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CRITICA DA MÍDIA

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CRÍTICA DA MÍDIA
Juliane do Rocio Juski
O cenário das fake news em 
uma perspectiva crítica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Caracterizar redes sociais.
  Explicar a atuação de bots, chatbots e ciborgues nas redes sociais.
  Discutir o emprego de algoritmos nas redes sociais.
Introdução
Nos últimos anos, a propagação de conteúdo falso ou fora de contexto 
ganhou proporções exponenciais, com impacto em processos de decisão 
democráticos e consequências ampliadas pelas redes sociais. A partir das 
implicações reais de notícias falsas (fake news), o mecanismo de dissemina-
ção desses conteúdos enganosos passou a ser objeto de muitas análises, 
em especial depois dos resultados do referendo de saída do Reino Unido 
da União Europeia (Brexit) e das eleições presidenciais norte-americanas 
de 2016.
Essa proliferação de fake news encontrou no contexto contempo-
râneo o ambiente perfeito para sua expansão. Tal contexto é marcado 
pela fragilidade da imprensa, pela crise de credibilidade dos veículos 
de comunicação e pela ampliação do acesso ao ambiente digital como 
espaço de criação de conteúdos sem restrições. Associada a isso, há 
uma mudança de comportamento do usuário da internet, que se vê 
estimulado a participar e interagir por meio da produção e do comparti-
lhamento de informações. Como resultado, aumenta o volume de dados 
que circulam no ambiente digital e nas redes sociais, e notícias oriundas 
de fontes desconhecidas ganham relevância.
Para amplificar ainda mais essa dispersão e revelar como o novo 
contexto é complexo, surgem os sistemas automatizados em que os bots 
(termo utilizado para designar os “robôs” da internet) replicam conteúdos 
em grande velocidade. Eles criam perfis falsos e passam a interagir nas 
redes sociais com o intuito de confundir e ludibriar os usuários, influen-
ciando o debate sobre temas de interesse público.
Para compreender o real impacto do cenário das fake news e seus 
reflexos na produção jornalística e na análise crítica da mídia, é preciso 
entender como funcionam esses mecanismos. Neste capítulo, portanto, 
você vai conhecer as características das redes sociais e suas lógicas de 
funcionamento. Vai descobrir também como é a atuação de bots, chatbots 
e ciborgues nas redes sociais. Além disso, vai ler sobre o emprego de 
algoritmos no ambiente digital e sobre o reflexo desse mecanismo na 
produção jornalística e na disseminação de fake news.
1 Redes sociais
Gabriel (2010) revela que as redes sociais são uma das formas de comunicação 
que mais crescem atualmente e que estão em um processo de difusão global, 
modifi cando o comportamento e o relacionamento de seus usuários. Mas, de 
acordo com a autora (2010), apesar de se apresentarem como um fenômeno do 
cenário atual, as redes sociais existem há pelo menos três mil anos. Ao apresentar 
o contexto histórico de seu surgimento, Gabriel (2010) defende que as redes sociais 
existem desde o tempo das cavernas, quando os homens se reuniam ao redor de 
uma fogueira para conversar ou trocar informações sobre assuntos de interesse 
comum. Com esse relato, a autora já destaca que o signifi cado de redes sociais não 
está atrelado à tecnologia, e sim à sua função de conectar, de possibilitar a troca 
e o relacionamento entre as pessoas com interesses em comum. “O que mudou 
ao longo da história foi a abrangência e a difusão das redes sociais, conforme as 
tecnologias de comunicação interativas foram se desenvolvendo: escrita, correios, 
telégrafo, telefone, computador, telefone celular, etc.” (GABRIEL, 2010, p. 193).
Gabriel (2010) destaca alguns aspectos tecnológicos que auxiliaram na pro-
pagação e pavimentaram o caminho para o atual cenário das redes sociais, como 
os sistemas que possibilitaram as primeiras comunidades on-line, o e-mail, os 
chats e os sistemas de mensagens instantâneas. Essas iniciativas culminaram 
em redes sociais como o Twitter e o Facebook. Associada a isso, está a ampla 
participação no fenômeno da web 2.0, possibilitada pela difusão da banda larga 
em grande escala e pelo barateamento do hardware de acesso, fornecendo um 
ambiente propício ao florescimento das redes sociais (GABRIEL, 2010).
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica2
Outro grande avanço foi que as redes sociais on-line, que antes se baseavam 
na interação dos usuários ativos (on-line), passaram a oferecer a possibilidade 
de conexão e interação dos usuários sem que eles estivessem conectados o 
tempo todo. Gabriel (2010) destaca também que o primeiro site de rede social 
a conseguir massa crítica de público para prosperar foi o Friendster, em 2003. 
Ele é considerado a primeira rede social a se tornar popular e a dar um salto 
evolutivo nos sistemas de redes sociais.
“A introdução da mobilidade, especialmente por meio dos smartphones, 
permitindo que as interações nas redes sociais sejam em tempo real (realtime), 
em qualquer lugar, tem incentivado também, sensivelmente, a participação 
nas redes sociais digitais on-line” (GABRIEL, 2010, p. 194). Baseada em 
pesquisas sobre o acesso mobile, a autora destaca que essa mobilidade foi um 
fator essencial para a ampla disseminação das redes sociais e a popularização 
do acesso a elas pelos usuários, principalmente em sites de relacionamento 
como Facebook e Twitter.
De acordo com dados divulgados por uma pesquisa do Comscore de 2019, o 
Brasil é o país da América Latina mais conectado nas redes sociais (SANTINO, 
2019). Entre os sites mais acessados, nesta ordem, estão Youtube, Facebook, 
Instagram e Twitter. Se considerar os aplicativos de mensagem instantânea, 
o WhatsApp é utilizado diariamente por cerca de 85% dos usuários. Além 
disso, a pesquisa aponta que grande parte dos acessos tem sido feita por 
celulares e outros dispositivos móveis, totalizando cerca de 68 milhões de 
brasileiros que usam exclusivamente seus celulares para navegar nas redes 
sociais (SANTINO, 2019).
Esses dados certamente auxiliam você a compreender o contexto de uti-
lização das redes sociais pelos usuários, não é? “No entanto, é importante 
ressaltar que as redes sociais têm a ver com pessoas, relacionamentos entre 
pessoas, e não com tecnologia e computadores. Elas tem a ver com ‘como 
usar as tecnologias’ em benefício do relacionamento social” (GABRIEL, 
2010, p. 194). 
Esse apontamento da autora reforça seu argumento de que as redes sociais 
são, em essência, uma forma de comunicação, e as tecnologias atuam como 
meros instrumentos que facilitam a interação e o compartilhamento de infor-
mações entre os atores sociais. Nesse sentido, percebe-se que o significado 
das redes sociais está além de aplicativos e sites de relacionamento.
3O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
Definição
Gabriel (2010, p. 196) afi rma que as redes sociais podem ser defi nidas como uma:
[...] estrutura social formada por indivíduos (ou empresas), chamados de 
nós, que são ligados (conectados) por um ou mais tipos específicos de in-
terdependência, como amizade, parentesco, proximidade/afinidade, trocas 
financeiras, ódios/antipatias, relações sexuais, relacionamento de crenças, 
de conhecimento, de prestigio, etc.
Essa definição da autora é baseada na teoria das redes sociais, que por 
sua vez se baseia na teoria dos grafos. Segundo a teoria das redes sociais, uma 
rede social é composta por atores (nós) e laços (conexões), ou seja, uma rede 
social conecta um ator com outro de acordo com suas relações de interesse. 
De acordo com Gabriel (2010, p. 198), “[...] a Teoria dos Grafos é um ramo da 
matemática que estuda as relações entre os objetos de um conjunto e pode ser 
aplicada às redes sociais como um conjunto de pessoas”. A autora revela ainda 
que muitos software de análise de redes sociais utilizam a teoria dos grafos 
em seus algoritmos.
Já Telles (2010, p. 82) defende que as redes sociais podem ser com-
preendidas como “[...] ambientes que focam reunir pessoas, os chamados 
membros, que, umavez inscritos, podem expor seu perfil com dados, como 
fotos pessoais, textos, mensagens e vídeos, além de interagir com outros 
membros, criando listas de amigos e comunidades”. O autor destaca também 
que as redes sociais têm acrescentado inúmeras funções às suas plataformas, 
permitindo que as pessoas interajam de diferentes maneiras, com conteúdos 
próprios e regras específicas para cada rede. Essas características específicas 
de cada rede vêm moldando o comportamento de seus membros e interferem 
na forma como eles interagem. “A maioria das redes sociais contém o con-
ceito de um grupo — um conjunto de pessoas unidas com um interesse em 
comum. Os membros do grupo podem compartilhar notícias e discussões” 
(TELLES, 2010, p. 82).
Desse modo, as redes sociais são estruturas formadas por pessoas e orga-
nizações que se relacionam dentro ou fora da internet a partir de interesses 
em comum. Inclusive, o conceito de rede ou teia social já é utilizado no 
campo da sociologia para determinar essas interações sociais que acontecem 
entre grupos e sociedades desde o final do século XIX. As redes sociais são, 
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica4
portanto, um conceito apropriado de outros campos científicos, mas que 
ganhou destaque por caracterizar a forma como os usuários se relacionam 
no ambiente digital; as interações na internet constroem redes sociais.
É bastante comum haver confusão entre as expressões “rede social” e “mídia social”. 
Gabriel (2010) aponta que é recorrente a utilização dos termos como sinônimos, mas 
eles não o são. De acordo com a autora, as redes sociais “[...] relacionam-se a pessoas 
conectadas em função de um interesse em comum, [enquanto as] mídias sociais 
associam-se a conteúdos (texto, imagem, vídeo, etc.) gerados e compartilhados pelas 
pessoas nas redes sociais” (GABRIEL, 2010, p. 202). Ou seja, como aponta Gabriel (2010), as 
redes sociais não se restringem ao uso da tecnologia: seu propósito é conectar pessoas 
com interesses em comum por meio de uma estrutura social, que pode ser física ou 
virtual, como as redes sociais digitais. Já as mídias sociais abrangem a tecnologia ou 
o meio que as pessoas utilizam para se conectar.
Segundo Gabriel (2010), essa confusão é comum pois as plataformas de redes sociais 
(como Facebook, Instagram, Twitter e Youtube) funcionam tanto como redes sociais 
quanto como mídias sociais. Isto é, no mesmo espaço, as pessoas estabelecem conexões 
e também compartilham informações em formatos diversos.
Mudanças na produção jornalística
Para Machado (2002, documento on-line), como regra geral, a prática profi s-
sional do jornalismo no ambiente digital se baseia nos parâmetros e procedi-
mentos adotados pelos meios tradicionais — como jornais impressos, rádio 
e televisão —, que são “[...] transplantados como elementos estruturais do 
sistema de produção de conteúdo das publicações jornalísticas no ciberes-
paço”. Essa difi culdade em compreender como atuar de forma diferenciada 
no ambiente digital, associada às mudanças impostas pela estrutura empre-
sarial do jornalismo (redução dos postos de trabalho, crises fi nanceiras e 
pouco tempo para a produção das matérias), é um dos indicativos de como 
as fake news encontraram um campo vasto de propagação. Além disso, o 
autor destaca um ponto importante: o modo como as redes sociais afetaram 
a produção jornalística.
5O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
De acordo com o autor, após a criação e a ampla disseminação das tecno-
logias de comunicação, como banda larga, fibra óptica e avanços na telefonia 
(classificadas pelo autor como redes telemáticas), observou-se dois modos 
distintos de atuação dos jornalistas. Veja:
a) as redes são uma espécie de ferramenta para nutrir os jornalistas das 
organizações convencionais com conteúdos complementares aos co-
letados pelos métodos tradicionais;
b) as redes são um ambiente diferenciado com capacidade de fundar uma 
modalidade distinta de jornalismo, em que todas as etapas do sistema 
de produção de conteúdos jornalísticos permanecem circunscritas aos 
limites do ciberespaço.
Como alternativa, Machado (2002) defende a adoção de técnicas de pesquisa 
e apuração adequadas ao jornalismo praticado no ambiente digital e nas redes 
telemáticas. Os problemas apontados pelo autor giram em torno da dificuldade 
de apurar os fatos no ciberespaço, uma vez que o jornalista não consegue 
confrontar os fatos de forma direta. Para realizar uma apuração mais precisa, 
o profissional deveria explorar a utilização do computador para além do texto, 
ou seja, como mecanismo de busca e de verificação de dados e informações. 
Outro problema é a natureza das fontes; como o ciberespaço se caracteriza 
por sua estrutura descentralizada, o trabalho de apuração dos jornalistas nas 
redes torna-se mais complexo. Isso se soma à “[...] multiplicação das fontes 
sem tradição especializada no tratamento de notícias, espalhadas agora em 
escala mundial” (MACHADO, 2002, documento on-line). Para reverter esse 
quadro, o autor indica a utilização de fontes oficiais ou de personalidades 
reconhecidas para respaldar a veracidade das informações e dar suporte à 
credibilidade do veículo.
Saad (2016) também reflete sobre essa mudança no jornalismo provocada 
pelas redes sociais. Valendo-se de Brambilla (2005), a autora enfatiza que as 
redes sociais transformaram o modo como as pessoas se relacionam. Associado 
a isso, há um cenário complexo e de incertezas, além de interações em contínua 
transformação que alteraram as relações sociais. Esse contexto afeta não apenas 
a prática jornalística, mas também a oferta de conteúdos e o relacionamento 
com o leitor. Grupos de comunicação de grande porte possuem diferentes 
formas de interação com o leitor e se preocupam com envolvê-lo e fidelizá-lo 
em todas as plataformas. Nesse sentido, as redes sociais são utilizadas pelo 
jornalista com três funções essenciais. Veja a seguir.
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica6
  Apuração: busca por fontes, personagens, pautas, testemunhos e 
opiniões.
  Veiculação: divulgação das matérias jornalísticas, com as adaptações 
necessárias quanto à linguagem e ao momento certo de divulgar de-
terminadas notícias.
  Feedback do público: espécie de canal de ouvidoria para receber in-
formações e melhorar a qualidade do trabalho jornalístico.
Machado (2002) destaca ainda que o ciberespaço promoveu uma inversão 
no processo tradicional de produção da notícia: se antes o repórter saía para 
perseguir um fato, agora as informações chegam até ele. O repórter passou 
a atuar como uma central de recebimento de informações dos mais variados 
meios e fontes. Portanto, é essencial que o jornalista compreenda como avaliar 
cada pauta e como mensurar a importância do valor-notícia. Nesse sentido, as 
redes sociais passaram a atuar como fonte para pautar o próprio jornalista. E, 
como destaca Machado (2002), nem sempre essa “facilidade” de encontrar a 
pauta resulta em uma matéria de qualidade, pois nesse processo há diversos 
empecilhos. Ademais, nem todos os profissionais estão devidamente quali-
ficados para se valer das etapas de produção jornalística a fim de apurar os 
fatos e evitar desinformações.
2 A atuação dos robôs na internet
Compreender o que são as redes sociais e como elas afetam o processo produtivo 
da notícia é essencial para você entender como o fenômeno das fake news se 
propaga. Contudo, as redes sociais não são as únicas fontes de propagação das 
notícias falsas, e essas notícias não são disseminadas apenas pelos usuários 
ou pelas matérias jornalísticas de baixa qualidade. No cenário atual, há outro 
fator que explica essa disseminação em larga escala e com consequências 
desastrosas para o debate público: são os robôs conhecidos como bots, chatbots 
e ciborgues.
Como destaca Ruediger (2017), a internet e as redes sociais se converteram 
em campos importantes para o debate público e para a disputa entre narrativas. 
O autor relembraa ideia utópica de que a internet seria um espaço multiplicador 
de vozes, uma arena democrática de expressão, uma vez que cada usuário 
poderia assumir o protagonismo como lugar de fala. Todavia, de 2013 para 
cá, o que se observou foi que velhas práticas de difamação e manipulação do 
7O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
debate público inundaram as redes sociais e o ambiente digital. De acordo com 
Ruediger (2017), as estratégias políticas de propagação de boatos e detrações 
pelos atores políticos foram massificadas velozmente pelas redes sociais. Para 
Ruediger (2017), a internet e as redes sociais dinamizaram o debate público 
e a disputa entre narrativas, abrindo espaços de discussão interessantes, mas 
também espaços para discursos de ódio, narrativas não legítimas e falsas. 
Somada a esse ambiente, há ainda a automatização de ferramentas de publi-
cação, possibilitando o surgimento e a propagação de robôs.
Barbosa (2018, documento on-line) evoca o contexto histórico da proli-
feração dos chamados social bots: “A sociedade da informação começa, no 
século XXI, a lidar com um novo fenômeno: os social bots, que são contas 
automatizadas em redes sociais digitais. Os alvos desses robôs são, potencial-
mente, todas as instituições e pessoas conectadas às mídias sociais”.
O que são os robôs de internet?
Ruediger (2017) defi ne robôs como contas controladas por software para au-
tomatizar determinadas ações no ambiente virtual. A pesquisadora Yasodara 
Córdova, da Digital Kennedy School, esclarece que os bots são uma metáfora 
para um algoritmo que auxilia o usuário ou realiza algum trabalho por ele 
(GRAGNANI, 2017). Assim, os robôs estão por toda a internet e espalhados 
pelas redes sociais, ou seja, a automatização e a implementação de robôs não 
são por si sós práticas prejudiciais. O mais comum é que esses dispositivos 
que automatizam ações sejam utilizados para facilitar a navegação do usuário, 
como nos casos de atendimento virtual. Entre os exemplos, está a Magalu, 
assistente virtual do Magazine Luiza, entre tantos outros assistentes virtuais 
e chats de atendimento ao cliente. O problema, segundo a pesquisa da Digital 
Kennedy School, é a prática maliciosa e fraudulenta.
O resultado disso é apontado por Barbosa (2018), que destaca que a socie-
dade em rede (conceito do sociólogo Manuel Castells) abre um espaço para 
a atuação de programas automatizados que buscam se parecer com “huma-
nos” para influenciar opiniões e direcionar as pautas de discussão a partir da 
viralização de mensagens pelas redes sociais. É a partir desse cenário que 
surge a discussão sobre a utilização desses robôs no ambiente da internet, 
com destaque à atuação desse tipo de ferramenta tecnológica em questões 
políticas, como as discussões sobre o Brexit, as eleições americanas de 2016 
e as eleições presidenciais brasileiras de 2018.
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica8
De acordo com Barbosa (2018), os robôs podem ser encontrados em diversas 
plataformas de mídias sociais, mas as pesquisas têm demonstrado um registro 
de maior alcance no Facebook e no Twitter. O Twitter é a rede social que 
apresenta maior crescimento de atuação dos social bots. Segundo o autor, os 
robôs no Twitter podem ser facilmente identificados e melhor acompanhados. 
Por outro lado, Marcos Bastos, professor da Universidade de Londres, destaca 
que o Twitter se configura também como o ambiente mais amigável para os 
robôs. Para exemplificar sua fala, o pesquisador cita dados sobre discussões 
relacionadas ao plebiscito do Brexit, que contou com pelo menos 13,5 mil 
robôs usados para “bombar” postagens automatizadas de ambos os lados do 
debate (GRAGNANI, 2017).
A facilidade da atuação robótica no Twitter é esclarecida por Bastos: essa 
rede não exige um tipo de conexão, como ocorre com o Facebook, em que 
o usuário teoricamente aceita apenas perfis conhecidos ou com afinidades. 
No Twitter, os perfis não exigem o uso de nomes verdadeiros e as interações 
ocorrem por hashtags ou pelas discussões em torno de assuntos em evidência, 
os trending topics. Bastos destaca, portanto, que o Twitter pode ser visto mais 
como um sistema de difusão de informações, daí a proliferação de robôs 
(GRAGNANI, 2017).
Como destaca Barbosa (2018), o Facebook é uma rede social mais com-
plexa. Embora tenha mais usuários do que outras plataformas, sua política de 
privacidade é mais restritiva, dificultando a atuação dos bots. Outra prática da 
plataforma é a verificação e a análise de perfis e conteúdos postados. Há um 
grau de exigência maior do que o do Twitter, por exemplo, no que se refere 
ao perfil criado e ao conteúdo das mensagens. Mas ainda assim há social 
bots atuando.
A atuação de robôs tornou-se foco de pesquisas, pois a prática segue em 
crescimento. Haugen (2017 apud BARBOSA, 2018) alerta que essa prática 
maliciosa tem alto potencial destrutivo e manipulador em relação à democracia, 
pois há riscos de que os social bots pautem cada vez mais o debate público e 
polarizem as discussões, disseminando um volume ainda maior de notícias 
falsas e alterando até mesmo o resultado de eleições. Afinal, os novos robôs são 
desenvolvidos continuamente para driblar tentativas de detecção e restrição. 
Portanto, como destaca Barbosa (2018), entender o funcionamento dos robôs 
no ambiente digital e o modo como eles efetivamente participam do debate 
público é uma tarefa urgente para a academia e para os profissionais da área 
de comunicação.
9O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
Os chatbots são robôs especializados em conversas automáticas. Construídos a partir 
de um programa de computador que se baseia na tecnologia de inteligência artifi-
cial, os chatbots são ferramentas cada vez mais aperfeiçoadas para imitar conversas 
com usuários de várias plataformas e aplicativos por meio de mensagens de texto 
automatizadas.
Normalmente, os chatbots estão associados a atendimento ao cliente ou resposta 
automática para algumas perguntas frequentes, as chamadas FAQs (Frequently Asked 
Questions). Sua utilização visa a automatizar o atendimento e diminuir o tempo de 
espera do usuário para obter suporte e esclarecer dúvidas.
A atuação de ciborgues nas redes sociais
Há ainda outro social bot que atua no universo on-line. De acordo com Emi-
liano de Cristofaro, professor da London's Global University, no Reino Unido, 
e pesquisador de segurança on-line, os ciborgues podem ser defi nidos como 
robôs híbridos, pois são operados em parte por humanos e em parte por com-
putadores. Eles se encontram em uma zona cinzenta de atuação entre o real e 
o virtual, por isso também são conhecidos como “trolls” ou “socketpuppets” 
(fantoches). De acordo com o pesquisador, os ciborgues são um gênero ro-
bótico muito mais complexo e sofi sticado, por isso são também mais difíceis 
de serem detectados. Sua atuação é muito semelhante à de um usuário real, 
pois o perfi l é construído com base em dados e fotos reais, e o conteúdo das 
publicações também se assemelha, em parte, ao publicado por um usuário 
comum. Além disso, os perfi s operados por algoritmos apresentam compor-
tamentos previsíveis e padrões de interação, por isso são identifi cáveis. Já 
uma pessoa real pode interromper esse padrão de comportamento a qualquer 
momento, agindo de forma diferente e tornando sua identifi cação muito mais 
difícil (GRAGNANI, 2017).
Toda essa engenhosidade na atuação dos ciborgues garante que eles ajam 
de forma mais prolongada. Segundo uma investigação da BBC Brasil (GRAG-
NANI, 2017), os perfis ciborgues roubaram fotos de pessoas reais, criaram 
nomes falsos, mas aceitáveis, e adicionaram como amigos perfis de pessoas 
verdadeiras. Depois, passaram a criar publicações sobre uma rotina inventada 
e a publicar conteúdos elogiando políticos ou personalidades, ajudando a au-
mentar a interação e o engajamento dessas pessoas. Essa estratégia sofisticada 
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica10
permite que o perfilciborgue crie “reputação” junto aos usuários e passe a 
influenciar o debate e a opinião.
Com o uso de ciborgues, por exemplo, a disseminação de notícias falsas 
consegue atingir um elevado grau de alcance. Isso ocorre pois há maior po-
tencial para compartilhamentos e comentários, além de esses social bots se 
utilizarem de usuários verdadeiros para amplificar a transmissão. Afinal, sua 
interação primária se baseia em perfis autênticos.
3 Engrenagens algorítmicas nas redes sociais
De acordo com Barbosa (2018), com o volume de dados aumentando e resul-
tando em um dilúvio informacional, as redes sociais passaram a aprimorar seus 
algoritmos para permitir uma seleção e uma hierarquização das informações 
apresentadas aos usuários. Os algoritmos são fórmulas matemáticas aplicadas 
à programação de computadores que buscam classifi car as informações da 
rede e do usuário, realizando o cruzamento dessas informações para oferecer 
conteúdos personalizados ao internauta.
Na prática, os algoritmos servem para “ler” os conteúdos disponibilizados 
na web. Eles levam em consideração uma série de fatores para fazer com que 
um conteúdo ou uma publicação chegue até o usuário. Esses algoritmos são 
utilizados tanto em mecanismos de busca, como o Google, como em platafor-
mas de redes sociais. Assim, quando um internauta acessa suas redes sociais, 
ele visualiza os conteúdos que o algoritmo selecionou como mais relevantes 
para aquele perfil. O que parece ser uma forma eficaz de oferecer conteúdo 
personalizado e relevante para cada usuário transformou-se em um fenômeno 
limitante, conhecido como “filtro-bolha”. Afinal, os algoritmos selecionam 
essas informações e acabam restringindo o acesso do internauta a outros 
conteúdos e diferentes pontos de vista.
Barbosa (2018) explica que esse processo de hierarquização e organização 
das informações no ciberespaço baseia-se em códigos que filtram o conteúdo 
e oferecem informações fundamentadas na predição, 
[...] constantemente criando e refinando uma teoria de quem você é, do que vai 
fazer e querer em seguida. Juntas, essas engrenagens criam um universo único 
de informação sobre cada um de nós, o [...] filtro-bolha, que fundamentalmente 
altera a forma com que nos deparamos com ideias e informações (PARISER, 
2011 apud BARBOSA, 2018, documento on-line).
11O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
Além das fórmulas matemáticas, os algoritmos se utilizam de bots para 
trazer ao usuário informações que sejam úteis ou relevantes. Outra diferença é 
que, enquanto os algoritmos de busca focam a intenção do usuário, os algorit-
mos das redes sociais geralmente usam fatores como engajamento e interação, 
oferecendo conteúdos de pessoas próximas ou de publicações que tiveram um 
grande número de comentários e compartilhamentos. É nesse mecanismo que 
as fake news se baseiam para se disseminar. As notícias falsas são construídas 
a partir dessas engrenagens e se apoiam nas interações e no engajamento para 
alcançar cada vez mais pessoas. Estas, por sua vez, passam a contribuir com a 
disseminação repostando e repassando o conteúdo falso para outros usuários.
Impacto dos algoritmos na produção jornalística
De acordo com Saad (2016), o Facebook é um exemplo de como as redes sociais 
modifi caram o contrato social entre os veículos e seus leitores. Isso ocorre 
porque os sites de relacionamento se confi guram tanto como plataformas de 
mídia quanto como empresas com fi ns comerciais. O modelo de negócios do 
Facebook, por exemplo, está em constante transformação desde sua origem. 
O objetivo disso é aprimorar as publicações, proporcionando um ambiente 
de maior interação entre os usuários e também de alta rentabilidade para os 
anunciantes.
Essas questões, segundo a autora, resultam em interferência tanto na parte 
editorial dos jornais como na parte comercial e, consequentemente, na produção 
jornalística. “O problema editorial está relacionado ao algoritmo que passa a 
ser um redutor do compartilhamento do conteúdo jornalístico” (SAAD, 2016, 
p. 69). A autora revela ainda que os algoritmos do Facebook distribuem os 
conteúdos de acordo com os gostos pessoais de cada usuário, e não em função 
de uma decisão editorial que, por exemplo, estaria por trás de um veículo. 
Ao mesmo tempo, o Facebook censura conteúdos que não estejam de acordo 
com suas políticas editoriais, não importando quão confiável é a fonte ou o 
responsável por aquela informação. Como consequência, o jornalismo precisa 
se adequar às redes e ofertar notícias nos formatos aceitos pelas plataformas. 
Além disso, o jornalismo teve de se inserir em um cenário comercial, ou 
seja, há perfis e contas que lucram com o número de cliques e acessos. Nesse 
cenário, semelhante ao do sensacionalismo, chama-se a atenção do usuário 
apenas pela manchete.
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica12
Ou seja, como destaca Saad (2016, p. 70), “[...] o hospedeiro é o detentor 
da base de leitores. E, tendo uma base de dados sobre as ações, preferências e 
escolhas dos usuários, trabalha esses dados tanto no relacionamento interpares 
como na exploração da publicidade”. Essa mudança desencadeada pelas redes 
sociais afetou a produção jornalística, alterou o modo de financiamento dos 
veículos de jornalismo, que passaram a ceder espaços para anúncios em seus 
sites, e mudou também a questão da publicidade.
De acordo com Saad (2016), antes os anúncios eram feitos em veículos 
ou editorias segmentadas e de interesse do anunciante, segundo critérios de 
credibilidade do veículo ao qual ele iria associar sua marca. Já com os anúncios 
digitais, como nas redes de display do Facebook e do Google, o anunciante 
segmenta apenas o público, mas não tem a opção de escolher o conteúdo que 
estará associado ao seu anúncio. Essa falta de transparência fez, inclusive, com 
que grandes marcas, como Coca-Cola e Unilever, retirassem investimentos de 
publicidade do Facebook depois de uma denúncia de que os anúncios estavam 
sendo exibidos junto a conteúdos associados a discursos de ódio e racismo 
(COCA-COLA..., 2020).
O ciberespaço e as redes sociais, destaca Saad (2016), configuram-se 
como ambientes com trocas constantes entre pessoas, sistemas, algoritmos 
e robôs que sabem muito sobre cada usuário, suas preferências, escolhas e 
caminhos percorridos na web. Assim, o imenso volume de informações pro-
duzido e disseminado no ambiente virtual é compactado e segmentado para 
ser entregue aos usuários de forma personalizada. Como resultado, as redes 
sociais contribuem para uma troca de informações imensa, podendo provocar 
transformações políticas expressivas e incentivar movimentos democráticos. 
Por outro lado, sua complexidade também faz reverberarem momentos an-
tidemocráticos e discursos de ódio, além de limitar os debates públicos por 
meio de informações parciais e segmentadas.
Todas essas características contraditórias das plataformas de redes sociais 
afetam a produção jornalística e o comportamento do leitor. Portanto, cabe 
a você, como profissional desse campo, compreender todas essas nuances 
para realizar seu trabalho de forma efetiva, aplicando os princípios éticos nas 
mais variadas plataformas e nos diversos formatos que o jornalismo utiliza 
no universo digital.
13O cenário das fake news em uma perspectiva crítica
BARBOSA, B. R. G. Robôs nas mídias sociais: uma análise sobre a gênese e o desenvol-
vimento do fenômeno social bots. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica 
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TELLES, A. A revolução das mídias sociais: cases, conceitos, dicas e ferramentas. São 
Paulo: M. Books do Brasil, 2010.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
O cenário das fake news em uma perspectiva crítica14

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