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Direito dos Idosos e das Pessoas com Deficiência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Dra. Selma Aparecida Cesarin Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte • A Lei n.º 13.146/15 • Denominações • Definição de Pessoa com Deficiência • Igualdade e não Discriminação • Capacidade Civil das Pessoas com Deficiência • A Tomada de Decisão Apoiada • Atendimento Prioritário • Acessibilidade • Direito de Acesso à Informação e à Comunicação • Direito à Participação na Vida Pública e Política · Iniciar o estudo do Estatuto da Pessoa com Deficiência, iniciando com o conceito que a Lei deu para enquadramos as pessoas que são destinatárias da proteção especial dada por essa norma. · O Estatuto apresenta amplo detalhamento de diversas necessidades das pessoas com deficiência, almejando, em especial, trazer condições para que elas tenham as mesmas oportunidades e acessos que as demais pessoas desfrutam em nossa sociedade. · As medidas inclusivas estabelecidas pelo Estatuto trazem uma nova forma no trato das relações das pessoas com deficiência, a sociedade e o Poder Público. · Essa importante norma busca alterar algumas situações de extrema injustiça que estão consolidadas em nossa sociedade e, em grande parte, suas diretivas têm como destinatárias as pessoas sem deficiência, para que mudem barreiras comportamentais e uma postura omissiva em relação às necessidades desse importante grupo social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Estatuto da Pessoa com Defi ciência – 1ª Parte Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte A Lei n.º 13.146/15 A Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015, foi denominada pelo próprio legislador como Estatuto da Pessoa com Deficiência e como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Essa norma também menciona de forma expressa que sua elaboração teve por base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, que foi aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 13 de dezembro de 2006. Denominações O Estatuto adotou, a exemplo do que ocorre com a Convenção da ONU, a denominação pessoa com deficiência. Essa denominação se afastou da utilizada pela Constituição Federal, ou seja, pessoa portadora de deficiência, que era criticada por alguns pois a pessoa não “porta” a deficiência. A denominação pessoa com necessidades especiais não deve ser adotada como expressão sinônima, pois ela é imprecisa e também abrange outros grupos vulneráveis, tais como idosos e gestantes. De qualquer maneira, essas denominações se afastam de formas, em muito desrespeitosas, que eram utilizadas para se referir às pessoas deficientes, tal como no anterior Código Civil (Lei n.º 3.071, de 1º de janeiro de 1916) que se referia às pessoas com doenças mentais como “loucos de todo o gênero” – Inciso II do Artigo 5º. Definição de Pessoa com Deficiência O artigo 2º do Estatuto apresenta a definição de pessoa com deficiência: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 2° - Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedi- mento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou senso- rial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Essa definição não foca somente a limitação da pessoa; somada com “outras barreiras”, pode trazer como consequência obstruir a participação “plena e efetiva” da pessoa em igualdade de condições com as demais. 8 9 É uma definição muito mais abrangente e mostra que a deficiência tem como principal consequência impossibilitar que a pessoa tenha plena igualdade. Contudo, esse afastamento se dá, em grande parte, em razão das barreiras formadas pelo descaso que historicamente esse grupo social muitas vezes recebeu da sociedade, de suas famílias e do Poder Público. Ela também mostra que a inclusão da pessoa com deficiência somente ocorrerá em nossa sociedade se houver a remoção dessas barreiras que, diga-se de passagem, não são poucas. Uma primeira reflexão sobre esse tema pode levar à ideia de que essas barreiras são somente físicas, mas não é essa a forma como a Lei trata desse assunto. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 3° - Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: [...] IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros [...] Após apresentar essa definição, o Estatuto apresenta algumas das principais formas que essas barreiras podem assumir: • Barreiras urbanísticas; • Barreiras nos transportes; • Barreiras nas comunicações; • Barreiras atitudinais; • Barreiras tecnológicas. Outro ponto que chama a atenção é que em uma rápida comparação entre o Estatuto da Pessoa com Deficiência e outras normas que buscam a proteção de grupos vulneráveis, tais como o Estatuto do Idoso, é possível constatar que ele é extremamente detalhado, chegando a estabelecer minúcias em diversas situações do cotidiano. Não são meros detalhes, mas uma amostra de que para as pessoas com deficiência coisas corriqueiras podem representar enormes dificuldades, que as demais pessoas nem sempre conseguem entender. São essas barreiras que o Estatuto, de forma reiterada, busca “apresentar” para todos com a intenção de que sejam vistas e retiradas. Quando a avaliação da deficiência for necessária, ela não se restringirá às eventuais causas biológicas, sendo que o Estatuto determina que essa avaliação seja “biopsicossocial” e realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, devendo considerar: 9 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte • Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; • Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; • A limitação no desempenho de atividades; • A restrição de participação. Igualdade e não DiscriminaçãoNa linha do Princípio Constitucional da Igualdade (caput do artigo 5º de nossa Constituição Federal), o Estatuto da Pessoa com Deficiência estabelece que ela tenha direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e que não pode sofrer nenhuma espécie de discriminação em razão de sua condição. Elas devem ser protegidas de toda as formas de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante. Nesse particular, em relação à essa necessidade de proteção, devem ser consideradas especialmente vulneráveis as crianças, os adolescentes, as mulheres e os idosos com deficiência. Decorre dessa proteção o dever de todos de comunicar às autoridades competen- tes qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com deficiência. Para deixar bem claro o que se considera discriminação em relação à pessoa com deficiência, o Estatuto apresenta a sua definição: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 4º [...] § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. [...] Dessa definição, precisamos destacar que a discriminação em razão de defici- ência não se realiza somente por ações, mas também por omissão, devendo ser destacadas as hipóteses de recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: [...] III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispo- sitivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objeti- 10 11 vem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social; [...] VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais; Como as pessoas com deficiência historicamente foram submetidas a tratamentos discriminatórios que lhes causaram menores oportunidades, tais como para obtenção de empregos e de acesso à Educação; a sociedade e o Poder Público, particularmente nas últimas décadas, criaram as chamadas ações afirmativas, que têm o escopo de reparar essas distorções. Porém, a pessoa com deficiência pode optar em não fruir os benefícios que essas medidas podem proporcionar. Capacidade Civil das Pessoas com Defi ciência Há no Direito Civil dois importantes conceitos que se inter-relacionam de forma expressiva, são eles: personalidade e capacidade. Os artigos 1º e 2º do Código Civil tratam da personalidade: Código Civil Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. A rt. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. A personalidade é a aptidão de ser titular de direitos e obrigações na esfera civil, sendo que todos os seres humanos que nascem com vida possuem esse atributo. Dessa forma, por exemplo, um recém-nascido pode receber de presente de seus pais um imóvel, sendo que esse poderá, normalmente, ser registrado em seu nome. Já a capacidade se refere à possibilidade ou não de a pessoa realizar atos da vida civil (comprar, vender, doar, emprestar, casar etc.) sem contar com alguém que, no mínimo, auxilie-a. Em regra, todas as pessoas possuem plena capacidade civil; contudo, algumas possuem restrições dessa capacidade, sendo chamadas de relativamente incapazes e absolutamente incapazes. 11 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte O absolutamente incapaz, em razão de sua condição pessoal, não participa da formação de atos da vida civil que são realizados em seu nome, razão pela qual eles são representados por outra pessoa que atua em seu nome. Usando o exemplo acima, na aquisição de um imóvel por um recém-nascido, os atos de transmissão da propriedade serão realizados em nome do beneficiário; contudo, ele será representado por seus pais, por exemplo, na lavratura da escritura. Já o relativamente incapaz participa da formação dos atos da vida civil que são realizados em seu nome, mas precisa ser assistido por outra pessoa. Assim, por exemplo, se um imóvel é adquirido em nome de um adolescente de 17 anos de idade ele participará, entre outros atos, da lavratura da escritura de compra e venda, sendo que assinará esse documento; porém, também será necessária a assinatura de seus pais para que esse ato tenha plena validade. Na redação original do Código Civil tínhamos que: • Os absolutamente incapazes eram (Art. 3º): » Os menores de dezesseis anos; » Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; » Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. • Os relativamente incapazes eram (Art. 4º): » Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; » Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; » Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; » Os pródigos. Os relativa ou absolutamente incapazes que se encontram sob o poder familiar são representados ou assistidos, em regra, pelos seus pais. Os maiores de 18 anos que se enquadram em algumas das situações em que a capacidade é minorada devem ser representados ou assistidos por um curador que é nomeado em um processo judicial. O curador era responsável pela pessoa do curatelado e pela gestão do seu patrimônio, dentro dos limites estipulados na Lei. O Estatuto da Pessoa com Deficiência realizou diversas modificações nessa forma de tratar a capacidade civil dos integrantes desse grupo social. Em primeiro lugar, foram alteradas as relações constantes do Código Civil – Artigos 3º e 4º - dos absoluta e dos relativamente incapazes: 12 13 Código Civil Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Ficou claro que a deficiência não traz, em regra, consequências para a capaci- dade civil. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 6° A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclu- sive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. A curatela para pessoas com deficiência continua sendo possível, mas sempre como medida extraordinária, devendo ser constituída por decisão judicial; contudo, diferentemente do que ocorria, somente se aplica à prática de atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. Nesses casos, a curatela constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstânciasde cada caso, e durará o menor tempo possível. Ela não alcança direitos personalíssimos da pessoa com deficiência, ou seja, o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. Outra possibilidade que a pessoa com deficiência pode fazer uso para ter maior segurança em suas decisões sobre atos da vida civil é utilizar o processo de tomada de decisão apoiada. 13 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte A Tomada de Decisão Apoiada Nesse processo, a pessoa com deficiência, inicialmente, escolhe pelo menos duas pessoas idôneas com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança para lhe prestar apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil de qualquer natureza – não se restringindo a questões negociais ou patrimoniais. Esses apoiadores têm a função de fornecer à pessoa com deficiência elementos e informações necessárias para que possa exercer sua capacidade e tomar a me- lhor decisão. A pessoa com deficiência e os apoiadores então estabelecem, por meio de um termo, os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. Esse ato será apresentado em juízo pela pessoa a ser apoiada. O juiz, assistido por equipe multidisciplinar, irá colher a manifestação do Ministério Público e, em seguida, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. Em seguida, o juiz irá decidir sobre o pedido de homologação e, sendo deferido, essa forma de apoio à pessoa com deficiência poderá se iniciar, tendo validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado. Aquele que está realizando a relação negocial com a pessoa assistida pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. Havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores durante um negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, a questão será levada a juízo e este deverá decidir a questão; antes, contudo, deverá conhecer a manifestação do Ministério Público. Se ficar caracterizado que um dos apoiadores está agindo com negligência, exerce pressão indevida ou não cumpre com as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. Se for verificada a procedência da denúncia, o juiz deve destituir o apoiador e nomear, ouvida a pessoa apoiada, outra pessoa para exercer essa função. A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada. Há, também, a possibilidade do apoiador poder solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo que essa somente se dará após a decisão do magistrado. 14 15 Atendimento Prioritário Estabelece o Estatuto que a pessoa com deficiência tem direito de receber aten- dimento prioritário, em diversas situações, tais como: • Proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; • Atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público; • Disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garan- tam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas; • Disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e no desembarque; • Acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis; • Recebimento de restituição de Imposto de Renda; • Tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em todos os atos e diligências. Acessibilidade A acessibilidade é definida no Artigo 53 do Estatuto: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. Em razão da importância que o direito de acessibilidade tem para a pessoa com deficiência, a observância das normas que a garantem passa a ser exigida para: • Aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de comunicação e infor- mação, fabricação de veículos de transporte coletivo, prestação do respectivo serviço e execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pú- blica ou coletiva; • Outorga ou renovação de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza; • Aprovação de financiamento de projeto com utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; e • Concessão de aval da União para obtenção de empréstimo e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados. 15 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte Muito antes do Estatuto da Pessoa com Deficiência, já havia a preocupação de se garantir a acessibilidade desse grupo social em edificações, vias urbanas e nos equipamentos de transporte coletivo, tudo isso em decorrência do disposto no § 2º do Artigo 227 e no Artigo 244 da Constituição Federal. Particularmente, devem ser citadas as seguintes leis que tratam desse assunto: • Lei n.º 10.098/00 – que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida; • Lei n.º 12.587/12 – que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobili- dade Urbana. Para se garantir o pleno acesso das pessoas com deficiência, a regra geral deve ser o emprego do desenho universal, que é definido pelo Estatuto como sendo: Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 3° Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: [...] II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva; Cabe ao Poder Público fomentar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnológicas, destinadas à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da pessoa com deficiência e sua inclusão social. Quando da construção, reforma, ampliação ou mudança de uso de edificações abertas ao público, de uso público ou privadas de uso coletivo, os projetos deverão ser concebidos e executados de modo a torná-las acessíveis. Já em relação às edificações públicas e privadas de uso coletivo já existentes, devem ser adotadas medidas e intervenções para garantir acessibilidade à pessoa com deficiência, em todas as suas dependências e serviços. Quando o funcionamento de qualquer tipo de atividade depender de alvará concedido pelo Poder Público, este somente poderá ser dado se houver a observância das normas de acessibilidade. 16 17 Direito de Acesso à Informação e à Comunicação A necessidade que todos temos de ter acesso à informação e à comunicação é um traço marcante de nossos tempos e não pode ser diferente para as pessoas com deficiência. Pensando assim, o Estatuto criou diversas regras sobre esse assunto. As disposições sobre o direito de acesso à informação e à comunicação se iniciam com a previsão de que empresas com sede ou representação comercial no País e os órgãos de governo que possuam sítios na Internet devem utilizar técnicas de acessibilidade para que possam ser normalmente utilizados por pessoas com deficiência. Além disso, para facilitar a visualização, os sites devem conter símbolo de acessibilidade em destaque. Por ocasião da análise de pedidos de financiamento de projetos com a utilização de recursos públicos, a verificação do site da Empresa na Internet e o cumprimento das normas de acessibilidade são alguns dos elementos que devem ser considerados. Já as empresas prestadoras de serviçosde telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, cabendo ao Poder Público incentivar a oferta de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis. Em relação aos serviços de radiodifusão de sons e imagens (em especial, a Televisão), os canais e as operadoras devem oferecer uso dos seguintes recursos, entre outros: • Subtitulação por meio de legenda oculta – conhecido como closed caption; • Janela com intérprete de libras; • Audiodescrição. Sobre os livros, deve o Poder Público adotar mecanismos de incentivo para a produção e a comercialização de livros em formatos acessíveis. Além de outros mecanismos de incentivo, o Poder Público, nos editais de compra de livros para Bibliotecas Públicas, deve estipular cláusulas de impedimento à participação de Editoras que não ofertem sua produção também em formatos acessíveis. 17 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Defi ciência – 1ª Parte Quando da realização de Congres- sos, Seminários, Oficinas e demais eventos de natureza científico-cultu- ral, a Instituição que promove esses eventos deve oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos para as empresas de televisão. Para as publicações, o Estatuto considera como sendo formatos acessíveis os arqui- vos digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, dife- rentes contrastes e impressão em Braille. Direito à Participação na Vida Pública e Política O Poder Público deve adotar medidas que objetivem garantir à pessoa com deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas. Esse direito de participação deve assegurar o direito de votar e de ser votado, inclusive por meio das seguintes ações: • Garantia de que os procedimentos, as instalações, os materiais e os equipa- mentos para votação sejam apropriados, acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclu- sivas para a pessoa com deficiência; • Incentivo à pessoa com deficiência a se candidatar e a desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias assistivas, quando apropriado; • Garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pelas emissoras de Televisão possuam, pelo menos, os recursos que são obrigatórios para as transmissões por esse meio; • Garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tanto, sempre que ne- cessário e a seu pedido, permissão para que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por pessoa de sua escolha. Entre outros, essas disposições têm como objetivos maior inclusão das pessoas com deficiência em processos decisivos para a nossa sociedade, tal como na formação das Leis e na discussão de temas da maior relevância para a nossa sociedade. Se elas não participam dessas discussões, correm o risco de não serem lembradas – o que, historicamente, sempre ocorreu em nosso país. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Estatuto da Pessoa com Deficiência https://goo.gl/JaPrwY Lei n.º 10.098/00 Lei que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. https://goo.gl/PZ9k3Y Lei n.º 12.587/12 Lei que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. https://goo.gl/PCJ1J Deficientes Enfrentam Dificuldades de Locomoção na Região de Tatuí Reportagem do site G1 com o título. https://goo.gl/030f8T 19 UNIDADE Estatuto da Pessoa com Deficiência – 1ª Parte Referências ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 18.ed. São Paulo: Verbatim, 2014. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil. Parte geral. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v.1. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. Parte geral. 15.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1. LEITE, Flavia Piva; RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes; COSTA FILHO, Waldir Macieira da (coord.). Comentários ao estatuto da pessoa com deficiência. São Paulo: Saraiva, 2016. LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos Arts. 1º ao 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003 (Coleção Temas Jurídicos). SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamen- tais na Constituição Federal de 1988. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advoga- do, 2004. 20
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