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005 - BRIGITTE MONTFORT - O MISTÉRIO DOS DISCOS VOADORES - PARTE 01 - 005

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Uma série de objetos voadores não identificados 
começa a aparecer nos céus da Califórnia. Surge em 
cena, então, uma deliciosa jornalista em princípio de 
carreira. E as coisas começam a acontecer...
 
 
 
© 1965 – J F KRAKBERB 
José Alberto Gueiros 
Título original: SANGRE DE PERIODISTA 
Digitalização: JVS 400923/400925 
Publicado no Brasil pela Editora Monterrey 
 
ANTES DE COMEÇAR 
 
 
 
A filha de Giselle, BRIGITTE MONTFORT, existe, em 
alguma parte do mundo, atuando sob outros nomes, em 
circunstâncias análogas às que são narradas agora neste 
livro. Sua verdadeira identidade, no entanto, deixa de ser 
esclarecida, por motivos bem plausíveis do Serviço Secreto. 
Nas últimas páginas das memórias de GISELLE, A 
ESPIA NUA QUE ABALOU PARIS, fica bem claro que a 
famosa heroína da Resistência Francesa, pouco antes de 
morrer fuzilada na prisão de Cherche Midi, na manhã de 
15 de março de 1944, confessou à sua companheira de 
cárcere, Gabrièle Ladème, haver dado à luz uma filha, nas 
vésperas da Segunda Guerra Mundial. O pai da criança — 
explicou Giselle — fora um alemão que a abandonara 
grávida, mas lhe raptara a menina logo ao nascer. 
A famosa espiã morreu sem conhecer a própria filha, 
sem sequer saber do seu nome ou do seu paradeiro. 
Vinte anos depois, esta incógnita é revelada. A filha de 
Giselle surge nos Estados Unidos, bonita, elegante, 
corajosa e... Bem, é melhor começar a ler a história. 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO PRIMEIRO 
Uma jornalista espetacular 
 
A moça morena aparentava vinte e cinco anos de idade e 
era verdadeiramente espetacular. Seu corpo, vestido num 
elegante costume de tweed, mostrava as formas, 
cientificamente equilibradas, de um modelo parisiense. 
Tinha os seios altos e agressivos, a cintura fina e 
arredondada, as ancas largas e suavemente desenhadas 
sobre as coxas grossas e roliças. E suas perna, longas e bem 
torneadas, eram um poema de simetria. 
— Por obséquio — disse ela, numa voz melodiosa e 
aveludada. — O senhor pode me informar se neste hotel lê-
se muito o “Morning News”? 
O recepcionista do Airport Hotel permanecia de boca e 
olhos muito abertos, fascinado pela beleza da jovem. Afinal, 
pestanejou e conseguiu gaguejar: 
— Perdão, miss. Que foi que a senhorita perguntou? 
Estavam no hall do famoso estabelecimento de Los 
Ângeles, que ficava entre o Aeroporto Internacional e a 
Universidade de Loyola. A garota sorriu e repetiu a 
pergunta. Ele respondeu com outra interrogação: 
— Poderia me fornecer sua identidade, miss? 
— Com todo o prazer. Chamo-me Brigitte Montfort e 
sou repórter do “Morning News”, de Nova Iorque. Estamos 
fazendo uma estatística de interesse para o nosso jornal. 
— Perfeitamente, miss Montfort. A senhorita quer 
saber?... Sim, claro. Nosso hotel mantém assinaturas do seu 
jornal. Recebemos diariamente, duzentos exemplares do 
“Morning News”, que são distribuídos entre nossos 
hóspedes. É uma oferta da casa, todas as manhãs. 
— Era o que eu esperava — disse Brigitte, acentuando 
seu sorriso divino. — Agora, já que o senhor foi tão gentil, 
poderá me informar também, quem é o hóspede do quarto 
número 32? 
O rapaz da recepção endureceu o rosto. 
— Lamento, miss, mas não damos esse tipo de 
informação. Se se trata de algo... especial, a senhorita terá 
que se dirigir ao detetive do hotel. Nossos hóspedes não 
gostam de ser incomodados. Quer que chame o sargento 
Kildkind? 
— Obrigada — retrucou a morena, girando nos 
calcanhares. — Voltarei dentro de alguns minutos, para 
falar com o sargento. 
Havia poucos hóspedes sentados no living, mas todos 
estavam olhando para a anatomia da jovem. Ela atravessou 
o hall, batendo castanholas com os saltos dos sapatos, e saiu 
pela porta giratória. Havia um elevador em frente à porta. O 
ascensorista sentiu um baque no coração, quando viu aquela 
beldade encaminhar-se para ele. 
— Segundo andar — pediu Brigitte, entrando na gaiola 
de aço. 
O rapaz fechou a porta. 
— A senhorita é hóspede? — perguntou, amavelmente. 
— Claro. Acabei de chegar de Nova Iorque. E esqueci o 
biquíni no meu quarto. 
O elevador estremeceu e parou, no terceiro piso. Brigitte 
saltou e esperou que a porta se fechasse; depois, caminhou 
por um longo corredor atapetado, até atingir a porta no. 32. 
Não era um quarto; devia ser uma suíte. Ela respirou fundo 
e bateu na almofada da porta. Ninguém lhe respondeu. 
Bateu outra vez. Nada. Então, escolheu uma das chaves do 
molho e, depois de duas tentativas, conseguiu abrir a porta. 
Eram oito horas da manhã, mas as luzes da sala estavam 
acesas. Aparentemente, não havia ninguém na sala. 
E, então, viu o cadáver. 
Era um homem gordo, moreno, vestido com um pijama 
listrado. Seu peito exibia o furo de uma bala de grosso 
calibre, que lhe atingira o coração. 
Em seguida, ajoelhou-se e contemplou, pensativamente, 
aquele rosto contorcido pela agonia. Era um russo, sem 
dúvida alguma. Ela estava no bom caminho. 
Olhou para a porta do quarto que estava aberta, e pôs-se 
de pé, decidida a dar uma busca. Mas, nesse momento, seu 
sexto sentido a alertou. 
— Ti-pojiváiech? — disso uma voz gutural, às suas 
costas. — Não se mexa, diévushka! 
A repórter voltou-se lentamente. agarrada à máquina 
fotográfica, mas não teve oportunidade de usá-la. O homem 
que olhava para ela, à porta do banheiro, tinha uma pistola 
Markarov na mão erguida. Era alto, musculoso, e estava nu. 
— Peço perdão — disse Brigitte, formalizada. — Sou 
uma moça de respeito! 
Mas o outro não abaixou a arma. Nem cobriu a sua 
nudez ameaçadora. Pelo contrário. Ao contemplar a figura 
espetacular da jovem jornalista, sua nudez foi-se tornando 
cada vez mais ameaçadora. 
— Kac vac zovút? — perguntou, com voz rouca. — 
Como entrou aqui e... e fez isso? 
Seus olhos vermelhos indicaram o cadáver do homem 
moreno, estirado no tapete. 
— Permita-me que lhe faça idêntica pergunta — 
respondeu Brigitte, jogando a câmara fotográfica sobre uma 
cadeira. — Quem é você? Para ficarmos em igualdade de 
condições, suponho que eu também deva tirar a roupa... 
E, depois de despir rapidamente o casaquinho de tweed, 
começou a desabotoar a blusa de seda. A pistola tremeu, na 
mão do homem alto, mas ele não apertou o gatilho. Num 
instante, os belos seios de Brigitte despontaram, 
aprisionados pelo negro soutien. 
— Niet — disse ele, apavorado. — Pare com isso! Não 
quero escândalos! Se você insistir, eu... eu atirarei! Juro que 
atirarei! 
Mas sua atitude demonstrava que não estava cm 
condições de atirar em ninguém e sim de se atirar em cima 
de sua maravilhosa visitante. 
* * * 
Quem é Brigitte Montfort? 
Uma pergunta que devemos responder aludindo à uma 
certa jovem. É importante observar como surgiu ela, bonita, 
provocante, numa aura de olhares exclamativos, 
confundindo um porteiro de hotel de luxo em Los Ângeles e 
pedindo uma informação intrigante. Ela é a Filha de Giselle 
Montfort. 
Como viera parar ali? Em que circunstâncias? Por quê? 
Pequeno esforço de memória e retornemos ao capitulo 
final de “Giselle, a Espiã Nua Que Abalou Paris” A cena é o 
fundo de um cárcere imundo, na prisão de Cherche Midi. 
Naquele ano terrível de 1944, Paris ocupada pelas tropas 
nazistas, Giselle, a duas horas do fuzilamento, fala a 
Gabrièle Ladême, companheira de cela que sobreviveu para 
narrar o episódio final. A espiã, torturada pela proximidade 
da morte, implora: 
“Receba uma confissão, querida amiga! Não há padres 
que me possam visitar, neste momento. Eu preciso dizer... é 
necessário que alguém saiba... Eu tenho uma filha! Sim, 
uma filha! De um namorado alemão que amei antes de 
conhecer meu marido. Fui abandonada por esse namorado 
da juventude de Hitler. Que me deixou grávida. Vivi nove 
meses de sacrifícios e, depois, quando a menina nasceu, foi 
raptada. O nazista mandou tirá-la de mim! Nunca mais 
soube dela. Não sei como se parece. Nem o seu nome. Mas 
sei queestá viva, em algum lugar deste mundo. É preciso 
que eu lhe confesse isso, antes de morrer. Ah! Um poema 
de Rilke! — Quem, se agora eu gritasse, me ouviria, na 
escala dos anjos?” 
A confissão da condenada revela, claramente, que a 
menina, raptada ao nascer, jamais tivera ocasião de 
encontrar-se com a mie. Mas o Serviço Secreto francês 
descobriu, muitos anos depois o paradeiro desta 
personagem quase lendária. A filha de Giselle recebeu o 
nome de Brigitte no batismo de pai alemão, que mais tarde 
se soube tratar-se do estrategista Fritz Bierrenbach. Foi 
trazida para os Estados Unidos no início da conflagração 
mundial; entregue a parentes ricos de Bierrenbach, 
radicados em Nova Iorque, educada na Universidade de 
Colúmbia e naturalizada americana ao assumir a 
maioridade. 
Brigitte fez um brilhante curso de jornalismo e só depois 
de formada veio a saber, pelos seus pais de criação, que era 
filha ilegítima de um nazista de Hitler e de uma francesa da 
Resistência, ambos mortos, cada qual lutando pelo que 
achava certo. Brigitte não se deixou abater por tão violenta 
revelação, mas jurou a si mesma que dedicaria toda a sua 
vida ao combate a qualquer espécie de extremismo. E não 
deixava de sentir uma ponta de orgulho pelas façanhas de 
sua mãe, Giselle, cujas memórias leu e releu dezenas de 
vezes, antes de lançar-se ao jornalismo militante. 
Hoje, Brigitte Montfort é uma repórter de sucesso do 
“Morning News”, diário de enorme tiragem de Nova 
Iorque. 
Brigitte herdou de Giselle o feitiço da fêmea total. Sua 
simples presença, é acontecimento, é notícia, pelo menos 
para os que a encontraram na área de suas andanças. É uma 
catalizadora de olhares febricitantes. Qualquer observador, 
por mais tímido, deixa-se atrair pelo seu charme infinito. 
O início da carreira de repórter de Brigitte deve ser 
recordado aqui, numa espécie de revelação de seu 
temperamento. Durante o seu curso brilhante de jornalismo, 
ela estagiara no “Morning News” e sua presença tinha 
revolucionado a redação do grande diário. Depois, ao 
concluir o curso com distinção, o gordo e rabugento Mike 
Grogan, diretor do jornal, não pudera deixar de atender à 
solicitação de insinuante “foca”. Brigitte obtivera um lugar 
de repórter de polícia, para começar a carreira. Um mês 
depois, suas reportagens tinham-na elevado no conceito de 
todos os demais redatores do jornal e conquistado a 
admiração secreta do próprio Miky. Brigitte ganhara uma 
coluna pessoal, na terceira página, onde passara a comentar, 
no seu estilo personalíssimo, os grandes acontecimentos 
políticos do país. Dois meses se passaram, e a jovem 
colunista transformou-se numa grande atração do “Morning 
News”. E numa enorme dor de cabeça para o seu gordo 
diretor. Miky Grogan estava na iminência de apelidar a 
jovem de “Terremoto” (Devido à tensão que provocava 
entre os seus colegas) quando o ambiente da redação esfriou 
um pouco. Brigitte tinha conhecido Frank Minello e a 
amizade dos dois acalmou as coceiras eróticas dos outros 
redatores. 
Frank Minello era o titular da página de esportes. Um 
rapaz alto e forte, moreno, de cabelos ondulados e sorriso 
sensual. Seu tipo de ítalo-americano, atlético e bonito, fazia 
dele a eterna caça das garotas de bom-gosto. Na primeira 
noite em que os dois saíram juntos, Frank bebeu um pouco 
além da conta e acabou caindo de quatro, aos pés da 
maravilhosa estátua grega; declarando-lhe o seu amor 
ardente. Já estavam no apartamento do rapaz, em Riverside, 
e Brigitte não quis decepcionar o seu admirador. Além 
disso, também gostava daquele tipo de cafajeste. Estendeu-
lhe a mão, para que ele se pusesse de pé, e pediu-lhe que 
fosse mais prático e a ajudasse a tirar a roupa. Estava, 
realmente muito calor, pois o apartamento não possuía ar 
condicionado. 
A cama era macia e confortável. Brigitte também era. 
Quanto ao Frank revelou-se um infatigável cultor das 
virtudes de Adão. Depois desse primeiro contato, ele e ela, 
como bons colegas de jornal ficaram amigos firmes. Frank 
Minello nunca mais pôde se esquecer dos prazeres que sua 
amiguinha lhe proporcionara. Tornaram-se amigos firmes, 
mas não amantes. Brigitte nunca mais voltou ao 
apartamento de Riverside. Esse era o seu método de 
trabalho. A constância no amor, ela pensava, levava à 
saturação. E a bela morena não queria se cansar daquele 
excelente exemplar de troglodita... Por isso, continuou a 
tratá-lo com o mesmo carinho, a mesma ternura, mas nunca 
mais o deixou ir além das conveniências. Ela gostava de ter 
os homens, como cachorrinhos, lambendo seus sapatos. E 
Frank também passou a ser um cachorrinho. 
Com Miky Grogan a coisa era outra. Apesar de também 
estar “vidrado” pelas belas pernas de sua colunista, o gordo 
diretor do “Morning News” jamais foi além dos elogios 
banais e dos olhares concupiscentes. E Brigitte também não 
lhe dera mais do que isso: o direito de lhe ver as pernas e 
limpar a baba do queixo. Certa noite, Miky a convidou para 
jantar num night-club e se excedeu nas bebidas alcoólicas, 
recitando também uma ode à beleza pagã das filhas da 
Terceira República Francesa. Mas Brigitte recebeu a 
insinuação com um sorriso gentil, tirou-lhe a mão gorda de 
cima das coxas e respondeu: 
— Obrigado, papai. 
Foi o bastante para que o furibundo chefe da família 
mudasse de conversa. Mas continuaram bons amigos. E 
Miky prosseguiu afagando a doce esperança de 
experimentar, algum dia, as sensações proibidas daquele 
corpo espetacular. 
Eram 10 horas da manhã de domingo, 26 de janeiro. 
Pleno inverno. Nova Iorque amortalhada por uma nevasca. 
No seu novo e luxuoso apartamento da Quinta Avenida, 
Brigitte Montfort ouvia alguns discos de “yê-yê-yê”, 
enquanto bebericava uma taça de Perignon 55. Desde 
mocinha, sempre tivera predileção por esse tipo de 
champanha. 
Nisso, o telefone tocou. A garota saltou do sofá e 
atravessou a sala, para atender o chamado. Completamente 
nua, no ambiente morno, parecia uma gata branca 
espreguiçando-se ao sol. Apanhou o fone cor-de-rosa e 
respondeu, com voz doce, certa de que era Frank Minello, 
tentando um novo “programa”. Mas era Miky Grogan e não 
parecia disposto a recitar poemas de Omar Khayyam. 
— Alô? Miss Montfort? Venha imediatamente à 
redação! Sua grande chance chegou! 
Brigitte sorriu para o receptor. 
— Desculpe, chefe. Hoje é domingo... e eu estou nua. 
— Está o quê? 
— Inteiramente nua, bebendo champanha, numa 
dolorosa solidão. Neste momento, olho para o grande 
espelho da sala e me vejo tal como nasci. Aliás, preciso 
esfregar um pouco de “Moon Drops” no meu corpo... 
— Vista-se e venha! — rugiu o gordo. — Tenho um 
serviço especial para você! Dou-lhe apenas vinte minutos... 
ou você estará despedida! 
E cortou a comunicação. Brigitte deixou de sorrir. O 
caso parecia grave. Vestiu-se em cinco minutos e desceu, à 
procura de um táxi. Vinte e cinco minutos depois, estava 
entrando no gabinete do diretor executivo do ‘Morning 
News”. Como era domingo, a redação estava praticamente 
vazia. 
— Qual é o problema, chefe? 
Miky encontrava-se sozinho, enterrado na larga cadeira 
da secretária, com um lápis vermelho na mão e vários 
recortes de jornais debaixo do nariz. 
— Sente-se, Brigitte. Você vai para Los Ângeles, com 
tudo pago. Nosso correspondente na Califórnia acabou de 
me telefonar. Resolvi tornar você uma figura nacional. 
A linda jornalista sentou-se numa poltrona baixa e 
puxou as saias, pondo à mostra as longas pernas nuas. Miky 
esbugalhou os olhos, mas não disse nada; foi ela quem 
voltou a falar: 
— Quem morreu, em Los Ângeles? 
— Ninguém morreu ainda. É aquele caso dos discos-
voadores. 
— Ah! Os discos-voadores... 
Brigitte já fizera alguns comentários, na sua coluna, 
sobre a recente aparição de novos UFOS na Califórnia. Mas 
não esperava que a história valesse uma viagem ao local. 
Muita gente tinha visto objetos voadores,em muitas partes 
do mundo, e a coisa já se tornara uma rotina. 
— Apareceu mais um UFO — continuou Miky Grogan, 
batendo com o lápis nos recortes de jornais. — o quinto, 
este mês. Há alguma coisa esquisita com esses pires, 
charutos e caçarolas! Desta vez foi um ovo! 
— Ovo? — fez Brigitte, polidamente. — Adoro ovos 
estrelados com bacon! 
— Um ovo cozido — rosnou o gordo. — Um objeto 
desconhecido, que desceu na estrada que vai de Barstow 
para o Arizona, em pleno deserto. Uma senhora viu os 
tripulantes saltarem e escapou de morrer queimada pelas 
suas armas atômicas. A mulher chama-se Grace Meadows e 
mora no local. Pensei em mandar o Raymond fazer a 
cobertura, mas ele está ocupado com aquele caso dos 
Vanderbilt. Então, resolvi lhe dar esta grande chance, 
Brigitte. Você não tem uma teoria sobre os discos-
voadores? 
— Sim — murmurou Brigitte, interessada. — E, se 
desceu outro UFO ao leste da Califórnia, minha teoria deve 
estar certa. Agradeço-lhe a chance, chefe. Claro que vou 
para lá. Poderemos aumentar a tiragem do jornal, se 
desmascararmos os criadores desses aparelhos do diabo. 
— Você acha que eles são feitos na Terra? — perguntou 
o gordo, estreitando os olhos. 
— Suponho que sim. Pela menos, essa série que vem 
aparecendo na Califórnia. O senhor tem razão, chefe. Essa é 
a minha grande chance! 
A história começara justamente vinte dias antes, na 
madrugada de 5 de janeiro. Por volta da meia-noite desse 
domingo, alguns pescadores da costa oeste da Califórnia 
tinham visto um estranho objeto voador descer do céu e 
pousar no alto de uma rocha alcantilada, O UFO tinha o 
aspecto de um pires invertido e estava envolto em fumaça. 
Ficou cinco minutos em cima da rocha e, em seguida, 
levantou vôo na vertical, desaparecendo nas nuvens. Era 
ligeiro como um foguete. 
Cinco dias depois, outro UFO fora avistado nas 
proximidades de Fresno, ao norte de Los Angeles. Esse 
tinha a forma de um prato e descera na fimbria do deserto, 
diante de um casal de lavradores boquiabertos. Dois 
estranhos seres saíram da máquina voadora, observando ss 
cercanias, esguicharam um jato de fogo para o alto e 
voltaram, correndo, ao UFO, ao serem interpelados pelo 
casal; imediatamente, o prato se elevou nos ares e 
desapareceu, envolto em fumaça e fazendo um barulho 
assustador. O casal de lavradores declarara que os 
tripulantes do UFO mediam apenas um metro de altura, 
eram verdes e tinham antenas na cabeça. A Força Aérea 
começara a investigar o caso, mas não chegara a nenhuma 
conclusão, pois os estranhos seres não tinham deixado 
vestígios de sua passagem pela Terra. 
No dia 15 de janeiro, houve outra aparição. Dessa vez o 
UFO tinha a forma de um charuto e descera nos Montes 
Whitney, próximo da fronteira do Estado de Nevada. 
Apenas um automobilista que passava pelo local vira o 
aparelho descer e subir de novo, comunicando o fato às 
autoridades de Bishop. Ainda dessa vez não foram 
encontrados sinais do UFO. 
Finalmente, menos de uma semana depois, um novo 
objeto desconhecido em forma de caçarola descera 
misteriosamente a oeste da cidade de Las Vegas, já em 
território de Nevada, próximo de um bairro residencial. 
Diversas testemunhas tinham visto a caçarola-voadora 
pousar no deserto e seus estranhos tripulantes saltaram, para 
apanhar amostras de areia. Eram três anões, verdes, com 
tentáculos, as cabeças protegidas por capacetes 
transparentes. Um dos monstrengos empunhava uma 
espécie de canudo de alumínio, do qual saíam raios 
azulados. Ao chegar um carro da polícia ao local, os 
homúnculos entraram rapidamente na caçarola e escaparam 
do local, subindo vertiginosamente até as nuvens. Esse 
havia sido a última aparição de um disco-voador naquelas 
paragens. E, agora, Mike Grogan falava numa nova 
aparição, na estrada de Bartow, que também não ficava 
longe do Deserto de Mojave. Era preciso não esquecer que 
outros UFOS já haviam sido vistos naquele local, nos anos 
de 1946 e 52. Mas, isso, pertencia à história. 
Brigitte acompanhara com interesse o caso dos novos 
discos voadores e até fizera alguns comentários a respeito, 
em sua coluna. Mas outros acontecimentos políticos locais 
tinham atraído a sua atenção, fazendo-a esquecer-se daquele 
assunto apaixonante. 
— Quer que lhe forneça o material de que dispomos 
sobre as aparições anteriores? — perguntou o gordo diretor 
do “Morning News”. — Não há fotografias ainda. Apenas 
as declarações das pessoas que viram os discos. 
— Não se incomode — disse a linda repórter. — Tenho 
tudo na memória e sei que os depoimentos conferem, a 
respeito dos anões. Eles andam nus, se não me engana. 
— Sim, andam nus. Mas são verdes. E pequenos. 
— Isso é que é uma pena. Porém tudo confere. Os discos 
mudam de feitio, mas os tripulantes são sempre os mesmos. 
— Exato — acrescentou Miky, fazendo uma, careta. — 
Desta vez a senhorita Grace Meadows também viu os 
tripulantes e eles eram verdes e de baixa estatura. O lança-
chamas atômico também deve ser o mesmo. Hoje de 
madrugada, os homúnculos falaram com a mulher, 
ameaçando-a com seus raios cáusticos. Pelo menos, foi o 
que me disse o nosso correspondente na Califórnia, que 
ouviu a palavra abalizada do inspetor Pitzer? 
— Quem é o inspetor Pitzer? 
— Um famoso agente do FBI, encarregado das 
investigações desde o caso de Las Vegas. O inspetor Pitzer 
embarcará, logo mais, para Los Angeles e, se você for 
esperta, poderá entrevistá-lo pelo caminho. Arranjei uma 
passagem extra no mesmo aviso da carteira. 
— Se o inspetor Pitzer está em Nova Iorque — 
obtemperou Brigitte — como é que o nosso correspondente 
o ouviu, na Califórnia? 
— Pelo telefone, pouco antes de falar comigo. Pitzer já 
sabia de tudo. Mas é um homem fechado como uma ostra. 
Talvez você consiga abri-lo, a bordo, se for bastante 
esperta. 
— A que horas sai o avião? — perguntou a linda 
repórter, olhando seu elegante relógio de pulso. 
— Dentro de duas horas. Além de esperta, você precisa 
ser ligeira. Uma entrevista exclusiva com o famoso 
intocável Alan Pitzer vale bem o sacrifício! Ele é uma 
autoridade em discos-voadores, você sabe. 
— Okay — disse Brigitte, levantando-se e ajeitando as 
saias. — Irei entrevistar a senhorita Meadows, na estrada de 
Barstow. E tenho o palpite de que essa será uma das 
maiores reportagens da minha vida! 
— Também acho — concluiu o gordo, piscando-lhe um 
olho. — a sua grande chance, menina! E talvez seja a única 
missão realmente sensacional que você terá, como repórter 
do “Morning”! 
Ele se enganava. Mas, então, a carreira daquela que seria 
a mais famosa espiã da CIA, Brigitte Montfort, estava 
apenas no começo. E Miky Grogan não era bom profeta. 
 
 
 
 
CAPÍTULO SEGUNDO 
O inspetor Pitzer cai no laço 
 
O jato Boeing da TWA estava pronto para decolar, 
quando Brigitte chegou ao aeroporto, atrapalhada com a 
máquina fotográfica e uma mala de mão. Um dos 
passageiros ajudou-a a subir a bordo, encarregando-se da 
malinha. 
— Obrigada — disse a morena, com um sorriso 
gracioso. — O senhor é muito gentil, senhor comissário. 
— Não sou o comissário de bordo; sou um passageiro. 
Por coincidência, o assento de Brigitte ficava ao lado do 
gentil cavalheiro. Sentaram-se e amarraram o cinto. No 
minuto seguinte, o aparelho decolou, tomando o rumo da 
costa oeste dos Estados Unidos. 
— Chamo-me Brigitte Montfort — disse a garota, 
depois que estavam no ar. — Não diga a ninguém, mas sou 
repórter do “Morning News”. Vou a Los Ângeles fazer a 
cobertura de um caso especial e não quero que o FBI 
suspeite disso. Esta é a minha grande chance. 
— Desde quando é crime os jornalistas exercerem a sua 
profissão? Não acredito que o FBI lhe crie complicações, 
miss Montfort. 
— É o que o senhor pensa — retrucou a beldade, 
pestanejando. — Meu chefe, Miky Grogan, disse que o 
inspetor Alan Pitzer é um carrasco, um “Durão”, e detesta 
as mulheres! Sei queele também viaja neste avião e preciso 
evitá-lo. 
— Talvez a senhorita se engane — rosnou. — Ou talvez 
seu chefe quisesse indispô-la com as autoridades. Na 
verdade, eu sou Charles Alan Pitzer, miss Montfort, e não 
tenho prevenção alguma contra as repórteres bonitas. E, já 
que seu chefe lhe falou tão mal de mim, faço questão de 
contradize-lo, facilitando seu trabalho profissional! 
Contudo, a entrevista com o famoso intocável não foi 
muito brilhante, nem deu muitos frutos. Depois da sua 
euforia inicial, o inspetor tornou-se desconfiado e reticente. 
Além disso, ainda tinha poucas informações sobre a 
aparição do ovo-voador na estrada de Barstow. 
— Era um ovo, realmente? — perguntou Brigitte. 
— Sim, era um ovo. Uma esfera de alumínio. Mas você 
saberá de tudo quando chegarmos a Los Ângeles. 
— Não pretendo contar tudo aos meus leitores — 
retorquiu a morena, mordendo a ponta do lápis. — Eu gosto 
sempre de trabalhar de acordo com as autoridades, para 
evitar aborrecimentos futuros. Antes de publicar a 
reportagem, inspetor, gostaria que o senhor a lesse e a 
liberasse, rubricando todas as páginas. 
O homem do FBI fez uma careta. 
— Eu? Mas... não temos censura, nos Estados Unidos! 
Você é bastante sensata para saber o que deve e não deve 
publicar. 
— Não! inspetor. Insisto em que o senhor deve ler a 
minha reportagem, antes de mandá-la para Nova Iorque! 
Confio mais no senhor do que em mim! 
— Não creio que seja necessário. Pode publicar o que 
quiser, desde que não alarme o público, com boatos e essas 
coisas. Se disser apenas a verdade, não haverá 
complicações. 
— Obrigada, inspetor. Nesse caso, já que o senhor me 
autorizou a publicar tudo, evitar-lhe-ei o incômodo de ler os 
meus artigos. O senhor os lerá, depois, no “Morning 
News”. Esta entrevista, que o senhor está me dando, não 
poderá prejudicar o FBI. Os discos-voadores já são domínio 
público. 
— Perdão, miss Montfort. Eu não estou lhe dando 
nenhuma entrevista! Não posso dizer nada sobre os discos-
voadores. 
— Isso já é dizer alguma coisa. O FBI não pode falar. 
— Bem... Não sei, ainda, do que se trata. Tudo é 
especulação. Eu... 
Brigitte fez um gesto com o lápis no ar, sugerindo uma 
manchete. 
— “Tudo é especulação”, diz o inspetor Pitzer, agente 
secreto do FBI! Não pode dizer nada sobre os discos, pois 
não sabe nem do que se trata! 
O inspetor empalideceu. 
— Você não vai publicar isso! 
— Só se o senhor me proibir. 
— Pois está proibida! Você deturpa as minhas palavras! 
— O inspetor Pitzer proíbe a nossa repórter de dizer 
que ele não sabe de nada! 
— Chega! Você é muito atrevida! 
— Obrigada, inspetor. Já é o bastante, para começar. 
Os dois ficaram um minuto em silêncio, enquanto o jato 
sobrevoava Pittsburg. Depois, o inspetor olhou de esguelha 
para a garota. 
— Você é francesa? 
— Filha de francesa com alemão. Minha mãe morreu 
fuzilada pelos nazistas, lutando pela Resistência. Eu 
também sou um bocado resistente. 
— Estou vendo — rosnou o homem do serviço secreto. 
— Você é uma criatura pérfida e cruel! E sabe usar a 
língua! 
— O senhor ainda não viu nada. 
— Você tem graves defeitos morais, menina. Eu não 
queria ser seu inimigo! Aposto que se julga muito 
espertinha, hem? 
— Não aposte porque perderá. Eu não sou apenas 
espertinha, como sou teimosa! O senhor, por exemplo, está 
às aranhas, no caso dos discos-voadores. Não sabe se eles 
são de Marte ou de Moscou. Mas tem uma teoria. Eu tenho 
outra. 
— Qual é a sua teoria? — perguntou o detetive, com voz 
sumida. 
— Depois lhe direi. A sua é esta: os discos-voadores são 
comandados por seres inteligentes e obedecem a um plano 
preestabelecido. 
O inspetor Pitzer ficou de boca aberta. Falou: 
— Certo. Mas, isso, não era difícil de prever. O 
problema é por que eles descem ao longo da Califórnia? E 
por que mudam de feitio? 
— Mas a tripulação é sempre a mesma. 
— É verdade. Parece que a tripulação é sempre a 
mesma. 
Depois, falaram de outros assuntos e afastaram 
definitivamente a animosidade que pudesse ainda haver 
entre eles. Quando o avião baixou no aeroporto 
internacional de Los Ângeles, o inspetor continuava com a 
mala de Brigitte na mão. Desceram juntos a escada, 
seguidos por três agentes federais mal-encarados. 
— Você vai para algum hotel? — perguntou o detetive, 
tomando o braço da garota. — Terei prazer em levá-la até 
lá. 
— Para se ver livre de mim? 
— Talvez. 
— Obrigada. Vou alugar um helicóptero que me leve à 
estrada de Barstow. Meu dinheiro não é muito, mas tem que 
dar. Não tenho helicópteros do governo à minha disposição. 
Sou pobre e moro longe. 
— Okay — disse o inspetor, irritado. — Venha comigo! 
Você é minha convidada! 
Havia um Lockhead de seis lugares, da USAF, à 
disposição do FBI. O inspetor Pitzer confabulou com um de 
seus auxiliares e acomodou Brigitte na carlinga, ao seu lado. 
— É a primeira vez que vôo num helicóptero tão estável 
— disse ela. — Não balança nem nada! Sempre tive uma 
péssima opinião sobre este tipo de geringonça. O senhor é 
casado, inspetor Pitzer? 
— Como? Sim. Sou casado e tenho dois filhos. E minha 
mulher me adora. 
— Suponho que o senhor ainda não esteja farto dela. 
— Não. De maneira alguma. Vivemos muito felizes, 
— Parabéns. Isso muito me tranqüiliza. O senhor é tão 
insinuante que receei pela minha integridade física! Mas o 
senhor não é um lobo. 
— Oh, não, miss Montfort! — E o detetive sorriu, com 
orgulho. — Pode ficar descansada. Reconheço que você é 
muito bonita, mas não tem o que temer em minha 
companhia. Eu sou duro como urna pedra, quando se trata 
do cumprimento do meu dever! 
— Duro como uma pedra — suspirou Brigitte, 
pestanejando. — Que horror! 
O inspetor riu, mas não mudou de atitude. E a jovem 
repórter compreendeu que ele, realmente, era uma pedra. 
Pouco depois, chegaram a uma casa isolada, no meio do 
deserto, à beira da rodovia pavimentada que ia dar em 
Kingman, no Arizona. O helicóptero desceu no alto de uma 
duna de areia e soltou os seus ocupantes. 
— Aqui nos separamos — disse o inspetor Pitzer, 
apertando a mão de Brigitte. — A volta será às nove horas. 
Você terá duas horas para tirar retratos. 
— Não vai me apresentar à senhorita Grace Meadows? 
— inquiriu a repórter com ar ingênuo. 
— Era só o que faltava! Faça a sua estrada, menina! 
Separaram-se com outro aperto de mão amistoso e, 
enquanto o agente do FBI e seus três comandados se 
dirigiam para a casa isolada, a linda repórter ficou parada, 
ao lado do helicóptero, olhando ao redor. 
— Posso ajudá-la em alguma coisa? — perguntou o 
piloto do helicóptero, aproximando-se. 
Era um rapaz esbelto, simpático, fardado de tenente-
aviador. 
— Sim, poderia — respondeu a morena, batendo as 
pestanas. — Mas receio que isso seja contra as ordens do 
inspetor Pitzer... 
— Sou um oficial da Força Aérea — retrucou o rapaz. 
— E estou de folga até as nove horas. O inspetor Pitzer é 
nosso hóspede. 
— Nesse caso, talvez o senhor possa me fazer uma 
gentileza. Sou repórter do “Morning News”, como já deve 
saber, e tenho a incumbência de fotografar, do alto, o local 
onde desceu o disco-voador em forma de ovo. Confesso que 
não sei onde foi que ele desceu, nem tenho meios para... 
— O disco desceu ali adiante — informou o tenente, 
apontando para leste. — E é a segunda viagem que faço ao 
local. Mas é claro que não posso levá-la no helicóptero, sem 
ordem superior. 
— De qualquer maneira, obrigada — Brigitte suspirou. 
— Está muito calor, aqui. Vou caminhar, a pé, pela estrada, 
e talvez algum automobilista me dê uma carona. Eles 
gostam de ser gentis para com as moças de biquíni... 
E, num minuto, despiu o costume de tweed, exibindo os 
seus encantos físicos num maiô de duas peças. O piloto 
entortou os olhos. 
— Virgem Santa! 
Nisso, surgiu um carro, na estrada, aproximando-se a 
alta velocidade. Brigitte correu para a beira da rodovia, 
esticandoo polegar. Mas o jovem tenente foi mais ligeiro. 
— Venha — rosnou ele, agarrando-a pela cintura. — Eu 
a levo ao local. Não queremos escândalos, na Califórnia! 
O rapaz chamava-se Thompson e era natural de San 
Diego. Nervosamente, falou de sua família, de seus projetos 
para o futuro e da emoção que sentia ao entrevistar, pela 
primeira vez, uma repórter fotográfica em trajes menores. 
Minutos depois, estavam sobrevoando o local onde descera 
o ovo-voador. 
— Está tudo visto disse ela, voltando a sentar-se. — O 
ovo desceu num lugar plano, próximo da casa, mas não tão 
próximo que pudesse levar um tiro de espingarda. A 
senhorita Meadows é que caminhou até o UFO, para poder 
ver os homens verdes. E ela não devia levar nenhuma arma 
na mão. 
— Exato — gemeu o piloto, de olhos vidrados. — 
Posso, ao menos, beijar-lhe o rosto? Você é tão... tão 
cheirosinha! 
— Não — disse Brigitte, empurrando-o. — Desde 
quando os disciplinados rapazes da Força Aérea assaltam 
moças indefesas em helicópteros oficiais? Isso pode levar a 
um Conselho de Guerra, você sabe! Voltemos ao ponto de 
partida, Thompson. 
O piloto manobrou o aparelho e sobrevoou a casa 
isolada. 
— Devagar — disse Brigitte, alegremente. — Vou dizer 
“alô” ao inspetor Pitzer! Ele gostará de me ver aqui em 
cima! 
Havia um grupo de pessoas à porta da casa, olhando para 
o alto. Brigitte debruçou-se na carlinga e acenou 
entusiasticamente. A expressão do rosto do inspetor Pitzer, 
voltado para cima, era de completa perplexidade. 
— Isto me vai dar dores de cabeça — gemeu o tenente 
Thompson. — Desconfio que fiz besteira! 
— Não chore — retrucou a garota, enquanto se vestia 
com dificuldade. — Como você foi bonzinho, vai ganhar 
um beijo da titia. 
E acabou de gelar-lhe o sangue nas veias, beijando-o na 
boca. O helicóptero cambaleou e desceu no deserto, meio de 
banda, levantando um mundo de poeira. Brigitte agradeceu 
e saltou. 
Já estava escuro quando a linda jornalista alcançou a 
casa. O grupo de policiais levando a senhorita Meadows 
tinha partido para o local onde descera o UFO. Brigitte 
apenas encontrou um rapazinho tomando conta da casa. 
— Alô! — fez a moça, sorrindo amavelmente. 
— Mamãe está lá dentro? 
— Quem é você? — retrucou o moleque, com cara de 
cachorro danado. 
— Sou representante dos perfumes Avon — disse 
Brigitte, com voz melodiosa. — Avon chega... Vinha trazer 
uma amostra grátis de nosso novo produto, o disco-voador 
perfumado eletronicamente. 
O rapazinho coçou o nariz. 
— Que é isso? Vê lá se vai me morder! 
Brigitte tirou uma moeda da bolsa e exibiu-a, na palma 
da mão. 
— Parece uma pratinha de cinqüenta centavos, mas tem 
a propriedade de perfumar as gavetas. Veja que beleza! 
Estamos oferecendo este disco-voador a todos os clientes 
que viram algum UFO verdadeiro. Infelizmente, apenas sua 
mãe é que viu. Quero falar com ela. 
— Quem disse? — rosnou o moleque, arregalando os 
olhos para a moeda. — Ela não é minha mãe, é minha 
patroa. E eu também vi o ovo! 
— Como posso ter certeza disso? Se você tivesse visto o 
ovo, a polícia não o deixaria aqui. Eles o interrogaram? 
— Não — respondeu o rapazinho, agarrando a moeda. 
— Eles não perguntaram nada. Miss Meadows estava 
dormindo, quando a coisa chegou. Eu a chamei no quarto e 
lhe mostrei o grande ovo de prata, parado no meio do 
deserto. 
— Que horas eram? 
— Pouco depois da meia-noite. Eu não tinha sono e 
acendi a luz da varanda. Aí, ouvi o ronco e vi aquele 
negócio descer do céu. Devia medir mais de cinco metros e 
tinha muita fumaça. 
— Você também viu os anões? 
— Claro que vi. Miss Meadows correu para lá e eu fui 
atrás. Aí, abriu-se uma portinhola, por cima da fumaça, e 
saíram três garotos, vestidos de verde, com uma mangueira 
de regar jardins. 
— Eram garotos, mesmo? 
— Se não eram, pareciam. Nenhum homem tem aquela 
altura. E nenhum homem ia brincar com roupas verdes e 
capacetes de plástico. Eles falavam de um jeito esquisito. 
Brigitte tomava notas apressadas. 
— Você ouviu eles falarem? 
— Ouvi, mas não entendi “bulhufas”. Miss Meadows 
disse que eram risos. Deviam ser moleques comunistas. 
— E a mangueira de regar os jardins? Você viu sair água 
da mangueira? 
— Não — disse o garoto, com expressão séria. 
— Saía fogo! E por pouco eles queimavam miss 
Meadows. Ela é muito “corajuda”, a senhora não acha? 
— Você também é, Jack. 
— Meu nome é Butch. Sim, eu também fui “corajudo”! 
Vi tudo e eles não me viram. Miss Meadows não quer que 
saibam que eu também vi. 
— E como foi que o ovo desapareceu, Butch? 
— Do mesmo jeito. Os moleques queimaram a relva 
com o fogo da mangueira entraram no ovo e... zum! 
sumiram no alto! Foi ai que miss Meadows desmaiou. 
— Desmaiou? 
— Caiu durinha para trás! Mas não diga nada aos 
jornalistas. Ela também não quer que saibam que eu lhe 
joguei um balde de água na cara. 
— Foi só isso que os garotos fizeram? Conversaram com 
miss Meadows e queimaram a grama? 
— Foi. Eles não viram o outro homem, porque ele já 
tinha ido embora. E o outro homem também não chegou a 
ver nada. 
Brigitte sentiu um baque no coração. Era bom demais 
para ser verdade. 
— Então, havia outro homem? 
— Sim, senhora. Miss Meadows não sabe. Ninguém 
sabe. Mas eu sei. Ontem à noitinha chegou um Cadillac 
preto, pela rodovia, e parou perto de casa. Miss Meadows 
estava jantando. Eu vi um homem alto e moreno saltar e 
olhar ao redor, para o deserto. Havia outro homem dirigindo 
o carro. Uma hora depois, eles voltaram, mas miss 
Meadows não reparou o Cadillac. Eu reparei, porque já o 
tinha visto. O homem moreno continuava olhando para o 
deserto. 
— É verdade — murmurou Brigitte. — Então, esses 
homens do Cadillac não estavam aqui, quando o UFO 
desceu? 
— Penso que não. Acho que eles estavam procurando 
alguma coisa pelo deserto. Talvez fosse o jornal. 
— E voltaram de manhãzinha? 
— Voltaram e não voltaram — disse o moleque. — já 
então, aí estava cheio de gente. Por isso, o Cadillac passou 
direto e não parou. Mas o homem moreno estava lá dentro, 
com a cara no vidro da portinhola. Ele me olhou de maneira 
esquisita. 
— Espere um pouco, Butch! Que jornal é esse? Você 
disse que os homens estavam procurando um jornal? 
— Não. Eu disse que talvez fosse o jornal. 
— Que jornal? 
— Não vi. Mas, quando saltou do Cadillac da primeira 
vez, o homem moreno tinha um jornal na mão. Ai, deu o 
vento e o jornal escapou da mão dele. 
— E o jornal? 
— Sei lá. Foi-se com o vento. 
— Em que direção? 
— Também não sei. Pará o deserto. Na direção do ponto 
onde desceu o ovo, penso eu. Mas nunca mais ninguém viu 
o jornal. É difícil encontrar um jornal no deserto. 
Brigitte também achava que era difícil encontrar um 
jornal no deserto. Mas, se essa era a única pista do homem 
moreno do Cadillac, tinha que tentar encontrá-la. Talvez 
fosse o encarregado de escolher o “lugar” onde eles 
deveriam pousar... 
— A senhora quer mais alguma coisa? — perguntou o 
moleque, guardando a moeda de 50 cents. 
— Não, Butch. — Brigitte olhou para ele 
especulativamente. — Mas estou disposta a lhe dar cinco 
dólares, se você me trouxer um pedaço do jornal que voou 
para o deserto. Suponho que seja o “Pravda”. 
— É difícil, miss. 
— Mas não impossível. Você é o único que pode ganhar 
a recompensa, Butch. Eu sei que você é muito vivo! Vá 
buscar o jornal e não diga nada a ninguém. 
O moleque sorriu mostrando uma dentuça amarela e saiu 
correndo pelo campo aberto, na direção que um grupo de 
policiais que se aproximava. O inspetor Pitzer viu-o passar, 
como um foguete, e franziu o sobrolho. 
— Quem é aquele garoto? — perguntou, à mulher alta e 
magra que vinha a seu lado. 
Grace Meadows sorriu. 
— Um órfão, meu protegido. Ele estava dormindo, 
quando apareceu o ovo. Só eu é que vi a coisa. E repito que 
era impressionante, inspetor! 
— Okay — resmungou o detive. — Mas aconselho-a a 
não exagerar os acontecimentos,quando for entrevistada 
por alguma jornalista. Não diga, por exemplo, que foi 
agredida pelos tripulantes do disco. Nós sabemos que eles 
não a ameaçaram. 
— Mas crestaram a grama com a sua arma atômica! Se 
eu estivesse na frente daquele jato de fogo. Aliás, senti um 
princípio de paralisação! 
Nesse momento, Brigitte foi ao encontro do grupo, 
empunhando a máquina fotográfica. Imediatamente, a 
senhorita Meadows assumiu uma pose teatral e ajeitou o 
penteado. A câmara funcionou duas vezes. 
— “Morning News” — anunciou Brigitte. — Como se 
sente agora, miss Meadows? 
— Bem, obrigada. Mas foi muito impressionante! Eu 
conversei com um habitante de Marte! Ele era verde e tinha 
apenas oitenta centímetros de altura. 
— Nu? 
— Foi uma coisa em que não reparei. Creio que ele 
usava uma farda verde, rente à pele. Evidentemente que 
tinha uma sunga, senão eu não lhe teria dirigido a palavra! 
Sou uma moça solteira e prezo muito a moral! 
— Se a senhorita conversou com ele, conhecia a sua 
língua. 
— Não conheço a língua de ninguém! — protestou a 
solteirona. — Sou uma moça humilde e mal falo a minha 
própria língua! Eles falavam em marciano, conforme tive 
ocasião de dizer ao inspetor Pitzer. 
O detetive acenou. 
— Sim, falavam um idioma estrangeiro. Miss Meadows 
não se lembra de nenhuma palavra. Eram apenas sons 
guturais que... 
Houve um silencio. A senhorita Meadows tinha os olhos 
arregalados pelo temor. 
— Desculpe — gemeu. — Tenho ordens para não dizer 
nada aos jornais! 
— Vovô é uma fera — rugiu o inspetor Pitzer, crescendo 
para Brigitte. — Não publique isso no seu jornal! Você é 
diabólica, miss Montfort! Ou será que está jogando com 
cartas marcadas? 
— Juro que não — sorriu Brigitte. 
E a entrevista continuou, sem que a senhorita Meadows 
contasse mais nada de interessante. 
— Não sei onde se meteu Butch — queixou-se a mulher, 
enquanto servia o café. — Esse moleque ainda acabará se 
perdendo no deserto! 
Às nove horas, o inspetor Pitzer deu por terminadas as 
investigações e anunciou sua decisão de voltar a Los 
Ângeles. Quando já iam subir para bordo, um ponto preto 
surgiu no deserto, banhado de luar, crescendo rapidamente. 
Era o moleque, esfalfado, com a língua de fora. Brigitte 
correu ao encontro dele. 
— Então? 
Junto do helicóptero a quinze metros de distância o 
inspetor Pitzer observava, desconfiado. Mas não podia ouvi-
los. 
— Não encontrei o jornal inteiro — confidenciou Butch. 
— Só a primeira e a última folha. Acho que o resto se 
queimou. Estas páginas, mesmo, tem queimaduras, porque 
estavam perto do lugar onde o ovo desceu. 
Brigitte apanhou as folhas de jornal que ele lhe estendia 
e deu-lhe uma nota de cinco dólares. 
Por fim, também o fotografou, à luz do seu flash 
eletrônico. Quando voltou para bordo do helicóptero, o 
inspetor Pitzer estendeu a mão. 
— Permite-me? 
Ela lhe entregou docilmente as quatro páginas do 
“Morning News”. 
— É o seu jornal, não é? — comentou o detetive. 
— É. Sempre pagamos cinco dólares a cada freguês que 
nos devolver o casco. 
Ele examinou o jornal, cheirou-o e devolveu-o. No 
cabeçalho do “Morning News” que tinha um pedaço 
queimado via-se um carimbo: 
“Aiport Ho” 
E, ao lado, também se via uma anotação a lápis: “32”. 
— Qual é a sua idéia? — quis saber o inspetor Pitzer, 
logo que o helicóptero levantou vôo. 
— Não tenho nenhuma idéia — mentiu Brigitte. — O 
senhor pensa que este jornal veio de Nova Iorque, no ovo? 
Tem a data de ontem. 
— Claro que não penso isso — resmungou o detetive. — 
Mas estava próximo do local onde os marcianos fizeram 
experiência com o lança-chamas. Suponho que é isso o que 
você quer provar. O papel ainda cheira a petróleo. 
— Também notei, Mr. Holmes. Será que os marcianos 
de miss Meadows usaram petróleo gelatinoso no seu lança-
chamas? Nesse caso, eles estão imitando os soldados 
americanos, com as suas bombas de napalm. 
— Não sei — grunhiu o agente do FBI. — É você que 
está dizendo. Oficialmente, continuo sem saber de nada! 
Brigitte olhou para ele com ar de suspeita. 
— O senhor está tão tranqüilo, inspetor, que dá para 
desconfiar... Aposto que descobriu uma prova melhor do 
que a minha. Por isso não me tomou o jornal. 
— Pode ficar com ele — sorriu o detetive. — Pode ficar 
com todos os papéis sujos de Deserto de Mojave. Se os 
anões eram russos e usaram um lança-chamas comum, a 
petróleo gelatinoso, é provável que nós tenhamos melhores 
provas do que uma simples folha de jornal... 
Na verdade, ele tinha recolhido duas provas melhores, 
no local em que descera o ovo-voador: parte da grama 
crestada e uma lata, contendo resíduos de petróleo 
queimado. Eles não queria que os jornais soubessem disso. 
Era muito desagradável confessar que espiões soviéticos 
estavam subindo e descendo impunemente em terras da 
Califórnia. E, o que era mais grave, apenas a 1.800 
quilômetros de Cheyenne Mountain, onde está encerrado o 
cérebro da defesa atômica norte-americana! 
— A propósito, inspetor Pitzer — disse Brigitte, quando 
o helicóptero pousou no heliporto de Los Ângeles. — Li no 
meu jornal que o Circo de Moscou está se exibindo em São 
Francisco. Sempre adorei a troupe de anões daquele circo... 
O senhor também gosta, não é verdade? 
O homem do FBI olhou para ela, de boca aberta, mas 
não disse nada. Começava a ter medo de falar demais. 
 
 
CAPÍTULO TERCEIRO 
Brigitte encontra um aliado 
 
Foi por isso que, na manhã seguinte, ele procurou o 
Airport Hotel de Los Angeles e entrou na suíte 32. Agora, 
ali estava, diante de um homem nu e armada com uma 
Markarov tirando a própria roupa para distraí-lo. 
— Espere! — implorou. — Não atire! Tenho coisas 
ainda mais bonitas para lhe mostrar! 
Ela já estava só de sutiã e calcinhas. 
— Pare com isso! — rugiu o homem alto e musculoso. 
— Você não me convencerá! Encoste-se na parede! 
Ela obedeceu, tiritando de frio. De qualquer maneira, 
conseguira distraí-lo o bastante para não ser fuzilada sem 
julgamento. O outro adiantou-se, nu em pêlo, e ajoelhou-se 
ao lado do compatriota. Depois de um breve exame, 
confirmou a sua morte. 
— Um tiro no coração! Pobre e querido Boris! Você o 
matou, mulher pérfida e cruel! Agora, vou entregá-la à 
polícia! 
— Acha que pode fazer isso, tovarich? 
Ele voltou a pôr-se de pé, apontando-lhe a pistola. 
— Da! Você matou o meu camarada! Há uma lei, neste 
país capitalista, que castiga os assassinos! Onde pôs o 
revólver? 
— Eu matei o seu amigo? Não me faça rir! Foi você 
quem o matou! É você quem está com a arma na mão! 
Dessa vez, foi o homem nu quem pestanejou, confuso. 
Depois: 
— Eu estava no banho! Boris estava na sala! E, agora, 
Boris morreu! E eu encontrei você debruçada sobre ele! Kac 
vashie imia? 
— Meu nome é Brigitte Montfort — respondeu ela, 
sentando-se numa poltrona. — Sou repórter do “Morning 
News”, esse jornal que os senhores recebem todas as 
manhãs. Já leu a edição de hoje? Tem uma notícia que lhe 
interessa. 
Ela enviara sua reportagem, na noite anterior, pelo 
telefone direto de Miky Grogan — e sabia que sua 
entrevista com Butch fora publicada na primeira página. 
Nessa entrevista, aludira vagamente a um misterioso 
Cadillac preto, que o moleque teria visto duas vezes na 
estrada de Barstow. 
— Ah! — gemeu o russo alto e musculoso. — Você é 
uma jornalista? Mas, então, não tinha razões para matar 
Boris! Por quê? Não entendo mais nada! 
— Claro que não matei Boris — gritou a garota, irritada. 
— Pensei que você é que fosse o assassino! Quero, apenas, 
uma entrevista exclusiva, antes de pôr a polícia nos seus 
calcanhares. 
— Somos diplomatas — afirmou o russo alto, 
apanhando uma toalha e envolvendo-a nos quadris — 
Chamo-me Ygurin Nashimov e sou o subsecretário do 
Consulado Soviético Meu camarada, Boris Kashatov, era o 
adido naval. Não somos espiões! E não temos nada a ver 
com o mistério dos discos! 
— Estranho — comentou Brigitte.— Nesse caso, por 
que morreu o seu colega? E como? 
Mais calmo, o homem fez um gesto vago. 
— Não sei! Como? Eu estava tomando banho de 
chuveiro e não escutei nada! Ele ficou na sala e eu fui para 
o banheiro. E, de repente... Como foi que entraram aqui e 
fizeram isso? Você deve saber melhor do que eu! 
Brigitte estreitou os lindos olhos azuis. 
— Hum! Tive a impressão de ouvir passos, ao saltar do 
elevador, mas não vi ninguém. A porta estava fechada a 
chave e... O assassino talvez ainda esteja aqui dentro! 
Os dois olharam, receosamente, na direção da porta do 
quarto. O russo levantou-se sempre empunhando a 
Markarov e foi dar uma espiada dentro da alcova. 
— Não há ninguém — anunciou Ygurin Nashimov, 
regressando à sala. — Não posso compreender uma coisa 
destas! Talvez seja melhor chamar a polícia! De qualquer 
maneira, haverá escândalo. Mas eu não posso ficar com esse 
cadáver aqui dentro! E Boris precisa ser vingado! 
— Certamente, Ygurin. Talvez eu possa ajudá-lo, se 
você for sincero. Sei que você e seu amigo estão envolvidos 
no caso dos discos. Você não leu o meu jornal? 
O russo olhou, desconfiado, para a mesinha da sala. Em 
cima dela, via-se a edição especial do “Morning News”, 
recém-chegada de Nova Iorque. Brigitte abriu o jornal e 
mostrou-lhe a reportagem com fotografias da primeira 
página: 
“O MISTÉRIO DOS DISCOS” 
Por Brigitte Montfort, nossa enviada especial à 
Califórnia. 
O inspetor Alan Pitzer não pode falar sobre os discos-
voadores — Tudo é especulação, diz o famoso agente 
secreto — Entrevista exclusiva com uma testemunha que 
viu o ovo antes da galinha — Um Cadillac misterioso fez o 
serviço de rastreamento — O FBI vai ao Circo de Moscou. 
O russo acenou. 
— Sim, isso eu compreendo. Você é Brigitte Montfort, 
repórter do “Morning News”. E pensa que sabe muito! 
— Sei o bastante para complicá-lo, Ygurin. Se você ler 
minha reportagem, também compreenderá que estou na 
pista certa. Aquele Cadillac preto, com dois homens 
morenos, era o carro do Consulado Soviético! 
— Não preciso perguntar — queixou-se o soviético. — 
Você encontrou o jornal que Boris perdeu no deserto! Esse 
jornal tinha o nome deste hotel carimbado na margem. — 
Soltou um suspiro. — Você tem razão, garota. Mas de nada 
lhe servirá denunciar-nos à contra-espionagem americana. 
A polícia não encontrará provas de nossas atividades 
secretas. Não somos espiões oficiais. Somos diplomatas e 
temos imunidades. Meu camarada achava que um disco 
talvez descesse entre Barstow e a fronteira do Arizona. 
— Achava? Ou tinha certeza disso? 
O russo sacudiu a cabeça, impaciente. 
— Niet! Você pensa que esses discos são fabricados pela 
União Soviética? Pensa que nós estamos ligados a esses 
malditos anões verdes? 
— Será difícil você me convencer do contrário. 
— Pois não estamos — afirmou Ygurin, convictamente. 
— Vou-lhe mostrar o meu passaporte, diévushka. Por ele, 
você verá que nós chegamos aos Estados Unidos apenas há 
cinco dias, logo depois da descida daquela caçarola em Las 
Vegas. Mas nós não estávamos aqui, quando desceram os 
discos anteriores; estávamos em Moscou! 
— Agentes especializados em UFOS? — perguntou 
Brigitte, com ar de dúvida. 
O russo depositou a Markarov em cima do “Morning 
News”, na mesinha. 
— Mais ou menos. Somos técnicos em cinegética e 
vigarice espacial. Eu lhe explico. Quando começaram a 
surgir esses discos-voadores na Califórnia, o Kremlin 
desconfiou de um ardil dos americanos, tendente a deixar a 
União Soviética em má posição perante a opinião pública 
mundial. Os imperialistas americanos podiam estar 
fabricando os discos para pôr a culpa nos socialistas 
soviéticos! O fato é que os discos não foram feitos por nós! 
— Não mesmo? E os anões verdes, falando russo? 
— Ninguém pode provar que eles são russos! 
— A senhorita Meadows ouviu algumas palavras russas, 
ditas pelos monstrengos. 
— Não entendo! — gemeu o diplomata. — Nós 
pertencemos ao Centro de Pesquisas sobre falsos UFOS, um 
departamento autônomo da KGB, e fomos encarregados, 
pelo nosso governo, de decifrar o mistério dos discos, 
desmascarando aqueles que pretendem intrigar a União 
Soviética. Viemos para a Califórnia, como diplomatas 
creditados junto ao consulado, e estudamos o caso. A 
constância no aparecimento dos UFOS nos intrigou. De 
cinco em cinco dias, um aparelho misterioso descia ao 
longo da Califórnia, sempre por volta da meia-noite. Então, 
Boris traçou um plano. Na opinião dele, um novo UFO 
deveria descer abaixo de Las Vegas, na noite do dia 20, 
deste mês. Fomos até à casa da senhorita Meadows, no 
Cadillac do consulado, e observamos as vizinhanças. Foi aí 
que Boris perdeu o jornal. Mas não tivemos sorte. Quando o 
ovo desceu, perto da casa, nós estávamos vigiando a 
fronteira do Arizona. 
O lápis de Brigitte voava sobre o caderninho de 
apontamentos. 
— E vocês não viram nada? 
— Nada! De manhã, voltamos pela estrada de Barstow e 
soubemos, então, que o UFO ali aparecera. A teoria de 
Boris estava certa. Isto é um truque dos americanos para 
complicar a União Soviética! É uma provocação 
imperialista! Nós não fabricamos esses UFOS! Temos 
muito respeito pelo povo americano e seríamos incapazes 
de lançar o, pânico entre a população civil! 
— Pode ser que vocês não tenham fabricado os discos 
— disse, depois. — Mas, os Estados Unidos também não o 
fabricaram! 
— Pois sim que não! Você acredita no Pentágono? 
— Acredito nas minhas observações pessoais. Não são 
os Estados Unidos que estão provocando esta onda de 
pânico! Ora, se não foram vocês, nem eles... então, quem 
foi? 
— Sei lá! — grunhiu o russo, perplexo. — Se não foram 
vocês, nem nós... esses discos vêm de Marte! Sim, eles vêm 
de outro planeta! 
— Então, por que mataram Boris? O tiro que ele recebeu 
no peito partiu de uma pistola terrena. Eu diria que foi uma 
Colt 44. 
— Não entendo! Por que fizeram isso? 
— Porque seu amigo sabia demais! A teoria de Boris 
estava certa, conforme você disse. E, agora, nós também 
sabemos demais! E o Airport Hotel não é um lugar muito 
seguro para quem sabe tanto! 
Mal acabou de falar, notou que a expressão do rosto de 
seu interlocutor se modificava. Ygurin estava olhando para 
a porta da suíte, por cima de seu ombro, com os olhos 
negros muito arregalados. 
— Tishiná! Aí vem o... 
Inesperadamente, as luzes da sala se apagaram. Alguém 
tinha torcido o comutador, O russo saltou, como uma mola, 
e agarrou na Markarov. No mesmo instante soou uma 
expressão abafada e um clarão amarelo iluminou a sala. 
“Plof!” 
Um tiro de pistola, provida de silenciador. Alguém 
estava atirando, junto da porta do corredor, que fechara 
depois de ter entrado na suíte. Ygurin Nashimov tombou 
por cima da mesinha, agarrado à Markarov, e foi ao chão. 
Brigitte também saltou, quase ao mesmo tempo, e 
escondeu-se atrás da poltrona. 
“Plof!” 
Outro tiro seco, semelhante ao espocar de uma garrafa 
de champanha. O russo não se moveu mais. 
“Plof!” 
O atirador desconhecido estava alçando a bela 
repórter! Uma nova bala roçou o ombro da garota e furou o 
assoalho. Ela rastejou, por trás da mesinha caída, e estendeu 
a mão, apalpando o braço inerte de Ygurin. 
— Estou ferido — gemeu o russo. — Defenda-se, 
diévushka! 
E dobrou o braço, com extrema dificuldade, entregando-
lhe a Markarov. 
“Plof!” 
Brigitte sentiu a bala zunir junto ao seu ouvido. A 
escuridão favorecia o pistoleiro. A bela jornalista rodopiou, 
arrastando a mesa virada, e empunhou a Markarov com as 
duas mãos, disparando na direção da porta. 
Dessa vez, a detonação foi ensurdecedora. Um espelho 
se quebrou, com um fragor impressionante. O pistoleiro 
misterioso escapara, com medo de levar a pior. 
Brigitte ergueu-se, dominando o tremor das pernas e foi 
acender a luz. Agora, os dois falsos diplomatas russos 
estavam mortos, um ao lado do outro. E a bala, que 
penetrara nas costas de YgurinNashimov, era idêntica à que 
furara o coração de seu camarada Boris Kashatov. Aqueles 
dois não podiam mais falar. E ela, Brigitte Montfort, ainda 
não sabia o que dizer! 
Mas, se a teoria de Boris estava certa, a de Brigitte 
também estava. Ela pensara o mesmo, ao estudar o mistério 
dos discos. Então, Brigitte começou a pensar na China de 
Mao-Tse-tung... Seria algum truque de Lin-Piao? 
Não teve tempo para novas conjeturas. Súbito, ouviu-se 
um vozerio confuso, no corredor, e a porta foi aberta 
violentamente. Um grupo de pessoas excitadas penetrou na 
sala, liderado por um homem baixo e gordo, de óculos 
escuros. 
— Que está acontecendo aqui? — rugiu ele. Brigitte 
agarrou na máquina fotográfica e preparou-se para correr. 
Tinha que escapar; custasse o que custasse! 
Mas o caminho da fuga estava bloqueado pelos outros 
hóspedes, que palravam excitados. 
— Creio que houve um acidente — balbuciou Brigitte, 
enfiando a correia da câmara fotográfica no pescoço. — 
Ouvi tiros e, quando entrei aqui, encontrei dois homens 
mortos! Receio que um tenha atirado no outro! 
Todos se adiantaram, soltando gritinhos, cercaram os 
corpos dos dois russos. A toalha de Ygurin tinha caído e a 
aparência dele não era muito elegante. Brigitte escorregou 
pelo meio dos mirones, mas o homem gordo agarrou-a 
brutalmente pelo braço, impedindo-a de alcançar a porta. 
— Um momento, miss! Onde pensa que vai? 
— Estou à procura de um bom ângulo para trabalhar... 
Dito isto, sorriu polidamente, ergueu a câmara e bateu 
duas chapas do local, abrangendo os cadáveres. 
— Não se mexa! Você não me tapeia! Ouvimos os tiros, 
neste quarto! E você estava aqui, em companhia das 
vítimas! Você terá que se explicar direitinho! Eu... 
Brigitte encarou-o, pestanejando graciosamente. 
— Oh, perdão! O senhor é o detetive do hotel? 
— Ya! Sou o sargento Kildkind, da polícia estadual! Isto 
é, sou o ex-sargento Kildkind. Atualmente, exerço as 
funções de detetive deste hotel! — Caiu em si e deu um 
berro: — Você está presa! E eu não tenho satisfações a dar-
lhe! 
— Seja mais polido, sargento! Posso lhe dizer duas 
palavras em particular? 
— Okay! Será melhor que você confesse tudo! Venha 
até o corredor. 
Saíram e o sargento fechou a porta. Não havia ninguém 
no corredor do terceiro andar. Todos os hóspedes tinham 
entrado na suíte 32. 
— Qual é o seu problema? — inquiriu o gordo, com 
expressão de simpatia. 
Brigitte compreendeu que podia ter nele um aliado. 
— Sou repórter do “Morning News”. Esse mesmo jornal 
que o Airport Hotel distribui pelos quartos dos hóspedes. 
Não tenho nada a ver com esse duplo assassínio. Eu 
também fui agredida por um pistoleiro misterioso. Escapei 
por um triz. Há um assassino à solta nesta casa, sargento! 
O gordo tinha os olhos velados pela dúvida. Não sabia 
como agir. 
— Tolices! — rosnou. — Se houvesse um assassino 
aqui, eu lhe daria voz de prisão! Há um pouco de exagero 
nisso, menina. Mas talvez você não tenha matado os dois 
diplomatas. Estou propenso a acreditar na sua inocência. 
Seus olhos azuis e cândidos não mentem. Mas não posso 
deixá-la em liberdade. Você terá que se explicar com a 
polícia e, talvez, com o FBI! Este caso está me cheirando a 
intriga internacional! 
— Também me cheira, sargento. Mas já vi que o senhor 
é um homem digno e um bom chefe de família. Que diria, 
se sua filha se visse envolvida num assassinato político? 
Olhe para mim como se estivesse contemplando sua filha! 
— Mildred nunca se veria envolvida nesta espécie de 
encrencas — rosnou o policial. — Mas você terá que se 
explicar, contando tudo o que sabe! E você deve saber de 
muita coisa! 
— Engana-se, sargento. Não sei de nada. Vim 
entrevistar esses diplomatas, a serviço de meu jornal, e eles 
foram liquidados diante das minhas vistas! E eu quase ia 
também para o bebeléu! Estou nervosíssima, sargento! Veja 
meus seios, como palpitam de emoção! Acredite em mim, 
por favor! Sou inocente! E não me convém ser interrogada 
pela polícia, antes de terminar as minhas reportagens em 
Los Angeles. Entende? Não me convém cair nas mãos do 
FBI! 
— Ah! — grunhiu o gordo, encarando-a suspicazmente. 
— Então, você sabe de alguma coisa e quer guardar 
segredo, hem? 
— Será melhor que eu não seja interrogada, por 
enquanto. Dou-lhe a minha palavra de honra de que não 
matei os homens! 
— E também não sabe quem os matou? 
— Não, também não sei. 
— Mas vai saber, não é? 
— Talvez. Deve ser um assunto palpitante. E eu sou 
jornalista. 
O gordo acenou, refletindo profundamente. 
— É política, com certeza... Coisa dos russos! 
— Com certeza. Mas ainda não entrei no miolo da 
questão. Se o senhor me deixar em liberdade, nós dois 
podemos agir de acordo e desmascarar o culpado. Que lhe 
parece? 
— Sim, talvez. Eu gostaria de desmascarar o culpado, 
para receber as honras da descoberta! 
— O sargento Kildkind parecia divertido. — Afinal, 
mataram dois homens no Airport e eu, como detetive da 
casa... Ya, eu gostaria de ser o herói do romance! 
— O senhor receberá essa honra, sargento! Dou-lhe a 
minha palavra! Posso ir? 
— Ainda não! Você deve saber de muita coisa, garota, e 
representa perigo para a segurança nacional! Esses dois 
russos eram espiões, com certeza. Ontem, saíram no 
Cadillac do consulado e só voltaram hoje de manhã. O FBI 
estava de olho neles. Você também anda atrás dos discos, 
não é? 
Brigitte suspirou. 
— Vejo que o senhor é mais esperto do que eu pensava. 
Sim, sargento. Minha reportagem prende-se aos discos que 
têm aparecido na Califórnia. Mas ainda não sei o que pensar 
a respeito. 
— Não sabe, mesmo? Eu tenho uma teoria. São os 
russos que usam esses discos, para amedrontar a América! 
Mas eles não conseguirão! Somos um povo unido, apesar de 
nossa mistura de raças! O que nos estraga são os negros e os 
judeus, mas ainda haveremos de ficar livres deles! O 
sargento baixou a voz. — Esses UFOS estão ameaçando a 
base ultra-secreta de Vanderberg! 
— A base de quê? 
— Vanderberg, a base dos satélites militares, lançados, 
num cinturão ao redor do mundo! Eles sabem, os russos! A 
base fica aqui e os patifes já devem tê-la localizado! Por 
isso apareceram os discos. Não é uma boa teoria? 
— Excelente. Vou pô-la no meu jornal. E direi que foi o 
senhor quem a inspirou. “O sargento Kildkind teme por 
Vanderberg!” 
— Meu primeiro nome é Karl. Não quer tirar o meu 
retrato? 
Brigitte voltou a suspirar, impaciente. 
— Boa idéia. Não se mexa, por favor. E não faça cara de 
idiota. 
A máquina fotográfica funcionou e o retrato do sargento 
saiu sorridente. Brigitte escreveu alumas palavras no 
caderninho e voltou a encarar o seu novo aliado. 
— Pronto. Posso ir? Deixe-me escapar, sargento, e o 
senhor ficará famoso! Nós dois, em segredo, podemos 
vencer os russos! Posso ir agora? Ainda tenho que escrever 
um artigo e levar o material ao aeroporto! 
O gordo olhou-a pensativamente, lutando contra si 
mesmo. Depois, decidiu-se. Sua mão gigantesca fez um 
afago na cintura da repórter. 
— Okay, Brigitte Montfort! Você é uma garota bonita e 
esperta. Vou confiar em você. Vá-se embora, mas não deixe 
de ficar em contato comigo! Vou-lhe arranjar um quarto 
secreto, no porão deste hotel, onde você poderá estabelecer 
o seu quartel-general. Morou? Nós dois, juntos, iremos 
longe, pedaço de mau caminho! 
E fez menção de beijá-la entre os seios. Brigitte escapou 
de suas garras e partiu, célere, pelo corredor. Só depois que 
estava na rua é que refletiu sobre as últimas palavras do 
sargento Kildkind, e sentiu um arrepio na espinha. Como é 
que o gordo sabia que ela era Brigitte Montfort? 
 
 
 
CAPÍTULO QUARTO 
Brigitte também tem um plano 
 
Nessa tarde, Miky Grogan recebeu, pelo malote da 
TWA, uma das mais sensacionais reportagens do “Morning 
News”. Nela, Brigitte completava algumas reticências de 
seu artigo anterior e prometia uma grande surpresa para osleitores, no final da série de reportagens. E ela, Brigitte 
Montfort, enviada especial do “Morning News” a Los 
Ângeles, prometia esclarecer tudo antes do fim do mês. Para 
começar, já tinha uma pista. 
Era verdade. A extraordinária repórter já tinha uma 
pista, mas precisava de confirmação. Por isso, resolveu 
aceitar o convite do sargento Kildkind, estabelecendo o seu 
quartel-general num quarto modesto do Airport Hotel, por 
baixo das escadas que iam dar na lavanderia. 
— O essencial — disse ela, ao seu novo aliado — é que 
ninguém saiba onde me encontro. Não conheço a identidade 
do homem que matou os dois agentes soviéticos e não me 
sinto segura em nenhuma parte da cidade. Você garante que 
aqui não entra ninguém? 
— Garanto — afirmou o sargento, lambendo os beiços 
lascivos. — Aqui ninguém a incomodará, queridinha. E 
logo mais, a noite, quando fecharem a lavanderia, o silêncio 
e a solidão serão absolutos. 
— Diga-me uma coisa, sargento. Como foi que você 
descobriu que eu era Brigitte Montfort? Eu não lhe disse o 
meu nome! 
O gordo sorriu. 
— Sou o detetive do hotel, não sou? O rapaz da 
recepção me falou em você. O resto, não foi difícil de 
deduzir. 
Eram, então, seis horas da tarde. Brigitte jantou no 
quarto enquanto o sargento Kildkind olhava com interesse 
para as suas anotações. Por fim, às sete e meia, o último 
funcionário da lavanderia foi-se embora, fechando a porta 
do corredor. Brigitte ouviu os seus passos leves, subindo as 
escadas. Daí a pouco, outros passos desceram a mesma 
escada e a maçaneta da porta girou vagarosamente. Mas a 
porta estava fechada a chave. 
— Quem é? — perguntou Brigitte, correndo a vestir um 
peignoir. 
Uma chave girou na fechadura e a porta se abriu. Era 
apenas o sargento Kildkind. 
— Puxa! — exclamou Brigitte, sorrindo. — Pensei que 
fosse o meu pistoleiro! Mas ele deve ser mais magro do que 
você... 
O sargento não achou graça. Parecia nervoso. 
— Ele pode estar por aqui, filhinha! Há um novo 
hóspede no hotel, com cara de carniceiro! Você já olhou na 
lavanderia? 
— Não. Você acha que há perigo? 
— Venha comigo. Você dirá se há ou não. Alguém pode 
entrar pelo beco. Venha ver uma coisa. 
Ele tinha fechado a porta do quarto, ao entrar; quando se 
dirigiam para essa porta de mãos dadas alguém bateu 
violentamente. O sargento Kildkind empalideceu, 
desabotoou o casaco e levou a mão ao coldre da pistola. 
— Não — sussurrou Brigitte. — Espere! 
Escondeu o gordo atrás de uma cortina, que servia de 
porta para o armário, e foi abrir. No umbral da porta, estava 
o inspetor Pitzer, ladeado por dois outros agentes do FBI. 
— Alô, ,niss Montfort! Permite-me? 
— Alô, titio! Como foi que me descobriu? 
— Estava fugindo de mim? 
— Não especialmente do senhor. Entre. E não repare na 
bagunça. 
O inspetor entrou, olfateando o ar, e postou-se na frente 
da cortina. Depois, fez um sinal aos seus agentes. Os dois 
federais cercaram a cortina. 
— Okay! — disse o inspetor, em voz alta. — Pode sair 
daí! E conserve as mãos à vista! 
O sargento Kildkind saiu, com cara de cachorro batido. 
Ao reconhecê-lo, Pitzer deu uma risada. 
— É você, sargento? Por que não disse logo? Eu não 
podia adivinhar! 
— Já conhece o meu amigo Kildkind? — disse Brigitte, 
sorrindo. — Ele também tem uma teoria sobre os discos. 
— Vim buscar você por causa disso — replicou Pitzer 
com voz séria. — Andei à sua procura pela cidade toda e 
não a encontrei. Você tinha que estar aqui. 
— Obrigada pelo interesse. Gostou da sua entrevista? 
— Muito. Você está presa! 
— Como disse? 
— Digo que você está presa, incursa num dos artigos da 
Lei de Segurança Nacional! Você não ouviu os meus 
conselhos e fez sensacionalismo em torno do episódio do 
ovo de Barstow. E você vai para o xadrez! 
— Eu? 
O sargento Kildkind tentou interferir. 
— Espere, lá, inspetor! E a liberdade de imprensa? 
— É um crime espalhar boatos tendenciosos — replicou 
o federal, secamente. — E também é crime atribuir 
declarações capciosas a funcionários do governo! Não se 
meta, sargento, se não quiser ser processado também! 
O sargento calou-se, intimidado. 
— Sua reportagem talvez não saia amanhã — rosnou o 
inspetor. — Vocês estão abusando! E este assunto dos 
UFOS não é brincadeira! Falta pouco para que vocês 
estabeleçam o pânico no país, atribuindo aos russos a 
manufatura dos discos! 
— Eu não escrevi isso — protestou Brigitte. 
— Ainda não sei se foram os russos ou os chineses. 
Calou-se. O homem do FBI tinha-se curvado para o 
mapa da Califórnia, em cima da mesa, e examinava os 
riscos que ela traçara, entre as coordenadas. 
— Que é isto? 
— Psicanálise — respondeu Brigitte. — Sempre faço 
rabiscos nos países, quando estou pensando noutra coisa. 
— Neste caso, parece que você estava pensando nisto 
mesmo! — ele encarou a moça, com ar severo. — Você 
sabe de mais alguma coisa, além daquilo que publicou no 
seu jornal! Não confio em você, miss Montfort! Trata-se da 
segurança nacional. Não podemos facilitar. Como foi que 
encontrou a pista dos dois falsos diplomatas russos? 
— Pelo jornal queimado, Lembra-se? Eles estiveram na 
estrada de Barstow, atrás do UFO. Mas não chegaram a ver 
nada. 
— Contudo, descobrimos que você ficou trancada, com 
eles, na suíte 32. O que foi que eles lhe disseram, antes de 
serem assassinados? 
— Não seja ciumento, inspetor! Eles não me disseram 
nada. Morreram na minha frente, durante a entrevista. 
Pergunte ao sargento se não é verdade. 
O gordo confirmou, com voz sumida. Estava alarmado 
com a presença dos federais. 
— Não sou cúmplice dela — gemeu depois, sacudindo a 
cabeça. — Emprestei-lhe este quartinho porque ela estava 
com medo de ser apanhada pelo homem que matou os 
russos. Isso foi o que ela disse. Eu apenas quis ser gentil. E 
ia dar-lhe voz de prisão a qualquer momento. 
— Claro — ironizou o inspetor. — Você sempre foi 
muito gentil, Kildkind. Conhecemos a sua ficha. Miss 
Montfort deve se dar por muito feliz em ter escapado das 
suas garras. Já tivemos duas queixas contra você, de duas 
chinesinhas da lavanderia. Você é um tarado, sargento, e 
por isso foi expulso da corporação! Quando ainda pertencia 
à Policia Estadual, atacou uma menina de onze anos, no 
Griffith Park! Aposto que você também queria enfiar a 
cabeça de miss Montfort na máquina de lavar e, enquanto 
ela se debatia... 
— Nunca! — gritou o gordo, lívido de pavor. — Nunca 
pensei nisso! Aquelas chinesinhas eram duas débeis 
mentais! Eu jamais iria pegar à força duas garotas sujas 
como aquelas! 
Brigitte sorriu. Começava, a conhecer melhor o sargento 
Kildkind... 
— Não, inspetor — disse ela, despindo o peignoir. — O 
sargento não me fez nenhuma proposta indecorosa. 
O gordo engoliu em seco e não disse nada. A figura de 
Brigitte, em sutiã e calcinhas, fazia-lhe mal aos nervos. 
— Deixe-o em paz, inspetor — continuou a linda 
repórter, vestindo a saia de xadrez. — Eu não farei queixa 
contra ele. E ele não foi meu cúmplice, realmente. Eu é que 
lhe pedi para me arranjar um quarto sossegado no hotel. 
— Okay — decidiu o federal. — Por esta vez, passa. 
Mas tome cuidado, sargento! Nós temos a sua ficha. Nunca 
mais se meta em encrencas. 
— Vamos embora — rosnou o inspetor Pitzer, depois de 
dar uma rápida busca no quarto. — Se quiser, pode levar a 
sua câmara. Assim, terá com o que se divertir, a caminho do 
xadrez... 
A linda jornalista pôs a câmara a tiracolo e sorriu para o 
sorumbático sargento Kildkind. 
— Ânimo, colega! Não se deixe intimidar! Eu confio em 
você. Você não ia me levar para a lavanderia, não é mesmo? 
Tome conta dos meus documentos e não deixe ninguém 
mexer aqui. Eu voltarei, sargento. 
Os dois federais agarraram-na gentilmente pelos braços 
e levaram-na para fora. O inspetor Pitzer foi atrás deles. E o 
sargento Kildkind, frustrado em seus intentos, ficou de pé, 
no meio do quarto, olhando com raiva para o mapa daCalifórnia. 
Havia um Packard Clipper, de modelo antigo, no 
estacionamento do hotel. O inspetor e Brigitte sentaram-se, 
sozinhos, no banco traseiro. Os outros dois federais 
cumprimentaram a ficaram na beira da calçada. O carro 
zarpou, dirigido por um chofer de óculos escuros. 
— Agora, podemos conversar à vontade —disse o 
detetive, sorrindo. 
— Para onde vamos? — perguntou Brigitte, 
— O chofer sabe o caminho. Vamos descer por 
Inglewood, até Torrance, dar a volta na Harbor Freeway e 
voltar pelo Wates. Um passeio muito agradável. Brigitte. 
Vamos falar no Circo de Moscou? 
Ela semicerrou os olhos, cada vez mais desconfiada. 
Tinha as pernas bem fechadas e a saia puxada até os 
joelhos. 
— O senhor vai se vingar de mim? 
— Até que não — disse o detetive, encarando-a. — 
Você estava certa. 
— Não diga! Sobre o Circo de Moscou? 
— Sim. Se tentou me tirar da jogada com um blefe, 
enganou-se nas cartas. Você tinha uma seqüência! Estive no 
circo, em São Francisco, e descobri que havia um anão 
misterioso, chamado Albert. Ele sumiu logo que a troupe 
chegou aos Estados Unidos. Mas não era russo. 
— Também não devia ser marciano... Ou era? 
— Não, não era marciano. Era austríaco. Desapareceu, 
no mês passado, antes de começarem a aparecer os UFOS. 
E foi visto em Los Angeles, no princípio deste mês. Parece 
que andou rondando o Airport Hotel... 
— Que coincidência! Isso é novidade, para mim. 
— Você não podia saber tudo. Agradeça-lhe a sugestão, 
Brigitte. Também lhe agradeço a reportagem sobre os 
discos e a lição que me deu. Fui um imbecil, não 
“apertando” aquele garoto! 
— Butch? Coitado! Era tão insignificante... 
— Mas foi ele quem lhe deu a “dica”. As declarações do 
moleque valiam mais do que as da solteirona. Você nos 
passou para trás, Brigitte. 
— Por isso estou presa, não é? 
— Que é que você acha? 
— Ainda não sei o que pensar. O senhor é muito 
misterioso, inspetor Pitzer! Por que não vai diretamente ao 
ponto? 
— Estou chegando lá. Telefonei, ainda há pouco, para 
Washington. E tenho uma proposta a fazer-lhe. 
— Uma proposta? — Brigitte arregalou os lindos olhos 
azuis. — Do FBI? 
— Exato. Assunto confidencial. Você pode escolher o 
seu destino, Brigitte. Ou a cadeia, ou... 
— Ou?... 
— Recebi ordens para convidá-la a entrar para o FBI. 
— Repita isso; por favor. 
— Recebi ordens para lhe propor o seu ingresso nos 
quadros do FBI. Você pode aceitar ou recusar. Estamos 
numa democracia. A recusa implicará na sua prisão, por 
medida de segurança nacional. 
— Isso é chantagem! 
— Tome-o como entender. Não podemos facilitar, 
permitindo que você desmoralize o nosso serviço secreto, E 
você, agora é um elemento precioso, para o esclarecimento 
do mistério dos discos. Recebi ordens para... 
— Não — cortou Brigitte, dilatando as narinas. — O 
senhor não recebeu ordens; o senhor deu essas ordens! É o 
senhor que quer me neutralizar, dando-me um emprego 
público, para que eu fique quieta e calada! Mas sabe o que 
eu penso da sua proposta? Pode pegar no seu emprego e... 
— Não seja malcriada! Quanto é que você ganha no 
“Morning News”? 
— Uma miséria. Mas sou jornalista e jamais trairei o 
meu chefe! Sou leal a quem me paga! Nem que vocês me 
oferecessem mil dólares por mês... 
— É essa, aproximadamente, a quantia que estou 
autorizado à oferecer-lhe. Duzentos dólares por semana, 
mais as despesas extra. E você não precisará deixar o 
“Morning News”. 
— Não entendo — gemeu Brigitte, piscando. — Eu não 
precisarei pedir demissão? Não trairei a confiança de Miky? 
— Não. Miky Grogan não precisará saber que você 
trabalha para nós. Sua função de repórter não atrapalhará 
suas missões especiais. Pelo contrário. Como jornalista, 
você terá maiores facilidades para se locomover, a serviço 
do FBI. Pense bem, Brigitte! Não quero que me dê uma 
resposta precipitada. 
Caiu outro silêncio no carro. Iam passando em frente ao 
sistema espacial da USAF, junto à Aerospace Corporation. 
Brigitte olhou para fora, procurando pôr em ordem os 
pensamentos. Nunca esperara receber uma proposta 
daquelas, de maneira tão inesperada! Voltou-se para o 
inspetor Pitzer, retorcendo as mãos. 
— Se eu aceitasse, Miky teria que saber. Não escondo 
nada dele. 
— Só ele e eu saberíamos. Precisamos muita discrição, 
no serviço secreto. A sua admissão no FBI será uma espécie 
de curso vestibular para o ingresso na CIA. Depois que uma 
pessoa se mete no serviço secreto, só sai para morrer ou 
fugir para a Suíça. Pense bem e responda. Aceita? 
Brigitte tinha vontade de rir e chorar. Estava 
nervosíssima. A responsabilidade era muito grande. Pensou 
no futuro que a esperava, como espiã, contra-espiã, ou fosse 
lá o que fosse. Nunca sonhara em ser outra coisa senão 
jornalista. Mas a idéia de trabalhar para o governo, 
defendendo a democracia numa profissão tão cheia de 
emoções, a tentava. Parecia-lhe ouvir a voz insinuante de 
uma serpente, comparando-a a Mata Hari e a James Bond. 
E, depois, havia o fator cívico. Ela já considerava os 
Estados Unidos como sua pátria. E, se tivesse a cooperação 
do FBI no caso dos discos-voadores, teria maiores chances 
de chegar viva ao final das investigações. Sobretudo, o que 
a encantava era trabalhar com um homem tão simpático 
como o inspetor Charles Alan Pitzer. 
— Então? — perguntou este, impaciente. — Já se 
passaram os dois minutos. 
— Aceito — disse Brigitte, com voz rouca. 
— Duzentos dólares por semana, mais as despesas extra 
em champanha e perfumes franceses. E um novo 
apartamento, de luxo, na Quinta Avenida. Em troca, eu 
ajudarei o FBI, com minhas reportagens no “Morning 
News”. Vocês terão sempre uma cópia. 
— Oh, não! — exclamou o inspetor, sério. — Queremos 
a primazia. Você só publicará aquilo que for do nosso 
interesse. A partir deste momento, miss Montfort, você é 
minha funcionária e só recebe ordens minhas! Para 
começar, dê-me informes pormenorizado sobre os seus 
planos, na caça aos UFOS! Você nunca mais me apanhará 
desprevenido! 
— Nada feito — retrucou a garota, afundando no 
assento. — Se vocês querem me usar, apenas como um 
dente da engrenagem, prefiro os meus cinqüenta dólares 
semanais! Quero liberdade para agir, inspetor. Só 
trabalharei para o FBI com autonomia. Posso receber suas 
ordens e reportar-lhe as informações que julgar útil, mas os 
senhores não entrariam nos escaninhos do meu cérebro! 
Não sou um computador eletrônico! Ou liberdade de ação, 
ou nada feito! 
— Mas as normas do FBI... 
— Pense bem! O senhor tem dois minutos para decidir! 
Caiu um novo silêncio no carro. O homem do FBI 
mordia nervosamente o lábio inferior. 
— Okay, menina. Autonomia. Mas ponha-me sempre a 
par de suas andanças e seus palpites. 
Brigitte empertigou-se e apertou-lhe a mão, com energia. 
Depois, começou a falar. Mas disse apenas aquilo que lhe 
convinha, sem aludir ao seu plano para desmascarar os 
anões dos UFOS. O inspetor Pitzer ouviu tudo calado, 
tamborilando com os dedos no encosto do banco. Afinal, 
perguntou: 
— Mas os russos falaram, não? 
— Só um deles. Ygurin Nasimov. Foi morto por algum 
agente dos UFOS, é claro. Os homens que manejam os 
discos querem que as autoridades pensem que se trata de 
uma ameaça soviética. Ygurin e Boris eram técnicos em 
chantagem espacial e foram mortos porque iam provar que a 
Rússia não tinha nada a ver com os UFOS. O senhor 
entende alguma coisa, chefe? 
— Não. Você já pensou na China Popular? 
— Já. Mas tenho uma idéia melhor. De qualquer 
maneira, em primeiro lugar temos que agarrar um UFO. Ou, 
pelo menos, fotografá-lo. 
— Meio difícil, você não acha? 
— Nem tanto — respondeu a bela repórter, sorrindo 
maliciosamente. — Agora, sou uma agente do FBI, com 
privilégios federais. Tenho um plano, sim senhor, mas ainda 
não posso revelar os seus detalhes. Está tudo aqui dentro, 
num escaninho do meu cérebro. 
— Cuidado — advertiu o inspetor Pitzer, encarando-a.

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