FUNDAMENTOS HISTORICOS E METODOLOGICOS DO SER SOC

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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS E 
TEÓRICOS -
METODOLÓGICOS DO 
SERVIÇO SOCIAL I E II
Viviane Maria Rodrigues
Doutrina social da Igreja 
e o Serviço Social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
n Refletir acerca da relação entre a doutrina social da Igreja e o Serviço 
Social brasileiro.
n Identificar os processos de trabalho do assistente social a partir da
doutrina social da Igreja.
n Reconhecer os limites e as possibilidades do Serviço Social quando se 
utilizou da doutrina social da Igreja nos seus processos de trabalho.
Introdução
Neste texto, você vai ver algumas questões importantes a respeito da cons-
tituição do Serviço Social brasileiro. Vai conhecer melhor sua gênese, seus 
fundamentos teóricos e sua prática frente à doutrina social da Igreja Católica.
Doutrina social da Igreja e sua influência no 
Serviço Social brasileiro
As mudanças estruturais vivenciadas na Europa por meio do processo de 
industrialização provocaram diversas transformações sociais, entre elas, o 
surgimento da classe burguesa industrial e da classe trabalhadora.
O desenvolvimento de classes antagônicas também fez surgir um conjunto 
de mudanças nos campos político, econômico e social. Além disso, apareceram 
movimentos operários alicerçados numa filosofia revolucionária, de ideais 
marxistas, cujas ideias revolucionárias eram contrárias ao pensamento da 
Igreja Católica.
No que se refere à Doutrina Social da Igreja merecem destaque nesse contexto 
as encíclicas “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII de 1891, que vai iniciar o 
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magistério social da Igreja no contexto de busca de restauração de seu papel 
na sociedade moderna, e a “Quadragésimo Anno” de Pio XI de 1931, que, 
comemorando 40 anos da “Rerum Novarum”, vai tratar da questão social, 
apelando para a renovação moral da sociedade e a adesão à Ação Social da 
Igreja (YAZBEK, 2009, p. 168).
O Papa Leão XIII escreveu a encíclica papal Rerum Novarum, em maio de 
1891, com a intenção de conter o liberalismo e o comunismo, bem como para 
frear o fortalecimento dos movimentos sociais de vertente marxista. 
Assim, surge o Serviço Social europeu, seguindo a ordem cristã descrita 
na Rerum Novarum, que apresenta duas propostas distintas de sociedade. 
Uma dessas propostas tinha embasamento no socialismo, sendo radicalmente 
condenada pela Igreja; e a outra era a proposta de uma sociedade cristã, 
defendida pela Igreja como única possibilidade. 
O Serviço Social nasce ligado à atuação da Igreja Católica, a serviço de 
sua ideologia. Além da ligação de prática, há sua ligação do ponto de vista 
teórico. Toda visão de homem se dará sob os quadros católicos, tendo como 
sustentação filosófica o neotomismo (AGUIAR, 1985, p.17).
A encíclica Quadragésimo Anno, promulgada 40 anos após a Rerum Novarum, 
em 15 de maio de 1931, foi escrita pelo Papa Pio XI. Nesse período, o mundo 
vivenciava significativas mudanças por meio da Revolução Russa, da Primeira 
Guerra Mundial e da Grande Depressão de 1929, conhecida também como 
Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque.
Essa encíclica mantém a crítica aos movimentos sociais e à sua base marxista, 
assim como reforça a doutrina social da Igreja Católica. Além disso, retoma 
os princípios de São Tomás de Aquino referenciados pelo Papa Leão XIII.
Os pensamentos de São Tomás de Aquino (tomismo) defendem a teologia 
como ciência suprema e a filosofia como sua auxiliar. Assim, somente poderá 
haver conflito entre ambas pelo uso incorreto da razão, ou seja, quando a 
filosofia tentar explicar os dogmas religiosos sem o auxílio da fé.
A encíclica Quadragésimo Anno se baseia na solidariedade cristã. Embora 
apresente críticas ao sistema econômico vigente, não traz proposta de mudança 
ou superação das mazelas sociais inerentes ao sistema capitalista.
Um dos fatores mais defendidos pela Quadragésima é a análise da desordem 
social. A partir dessa análise, a encíclica propõe o que considera como única 
solução: a reforma de costumes, fortalecendo a efetivação da ação católica. 
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No Brasil, a ação católica e a ação social tiveram como um de seus grandes 
incentivadores D. Leme, que se preocupou com a formação do laicado e com a 
aproximação com os intelectuais. Ele favoreceu o surgimento da universidade 
católica e se empenhou em aproximar a Igreja do Estado.
Neste período, será marcante a atuação e a presença de D. Leme, dada a sua 
capacidade de liderança e a de ser bispo da então Capital da República. Terá 
papel relevante na organização do catolicismo no Brasil, bem como na atuação 
junto ao Governo Civil (AGUIAR, 1985, p. 21).
De 1º de abril a 15 de maio de 1932, realizou-se um curso intensivo de for-
mação social para moças, ministrado por mademoiselle Cristine de Hemptine. 
Nesse curso, foram aplicados os ensinamentos da doutrina social da Igreja e 
da ação católica, vinculados aos preceitos de São Tomás de Aquino.
Além disso, o curso mostrou o esforço titânico dos católicos europeus pela 
recristianização da sociedade em perigo. Esse esforço estava expresso em ati-
vidades de toda ordem: culturais, familiares, pedagógicas, econômico-sociais 
e parapolíticas (AGUIAR, 1985). 
Da união da ação social e da ação católica, foi criado no ano de 1932 o 
Centro de Estudos e Ação Social (CEAS). Essa entidade deu início à primeira 
escola de Serviço Social no Brasil, no ano de 1936, seguindo os fundamentos 
europeus, principalmente o franco-belga, com sua forte influência da doutrina 
social da Igreja.
Havia alguns critérios para se ingressar na Escola de Serviço Social. Entre 
eles: ter de 18 a 40 anos, apresentar referência e atestado de saúde. O conteúdo 
do curso destacava a formação intelectual, moral, profissional e doutrinária.
A formação doutrinária referia-se à atuação junto à classe trabalhadora. A ideia 
era doutriná-la em suas relações sociais, econômicas e morais, oferecendo a 
perspectiva do cristianismo sobre as relações do homem com o mundo.
Assim, como você pode notar, os assistentes sociais assumem a profis-
sionalização da caridade, intervindo na questão social e em suas múltiplas 
expressões. Sua atuação é marcada por doutrinação, caridade, disciplina, 
messianismo, benevolência e ajuda aos pobres. Nesse contexto, a Igreja jus-
tificava a injustiça social por meio de sua visão de homem, com práticas 
evangelizadoras e ações defendidas pelo CEAS. 
Foi dentro dessa concepção de homem e de mundo que se institucionalizou o 
Serviço Social brasileiro, marcado por uma atuação doutrinadora e reguladora 
dentro dos preceitos cristãos.
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Os processos de trabalho do assistente social a 
partir da doutrina social da Igreja 
A atuação profi ssional embasada na teoria social da Igreja era pautada na 
disciplina, na caridade, na moral, na fé e no condicionamento da classe tra-
balhadora, uma forma de organizar a caridade. Como você viu, o trabalho 
do assistente social iniciou-se principalmente no Centro de Estudos e Ação 
Social, anterior ao surgimento da primeira escola de Serviço Social no Brasil.
O CEAS desenvolveu a prática profissional baseado na doutrina social 
da Igreja Católica, com formação espiritual e social. Assim, implantou a 
abordagem de ação baseada no julgamento, avaliando como se pode atuar 
no problema sem pensar na sua causa. Em síntese, essa foi a metodologia de 
intervenção adotada. 
Essa entidade teve um papel fundamental na institucionalização do Serviço 
Social. A partir do CEAS, foi criada, no ano de 1936, a primeira escola de 
Serviço Social do Brasil, no estado de São Paulo, ligada à Pontifícia Univer-
sidade Católica (PUC).
A atuação profissional dentro dos preceitos da doutrina social da Igreja Católica tinhao intuito de moldar o homem em seu aspecto cristão e moral, ajustando o indivíduo 
à sociedade. Portanto, esse objetivo tinha um viés doutrinário e assistencialista.
Acesse os links a seguir e leia os artigos sobre as encíclicas papais:
https://goo.gl/zcQoJo
https://goo.gl/t5jt9h
Doutrina social da Igreja e o Serviço Social4
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Os assistentes sociais desenvolviam suas ações junto às famílias operárias. 
Para garantir sua organização, eram ministrados cursos de formação familiar, 
com formação moral e formação doméstica para o lar. A atuação era feita 
basicamente “[...] através de encaminhamentos, colocação em empregos, abrigo 
provisório para necessitados, regulação legal da família (casamento) etc., e 
fichário dos assistidos” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006).
A atuação profissional, portanto, era voltada para a regulamentação das 
famílias, dentro dos modelos cristãos, intervindo na sua organização tanto 
doméstica quanto de trabalho. Veja:
A atuação prática desenvolvida pelos primeiros Assistentes Sociais estará, 
assim, voltada essencialmente para a organização da assistência, para a edu-
cação popular e para a pesquisa social. Seu público preferencial — e quase 
exclusivo — se constituirá de famílias operárias, especialmente as mulheres 
e crianças. As visitas domiciliares, os encaminhamentos — de muito pequeno 
efeito prático, devido à carência de obras que sustentassem semelhante técnica 
—, a distribuição de auxílios materiais e a formação moral e doméstica através 
de círculos e cursos [...] (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 196–197).
Como você viu, essa atuação era pautada no conceito de caridade e assis-
tencialismo. Assim, não havia uma análise mais crítica da sociedade, de seus 
aspectos sociais, políticos, culturais e econômicos. Não se atuava significati-
vamente, portanto, nas contradições existentes em uma sociedade de classes. 
Nesse contexto, a desigualdade social era compreendida como um caso 
de caridade, de ajuda às pessoas mais empobrecidas. A ideia era auxiliar essa 
população para que ela tivesse acesso ao mínimo para sua subsistência. Assim, 
o Serviço Social corroborava as desigualdades existentes, além de fortalecê-las. 
O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura 
[...] tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho 
torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se 
mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO; 
CARVALHO, 2006, p. 27).
Desse modo, a intervenção social do Estado e da Igreja auxiliou na manuten-
ção da sociedade classista e altamente desigual. Essa intervenção possuía, como 
você viu, um caráter doutrinário, regulador das relações sociais, além de um 
posicionamento assistencialista, tratando “os casos” como de desajuste social. 
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Todo esse posicionamento está vinculado à doutrina social da Igreja Católica, 
que perdurou por várias décadas no fazer profissional do assistente social.
Limites e possibilidades do Serviço Social 
vinculado à doutrina social da Igreja 
Quando você pensa na relação entre a doutrina social da Igreja Católica e o Serviço 
Social, deve considerar todo o processo de doutrinação advindo das encíclicas 
papais. Como você viu, essas encíclicas deram suporte à doutrina. Além disso, 
a institucionalização do Serviço Social ocorreu dentro de seus moldes.
A análise da questão social, nesse momento de doutrinação, considera os 
problemas sociais como desajustes pessoais, como consequências individuais 
dos sujeitos, reforçando o caráter dominante da classe burguesa.
É nesse processo de legitimação do poder da classe burguesa e do aparato do 
Estado e da Igreja que se constitui a intervenção do assistente social. Portanto, 
essa disciplina se forma por meio dos ensinamentos determinados pela doutrina 
social da Igreja Católica, que coíbe todo processo de movimento contrário 
à exploração da força de trabalho, justificando as mazelas sociais como um 
problema individual, de modo que o homem é que deve se moldar ao sistema.
Poder-se-ia afirmar que o Serviço Social, como profissão inscrita na divisão 
social do trabalho, situa-se no processo da reprodução das relações sociais, 
fundamentalmente como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do 
controle social e da difusão da ideologia da classe dominante junto à classe 
trabalhadora. Assim, contribui como um dos mecanismos institucionais mo-
bilizados pela burguesia e inserido no aparato burocrático do Estado, das em-
presas e outras entidades privadas, na criação de bases políticas que legitimem 
o exercício do poder de classe, contrapondo-se às iniciativas autônomas de 
organização e representação dos trabalhadores (IAMAMOTO; CARVALHO, 
2006, p. 93–94).
Desse modo, a profissão vincula-se a grupos sociais predominantemente 
femininos, responsáveis pela ação social da Igreja Católica junto a grupos mais 
vulneráveis e empobrecidos da classe operária, especialmente mulheres e crianças.
Com a institucionalização do Serviço Social dentro dos preceitos da 
doutrina social da Igreja Católica, a profissão era considerada uma missão, 
um serviço à sociedade. Dessa forma, se consolidou como uma intervenção 
social especializada em fazer o bem, ajudar e oferecer caridade com base em 
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fundamentos filosóficos e morais de doutrinação que eram repassados por 
meio de cursos educativos.
Assim, o Serviço Social se forma como um dos instrumentais técnicos e 
operativos utilizados para garantir a intervenção social. Segundo Iamamoto 
e Carvalho (2006, p. 111):
Na operacionalização de medidas instrumentais de controle social, o emprego 
de técnicas e tecnologias sociais é largamente utilizado enquanto meio de 
influenciar a conduta humana, adequando-a aos padrões legitimados de vida 
social, manipulando racionalmente os problemas sociais, prevenindo e cana-
lizando a eclosão de tensões para os canais institucionalizados estabelecidos 
oficialmente. Entre essas tecnologias encontra-se o Serviço Social.
Para ser assistente social, para frequentar as escolas de Serviço Social, era necessário 
cumprir alguns critérios, como idade determinada, bons antecedentes, entre outros. 
Esses critérios eram determinantes para regularizar a ajuda, a doutrinação cristã, na 
vida do trabalhador no espaço público e privado.
Como você viu na seção anterior, era desconsiderada a questão da produção 
e da manutenção das desigualdades sociais e eram reforçados os interesses da 
classe burguesa. O Serviço Social assumia a ideologia de uma profissão que 
exerce a ajuda, a caridade, a doutrinação e a regulação dos cidadãos inaptos 
a sobreviverem nesse sistema desigual e excludente, em que o valor de cada 
um é determinado pelos meios de produção capitalista, ou seja, cada um vale 
o que produz. 
Com relação aos limites e avanços do Serviço Social dentro da doutrina 
social da Igreja Católica, você pode considerar a institucionalização da pro-
fissão como um grande avanço. Foi devido à necessidade de se intervir na 
questão social que surgiu a demanda por um profissional capacitado. Assim, 
respondendo aos intereses políticos do Estado e da Igreja, o Serviço Social 
se institucionalizou. Contudo, você deve lembrar-se de que esse processo se 
dá sem um suporte teórico crítico. Portanto, não favorece que uma profissão 
restrita à regulação evolua inicialmente para uma profissão que atue efetiva-
mente na questão social.
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AGUIAR, A. G. de. Serviço social e filosofia: das origens a Araxá. 3. ed. São Paulo: Cortez 
editora, 1985.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relaçõessociais e o Serviço Social no Brasil: esboço de 
uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
YAZBEK, M. C. Os fundamentos históricos e teórico metodológicos do serviço social brasileiro 
na contemporaneidade. [201-?]. Disponível em: <http://cressrn.org.br/files/arquivos/
ZxJ9du2bNS66joo4oU0y.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2018.
Leituras recomendadas
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências 
profissionais. Brasília: CEAD/UnB, 2009.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação pro-
fissional. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 
IAMAMOTO, M. V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social ensaios críticos. São 
Paulo: Cortez, 1997. 
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