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Autoras: Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Profa. Claudia Maria Martins Colaboradores: Prof. Adilson Rodrigues Camacho Elementos de Climatologia; Domínios e Paisagens Vegetais Professoras conteudistas: Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez/ Claudia Maria Martins Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Cursou bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). É pós-graduada em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas (Labjor/Unicamp). Além disso, é mestranda em Educação e cursou as disciplinas Qualidade de Vida em Sociedades Complexas, Sustentabilidade e Políticas Públicas, Desenvolvimento, Meio Ambiente e Mudanças Ambientais Globais em nível de pós-graduação stricto sensu no Nepam/Unicamp como aluna especial do programa de doutorado. É autora de material didático do Ensino Médio e professora de Geografia do curso pré-vestibular e do Ensino Médio do Sistema de Ensino Objetivo. Escreveu o livro Tiwanaku: um olhar sobre os Andes, editado pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP como proposta de mestrado. Atualmente, realiza trabalho de assessoria de coordenação do Ensino Médio no Departamento de Programação Geral (DPG) do Colégio Objetivo em São Paulo e em outros estados do Brasil. Participa de aulas online na TV Web Objetivo e faz comentários sobre exames vestibulares e Enem, além de ministrar encontros pedagógicos para professores do Ensino Médio do Sistema Objetivo de Ensino. Coordena também o curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade de ensino a distância da Universidade Paulista (UNIP). Claudia Maria Martins É doutoranda em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, licenciada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá, bacharel e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Realizou estágio de iniciação científica no Laboratório de Planejamento Urbano e Territorial da Geografia da USP. Trabalhou como geógrafa nas Centrais Elétricas de São Paulo e na Fundação de Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP, ocupando-se de questões ambientais e de políticas públicas de saneamento, recursos hídricos e educação ambiental. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R173e Ramirez, Ivete Maria Soares Ramirez. Elementos de climatologia; domínios e paisagens vegetais. / Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez, Claudia Maria Martins. São Paulo: Editora Sol, 2020. 148 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Climatologia. 2. Paisagens vegetais. 3. Efeitos climatológicos especiais. I. Martins, Claudia Maria. II. Título. CDU 551 U504.95 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Amanda Casale Sumário Elementos de Climatologia; Domínios e Paisagens Vegetais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 A CLIMATOLOGIA ............................................................................................................................................. 13 1.1 A atmosfera terrestre .......................................................................................................................... 16 1.2 Estações meteorológicas e instrumentos ................................................................................... 19 1.2.1 Estações meteorológicas ...................................................................................................................... 19 1.2.2 Instrumentos ............................................................................................................................................ 20 2 CLIMA E TEMPO CLIMÁTICO........................................................................................................................ 21 2.1 Principais elementos do clima ........................................................................................................ 22 2.1.1 Radiação solar e insolação .................................................................................................................. 22 2.1.2 Temperatura .............................................................................................................................................. 25 2.1.3 Umidade do ar ......................................................................................................................................... 27 2.1.4 Pressão atmosférica ............................................................................................................................... 28 2.1.5 Vento ............................................................................................................................................................ 29 2.1.6 Nebulosidade ............................................................................................................................................ 32 2.1.7 Precipitação ............................................................................................................................................... 36 2.2 Principais meteoros (fenômenos visíveis na atmosfera) ...................................................... 40 2.3 Principais fatores do clima ............................................................................................................... 42 2.3.1 Latitude ....................................................................................................................................................... 42 2.3.2 Altitude ....................................................................................................................................................... 42 2.3.3 Continentalidade e maritimidade .................................................................................................... 43 2.3.4 Vegetação ................................................................................................................................................... 44 2.3.5 Solos ............................................................................................................................................................. 44 2.3.6 Disposição do relevo .............................................................................................................................. 45 2.3.7 Intervenção antrópica .......................................................................................................................... 45 2.3.8 Correntes marítimas ..............................................................................................................................47 3 CIRCULAÇÃO DE AR NA ATMOSFERA ..................................................................................................... 48 3.1 Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) ................................................................................................................................... 48 3.2 Centros de ação .................................................................................................................................... 49 3.2.1 Centros de ação da América do Sul ................................................................................................ 51 4 AS MASSAS DE AR .......................................................................................................................................... 53 4.1 O mecanismo das frentes .................................................................................................................. 54 4.2 As massas de ar atuantes no Brasil ............................................................................................... 56 4.3 Domínio médio das massas de ar no Brasil ............................................................................... 57 Unidade II 5 EVENTOS ESPECIAIS ....................................................................................................................................... 63 5.1 Efeito estufa ........................................................................................................................................... 63 5.2 Inversão térmica ................................................................................................................................... 68 5.3 Tempestades tropicais ........................................................................................................................ 69 5.4 El Niño e La Niña .................................................................................................................................. 70 6 CLIMA LOCAL E MICROCLIMAS URBANOS: INTERFERÊNCIAS NAS CONDIÇÕES DE VIDA E DE SAÚDE DA POPULAÇÃO ....................................................................................................... 73 6.1 A questão metodológica das escalas nos estudos do clima ............................................... 73 6.2 O ambiente urbano e clima local ................................................................................................... 76 6.3 Microclima e condições de vida e saúde .................................................................................... 79 7 CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA ........................................................................................................................ 85 7.1 Classificação climática de Köppen ................................................................................................ 85 7.2 Classificação climática de Strahler ................................................................................................ 86 7.3 Classificação climática de Lysia Bernardes ................................................................................ 87 7.4 Zonas climáticas ................................................................................................................................... 88 7.4.1 Zonas polares............................................................................................................................................ 88 7.4.2 Zonas temperadas .................................................................................................................................. 90 7.4.3 Zonas tropicais ......................................................................................................................................... 90 7.4.4 Desertos ...................................................................................................................................................... 91 7.4.5 Altas montanhas ..................................................................................................................................... 92 7.5 Grandes domínios climáticos do mundo .................................................................................... 93 7.5.1 Zona climática das latitudes baixas ................................................................................................ 93 7.5.2 Zona climática das latitudes médias .............................................................................................. 97 7.5.3 Zona climática das latitudes altas .................................................................................................102 8 BRASIL: CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA .....................................................................................................105 8.1 Clima equatorial .................................................................................................................................107 8.2 Clima tropical úmido (litorâneo úmido) ...................................................................................108 8.3 Clima tropical .......................................................................................................................................109 8.4 Clima tropical de altitude ...............................................................................................................110 8.5 Clima pseudomediterrâneo ............................................................................................................111 8.6 Clima subtropical ................................................................................................................................112 8.7 Clima semiárido ..................................................................................................................................113 8.8 Domínios morfoclimáticos .............................................................................................................114 8.9 Formações vegetais do Brasil ........................................................................................................116 8.9.1 Formações florestais ............................................................................................................................ 117 8.9.2 Formações arbustivas e herbáceas ............................................................................................... 123 8.9.3 Formações complexas ........................................................................................................................ 127 7 APRESENTAÇÃO Este é um livro-texto que se destina àqueles que pretendem apreender noções importantes sobre climatologia, como elementos e fatores que compõem o clima e ao mesmo tempo determinam sua classificação. Inicialmente, estudaremos a diferenciação entre clima e tempo e a composição da atmosfera terrestre, como atua o Sol na sua radiação e o que é a insolação. Avaliaremos as condições de temperatura, umidade do ar, a pressão atmosférica, a circulação do ar com suas classificações de acordo com a intensidade, a nebulosidade e suas influências, bem como o ciclo hidrológico e as precipitações. Também consideraremos importante para nosso estudo os principais fenômenos visíveis na atmosfera, os meteoros, assim como é de grande importância em estudos climáticos avaliar os efeitos da atuação dos fatores: latitude, altitude, continentalidade ou maritimidade, vegetação, solos, a disposição do relevo, as correntes marítimas e os efeitos da ação antrópica sobre os ambientes. Em meteorologia avalia-se a circulação do ar em zonas de convergência intertropical e do Atlântico Sul, bem como o mecanismo das frentes e a dinâmica da circulação das massas de ar e seu domínio no Brasil. As evidências das mudanças climáticas já são incontestáveis, não só em termos de aumento médio de temperatura, como também quanto ao aumento do índice de carbono na atmosfera. Houve um aumento considerável de tempestadestropicais, com intensidade maior dos furacões, segundo informes do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos, além de outros eventos climáticos que estariam associados ao aquecimento global. Observação Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, em inglês, National Center for Atmospheric Research – NCAR, é um instituto não governamental situado no Colorado, onde pesquisadores e meteorologistas emitem avisos sobre a qualidade do ar e mudanças climáticas, estudos sobre biosfera e a sociedade humana. Ele é dotado de computadores potentes que suportam modelos para previsão de sistemas complexos e efeitos sobre o aquecimento global. Outra evidência de tais alterações pode ser verificada quanto ao derretimento das geleiras ao longo dos últimos anos, como pode ser observado na Cordilheira dos Andes, na América do Sul, além das regiões Ártica e Antártica. 8 Segundo informes dos estudos do Greenpeace (2006), entre 1950 e 1993, as temperaturas diárias mínimas do ar à noite sobre o solo aumentaram em média 0,2 ºC por década no planeta Terra. No sul do Brasil, houve um aumento de 1,4 ºC na temperatura mínima entre 1913 e 1998, além do aumento de ondas de calor, de chuvas com maior intensidade e da precipitação pluvial anual, que cresceu nos últimos 50 anos a uma taxa média de 6,2 mm/ano. Com o aumento da temperatura, os oceanos vêm sofrendo o branqueamento dos corais, colocando em situação de risco os recifes que vivem próximos a um limite térmico. Nas considerações de Carlos Nobre, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para o relatório do Greenpeace (GREENPEACE, 2006, p. 13): Nosso padrão de consumo, como a utilização do automóvel e da proteína animal, terá que mudar para reduzir as emissões de carbono, se não mudar, no ano 2.200, teríamos uma temperatura de 7 ºC a 10 ºC mais quente. Seria outro planeta, com enormes ameaças à nossa habitabilidade. Como resultado desses dados, estudaremos os eventos especiais, como: o efeito estufa, a inversão térmica, as tempestades tropicais e os eventos El Niño e La Niña, além das variações climáticas no Brasil e no mundo, suas causas e efeitos, o estudo do clima local, microclimas urbanos e sua interferência nas condições de vida e na saúde da população. Temos ainda as distintas classificações climáticas: Koppen, Strahler e Lysia Bernardes e a influência do clima na determinação das paisagens vegetais e domínios morfoclimáticos. Devemos ressaltar que, em decorrência do aumento da temperatura, as mudanças climáticas podem colocar em risco os biomas, promover seca na Amazônia, com a decorrente savanização da floresta, comprometer o complexo hidrológico, causar enchentes desastrosas, agravar o risco do surgimento de desertos no território brasileiro, degradar os solos e promover a intensificação das migrações das pessoas residentes em áreas rurais para as urbanas, agravando ainda mais os problemas das cidades. Enfim, trata-se de um problema dentro da ótica de atuação da gestão ambiental. INTRODUÇÃO Devemos considerar, para os estudos que envolvem os grupos humanos e as mudanças climáticas, a questão da vulnerabilidade à qual estão submetidas as sociedades e a natureza. Tanto a humanidade quanto a biodiversidade dependem de uma satisfatória gestão ambiental para sobreviverem às mudanças climáticas. Trata-se de uma questão de riscos aos quais estão expostos os seres vivos do planeta e de uma natureza que perece diante das alterações que ocorrem em seu hábitat e nos distintos ecossistemas, ocasionadas devido às mudanças climáticas que decorrem tanto de fatores naturais como também da interferência humana. 9 Ayoade (1986) afirmou que a interface clima/sociedade pode ser considerada em termos de ajustamento à extensão e aos modos como as sociedades funcionam em uma relação harmônica com seu clima. O homem e suas sociedades são vulneráveis às variações climáticas. Não podemos separar, no entanto, o sujeito do meio em que vive. A subjetividade está implícita, portanto, na relação entre as mudanças ambientais globais e o indivíduo, não se resumindo apenas em como o sujeito percebe, reage e é influenciado pelas mudanças, mas também como ele contribui para que elas ocorram e qual a sua atuação diante delas. Para tanto, recordamos o trabalho de Guattari (1990, p. 8), em sua obra As Três Ecologias, a do meio ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade humana, o autor os considera como três registros ecológicos e afirma: O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante sobre esse planeta, no contexto da aceleração das mutações técnico-científicas e do considerável crescimento demográfico. Em função do contínuo desenvolvimento do trabalho maquínico redobrado pela revolução informática, as forças produtivas vão tornar disponível uma quantidade cada vez maior do tempo da atividade humana potencial. Mas com que finalidade? A do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão, da ociosidade, da angústia, da neurose, ou da cultura, da criação, da pesquisa, da reinvenção do meio ambiente, do enriquecimento dos modos de vida e da sensibilidade. O desenvolvimento requer recursos da natureza, alteração no curso dos rios, emissão de poluentes, compromete a biodiversidade e a própria existência humana. Como afirmou o Greenpeace, em um relatório publicado em 2007, mudanças no clima representam também mudanças de vida. Segundo o organismo internacional, o aquecimento global já estaria afetando o Brasil e o mundo de forma preocupante. O trabalho de pesquisa concluiu que é muito difícil ao Brasil adaptar-se às mudanças globais do clima e que os impactos seriam de modo geral negativos. O que sugerem então? Que é necessário empreender esforços para evitá-las; uma das formas de minimizar os problemas seria criar oportunidades para energias alternativas, renováveis ou, se possível, não poluentes, como a biomassa. Qual a razão dessa preocupação? O aumento no último século da temperatura do planeta em média 0,7 ºC, com tendência observada em aumentar, chegando até 5,8 ºC, o que dependerá das medidas a serem tomadas para “descarbonizar” a atmosfera. Os cientistas preveem um cenário preocupante para determinados biomas, no caso a Amazônia, a região sul do Brasil, além de outros pontos do país, quanto à expansão dos agronegócios, destruindo de maneira devastadora a biodiversidade e esgotando solos. A sugestão seria ter uma atitude mais sustentável, de conservação, e ampliar o esforço de desenvolvimento para uma matriz energética limpa e renovável. Um dos grandes vilões em áreas urbanas do país é o uso dos combustíveis fósseis, derivados do petróleo, e um modelo de transportes baseado no individualismo e privatização em 10 detrimento de uma boa infraestrutura em transportes coletivos urbanos que deem conta de atender à demanda de passageiros. Por outro lado, somam-se aos problemas de transportes para passageiros os transportes de carga que trafegam em grandes quantidades pelas estradas e vias urbanas do Brasil. Realmente, os cidadãos precisariam, juntamente com os órgãos públicos, se esforçar muito a fim de encontrar uma solução viável, não só em termos de energia limpa, como de levantamento das vulnerabilidades regionais do nosso imenso país, visando a mitigar os riscos das mudanças climáticas. Podemos, no entanto, afirmar que no Brasil os efeitos do aquecimento global ainda não são tão severos. Os cientistas e o próprio relatório do Greenpeace (2006) afirmam que existem até oportunidades de negócios para retirada dos gases como o CO² e o metano da atmosfera. No entanto, essa visão parcialmente otimista fica comprometida quando se apontam problemas como secas na Amazônia, enchentes em excesso na região Sul e Sudeste, aumento da desertificação no semiárido nordestino ou ainda furacões inéditos no Atlântico Sul. Assim, o Greenpeace constatou, para alertar o governo brasileiro e a sociedade em geral, que os efeitos das mudanças globaisjá podem ser encontrados no Brasil e que a sociedade tem que se mobilizar para tentar reverter os problemas. Além de abordarmos essa problemática, estudaremos a Climatologia clássica, com os principais conceitos necessários para uma satisfatória compreensão do tema. Começaremos pela diferenciação de clima e tempo, entre outros, até as classificações climáticas e a influência do clima na determinação das paisagens vegetais. Deixemos claro que problemas ambientais e alterações climáticas decorrem de causas não só existentes no meio rural, como também daquelas no meio urbano, e que os organismos públicos, sejam eles municipais, estaduais ou federais, devem tomar medidas eficazes, além de leis e procedimentos de fiscalização e controle para coibir as causas das alterações em ambos os ambientes. Finalmente, devemos recordar que mudanças de clima implicam mudanças nos estilos de vida. A lei municipal de Plano diretor deve ser um instrumento importante na contribuição para um crescimento compatível com a proteção ambiental e a garantia de bem-estar para a população. Além disso, existem organismos municipais e estaduais que devem agir no sentido de permitir a fiscalização adequada e a aplicação de normas ambientais, tais como a Cetesb, Secretaria do Meio Ambiente, Ibama, Conama, entre outros. A racionalidade em termos ambientais depende de um saber ambiental que ultrapasse a racionalidade e a subjetividade. Contudo, existe uma ambiguidade nessa ação: como promover o desenvolvimento sem comprometer a sobrevivência? É fundamental para uma atitude ambiental que os indivíduos sejam conscientes e comprometidos no sentido de empreenderem políticas públicas satisfatórias para a sociedade. 11 A preocupação pública com os problemas de deterioração ambientais tem crescido de forma contínua desde a década de 1970, inicialmente pelos países do Norte, como o Canadá, Japão, Nova Zelândia, Austrália, países da Europa Ocidental como a Alemanha, e atingindo na década de 1980 a Europa Oriental, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviética) e países da Ásia e América Latina. A partir daí, surgem grupos de estudos, cientistas, agências de governo em escala nacional e internacional, além de reuniões como a ECO 92 (RJ) e o Fórum Global, com atuação de Ongs, além da convenção sobre alterações climáticas. Em todas elas, metas foram estabelecidas e não cumpridas por falta de consenso entre os países participantes. No decorrer do livro-texto, abordaremos algumas medidas sugeridas e o que ainda falta por realizar a fim de que sejam mantidas condições satisfatórias de vida no planeta Terra. 13 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS Unidade I 1 A CLIMATOLOGIA A superfície terrestre apresenta paisagens singularizadas e diferen ciadas que resultam da combinação da atuação conjunta de múltiplos agentes naturais, como a estrutura geológica, o relevo, o clima, o solo, os rios, a vegetação, a fauna etc. O clima é um importante agente natural responsável pela diferenciação espacial das paisagens terrestres, pois assume um significado expressivo na configuração externa da paisagem, influenciando outros elementos, como a vegetação, o solo e o relevo, bem como é influenciado por eles. A distribuição espacial das formações vegetais (biomas) está intimamente ligada ao clima. Em regiões semelhantes no aspecto climático encontram-se geobiocenoses e paisagens semelhantes. Segundo Troppmair (2004), [...] metade das espécies animais do planeta tem sua área de ocorrência nos trópicos, mais precisamente nos 7% da superfície do globo, cobertos por florestas tropicais. Isso se deve, ao fato de as zonas temperadas terem sofrido o rigor das glaciações, que sacrificaram inúmeras espécies e “empurraram” outras às regiões mais quentes. Por outro lado, próximo aos trópicos, o ambiente permaneceu estável, o que facilitou o desenvolvi mento de ecossistemas mais ricos e complexos, adaptados a um clima de pouca variação (TORRES; MACHADO, 2011, p. XV). O clima influencia na formação dos solos, na decomposição das rochas, na elaboração das formas de relevo, no regime dos rios e das águas subterrâneas, no aproveitamento dos recursos econômicos, na natureza e no ritmo das atividades agrícolas, nos tipos de cultivos praticados, nos sistemas de transporte e na própria distribuição dos seres humanos na superfície da Terra. Na ciência da atmosfera é feita uma distinção entre tempo e clima, e entre meteorologia e climatologia. Durante um longo período da história do homem, a meteorologia e a climatologia permaneceram como parte de um só ramo do conhecimento no estudo da atmosfera terrestre. Com a sistematização do conhecimento científico nos séculos XVIII e XIX, deu-se a divisão do conhecimento científico em ramos específicos, dando origem à ciência moderna. Com essa divisão, o estudo da atmosfera pela meteorologia passou a pertencer ao campo das ciências naturais, ao ramo da Física, sendo de sua competência o estudo dos fenômenos isolados da atmosfera e do tempo atmosférico. 14 Unidade I Observação Tempo atmosférico: estado momentâneo da atmosfera em um dado instante e lugar. Estado da atmosfera: conjunto de atributos que a caracterizam naquele momento, tais como radiação (insolação), temperatura, umidade (precipitação, nebulosidade etc.) e pressão (ventos etc.). Cabe à meteorologia estudar a dimensão física da atmosfera e abordar fenômenos meteorológicos, como raios, trovões, descargas elétricas, nuvens, composição físico-química do ar, previsão do tempo. Por suas características de ciência física, a meteorologia trabalha com instrumentos para a mensuração dos elementos e fenômenos e cria uma fonte de dados de fundamental importância para o desenvolvimento dos estudos da climatologia. A climatologia surge como um campo do conhecimento científico com identidade própria, logo após a sistematização da meteorologia. Voltada ao estudo da espacialização dos elementos e fenômenos atmosféricos e de sua evolução, a climatologia integra-se como uma subdivisão da meteorologia e da Geografia, compondo o campo das ciências humanas, estudando o espaço geográfico a partir da interação da sociedade com a natureza. Os clássicos conceitos de clima (climate, climat) revelam a preocupação com a apreensão do que seja a característica do clima em termos do comportamento médio dos elementos atmosféricos, tais como a média térmica, pluviométrica e de pressão. Formulados conforme as prerrogativas da OMM, alguns conceitos internalizam também a determinação temporal cronológica para a definição de tipos climáticos, de onde as médias estatísticas devem ser estabelecidas a partir de uma série de dados de um período de 30 anos. O conceito elaborado por Julius Hann, no final do século XIX, enquadra-se no conceito clássico de clima, considerando-o “o conjunto dos fenômenos meteorológicos que caracterizam a condição média da atmosfera sobre cada lugar da Terra”. Por sua vez, o conceito apresentado por J. O. Ayoade, na década de 1980, liga-se mais àqueles formulados de acordo com a OMM, pois, para o autor, o clima é “a síntese do tempo num determinado lugar durante um período de 30 a 35 anos” (MENDONÇA, DANNI-OLIVERIA, 2007, p. 14-15). Um importante aspecto dos estudos climáticos refere-se à Meteorologia. As primeiras previsões científicas do tempo são bem recentes. A Meteorologia – ciência que estuda os fenômenos da atmosfera e do clima – surgiu há menos de dois séculos (em grego antigo, meteoros significava “no alto do céu”). No início, essa nova ciência não era capaz de prever muita coisa. Seus pesquisadores estavam apenas procurando entender o que acontecia na atmosfera. Por isso, os humoristas diziam que os meteorologistas previam o tempo jogando “cara ou coroa”. 15 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS Entretanto, a Meteorologia já avançou muito e, hoje, ela pode prever o tempo em qualquer parte do planeta com vários dias de antecedência.Pode mesmo antever a formação de tufões, furacões e tornados. Atualmente, as previsões do tempo são anunciadas diariamente na televisão. Todos os jornais e alguns sites também trazem informações confiáveis sobre a previsão do tempo, assim como para o estudo cada vez mais importante das mudanças climáticas. A Meteorologia é, portanto, a ciência que estuda os fenômenos atmosféricos. Seus campos de estudo mais conhecidos são a previsão do tempo e a climatologia. Lembrete OMM significa Organização Meteorológica Mundial. A partir dessas informações, podemos concluir que tempo é o estado momentâneo da atmosfera de determinado lugar e clima pode ser definido como a sucessão ou o conjunto de variações desses estados médios que caracterizam a atmosfera de um lugar. Clima é o conjunto de fenômenos meteorológicos que caracterizam, durante um longo período, o estado médio da atmosfera e sua evolução em um determinado local. Por exemplo, é possível ocorrer tempo frio em uma região de clima quente. A determinação e a caracterização do clima de uma determinada área acontecem por meio de uma longa série ininterrupta de observações diárias dos “tempos”, algumas vezes por dia, e essas observações nunca podem ser realizadas em um período inferior a 30/35 anos. Segundo Ayoade (2003 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. XIX) e Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 23-25), o campo da climatologia tem as seguintes divisões: • quanto à escala espacial do clima: — macroclimatologia: relacionada com os aspectos dos climas de amplas áreas da Terra e com os movimentos atmosféricos em larga escala que afetam o clima; — mesoclimatologia: preocupada com o estudo do clima em áreas relativa mente pequenas, entre 10 km e 100 km de largura (por exemplo, o estudo do clima urbano e dos sistemas climáticos locais severos, como os tornados e os temporais); — microclimatologia: preocupada com o estudo do clima próximo à superfície ou de áreas muito pequenas, com menos de 100 m de extensão. • quanto à escala temporal do clima: — escala geológica: são estudados os fenômenos climáticos que ocorreram no planeta desde a sua formação. É nessa escala que são desenvolvidos os estudos ligados à Paleoclimatologia, que estuda os climas do passado a partir de alguns indicadores biológicos (fósseis, polens e anéis 16 Unidade I de árvores), litológicos (sedimentos, camadas de aluviões, depósitos de sal etc.) e morfológicos (terraços fluviais, dunas, formas residuais do relevo, inselbergs); — escala histórica: trata-se também do estudo do clima do passado, mas somente de períodos da história registrados pelo homem. Nesses estudos são utilizados vários documentos: a descrição escrita dos diferentes ambientes (relatos de viagens), os desenhos em paredes de cavernas, os utensílios utilizados na lavoura, e os registros dos elementos atmosféricos mensurados nos primeiros instrumentos meteorológicos; — escala contemporânea: é nessa escala que trabalha a maioria dos climatólogos da atualidade. Na elaboração desses estudos são utilizados uma série de dados meteorológicos produzidos por uma ou mais estações meteorológicas, de preferência superior a 30 anos. A característica climática de determinada região é controlada pelos elementos e fatores climáticos. Os elementos do clima são seus componentes principais, aqueles que se conjugam para formar o tempo atmosférico e o clima propriamente dito. Os fatores climáticos provocam alterações por vezes bastante significativas no clima e/ou nos seus elementos. São esses fatores climáticos que produzem alterações e interferências diretas e/ou indiretas nos elementos climáticos e nos tipos climáticos. Os principais elementos do clima e do tempo são: temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica, ventos, nebulosidade, insolação, radiação solar e precipitação. Entre os principais fatores climáticos podemos destacar: latitude, altitude, maritimidade e continentalidade, solos, vegetação, correntes marítimas, disposição do relevo e, não menos importante, interferência antrópica. Observação Segundo o Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente (IBGE, 2004, p. 184), inselberg é um “forma residual que apresenta feições variadas tais como crista, cúpula, domo e dorso de baleia e cujas encostas mostram declives entre 50° e 60°, dominando uma superfície de aplanamento herdada ou funcional, com a qual forma uma ruptura de onde divergem as rampas de erosão”. 1.1 A atmosfera terrestre A atmosfera terrestre é constituída por uma combinação de diversos gases, como o nitrogênio, o oxigênio, os chamados gases raros (argônio, neônio, criptônio e xenônio), o dióxido de carbono, o ozônio, o vapor d’água, o hélio, o metano, o hidrogênio etc. Além desses gases, há na atmosfera partículas de pó, cinzas vulcânicas, fumaça, matéria orgânica e resíduos industriais em suspensão, denominados aerossóis, termo usualmente reservado para partículas materiais, exceto água e gelo. Os aerossóis são importantes na atmosfera como núcleos de condensação e de cristalização, como absorvedores e dispersores de radiação e participantes de vários ciclos químicos. Atualmente, os aerossóis produzidos pelo homem são considerados como responsáveis por 30% dos aerossóis contidos na atmosfera. 17 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS A atmosfera divide-se em várias camadas ou estratos superpostos. Segundo Ayoade (2003 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 5), evidências provenientes de radiossondas, foguetes e satélites indicam que a atmosfera está estruturada em três camadas relativamente quentes separadas por duas camadas relativamente frias com camadas de transição entre as cinco camadas principais denominadas “pausas”. Segundo Torres e Machado (2011, p. 5-6), geralmente são reconhecidas as seguintes camadas da atmosfera: • Troposfera: é a camada mais baixa da atmosfera, estendendo-se até mais ou menos 12 km. Essa camada se estende a partir da superfície até a altura de 14/16 km nas zonas equatoriais e até 8/10 km nas zonas polares, pois nessas últimas as baixas temperaturas promovem a contração dos componentes atmosféricos. Nessa camada, ocorre a maior parte dos “meteoros”, fenômenos ocorridos na atmosfera que podem ser aéreos ou mecânicos (ventos), acústicos (trovão), aquosos (chuva), óticos (arco-íris) ou elétricos (raios). O limite superior da troposfera, denominado tropopausa, corresponde às zonas de temperaturas mais baixas. • Estratosfera: estende-se da tropopausa até cerca de 50 km. Nessa camada a temperatura aumenta com a altitude chegando a 17°C na estratopausa. Segundo Ross (1998, p. 72), na camada de ozônio a temperatura chega a 50°C, em virtude da absorção da radiação ultravioleta do Sol pelo ozônio (O3), que a transforma em energia térmica. • Mesosfera: camada que se estende da estratopausa até cerca de 80 km de altitude, apresentando queda de temperatura de -3,5°C por quilômetro. No seu limite superior (mesopausa), observa-se a tempera tura mais baixa da atmosfera, cerca de -90°C. A mesosfera contém uma pequena parte de ozônio e vapores de sódio, os quais desempenham um importante papel nos fenômenos luminosos da atmosfera, como as auroras. • Termosfera: estende-se da mesopausa até cerca de 500 km de altitude e é bastante rarefeita. Aqui, a atmosfera é muito afetada pelos raios-X e pela radiação ultravioleta, o que provoca ionização ou carregamento elétrico. As camadas inferiores da ionosfera desempenham papel importante nas transmissões de rádio e televisão, pois refletem ondas de diversos comprimentos emitidas da Terra, o que possibilita sua captação pelas emissoras. O limite superior denomina-se termopausa. A temperatura, nessa camada, aumenta com a altitude em razão da absorção da radiação ultravioleta pelo oxigênio atômico. • Exosfera: estende-se da termopausa até 800 km a 1000 km de altitude. Predominam os átomos de hidrogênio e hélio, pois são mais leves. Nessa camada, a atmosfera vai se rarefazendo, tendendo ao vácuo. Ocorremelevadíssimas temperaturas e grande incidência de poeira cósmica. 18 Unidade I 10.000 km 3.500 3.500 1.000 1.000 600 600 200 200 100 100 90 90 80 80 50 50 -90º -60º 20º C 1.300 100 10 1 10-1 10-2 10-3 10-7 18 18 70 70 60 60 25 25 10.000 km Composição Hidrogênio atômico EXOSFERA HE TE RO SF ER A HO M OS FE RA Termopausa Mesopausa Estratopausa Tropopausa TERMOSFERA TROPOSFERA ESTRATOSFERA Efeito estufa Absorção ultravioleta Reflexão de ondas de rádio Absorção de raios X e gama Absorção de raios X e gama ... Auroras1% Temperatura MESOSFERA Hélio atômico Oxigênio atômico Nitrogênio molecular outros vapor + aerossóis 25 km: N2 + O2 + Concentração de O3 Dendidade g/m3 Massa Propriedade Compartimentação térmica limites térmicos 24% em 15% do volume 75% em 1% do volume Figura 1 − Características da atmosfera Saiba mais No site a seguir você pode observar imagens de satélite mostrando condições climáticas em tempo real: <http://br.weather.com/> 19 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS 1.2 Estações meteorológicas e instrumentos 1.2.1 Estações meteorológicas Sobre as observações de superfície, é importante atentar para o que está escrito no Manual de Observação de Superfície (Ministério da Agricultura, 1969 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 241): Uma observação meteorológica de superfície consiste na medição ou determinação de todos os elementos que, em seu conjunto, representam as condições meteorológicas em um momento dado e em determinado lugar, utilizando instrumental adequado e valendo-se da vista. Estas observações, realizadas em forma sistemática, uniforme, ininterrupta, e em horas estabelecidas, permitem conhecer as características e variações dos elementos atmosféricos, os quais constituem os dados básicos para a confecção de cartas de previsões de tempo, para o conhecimento do clima, para investigação das leis gerais que regem o fenômeno etc. As observações devem ser feitas, invariavelmente, nas horas indicadas e sua execução terá lugar no menor tempo possível. É de capital importância prestar a atenção a estas duas indicações porque o descuido das mesmas dará lugar, pela constante variação dos elementos, à obtenção de dados que, por serem tomados a distintas horas, não podem ser comparáveis. A definição anterior, por si mesma, exclui qualquer possibilidade de informação com caráter de previsão de condições futuras do tempo por parte do observador. Com isso, deve ficar claro que o observador, ao preparar uma observação meteorológica de superfície, deverá se restringir a informar as condições de tempo reinantes no momento da observação. Não lhe é facultado informar o tempo que ocorrerá em momento futuro, mesmo que sua experiência e conhecimentos pessoais lhe permitam prever mudanças importantes no tempo. Classificação das estações meteorológicas de superfície quanto à finalidade: • Estação sinótica: objetiva a previsão do tempo. As medições realizadas são direção e velocidade do vento, temperatura do ar, umidade relativa do ar, chuva, pressão atmosférica, nuvens, geadas. As leituras são realizadas às 9 horas, 15 horas e 21 horas. • Estação climatológica: tem por finalidade obter dados para determinar o clima de uma região, após um histórico de no mínimo 30 anos de observação. As medições realizadas são direção e velocidade do vento, temperatura do ar, umidade relativa do ar, chuva, pressão atmosférica, nuvens, geadas, temperatura do solo, evapotranspiração, orvalho, evaporação e radiação solar. As leituras são realizadas às 9 horas, 15 horas e 21 horas. • Estação agroclimatológica: tem por finalidade fornecer informações para estudar a influência do tempo (elementos meteorológicos) sobre culturas, além de realizar observações que determinam o crescimento e desenvolvimento das culturas. 20 Unidade I O local e a instalação da estação devem ser representativos na região, com abrangência de cerca de 150 km2 ao redor da estação. A seguir, apresentamos os requisitos da área para instalação de estações meteorológicas: • exposição aos ventos gerais da região, não deve ser instalada em fundo de vale; • horizontes amplos, ou seja, não pode haver barreiras que impeçam a incidência da radiação solar ou que modifiquem o vento; • distante de cursos d’água, pois eles modificam o balanço de energia; • solo representativo da região, plano, que não acumule água; a área deve ser gramada a fim de minimizar os efeitos das diferentes texturas. 1.2.2 Instrumentos Como os meteorologistas e os climatologistas estudam o tempo e o clima? Os cientistas e técnicos estudam a atmosfera terrestre por meio de quatro instrumentos fundamentais: • a rede mundial de estações meteorológicas; • os satélites meteorológicos; • os computadores; • os modelos matemáticos da atmosfera. As estações meteorológicas Uma estação meteorológica é uma instalação onde são coletadas as informações destinadas a prever o tempo. Quanto mais estações houver numa região, tanto mais exata poderá ser a previsão do tempo para aquele lugar. As estações meteorológicas mais avançadas são automatizadas, ou seja, transmitem suas informações pelo rádio às centrais meteorológicas que coordenam todas essas informações. Além disso, temos outros instrumentos, descritos a seguir: • heliógrafo de Campbel-Stokes: aparelho que mede a insolação, ou seja, mede o intervalo de tempo de céu descoberto quando o sol se encontra acima do horizonte (em horas); 21 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS • geotermômetro: determina a temperatura do solo; • pluviógrafo: registra a cada instante de tempo a precipitação pluvial, informando o total de chuva e a intensidade (mm/h); • pluviômetro: mede a quantidade de precipitação pluvial (chuva) em milímetros (mm). A altura da chuva é dada pela razão entre o volume inicial e a superfície em questão; • evaporímetro de Pichè: mede a evaporação – em mililitros (mL) ou em milímetros de água evaporada – com base em uma superfície porosa, mantida permanentemente umedecida por água; • tanque de evaporação: determina a capacidade evaporante da atmosfera a fim de medir a evaporação de uma superfície livre de água; • termômetro de máxima e mínima: registra as temperaturas máxima e mínima do ar (°C) ocorridas no dia; • termômetro: indica a temperatura do ar; • psicômetro: mede a umidade relativa do ar – de modo indireto – em porcentagem (%); • anemômetro e catavento: mede a velocidade (em m/s) e a direção (em graus) do vento; • anemógrafo: registra continuamente a intensidade do vento, bem como sua direção e seu sentido; • barômetro: mede a pressão atmosférica em coluna de milímetros de mercúrio (mm Hg) e em hectopascal (hPa); • barógrafo: registra a pressão atmosférica ao longo do dia; • termo-higrográfo: registra continuamente a temperatura do ar e a umidade relativa do ar à sombra. 2 CLIMA E TEMPO CLIMÁTICO Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo durante um longo período, enquanto tempo climático é a combinação momentânea dos elementos que constituem o clima, refletindo as condições atmosféricas em um determinado instante. Portanto, o estudo do clima deve apoiar-se na análise dos elementos e fatores climáticos. São elementos que constituem o clima: radiação solar e insolação, temperatura, pressão atmosférica, umidade, precipitações – chuva, neblina, granizo, neve – e massas de ar. Já os fatores que influenciam o clima são a latitude, altitude, disposição do relevo, maritimidade/continentalidade, hidrografia e vegetação, intervenção antrópica e corrente marítimas. 22 Unidade I Equatorial Oceano Pacífico Oceano Atlântico Oceano Índico Desértico Temperado oceânico Continental Frio de montanha Tropical Mediterrâneo Temperado continental Subtropical Glacial ou polar Oceano Pacífico Figura 2 2.1 Principais elementos do clima 2.1.1 Radiação solar e insolação Conceitualmente, existe uma diferença entre radiaçãoe insolação. A insolação é a duração do período do dia com luz solar ou a duração do brilho solar. A radiação solar é a energia recebida da Terra na forma de ondas eletromagnéticas provenientes do sol; portanto, a radiação solar é a fonte de energia de que dispõe o globo terrestre. Para Ayoade (2003 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 29-30), graças à baixa nebulosidade em comparação com a região equatorial, a distribuição latitudinal da insolação indica que as maiores quantidades de insolação são recebidas nas zonas subtropicais sobre os principais desertos do globo. Os valores de insolação diminuem em direção aos polos e atingem o mínimo em torno das latitudes de 70°–80° no hemisfério norte e de 60°–70° no hemisfério sul. Essa diferença entre os dois hemisférios é decorrente da maior proporção de oceanos em relação aos continentes do hemisfério sul, ou seja, quanto maior a quantidade de água evaporando, maior a nebulosidade. Segundo Soares e Batista (2004), radiação é uma forma de energia que emana, sob forma de ondas eletromagnéticas, de todos os corpos com temperaturas superiores ao zero absoluto (–273°C). Ainda de acordo com os autores, o sol fornece 99,97% da energia utilizada no sistema Terra/atmosfera e é, direta ou indiretamente, responsável por todas 23 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS as formas de vida encontradas no planeta. A cada minuto, o sol emite 56 x 1026 calorias de energia propagadas em todas as direções, no entanto, a intensidade da radiação diminui inversamente ao quadrado das distâncias do sol, com isso, o planeta recebe apenas dois bilionésimos da energia que sai da fonte. Apesar de serem consideradas constantes, as diferenças da incidência de raios solares de acordo com as estações do ano interferem nos valores de energia (cal.cm–2.min–1) que chega à superfície (TORRES; MACHADO, 2011, p. 30). Segundo Torres e Machado (2011, p. 31), ao atravessar a atmosfera, a radiação solar é atenuada por três processos: • difusão (espalhamento pelas partículas da atmosfera, como gases, cristais e impurezas): uma parte dessa radiação difundida é devolvida ao espaço, enquanto outra parte atinge a superfície e é chamada de radiação difusa; • absorção: absorção seletiva por certos constituintes atmosféricos para certos comprimentos de ondas, como a absorção da radiação ultravioleta pelo ozônio (O3); • reflexão: a reflexão pelas nuvens depende principalmente da espessura, estrutura e constituição delas. [...] em média, de 100% da energia do sol que chega à atmosfera, cerca de 40% incidem sobre as nuvens, desse total, 1% é absorvido e 25% são refletidos e se perdem no espaço, chegando apenas 14% à superfície. Dos demais 60% que incidem sobre áreas sem cobertura de nuvens, 7% são refletidos/difundidos por aerossóis e 16% são absorvidos por gases atmosféricos, chegando 37% à superfície. Dos 51% que chegam à superfície, subtraem-se 5%, que são refletidos pela própria superfície. Assim, aproximadamente 46% da energia que incide sobre a atmosfera é absorvida pela superfície terrestre. (TORRES; MACHADO, 2011, p. 31). A energia absorvida ou refletida depende da superfície sobre a qual incide a radiação. A seguir, estão alguns conceitos importantes para a Climatologia: • albedo: indica a refletividade total de uma superfície iluminada pelo sol; • absortividade: fração da energia incidente absorvida pelo material; • transmissividade: fração da energia incidente transmitida pelo material; • emissividade: é o coeficiente que indica a eficiência de um corpo em emitir energia. 24 Unidade I Tabela 1 − Albedo de algumas superfícies Superfície Albedo Superfície Albedo Superfície Albedo Água 5% Areia seca 18% Areia úmida 9% Asfalto 7% Concreto 22% Culturas 15%-25% Floresta 16%-37% Grama seca 16%-19% Solo claro 27% Solo escuro 10% Solo úmido 15% Nuvens 50%-55% Fonte: Torres; Machado (2011, p. 32). Tabela 2 − Absortividade (ondas curtas) e emissividade (ondas longas) de algumas superfícies em relação à radiação total Superfície Absortividade Emissividade Areia seca 83 90 Areia úmida 91 95 Coníferas 95 95 Floresta de Pinus spp 86 90 Grama seca 68 90 Ferro galvanizado 65 13 Fonte: Torres; Machado (2011, p. 32). A quantidade de radiação solar e de insolação que incide sobre a superfície depende de alguns fatores, como período do ano (estações); período do dia (manhã ou noite); latitude (nas latitudes entre 35°N e 35°S ocorre excesso de energia, pois a quantidade absorvida é maior que a irradiada ao espaço; fora dessas latitudes, há déficit energético); cobertura de nuvens (a insolação no Nordeste brasileiro, em qualquer época do ano, é muito superior a da região Norte, evidência de que aquela é a região de maior disponibili dade de insolação relativa no Brasil). Nota-se que a cobertura do céu (nebulosidade) é o complemento da insolação relativa e verifica-se que o céu fica encoberto 52% do período diurno na região Norte, 49% na região Sul, 41% no Sudeste e no Centro-Oeste, apenas 34% no Nordeste. A energia absorvida pela superfície terrestre em ondas curtas é reirradiada por meio de ondas longas, promovendo o aqueci mento atmosférico. A parte absorvida é usada no aquecimento da superfície do planeta (solo e água). Dessa forma, a atmosfera (ou o ar) não é aquecida diretamente pelos raios solares, que passam por ela, mas, sim, pelo calor irradiado da Terra, ou seja, o aquecimento da atmosfera ocorre de forma indireta (TORRES; MACHADO, 2011, p. 33). 25 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS 25% são refletidos pelas nuvens 7% são refletidos/difundidos por aerossóis 16% são absorvidos por gases atmosféricos 5% são refletidos pela superfície 1% absorvido pelas nuvens 14% 32% 37% 60% 100% 40% + 46%= Figura 3 − Balanço energético da Terra 2.1.2 Temperatura Segundo Vianello e Alves (1991, p. 92 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 34), calor “é uma forma de energia que pode ser transferida de um sistema para outro, sem transporte de massa e sem execução de trabalho mecânico”. De acordo como Ayoade (2003, p. 50), a temperatura pode ser definida em termos de movimento de moléculas – quanto mais rápido esse movimento, mais elevada a temperatura. Pode ser definida também tomando-se por base o grau de calor que um corpo possui: “A temperatura é condição que determina o fluxo de calor que passa de uma substância para outra”. O calor desloca-se de um corpo com maior temperatura para outro com menor temperatura. A temperatura de um corpo é determinada pelo balanço entre a radiação que chega (ondas curtas) e a que sai (ondas longas) e pela sua transformação em calor latente e sensível. De acordo com Vianello e Alves (1991, p. 93), “Calor sensível é o calor que se detecta, estando associado à mudança temperatura. Já o calor latente é o calor que deve ser absorvido por uma substância para que ela mude seu estado físico” (TORRES; MACHADO, 2011, p. 34). Na meteorologia há três modalidades principais de temperatura: do ar, da água e do solo. Esse importante elemento do clima sofre influência de diversos fatores, mas principalmente da altitude, da latitude dos efeitos da maritimidade e da continentalidade. Geralmente, a temperatura diminui em razão do aumento de latitude, ou seja, a temperatura diminui à medida que se afasta do Equador em direção aos polos. Essa modificação de temperatura está ligada basicamente a dois fatores. 26 Unidade I Primeiro fator: a forma como se dá a incidência dos raios solares sobre a superfície terrestre. Nas baixas latitudes, próximas ao Equador, as temperaturas são mais elevadas em função da maior intensidade dos raios solares que incidem perpendicularmente sobre a superfície, atravessando uma camada atmosférica menos profunda do que nas altas latitudes junto aos polos, onde os raios solares incidem sobre a superfície com maior inclinação, resultando em menores temperaturas. A temperatura é mínima nos polos não somente porque os raiossolares incidem com grande obliquidade, mas também em razão da grande capacidade de reflexão (albedo) da neve que cobre a superfície dessas regiões. Segundo fator: a atmosfera tem uma espessura menor sobre o Equador e maior sobre os polos, o que favorece a incidência maior e mais intensa na faixa tropical e, em especial, na faixa equatorial. Há influência do fator altimétrico agindo sobre os valores térmicos. A temperatura do ar diminui aproximadamente 0,6°C, em média, a cada 100 metros de altitude, gradiente que pode variar de 1°C para cada 105 metros quando o ar está ligeiramente úmido até 1°C para cada 200 metros quando o ar está saturado. Esse fato ocorre porque a atmosfera é aquecida de forma indireta pelo calor irradiado pela superfície, sendo que as regiões mais aquecidas são aquelas em contato mais direto com a fonte de irradiação – a superfície terrestre e as águas. Uma vez que o aquecimento da atmosfera parte da superfície terrestre, esse processo ocorre de baixo para cima. Deve-se considerar também que o ar é mais rarefeito nas regiões mais elevadas, o que contribui para uma menor temperatura, pois quanto menos ar menor a quantidade de calor contida nele. Com isso, temos a seguinte conclusão: a hora em que há maior ganho energético do sol é justamente a hora do dia em que ele está mais próximo da superfície, ou seja, meio dia (12 horas), quando está a pino no horizonte (fazendo zênite). Analisando os primeiros dois metros de superfície como área de maior atividade biológica, tem-se que o horário de maior temperatura é por volta de 14 horas. Por outro lado, sabendo-se que depois do pôr do sol a superfície perde sua fonte de energia e que, com isso, o ar começa a perder temperatura culminando nos instantes anteriores ao primeiro raio solar do outro dia, a superfície atinge sua temperatura mínima, variando o horário de acordo com a época do ano e a latitude (TORRES; MACHADO, 2011, p. 35). A influência dos fatores continentalidade e maritimidade sobre a temperatura se dá em virtude da diferença de calor específico entre a terra e as superfícies hídricas. Regiões próximas a grandes corpos hídricos apresentam temperaturas mais regulares, pois além do efeito das brisas e das correntes marítimas, a água tem a propriedade de manter o calor absorvido por mais tempo e misturá-lo a maiores profundidades que o solo. Por sua vez, o solo tem uma capacidade menor de transportar calor e o calor específico da superfície terrestre (solo, rocha, vegetação) é muito diferente do da água. Observação “O calor específico de uma substância é a quantidade de calor necessário para elevar em um grau centígrado a temperatura de sua unidade de massa” (RETALLACK, 1977, p. 24 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 36). 27 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS Segundo Torres e Machado (2011, p. 36), “as regiões próximas aos grandes corpos hídricos têm um gradiente térmico menor que o de regiões distantes desses corpos”. Como a água ganha calor mais lentamente, perde-o mais lentamente também, assim, mesmo com o pôr do sol, o ar atmosférico, apesar de parar de receber calor da superfície terrestre, continua recebendo-o das superfícies hídricas. 2.1.3 Umidade do ar Segundo Torres e Machado (2011, p. 38), a umidade do ar é o termo utilizado para representar a quantidade de vapor de água presente na atmosfera. A umidade do ar resulta da evaporação da água das superfícies terrestres e hídricas e da evapotranspiração de animais e vegetais, portanto, depende do calor e, logicamente, necessita de água para ser evaporada. Um deserto, por exemplo, tem calor suficiente para promover o processo de evaporação, mas não tem água para ser evaporada, então, a umidade do ar permanece baixa. O vapor de água representa somente 2% da massa total da atmosfera e 4% de seu volume; é o componente atmosférico mais importante na determinação do tempo e do clima. A quantidade de vapor de água presente na atmosfera varia de lugar para lugar e no transcurso do tempo em determinada localidade, podendo variar de quase zero, nas áreas quentes e áridas, até no máximo 3%, nas latitudes médias, e 4% nos trópicos úmidos. A umidade absoluta é uma forma para expressar a concentração de vapor de água no ar. A expressão “ar saturado” é quando o ar apresenta a concentração máxima de vapor de água que pode conter. A concentração máxima de vapor de água ou saturação aumenta com a elevação de temperatura, ou seja, com maior temperatura, logo, com maior grau de calor, o ar se torna mais quente e se expande, podendo, assim, conter mais vapor de água. Dessa forma, quanto maior a temperatura, maior a capacidade do ar de reter o vapor de água. O ar pode chegar à saturação se a temperatura diminuir, mesmo sem ocorrer aumento da quantidade de vapor de água. A umidade relativa pode variar, ainda que o conteúdo de vapor de água permaneça constante. Isso ocorre quando a temperatura da amostra de ar muda. Por essa razão a umidade relativa alcança seus valores máximos durante a madrugada quando ocorre a temperatura mínima do ar. [...] Durante o dia, a temperatura aumenta e isso implica diminuição da umidade relativa, pois o ar dilata e pode conter mais vapor de água. Pode-se dizer, então, que a umidade relativa é inversamente proporcional à temperatura (TORRES; MACHADO, 2011, p. 38-40). A temperatura diminui com o aumento da altitude, quanto menor a temperatura, menor o volume de vapor de água presente no ar. Quanto maior a altitude, menor a temperatura e menor o volume de vapor de água presente no ar (umidade absoluta). Nota-se que a umidade relativa média anual apresenta uma estreita relação com o total anual de precipitação, pois a precipitação é o processo de alimentação das fontes naturais de vapor de água. 28 Unidade I Tabela 3 − Relação entre umidade relativa do ar e precipitação em alguns estados brasileiros Estados Umidade relativa (%) Precipitação (mm/ano) Ceará 70 971 Bahia 72 1.203 Mato Grosso 75 1.404 Minas Gerais 76 1.421 Rio Grande do Sul 77 1.555 Amazonas 87 2.705 Fonte: Torres; Machado (2011, p. 40). O teor de água desempenha um importante papel no balanço térmico da atmosfera, principalmente na manutenção da temperatura nas camadas mais baixas. Observação Umidade absoluta: expressa o peso do vapor de água em um dado volume de ar, representado em gramas por metro cúbico (g/m3). Umidade relativa: é dada pela razão entre o peso do vapor de água e o peso do ar, isto é, quantos gramas de vapor existem em cada quilograma de ar úmido. 2.1.4 Pressão atmosférica A Terra está completamente envolvida por uma grande camada de ar, a atmosfera. Como todos os corpos, o ar tem peso. Qualquer ponto na superfície terrestre está sujeito a uma pressão correspondente ao peso da coluna de ar que lhe fica sobreposta. Essa pressão, denominada pressão atmosférica, representa um papel importante no clima, pois suas variações estão intimamente ligadas aos diferentes estados do tempo. O ar atmosférico tem peso que se manifesta sob a forma de pressão exercida pela atmosfera em todas as direções, especialmente sobre a superfície terrestre. Em qualquer ponto da superfície terrestre, a pressão se deve ao peso do ar sobre esse lugar. Assim, para as áreas em que há menor pressão, denomina-se baixa pressão (BP); para as áreas onde a pressão é maior, denomina-se alta pressão (AP). A pressão atmosférica está sujeita a variações de acordo com a temperatura, latitude e altitude. A temperatura faz variar a pressão atmosférica porque quanto mais elevada, menor será a pressão atmosférica, pois o calor dilata o ar, tornando-o mais leve e determinando, por consequência, menor 29 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS pressão do ar sobre a superfície (baixa pressão). Para uma mesma condição de altitude entre dois pontos quaisquer, a pressão sofre variação se a temperatura desses dois pontos for diferente. A faixa equatorial, por ser uma zona de altas temperaturas,determina a existência de áreas de baixa pressão (BP); já nos polos, locais onde as temperaturas são mais frias, com o ar mais denso e pesado, ocorrem áreas de alta pressão (AP). Podemos concluir que, geralmente, a pressão atmosférica aumenta do Equador em direção aos polos. A pressão atmosférica aumenta com o aumento da latitude. A pressão atmosférica também sofre variações em razão da altitude, pois, quanto mais elevado for o local, menor será a camada de ar a pesar sobre ele e, consequentemente, menor será o peso exercido pelo ar sobre a superfície terrestre. Podemos afirmar que a pressão atmosférica diminui com a altitude em decorrência da densidade do ar, da aceleração da gravidade e da temperatura do ar (TUBELIS; NASCIMENTO, 1984 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 42). A influência da temperatura sobre a pressão atmosférica também pode ser notada quando se compara a variação anual da pressão atmosférica com o desenvolvimento das temperaturas no decorrer das estações do ano. As áreas de baixa pressão (BP) são denominadas ciclones ou áreas ciclonais e são receptoras de ventos. As áreas de alta pressão (AP) são denominadas anticlones ou áreas anticiclonais e são áreas dispersoras de ventos. No hemisfério sul, em uma região de baixa pressão, o ar apresenta um movimento par ao interior do núcleo, no sentido horário. Em uma região de alta pressão, o ar se move para fora do núcleo, no sentido anti-horário. O oposto ocorre no hemisfério norte. Isso ocorre em virtude dos mecanismos de convergência e divergência do ar, que se correlacionam com as variações de temperatura e, conse quentemente, de pressão. As regiões nas quais o ar faz o movimento ascendente são denominadas zonas de baixa pressão; já as regiões nas quais o ar faz o movimento descendente são denominadas zonas de alta pressão (TORRES; MACHADO, 2011, p. 43.). Por esse motivo, verificamos que o ar atmosférico está sempre circulando a partir das áreas de maior para as de menor pressão, resultando na formação dos ventos que sopram porque o ar é comprimido para fora por massas de ar frio descendentes e sugado para baixo da massa de ar quente em elevação, ou seja, os ventos sopram, no nível do solo, de lugares frios para lugares quentes. 2.1.5 Vento O vento é o ar em movimento e sua origem está ligada às diferenças de temperatura e pressão existentes entre duas regiões da atmosfera, sempre soprando de áreas de alta para áreas de baixa pressão. Isso significa que, quando uma área é submetida a temperaturas elevadas, o ar sofre dilatação e torna-se leve. Esta área, então, fica com baixas pressões, convergindo para ela o ar proveniente de outra área onde a temperatura é menor (mais frio) e a pressão é maior. O vento é o movimento do ar em relação à superfície terrestre, que se processa tanto no sentido horizontal como no sentido vertical. 30 Unidade I Em geral, o vento é mais forte e veloz nas partes mais altas, pois a velocidade próxima do solo é diminuída pela fricção ou pelo atrito do próprio vento com os obstáculos da superfície. Segundo Soares e Batista (2004 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 46), a direção do vento é o ponto cardeal de onde o vento vem. No Brasil, são adotadas oito direções fundamentais: Norte (N), Nordeste (NE), Sul (S), Sudeste (SE), Oeste (W), Noroeste (NW), Leste (E) e calmaria para a ausência de qualquer movimento. Podemos classificar os ventos como: • brisas terrestres e marítimas: são ventos locais que ocorrem principal mente nas costas tropicais. São causadas pelas diferenças de pressão existentes entre o continente e o mar, e essa, por sua vez, tem origem nas diferenças térmicas (calor específico) entre a superfície terrestre e a superfície hídrica; • ventos de vale e de montanha: em parte, são ventos de origem térmica, pois durante o dia, quando a radiação do sol é intensa, algumas vertentes montanhosas mais expostas são aquecidas mais rapidamente que os fundos de vale. Assim, forma-se uma área de baixa pressão receptora de ventos nas partes mais elevadas e, com isso, os ventos deslocam-se vertente acima. Esses ventos, denominados ventos de vale ou anabáticos, “são muitas vezes acompanhados pela formação de nuvens cúmulos sobre as montanhas ou perto delas” (AYOADE, 2003, p. 95 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 47); • alísios: são ventos constantes que provêm das regiões subtropicais, áreas de alta pressão e dispersoras de ventos, para a faixa equatorial, área quente, de baixa pressão e receptora de ventos. Em razão do movimento de rotação da Terra, os ventos alísios sopram de nordeste para sudoeste (alísios de nordeste) no hemisfério norte; de sudeste para noroeste (alísios de sudeste) no hemisfério sul. A seguir, apresentamos outras classificações de ventos: • constantes: dos trópicos para o Equador, podendo causar chuvas pela sua unidade; • periódicos: conhecidos como brisas das regiões litorâneas, se alternam regularmente, surgem pela desigualdade de aquecimento entre a terra e o mar; • locais e variáveis: depende da época e o local. Ex: Minuano – (RS). Ventos de Noroeste – da Amazônia, que podem deslocar-se até São Paulo; • perigosos: que podem causar grandes danos materiais e humanos; • ciclones: são ventos circulares, como: tufão, furacão, tornado. São tempestades violentas que ocorrem em regiões tropicais e subtropicais com velocidades que superam 50 km/h, atingindo mais de 160 km/h. Os ciclones classificam-se em: — furacão: é um vento circular forte, com velocidade igual ou superior a 100 km/h. São ciclones que se formam no mar do Caribe (Oceano Atlântico) ou nos Estados Unidos. Os ventos precisam ter 31 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS mais de 119 km/h para uma tempestade ser considerada um furacão. Giram no sentido horário (no Hemisfério Sul) ou anti-horário (no Hemisfério Norte) e medem de 200 km a 400 km de diâmetro; — tufão: é a denominação que recebem os ciclones formados no Sul da Ásia e na parte ocidental do Oceano Índico, entre julho e outubro. É o mesmo que furacão, só que na região equatorial do Oceano Pacífico. Os tufões surgem no Mar da China e atingem o leste asiático; — tornado: é o mais forte dos fenômenos meteorológicos, menor e mais intenso que os demais tipos de ciclones. Com alto poder de destruição, atinge até 490 km/h de velocidade no centro do cone. Produz fortes redemoinhos e elevam a poeira. Forma-se entre 10 e 30 minutos e tem, no máximo, 10 km de diâmetro. O tornado é menor e em geral mais breve que o furacão, ocorre em zonas temperadas do Hemisfério Norte. Os tornados podem atingir até 500 km/h. No mar, chama-se tromba d’água; — vendaval: vento forte com até 150 km/h. Geralmente ocorre de madrugada, pode durar várias horas. Na Austrália e países da Oceania os ventos fortes são conhecidos como Willy-Willy. Os ventos são o deslocamento do ar das áreas de alta pressão atmosférica para as áreas de baixa pressão. No Hemisfério Norte, os ventos polares são conhecidos como mistral, enquanto na América do Sul são conhecidos como minuano ou pampeiro. Nos polos, são os blizzards. Já os ventos que se deslocam junto à superfície dos Trópicos para o Equador são os alísios, caracterizando-se como quentes ou tépidos e úmidos. O encontro dos ventos alísios de NE e SE forma uma zona de baixa pressão (ciclonal), conhecida como Zona de Convergência Intertropical (CIT) ou Frente Intertropical (FIT), que provoca as chuvas convectivas, típicas das regiões intertropicais e equatoriais. Por outro lado, os ventos contra-alísios, que se deslocam em maiores altitudes no sentido contrário (do Equador para os Trópicos) e desprovidos de boa parte de sua umidade, formam os centros de alta pressão, conhecidos como anticiclonais. Quando o anticiclone se forma nos continentes geralmente surgem desertos, como o Saara, no Norte africano, e o Grande Deserto de Areia, no Centro-Oeste australiano. Saiba mais Para saber mais sobre ventos e questões climáticas sugerimos os seguintes filmes: O DIA depoisde amanhã. Dir. Roland Emmerich. EUA: 20th Century Fox, 2004. 124 min. TWISTER. Dir. Jan de Bont. EUA: Universal Studios, 1996. 113 min. UMA VERDADE inconveniente. Dir. Davis Guggenheim. EUA: Paramount, 2006. 94 min. 32 Unidade I Alta60ºN 60ºS 30ºN Equador 30ºS Alta Alta Alta Baixa Baixa Baixa Polo Norte Ventos Alísios Nordeste Ventos Alísios Sudeste Ventos Nordeste Ventos Sudeste Ventos Oeste Ventos Oeste Polo Sul Figura 4 2.1.6 Nebulosidade Entre 4,5 bilhões e 3 bilhões de anos atrás, a Terra ainda estava muito quente, o que impedia os gases suspensos no ar de se transformarem em líquido. Conforme a Terra foi esfriando, entre 3 bilhões e 2 bilhões de anos, as primeiras nuvens apareceram. As nuvens continham, além de água, metano, amônia, hidrogênio, hélio e gás carbônico. Atualmente, as nuvens são bem mais leves e são compostas por gotículas de água e impurezas encontradas no ar. Segundo Tubelis e Nascimento (1984, p. 174 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 50), uma nuvem pode ser definida como “um conjunto visível de partículas de água líquida e/ou de gelo, em suspensão na atmosfera”. O vapor de água presente no ar atmosférico pode passar para a fase líquida pelo processo de condensação, que dá origem às nuvens. O nascimento de uma nuvem pode ser resumido assim: em dias quentes, o sol aquece o solo com maior intensidade em alguns lugares. As bolhas de ar quente que se formam nos locais de maior incidência sobem impulsionadas pelo ar mais denso e mais frio em volta delas. Quando encontram uma pressão atmosférica mais baixa, as bolhas se expandem e resfriam – uma nuvem se forma quando o ar sobe e esfria tanto que o vapor de água que o ar contém se condensa em gotículas (TORRES; MACHADO, 2011, p. 51). Segundo Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 67), as nuvens são classificadas em famílias, de acordo com a altura de suas bases em relação ao nível do solo: 33 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS • nuvens altas: as bases estão a mais de 7 km da superfície; correspondem às nuvens do tipo Cirros compostas por cristais de gelo ou às de forma mista com prefixo Cirro, compostas por cristais de gelo e água super-resfriada; • nuvens médias: as bases estão entre 2 e 7 km de altura, prefixo Alto, compostas preferencialmente de água e comumente associadas a mau tempo; • nuvens baixas: as bases estão abaixo de 2 km; correspondem às do tipo Estratos e Estratos-cúmulos. Pertencem a esta família as nuvens Nimbos-estratos, que são nuvens geradas a partir dos Estratos; • nuvens de desenvolvimento vertical: também classificadas como nuvens baixas, são aquelas geradas pelos movimentos convectivos que formam nuvens do tipo Cúmulos (em forma de couve-flor), e que nos trópicos podem ultrapassar os 18 km de extensão. Quando pequenas e isoladas, são chamadas apenas de Cúmulos e indicam bom tempo. Contudo, se evoluem de Cumulus congestus, mais crescidas e encor padas, para Cúmulos-nimbos, que se formam comumente à tarde, podem trazer chuvas pesadas, com pelotas de gelo (granizo), neve, relâmpagos; e, em algumas regiões dos Trópicos, há formação de grandes tornados. Cúmulos-nimbos também se formam ao longo de um sistema frontal, de um ciclone tropical (furacão) ou e outros sistemas meteorológicos. 9.000 Cirrus Cirrus-cúmulos Altos-cúmulos Altos-estratos Nimbos-estratos Estratos Estratos-cúmulos De se nv ol vi m en to v er tic al (m ) Ba ix as M éd ia s Al ta s Cúmulos Cúmulos-nimbus Cirrus-estratos7.500 6.000 4.500 3.000 1.500 Figura 5 34 Unidade I A figura representa os principais tipos de nuvens que resultam do modo como o conteúdo de umidade do ar é levado a ascender na Troposfera. Quando concentrados e velozes, os movimentos ascensionais geram nuvens do tipo cumuliformes; quando mais lentos e graduais, resultam em nuvens estratiformes; e quando extensivos e prolongados, geram os cirros. Cirros Cirros-cúmulos Figura 6 – Nuvens altas 35 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS Altos-cúmulos Altos-estratos Figura 7 − Nuvens médias 36 Unidade I Cúmulos Estratos-cúmulos Estratos Figura 8 − Nuvens baixas 2.1.7 Precipitação A água é um dos principais elementos naturais de manutenção da vida no planeta e a precipitação é o resultado de um estado avançado de condensação da água. A precipitação ocorre quando a força 37 ELEMENTOS DE CLIMATOLOGIA; DOMÍNIOS E PAISAGENS VEGETAIS gravitacional supera a força que mantém a umidade suspensa, então a umidade atinge o solo sob a forma líquida (chuva ou chuvisco/garoa) ou sólida (granizo, saraiva e neve). É importante destacar o ciclo hidrológico, que, de forma geral, tem origem na evaporação da água formando nuvens (condensação) e termina com a precipitação, quando o ciclo se reinicia. Vapor d’água Vulcão Glaciar Armazenagem ArmazenagemInfiltração Percolação Evaporação Evaporação Evapotranspiração Escoamento Corrente fluvial Águas subterrâneas circulantes Águas subterrâneas circulantes Mar Armazenagem Lago Armazenagem Superfície do lençol freático Evaporação da chuva Evaporação da superfície Radiação Solar Chuva Chuva Rio Vento Nuvem Neve Figura 9 − Ciclo hidrológico 2.1.7.1 Ciclo hidrológico O ciclo hidrológico ou ciclo da água está ligado ao ciclo energético da Terra, ou seja, à distribuição da energia proveniente do Sol que é responsável pela passagem da água pelos três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso), além de promover a circulação dessa água pelo globo. Segundo Torres e Machado (2011, p. 55-59), as etapas desse ciclo são as seguintes: • evaporação ou vaporização: é a passagem da água do estado líquido para o de vapor. Aqui se inclui a evapotranspiração, ou seja, a evaporação, por transpiração, da água presente nos seres vivos (animais e vegetais). Para haver evaporação, dois agentes são fundamentais: água para ser evaporada e temperatura para promover a passagem da água do estado líquido para o gasoso. • condensação: é o processo pelo qual o vapor de água presente no ar atmosférico é novamente transformado em água líquida. O início do processo de condensação é visualizado pela formação de uma nuvem no céu; • precipitação: é o processo pelo qual a água condensada na atmosfera atinge a superfície terrestre na forma líquida (chuva ou chuvisco) ou sólida (granizo, saraiva ou neve): — chuva: é a precipitação de partículas de água líquida na forma de gotas com diâmetro mínimo de 0,5 mm e velocidade de queda de 3 m/s (SOARES; BATISTA, 2004 apud TORRES; MACHADO, 2011, p. 57); 38 Unidade I — chuvisco: precipitação de gotas de água muito pequenas, com diâmetros inferiores a 0,5 mm, que se dispersam uniformemente, parecem flutuar no ar acompanhando o movimento da brisa; — granizo: precipitação de grãos redondos ou cônicos de gelo. Ocorre quando a solidificação é muito rápida, ou seja, quando ocorre a sublimação (passagem do estado gasoso diretamente para o estado sólido) ou quando se produz em um meio contendo pequenas gotas super-resfriadas, como resultado de um resfria mento muito rápido a temperaturas entre -12°C e -40°C, o gelo se forma em massas amorfas ou apresenta pequenos traços de cristalização, precipitando em forma de granizo; — saraiva: precipitação de pedras de gelo mais ou menos ovais, com diâmetros entre 0 mm e 50 mm ou mais, que caem ora separadas umas das outras, ora aglomeradas em blocos irregulares. • Neve: se a condensação (sublimação) se dá a temperaturas muito baixas (em torno ou abaixo de -40°C) e de forma lenta e progressiva, o vapor de água também passa diretamente para o estado sólido, então, o gelo toma formas cristalinas mais ou menos regulares, simples ou complexas, e constituem a neve. Ainda segundo os autores, de acordo com sua gênese, as chuvas podem ser classificadas em três tipos principais: • chuva convectiva ou de origem térmica: as nuvens de convecção (grandes cúmulos ou cúmulos-nimbos) são formadas com a ascensão
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