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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4 2 A HISTÓRIA DOS CUIDADOS PALIATIVOS E OS SEUS FUNDAMENTOS 5 2.1 Princípios dos cuidados paliativos ............................................................ 7 2.2 Princípios do controle de sintomas ........................................................... 9 2.3 Morte como um processo natural – respeitando a autonomia do paciente 9 2.4 Atribuições desenvolvidas pela equipe de cuidados paliativos .............. 12 3 SEDAÇÃO PALIATIVA .............................................................................. 14 3.1 Considerações éticas em relação à sedação paliativa ........................... 16 3.2 Escala de Ramsay e motivos para sua utilização .................................. 17 4 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA) .......................................... 19 5 IMPORTÂNCIA E BENEFÍCIOS DA REDE DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA21 5.1 Direitos sociais ....................................................................................... 22 5.2 Direitos no tratamento/saúde ................................................................. 22 5.3 Direitos tributários — isenções ............................................................... 23 6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO ..................................................................................................... 23 6.1 Quimioterapia ......................................................................................... 24 6.1.1 Classificação das drogas antineoplásicas e mecanismos de ação .. 24 6.1.2 Medicamentos mais utilizados no tratamento do câncer .................. 24 6.2 Radioterapia ........................................................................................... 28 6.2.1 Teleterapia ....................................................................................... 28 6.2.2 Aceleradores lineares ....................................................................... 28 6.2.3 Braquiterapia .................................................................................... 28 6.2.4 Método de implantação de fontes .................................................... 29 3 6.2.5 Finalidades da radioterapia .............................................................. 29 6.3 Sinais e sintomas da terapia antineoplásica e o atendimento de enfermagem ............................................................................................................... 30 6.3.1 Náuseas e vômitos ........................................................................... 30 6.3.2 Queda de cabelo .............................................................................. 31 6.3.3 Alteração da mucosa oral ................................................................. 31 6.3.4 Diarreia ............................................................................................. 32 6.3.5 Constipação ..................................................................................... 32 6.3.6 Reação na pele ................................................................................ 33 6.3.7 Sangramentos .................................................................................. 33 7 COMPLICAÇÕES DE QUIMIOTERÁPICOS E RADIOTERAPIA COM TOXICIDADE E RISCOS AOS SISTEMAS DO ORGANISMO ............................ 33 7.1 Toxicidade dos quimioterápicos ............................................................. 34 7.2 Riscos causados pela terapia antineoplásica nos sistemas do organismo 34 7.2.1 Toxicidade hematológica .................................................................. 34 7.2.2 Toxicidade cardíaca ......................................................................... 35 7.2.3 Toxicidade pulmonar ........................................................................ 35 7.2.4 Toxicidade neurológica..................................................................... 36 7.2.5 Toxicidade vesical e renal ................................................................ 36 7.2.6 Toxicidade gastrintestinal ................................................................. 36 7.2.7 Disfunção reprodutiva....................................................................... 37 7.2.8 Hepatotoxicidade .............................................................................. 37 7.2.9 Alterações metabólicas .................................................................... 38 7.2.10 Toxicidade dermatológica ............................................................... 38 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 39 4 1 INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 A HISTÓRIA DOS CUIDADOS PALIATIVOS E OS SEUS FUNDAMENTOS Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cuidados paliativos são: Os cuidados de saúde ativos e integrais prestados à pessoa com doença grave, progressiva e que ameaça a continuidade de sua vida. Tem como objetivo promover a qualidade de vida do paciente e de seus familiares através da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce de situações possíveis de serem tratadas, da avaliação cuidadosa e minuciosa e do tratamento da dor e de outros sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais (BRASIL, 2022). Nos cuidados paliativos (CP), é necessário que se trabalhe com uma equipe multidisciplinar, devido à complexidade do cuidado no final da vida. Cada profissional da saúde tem um papel essencial para a melhoria da qualidade de vida do paciente e dos seus familiares, portanto, deve-se explicar quais as atribuições desenvolvidas por essa equipe nos CP. O primeiro marco da história dos CP, de forma estruturada, aliando cuidados clínicos, pesquisa e formação, foi por meio da enfermeira, médica, escritora e assistente social Cicely Saunders (1918-2005) com um paciente acometido por um câncer terminal, no final dos anos de 1950, em Londres. Ela teve o desafio de tentar conduzir adequadamente o controle da dor e dos demais sintomas que o afetavam e, desse encontro, criou-se o primeiro hospice na cidade, em 1967, o Christopher’s Hospice. No entanto, podemos encontrar traços e práticas dos cuidados com pessoas em processo de terminalidade antes dessa constituição estruturada e investigativa da história moderna. Por muito tempo, nos séculos a.C., considerava-se perigoso tratar ou cuidar de um paciente em leito de morte, pois havia a crença de que poderia se receber um castigo por desafiar as leis da natureza. A morte não poderia ser desafiada e, por isso, não era ético que os médicos atendessem esse tipo de doente. Após a difusão do cristianismo, passou-se a acolher e ajudar pessoas doentes e desfavorecidas como um compromisso cristão. Portanto, foramcriados lugares que abrigavam peregrinos e, ao longo do tempo, aceitavam moribundos nos hospititium, termo em latim do qual derivou a palavra hospice dando o sentido de hospitalidade e atendimento aos pacientes em terminalidade, como se entende na atualidade. Já no século XI, os cruzados pensavam ter criado as primeiras casas para pacientes incuráveis por meio da Ordem dos Cavaleiros Hospitaleiros. No período da 6 Idade Média, surgiram diversas instituições para abrigar doentes terminais, sendo sua maioria de carisma religioso. Essa expansão teve seu ápice por quase quatro séculos até a diminuição da influência das ordens religiosas devido à Reforma Protestante. Apenas no século XIX surgiram locais próprios para o cuidado de pacientes em terminalidade, os quais seguiram associados às ordens religiosas, tendo duas grandes referências: Mary Aikenhead (1787-1858) e Jeanne Garnier (1811-1853). Garnier fundou a ordem Association des Dames du Calvaire, que, em 1843, instituiu o primeiro local especializado para doentes moribundos localizado em Lyon. Já Aikenhead, da ordem Irish Sisters of Charity, fundou a Our Ladys´s Hospice for the Dying em Dublin, em 1879. Posteriormente, em 1893 e 1905, fundou-se o St. Kuke’s Home e o St. Joseph’s Hospice em Londres. Em todas essas instituições, o foco era o alívio sintomático das doenças do ponto de vista clínico. Foi no século XX que Cicely Saunders, focando o cuidado e tratamento direto para o doente, observou e concluiu que a terminalidade da vida estava sendo ocultada do prognóstico, bem como a forma de lidar com a morte, negada pela sociedade. Assim, Saunders engajou-se no movimento moderno dos hospices e, em 1969, criou o programa de CP domiciliários, que teve como diferencial o foco em novas competências além do controle da dor, compreendendo outros problemas associados à terminalidade, incluiu a família nos cuidados do paciente e forneceu meios de formação e investigação do CP. Na década de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu um programa de CP para pacientes oncológicos, iniciando o Cancer Pain and Palliative Care e o Palliative Cancer Care, sendo estes as primeiras recomendações sobre cuidados terminais para pessoas com câncer. Ainda nesse período, surgiram iniciativas em diversos países, como Austrália, Nova Zelândia, Bélgica, China, Polônia, Reino Unido e Romênia. No Zimbábue e África do Sul também foram criadas as primeiras unidades de CP. No ano de 1999, foram criadas a International Association for Hospice and Palliative Care, a Hospice Association of South Africa e a European Association for Palliative Care. Já neste século, foram fundadas a Foundation for Hospices in Sub- Saharan Africa, a Latin American Association for Palliative Care e o United Kingdom Forum for Palliative Care Worldwide, pela organização Help the Hospices. A OMS, em 2002, lançou a mais recente definição de CP, consensual até hoje; afirmando que a prática de cuidados paliativos visa à qualidade de vida dos pacientes e 7 seus familiares, visando pessoas com doenças sem possibilidade de cura e que ameacem a vida, respeitando e priorizando os aspectos físicos, sociais, emocionais, mentais e espirituais da pessoa humana. Em razão desse conceito, foram elaborados os documentos Better Palliative Care for Older People e Palliative Care: The Solid Facts, incluindo doenças crônicas progressivas nas políticas de saúde para o envelhecimento. Já em 2014, após a 67ª assembleia da OMS, foi elaborado o documento sobre CP com um componente que compreende o cuidado ao longo da vida, o qual se tornou muito relevante para os princípios dos CP, pois amplia sua compreensão e passa a dar igual atenção às necessidades do paciente desde o diagnóstico até o pós-morte. Há um movimento amplo em direção à integralidade do cuidado voltado para a pessoa e não apenas para a patologia e as consequências esperadas. Nesse ano, surge ainda a Declaração Europeia de Cuidados Paliativos. Ao longo da história, o cuidado com o doente em terminalidade se desenvolveu de forma local até ser disseminado por todos os continentes, contando, atualmente, com centenas de países que têm serviços de CP. Em todas as antigas e atuais iniciativas de cuidado voltadas ao paliativismo, nota-se que o paciente sempre necessitou de mais de um profissional e seus cuidados para que pudesse ter um tratamento mais qualificado. 2.1 Princípios dos cuidados paliativos A medicina moderna e de alta tecnologia busca incansavelmente a cura. Muitas vezes, perseverantemente focado na patologia, esquecendo que por trás da doença existe uma pessoa que sofre e tem medos e inseguranças. E a enfermagem, ao contrário da cura, nos lembra a dignidade humana ao centralizar o paciente como soberano de sua autonomia de cuidado, permitindo-lhe tomar suas próprias decisões para garantir a qualidade de vida e o respeito à dignidade, na doença e na vida, na terminalidade, na morte ou luto (CAMPOS; VILAÇA, 2022). Existem princípios em medicina paliativa que regulam as ações da equipe multiprofissional; eles se baseiam no conhecimento científico das especialidades individuais e possibilitam intervenções clínicas e terapêuticas nos diversos campos da ciência médica. Tais princípios foram publicados pela OMS em 1986 e corroborados em revisão realizada em 2002, vejamos: 8 • Promoção do alívio da dor e de outros sintomas que causam desconforto: A presença de uma equipe multidisciplinar significa que o conhecimento específico de cada área, além de medidas não farmacológicas e abordagem psicossocial, resulta em uma prescrição farmacológica mais eficaz que contribui para o alívio da dor; • Afirmação da vida, considerando a morte como processo natural: o fim da vida é uma constante nos CP. Compreender a morte ajuda o paciente a entender sua doença, o que permite discutir o processo de adoecimento e a tomada de decisões; • Não adiantar nem postergar a morte: intervenções ativas e de reabilitação que melhorem a qualidade de vida do paciente podem retardar a progressão da doença sem causar mais desconforto e sofrimento do que o já causado pela própria doença; • Integração do psicossocial e espiritual no cuidado: é importante a presença de vários profissionais, identificando problemas e tomando decisões em conjunto com o paciente, pois a doença ameaça a vida e envolve perdas como autonomia, segurança, autoestima, capacidade física e outros aspectos que garantem o controle de relacionamentos que tanto o paciente quanto sua família se sentem incapazes de lidar. Portanto, ao desenvolver o cuidado, é de suma importância incluir os aspectos humanos em conjunto com as próprias crenças do paciente; • Ofertar sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativo quanto possível, até sua morte: os CP se concentram na qualidade de vida, independentemente da doença ou estágio em que o paciente se encontra, ajudando-o a progredir do diagnóstico até o fim da vida; • Ofertar sistema de suporte que auxilie os familiares a enfrentar a doença e a experiência do Iuto: a família e os amigos do paciente servem como uma rede de apoio e são importantes na tomada de decisões. A informação adequada sobre a condição e evolução da doença permite que os familiares compreendam todo o processo e proporciona uma sensação de segurança e apoio, o que pode prevenir complicações futuras durante o período de luto; • Iniciar o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia, incluindo 9 investigações necessárias para melhor compreender e manejar os sintomas: conforme recomendado pela OMS, os cuidados paliativos devem ser incluídos no cuidado do paciente a partir do momento em que uma doença com risco de vida é diagnosticada, mesmo que ainda haja chance de recuperação. 2.2Princípios do controle de sintomas A prevenção e o alívio do sofrimento humano com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças potencialmente fatais estão incluídos na definição de cuidados paliativos. Segundo Campos e Vilaça (2022) a avaliação individualizada, o controle e o manejo impecável dos sintomas oferecidos por uma equipe multiprofissional são pilares dos cuidados paliativos. Os sintomas geralmente podem ser evitados. Medidas farmacológicas ou não farmacológicas podem ser tomadas com base no conhecimento do curso natural da doença e em uma avaliação abrangente do paciente. Como medidas não farmacológicas podemos citar psicoterapia, acupuntura, massagens, técnicas de relaxamento e fisioterapia. Todas as dimensões do sofrimento humano devem ser sempre consideradas, pois sabe-se que um sintoma não é influenciado apenas por mudanças físicas, mas também por mudanças sociais, espirituais e psicológicas. Para uma avaliação adequada dos sintomas, todas essas dimensões devem ser examinadas e avaliadas. 2.3 Morte como um processo natural – respeitando a autonomia do paciente Um dos paradigmas dos PCs no contexto atual é afirmar que a morte faz parte da vida e que é um fenômeno fisiológico que, uma vez iniciado, não tem como ser desfeito. O desafio dos profissionais de saúde é enfrentar o processo de terminalidade e morte como realmente são e abordá-los de forma humanizada e clara. Uma boa comunicação com o paciente e sua família ajuda a entender e gerenciar melhor o tratamento durante esse período de dúvida, medo e adaptação. Devem ter conhecimentos técnicos relacionados à percepção do ser humano como portador de sua história de vida e determinante de sua trajetória de adoecer e morrer. 10 Cada pessoa deve ser acolhida e respeitada por suas escolhas, crenças, curso da doença e história de vida, e pelas respostas fisiológicas associadas à doença e ao tratamento, como emocional, cultural e espiritualmente mediante o adoecer e morrer. Por sua vez, os familiares precisam ser orientados e treinados para compreender o desenvolvimento da doença, como esse processo se instala e afeta o paciente e seus entes queridos. A abordagem direta e clara do tratamento da morte permeia naturalmente o tratamento do CP desde o diagnóstico até o óbito. A equipe multidisciplinar é desafiada a fazer uma avaliação abrangente do doente e da sua família, centrar-se nas suas queixas principais e subjacentes, tentar aliviar o seu sofrimento e garantir a sua qualidade de vida. Diante do desafio de abordar os diferentes aspectos do sofrimento humano e focar em objetivos claros capazes de exonerar e preparar o paciente e sua família durante o processo de morte, foi criada uma ferramenta para sistematizar o raciocínio desta equipe: o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo desenvolveu uma ferramenta chamada diagrama de abordagem multidimensional (DAM). O ser humano deve ser entendido como um ser indivisível, influenciado pelo ambiente e suas relações, mas pode ser avaliado segundo dimensões como física, familiar/social, psicológica e espiritual para sistematizar a assistência à saúde. O gráfico é dividido em quatro quadrantes, sendo que o centro contém as características do paciente em suas respectivas dimensões. O foco da análise do DAM é o paciente, e a área que precisa ser percebida em seguida é sua condição, analisando se esta é atual, e pode ser aliviada ou futura, que possa ser prevenida. Deve-se também ter em mente que o sofrimento do paciente nem sempre é o do paciente, mas uma projeção da família e da equipe do paciente. A próxima área inclui as atitudes que devem ser adotadas diante da condição identificada. Fora do gráfico existem metas a serem alcançadas que nem sempre são alcançadas devido a muitos fatores externos. O DAM não é um protocolo para se preencher, mas uma forma de raciocínio que visa orientar a equipe de CP. Durante a discussão multidisciplinar do caso, o paciente é solicitado a preencher a esfera do meio com seus dados, a segunda esfera com seus respectivos transtornos e, por fim, as atitudes dessa equipe. Assim, é fácil ver como determinados males se refletem em outras dimensões e distinguir aspectos que podem ser confundidos, levando a equipe a atitudes improdutivas. 11 Embora o CP seja voltado para a qualidade de vida do paciente terminal, existem direitos, vontades e desejos que devem ser respeitados à vontade. Não é incomum que alguns, após a passagem pelo CP, tenham planos e desejos em relação à organização do futuro dos familiares sobreviventes e decidam se aceitam ou não determinados tratamentos de saúde. Assim, um ponto importante na autonomia do paciente no processo de doença e terminalidade é a organização das decisões, das mais simples às mais complexas, envolvendo a equipe multidisciplinar. Problemas como dieta, manutenção, redução ou cessação de regimes de dieta para reduzir a dor e os sintomas; interromper terapias como quimioterapia e radioterapia para minimizar efeitos colaterais em casos sem sucesso terapêutico ou optar por analgesia mais forte com intervalos mais curtos; e permissão para não realizar quaisquer procedimentos invasivos são situações em que a pessoa deve ser consultada sempre que possível. Para que se possa priorizar uma “boa morte”, é preciso explicar claramente conceitos como distanásia, eutanásia e ortotanásia. No primeiro, tem-se o processo de morte em si; no segundo, há a antecipação da morte, a partir de uma ação que conduz a ela com o intuito de causar a morte tranquila, porém, trata-se de um crime de homicídio, de acordo com Código Penal Brasileiro, art. 121; já no terceiro, nenhuma ação é praticada, deixa-se o paciente morrer, com uma ação omissa ao contrário da eutanásia, que dispõe sempre de uma ação (BRASIL, 1940). Os casos em que o médico ficou sem opções de tratamento que possam reverter o desenvolvimento e o prognóstico da doença e opte por descontinuar os tratamentos e procedimentos, não podem ser classificados como crime ou como eutanásia. Para a prática da ortotanásia o paciente e familiares devem ser orientados pelo médico quanto ao seu prognóstico, limitações e essa opção. Se ambos forem aceitos e acordados, a ortotanásia pode ser realizada. Sempre que tiver condições, o paciente é responsável por tomar decisões sobre o tratamento e acompanhamento da doença. Além dessa autonomia, ele tem o direito de realizar seu processo de cancelamento em todos os aspectos que considerar relevantes, tais como: • Ver ou rever entes queridos e familiares; • Não ter contato com conhecidos e/ou familiares; • Manter seu diagnóstico, prognóstico e suas decisões em confidencialidade com as pessoas que escolher; 12 • Buscar momentos de religiosidade, auxílio religioso por meio de lideranças religiosas ou, ainda, recusar-se a receber intervenções religiosas; • Ter diretivas antecipatórias, como desejos expressos em relação ao pós-morte que pode envolver testamentos, decisões sobre cuidados com corpo, enterro e cremação, bem como à sua morte; • Sentir necessidade de rever questões de sua vida, reavaliar decisões e afetos; • Escolher onde gostaria de passar seu tempo, se em casa e com quem gostaria de estar. Assim sendo, respeitar as decisões pessoais envolve crenças religiosas, filosóficas, escolha de tratamento, interrupção de procedimentos, acompanhamento ou não de familiares acompanhantes e gestão de como o problema deve ser tratado no CP. 2.4 Atribuições desenvolvidas pela equipe de cuidados paliativos Devido à complexidade dos CP, é preciso que diversos profissionais de saúde se envolvam no cuidado do paciente para garantir sua qualidade de vida durante a terminalidade. A seguir, veremos os membros dessa equipe e os respectivos papeis desempenhados, de acordo com a AcademiaNacional de Cuidados Paliativos (CARVALHO; PARSONS, 2012). • Médico: deve realizar os diagnósticos clínicos, conhecer a doença, sua história natural, os tratamentos já realizados e qual a evolução esperada para aquele paciente naquele momento. Quando necessário, precisa fazer contato com médicos de outras especialidades, que já trataram ou ainda estejam tratando o indivíduo, para discutir uma conduta específica. Além de propor tratamentos que sejam adequados para seu momento de vida e garantir não apenas o alívio de sintomas desconfortáveis, como também a dignidade de vida até a morte; • Enfermeiro: é responsável pela avaliação sistemática dos sinais e sintomas do paciente, atua com a equipe multiprofissional no estabelecimento de prioridades para cada doente/familiar, mediador da dinâmica familiar e, sobretudo, do reforço das orientações clínicas, a fim de que os objetivos da equipe multidisciplinar sejam atingidos. Aborda também cuidados sensíveis e 13 de educação, que demandam ações de proximidade física e de acolhimento para que muitas orientações se efetivem na prática; • Psicólogo: garante que as necessidades do paciente, do familiar e da equipe possam ser reconhecidas e atendidas pela articulação de ações de diferentes naturezas. Pode oferecer escuta clínica qualificada aos que desejam falar, buscando por esse meio contribuir para a elaboração das vivências associadas ao adoecimento. Para tanto, o ideal é que esse acompanhamento psicológico se inicie o mais precocemente possível; • Assistente social: deve conhecer o paciente, a família e os cuidadores considerando os aspectos socioeconômicos, buscando informações e orientações legais, burocráticas e de direitos, indispensáveis para a condução do cuidado ao paciente e a garantia de morte digna. Cabe a ele também avaliar as condições da rede de suporte social dos envolvidos, para que possam ser acionados em situações necessárias; conhecer e estabelecer uma rede intrainstitucional, no intuito de garantir atendimento preciso ao doente, além de atuar como interlocutor entre este/a família e a equipe nas questões relacionadas aos aspectos culturais e sociais que envolvem o cuidado de forma geral; • Nutricionista: avalia o cuidado nutricional necessário em todos os estágios da doença em consonância com a estratégia terapêutica. Em CP, a nutrição tem um importante papel preventivo, possibilitando meios e vias de alimentação, reduzindo os efeitos adversos provocados pelos tratamentos, retardando a síndrome anorexia-caquexia e rememorando o alimento. Quanto aos manejos físicos, ela auxilia no controle de sintomas, procura manter a hidratação satisfatória, bem como preserva o peso e a composição corporal; • Fisioterapeuta: oferece suporte para que os pacientes vivam de maneira ativa, com qualidade de vida, dignidade e conforto, além de auxiliar os familiares na assistência a eles, no enfrentamento da doença e no luto. Institui o plano de assistência para ajudá-los a se desenvolver, facilitando a adaptação ao progressivo desgaste físico; • Fonoaudiólogo: auxilia o paciente a atingir e manter o seu máximo potencial físico, psicológico, social e espiritual. Medicações, quimioterapia, radioterapia e quadros de imunodepressão podem causar alterações de deglutição 14 (disfagia), náuseas e vômitos, odinofagia, anorexia, desidratação, alteração do nível de consciência e alterações de comunicação, os quais são de domínio da fonoaudiologia; • Terapeuta ocupacional: acompanha o paciente, tendo na organização da rotina e na diminuição dos estímulos uma maneira de propiciar conforto. Ajuda- o a manter suas atividades significativas a partir de recursos como música e leitura, trazendo maior acolhimento e conforto a ele. Em relação ao familiar, pode ajudar em despedidas, expressão de sentimentos e emoções, bem como abertura de novos canais de comunicação, por meio de atividades. O acompanhamento de luto, pós-morte, é parte integrante da assistência terapêutica ocupacional; • Assistente espiritual: oferece o atendimento espiritual como parte do atendimento de saúde, permitindo ao beneficiado expressar seus sentimentos e suas emoções, bem como conversando abertamente sobre a morte. Ajuda o paciente a participar de todas as decisões referentes ao seu tratamento e aos desejos finais. 3 SEDAÇÃO PALIATIVA Como vimos, os momentos finais do paciente estão envoltos em estigmas, com várias questões éticas, e não há um protocolo único para as decisões, sendo necessária a discussão para que estas sejam tomadas, envolvendo também o doente e sua família. A sedação paliativa faz parte dos cuidados paliativos, ofertados a todo paciente que tiver necessidade e garantidos por políticas públicas; as indicações e medicações utilizadas; bem como a escala de Ramsay e seu uso. A sedação paliativa é indicada para pacientes com doença avançada em estágio terminal e tem sido usada desde 1990 para aliviar sintomas refratários que não respondem à terapia anterior. O paciente incurável tem uma doença irreversível cujas chances de salvar o estado de saúde estão esgotadas, e a morte iminente parece inevitável e previsível. Para reduzir sua consciência, proporcionar conforto e aliviar o estresse insuportável, sedativos podem ser usados. Esta sedação não diminui o tempo de sobrevivência, é a administração deliberada de medicamentos nas doses e combinações necessárias para reduzir o nível de 15 consciência com o consentimento do paciente ou responsável e tentar aliviar um ou mais sintomas refratários. O respeito pelo consentimento e autonomia do paciente bem como sua solicitação verbal, deve ser levado em consideração, mas é essencial que isso seja devidamente documentado no prontuário médico. Em caso de impossibilidade ou falta de vontade de participar na tomada de decisão, a família ou os principais cuidadores serão consultados sobre os desejos previamente expressos pela pessoa, caso em que é importante obter consentimento da família. Enfermeiros devidamente treinados são essenciais para o manejo da dor e dos sintomas prevalentes em pacientes com câncer avançado em cuidados paliativos, pois são os profissionais que avaliam com mais frequência a dor, a resposta à terapia e a ocorrência de efeitos colaterais. Os enfermeiros auxiliam na reorganização do regime analgésico e no ajuste de comportamentos e expectativas em relação aos tratamentos; propõe estratégias não farmacológicas; prepara pacientes e cuidadores para a alta hospitalar. Dessa forma, a sedação paliativa é eficaz e segura para a maioria dos pacientes com câncer em estágio terminal e sintomas refratários, mas as complicações respiratórias e cardiovasculares são baixas. Portanto, é necessário comparar estudos de diferentes tipos de sedação para determinar o protocolo mais eficaz e seguro. A sedação paliativa pode ser classificada de acordo com critérios como objetivo, temporalidade e intensidade. Segundo o objetivo, ela pode ser: primária - a redução da consciência do paciente, que se busca como uma intervenção terapêutica; e secundária - a redução da consciência é um efeito secundário da medicação. De acordo com a temporalidade a sedação paliativa pode se dividir em: intermitente — ela permite períodos de alerta do paciente e pode ser realizada no domicílio (benzodiazepínico, neuroléptico) por via oral (VO) ou subcutânea (SC) e; contínua — a redução do nível de consciência é de forma permanente e deve ser realizada em ambiente hospitalar pela necessidade da titulação de drogas e reavaliações clínicas frequentes. Por fim, no que se refere à intensidade, ela pode ser superficial — a consciência é mantida, permitindo a comunicação do paciente; e profunda — quando mantém o paciente em estado de inconsciência. 16 3.1 Considerações éticas em relação à sedação paliativa A sedação paliativapode ser utilizada na presença de um sintoma reconhecido como refratário pela equipe médica; com o objetivo de diminuir a ansiedade e/ou angústia do paciente e reduzir proporcionalmente o nível de consciência para alívio; e em casos de sedação em agonia com expectativa de horas a dias de vida. Além das citadas acima, são indicações para a sedação paliativa: • Presença de uma doença terminal com pelo menos um sintoma refratário; • Esgotamento dos tratamentos dirigidos ao sintoma, incluindo depressão, delírios e ansiedade; • Avaliação das questões espirituais por um clínico especializado ou um membro do clero; • Debate sobre a continuidade do suporte nutricional e da hidratação; • Obtenção do consentimento livre e esclarecido; • Ordem, por escrito, de não reanimar. Qualquer sintoma que não possa ser controlado adequadamente sem comprometer o nível de consciência, apesar das repetidas tentativas de tratamento tolerável, é considerado refratário, são exemplos: • Delírio agitado, agitação terminal ou inquietude refratária aos neurolépticos; • Dor refratária aos opioides e analgésicos adjuvantes; • Vômitos refratários à terapêutica antiemética agressiva; • Dispneia refratária ao oxigênio, aos broncodilatadores e opioides. Para recomendar a utilização da sedação paliativa, existem algumas questões que o profissional deve considerar: • Foram realizadas tentativas de tratamento para as causas reversíveis e causadoras de sofrimento? • A sedação foi discutida com a equipe de cuidados paliativos e especialistas? • Foram aplicadas técnicas não farmacológicas para reduzir ansiedade e dispneia? • Foi realizada a titulação dos tratamentos inicialmente aplicados nos casos de opioides e neurolépticos? • Nos casos de delirium reversível, foi considerada a sedação intermitente? 17 • Foram discutidos os objetivos da sedação com o paciente e os familiares? • A sedação é consentida (paciente, família e equipe)? A seguir você poderá verificar como poderá ser indicada a sedação paliativa de forma esquematizada: Fonte: Carvalho e Parsons (2012, p. 523) 3.2 Escala de Ramsay e motivos para sua utilização A escala de Ramsay é amplamente utilizada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para avaliar o nível de sedação, cujas definições são simples e intuitivas, podem ser aplicadas de forma simples e rápida no leito hospitalar e apresentaram sensibilidade e especificidade suficientes para serem consideradas o padrão-ouro das pontuações. Foi proposto por Michael A. E. Ramsay, nascido em antiemético Dublin, Irlanda, formado em medicina na University College London, em 1974, e baseado em critérios clínicos. Durante a indução, o nível de sedação deve ser monitorado e, uma vez estabilizado, avaliado duas vezes ao dia por médicos ou enfermeiros usando a escala 18 de Ramsay. A falha da sedação é considerada se sua pontuação for inferior a 5 após 12 horas de tratamento. O uso constante desta escala permite monitorar parâmetros como sinais e sintomas indesejáveis como odor e agitação, evitando sedação excessiva e monitoramento preferencial da resposta medicamentosa. A avaliação do paciente com base nisso tem medidas para controlar a profundidade da sedação, pois tanto a sedação excessiva quanto a insuficiente são ruins, o ideal é escolher aquela que alivia os sintomas refratários. O uso consistente desta escala irá monitorar parâmetros como sinais e sintomas adversos, odor e inquietação, prevenir sedação excessiva e auxiliar no monitoramento da resposta à medicação. A avaliação de pacientes com base nisso tem medidas para controlar a profundidade da sedação, porque tanto acima quanto abaixo da sedação não é o ideal, o conveniente é escolher um que alivie os sintomas e incômodos. No momento da utilização da escala de Ramsay, o profissional necessita: • Verificar o paciente várias vezes ao dia, juntamente aos sinais vitais, para evitar a sedação excessiva; • Avaliar continuamente o nível de consciência do paciente sedado; • Fornecer parâmetros para atuação e decisões multiprofissionais; • Melhorar o plano de sedação e analgesia sempre que for necessário. O tratamento com sedação e analgesia deve ser avaliado rotineiramente para atingir metas pré-definidas de redução do risco de complicações pelo uso excessivo de sedação. Para facilitar a redução da dose total de sedação com esses medicamentos, intervenções, como o uso de um regime, são primordiais para orientar o controle da sedação. A Escala de Ramsay é a mais utilizada em estudos clínicos, pois permite que profissionais identifiquem visualmente a sonolência e a inquietação, e para garantir o conforto do paciente sem a necessidade de medicação segura. Apesar de não ser uma prática comum, a falta de avaliação periódica pode trazer consequências danosas, e essa escala proporciona a dosagem precisa dos medicamentos utilizados. Deve-se considerar que a escala de Ramsay é utilizada para avaliar não apenas o grau de sedação, mas também o estado de agitação. Portanto, pode ser aplicado rotineiramente em pacientes que foram desentubados ou na maioria dos estudos de validação também serve como ferramenta de triagem para avaliação do delírio. 19 Neste sentido, podemos verificar a escala de Ramsay: Fonte: Namigar et. al (2017, p. 350) 4 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA) O INCA atua como um órgão auxiliar do MS no desenvolvimento e na coordenação das ações integradas para prevenção e controle do câncer no Brasil, compõe-se como uma unidade integrante da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) e se constitui no Centro de Referência de Alta Complexidade em Oncologia. Essas ações incluem assistência médico-hospitalar prestada de forma direta e gratuita aos pacientes com câncer por meio dos serviços oferecidos pelo SUS, além de ações em áreas estratégicas como prevenção e detecção precoce, formação de profissionais especializados, desenvolvimento de pesquisas e geração de informações epidemiológicas. O INCA coordena diversos programas nacionais de controle do câncer com equipamentos de diagnóstico por imagem de última geração. O INCA estrutura uma rede de atenção ao câncer para reunir parceiros governamentais e não governamentais, coordena e desenvolve atividades de controle do câncer nas áreas de educação, pesquisa, prevenção, detecção e vigilância, bem como informação e assistência oncológica. 20 Para efetivar os objetivos da Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer, desenvolve-se, na atenção básica, as seguintes ações: • Promoção da saúde, alimentação saudável e atividade física; • Redução do tabagismo e dos danos relacionados ao tabaco no seu território; • Promoção do autocuidado das pessoas com câncer, ampliando sua autonomia; • Identificação de sinais e sintomas suspeitos e acompanhamento dos resultados alterados, encaminhando os casos suspeitos para confirmação diagnóstica; • Coordenação e manutenção do cuidado aos usuários com câncer, quando referenciados para outros pontos da rede de atenção à saúde; • Registro das informações referentes às ações de controle de câncer nos sistemas de informação vigentes, quando couber; • Realização do atendimento domiciliar e participação no cuidado paliativo às pessoas com câncer, integrada às equipes de atenção domiciliar, à Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e ao Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), bem como articulada com hospitais locais e demais pontos de atenção, conforme a proposta definida para a região de saúde; • Desenvolvimento de ações de saúde do trabalhador por meio da capacitação de equipes para registro das atividades exercidas e da exposição aos agentes cancerígenos inerentes ao processo de trabalho, otimizando as ações de vigilância do câncer relacionadas a esse ambiente. A UNACON setrata de um hospital que possua condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e o tratamento dos cânceres mais prevalentes no Brasil. Já o CACON é um hospital com condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e o tratamento de todos os tipos de câncer. As campanhas e programas desenvolvidos pelo INCA em âmbito nacional para atender à Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer do MS são: 21 • Controle do câncer do colo do útero — ações desenvolvidas para reduzir sua incidência e mortalidade e melhorar a qualidade de vida da mulher com essa doença; • Controle do câncer de mama — ações desenvolvidas para reduzir a exposição aos fatores de risco, diminuir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida da mulher com essa doença; • Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) — capacitação de profissionais das Secretarias de Saúde para orientar a população sobre os malefícios do tabagismo em escolas, empresas, hospitais e comunidades. As ações são desenvolvidas em parceria nas três instâncias governamentais; • Projeto de Expansão da Assistência Oncológica (EXPANDE) — estruturação da integração da assistência oncológica com qualidade no Brasil, ampliando o acesso ao tratamento e reduzindo as desigualdades regionais na oferta de assistência oncológica à população; • Programas de qualidade em radiações ionizantes — Programa de Qualidade em Radioterapia (PQRT) e Programa de Qualidade em Mamografia (PQM); • Programa de Transplante de Medula Óssea — desenvolvimento e manutenção do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME), do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME) e da Rede BrasilCord, os quais reúnem informações de voluntários que se dispõem a doar medula para o transplante de pacientes com doenças do sangue, como leucemia e anemia aplástica, entre outras. 5 IMPORTÂNCIA E BENEFÍCIOS DA REDE DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA As diversas leis e os programas em atenção ao paciente oncológico, conforme explicados, trazem muitos benefícios a eles, devido à importância da atenção à doença nas esferas de governo. A seguir, você pode ver os direitos dos pacientes com câncer, garantidos pela legislação brasileira e descritos no site Fundação do Câncer. 22 5.1 Direitos sociais Realização do saque de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Programa de Integração Social (PIS)/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) pelo paciente com diagnóstico de neoplasia maligna (câncer), na sua fase sintomática, ou por aquele que possuir um dependente portador de câncer. O valor recebido será o saldo de todas as contas pertencentes ao trabalhador, inclusive a conta do contrato de trabalho em vigor, se houver. O auxílio doença é um benefício mensal a que o segurado tem direito, quando ele fica temporariamente incapaz para o trabalho devido à doença por mais de 15 dias consecutivos. Não há carências para recebê-lo, porém, o paciente deverá, obrigatoriamente, ter condição de segurado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Já a aposentadoria por invalidez é concedida desde que a incapacidade para o trabalho seja considerada definitiva pela perícia médica do INSS. Tem direito a esse benefício a pessoa que não esteja em processo de reabilitação para o exercício da atividade que lhe garante a subsistência, independentemente de estar recebendo ou não o auxílio-doença. A quitação de financiamento de casa própria está incluída nas suas parcelas, financiada pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), um seguro que a garante em caso de invalidez ou morte. Ela é garantida pelo seguro contratado no momento do financiamento e assegurada, em geral, apenas para doenças graves diagnosticadas após a assinatura do contrato com esse seguro. 5.2 Direitos no tratamento/saúde A Lei Federal nº. 12.732, publicada em 22 de novembro de 2012, estabelece a obrigatoriedade do SUS iniciar o tratamento de câncer em até 60 dias após o diagnóstico, recebido gratuitamente. Ainda no SUS, há o Tratamento Fora de Domicílio (TFD), uma normatização que objetiva garantir o acesso de pacientes de um município aos serviços assistenciais em outro local ou, em caso especiais, de um estado para outro, incluindo a hospedagem, quando indicado. Nos casos em que houver indicação médica, será autorizado o pagamento de despesas para acompanhante. 23 Em relação à reconstrução mamária, as mulheres que sofreram a mutilação total ou parcial de mama, decorrente da utilização de técnica de tratamento de câncer têm direito a cirurgia plástica. A lei determina que, quando existirem condições técnicas, ela deve ser efetuada no mesmo tempo cirúrgico e, no caso de impossibilidade de reconstrução imediata, encaminha-se a paciente para acompanhamento e garante-se a realização da cirurgia logo após alcançar as condições clínicas requeridas. Há, ainda, o Andamento Processual Prioritário no Judiciário, com adiantamento prioritário de qualquer processo (civil, criminal ou trabalhista), aos pacientes com câncer e mais de 65 anos. 5.3 Direitos tributários — isenções Para ter direito à isenção, por exemplo, de Imposto de Renda, de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e impostos na compra de carro adaptado (Imposto sobre Produtos Industrializados [IPI], Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços [ICMS], Imposto sobre Operações Financeiras [IOF] e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores [IPVA]), a pessoa com câncer precisa apresentar alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, que causa o comprometimento da função física, comprovando sua limitação por meio de laudo médico e alterando a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para a CNH Especial. 6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO O primeiro agente antineoplásico foi desenvolvido a partir do gás mostarda depois que soldados foram expostos a esse agente, que foi usado como arma química nas guerras mundiais. A partir de ensaios clínicos com este gás e observações sobre o efeito do ácido fólico em crianças com leucemia, publicados em 1946, verificou-se que a quimioterapia contra o câncer progrediu de forma constante. Os avanços nas últimas décadas levaram ao desenvolvimento de agentes quimioterápicos mais ativos e menos tóxicos, tornando mais fácil o tratamento de outros tipos de câncer e mais terapias (BRASIL, 2008). 24 6.1 Quimioterapia A quimioterapia é um tratamento que utiliza substâncias químicas que afetam a função celular e é usada para interromper as funções das células tumorais e sua replicação, sendo as células em proliferação ativa as mais sensíveis. Doses repetidas são necessárias para alcançar a regressão do tumor. Quando usado para câncer, é chamado de quimioterapia anticâncer ou quimioterapia antiblástica. 6.1.1 Classificação das drogas antineoplásicas e mecanismos de ação Os medicamentos antineoplásicos atuam tanto nas células normais quanto nas neoplásicas, mas danificam as células malignas mais do que os tecidos normais devido a diferenças quantitativas entre seus processos metabólicos. Os medicamentos usados na quimioterapia interferem de alguma forma no mecanismo celular, as enzimas são responsáveis pela maioria das funções celulares, e a interrupção desses processos afeta tanto a função quanto a proliferação de células normais e neoplásicas. A definição dos mecanismos de ação da maioria das drogas levou à classificação das drogas quimioterápicas de acordo com seu efeito no ciclo celular. • Ciclo-inespecífico: os quimioterápicos atuam nas células que estão ou não no cicloproliferativo, como a mostarda nitrogenada. • Ciclo-específico: os quimioterápicos atuam somente nas células em proliferação, como é o caso da ciclofosfamida. • Fase-específicos: eles atuam em determinadas fases do ciclo celular, como o metotrexato (fase S), o etoposídeo (fase G2) e a vincristina (fase M). 6.1.2 Medicamentos mais utilizados no tratamento do câncer 6.1.2.1 Alquilantes Os agentes alquilantes atuam de forma não específica nas células em todas as fases do ciclo celular e são combinados com outros agentes fase-específicos para maior 25 eficácia. Os principais medicamentos utilizados nesta categoria são mostarda nitrogenada, mostarda fenilalanina, ciclofosfamida, bussulfam, nitrosureias, cisplatina e seu análogo carboplatina e ifosfamida. 6.1.2.2 Antimetabólitos Afetam as células e inibem a biossíntese dos componentes essenciais do ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA), impedindo a proliferação e função celular normal, e são particularmente ativos contra células que estão na fase de síntese do ciclo celular (fase S). A vida útil das células tumorais suscetíveis determina sua destruição média, elas são impedidas de entrar em mitose pela ação de doses metabólicas que atuam na fase S. 6.1.2.3 Antibióticos São um grupo de substâncias com diferentes estruturas químicas que interagem com o DNA e inibem a síntese desse ácido ou proteínas, mas não atuam em uma fase específica do ciclo celular. Como todos os medicamentos quimioterápicos, os antibióticos afetam células normais e malignas e, portanto, têm efeitos colaterais indesejáveis. 6.1.2.4 Inibidores mitóticos Os inibidores mitóticos podem paralisar a mitose na metáfase devido ao seu efeito sobre a proteína tubulina, que forma os microtúbulos que formam o fuso espiral através do qual os cromossomos viajam, impedindo-os de migrar durante a metáfase, interrompendo assim a divisão celular. Devido ao seu modo de ação específico, eles devem ser combinados com outros agentes para maior eficácia da quimioterapia. Este grupo de drogas inclui os alcaloides vinca rósea (vincristina, vimblastina e vindesina) e os derivados de podofilotoxina (o VP-l6, etoposídeo; e o VM-26, teniposídeo). 6.1.2.5 Outros agentes 26 Existem medicamentos que não podem ser atribuídos a uma classe específica de ação farmacológica. Dentre eles destacamos a dacarbazina, indicada para o tratamento de melanoma avançado, do sarcoma de partes moles e linfomas; a procarbazina, cujo mecanismo de ação ainda não é totalmente compreendido, utilizado para o tratamento da doença de Hodgkin; e L-asparaginase, que hidrolisa a aL-asparagina e previne a síntese de proteínas e é usada para tratar leucemia linfocítica aguda. A administração do quimioterápico é por via oral, intramuscular, subcutânea, intravenosa, intra-arterial, intratecal, intrapleural, intraperitoneal, intravesical, intracavitária e tópicas. Prado, Ramos e Valle (2018) definem em sua obra, no capítulo sobre oncologia, algumas considerações em relação à finalidade do tratamento, sendo que a quimioterapia pode ser subdividida em: • Quimioterapia adjuvante — usada em pacientes que já foram submetidos à ressecção primária do tumor, possivelmente curados, mas com risco de recorrência. O principal objetivo é tratar micro metástases, diminuindo a chance de recorrência; • Quimioterapia neoadjuvante — usada para reduzir o volume tumoral antes da cirurgia de tumores avançados, possibilitando ressecção daqueles previamente irressecáveis ou permitindo cirurgias menos complexas, preservando a funcionalidade dos órgãos e diminuindo as sequelas estéticas. Estudos demonstram menor recorrência local e aumento de sobrevida livre de progressão em diversas neoplasias, como mama, bexiga, sarcoma, cabeça, pescoço e esôfago; • Quimioterapia curativa — usada como tratamento primário, possibilitando a cura de alguns tipos de neoplasias apenas com uso de tratamento sistêmico, como nas leucemias, nos linfomas e nas neoplasias germinativas; • Quimioterapia paliativa — usada no contexto de doença metastática, com o objetivo de controlá-la, bem como seus sintomas e o eventual aumento de sobrevida; • Quimioterapia sensibilizante — usada em concomitância com a radioterapia, potencializa o efeito citotóxico da radiação. Já quanto à administração, o tratamento quimioterápico pode ser dividido em: 27 • monoquimioterapia — usa um agente quimioterápico isolado, geralmente tem melhor perfil de toxicidade e é preferível em doença metastática ou em pacientes idosos e com baixa performance; • poliquimioterapia — usa dois ou mais fármacos com diferentes mecanismos de ação e combinações, diminuindo as chances do desenvolvimento de resistência e possibilitando maiores taxas de resposta, mas tem maior toxicidade. O processo de formação do câncer, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível. Essa carcinogênese é determinada pela exposição de diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos, em uma dada frequência e um período de tempo, bem como pela interação entre eles. Tal processo é composto de três estágios: estágio de iniciação, no qual os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos; de promoção, onde os agentes oncopromotores atuam na célula já alterada; e de progressão caracterizado pela multiplicação descontrolada e irreversível da célula. Fonte: Designua/Shutterstock.com. 28 6.2 Radioterapia A radioterapia trata-se de feixes de radiações ionizantes que destroem células tumorais, sendo um método de tratamento local ou locorregional do câncer, que utiliza equipamentos e técnicas variadas para irradiar áreas do organismo humano, prévia e cuidadosamente demarcadas. Seu objetivo principal é tratar o tecido doente e, ao mesmo tempo, preservar o tecido normal adjacente (ABC do câncer). 6.2.1 Teleterapia Consiste na terapia a distância, em que a fonte emissora de radiação fica a, mais ou menos, um metro do paciente. Nela, enquadra-se os feixes de raios-x e gama, elétrons de alta energia e nêutrons. Os principais aparelhos utilizados são raios-x superficial, semiprofundo ou de ortovoltagem, tratando lesões de pele ou com infiltração até cerca de três centímetros de profundidade, como a irradiação preventiva dos queloides operados, hemangiomas e carcinomas basocelulares. 6.2.2 Aceleradores lineares Estes aparelhos usam micro-ondas para acelerar elétrons a grandes velocidades em um tubo com vácuo, sendo que parte dessa energia é transformada em raios-x, sua energia máxima no choque — esses fótons de alta energia liberam sua menor dose na pele e nos tecidos sadios do paciente. Os elétrons não penetram profundamente no tecido e liberam sua dose no intervalo que vai da pele até uma profundidade em torno de cinco centímetros, com uma queda acentuada após esse valor. Os tratamentos com eles são adequados quando o órgão-alvo é superficial com estruturas radiossensíveis ao seu redor, por exemplo, os linfonodos cervicais, que têm a medula espinhal logo atrás, e as lesões infiltrativas de pele. 6.2.3 Braquiterapia 29 A palavra braqui originada do grego, significa perto ou em curta distância e consiste na colocação de uma fonte radioativa diretamente no tumor ou em área muito próxima a ele. A braquiterapia pode ser dividida em: • superficial — a fonte é colocada sobre a superfície do tumor ou a pele, como nos tumores de pele e hemangiomas, sem necessidade de invasão; • intracavitária — a fonte radioativa é colocada em uma cavidade próxima à localização do tumor, como na braquiterapia vaginal, traqueia, esôfago e reto, por meio de espéculos e sondas; • intersticial — as fontes radioativas são colocadas diretamente no tecido, como na braquiterapia de próstata,por meio de agulhas que passam pelo tumor. Esses procedimentos, algumas vezes, precisam ser feitos sob anestesia, às vezes em hospitais e sendo necessária a permanência do paciente. 6.2.4 Método de implantação de fontes Uma característica importante desta técnica é que as próprias fontes radioativas entram em contato direto com o tecido e são colocadas dentro de carregadores, os quais as contêm em cavidades ou perto do tecido que se queira irradiar, sendo carregados manualmente momentos antes da inserção no paciente. 6.2.5 Finalidades da radioterapia As finalidades da radioterapia relacionadas a seguir se referem aos pacientes adultos, pois, em crianças e adolescentes, cada vez menos ela é utilizada devido aos seus efeitos colaterais tardios ao desenvolvimento orgânico. • Radioterapia curativa: principal modalidade de tratamento radioterápico, que visa à cura do paciente; • Radioterapia pré-operatória (prévia ou citorredutora): procedimento que antecede a principal modalidade de tratamento, a cirurgia, para reduzir o tumor e facilitar o procedimento operatório. • Radioterapia pós-operatória ou pós-quimioterapia (profilática): ela vem após a principal modalidade de tratamento, a fim de esterilizar possíveis focos microscópicos do tumor. 30 • Radioterapia paliativa: ela objetiva o tratamento local do tumor primário ou de metástase (s), sem influenciar a taxa da sobrevida global do paciente, usada principalmente nas seguintes circunstâncias. • Radioterapia antiálgica: modalidade de radioterapia paliativa com a finalidade específica de reduzir a dor. • Radioterapia anti-hemorrágica: modalidade de radioterapia paliativa com a finalidade específica de controlar os sangramentos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a resposta dos tecidos às radiações depende de muitos fatores, como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, bem como sua qualidade e quantidade e o tempo total em que ela é administrada. Para que o efeito biológico atinja o maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação deve ser habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa. 6.3 Sinais e sintomas da terapia antineoplásica e o atendimento de enfermagem Os efeitos colaterais da terapia variam de acordo com os medicamentos utilizados, as doses administradas e as particularidades do organismo. Alguns são bastante previsíveis e mudam apenas sua intensidade, mas outros ocorrem devido à sensibilidade individual, manifestando-se em um pequeno número de pessoas. A seguir, você pode ver os sinais e sintomas mais frequentes nos pacientes em tratamento e os cuidados de enfermagem. 6.3.1 Náuseas e vômitos Em geral, as altas dosagens e infusões rápidas dos quimioterápicos podem acarretar em efeitos eméticos mais intensos. Nesse caso, os cuidados de enfermagem incluem: • Oferecer pequenas refeições ao longo do dia e evitar beber líquido próximo a elas, para não distender o estômago; • Orientar a mastigação lenta dos alimentos e o repouso em posição sentada após as refeições; 31 • Oferecer suco de frutas gelado ao longo do dia; • Administrar medicações antieméticas antes e depois da aplicação dos quimioterápicos, conforme prescrição médica; • Observar o aspecto, a frequência e a quantidade das eliminações e registrar; • Auxiliar a realização da higiene oral; • Lateralizar a cabeça do paciente durante os episódios de vômitos eméticos; • Manter próximo ao paciente um recipiente para que possa utilizar nos episódios de vômitos. 6.3.2 Queda de cabelo É um efeito sistêmico causado pela quimioterapia, ocorre pela atrofia total ou parcial do folículo piloso, o que faz a haste do cabelo se quebrar, e consiste, às vezes, em perda dos pelos do corpo em graus variados. Grande parte dos quimioterápicos podem causar alopecia, principalmente quando se usa agentes alquilantes no tratamento. A perda dos cabelos é temporária, e eles voltam a crescer dois meses após a interrupção do tratamento, podendo ter textura ou cor diferentes das anteriores. Já os cuidados de enfermagem são: • Utilizar xampus suaves e escovas de cerdas macias; • Proteger o couro cabeludo da luz do sol; • Estimular, para melhorar a autoestima, o uso de perucas, lenços, chapéus e boné, respeitando-se o gosto do paciente, bem como oferecer maquiagem. 6.3.3 Alteração da mucosa oral A mucosite consiste em uma reação inflamatória, que acomete principalmente a cavidade oral, mas pode se estender pelo esôfago e o trato gastrintestinal, chegando até a região retal, e apresenta sinais e sintomas como boca seca, saliva espessa, dificuldade para deglutir e falar, eritema, ulcerações, sialorreia e sangramento. Os cuidados de enfermagem incluem: • Realizar a higiene oral após as refeições com escova de cerdas macias, creme dental não abrasivo e fio dental ultrafino; 32 • Fornecer soluções para enxágue ou bochecho de acordo com o protocolo institucional; • Inspecionar a cavidade oral diariamente para avaliar sinais e sintomas de mucosite; • Estimular a autoavaliação, o autocuidado e a comunicação precoce dos sinais e sintomas; • Estimular o uso de manteiga de cacau para lubrificação dos lábios; • Remover dentaduras; • Orientar a ingestão de alimentos de consistência pastosa ou líquida; • Administrar analgesia conforme a prescrição médica; • Instituir medidas de contenção do sangramento (pressão com gelo, irrigação com água estéril gelada e tamponamento com gaze ou rolinho de algodão), se for necessário. 6.3.4 Diarreia A quimioterapia antineoplásica promove alteração no trato gastrointestinal, no qual, por ser formado por células de rápida divisão celular, ocorre uma descamação de células da mucosa sem reposição adequada, levando à irritação, à inflamação e às alterações funcionais que ocasionam a diarreia, com desidratações e desequilíbrio hidroeletrolítico, por exemplo. Já suas drogas mais comuns são irinotecano, topotecano, 5-fluorouracil, paclitaxel, dactinomicina e dacarbazina. Os cuidados de enfermagem envolvem: promover hidratação e oferecer alimentos ricos em fibra na dieta. 6.3.5 Constipação A diminuição da motilidade gastrintestinal pode ser provocada pelo antineoplásico do grupo de alcaloides da vinca, devido à sua ação sobre o sistema nervoso do aparelho digestivo, levando também ao quadro de íleo paralítico e ocorrendo sintomas como dor, distensão abdominal, cólicas, anorexia, impactação fecal, ruptura intestinal e sépsis. Os cuidados de enfermagem são: oferecer alimentos ricos em fibra na dieta; estimular a ingestão de um maior volume de líquidos; estimular a atividade física regular; e promover um ambiente tranquilo. 33 6.3.6 Reação na pele A reação de pele é o efeito colateral mais comum da irradiação, como eritema, descamação e formação de bolhas. A pele irradiada torna-se sensível no tratamento e sujeita aos danos. Os cuidados de enfermagem incluem: • Manter a pele exposta à radiação seca e livre de irritações; • Não usar loções, cremes, talcos, desodorantes ou álcool sem recomendação; • Orientar o uso de sabonete neutro; • Orientar não esfregar, coçar, arranhar ou escovar a pele irradiada. 6.3.7 Sangramentos Muitas drogas são mielotóxicas e causam leucopenia, plaquetopenia e anemia devido à supressão dos progenitores hematopoiéticos na medula óssea, o que leva à ocorrência de infecções e sangramentos, em alguns casos. Os cuidados de enfermagem incluem: • Orientar a observação e a comunicação de hematomas e sangramentos (gengivas, urina, fezes); • Instituir medidas de contenção de sangramentos, como compressões e compressas geladas. 7 COMPLICAÇÕES DE QUIMIOTERÁPICOS E RADIOTERAPIA COM TOXICIDADE E RISCOS AOS SISTEMAS DO ORGANISMOOs efeitos colaterais podem ser classificados em imediatos e tardios. Aqueles imediatos são observados nos tecidos que apresentam maior capacidade proliferativa (como as gônadas, a epiderme, as mucosas dos tratos digestivo, urinário e genital, e a medula óssea) e ocorrem somente se estes estiverem incluídos no campo de irradiação, podendo ser potencializados pela administração simultânea de quimioterápicos. Eles manifestam-se clinicamente por anovulação ou azoospermia, epitelites, mucosites e mielodepressão — leucopenia e plaquetopenia — e devem ser tratados 34 sintomaticamente, pois, em geral, são bem tolerados e reversíveis. Já os efeitos tardios são raros, ocorrem quando se ultrapassa as doses de tolerância dos tecidos normais e manifestam-se por atrofias e fibroses. Raramente foram observados as alterações de caráter genético e o desenvolvimento de outros tumores malignos. Todos os tecidos são afetados, em graus variados, pelas radiações. Geralmente, os efeitos se relacionam com a dose total absorvida e o fracionamento utilizado; já a cirurgia e a quimioterapia podem contribuir para o seu agravamento. 7.1 Toxicidade dos quimioterápicos Os quimioterápicos não atuam somente nas células tumorais, pois as estruturas normais que se renovam constantemente, como a medula óssea, os pelos e a mucosa do tubo digestivo, também são atingidas por eles. No entanto, como as células normais apresentam um tempo de recuperação previsível, ao contrário das anaplásicas, pode-se aplicar a quimioterapia repetidamente desde que se observe o intervalo de tempo necessário para a recuperação da medula óssea e da mucosa do tubo digestivo. Por isso, ela é aplicada em ciclos periódicos. Seus efeitos terapêuticos e tóxicos dependem do tempo de exposição e da concentração plasmática da droga. Sua toxicidade é variável para os diversos tecidos e depende da droga utilizada, e seu agravo pode significar prejuízos irreversíveis e letais para o paciente, porém, nem todos os quimioterápicos ocasionam efeitos indesejáveis. Ela, com frequência, é considerada o fator limitante para dosagem e fracionamento dessas drogas, mas tem uso viável, pois os tecidos normais se recuperam totalmente antes que as células tumorais se multipliquem. 7.2 Riscos causados pela terapia antineoplásica nos sistemas do organismo 7.2.1 Toxicidade hematológica Os quimioterápicos antineoplásicos podem ser capazes de afetar a função medular e levar o indivíduo a uma mielodepressão. Sua consequência imediata é a incapacidade da medula óssea de repor os elementos figurados do sangue circulante, aparecendo a leucopenia, a trombocitopenia e a anemia. Quase todos eles exercem 35 toxicidade sobre a formação do tecido hematopoiético, sendo chamados de mielossupressores ou mielotóxicos. O tempo entre a sua aplicação e a ocorrência do menor valor de contagem hematológica ocorre entre 7 e 14 dias para a maioria das drogas, por isso, torna-se necessário seu fracionamento para recuperação medular, que leva o sangue periférico a atingir valores próximos aos normais. • Anemia é a diminuição de hemoglobina e glóbulos vermelhos, situação em que o paciente relata fadiga aos menores esforços, nota-se também palidez, dispneia e taquicardia; • Leucopenia é a diminuição do número de linfócitos, granulócitos e, principalmente, neutrófilos, levando a uma supressão da imunidade celular e humoral, aumentando o risco de infecção; • Trombocitopenia é a diminuição de plaquetas, podendo levar o paciente a um quadro de sangramento ou hemorragia. 7.2.2 Toxicidade cardíaca É uma ocorrência não frequente, relacionada à dose total cumulativa administrada, ao intervalo de tempo aprazado entre as drogas e à idade do paciente (acima de 70 anos). Esse efeito pode ser agudo, ocorrendo logo após as primeiras aplicações e evidenciado por alterações eletrocardiográficas transitórias facilmente tratáveis e sem complicações, como taquicardia sinusal, contração ventricular prematura e modificações nas ondas T e ST. Quando for crônica, está associada à dose cumulativa da droga, portanto, irreversível, e caracteriza-se por insuficiência cardíaca congestiva e falência cardíaca. 7.2.3 Toxicidade pulmonar Ela acarreta em lesões de fisiopatologia desconhecida em relação aos quimioterápicos (fibrose pulmonar intersticial, inflamação nodular, hialinização), é pouco frequente e, em geral, fatal, comumente associada aos fatores como radioterapia torácica, doença pulmonar anterior, idade, tabagismo, metástase pulmonar, insuficiência renal e/ou hepática, e se instala de forma aguda ou em longo prazo. Seus sinais e 36 sintomas são tosse não produtiva, dispneia, taquipneia, expansão torácica incompleta, estertores pulmonares e fadiga. 7.2.4 Toxicidade neurológica Ela manifesta-se por meio de sinais e sintomas de alteração neurológica central (alterações mentais, ataxia cerebral, convulsões) ou periféricas (neuropatia periférica craniana e irritação meníngea) e ocorre com maior frequência após o uso de alcaloides da vinca e de asparaginase. Quando associada à quimioterapia, ela é observada depois da utilização de várias drogas. 7.2.5 Toxicidade vesical e renal As alterações renais têm importância, pois os metabólitos das drogas e os restos tumorais são eliminados via aparelho urológico, assim, se não houver a eliminação efetiva destes, a toxicidade quimioterápica fica aumentada. As principais lesões renais incluem a necrose tubular, a pielonefrite e a disfunção glomerular, que levam aos quadros potencialmente fatais de insuficiência renal aguda. A toxicidade sobre o aparelho urológico é a irritação e a descamação do tecido de revestimento da bexiga, podendo levar o paciente à cistite hemorrágica aguda. O indivíduo deve ser rigorosamente monitorado com relação à função renal e à eliminação urinária, receber hidratação adequada e, às vezes, medicação uroprotetora, sendo o ajuste de dose necessário nesses casos. 7.2.6 Toxicidade gastrintestinal Ela manifesta-se como náuseas, vômitos, mucosite, anorexia, diarreia e constipação intestinal, que variam de intensidade entre leve, moderada e severa. As náuseas e os vômitos ocorrem devido à estimulação do centro controlador do vômito, localizado no sistema nervoso central, e aos fatores adicionais como dose, via de administração, velocidade de aplicação e combinação de drogas. A mucosite ocorre devido à destruição das células de revestimento do trato gastrintestinal pela ação dos quimioterápicos. Essa agressão inicia-se com 37 ressecamento da boca e evolui para eritema, dificuldade de deglutição e ulceração, pode envolver o trato até mucosa anal e ser leve, moderada ou severa. Ela aparece entre 2 a 10 dias após a aplicação do quimioterápico e torna o paciente suscetível às infecções, à necrose e ao sangramento. Já a anorexia ocorre devido aos vários fatores associados, como mudanças na musculatura e mucosa do estômago e intestino delgado, que retardam o processo digestivo, promovendo uma sensação de plenitude gástrica que interfere no apetite. Ela também acontece pela presença de náuseas e vômitos, mucosite oral, alterações do paladar e psicológicas, como medo, ansiedade, depressão e estresse. Como o trato gastrintestinal é formado por células de rápida divisão celular, ele sofre uma descamação de células da mucosa sem reposição adequada, levando à irritação, à inflamação e às alterações funcionais que ocasionam a diarreia. Quando for intensa, pode trazer complicações como desidratação, desequilíbrio hidroeletrolítico, diminuição da absorção calórica, perda de peso e fraqueza. A constipação intestinal, por sua vez, frequentemente provoca anorexia, desconforto, dor e distensão abdominal. Quando for prolongada, ela pode ainda provocar náuseas, vômitos e desequilíbrio eletrolítico; há também diminuição damotilidade gastrintestinal devido à ação das drogas sobre o sistema nervoso do aparelho digestivo, levando aos quadros de íleo paralítico. 7.2.7 Disfunção reprodutiva Está relacionada à fertilidade e função sexual e apresenta-se em graus diferentes, dependendo das drogas utilizadas, dose, duração do tratamento, sexo, idade. As alterações podem ser temporárias ou permanentes e causam oligospermia ou azoospermia, diminuição da libido, impotência sexual, irregularidades do ciclo menstrual e amenorreia. Em relação aos efeitos teratogênicos, o uso de quimioterápico durante a gravidez traz o risco real de abortos e malformações fetais. 7.2.8 Hepatotoxicidade Seu tratamento prolongado pode causar fibrose hepática, cirrose e elevação das enzimas hepáticas, sendo um quadro de disfunção frequentemente reversível com a 38 interrupção da quimioterapia, avaliado por meio do aumento transitório das enzimas (transaminase glutâmico-oxalacética [TGO], transaminase glutâmico pirúvica [TGP], desidrogenase láctica [DHL] e fosfatase alcalina). As alterações leves e moderadas são revertidas com a interrupção temporária do uso da droga; as graves, porém, podem ser irreversíveis, o que obriga à monitoração das alterações enzimáticas durante a quimioterapia. 7.2.9 Alterações metabólicas Elas estão associadas aos outros fatores intercorrentes, como vômito, diarreia, disfunção renal e hepática, ou às situações clínicas. Diferentes quimioterápicos antineoplásicos podem causar distúrbios metabólicos, por exemplo, hipocalcemia, hipercalcemia, hipoglicemia, hiperglicemia, hiponatremia e hipomagnesemia. Deve-se monitorar o paciente durante o tratamento quanto às dosagens séricas de eletrólitos, à reposição destas, quando necessário, ou ainda ao adiamento de novos ciclos quimioterápicos. 7.2.10 Toxicidade dermatológica Ela manifesta-se por eritema, urticária, hiperpigmentação dérmica e de leitos ungueais e alopecia, sendo de baixa gravidade e reversíveis, bem como se relaciona à ação irritante ou vesicante dos quimioterápicos no vaso e nos tecidos vizinhos ao local de sua aplicação. As drogas irritantes provocam reação cutânea local, quando extravasadas, apresentando dor, queimação e reação inflamatória; já as vesicantes, ao serem extravasadas, causam irritação severa com formação de vesículas nos tecidos com que entram em contato, além da destruição e necrose tissular, em geral com comprometimento irreversível de nervos e tendões. Reações alérgicas e anafiláticas também podem ocorrer durante o tratamento e, geralmente, são graves quando os locais se caracterizam por eritema, urticária, queimação e prurido na área da punção e ao longo do trajeto venoso. Quando as reações são sistêmicas, caracterizam-se por urticária, agitação, náusea, hipotensão, desconforto respiratório, edema facial, cólica abdominal, prurido, eritema cutâneo, tontura, tremores, edema de glote e cianose. 39 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012. Dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu início. Casa Civil – Presidência da República. BRASIL. Ministério da Justiça. Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Casa Civil - Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro: Inca, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. Rio de Janeiro: Inca, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Ministério da Saúde, Brasília, 5 mar. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013. 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