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A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

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A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Ele define o espírito do capitalismo como as ideias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Weber afirma que tal espírito não é limitado à cultura ocidental mas que indivíduos noutras culturas não tinham podido por si só estabelecer a nova ordem econômica do capitalismo. Como ele escreve no seu ensaio: "Por forma a que uma forma de vida bem adaptada às peculiaridades do capitalismo possa predominar sobre outras (formas de organização), ela tinha de ter origem algures, e não pela acção de indivíduos isolados mas como uma forma de vida comum aos grupos de homens".
Após definir o espírito do capitalismo, Weber argumenta que há vários motivos para procurar as suas origens nas ideias religiosas da Reforma Protestante. 
 Weber afirmou que apesar de as ideias religiosas puritanas terem tido um grande impacto no desenvolvimento da ordem econômica na Europa e nos Estados Unidos, eles não foram o único fator responsável pelo desenvolvimento. Outros factores, relacionados, seriam o racionalismo na ciência, a mistura da observação com a matemática, a jurisprudência, a sistematização racional da administração governativa e o empreendimento econômico.
Em conclusão, o estudo da ética protestante, de acordo com Weber, explorava meramente uma fase da emancipação da magia, o desencantamento do mundo, uma característica que Weber considerava como uma peculiaridade que distingue a cultura ocidental.
Max Weber defende o estabelecimento de um raciocínio lógico capitalista, que o mesmo denomina racionalismo; sendo esta leitura realizada através da comparação da Alemanha do período com outros países civilizados do planeta em condição de desenvolvimento semelhante, ou seja, com existência do capitalismo e de empresas capitalistas, sendo identificado na primeira uma estrutura social, política e ideológica ímpar, que pode se ditar como a condição ideal para o surgimento do capitalismo moderno, que no seu interior defende a paixão pelo lucro como demonstração de prosperidade, fé e salvação. Neste contexto o autor expõe através do emprego do método e da pesquisa científica uma das várias facetas do capitalismo, o capitalismo ocidental, apresentando em sua obra científica como as principais características do Sistema Capitalista a organização capitalista racional do trabalho livre, a separação dos negócios da moradia da família e a implementação da contabilidade racional; da qual se origina a classe burguesa ocidental ligada estreitamente à divisão do trabalho.
A política como vocação
O Estado como detentor do monopólio da violência[editar | editar código-fonte]
Weber compreende como “política” qualquer tipo de liderança independente em ação. Por se tratar de um termo que abarca uma grande gama de relações humanas, para fins de sua palestra, limita o uso do termo ao tipo de liderança exercida pelas associações políticas e, mais recentemente, pelo Estado.
Ele reconhece que o uso da força é um meio específico de atuação do Estado: “O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território”. Essa entidade assume-se como a única fonte do direito de usufruto da violência.
Em decorrência disso, a “política” significaria a participação no poder ou a luta para influir na distribuição do poder.“Quem participa ativamente da política, luta pelo poder quer como um meio de servir a outros objetivos, ideais ou egoístas, quer como 'o poder pelo poder', ou seja, a fim de desfrutar a sensação de prestígio atribuída ao poder”.
Em última instância, o Estado seria a relação de homens dominando homens por meio da violência legítima.
Formas de legitimação da dominação[editar | editar código-fonte]
São três os tipos de justificações e legitimações básicas da dominação:
· Dominação tradicional: exercida pelo patriarca e pelo príncipe patrimonial de outrora. Dá-se pela crença na santidade de quem dá a ordem e de suas ordenações, como na manifestação da autoridade patriarcal, em que o senhor ordena e os súditos obedecem. O ordenamento é fixado pela tradição e sua violação seria uma afronta à legitimidadeda autoridade. Os dominados são totalmente dependentes do senhor e ganham seus cargos seja por privilégios ou concessões feitas por ele. Não há um estatuto, e o senhor pode agir sem maiores limitações externas à sua vontade.
· Dominação carismática: exercida pelo profeta, ou, no campo da política, pelo senhor de guerra eleito, pelo governante plebiscitário, pelo grande demagogo ou líder do partido político. Os dominados obedecem em razão das qualidades excepcionais do dominador, as quais lhe conferem poder de mando. Um característica importante deste tipo de dominação é que a confiança dos dominados no carisma do líder é volúvel e esta forma de dominação tende a assumir a forma da via tradicional ou legal.
· Dominação racional-legal: exercida em virtude da legalidade, pela fé na validade do estatuto legal e da competência funcional, baseada em regras racionalmente criadas. É exercida pelo moderno "servidor do Estado' e demais portadores do poder que a este se assemelham. A obediência está fundamentada na vigência e aceitação da validade intrínseca da norma, e seu quadro administrativo é representado pelo estamento burocrático. A dominação racional-legal baseia-se na existência de um estatuto, que pode criar e modificar normas, desde mediante um processo legal previamente estabelecido. Nessa forma de dominação, o dominado obedece à regra (não a uma pessoa), independentemente das qualidades intrínsecas do líder. A autoridade do dominante decorre de ato normativo que lhe concede acesso a um posto previamente descrito. O cargo é impessoal, ou seja, não pertence a um determinado indivíduo. Um exemplo do uso da dominação legal é o Estado Moderno, no qual há uma hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais pura de dominação legal é a burocracia.
Viver “da” e “para” a política[editar | editar código-fonte]
Weber discorre sobre o processo de formação do Estado Moderno (resultado da monopolização dos meios de gestão da violência), destacando como ele foi acompanhado com o surgimento de uma figura muito peculiar no Ocidente: o político profissional.
Ele diferencia dois tipos essenciais do políticos: os que vivem para a política e os que vivem da política.
O político que vive da política é aquele que não possui recursos materiais para a sua subsistência para além dos recursos provindos da própria atividade política. Sua atuação pública se confunde com uma luta não apenas por ideais comuns ou interesses de classes, mas também pela conquista de meios de conseguir renda, o que de alguma forma prejudica a capacidade de distanciamento para a análise racional dos problemas de seu cotidiano enquanto profissional da política.
Já o político que vive para a política representaria o tipo ideal no âmbito de atributos do político vocacionado, pois sua independência diante da remuneração própria da atividade política significa, também, uma independência de seus objetivos no decorrer da vida pública. Sua conduta pode esta voltada para a busca de prestígio, honra, ideais, ou até mesmo do “poder pelo poder”, mas não tomaria como prioridade a busca por recompensas financeiras em decorrência da profissão política, pois já disporia de recursos materiais suficientes.
Ética e política - Ética da responsabilidade e das últimas finalidades pensamento de Max Weber-viver pela politica ou para a politica
Weber sustenta que o resultado final da ação política mantém com frequência, e às vezes regularmente, uma relação totalmente inadequada e por vezes até mesmo paradoxal com o seu sentido original.
A abordagem ética da política apresentaria uma série de peculiaridades. Ele sustentava que, na política, muitas vezes o “bem” pode gerar o “mal”.
Weber distingue duas éticas da ação política, a ética das últimas finalidade (ou ética da convicção) e ética da responsabilidade. A primeira, a ética da convicção, corresponde àsações de um indivíduo que coloca em primeiro plano as crenças e objetivos que juga irrenunciáveis. Um membro de uma determinada seita pacifista, por exemplo, pautaria sua ação política por abster-se completamente de atos violentos, pois, como parece óbvio, paz geraria paz e violência, violência. Nada pareceria mais paradoxal que o uso da força em busca de suas utopias pacifistas.
Todavia, retomando o exemplo da “seita pacifista”, que é um exemplo utilizado pelo autor, na eminência de um conflito armado, alheio à vontade dos membros da seita, toda a comunidade pacifista ficaria à mercê dos invasores, pois não disporiam de meios materiais para protegerem sua comunidade. Tal situação remete-nos à necessidade do político vocacionado priorizar a lógica de uma ética da responsabilidade, pois, para Weber, quem deseja dedicar-se a política, e especialmente a política como vocação, tem de compreender esses paradoxos éticos. O meio decisivo para a política é a violência e um líder político não pode furtar-se a obrigação de empregá-la.
Contudo, o autor indaga que não podemos prescrever a ninguém que deva seguir uma ética de fins absolutos ou uma ética de responsabilidades, embora reconhece que um político vocacionado deve ser movido primordialmente pelo ética da responsabilidade. Mais ainda, ele afirma que a ética de fins últimos e a ética de responsabilidade não são contrastes absolutos, mas antes suplementos, que só em uníssono constituem um homem genuíno – um homem que pode ter a "vocação para a política".
Atributos de um político vocacionado
A raiz da “vocação” está intimamente ligada do tipo de dominação carismática. A este tipo de dominação que Weber se dedica no decorrer do texto. Os homens não obedecem ao líder carismático em virtude da tradição ou da lei, mas porque acreditam nele.
Há três qualidades que fazem o político vocacionado:
· Paixão: dedicação apaixonada a uma causa. Isso não significa uma sentimento movido por uma excitação estéril, mas pela clareza e conduta responsável em torno de ideais e utopias;
· Senso de responsabilidade: como guia de ação;
· Senso de proporções: capacidade de deixar que as coisas atuem sobre mantendo-se com uma calma íntima. O político deve ser capaz de conseguir distancia-se dos problemas e analisá-los com a gravidade e sobriedade.
Weber afirma que um dos desafios do político vocacionado é o de superar um inimigo bastante comum e demasiado humano: a vaidade vulgar.
A  Ciência  como  vocação   Racionalização, intelectualização, “desencantamento do mundo”: “A crescente intelectualização e racionalização [...] significa antes, que sabemos ou acreditamos que, a qualquer instante, poderíamos bastando que o quiséssemos, provar que não existe, em princípio, nenhum poder misterioso e imprevisível no decurso de nossa vida, ou, em outras palavras, que podemos dominar tudo por meio do cálculo. Isto significa que o mundo foi desencantado. Já não precisamos recorrer aos meios mágicos para dominar os espíritos e exorcizá-los, como fazia o selvagem que acreditava na existência de poderes misteriosos. Podemos recorrer à técnica e ao cálculo. Isto, acima de tudo, é o que significa intelectualização
Para Weber explicar a ciência como vocação, ele trata de vários conceitos necessários para que a vocação aconteça, apareça. No começo de seu texsto ele apresenta um quadro comparativo entre a profissão de cientista na Alemanha e nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, quando um jovem inicia sua carreira de cientista, ele recebe um modesto ordenado fixo. Durante sua juventude ele se vê carregado de trabalho, pois recebe para exercer a profissão. Ele pode, portanto, ser despedido a qualquer momento. Para que isso não aconteça o jovem cientista americano deve corresponder às expectativas da sua instituição. E essas expectativas se resumem em apenas uma regra: “sala cheia”. Só assim ele permanece no cargo.
Já a Alemanha apresenta uma regra diferente. O jovem redige uma tese e é submetido a exames. Se for aceito, tem o direito de ministrar cursos com o assunto que desejar, mas recebe somente a taxa que os alunos pagam. Mas o jovem cientista não consegue dar o tanto de cursos que gostaria – apesar de poder dar quantos cursos queira dentro de sua especialidade. Os grandes cursos são ministrados pelos professores mais velhos, pois, tomar o lugar destes seria considerado um grande desrespeito. Sobra então aos jovens, os cursos secundários.
O sistema universitário alemão, atualmente, se orienta nas bases americanas. Os institutos de ciência e medicina são hoje, grandes empresas de capitalismo estatal. Mas o cientista alemão tem outra preocupação. Mesmo sendo o melhor cientista do mundo, se ele for considerado por seus alunos como um mau professor, isso representa a morte de sua carreira universitária.
Mas Weber desconfia do professor que consegue ter as duas aptidões – pesquisador e professor – bem desenvolvidas. Ele acredita que será mera coincidência se essas duas se encontrarem no mesmo homem.
Atualmente a ciência atingiu um estágio de especialização que antes era desconhecida. E é por esse motivo que podemos falar de uma “vocação científica”.
A primeira coisa que Weber fala sobre a vocação científica é que a paixão e o trabalho andam juntos. Sem a paixão pela ciência, o professor-pesquisador jamais possuirá a vocação para ser cientista. E a única solução para este seria procurar outra profissão. Quando o trabalho e a paixão atuam juntos, fazem com que surja a intuição. E ao contrário do que julgam os pedantes, a intuição não é menos importante na ciência do que na arte ou nos problemas da vida cotidiana.
A ciência demanda devoção por parte do cientista. Só quem se coloca ao serviço da ciência possui personalidade. Aquele que se dedicar de coração a sua obra conseguirá elevar-se à dignidade da causa que deseja servir. Pois o destino e o objetivo dos cientistas é um dia serem ultrapassados.
Para o cientista, é a experimentação que conduz à verdade. Ele tem a missão de provar que não existe nenhum poder misterioso interferindo no mundo.
E qual é a idéia que o jovem americano tem de seu professor?
Para ele, o professor é aquele que lhe vendo o conhecimento em troca de dinheiro, assim como o merceeiro vende repolhos a sua mãe. Jamais passa na cabeça desse jovem que seu professor possa “vender-lhe” regras para conduta de vida. Os estudantes alemães rejeitam essa concepção americana.
Mas o que é realmente a ciência como vocação para Weber?
A ciência é, atualmente, uma “vocação” alicerçada na especialização e posta a serviço de uma tomada de cosciencia de nós mesmo e do conhecimento das relações objetivas. A ciência não é produto de revelações, nem é de graça que um profeta ou um visionário houvesse recebido para assegurar a salvação das almas; não é também porção integrante da meditação de sábios e filósofos que se dedicam a refletir sobre o sentido do mundo. (WEBER, p. 47).

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