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APOSTILA Linguística Libras-3

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Professora: Arielle de Oliveira Paiva
Introdução à Linguística da Libras: aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos 
 Teresina, 2024
· Introdução
As línguas de sinais são línguas naturais porque, como as línguas orais, surgiram espontaneamente da interação entre as pessoas e porque, devido à sua estrutura, permitem a expressão de qualquer conceito, ou seja, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano. As línguas de sinais são de modalidade visual-espacial, o canal de comunicação é o espaço, onde são produzidas as frases, discursos e textos, elas possuem gramática própria, com os níveis linguístico, fonológico, sintático, semântico e pragmático. Esses sistemas linguísticos fazem da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) um sistema nato de comunicação.
Importante ressaltar que as línguas de sinais não descendem e nem dependem das línguas orais.
A gramática da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma área do conhecimento que passou a ser explorada no Brasil nas últimas décadas, tendo como base de pesquisa a Língua Americana de Sinais (ASL). No Brasil, os primeiros estudos sobre a língua de sinais foram realizados na década de 1980, por Ferreira-Brito e Felipe. O Estatuto linguístico da LIBRAS foi homologado pela Lei 10.436/2002 e, por ela, consolidada sua condição de estrutura linguística composta de todos os componentes pertinentes às línguas convencionais, como gramática, semântica, pragmática e sintaxe.
Diante do exposto, este texto discorre sobre os aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais, demonstrando a concepção de língua natural, os princípios básicos que compõem as línguas convencionais, como arbitrariedade, iconicidade, variações linguísticas e níveis linguísticos.
· Língua de Sinais – Línguas Naturais
 
LINGUÍSTICA 
É o estudo científico das línguas naturais e humanas, ou seja, a linguística é a ciência da língua humana. Ela não tem um caráter prescritivo ou normativo, não impõe regras de uma língua, nem determina qual deve ser a forma “correta” de se dizer uma coisa. Seu objetivo não é proteger a língua de influências de outras línguas, nem privilegiar as formas mais cultas em detrimento de formas mais populares. O linguista observa e descreve as línguas tal como elas se apresentam, sem emitir nenhum juízo de valor.
A Linguística é, portanto, uma ciência descritivo-explicativa.
Durante muito tempo, as línguas de sinais eram denominadas linguagem de sinais, após ser comprovado seu status linguístico, o termo linguagem foi substituído por língua de sinais.
E qual a diferença entre língua e linguagem?
LÍNGUA 
É um conjunto de palavras, sinais e expressões organizados a partir de regras, sendo utilizado por um povo para sua interação. Sendo assim, a língua seria uma forma de linguagem: a linguagem verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque entre todas as linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens utilizando as palavras ou os sinais. Assim como as línguas orais, as línguas de sinais se organizam em diferentes níveis: semântico, sintático, morfológico e fonológico. 
O temo utilizado corretamente é "língua" de sinais e não "linguagem" de sinais. A Língua é o objeto de estudo da Linguística, é a parte social da linguagem, tem caráter coletivo, é um fenômeno que está além do individual. Exemplo, a Libras é uma língua de uma grande comunidade de pessoas surdas nascidas no Brasil, nasceu e se desenvolveu no âmbito de um grupo social, não individual. Por ser social, a língua é convencional, ou seja, há um acordo coletivo entre os falantes de uma língua. 
LINGUAGEM 
 
Linguagem é tudo que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música, cinema), animal (abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador, código Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação natural ou artificial, humana ou não”. 
[...] linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que os homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras manifestações simbólicas semelhantes à língua. A linguagem é heterogênea e multifacetada: ela tem aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e pertence tanto ao domínio individual quanto ao domínio social. Para Saussure, é impossível descobrir a unidade da linguagem. Por isso, ela não pode ser estudada como uma categoria única de fatos humanos. A língua é diferente. Ela é uma parte bem definida e essencial da faculdade da linguagem. Ela é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, estabelecidas e adotadas por um grupo social para o exercício da faculdade da linguagem. A língua é uma unidade por si só. Para Saussure, ela é a norma para todas as demais manifestações da linguagem. Ela é um princípio de classificação, com base no qual é possível estabelecer uma certa ordem na faculdade da linguagem (SAUSSURE, 1916)
 
Nota-se que língua e linguagem têm definições distintas. As línguas naturais são consideradas inerentes ao homem, um sistema linguístico usado por uma comunidade. Elas não incluem somente as línguas orais, as línguas de sinais também são naturais, pois sua estrutura permite expressar diferentes conceitos, como política, filosofia, poesia, música, teatro, esportes.
Karnopp & Quadros conceituam língua natural como:
(....) uma realização específica da faculdade de linguagem que se dicotomiza num sistema abstrato de regras finitas, as quais permitem a produção de um número ilimitado de frase. Além disso, a utilização efetiva desse sistema, com fim social, permite a comunicação entre os usuários (KARNOPP & QUADROS, 2004, p.30).
LÍNGUA E FALA
Vimos que a língua é um fenômeno social e convencional. A fala, por outro lado, é a manifestação da língua por um indivíduo. Portanto, a fala é um ato individual. As pessoas nascidas no Brasil têm como língua materna o português, mas cada uma, ao narrar um acontecimento ou numa conversa informal, vai produzir uma fala diferente usando a mesma língua. No ato da fala, o falante faz escolhas do léxico que vai usar.
 
· Propriedades das línguas humanas
Flexibilidade e versatilidade
As línguas apresentam várias possibilidades de uso em diferentes contextos. As línguas de sinais podem ser usadas para informar, argumentar, fazer poesias, dar ordens.
Arbitrariedade
As palavras e os sinais apresentam uma conexão arbitrária entre forma e significado. As línguas de sinais apresentam palavras em que não há relação direta entre forma e significado. Ex: CONHECER, AMIGO.
Descontinuidade
 As palavras que diferem de maneira mínima na forma normalmente apresentam uma diferença considerável no significado. Por exemplo, as palavras faca e fada diferem minimamente na forma. Esse fato tem por efeito mostrar o caráter descontínuo da diferença formal entre forma e significado. Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo em vários exemplos: REPETIR, DE NOVO, são realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim nunca são confundidos quando produzidos num enunciado.
Criatividade e produtividade
Todo sistema linguístico possibilita a seus usuários construir e compreender um número indefinido de enunciados que jamais ouviram ou viram antes. Os falantes nativos de uma língua têm a liberdade de agir criativamente, construindo enunciados, seguindo um conjunto de regras, dentro dos limites estabelecidos pela gramática. As línguas de sinais são produtivas como qualquer outra língua. EX: Você ter namorad@? Eu amar Lucas.
Dupla articulação 
As línguas humanas têm uma gama de unidades e fonemas. Mas, isoladamente, esses fonemas não têm significado. Eles adquirem significado apenas quando combinados, a essa combinação dá-se o nome de dualidade ou dupla articulação. Nas línguas de sinais, por exemplo, os parâmetros, por si só, não apresentam significado, mas ao serem combinados, formam ossinais que têm significado.
CM+M+L= significado.
Padrão
As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas. Considerando as palavras Ana, atrasada, acordou, a, que combinações possíveis poderíamos fazer? Vejamos: A Ana acordou atrasada; Atrasada, a Ana acordou; A Ana, atrasada, acordou. As línguas de sinais são altamente restringidas por regras. EX: ajudar, com licença, trabalhar, ter, triste, etc.
Dependência estrutural
 
Há uma relação estrutural entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória. Também é observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais.EX: RAFAEL TRABALHAR.
· Mitos sobre a Língua de Sinais
Mito 1- A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos.
Desmistificação: Tal concepção declara que os sinais carregam uma relação icônica ou representacional de seus referentes. No entanto, vários estudos concluíram que as línguas de sinais expressam conceitos abstratos. Os sinais são tão arbitrários quanto as palavras e podem expressar quaisquer ideias abstratas, emoções, sentimentos, filosofia.
Mito 2- Há uma língua de sinal universal.
Desmistificação: Essa concepção ainda faz parte do senso comum. As mesmas razões que explicam a diversidade das línguas faladas se aplicam à diversidade das línguas de sinais. Portanto, cada país apresenta sua respectiva língua de sinais. A língua de sinais americana é diferente da língua de sinais brasileira, que é diferente da língua de sinais francesa. Nossa língua de sinais se originou da Língua de Sinais Francesa.
Mito 3- Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais.
Desmistificação: As línguas de sinais independem das línguas faladas, um exemplo que evidencia claramente é que a língua de sinais portuguesa é de origem inglesa e a língua de sinais brasileira é de origem francesa, embora sendo o português a língua falada nos respectivos países, Portugal e Brasil.
Mito 4- A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral.
Desmistificação: Nós já vimos que as línguas de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras funções identificadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um argumento. Você pode persuadir, criticar, entre tantas outras possibilidades.
Mito 5- As línguas de sinais derivam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes.
Desmistificação: As pessoas pensam que as línguas de sinais são de fácil aquisição por estarem relacionadas a gestos. Como isso não é verdade, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto quaisquer outras línguas. Precisamos de anos de dedicação para aprendermos uma língua de sinais, mas com base neste mito, as pessoas pensam que sabem língua de sinais por usarem alguns gestos.
Mito 6- As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem.
Desmistificação: As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios apresentam evidências de que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo, da mesma forma que as línguas faladas.
· Iconicidade e Arbitrariedade
Iconicidade e arbitrariedade do signo linguístico são inerentes às línguas naturais. Sinais icônicos são aqueles que fazem alusão à imagem do seu significado, ou seja, os sinais são criados a partir da representação do seu referente. EX: AVIÃO, TESOURA, CHORAR, ESCREVER,TELEFONE. 
 
 ARANHA BANHAR
É importante ressaltar que a maioria dos sinais em Libras é arbitrário, ou seja, não mantém uma relação de similitude com o seu referente. EX: CANETA, AMIGO, PROFESSOR, SECRETÁRI@, PROFISSÕES, MÉDICO, LÁPIS, PASSEAR, DESCULPAR, JOVEM, VELHO, ARROZ, FAZER.
 
 CONHECER DOENTE
· Variações Linguísticas
A língua está em constante evolução, é dinâmica, um produto social e recebe influências geográficas e culturais. Nas línguas naturais pode ser identificado um fenômeno denominado variação linguística. Existe um grande número de fatores (como idade, grupo social, região, grau de escolaridade) que interferem na maneira que o falante tem de se expressar. As línguas de sinais apresentam essa variação. Vejamos:
Variação geográfica: a língua varia de um lugar para outro. De região para região do país, observam-se formas distintas de falar.
Variação socioeconômica: as pessoas que têm um nível de renda mais baixo não falam do mesmo modo que aqueles que têm um nível de renda mais elevado e, por isso, têm melhores condições sociais e econômicas e podem ter mais contato com a leitura de livros, jornais, revistas, convivem com pessoas de nível cultural mais elevado.
Variação histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo. “A língua é um produto de uma série de transformações que ocorrem ao longo do tempo(diacronia)”.
Na Libras, a variação geográfica refere-se às variações de sinais que acontecem nas diferentes regiões do mesmo país. EX: MAS
A variação social representa as variações na configuração de mão e ou movimento, sem alterar o sentido do sinal. EX: AJUDAR 
As variações históricas estão relacionadas com as modificações que o sinal pode sofrer, devido aos costumes da geração que utiliza o sinal. EX: FEIO, PESSOA.
· Fonologia da Língua Brasileira de Sinais
Na Libras, as relações gramaticais são determinadas pela manipulação dos sinais no espaço. O uso do espaço é uma característica fundamental nas línguas visual-espaciais.
Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, no que concerne à produção e percepção, o termo fonologia tem sido usado para referir-se também ao estudo dos elementos básicos das línguas de sinais. Entretanto, para marcar a diferença entre esses dois tipos de sistemas linguísticos, o pesquisador Stokoe(1960) propôs o termo quirema às unidades mínimas que formam os sinais e, ao estudo de suas combinações, propôs o termo quirologia(do grego mão). Atualmente, os pesquisadores passaram a usar os termos fonema e fonologia nos estudos linguísticos das línguas de sinais.
Quadros(2004, p. 47) define a fonologia das línguas de sinais da seguinte forma:
Fonologia das línguas de sinais é o ramo da linguística que objetiva identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios. A primeira tarefa da fonologia para língua de sinais é determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações possíveis no ambiente fonológico (QUADROS, 2004, p.47).
	
A fonologia e a fonética são áreas da linguística cujo objeto de estudo são as unidades mínimas da língua de sinais( que correspondem aos fonemas das línguas orais) que formam os sinais, as quais não têm significado isoladamente.
A análise da formação dos sinais foi estabelecida por Stokoe. Ele foi o primeiro a analisar os sinais e a pesquisar suas partes, e comprovou que cada sinal apresentava pelo menos três partes(parâmetros), que não carregam significados isoladamente:
· Configuração de mão(CM)
· Locação da mão(L) ou Ponto de articulação(PA)
· Movimento da mão(M)
Posteriormente, Ferreira-Brito propôs mais dois parâmetros: orientação/direção, expressões não-manuais.
Portanto, os principais parâmetros fonológicos da língua de sinais são: configuração de mão, locação ou ponto de articulação, movimento, orientação,e expressões não-manuais.
Essas unidades mínimas(fonemas) podem ser produzidas simultaneamente, e a variação de uma delas pode alterar o significado do sinal. Elas não têm significado isoladamente. Um sinal pode ser constituído por mais de uma unidade mínima, por exemplo, o sinal de “triste” envolve, simultaneamente, configuração de mão, locação, expressão não-manual e movimento.
Os parâmetros são traços distintivos dos sinais, portanto, a mudança de um deles altera o significado do sinal. 
 Pares Mínimos
SÁBADO/APRENDER(mudança da locação)
SILÊNCIO/CALE A BOCA(mudança da expressão facial)
CONVERSAR/DOENTE(mudança de movimento)
GALO/GAMBÁ(mudança da configuração de mão)
Na sequência são descritas as unidades mínimas
Configuração de mão(CM): é a forma que a mão assume durante a realização do sinal. Pelas pesquisas linguísticas, foi comprovado por Ferreira-Brito(apud Quadros) que na Libras existem 46 cofigurações de mãos, sendo que o alfabeto manual utiliza apenas 26 destas para representar as letras. Uma mesma configuração de mão possibilita a produção de vários sinais. EX: a configuração em y está presente nos sinais de brincar, avião, desculpe, entre outros.
Movimento(M): participa ativamente da produção do sinal, ele dá graça, beleza e dinamismo a essa língua. Para os ouvintes, o domínio dessa habilidade é algo bem complexo. Os surdos, por serem visuais, adquirem essa habilidade com muito mais naturalidade. Cabe destacar que, para que haja movimento é preciso haver espaço e objeto. Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço é a área em torno do corpo do enunciador.
Locação(L): é o lugar onde incide a mão predominante configurada. Os sinais podem ser produzidos envolvendo quatro pontos de articulação ou locação: tronco, cabeça, mão e espaço neutro e subespaços(nariz, boca, olho, etc). Muitos sinais envolvem um movimento, indo de um ponto de articulação a outro, mesmo assim, cada sinal tem apenas um ponto de articulação, mesmo que ocorra um movimento de direção.
Orientação(Or): é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal. É possível identificar seis tipos de orientações da palma da mão na Língua Brasileira de Sinais: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a esquerda.
Expressões não-manuais(Enm): envolvem movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. Esta unidade mínima é muito importante linguisticamente, pois marca as sentenças interrogativas, e ainda o grau dos adjetivos. 
· Morfologia da Língua Brasileira de Sinais
Segundo Quadros(2004), Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras. A palavra morfema deriva do grego morphé, que significa forma. Os morfemas são as unidades mínimas de significado.
Na Libras, a formação dos sinais se dá pela combinação dos parâmetros: configuração de mãos, movimento, orientação, ponto de articulação e expressões não- manuais, que são considerados morfemas.
A língua de sinais tem um processo de formação dos sinais que difere do processo de criação de palavras nas línguas orais. Na língua oral, as palavras complexas são normalmente formadas pela adição de um prefixo ou sufixo a uma raiz. Na língua de sinais, a formação ocorre por meio de um processo em que uma raiz é enriquecida(incorporação) com vários movimentos e contornos no espaço. Há, ainda, o processo de criação dos sinais pela derivação e pela composição.
Derivação: um tipo de processo bastante comum na língua brasileira de sinais é aquele que deriva nomes de verbos. A derivação ocorre pela mudança do parâmetro movimento. 
Verbos Substantivos
SENTAR CADEIRA
PENTEAR PENTE
Os pares de sinais apresentam a mesma locação, a configuração e orientação de mão, diferenciando-se a penas o movimento. Nos nomes, o movimento repete ou reduplica a estrutura dos verbos.
Composição: é a junção de duas bases para formar uma outra. EX: ESCOLA, BOA NOITE, VOVÔ, VOVÓ.
Incorporação de numeral: ocorre com a adição de um morfema à raiz. EX: um mês, dois meses, um dia, dois dias. A configuração da mão carrega o significado de um numeral específico.
 
 UM MÊS
Incorporação de negação: o item a ser negado sofre alteração em um dos parâmetros, especialmente o movimento. EX: TER/NÃO-TER; QUERER/NÃO-QUERER.
A negação também pode ser marcada pelas expressões não-manuais incorporadas aos sinais. EX: CONHECER/NÃO-CONHECER.
Na disciplina Gramática da Libras, estudaremos detalhadamente as categorias lexicais pertencentes à LSB
· Sintaxe da Língua Brasileira de Sinais
A Libras, como a Língua Portuguesa, apresenta organização na estrutura da frase. De maneira preferencial, a ordem SVO (sujeito+verbo+objeto) é a que se destaca na produção das frases, o que não invalida o uso de outras sequências, como SOV, OSV, SV.
Todas as frases com a ordem SVO são gramaticais: EX: El@ assiste TV.
SOV: Homem livro ler.
OSV: O leão, o caçador matou. (topicalização)
SV: El@ viajar.
Em relação aos verbos na Libras, eles se dividem em três classes: verbos simples, verbos com concordância e verbos espaciais.
Verbos simples – são os que não se flexionam em pessoa e número e não incorporam afixos locativos. Quando se faz uma frase com verbos simples, eles ficam no infinitivo.
 EU TRABALHAR CAS.
EL@ APRENDER LIBRAS.
ANA CONHECER TERESINA.
 
 
 CONHECER
 
Verbos com concordância – são os que se flexionam em pessoa, número e aspecto, mas não incorporam afixos locativos. São verbos direcionais.
MARIA AVISAR PAULO.
BETE PERGUNTAR JOÃO.
 
 
 AVISAR
Os verbos, neste caso, vão se dirigir da 1ª pessoa(MARIA, BETE) para o espaço marcado para o referente, 2ª pessoa(PAULO, JOÃO). 
Verbos espaciais – são verbos que têm afixos locativos. IR, CHEGAR, COLOCAR. 
MESA COPO COLOCAR.
 EU IR ESCOLA.
10 – Sistema de Transcrição de Libras
Existem sistemas de convenções para escrevê-las, mas como geralmente eles exigem um período de estudo para serem aprendidos, na maioria das vezes utiliza-se um "Sistema de notação em palavras ou Sistema de Transcrição.
1) Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados por itens lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. 
Exemplos: CASA, ESTUDAR, CRIANÇA.
 
2) Um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. 
Exemplos: CORTAR-COM-FACA 'cortar', QUERER-NÃO 'não querer', 
MEIO-DIA 'meio-dia', AINDA-NÃO 'ainda não'.
3) Um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por duas ou mais palavras, mas com a ideia de uma única coisa, serão separados pelo símbolo(^).
Exemplo: CAVALO^LISTRA 'zebra'
4) A datilogia (alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, será representada pela palavra separada, letra por letra, por hífen. Exemplos: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A.
 
5) O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo, passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma incorporação de movimento próprio desta língua, será representado pela soletração ou parte da soletração do sinal em itálico. 
Exemplos: R-S 'reais', N-U-N-C-A, 'nunca'.
6) Na LIBRAS não há desinências para gênero (masculino e feminino) 
e número (singular e plural). O sinal, representado por palavra da língua portuguesa 
que possui essas marcas, será terminado com o símbolo @ para reforçar a ideia de ausência e não haver confusão. 
Exemplos: AMiG@ 'amiga ou amigo', FRI@ 'fria ou frio', MUIT@ 'muita ou muito', TOD@ 'toda ou todo', EL@ 'ela ou ele, ME@ 'minha ou meu.
7) Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na das línguas orais-auditivas, ou seja, !, ?, ?!
BIBLIOGRAFIA
FELIPE, T. A,MONTEIRO, M. S. Libras em contexto: Curso básico. Manual do professor/instrutor. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, MEC, SEESP, 2001
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Especial. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos. Vol. I . Caminhos para a prática Pedagógica. Brasília, 2007.
PEDROSO, Cristina Cinto Araújo. Aspectos Gramaticais da Língua Brasileira de Sinais. Disponível em <www/salesianolins.br>. Acessado em 14/08/2012
QUADROS, R. M; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SAUSSURE, F. de (1916). Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
STROBEL, K. L; FERNANDES, S. Aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
 
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