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Curso de Introdução à INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária EXPEDIENTE Todo o conteúdo do Curso de Introdução à Inteligência Penitenciária – CIIPEN, da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo federal — 2022, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição — Não Comercial — Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.BY NC ND GOVERNO FEDERAL Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente da República Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho Ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino de Castro e Costa Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN Rafael Velasco Brandani Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN Stephane Silva de Araújo Equipe ESPEN Haynara Jocely Lima de Almeida Italo Rodrigues dos Santos UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Coordenação Geral Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Caroline Daufemback Henrique Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Revisão Textual Supervisão: Evillyn Kjellin Victor Rocha Freire Silva Vivianne Oliveira Rodrigues Design Instrucional Supervisão: Milene Silva de Castro Flora Bazzo Schmidt Joyce Regina Borges Design Gráfico Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima Airton Jordani Jardim Filho Cleber da Luz Monteiro Giovana Aparecida dos Santos Guilherme Comerão Stecca Almeida Julia Morato Leite Lucas Renata Cristina Gonçalves Sonia Trois Tiago Augusto Paiva Programação Supervisão: Alexandre Dal Fabbro João Pedro Mendonça de Araujo Luan Rodrigo Silva Costa Luiz Eduardo Pizzinatto Audiovisual Supervisão: Rafael Poletto Dutra Angie Luiza Moreira de Oliveira Dilney Carvalho da Silva Eduardo Corrêa Machado Jacob de Souza Faria Neto Kimberly Araujo Lazzarin Marcelo Vinícius Netto Spillere Marília Gabriela Salomao Dauer Maycon Douglas da Silva Apresentação Áureo Mafra de Moraes Conteúdo Jean Cler Brugnerotto Álvaro Portel Júnior Ana Paula Alves Ferreira Botelho Andrea Delgado Ferreira Antônio Marcos Mota Diego Mantovaneli do Monte Moacir Vilanova Lopes Neto Sergio da Silva de Medeiros https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed ESCLARECIMENTO A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém, devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover- namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual. SUMÁRIO Apresentação 7 Objetivos do módulo 7 Unidade 1: Introdução à Atividade de Inteligência Penitenciária 10 1.1 Breve histórico da Atividade de Inteligência no mundo 10 1.2 Atividade de Inteligência e seus quatro paradigmas históricos 16 1.3 Histórico da Atividade de Inteligência no Brasil 17 1.4 Sistema Brasileiro de Inteligência 20 1.5 Instrumentos de Governança da Inteligência no Brasil 21 1.6 Inteligência Penitenciária e Segurança Pública 22 1.7 Atividade de Inteligência na América Latina 27 Unidade 2: A Atividade de Inteligência Penitenciária 32 2.1 O Ambiente prisional e seu histórico 32 2.2 Surgimento da Inteligência Penitenciária 42 2.3 Alguns aspectos legais da Inteligência Penitenciária 42 2.4 Perfil do Policial Penal de Inteligência 45 2.5 Agência Central de Inteligência Penitenciária 47 SUMÁRIO Unidade 3: Fundamentos doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 51 3.1 Fundamentos históricos e a Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária no Brasil – a DNIPEN 51 3.2 Doutrinas de Inteligência na América Latina 54 3.3 Princípios e características que orientam a Atividade de Inteligência 57 3.4 Metodologia da Produção do Conhecimento: estados da mente e ciclo da produção do conhecimento 61 3.5 Tipos de conhecimento 66 Unidade 4: Aspectos teóricos de Contrainteligência e das Operações de Inteligência 69 4.1 Contrainteligência Penitenciária: características e fundamentos 69 4.2 Ramos da Contrainteligência 71 4.3 Operações de Inteligência Penitenciária: características e fundamentos 73 4.4 Tipos de Operações de Inteligência e seus planejamentos 76 4.5 Ações de busca 77 4.6 Técnicas de Operações de Inteligência 83 SUMÁRIO Síntese do Módulo 88 Referências 91 CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 7 APRESENTAÇÃO Olá, cursista! Seja bem-vindo(a) ao Curso de Introdução à Inteligência Penitenciária, o CIIPEN. Este curso contém 7 unidades e está dividido em dois grandes módulos. Iniciaremos agora o primeiro: Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária. Nele, veremos a história, os prin- cípios, as características, a legislação e os outros aspectos importantes que dão fundamento à Atividade de Inteligência Penitenciária. Na segunda parte do curso, no Módulo 2, trataremos da Inteligência Penitenciária Aplicada. Será o momento de vermos a prática dos ele- mentos teóricos que veremos a seguir. Com uma leitura dinâmica, rica em exemplos e com sugestões de conduta, essa segunda parte ofere- cerá ao leitor a oportunidade de conhecer como se aplica a Inteligência Penitenciária na rotina penal. Objetivos do módulo • Conhecer um resumo da evolução histórica da Atividade de Inteligência no mundo e no Brasil. • Compreender como se dá a organização e a governança nacional da Inteligência. • Justificar a importância da Inteligência Penitenciária no contexto da Segurança Pública. • Localizar em que panorama está a Atividade de Inteligência na América Latina. • Compreender e fixar o que é Inteligência Penitenciária no contexto do ambiente prisional. • Aprender sobre o perfil do analista de Inteligência e os aspectos legais da Atividade de Inteligência Penitenciária. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 8 • Assimilar como se dá o funcionamento da Agência Central de Inteligência Penitenciária no Brasil. • Conhecer princípios e características que orientam a Atividade de Inteligência. • Entender a importância da Doutrina Nacional de Inteligência Peniten- ciária e de sua aplicação na Metodologia da Produção do Conhecimento. • Entender o papel da Contrainteligência Penitenciária. • Visualizar os ramos da Contrainteligência. • Visualizar as características das Operações de Inteligência Penitenciária. • Verificar as principais ações e técnicas utilizadas pelos agentes dentro de uma Operação de Inteligência. UNIDADE 1 Introdução à Atividade de Inteligência Penitenciária CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 10 1. INTRODUÇÃO À ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA “A atividade de Inteligência Penitenciária (IPEN) é o exercício perma- nente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera do Sistema Penitenciário. Estas são basicamente orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários à de- cisão, ao planejamento e à execução de uma política penitenciária e, também, para prevenir, obstruir, detectar e neutralizarações adversas de qualquer natureza dentro do Sistema Penitenciário e atentatórias à ordem pública.” (BRASIL, 2013). Iniciando o Curso de Introdução à Inteligência Penitenciária, esta unidade mostrará a evolução histórica da Atividade de Inteligência no mundo e no Brasil. Abordará, de forma resumida, a organização e a governança nacional da Inteligência. Ainda, será exposta a importância da Inteligência Penitenciária no contexto da Segurança Pública. Por fim, será apresentado um resumo do panorama da Atividade de Inteligência na América Latina. 1.1 Breve histórico da Atividade de Inteligência no mundo A história da Atividade de Inteligência se confunde com a própria his- tória da humanidade, já que a busca pelo conhecimento é inerente ao ser humano. Desde a Antiguidade, vemos os indivíduos utilizando-se de vários métodos para adquirir conhecimento, como se pode ver em alguns relatos milenares: “Enviou-os, pois, Moisés a espiar: a terra de Canaã, e disse-lhes: Subi por aqui para o Neguebe, e penetrai nas montanhas; e vede a terra, que tal é; e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, se pouco ou muito, que tal é a terra em que habita, se boa ou má; que tais são as cidades em que habita, se arraiais ou fortalezas; e que tal é a terra, se gorda ou magra; se nela há árvores, ou não; e esforçai-vos, e tomai do fruto da terra.” (BÍBLIA, 1969). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 11 “[...] se não conheces a ti e nem a teu inimigo, sempre sereis derrota- do. Se conheces a ti e não a teu inimigo, para cada vitória terás uma derrota. Se conheces a ti e a teu inimigo, não temereis o resultado de cem batalhas.” (TZU, 2001). Idade Antiga Com o incremento da organização humana de forma política e burocrática, as ações furtivas se tornaram igualmente mais estruturadas e paulati- namente especializadas. Basicamente, havia situações de dominação ilegítima (controle por força, ocupações, colonizações, imperialismo) (BRASIL, 2016). Sítio arqueológico de construção da Grécia Antiga. Foto: © [Jenifoto] / Shutterstock. Nesse período, destaca-se o uso da espionagem (amadora) por meio de agentes infiltrados, com o fim de obter dados sobre inimigos ou sobre oportunidades em novos territórios. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 12 Idade Média \ Ferramenta de cifragem monoalfabética. Foto: Kapersky Daily. Esse período se destaca pela busca de expansão territorial e pela conquista de poder monárquico. A comunicação era lenta, tornando a conquista de surpresa estratégica uma questão difícil de equilibrar; por exemplo, o tempo necessário para reunir grandes forças contra o tempo necessário para agentes inimigos descobrirem-nas e denunciá-las. As ferramentas mais utilizadas estavam ligadas à criptografia e aos sistemas de cifragem. “Na Idade Média, o serviço de espionagem foi posto de lado, devido à influência da Igreja e da Cavalaria, que o julgavam pecado. Porém, Maomé o utilizou em 624. Seus agentes infiltrados em Meca (Arábia Saudita) o avisaram de um ataque de soldados árabes a Medina, cidade em que estava refugiado. Ele mandou, então, que fizessem trincheiras e barreiras ao redor da cidade, que impediram o avanço dos soldados.” (FARIAS, 2005, p. 87). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 13 Idade Moderna Ilustração de navios portugueses usados nas grandes navegações. Fonte: © [Michael Rosskothen] / Shutterstock. Com o colonialismo e com as expansões marítimas europeias, devido à intensificação das relações comerciais, ao mercantilismo, às grandes navegações e às pretensões territoriais hegemônicas de alguns Estados, surgiu a necessidade de políticas direcionadas ao fluxo de diferentes tipos de informações. • Século XV: as cidades-estados italianas abriram embaixadas que obtinham informações estratégicas e em cujas bases estabeleceram-se redes regulares de espionagem (BRASIL, 2016). • Século XVI: a iniciativa italiana foi reproduzida por outras sociedades dos séculos seguintes, e tais informações passaram a ser processadas em organizações permanentes e profissionais, inseridas na burocracia estatal, dando origem ao que se denomina Atividade de Inteligência. Um dos registros mais antigos do termo “inteligência” em seu sentido moderno, the intelligence, foi utilizado ainda no século XVI, na Inglaterra, na Secretaria de Estado (Department of Intelligence) (BRASIL, 2016). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 14 Idade Contemporânea A Atividade de Inteligência, como parte da burocracia do Estado, origi- nou-se de quatro matrizes institucionais e históricas: economia, guerra, diplomacia e polícia (BRASIL, 2016). Membros das Forças Armadas do Brasil. Foto: Ministério da Defesa/gov.br. • Primeira Guerra Mundial: os Serviços de Inteligência da maioria dos países europeus eram incipientes e, inicialmente, os Estados Unidos não tinham uma organização central de Inteligência. A guerra, que nenhum dos combatentes pretendia, é frequentemente citada em retrospectiva como um trágico fracasso de Inteligência. • Segunda Guerra Mundial: com as lições de Inteligência da Primeira Guerra Mundial, juntamente com os avanços tecnológicos — especial- mente eletrônica e tecnologia aeronáutica —, ocorreu a proliferação de novas agências de Inteligência nos anos 20 e 30, particularmente em estados totalitários (Itália, Alemanha e União Soviética), mas também em alguns países europeus democráticos, e, em especial, também ocorreu o estouro da Segunda Guerra Mundial, em 1939 (RANSOM; PRINGLE, 2021). Nesse período, as organizações são aperfeiçoadas quanto à estrutura, à metodologia próprias e ao pessoal especializado. A institucionalização dos Serviços de Inteligência começa a ocorrer no século XX, motivada pela necessidade de obtenção de informação militar. Foi daí que surgiram os principais órgãos de Inteligência do mundo: CIA, KGB, MI6 e Mossad. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 15 • Guerra Fria: a Inteligência militar passou a se preocupar predominante- mente com defesa e dissuasão, enquanto sua vertente civil dedicava-se à vigilância ideológica e interferência política (BRASIL, 2016). A Atividade de Inteligência tornou-se uma das maiores indústrias do mundo, empre- gando centenas de milhares de profissionais. Os grandes países criaram enormes estruturas de Inteligência, geralmente consistindo em agências secretas (RANSOM; PRINGLE, 2021). Principais órgãos de Inteligência do mundo Central Intelligence Agency – CIA Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti – KGB Military Intelligence, Section 6 – MI6 Mossad CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 16 Os sistemas de Inteligência dos Estados Unidos, da União Soviética e do Reino Unido foram usados como modelos gerais para a organização da maioria dos outros Serviços de Inteligência (RANSOM; PRINGLE, 2021). 1.2 Atividade de Inteligência e seus quatro paradigmas históricos A informação constitui um dos pilares do Estado, juntamente com a força e o direito, que restringe esta última. A Atividade de Inteligência, ao contrário dos demais aparatos coercitivos, não se fundamenta na força, e sim no conhecimento e no segredo, com o desempenho de função essencialmente informacional. Em alguns países, porém, em razão de interesses e tensões oriundas de suas relações internacionais,a atividade extrapola os limites da função informacional, atuando com intervenções como sabotagem, desinformação, propaganda, subversão e até eliminação de adversários, em um contexto de guerra não oficial- mente declarada (BRASIL, 2016). A seguir, serão apresentadas as relações dos regimes de governos com os Serviços de Inteligência, de acordo com Numeriano (2011). • No totalitarismo: Serviço de Inteligência como “paradigma policial”, que utiliza informações para oprimir os cidadãos e para conformar pen- samentos e comportamentos (exemplos: nazismo, fascismo). • No autoritarismo: Serviço de Inteligência como “paradigma repressivo”, orientado por ideologia seletiva, gera informações para coibir a ação de atores adversos ao sistema vigente (exemplos: ditaduras na América, na África). Aqui cabe uma pausa para expor um comparativo entre autoritarismo e o totalitarismo, já que impactará no exercício da Atividade de Inteligência. O autoritarismo atua para forçar o povo à apatia, à obediência passiva e à despolitização, por outro lado, o totalitarismo busca mobilizar a sociedade civil de cima para baixo, para moldá-la e impor-lhe uma obediência ativa e militante (direcionamento político partidário) em relação ao status quo, condicionada pela adesão à ideologia oficial do Estado. • Na democracia em desenvolvimento: Serviço de Inteligência como “paradigma informativo”; dada a precariedade do equilíbrio institucional, oscila entre conteúdos com vieses ideológicos e análises isentas da rea- lidade, submetendo-se formalmente a controles institucionais. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 17 • Na democracia desenvolvida: Serviço de Inteligência como “paradig- ma preditivo”; subordina-se aos princípios constitucionais e ao efetivo controle externo, e produz conhecimento preponderantemente prospec- tivo, com apoio de técnicas cientificamente embasadas e da tecnologia da informação. QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir a animação sobre as relações dos regimes de governos com os serviços de inteligência, ou acesso o link: https://youtu.be/MtrPnQTPo7M. 1.3 Histórico da Atividade de Inteligência no Brasil A seguir, serão apresentadas as fases históricas da Atividade de Inteli- gência no Brasil. Fase embrionária (1927 a 1964) A Atividade esteve inserida, de forma complementar, em conselhos de governo (de 1927 a 1946) e no Serviço Federal de Informações e Con- trainformações (SFICI) (de 1946 a 1964). Nessa fase, inicia-se a construção das primeiras estruturas governamentais voltadas para a análise de dados e para a produção de conhecimentos (BRASIL, 2020). Fonte: Brasil, 2020. Fase Embrionária (1927-1964) 1927 1934 1937 1946 1964 CDN Conselho de Defesa Nacional CSN Conselho de Segurança Nacional CSSN Conselho Superior de Segurança Nacional SFICI Serviço Federal de Informações e Contrainformações Presidentes da República Washington Luís 1926 a 1930 Getúlio Vargas 1930 a 1945 Eurico Gaspar Dutra 1946 a 1951 Getúlio Vargas 1951 a 1954 Café Filho 1954 a 1955 Juscelino Kubitschek 1956 a 1961 Jânio Quadros 1961 João Goulart 1961 a 1964 https://youtu.be/MtrPnQTPo7M CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 18 Destaca-se pelo conflito não declarado e de fortes componentes ide- ológicos e estratégicos, ocorrido entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Não sem coincidência, nas décadas de 1940 e de 1950 foram fundados os prin- cipais serviços secretos do mundo. Fase da bipolaridade (1964 a 1990) No período da Guerra Fria, em que questões ideológicas estavam em ênfase, a Atividade de Inteligência ficou focada nesse tema (BRASIL, 2020c). Em 1964, durante o regime militar, foi extinto o SFICI e criado o Serviço Nacional de Informações (SNI) (BRASIL, 2020c). O SNI foi criado em 13 de junho de 1964 e caracterizou-se por sua ligação direta ao Presidente da República e pelo enfrentamento a oponentes internos, principalmente àqueles alinhados a ideologias comunistas (BRASIL, 2016). Ilustração das bandeiras da União Soviética e dos Estados Unidos da América. Fonte: Adaptado de © [Vincent Grebenicek] / Shutterstock. Fase de transição (1990 a 1999) Com a volta do regime democrático, a Atividade de Inteligência sofre uma reavaliação e uma autocrítica para adequar sua atuação aos novos contextos governamentais (BRASIL, 2020c). Em 1990, o Presidente Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito pelo voto direto, após o regime militar, extinguiu o SNI. Assim, a Atividade de Inteligência do Brasil deixou de ser exercida por um órgão de assessoria direta ao Presidente da República e tornou-se vinculada à Secretaria da Presidência da República. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 19 Presidente Fernando Collor de Mello. Foto: Centro de Referência de Acervos Presidenciais/Arquivo Nacional. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) foi criada em 7 de dezembro de 1999, juntamente com o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), que tem a ABIN como órgão central. Símbolo da ABIN. Fonte: ABIN. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 20 1.4 Sistema Brasileiro de Inteligência “Agência de Inteligência não é uma ilha fora do contexto, habitada por profissionais desconectados com a realidade da comunidade e do continente.” (SOUZA, 2016, p. 102). O SISBIN iniciou-se com 22 órgãos e, atualmente, é composto por 48 órgãos federais, tendo a ABIN como órgão central. De acordo com a Lei nº 9.883, de 07 de dezembro de 1999, suas principais funções são “planejamento e execução das atividades de Inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.” (BRASIL, 1999). Símbolo do SISBIN. Fonte: ABIN. SAIBA MAIS Conheça a estrutura do SISBIN, disponível em: https://www.gov.br/abin/pt-br/assuntos/sisbin/composicao-do- -sisbi. O Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002, regulamentou a or- ganização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência. Di- ferentemente do que ocorria com o Sistema Nacional de Informações (SISNI), nem todos os integrantes do SISBIN são órgãos de Inteligência. Ademais, a composição do SISBIN é variável e determinada por injunções conjunturais (BRASIL, 2016, p. 25). https://www.gov.br/abin/pt-br/assuntos/sisbin https://www.gov.br/abin/pt-br/assuntos/sisbin CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 21 1.5 Instrumentos de Governança da Inteligência no Brasil Na sequência, serão abordados os principais documentos de governança estabelecidos para direcionar a Atividade de Inteligência no país. • Política Nacional de Inteligência (PNI): o Decreto nº 8.793, de 29 de junho de 2016, fixou a Política Nacional de Inteligência com objetivo de definir os parâmetros e os limites de atuação da Atividade de Inteligência e de seus executores no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência. • Estratégia Nacional de Inteligência (ENINT): o Decreto de 15 de de- zembro de 2017 aprovou a Estratégia Nacional de Inteligência para subsidiar os órgãos e as entidades da administração pública federal em seus planejamentos. “A ENINT é um documento de orientação estratégica decorrente da Política Nacional de Inteligência (PNI), fixada por meio do Decreto nº 8.793, de 29 de junho de 2016, e servirá de referência para a for- mulação do Plano Nacional de Inteligência.Ela consolida conceitos e identifica os principais desafios para a atividade de inteligência, definindo eixos estruturantes e objetivos estratégicos, de forma a criar as melhores condições para que o Brasil possa se antecipar às ameaças e aproveitar as oportunidades.” (BRASIL, 2016, p. 302). • Plano Nacional de Inteligência (Planint): foi aprovado pela Portaria nº 40, de 3 de maio de 2018, mas trata-se de um documento classificado nos termos dos incisos I, II e IX, do art. 25, do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012. “É o documento, decorrente das diretrizes de Inteligência, que orienta as ações do organismo central de Inteligência voltadas à execução da PNI e que serve de parâmetro para os organismos do SISBIN que desempenham a Atividade de Inteligência elaborarem os seus planos específicos. O Planint gera um fluxo constante de conhecimentos, fornecendo ao organismo central insumos para o atendimento dos objetivos de Inteligência.” (BRASIL, 2016). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 22 1.6 Inteligência Penitenciária e Segurança Pública No sistema prisional, está custodiada grande parte da liderança do crime organizado que, por vezes, ainda permanece atuante nas ações delitivas. PODCAST Sabe-se que transações de tráfico de drogas e de armas, bem como ordens para homicídios e para outros crimes, fluem de unidades prisionais. Desde a década de 70, facções criminosas surgem de dentro de estabelecimentos prisionais e, até a atu- alidade, continuam surgindo e se expandindo. Alianças entre facções ocorrem em prisões. Acrescenta-se ainda que presos encarcerados no Brasil se comunicam com aliados de outros países da América do Sul. Percebe-se, com isso, que as prisões são uma extensa fonte de dados de grande relevância para a Segurança Pública do país. Esses dados podem ser coletados e processados pelos próprios servidores atuantes nas prisões, já que têm contato constante com os presos, conhecen- do suas rotinas, seus vínculos, seus relacionamentos, seus comportamentos. Ainda que o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) seja in- tegrante, desde 2005, do SISBIN, sua competência legal limitava sua Atividade de Inteligência ao Sistema Penitenciário Federal, embora, de fato, sempre tivesse mantido articulações com órgãos de Inteligência Penitenciária estadual. Por meio do Decreto nº 9.662, de 1º de janeiro de 2019, foi criada a Diretoria de Inteligência Penitenciária do DEPEN, tendo entre suas competências: “Art. 36. À Diretoria de Inteligência Penitenciária compete: [...] III - planejar, coordenar, integrar, orientar e supervisionar, como agência central, a inteligência penitenciária em âmbito nacional; IV - coordenar as atividades de atualização da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária; V - subsidiar a definição do plano nacional de inteligência pe- nitenciária e da atualização da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária e sua forma de gestão, o uso dos recursos e as metas de trabalho;” (BRASIL, 2019, grifos nossos). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 23 O Sistema Penitenciário só foi incluído na Constituição Federal como órgão de Segurança Pública em 2019, quando foi criada a Polícia Penal, nos âmbitos da União, estados e Distrito Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 104, promulgada em 2 de dezembro do mesmo ano. Espera-se que, com a regulamentação das polícias penais, haja um fortalecimento dos Serviços de Inteligência e a devida integração com demais órgãos. Diante do cenário exposto, mostra-se imperioso o incremento dos Serviços de Inteligência Penitenciária, contando com recursos, capacitação técnica e a devida estrutura, de modo a viabilizar uma produção de conhecimentos úteis e oportunos às autoridades da Polícia Penal e da Administração Penitenciária, bem como às que atuam no combate ao crime organizado. Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) Antes mesmo da regulação das atividades do SISBIN, foi criado o Subsis- tema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), por meio do Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000. O SISP é composto por órgãos da União, embora seja contemplada a possibilidade de participação dos órgãos de Inteligência estaduais. As deliberações quanto à criação de normas e às atividades de Inteligên- cia de Segurança Pública permaneceram limitadas aos órgãos federais (membros permanentes do Conselho Especial). Por fim, o SISP não tem em sua composição o DEPEN e os órgãos esta- duais do sistema prisional. Tal constatação é uma lacuna gritante, pois, como será apontado na sequência, não é possível abordar Inteligência de Segurança Pública sem entender que o sistema prisional lhe é intrínseco. É urgente a revisão da composição do SISP. QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir o vídeo sobre a composição do SISP, ou acesse o link: https://youtu.be/pr5oeaxyVR4. https://youtu.be/pr5oeaxyVR4 CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 24 Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) O SUSP foi instituído pela Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018. “Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), com a finalidade de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em articulação com a sociedade.” (BRASIL, 2018, grifos nossos). Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) A mesma lei que instituiu o SUSP criou a Política Nacional de Seguran- ça Pública e Defesa Social (PNSPDS), que tem, entre outras diretrizes, a “atuação integrada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em ações de segurança pública [...]” (BRASIL, 2018). A Ativi- dade de Inteligência tem destaque entre os objetivos da PNSPDS: “Art. 6º São objetivos da PNSPDS: I - fomentar a integração em ações estratégicas e operacionais, em atividades de inteligência de segurança pública e em geren- ciamento de crises e incidentes; [...] IX - estimular o intercâmbio de informações de inteligência de segurança pública com instituições estrangeiras congêneres; X - integrar e compartilhar as informações de segurança pública, prisionais e sobre drogas;” (BRASIL, 2018). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 25 Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSP) O Decreto nº 10.822, de 28 de setembro de 2021, instituiu o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSP) como meio e instrumento para a implementar a PNSPDS. E sobre a Atividade de Inteligência, destaca-se: Ação Estratégica 8 Fortalecer a atividade de inteligência das instituições de segurança pública e defesa social, por meio da atuação integrada dos órgãos do SUSP, com vistas ao aprimoramento das ações de produção, análise, gestão e compartilhamento de dados e informações. [...] a. Promover ações com o objetivo de dotar as instituições de segurança pública com ferramentas de inteligência modernas, padronizadas e integradas para a produção de conhecimento, em conformidade com a legislação aplicável; b. Atuar na estruturação e no aperfeiçoamento das atividades de inteligência penitenciária; c. Estimular a cooperação e o intercâmbio de informa- ções de inteligência de segurança pública com instituições estrangeiras congêneres; d. Promover a criação e a estruturaçãoda atividade de inteligência de trânsito; e. Integrar os sistemas e os subsistemas de inteligência de segu- rança pública e promover o compartilhamento de tecnologias interagências; e f. Estimular a articulação e a cooperação entre o sistema de in- teligência de segurança pública com setores de inteligência da iniciativa privada, em conformidade com a legislação aplicável à proteção de dados. (BRASIL, 2021). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 26 Política Nacional de Inteligência de Segurança Pública (PNISP) O Decreto nº 10.777, de 24 de agosto de 2021, instituiu a Política Na- cional de Inteligência de Segurança Pública (PNISP) “com o objetivo de estabelecer os parâmetros e os limites de atuação da atividade de inte- ligência de segurança pública no âmbito do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública – SISP.” (BRASIL, 2021). Esse decreto estabelece, no art. 2º, que: “compete à Diretoria de Inte- ligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública a coordenação das atividades de inteligência de segurança pública no âmbito do SISP.” (BRASIL, 2021). Ao apresentar o panorama da Segurança Pública na República Federativa do Brasil, a PNISP expõe: “4.3 Apesar dos avanços no investimento e na política de segurança pública, o crime organizado se mantém por meio de suas diversas faces, principalmente com o surgimento de organizações criminosas oriundas do sistema prisional, de milícias em grandes centros urba- nos e, com a expansão da área de atuação das facções criminosas, em diferentes regiões e ambientes.” (BRASIL, 2021). Estratégia Nacional de Inteligência de Segurança Pública (ENISP) A Estratégia Nacional de Inteligência de Segurança Pública (ENISP) é um instrumento de execução da PNISP (no período entre 2021 e 2025) e, com relação ao Sistema Penitenciário, traz um ponto a ser explorado na Atividade de Inteligência: “5.1. Ameaça [...] Criminalidade organizada O fenômeno da criminalidade organizada tem abrangência signifi- cativa e projeta sua influência, direta ou indiretamente, na sociedade. Seu alcance recai sobre crimes interestaduais e transnacionais e sobre o sistema prisional, em uma dimensão fluida que contribui para o desenvolvimento de uma série de outros fenômenos criminais.” (BRASIL, 2021, grifos nossos). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 27 1.7 Atividade de Inteligência na América Latina Os Serviços de Inteligência na América Latina tiveram sua origem ou seu amadurecimento no período da Guerra Fria. Basicamente, caracte- rizavam-se pelos conceitos de defesa e de segurança. Nesse período, a Inteligência estava focada em ações, tais como: o combate ao co- munismo, a detecção de opositores aos governos da região e a contra insurgência (UGARTE, 2009). De acordo com Ugarte (2009), até 1983, enquanto perdurava a Guerra Fria, as agências de Inteligência na América Latina estavam: Na América do Sul, Argentina e Brasil foram os primeiros países que de- senvolveram seus Serviços de Inteligência. Confira no infográfico abaixo o ano de criação destes serviços, assim como os dos Estados Unidos da América e do México. Sob controle e coordenação militar. Baseadas em conceitos de segurança e de defesa com amplitude praticamente ilimitada. Fundamentalmente preocupadas com a segurança interna. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 28 Fonte: Adaptado de Curti (2015). Com o fim da Guerra Fria, o combate ao crime (fundamentalmente con- tra o crime organizado) passa ser o foco da Atividade de Inteligência na América Latina, podendo ser chamada de Inteligência criminal, formada com base em experiências americanas, inglesas, canadenses, australianas e alemãs (UGARTE, 2009). Criação dos Serviços de Inteligência Brasil Ano de criação: 1946 Serviço de Inteligência: Serviço Nacional de Informação e Contrainformação (SFICI) Argentina Ano de criação: 1946 Serviço de Inteligência: Coordenação Estatal de Informação Estados Unidos da América Ano de criação: 1947 Serviço de Inteligência: Agência Central de Inteligência (conhecida como CIA, por sua sigla em inglês) México Ano de criação: 1947 Serviço de Inteligência: Diretório Federal de Segurança Fonte: Adaptado de Curti (2015). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 29 Rios (2016) fala sobre a evolução da função de Inteligência na América Latina, citando modelos descritos por Ugarte (2009): • Inteligência civil sob controle militar, modelo formado por: “Organizações de inteligência de natureza civil sob controle militar e funções de coordenação, como o Serviço Nacional de Informações (SIN), a Secretaria de Estado de Inteligência (SIDE) Argentina, a Dire- ção Nacional de Inteligência do Chile (DINA), substituída pela Central Nacional de Informações, o Serviço Nacional de Inteligência do Peru. Em alguns casos, esses as organizações nasceram sob a égide mili- tar, como é o caso do Brasil; em outros, eles foram criados, como na Argentina, sob um governo civil, mas logo ficou sob controle militar. Esses coexistiam com organizações de inteligência militar ou das forças armadas, que, com base em conceitos de segurança e defesa de amplitude praticamente ilimitada em vigor durante o Conflito Leste-Oeste, eles se aventuraram fundamentalmente na segurança interna.” (UGARTE, 2009, p. 2, tradução nossa). • Inteligência exclusivamente militar, modelo formado por: “[…] alguns países latino-americanos – geralmente menores em ta- manho e recursos – existiram exclusivamente agências de inteligência militar com a competência ampliada já descrita, como a Diretoria de Inteligência do Estado-Maior de Defesa Nacional da Guatemala, ou o Escritório de Segurança Nacional dependente da Guarda Nacional da Nicarágua, ou quer agências de inteligência policial sob controle militar, como a Direção Nacional de Investigações hondurenhas, ou Departamento Nacional de Investigações (DENI) do Panamá.” (UGARTE, 2009, p. 2-3). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 30 • Inteligência civil com influência militar, modelo formado por: “[...] países que mantiveram a validade de seu sistema democrático durante o Conflito Leste-Oeste - embora sem poder escapar à influ- ência das ideias de segurança típicas da época – como Venezuela, Colômbia e México conviviam com agências de inteligência de natureza civil, policiais e um alto grau de politização – como, na Venezuela, a DISIP (Diretoria de Serviços de Inteligência e Prevenção) ou no Mé- xico, a Direção Federal de Segurança e a Direção Geral de Pesquisas Políticas e Sociais, antecessoras da atual CISEN.” (UGARTE, 2009, p. 3). • Em um quarto modelo, sui generis, destaca-se o caso do país da Costa Rica que: “com a sua Agência Nacional de Segurança, no âmbito do Ministério da Segurança Pública, foi provavelmente o único caso na região de atividade de inteligência – muito limitado carente de um grau signifi- cativo de militarização ou politização, durante o conflito Leste-Oeste.” (UGARTE, 2009, p. 3). Mesmo diante das evoluções identificadas nos Serviços de Inteligência latino-americanos, pode-se se dizer que ainda existem resquícios de extensão e de concentração de poderes, de controles incipientes e de uso indevido da atividade na política. Ainda, destaca-se a permanência de embaraço entre as atividades de Inteligência e de Segurança Pública, sem as devidas limitações de atuação (UGARTE, 2016). A América Latina tem o grande desafio deprofissionalizar e de despolitizar os Serviços de Inteligência, bem como trazer a distinção adequada entre Atividade de Inteligência e atividade policial (UGARTE, 2016). Por fim, é imperiosa a necessidade de se estabelecer e de se manter mecanismos adequados de controle externo da Atividade de Inteligência. UNIDADE 2 A Atividade de Inteligência Penitenciária CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 32 2. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA Veremos, a seguir, a importância de como a Atividade de Inteligência surge no ambiente prisional e como se estabelece a relação sistêmica com a Inteligência de Segurança Pública. 2.1 O Ambiente prisional e seu histórico O conceito de pena de prisão nasce na Idade Média com as penitências estabelecidas pela Igreja Católica aos monges que deveriam permanecer em suas celas meditando sobre seus erros. Com base nessa ideia, a House of Correction (Casa de Correção), considerada o primeiro estabelecimento para recolhimento de pessoas presas, foi construída em Londres, por volta de 1550. A partir do século XVIII, esse modelo se espalhou pelo mundo. “No decorrer do tempo a pena privativa de liberdade passou a ser a penalidade mais aplicada do “direito punitivo” moderno, desse modo surgiram teorias para regulamentar a sua execução, donde afloraram os sistemas penitenciários.” (BITENCOURT, 2011, p. 60). De acordo com Machado, Souza e Souza (2013), as prisões surgiram no Brasil a partir do século XIX: “No Brasil, foi a partir do século XIX que se deu início ao surgimento de prisões com celas individuais e oficinas de trabalho, bem como arquitetura própria para pena de prisão. O Código Penal de 1890 possibilitou o estabelecimento de novas modalidades de prisão, considerando que não mais haveria penas perpétuas ou coletivas, limitando-se às penas restritivas de liberdade individual, com pe- nalidade máxima de trinta anos, bem como prisão celular, reclusão, prisão com trabalho obrigatório e prisão disciplinar.” (MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013, p. 230). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 33 O sistema prisional brasileiro atual é basicamente composto pela tríade: preso, estabelecimento prisional e servidor público. Este último tem como objetivo, segundo a Lei n° 7210, 11 de julho de 1984 — Lei de Exe- cução Penal (LEP) —, efetivar as disposições de sentença ou de decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. A LEP disciplina os direitos e deveres dos presos provisórios, dos condenados e dos sem pena (presos em flagrantes), que o Estado (representado pela figura do servidor público) deverá resguardar. Por diversas questões históricas, o ambiente prisional, apesar da evolução atual, ainda se apresenta de forma insalubre para os atores do sistema prisional: policiais penais, servidores da saúde, juízes, promotores, visi- tantes e o próprio preso. De modo geral, essa insalubridade advém da superlotação das prisões; da precariedade de estabelecimentos penais antigos; da ausência do Estado na execução fiel da LEP; e, por fim, como consequências das demais, do aparecimento e do crescimento das or- ganizações criminosas que estão presentes em quase todas as prisões do Brasil. Servidor Público Preso Estabelecimento Prisional CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 34 O crescimento da população prisional, na década de 90 e início dos anos 2000, mostrou as fragilidades de um sistema que é conhecido por sua importância, mas que foi historicamente marcado pela falta de investi- mento, tanto em sua estrutura física e logística quanto na contratação, na qualificação e na valorização de seus profissionais. O resultado foi o surgimento de grupos faccionados, como o Primeiro Comando da Capital, em 1993, e de rebeliões que marcaram a história do país, como a rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, que resultou na morte de 111 presos e ficou conhecida como “massacre do Carandiru”. Em 2001, ocorreu, no estado de São Paulo, uma rebelião que envolveu simultaneamente 29 estabelecimentos prisionais. Em 2006, o mesmo estado vivenciou a maior rebelião de todas, quando presos se rebelaram simultaneamente em 73 estabelecimentos. Rebelião na penitenciária de Junqueirópolis, maio de 2006. Foto: © [Alex Silva] / Estadão Conteúdo. Fatores responsáveis pela insalubridade do sistema prisional Superlotação nos presídios Facções criminosas Ausência do Estado Violência + + CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 35 Esses fatos foram um alerta para todo o sistema nacional, a fim de que se voltasse a atenção para investimentos em infraestrutura, em recursos humanos e em Serviços de Inteligência prisional. 2.1.1 Crescimento da população carcerária Um fator importante, que impacta bastante o ambiente prisional, é a relação entre o número de presos e o número de vagas. O art. 71, da Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, estabelece que o DEPEN, subordinado ao Ministério da Justiça, é o órgão executivo da Política Penitenciária Nacional e de apoio administrativo e financeiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. É o DEPEN quem cuida do levantamento nacional das informações penitenciárias. Os dados prisionais de todas as unidades da federação eram centralizados semestralmente no antigo Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias). Atualmente, o departamento instituiu o SISDEPEN (Sistema de Informações do Departamento Pe- nitenciário Nacional) para tal função. “SISDEPEN é a plataforma de estatísticas do sistema penitenciário brasileiro que sintetiza as informações sobre os estabelecimentos penais e a população carcerária. Os dados são periodicamente atua- lizados pelos gestores das unidades prisionais desde 2004. Substituiu o Infopen Estatísticas, reformulando a metodologia utilizada, com vistas a modernizar o instrumento de coleta e ampliar o leque de informações coletadas.” (BRASIL, 2021). É possível também obter dados internacionais no site World Prision Brief (WORLD PRISION BRIEF DATA, 2022), que é um repositório de dados prisionais mundiais. A tabela a seguir mostra o número de presos no Brasil entre os anos 1906 e 2000. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 36 Fonte: Adaptado de World Prision Brief Data (2022). Entre 1906 e 2000, o Brasil teve um salto demográfico na população presa, de 3.154 passou-se para 232.755 presos. Nesses 94 anos, o número de presos no país foi multiplicado em 72 vezes. A partir do ano 2000, os registros passam a ser anuais, possibilitando estudar a dinâmica ano a ano. Segundo o portal SISDEPEN (BRASIL, 2022), em 2001 a população prisional atingiu 233.7859 presos e em Ano População Total Taxa da população prisional por 100 mil habitantes 1906 3.154 15 1934 6.212 26 1949 9.865 19 1965 23.385 28 1969 39.658 42 1973 32.573 32 1995 173.104 107 1997 198.520 119 2000 232.755 133 Salto demográfico na população presa entre os anos de 1906 e 2000 1906 3.154 6.212 9.865 23.385 39.658 32.573 173.104 198.520 232.755 25 Em m ilh ar es 50 75 100 125 150 175 200 225 1934 1949 1965 1969 1973 1995 1997 2000 CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 37 2021 o país já custodiava cerca de 679.687 presos; ou seja, nesses vinte anos, houve um crescimento geométrico anual de aproximadamente6%. Melhor explicando: a cada ano, a partir do ano 2000, o número de presos cresceu em média 6%. Esse dado é importante porque permite compará-lo ao crescimento da população brasileira. Segundo o IBGE (2001), a população brasileira, em 2001, atingia 172.385.826 habitantes, e, em 2021, atingimos 213.317.639 habitantes. Nesses vinte anos, crescemos em média exponencialmente cerca de 1%. Insta salientar que essa taxa está caindo anualmente, hoje estamos em 0,78% ao ano. A seguir, é possível visualizar o crescimento nesse período. Fonte: Adaptado de IBGE (2021). Evolução da população prisional brasileira: 2001-2021 2001 2004 2008 2012 2015 2018 2021 400 500 600 700 800 300 200 M ilh ar es Evolução da população brasileira: 2001-2021 2001 2004 2008 2012 2015 2018 2021 180 185 190 195 200 205 210 215 220 175 170 M ilh õe s CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 38 Esses dados apresentados permitem afirmar que o crescimento da população prisional no Brasil é seis vezes maior do que o crescimento da população brasileira. 2.1.2 Superlotação das prisões Esse crescimento geométrico no número de presos não acompanhou o número de vagas disponibilizadas nos sistemas estaduais. No portal do SISDEPEN (BRASIL, 2022), é possível verificar o déficit de vagas ao longo do tempo e os valores atuais. Temos 679.687 presos para 490.024 vagas, ou seja, um déficit de 189.663 vagas. O déficit de vagas, as más condições dos estabelecimentos prisionais e a ausência do Estado no interior desses ambientes, favoreceram o aparecimento e o crescimento das organizações criminosas que atuam no Brasil. Relação atual entre número de presos e vagas disponíveis dos presos sem vagas disponíveis (déficit) dos presos com vagas disponíveis 72% 28% 3 Déficit de vagas189.663 Número de vagas 490.0242 Total de presos 679.6871 CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 39 Fonte: Adaptado de IBGE (2021). 2.1.3 Organizações criminosas Inicialmente, é necessário distinguir as facções criminosas que surgiram nas prisões, supostamente, para combater a opressão aos presos, do tipo penal “organização criminosa”, previsto na lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Consideraremos facções: os “grupos”, “bandos”, “bondes”, “co- mandos”, entre outras denominações que surgiram e atuam no sistema prisional. A facção, enquanto organização criminosa, está definida como tipo penal no § 1º da lei acima referida: § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacio- nal. (BRASIL, 2013). A mais antiga e uma das maiores facções no país é o Comando Vermelho (CV), fundada na década de 1970 por presos custodiados no Instituto Penal Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Já a mais estruturada e talvez a maior em presença no Brasil e na América do Sul é o Primeiro Comando da Capital (PCC), fundada em 31 de agosto de 1993, no anexo da Casa de Custódia de Taubaté, chamada de “Piranhão”. Evolução do déficit de vagas 2000-2021 2001 2004 2008 2012 2015 2018 2021 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 100.000 50.000 - CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 40 Esses grupos, inicialmente, estabeleceram-se no tráfico de drogas, em seus respectivos estados, até iniciarem um processo de expansão pelo país nos últimos vinte anos, aproximadamente. O PCC expandiu-se para o Paraná e para o Mato Grosso do Sul, inicialmente; enquanto o CV ex- pandiu-se para o Mato Grosso e para o Amazonas. Numa segunda fase, essas facções criaram “filiais” em todos os estados brasileiros. Nessa fase, enquanto o Primeiro Comando da Capital mantinha sua marca: PCC, a sigla do Comando Vermelho aparecia ao lado da Unidade Federativa correspondente: CV-MT, CV-RO, CV-AM. Numa terceira fase, criminosos espalhados pelo país, que integravam os quadros do PCC ou do CV, possuíam o know-how dessas organizações: estrutura de funções, arrecadação para própria facção, recrutamento de novos membros e formulação de estatutos, que deveriam ser seguidos por todos os integrantes. Foi o necessário para montarem suas próprias facções locais, independentes, embora aliadas de uma ou de outra fac- ção. É nessa fase que surgem pelo país grupos semelhantes ao PCC e ao CV, a exemplo: • da Família do Norte no Amazonas – FDN. • do Sindicato do Crime no Rio Grande do Norte – SDC. • do Primeiro Grupo Catarinense – PGC. • do Primeiro Comando Paranaense – PCP. Além desses, há os “bandos”, “grupos” e “bondes”, que compõem o cenário atual do gênero “facções” no país. Atualmente, PCC e CV lutam pelo domínio da produção, da comercia- lização e das rotas para o tráfico de drogas e de armas nas regiões de fronteira que vão do sul ao norte do Brasil. O que há em comum é que toda essa logística ainda é coordenada por lideranças criminosas que se encontram no cárcere, demandando à In- teligência prisional a necessidade de estar em constante especialização e de atuar de forma integrada no próprio sistema e com outros órgãos de Segurança Pública. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 41 QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para acessar o vídeo sobre a ex- pansão das facções no Brasil, ou acesse o link: https://youtu.be/ xVt5Dc0xP1o. Na América Latina, não muito diferente do Brasil, vários grupos atuam no tráfico local e internacional de armas e drogas. Conheça a seguir, de acordo com o Insight Crime (2020), quais eram as dez principais organi- zações criminosas da América Latina em 2019. As dez principais organizações criminosas da América Latina Brasil Colômbia El Salvador México 62 5 81 107 3 9 4 Exército Nacional da Libertação (ENL) Primeiro Comando Capital (PCC) Cartel de Sinaloa Jalisco Cartel Nova Geração (CJNG) Ex-FARC Máfia Comando Vermelho (CV) MS-13 Autodefesas Gaitanistas de Colômbia (AGC) Cartel do Golfo Barrio 18 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Adaptado de Insight Crime (2020) https://youtu.be/xVt5Dc0xP1o https://youtu.be/xVt5Dc0xP1o CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 42 2.2 Surgimento da Inteligência Penitenciária Como contextualizado anteriormente, os Serviços de Inteligência, no sistema prisional, nascem mais por uma necessidade do que por um planejamento prévio. É a partir do surgimento e da expansão de organizações criminosas que assumiram o controle ilegal da população prisional que surge, ainda que de forma incipiente, a atuação da Inteli- gência prisional para: A sofisticação que as organizações criminosas atingiram exigiu do Es- tado investimento em capacitação técnica de seus servidores a fim de acompanhar e compreender a forma de agir de lideranças criminosas e seus subordinados. SAIBA MAIS Para conhecer um pouco mais sobre organizações criminosas, assista à série de vídeos “PCC: Primeiro Cartel da Capital”, dis- ponível no canal da UOL, no Youtube. O link para a primeira parte da série está disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=ULyI7Zgeut8. 2.3 Alguns aspectos legais da Inteligência Penitenciária Por ser uma atividade instituída na estrutura governamental, a Inteligência Penitenciária em nada difere de outras funções exercidas pelo poderpú- blico no que diz respeito a leis e regramentos. As normas que compõem o ordenamento jurídico brasileiro seguem um modelo piramidal, que tem em seu topo a Constituição Federal da República de 1988. Identificar, conhecer e acompanhar lideranças criminosas. Compreender seus vínculos, as formas de atuação e os perfis das lideranças criminosas. Produzir conhecimento para tomadores de decisão e em benefício da sociedade, possibilitando que atores da Segurança Pública se antecipem, neutralizando ou impedindo o cometimento de crimes. https://www.youtube.com/watch?v=ULyI7Zgeut8 https://www.youtube.com/watch?v=ULyI7Zgeut8 CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 43 Não encontramos na Constituição Brasileira nenhuma citação relacionada à Atividade de Inteligência. Entretanto, isso não diminui sua importância, nem a necessidade de um arcabouço normativo próprio, fundamentado em leis, decretos, portarias e doutrina. Ao analista, integrante da Inteligência Penitenciária, cabe compreender a estrutura na qual se dá a atividade, para que a exerça com segurança jurídica e institucional. Na Unidade 1, verificamos que a estrutura macro da Atividade de Inteli- gência no Brasil se dá no âmbito do SISBIN (instituído pela lei nº 9.883, de 07 de dezembro de 1999), tendo como coordenação do órgão central a Agência Brasileira de Inteligência. Cerca de um ano após a criação do SISBIN, pelo decreto nº 3.695 (de 21 de dezembro de 2000), é criado o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP). O SISP justifi- cou-se pela necessidade de organizar e coordenar de forma integrada a Inteligência dos órgãos que integram a Segurança Pública. Atualmente, a responsabilidade de coordenar as ações e atuar como agência central está ao cargo da Diretoria de Inteligência (DINT), da Secretaria de Ope- rações Integradas (SEOPI), e do Ministério da Justiça (conforme o artigo 31, anexo I, do decreto n° 9.662, de 1º de janeiro de 2019). Art. 31 - À Diretoria de Inteligência compete: [...] II - planejar, coordenar, integrar, orientar e supervisionar, como agência central do Subsistema de Inteligência de Segurança Públi- ca, as atividades de inteligência de segurança pública em âmbito nacional; [...] (BRASIL, 2019). O Decreto 9.662/2019, que reestruturou quadros e funções do Ministério da Justiça, também criou na estrutura do DEPEN a Diretoria de Inteligência Penitenciária (DIPEN). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 44 PODCAST A criação da Diretoria de Inteligência Penitenciária se deu pela necessidade de haver um órgão ou sistema nacional capaz atuar no fomento e integração dos Serviços de Inteligência no âmbito prisional brasileiro. Um campo próprio de atuação para a Inte- ligência. O Sistema Penitenciário ainda não havia sido alçado à condição componente da Segurança Pública. A DIPEN foi criada com a atribuição de atuar como agência central do Sistema Pe- nitenciário nacional, sem que isso significasse o distanciamento da Inteligência de Segurança Pública, mas sim a sua inserção de forma organizada e integrada nas ações de combate ao crime organizado, antevendo ameaças, coletando dados e produzindo conhecimentos úteis a partir do ambiente prisional. O artigo 36, do Anexo 1, do Decreto n° 9.662, de 1º de janeiro de 2019, define as competências da DIPEN, dentre as quais destacamos algumas: À Diretoria de Inteligência Penitenciária compete: [...] III - planejar, coordenar, integrar, orientar e supervisionar, como agência central, a inteligência penitenciária em âmbito nacional; IV - coordenar as atividades de atualização da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária; V - subsidiar a definição do plano nacional de inteligência peni- tenciária e da atualização da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária e sua forma de gestão, o uso dos recursos e as metas de trabalho; VI - promover, com os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência, o intercâmbio de dados e conhecimentos, neces- sários à tomada de decisões administrativas e operacionais por parte do Departamento Penitenciário Nacional; (BRASIL, 2019). Sobrevindo a Emenda Constitucional n° 104, de 4 de dezembro de 2019, que inseriu o Sistema Penitenciário no rol do artigo 144 da Constituição Federal, a partir da criação da Polícia Penal, a Inteligência prisional teve de direito o reconhecimento de sua condição que já ocorria de fato, a atuação conjunta com as demais instituições de Segurança Pública. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 45 Na Unidade 3 deste módulo, considerando o fortalecer da Inteligência de Segurança Pública, será abordado o papel orientador e fundamental da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária (DNIPEN): um docu- mento que tem dado uniformidade ao que é desenvolvido pelas agências estaduais, distrital e federal e que traz fundamentos, princípios, valores e características da atividade no âmbito prisional. 2.4 Perfil do Policial Penal de Inteligência A Atividade de Inteligência nada tem a ver com secretismo, ou com aquilo que se faz às escondidas: essa atividade, como qualquer outra, deve se dar à luz da legalidade, e seu caráter sigiloso não concede àquele que a exerce a liberalidade de executar o que quiser. Por ser uma atividade institucionalizada e sob o manto do poder estatal, o integrante de uma Agência de Inteligência Penitenciária (AIPEN) tem as mesmas responsabilidades que qualquer outro servidor público e atua sujeito a regras e punições administrativas, cíveis e penais. Que características podem ser consideradas essenciais para que um policial do sistema prisional possa compor os quadros de uma Agência de Inteligência Penitenciaria? Para compor o quadro de uma AIPEN, é condição primeira ter ingressado na administração pública por meio de concurso público. O segundo e mais importante passo é que a Agência tenha instituído um Processo de Recrutamento Administrativo (PRA), que possibilite selecionar a suas equipes, servidores com formação, características e peculiarida- des que atendam às necessidades do que é requerido pela Atividade de Inteligência. Frise-se que a Atividade de Inteligência requer especialização, e o vasto campo de atividades que há a sua frente impõe também que haja pro- fissionais com as mais diferentes habilidades e capacidades. Entretanto, o Processo de Recrutamento Administrativo, de acordo com a ABIN, fundamenta-se por meio de requisitos básicos àqueles que ingressem na atividade. São eles: CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 46 Possuir valores éticos — valores como empatia e respeito às pessoas, tomar as melhores ações em respeito ao próximo. Conduta ilibada — comportamento de quem anda de acordo com a lei. Idoneidade moral — ter uma reputação honrada em sua trajetória de vida. Lealdade — a pessoa digna de fé. Discrição — qualidade de agir sem chamar a atenção. Mobilidade — habilidade de mudar-se com a necessidade que se requer. Disciplina — estar sujeito às regras. Sociabilidade — capacidade de associar-se a grupos sociais. Capacidade de adaptação — habilidade de moldar-se a novas situações. Objetividade — agir com praticidade, sem divagações, de forma direta. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 47 Fonte: Adaptado de Brasil (2020). 2.5 Agência Central de Inteligência Penitenciária Toda produção de Inteligência visa, ao final, subsidiar a autoridade máxima em seu poder de tomar decisões estratégicas. Cabeà Agência Central a responsabilidade de prestar essa assessoria após um preciso processo de análise dos dados e dos conhecimentos que convergem das agências regionais e locais. Também cumpre à Agência Central: • fomentar o desenvolvimento da atividade. • organizar, planejar e coordenar a elaboração de diretrizes no campo de atuação das agências regionais. • promover o fluxo de troca de informações. • em especial, monitorar eventos de interesse da Segurança Pública e de governos. Imparcialidade — capacidade de atuar com isenção. Percepção da realidade — capacidade de usar os sentidos para perceber o real. Honestidade — atributo da pessoa proba, honrada. Planejamento — habilidade de perceber, avaliar e organizar ou construir uma diretriz. Responsabilidade — agir com comprometimento e respeito aos regramentos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 48 Antes da Emenda Constitucional n° 104, de 4 de dezembro de 2019, como vimos, a atividade penitenciária não compunha diretamente o SISP. Dois eventos, entretanto, foram marcos importantes para a Inteligência Penitenciária brasileira em momento anterior à mudança constitucional: a publicação da primeira Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária (DNIPEN), em 2013; e a criação da Diretoria de Inteligência Penitenciária (DIPEN), em 2019. Assim, como primeiro elemento estruturador da Atividade de Inteligência Penitenciária, estabeleceu-se a DNIPEN como um documento doutrinário e metodológico próprio para nortear a linguagem, o processo de análise e a confecção dos documentos produzidos no âmbito das Agências de Inteligência. Nas palavras de Roberto Ramos Garcia Batista (2021): “A Dnipen é uma das alternativas estatais para orientar os mecanismos de inteligência penitenciária, a junção da contribuição das institui- ções públicas de segurança e jurisdicional podem trazer um auxílio relevante para melhorar todo o funcionamento do sistema prisional dificultando a ação do crime organizado.” (BATISTA, 2021, p. 49). O segundo fato que se considera relevante para o fortalecimento e para o desenvolvimento da Atividade de Inteligência Penitenciária brasileira foi a criação da DIPEN, que, servindo como Agência Central, integra, fomenta e promove o avanço das atividades de Inteligência. Sob responsabilidade dessa Diretoria, o DEPEN executa duas importantes políticas estratégicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública: o SISDEPEN e a RENIPEN, Rede Nacional de Inteligência Penitenciária, que congrega 26 agências estaduais, Distrito Federal e também a do Sistema Penitenciário Federal. Na estrutura da DIPEN, foram criadas cinco divisões regionais a fim de proporcionar uma maior proximidade com a realidade das agências es- taduais e promover uma cultura colaborativa entre servidores, otimizar o fluxo de dados, integração e fortalecimento das diferentes AIPENs com o intercâmbio de conhecimentos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 49 Dada a relevante preocupação com o avanço das organizações crimino- sas na América Latina e na busca de internacionalização da Atividade de Inteligência prisional, o DEPEN, por meio da DIPEN, passou a integrar os programas EL PacCTO (Europe Latin America Programme of Assistance against Transnational Organized Crime) e REDCOPEN (Rede de Coope- ração Penitenciária do Mercosul), entre outros; promovendo a integração entre agências de Inteligência Penitenciária do Brasil e com países da América Latina. O EL PAcCTO é um programa de cooperação internacional, financiado pela União Europeia, que objetiva contribuir para a segurança e para a justiça na América Latina. SAIBA MAIS Conheça mais detalhes sobre o EL PAcCTO na página disponível em: https://www.elpaccto.eu/pt/sobre-o-el-paccto/o-que-e-o- -el-paccto/. Em relação à REDCOPEN, da qual o DEPEN é integrante desde maio de 2019, seu objetivo é facilitar o intercâmbio seguro de dados e de informações penitenciárias, para prevenir que presos deem ordens para crimes de dentro de estabelecimentos prisionais e para combater as organizações criminosas e a criminalidade transnacional. O MERCOSUL é o Mercado Comum do Sul, organização intergovernamental criada por meio do Tratado de Assunção em 26 de março de 1991 e que fomentou, inicialmente, a integração econômica de seus quatro países fundadores: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Atualmente, para além dos aspectos econômicos, o MERCOSUL também busca intercâmbios que buscam enfrentar a criminalidade transnacional na região. https://www.elpaccto.eu/pt/sobre-o-el-paccto/o-que-e-o-el-paccto/ https://www.elpaccto.eu/pt/sobre-o-el-paccto/o-que-e-o-el-paccto/ UNIDADE 3 Fundamentos doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 51 3. FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA O que faz com que uma atividade seja organizada, eficiente e apresente resultados pertinentes? Um importante documento serve como farol para isso. Veremos a seguir. 3.1 Fundamentos históricos e a Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária no Brasil – a DNIPEN Para que uma atividade seja minimamente organizada ou instituciona- lizada, é necessário que ela seja regida e organizada por um conjunto de diretrizes. É assim que se justifica a importância e a necessidade de uma doutrina. Doutrina é um conjunto coerente e basilar de ideias transmitidas e que fazem parte de um sistema, como o sistema filosófico, o religioso, o político etc. Assim, diferente de um manual que explica e orienta quanto ao uso ou à forma de fazer alguma coisa ou, ainda, indica as noções básicas de um assunto, a doutrina é: “o conjunto de conceitos, características, princípios, valores, classifi- cações, normas, métodos, medidas e procedimentos, que orienta e disciplina a atividade de Inteligência [...].” (RIO DE JANEIRO, 2005 apud ODAWARA, 2018). Nesse contexto, a Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária (DNIPEN) nasce por meio da Portaria n° 125, de 06 de maio de 2013, do Ministério da Justiça, com a classificação no grau de sigilo “reserva- da”. Em 2020, no dia 06 de março, por meio da Portaria n° 99/2020, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, é instituída a segunda DNI- PEN brasileira, resultado de um trabalho conjunto e que buscou a sua atualização e modernização. O Professor ODAWARA (2018) menciona que a primeira doutrina de Inteligência de Segurança Pública do país, que serviu de norte para as CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 52 doutrinas que se seguiram, inclusive a DNIPEN, foi a Doutrina de Inteligência de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (DISPERJ), de 2005. A professora Torres (2020) escreve que: “A DNIPEN surge como resultado de três articulações do Depen, quais sejam: diálogo com os representantes dos Organismos de Inteligência Penitenciária; realização do I Encontro Nacional dos Chefes de Orga- nismos de Inteligência Penitenciária, no ano de 2012; e as reuniões do Grupo de Trabalho para elaboração da Doutrina Nacional de Inteli- gência Penitenciária, em março de 2013.” (TORRES, 2020, p. 32-33). É, a partir desse período, conforme analisa Torres (2020), que a Inte- ligência Penitenciária se desenvolve de maneira nacional, centralizada e com método próprio advindo da DNIPEN. Um dos fundamentos para esse êxito foi a educação: a promoção e o fomento de cursos de Inte- ligência em todos os estados do Brasil. Dessa forma, observa-se como educar foi fundamental; e como o desenvolvimentode um método para trabalhar (consolidado em uma doutrina) foi ainda mais fundamental. O professor Odawara (2018), citando o coronel do Exército Brasileiro Romeu Antonio Ferreira, escreve que uma doutrina deve ser uma trilha, e não um trilho. Odawara continua e completa que o Coronel Romeu Antonio Ferreira quer dizer que o conjunto da Doutrina deve ser flexível o suficiente para se adaptar a novos contextos e a novas realidades, isso seria inviável se o conjunto fosse hermético e rígido, tal como um trilho. Dessa forma, a trilha proporcionaria a dinâmica para o cami- nho, a permitir contornar obstáculos e se amoldar às necessidades, sem, contudo, perder de vista as finalidades públicas que devem ser atingidas pelo serviço de Inteligência (ODAWARA, 2018). QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir a animação sobre doutrina, ou acesse o link: https://youtu.be/LxITs6FO4zY. https://youtu.be/LxITs6FO4zY CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 53 Em 2013, observando um cenário que vinha se construindo no Brasil há mais de três décadas — de crescimento e de desenvolvimento das fac- ções criminosas, cada vez mais organizadas e com conexões na América Latina, fortalecendo as ações de tráfico de drogas e armas —, um Grupo de Trabalho reuniu-se com o objetivo de construir uma doutrina a fim instrumentalizar a Atividade de Inteligência Penitenciária no Brasil. Desse modo, pensando de maneira estratégica e gerindo os riscos, observou-se a necessidade de operacionalizar e de uniformizar os trabalhos das Inteligências Penais do Brasil. O primeiro passo foi a apresentação da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária, por meio da qual buscou-se “um salto qualitativo e confiável no asses- soramento das decisões governamentais” (BRASIL, 2013). A Doutrina Nacional tinha como objetivo subsidiar “o planejamento de políticas públicas em defesa da sociedade e, especialmente, na materialização da Inteligência Penitenciária como instrumento colaborativo no combate ao crime organizado.” (BRASIL, 2013). A apresentação da portaria DNIPEN, de 6 de maio de 2013, fundamenta ainda que a Doutrina: “[...] configura-se como um modelo orientador à implementação e funcionamento das Agências de Inteligência Penitenciária, a fim de estabelecer sua regulamentação e indicação da obrigatoriedade de obediência às diretrizes dela emanadas.” (BRASIL, 2013). A Doutrina de 2013 reforça ainda a importância da integração: “sua característica principal é a integração das Agências de Inteligência [...]” (BRASIL, 2013). Integração confirmada com a promulgação do Decreto n° 9.662, de 1º de janeiro de 2019, que criou a Diretoria de Inteligência Penitenciária no âmbito do DEPEN, com a atribuição precípua de ser a Agência Central da Inteligência Penitenciária Nacional, fomentando o desenvolvimento e o aprimoramento da atividade. E, nesse sentido, a fim de que a Inteligência Penitenciária seja organi- zada racionalmente, há a necessidade de adotar um documento para padronizar, agregar, comunicar e organizar a atividade (BRASIL, 2016). Portanto, pode-se entender que uma doutrina é normativa, unifor- mizadora e sistematizadora (BRASIL, 2016). Doutrina serve como um verdadeiro farol, tendo em vista o que nela está contido. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 54 Assim, a DNIPEN nasceu para servir como mais uma arma no en- frentamento às organizações criminosas; maximizando, dessa forma, os resultados obtidos pelas Agências de Inteligência e melhor assesso- rando o tomador de decisão. Como vimos, o tomador de decisão é o gestor que tem a ne- cessidade de conhecer o produto da atividade da Agência de Inteligência, ou seja, a necessidade de conhecer um Relatório de Inteligência (conhecimento). Com isso, o gestor (secretário, diretor etc.) estará melhor assessorado para decidir de forma mais assertiva acerca de um evento. 3.2 Doutrinas de Inteligência na América Latina As Atividades de Inteligência dos países da América Latina acompanham, basicamente, a história recente da Guerra Fria, em que existiram as ten- sões ideológicas e a marcada bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética, como vimos na Unidade 1. Na América Latina, em diversos países, foram instaurados regimes mili- tares que perduraram longo anos e, após, durante a redemocratização, os Organismos de Inteligência foram marginalizados. O professor Marcel Conteúdos da doutrina métodos princípios normas conceitos valores características finalidades da atividade fundamentos CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 55 Carrijo de Oliveira escreve que o desinteresse político para uma valori- zação da Atividade de Inteligência seria resultado de uma: “estigmatização da inteligência na Argentina e no Brasil, vistos no momento da redemocratização como instrumentos da repressão política que vigorou durante o regime militar.” (OLIVEIRA, 2010, p. 19). Essa ideia aplica-se, também, ao Chile, ao Uruguai, à Bolívia e aos outros países latino-americanos: No Brasil, foi tardia a instituição do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin): em 1999, por meio da Lei 9.883, de 07 de dezembro. Este é o principal marco da história da Inteligência recente do país, como vimos na primeira unidade. O SISBIN visa, em suma, integrar as ações de planejamento à execução das atividades de Inteligência do país. Na Argentina, um importante marco legal foi a Lei n° 25.520, de 27 de novembro de 2001, que criou a Lei de Inteligência Nacional, na qual foram lançadas as bases jurídicas, orgânicas e funcionais da atividade no país. E, em 03 de março de 2015, criou- se a Agência Federal de Inteligência, por meio da Lei n° 27.126, de 03 de março de 2015. No mesmo ano, em 2015, no dia 07 de julho, por meio do Decreto n° 1.311, de 06 de julho de 2015, é aprovada a Nova Doutrina de Inteligência Nacional Argentina, utilizada, inclusive, no Sistema Penitenciário desse país. Basicamente, a Nova Doutrina argentina visa “estabelecer um corpo doutrinário tendente a lançar as bases de um profundo processo de reforma e modernização do Sistema de Inteligência Nacional” (ARGENTINA, 2015, p. 01). A Nova Doutrina é ensinada nacionalmente por meio da Escola Nacional de Inteligência (Escuela Nacional de Inteligencia). No Paraguai, a Lei n° 5241, de 2014, criou o Sistema Nacional de Inteligência, que atua também no Sistema Penitenciário. O Decreto n° 2812/14 regulamentou a lei. Na Bolívia, também encontramos a Dirección de Inteligencia del Estado Plurinacional. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 56 Embora, em alguns países, ainda não se tenham Doutrinas de Inteligência civis de Segurança Pública instituídas, é bastante comum encontrá-las nas atividades militares de todos os países. Mesmo assim, em que pese os países não terem as doutrinas, as bases com princípios, valores, convicções e filosofias são elementos que permeiam as atividades de Inteligência, e cuja regulamentação se dá por cada agência nacional. Por fim, observa-se que os países do Mercosul estão unindo esforços no sentido de possibilitar cooperações internacionais, especialmente para conseguirem enfrentar o crime organizado, que é um inimigo co- mum a todas as nações da região. Nesse sentido, Peter Gill escreve que “tem sido dada grande ênfase à necessidade de cooperação dos serviços de inteligência entre os diversos países da América Latina” (GILL, 2012, p. 112), especialmente após o desastredas Torres Gêmeas, ocorrido nos Estados Unidos da América, o “11 de setembro”. O professor continua e escreve sobre a importância da integração das Inteligências dos países latino-americanos: No Chile, por meio da Lei n° 19974, de 02 de outubro de 2004, foi criada a Agência Nacional de Inteligência (ANI) que deu continuidade às atividades da extinta DISPI (Dirección de Seguridad Pública e Informaciones). A ANI foi o primeiro serviço de Inteligência civil do Chile. Além de regulamentar toda a Atividade de Inteligência no país, também controla as bases doutrinárias do trabalho de Inteligência chilena. Na Colômbia, em 2011, foi criada a Direção Nacional de Inteligência, em substituição ao antigo Departamento Administrativo de Segurança. No Uruguai, encontramos a Direção Nacional de Inteligência, dentro do Ministério do Interior, que compõe uma das especializações da polícia do país, conforme consta na Lei Orgânica Policial. No Peru, encontramos a Direção Nacional de Inteligência (DINI), criada em 04 de janeiro de 2006, por meio da Lei n° 28.664. Nessa mesma lei, instituiu-se o Sistema de Inteligência Nacional (SINA), a exemplo do SISBIN no Brasil. A DINI extinguiu o Conselho Nacional de Inteligência (CNI). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 57 “A integração regional entre Argentina, Brasil e Chile também reduziu a influência do velho “modelo de guerra” do discurso de segurança nacional, e os países do MERCOSUL, além de outros, agora estão cada vez mais envolvidos em trocas de inteligência em relação ao terrorismo, tráfico de armas e outras questões de fronteiras.” (GILL, 2012, p. 107). 3.3 Princípios e características que orientam a Atividade de Inteligência Neste ponto da leitura, iremos analisar o que são princípios e o que são as características, dentro da Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária, a DNIPEN. É indispensável, para iniciarmos, relembrar o que é cada um: • Princípios são aquelas ideias e definições que vêm antes, não podem ser deduzidas de nenhuma outra; ou seja, são necessariamente as ideias iniciais. Um princípio é, em si, a ideia primeira. Também, em uma defi- nição mais ampla, princípio é aquilo que serve de base, de fundamento, e que contém as diretrizes de uma atividade; vale dizer: a essência e a razão do que é a Atividade de Inteligência Penitenciária, são seus pilares e alicerces e definem o seu caminho. • Características são os aspectos individuais, particulares e, como a própria palavra nos traz, característicos da Atividade de Inteligência. São, portanto, os atributos e as qualidades específicas da atividade; ou seja, são as particularidades que fazem com que a Atividade de Inteligência seja, de fato, uma atividade de Inteligência. Agora, vamos analisar alguns princípios da Atividade de Inteligência. Como referência, seguiremos a DNIPEN, de 2013, e a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP) de 2009. A Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública de 2009 nos ensina, sobre os princípios, que: Amplitude: consiste em alcançar os mais completos resultados possíveis nos trabalhos desenvolvidos. Interação: implica estabelecer ou adensar relações sistêmicas de cooperação, visando otimizar esforços para a consecução dos objetivos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 58 Fonte: Adaptado de Brasil (2009). Por sua vez, a Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária de 2013 nos traz os seguintes conceitos: Fonte: Adaptado de Brasil (2013). Objetividade: visa cumprir as funções da Atividade de Inteligência Penitenciária de forma organizada, direta e completa, planejando e executando ações de acordo com objetivos previamente definidos. Oportunidade: objetiva a produção de conhecimentos em prazo que permita seu aproveitamento. Permanência: visa proporcionar um fluxo constante de dados e de conhecimentos. Sigilo: proporciona à atividade de IPEN o espaço e os caminhos necessários para atuar no universo antagônico e obter os dados protegidos, com a imprescindível preservação (salvaguarda) do órgão e de seus integrantes, contra pressões e ameaças. Além disso, o sigilo é a condição básica para evitar a divulgação de conhecimentos, informações e dados que possam colocar em risco a segurança da sociedade e/ou do Estado, bem como afetar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem de pessoas e/ou Instituições. Controle: impõe que, na atividade de IPEN, sejam evitados erros na condução das ações causados por vazamentos de documentos e/ ou do conhecimento, por desvios de conduta ou por procedimentos amadorísticos. Rígidas normas de controle deverão ser implantadas, a fim de que se permita detectar e minimizar ou corrigir os desvios observados. Simplicidade: orienta sua atividade de forma clara e concisa, planejando e executando ações com o mínimo de custos e riscos. Imparcialidade: norteia a atividade de modo a ser isenta de ideias preconcebidas e/ou tendenciosas, subjetivismos e distorções. Compartimentação: restringe o acesso ao conhecimento sigiloso somente àqueles que tenham a real necessidade de o conhecer, independentemente da hierarquia, a fim de evitar riscos e comprometimentos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 59 Por fim, é relevante lembrar que a Política Nacional de Inteligência de Segurança Pública (PNISP), (Decreto n° 10777, de 24 de agosto de 2021), é uma importante norma que direciona a Atividade de Inteligência de Segurança Pública nacionalmente (inclusive do Sistema Penitenciário) e traz, em seu item 2.1, que a Inteligência deve ser desenvolvida em obediência à Constituição Federal e às leis. Deve, inclusive, guiar-se pela estrita obediência ao ordenamento jurídico brasileiro, pautada pela fiel observância aos princípios, aos direitos e às garantias fundamentais ex- pressos na Constituição Federal, em prol da Segurança Pública, do bem comum e da defesa dos interesses da sociedade e do Estado Democrá- tico de Direito. De igual maneira, a Política Nacional de Inteligência (PNI) (Decreto 8793, de 29 de junho de 2016), conceituada como documento de mais alto nível de orientação da Atividade de Inteligência no país, reforça o mesmo conceito. Vamos agora analisar algumas características contidas na DNIPEN: Produção de conhecimento: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que a qualifica como uma Atividade de Inteligência, na medida em coleta e busca dados e, por meio de metodologia específica, transforma-os em conhecimento preciso, com a finalidade de assessorar os usuários no processo decisório. Verdade com significado: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que a torna uma produtora de conhecimentos precisos, claros e imparciais, de tal modo que consiga expressar as intenções, óbvias ou subentendidas, das pessoas envolvidas, ou mesmo, as possíveis ou prováveis consequências dos fatos relatados (significa buscar e registar no relatório o que de fato aconteceu. Nem sempre é possível, claro; porém, quanto mais próximo à realidade, melhor, pois com mais qualidade estará assessorado o tomador de decisão). Busca de dados: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que é a capacidade de obter dados não disponíveis e protegidos, em um universo antagônico, normalmente protegido (por exemplo, informação acerca dos planos delituosos de uma organização criminosa e que estejam sob a guarda de um determinado grupo). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 60 Fonte: Adaptado de Brasil (2013). Assim, essascaracterísticas são os aspectos distintivos e as particulari- dades que identificam e qualificam a Inteligência Penitenciária como tal; portanto, são imprescindíveis para defini-la ou conceituá-la. Assessoria: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que a qualifica como um órgão de assessoramento, produzindo conhecimentos para o processo decisório e para auxiliar as polícias penais em suas atividades (é confeccionar, produzir um Relatório de Inteligência e assessorar, informar o tomador de decisão acerca de um evento de relevância à instituição). Abrangência: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que, em razão dos métodos peculiares, permite o emprego da atividade em qualquer campo do conhecimento que seja de interesse da Atividade de Inteligência Penitenciária. Ações especializadas: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que, em face de metodologia, técnicas e terminologia próprias e padronizadas, exige dos seus integrantes formação acadêmica permanente, complementada por treinamento e experiência (ações de capacitação). Iniciativa: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que induz a uma produção de conhecimentos antecipados e a uma atitude proativa e não somente reativa. Voluntariamente, realizar os trabalhos dentro de uma Agência de Inteligência). Dinâmica: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que possibilita adequar-se aos métodos, conceitos e processos e às técnicas e novas tecnologias. Segurança: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que tem o intuito de garantir a sua existência, protegida de ameaças; visando, principalmente, a integridade dos servidores que trabalham na Agência de Inteligência. Economia de meios: característica da Atividade de Inteligência Penitenciária que orienta para produção de conhecimentos objetivos, precisos e oportunos; possibilitando otimizar os meios e proporcionar a economia de recursos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 61 3.4 Metodologia da Produção do Conhecimento: estados da mente e ciclo da produção do conhecimento Sherman Kent, um importante doutrinador norte-americano da área de Inteligência, da década de 1940, em seu livro “Informações Estratégicas”, escreveu que Inteligência significa conhecimento. E “conhecimento é po- der” (HOBBES, 2003), como já havia escrito o filósofo Thomas Hobbes, no século XVII em sua obra “Leviatã”. Aqui no Brasil a Política Nacional de Inteligência (PNI) (Decreto n° 8793, de 29 de junho de 2016) traz diretrizes acerca da atuação das agências de Inteligência Penitenciária, especialmente no sentido de oportuna e metodologicamente informar o tomador de decisão, ou seja, a autoridade, acerca de situações que possam resultar em ameaças ou em riscos aos interesses da sociedade e do Estado. A PNI ainda informa que a Ativi- dade de Inteligência deve permitir que o Estado, de forma antecipada, mobilize os esforços necessários para fazer frente às adversidades futuras e para identificar oportunidades à ação governamental (BRASIL, 2016). Nesse sentido, para assessorarmos os nossos tomadores de decisão, precisamos apresentar a eles um documento de Inteligência, ou seja, um conhecimento. Para que isso ocorra com a maior eficiência pos- sível, utilizamos a Doutrina, pois nela consta a Metodologia da Pro- dução do Conhecimento (MPC), ou, ainda, o Ciclo da Produção do Conhecimento (CPC). Como vimos, o dado é qualquer item ainda não processado por um ana- lista de Inteligência, ou seja, pode ser um “salve” não analisado, um bilhete de interno caído no chão, uma gravação ou uma fotografia ainda bruta, ou seja, não analisada, não avaliada e não processada. Uma vez processado por um analista, o dado passa a integrar um Conhecimento (Relatório), e assim passa a ser chamado. QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir o vídeo sobre a Política Nacional de Inteligência no Brasil, ou acesse o link: https://youtu.be/CwKH- daGgBGM. https://youtu.be/CwKHdaGgBGM https://youtu.be/CwKHdaGgBGM CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 62 A Metodologia de Produção de Conhecimento é o processo formal e regular, dividido em um sentido amplo, basicamente, em uma grande etapa da coleta dos dados e na fase do processamento deles, no qual o conhecimento produzido é disponibilizado aos usuários (tomadores de decisão). Assim, como ensina a DNIPEN: “O resultado deste conjunto de ações sistemáticas é um conheci- mento, materializado em documentos de inteligência, atendidas as peculiaridades de sua finalidade.” (BRASIL, 2013). Dentro de uma perspectiva Doutrinária, metodologicamente, a MPC é composta por quatro fases: o planejamento, a reunião de dados, o processamento e a utilização. Ou seja, a confecção de um documento de Inteligência caminha por essas quatro fases. Vamos, de maneira es- quemática, vê-las a seguir. Fases da Metodologia da Produção do Conhecimento Fase Definição O que se faz? Planejamento Dentro de uma lógica e metodologia, são organizadas as etapas do trabalho. É o momento de se estabelecer o objetivo ou as necessidades, os prazos, as prioridades e a cronologia, definindo os parâmetros e as técnicas a serem utilizados, partindo-se dos procedimentos mais simples para os mais complexos. Reunião de Dados Momento em que se obtém, por meio de ações de Inteligência, dentro de uma metodologia, os dados e/ou os conhecimentos necessários. A Agência de Inteligência pode, nesse momento, realizar Operações de Inteligência para buscar dados (como veremos a seguir). Ou, ainda, coletar os dados para a confecção do Relatório. É, em suma, deixar todo o material preparado “em cima da mesa”, para iniciar os trabalhos de processamento. Processamento Momento em que o conhecimento é produzido. Trata-se do momento intelectual em que o analista percorre algumas etapas metodológicas a fim de potencializar o seu trabalho. O analista avalia os dados recebidos. Após, os analisa. Feito isso, integra esses dados, momento em que monta um conjunto coerente com esse material. Por fim, os interpreta, momento em que esclarece o significado de todo o material (dados) e os prepara para a confecção final do Relatório. Utilização Momento em que o conhecimento produzido será formalizado em um documento de Inteligência, difundido para os usuários e arquivado. Fase final da MPC. O Relatório (conhecimento) está feito e é apresentado ao tomador de decisão. Após, é devidamente arquivado e acondicionado. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 63 Assim, quando falamos em MPC, um importante conceito surge: os Es- tados da Mente. E quando estamos falando deles [Estados da Mente], estamos falando da concordância do conteúdo do pensamento (sujeito) com o fato (objeto). Ou seja, o que estou vendo corresponde com o fato? Tenho certeza de qual é a fruta que estou vendo na fotografia? Foto: © [Tim UR] / Shutterstock. Portanto, quando falamos de concordância de um fato com a nossa mente, estamos falando sobre o conceito de verdade. A DNIPEN nos ensina que a: “verdade significativa, imparcial, oportuna e bem apresentada é a aspiração que norteia o exercício da atividade de inteligência peni- tenciária.” (DNIPEN, 2013). Assim, todos nós devemos nos atentar contra a ilusão da verdade. O contrário de verdade, no sentido de exatidão, é erro. É equivocada- mente apreciar o fato. Normalmente é “a ilusão da evidência que conduz ao erro” (BRASIL, 2016). Dessa forma, em relação à verdade, a mente humana pode se encontrar em quatro diferentes estados, que veremosa seguir. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 64 Estados da mente humana em relação à verdade Para exemplificar o estado de ignorância, podemos pensar no seguinte exercício. Observe a imagem abaixo: o que há do outro lado do muro? Para essa pergunta, minha mente está em estado de ignorância: tenho 0% de percepção dos fatos que existem do outro lado. Foto: © [Peter Jesche] / Shutterstock. Estado Situação da mente Percentual de proximidade perante a verdade Exemplo Certeza Acatamento integral, pela mente, do fato de que ela vê por meio dos órgãos dos olhos. 100% Como na foto acima: Tenho certeza de que estou vendo um cacho de uvas. Opinião A mente se define. por um objeto, considerando a possibilidade de um equívoco. Utiliza-se de indicadores de probabilidades (muito provavelmente, muito possivelmente). Mais que 50% A mente humana vê um bilhete de um interno, tem “quase certeza” que a caligrafia é do “A”, porém considera a possibilidade, menos provável de ser de “B”. Dúvida A mente está equilibrada e percebe que, nesse caso, não é possível ter 100% de certeza quanto às imagens que vê, portanto, há razões para negar ou aceitar as imagens. Por meio de indicadores de probabilidade (possivelmente, provavelmente) informo que o que vejo pode ou não pode ser. 50% Quando vejo uma lhama, não posso descartar a possibilidade de ser uma alpaca, pois não entendo sobre animais andinos. Idem sobre um camaleão e iguana: se vejo o animal, pode ser um ou outro, igualmente. Ignorância A mente encontra-se privada de qualquer imagem sobre uma realidade específica. 0% A mente nada vê. É um caso, inclusive, que não é possível trabalhar: não é possível confeccionar um Relatório de Inteligência em estado de ignorância, sem nada saber. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 65 Outro importante conceito dentro da MPC é o de Trabalhos Intelectuais. A nossa mente, a fim de conhecer fatos ou situações, pode realizar três Trabalhos Intelectuais: ideias, juízos e raciocínios. Definições dos Trabalhos Intelectuais Vejamos agora um exemplo prático relacionado aos diferentes Trabalhos Intelectuais. Para iniciar, por favor imagine um carro. Se falo para imaginar um carro, há a possibilidade de imaginarmos qual- quer um: novo, antigo, esportivo etc. (foto à esquerda). Isso é conceber a ideia “carro”, sem qualificá-lo. Agora, vamos qualificar o carro (vamos formular um juízo): pensemos em um carro antigo, ou seja, há um juízo aqui que decorre de duas ideias: carro e antigo (foto à direita). E como poderíamos elaborar um raciocínio acerca disso? A escrita de um Relatório de Inteligência comunicando ao tomador de decisão que um determinado traficante possui um carro antigo, por exemplo. Foto: © [gazanfer] / Shutterstock. Foto: © [Andre Nitsievsky] / Shutterstock. Trabalho Intelectual Definição Exemplo Conceber ideias Concepção, na mente, da imagem de determinado objeto. Não o qualifica. O mero ato de ver algo e dar o nome: é ver uma caneta e defini-la como “caneta”. Formular juízos Operação pela qual a mente estabelece uma relação entre ideias. Conceber a ideia de uma caneta e a outra ideia de um papel. A partir disso, formular um juízo de um bilhete: feito de uma ideia de uma caneta mais um papel. Elaborar raciocínios Operação pela qual a mente, a partir de dois ou mais juízos já conhecidos, alcança outro que deriva logicamente. Juntar dois juízos formulados (bilhete, gravação de áudio, fotografia etc.) e, por meio de lógica e metodologia, confeccionar um Relatório de Inteligência. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 66 3.5 Tipos de conhecimento Como vimos, anteriormente, Conhecimento é a informação contida em um Relatório de Inteligência (também chamado de RELINT). Por isso, é correto dizer, por exemplo: “conforme conhecimento constante no Relatório de Inteligência”. Bem, agora vamos analisar os tipos de conhecimento no sentido de espécies de relatórios que poderão ser confeccionados. As doutrinas, inclusive a DNIPEN, preveem quatro tipos de Relatórios de Inteligência: Informe, Informação, Apreciação e Estimativa. Eles se diferenciam entre si, considerando: o estado da mente frente à verdade, que, como vimos acima, pode ser de certeza, opinião, dúvida ou ignorância; os diferentes graus de complexidade do trabalho intelec- tual necessário à produção do conhecimento: ideia, juízo ou raciocínio; e, por fim, o tempo da situação: passado, presente ou futuro. Tipos de Relatório de Inteligência Tipo Relatório Trabalho Intelectual Estado da Mente Tempo Comentário Informe Juízo Certeza Opinião Dúvida Passado ou Presente Nada mais que uma narração de um evento. É um bilhete, por exemplo, coletado que se transforma em um Relatório de Inteligência do tipo Informe, sem maiores trabalhos intelectuais. Informação Raciocínio Certeza Passado ou Presente É um Relatório de Inteligência do tipo Informação, que contém apenas certeza. Por ser raciocínio, exige um trabalho mental mais apurado e um conhecimento da metodologia. Ocorre quando se juntam dois dados: 1) receber um “salve” pelo WhatsApp; 2) telefonar para a Agência de Inteligência e confirmar a procedência. O resultado será uma Informação, não será uma mera narração do conteúdo do “salve”, visto que haverá uma eventual autenticação do material. Apreciação Raciocínio Opinião Passado ou Presente (admite futuro próximo) Junto com a Informação, é o tipo de Relatório mais comumente confeccionado. O analista elabora um raciocínio mais apurado e pode avançar para um futuro próximo. E por ser impossível ter certeza do futuro, trata-se apenas do estado da mente “opinião”. Estimativa Raciocínio Opinião Evolução futura Expressa estado de opinião sobre a evolução futura de um fato ou de uma situação. Documento complexo de alto nível de assessoria. Requer completo conhecimento da metodologia própria. Ocorre, por exemplo, quando se estima o cenário das facções criminosas no Mercosul daqui a cinco anos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 67 Portanto, vimos aqui na Unidade 3 como a Doutrina Nacional de In- teligência Penitenciária é importante na condução dos trabalhos das AIPEN e, especificamente, nos trazendo a Metodologia de Produção do Conhecimento, fazendo com que consigamos elaborar um Relatório de Inteligência (um conhecimento) bem apresentado, oportuno, objetivo e que possa bem assessorar o tomador de decisão, objetivo maior da Inteligência Penitenciária. E, ainda, em última instância, portanto, que se consiga, por meio da Inteligência, bem analisar e gerir os riscos, construindo cenários e se antecipando a quaisquer eventos danosos contra o Sistema Peniten- ciário (ROCHA, 2020). UNIDADE 4 Aspectos teóricos de Contrainteligência e das Operações de Inteligência CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 69 4. ASPECTOS TEÓRICOS DE CONTRAINTELIGÊNCIA E DAS OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA A proteção da Atividade de Inteligência e os conceitos relacionados com as Operações de Inteligência serão os tópicos que estudaremos nesta unidade. 4.1 Contrainteligência Penitenciária: características e fundamentos É interessante iniciarmos pontuando que a Inteligência Penitenciária possui dois ramos: a Inteligência e a Contrainteligência (CI), com es- pecificidades que os diferenciam; porém considera-se que ambos são intrinsecamente ligados, não possuindo limites precisos, uma vez quese interpenetram, se inter-relacionam e interdependem. Fonte: Adaptado de ABIN. A Contrainteligência é um ramo da Atividade de Inteligência e destina- -se a produzir conhecimentos para neutralizar a Inteligência adversa e a proteção da atividade e da instituição a qual pertence. Inteligência Proteção Contrainteligência Produção Inteligência e Contrainteligência CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 70 Vejamos a imagem abaixo, elaborada pela Agência Brasileira de Inteli- gência (ABIN), referindo-se às funções realizadas pela Contrainteligência: Fonte: Adaptado de Brasil, 2020. Dessa forma, fica claro que a CI desempenha um papel de proteção, resguardo e cuidado com a Atividade de Inteligência. No caso específico da Contrainteligência Penitenciária, a doutrina abalizada explica que: “A contrainteligência é a atividade voltada para a salvaguarda de informações sensíveis e à neutralização da inteligência adversa. Tem por objeto a detecção, identificação, prevenção, obstrução e neutra- lização das ameaças internas e externas ao Sistema Penitenciário.” (BRANDÃO; CEPIK, 2013, p. 311). Joanisval Brito Gonçalves (2018), de forma muito esclarecedora e didática, expõe que: “A contrainteligência tem por objetivo, portanto, tornar tão difícil quanto possível as ações adversas, tomando medidas de segurança que impeçam o acesso a tudo que deseja manter sob sigilo e prote- gendo pessoas e instalações.” (GONÇALVES, 2018, p. 91). A Contrainteligência realiza a... proteção dos conhecimentos produzidos pela atividade de inteligência salvaguarda de dados e conhecimentos produzidos por entes nacionais, públicos ou privados prevenção, identificação e neutralização de ações promovidas por grupos de pessoas ou organizações, vinculados ou não a governos, que ameacem o desenvolvimento nacional e a segurança do Estado e da sociedade CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 71 4.2 Ramos da Contrainteligência A Contrainteligência atua por meio de dois segmentos (campos de atuação): • Segurança Orgânica (SEGOR) e • Segurança Ativa (SEGAT). Luiz Otávio Odawara, com muita propriedade, esclarece que: “A SEGOR preocupa-se com a segurança dos recursos humanos, da documentação e do material, da informática, das áreas e insta- lações e das comunicações, por meio de medidas passivas de segu- rança. Foca-se na prevenção e na obstrução da Inteligência adversa.” (ODAWARA, 2018, p. 19). A SEGOR, como podemos observar, possui um caráter mais defensivo, com intuito de prevenção e de obstrução dos ataques desferidos pelo oponente. É importante ressaltar que as diretrizes da segurança orgânica devem estar consubstanciadas em um documento chamado de Plano de Segurança Orgânica (PSO), com as orientações e os procedimentos a serem adotados. Odawara, novamente, complementa dispondo que: “A SEGAT adota medidas ofensivas de segurança ativa, ou seja, con- tramedidas que buscam antecipar as ações adversas de qualquer natureza. Seus seguimentos são a Contrapropaganda, a Contraes- pionagem, a Contrassabotagem e o Contraterrorismo. Foca-se na detecção e na neutralização da Inteligência adversa.” (ODAWARA, 2018, p. 19). Com relação à SEGAT, podemos observar um viés mais ofensivo, priori- zando a detecção e a neutralização da Inteligência do oponente. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 72 Para facilitar o entendimento podemos pensar no seguinte exemplo: A Segurança Orgânica estaria representada pelas muralhas, cercas e concertinas existentes nas unidades prisionais. Já a Segurança ativa se apresentaria como os policiais penais, que estão nas torres/guaritas de controle, diligenciado na detecção e, se necessário, na neutralização de ameaças. Seguem abaixo, para reflexão, alguns erros comuns que podem ser cometidos pelos profissionais de Segurança Pública e pelos integrantes das Inteligências: O esquecimento de documentos sigilosos em locais inapropriados. A falta de cuidado com as chaves, as senhas de acesso e os documentos sobre as estações de trabalho. Levar documentação sigilosa para residência (documentos físicos, DVD, CD, pen drive etc.). Relaxamento pela rotina. Excesso de confiança ou de vaidade. Conversas sobre assuntos sigilosos em locais inapropriados ou ao telefone. Descuidos na utilização da internet (deixar e-mail aberto). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 73 Para finalizar, é interessante alertar que os maiores inimigos da CI são: a) a falta de conhecimento sobre as normas de segurança; e b) a inexistência de cultura de Inteligência e Contrainteligência. Assim, devemos fomentar a cultura de Inteligência entre todos os profissionais da Segurança Pública, independentemente de serem integrantes ou não dos órgãos de Inteligência das corporações. 4.3 Operações de Inteligência Penitenciária: características e fundamentos As Operações de Inteligência são retratadas em diversos filmes e séries, são extremamente interessantes e despertam o interesse e as emoções dos indivíduos, basta uma simples análise empírica da grade de progra- mação de televisão e das plataformas de streaming para tal constatação. Nesse tópico, vamos esclarecer alguns conceitos e vislumbrar de forma técnica alguns procedimentos e medidas adotados pelos agentes de Inteligência no âmbito das operações. Inicialmente, é importante lembrarmos que as Operações de Inteligência se desenvolvem na fase da reunião de dados, ou seja, elas servem para buscar dados que estão protegidos ou que são de difícil obtenção e que são necessários para a produção de conhecimento. Vejamos, agora, o conceito de Operações de Inteligência Penitenciária trazido pela Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária: “Operação de inteligência (OP INT) é o conjunto de ações de busca, podendo, eventualmente, envolver ações de coleta, executada quando os dados a serem obtidos estão protegidos por rígidas medidas de segurança e as dificuldades e/ou riscos são grandes para a AIPEN, exigindo um planejamento minucioso, um esforço concentrado e o emprego de técnicas, pessoal e material especializados.” (BRASIL, 2013, grifo nosso). Em diversas ocasiões, os dados que o analista de Inteligência necessita para produzir o Relatório de Inteligência não estão disponíveis em fontes abertas. A busca é perigosa e necessita utilização de técnicas específicas. Com relação ao crime organizado, em geral, as informações mais relevan- tes, como ordens, estrutura e movimentação financeira são protegidas CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 74 e não estão disponíveis, necessitando de uma Operação de Inteligência para chegar até elas (BRANDÃO; CEPIK, 2013). Retomando o conceito das operações, devemos ter claro que envolvem prioritariamente as ações de busca, podendo envolver ação de coleta. Além disso, visam desvendar dados de difícil obtenção e que normal- mente estão protegidos. Para que a operação tenha êxito, é necessário utilizar pessoal treinado e especializado. Cabe agora fazermos breves apontamentos e diferenciarmos as ações de coleta das ações de busca. O termo “coleta” está relacionado com a obtenção de dados, principal- mente em fontes abertas/disponíveis (internet, documentos, jornais, matérias); enquanto o termo “busca” é empregado para os procedimen- tos de obtenção de dados negados e indisponíveis, ou seja, daqueles de difícil obtenção (GONÇALVES, 2018). 4.3.1 Termos técnicos básicos envolvidos nas OperaçõesNo desenvolvimento das operações, é necessário que os envolvidos tenham ciência de alguns termos básicos: ambiente operacional, alvo e elemento de operações (ELO). O ambiente operacional nada mais é do que o local em que a operação vai se desenvolver. Se formos realizar uma vigilância e o alvo estiver dentro de um shopping center, este será nosso ambiente operacional. O alvo, por sua vez, é o foco principal da operação e nem sempre é uma pessoa, pois podemos ter como alvo um veículo, uma residência, um assunto, um objeto, entre outros. Não podemos ficar com a falsa impressão de que o alvo será sempre uma pessoa. O terceiro termo importante para conhecermos é o Elemento de Ope- rações, que se refere ao setor da Inteligência que será demandado para cumprir as ações de busca desenvolvidas nas Operações de Inteligência. Portanto, o ELO é um setor/divisão da Inteligência responsável pelo planejamento e pela execução das operações. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 75 QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre Termos bási- cos envolvidos nas Operações de Inteligência, ou acesse o link: https://youtu.be/aweJtqRntgI. 4.3.2 Pessoal envolvidos nas Operações Passemos agora a estudar sobre os atores envolvidos nas Operações de Inteligência e conhecer suas particularidades. Diversas pessoas participam das operações e necessitamos conhecer e distinguir suas funções e denominações. Os principais atores envolvidos são: agentes, colaboradores, informantes e controladores. Agentes: são os policiais penais, pertencentes ao quadro da Inteligência que possuem treinamento e especialização para participar das operações. Esses agentes devem ingressar na Inteligência após passar por um pro- cesso de seleção e recrutamento chamado de Processo de Recrutamento Administrativo (PRA). Colaboradores: são pessoas externas ao órgão que em virtude de suas atribuições criam facilidades para a Inteligência e para o desenvolvimento da operação. Como exemplo, podemos citar a figura de um porteiro que franqueia o acesso do agente ao ambiente operacional de um condomínio. Nesse caso, o porteiro criou uma facilidade para o agente de Inteligência: o ingresso no condomínio. Informantes: são pessoas não pertencentes à Inteligência que relatam situações das quais possuem conhecimento, ou seja, fornecem dados (“informações”) para que sejam processados pela Inteligência. Como exemplo, podemos citar um preso que relata aos agentes sobre planos escusos que ouviu na sua galeria. São extremamente importantes para qualquer órgão de Inteligência e no serviço penitenciário ganham ainda mais expressão. https://youtu.be/aweJtqRntgI CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 76 Controladores: são os agentes responsáveis por controlar o conjunto de indivíduos não pertencentes à Inteligência e que estão envolvidos com ela de alguma forma. Essa estrutura de pessoas externas à Inteligência denominamos de Rede. O controlador, portanto, é o responsável por gerenciar a Rede. 4.4 Tipos de Operações de Inteligência e seus planejamentos As Operações de Inteligência podem ser classificadas em dois tipos bá- sicos: operações exploratórias e operações sistemáticas. Vejamos cada um deles: Operações exploratórias: são de curta duração, pontuais, com intuito de cobrir eventos e levantar dados específicos. Se originam da necessidade imediata de um dado sobre determinado assunto. Celso Moreira Ferro Júnior (2011), aponta que as operações exploratórias visam atender uma necessidade de informações momentâneas e ime- diatas, sobre fatos e situações não completamente conhecidas. Digamos que uma pessoa, após visitar seu familiar preso, está se en- contrando com um indivíduo e repassando informações criminosas. Diante desse fato, é possível que haja necessidade de conhecer essa terceira pessoa. A operação mais adequada para esse caso seria uma operação exploratória. Operações sistemáticas: conforme o termo sistemático já induz, es- sas operações são realizadas de forma contínua e têm uma longa du- ração. São acompanhamentos realizados de forma constante com foco na repercussão interna e externa de atividades relacionadas ao Sistema Penitenciário. Também, são caracterizadas por um fluxo constante de dados sobre o assunto de interesse e acabam sendo proveitosas para acompanhar metodicamente as atividades do alvo. É possível obtermos dados e aprofundarmos conhecimentos em virtude desse processo contínuo de informações atualizadas (JUNIOR, 2011). CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 77 Como exemplo de operações sistemáticas, podemos citar o acom- panhamento de organizações criminosas realizadas pela Inteligência Penitenciária. A operação Onix, desencadeada no ano de 2021, reali- zada pelo DEPEN, em parceria com a Polícia Federal, foi possível após acompanhamento sistemático e exaustivo sobre a organização criminosa. Importante ressaltarmos que toda a Operação de Inteligência deve ser planejada. O planejamento deve conter um estudo de situação e um plano de operação. Quanto mais delicada a operação, maior deve ser o seu planejamento. Mesmo que o agente seja escalado para realizar uma operação de pequeno vulto, é indispensável que haja ao menos um planejamento básico. Considerando que estamos em um curso básico, não iremos aprofundar a metodologia do planejamento, porém é interessante citar que, dentro do plano de operação, temos cinco medidas que orientam a condução das operações: medidas de controle, medidas de coordenação, medidas de avaliação, medidas de orientação e medidas de segurança. 4.5 Ações de busca Recapitulando: as ações de busca são os procedimentos desenvolvidos pelo ELO nas Operações de Inteligência, visando obter os dados negados que são de difícil obtenção e que geralmente estão protegidos. Interessante lembrar que cada Agência de Inteligência conta com agentes dos mais variados perfis e de habilidades diversas. Essas particularidades devem ser analisadas e exploradas para a melhor execução das ações de busca. Há pessoas que têm extrema facilidade de se comunicar, outras que têm excelente memória. Dessa forma, essas habilidades devem ser consideradas conforme a ação de busca a ser realizada. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 78 As ações de busca são as seguintes: Desinformação. Entrada. Entrevista. Infiltração penitenciária. Varredura de sinais. Interceptação postal. Monitoramento ambiental. Provocação. Reconhecimento. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 79 Fonte: Adaptado de Brasil (2013). A seguir, apresentaremos cada uma dessas ações: Desinformação: consiste na ação de busca que visa induzir alvos a erros de apreciação, orientando-os a realizar um comportamento determinado. Exemplo: a Inteligência levantou que um preso de alta periculosidade vai ser transferido e que existe um plano de resgate para ele. Diante disso, pode ser veiculado na imprensa uma matéria jornalística noticiando que a transferência vai ser realizada em data não fidedigna. Entrada: realizada em ambiente penitenciário para obter dados em locais de acesso restrito. Entrevista: realizada para obter dados específicos por meio de uma conversação planejada e controlada pelo entrevistador. Cabe esclarecer que a entrevista não é uma conversa despretensiosa realizada com o alvo, pois o entrevistador deve dialogar com objetivosdefinidos e con- trolando a conversa. Não é um interrogatório, e deve ser realizada sem que o alvo tenha a sensação de estar sendo inquirido. É uma ação de busca que requer treinamento diferenciado e destreza. Alguns agentes possuem uma facilidade inata para esse tipo de ação e devem ser iden- tificados, treinados e aproveitados. Mais detalhes sobre entrevista serão apresentados no Módulo 2. Infiltração penitenciária: ocorre quando se coloca um agente de Inteli- gência junto ao alvo com objetivo de obter dados. Difere da infiltração policial que necessita de autorização judicial e serve para obtenção de provas em atividades de investigação. A infiltração penitenciária, em regra, não necessita de autorização judicial. Recrutamento operacional. Vigilância. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 80 Vejamos um exemplo: coloca-se um agente de Inteligência, simulando ser um preso, na mesma viatura (em um compartimento separado e com total segurança) em que se está transportando outro preso que possui informações interessantes para a Inteligência. A infiltração penitenciária requer uma preparação especial e uma aptidão muito diferenciada do agente, por isso deve ser muito bem planejada. Interceptação postal: utilizada para obtenção de dados e/ou identificação de correspondências com aspectos ilícitos envolvendo o Sistema Peni- tenciário. Aqui, os agentes devem estar atentos a possíveis mensagens subliminares, mensagens cifradas, códigos, ordens de execução e demais temas que podem afetar o Sistema Penitenciário e a sociedade. Com intuito de espantar qualquer interpretação sobre violação de direi- tos constitucionais, notadamente do art. 5º, XII, CF/88, as Penitenciárias Federais possuem autorização judicial para analisar todas as correspon- dências enviadas ou recebidas pelos presos. Monitoramento ambiental: realizado para obter dados por meio de equipamento próprio, de áudio e de vídeo; operado nas instalações do Sistema Penitenciário, por integrantes da Inteligência. Leandro Carrilho esclarece sobre o tema que: “[...] com base na manifestação do poder judiciário, a instalação de equipamentos de escuta ambiental em estabelecimento prisional ficou dividida da seguinte forma: nas áreas comuns é permitido o monitoramento de som e imagem, não havendo necessidade de autorização judicial; nos espaços não considerados como área co- mum (pátio de visita e parlatórios) esse tipo de monitoramento só será possível mediante prévia autorização judicial; nas celas de vi- sita íntima, é proibida qualquer forma de violação da privacidade.” (CARRILHO, 2019, p. 15). Provocação: utilizada, com alto nível de especialização, para estimular uma pessoa ou um alvo a modificar seus procedimentos e a executar algo desejado pela Inteligência, sem que desconfiem da ação a que foram submetidos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 81 Reconhecimento: conhecido como RECON, é uma ação de busca rea- lizada para obtenção de dados sobre o ambiente operacional. Pode ser utilizada também para identificação de alvos. Caracteriza-se por ser uma ação prévia e preparatória para outras ações de Inteligência. Exemplo: uma complexa Operação de Inteligência vai se desenvolver em um bar que vende bebidas alcoólicas na periferia da cidade. O estabele- cimento fica próximo a um enorme canteiro de obras da construção civil. Reflita: é proveitoso desenvolver ações de busca nesse local sem antes realizar um reconhecimento? A resposta é não, pois não conhecemos as especificidades do local. Um bom RECON vai facilitar as demais ações de busca e trazer informações como: localização exata, características, perfil dos usuários e dos frequentadores, dentre outras. Com esses dados, podemos definir as vestimentas dos agentes, equipamentos, viaturas etc. Um bom RECON facilita todo o desenvolvimento das demais ações de busca, subsidiando e preparando o planejamento das Operações de Inteligência. Recrutamento Operacional: utilizado para convencer ou persuadir uma pessoa não pertencente à Inteligência a trabalhar em benefício desta. As séries e os filmes exploram muito o recrutamento operacional, mos- trando personagens dos quais a Inteligência possui informações sensíveis e muitas vezes desmoralizantes. Essas informações são utilizadas como dados para persuadir o indivíduo a realizar tarefas em benefício da Inteli- gência, mesmo que a contragosto. Maiores detalhes sobre recrutamento serão apresentados no Módulo 2. Vigilância: realizada para manter alvos sob observação com o intuito de levantar dados. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 82 Foto: © [Andrey_Popov] / Shutterstock. A vigilância pode ser realizada de forma motorizada ou a pé e tem grande aptidão para: levantar atividades e contatos do alvo; observar atividades e rotinas; identificar meios de transporte e comunicação; e registrar vídeos e imagens. Trata-se de uma ação de busca extremamente detalhada e com várias especificidades. Diante disso, é essencial que seja treinada e praticada. A realização de um curso presencial é uma excelente oportunidade de receber maiores orientações e exercitar essa ação de busca. Varredura de sinais: utilizada para a detecção e localização de equipamen- tos irregulares no Sistema Penitenciário com utilização de instrumentos adequados e operados por integrantes das Inteligências. Exemplo: utilização do equipamento GI-2, popularmente conhecido como maleta, para detecção e localização de aparelhos celulares que estejam dentro de uma unidade prisional. SAIBA MAIS Para saber mais sobre a Varredura de Sinais, leia a notícia “Linhas Rastreadas”, acerca da utilização do equipamento GI-2, disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-nov-19/ministerio-justica- -oferece-sp-detector-celulares-presidios. https://www.conjur.com.br/2012-nov-19/ministerio-justica-oferece-sp-detector-celulares-presidios https://www.conjur.com.br/2012-nov-19/ministerio-justica-oferece-sp-detector-celulares-presidios CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 83 4.6 Técnicas de Operações de Inteligência As Técnicas Operacionais de Inteligência (TOI) não se confundem com as ações de busca. PODCAST Essa diferenciação é necessária para entendermos com clareza as Operações de Inteligência. As TOI são as habilidades dos agentes que serão utilizadas dentro das ações de busca. Esclarecemos com um exemplo: ao realizar a ação de busca de reconhecimento, o agente vai se utilizar da TOI “observação, memorização e descrição” (OMD), para decorar fidedignamente o ambiente operacional e depois descrevê-lo. As TOIs devem ser treinadas pelos agentes, pois o domínio delas permite aumentar as potencialidades, possibilidades, capacidade e operaciona- lidades. As Técnicas Operacionais de Inteligência são: Análise comportamental. Análise da veracidade. Comunicações sigilosas. Disfarce. Emprego de meios eletrônicos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 84 Fonte: Adaptado de Brasil (2013). A seguir, apresentaremos cada uma dessas técnicas: Análise comportamental: utilizada para analisar o comportamen- to de indivíduos e/ou grupos e as relações entre eles dentro do ambiente penitenciário. A movimentação dos presos no banho de sol é um dos momentos em que podemos utilizar a TOI da análise comportamental. A postura do preso e as pessoas que permanecem ao seu redor podem revelar dados importantes, como possíveis lideranças e aliados. Análise de veracidade:empregada para verificar se, por meio de recursos tecnológicos ou metodologia própria, há convicção de que uma pessoa esteja falando a verdade sobre fatos e situações. Comunicações sigilosas: utilizada para, sigilosamente, transmitir mensa- gens ou enviar objetos durante as ações de busca, de acordo com planos previamente estabelecidos. Ocorre quando os agentes estabelecem que, durante a operação, um determinado sinal (determinada movimentação Estória-cobertura. Fotointerpretação. Leitura da fala. Observação, memorização e descrição. Processo de identificação de pessoas. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 85 do braço direito, por exemplo) significa que o alvo está no ambiente. A comunicação no ambiente operacional faz toda a diferença no de- senvolvimento das operações e nem sempre as mensagens de texto ou de áudios são suficientes. Dessa forma, é interessante que os agentes estabeleçam algumas comunicações sigilosas. Além das comunicações sigilosas, é essencial que os agentes tenham meios de comunicação eficientes e testados. Há aplicativos especiali- zados para comunicação em tempo real e sem delay. Aplicativos como WhatsApp e Telegram muitas vezes não são suficientes para a manutenção de uma comunicação satisfatória. Disfarce: é a técnica pela qual o agente modifica sua aparência para se adequar a uma “estória-cobertura” (estudada a seguir) ou dificultar o seu reconhecimento posterior. O disfarce é uma TOI bem utilizada e visa proteger os agentes de Inte- ligência. Necessita ser bem natural e estar de acordo com o ambiente operacional. Em alguns ambientes, óculos escuros e boné são excelentes para um disfarce; porém, em outros ambientes, esses mesmos acessó- rios são extremamente chamativos e contraindicados. Portanto, tenha cuidado com a escolha dos seus acessórios de disfarce. Emprego de meios eletrônicos: técnica que habilita para a correta uti- lização de equipamentos de captação, gravação e reprodução de sons, imagens, sinais e dados. Tenha muito zelo com os equipamentos utilizados nas operações, pois eles auxiliam de forma crucial os agentes. Além disso, certifique-se de que possui treinamento e destreza com o equipamento. Não superestime suas capacidades para operar equipamentos novos ou desconhecidos. Sempre faça testes e certifique-se de que sabe utilizá-los com desen- voltura. O ideal é que tenhamos, ao menos, um treinamento básico para operar os equipamentos. Os equipamentos mais utilizados em operações são máquinas fotográ- ficas, tablets, celulares, rádios HTs, gravadores, entre outros. Estória-cobertura: utilizada para garantir a segurança e o sigilo dos agentes e também para facilitar a obtenção dos dados. Utiliza-se a dissimulação e o encobrimento das reais identidades dos envolvidos. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 86 A maioria das Operações de Inteligência obriga o agente a criar uma “estória-cobertura”. Quando o agente está no ambiente operacional e interagindo com outras pessoas, torna-se bem provável surgir algumas perguntas como: você trabalha com o quê? Qual o seu nome? Você é policial? Diante desses questionamentos, se o agente não estiver previamente preparado e com sua estória-cobertura bem alinhada, é provável que tenha dificuldades para responder com fluidez. Esse embaraço poderá chamar a atenção do seu interlocutor e causar desconfiança. Em linhas gerais, a “estória-cobertura” deve ser simples, de fácil assimi- lação, convincente e compatível com o ambiente operacional. Fotointerpretação: utilizada para identificar os significados das imagens obtidas. A disseminação do uso de drones, com câmeras de alta resolução, acabam por gerar dezenas de fotografias em uma operação. Todo esse material será submetido à fotointerpretação. Leitura da fala: mesmo à distância, um agente utilizando essa TOI pode identificar e compreender os elementos de uma conversação, possibili- tando a compreensão do assunto. O desenvolvimento das câmeras de vigilância com maior resolução e com grande alcance facilitaram o emprego desta TOI. Observação, memorização e descrição: técnica de grande utilização, conhecida como OMD, na qual o agente observa, memoriza e, poste- riormente, descreve com exatidão, pessoas, objetos, locais e fatos, a fim de os identificar ou de os reconhecer. Há indivíduos que têm grande facilidade na utilização desta TOI. Se o agente tem grande dificuldade, e for demandado em uma ação de busca que necessita utilização da OMD, pode se utilizar de recursos tecnoló- gicos para auxiliá-lo. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 87 Exemplo: o agente utiliza uma microcâmera ou realiza a captação de algumas imagens que o auxiliarão na descrição e na confecção de seu relatório. Devemos utilizar a tecnologia a nosso favor, aumentando nos- sas capacidades, possibilidades e potencialidades, mas, sem esquecer que necessitamos treinar nossas habilidades para não ficarmos reféns dos equipamentos. Processo de identificação de pessoas: destinado a identificar ou a reco- nhecer pessoas. Esses processos estão sempre em evolução e constan- temente são descobertas novas técnicas. Entre as mais usadas temos: fotografia, retrato falado, DNA, arcada dentária, câmeras de reconheci- mento facial, íris etc. Agora que você realizou o estudo sobre as Técnicas Operacionais de Inte- ligência, relembre pontos importantes do módulo na retomada a seguir. 88 SÍNTESE DO MÓDULO Neste primeiro módulo, discutimos os fundamentos teóricos e doutri- nários da Atividade de Inteligência Penitenciária. Na Unidade 1, vimos que a história da Inteligência se confunde com a história da humanidade, desde a antiguidade até a contemporaneidade. Pontuamos que a infor- mação constitui um dos pilares do Estado e apresentamos a relação de diferentes tipos de governos com a Inteligência. Também abordamos o desenvolvimento da Atividade de Inteligência no Brasil, desde a década de 1920 até a atualidade. Pontuamos que o país conta com instrumentos de governança e Inteligência: PNI, ENI, Planint. Discutimos a importân- cia do incremento dos Serviços de Inteligência Penitenciária, por conta da presença e da atuação do crime organizado no sistema prisional. Pontuamos sistemas, subsistemas, políticas, planos e estratégias de Inteligência e Segurança Pública no Brasil. Por fim, apresentamos um panorama da Atividade de Inteligência na América Latina, com quatro diferentes modelos de Inteligência. Na Unidade 2, abordamos o surgimento da Inteligência no sistema prisional e sua relação com a Segurança Pública. Para tanto, iniciamos contextualizando historicamente o ambiente prisional. Abordamos como ele ainda se apresenta como um ambiente insalubre para seus atores, sobretudo pela questão da superlotação. Discutimos então o cresci- mento da população carcerária, indicando que sua taxa de crescimento é seis vezes maior do que a taxa de crescimento da população brasileira. Pontuamos, em seguida, que tal crescimento não foi acompanhado de aumento equivalente de vagas, levando à superlotação. Também foi abordada a questão das organizações criminosas no sistema prisional. Pontuamos que o Brasil conta com uma série de facções, entre elas, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que estão entre as dez principais organizações criminosas da América Latina. Afirmamos que os Serviços de Inteligência nascem como resposta à expansão de organizações criminosas e de sua atuação dentro das prisões. Desta- camos que as Atividades de Inteligência Penitenciária devem seguir o ordenamento jurídico brasileiro. Retomamos que a Inteligência no Brasil se dá no âmbito da SISBIN, cujo órgão decoordenação central é a ABIN, e tratamos da criação do SISP e da DIPEN. CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 89 Ainda na Unidade 2, apresentamos as características essenciais para que um policial do sistema prisional possa compor uma Agência de Inteligência Penitenciária. Por fim, elencamos as responsabilidades da Agência Central de Inteligência Penitenciária. Na Unidade 3, discutimos os fundamentos doutrinários das Atividades de Inteligência Penitenciária. Pontuamos a existência de Doutrina Nacional de Inteligência Penitenciária, documento normativo, uniformizador e sistematizador que objetiva subsidiar o planejamento de políticas pú- blicas e está em sua segunda versão, a de 2020. Apresentamos outras doutrinas de Inteligência latino-americanas e pontuamos as coopera- ções internacionais, sobretudo entre países do Mercosul. Pontuamos princípios e características da Atividade de Inteligência, de acordo com as doutrinas vigentes. Por fim, discutimos a metodologia de produção de conhecimento, processo formal e regular que envolve as fases de plane- jamento, reunião de dados, processamento e utilização. Um importante conceito no interior da metodologia é o de Estados da Mente. Nesse sentido, apresentamos os quatro estados em que pode se encontrar a mente humana: certeza, opinião, dúvida e ignorância. Também foram apresentados os três trabalhos intelectuais que podem ser realizados para conhecer fatos ou situações: ideias, juízos e raciocínios. Por fim, elencamos os quatro tipos de Relatório de Inteligência previstos pela Doutrina: informe, informação, apreciação e estimativa. Na Unidade 4, discutimos aspectos teóricos da Contrainteligência e das Operações de Inteligência. Pontuamos que a Contrainteligência de- sempenha um papel de proteção, resguardo e cuidado das Atividades de Inteligência, tanto na salvaguarda de informações sensíveis quanto na identificação e no enfrentamento de ameaças. Vimos que há dois ramos de atuação: a segurança orgânica (mais defensiva, constituída por medidas passivas) e a segurança ativa (mais ofensiva, constituída por contramedidas). Alertamos que os maiores inimigos da Contrainteligência são a falta de conhecimentos sobre normas de segurança e a inexistência de uma cultura de Inteligência e Contrainteligência. Caracterizamos as Operações de Inteligência como conjuntos de ações de busca de dados de difícil acesso (negados e/ou indisponíveis). Apresentamos três termos básicos envolvidos nas operações: ambiente operacional (local/contexto), alvo (foco) e elemento de operações (setor de Inteligência responsável). Em seguida, pontuamos os principais atores envolvidos nas operações: agentes, colaboradores, informantes e controladores. Também diferen- ciamos dois tipos de Operação de Inteligência: as sistemáticas (contí- CURSO DE INTRODUÇÃO À INTELIGÊNCIA PENITENCIÁRIA – CIIPEN MÓDULO 1 | Fundamentos teóricos e doutrinários da Atividade de Inteligência Penitenciária 90 nuas, de longa duração) e as exploratórias (pontuais, cobrem eventos ou levantam dados específicos). Por fim, apresentamos ações de busca (desinformação, entrada, entrevista, infiltração penitenciária, varredura de sinais, interceptação postal, monitoramento ambiental, provocação, reconhecimento, recrutamento operacional e vigilância), assim como Técnicas Operacionais de Inteligência, que são habilidades dos agentes utilizadas dentro das ações de busca (análise comportamental, análise da veracidade, comunicações sigilosas, disfarce, emprego de meios ele- trônicos, estória-cobertura, fotointerpretação, leitura da fala, observação, memorização e descrição e processo de identificação de pessoas). Você finalizou o Módulo 1! Esperamos que você tenha aproveitado para lapidar seus conhecimentos. No próximo módulo abordaremos uma visão prática dos elementos teóricos já vistos. Veremos como um analista de inteligência pode aplicar na prática a teoria e a Doutrina de Inteligência Penitenciária, por meio de exemplos, situações reais e modelos de conduta. REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. T. DE; FARIAS, R. M. B. História Secreta dos Serviços de Inteligência: origens, evolução e institucionalização. Revista Brasileira de Inteligência, v. 1, n. 1, p. 85-89, 1 dez. 2005. Disponível em: https:// rbi.enap.gov.br/index.php/RBI/article/view/19. Acesso em: 20 jan. 2022. ARGENTINA. Decreto nº 1.311, de 6 de julho de 2015. Apruébase la Nueva Doctrina de Inteligencia. Buenos Aires: Poder Ejecutivo Nacional, [2015]. Disponível em: http://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/ anexos/245000-249999/248914/norma.htm. Acesso em: 24 fev. 2022. ARGENTINA. Lei n° 27.126, de 03 de março de 2015. 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