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Prevenção ao Suicídio - Unidade 1

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Prévia do material em texto

PREVENÇÃO
do suicídio
O que é suicídio
Apresentação
Olá Aluno! 
Seja  bem vindo  ao Módulo,  Prevenção  do  Suicídio.  Esse  curso  foi  pensado 
para que você possa aprender mais sobre esse tema tão importante e complexo e 
que é um grande problema no Brasil e no Mundo. Nesse curso você aprenderá o 
que é o suicídio, aspectos relacionados a ele, além de maneiras de preveni‐lo. 
Na  Unidade  1,  você  conhecerá  os  diferentes  pos  de  comportamento 
suicida,  os  sinais  de  alerta,  os  dados  epidemiológicos  do  Brasil  e  do  Paraná,  os 
fatores de risco e de proteção. 
Desejamos  que  essa  seja  uma  boa  oportunidade  de  aprendizagem  e 
crescimento profissional. 
Bom curso!
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 5
Principais dados da Organização Mundial de Saúde.................................................................. 6
Suicídio como um problema de saúde pública............................................................................. 6
Breve jus fica va sobre a importância do tema......................................................................... 6
AULA 1 ‐ Conceito de Comportamento Suicida.................................................... 8
Comportamento Autolesivo............................................................................................................ 9
Ideação Suicida.................................................................................................................................. 11
Tenta va de Suicídio........................................................................................................................ 12
Suicídio................................................................................................................................................ 13
Comportamento Suicida como um Con nuum.......................................................................... 14
Sinais de alerta.................................................................................................................................. 15
AULA 2 ‐ Dados Epidemiológicos.............................................................................17
Importância do estudo da epidemiologia no suicídio................................................................ 18
Epidemiologia do Suicídio no mundo........................................................................................... 18
Epidemiologia do Suicídio no Brasil.............................................................................................. 20
Epidemiologia do Suicídio no Paraná............................................................................................21
AULA 3 ‐ Fatores de Risco.......................................................................................... 31
Principal fator de risco: tenta va anterior de suicídio.............................................................. 32
Presença de Transtorno Mental..................................................................................................... 32
Fatores individuais............................................................................................................................ 33
Fatores sociais e ambientais........................................................................................................... 34
Fatores culturais................................................................................................................................ 36
Sumário
AULA 4 ‐ Fatores de Proteção................................................................................... 37
O que são Fatores de Proteção......................................................................................................38
Suporte Social....................................................................................................................................38
Outros fatores de proteção............................................................................................................ 39
Bibliografia..................................................................................................................................... 41
Introdução
A cada ano mais de 800 mil pessoas cometem suicídio, correspondendo a uma 
morte a cada 40 segundos  (WHO, 2014). Para cada suicídio existem muitas outras 
tenta vas  que  são  realizadas  a  cada  ano  (WHO,  2018).  É  um  problema  de  saúde 
pública que afeta  comunidades,  cidades e países,  sendo a  segunda maior  causa de 
mortes entre jovens de 15 a 29 anos (WHO, 2014). 
1 - Principais dados da Organização Mundial de Saúde
5
“O suicídio é um problema de todos” (Shneidman, 1996 – tradução livre) 
O  suicídio  é  um  fenômeno  complexo  e  uma  única  causa  ou  estressor  não  é 
suficiente  para  explicar  o  comportamento  suicida.  Atualmente  é  reconhecida  a 
mul causalidade  de  fatores:  o  papel  de  fatores  biológicos,  psicológicos,  sociais, 
ambientais  e  culturais  (WHO,  2014).  Entretanto,  considera‐se  que  uma  parcela  de 
mortes por suicídio possa ser evitada por meio da u lização correta de estratégias de 
prevenção  que  envolve  a  colaboração  de  diferentes  setores  da  sociedade.  É 
necessário que haja um esforço integrado tendo em vista que nenhuma abordagem 
realizada  sozinha  terá  o  impacto  esperado  em  um  tema  tão  complexo  como  o 
suicídio (WHO, 2018).
2 - Suicídio como um problema de Saúde Pública
Edwin Shneidman, considerado como o pai da suicidologia – que é o estudo do 
comportamento suicida ‐ diz que nosso obje vo constante é a prevenção, mas que 
antes  deve vir  o  entendimento  sobre  o  tema  (SHNEIDMAN, 1996).  Portanto,  para 
que  consigamos  prevenir  o  suicídio,  é  necessário  compreender  bem  todos  os 
aspectos desse complexo tema. 
3 - Breve justificativa sobre a importância do tema
Dados  levantados  por  Clark  e  Fawce   (1992  apud  Botega, Werlang,  Cais  & 
Macedo,  2006)  mostram  que  aproximadamente  50%  a  60%  das  pessoas  que  se 
suicidam nunca se consultaram com um profissional de saúde mental e, 80% foram a 
um médico no mês anterior ao suicídio. Além disso, dois terços dos que se mataram, 
comunicaram  a  parentes  e  amigos  próximos  a  intenção  de  o  fazer  na  semana 
anterior.  Esses  dados  evidenciam  a  importância  de  serem  pensadas  ações  de 
prevenção do suicídio e de que tais ações sejam realizadas por outros profissionais, 
não apenas os da área da Saúde Mental (Botega, Werlang, Cais & Macedo, 2006). 
“Pensar  na  prevenção  do  comportamento  suicida  implica  não  apenas  no 
obje vo  de  evitar  a  morte  das  pessoas,  mas  também  em  considerar  as  sérias 
implicações na sociedade que são provocadas pela ocorrência desses atos” (Botega, 
Werlang,  Cais  &  Macedo,  2006,  p.  219). Assim,  para  que  possamos  qualificar  as 
ações dos profissionais que trabalham com o tema, disponibilizamos esse curso que 
abordará alguns dos aspectos mais relevantes.
6
AULA 1 
Conceito de 
Comportamento 
Suicida
1 - Comportamento Autolesivo
Comportamento  autolesivo  refere‐se  a  ações  que  produzem  dano  sico  ao 
próprio indivíduo (Ceppi & Benvenu , 2011) sem a intenção de morrer (Stanley et al., 
2001), devendo se enquadrar em alguns critérios (Franklin et al., 2017): 
Embora  tal  comportamento  se  distancie  em  muitos  aspectos  do 
comportamento  suicida  (Muehlenkamp,  2005),  uma  parcela  dos  indivíduos  pode 
apresentar,  também,  ideação  suicida  (Pa son  &  Kahan,  1983)  ou  outros 
comportamentos suicidas (Stanley et al., 2001). Além de exis rem evidências de que 
indivíduos  que  se  autolesiosam  apresentam  risco  aumentado  para  tentar  suicídio 
posteriormente (Franklin et al., 2017).
A  autolesão pode envolver  cortes  em braços,  pernas,  barriga  e outras partes 
do  corpo(em  geral,  regiões  fáceis  de  esconder),  além  de  queimaduras,  mordidas, 
entre  outros. A  autolesão  costuma  estar  acompanhada  de  um  aumento  de  tensão, 
considerada  muitas  vezes  como  insuportável,  com  grande  desejo  por  se  mu lar, 
sendo  que  as  mo vações  para  realizar  o  ato  podem  envolver  autopunição, 
1) Ausência de intenção suicida;
2) Deve ser intencional, não acidental;
3) Deve ser uma ação direta, sem outros passos entre o 
ato e a lesão (como danos resultados do uso do álcool, por 
exemplo);
4) Não inclui comportamentos socialmente aceitos como 
u lização de piercings e tatuagens;
5) Deve levar a um grau moderado de lesão;
6) Deve se dis nguir de outras lesões associadas com 
transtornos do desenvolvimento.
8
redução da tensão, melhora do humor e distração de efeitos intoleráveis (Stanley et 
al., 2001). 
Após  o  ato  o  indivíduo  costuma  relatar  que  se  sente  melhor  e  aliviado.  A 
autolesão  funciona  para  algumas  pessoas  como  uma  estratégia  de  enfrentamento 
(Herpertz,  1995).  Esse  efeito de  alívio  favorece  a  repe ção desse  comportamento 
em novas situações de estresse. 
Alguns indivíduos podem apresentar tolerância grada va à dor (Franklin et al., 
2017), podendo aumentar a gravidade da mu lação a cada episódio de autolesão. É 
possível  que  indivíduos  com  essa  conduta  tenham  dificuldades  para  perceber  a 
letalidade de seus atos, podendo, caso aumentem o potencial letal da autolesão, vir 
a óbito, mesmo sem a intenção de morrer (Stanley et al., 2001). 
Algumas pesquisas mostram que o comportamento autolesivo é mais comum 
em meninas (Bakken et al., 2012), é mais frequente na adolescência e a maioria dos 
casos  não  chega  a  receber  atendimento médico  (Kidger  et  al.,  2012).  Geralmente 
existem  es mulos  estressantes  externos  no  momento  do  ato  e  essas  ações 
costumam ser impulsivas (Herpertz, 1995). 
Algumas  pessoas  que  se  autolesionam  podem  apresentar  transtorno 
mental,  enquanto  outras  não  apresentam  nenhum  diagnós co  (Franklin  et  al., 
2017).  De  qualquer  forma,  ao  perceber  que  alguém  se  autolesiona  é  preciso 
acolher  essa  pessoa,  respeitando  seu  sofrimento  e  buscando  junto  a  ela 
possibilidades de intervenções específicas para cada situação.
9
2 - Ideação Suicida
A ideação suicida refere‐se a ideias e pensamentos sobre morrer, estar morto, 
ou  se  suicidar.  Pode  abarcar  um  amplo  campo  de  pensamento,  que  pode  se 
apresentar  de  diferentes  maneiras 
(Barrero, 1999).
Muitas  pessoas  já  pensaram 
em suicídio em algum momento da 
vida  (Weissman  et  al.,  1999)  e  em 
muitos  casos  os  indivíduos  com 
ideação  suicida  não  chegam  a 
tentar suicídio.  Entretanto, alguns estudos mostram que a ideação suicida pode ser 
associada  a  um  maior  risco  de  tentar  suicídio  (e.g.  Kessler  et  al.,  1999)  e  quanto 
maior a frequência desses pensamentos e ideias sobre morrer e querer estar morto, 
maior é o risco (Cantor, 1976). 
Além  disso,  a  intensidade  da  ideação  suicida  entre  pessoas  que  tentaram 
suicídio  parece  ser  um  indica vo  forte  do  aumento  do  risco  desse  indivíduo  se 
suicidar e pode se  relacionar com o conceito de desesperança. Assim, quanto mais 
desesperança um indivíduo apresentar, maior poderá ser sua ideação suicida (Beck et 
al., 1985).
Todas essas formas de ideação suicida devem ser exploradas, uma vez que são 
uma  importante  oportunidade  de  prevenção  (Barrero,  1999),  sendo  um  dos  níveis 
mais precoces de intervenção quando pensamos em comportamento suicida (Silva et 
al., 2006). 
É  necessário  abordar  o  usuário  com  ideação  suicida  de  forma  responsável, 
atenciosa e acolhedora, pois para muitas pessoas falar sobre isso é di cil e delicado. 
Caso a abordagem traga implicitamente um julgamento, uma condenação,  o que 
 No quadro 1, disponível no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, você encontra as diferentes 
maneiras de como a Ideação Suicida pode ser 
representada. 
Quadro 1
10
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=664
provavelmente  irá ocorrer é que a  ideação suicida permanecerá, mas a pessoa não 
mais  irá  contar  sobre  ela.  Na  Unidade  3,  você  aprenderá  mais  sobre  as  melhores 
formas de abordar alguém com ideação suicida.
3 - Tentativa de Suicídio
Tenta va de  suicídio  é um comportamento  autolesivo  com um desfecho não 
fatal,  no  qual  há  alguma  evidência  de  que  o  indivíduo  nha  a  intenção  (em  algum 
nível) de se suicidar (O’Carroll et al., 1996). Tenta vas de suicídio podem ocorrer de 
maneiras bastante diversas, sendo algumas planejadas com cuidado enquanto outras 
são feitas de maneira impulsiva. 
As conseqüências  sicas da tenta va variam de acordo a intenção, preparação, 
conhecimento da letalidade do meio u lizado, entre outros (Kerkhof, 2000). Elas se 
cons tuem como uma grande carga social e econômica para as comunidades, tendo 
em  vista  que  as  tenta vas  necessitam  dos  serviços  de  saúde  para  tratamento, 
podendo ocorrer  incapacidades  decorrentes  da  gravidade de  algumas  lesões. Além 
disso, há o impacto social e psicológico para o indivíduo e as pessoas com as quais 
ele convive (WHO, 2014).
É  necessário  considerar  duas  importantes  dimensões  do  comportamento 
suicida. A primeira dimensão diz respeito ao grau de letalidade ou dano resultado da 
tenta va de suicídio, ou seja, o grau de letalidade pode ser considerado como o nível 
de perigo à vida resultante de uma autolesão (Brown et al., 2004). Assim, indivíduos 
cuja a  tenta va de  suicídio  tenha apresentado um alto grau de  letalidade,  além de 
acentuada intenção de morrer, exigem ainda mais atenção.
A  segunda  relaciona‐se  com  a  intenção  de  morrer  e  avaliação  do  grau  de 
preparação,  desejo  de  morrer  versus  desejo  de  viver  e  chances  de  descoberta  da 
tenta va.  Tais  dimensões  devem  ser  verificadas,  uma  vez  que  podem  se  11
correlacionar e podem indicar maiores riscos de o  indivíduo voltar a tentar suicídio 
(Mann, 2002). 
Outro  aspecto  comum  no  comportamento  suicida  é  a  repe ção.  Alguns 
indivíduos podem tentar suicídio diversas vezes e a prevenção dessas  repe ções é 
um importante obje vo quando trabalhamos com o tema (Kerkhof, 2000). Deve‐se 
lembrar que muitas vezes os  indivíduos passam a aumentar o grau de  letalidade a 
cada tenta va (Figel et al., 2013) o que evidencia a importância de serem planejadas 
intervenções eficazes assim que a primeira tenta va ocorrer.
4 - Suicídio
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é o ato deliberado, 
intencional,  de  causar  a  morte  a  si  mesmo.  Deve  exis r  evidência  (explícita  ou 
implícita)  de  que o  ato  foi  autoinflingido  e  de  que o  indivíduo  nha  a  intenção de 
acabar com a própria vida (O’Carroll et al., 1996). 
O  suicídio  não  é  um  ato  aleatório,  ele  é  realizado  com  um  propósito.  O 
indivíduo que quer  se  suicidar muitas vezes deseja  reduzir o  sofrimento que sente, 
por  meio  do  encerramento  do  insuportável  fluxo  da  consciência.  É  a  saída 
encontrada para problemas, dilemas, dificuldades, crises e situações insuportáveis. O 
suicídio  é,  nessa  situação,    a  forma  encontrada    para  solucionar  um problema  que 
gera intenso sofrimento. É a úl ma fuga. (Shneidman, 1996).
Com  relação  ao  método  de  suicídio,  a  escolha  também  não  costuma  ser 
aleatória, sendo influenciada por fatores sociais, culturais, psicológicos, ambientais e 
sicos.  A  escolha  é  feita,  ainda,  com  base  na  disponibilidade  e  aceitabilidade  do 
método. A intoxicação por agrotóxicos, por exemplo, é um método mais comum em 
países em desenvolvimento (Cantor & Baume, 1998). 
É possível  classificar os métodos em uma escala de  letalidade que vai  do 
12
menos letal (como ingestão de substâncias inócuas ou cortar‐sesuperficialmente) até 
os  mais  letais  ( ro  na  cabeça  ou  ingestão  de  substância  extremamente  letal) 
(Bertolote, 2012). 
Os homens tendem a u lizar métodos mais violentos e letais, sendo esta uma 
das  jus fica vas  para  que  as  taxas  de  suicídio  sejam  mais  altas  nessa  população 
(Cantor & Baume, 1998). Contudo, é necessário considerar que a letalidade pode ser 
influenciada pela pron dão e  facilidade de  acesso  a  cuidados médicos,  sendo este 
um fator importante nas comunidades rurais (Bertolote, 2012). 
É  possível  que  a  opção  por  um  método  menos  letal  também  se  deva  ao 
desconhecimento dos métodos empregados. De acordo com análise epidemiológica 
realizada por Lovisi et al. (2009) os métodos de suicídio mais u lizados no Brasil são 
enforcamento,  arma  de  fogo  e  envenenamento,  sendo  que  no  caso  de 
envenenamento,  há  predominância  do  uso  de  pes cidas  em  algumas  regiões, 
incluindo a região Sul do país.
5 - Comportamento Suicida como um Continuum
 O  comportamento  suicida  apresenta‐se  como um con nuum,  podendo  ir  da 
ideação suicida, com  ideias mais ou menos vagas sobre a morte e morrer, ameaças 
de suicídio, elaboração de plano suicida, que podem culminar em um ato suicida fatal 
(suicídio) ou não (tenta vas de suicídio) (Barrero, 1999; Bertolote, 2012).
Muitas vezes o comportamento 
suicida  pode  ser  um  padrão 
freqüente  na  vida  do  indivíduo 
(Shneidman,  1996). Assim,  embora 
algumas  pessoas  apresentem 
comportamentos  suicidas  em  13
 Veja como o comportamento suicída se 
estrutura através de um fluxograma disponível 
no Ambiente Virtual de Aprendizagem.  
Fluxograma
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=667
Sinais são aspectos observáveis que antecedem um determinado evento, nesse 
caso, o suicídio. Os sinais podem ser divididos em sinais verbais e comportamentais. 
Os  sinais  verbais  são  sentenças  ditas  ou  escritas  pelo  indivíduo,  que  podem  ser 
interpretadas como uma despedida, dizendo de maneira direta ou indireta que não 
estará  mais  aqui  num  futuro 
próximo. Alguns  exemplos  de  falas 
são:  “Eu  não  estarei  aqui  no 
próximo ano”,  “Esta é minha úl ma 
vez  aqui”,  “Você  não  me  verá  aqui 
de  novo”,  “Eu  não  posso  mais 
agüentar”, entre outras. 
Os  sinais  comportamentais  incluem  ações  como  colocar  os  assuntos  em 
ordem,  decidir  fazer  um  testamento  e  sem  explicação  dar  ou  devolver  seus  bens 
(Shneidman, 1996).
Um  paradoxo  no  suicídio  é  que  os  indivíduos  dão  esses  sinais,  muito 
provavelmente,  como  parte  da  ambivalência,  comumente  experienciada  por 
indivíduos que desejam se suicidar. Ao mesmo tempo em que querem que a dor pare 
desejam alguma  intervenção ou ajuda. O oposto  também é verdadeiro, algumas 
6 - Sinais de alerta
uma determinada fase da vida e não mais em outras, algumas pessoas apresentam 
um  padrão  consistente  de  comportamentos  suicidas,  que  pode  incluir  ideação 
suicida  e  tenta vas.  Essas  pessoas  estariam  em  uma  situação  de  maior 
vulnerabilidade podendo tentar suicídio toda vez que se deparem com um problema 
que  consideram  sem  solução  caso  não  tenham  passado  por  nenhuma  intervenção 
eficaz ao longo de sua vida.
14
 No quadro 2, disponível no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, você encontra os sinais verbais e 
comportamentais aos quais deve ficar alerta. 
Quadro 2
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=666
pessoas que se suicidam escondem e não dão nenhuma dica evidente do que estão 
prestes a fazer (Shneidman, 1996). 
Na Unidade 3 você aprenderá 
mais  sobre  o  manejo  do  usuário 
com  comportamento  suicida,  mas 
podemos  adiantar  que  geralmente, 
o melhor a se fazer quando alguém 
diz algo que é confuso ou enigmá co em relação à vida ou à morte, é perguntar o 
que  essa  afirmação  significa  e  se  houver  suspeita  de  intenção  suicida,  perguntar 
diretamente se o indivíduo está falando de suicídio (Shneidman, 1996).
15
Leia no texto Comportamento Suicida: 
Epidemiologia de Neury José Botega, dados sobre o 
suicídio no Brasil e as caracterís cas que envolvem 
a ideação suicída e a tenta va de suicídio. 
Texto de apoio
Conheça mais sobre o suicídio e o perfil de quem está em 
risco através da Folha Informa va ‐ Suicídio 
Clique aqui
Saiba mais 
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5671:folha-informativa-suicidio&Itemid=839
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=668
AULA 2 
Dados 
Epidemiológicos
1 - Importância do estudo da epidemiologia no suicídio
A  epidemiologia  é  o  estudo  da  distribuição  e  dos  determinantes  de  um 
agravo, doença ou evento de saúde em populações humanas. A distribuição pode 
ser  geográfica,  por  sexo,  idade,  status  socioeconômico,  estado  civil,  ocupação, 
entre outros. Os determinantes são fatores precipitantes do agravo, assim, buscam 
as causas e fatores que influenciam sua ocorrência. (Woodward, 2014). 
No  caso  do  suicídio  ainda  há  falta  de  informações  suficientes  para  que  o 
tema  possa  ser  melhor  compreendido,  sendo  necessário  melhorar  a  coleta  de 
dados  e  sua  análise.  A  análise  epidemiológica  do  suicídio  é  importante  para  o 
desenvolvimento de polí cas de saúde pública. 
O desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção do suicídio exige a 
ampliação do conhecimento sobre as especificidades regionais (Lovisi et al., 2009), 
além de análise mais cuidadosa da distribuição por sexo, idade, entre outros, assim 
como dos determinantes do suicídio. Tais  informações são  importantes para saber 
com  quais  populações  as  intervenções  devem  ser  realizadas,  garan ndo  que 
alcancem os  indivíduos mais a ngidos pelo problema. Nessa aula, você conhecerá 
um  pouco  da  epidemiologia  do  suicídio  no mundo,  no  Brasil  e  especialmente  no 
Paraná.
2 - Epidemiologia do Suicídio no mundo
O coeficiente, ou taxa, de mortalidade por suicídio é calculado em relação ao 
número de mortes por  suicídio para cada cem mil habitantes,  ao  longo de um ano. 
Dados  da  Organização  Mundial  de  Saúde  (WHO,  2017)  mostram  que  as  maiores 
taxas de suicídio encontram‐se em:
17
Fonte: http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/suicideprevent/en/
Figura 1. Taxas de Suicídio no mundo, para ambos os sexos
Os três países que apresentam as maiores taxas de suicídio no mundo são Sri 
Lanka (35,3/100 mil hab), Lituânia (32,7/100 mil hab) e Coréia do Sul (32,0/100 mil 
hab).
18
África: Guiné Equatorial (22,6/100 mil hab) e Angola (20,5/100 mil hab)
Américas: Guiana (29,0/100 mil hab) e Suriname (26,6/100 mil hab)Sudeste 
Asiá co: Sri Lanka (35,3/100 mil hab) e Tailândia (16/100 mil hab)
Europa: Lituânia (32,7/100 mil hab) e Casaquistão (27,5/100 mil hab)
Mediterrâneo Oriental: Sudão (10,2/100n mil hab) e Djibou  (8,6/100 mil hab)
Pacífico Ocidental: Coréia do Sul (32,0/100 mil hab) e Mongólia (28,3/100 mil hab)
A  Figura  1  mostra  as  taxas  de  suicídio  no  mundo,  para  ambos  os  sexos.  É 
possível  perceber  que  na  Europa  encontram‐se  as maiores  taxas  (maiores  que 15), 
enquanto o Brasil apresenta uma das taxas mais baixas (de 5 a 9,9).  
3 - Epidemiologia do Suicídio no Brasil
No Bole m Epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde  (Brasil, 2017), 
foi feito um estudo descri vo do perfil epidemiológico dos indivíduos que tentaram 
suicídio e daqueles que evoluíram a óbito, no período de 2011 a 2016.
Lesões Autoprovocadas
De 2011 a 2016 foram 176.226 casos de violência autoprovocada, dos quais 
116.113  (65,9%)  em  mulheres  e  60.098  (34,1%)  em  homens.  Considerando  as 
violências  autoprovocadas,  ocorreram  48.204  (27,4%)  casos  de  tenta va  de 
suicídio, sendo 33.269 (69%) em mulheres e 14.931 (31%) em homens.
Entre  2011  e  2016  houve  um  aumento  dos  casos  no ficados  de  lesões 
autoprovocadas.Das  Lesões  Autoprovocadas  em  Mulheres,  49,6%  eram  brancas  e  35,7% 
negras; 30,5% apresentavam ensino fundamental  incompleto ou completo e 23,5% 
ensino médio incompleto ou completo, sendo que 39,5% apresentavam escolaridade 
ignorada;  74,4%  dos  casos  ocorreram  nas  faixas  etárias  de  10  a  39  anos;  89,4% 
residiam na zona urbana, com concentração dos casos nas regiões Sudeste (51,2%) e 
Sul (25%); 33% das lesões  nham caráter repe vo.
Das Lesões Autoprovocadas em Homens, 49% eram brancos e 37,2% negros; 
32,3% possuíam ensino fundamental  incompleto ou completo e 19,6% ensino médio 
incompleto ou completo; os casos estão concentrados  nas faixas etárias de 10 a 
19
4 - Epidemiologia do Suicídio no Paraná
A Intoxicação Exógena é um agravo de no ficação compulsória, por meio da 
Portaria  204,  de  17  de  fevereiro  de  2016  (Portaria  de  Consolidação  nº  º  4 MS/
2017). Tais intoxicações ocorrem quando há exposição a uma ou mais substâncias 
tóxicas, e, dentre todas as circunstâncias de exposição, a intencional (tenta va de 
suicídio) é a que prevalece nas no ficações de Intoxicação Exógena. 
O  acesso  facilitado  aos  agentes  tóxicos  associados  ao  estado  de  saúde 
mental  do  indivíduo,  entre  outros  fatores,  é  o  que  propicia  a  oportunidade  de 
concre zação  do  ato  suicida.  Os  agentes  tóxicos  ou  substâncias  químicas  que 
estão  relacionados  com as  tenta vas de  suicídio  são: medicamentos,  agrotóxicos 
(uso  agrícola,  uso  domés co,  uso  em  saúde  pública),  ra cidas,  produtos  de  uso 
veterinário, produtos de uso domiciliar, cosmé cos e produtos de higiene pessoal, 
produtos  químicos  de  uso  industrial,  metais,  drogas  de  abuso,  plantas  tóxicas, 
entre outros. 
A gravidade de uma intoxicação depende da via de contaminação; do tempo 
de  exposição;  da  toxicidade  da  substância;  da  concentração  da  substância;  das 
condições ambientais; da oportunidade de acesso ao serviço de saúde, quando o 
acesso  precoce  ao  serviço  oportuniza  tratamento  adequado;  diminuição  de 
20
39  anos  em  70,1%  dos  casos; 
86,52% residiam nas áreas urbanas, 
com  concentração  dos  casos  no 
Sudeste  (49,6%)  e  Sul  (26,2%); 
caráter  repe vo  em  25,3%  dos 
casos.
No Ambiente Virtual de Aprendizagem, você 
encontra o quadro que traz o número de óbitos 
por suicídio no Brasil. 
Quadro 1
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=672
morbidade e mortalidade. As vias de exposição  (ou de  ingresso da substância no 
organismo) podem ser:
21
Dérmica/Cutânea: a pele é a via mais frequentemente exposta às 
substâncias químicas. Muitas substâncias podem ser absorvidas pela 
pele íntegra, não havendo necessidade de solução de con nuidade. Os 
efeitos podem ser locais ou pode haver absorção significa va e 
comprome mento sistêmico.
Inalatória: Via bastante comum e muito eficiente para a absorção de 
gases, vapores, aerossóis, com lesões das vias aéreas e 
comprome mento respiratório.
Ocular: O contato ocular com substâncias químicas pode ocasionar 
graves lesões nos olhos, com sequelas permanentes.
Aspiração:  Pela entrada na traqueia de substância líquida ou sólida 
diretamente pela via oral ou nasal, ou ainda por regurgitação de 
conteúdo gástrico.
Diges va: Geralmente relacionada às intoxicações intencionais 
(tenta vas de suicídio) e normalmente, de maior gravidade.
 No que diz respeito ao perfil epidemiológico das tenta vas de suicídio por 
Intoxicação Exógena do estado do Paraná, temos os seguintes dados: 
Figura 2. Casos no ficados de Intoxicação Exógena segundo circunstância de 
contaminação – 2007 a 2018
Figura 3 ‐ Casos no ficados de Tenta vas de suicídio por Intoxicação Exógena 
segundo ano de no ficação – 2007 a 2017
22
De acordo com a Figura 2, de 2007 a 2018, foram no ficados 101.964 casos de 
intoxicação exógena no estado do Paraná. Desse total, 46.019 casos correspondem a 
tenta va de suicídio, o que representa 45% das no ficações de Intoxicação exógena.
Podemos observar que a par r de 2011 há um aumento no número de no ficações 
de tenta va de suicídio, chamando a atenção para um aumento significa vo em 2017.
Figura 4. Casos notificados de Tentativas de suicídio por Intoxicação Exógena – 
Regional de saúde segundo ano de notificação 2007 a 2018*
Considerando  as  no ficações  ao  longo  dos  anos  por  Regional  de  Saúde,  a 
Figura  4  mostra  os  grandes  centros  populacionais  com  um  número  maior  de 
no ficações  circuladas  em  vermelho,  que  também  são  sede  dos  centros  de 
informação  toxicológica  do  Estado,  que  acabam  tendo  um  papel  fundamental  e 
determinante  no  diagnós co,  orientando  também,  quanto  a  no ficação  dos  casos. 
Circulados em amarelo,  estão as  regionais que mais no ficaram as  tenta vas 
de suicídio por intoxicação exógena.  
23
Figura 5. Casos notificados de tentativas de suicídio por Intoxicação 
Exógena segundo zona de residência – 2007 a 2018*
Com  relação  a  zona  de  residência,  há  uma  predominância  das  tenta vas  de 
suicídio por intoxicação exógena ocorrerem na zona urbana (90%).
24
Figura 6. Casos notificados de tentativas de suicídio por intoxicação 
exógena segundo faixa etária – 2007 a 2018*
Analisando a faixa etária das tenta vas de suicídio por intoxicação por meio da 
Figura 6, precisamos considerar as inconsistências das fichas de no ficação, em que 
os menores de 1 ano são no ficados como tenta va de suicídio, por exemplo.  Isso 
pode  acontecer  quando  há  um  erro  de  digitação,  em  que  a  data  de  nascimento  é 
digitada igual a data de no ficação, gerando uma inconsistência.
A  circunstância  de  exposição  pode  ser  digitada  ou  informada  erroneamente, 
dentre outros equívocos que podem levar a inconsistência da informação e do banco 
de  dados.  Porém,  na  faixa  etária  compreendida  a  par r  dos  07  anos  de  idade, 
infelizmente, já observamos a intencionalidade na intoxicação. A criança com ideação 
suicida  deve  ser  amparada  pela  rede  de  atenção  e verificada  sua  situação  de  risco 
social  e  familiar.  Importante  lembrar  a  acessibilidade  da  criança  ao  agente  tóxico, 
quase sempre dentro da própria residência. 
A  faixa etária  adolescente e  jovem corresponde a 19,7% das  intoxicações 
25
Figura 7. Casos notificados de tentativas de suicídio por Intoxicação 
Exógena segundo o sexo – 2007 a 2018*
A  Figura  7 mostra  que  o  sexo  feminino  representa  71%  das  no ficações  de 
tenta vas de suicídio por intoxicação, corroborando com as esta s cas relacionadas 
ao suicídio, em que o auto envenenamento é uma forma de tenta va de suicídio mais 
vinculado ao sexo feminino.   
Quanto  ao  local  em  que  ocorreu  a  intoxicação  (tenta va  de  suicídio),  a 
residência  representa  94  %  dos  casos  no ficados,  ficando  evidente  o  acesso  ao 
agente  tóxico  facilitado  dentro  da  própria  residência,  seja  ele  prescrito  ou  não 
(medicamento),  agrotóxico  (uso  na  agricultura  ou  domés co),  e  outros  produtos  de 
uso domiciliar e de fácil aquisição.
26
por tenta va de suicídio. A faixa etária adulta, de 20 a 34 anos é a que compreende 
o maior número de casos, com 41,2% das no ficações, e de 35 a 49 anos (24,2%). A 
faixa etária em idade laboral de 20 a 64 anos representa 72,5% das no ficações de 
tenta vas de suicídio por intoxicação exógena.
Figura 8. Casos notificados de tentativas de suicídio por intoxicação exógena 
segundo evolução – 2007 a 2018*
No  que  diz  respeito  a  evolução  dos  casos,  é  importante  ressaltar  que  a 
informação  “cura  sem  sequela”  é  o  campo  con do  na  ficha  de  no ficação  que 
corresponde  à  alta  do  paciente  para  a  intoxicação  atendida  naquela  ocasião, 
portanto, entende‐se que não há um acompanhamento desse paciente para avaliar 
essa  informação  em  sua  totalidade,  bem  como  essa  no ficação  está  sendo 
consideradaisoladamente,  não  tendo  um  campo  que  indique  se  ele  sofreu  outras 
intoxicações  e  o  número  de  vezes  que  ele  pode  ter  tentado  o  suicídio  por 
intoxicação. 
Como a grande maioria dos casos atendidos e no ficados pelo serviço de  27
A via de exposição ao agente tóxico mais no ficada nas tenta vas de suicídio 
por  intoxicação  é  a  diges va,  totalizando  96,3%  dos  casos,  ficando  evidente  a 
ingestão de substâncias químicas no auto envenenamento.
Figura 9. Casos notificados de tentativas de suicídio por Intoxicação Exógena 
segundo agente tóxico – 2007 a 2018*
Analisando  os  agentes  tóxicos  causadores  das  intoxicações  intencionais,  os 
medicamentos são os mais comumente u lizados pelos pacientes nas tenta vas de 
suicídio (73 % dos casos no ficados), seguido pelos ra cidas (9%) e dos agrotóxicos 
de  uso  agrícola  (5,7%).  Destacam‐se  também  os  produtos  de  uso  domiciliar,  os 
agrotóxicos  de  uso  domés co,  que,  assim  como os  demais  citados,  a  facilidade  de 
aquisição e acesso a esses agentes são fatores a se considerar. Com relação aos 
saúde são os casos agudos, em que a família e o próprio paciente consideram casos 
graves, a informação da reincidência não está contemplada na ficha.  Além de não ser 
possível  correlacionar outras  formas de violência auto provocada nas  tenta vas de 
suicídio. Os óbitos nas  tenta vas de  suicídio por  intoxicação exógena  representam 
2% dos casos no ficados (861 casos).
28
29
agrotóxicos  de  uso  agrícola,  a 
aquisição  legal  requer  receituário 
agronômico  emi do  por 
profissional de agronomia mediante 
avaliações  prévias  de  necessidade, 
po  de  cultura,  dose,  tempo  de 
u lização,  entre  outras 
considerações. Porém, o  agricultor  e  sua  família  têm acesso ao agente  tóxico,  seja 
prescrito regularmente ou, muitas vezes, adquirido de forma irregular no comércio.
Diante  dos  dados  oficiais,  constatamos  uma  frequência maior  de  tenta vas  de 
suicídio  por  intoxicação  exógena  em  adultos  jovens,  do  sexo  feminino,  com  agentes 
tóxicos  de  fácil  aquisição  e  acessibilidade  (medicamentos,  ra cidas,  produtos  de  uso 
domiciliar, agrotóxicos). É di cil falar em prevenção quando se tem agentes tóxicos com 
tamanha acessibilidade dentro das próprias residências. Por  isso, é  importante manter 
todos os produtos e substâncias químicas bem guardadas em armários trancados; não 
comprar  medicamentos,  produtos  e  substâncias  químicas  em  excesso,  evitar  manter 
estoque dessas substâncias em casa.
No Ambiente Virtual de Aprendizagem, você 
tem no quadro 2 da aula 02 todos os contatos 
dos Centros de Informação que atendem no 
Estado do Paraná.
Quadro 2
No material Cole va sobre Suicídio elaborada e 
disponibilizada pelo Ministério da Saúde, além de 
dados, você verá as ações planejadas pelo 
Ministério. 
Material de apoio
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=674
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/resource/view.php?id=669
AULA 3 
Fatores de 
Risco
Fatores  de  risco  são  aspectos  do  comportamento  individual,  es lo  de  vida, 
exposição ambiental, caracterís cas hereditárias ou congênitas que, de acordo com 
evidências epidemiológicas, estão associados a uma condição de saúde que deve ser 
prevenida.  Aproximadamente  dois  terços  das  pessoas  que  cometeram  suicídio 
nham  um  histórico  prévio  de  tenta vas  de  suicídio  (Sakinofsky,  2000).  Uma 
tenta va de suicídio anterior é o maior preditor da ocorrência de suicídio, sendo que 
o risco é maior durante os primeiros meses e anos após a tenta va e parece diminuir 
ao longo do tempo (Suominem et al., 2004).
O  risco  de  uma  repe ção  fatal  é  maior  na  tenta va  que  sucede  a  primeira 
(Sakinofsky,  2000).  É  possível  observar  que  muitas  das  pessoas  que  realizaram 
diversas  tenta vas  de  suicídio,  aumentaram  o  grau  de  letalidade  a  cada  tenta va 
(Figel et al., 2013). Sendo assim é necessário intervir de forma eficiente logo após a 
primeira  tenta va  de  suicídio  realizada  e  ficar  atento  a  indivíduos  que  já  tenham 
realizado tenta vas anteriores.
1 - Principal fator de risco: tentativa anterior de suicídio
A presença de  transtorno mental é um dos  fatores de riscos mais  fortemente 
associados  ao  suicídio  (Cavanagh  et  al.,  2003),  podendo  ser  encontrado  em 
aproximadamente 90% dos casos. Estudos mostram a predominância dos transtornos 
de humor, como a depressão  (Rutz, 2001), esquizofrenia e transtornos relacionados 
ao  uso  de  substâncias,  como  por  exemplo  o  álcool  (Barraclough  et  al.,  1974; 
Bertolote,  2012;  Bertolote  &  Fleischmann,  2002).  Sobre  a  predominância  dos 
transtornos  de  humor  algumas  pesquisas mostram  que mais  de  50%  dos  suicídios 
está  relacionado  com  transtornos  como  depressão  e  transtorno  bipolar 
2 - Presença de Transtorno Mental
31
(Barraclough et al., 1974; Bertolote et al., 2003; Robins et al., 1959). 
Portanto,  o  adequado 
tratamento dos transtornos mentais 
deve  ser  um  componente 
fundamental  da  prevenção  do 
suicídio  (Bertolote  &  Fleischmann, 
2002; Cavanagh et al., 2003).
3 - Fatores individuais
Alguns fatores individuais como uso prejudicial de álcool e outras substâncias, 
desesperança, presença de doenças ou dor crônica, fatores gené cos e biológicos, 
história familiar de suicídio são fatores de risco a serem considerados (WHO, 2014). 
Estudos mostram que os  índices de suicídio são maiores em famílias com pessoas 
que se suicidaram. Assim, ter um membro da família que se suicidou é um fator de 
risco para o suicídio,  independente da presença de  transtorno mental  (Runeson & 
Asberg, 2003).
Alguns  aspectos  relacionados  com  a  personalidade  também  podem  se 
cons tuir  como  fatores  de  risco. A  impulsividade,  por  exemplo,  está  relacionada 
com  comportamentos  suicidas,  especialmente  na  população  adolescente, 
considerando  que  a  maioria  dos  suicídios  nessa  população  não  é  planejado. 
(Williams et al., 2000).
Alguns  autores  propõem  a  existência  do  “pensamento  dicotômico”  (e.g. 
Shneidman,  1996),  que  também  aumenta  o  risco  de  suicídio.  Esse  pensamento  é 
caracterizado pela  tendência em pensar  tudo ou nada,  como por exemplo:  “Se eu 
não puder ter meu namorado de volta, então não vale a pena viver” (Williams et 
32
Todas as informações relacionadas aos fatores 
de risco ligados ao gênero, idade e estado civil 
você encontra no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem.  
Fluxograma
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=676
4 - Fatores sociais e ambientais
Baixo  status  socioeconômico  está  ligado  a  maiores  taxas  de  suicídio  e 
tenta vas  de  suicídio  (Beautrais,  2000).  O  desemprego  também  apresenta  forte 
relação,  pois  pode  ampliar  o  impacto  de  eventos  estressores,  aumentando  a 
vulnerabilidade, podendo também aumentar alguns fatores de risco que precipitam o 
suicídio, tais como presença de transtorno mental e dificuldades financeiras (Blakely 
et  al.,  2003).  Estudos mostram  que  quanto maior  o  tempo  em  que  a  pessoa  está 
desempregada, maior o risco de suicídio e de realizar tenta vas de suicídio (Milner et 
al., 2013).
A  presença  de  uma  doença  sica  também  pode  estar  relacionada  com  o 
suicídio. Doenças como câncer, transtornos neurológicos, esclerose múl pla, Coréia 
de  Hun ngton,  lesões  espinhais,  epilepsia,  lesões  cerebrais,  tumores  cerebrais, 
acidente  vascular  cerebral,  AIDS,  doenças  cardíacas,  pulmonares  e  renais,  entre 
outras,  podem  representar  um  aumento  do  risco  de  suicídio,  por  estarem 
acompanhadas  por  dor,  preocupações,  agravamento  de  transtornos  mentais, 
limitações no comportamento social e perda das capacidades labora vas (Stenager 
et  al.,  2000).    Indivíduos  com  dores  crônicas  também  apresentam maior  risco33
al., 2000). Há a acentuada polarização dos pensamentos, com pouca discriminação 
dos  estados  intermediários  de  uma  determinada  situação.  Desse  modo  esses 
indivíduos têm uma maior dificuldade em encontrar novas alterna vas ou pensar em 
outras opções e soluções diante de problemas que possam aparecer em suas vidas. 
Assim, para alguns indivíduos, o suicídio é visto como uma solução drás ca para os 
seus problemas (Neuringer, 1961) e suas histórias de vida podem ser cronicamente 
suicidas,  sendo  que  para  essas  pessoas  intervenções  limitadas  no  tempo  têm  um 
efeito apenas temporário (Goldney, 1998).
(WHO, 2014).
Histórico  de  violência  sica  ou  sexual  está  in mamente  ligado  a  um  risco 
aumentado  para  o  desenvolvimento  de  transtornos mentais  e  de  comportamentos 
suicidas  (Beautrais,  2000;  Joiner  Jr  et  al.,  2007),  apresentando  alta  correlação  no 
caso da violência sexual. De modo geral os estudos mostram que essa relação é mais 
forte no  caso das mulheres, mas  isso pode ocorrer  tendo em vista que  a violência 
sexual feminina é mais frequente e, falar sobre a violência sexual masculina, ainda é 
tabu (Bebbington et al., 2009). 
Quando o abuso ocorre na  infância,  alguns estudos mostram que em grande 
parte  dos  casos  ocorre  mais  de  um  po  de  abuso  (Anderson  et  al.,  2002), 
potencializando os efeitos prejudiciais destas violências para o desenvolvimento da 
criança.  Um  dos  argumentos  para  jus ficar  o  porquê  do  aumento  de 
comportamentos  suicidas  em  pessoas  com  histórico  de violência  refere‐se  ao  fato 
dessas pessoas terem desenvolvido mais padrões de esquiva experiencial e evitação. 
Essa  esquiva  experiencial  diz  respeito  à  fuga  em  experienciar  os  sen mentos  e 
pensamentos desagradáveis relacionados com a situação de abuso e às tenta vas de 
reduzir essas experiências internas (Polusny et al., 1995). 
No  caso  dos  adolescentes,  são  descritos  alguns  eventos  de  vida  nega vos   
específicos  como  desencadeadores  do  comportamento  suicida  como  problemas 
familiares;  separação  de  amigos  ou  namorado(a);  morte  de  pessoas  amadas  ou 
significa vas; término de relacionamento amoroso; conflitos ou perdas interpessoais; 
opressão  pelo  seu  grupo  de  iden ficação  ou  comportamento  autodestru vo  para 
aceitação no grupo; opressão e vi mização; fracasso nos estudos; demandas altas na 
escola, desemprego e dificuldades financeiras; gravidez indesejada e aborto; infecção 
por HIV ou outras ISTs; doença  sica grave; desastres naturais (OMS, 2000 a).
34
5 - Fatores culturais
Embora muitos  fatores de  risco,  como os  relacionados nos  tópicos anteriores 
sejam  universais  (Cheng,  1995;  Vijayakumar  &  Rajkumar,  1999),  determinados 
aspectos  culturais  podem  ser  considerados  fatores  de  risco  para  o  suicídio.  A 
sociedade pode atuar como fator de risco ou proteção. 
Sociedades nas quais conversar sobre os problemas com diferentes indivíduos é 
valorizado, e que sejam mais abertas a mudanças de opinião, parecem ser sociedades 
mais prote vas. Sociedades nas quais pedir ajuda é considerado sinal de fraqueza e a 
independência  é  valorizada, 
oferecem,  assim,  fatores  de  risco 
(Botega et al., 2006).
Outros  fatores  como 
desastres,  guerras  e  conflitos,  além 
de  aculturação  e  deslocamento  são 
importantes  fatores  de  risco,  aumentando  muito  a  incidência  de  suicídio  em 
determinadas populações, como por exemplo as indígenas.
35
No texto Depressão: o que você precisa saber 
você encontrará todas as informações sobre os 
aspectos dessa doença. 
Texto de apoio
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=677
AULA 4 
Fatores de 
Proteção
1 - O que são Fatores de Proteção
Fatores  de  proteção  são  aqueles  que  diminuem  a  probabilidade  de  um 
resultado  nega vo  entre  indivíduos  que  estão  em  risco.  Tais  fatores  não  se 
cons tuem  apenas  como  a  ausência  dos  fatores  de  risco,  são  variáveis  que 
modificam a direção ou força da relação entre um fator de risco e seu resultado (Cha 
et al., 2009). O estudo dos fatores de proteção na temá ca do suicídio é de grande 
importância,  pois  assim  pode‐se  compreender  quais  são  os  fatores  que  estão 
disponíveis e diminuirão a chance de alguém cometer suicídio. Além disso, para fins 
de  intervenção  devemos  considerar  que  alguns  desses  fatores,  especialmente  os 
ambientais, podem ser implementados ou alterados com maior facilidade.
2 - Suporte Social
O  suporte  social  pode  ser  definido  como  ações  ou  comportamentos  de 
suporte,  incluindo  suporte  emocional  (afeto,  es ma,  preocupação),  suporte  de 
informação  (conselhos,  informações,  sugestões),  suporte  de  avaliação  (feedback, 
afirmação) além de suporte instrumental (dinheiro, tempo). (House, 1981 apud Israel, 
1985). Ele parece desempenhar um importante papel na promoção da saúde (Israel, 
1985) servindo como um fator de proteção psicossocial que promove resiliência em 
contextos estressores e redução da vulnerabilidade para diversos agravos de saúde 
(Cassel, 1976).
No  caso  do  suicídio,  diversos  fatores  de  proteção  estão  associados  com  o 
suporte social como bons vínculos afe vos, sensação de estar integrado a um grupo 
ou comunidade, estar casado ou com um companheiro fixo (Suominen et al., 2004), 
além  de  fatores  de  proteção  relacionados  a  padrões  familiares,  como  bom 
relacionamento  intrafamiliar,  apoio  de  parte  da  família,  pais  dedicados  e 
37
consistentes (Bertolote, 2012). 
Na definição de suporte social anteriormente apresentada fica evidente como 
o  suporte  social  permite  que  o  indivíduo  tenha  acesso  a  apoio  de  diferentes 
maneiras,  tais  como  apoio  emocional  quando  es ver  em  sofrimento  ou  passando 
por uma situação di cil, além de conselhos e sugestões diante de algum problema. 
Tal  apoio  pode  prevenir  o  surgimento  de  ideação  suicida,  assim  como  proteger  o 
indivíduo que já apresenta algum comportamento suicida. Protege pois pode apoiar 
nos momentos di ceis, iden ficar mudanças de humor e de comportamento, auxiliar 
na busca por ajuda especializada e pode perceber mais rapidamente que o indivíduo 
apresentou  um  comportamento  suicida,  agilizando  a  busca  por  serviços  de  saúde 
quando for o caso.
3 - Outros fatores de proteção
Alguns  fatores  de  proteção  estão  relacionados  ao  es lo  cogni vo  e 
personalidade,  tais  como  sen mento  de  valor  pessoal,  ter  obje vos  na  vida, 
confiança em si mesmo, habilidade para se comunicar, disposição para adquirir novos 
conhecimentos,  disposição  para 
buscar  ajuda  quando  necessário, 
disposição  para  pedir  conselhos 
diante  de  decisões  importantes  e 
abertura  à  experiência  alheia 
(Bertolote, 2012).
Fatores culturais e sociais como adesão a valores, normas e tradições posi vas; 
integração  social  no  trabalho,  em  alguma  igreja,  em  a vidades  espor vas,  clubes, 
entre outros (Bertolote, 2012). A religiosidade também pode se configurar como 
38
Encontre mais informações sobre os fatores de 
proteção e suas caracterís cas  no fluxograma 
disponível no AVA.  
Fluxograma
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/page/view.php?id=679
um  fator  de  proteção  para  o  suicídio  (Suominen  et  al.,  2004). Também  há  fatores 
ambientais  como  boa  alimentação,  bom  sono,  luz  solar  e  a vidades  sicas 
(Bertolote, 2012).
Existem fatores de proteção que se relacionam com o gênero, tendo em vista, 
variáveis  culturais.  Para  mulheres  a  gravidez  e  a  maternidade  auxiliam  para  que 
tenham  menores  taxas  de  suicídio,  especialmente  nos  anos  próximos  à  gestação 
(Botega  et  al.,  2006).  No  caso 
dos  homens,  ter  uma  ocupação, 
estar  empregado,  sen r‐se 
produ vo e  integrado por meio do 
seu  trabalho  parece  ser  um 
importante  fatorde  proteção 
(Botega et al., 2006). É necessário, 
contudo,  que  esses  e  outros  fatores 
de  proteção  sejam  entendidos  dentro  do  contexto  social  vigente,  levando‐se  em 
consideração as expecta vas sociais atuais.
39
O texto Apoio social, eventos estressantes e 
depressão em casos de tenta va de suicídio traz 
informações e dados levantados através de um 
estudo de caso controle realizado dentro de um 
hospital de emergência. 
Texto de apoio
http://pr.avasus.ufrn.br/mod/resource/view.php?id=678
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