mulheres seria fator decisivo para a melhoria. O Brasil foi protagonista em diversas conferências mundiais, sendo elas peças chave para a mudança e a inclusão políticas públicas para a igualdade e mudanças na educação. A primeira conferência a ter o Brasil como um dos protagonistas foi a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) em 1994; foi o maior evento mundial sobre temas populacionais. Na formulação de políticas e programas sociais, os países atuantes chegaram ao consenso de que era preciso deixar de centrar-se no controle do crescimento populacional como condição para a melhoria da situação econômica e social dos países, e assim passaram a reconhecer o pleno exercício dos direitos humanos e a ampliação dos meios de ação da mulher como fatores determinantes da qualidade de vida dos indivíduos. Nessa perspectiva, delegados de todas as regiões e culturas concordaram que a saúde reprodutiva é um direito humano e um elemento fundamental da igualdade de gênero (UNFPA, 2004, p. 103). Uma pesquisa elaborada pelo Fórum Econômico Mundial relatou que seriam necessários 95 anos para que mulheres e homens atingissem a igualdade no Brasil; nesse mesmo sentido, o Relatório de Desigualdade Global de Gênero constata que a paridade econômica entre os sexos pode levar 170 anos, em escala mundial. Por trás desse declínio está um número de fatores. Um deles é o salário, com mulheres ao redor do mundo ganhando, em média, pouco mais da metade que os homens ganham, apesar de trabalharem, em média, mais horas, levando em consideração trabalho remunerado e não remunerado. Outro desafio persistente é a participação na força de trabalho estagnada, com uma média global de 54% para mulheres, comparada com 81% para homens. Em 2015, as projeções baseadas nos dados do Relatório de Desigualdade de Gênero sugerem que a lacuna econômica pode ser fechada dentro de 118 anos, ou em 2133. No entanto, o progresso foi revertido desde então, tendo atingido seu pico em 2013. Além da economia, a disparidade educacional de gênero fechou 1% em relação ao ano passado, chegando a 95%, fazendo dessa uma das duas áreas em que mais progresso tem sido feito até o momento. Saúde e Sobrevivência, o outro pilar que fechou 96% da sua lacuna, deteriorou-se minimamente. O pilar em que a desigualdade de gênero permanece grande, o Empoderamento Político, é também o que apresenta a maior quantidade de progresso desde que o Fórum Econômico Mundial começou a medir a disparidade de gênero em 2006. Esse pilar está agora em 23%, 1% maior que em 2015 e quase 10% mais elevado que em 2006 (Weforum, 2016, p. 1). COMO A FAMILIA PODE AJUDAR. “Isso não é coisa de mocinha!”, “Vem me ajudar na cozinha enquanto seu irmão brinca na rua”. Quem nunca ouviu frases como essa? Ao conversar com crianças de uma escola da periferia paulistana, o pesquisador Adriano Senkevics, da Faculdade de Educação (FE) da USP, observou que o tratamento e as atividades direcionadas a meninos e meninas no ambiente familiar ainda carregam diferenciação de gênero. O estudo também mostra como esse modelo de criação se relaciona com o comportamento escolar das crianças, de modo que meninas acabam enxergando a escola como um ambiente mais livre que seus lares — percepção que pode, até mesmo, influenciar no bom rendimento das garotas. Em sua pesquisa, Senkevics buscou entender qual o papel da família nesse processo: ao longo de um semestre letivo, o pesquisador acompanhou o cotidiano de alunos do 3º ano do ensino fundamental. Da turma de 25 crianças (14 meninas e 11 meninos), 20 foram entrevistadas para o estudo, contando suas experiências familiares e de lazer nos espaços fora da escola. “O que pretendemos foi entender, a partir da perspectiva de crianças de 8 e 9 anos de idade, como se dava o processo de socialização familiar e em que medida esse fenômeno nos ajudaria a pensar sua escolarização.” A partir dos relatos das crianças, Senkevics percebeu que a divisão sexual do trabalho está presente em suas vidas desde muito cedo, com as garotas sendo cobradas a participarem de afazeres da casa e obtendo menos permissão para brincar na rua, por exemplo. Os meninos, pelo contrário, tinham mais liberdade. “As meninas tendem a ficarem mais retidas no ambiente doméstico, estando praticamente privadas do acesso à rua e, consequentemente, das oportunidades de lazer e de sociabilidade que o espaço público oferece.” A socialização familiar, restritiva como é para a maioria delas, tende a incentivar nas meninas comportamentos condizentes com o que se espera no ambiente escolar, o sexismo patriarcal familiar, em que meninas são ensinadas a comportarem-se de forma a perpetuar posturas esperada das mesmas, no entanto essa mesma educação transforma as futuras reprodutoras comportamentais em mulheres engajadas na transformação de sua própria existência, autoras de sua própria vida e detentoras do poder de decidir o que fazer com as habilidades biológicas herdadas e sociais aprendidas, até mesmo no simples ato de decidir se irá tornar-se uma exímia dona de casa e esposa ou se será apenas profissional ou se será um pouco de cada coisa. A abordagem transversal de gênero e respeito à diversidade humana se faz primordial frente às dificuldades que a própria família e sociedade encontram ao tratarem o assunto com inflexibilidade de padrões sem considerarem todos os fatores relacionados, a família pode ser sim um passo muito grande para a questão em debate. REFLEXÕES SOBRE A IGUALDADE DE GÊNERO. Para a construção de uma sociedade “livre, justa e solidária”, não pode existir qualquer tipo de preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, I e IV, da CF). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm Além disso, deve-se ter em mente que a dignidade da pessoa humana é um dos cânones do Estado Democrático de Direito (art. 1º, III, CF). De acordo com a Constituição Federal, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza1, sendo que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. A Carta Magna também assegura a proteção à família “na pessoa de cada um dos que a integram” (art. 5º, caput e I, c/c 226, §§ 5º e 8º, da CF).2 1.1 A igualdade do homem-juiz e da mulher-juíza Recentemente, noticiou-se que, em Portugal, um advogado que defendia um acusado de abusar de sua filha requereu ao Tribunal que a desembargadora relatora fosse afastada do processo e que fosse substituída por um juiz desembargador homem. A justificativa: ela era uma mulher e, provavelmente, uma mãe. A justificativa acima é odiosa e desconsidera que o fato de ser mais sensível ao conflito por ser mulher e por ser mãe não é suficiente para a quebra da imparcialidade. A hipótese fomenta a desigualdade de gênero que tanto se combate a partir da ideia de que o simples fato de ser mulher e, provavelmente, mãe, seria suficiente para comprometer a imparcialidade da julgadora. O ato de julgar talvez seja o mais relevante ato processual dentro de todo o contexto do CPC. A polêmica e as dúvidas acerca das diferenças entre julgamentos proferidos por juiz - homem e juíza-mulher se perpetuaram nas reflexões e com bases bem sólidas, como a natureza biológica, as experiências pretéritas e as vivências específicas e diferenciadas de cada gênero. Essa percepção diferenciada decorre das atividades que a mulher tem de desenvolver na família, pois sua mente está desperta, naturalmente,para determinadas peculiaridades. Contudo, essas diferenças jamais influenciam na formação da convicção amparada no direito, tampouco podem comprometer a imparcialidade e a neutralidade. 1.2 A igualdade de gênero no processo civil Vale destacar que a mulher casada, salvo algumas exceções, não podia comparecer em juízo sem autorização do marido (art. 82); e não podia ser nomeada inventariante se, ao tempo da morte de seu cônjuge, não estivesse, “por culpa sua, convivendo com ele” (art. 469, I – não havia a previsão da hipótese inversa). Também era considerada a única possível beneficiária dos alimentos (art. 942, VII). 1.3 O princípio da igualdade — artigo 13.º Na vigência “intranquila” da Constituição de 1976, desde logo na sua formulação literal, o artigo 13.º apresenta-se até hoje como tendo sido alterado apenas uma vez, em 2004, 28 anos depois da aprovação do texto original da Constituição democrática (Amaral, 2004). Essa única alteração acrescentou a orientação sexual ao conjunto de “categorias suspeitas” que motivam a discriminação entre as pessoas. Tendo em conta a importância do princípio da igualdade no constitucionalismo, que o transforma no “virtual guardião de todos os restantes valores constitucionais” a estabilidade deste artigo ao longo dos 40 anos da Constituição é especialmente relevante (Amaral, 2004). A base constitucional do princípio da igualdade é a igual dignidade social de todos os cidadãos (Miranda e Medeiros, 2010; Canotilho e Moreira, 2014). É porque todos os cidadãos têm a mesma dignidade que devem ser tratados como iguais, independentemente da sua condição económica, social e política. O princípio da igualdade não garante assim o mesmo tratamento, mas um tratamento como igual (Novais, 2011). Coloca-se ainda a questão de saber como avaliar e medir o igual e o desigual, como corrigir a desigualdade, como garantir a igualdade. A jurisprudência constitucional distingue três dimensões no controle do respeito pelo princípio da igualdade (Amaral, 2004; Miranda e Medeiros, 2010; Garcia, 2005; Canotilho e Moreira, 2014). A primeira dimensão é a da proibição do arbítrio, que se traduz na imposição de tratar como igual o que é igual e tratar como diferente o que é diferente. A segunda dimensão é a da proibição da discriminação, tal como expressa no n.º 2 do artigo 13.º. Finalmente, a terceira dimensão é a da obrigação de diferenciação, e concretiza-se pela introdução de discriminações ou medidas positivas, que têm como objetivo compensar as desigualdades de oportunidades. GÊNERO E SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA https://journals.openedition.org/spp/2603#tocfrom2n2 Os caminhos possíveis para que isso se efetive na escola entendemos pelo conceito de gênero o que está diretamente relacionado com a construção social do ser homem e mulher, diferentemente do que se entende por sexo, algo ligado exclusivamente ao fator biológico, por tanto natural e determinado. Nas palavras de Cisne (2015, p. 85-86): Seu objetivo advém da necessidade de desnaturalizar e historicizaras desigualdades entre homens e mulheres, analisadas, pois, como construções sociais, determinadas pelas relações e nas relações sociais [...] O conceito de gênero veio também no sentido de analisar de maneira relacional a subordinação da mulher ao homem, ou seja, os estudos sobre as mulheres não deveriam apenas limitar-se a categoria mulher, mas esta deve sempre ser analisada de forma relacional ao homem. Essa abordagem dos estudos sobre gênero começou no meio acadêmico e teve rápida aceitação, na qual os Organismos Internacionais como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BM), Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) acharam melhor essa denominação, para tratar dos estudos sobre as mulheres do que utilizar o termo feminismo. Por tanto gênero é uma categoria de análise que precisa ser problematizada, para abolir dicotomias entre homens/mulheres, público/privado e somente os estudos de gênero não rompe com as históricas desigualdades das mulheres, pois não identifica claramente os sujeitos das opressões. É necessário relacionar com as bases materiais e ideológicas do sistema patriarcal-racista-capitalista, pois o feminismo materialista traz Segundo Cisne (2014, p. 127) “[...] relações sociais desiguais de classe, “raça” e sexo, ou seja, para a transformação da realidade em sua totalidade”. Em que através dessas dimensões, identifica as mulheres como sujeitas que sofrem as opressões e vivenciam as relações desiguais de patriarcado nas suas vidas. A concepção dos gêneros como se produzindo dentro de uma lógica dicotômica implica um pólo que se contrapõe a outro (portanto uma ideia singular de masculinidade e feminilidade), e isso supõe ignorar todos os outros sujeitos sociais que não se “enquadram em uma dessas formas. Romper a dicotomia poderá abalar o enraizado caráter heterossexual que estaria, na visão de muitos/as, presente no conceito de “gênero” (LOURO, 1997, p. 34). Assim, desde cedo, a escola, juntamente com a família, igreja etc, são lugares ou espaços de convivência e interações dos indivíduos em sociedade. A educação tradicional na qual convivemos, separa e cria distinções entre meninos/meninas, rapazes/moças, através de ações, atividades, formas de se comportar e “ditam regras” baseadas em padrões estabelecidos pela ordem dominante. Com isso produzindo diferenças entre os sujeitos no caso, eles/elas. Cabe-nos essa indagação, para quem serve essa educação escolar habitual, que separa, classifica, considera como normal e natural às relações sociais desiguais entre homens e mulheres. No cotidiano escolar meninas/meninos são vistos de forma diferente. Pois a educação sexista encontra no espaço escolar tradicional, um campo fértil para sua reprodução, a partir do cotidiano escolar. [...] essas concepções foram e são aprendidas e interiorizadas; tornam- se quase “naturais” (ainda que sejam fatos culturais”). A escola é parte importante desse processo. Tal “naturalidade” fortemente construída nos impeça denotar que, no interior das atuais escolas, onde convivem meninos e meninas, rapazes e moças, eles e elasse movimentem, circulem e se agrupem de formas distintas. Observamos, então que eles parecem “precisar” de mais espaço do que elas, parecem preferir naturalmente as atividades do ar livre. Registramos a tendência nos meninos de “invadir” os espaços das meninas, de interromper suas brincadeiras. E, usualmente, consideramos tudo isso de algum modo inscrito na “ordem das coisas” (LOURO, 1999, p. 60). 1.1 O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) E A DISCUSSÃO DE GÊNERO NAS ESCOLAS O Plano Nacional de Educação (PNE) é o documento que segundo Azevedo, Costa e Paiva (2015) serve de base para as diretrizes da educação brasileira. Sendo fundamentado no Art. 214 da Constituição Federal Brasileira de 1988, o mesmo foi elaborado juntamente com o apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), da União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (FNCE) e do Conselho Nacional de Educação (CNE). Determinando diretrizes, metas e estratégias para a política educacional, elencando valores como a promoção humana e buscando a erradicação do analfabetismo. A regulamentação dos PNE é realizada através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996, que institui a União juntamente como os Estados e Municípios os responsáveis por sua organização, criando as metas a serem estabelecidas nos 10 anos seguintes. Os municípios de todo país devem elaborar e estabelecer seus Planos Municipais de Educação, levando em consideração as metas propostas no PNE, de acordo com as especificidades de cada município, porém sem deixar de cumprir osprincípios de respeito aos direitos humanos e a valorização da diversidade, que se caracterizam como pontos centrais para toda a educação básica. No ano de 2014, durante a tramitação no Congresso Nacional da PNE, a questão de gênero foi retirada do texto original. Na ocasião, as bancadas evangélicas e conservadoras, afirmaram que as expressões utilizadas no documento colocavam em evidência uma “ideologia de gênero,” expressões que desfigurariam os conceitos de homem e mulher, colocando em risco o modelo de família tradicional. No documento da PNE o texto vetado tinha como meta central “a superação de desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional de gênero e de orientação sexual”. Assim sendo, o PNE aprovado passou para os Estados e Municípios a decisão de incluir nos seus planos a discussão de gênero e de orientação sexual. O que podemos concluir diante desses fatos, é que os argumentos utilizados para defender a proibição da discussão de gênero e sexualidade nas escolas, trazem consigo várias implicações, principalmente nas relações de gênero no próprio ambiente escolar, como também na sociedade de forma geral, pois ao proibirem a discussão desses temas tão relevantes, estão fortalecendo o patriarcado, o sexismo e o machismo. Contribuindo dessa maneira para a reprodução da escola opressora e discriminadora. Gerando drásticas consequências para a sociedade, como nos explica Junqueira (2009, p. 15): Diante do exposto, também podemos refletir que a introdução da discussão destes temas nas escolas não será suficiente para eliminar os modelos conservadores que regem nossa sociedade. É preciso ir além das discussões, é necessário construir alternativas, que em consonância com a luta coletiva, busquem a construção de uma nova sociedade, sem qualquer forma de opressão, exploração ou dominação. Considerações Finais Esse trabalho possibilitou conhecer de forma mais profunda que a educação se constitui de suma importância de socialização e formação humanas, podendo ser determinante na construção de consciências críticas ou podendo também reproduzir ideologias dominantes, diante de todas as discussões levantadas sobre este tema. Embora ainda existam graves disparidades entre homens e mulheres (salariais, trabalhistas, no plano político, em cargos públicos, etc.), e a violência contra a mulher continue sendo o problema mais agudo, é possível perceber uma forte escalada normativa nos últimos anos, em prol da igualdade de gênero. Também é de se destacar a maior participação das mulheres em cargos de cúpula e liderança. Promover a igualdade de gênero no ambiente escolar não é apenas uma proposta ousada, mas oportuna e totalmente necessária. A escola é o espaço onde a consciência sobre a questão de igualdade deve ser primordialmente trabalhada, para que, se possível, a democracia de nosso país possa deixar de ser um mito e passe a ser realidade. Tendo em vista o anseio de conscientizar os estudantes acerca da importância de gerar respeito, aceitação e melhor interação entre eles e suas convivências, percebemos a necessidade de construir no projeto político-pedagógico um trabalho com diversidade e igualdade, pois, em virtude do mundo multicultural em que vivemos e que apresenta reflexos dessa diversidade no âmbito social, que pode ser vista na comunidade escolar Sendo assim, trabalhar a igualdade na escola é dar voz às meninas, liberdade, autonomia e emancipação, mostrar que elas podem alcançar lugares maiores e que elas devem tomar esses lugares. Ser donas de si, construir uma nova sociedade, uma sociedade justa, igualitária pois a educação não é somente um direito humano, ela é a maneira mais eficaz de atingir o crescimento de uma nação, seja ele econômico ou cultural, entretanto as escolas saudáveis não podem eliminar as desigualdades, vamos acreditar e lutar para que todas as crianças tenham o direito à educação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÈS. P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. Amaral, Lúcia (2004), “O princípio da igualdade na Constituição portuguesa”, em Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Armando M. Marques Guedes, Coimbra, Coimbra Editora, pp. 35-57 AZEVEDO, Aline P; COSTA, Ana M. M; PAIVA, Pedro H. A. da S. GÊNERO E SEXUALIDADE NO P.N.E. (2014-2024): discursos e sujeitos no contexto mossoroense. II Congresso Nacional de Educação. Mossoró, 2015. BORDO, S. R. O Corpo e a Reprodução da Feminidade: Uma apropriação Feminista de Focault. In: JAGGAR, A. M.; BORDO, S. R.(Org.) Gênero, Corpo, Conhecimento. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997. LINS, Beatriz Accioly; MACHADO, Bernando Fonseca; ESCOURA, Michele. Entre o azul e o cor-derosa: normas de gênero. In. ________ (Orgs.). Diferentes, não desiguais: a questão de gênero na escola. São Paulo: Editora Reviravolta, 2016. LOURO, Claucira L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós- estruturalista. 6ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. Miranda, Jorge, e Rui Medeiros (2010), Constituição Portuguesa Anotada, 3 vols., Coimbra, Coimbra Editora (2.ª edição). OIT – Organização Internacional do Trabalho. Igualdade de gênero e raça no trabalho: avanços e desafios. Brasília: OIT, 2010. SOUZA, Lúcia Aulete Búrigo; GRAUPE, Mareli Eliane. Gênero e Políticas Públicas na Educação. In. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, Universidade Estadual de Londrina, 27 e 29 de maio de 2014.
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