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DESCRIÇÃO Contexto e tipos de produção da Literatura Surda e abordagem dos gêneros literários em Libras a partir de suas manifestações e seus elementos. PROPÓSITO Identificar os tipos, as características, os elementos e a produção dos gêneros literários em Libras para ampliar o conhecimento da cultura surda. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o contexto e os tipos de produções da Literatura Surda MÓDULO 2 Identificar os tipos de gêneros e os elementos literários em Libras INTRODUÇÃO Quais são os gêneros literários em Libras? Onde, como e quando foram produzidas as obras dos gêneros literários em Libras? Essas são algumas das questões que vamos abordar em nosso estudo sobre as produções da Literatura Surda e seus gêneros literários. Vamos estudar as características dos gêneros literários em línguas de sinais e seus elementos, identificando os tipos de obras relacionadas a esses gêneros. Você terá oportunidade de conhecer as contribuições de autores da área de Literatura Surda e perceber como suas obras nos ajudam a compreender os conceitos e os sentidos no espaço da cultura surda e da sua produção literária. DICA Os vídeos ou as obras literárias surdas são disponibilizados em DVD, CD-ROM e principalmente no YouTube ou em sites voltados para a comunidade surda. Assim, ao longo do tema, você vai encontrar exemplos de poemas e narrativas dos gêneros literários por meio de vídeos. Recomendamos que visite os canais dos vídeos destacados em azul. MÓDULO 1 Identificar o contexto e os tipos de produções da Literatura Surda OS CONCEITOS DE VISUALITERÁRIA E MÃOS LITERÁRIAS Foto: Shutterstock.com Comecemos deixando claro dois conceitos que ajudarão em nosso estudo sobre as produções da Literatura Surda: visualiterária e mãos literárias. As duas terminologias foram criadas por Mourão (2016) no contexto de suas produções literárias. O termo visualiterária foi criado para definir os textos literários em língua de sinais, na modalidade visual dessas línguas. O termo valoriza a visualidade do povo surdo em seu processo de produção de significados pelos sinais, utilizando recursos estéticos, estilísticos e artísticos de sinalizar. Foto: Mourão (2016, p. 19)Sinal de visualiterária. O termo mãos literárias é utilizado para se referir às mãos (incluindo o corpo e as expressões faciais) que produzem a forma literária na língua de sinais. A Literatura Surda está intimamente relacionada com os valores culturais do surdo em seu espaço, onde ele produz significados a partir de suas produções por meio das mãos literárias. Inicialmente, por intermédio das narrativas, as tradições eram transmitidas entre o povo surdo de geração em geração. Diversas produções das mãos literárias circulavam e eram consumidas por meio da sinalidade, a partir do encontro de dois membros surdos e/ou a partir de um coletivo maior ao qual chamamos encontros de surdos. Esses encontros surdos poderiam ocorrer em escolas, associações e outros espaços pertinentes à comunidade surda. Nesse contexto em que a sinalidade sobressai, ainda não havia o registro ou a gravação da produção literária em língua de sinais em vídeos ou mesmo nos meios digitais. Além disso, também não havia uma efervescência literária e cultural surda nos meios acadêmicos ou universitários. SINALIDADE Refere-se à herança cultural das produções literárias das comunidades surdas em língua de sinais passadas de geração a geração. A sinalidade pode ser entendida a partir de seu contraste com a oralidade. A sinalidade é o que caracterizaria os chamados povos ágrafos, ou seja, povos ou comunidades sem escrita. javascript:void(0) CONTEXTOS DA PRODUÇÃO DAS MÃOS LITERÁRIAS Foto: Shutterstock.com A produção das mãos literárias do povo surdo é, tradicionalmente, passada e repassada de geração em geração, e são essas mãos literárias que permitiam a circulação e o consumo de suas produções. A exemplo dos encontros de surdos nas escolas voltadas para esse público, em 1857 foi fundado o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro. As crianças e os jovens surdos estudavam em regime de internato nas escolas de surdos tanto no Brasil quanto no exterior. Foto: Acervo Sead, UFES.Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Naquela época, a língua de sinais era proibida nas escolas, entretanto, a comunicação sinalizada acontecia, mesmo que de forma escondida, nos corredores ou banheiros da escola. As crianças e os jovens surdos, ao voltarem para seus estados, sua terra natal, disseminavam em língua de sinais as produções das mãos literárias. Além disso, havia associações de surdos e surdos já adultos que descobriram a língua de sinais tardiamente, por conta das proibições no país naquela época ou em razão da atitude da sociedade, quando se priorizava a perspectiva clínica. Graças à sinalidade, e por meio dela, a língua de sinais não foi extinta e persistiu extremamente rica mediante a produção das mãos literárias. PERCORRIDOS TANTOS SÉCULOS, A SINALIDADE DAS MÃOS LITERÁRIAS PERMANECE EM ALGUNS SUJEITOS SURDOS PELAS MEMÓRIAS E ALGUMAS FORAM ESQUECIDAS NO TEMPO E NO ESPAÇO. EXISTEM AINDA AS VERSÕES CLÁSSICAS E OUTRAS VERSÕES MODIFICADAS PELAS MÃOS LITERÁRIAS, QUE DESSA FORMA SÃO OS PASSOS DO EMPODERAMENTO GERANDO SIGNIFICADOS LITERÁRIOS NOS SUJEITOS SURDOS. AO LONGO DOS SÉCULOS, SURGEM REGISTROS ESCRITOS E DOCUMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO E ARTISTAS SURDOS. (MOURÃO, 2016, p. 40) Foto: Shutterstock.com É essencial que toda criança se desenvolva sabendo de sua história, e isso inclui as crianças surdas. Para que esse conhecimento seja garantido, a Literatura Surda é indispensável, tanto para o público infantil, quanto para o adulto. Durante o crescimento, as crianças necessitam adquirir conhecimentos em mãos literárias das suas histórias e de suas heranças, seja em casa com a família, na escola ou nos espaços sociais. Essa convivência necessária com as produções das mãos literárias pode se dar, por exemplo, em eventos culturais. Por meio desse convívio, as crianças surdas produzem significados e tornam- se sujeitos surdos com repertórios identitários reconhecidos em relação ao seu mundo. Assim, a experiência das mãos literárias implica produção de significados e contribui para a construção da identidade cultural surda. Nesse processo, é importante considerar também o hibridismo cultural na experiência dos surdos nos espaços sociais que eles atravessam. [...] NAS PRODUÇÕES PRÓPRIAS DE SURDOS, HÁ A SINALIDADE, TRANSMITIDA A PARTIR DA VISUALIDADE, QUE SUBJETIVA A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES SURDAS CONECTADAS A SEUS PARES, NA COLETIVIDADE DOS SUJEITOS SURDOS. (MOURÃO, 2016, p. 196) Os sentidos ou significados são transmitidos em vários gêneros literários de sujeito a sujeito numa dinâmica de circulação de textos sinalizados. A visualidade é a forma pela qual os significados são transmitidos nas práticas discursivas entre surdos. Nesse contexto, a figura do contador de histórias sobressai. Conforme Morgado (2011), há alguns atributos que devem ser identificados nos contadores de histórias surdos na Literatura Surda: 1. Possuir uma visão do mundo totalmente visual, diferente da dos ouvintes; 2. Ter identidade surda, por ter a experiência de ser surdo; 3. Ser falante nativo de língua gestual, tendo-a adquirido como primeira língua. (MORGADO, 2011, p. 153). Imagem: Morgado (2011, p. 153)Identidade surda. No Brasil, o próprio adulto surdo transmite das mãos literárias para as crianças surdas, embora saibamos que antes os registros da Literatura Surda eram transmitidos em sinalidade. ANTES NÃO EXISTIAM MUITOS REGISTROS, APENAS A “SINALIDADE”, QUE ERA TRANSMITIDA PRESENCIAL E VISUALMENTE DE UM PARA O OUTRO. POR MEIO DA LÍNGUA DE SINAIS FORAM PRODUZIDOS OS SIGNIFICADOSNAS PRÁTICAS DISCURSIVAS. A FORMA DE TRANSMITIR OS SIGNIFICADOS NESSA PRÁTICA DISCURSIVA É A VISUALIDADE, QUE ASSIM REPASSA DE UNS AOS OUTROS POR MEIO DE INTERFACES, MÃOS E OLHOS, TUDO QUE É PRODUZIDO ESPONTANEAMENTE. (MOURÃO, 2016, p. 58) Nesse sentido, quando o sujeito surdo adquire mediante a sinalidade as produções das mãos literárias de seus pares, são transmitidos conhecimentos que, por sua vez, transmitem significados ao sujeito. Os efeitos dessa dinâmica se refletem nas várias produções e gêneros literários. Segundo Morgado (2011, p. 11), o conteúdo do texto literário tem de fazer sentido para a cultura, a comunidade e a língua aos quais pertence. No caso dos sujeitos surdos, o discurso literário é produzido pela comunidade surda, numa cultura surda e por meio da língua de sinais. TIPOS DE PRODUÇÕES DA LITERATURA SURDA Imagem: Shutterstock.com As produções ou as obras na Literatura Surda podem ser classificadas em pelo menos três tipos: tradução, adaptação e criação. Imagem: Shutterstock.com TRADUÇÃO As produções literárias do tipo tradução são escritas traduzidas para línguas de sinais. Os antigos DVDs e os atuais materiais digitais que trazem em Libras obras clássicas da literatura mundial e nacional originalmente escritas são um caso de tradução. Os DVDs publicados pela Editora Arara Azul, como Alice no País das Maravilhas (2002), Iracema (2002) e O Alienista (2004), são alguns dos exemplos que podemos citar. SAIBA MAIS Um pequeno trecho do romance Iracema, de José de Alencar, está disponível em versão bilíngue (Libras/português) no canal da Editora Arara Azul no YouTube. O romance na íntegra é disponibilizado em formato de CD-ROM, produzido em 2014, sendo acompanhado de sugestões pedagógicas para seu uso didático. Há também exemplos de traduções motivadas pela experiência profissional no magistério e no contexto das redes sociais. As professoras Carolina Hessel Silveira e Luciane Lopes (2018) perceberam que os contadores de histórias ouvintes têm canais nas redes sociais, e sentiram falta de contadores de histórias surdos. Assim, elas desenvolveram o projeto Mãos Aventureiras, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), para disponibilizar literatura infantil por meio de canal no YouTube. Com milhares de inscritos e mais de 34 livros populares traduzidos para Libras, o projeto é uma oportunidade para que as escolas, as famílias e a comunidade surda tenham acesso à literatura. Foto: NiP STUDIO / Shutterstock.com Para as autoras do projeto, tal iniciativa pode contribuir para que as crianças sejam motivadas a conhecer mais livros sobre a temática das obras disponibilizadas, ou mesmo contribuir para que elas se interessem por filmes e peças de teatro a partir dos livros que conheceram. O projeto ainda contribuiria para envolver os “pais e familiares na importante função de aproximar crianças e jovens do mundo literário” (SILVEIRA; LOPES, 2018, p. 51). Além da tradução de obras escritas para língua de sinais, também existe tradução de línguas de sinais para outra língua de sinais, como a Língua de Sinais Britânica (BSL), a Língua de Sinais Americana (ASL) e a Língua de Sinais Francesa (LSF), entre outras. Um exemplo é o poema Five Senses, produzido em Língua de Sinais Britânica (BSL) pelo poeta surdo britânico Paul Scott, traduzido para Libras pelo ator e professor surdo Nelson Pimenta. SAIBA MAIS O poema Five Senses sinalizado em Língua de Sinais Britânica foi produzido pela Universidade de Bristol e disponibilizado no canal Signmetaphor no YouTube. Já a tradução em Libras é encontrada no vídeo Poesia Cinco Sentidos, sinalizado pelo ator Nelson Pimenta em seu canal também no YouTube. Outro exemplo é a tradução de uma obra de literatura de cordel para Libras. A professora nordestina Klícia Araújo trabalhou na tradução para Libras do livro Antônio Silvino: o Rei dos Cangaceiros (2020), de Leandro Gomes de Barros. As estrofes 10-12 e 19-21 do poema de cordel têm sua tradução para Libras disponibilizada no canal Mãos Arretadas: cordel em Libras, no YouTube. A obra original escrita em português é disponibilizada pelo Portal Domínio Público. Foto: Shutterstock.com Outros exemplos de tradução para Libras podem ser encontrados em livros digitais, redes sociais e DVDs. Destacamos alguns deles: • 6 Fábulas de Esopo, tradução do professor Nelson Pimenta, 2002. Entre as fábulas, destacamos o vídeo Os Três Touros e o Leão, disponibilizado no canal de Nelson Pimenta no YouTube. • Comboio de Lata (2019), tradução de Cláudio Mourão, 2020, da obra produzida pelo Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) do Instituto Politécnico de Leiria, em Portugal. A tradução sinalizada pelo professor Cláudio Mourão é disponibilizada no canal COMacesso da UFRGS, no YouTube. • Negrinho do Pastoreio, lenda do folclore brasileiro, tradução do professor Roger Prestes e disponibilizada no Repositório Institucional da UFSC. • Os Três Porquinhos, narrativa da literatura infantil traduzida e disponibilizada pela TV INES, em 2014. A tradução de obras literárias para Libras contribui para incentivar crianças e adultos surdos a conhecerem o mundo da literatura e da cultura surda de diferentes lugares e línguas. Assim, esses materiais favorecem o conhecimento e a divulgação do acervo literário de diferentes tempos e espaços a partir da tradução para a língua de sinais utilizada pela comunidade surda. Imagem: Shutterstock.com ADAPTAÇÃO As produções literárias do tipo adaptação são aquelas nas quais as histórias clássicas, os contos de fadas e outras formas de narrativas ou gêneros literários são adaptados à cultura surda. Confira uma breve lista de livros escritos com narrativa adaptada à cultura surda. Foto: Shutterstock.com • Adão e Eva, de Lodenir Karnopp e Fabiano Rosa, 2011. • A Cigarra Surda e as Formigas, de Carmem Oliveira e Jaqueline Boldo (s.d.). • Cinderela Surda, de Carolina Hessel Silveira, Fabiano Rosa e Lodenir Karnopp, 2003. • Curupira Surdo, dos autores Amarildo Espíndola, Elielza Silva e Larissa Pissinatti, 2016. • Negrinho e Solimões, de Tatiana Monteiro, 2014. • Patinho Surdo, de Lodenir Karnopp e Fabiano Rosa, 2011. Além de narrativas clássicas adaptadas à cultura surda em livros escritos, existem obras que são adaptadas por meio da língua de sinais, no nosso caso a Libras. Um exemplo é o vídeo em Libras O Patinho Surdo, de 2016, de Fabiano Rosa, disponibilizado no canal AcessoBR no YouTube. É importante lembrar que não são apenas obras escritas em português que são adaptadas para Libras. Como um dos elementos decisivos da cultura surda é a visualização em forma de visualiterária, é cada vez mais intensa a expressão de artistas surdos em línguas de sinais por meio de vídeos que circulam nas redes sociais, tanto no contexto brasileiro quanto internacional. Assim, temos também as obras produzidas em língua de sinais e que são posteriormente adaptadas. Um exemplo de poema original que foi depois adaptado é a obra Tree, do autor surdo britânico Paul Scott, adaptada para o folclore brasileiro como A árvore, pela professora surda Fernanda de Araújo Machado. HISTÓRIA ORIGINAL Paul Scott produziu o poema em Língua de Sinais Britânica (BSL), retratando o ciclo de vida de uma árvore plantada e cuidada por um homem. Já crescida e frondosa, a árvore é cortada por um machado. No entanto, um broto teima em nascer do que restou da antiga árvore. A árvore que insiste em renascer pode ser interpretada como uma metáfora para a resistência do povo surdo. Na história original, há a configuração de mão de círculo de sol, além de personagens como o gato, o cão, um cego e um lenhador. Imagem: Shutterstock.com HISTÓRIA ADAPTADA Na adaptação para Libras, a árvore é plantada e protegida pelo Saci, não sendoderrubada. Em vez disso, tempos depois, outra árvore nasce ao lado da primeira. A metáfora passa a apontar para os aspectos da comunidade e da identidade coletiva, mais do que a resistência ou a resiliência do surdo. Na adaptação de Fernanda Machado, permanece a configuração de mão de círculo de sol, mas o número de personagens é reduzido para três, com a introdução de figuras do folclore brasileiro: a onça, o Saci e seu filho. SAIBA MAIS A obra original, produzida pela Universidade de Bristol, está disponibilizada no canal Signmetaphor no YouTube. A adaptação está disponível no canal Colecionador de Sacis no YouTube. Foto: Shutterstock.com Outros exemplos de adaptação em Libras na cultura surda são os seguintes vídeos: • A Chapeuzinho Vermelho no Letras-Libras, de Carolina Hessel Silveira, 2016, disponibilizado no canal AcessoBR no YouTube. • A Princesa e o Sapo, de Carolina Hessel Silveira, 2016, disponibilizado no canal AcessoBR no YouTube. • O Boi e o Sapo, de Luciano Dyniewicz, 2020, com um pequeno trecho disponibilizado no vídeo Sarau Mãos Literárias Brasileiras no canal Uninter no YouTube. A tradução e a adaptação para Libras atuam como incentivos culturais, contribuindo para que os surdos reconheçam os valores das histórias e da literatura clássica. A partir daí, pode surgir um contexto cultural e educacional que promova a criatividade, além da identificação dos surdos com a cultura da comunidade da qual fazem parte. A adaptação de obras literárias para a cultura surda, com foco nos personagens surdos, é bastante relevante e significativa, pois os leitores podem reconhecer os valores da cultura surda e de sua língua de sinais. EM TODOS ESSES LIVROS, OS PERSONAGENS PRINCIPAIS SÃO SURDOS E O ENREDO DA HISTÓRIA MUDA UM POUCO EM RELAÇÃO AO ORIGINAL. OS AUTORES DESSES LIVROS CONHECEM OS CLÁSSICOS DA LITERATURA MUNDIAL, RECONHECEM NESSAS HISTÓRIAS VALORES CULTURAIS E REALIZAM ADAPTAÇÃO PARA CULTURA SURDA, DE FORMA QUE O DISCURSO TRAGA REPRESENTAÇÕES SOBRE OS SURDOS. (MOURÃO, 2011, p. 74) Imagem: Shutterstock.com CRIAÇÃO As produções do tipo criação são textos originais surgidos e produzidos a partir de um movimento de histórias e de ideias que circulam na comunidade surda e que não estão entre os produtos literários clássicos e/ou da literatura em geral (MOURÃO, 2011). Veja alguns exemplos: A Fábula da Arca de Noé, de Cláudio Mourão, 2014. As Luvas Mágicas do Papai Noel, de Alessandra Klein e Cláudio Mourão, 2012. O Feijãozinho Surdo, de Liège Kuchenbecker, 2009. Tibi e Joca: uma história de dois mundos, de Cláudia Bisol, 2001. Há obras que são compostas por imagens, sem escrita em português. Nessas obras, é necessária a leitura das imagens, como em Casal Feliz, de 2010, de autoria do surdo brasileiro Cleber Couto. No livro, o autor evidencia que se alguém souber a língua de sinais, conseguirá entender a leitura das imagens, pois a forma de contação das ilustrações das mãos é num contexto de sinais. Mas se o leitor não souber a língua de sinais, infelizmente, não consegue entender a leitura das imagens. Veja exemplos de ilustrações: Imagem: Couto, 2010.Ilustrações de Casal Feliz. Alguns livros de histórias em quadrinhos contêm, além das imagens, quadrinhos com algumas palavras. Assim, a maioria das páginas é de leituras de imagens e uma pequena parte demanda a leitura da escrita em português. Os exemplos são: • A Mulher Surda na Segunda Guerra Mundial, de Germano Spelling, Kelly Cezar e Danilo Silva, ilustrado por Luiz Almeida, de 2019. • Três Patetas Surdos: o Segredo da Noite, de Lucas Ramon, 2016. Fonte: Ramon (2016)Três Patetas Surdos: o Segredo da Noite. Após abordarmos os três tipos de produção literária surda — tradução, adaptação e criação —, é preciso fazer uma distinção entre Literatura Surda e literatura sobre o surdo. Há livros que devem ser identificados como pertencentes à literatura sobre o surdo. É o caso dos livros que trazem uma visão clínica sobre os surdos ou dos livros da área da Pedagogia que tratam da inclusão de surdos e de como lidar com as diferenças. Esses livros não devem ser considerados Literatura Surda porque neles não são trabalhados criativa e artisticamente os valores da língua de sinais e da cultura surda. CONTEXTO E TIPOS DE PRODUÇÃO DA LITERATURA SURDA Assista ao vídeo abaixo sobre o contexto da produção literária surda e seus tipos de produção. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS: I. OS CONCEITOS DE MÃOS LITERÁRIAS E DA VISUALITERÁRIA CORRESPONDEM À INEXISTÊNCIA DE TRADIÇÕES SURDAS E À PRODUÇÃO EM LÍNGUAS DE SINAIS A PARTIR DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS, QUANDO A PRODUÇÃO PODIA SER REGISTRADA. II. A SINALIDADE É UM CONCEITO ASSOCIADO A UM CONTEXTO NO QUAL A PRODUÇÃO LITERÁRIA NÃO CONTAVA COM UM TIPO DE REGISTRO COMO O VÍDEO. III. A VISUALITERÁRIA É UM CONCEITO QUE NOS REMETE AO FATO DE OS SUJEITOS SURDOS MEMORIZAREM E TRANSMITIREM SUAS TRADIÇÕES E HISTÓRIAS ÀS PRÓXIMAS GERAÇÕES. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: I II I e II II e III I, II e III 2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA CORRETAMENTE OS TIPOS DE LITERATURA SURDA. Tradução, adaptação e criação. Sinalização, interpretação e criação. Interpretação, contextualização e criação. Visualização, escrituração e sinalização. Narração, contação e sinalização. GABARITO 1. Considere as seguintes afirmativas: I. Os conceitos de mãos literárias e da visualiterária correspondem à inexistência de tradições surdas e à produção em línguas de sinais a partir das tecnologias digitais, quando a produção podia ser registrada. II. A sinalidade é um conceito associado a um contexto no qual a produção literária não contava com um tipo de registro como o vídeo. III. A visualiterária é um conceito que nos remete ao fato de os sujeitos surdos memorizarem e transmitirem suas tradições e histórias às próximas gerações. Está correto apenas o que se afirma em: A alternativa "D " está correta. Antes das tecnologias de gravação e circulação das imagens em vídeo e dos recursos digitais, as produções da comunidade surda circulavam e eram passadas de geração em geração graças à sinalidade, conceito que contrasta com a oralidade. Pela sinalidade e a visualiterária, essas produções na forma de histórias, por exemplo, eram memorizadas e transmitidas. 2. Assinale a alternativa que apresenta corretamente os tipos de Literatura Surda. A alternativa "A " está correta. As obras ou produções da Literatura Surda podem ser classificadas, em função de seu processo, como tradução, quando se traduz uma obra de outra língua de sinais ou de uma língua oral para Libras; adaptação, quando se contextualiza ou se adapta determinada produção para o mundo da cultura surda; e criação, quando há uma produção nova ou original a partir de histórias e ideias que circulam na comunidade surda. MÓDULO 2 Identificar os tipos de gêneros e os elementos literários em Libras GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS Foto: Shutterstock.com Você já aprendeu que os tipos de Literatura Surda são tradução, adaptação e criação. Também já viu que a sinalidade não contava com um tipo de registro, por isso os sujeitos surdos memorizavam e transmitiam suas tradições e histórias às próximas gerações pela visualiterária. Após o surgimento das novas tecnologias, começaram a ser feitas gravações em fitas VHS, CDs e DVDs com animação, fotografias e outros tipos de imagens, contendo textos em português para tradução em Libras e textos em Libras para tradução em português. A Literatura Surda surge, então, na forma escrita e também em língua de sinais. NO CASO DAS LÍNGUAS DE SINAIS, A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO DE LITERATURA NÃO SE APLICA SOMENTE A ESCRITAS LITERÁRIAS, MAS TAMBÉM ABARCA A LÍNGUA DE SINAIS. NESSA LÍNGUA PODEMOS IDENTIFICAROS VISUAIS ESTÉTICOS, QUE TRANSMITEM O PRAZER E CONFORTO LINGUÍSTICO. NESSE SENTIDO, A LÍNGUA DE SINAIS PROVOCA EMOÇÃO, PELA BELEZA DAS FRASES ESTÉTICAS, PELO MODO COMO SE MANIFESTAM AS ARTES SINALIZANTES. (MOURÃO, 2016, p. 34) A literatura surda contemporânea se apresenta vibrante em mãos literárias brasileiras, em vários gêneros literários, tal como humor, poesia, crônica, narrativa, histórias em quadrinhos, entre outros gêneros. São obras literárias produzidas por autores surdos e por autores ouvintes fluentes em Libras. Eles fazem um belo e relevante trabalho literário seja no papel de tradutor/intérprete ou de autor criando sua própria obra na área de Literatura Surda. Conforme Karnopp nos lembra (2008, p. 171), toda essa produção da Literatura Surda é constituída “pelas histórias produzidas em língua de sinais pelas pessoas surdas, pelas histórias de vida que são frequentemente relatadas, pelos contos, lendas, fábulas, piadas, poemas sinalizados, anedotas, jogos de linguagem e muito mais”. Em todos os gêneros literários, é recorrente a apresentação do surdo como um indivíduo oprimido por causas dos preconceitos linguísticos. Entretanto, também encontramos nessa literatura vários elementos, como personagens a partir de figuras humanas ou animais; a presença de heróis surdos; temas como diversidade, paixão, política e os obstáculos da vida; o uso de recursos metafóricos; o orgulho surdo, a valorização da língua de sinais, entre outros. Imagem: Editora Surd´Universo, 2007Capa do livro Mamadu, o Herói Surdo, de Marta Morgado. Vamos, então, conhecer alguns gêneros literários em Libras. NARRATIVAS As narrativas podem ser caracterizadas como fluidas e contextualizadas (KARNOPP; KLEIN, 2016). Dessa forma, as narrativas não são fixas, não possuem um conceito acabado, sendo produzidas em cada tempo e espaço determinado, o que pode modificar o sentido do conceito de narrativa. Imagem: Shutterstock.com As narrativas são conhecidas por relatarem uma história, fictícia ou não, apresentando os personagens e outros elementos como tempo e espaço. Podemos identificar gêneros narrativos como romance, conto, anedotas, relatos, história em quadrinhos, filmes, teatro e outros. Há também prosa- poesia, crônicas e outros gêneros ligados às narrativas. Os gêneros textuais predominantemente narrativos mais tradicionais são as epopeias, novelas, contos, romances, biografias, autobiografias; mas há os gêneros estudados mais recentemente: notícias, piadas, crônicas, registros de ocorrência (policiais, escolares etc.), histórias de vida, notas de blogs, histórias de literatura infantil etc. (KARNOPP, KLEIN, 2016, p. 99). No caso das produções dos sujeitos surdos, eles narram ou relatam histórias e experiências pessoais que circulam na comunidade surda. Exemplos de narrativas: • Vídeo Somos Diferentes de Você?, de 2018, produzido pelo youtuber surdo Gabriel Isaac e disponibilizado no canal do Isflocos do YouTube. • Fábula Os Seis Animais Doutores, de 2020, criada pelo artista surdo Nelson Pimenta e disponibilizada em seu canal no YouTube. HUMOR As obras humorísticas provocam diferentes tipos de riso, seja por meio das piadas clássicas ou daquelas que podem ser caracterizadas como contemporâneas. Os surdos produzem contos de humor ou piadas que circulam e são consumidos na comunidade surda através de várias gerações. São histórias de humor compartilhadas em uma língua de sinais, trazendo assim o conforto do riso ao permitirem a identificação com a cultura surda. Foto: Shutterstock.com Segundo Silveira (2015), traduzir o humor presente em uma cultura para outra ou produzir humor numa determinada cultura requer inserção linguística e cultural para o entendimento da piada. As piadas surdas que circulam em línguas de sinais nas comunidades surdas existiam antes mesmo dos registros na forma de textos impressos ou de gravações em vídeos. AS PIADAS SURDAS TÊM SIDO, NAS COMUNIDADES SURDAS, MUITO ANTES DOS MEIOS ELETRÔNICOS DE DIVULGAÇÃO, COMO INTERNET, VÍDEOS E GRAVAÇÕES, UM FATOR DE LIGAÇÃO E DE FORTALECIMENTO ENTRE GERAÇÕES DE SURDOS. COM O EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES SURDAS, COMEÇOU A HAVER UM MAIOR INTERESSE PELO REGISTRO E ESTUDO DAS PIADAS E ANEDOTAS SURDAS. (SILVEIRA, 2015, p. 414) Há histórias de humor que são apresentadas ou circulam com piadas surdas sem uma fonte específica ou precisa, sem que ninguém saiba de onde foram extraídas ou quem elaborou sua ideia original. A pesquisadora Carolina Hessel Silveira (2015), pesquisando sobre a piada da árvore surda, em diversas fontes e formatos, encontrou pelo menos seis versões dessa popular piada na comunidade surda. Imagem: Silveira (2015, p. 69).Versão portuguesa em HQ da piada da árvore surda. A piada da árvore surda também pode ser encontrada em outras versões em pelo menos quatro vídeos: • TV CES - Piada em Libras, de Fábio de Sá, 2014, disponível no canal do autor no YouTube. • Piadas em Libras – Madeira, de Áulio Nóbrega, 2013, disponível no site da TV INES. • Lenhador, de Cláudio Mourão, 2019, disponível no repositório Arte de Sinalizar, do portal da UFRGS. • Árvore Surdo-Cego, de Jefferson de Jesus, 2019, disponível no canal Arte de Sinalizar no YouTube. Confira uma lista de outras piadas e anedotas em Libras disponíveis em vídeo: • A Mosca, de Humberto Gripp, 2007, disponível no canal do YouTube Betto LIBRAS. • O Motoqueiro Surdo, de Augusto Schallenberger, 2016, disponível no canal do YouTube AcessoBR. • A Pesca, de Cleber Couto, 2020, disponível no canal do YouTube Galera ungida libras. • A Piada do Touro, de Alberto Oliveira, 2020, disponível no canal do YouTube Na Palma da Mão. • Gravidez Indesejada - Libras, do Porta dos Surdos, 2017, disponível no canal do YouTube Porta dos Surdos. • Próteses de Libras, de Fábio de Sá, 2017, disponível no canal do YouTube TV CES. • Chapeuzinho Vermelho, produzido pela TV INES, 2013, disponível no site da TV INES. POESIA A maior parte dos poetas surdos, tanto no Brasil como em outros países, cria a partir das línguas de sinais, mas há aqueles que preferem poemas escritos em português ou em outra língua oral e os que produzem poemas bilíngues. ATUALMENTE, NA COMUNIDADE SURDA, OS POEMAS EM LIBRAS FAZEM MAIS SUCESSO E TÊM MAIS RECEPTIVIDADE, MAS HÁ ALGUNS SURDOS QUE CONTINUAM USANDO POESIA ESCRITA (EM LÍNGUA PORTUGUESA) E POESIA TRADUZIDA (DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LIBRAS). (SILVEIRA; KARNOPP, 2013, p. 4) A partir de 1960, começaram a surgir poetas surdos expoentes em língua de sinais. Relacionamos aqueles que consideramos ser os primeiros surdos com destaque dentro da comunidade internacional: Dorothy Miles na Inglaterra. Ella Lentz nos Estados Unidos. Clayton Valli nos Estados Unidos. Dorothy Miles também foi grande influência para a comunidade surda britânica, já que sua terra natal é a Inglaterra (SUTTON-SPENCE; QUADROS, 2006). Também devemos mencionar Carlos Alberto Goes, primeiro ator surdo brasileiro registrado que teve destaque nos Estados Unidos. Lá, ele ficou seis meses, fez curso de curta duração no Teatro Nacional do Surdo (The National of the Deaf - NTD), estudando artes surdas, teatros surdos, políticas surdas e Língua de Sinais Americana (ASL). Quando voltou para o Rio de Janeiro, criou o grupo de teatro de surdos no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). [NOS ESTADOS UNIDOS], NO CONTATO DE SEUS OLHOS COM O PROCESSO DE OUTRAS PRÁTICAS DISCURSIVAS DAS MÃOS, NA FORMA DE ARTES SURDAS, PERCEBEU QUE ERAM NECESSÁRIAS ESSAS PRÁTICAS NO BRASIL. NA SUA VOLTA AO BRASIL, REUNIU GRUPOS DE SURDOS COM AS IDEIAS DAS MÃOS ARTÍSTICAS. EM 28 DE FEVEREIRO DE 1989, FUNDOU O CENTRO DE INTEGRAÇÃO DOS SURDOS NAS ARTES CÊNICAS (CISACEN), NO RIO DE JANEIRO. (MOURÃO, 2016, p. 93) Outro nome a ser destacado é Nelson Pimenta, que fazia partedo CISACEN e decidiu ir aos Estados Unidos, tornando-se uma grande influência na escola poética americana. Ele cresceu artisticamente no contexto dos encontros de poetas surdos americanos e por seu trabalho no Teatro Nacional do Surdo (NTD), onde conheceu Ella Lentz, que fazia teatro e compunha poesias e narrativas (SUTTON-SPENCE; QUADROS, 2006). Quando Nelson Pimenta voltou ao Brasil, iniciou o projeto LSBvídeo, produzindo poesia, narrativas e outros gêneros em Libras em suportes como fita VHS, CD e DVD. A poesia em língua de sinais tem sua própria estrutura, com elementos como velocidade, ritmo, simetria, rima, entre outros. A linguagem está sempre no primeiro plano. Assim como em qualquer língua, a poesia em língua de sinais se vale de uma forma intensificada de linguagem (“sinal arte”) para efeito estético (SUTTON-SPENCE; QUADROS, 2006, p. 112). javascript:void(0) CISACEN Atualmente, denominado de Centro de Integração de Arte e Cultura dos Surdos (CIACS), continua as atividades com grupo de teatro, poetas, oficinas etc. na cidade do Rio de Janeiro. Foto: Shutterstock.com Atualmente, verificamos um aumento da produção de vídeos de poemas nas redes sociais, produzidos por poetas surdos, como: NELSON PIMENTA (RIO DE JANEIRO) RENATA FREITAS (CEARÁ) YANNA PORCINO (PERNAMBUCO) FERNANDA MACHADO (SANTA CATARINA) KLÍCIA CAMPOS (PARANÁ) GUSTAVO GUSMÃO (SANTA CATARINA) VICTÓRIA PEDRONI (PARANÁ) CRISTIANO MONTEIRO (PERNAMBUCO) RENATA REZENDE (BRASÍLIA) THAG (THIAGO F. SANTOS - MARANHÃO) LEONARDO CASTILHO (SÃO PAULO) EDINHO SANTOS (SÃO PAULO) PRISCILA LENNOR (BAHIA) CATHARINE MOREIRA (SÃO PAULO) Confira alguns desses poemas em vídeos que estão disponíveis no YouTube: • Natureza Ontem e Hoje, de Nelson Pimenta, 2020, disponível no canal Nelson Pimenta. • O Sol nos Números da Vida, de Cláudio Mourão, 2020, disponível no canal Cláudio Mourão. • Poesia Surda pra Sempre, de Rodrigo Custódio, 2020, disponível no canal Rodrigo Custódio da Silva. • Memórias do Sertão, de Klícia Araújo, 2020, disponível no canal Mãos Arretadas. Vale também mencionar as adaptações e produções de poemas em línguas de sinais a partir do haicai japonês. A comunidade surda americana pegou carona nessa forma poética japonesa e a adaptou, produzindo e divulgando os poemas em Língua de Sinais Americana (ASL). Esses haicais começaram a ser produzidos em ASL nos Estados Unidos nos anos 1970, a partir de sua versão escrita em inglês. Um desses haicais é o poema Deaf, de Nigel Howard, de 2015, disponibilizado no canal Signmetaphor no YouTube. HAICAI Também denominado Haiku e Haikai, esses poemas curtos tinham regras que exigiam a forma fixa de três versos. Com o passar do tempo, esse gênero se popularizou não só no Japão como no mundo todo e houve uma pequena mudança em sua estrutura para explorar os sentidos, a paixão e outros aspectos e temas. javascript:void(0) CRÔNICA As crônicas se caracterizam por serem textos curtos, possuírem linguagem simples, temas muitas vezes leves, com poucos (ou nenhum) personagens, tons de humor, ironia ou crítica. A crônica é uma forma de narrar ou de refletir sobre o cotidiano, sendo comum sua publicação e divulgação em jornais, revistas, blogs e outros tipos de publicação e meios de comunicação. É possível classificar ou caracterizar as crônicas como descritivas, narrativas, humorísticas, poéticas, jornalísticas, entre outras denominações. A CRÔNICA TAMBÉM É ASSEMELHADA A OUTROS GÊNEROS TEXTUAIS, COMO O CONTO, A POESIA, A MEMÓRIA, O ENSAIO, COMÉDIAS, DENTRE OUTRAS POR TER TAMANHA SEMELHANÇA EM SUA ESTRUTURA TEXTUAL. NESTE SENTIDO, CABE CONCEBER A CRÔNICA COMO UMA PRODUÇÃO DE CARÁTER OPINATIVO, CONSERVATIVO E REFLEXIVO, POIS O ESCRITOR DE CRÔNICAS TEM SUA LIBERDADE AMPLIADA PODENDO DE DIVERSOS MODOS ESCREVER. (LIMA, 2016, p. 3) Como podemos perceber, o campo das produções literárias de surdos tem sido muito abundante e hoje os surdos não se restringem a um tipo de publicação, mas se sentem livres para explorar suas produções fazendo uso da escrita, dos vídeos e de outros recursos. As redes sociais têm contribuído significativamente para que os surdos compartilhem e consumam essas produções. Um exemplo é a crônica O Sentido da Vida, de Nelson Pimenta, de 2020, disponibilizada em vídeo no seu canal do YouTube. SLAM A partir da década de 90, nos Estados Unidos, surgiu o SLAM. Numa leitura rápida e desatenta pode-se pensar que se trata de uma sigla, mas na verdade é um gênero literário, um tipo de performance artística, em que ocorrem batalhas de poesia, algo mais ligado a movimentos sociais, culturais e artísticos. Era uma expressão literária muito comum em vários eventos culturais nos Estados Unidos. Mais tarde, chegou também à comunidade surda americana, com trabalho pioneiro do poeta surdo americano Bob Arnold, que criou o ASL SLAM. Foto: Julia Kaysa/ Shutterstock.com O SLAM também se tornou moda no Brasil com o grupo Corposinalizante, a partir de 2014. Um dos idealizadores do SLAM no Brasil, o surdo Leonardo Castilhos desenvolve com surdos e ouvintes um trabalho conjunto chamado Slam do Corpo. ATENÇÃO As produções de poemas do SLAM seguem alguns critérios ou regras: devem ter o tempo mínimo de 3 minutos; não podem fazer uso de materiais; podem ser apresentados em dueto; podem ter participação de ouvintes, desde que sejam fluentes em Libras. O SLAM SURDO É UMA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA QUE PROMOVE A INTEGRAÇÃO DE CULTURAS E DE LÍNGUAS DIFERENTES. O SLAM EM LÍNGUAS DE SINAIS CONSTITUI UM GÊNERO TEXTUAL, SENDO SUA ATRIBUIÇÃO GESTO-VISUAL. AS POESIAS PRODUZIDAS PELO SLAM SURDO TRANSMITEM CONHECIMENTO, CARACTERÍSTICAS CULTURAIS, PASSAM UMA MENSAGEM, DESCONSTROEM ALGUNS PARADIGMAS PRECONCEITUOSOS E MOTIVAM OUTRAS PESSOAS A ACEITAREM SUAS IDENTIDADES. (ABRAHÃO, 2020, p. 43) Os poemas do SLAM acontecem em vários eventos específicos da comunidade surda. Quando um surdo participa de um evento realizado por um ouvinte, normalmente o faz em dupla: surdo e ouvinte. Temos como exemplo a performance de Edvaldo Santos, conhecido Edinho Santos, poeta surdo, integrante do Slam do Corpo, que participou na batalha SLAM BR, em 2019, com seu parceiro compositor James Bantu, que fez a voz do Edinho, chegando à final. Catherine Moreira, poeta surda, também integrante do Slam do Corpo, fez dupla com Cauê Gouveia, poeta ouvinte, durante o evento Manos e Minas, em 2017. Durante a pandemia da Covid-19, o SLAM se mostrou de forma muito intensa e forte com batalhas de poesia em Libras que ocorreram nas redes sociais por meio de lives no Instagram e YouTube. Entre as várias temáticas, foi possível identificar assuntos como: Nordeste, feminismo, população LGBT, resistência do surdo etc. Atualmente, o SLAM tem visibilizado a cultura surda na comunidade surda dos grandes centros urbanos. Imagem: Shutterstock.com Acompanhe alguns exemplos do SLAM em Libras, disponíveis em vídeos no YouTube: • Poeta: Catharine Moreira e Cauê Gouveia, Manos e Minas, 2017, disponibilizado no canal Manos e Minas. • O Mudinho, de Edinho Santos, 2018, disponibilizado no canal Direção da Faculdade de Letras. • Poeta: Amanda Lioli e Catherine Moreira, Manos e Minas, 2016, disponibilizado no canal Manos e Minas. • O que é Slam do Corpo?, 2017, disponibilizado no canal Guilherme Martins Batista. • Slam Live Mãos, Arte de Sinalizar, 2019, disponibilizado no canal Arte de Sinalizar. • Slam das Mãos, 2021, disponibilizado no canal Slam das Mãos. • Slam do 9, Arte de Sinalizar, 2020, disponibilizado no canal Arte de Sinalizar. EVENTOS CULTURAIS E LITERÁRIOS Imagem: Shutterstock.com Existem vários eventos culturais em língua de sinais no Brasil e no mundo. No Brasil, como referência, podemos citar o Festival Brasileiro de Cultura Surda na UFRGS, Porto Alegre-RS (2011);o Festival de Folclore Surdos na UFSC - Florianópolis-SC (2014, 2016); o Festival Cultura Literatura em Libras da UFPE, Recife-PE (2016, 2018); e o Festival Despertacular (2018, 2019), entre outros. Em redes sociais como YouTube e plataformas como Vimeo, você encontra vídeos de festivais no Brasil que contaram com oficinas artísticas surdas, teatros, exposições, SLAM, poesia, literatura surda, competição de cinema, entre outras manifestações artísticas em língua de sinais e no espaço da cultura surda. Dentre os festivais citados anteriormente, alguns possuem registros em vídeo: • Festival de Folclore Surdo, disponível no canal do Vimeo Martin Haswell. • Festival Cultura Literatura em Libras, disponível no canal do YouTube Festival Cultural e Literário em Libras da UFPE. • Festival Despertacular, disponível no canal do YouTube Despertacular Festival. Também vale mencionar as cinco edições (2017-2020) do Sarau Arte de Sinalizar: Narrativa, Humor e Poesia, organizado por Cláudio Mourão, na UFRGS, em Porto Alegre-RS, e nas cidades de Passo Fundo-RS, Florianópolis-SC, Curitiba-PR e São Luís-MA. A realização da primeira edição desses eventos foi tratada no artigo Sarau Arte de Sinalizar: Narrativa, Humor e Poesia, de Cláudio Mourão e Bruna Branco, publicado na Revista ECOS em 2018, e no vídeo Conexperiência (2021), disponível no canal Arte de Sinalizar no YouTube. O processo de aproximação e imersão cultural é essencial tanto a surdos como a ouvintes. Nesse sentido, recomendamos que aqueles que têm interesse e estudam esses aspectos estejam atentos aos espaços de produções culturais como festivais e/ou saraus e busquem participar de modo ativo, conhecendo grandes artistas surdos da língua de sinais, riquezas da cultura surda. ELEMENTOS LITERÁRIOS Imagem: Shutterstock.com A literatura em língua de sinais produz experiências estéticas e emoções identificáveis apenas na cultura surda. Vários pesquisadores surdos e ouvintes têm evidenciado os diversos elementos das mãos literárias. Não será possível aprofundar ou detalhar esses elementos da visualidade literária, mas vamos apresentar alguns dos principais conceitos e exemplos de elementos dos gêneros literários em línguas de sinais. Imagem: Shutterstock.com ABC E NÚMERO São elementos que podem ter um caráter lúdico ou de brincadeira, com sequências de letras do alfabeto manual ou de números, dentro do contexto da criatividade literária. Pode ser uma narrativa, poesia ou outro gênero literário a partir de uma abordagem criativa e divertida, com brincadeiras com as configurações de mãos. ABC e número não precisam seguir a ordem alfabética ou dos números, a criatividade é livre desde que esteja no contexto sinalizado, em conformidade com a estética que o ator ou autor usou para criar uma história. A COMUNIDADE SURDA BRASILEIRA COMEÇOU A PRODUZIR HISTÓRIAS ABC E NÚMEROS A PARTIR DE 2000, CONFORME REGISTROS. ATRAVÉS DESSA FORMA DE APRESENTAÇÃO, UMA HISTÓRIA É EXPRESSA EM SEQUÊNCIA DE CONFIGURAÇÕES DE MÃOS, USANDO ALFABETO MANUAL, NÚMEROS, NOMES PRÓPRIOS OU OUTRAS PALAVRAS. (SILVEIRA; KARNOPP, 2013, p. 5) Confira alguns exemplos de autores surdos que fazem formas criativas a partir de ABC e/ou número. • O Pintor de A Z, vídeo Cadernos de Apoio e Aprendizagem em Libras - 1º ano, de Nelson Pimenta, produzido pela LSBvídeo, 2014, disponível no canal Pedagógico SEMESP no YouTube. • Número Sangrento, de Cláudio Mourão, 2016, disponível no canal AcessoBr no YouTube. • Número 0 até 9, de Fábio de Sá, 2018, disponível no canal do autor no YouTube. • A-B-C Funny Sign Language, de Hii_een, 2019, disponível no canal do autor no YouTube. Nessas sequências, o importante não é a ordem necessariamente do alfabeto manual e do número, já que alguns seguem a norma padrão e outros não, mas sim que a criatividade e a contextualização fluam a língua de sinais como língua materna. A poeta Fernanda Machado, por exemplo, fez bela e criativa apresentação dos números em configurações das mãos, em ação no contexto de alimentação e da zona rural, conforme é possível conferir no seu vídeo “Como veio alimentação”, de 2018, disponível no canal da autora no YouTube. Imagem: Shutterstock.com CLASSIFICADORES Os classificadores constam nos gêneros literários. Segundo Quadros (2019, p. 74), “os classificadores envolvem uma categoria polimorfêmica específica das línguas de sinais. [...] as descrições de classificadores apresentam diferentes tipos, são de tamanho e forma; de entidade; de manipulação”. Para utilizar visualiterária como texto literário em língua de sinais, “os classificadores contribuem para a visualização de um cenário, de um objeto ou de um personagem” (SILVA, 2016, não paginado). Eles também “são configurações de mão que, relacionadas à coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância verbal” (GESUELI, 2009, p. 115). Confira alguns exemplos de vídeos em Libras: • Classificadores e Poema “Linha”, de Fábio de Sá, 2015, disponível no canal do autor. • Futebol Classificado em Libras, de Fábio de Sá, disponível no canal do autor. Imagem: Shutterstock.com INCORPORAÇÕES DE ANIMAIS E/OU HUMANOS Como visto anteriormente, classificadores em língua de sinais envolvem cenários, objetos ou um personagem. Também podemos incorporar animais e/ou humanos que representam personagens em narrativas e descrições. Confira alguns exemplos nas seguintes produções literárias disponíveis no YouTube: • Homem Aranha (Spider-Man), de Fábio de Sá, 2016, disponível no canal do autor. • Bolinha de Ping Pong, de Rimar Segala, 2009, disponível no canal do autor. • The Golf Ball, de Stefan Goldschmidt, 2012, disponível no canal do autor. • Deaf Man´s ASL Storytelling “Fish”, de Dack Virnig, 2015, disponível no canal do autor. Imagem: Shutterstock.com RITMO E VELOCIDADE Na performance de autor/contador/poeta em língua de sinais, podemos identificar o ritmo e a velocidade em todos os gêneros literários por meio de movimentos, pausas, alternância, mudança de velocidade e de duração, entre outras características (KLAMT; MACHADO; QUADROS, 2014). EM LÍNGUA DE SINAIS, AS PERFORMANCES POSSUEM, POR EXEMPLO, VARIAÇÃO NA VELOCIDADE E NO RITMO DE SINALIZAÇÃO, COMO NOS EFEITOS DE CÂMERA LENTA. (KLAMT, 2014, p. 28) Confira alguns vídeos de produções literárias, disponíveis no YouTube, para perceber esses elementos relacionados com o ritmo e a velocidade. • Poesia em Libras: O Amor Acabou, de Alan Godinho, 2018, disponível no canal do autor. • Don’t Text and Drive, de John Maucere, 2010, disponível no canal do autor. Imagem: Shutterstock.com DUETO O dueto ou dupla refere-se à execução musical de dois solistas ou de duas vozes, de dois cantores ou instrumentos, ou ainda se refere à coreografia para dois bailarinos. Há várias produções de surdos em dueto, podendo também a dupla ser composta por um artista surdo e outro artista ouvinte. Nos duetos, há uma criação conjunta das narrativas em língua de sinais como mãos literárias. Confira alguns exemplos: • Piloto de Guerra, de Renata Freitas e Daniel Almeida, 2019, disponível no Instagram @renata_freitas_libras. • Dueto: Daltro e Victoria, UFSC, 2017, disponível no repositório da UFSC. • Unexpected Moment, das gêmeas surdas Quahid, 2014, disponível no canal do YouTube de uma das irmãs. Imagem: Patrícia Cordeiro VERNACULAR VISUAL - VV Vernacular Visual (VV) é um “novo estilo de expressão artística desenvolvido e representado por pessoas surdas” (ABRAHÃO, 2019, p. 37). O ator, mímico e surdo americano Bernard Bragg foi o criador do VV, mais tarde disseminado na Europa e no mundo. No Brasil, o VV chegou por meio dos contatos com surdos estrangeiros em eventos culturais em Libras, como o Festival de Folclore Surdo na Universidade Federal de Santa Catarina e o Festival Clin D'Oeilem Reims, na França. VV é uma forma de performance, mímica, técnica teatral ou modo cinematográfico que confere determinado aspecto estilístico ao texto literário elaborado a partir de estruturas sinalizadas. COMENTÁRIO Alguns autores entendem que o VV é semelhante ao cinema mudo, no entanto, nosso entendimento é contrário a essa afirmação, já que o VV faz uso de um elemento gramatical das línguas de sinais, a saber, os classificadores (CL). Além disso, para apreciar uma apresentação do VV, é preciso conhecer a língua de sinais do local daquela apresentação, uma vez que a língua de sinais daquele território fornecerá elementos necessários para a compreensão. Sendo assim, o VV enquadra-se como gênero literário das línguas de sinais. Em contrapartida, o cinema mudo não impõe o mesmo rigor àqueles que o apreciam, pois não apresenta aspectos linguísticos, somente elementos imagéticos que possibilitam a compreensão da obra por qualquer indivíduo independentemente do conhecimento da língua. Veja um exemplo no vídeo de Bernard Bragg, criador do termo VV, em que ele apresenta uma forma de narrativa, sem recorrer ao vocabulário da Língua de Sinais Americana (ASL): The Pilot & The Eagle, de Bernard Bragg, 2017, disponível no canal DawnSignPress DSP no YouTube. É importante lembrar que, antes do novo termo Vernacular Visual, já existia sinalização no cinema e na televisão, em cenas de filmes, desenhos animados e outras produções, sem que houvesse legenda. Sabemos que os surdos assistiam a filmes ou à programação da televisão não legendados, capturando as imagens de ação, para depois contarem a história dos filmes com o uso, por exemplo, dos classificadores e das incorporações de personagens, de objetos e de animais, nos encontros de surdos (MORGADO, 2011, p. 26). Confira uma breve lista de produções, disponíveis no YouTube, que exemplificam o VV: • AVES, de Fábio de Sá, 2018, disponível no canal do autor. • Ciclismo, de Gustavo Gusmão, 2021, disponível no canal Visual Vernacular Gustavo Gusmão. • Poesia VV Renga (em 19 de abril celebramos o Dia do Índio em todo o Brasil), 2020, disponível no canal Ricardo Boaretto. • i3 ASL Story, de Justin Perez, 2018, disponível no canal Z VRS. • Caterpillar, de Ian Sanborn, 2017, disponível no canal Sorenson. GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS Assista ao vídeo abaixo sobre os tipos, os elementos e as características dos gêneros literários em língua de sinais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. O CONCEITO DE LITERATURA E DE GÊNEROS LITERÁRIOS TAMBÉM SE APLICA ÀS LÍNGUAS DE SINAIS. II. AS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS OU DOS GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS CONTÊM ASPECTOS ESTÉTICOS VISUAIS. III. OS GÊNEROS LITERÁRIOS SÃO UM CONCEITO PROVENIENTE DA TEORIZAÇÃO A PARTIR DE LÍNGUAS ORAIS, O QUE IMPOSSIBILITA HAVER GÊNEROS LITERÁRIOS NO CONTEXTO DAS ARTES SINALIZANTES. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: I II III I e II II e III 2. NOS GÊNEROS LITERÁRIOS EM LIBRAS, PODEMOS IDENTIFICAR ALGUNS ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS, COMO OS CLASSIFICADORES. SOBRE ESSE ELEMENTO, É CORRETO AFIRMAR QUE: Os classificadores pertencem a uma categoria não polimorfêmica das línguas de sinais, ou seja, eles correspondem a apenas um tipo de tamanho e forma. Os classificadores podem favorecer a visualização de um cenário, de um objeto ou de um personagem. Os classificadores inviabilizam a visualiterária e substituem as configurações das mãos na produção literária. Os classificadores sempre farão referência a um personagem humano, não tendo relação com a representação de objetos. Os classificadores sempre farão referência a um animal ou objeto, não tendo relação com a representação de seres humanos. GABARITO 1. Considere as afirmativas a seguir: I. O conceito de literatura e de gêneros literários também se aplica às línguas de sinais. II. As manifestações literárias ou dos gêneros literários em língua de sinais contêm aspectos estéticos visuais. III. Os gêneros literários são um conceito proveniente da teorização a partir de línguas orais, o que impossibilita haver gêneros literários no contexto das artes sinalizantes. Está correto apenas o que se afirma em: A alternativa "D " está correta. Como argumenta o pesquisador Cláudio Mourão, no contexto das línguas de sinais, não devemos restringir o conceito de literatura à escrita literária, já que podemos reconhecer a existência da literatura surda e dos gêneros literários em língua de sinais. As produções literárias em línguas de sinais podem provocar sentimentos, emoções e outras reações relacionadas com a beleza ou o prazer estético. 2. Nos gêneros literários em Libras, podemos identificar alguns elementos característicos, como os classificadores. Sobre esse elemento, é correto afirmar que: A alternativa "B " está correta. Os classificadores variam em tamanho, forma, entidade e manipulação. Eles auxiliam na visualização tanto de personagens quanto de objetos e cenários. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Abordamos neste conteúdo o contexto da produção da Literatura Surda e os tipos de produção como tradução, adaptação e criação, verificando que essa produção pode ser em livros com leitura a partir de imagens e/ou escrita, utilizando-se tanto o português como a língua de sinais da comunidade surda. Estudamos também os tipos, as características e os elementos dos gêneros literários em língua de sinais, destacando suas várias formas de produção e circulação na comunidade surda. Ao final, podemos perceber que há muito ainda a ser explorado nos estudos dos gêneros literários em Libras, pois a cada ano há produções significativas e atualizadas, com novas formas, conceitos e autores. Por isso, devemos acompanhar as novas pesquisas acerca dos gêneros literários e nos mantermos atualizados em relação ao contexto da Literatura Surda. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ABRAHÃO, B. Literatura Surda em performance: considerações sobre a arte visual vernacular (VV). In: CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC, 15, 2017, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: UERJ, 2019. Consultado na internet em: 10 abr. 2021. ABRAHÃO, B. SLAM: poesia contemporânea em línguas de sinais e sua influência na sociedade. Revista Espaço, INES, n. 53, jan./jun., 2020. COUTO, C. Casal feliz. Ilustrações: Cleber Couto. Belém: [s.n.], 2010. GESUELI, Z. A Narrativa em Língua de Sinais: um olhar sobre classificadores. In: QUADROS, R.; STUMPF, M. R. (org.). Estudos Surdos IV. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2009. KARNOPP, L. B. Literatura surda. Florianópolis: UFSC, 2008. KARNOPP, L. B.; KLEIN, M. Narrativas e diferenças em língua brasileira de sinais. Em Aberto, Brasília, v. 29, n. 95, jan./abr. 2016. KLAMT, M. O ritmo na poesia em língua de sinais. Dissertação (mestrado em Linguística). Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Consultado na internet em: 10 abr. 2021. KLAMT, M.; MACHADO, F.; QUADROS, R. Simetria e ritmo na poesia em língua de sinais. In. QUADROS, R.; WEININGER, M. (org.). Estudos da Língua Brasileira de Sinais III. Florianópolis: Insular, PGET/UFSC, 2014. MORGADO, M. Literatura das línguas gestuais. Lisboa: Universidade Católica, 2011. MOURÃO, C. H. N. Literatura surda: experiência das mãos literárias. Tese (doutorado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. Consultado na internet em: 10 abr. 2021. MOURÃO, C. H. N. Literatura surda: produções culturais de surdos em língua de sinais. Dissertação (mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Consultado na internet em: 10 abr. 2021. QUADROS, R. Libras. São Paulo: Parábola, 2019. RAMON, L. Três patetas surdos: o segredo da noite. Belo Horizonte: Lucas Ramon, 2016. SILVA, A.A tradução de literatura infantil para língua de sinais: diálogos entre as ilustrações e o corpo sinalizante. 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EXPLORE+ Conheça uma abordagem metodológica para tradução cultural, no contexto da tradução de português escrito para Libras, lendo o artigo Tradução Cultural: uma Proposta de Trabalho para Surdos e Ouvintes, de Clélia Ramos, disponível no portal PORSINAL ou na Biblioteca Digital SCRIBD. Para aprofundar seus estudos sobre a adaptação de obras para a cultura surda, leia o artigo Hibridismo e Literatura Surda: Análise de Curupira Surdo, de Bruna Branco e Cláudio Mourão. A diferença entre a Literatura Surda e a literatura sobre os surdos pode ser aprofundada pela leitura do artigo A Presença da Música e a Cultura Surda na Literatura Infantil, de Carolina Hessel Silveira e Cláudio Mourão, disponibilizado no portal PORSINAL. Amplie seu conhecimento sobre SLAM lendo o artigo SLAM - Poesia Contemporânea em Línguas de Sinais e sua Influência na Sociedade, de Bruno Ferreira Abrahão, disponível no portal do INES. Para saber mais sobre literatura e classificadores, sugerimos a leitura do texto A Narrativa em Língua de Sinais: um Olhar sobre Classificadores, de Zilda Gesueli, no e-book Estudos Surdos IV, disponível no portal da Editora Arara Azul. Saiba mais sobre VV lendo o artigo Literatura Surda em Performance: Considerações sobre a Arte Visual Vernacular, de Bruno Abrahão, disponível no site da ABRALIC. CONTEUDISTA Cláudio Henrique Nunes Mourão (Cacau Mourão) CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO PROPÓSITO OBJETIVOS MÓDULO 1 MÓDULO 2 INTRODUÇÃO DICA MÓDULO 1 OS CONCEITOS DE VISUALITERÁRIA E MÃOS LITERÁRIAS SINALIDADE CONTEXTOS DA PRODUÇÃO DAS MÃOS LITERÁRIAS PERCORRIDOS TANTOS SÉCULOS, A SINALIDADE DAS MÃOS LITERÁRIAS PERMANECE EM ALGUNS SUJEITOS SURDOS PELAS MEMÓRIAS E ALGUMAS FORAM ESQUECIDAS NO TEMPO E NO ESPAÇO. EXISTEM AINDA AS VERSÕES CLÁSSICAS E OUTRAS VERSÕES MODIFICADAS PELAS MÃOS LITERÁRIAS, QUE... [...] NAS PRODUÇÕES PRÓPRIAS DE SURDOS, HÁ A SINALIDADE, TRANSMITIDA A PARTIR DA VISUALIDADE, QUE SUBJETIVA A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES SURDAS CONECTADAS A SEUS PARES, NA COLETIVIDADE DOS SUJEITOS SURDOS. ANTES NÃO EXISTIAM MUITOS REGISTROS, APENAS A “SINALIDADE”, QUE ERA TRANSMITIDA PRESENCIAL E VISUALMENTE DE UM PARA O OUTRO. POR MEIO DA LÍNGUA DE SINAIS FORAM PRODUZIDOS OS SIGNIFICADOS NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS. A FORMA DE TRANSMITIR OS SIGNIFICADOS ... TIPOS DE PRODUÇÕES DA LITERATURA SURDA TRADUÇÃO SAIBA MAIS SAIBA MAIS ADAPTAÇÃO SAIBA MAIS EM TODOS ESSES LIVROS, OS PERSONAGENS PRINCIPAIS SÃO SURDOS E O ENREDO DA HISTÓRIA MUDA UM POUCO EM RELAÇÃO AO ORIGINAL. OS AUTORES DESSES LIVROS CONHECEM OS CLÁSSICOS DA LITERATURA MUNDIAL, RECONHECEM NESSAS HISTÓRIAS VALORES CULTURAIS E REALIZAM ADA... CRIAÇÃO CONTEXTO E TIPOS DE PRODUÇÃO DA LITERATURA SURDA VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS: I. OS CONCEITOS DE MÃOS LITERÁRIAS E DA VISUALITERÁRIA CORRESPONDEM À INEXISTÊNCIA DE TRADIÇÕES SURDAS E À PRODUÇÃO EM LÍNGUAS DE SINAIS A PARTIR DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS, QUANDO A PRODUÇÃO PODIA SER REGISTRADA. II. A SINALIDADE É UM CONCEITO ASSOCIADO A UM CONTEXTO NO QUAL A PRODUÇÃO LITERÁRIA NÃO CONTAVA COM UM TIPO DE REGISTRO COMO O VÍDEO. III. A VISUALITERÁRIA É UM CONCEITO QUE NOS REMETE AO FATO DE OS SUJEITOS SURDOS MEMORIZAREM E TRANSMITIREM SUAS TRADIÇÕES E HISTÓRIAS ÀS PRÓXIMAS GERAÇÕES. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: 2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA CORRETAMENTE OS TIPOS DE LITERATURA SURDA. MÓDULO 2 GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS NO CASO DAS LÍNGUAS DE SINAIS, A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO DE LITERATURA NÃO SE APLICA SOMENTE A ESCRITAS LITERÁRIAS, MAS TAMBÉM ABARCA A LÍNGUA DE SINAIS. NESSA LÍNGUA PODEMOS IDENTIFICAR OS VISUAIS ESTÉTICOS, QUE TRANSMITEM O PRAZER E CONFORTO LINGUÍST... NARRATIVAS HUMOR AS PIADAS SURDAS TÊM SIDO, NAS COMUNIDADES SURDAS, MUITO ANTES DOS MEIOS ELETRÔNICOS DE DIVULGAÇÃO, COMO INTERNET, VÍDEOS E GRAVAÇÕES, UM FATOR DE LIGAÇÃO E DE FORTALECIMENTO ENTRE GERAÇÕES DE SURDOS. COM O EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES SURDAS, COMEÇO... POESIA ATUALMENTE, NA COMUNIDADE SURDA, OS POEMAS EM LIBRAS FAZEM MAIS SUCESSO E TÊM MAIS RECEPTIVIDADE, MAS HÁ ALGUNS SURDOS QUE CONTINUAM USANDO POESIA ESCRITA (EM LÍNGUA PORTUGUESA) E POESIA TRADUZIDA (DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LIBRAS). [NOS ESTADOS UNIDOS], NO CONTATO DE SEUS OLHOS COM O PROCESSO DE OUTRAS PRÁTICAS DISCURSIVAS DAS MÃOS, NA FORMA DE ARTES SURDAS, PERCEBEU QUE ERAM NECESSÁRIAS ESSAS PRÁTICAS NO BRASIL. NA SUA VOLTA AO BRASIL, REUNIU GRUPOS DE SURDOS COM AS IDEIAS DAS ... CISACEN NELSON PIMENTA (RIO DE JANEIRO) RENATA FREITAS (CEARÁ) YANNA PORCINO (PERNAMBUCO) FERNANDA MACHADO (SANTA CATARINA) KLÍCIA CAMPOS (PARANÁ) GUSTAVO GUSMÃO (SANTA CATARINA) VICTÓRIA PEDRONI (PARANÁ) CRISTIANO MONTEIRO (PERNAMBUCO) RENATA REZENDE (BRASÍLIA) THAG (THIAGO F. SANTOS - MARANHÃO) LEONARDO CASTILHO (SÃO PAULO) EDINHO SANTOS (SÃO PAULO) PRISCILA LENNOR (BAHIA) CATHARINE MOREIRA (SÃO PAULO) HAICAI CRÔNICA A CRÔNICA TAMBÉM É ASSEMELHADA A OUTROS GÊNEROS TEXTUAIS, COMO O CONTO, A POESIA, A MEMÓRIA, O ENSAIO, COMÉDIAS, DENTRE OUTRAS POR TER TAMANHA SEMELHANÇA EM SUA ESTRUTURA TEXTUAL. NESTE SENTIDO, CABE CONCEBER A CRÔNICA COMO UMA PRODUÇÃO DE CARÁTER OPI... SLAM ATENÇÃO O SLAM SURDO É UMA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA QUE PROMOVE A INTEGRAÇÃO DE CULTURAS E DE LÍNGUAS DIFERENTES. O SLAM EM LÍNGUAS DE SINAIS CONSTITUI UM GÊNERO TEXTUAL, SENDO SUA ATRIBUIÇÃO GESTO-VISUAL. AS POESIAS PRODUZIDAS PELO SLAM SURDO TRANSMITEM CONHECI... EVENTOS CULTURAIS E LITERÁRIOS ELEMENTOS LITERÁRIOS ABC E NÚMERO A COMUNIDADE SURDA BRASILEIRA COMEÇOU A PRODUZIR HISTÓRIAS ABC E NÚMEROS A PARTIR DE 2000, CONFORME REGISTROS. ATRAVÉS DESSA FORMA DE APRESENTAÇÃO, UMA HISTÓRIA É EXPRESSA EM SEQUÊNCIA DE CONFIGURAÇÕES DE MÃOS, USANDO ALFABETO MANUAL, NÚMEROS, NOMES P... CLASSIFICADORES INCORPORAÇÕES DE ANIMAIS E/OU HUMANOS RITMO E VELOCIDADE EM LÍNGUA DE SINAIS, AS PERFORMANCES POSSUEM, POR EXEMPLO, VARIAÇÃO NA VELOCIDADE E NO RITMO DE SINALIZAÇÃO, COMO NOS EFEITOS DE CÂMERA LENTA. DUETO VERNACULAR VISUAL - VV COMENTÁRIO GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. O CONCEITO DE LITERATURA E DE GÊNEROS LITERÁRIOS TAMBÉM SE APLICA ÀS LÍNGUAS DE SINAIS. II. AS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS OU DOS GÊNEROS LITERÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS CONTÊM ASPECTOS ESTÉTICOS VISUAIS. III. OS GÊNEROS LITERÁRIOS SÃO UM CONCEITO PROVENIENTE DA TEORIZAÇÃO A PARTIR DE LÍNGUAS ORAIS, O QUE IMPOSSIBILITA HAVER GÊNEROS LITERÁRIOS NO CONTEXTO DAS ARTES SINALIZANTES. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: 2. NOS GÊNEROS LITERÁRIOS EM LIBRAS, PODEMOS IDENTIFICAR ALGUNS ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS, COMO OS CLASSIFICADORES. SOBRE ESSE ELEMENTO, É CORRETO AFIRMAR QUE: CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS EXPLORE+ CONTEUDISTA
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