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Uma série de objetos voadores não identificados 
começa a aparecer nos céus da Califórnia. Surge em 
cena, então, uma deliciosa jornalista em princípio de 
carreira. E as coisas começam a acontecer...
 
 
 
© 1965 – J F KRAKBERB 
José Alberto Gueiros 
Título original: SANGRE DE PERIODISTA 
Digitalização: JVS 400923/400925 
Publicado no Brasil pela Editora Monterrey 
 
ANTES DE COMEÇAR 
 
 
 
A filha de Giselle, BRIGITTE MONTFORT, existe, em 
alguma parte do mundo, atuando sob outros nomes, em 
circunstâncias análogas às que são narradas agora neste 
livro. Sua verdadeira identidade, no entanto, deixa de ser 
esclarecida, por motivos bem plausíveis do Serviço Secreto. 
Nas últimas páginas das memórias de GISELLE, A 
ESPIA NUA QUE ABALOU PARIS, fica bem claro que a 
famosa heroína da Resistência Francesa, pouco antes de 
morrer fuzilada na prisão de Cherche Midi, na manhã de 
15 de março de 1944, confessou à sua companheira de 
cárcere, Gabrièle Ladème, haver dado à luz uma filha, nas 
vésperas da Segunda Guerra Mundial. O pai da criança — 
explicou Giselle — fora um alemão que a abandonara 
grávida, mas lhe raptara a menina logo ao nascer. 
A famosa espiã morreu sem conhecer a própria filha, 
sem sequer saber do seu nome ou do seu paradeiro. 
Vinte anos depois, esta incógnita é revelada. A filha de 
Giselle surge nos Estados Unidos, bonita, elegante, 
corajosa e... Bem, é melhor começar a ler a história. 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO PRIMEIRO 
Uma jornalista espetacular 
 
A moça morena aparentava vinte e cinco anos de idade e 
era verdadeiramente espetacular. Seu corpo, vestido num 
elegante costume de tweed, mostrava as formas, 
cientificamente equilibradas, de um modelo parisiense. 
Tinha os seios altos e agressivos, a cintura fina e 
arredondada, as ancas largas e suavemente desenhadas 
sobre as coxas grossas e roliças. E suas perna, longas e bem 
torneadas, eram um poema de simetria. 
— Por obséquio — disse ela, numa voz melodiosa e 
aveludada. — O senhor pode me informar se neste hotel lê-
se muito o “Morning News”? 
O recepcionista do Airport Hotel permanecia de boca e 
olhos muito abertos, fascinado pela beleza da jovem. Afinal, 
pestanejou e conseguiu gaguejar: 
— Perdão, miss. Que foi que a senhorita perguntou? 
Estavam no hall do famoso estabelecimento de Los 
Ângeles, que ficava entre o Aeroporto Internacional e a 
Universidade de Loyola. A garota sorriu e repetiu a 
pergunta. Ele respondeu com outra interrogação: 
— Poderia me fornecer sua identidade, miss? 
— Com todo o prazer. Chamo-me Brigitte Montfort e 
sou repórter do “Morning News”, de Nova Iorque. Estamos 
fazendo uma estatística de interesse para o nosso jornal. 
— Perfeitamente, miss Montfort. A senhorita quer 
saber?... Sim, claro. Nosso hotel mantém assinaturas do seu 
jornal. Recebemos diariamente, duzentos exemplares do 
“Morning News”, que são distribuídos entre nossos 
hóspedes. É uma oferta da casa, todas as manhãs. 
— Era o que eu esperava — disse Brigitte, acentuando 
seu sorriso divino. — Agora, já que o senhor foi tão gentil, 
poderá me informar também, quem é o hóspede do quarto 
número 32? 
O rapaz da recepção endureceu o rosto. 
— Lamento, miss, mas não damos esse tipo de 
informação. Se se trata de algo... especial, a senhorita terá 
que se dirigir ao detetive do hotel. Nossos hóspedes não 
gostam de ser incomodados. Quer que chame o sargento 
Kildkind? 
— Obrigada — retrucou a morena, girando nos 
calcanhares. — Voltarei dentro de alguns minutos, para 
falar com o sargento. 
Havia poucos hóspedes sentados no living, mas todos 
estavam olhando para a anatomia da jovem. Ela atravessou 
o hall, batendo castanholas com os saltos dos sapatos, e saiu 
pela porta giratória. Havia um elevador em frente à porta. O 
ascensorista sentiu um baque no coração, quando viu aquela 
beldade encaminhar-se para ele. 
— Segundo andar — pediu Brigitte, entrando na gaiola 
de aço. 
O rapaz fechou a porta. 
— A senhorita é hóspede? — perguntou, amavelmente. 
— Claro. Acabei de chegar de Nova Iorque. E esqueci o 
biquíni no meu quarto. 
O elevador estremeceu e parou, no terceiro piso. Brigitte 
saltou e esperou que a porta se fechasse; depois, caminhou 
por um longo corredor atapetado, até atingir a porta no. 32. 
Não era um quarto; devia ser uma suíte. Ela respirou fundo 
e bateu na almofada da porta. Ninguém lhe respondeu. 
Bateu outra vez. Nada. Então, escolheu uma das chaves do 
molho e, depois de duas tentativas, conseguiu abrir a porta. 
Eram oito horas da manhã, mas as luzes da sala estavam 
acesas. Aparentemente, não havia ninguém na sala. 
E, então, viu o cadáver. 
Era um homem gordo, moreno, vestido com um pijama 
listrado. Seu peito exibia o furo de uma bala de grosso 
calibre, que lhe atingira o coração. 
Em seguida, ajoelhou-se e contemplou, pensativamente, 
aquele rosto contorcido pela agonia. Era um russo, sem 
dúvida alguma. Ela estava no bom caminho. 
Olhou para a porta do quarto que estava aberta, e pôs-se 
de pé, decidida a dar uma busca. Mas, nesse momento, seu 
sexto sentido a alertou. 
— Ti-pojiváiech? — disso uma voz gutural, às suas 
costas. — Não se mexa, diévushka! 
A repórter voltou-se lentamente. agarrada à máquina 
fotográfica, mas não teve oportunidade de usá-la. O homem 
que olhava para ela, à porta do banheiro, tinha uma pistola 
Markarov na mão erguida. Era alto, musculoso, e estava nu. 
— Peço perdão — disse Brigitte, formalizada. — Sou 
uma moça de respeito! 
Mas o outro não abaixou a arma. Nem cobriu a sua 
nudez ameaçadora. Pelo contrário. Ao contemplar a figura 
espetacular da jovem jornalista, sua nudez foi-se tornando 
cada vez mais ameaçadora. 
— Kac vac zovút? — perguntou, com voz rouca. — 
Como entrou aqui e... e fez isso? 
Seus olhos vermelhos indicaram o cadáver do homem 
moreno, estirado no tapete. 
— Permita-me que lhe faça idêntica pergunta — 
respondeu Brigitte, jogando a câmara fotográfica sobre uma 
cadeira. — Quem é você? Para ficarmos em igualdade de 
condições, suponho que eu também deva tirar a roupa... 
E, depois de despir rapidamente o casaquinho de tweed, 
começou a desabotoar a blusa de seda. A pistola tremeu, na 
mão do homem alto, mas ele não apertou o gatilho. Num 
instante, os belos seios de Brigitte despontaram, 
aprisionados pelo negro soutien. 
— Niet — disse ele, apavorado. — Pare com isso! Não 
quero escândalos! Se você insistir, eu... eu atirarei! Juro que 
atirarei! 
Mas sua atitude demonstrava que não estava cm 
condições de atirar em ninguém e sim de se atirar em cima 
de sua maravilhosa visitante. 
* * * 
Quem é Brigitte Montfort? 
Uma pergunta que devemos responder aludindo à uma 
certa jovem. É importante observar como surgiu ela, bonita, 
provocante, numa aura de olhares exclamativos, 
confundindo um porteiro de hotel de luxo em Los Ângeles e 
pedindo uma informação intrigante. Ela é a Filha de Giselle 
Montfort. 
Como viera parar ali? Em que circunstâncias? Por quê? 
Pequeno esforço de memória e retornemos ao capitulo 
final de “Giselle, a Espiã Nua Que Abalou Paris” A cena é o 
fundo de um cárcere imundo, na prisão de Cherche Midi. 
Naquele ano terrível de 1944, Paris ocupada pelas tropas 
nazistas, Giselle, a duas horas do fuzilamento, fala a 
Gabrièle Ladême, companheira de cela que sobreviveu para 
narrar o episódio final. A espiã, torturada pela proximidade 
da morte, implora: 
“Receba uma confissão, querida amiga! Não há padres 
que me possam visitar, neste momento. Eu preciso dizer... é 
necessário que alguém saiba... Eu tenho uma filha! Sim, 
uma filha! De um namorado alemão que amei antes de 
conhecer meu marido. Fui abandonada por esse namorado 
da juventude de Hitler. Que me deixou grávida. Vivi nove 
meses de sacrifícios e, depois, quando a menina nasceu, foi 
raptada. O nazista mandou tirá-la de mim! Nunca mais 
soube dela. Não sei como se parece. Nem o seu nome. Mas 
sei queestá viva, em algum lugar deste mundo. É preciso 
que eu lhe confesse isso, antes de morrer. Ah! Um poema 
de Rilke! — Quem, se agora eu gritasse, me ouviria, na 
escala dos anjos?” 
A confissão da condenada revela, claramente, que a 
menina, raptada ao nascer, jamais tivera ocasião de 
encontrar-se com a mie. Mas o Serviço Secreto francês 
descobriu, muitos anos depois o paradeiro desta 
personagem quase lendária. A filha de Giselle recebeu o 
nome de Brigitte no batismo de pai alemão, que mais tarde 
se soube tratar-se do estrategista Fritz Bierrenbach. Foi 
trazida para os Estados Unidos no início da conflagração 
mundial; entregue a parentes ricos de Bierrenbach, 
radicados em Nova Iorque, educada na Universidade de 
Colúmbia e naturalizada americana ao assumir a 
maioridade. 
Brigitte fez um brilhante curso de jornalismo e só depois 
de formada veio a saber, pelos seus pais de criação, que era 
filha ilegítima de um nazista de Hitler e de uma francesa da 
Resistência, ambos mortos, cada qual lutando pelo que 
achava certo. Brigitte não se deixou abater por tão violenta 
revelação, mas jurou a si mesma que dedicaria toda a sua 
vida ao combate a qualquer espécie de extremismo. E não 
deixava de sentir uma ponta de orgulho pelas façanhas de 
sua mãe, Giselle, cujas memórias leu e releu dezenas de 
vezes, antes de lançar-se ao jornalismo militante. 
Hoje, Brigitte Montfort é uma repórter de sucesso do 
“Morning News”, diário de enorme tiragem de Nova 
Iorque. 
Brigitte herdou de Giselle o feitiço da fêmea total. Sua 
simples presença, é acontecimento, é notícia, pelo menos 
para os que a encontraram na área de suas andanças. É uma 
catalizadora de olhares febricitantes. Qualquer observador, 
por mais tímido, deixa-se atrair pelo seu charme infinito. 
O início da carreira de repórter de Brigitte deve ser 
recordado aqui, numa espécie de revelação de seu 
temperamento. Durante o seu curso brilhante de jornalismo, 
ela estagiara no “Morning News” e sua presença tinha 
revolucionado a redação do grande diário. Depois, ao 
concluir o curso com distinção, o gordo e rabugento Mike 
Grogan, diretor do jornal, não pudera deixar de atender à 
solicitação de insinuante “foca”. Brigitte obtivera um lugar 
de repórter de polícia, para começar a carreira. Um mês 
depois, suas reportagens tinham-na elevado no conceito de 
todos os demais redatores do jornal e conquistado a 
admiração secreta do próprio Miky. Brigitte ganhara uma 
coluna pessoal, na terceira página, onde passara a comentar, 
no seu estilo personalíssimo, os grandes acontecimentos 
políticos do país. Dois meses se passaram, e a jovem 
colunista transformou-se numa grande atração do “Morning 
News”. E numa enorme dor de cabeça para o seu gordo 
diretor. Miky Grogan estava na iminência de apelidar a 
jovem de “Terremoto” (Devido à tensão que provocava 
entre os seus colegas) quando o ambiente da redação esfriou 
um pouco. Brigitte tinha conhecido Frank Minello e a 
amizade dos dois acalmou as coceiras eróticas dos outros 
redatores. 
Frank Minello era o titular da página de esportes. Um 
rapaz alto e forte, moreno, de cabelos ondulados e sorriso 
sensual. Seu tipo de ítalo-americano, atlético e bonito, fazia 
dele a eterna caça das garotas de bom-gosto. Na primeira 
noite em que os dois saíram juntos, Frank bebeu um pouco 
além da conta e acabou caindo de quatro, aos pés da 
maravilhosa estátua grega; declarando-lhe o seu amor 
ardente. Já estavam no apartamento do rapaz, em Riverside, 
e Brigitte não quis decepcionar o seu admirador. Além 
disso, também gostava daquele tipo de cafajeste. Estendeu-
lhe a mão, para que ele se pusesse de pé, e pediu-lhe que 
fosse mais prático e a ajudasse a tirar a roupa. Estava, 
realmente muito calor, pois o apartamento não possuía ar 
condicionado. 
A cama era macia e confortável. Brigitte também era. 
Quanto ao Frank revelou-se um infatigável cultor das 
virtudes de Adão. Depois desse primeiro contato, ele e ela, 
como bons colegas de jornal ficaram amigos firmes. Frank 
Minello nunca mais pôde se esquecer dos prazeres que sua 
amiguinha lhe proporcionara. Tornaram-se amigos firmes, 
mas não amantes. Brigitte nunca mais voltou ao 
apartamento de Riverside. Esse era o seu método de 
trabalho. A constância no amor, ela pensava, levava à 
saturação. E a bela morena não queria se cansar daquele 
excelente exemplar de troglodita... Por isso, continuou a 
tratá-lo com o mesmo carinho, a mesma ternura, mas nunca 
mais o deixou ir além das conveniências. Ela gostava de ter 
os homens, como cachorrinhos, lambendo seus sapatos. E 
Frank também passou a ser um cachorrinho. 
Com Miky Grogan a coisa era outra. Apesar de também 
estar “vidrado” pelas belas pernas de sua colunista, o gordo 
diretor do “Morning News” jamais foi além dos elogios 
banais e dos olhares concupiscentes. E Brigitte também não 
lhe dera mais do que isso: o direito de lhe ver as pernas e 
limpar a baba do queixo. Certa noite, Miky a convidou para 
jantar num night-club e se excedeu nas bebidas alcoólicas, 
recitando também uma ode à beleza pagã das filhas da 
Terceira República Francesa. Mas Brigitte recebeu a 
insinuação com um sorriso gentil, tirou-lhe a mão gorda de 
cima das coxas e respondeu: 
— Obrigado, papai. 
Foi o bastante para que o furibundo chefe da família 
mudasse de conversa. Mas continuaram bons amigos. E 
Miky prosseguiu afagando a doce esperança de 
experimentar, algum dia, as sensações proibidas daquele 
corpo espetacular. 
Eram 10 horas da manhã de domingo, 26 de janeiro. 
Pleno inverno. Nova Iorque amortalhada por uma nevasca. 
No seu novo e luxuoso apartamento da Quinta Avenida, 
Brigitte Montfort ouvia alguns discos de “yê-yê-yê”, 
enquanto bebericava uma taça de Perignon 55. Desde 
mocinha, sempre tivera predileção por esse tipo de 
champanha. 
Nisso, o telefone tocou. A garota saltou do sofá e 
atravessou a sala, para atender o chamado. Completamente 
nua, no ambiente morno, parecia uma gata branca 
espreguiçando-se ao sol. Apanhou o fone cor-de-rosa e 
respondeu, com voz doce, certa de que era Frank Minello, 
tentando um novo “programa”. Mas era Miky Grogan e não 
parecia disposto a recitar poemas de Omar Khayyam. 
— Alô? Miss Montfort? Venha imediatamente à 
redação! Sua grande chance chegou! 
Brigitte sorriu para o receptor. 
— Desculpe, chefe. Hoje é domingo... e eu estou nua. 
— Está o quê? 
— Inteiramente nua, bebendo champanha, numa 
dolorosa solidão. Neste momento, olho para o grande 
espelho da sala e me vejo tal como nasci. Aliás, preciso 
esfregar um pouco de “Moon Drops” no meu corpo... 
— Vista-se e venha! — rugiu o gordo. — Tenho um 
serviço especial para você! Dou-lhe apenas vinte minutos... 
ou você estará despedida! 
E cortou a comunicação. Brigitte deixou de sorrir. O 
caso parecia grave. Vestiu-se em cinco minutos e desceu, à 
procura de um táxi. Vinte e cinco minutos depois, estava 
entrando no gabinete do diretor executivo do ‘Morning 
News”. Como era domingo, a redação estava praticamente 
vazia. 
— Qual é o problema, chefe? 
Miky encontrava-se sozinho, enterrado na larga cadeira 
da secretária, com um lápis vermelho na mão e vários 
recortes de jornais debaixo do nariz. 
— Sente-se, Brigitte. Você vai para Los Ângeles, com 
tudo pago. Nosso correspondente na Califórnia acabou de 
me telefonar. Resolvi tornar você uma figura nacional. 
A linda jornalista sentou-se numa poltrona baixa e 
puxou as saias, pondo à mostra as longas pernas nuas. Miky 
esbugalhou os olhos, mas não disse nada; foi ela quem 
voltou a falar: 
— Quem morreu, em Los Ângeles? 
— Ninguém morreu ainda. É aquele caso dos discos-
voadores. 
— Ah! Os discos-voadores... 
Brigitte já fizera alguns comentários, na sua coluna, 
sobre a recente aparição de novos UFOS na Califórnia. Mas 
não esperava que a história valesse uma viagem ao local. 
Muita gente tinha visto objetos voadores,em muitas partes 
do mundo, e a coisa já se tornara uma rotina. 
— Apareceu mais um UFO — continuou Miky Grogan, 
batendo com o lápis nos recortes de jornais. — o quinto, 
este mês. Há alguma coisa esquisita com esses pires, 
charutos e caçarolas! Desta vez foi um ovo! 
— Ovo? — fez Brigitte, polidamente. — Adoro ovos 
estrelados com bacon! 
— Um ovo cozido — rosnou o gordo. — Um objeto 
desconhecido, que desceu na estrada que vai de Barstow 
para o Arizona, em pleno deserto. Uma senhora viu os 
tripulantes saltarem e escapou de morrer queimada pelas 
suas armas atômicas. A mulher chama-se Grace Meadows e 
mora no local. Pensei em mandar o Raymond fazer a 
cobertura, mas ele está ocupado com aquele caso dos 
Vanderbilt. Então, resolvi lhe dar esta grande chance, 
Brigitte. Você não tem uma teoria sobre os discos-
voadores? 
— Sim — murmurou Brigitte, interessada. — E, se 
desceu outro UFO ao leste da Califórnia, minha teoria deve 
estar certa. Agradeço-lhe a chance, chefe. Claro que vou 
para lá. Poderemos aumentar a tiragem do jornal, se 
desmascararmos os criadores desses aparelhos do diabo. 
— Você acha que eles são feitos na Terra? — perguntou 
o gordo, estreitando os olhos. 
— Suponho que sim. Pela menos, essa série que vem 
aparecendo na Califórnia. O senhor tem razão, chefe. Essa é 
a minha grande chance! 
A história começara justamente vinte dias antes, na 
madrugada de 5 de janeiro. Por volta da meia-noite desse 
domingo, alguns pescadores da costa oeste da Califórnia 
tinham visto um estranho objeto voador descer do céu e 
pousar no alto de uma rocha alcantilada, O UFO tinha o 
aspecto de um pires invertido e estava envolto em fumaça. 
Ficou cinco minutos em cima da rocha e, em seguida, 
levantou vôo na vertical, desaparecendo nas nuvens. Era 
ligeiro como um foguete. 
Cinco dias depois, outro UFO fora avistado nas 
proximidades de Fresno, ao norte de Los Angeles. Esse 
tinha a forma de um prato e descera na fimbria do deserto, 
diante de um casal de lavradores boquiabertos. Dois 
estranhos seres saíram da máquina voadora, observando ss 
cercanias, esguicharam um jato de fogo para o alto e 
voltaram, correndo, ao UFO, ao serem interpelados pelo 
casal; imediatamente, o prato se elevou nos ares e 
desapareceu, envolto em fumaça e fazendo um barulho 
assustador. O casal de lavradores declarara que os 
tripulantes do UFO mediam apenas um metro de altura, 
eram verdes e tinham antenas na cabeça. A Força Aérea 
começara a investigar o caso, mas não chegara a nenhuma 
conclusão, pois os estranhos seres não tinham deixado 
vestígios de sua passagem pela Terra. 
No dia 15 de janeiro, houve outra aparição. Dessa vez o 
UFO tinha a forma de um charuto e descera nos Montes 
Whitney, próximo da fronteira do Estado de Nevada. 
Apenas um automobilista que passava pelo local vira o 
aparelho descer e subir de novo, comunicando o fato às 
autoridades de Bishop. Ainda dessa vez não foram 
encontrados sinais do UFO. 
Finalmente, menos de uma semana depois, um novo 
objeto desconhecido em forma de caçarola descera 
misteriosamente a oeste da cidade de Las Vegas, já em 
território de Nevada, próximo de um bairro residencial. 
Diversas testemunhas tinham visto a caçarola-voadora 
pousar no deserto e seus estranhos tripulantes saltaram, para 
apanhar amostras de areia. Eram três anões, verdes, com 
tentáculos, as cabeças protegidas por capacetes 
transparentes. Um dos monstrengos empunhava uma 
espécie de canudo de alumínio, do qual saíam raios 
azulados. Ao chegar um carro da polícia ao local, os 
homúnculos entraram rapidamente na caçarola e escaparam 
do local, subindo vertiginosamente até as nuvens. Esse 
havia sido a última aparição de um disco-voador naquelas 
paragens. E, agora, Mike Grogan falava numa nova 
aparição, na estrada de Bartow, que também não ficava 
longe do Deserto de Mojave. Era preciso não esquecer que 
outros UFOS já haviam sido vistos naquele local, nos anos 
de 1946 e 52. Mas, isso, pertencia à história. 
Brigitte acompanhara com interesse o caso dos novos 
discos voadores e até fizera alguns comentários a respeito, 
em sua coluna. Mas outros acontecimentos políticos locais 
tinham atraído a sua atenção, fazendo-a esquecer-se daquele 
assunto apaixonante. 
— Quer que lhe forneça o material de que dispomos 
sobre as aparições anteriores? — perguntou o gordo diretor 
do “Morning News”. — Não há fotografias ainda. Apenas 
as declarações das pessoas que viram os discos. 
— Não se incomode — disse a linda repórter. — Tenho 
tudo na memória e sei que os depoimentos conferem, a 
respeito dos anões. Eles andam nus, se não me engana. 
— Sim, andam nus. Mas são verdes. E pequenos. 
— Isso é que é uma pena. Porém tudo confere. Os discos 
mudam de feitio, mas os tripulantes são sempre os mesmos. 
— Exato — acrescentou Miky, fazendo uma, careta. — 
Desta vez a senhorita Grace Meadows também viu os 
tripulantes e eles eram verdes e de baixa estatura. O lança-
chamas atômico também deve ser o mesmo. Hoje de 
madrugada, os homúnculos falaram com a mulher, 
ameaçando-a com seus raios cáusticos. Pelo menos, foi o 
que me disse o nosso correspondente na Califórnia, que 
ouviu a palavra abalizada do inspetor Pitzer? 
— Quem é o inspetor Pitzer? 
— Um famoso agente do FBI, encarregado das 
investigações desde o caso de Las Vegas. O inspetor Pitzer 
embarcará, logo mais, para Los Angeles e, se você for 
esperta, poderá entrevistá-lo pelo caminho. Arranjei uma 
passagem extra no mesmo aviso da carteira. 
— Se o inspetor Pitzer está em Nova Iorque — 
obtemperou Brigitte — como é que o nosso correspondente 
o ouviu, na Califórnia? 
— Pelo telefone, pouco antes de falar comigo. Pitzer já 
sabia de tudo. Mas é um homem fechado como uma ostra. 
Talvez você consiga abri-lo, a bordo, se for bastante 
esperta. 
— A que horas sai o avião? — perguntou a linda 
repórter, olhando seu elegante relógio de pulso. 
— Dentro de duas horas. Além de esperta, você precisa 
ser ligeira. Uma entrevista exclusiva com o famoso 
intocável Alan Pitzer vale bem o sacrifício! Ele é uma 
autoridade em discos-voadores, você sabe. 
— Okay — disse Brigitte, levantando-se e ajeitando as 
saias. — Irei entrevistar a senhorita Meadows, na estrada de 
Barstow. E tenho o palpite de que essa será uma das 
maiores reportagens da minha vida! 
— Também acho — concluiu o gordo, piscando-lhe um 
olho. — a sua grande chance, menina! E talvez seja a única 
missão realmente sensacional que você terá, como repórter 
do “Morning”! 
Ele se enganava. Mas, então, a carreira daquela que seria 
a mais famosa espiã da CIA, Brigitte Montfort, estava 
apenas no começo. E Miky Grogan não era bom profeta. 
 
 
 
 
CAPÍTULO SEGUNDO 
O inspetor Pitzer cai no laço 
 
O jato Boeing da TWA estava pronto para decolar, 
quando Brigitte chegou ao aeroporto, atrapalhada com a 
máquina fotográfica e uma mala de mão. Um dos 
passageiros ajudou-a a subir a bordo, encarregando-se da 
malinha. 
— Obrigada — disse a morena, com um sorriso 
gracioso. — O senhor é muito gentil, senhor comissário. 
— Não sou o comissário de bordo; sou um passageiro. 
Por coincidência, o assento de Brigitte ficava ao lado do 
gentil cavalheiro. Sentaram-se e amarraram o cinto. No 
minuto seguinte, o aparelho decolou, tomando o rumo da 
costa oeste dos Estados Unidos. 
— Chamo-me Brigitte Montfort — disse a garota, 
depois que estavam no ar. — Não diga a ninguém, mas sou 
repórter do “Morning News”. Vou a Los Ângeles fazer a 
cobertura de um caso especial e não quero que o FBI 
suspeite disso. Esta é a minha grande chance. 
— Desde quando é crime os jornalistas exercerem a sua 
profissão? Não acredito que o FBI lhe crie complicações, 
miss Montfort. 
— É o que o senhor pensa — retrucou a beldade, 
pestanejando. — Meu chefe, Miky Grogan, disse que o 
inspetor Alan Pitzer é um carrasco, um “Durão”, e detesta 
as mulheres! Sei queele também viaja neste avião e preciso 
evitá-lo. 
— Talvez a senhorita se engane — rosnou. — Ou talvez 
seu chefe quisesse indispô-la com as autoridades. Na 
verdade, eu sou Charles Alan Pitzer, miss Montfort, e não 
tenho prevenção alguma contra as repórteres bonitas. E, já 
que seu chefe lhe falou tão mal de mim, faço questão de 
contradize-lo, facilitando seu trabalho profissional! 
Contudo, a entrevista com o famoso intocável não foi 
muito brilhante, nem deu muitos frutos. Depois da sua 
euforia inicial, o inspetor tornou-se desconfiado e reticente. 
Além disso, ainda tinha poucas informações sobre a 
aparição do ovo-voador na estrada de Barstow. 
— Era um ovo, realmente? — perguntou Brigitte. 
— Sim, era um ovo. Uma esfera de alumínio. Mas você 
saberá de tudo quando chegarmos a Los Ângeles. 
— Não pretendo contar tudo aos meus leitores — 
retorquiu a morena, mordendo a ponta do lápis. — Eu gosto 
sempre de trabalhar de acordo com as autoridades, para 
evitar aborrecimentos futuros. Antes de publicar a 
reportagem, inspetor, gostaria que o senhor a lesse e a 
liberasse, rubricando todas as páginas. 
O homem do FBI fez uma careta. 
— Eu? Mas... não temos censura, nos Estados Unidos! 
Você é bastante sensata para saber o que deve e não deve 
publicar. 
— Não! inspetor. Insisto em que o senhor deve ler a 
minha reportagem, antes de mandá-la para Nova Iorque! 
Confio mais no senhor do que em mim! 
— Não creio que seja necessário. Pode publicar o que 
quiser, desde que não alarme o público, com boatos e essas 
coisas. Se disser apenas a verdade, não haverá 
complicações. 
— Obrigada, inspetor. Nesse caso, já que o senhor me 
autorizou a publicar tudo, evitar-lhe-ei o incômodo de ler os 
meus artigos. O senhor os lerá, depois, no “Morning 
News”. Esta entrevista, que o senhor está me dando, não 
poderá prejudicar o FBI. Os discos-voadores já são domínio 
público. 
— Perdão, miss Montfort. Eu não estou lhe dando 
nenhuma entrevista! Não posso dizer nada sobre os discos-
voadores. 
— Isso já é dizer alguma coisa. O FBI não pode falar. 
— Bem... Não sei, ainda, do que se trata. Tudo é 
especulação. Eu... 
Brigitte fez um gesto com o lápis no ar, sugerindo uma 
manchete. 
— “Tudo é especulação”, diz o inspetor Pitzer, agente 
secreto do FBI! Não pode dizer nada sobre os discos, pois 
não sabe nem do que se trata! 
O inspetor empalideceu. 
— Você não vai publicar isso! 
— Só se o senhor me proibir. 
— Pois está proibida! Você deturpa as minhas palavras! 
— O inspetor Pitzer proíbe a nossa repórter de dizer 
que ele não sabe de nada! 
— Chega! Você é muito atrevida! 
— Obrigada, inspetor. Já é o bastante, para começar. 
Os dois ficaram um minuto em silêncio, enquanto o jato 
sobrevoava Pittsburg. Depois, o inspetor olhou de esguelha 
para a garota. 
— Você é francesa? 
— Filha de francesa com alemão. Minha mãe morreu 
fuzilada pelos nazistas, lutando pela Resistência. Eu 
também sou um bocado resistente. 
— Estou vendo — rosnou o homem do serviço secreto. 
— Você é uma criatura pérfida e cruel! E sabe usar a 
língua! 
— O senhor ainda não viu nada. 
— Você tem graves defeitos morais, menina. Eu não 
queria ser seu inimigo! Aposto que se julga muito 
espertinha, hem? 
— Não aposte porque perderá. Eu não sou apenas 
espertinha, como sou teimosa! O senhor, por exemplo, está 
às aranhas, no caso dos discos-voadores. Não sabe se eles 
são de Marte ou de Moscou. Mas tem uma teoria. Eu tenho 
outra. 
— Qual é a sua teoria? — perguntou o detetive, com voz 
sumida. 
— Depois lhe direi. A sua é esta: os discos-voadores são 
comandados por seres inteligentes e obedecem a um plano 
preestabelecido. 
O inspetor Pitzer ficou de boca aberta. Falou: 
— Certo. Mas, isso, não era difícil de prever. O 
problema é por que eles descem ao longo da Califórnia? E 
por que mudam de feitio? 
— Mas a tripulação é sempre a mesma. 
— É verdade. Parece que a tripulação é sempre a 
mesma. 
Depois, falaram de outros assuntos e afastaram 
definitivamente a animosidade que pudesse ainda haver 
entre eles. Quando o avião baixou no aeroporto 
internacional de Los Ângeles, o inspetor continuava com a 
mala de Brigitte na mão. Desceram juntos a escada, 
seguidos por três agentes federais mal-encarados. 
— Você vai para algum hotel? — perguntou o detetive, 
tomando o braço da garota. — Terei prazer em levá-la até 
lá. 
— Para se ver livre de mim? 
— Talvez. 
— Obrigada. Vou alugar um helicóptero que me leve à 
estrada de Barstow. Meu dinheiro não é muito, mas tem que 
dar. Não tenho helicópteros do governo à minha disposição. 
Sou pobre e moro longe. 
— Okay — disse o inspetor, irritado. — Venha comigo! 
Você é minha convidada! 
Havia um Lockhead de seis lugares, da USAF, à 
disposição do FBI. O inspetor Pitzer confabulou com um de 
seus auxiliares e acomodou Brigitte na carlinga, ao seu lado. 
— É a primeira vez que vôo num helicóptero tão estável 
— disse ela. — Não balança nem nada! Sempre tive uma 
péssima opinião sobre este tipo de geringonça. O senhor é 
casado, inspetor Pitzer? 
— Como? Sim. Sou casado e tenho dois filhos. E minha 
mulher me adora. 
— Suponho que o senhor ainda não esteja farto dela. 
— Não. De maneira alguma. Vivemos muito felizes, 
— Parabéns. Isso muito me tranqüiliza. O senhor é tão 
insinuante que receei pela minha integridade física! Mas o 
senhor não é um lobo. 
— Oh, não, miss Montfort! — E o detetive sorriu, com 
orgulho. — Pode ficar descansada. Reconheço que você é 
muito bonita, mas não tem o que temer em minha 
companhia. Eu sou duro como urna pedra, quando se trata 
do cumprimento do meu dever! 
— Duro como uma pedra — suspirou Brigitte, 
pestanejando. — Que horror! 
O inspetor riu, mas não mudou de atitude. E a jovem 
repórter compreendeu que ele, realmente, era uma pedra. 
Pouco depois, chegaram a uma casa isolada, no meio do 
deserto, à beira da rodovia pavimentada que ia dar em 
Kingman, no Arizona. O helicóptero desceu no alto de uma 
duna de areia e soltou os seus ocupantes. 
— Aqui nos separamos — disse o inspetor Pitzer, 
apertando a mão de Brigitte. — A volta será às nove horas. 
Você terá duas horas para tirar retratos. 
— Não vai me apresentar à senhorita Grace Meadows? 
— inquiriu a repórter com ar ingênuo. 
— Era só o que faltava! Faça a sua estrada, menina! 
Separaram-se com outro aperto de mão amistoso e, 
enquanto o agente do FBI e seus três comandados se 
dirigiam para a casa isolada, a linda repórter ficou parada, 
ao lado do helicóptero, olhando ao redor. 
— Posso ajudá-la em alguma coisa? — perguntou o 
piloto do helicóptero, aproximando-se. 
Era um rapaz esbelto, simpático, fardado de tenente-
aviador. 
— Sim, poderia — respondeu a morena, batendo as 
pestanas. — Mas receio que isso seja contra as ordens do 
inspetor Pitzer... 
— Sou um oficial da Força Aérea — retrucou o rapaz. 
— E estou de folga até as nove horas. O inspetor Pitzer é 
nosso hóspede. 
— Nesse caso, talvez o senhor possa me fazer uma 
gentileza. Sou repórter do “Morning News”, como já deve 
saber, e tenho a incumbência de fotografar, do alto, o local 
onde desceu o disco-voador em forma de ovo. Confesso que 
não sei onde foi que ele desceu, nem tenho meios para... 
— O disco desceu ali adiante — informou o tenente, 
apontando para leste. — E é a segunda viagem que faço ao 
local. Mas é claro que não posso levá-la no helicóptero, sem 
ordem superior. 
— De qualquer maneira, obrigada — Brigitte suspirou. 
— Está muito calor, aqui. Vou caminhar, a pé, pela estrada, 
e talvez algum automobilista me dê uma carona. Eles 
gostam de ser gentis para com as moças de biquíni... 
E, num minuto, despiu o costume de tweed, exibindo os 
seus encantos físicos num maiô de duas peças. O piloto 
entortou os olhos. 
— Virgem Santa! 
Nisso, surgiu um carro, na estrada, aproximando-se a 
alta velocidade. Brigitte correu para a beira da rodovia, 
esticandoo polegar. Mas o jovem tenente foi mais ligeiro. 
— Venha — rosnou ele, agarrando-a pela cintura. — Eu 
a levo ao local. Não queremos escândalos, na Califórnia! 
O rapaz chamava-se Thompson e era natural de San 
Diego. Nervosamente, falou de sua família, de seus projetos 
para o futuro e da emoção que sentia ao entrevistar, pela 
primeira vez, uma repórter fotográfica em trajes menores. 
Minutos depois, estavam sobrevoando o local onde descera 
o ovo-voador. 
— Está tudo visto disse ela, voltando a sentar-se. — O 
ovo desceu num lugar plano, próximo da casa, mas não tão 
próximo que pudesse levar um tiro de espingarda. A 
senhorita Meadows é que caminhou até o UFO, para poder 
ver os homens verdes. E ela não devia levar nenhuma arma 
na mão. 
— Exato — gemeu o piloto, de olhos vidrados. — 
Posso, ao menos, beijar-lhe o rosto? Você é tão... tão 
cheirosinha! 
— Não — disse Brigitte, empurrando-o. — Desde 
quando os disciplinados rapazes da Força Aérea assaltam 
moças indefesas em helicópteros oficiais? Isso pode levar a 
um Conselho de Guerra, você sabe! Voltemos ao ponto de 
partida, Thompson. 
O piloto manobrou o aparelho e sobrevoou a casa 
isolada. 
— Devagar — disse Brigitte, alegremente. — Vou dizer 
“alô” ao inspetor Pitzer! Ele gostará de me ver aqui em 
cima! 
Havia um grupo de pessoas à porta da casa, olhando para 
o alto. Brigitte debruçou-se na carlinga e acenou 
entusiasticamente. A expressão do rosto do inspetor Pitzer, 
voltado para cima, era de completa perplexidade. 
— Isto me vai dar dores de cabeça — gemeu o tenente 
Thompson. — Desconfio que fiz besteira! 
— Não chore — retrucou a garota, enquanto se vestia 
com dificuldade. — Como você foi bonzinho, vai ganhar 
um beijo da titia. 
E acabou de gelar-lhe o sangue nas veias, beijando-o na 
boca. O helicóptero cambaleou e desceu no deserto, meio de 
banda, levantando um mundo de poeira. Brigitte agradeceu 
e saltou. 
Já estava escuro quando a linda jornalista alcançou a 
casa. O grupo de policiais levando a senhorita Meadows 
tinha partido para o local onde descera o UFO. Brigitte 
apenas encontrou um rapazinho tomando conta da casa. 
— Alô! — fez a moça, sorrindo amavelmente. 
— Mamãe está lá dentro? 
— Quem é você? — retrucou o moleque, com cara de 
cachorro danado. 
— Sou representante dos perfumes Avon — disse 
Brigitte, com voz melodiosa. — Avon chega... Vinha trazer 
uma amostra grátis de nosso novo produto, o disco-voador 
perfumado eletronicamente. 
O rapazinho coçou o nariz. 
— Que é isso? Vê lá se vai me morder! 
Brigitte tirou uma moeda da bolsa e exibiu-a, na palma 
da mão. 
— Parece uma pratinha de cinqüenta centavos, mas tem 
a propriedade de perfumar as gavetas. Veja que beleza! 
Estamos oferecendo este disco-voador a todos os clientes 
que viram algum UFO verdadeiro. Infelizmente, apenas sua 
mãe é que viu. Quero falar com ela. 
— Quem disse? — rosnou o moleque, arregalando os 
olhos para a moeda. — Ela não é minha mãe, é minha 
patroa. E eu também vi o ovo! 
— Como posso ter certeza disso? Se você tivesse visto o 
ovo, a polícia não o deixaria aqui. Eles o interrogaram? 
— Não — respondeu o rapazinho, agarrando a moeda. 
— Eles não perguntaram nada. Miss Meadows estava 
dormindo, quando a coisa chegou. Eu a chamei no quarto e 
lhe mostrei o grande ovo de prata, parado no meio do 
deserto. 
— Que horas eram? 
— Pouco depois da meia-noite. Eu não tinha sono e 
acendi a luz da varanda. Aí, ouvi o ronco e vi aquele 
negócio descer do céu. Devia medir mais de cinco metros e 
tinha muita fumaça. 
— Você também viu os anões? 
— Claro que vi. Miss Meadows correu para lá e eu fui 
atrás. Aí, abriu-se uma portinhola, por cima da fumaça, e 
saíram três garotos, vestidos de verde, com uma mangueira 
de regar jardins. 
— Eram garotos, mesmo? 
— Se não eram, pareciam. Nenhum homem tem aquela 
altura. E nenhum homem ia brincar com roupas verdes e 
capacetes de plástico. Eles falavam de um jeito esquisito. 
Brigitte tomava notas apressadas. 
— Você ouviu eles falarem? 
— Ouvi, mas não entendi “bulhufas”. Miss Meadows 
disse que eram risos. Deviam ser moleques comunistas. 
— E a mangueira de regar os jardins? Você viu sair água 
da mangueira? 
— Não — disse o garoto, com expressão séria. 
— Saía fogo! E por pouco eles queimavam miss 
Meadows. Ela é muito “corajuda”, a senhora não acha? 
— Você também é, Jack. 
— Meu nome é Butch. Sim, eu também fui “corajudo”! 
Vi tudo e eles não me viram. Miss Meadows não quer que 
saibam que eu também vi. 
— E como foi que o ovo desapareceu, Butch? 
— Do mesmo jeito. Os moleques queimaram a relva 
com o fogo da mangueira entraram no ovo e... zum! 
sumiram no alto! Foi ai que miss Meadows desmaiou. 
— Desmaiou? 
— Caiu durinha para trás! Mas não diga nada aos 
jornalistas. Ela também não quer que saibam que eu lhe 
joguei um balde de água na cara. 
— Foi só isso que os garotos fizeram? Conversaram com 
miss Meadows e queimaram a grama? 
— Foi. Eles não viram o outro homem, porque ele já 
tinha ido embora. E o outro homem também não chegou a 
ver nada. 
Brigitte sentiu um baque no coração. Era bom demais 
para ser verdade. 
— Então, havia outro homem? 
— Sim, senhora. Miss Meadows não sabe. Ninguém 
sabe. Mas eu sei. Ontem à noitinha chegou um Cadillac 
preto, pela rodovia, e parou perto de casa. Miss Meadows 
estava jantando. Eu vi um homem alto e moreno saltar e 
olhar ao redor, para o deserto. Havia outro homem dirigindo 
o carro. Uma hora depois, eles voltaram, mas miss 
Meadows não reparou o Cadillac. Eu reparei, porque já o 
tinha visto. O homem moreno continuava olhando para o 
deserto. 
— É verdade — murmurou Brigitte. — Então, esses 
homens do Cadillac não estavam aqui, quando o UFO 
desceu? 
— Penso que não. Acho que eles estavam procurando 
alguma coisa pelo deserto. Talvez fosse o jornal. 
— E voltaram de manhãzinha? 
— Voltaram e não voltaram — disse o moleque. — já 
então, aí estava cheio de gente. Por isso, o Cadillac passou 
direto e não parou. Mas o homem moreno estava lá dentro, 
com a cara no vidro da portinhola. Ele me olhou de maneira 
esquisita. 
— Espere um pouco, Butch! Que jornal é esse? Você 
disse que os homens estavam procurando um jornal? 
— Não. Eu disse que talvez fosse o jornal. 
— Que jornal? 
— Não vi. Mas, quando saltou do Cadillac da primeira 
vez, o homem moreno tinha um jornal na mão. Ai, deu o 
vento e o jornal escapou da mão dele. 
— E o jornal? 
— Sei lá. Foi-se com o vento. 
— Em que direção? 
— Também não sei. Pará o deserto. Na direção do ponto 
onde desceu o ovo, penso eu. Mas nunca mais ninguém viu 
o jornal. É difícil encontrar um jornal no deserto. 
Brigitte também achava que era difícil encontrar um 
jornal no deserto. Mas, se essa era a única pista do homem 
moreno do Cadillac, tinha que tentar encontrá-la. Talvez 
fosse o encarregado de escolher o “lugar” onde eles 
deveriam pousar... 
— A senhora quer mais alguma coisa? — perguntou o 
moleque, guardando a moeda de 50 cents. 
— Não, Butch. — Brigitte olhou para ele 
especulativamente. — Mas estou disposta a lhe dar cinco 
dólares, se você me trouxer um pedaço do jornal que voou 
para o deserto. Suponho que seja o “Pravda”. 
— É difícil, miss. 
— Mas não impossível. Você é o único que pode ganhar 
a recompensa, Butch. Eu sei que você é muito vivo! Vá 
buscar o jornal e não diga nada a ninguém. 
O moleque sorriu mostrando uma dentuça amarela e saiu 
correndo pelo campo aberto, na direção que um grupo de 
policiais que se aproximava. O inspetor Pitzer viu-o passar, 
como um foguete, e franziu o sobrolho. 
— Quem é aquele garoto? — perguntou, à mulher alta e 
magra que vinha a seu lado. 
Grace Meadows sorriu. 
— Um órfão, meu protegido. Ele estava dormindo, 
quando apareceu o ovo. Só eu é que vi a coisa. E repito que 
era impressionante, inspetor! 
— Okay — resmungou o detive. — Mas aconselho-a a 
não exagerar os acontecimentos,quando for entrevistada 
por alguma jornalista. Não diga, por exemplo, que foi 
agredida pelos tripulantes do disco. Nós sabemos que eles 
não a ameaçaram. 
— Mas crestaram a grama com a sua arma atômica! Se 
eu estivesse na frente daquele jato de fogo. Aliás, senti um 
princípio de paralisação! 
Nesse momento, Brigitte foi ao encontro do grupo, 
empunhando a máquina fotográfica. Imediatamente, a 
senhorita Meadows assumiu uma pose teatral e ajeitou o 
penteado. A câmara funcionou duas vezes. 
— “Morning News” — anunciou Brigitte. — Como se 
sente agora, miss Meadows? 
— Bem, obrigada. Mas foi muito impressionante! Eu 
conversei com um habitante de Marte! Ele era verde e tinha 
apenas oitenta centímetros de altura. 
— Nu? 
— Foi uma coisa em que não reparei. Creio que ele 
usava uma farda verde, rente à pele. Evidentemente que 
tinha uma sunga, senão eu não lhe teria dirigido a palavra! 
Sou uma moça solteira e prezo muito a moral! 
— Se a senhorita conversou com ele, conhecia a sua 
língua. 
— Não conheço a língua de ninguém! — protestou a 
solteirona. — Sou uma moça humilde e mal falo a minha 
própria língua! Eles falavam em marciano, conforme tive 
ocasião de dizer ao inspetor Pitzer. 
O detetive acenou. 
— Sim, falavam um idioma estrangeiro. Miss Meadows 
não se lembra de nenhuma palavra. Eram apenas sons 
guturais que... 
Houve um silencio. A senhorita Meadows tinha os olhos 
arregalados pelo temor. 
— Desculpe — gemeu. — Tenho ordens para não dizer 
nada aos jornais! 
— Vovô é uma fera — rugiu o inspetor Pitzer, crescendo 
para Brigitte. — Não publique isso no seu jornal! Você é 
diabólica, miss Montfort! Ou será que está jogando com 
cartas marcadas? 
— Juro que não — sorriu Brigitte. 
E a entrevista continuou, sem que a senhorita Meadows 
contasse mais nada de interessante. 
— Não sei onde se meteu Butch — queixou-se a mulher, 
enquanto servia o café. — Esse moleque ainda acabará se 
perdendo no deserto! 
Às nove horas, o inspetor Pitzer deu por terminadas as 
investigações e anunciou sua decisão de voltar a Los 
Ângeles. Quando já iam subir para bordo, um ponto preto 
surgiu no deserto, banhado de luar, crescendo rapidamente. 
Era o moleque, esfalfado, com a língua de fora. Brigitte 
correu ao encontro dele. 
— Então? 
Junto do helicóptero a quinze metros de distância o 
inspetor Pitzer observava, desconfiado. Mas não podia ouvi-
los. 
— Não encontrei o jornal inteiro — confidenciou Butch. 
— Só a primeira e a última folha. Acho que o resto se 
queimou. Estas páginas, mesmo, tem queimaduras, porque 
estavam perto do lugar onde o ovo desceu. 
Brigitte apanhou as folhas de jornal que ele lhe estendia 
e deu-lhe uma nota de cinco dólares. 
Por fim, também o fotografou, à luz do seu flash 
eletrônico. Quando voltou para bordo do helicóptero, o 
inspetor Pitzer estendeu a mão. 
— Permite-me? 
Ela lhe entregou docilmente as quatro páginas do 
“Morning News”. 
— É o seu jornal, não é? — comentou o detetive. 
— É. Sempre pagamos cinco dólares a cada freguês que 
nos devolver o casco. 
Ele examinou o jornal, cheirou-o e devolveu-o. No 
cabeçalho do “Morning News” que tinha um pedaço 
queimado via-se um carimbo: 
“Aiport Ho” 
E, ao lado, também se via uma anotação a lápis: “32”. 
— Qual é a sua idéia? — quis saber o inspetor Pitzer, 
logo que o helicóptero levantou vôo. 
— Não tenho nenhuma idéia — mentiu Brigitte. — O 
senhor pensa que este jornal veio de Nova Iorque, no ovo? 
Tem a data de ontem. 
— Claro que não penso isso — resmungou o detetive. — 
Mas estava próximo do local onde os marcianos fizeram 
experiência com o lança-chamas. Suponho que é isso o que 
você quer provar. O papel ainda cheira a petróleo. 
— Também notei, Mr. Holmes. Será que os marcianos 
de miss Meadows usaram petróleo gelatinoso no seu lança-
chamas? Nesse caso, eles estão imitando os soldados 
americanos, com as suas bombas de napalm. 
— Não sei — grunhiu o agente do FBI. — É você que 
está dizendo. Oficialmente, continuo sem saber de nada! 
Brigitte olhou para ele com ar de suspeita. 
— O senhor está tão tranqüilo, inspetor, que dá para 
desconfiar... Aposto que descobriu uma prova melhor do 
que a minha. Por isso não me tomou o jornal. 
— Pode ficar com ele — sorriu o detetive. — Pode ficar 
com todos os papéis sujos de Deserto de Mojave. Se os 
anões eram russos e usaram um lança-chamas comum, a 
petróleo gelatinoso, é provável que nós tenhamos melhores 
provas do que uma simples folha de jornal... 
Na verdade, ele tinha recolhido duas provas melhores, 
no local em que descera o ovo-voador: parte da grama 
crestada e uma lata, contendo resíduos de petróleo 
queimado. Eles não queria que os jornais soubessem disso. 
Era muito desagradável confessar que espiões soviéticos 
estavam subindo e descendo impunemente em terras da 
Califórnia. E, o que era mais grave, apenas a 1.800 
quilômetros de Cheyenne Mountain, onde está encerrado o 
cérebro da defesa atômica norte-americana! 
— A propósito, inspetor Pitzer — disse Brigitte, quando 
o helicóptero pousou no heliporto de Los Ângeles. — Li no 
meu jornal que o Circo de Moscou está se exibindo em São 
Francisco. Sempre adorei a troupe de anões daquele circo... 
O senhor também gosta, não é verdade? 
O homem do FBI olhou para ela, de boca aberta, mas 
não disse nada. Começava a ter medo de falar demais. 
 
 
CAPÍTULO TERCEIRO 
Brigitte encontra um aliado 
 
Foi por isso que, na manhã seguinte, ele procurou o 
Airport Hotel de Los Angeles e entrou na suíte 32. Agora, 
ali estava, diante de um homem nu e armada com uma 
Markarov tirando a própria roupa para distraí-lo. 
— Espere! — implorou. — Não atire! Tenho coisas 
ainda mais bonitas para lhe mostrar! 
Ela já estava só de sutiã e calcinhas. 
— Pare com isso! — rugiu o homem alto e musculoso. 
— Você não me convencerá! Encoste-se na parede! 
Ela obedeceu, tiritando de frio. De qualquer maneira, 
conseguira distraí-lo o bastante para não ser fuzilada sem 
julgamento. O outro adiantou-se, nu em pêlo, e ajoelhou-se 
ao lado do compatriota. Depois de um breve exame, 
confirmou a sua morte. 
— Um tiro no coração! Pobre e querido Boris! Você o 
matou, mulher pérfida e cruel! Agora, vou entregá-la à 
polícia! 
— Acha que pode fazer isso, tovarich? 
Ele voltou a pôr-se de pé, apontando-lhe a pistola. 
— Da! Você matou o meu camarada! Há uma lei, neste 
país capitalista, que castiga os assassinos! Onde pôs o 
revólver? 
— Eu matei o seu amigo? Não me faça rir! Foi você 
quem o matou! É você quem está com a arma na mão! 
Dessa vez, foi o homem nu quem pestanejou, confuso. 
Depois: 
— Eu estava no banho! Boris estava na sala! E, agora, 
Boris morreu! E eu encontrei você debruçada sobre ele! Kac 
vashie imia? 
— Meu nome é Brigitte Montfort — respondeu ela, 
sentando-se numa poltrona. — Sou repórter do “Morning 
News”, esse jornal que os senhores recebem todas as 
manhãs. Já leu a edição de hoje? Tem uma notícia que lhe 
interessa. 
Ela enviara sua reportagem, na noite anterior, pelo 
telefone direto de Miky Grogan — e sabia que sua 
entrevista com Butch fora publicada na primeira página. 
Nessa entrevista, aludira vagamente a um misterioso 
Cadillac preto, que o moleque teria visto duas vezes na 
estrada de Barstow. 
— Ah! — gemeu o russo alto e musculoso. — Você é 
uma jornalista? Mas, então, não tinha razões para matar 
Boris! Por quê? Não entendo mais nada! 
— Claro que não matei Boris — gritou a garota, irritada. 
— Pensei que você é que fosse o assassino! Quero, apenas, 
uma entrevista exclusiva, antes de pôr a polícia nos seus 
calcanhares. 
— Somos diplomatas — afirmou o russo alto, 
apanhando uma toalha e envolvendo-a nos quadris — 
Chamo-me Ygurin Nashimov e sou o subsecretário do 
Consulado Soviético Meu camarada, Boris Kashatov, era o 
adido naval. Não somos espiões! E não temos nada a ver 
com o mistério dos discos! 
— Estranho — comentou Brigitte.— Nesse caso, por 
que morreu o seu colega? E como? 
Mais calmo, o homem fez um gesto vago. 
— Não sei! Como? Eu estava tomando banho de 
chuveiro e não escutei nada! Ele ficou na sala e eu fui para 
o banheiro. E, de repente... Como foi que entraram aqui e 
fizeram isso? Você deve saber melhor do que eu! 
Brigitte estreitou os lindos olhos azuis. 
— Hum! Tive a impressão de ouvir passos, ao saltar do 
elevador, mas não vi ninguém. A porta estava fechada a 
chave e... O assassino talvez ainda esteja aqui dentro! 
Os dois olharam, receosamente, na direção da porta do 
quarto. O russo levantou-se sempre empunhando a 
Markarov e foi dar uma espiada dentro da alcova. 
— Não há ninguém — anunciou Ygurin Nashimov, 
regressando à sala. — Não posso compreender uma coisa 
destas! Talvez seja melhor chamar a polícia! De qualquer 
maneira, haverá escândalo. Mas eu não posso ficar com esse 
cadáver aqui dentro! E Boris precisa ser vingado! 
— Certamente, Ygurin. Talvez eu possa ajudá-lo, se 
você for sincero. Sei que você e seu amigo estão envolvidos 
no caso dos discos. Você não leu o meu jornal? 
O russo olhou, desconfiado, para a mesinha da sala. Em 
cima dela, via-se a edição especial do “Morning News”, 
recém-chegada de Nova Iorque. Brigitte abriu o jornal e 
mostrou-lhe a reportagem com fotografias da primeira 
página: 
“O MISTÉRIO DOS DISCOS” 
Por Brigitte Montfort, nossa enviada especial à 
Califórnia. 
O inspetor Alan Pitzer não pode falar sobre os discos-
voadores — Tudo é especulação, diz o famoso agente 
secreto — Entrevista exclusiva com uma testemunha que 
viu o ovo antes da galinha — Um Cadillac misterioso fez o 
serviço de rastreamento — O FBI vai ao Circo de Moscou. 
O russo acenou. 
— Sim, isso eu compreendo. Você é Brigitte Montfort, 
repórter do “Morning News”. E pensa que sabe muito! 
— Sei o bastante para complicá-lo, Ygurin. Se você ler 
minha reportagem, também compreenderá que estou na 
pista certa. Aquele Cadillac preto, com dois homens 
morenos, era o carro do Consulado Soviético! 
— Não preciso perguntar — queixou-se o soviético. — 
Você encontrou o jornal que Boris perdeu no deserto! Esse 
jornal tinha o nome deste hotel carimbado na margem. — 
Soltou um suspiro. — Você tem razão, garota. Mas de nada 
lhe servirá denunciar-nos à contra-espionagem americana. 
A polícia não encontrará provas de nossas atividades 
secretas. Não somos espiões oficiais. Somos diplomatas e 
temos imunidades. Meu camarada achava que um disco 
talvez descesse entre Barstow e a fronteira do Arizona. 
— Achava? Ou tinha certeza disso? 
O russo sacudiu a cabeça, impaciente. 
— Niet! Você pensa que esses discos são fabricados pela 
União Soviética? Pensa que nós estamos ligados a esses 
malditos anões verdes? 
— Será difícil você me convencer do contrário. 
— Pois não estamos — afirmou Ygurin, convictamente. 
— Vou-lhe mostrar o meu passaporte, diévushka. Por ele, 
você verá que nós chegamos aos Estados Unidos apenas há 
cinco dias, logo depois da descida daquela caçarola em Las 
Vegas. Mas nós não estávamos aqui, quando desceram os 
discos anteriores; estávamos em Moscou! 
— Agentes especializados em UFOS? — perguntou 
Brigitte, com ar de dúvida. 
O russo depositou a Markarov em cima do “Morning 
News”, na mesinha. 
— Mais ou menos. Somos técnicos em cinegética e 
vigarice espacial. Eu lhe explico. Quando começaram a 
surgir esses discos-voadores na Califórnia, o Kremlin 
desconfiou de um ardil dos americanos, tendente a deixar a 
União Soviética em má posição perante a opinião pública 
mundial. Os imperialistas americanos podiam estar 
fabricando os discos para pôr a culpa nos socialistas 
soviéticos! O fato é que os discos não foram feitos por nós! 
— Não mesmo? E os anões verdes, falando russo? 
— Ninguém pode provar que eles são russos! 
— A senhorita Meadows ouviu algumas palavras russas, 
ditas pelos monstrengos. 
— Não entendo! — gemeu o diplomata. — Nós 
pertencemos ao Centro de Pesquisas sobre falsos UFOS, um 
departamento autônomo da KGB, e fomos encarregados, 
pelo nosso governo, de decifrar o mistério dos discos, 
desmascarando aqueles que pretendem intrigar a União 
Soviética. Viemos para a Califórnia, como diplomatas 
creditados junto ao consulado, e estudamos o caso. A 
constância no aparecimento dos UFOS nos intrigou. De 
cinco em cinco dias, um aparelho misterioso descia ao 
longo da Califórnia, sempre por volta da meia-noite. Então, 
Boris traçou um plano. Na opinião dele, um novo UFO 
deveria descer abaixo de Las Vegas, na noite do dia 20, 
deste mês. Fomos até à casa da senhorita Meadows, no 
Cadillac do consulado, e observamos as vizinhanças. Foi aí 
que Boris perdeu o jornal. Mas não tivemos sorte. Quando o 
ovo desceu, perto da casa, nós estávamos vigiando a 
fronteira do Arizona. 
O lápis de Brigitte voava sobre o caderninho de 
apontamentos. 
— E vocês não viram nada? 
— Nada! De manhã, voltamos pela estrada de Barstow e 
soubemos, então, que o UFO ali aparecera. A teoria de 
Boris estava certa. Isto é um truque dos americanos para 
complicar a União Soviética! É uma provocação 
imperialista! Nós não fabricamos esses UFOS! Temos 
muito respeito pelo povo americano e seríamos incapazes 
de lançar o, pânico entre a população civil! 
— Pode ser que vocês não tenham fabricado os discos 
— disse, depois. — Mas, os Estados Unidos também não o 
fabricaram! 
— Pois sim que não! Você acredita no Pentágono? 
— Acredito nas minhas observações pessoais. Não são 
os Estados Unidos que estão provocando esta onda de 
pânico! Ora, se não foram vocês, nem eles... então, quem 
foi? 
— Sei lá! — grunhiu o russo, perplexo. — Se não foram 
vocês, nem nós... esses discos vêm de Marte! Sim, eles vêm 
de outro planeta! 
— Então, por que mataram Boris? O tiro que ele recebeu 
no peito partiu de uma pistola terrena. Eu diria que foi uma 
Colt 44. 
— Não entendo! Por que fizeram isso? 
— Porque seu amigo sabia demais! A teoria de Boris 
estava certa, conforme você disse. E, agora, nós também 
sabemos demais! E o Airport Hotel não é um lugar muito 
seguro para quem sabe tanto! 
Mal acabou de falar, notou que a expressão do rosto de 
seu interlocutor se modificava. Ygurin estava olhando para 
a porta da suíte, por cima de seu ombro, com os olhos 
negros muito arregalados. 
— Tishiná! Aí vem o... 
Inesperadamente, as luzes da sala se apagaram. Alguém 
tinha torcido o comutador, O russo saltou, como uma mola, 
e agarrou na Markarov. No mesmo instante soou uma 
expressão abafada e um clarão amarelo iluminou a sala. 
“Plof!” 
Um tiro de pistola, provida de silenciador. Alguém 
estava atirando, junto da porta do corredor, que fechara 
depois de ter entrado na suíte. Ygurin Nashimov tombou 
por cima da mesinha, agarrado à Markarov, e foi ao chão. 
Brigitte também saltou, quase ao mesmo tempo, e 
escondeu-se atrás da poltrona. 
“Plof!” 
Outro tiro seco, semelhante ao espocar de uma garrafa 
de champanha. O russo não se moveu mais. 
“Plof!” 
O atirador desconhecido estava alçando a bela 
repórter! Uma nova bala roçou o ombro da garota e furou o 
assoalho. Ela rastejou, por trás da mesinha caída, e estendeu 
a mão, apalpando o braço inerte de Ygurin. 
— Estou ferido — gemeu o russo. — Defenda-se, 
diévushka! 
E dobrou o braço, com extrema dificuldade, entregando-
lhe a Markarov. 
“Plof!” 
Brigitte sentiu a bala zunir junto ao seu ouvido. A 
escuridão favorecia o pistoleiro. A bela jornalista rodopiou, 
arrastando a mesa virada, e empunhou a Markarov com as 
duas mãos, disparando na direção da porta. 
Dessa vez, a detonação foi ensurdecedora. Um espelho 
se quebrou, com um fragor impressionante. O pistoleiro 
misterioso escapara, com medo de levar a pior. 
Brigitte ergueu-se, dominando o tremor das pernas e foi 
acender a luz. Agora, os dois falsos diplomatas russos 
estavam mortos, um ao lado do outro. E a bala, que 
penetrara nas costas de YgurinNashimov, era idêntica à que 
furara o coração de seu camarada Boris Kashatov. Aqueles 
dois não podiam mais falar. E ela, Brigitte Montfort, ainda 
não sabia o que dizer! 
Mas, se a teoria de Boris estava certa, a de Brigitte 
também estava. Ela pensara o mesmo, ao estudar o mistério 
dos discos. Então, Brigitte começou a pensar na China de 
Mao-Tse-tung... Seria algum truque de Lin-Piao? 
Não teve tempo para novas conjeturas. Súbito, ouviu-se 
um vozerio confuso, no corredor, e a porta foi aberta 
violentamente. Um grupo de pessoas excitadas penetrou na 
sala, liderado por um homem baixo e gordo, de óculos 
escuros. 
— Que está acontecendo aqui? — rugiu ele. Brigitte 
agarrou na máquina fotográfica e preparou-se para correr. 
Tinha que escapar; custasse o que custasse! 
Mas o caminho da fuga estava bloqueado pelos outros 
hóspedes, que palravam excitados. 
— Creio que houve um acidente — balbuciou Brigitte, 
enfiando a correia da câmara fotográfica no pescoço. — 
Ouvi tiros e, quando entrei aqui, encontrei dois homens 
mortos! Receio que um tenha atirado no outro! 
Todos se adiantaram, soltando gritinhos, cercaram os 
corpos dos dois russos. A toalha de Ygurin tinha caído e a 
aparência dele não era muito elegante. Brigitte escorregou 
pelo meio dos mirones, mas o homem gordo agarrou-a 
brutalmente pelo braço, impedindo-a de alcançar a porta. 
— Um momento, miss! Onde pensa que vai? 
— Estou à procura de um bom ângulo para trabalhar... 
Dito isto, sorriu polidamente, ergueu a câmara e bateu 
duas chapas do local, abrangendo os cadáveres. 
— Não se mexa! Você não me tapeia! Ouvimos os tiros, 
neste quarto! E você estava aqui, em companhia das 
vítimas! Você terá que se explicar direitinho! Eu... 
Brigitte encarou-o, pestanejando graciosamente. 
— Oh, perdão! O senhor é o detetive do hotel? 
— Ya! Sou o sargento Kildkind, da polícia estadual! Isto 
é, sou o ex-sargento Kildkind. Atualmente, exerço as 
funções de detetive deste hotel! — Caiu em si e deu um 
berro: — Você está presa! E eu não tenho satisfações a dar-
lhe! 
— Seja mais polido, sargento! Posso lhe dizer duas 
palavras em particular? 
— Okay! Será melhor que você confesse tudo! Venha 
até o corredor. 
Saíram e o sargento fechou a porta. Não havia ninguém 
no corredor do terceiro andar. Todos os hóspedes tinham 
entrado na suíte 32. 
— Qual é o seu problema? — inquiriu o gordo, com 
expressão de simpatia. 
Brigitte compreendeu que podia ter nele um aliado. 
— Sou repórter do “Morning News”. Esse mesmo jornal 
que o Airport Hotel distribui pelos quartos dos hóspedes. 
Não tenho nada a ver com esse duplo assassínio. Eu 
também fui agredida por um pistoleiro misterioso. Escapei 
por um triz. Há um assassino à solta nesta casa, sargento! 
O gordo tinha os olhos velados pela dúvida. Não sabia 
como agir. 
— Tolices! — rosnou. — Se houvesse um assassino 
aqui, eu lhe daria voz de prisão! Há um pouco de exagero 
nisso, menina. Mas talvez você não tenha matado os dois 
diplomatas. Estou propenso a acreditar na sua inocência. 
Seus olhos azuis e cândidos não mentem. Mas não posso 
deixá-la em liberdade. Você terá que se explicar com a 
polícia e, talvez, com o FBI! Este caso está me cheirando a 
intriga internacional! 
— Também me cheira, sargento. Mas já vi que o senhor 
é um homem digno e um bom chefe de família. Que diria, 
se sua filha se visse envolvida num assassinato político? 
Olhe para mim como se estivesse contemplando sua filha! 
— Mildred nunca se veria envolvida nesta espécie de 
encrencas — rosnou o policial. — Mas você terá que se 
explicar, contando tudo o que sabe! E você deve saber de 
muita coisa! 
— Engana-se, sargento. Não sei de nada. Vim 
entrevistar esses diplomatas, a serviço de meu jornal, e eles 
foram liquidados diante das minhas vistas! E eu quase ia 
também para o bebeléu! Estou nervosíssima, sargento! Veja 
meus seios, como palpitam de emoção! Acredite em mim, 
por favor! Sou inocente! E não me convém ser interrogada 
pela polícia, antes de terminar as minhas reportagens em 
Los Angeles. Entende? Não me convém cair nas mãos do 
FBI! 
— Ah! — grunhiu o gordo, encarando-a suspicazmente. 
— Então, você sabe de alguma coisa e quer guardar 
segredo, hem? 
— Será melhor que eu não seja interrogada, por 
enquanto. Dou-lhe a minha palavra de honra de que não 
matei os homens! 
— E também não sabe quem os matou? 
— Não, também não sei. 
— Mas vai saber, não é? 
— Talvez. Deve ser um assunto palpitante. E eu sou 
jornalista. 
O gordo acenou, refletindo profundamente. 
— É política, com certeza... Coisa dos russos! 
— Com certeza. Mas ainda não entrei no miolo da 
questão. Se o senhor me deixar em liberdade, nós dois 
podemos agir de acordo e desmascarar o culpado. Que lhe 
parece? 
— Sim, talvez. Eu gostaria de desmascarar o culpado, 
para receber as honras da descoberta! 
— O sargento Kildkind parecia divertido. — Afinal, 
mataram dois homens no Airport e eu, como detetive da 
casa... Ya, eu gostaria de ser o herói do romance! 
— O senhor receberá essa honra, sargento! Dou-lhe a 
minha palavra! Posso ir? 
— Ainda não! Você deve saber de muita coisa, garota, e 
representa perigo para a segurança nacional! Esses dois 
russos eram espiões, com certeza. Ontem, saíram no 
Cadillac do consulado e só voltaram hoje de manhã. O FBI 
estava de olho neles. Você também anda atrás dos discos, 
não é? 
Brigitte suspirou. 
— Vejo que o senhor é mais esperto do que eu pensava. 
Sim, sargento. Minha reportagem prende-se aos discos que 
têm aparecido na Califórnia. Mas ainda não sei o que pensar 
a respeito. 
— Não sabe, mesmo? Eu tenho uma teoria. São os 
russos que usam esses discos, para amedrontar a América! 
Mas eles não conseguirão! Somos um povo unido, apesar de 
nossa mistura de raças! O que nos estraga são os negros e os 
judeus, mas ainda haveremos de ficar livres deles! O 
sargento baixou a voz. — Esses UFOS estão ameaçando a 
base ultra-secreta de Vanderberg! 
— A base de quê? 
— Vanderberg, a base dos satélites militares, lançados, 
num cinturão ao redor do mundo! Eles sabem, os russos! A 
base fica aqui e os patifes já devem tê-la localizado! Por 
isso apareceram os discos. Não é uma boa teoria? 
— Excelente. Vou pô-la no meu jornal. E direi que foi o 
senhor quem a inspirou. “O sargento Kildkind teme por 
Vanderberg!” 
— Meu primeiro nome é Karl. Não quer tirar o meu 
retrato? 
Brigitte voltou a suspirar, impaciente. 
— Boa idéia. Não se mexa, por favor. E não faça cara de 
idiota. 
A máquina fotográfica funcionou e o retrato do sargento 
saiu sorridente. Brigitte escreveu alumas palavras no 
caderninho e voltou a encarar o seu novo aliado. 
— Pronto. Posso ir? Deixe-me escapar, sargento, e o 
senhor ficará famoso! Nós dois, em segredo, podemos 
vencer os russos! Posso ir agora? Ainda tenho que escrever 
um artigo e levar o material ao aeroporto! 
O gordo olhou-a pensativamente, lutando contra si 
mesmo. Depois, decidiu-se. Sua mão gigantesca fez um 
afago na cintura da repórter. 
— Okay, Brigitte Montfort! Você é uma garota bonita e 
esperta. Vou confiar em você. Vá-se embora, mas não deixe 
de ficar em contato comigo! Vou-lhe arranjar um quarto 
secreto, no porão deste hotel, onde você poderá estabelecer 
o seu quartel-general. Morou? Nós dois, juntos, iremos 
longe, pedaço de mau caminho! 
E fez menção de beijá-la entre os seios. Brigitte escapou 
de suas garras e partiu, célere, pelo corredor. Só depois que 
estava na rua é que refletiu sobre as últimas palavras do 
sargento Kildkind, e sentiu um arrepio na espinha. Como é 
que o gordo sabia que ela era Brigitte Montfort? 
 
 
 
CAPÍTULO QUARTO 
Brigitte também tem um plano 
 
Nessa tarde, Miky Grogan recebeu, pelo malote da 
TWA, uma das mais sensacionais reportagens do “Morning 
News”. Nela, Brigitte completava algumas reticências de 
seu artigo anterior e prometia uma grande surpresa para osleitores, no final da série de reportagens. E ela, Brigitte 
Montfort, enviada especial do “Morning News” a Los 
Ângeles, prometia esclarecer tudo antes do fim do mês. Para 
começar, já tinha uma pista. 
Era verdade. A extraordinária repórter já tinha uma 
pista, mas precisava de confirmação. Por isso, resolveu 
aceitar o convite do sargento Kildkind, estabelecendo o seu 
quartel-general num quarto modesto do Airport Hotel, por 
baixo das escadas que iam dar na lavanderia. 
— O essencial — disse ela, ao seu novo aliado — é que 
ninguém saiba onde me encontro. Não conheço a identidade 
do homem que matou os dois agentes soviéticos e não me 
sinto segura em nenhuma parte da cidade. Você garante que 
aqui não entra ninguém? 
— Garanto — afirmou o sargento, lambendo os beiços 
lascivos. — Aqui ninguém a incomodará, queridinha. E 
logo mais, a noite, quando fecharem a lavanderia, o silêncio 
e a solidão serão absolutos. 
— Diga-me uma coisa, sargento. Como foi que você 
descobriu que eu era Brigitte Montfort? Eu não lhe disse o 
meu nome! 
O gordo sorriu. 
— Sou o detetive do hotel, não sou? O rapaz da 
recepção me falou em você. O resto, não foi difícil de 
deduzir. 
Eram, então, seis horas da tarde. Brigitte jantou no 
quarto enquanto o sargento Kildkind olhava com interesse 
para as suas anotações. Por fim, às sete e meia, o último 
funcionário da lavanderia foi-se embora, fechando a porta 
do corredor. Brigitte ouviu os seus passos leves, subindo as 
escadas. Daí a pouco, outros passos desceram a mesma 
escada e a maçaneta da porta girou vagarosamente. Mas a 
porta estava fechada a chave. 
— Quem é? — perguntou Brigitte, correndo a vestir um 
peignoir. 
Uma chave girou na fechadura e a porta se abriu. Era 
apenas o sargento Kildkind. 
— Puxa! — exclamou Brigitte, sorrindo. — Pensei que 
fosse o meu pistoleiro! Mas ele deve ser mais magro do que 
você... 
O sargento não achou graça. Parecia nervoso. 
— Ele pode estar por aqui, filhinha! Há um novo 
hóspede no hotel, com cara de carniceiro! Você já olhou na 
lavanderia? 
— Não. Você acha que há perigo? 
— Venha comigo. Você dirá se há ou não. Alguém pode 
entrar pelo beco. Venha ver uma coisa. 
Ele tinha fechado a porta do quarto, ao entrar; quando se 
dirigiam para essa porta de mãos dadas alguém bateu 
violentamente. O sargento Kildkind empalideceu, 
desabotoou o casaco e levou a mão ao coldre da pistola. 
— Não — sussurrou Brigitte. — Espere! 
Escondeu o gordo atrás de uma cortina, que servia de 
porta para o armário, e foi abrir. No umbral da porta, estava 
o inspetor Pitzer, ladeado por dois outros agentes do FBI. 
— Alô, ,niss Montfort! Permite-me? 
— Alô, titio! Como foi que me descobriu? 
— Estava fugindo de mim? 
— Não especialmente do senhor. Entre. E não repare na 
bagunça. 
O inspetor entrou, olfateando o ar, e postou-se na frente 
da cortina. Depois, fez um sinal aos seus agentes. Os dois 
federais cercaram a cortina. 
— Okay! — disse o inspetor, em voz alta. — Pode sair 
daí! E conserve as mãos à vista! 
O sargento Kildkind saiu, com cara de cachorro batido. 
Ao reconhecê-lo, Pitzer deu uma risada. 
— É você, sargento? Por que não disse logo? Eu não 
podia adivinhar! 
— Já conhece o meu amigo Kildkind? — disse Brigitte, 
sorrindo. — Ele também tem uma teoria sobre os discos. 
— Vim buscar você por causa disso — replicou Pitzer 
com voz séria. — Andei à sua procura pela cidade toda e 
não a encontrei. Você tinha que estar aqui. 
— Obrigada pelo interesse. Gostou da sua entrevista? 
— Muito. Você está presa! 
— Como disse? 
— Digo que você está presa, incursa num dos artigos da 
Lei de Segurança Nacional! Você não ouviu os meus 
conselhos e fez sensacionalismo em torno do episódio do 
ovo de Barstow. E você vai para o xadrez! 
— Eu? 
O sargento Kildkind tentou interferir. 
— Espere, lá, inspetor! E a liberdade de imprensa? 
— É um crime espalhar boatos tendenciosos — replicou 
o federal, secamente. — E também é crime atribuir 
declarações capciosas a funcionários do governo! Não se 
meta, sargento, se não quiser ser processado também! 
O sargento calou-se, intimidado. 
— Sua reportagem talvez não saia amanhã — rosnou o 
inspetor. — Vocês estão abusando! E este assunto dos 
UFOS não é brincadeira! Falta pouco para que vocês 
estabeleçam o pânico no país, atribuindo aos russos a 
manufatura dos discos! 
— Eu não escrevi isso — protestou Brigitte. 
— Ainda não sei se foram os russos ou os chineses. 
Calou-se. O homem do FBI tinha-se curvado para o 
mapa da Califórnia, em cima da mesa, e examinava os 
riscos que ela traçara, entre as coordenadas. 
— Que é isto? 
— Psicanálise — respondeu Brigitte. — Sempre faço 
rabiscos nos países, quando estou pensando noutra coisa. 
— Neste caso, parece que você estava pensando nisto 
mesmo! — ele encarou a moça, com ar severo. — Você 
sabe de mais alguma coisa, além daquilo que publicou no 
seu jornal! Não confio em você, miss Montfort! Trata-se da 
segurança nacional. Não podemos facilitar. Como foi que 
encontrou a pista dos dois falsos diplomatas russos? 
— Pelo jornal queimado, Lembra-se? Eles estiveram na 
estrada de Barstow, atrás do UFO. Mas não chegaram a ver 
nada. 
— Contudo, descobrimos que você ficou trancada, com 
eles, na suíte 32. O que foi que eles lhe disseram, antes de 
serem assassinados? 
— Não seja ciumento, inspetor! Eles não me disseram 
nada. Morreram na minha frente, durante a entrevista. 
Pergunte ao sargento se não é verdade. 
O gordo confirmou, com voz sumida. Estava alarmado 
com a presença dos federais. 
— Não sou cúmplice dela — gemeu depois, sacudindo a 
cabeça. — Emprestei-lhe este quartinho porque ela estava 
com medo de ser apanhada pelo homem que matou os 
russos. Isso foi o que ela disse. Eu apenas quis ser gentil. E 
ia dar-lhe voz de prisão a qualquer momento. 
— Claro — ironizou o inspetor. — Você sempre foi 
muito gentil, Kildkind. Conhecemos a sua ficha. Miss 
Montfort deve se dar por muito feliz em ter escapado das 
suas garras. Já tivemos duas queixas contra você, de duas 
chinesinhas da lavanderia. Você é um tarado, sargento, e 
por isso foi expulso da corporação! Quando ainda pertencia 
à Policia Estadual, atacou uma menina de onze anos, no 
Griffith Park! Aposto que você também queria enfiar a 
cabeça de miss Montfort na máquina de lavar e, enquanto 
ela se debatia... 
— Nunca! — gritou o gordo, lívido de pavor. — Nunca 
pensei nisso! Aquelas chinesinhas eram duas débeis 
mentais! Eu jamais iria pegar à força duas garotas sujas 
como aquelas! 
Brigitte sorriu. Começava, a conhecer melhor o sargento 
Kildkind... 
— Não, inspetor — disse ela, despindo o peignoir. — O 
sargento não me fez nenhuma proposta indecorosa. 
O gordo engoliu em seco e não disse nada. A figura de 
Brigitte, em sutiã e calcinhas, fazia-lhe mal aos nervos. 
— Deixe-o em paz, inspetor — continuou a linda 
repórter, vestindo a saia de xadrez. — Eu não farei queixa 
contra ele. E ele não foi meu cúmplice, realmente. Eu é que 
lhe pedi para me arranjar um quarto sossegado no hotel. 
— Okay — decidiu o federal. — Por esta vez, passa. 
Mas tome cuidado, sargento! Nós temos a sua ficha. Nunca 
mais se meta em encrencas. 
— Vamos embora — rosnou o inspetor Pitzer, depois de 
dar uma rápida busca no quarto. — Se quiser, pode levar a 
sua câmara. Assim, terá com o que se divertir, a caminho do 
xadrez... 
A linda jornalista pôs a câmara a tiracolo e sorriu para o 
sorumbático sargento Kildkind. 
— Ânimo, colega! Não se deixe intimidar! Eu confio em 
você. Você não ia me levar para a lavanderia, não é mesmo? 
Tome conta dos meus documentos e não deixe ninguém 
mexer aqui. Eu voltarei, sargento. 
Os dois federais agarraram-na gentilmente pelos braços 
e levaram-na para fora. O inspetor Pitzer foi atrás deles. E o 
sargento Kildkind, frustrado em seus intentos, ficou de pé, 
no meio do quarto, olhando com raiva para o mapa daCalifórnia. 
Havia um Packard Clipper, de modelo antigo, no 
estacionamento do hotel. O inspetor e Brigitte sentaram-se, 
sozinhos, no banco traseiro. Os outros dois federais 
cumprimentaram a ficaram na beira da calçada. O carro 
zarpou, dirigido por um chofer de óculos escuros. 
— Agora, podemos conversar à vontade —disse o 
detetive, sorrindo. 
— Para onde vamos? — perguntou Brigitte, 
— O chofer sabe o caminho. Vamos descer por 
Inglewood, até Torrance, dar a volta na Harbor Freeway e 
voltar pelo Wates. Um passeio muito agradável. Brigitte. 
Vamos falar no Circo de Moscou? 
Ela semicerrou os olhos, cada vez mais desconfiada. 
Tinha as pernas bem fechadas e a saia puxada até os 
joelhos. 
— O senhor vai se vingar de mim? 
— Até que não — disse o detetive, encarando-a. — 
Você estava certa. 
— Não diga! Sobre o Circo de Moscou? 
— Sim. Se tentou me tirar da jogada com um blefe, 
enganou-se nas cartas. Você tinha uma seqüência! Estive no 
circo, em São Francisco, e descobri que havia um anão 
misterioso, chamado Albert. Ele sumiu logo que a troupe 
chegou aos Estados Unidos. Mas não era russo. 
— Também não devia ser marciano... Ou era? 
— Não, não era marciano. Era austríaco. Desapareceu, 
no mês passado, antes de começarem a aparecer os UFOS. 
E foi visto em Los Angeles, no princípio deste mês. Parece 
que andou rondando o Airport Hotel... 
— Que coincidência! Isso é novidade, para mim. 
— Você não podia saber tudo. Agradeça-lhe a sugestão, 
Brigitte. Também lhe agradeço a reportagem sobre os 
discos e a lição que me deu. Fui um imbecil, não 
“apertando” aquele garoto! 
— Butch? Coitado! Era tão insignificante... 
— Mas foi ele quem lhe deu a “dica”. As declarações do 
moleque valiam mais do que as da solteirona. Você nos 
passou para trás, Brigitte. 
— Por isso estou presa, não é? 
— Que é que você acha? 
— Ainda não sei o que pensar. O senhor é muito 
misterioso, inspetor Pitzer! Por que não vai diretamente ao 
ponto? 
— Estou chegando lá. Telefonei, ainda há pouco, para 
Washington. E tenho uma proposta a fazer-lhe. 
— Uma proposta? — Brigitte arregalou os lindos olhos 
azuis. — Do FBI? 
— Exato. Assunto confidencial. Você pode escolher o 
seu destino, Brigitte. Ou a cadeia, ou... 
— Ou?... 
— Recebi ordens para convidá-la a entrar para o FBI. 
— Repita isso; por favor. 
— Recebi ordens para lhe propor o seu ingresso nos 
quadros do FBI. Você pode aceitar ou recusar. Estamos 
numa democracia. A recusa implicará na sua prisão, por 
medida de segurança nacional. 
— Isso é chantagem! 
— Tome-o como entender. Não podemos facilitar, 
permitindo que você desmoralize o nosso serviço secreto, E 
você, agora é um elemento precioso, para o esclarecimento 
do mistério dos discos. Recebi ordens para... 
— Não — cortou Brigitte, dilatando as narinas. — O 
senhor não recebeu ordens; o senhor deu essas ordens! É o 
senhor que quer me neutralizar, dando-me um emprego 
público, para que eu fique quieta e calada! Mas sabe o que 
eu penso da sua proposta? Pode pegar no seu emprego e... 
— Não seja malcriada! Quanto é que você ganha no 
“Morning News”? 
— Uma miséria. Mas sou jornalista e jamais trairei o 
meu chefe! Sou leal a quem me paga! Nem que vocês me 
oferecessem mil dólares por mês... 
— É essa, aproximadamente, a quantia que estou 
autorizado à oferecer-lhe. Duzentos dólares por semana, 
mais as despesas extra. E você não precisará deixar o 
“Morning News”. 
— Não entendo — gemeu Brigitte, piscando. — Eu não 
precisarei pedir demissão? Não trairei a confiança de Miky? 
— Não. Miky Grogan não precisará saber que você 
trabalha para nós. Sua função de repórter não atrapalhará 
suas missões especiais. Pelo contrário. Como jornalista, 
você terá maiores facilidades para se locomover, a serviço 
do FBI. Pense bem, Brigitte! Não quero que me dê uma 
resposta precipitada. 
Caiu outro silêncio no carro. Iam passando em frente ao 
sistema espacial da USAF, junto à Aerospace Corporation. 
Brigitte olhou para fora, procurando pôr em ordem os 
pensamentos. Nunca esperara receber uma proposta 
daquelas, de maneira tão inesperada! Voltou-se para o 
inspetor Pitzer, retorcendo as mãos. 
— Se eu aceitasse, Miky teria que saber. Não escondo 
nada dele. 
— Só ele e eu saberíamos. Precisamos muita discrição, 
no serviço secreto. A sua admissão no FBI será uma espécie 
de curso vestibular para o ingresso na CIA. Depois que uma 
pessoa se mete no serviço secreto, só sai para morrer ou 
fugir para a Suíça. Pense bem e responda. Aceita? 
Brigitte tinha vontade de rir e chorar. Estava 
nervosíssima. A responsabilidade era muito grande. Pensou 
no futuro que a esperava, como espiã, contra-espiã, ou fosse 
lá o que fosse. Nunca sonhara em ser outra coisa senão 
jornalista. Mas a idéia de trabalhar para o governo, 
defendendo a democracia numa profissão tão cheia de 
emoções, a tentava. Parecia-lhe ouvir a voz insinuante de 
uma serpente, comparando-a a Mata Hari e a James Bond. 
E, depois, havia o fator cívico. Ela já considerava os 
Estados Unidos como sua pátria. E, se tivesse a cooperação 
do FBI no caso dos discos-voadores, teria maiores chances 
de chegar viva ao final das investigações. Sobretudo, o que 
a encantava era trabalhar com um homem tão simpático 
como o inspetor Charles Alan Pitzer. 
— Então? — perguntou este, impaciente. — Já se 
passaram os dois minutos. 
— Aceito — disse Brigitte, com voz rouca. 
— Duzentos dólares por semana, mais as despesas extra 
em champanha e perfumes franceses. E um novo 
apartamento, de luxo, na Quinta Avenida. Em troca, eu 
ajudarei o FBI, com minhas reportagens no “Morning 
News”. Vocês terão sempre uma cópia. 
— Oh, não! — exclamou o inspetor, sério. — Queremos 
a primazia. Você só publicará aquilo que for do nosso 
interesse. A partir deste momento, miss Montfort, você é 
minha funcionária e só recebe ordens minhas! Para 
começar, dê-me informes pormenorizado sobre os seus 
planos, na caça aos UFOS! Você nunca mais me apanhará 
desprevenido! 
— Nada feito — retrucou a garota, afundando no 
assento. — Se vocês querem me usar, apenas como um 
dente da engrenagem, prefiro os meus cinqüenta dólares 
semanais! Quero liberdade para agir, inspetor. Só 
trabalharei para o FBI com autonomia. Posso receber suas 
ordens e reportar-lhe as informações que julgar útil, mas os 
senhores não entrariam nos escaninhos do meu cérebro! 
Não sou um computador eletrônico! Ou liberdade de ação, 
ou nada feito! 
— Mas as normas do FBI... 
— Pense bem! O senhor tem dois minutos para decidir! 
Caiu um novo silêncio no carro. O homem do FBI 
mordia nervosamente o lábio inferior. 
— Okay, menina. Autonomia. Mas ponha-me sempre a 
par de suas andanças e seus palpites. 
Brigitte empertigou-se e apertou-lhe a mão, com energia. 
Depois, começou a falar. Mas disse apenas aquilo que lhe 
convinha, sem aludir ao seu plano para desmascarar os 
anões dos UFOS. O inspetor Pitzer ouviu tudo calado, 
tamborilando com os dedos no encosto do banco. Afinal, 
perguntou: 
— Mas os russos falaram, não? 
— Só um deles. Ygurin Nasimov. Foi morto por algum 
agente dos UFOS, é claro. Os homens que manejam os 
discos querem que as autoridades pensem que se trata de 
uma ameaça soviética. Ygurin e Boris eram técnicos em 
chantagem espacial e foram mortos porque iam provar que a 
Rússia não tinha nada a ver com os UFOS. O senhor 
entende alguma coisa, chefe? 
— Não. Você já pensou na China Popular? 
— Já. Mas tenho uma idéia melhor. De qualquer 
maneira, em primeiro lugar temos que agarrar um UFO. Ou, 
pelo menos, fotografá-lo. 
— Meio difícil, você não acha? 
— Nem tanto — respondeu a bela repórter, sorrindo 
maliciosamente. — Agora, sou uma agente do FBI, com 
privilégios federais. Tenho um plano, sim senhor, mas ainda 
não posso revelar os seus detalhes. Está tudo aqui dentro, 
num escaninho do meu cérebro. 
— Cuidado — advertiu o inspetor Pitzer, encarando-a.— Seu serviço será secreto, mas não tanto. É preferível que 
eu conheça os seus planos, para poder protegê-la. Outros 
espiões têm-se dado mal, por guardar segredos importantes, 
em vez de reportá-los a seus chefes. Você tem um exemplo 
nas atividades de Ygurin Nasimov e Boris Kashatov. 
— Não posso revelar meu plano — teimou Brigitte. — 
Se o senhor me cercar de guarda-costas, os UFOS fugirão 
voando. É preciso que eu trabalhe sozinha. Ou, pelo menos, 
que pareça estar trabalhando sozinha. A imprudência, às 
vezes, também dá bons frutos. Meu plano só será conhecido 
depois que eu o levar avante. E vou executá-lo, 
matematicamente, com a prestimosa colaboração do 
sargento Kildkind. 
— Cuidado com ele! — rosnou Pitzer. — Não lhe diga 
nada que... 
— Claro que não. Nem vou, mais, ficar sozinha com ele; 
nos cantos escuros... Mas não posso prescindir de seu 
concurso. Há um assassino no Airport Hotel e o gordo vai 
me ajudar a agarrá-la! Ainda mesmo que não saiba disso! 
E Brigitte deu uma risada. Sentia-se, realmente, muito 
feliz. Não só porque acabara de entrar para o serviço 
secreto, como porque tinha muitas esperanças de levar a 
bom termo sua primeira missão de contra-espionagem. Seu 
plano era baseado na lógica, no estudo das coordenadas. 
Depois de ter estudado o mapa da Califórnia e os locais 
onde tinham descido os UFOS, chegara à conclusão de que 
um novo objeto voador deveria descer, depois da meia-noite 
do dia 30 daquele mês, nas proximidades da fronteira do 
México. E ela iria até lá, esperar por ele. 
Mas ainda estavam no dia 27. 
 
 
CAPÍTULO QUINTO 
Um plano arriscado 
 
— Estou convencida — disse Brigitte — de que são, 
mesmo, os russos que provocam esta “onda” toda, embora 
não queiram que se saiba disso. Por isso, os dois agentes 
soviéticos tentaram nos enganar, afirmando que também 
estavam aqui como observadores. Você está me 
entendendo? 
O sargento Kildkind ouvia-a de boca aberta. 
— Ya, estou entendendo! São os russos! Eu sempre disse 
que eram esses patifes! 
— Repare nos locais dos aparecimentos dos UFOS — 
prosseguiu Brigitte, mostrando o mapa da Califórnia. — Na 
noite do dia 4 para 5 de janeiro, apareceu o primeiro pires-
voador da costa oeste dos Estados Unidos. Esse aparelho 
deve ter fotografado o nosso litoral do Pacifico, desde Santa 
Bárbara até Monterrey. 
— Certo — disse o sargento Kildkind, excitado. — 
Temos uma base naval, camuflada, pouco acima de Santa 
Bárbara! É onde se abastecem os submarinos! 
— Na madrugada do dia 10, um prato-voador desceu 
próximo de Fresno, onde se está construindo um parque 
aeronáutico para foguetes terra-mar-e-ar. Foi quando os 
anões apareceram pela primeira vez, experimentando suas 
armas atômicas. Um casal de lavradores assistiu à exibição, 
mas os homúnculos verdes fugiram, ao serem interpelados. 
— Claro! Os russos nunca têm boas intenções! 
— Cinco dias depois, um charuto-voador pousou nos 
montes Vithitney, de onde, se domina o Vale da Morte. Este 
vale, como você sabe, é considerado local estratégico pela 
Força Aérea. Existem, lá, muitas bases secretas de 
treinamento. 
— Não sabia disso — murmurou, o sargento. — É 
fascinante. 
— Cinco dias depois — continuou Brigitte — foi a vez 
da caçarola-voadora que desceu perto de Las Vegas, com 
seu “cabo” virado para a capital do jogo. Sintomático, não? 
— Sintomático — concordou o sargento. — Os russos 
são espertos! Mas nós somos mais! 
— Finalmente, desceu o UFO na estrada de Barstow, em 
pleno Deserto de Mojave, e os anões recolheram amostras 
da areia monazítica. Ao serem interpelados pela senhorita 
Meadows, eles falaram em russo. Se fossem chineses, não 
falariam em russo. 
— E, se fossem, marcianos, não diriam nada! O que eu 
lhe digo, miss Montfort, é que a União Soviética está 
preparando o terreno para a invasão! E, se o nosso governo 
não agir logo, bombardeando o Kremlin, ainda vai se 
arrepender! 
— Mas, antes disso, é preciso desmascará-los. E é o que 
eu vou fazer, sargento! Consegui enganar o inspetor Pitzer e 
ele me deixou em liberdade. Não lhe revelei os meus 
planos. Mas eu sei como fotografar o UFO! 
O sargento Kildkind estremeceu. 
— Sabe, mesmo? Cuidado! Lembre-se do que aconteceu 
àqueles dois espiões soviéticos! 
— Eles foram calados pelo próprio Kremlin, porque não 
interessavam mais. Há um “torpedo” soviético neste hotel e 
nós acabaremos por desmascará-lo! Mas o que interessa, no 
momento, é fotografar um UFO, provando a sua origem 
soviética! 
— Estou com você, garota! 
— Sabe qual é a minha teoria? Os UFOS apareceram 
sempre ao longo da Califórnia, descendo para o México, a 
distância mais ou menos semelhantes. Ora, se descermos 
mais, abaixo da estrada de Barstow, o que encontramos? 
— A Baixa Califórnia. A fronteira do México. 
— Exato. E as localidades mais próximas, aqui à 
esquerda do mapa, são Brawley e El Centro. Não sei por 
que, tenho um palpite de que, na noite do dia 30, o próximo 
disco descerá em EI Centro. 
O sargento tinha os olhos arregalados, por trás dos 
óculos. 
— É uma cidade grande, garota. Se eles desceram lá, 
não se arriscarão a pousar na cidade. Podem ser presos pela 
polícia. Mas talvez desçam nos arredores de El Centro. 
Estou pensando numa coisa. 
— Em quê? — perguntou Brigitte, fremente de 
ansiedade. 
— Conheço El Centro. A meio quilômetro da cidade, na 
beira da rodovia que vai para San Diego, existe uma colina, 
de onde se vê todo o distrito. É possível que os russos 
escolham esse lugar para pousar. E, se a polícia não for 
prevenida... 
— Deus me livre! Quero assistir a tudo sozinha. E 
fotografar o UFO para o meu jornal. Depois, então, falarei a 
respeito. Você me deu uma boa idéia, sargento! Vou ficar 
de olho nesse observatório! 
— Sozinha? 
— Ninguém sabe de nada. E minha missão é pacífica. 
Eu apenas quero fotografar o UFO. 
— Pelas dúvidas, você deve levar cobertura. Se eu 
pudesse me afastar do hotel... Mas não posso. Por que não 
conta tudo ao inspetor Pitzer? 
— Estou em guerra com o FBI, sargento. O inspetor 
Pitzer precisa de uma lição! Ele verá os retratos do UFO, se 
eu tiver a sorte de fotografá-lo! E, assim, provarei que a 
União Soviética está provocando a guerra! 
Mais dois dias se passou. As reportagens da linda 
jornalista continuaram fazendo vender o “Morning News”, 
mas não acrescentaram outras novidades à história. Na tarde 
do dia 30 de janeiro, a intrépida repórter saltou de um 
ônibus, em El Centro, e alugou um quarto numa hospedaria. 
Depois, também alugou um carro, numa agência, dirigindo-
se a um restaurante típico mexicano. Jantou, cercada pela 
curiosidade popular, e voltou ao automóvel, rodando para 
oeste, pela estrada de San Diego. Brigitte parou o carro, 
para dar uma espiada. Havia um observatório no alto, bem 
menor do que o de Monte Palomar — um quadrado de 
edifícios brancos, encimados por uma cúpula de cimento 
com uma abertura no meio. Ali devia ficar o telescópio. 
À meia-noite, ainda não acontecera nada. Ela 
empunhava um binóculo de longo alcance e perscrutava os 
céus estrelados. Nenhum sinal do UFO. Os minutos se 
passaram. Dez... vinte... trinta... Nada! À uma hora, teve 
que reconhecer o seu fracasso. 
Mas, de repente, ela sacudiu a cabeça e sorriu, cheia de 
novas esperanças. Aquela era a madrugada do dia 30, mas o 
mês de janeiro tinha 31 dias. Era muito possível que o 
último UFO do mês descesse no último dia! 
Brigitte recolheu os seus pertences e voltou para o carro 
alugado, regressando a El Centro. Sua entrada, na 
hospedaria, às duas e meia da madrugada, não causou 
sensação, pois havia apenas um funcionário acordado. No 
dia seguinte, foi almoçar noutro restaurante típico e deu um 
passeio pela cidade. Jantou às oito horas da noite e entrou 
no carrinho alugado, voltando à colina do Observatório. 
Tudo estava no mesmo. As horas rolaram. Meia-noite. 
Brigitte empunhou o binóculo e perscrutouos céu. Nada, 
ainda. Cinco minutos... dez minutos... e, de repente, alguma 
coisa brilhou, entre as estrelas cintilantes! Brigitte focalizou 
o objeto desconhecido, que descia vertiginosamente na 
direção da colina. Era uma espécie de pião metálico, cor de 
prata, envolto em gases. Um legítimo UFO! 
O pião desceu espalhando fumaça e roncando como um 
avião a jato e pousou no heliporto natural, exatamente no 
lugar onde a repórter esperava que ele pousasse. Brigitte 
levou a câmara ao rosto, focalizou o UFO e bateu a primeira 
chapa. O aparelho não era muito grande: devia medir 
apenas uns quinze metros de diâmetro. Nesse momento, 
uma portinhola se abriu na parte superior do pião e surgiram 
três pequenas figuras verdes, que saltaram para o chão. Um 
dos anões manejava um tubo metálico, do qual saíram 
esguichos de fogo. 
Brigitte adiantou-se para o UFO, erguendo a máquina 
fotográfica. Bateu outra chapa e continuou avançando, 
fascinada. O anão de lança-chamas estava de costas para 
ela, vigiando a aproximação dos funcionários do 
Observatório. Era um homúnculo de seus oitenta 
centímetros de altura e estava completamente nu. Sua pele 
verde parecia a de uma lagartixa, mas sua anatomia era 
proporcional ao seu tamanho. Brigitte bateu outra chapa, 
sem ser pressentida. Mas, logo, voltou-se assustada. 
— Pogodí! — exclamou uma voz aguda, às suas costas. 
— Não se mexa! 
Tinha se esquecido dos outros dois tripulantes do disco! 
Agora, eles ali estavam, a cinco metros de distância, 
apontando-lhe duas pistolas russas. 
— Govaritia po-ruski? — perguntou Brigitte. — Não 
tenham medo. Não quero lhes fazer mal. Sou uma repórter e 
pretendo apenas entrevistar vocês. 
— Não entender — rosnou um dos anões. 
Brigitte sorria nervosamente. 
— Sou amiga de vocês. Entendem? Só quero fazer uma 
reportagem. Retratos no jornal! Publicidade! E não uso 
armas de fogo. 
— Fogo — disse o anão mais alto. — Fogo na América! 
Antes que vocês ponham fogo em nós! Não confiar em 
mulher bonita! 
— Vocês não têm o que temer — insistiu Brigitte, mais 
senhora de si. — Se são habitantes de outro planeta, vão 
gostar daqui da Terra. Há muitas mulheres bonitas na 
Califórnia... 
— Muita roupa em cima — rosnou o anão. 
A linda repórter baixou os olhos e sentiu um súbito mal-
estar. O monstruoso indivíduo estava entusiasmado com a 
sua beleza! Também aqueles estranhos seres se 
entusiasmavam com o corpo espetacular da filha de Giselle. 
— Por favor — pediu Brigitte, recuando e fechando o 
capote. — Sou amiga de vocês! Não me ameacem com 
essas armas verdes! 
— Você vem comigo — disse o anão mais alto, 
estendendo a mão. 
Ela tentou recuar mais, porém, o segundo monstrinho 
cortou-lhe a retirada. Sentiu a ponta de uma pistola nas 
costas. 
— Despir! — ordenou o anão mais alto. 
— Como? Eu? Com este frio? 
— Despir! Você vem comigo. Mas não pode ser pesada! 
Então, ela compreendeu. Os monstrinhos queriam levá-
la para o pião-voador, num cruzeiro turístico pelo 
Desconhecido! 
— Tenho medo — gemeu a garota, agarrada ao capote. 
— Vocês não estão com boas intenções! Conheço os 
homens. Depois de me maltratarem, vocês vão me matar! 
— Não matar — disse o anão mais alto. — Passear! 
Você é muito bonita. Eu sou carinhoso. Queremos boa 
vizinhança, com as mulheres bonitas! Despir! 
Brigitte suspirou, desalentada, e tirou o capote. Com o 
canto do olho, viu os dois empregados do Observatório 
parados do outro lado do disco, sob a ameaça do lança-
chamas do terceiro anão. Aqueles pobres funcionários 
públicos não a podiam acudir. Vagarosamente, ela despiu o 
casaquinho, a blusa e a saia de casimira. 
— Também devo tirar o resto? — inquiriu, com voz 
fraca. — Vou morrer gelada! Por que vocês não escolheram 
a primavera? 
— Venha! — ordenou o anjo mais alto. — Traga a sua 
máquina de tirar retratos! E não falar mais! Tishiná! 
O segundo anão, verde e nu, também apontava duas 
armas de pequeno calibre para a linda morena em trajes 
menores. Brigitte suspirou outra vez e dirigiu-se para o 
UFO, arrastando as pernas trêmulas. Era átimo dar um 
passeio no pião-voador, mas restava saber se haveria volta... 
— Subir! — ordenou o anão mais alto. 
Tinham alcançado a base do UFO. O aparelho repousava 
em quatro pés de alumínio e tinha uma escada, que descia 
de sua metade superior. A escotilha era estreita e a jovem 
repórter teve que se espremer, para passar por lá. Do lado de 
dentro, havia uma câmara redonda, iluminada por lâmpadas 
de gás néon esverdeado. Brigitte viu uma poltrona e sentou-
se, toda encolhida. Os dois anões passaram por ela e saíram 
por uma portinhola oval, que voltaram a fechar. Na mesma 
hora, o terceiro anão também entrou pela escotilha, 
carregando o lança-chamas apagado, e fechou a porta, 
rodando uma manivela de metal reluzente. O interior do 
UFO cheirava a desinfetante. 
Aquilo não era nada tranqüilizador! Apesar de sua 
prática em relações humanas, Brigitte nunca tivera contatos 
com seres monstruosos como aqueles. Não sabia que 
espécie de divertimento os homúnculos exigiriam dela. E só 
lhe restava o consolo de ver que eles eram anatomicamente 
bem proporcionados, ou seja, não passavam de pequenos 
moleques excitados. 
— Qual é o divertimento? — perguntou, protegendo a 
nudez com as mãos espalmadas. 
— Você verá! Calada! Somos muito carinhosos! 
Nisso, o piso trepidou e ouviu-se o ruído distante de um 
jato. Brigitte levantou-se da poltrona, mas foi atirada ao 
chão. Tinha a impressão de que seu corpo estava se 
achatando contra o aço frio do solo, enquanto o pião se 
elevava vagarosamente no espaço. Quando pôde se mover, 
sentiu um peso extra nas costas. O anão tinha se libertado 
do lancha-chamas e estava abraçado a ela, fazendo-lhe 
carícias ousadas. A jovem repórter virou o rosto e viu os 
olhos vermelhos do monstrengo, através da cápsula de 
vidro. A voz aguda saía por um tubo de plástico, logo 
abaixo do pescoço verde: 
— Deixa! Somos super-homens! Deixa! 
— Uma conversa! — rugiu a repórter, furtando-se 
àquele contato asqueroso. — Vocês são uns grandes 
mistificadores! Tire as mãos de cima de mim! 
— Deixa! — implorou o anão, de olhos vesgos. — 
Deixa, filhinha! Bonequinha! Amorzinho! 
Brigitte defendeu-se com um golpe de caratê, atirando o 
anão contra a parede metálica da câmara. O homúnculo 
rodopiou e pôs-se de pé, apalpando o capacete para ver se 
não estava quebrado. 
— Brutalidade imperialista! — rugiu, depois, voltando 
ao ataque. — Você tem que deixar! Tun Sie das lieber 
nicht! 
Os dois se atracaram, na ampla cabina, trocando 
bofetões. A pele verde do homúnculo era áspera e enrugada; 
Brigitte apalpou-o, agarrou-lhe um tufo de cabelos crespos e 
arrancou-o brutalmente, fazendo-o soltar um grito de dor. O 
anão era pequeno, mas muito resistente, seu corpo, elástico 
e musculoso, enrodilhava-se nas pernas brancas da garota, 
como uma cobra. Brigitte já estava sem sutiã e tinha as 
calças rasgadas, mas ainda não se entregara. O anão, por sua 
vez, sangrava, no peito e no ventre, e perdera metade de sua 
disposição amorosa. Mas não queria largar a presa. Súbito, 
os outros dois monstrinhos voltaram a aparecer, já sem as 
cápsulas de vidro, e também entraram na luta. Isso decidiu o 
combate, a favor dos assaltantes. A avaliar pelo seu 
entusiasmo, não devia haver muitas mulheres no lugar de 
onde vinham. 
Brigitte debateu-se como uma louca, mas não pôde mais 
impedir a invasão. E, depois que o monstro verde venceu a 
sua resistência, ela foi a primeira a facilitar o 
prosseguimento das hostilidades. Afinal, não era tão 
horrível como parecia à primeira vista. 
O anão acabou de mitigar a sua sede, ergueu a cabeça e 
soltou um uivo feliz. Depois, cedeu seu lugar a outro. Por 
fim, quando os três homúnculos acabaram de se revezar, nas 
suas demonstrações do amor, Brigitte ficou caída no chão, 
gemendo e maldizendo a sua imprudência. Não deviater 
entrado naquele aparelho diabólico, para ficar à mercê de 
indivíduos tão bárbaros. Mas, agora, estava feito. E ela 
provara, na própria carne, a existência dos discos e seus 
fogosos tripulantes. 
— Okay — murmurou a linda jornalista, levantando-se 
com dificuldade. — Vocês já se divertiram! Agora, deixem-
me trabalhar! 
O anão mais alto, feliz da vida, contemplava-a com 
olhos de diplomata parisiense. 
— Da — disse ele, sorrindo. — Você é nossa amiga e 
terá liberdade! Não conte a ninguém o que aconteceu! 
Perdemos a cabeça, mas isso não acontecerá mais. Somos 
cavalheiros. 
Ainda muito nervosa, a garota vestiu os trapos em que se 
tinha transformado a sua lingerie, e apanhou a máquina 
fotográfica, caída a um canto da câmara. 
— Agora, posso trabalhar? 
— Da — respondeu o anão. — Mas não faça perguntas! 
Não temos ordens para falar! Venha. E não toque em nada, 
se não quiser levar um choque! 
Sim, aquilo parecia um pesadelo! Mas era real. Brigitte 
foi levada para a câmara de comando do UFO, onde viu um 
painel cheio de botões, manômetros e luzes multicoloridas, 
que piscavam e tremiam. Reconheceu o start, o manômetro 
de um giroscópio, os acelerômetros, os controles de 
empuxo, o altímetro e o velocímetro. Então, o disco-voador 
não era movido pela inércia, nem pela força magnética, era 
muito semelhante a um foguete a combustível sólido! 
— Conhecer aerodinâmica? — perguntou o anão mais 
alto, olhando para ela com expressão de suspeita. 
— Não — respondeu Brigitte. — Suponho que este 
aparelho seja movido pelo magnetismo. Teoricamente, 
todos os discos-voadores são movidos assim. 
O anão sorriu, aliviado. 
— Da. Digamos que é o magnetismo. 
— Vocês são russos? — continuou a garota, com ar 
ingênuo. 
— Niet. Somos soldados da paz! E vamos acabar com a 
América, antes que a América acabe conosco! O próximo 
passo será a bomba atômica! 
Brigitte já esperava por essa declaração. Ergueu a 
máquina fotográfica e bateu algumas chapas do painel de 
instrumentos do UFO. Em seguida, também bateu uma 
chapa do céu estrelado, que se via através das janelinhas; as 
estrelas estavam tão próximas que pareciam que eles 
viajavam pela Via-Láctea. Entretanto, os outros dois anões 
sentaram-se diante do painel e começaram a acionar os 
botões de controle. 
— Agora, descer — anunciou o anão mais alto. Você 
terá que nos dar a sua palavra de que não dirá nada a 
ninguém! Não queremos que os americanos saibam que 
estamos preparando a invasão! 
— Palavra de honra — disse Brigitte. — Não direi uma 
palavra! 
O ruído dos reatores do UFO tornou-se mais forte, mas 
sua aceleração menos violenta. Os três anões 
esquadrinharam o exterior, através de uma janelinha da 
astronave. Brigitte teve a impressão de que estavam 
perdendo altura. Pouco depois, o aparelho estremeceu e 
imobilizou-se. 
— Você fica aqui — decidiu o anão mais alto. — E dê 
graças a Deus por estar viva! Não somos russos, somos 
venusianos! 
Brigitte encostou-se languidamente à parede de aço. 
— Quando nos encontraremos novamente? — perguntou 
com voz quebrada. 
Os três monstrengos encararam-se, espantados. 
— Uê! Você gostou? 
— Muito! Vocês são de uma adorável brutalidade! 
— Nunca mais — lamentou-se o anão mais alto. — 
Nunca mais poderemos nos encontrar! Nossa missão 
termina esta noite! 
— Depressa! — gritou o outro dos homúnculos. — Vem 
vindo gente! 
Num minuto, eles empurraram Brigitte para fora da 
câmara de comando, e do UFO, atirando-a do alto da 
escotilha. A garota escorregou pela escada e caiu num 
relvado deserto. Imediatamente o UFO roncou e voltou a 
levantar vôo, como um foguete, desaparecendo no alto do 
céu. 
A noite estava fresca e enluarada. Tiritando de frio, a 
linda repórter pôs-se de pé, agarrada à máquina fotográfica, 
e olhou ao redor. Teve a agradável surpresa de reconhecer a 
colina em que os anões a tinham deixado. Estava numa das 
vertentes do Monte Palomar. 
 
CAPÍTULO SEXTO 
A base dos UFOS 
 
A edição especial do “Morning News”, no dia seguinte, 
publicava em sua primeira página as seguintes manchetes: 
“EU VIAJEI NUM DISCO-VOADOR” - por Brigitte 
Montfort 
O pião que desceu em El Centro — Não há motivos 
para pânico — Os anões verdes pertencem a este mundo — 
Quem está querendo intrigar a América? — Novas e 
sensacionais revelações em torno dos discos. 
 
A reportagem era ilustrada por várias fotos do pião-
voador, seu painel de instrumentos e um retrato de Brigitte, 
de sutiã e calcinhas, rasgadas, sorrindo diante do 
Observatório Hale, no Monte Palomar. Depois de sua 
extraordinária aventura a bordo do UFO, ela fora socorrida 
pelos guardas do observatório, a quem contara a sua desdita. 
O dia ainda não tinha nascido e ela já estava acordando 
Mike Grogan, em Nova Iorque, pelo telefone interestadual. 
— Alô, chefe! Desculpe a hora. Acabei de dar uma volta 
num disco-voador. 
— Você está bêbada — gritou o gordo diretor do 
“Morning News”. — Foi para isso que me acordou? 
— Que esta achando da minha série? 
— Uma porcaria! — esbravejou Miky. — Não sei como 
é que os leitores gostam! Você nunca diz nada positivo! 
— Desta vez, estou dizendo — retrucou Brigitte, dando 
uma risada. — Tome nota do novo capitulo. As fotos 
seguem pelo malote da TWA. Veja se ainda dá tempo para 
sair na edição das dez. Conte tudo, menos que a sua 
representante foi vítima da tara dos três anões verdes... 
— E você foi? — perguntou ele, preocupado. 
— Da cabeça aos pés. Mas não me queixo. São os ossos 
do ofício. 
E narrou-lhe todos os acontecimentos daquela noite 
surpreendente. Mesmo depois que já tinha acabado de falar, 
e desligado o aparelho, Miky Grogan continuava de boca 
aberta. 
As onze horas da manhã, a extensão telefônica do 
pequeno quarto do porão, no Airport Hotel, retiniu. Brigitte 
acordou, espreguiçou-se e atendeu com inflexão de gata 
amorosa: 
— Alô? 
Era a voz inconfundível, fria e metálica, do inspetor 
Pitzer: 
— Miss Montfort? Afinal fala Carrington, do aeroporto. 
A senhorita esqueceu-se de assinar as guias, quando 
remeteu sua reportagem para Nova Iorque. Poderia vir aqui 
imediatamente? Há um táxi verde à sua espera, no 
estacionamento do hotel. 
Quinze minutos depois, ela vestiu um elegante costume 
bege e desceu ao parque de estacionamento, entrando num 
táxi verde que esperava entre as árvores. O carro partiu, 
enquanto o inspetor Pitzer, no banco traseiro, 
cumprimentava a bela repórter. 
— Acabei de ter notícias de sua nova reportagem, 
Brigitte. É verdade tudo aquilo que você transmitiu ao 
“Morning News”? 
— Verdade, inspetor. Eu não lhe disse que tinha um 
plano? Minhas deduções foram confirmadas. Mas o 
sargento Kildkind me ajudou bastante. 
— E você entrou num dos discos? 
— Viajei cerca de cem quilômetros dentro dele! Desde 
El Centro até o Monte Palomar, de volta a Los Angeles. 
Interessante, não acha? 
— Acho que você foi imprudente, menina! Por que não 
pediu a nossa cooperação? 
— Já paguei pela minha imprudência. Os três anões 
verdes fizeram horrores comigo! Mas já me encontro em 
forma, outra vez... 
— Quem são esses anões? — perguntou, com voz seca. 
— O senhor já sabe que um deles pertenceu ao Circo de 
Moscou. Os outros também devem ser exímios artistas... 
Não usam nenhum uniforme verde; apenas pintam a pele 
com uma camada de verniz, áspero e rugoso. Mas os 
monstrinhos são seres humanos, como eu ou o senhor. 
— Russos? 
— Eles querem que acreditemos nisso. Mas agora, tenho 
a certeza de que não são soviéticos. Ainda não percebi qual 
é o intuito deles, mas querem se fazer passar por invasores, 
a soldo do Kremlin. 
— Sim, é o que o FBI também acha. E é o que aqueles 
dois falecidos agentes soviéticos achavam. Por que você 
pensa que eles não são russos? 
— Porque falaram em russo, para me despistar. Eles só 
me levaram a passeio para que eu documentasse a origem 
soviética do disco. 
— Então, devem sercomunistas da RDA. De qualquer 
maneira, são inimigos. Você acha que eles fotografaram as 
nossas bases secretas? 
— Não. O aparelho me pareceu inofensivo. Suas únicas 
armas são o lança-chamar e pistolas russas de pequeno 
calibre. Markarov, penso eu. O pior é que esta foi a última 
incursão dos UFOS. Os anões disseram que sua missão 
estava cumprida. Tenho que agarrá-los ainda esta noite, ou 
será tarde demais. 
— Você enlouqueceu? Agarra-los aonde? 
— Eu sei onde fica a base dos UFOS. Ou, pelo menos, 
sai onde devo procura-la. 
O homem do FBI arregalou os olhos. 
— Você está maluca! Não permitirei que continue a 
trabalhar sozinha neste caso! Diga-me quais são as suas 
suspeitam e deixe-me agarrar os anões. 
— Lamento, inspetor, fui bem clara, quando aceitei a 
proposta do FBI. Gosto de trabalhar sozinha, sem essas 
demonstrações de força que só servem para assustar os 
“pássaros”. Depois que eu destruir a base dos UFOS, o FBI 
entrará em campo, para fazer o serviço de limpeza. 
— Você, ao menos está armada? 
— Não sei usar armas de fogo. Se soubesse, teria 
liquidado aquele pistoleiro misterioso que me agrediu na 
suíte 32. 
O inspetor tamborilava com os dedos no encosto do 
assento dianteiro 
— Você precisa ir comigo a Washington, para 
oficializarmos a sua entrada para o FBI. E para tirar um 
curso de agente federal. 
— Depois — disse Brigitte, com um sorriso meigo. — 
Depois que eu destruir a base dos UF0S. 
O inspetor Pitzer deixou-a, de volta, próximo do Airport 
Hotel, e seguiu no táxi verde. Ao se despedirem, Brigitte 
prometeu que o avisaria, logo que localizasse a base dos 
UFOS. 
Quando entrou no seu quartinho, ao lado da lavanderia, 
já encontrou o sargento Kildkind lá dentro. 
— Desculpe — disse ele, com um sorriso velhaco. — 
Também tenho a chave de seu quarto... 
— Não — respondeu Brigitte irritada. — Você tem uma 
gazua, que abre todos os quartos do hotel! 
Ele lambeu os beiços grossos e úmidos. 
— Você não deve me tratar assim, filhinha. Sou seu 
aliado! E ajudei-a a encontrar o disco. Acabei de ler tudo no 
“Morning News”. Esses anões não foram muito gentis, 
hem? Se eu estivem lá, eles não ousariam tocar nos seus 
cabelos! 
— Não foi só nos meus cabelos que eles tocaram. Mas 
guerra é guerra. Agora, estou preparada para agarrá-los, na 
sua base secreta. 
— Não brinca! — exclamou o gordo. — Você sabe onde 
fica à base? 
— Pouco mais ou menos. Sei que não fica longe de Los 
Angeles. 
— Interessante — ruminou o sargento, pensativamente. 
— Mas você não pode andar através de Los Angeles, 
perguntando onde fica a base dos UFOS. Eu lhe darei 
algumas pistas. 
— Terei prazer em ouvi-lo — disse Brigitte, com ar 
malicioso. 
— No coração de Los Angeles, temos alguns lugares 
onde passariam despercebidos os lançamentos dos UFOS. 
Na Aerospace Corporation e no Sistema Espacial da Força 
Aérea, por exemplo. Nos Laboratórios da Jet Propulsion, 
nas montanhas de San Rafael, ou nos Laboratórios da TRW, 
perto de Torrance Na General Aerojet ou na North 
American, onde estão as cápsulas Apoio... 
— Nada disso — contrapôs Brigitte, espreguiçando-se. 
— Na minha opinião, os UFOS estão escondidos justamente 
num lugar onde menos sé espera encontrá-los. Mas, se você 
me der licença, sargento agora vou dormir um pouco. Tive 
uma noite muito agitada. 
O gordo olhou para a cama desfeita, lambeu os beiços e 
anuiu, a contragosto. Depois, estendeu o mapa em cima da 
mesa e pôs-se a fazer cálculos, com uma régua milimetrada. 
Mediu a distância entre o centro de Los Ângeles e o ponto 
da costa onde aparecera o primeiro UFO. Depois, mediu a 
distância entre Beverly Hills e Fresno, entre Bervely e os 
Montes Whitney. Depois, a distância entre Beverly e Las 
Vegas. Depois, a distância entre Beverly e a casa da Srta. 
Meadows, na estrada de Bartow. Por fim, à distância entre 
Beverly e El Centro. Não havia equivalência entre as 
distâncias. Para obter uma medida comum a todas as 
aparições dos discos, era preciso deslocar o ponto de partida 
mais para leste. Ele assim fez e, passando por Burbank e 
Glendale, chegou a Pasadena. Ali, sim, a distância era igual. 
300 quilômetros para todos os cinco pontos onde tinham 
descido os UFOS! Brigitte chegou à conclusão de que os 
discos deviam ter apenas 600 quilômetros de autonomia de 
vôo, o que situava a sua base nas proximidades de 
Pasadena. Por outro lado, todas as aparições tinham se dado 
dez minutos depois da meia-noite. Como era de se supor 
que os discos decolassem de sua base a uma hora 
determinada (meia-noite), também se podia avaliar a sua 
velocidade em 1.800 quilômetros por hora. 
Já era bastante, mas ainda não era tudo. Brigitte apanhou 
o catálogo telefônico de Los Angeles e procurou todos os 
laboratórios e oficinas metalúrgicas de Pasadena. Telefonou 
para eles, um por um. Teve informações da existência de 
uma oficina de automóveis DKW fundada poucos meses 
antes. Era muito estranho: a oficina pertencia a um certo 
John Smith e fora aberta num galpão de uma chácara, nos 
arredores de Pasadena, à sombra das montanhas de San 
Rafael. Do lado oposto das montanhas, ficava o Laboratório 
de Propulsão a Jato do Instituto Tecnológico da Califórnia. 
Depois do jantar, Brigitte escreveu um bilhetinho 
dirigido ao inspetor Pitzer, dando o endereço da oficina de 
automóveis, fechou-o num envelope lacrado e foi entregá-lo 
ao sargento Kildkind. 
— Que é isto? — perguntou o gordo, preocupado. 
— Não seja curioso, sargento. Vou confiar em você. 
Esse bilhete só deve ser entregue ao destinatário no caso de 
eu não voltar até às oito horas da manhã. Nesse caso, você 
deve procurar o FBI e entregar o bilhete. Mas não fale com 
os federais antes das oito da manhã! Certo? 
— Ya, já entendi. Você vai se meter noutra encrenca! 
Mas eu também confio em você. Nós dois, juntos, iremos 
longe, garota! 
Brigitte escapou de suas mãos gordas e voltou para o 
quarto do porão. Então, vestiu um costume leve, apanhou a 
máquina fotográfica e pôs-se a caminho de Pasadena. 
Atravessaram Glendale, passaram em frente ao Rose 
Bowl e seguiram em frente, já pela rodovia de Pasadena. O 
inverno era rigoroso, mas não caía neve. Contudo, todas as 
ruas estavam desertas. 
— Isto não é um passeio — resmungou o chofer. — um 
cruzeiro de boa vizinhança! 
Mas o seu taxímetro funcionava bem e ele não achava 
desagradável o lucro... Principalmente porque a freguesa 
combinara voltar no mesmo carro. 
Saíram de Pasadena pelo norte e enfrentaram uma 
estrada deserta, que ia dar nas montanhas. A meio do 
caminho, Brigitte mandou parar. O chofer tirou o carro da 
estrada e estacionou-o numa área coberta de relva. Pouco 
além, via-se uma cerca de arame farpado e uma porteira 
com uma tabuleta: 
“OFICINA MECÂNICA — Especializada em DKW”. 
Eram onze horas da noite e não havia vivalma debaixo 
do luar. Um ventinho frio descia do norte. Não era muito 
agradável esperar ali. 
— Tome — disse Brigitte, dando-lhe uma nota de dez 
dólares. — Depois, você me dará o troco. Se eu não 
aparecer até à uma hora, pode voltar para a cidade, é sinal 
de que eu morri. 
E saltou do varro, com a máquina fotográfica a tiracolo, 
caminhando rapidamente para a porteira da chácara. Tudo 
estava deserto e silencioso. A porteira não tinha fechadura, 
mas apenas uma trunca de madeira. Passou para o outro 
lado, perscrutando a escuridão, e encostou a porteira. 
A linda jornalista hesitou, olhando para a residência da 
chácara e para o enorme galpão de zinco, que se erguia ao 
lado do prédio branco e quadrado. Todas as luzes estavam 
apagadas. Brigitte afastou-se prudentemente do meio do 
caminho e aproximou-se do galpão, andando por trás dos 
arbustos que marginavam a estrada de macadame. 
A porta do galpão estava apenas encostada. Isso não era 
muito natural. Desconfiada, a morena recuou para as 
sombras das árvores e ergueu a máquina fotográfica, 
observando,pelo visor. Era uma câmara especial, de lentes 
ML, capazes de varar a mais densa escuridão. Olhando 
através do visor infravermelho, ela pôde distinguir, no 
interior negro no galpão, algumas carcaças de metal. 
Pedaços das carroçarias de vários automóveis DKW. 
Carrinhos obsoletos, fora do mercado, Mas, até ai, não 
havia nada de suspeito. 
Súbito, alguma coisa se moveu no interior do galpão, por 
trás das chapas de metal. Vultos negros de homens, andando 
cautelosamente de um lado para o outro! Brigitte recuou, 
pé-ante-pé, virou-se e preparou-se para correr. Tinha 
percebido tudo: ela estava indo ao encontro da morte! 
Mas, nesse momento, as árvores que marginavam o 
caminho como que criaram vida; de trás de cada tronco saiu 
um homem armado, cortando-lhe a retirada! Dez homens 
empunhando sub-metralhadoras Sten! 
— Ach! — gritou um deles. — Você foi apanhada, 
minha cara! Deixe cair a sua máquina e levante as mãos! 
Gehen Sie Schnell! 
Brigitte obedeceu. Um dos homens adiantou-se e 
apanhou a câmara. Outro sujeito agarrou-a pelo braço e 
apalpou-a para ver se ela não estava armada. A moça 
verificou, com espanto, que todos os seus captores usavam 
uma espécie de uniforme pardo, com uma braçadeira preta, 
onde se via um circulo branco e uma cruz suástica 
desenhada a tinta vermelha. 
— Acompanhe-me — ordenou um dos homens, alto e 
louro, que parecia ser o chefe do grupo. 
— Estávamos à sua espera. Você é muito esperta, miss 
Montfort, mas ainda não nasceu o agente do FBI capaz de 
derrotar Herr Führer! 
Abalada pelo que acabara de descobrir, Brigitte deixou-
se levar, na direção da casa grande da chácara. Agora, todas 
as luzes do prédio estavam acesas e havia alguns homens 
curiosos nas janelas da sala. Todos fardados de nazistas. 
— Desculpe a minha ignorância — disse a linda 
repórter, dirigindo-se ao homem alto e louro. — Interrompi 
alguma convenção do Partido Nazista Americano? 
— Quase isso — rosnou o gigante, gelando-a com seu 
olhar perverso. — Você nos causou um grande 
aborrecimento, descobrindo a base dos UFOS! Já estávamos 
desmontando es instalações, mas você quase nos 
prejudicava! Felizmente, fomos avisados a tempo e 
pudemos agarrá-la, antes que você se comunicasse com seu 
chefe! 
— Não tenho chefe. Trabalho por conta própria para o 
“Morning News”. 
— Isso é o que você diz! Mas sabemos que você é uma 
nova agente do FBI. contratada pelo inspetor Pitzer! 
— Então, vocês sabem? 
— Já! Sabemos de tudo! Sempre sabemos de tudo! 
Nossa organização conta com o apoio do Partido! E temos 
simpatizantes em tom parte! Talvez o próprio inspetor 
Pitzer seja um dos nossos. 
— Duvido — disse Brigitte, enojada. — O inspetor 
Pitzer é um americano leal! E vocês não passam de 
traidores da democracia! 
Nesse momento, chegaram à entrada da casa e o louro 
empurrou-a para dentro. Havia uma grande mesa na sala, ao 
redor da qual se aglomeravam quatro ou cinco homens de 
meia-idade, também fardados de pardo. Brigitte fez alguns 
cálculos rápidos e concluiu que devia haver mais de vinte 
nazistas na chácara. Não era uma quadrilha, era um 
verdadeiro batalhão! 
— Sente-se, miss Montfort — convidou uma voz mole. 
— Queremos interrogá-la, antes de entregá-la aos seus 
carcereiros. Suponho que saiba que a senhorita não sairá 
viva daqui. 
A linda jovem encarou o sujeito que olhava para ela, 
com ar malicioso, na cabeceira da mesa. Era um alemão 
barrigudo, careca, com olhos de cobra. 
— Herr Fuhrer? — perguntou Brigitte, tentando 
controlar o tremor da voz. 
— Nem! — O careca indicou uma cadeira, onde ela se 
deixou cair. — Herr Führer não está na América. Sou o 
gasdeiter Heinrich Brunsk, líder do Partido Nacional-
Socialista na Califórnia. Sua vida está nas minhas mãos, 
miss Montfort. E agrade-me constatar que você é muito 
parecida com — falecida mão... Eu também conheci Giselle 
Montfort, em Paris, naqueles tempos agradáveis. 
Brigitte estremeceu. 
— Quero apenas uma entrevista — murmurou 
impressionada. — Não conheci minha mãe e não sei do que 
o senhor está falando! Pessoalmente, não sou contrária à 
existência do partido nazista nos Estados Unidos. Estamos 
numa democracia. Resta saber se vocês terão muitos votos, 
nas próximas eleições. 
— Você é atrevida — disse o gasdeiter, sempre 
sorrindo. — Mas nós lhe quebraremos o moral. Você só nos 
foi útil enquanto publicava suas reportagens no “Morning 
News”, atribuindo aos russos a fabricação dos discos-
voadores. Era esse o nosso objetivo: intrigar os Estados 
Unidos com a Rússia e provocar a guerra atômica. Mas, 
agora, você foi longe demais e acabou de descobrir a 
verdadeira origem dos UFOS. Se você revelasse o que sabe, 
poderia nos prejudicar e fazer abortar os nossos planos. Não 
vamos deixar que você fale, Brigitte Montfort! E 
provaremos suas ligações com o FBI. se você não as 
confessar por bem! Então? Confessa? 
— Não sei do que está falando, Herr Brunk. Não tenho 
ligação alguma com o FBI. Os senhores devem ter sido mal 
informados. 
Inesperadamente, o louro alto e forte deu-lhe uma 
bofetada. O golpe foi tão violento que ela caiu da cadeira. 
— Coitadinha! — exclamou o careca, estalando a 
língua. — Não seja tão rude, mein Hauptscharhührer! Miss 
Montfort ainda não disse que não vai falar. Ela falará! Não 
é verdade, Brigitte? 
A filha de Giselle pôs-se de pé, esfregando o rosto 
contundido. As marcas dos dedos do gigante louro eram 
bem visíveis na sua pele delicada. 
— Que é que vocês querem saber? O pesadelo não 
acabou? Vamos voltar ao passado? 
— Queremos saber tudo — disse o gauleiter, com voz 
macia. — Até que ponto você penetrou nos nossos 
segredos? Preveniu alguém de que viria aqui? Preparou 
alguma noticia extraordinária para o seu jornal? 
— Sim — mentiu a moça, voltando a sentar-se. — 
Escrevi uma reportagem completa, sobre a atividade dos 
neonazistas na América, e ela será entregue na redação do 
“Morning News” se eu não voltar ao Airport Hotel! O FBI 
está na pista de vocês! 
— Logo, você pertence aos federais... 
— Eu não disse isso. 
— Não precisa dizer. Você e o inspetor Pitzer se 
entendem muito bem... Mas sabemos que você não escreveu 
nenhuma reportagem, nem se comunicou com ninguém! 
Você vai simplesmente encerrar a sua carreira de brilhante 
repórter! O chofer que a trouxe até aqui acaba de ser 
apanhado e também não falará. Aliás, ele já não está mais 
em condições de falar... E você vai desaparecer da face da 
Terra, depois de um novo interrogatório que lhe fará o 
sargento Westmore! — O careca sorriu para o louro 
gigantesco. — Pode levá-la, mein Hauptscharhührer. Ela é 
inteiramente sua. 
E todos os nazistas começaram a dar risadas escarninhas. 
“Foi ele — pensou Brigitte. — Foi aquele porco!” 
Nisso, ouviu-se um apito, na sala, e todos os homens 
deixaram de rir. O careca caminhou até uma mesinha 
afastada, sobre a qual se via um receptor de rádio de 100 
kilowatts. Brigitte assistia a tudo com os olhos azuis 
arregalados. O gauleiter ligou uma chaveta do aparelho e 
uma voz ciciosa saiu do pequeno auto-falante: 
— Alô, alô! Filial número um falando para a Loja 
Matriz! Dê-me notícias de nossa representante comercial! 
Câmbio. 
O careca inverteu a onda e inclinou-se para o microfone, 
dizendo com voz clara e pausada: 
— Loja Matriz falando para a Filial no. 1! A mercadoria 
chegou bem e já foi armazenada! Bom trabalho, 
companheiro! Não precisamos de mais parafusos! 
E desligou o rádio-transmissor. Mas a voz ciciosa 
parecia ainda soar aos ouvidos de Brigitte. 
Agora, ela tinha a certeza. Aquela voz pertencia ao 
sargento Kildkind! 
 
 
 
CAPÍTULO SÉTIMO 
Ainda restava uma bala 
 
O sargento Westmore encarou-a, com seus olhos 
perversos, e indicou a porta da sala. 
— Venha, fraulein! Você deve estar ansiosa por 
conhecer o interior da base. Terei muito prazer em lhe 
mostrar todas as dependências, para que você renda 
homenagensao engenho e à disciplina germânica. Nós 
conseguimos criar, nesta terra de bárbaros, um pedaço do 
velho e doce Reichstag! 
Era uma brincadeira de cão e gato. Eles queriam se 
divertir com o seu assombro, antes de fuzilá-la. Sob 
hipótese alguma a deixariam viva, depois de tê-la 
capturado. Humildemente, Brigitte acompanhou o alto e 
louro sargento, deixando os oficiais do Estado-Maior 
nazista dando risadas na sala. Atrás do louro e da morena 
seguiram dois outros “camisas pardas”. empunhando 
submetralhadoras Sten. 
— Não usamos sempre este uniforme — informou o 
sargento. — Mas esta é uma noite especial... Você não pode 
negar que foi recebida com todas as honras... E teve uma 
pequena amostra de nossa organização. 
— Eu já sabia que vocês eram organizados — 
murmurou Brigitte. — Foi por isso que descobri a pista. A 
velha disciplina militar germânica. Vocês sempre soltaram 
os UFOS à meia-noite, de cinco em cinco dias, fazendo-os 
pousar exatamente a 300 quilômetros da base. Foi essa 
rotina que os denunciou. Mas devo reconhecer que vocês 
são excelentes soldados. Frios, metódicos, matemáticos. É 
uma pena que não tenham alma. 
O gigante deu uma risada. 
— Você ainda não viu nada, fraulein. Nosso gauleiter 
Heinrich Brunsk não lhe disse tudo a meu respeito. Sou o 
responsável pela nova Gestapo, na América! E, quando 
quero que alguém me diga tudo o que sabe, não descanso 
enquanto não souber tudo o que quem! Você vai me contar 
tudo, não vai? Gostaria de saber quais exatamente as suas 
relações com o inspetor Pitzer, 
— Muito amistosas, sargento. Mas não pertenço ao FBI. 
Sou uma simples jornalista Se vocês vão me matar, 
julgando que eu seja da polícia... 
— Não, não é isso — o louro voltou a sorrir friamente, 
— Não vamos matá-la, miss Montfort. Você vai, se 
suicidar. 
— Duvido. Eu sempre amei a vida. 
— Você não pensará assim, depois de submetida a um 
tratamento especializado... Mas, antes... vamos visitar o 
nosso parque aeronáutico. É possível que você mude de 
idéias a nosso respeito. Herr Führer ficaria muito feliz, se 
você mudasse de idéias. 
Entraram no galpão. Agora, todas as luzes estavam 
acesas. Uma dúzia de operários arrastava formas de lata de 
iam lado para o outro, martelando-as com entusiasmo, num 
labor destrutivo. 
— Estamos desmontando a oficina — explicou o 
sargento Westmore. — Todas as peças utilizadas no UFO, 
serão amassadas, até perderem o seu formato original. E 
tudo será vendido, depois, como ferro velho... 
— Menos o motor, suponho. 
Ele a encarou, estreitando os olhos perversos. 
— Ja. Menos o motor. Você já sabe? 
— Não. Mas suponho que haja um motor a combustível 
líquido. Assim como suponho que o UFO seja apenas um. 
As carcaças superiores variam, mas a base é sempre a 
mesma... 
— Acertou. Parabéns à usa perspicácia. Só existe um 
foguete, realmente, e cinco tipos de cabinas: pires... prato... 
charuto... caçarola... pião... Funcional e econômico, não 
acha? Você é muita esperta, fraulein! Mas a fórmula secreta 
do mecanismo que faz voar o UFO não cairá nas mãos dos 
americanos! É um invento alemão. 
— O aparelho será devolvido à Alemanha? 
— Você faz muitas perguntas! Quem lhe disse que a 
nossa sede fica na Alemanha? 
— O gauleiter Brunsk. Ele confessou que Herr Führer 
está na Alemanha. Como Hitler morreu, no porão da 
Chancelaria, suponho que o novo Führer seja Martin 
Bormann. Por isso, existe um “Fundo Bormann”, na 
Espanha, destinado a dar aos criminoso de guerra. É 
Bormann, escapou de Berlim. 
O gigante não respondeu. Via-se que começava a ficar 
arrependido de ter falado tanto. Nesse momento, chegaram 
diante de um esqueleto de aço, pousado no centro do 
galpão. Embaixo dessa armação impressionante havia dois 
tubos, semelhantes a reatores de um avião a jato. 
— Reconhece esta base? — perguntou o louro. 
— Sim. Está faltando a parte superior... que podo ser um 
prato, ou uma caçarola... mas este é o UFO, sem dúvida 
alguma. Foi fabricado aqui? 
— Evidentemente que não. Seu inventor é um ilustre 
engenheiro alemão, que trabalhou para Hitler na base de 
Peenemunde. O maquinismo que impulsiona o nosso 
foguete foi construído na Alemanha e veio, em partes, para 
a América. Peças do automóvel. 
— Compreendo. Foi montado aqui, mas a fábrica fica na 
RDA. 
O sargento riu. 
— Nem. Desta vez, você se enganou. Nossa mede fica 
na Alemanha Ocidental. Os comunistas jamais permitiram 
que o nosso partido florescesse no leste. E, muito menos, 
que fosse criada, um território controlado por Moscou, a 
“Organização Nacional da Revanche”. 
Enquanto o ouvia, Brigitte subia a escadinha, presa à 
base do disco, e dava uma espiada no painel de 
instrumentos, que coroava a obra de engenharia sem câmara 
de comando nem cabina de passageiro. Tal como esperava, 
havia um rádio-receptor e transmissor numa das faces do 
painel. O fio do microfone era bastante longo. Sem que os 
nazistas percebessem, a linda reporter ligou a chaveta; 
depois, deixou o microfone pender sobre a face do UFO. 
— Que está fazendo? — perguntou o sargento 
Westmore, subindo também a escadinha. 
Brigitte não o deixou acabar de subir; fingiu que perdia 
o equilíbrio e tombou, pesadamente, em cima do jovem 
alemão. 
— Não faça isso outra vez! — advertiu. — Uma queda é 
sempre ridícula! E você não pode fazer um soldado 
germânico parecer ridículo! 
— Perdoe-me — murmurou a garota, fitando-o com seus 
inocentes olhos azuis. — Mas um soldado germânico 
também é um cavalheiro... Ninguém leva tombos de 
propósito. 
E encostou-se languidamente à fuselagem do UFO, por 
baixo do microfone. 
— Está satisfeita com o que viu? — tornou o nazista, 
com voz dura. — Então, chegou o momento de você 
também ser gentil e me contar alguns segredos do FBI! Por 
exemplo: até que ponto o inspetor Pitzer conhece o mistério 
dos discos? Ele duvida que sejam artefatos soviéticos, 
preparando a invasão dos Estados Unidos? 
Brigitte suspirou. 
— Não partilho dos segredos do FBI, sargento. Acredite. 
O inspetor Pitzer queria que. eu entrasse para o serviço 
secreto, mas não sou outra coisa senão repórter. Seu 
contato, no Airport Hotel, devia ter lhe dito isso. 
— Não temos nenhum contato no Airport Hotel. 
— Tem, sim. Reconheci a voz do sargento Kildkind, 
pelo rádio. Que ele pertencia ao Partido Nazista Americano, 
eu já sabia, mas ainda tinha dúvidas sobre as suas ligações 
com os criadores dos UFOS. Agora, tudo ficou mais claro. 
O sargento Kildkind leu um bilhete que eu deixei com ele e 
radiografou uma mensagem para esta chácara, prevenindo 
vocês de minha vinda! Foi assim que eu caí na cilada. 
Agora, está tudo mais claro! 
— E você vai morrer mais feliz... 
— Sim, vou morrer mais feliz! — Brigitte ergueu a voz. 
— Desmascarei o sargento Karl Kildkind, detetive do 
Airport Hotel, ligando-o a esta chácara, onde há uma oficina 
de automóveis, ao norte de Pasadena! 
Por cima de sua cabeça, o sensível microfone do UFO 
captava todas as suas palavras. Mas os nazistas ainda não 
tinham percebido nada. 
— O sargento Kildkind — disse o louro, sorrindo — foi 
muito esperto. Graças a ele, nós nos livramos, de dois 
agentes soviéticos, enviados pelo Kremlin para nos 
neutralizar. 
Brigitte acenou. 
— Eu supunha que aquele gordo fosse o pistoleiro 
misterioso do Airport Hotel, mas não tinha provas. Por isso, 
fiquei de olho nele, mas não o denunciei à polícia. Só ele, 
como detetive do hotel, possuía as chaves da suíte 32. Foi 
uma pena que eu não o tivesse reconhecido, no escuro, 
quando ele voltou para matar Ygurin Nashimov e também 
tentou me matar. 
O louro deu outra risada. 
— Mas, depois, ele recebeu ordens para poupá-la, pois 
Herr Führer queria que nós a usássemos como nossa agente 
de propaganda... 
— Herr Führer? — estranhou Brigitte. — Na 
Alemanha? 
— Ja. Ele está permanentemente em contato conosco, 
pelo rádio. Embora não saia de sua luxuosa vivenda,Herr 
Führer dirige a organização em todo o mundo. É ao nosso 
líder que você deve o fato de ainda estar viva. Mas, agora, 
as circunstâncias são outras... e você vai morrer! 
— Engraçado. Vocês tanto falam em me matar que eu 
estou começando a ficar desconfiada de que tudo isso seja 
um blefe... Se vocês pretendessem me matar, mesmo, já o 
teriam feito. 
O louro olhou para ela de esguelha. Depois: 
— Mas algum de vocês não quer que eu morra. Por isso, 
você fala muito, mas nunca concretiza as suas ameaças. 
Quer apenas me assustar, julgando que talvez consiga fazer 
de mim uma aliada à causa do Partido Nazista. 
Uma pausa. O sargento Westmore baixou a voz: 
— Você parece que adivinha as coisas! Ja, Brigitte 
Montfort Bierrenbach! Foi Herr Führer quem deu ordens 
para poupá-la. Você tem sangue alemão nas veias. Você é 
ariana! E Herr Führer acha que você talvez possa ser 
convencida a aderir à nobre causa do Reichstag! 
— Esse seu Führer é maluco, sargento. Atirando os 
Estados Unidos contra a Rússia, ele nunca conseguirá 
ressuscitar o nazismo! E eu jamais seria cúmplice de um 
bando de fanáticos! Eu jamais trairia a minha pátria de 
adoção! Sou filha de um oficial nazista, é verdade, mas 
minha mãe é Giselle Montfort, heroína e mártir da 
Resistência! E, por mais que vocês falem no engenho e no 
poderio militar nazista, não me convencerão da justiça de 
sua política nefasta e anti-humana. Não perca tempo, 
sargento. Se vocês criaram os UFOS para provocar uma 
guerra atômica e tirar partido da confusão, estão malucos! 
Eu os odeio, nazistas! 
— Quem sabe, Brigitte? — rosnou o gigante. — Você 
ainda não conhece a identidade de Herr Führer. Quando a 
conhecer, terá uma grande surpresa: Ele continua vivo, na 
nossa querida pátria, e tem esperanças de tomar você uma 
boa cidadã nazista. Se você ainda está viva, deve isso ao 
nosso amado Führer e aos seus magnânimos sentimentos. 
Lembre-se de que nas suas veias corre o sangue de Fritz 
Bierrenbach! 
— Não conheci meu pai e ele nada representa para mim! 
Sou cidadã americana e darei a minha vida pela 
democracia! 
— Essa é a sua última palavra? 
— Sim, é a minha última palavra. E agora? 
— Agora — disse o louro, reprimindo a indignação — 
você vai morrer! Não devemos mais respeito ao pedido de 
demência de Herr Führer! 
Dessa vez, a ameaça era séria. Brigitte viu o gigante 
levar a mão ao coldre do cinturão e empunhar a pistola. Era 
uma Luger de 9 tiros. 
— Vai me fuzilar, sargento? Na frente desses operários? 
— Aqui é um lugar tão bom quanto outro qualquer! E 
seu corpo será levado para a Alemanha, amortalhado no 
reator do UFO! Herr Führer gostará de ver o corpo de sua 
querida Brigitte Montfort! 
Mas, ao erguer a pistola, ele também ergueu os olhos — 
e viu o microfone pendurado, por cima de suas cabeças. Um 
ronco animalesco brotou de sue garganta: 
— Einen Augenblick! Was ist das? 
(Um momento! O que é isto?) 
Todos os operários da oficina se aproximaram, 
alarmados. Brigitte aproveitou a confusão para mergulhar 
por baixo do UFO. Ouviram-se tiros de Luger e as balas 
crepitaram no cimento, perto da bela repórter. Ela rodopiou 
pelo chão e saiu do lado oposto do esqueleto de aço, 
correndo para o fundo do hangar. Montes de cargas de 
metal a separavam de seus perseguidores. Outros tiros 
soaram, fazendo vibrar as paredes de zinco do galpão. 
Brigitte viu uma porta na sua frente e abriu-a, fechando-a às 
suas costas. Estava num pequeno compartimento, 
semelhante a um camarim de teatro. E, na sua frente, viu 
três pequenas figuras humanas, elegantemente trajadas, que 
a contemplavam com assombro. 
— Alô, amigos! Onde fica a saída? 
Os três anões se moveram ao mesmo tempo. Brigitte 
abaixou-se e uma bala de Markarov foi furar a porta. 
Aproveitando a confusão, a garota mergulhou por cima do 
homúnculo mais próximo e caiu, com ele, num canto do 
vestiário. Era o mais alto dos três e o único que estava 
armado. A mão nervosa da repórter agarrou-lhe o pulso e 
obrigou-o a soltar a arma. Mas os outros dois homenzinhos 
já estavam em cima dela, agredindo-a aos socos e pontapés. 
A garota rodopiou, apanhou a Markarov e disparou para 
cima, às cegas. Um dos anões caiu, com a cabeça varada 
pela bala. Os outros hesitaram, mas logo voltaram ao 
ataque. Brigitte atirou, outra vez, e outro pequeno agressor 
tombou. O terceiro soltou um grita de pânico e fugiu. 
Quando ele abriu a porta, vinha chegando o sargento 
Westmore e os outros nazistas. Brigitte correu para, a janela 
do compartimento e atravessou-a, num mergulho de ginasta. 
Foi cair num corredor feericamente iluminado, mas deserto. 
Numa das extremidades à esquerda, ficava uma porta 
fechada e, na outra, viam-se novas carcaças de metal. A 
garota correu aos zigue-zagues, pelo meio dos esqueletos de 
metal, ouvindo tiros atrás de si. Tinha a esperança de 
alcançar o portão, antes que seus perseguidores saíssem do 
vestiário dos anões. Mas outros homens com blusões pardos 
e submetralhadoras Sten, apareceram na entrada do galpão. 
A passagem estava cortada! Brigitte olhou para todos os 
lados, desesperada, e viu a escadinha do UFO. Era o único 
recurso. Subiu na base do disco-voador e achatou-se contra 
o aço frio. Se não a tivessem visto subir, estava salva. 
Ninguém iria se lembrar de procurá-la ali em cima. Esperou 
cinco, minutos, sem se mover, enquanto soaram gritos e 
tiros lá embaixo. Aparentemente, ninguém a tinha visto 
esconder-se ali. 
Ordens enérgicas cortavam o ar, misturadas com 
palavras de baixo calão. Alguns nazistas falavam em 
alemão e outros em inglês, mas todos estavam danados da 
vida. Depois de cinco minutos, veio o silêncio. Ou quase o 
silêncio. Os “camisas pardas” mexiam em todas as carcaças 
de lata, à sua procura. E não tardariam a encontra-la. Se 
algum deles se lembrasse de subir a escadinha... 
Passaram-se mais vinte minutos... meia hora... e nada 
aconteceu. Agora, o silencio era absoluto. 
Depois, uma cabeça pequena e redonda surgiu no alto da 
escada e um par de olhos vermelhos cruzou o seu olhar com 
o dos olhos azuis da linda repórter. Era o terceiro anão, que 
escapara incólume. Ele abriu a boca para dar o alarma. 
— Se você gritar — sussurrou Brigitte, apontando-lhe a 
Morkarov — é um homem morto! Continue a subir e venha 
para aqui! 
Apavorado, o anão obedeceu. Rastejou pelo piso de 
metal e agachou-se ao lado da morena. 
— Você não pode escapar — rosnou ele. — O UFO não 
tem mais motor. Os reatores foram levados para o 
aeroporto. Eles vão matá-la! 
— Se eles me matarem, você irá comigo! 
O anão parecia o mesmo monstrengo verde e 
repugnante; embora fosse de pequena estatura, era um 
homem igual aos outros. 
— Por que luta contra os seus companheiros? — insistiu 
ele, sempre em voz baixa. — Herr Führer disse, pelo rádio, 
que você pode ser uma das nossas. Ele gostaria que você 
aderisse à nossa causa. Mas você estragou tudo! Talvez 
ainda possa se salvar. Entregue-me essa arma e... 
— Quieto! — soprou a repórter. — Vocês não me 
enganam! Vocês são fanáticos e sonham com a volta do 
terror nazista! Acredito que esse novo Führer queira fazer 
de mim uma traidora, mas não o conseguirá! Eu não 
colaboraria com Herr Führer nem que ele fosse meu 
próprio pai! 
O anão olhou para ela, apavorado, e não disse mais nada. 
Ficaram alguns minutos em silêncio; depois, Brigitte voltou 
a sussurrar: 
— Você é alemão? 
— Austríaco. 
— Foi você que trabalhou no Circo de Moscou? 
— Nem. Foi Albert. Herr Führer nos contratou para 
pilotarmos o UFO e fazermos o papel de espiões russos. 
Também somos arianos e queremos colaborar na vitória do 
Nacional-Socialismo e na destruição do Comunismo 
Internacional! Se os Estados Unidos e a União Soviética 
entrarem em guerra, será a falência da democracia! E, 
então, nós tomaremos as rédeas da política, na Europa e na 
América! O nazismo ressurgirá, mais forte, aplaudido pelospovos, desesperados com o conflito nuclear! Foi por isso 
que Herr Führer criou os UFOS... e vai provocar, a guerra, 
começando pela invasão da Tcheco-Eslováquia! Ninguém 
poderá impedir o ressurgimento glorioso do Quarto Reich! 
— O quê? — exclamou Brigitte, espantada. — Que é 
que vai haver na Theco-Eslováquia? 
Mas não houve tempo para a resposta. Outra cabeça 
surgiu ao nível do piso de aço e a voz do sargento 
Westmore soou alegremente: 
Brigitte ergueu a Markarov e disparou, ao mesmo tempo 
que ele. O anão deu um salto e rolou de cima do UFO, com 
uma bala da Luger na cabeça. E o sargento Westmore, 
atingido no coração pela bala da Markarov, não tardou a 
seguir o mesmo caminho, Brigitte rastejou pelo piso de aço 
e procurou um lugar mais confortável, de onde pudesse 
controlar melhor o alto da escadinha. Outro nazista 
apareceu no cimo do UFO, empunhando uma 
submetralhadora, mas também foi recebido com um tiro na 
cara. Depois disso, os visitantes desistiram de subir. Só 
existia uma via de acesso ao alto do UFO e eles não eram 
katmikazes... Um tiroteio cerrado soou lá embaixo e as balas 
morderam o metal, fazendo estremecer toda a armação. Mas 
nenhum tiro atingiu a valorosa repórter. 
Contudo, seu fim parecia próximo. Só lhe restava uma 
bala na pistola. E, se mais dois nazistas subissem a escada, 
ela não poderia escapar. 
— Desça daí! — gritou a voz mole do gauleiter 
Heinrich Brunsk. — Não queremos lhe fazer mal! Você é 
alemã como nós! Desça e terá um julgamento imparcial! 
Herr Führer quer conhecer você, Brigitte Montfort. 
— Também eu quero conhecê-lo respondeu a garota, 
com ferocidade. — Também, quero destruí-lo! Por que não 
lhe pede que, suba? 
— Ele não está aqui, está na Alemanha. Desça e venha 
conversar comigo. Eu não uso armas de fogo. Pode ser que 
a convença a ser nossa aliada. Você teria muito a ganhar, se 
ajudasse o Quarto Reich! Quanto lhe pagam os americano? 
Nós lhe pagaremos o dobro! Quer conversar amigavelmente 
comigo? Vou subir, Brigitte! Não estou armado e não lhe 
farei mal! Quero apenas que você ouça o que tenho para lhe 
dizer! 
— Okay! Pode subir. Mas mantenha as mãos à vista. 
Daí a pouco, a calva do gauleiter apareceu no alto da 
escadinha. O careca sorria amistosamente. Mas tinha uma 
das mãos atrás das costas. Quando Brigitte percebeu isso, 
ele já lhe apontava a sua Luger. Ela não teve tempo de 
erguer a Markarov. 
— Ausgezeichnel, fraulein! — rosnou o careca. — 
Parece que eu a apanhei! Você nos causou muitas 
dificuldades e, agora, nem mesmo Herr Führer será capaz 
de evitar... 
Foi interrompido por uma tremenda fuzilaria, que vinha 
de fora do galpão. Tiros e gritos de dor. Ordens nervosas, 
em inglês e alemão. Correrias, e mais tiros. Uma 
metralhadora crepitava, em alguma parte, enchendo de 
chumbo as paredes de zinco do galpão. O gauleiter e 
Brigitte ficaram imóveis, petrificados, olhando 
estupidamente um para o outro. Depois, quando o alemão 
voltou a erguer a Luger, encontrou a Markarov na sua 
frente. Os dois tiros foram simultâneos. Brigitte sentiu a 
bala da Luger assobiar ao seu ouvido. E o seu adversário 
rodopiou e rolou de cima do UFO, estatelando-se no chão 
de cimento. 
— Não foi você — gritou uma voz alegre, na entrada do 
galpão. — Parece que cheguei na Hora H! Já liquidamos 
metade dos patifes e estamos prendendo o resto! Agora, 
você pode saltar daí! 
Brigitte desceu pela escadinha, mal controlando o tremor 
das pernas, e caiu nos braços do inspetor Pitzer. 
— Vocês... ouviram... o rádio? 
O detetive acenou, com o fuzil-metralhadora que tinha 
nas mãos. 
— Claro! Já tínhamos esta chácara sob vigilância, 
devido às transmissões de uma emissora de rádio-amador. 
Pareciam mensagens comerciais, mas estavam fora da lei. 
Nosso serviço de escuta ouviu tudo e eu fui avisado. Foi só 
o tempo de reunir a turma e cercar a propriedade... Creio 
que pegamos todos esses malditos neonazistas! 
— Não — respondeu Brigitte, meneando a cabeça. — 
Ainda falta o mentor intelectual, Herr Führer, que não está 
na América... e prepara a guerra na Tcheco-Eslováquia! 
Súbito, ela se incorporou, os olhos azuis muito abertos, 
fez menção de sair correndo. 
— Ei! — gritou o homem do FBI. — Onde é que você 
vai? 
— Ao Airpor Hotel — gritou ela, sem se deter. 
— Ainda tenho uma bala na agulha! 
E desapareceu pela porta do galpão. Mas estava 
enganada. Sua Markarov já não lhe servia para nada. 
 
Continua...

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