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João M
en
des
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6306-2
9 788538 763062
IESDE BRASIL S/A
2017
Geografia da População
João Mendes
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Route55/iStockPhoto
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M491g Mendes, João
Geografia da população / João Mendes. - 1. ed. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2017. 
126 p. il. 
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-387-6306-2
1. Geografia urbana. 2. Geografia humana. I. Título.
17-41718 CDD: 304.2CDU: 911.3
© 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos 
autores e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Esta obra tem como propósito instigar você, leitor, a refletir sobre 
os fenômenos populacionais e as múltiplas relações que se estabelecem 
entre os habitantes e a produção e transformação do espaço geográfico. 
Tais fenômenos constituem a base da Geografia da População, que tem 
como objeto de estudo, com base em diferentes teorias e dinâmicas com-
plexas e contraditórias, os conceitos sobre população. Assim, a temática 
aqui apresentada é reflexo desse dinamismo, pois envolve a análise dos 
fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que interferem na reali-
dade das populações. 
Considera-se que a evolução do pensamento geográfico ocorreu 
a partir de diferentes cenários políticos e econômicos, sendo influen-
ciada por interesses diversos. Nesse sentido, várias linhas de pensa-
mento se voltaram aos estudos sobre as dinâmicas populacionais com 
previsões, formulações e contestações sobre a relação entre habitantes 
e espaço geográfico.
Desse modo, é fundamental que as análises dos fenômenos popu-
lacionais sob o ponto de vista geográfico tenham como ponto de partida 
o cenário atual, marcado pela globalização e por avanços tecnológicos. 
Nessa perspectiva, questões como o modo de vida, as condições econômi-
cas e sociais, a distribuição e a estrutura da população dos diversos paí-
ses do mundo são imprescindíveis para a abordagem geográfica. A essas 
questões somam-se ainda outras problemáticas, como a relação entre po-
pulação, disponibilidade de recursos naturais e distribuição das riquezas 
entre os habitantes de determinado território. 
Neste livro convido você a um processo reflexivo de apropriação 
dos conceitos relacionados aos fenômenos populacionais, de modo a po-
der aplicá-los a situações reais, a fim de compreender a forma como se 
estabelecem as dinâmicas entre os habitantes e o espaço geográfico.
Boas reflexões!
Sobre o autor
João Mendes
Doutor em Geografia, mestre em Tecnologia, bacharel e licenciado 
em Geografia. É professor de Geografia nos ensinos Básico e Superior, 
além de autor de livros didáticos de Geografia para o Ensino Fundamental 
e de materiais para educação a distância.
6 Geografia da População
SumárioSumário
1 Conceitos fundamentais sobre população 9
1.1 Os indicadores da população 10
1.2 Distribuição da população 13
1.3 População e desenvolvimento 16
2 Concepções sobre população na geografia clássica 25
2.1 Evolução do pensamento geográfico sobre população 26
2.2 A demografia na análise da população 28
2.3 População e produção do espaço 31
3 As teorias sobre população 39
3.1 As ideias de Malthus 40
3.2 O neomalthusianismo 43
3.3 As teorias críticas sobre população 45
4 Os movimentos da população 53
4.1 A mobilidade da população 54
4.2 As migrações internacionais 58
4.3 As causas e consequências da mobilidade da população 61
Geografia da População 7
SumárioSumário
5 Os efeitos da globalização sobre a população 69
5.1 Globalização e população 70
5.2 Impactos da globalização sobre os indicadores da população 73
5.3 População, produção e consumo 76
6 Raças, etnias e povos do mundo 83
6.1 Conceitos fundamentais sobre raça e etnias 84
6.2 Os conflitos étnicos 87
6.3 A xenofobia e suas causas 89
7 População e meio ambiente 97
7.1 Os conceitos de meio ambiente e população 98
7.2 O consumismo e os recursos naturais 101
7.3 Aspectos culturais e interação com o ambiente 104
8 A estrutura da população brasileira 111
8.1 As pirâmides etárias 112
8.2 A transição demográfica da população brasileira 115
8.3 Os movimentos da população brasileira 118
Geografia da População 9
1
Conceitos fundamentais 
sobre população
Introdução
A Geografia estuda o espaço geográfico, que é resultado de múltiplos fenômenos 
que nele ocorrem. Entre estes, estão as diversas relações que se estabelecem entre os 
habitantes de um determinado espaço geográfico os motivos de nele se estabelecerem 
e as características que apresentam, pois “a população constituiu a base e o sujeito de 
toda a atividade humana” (DAMIANI, 2004, p. 8).
Assim, os estudos dessas características constituem a base da Geografia da 
População, que tem como propósito abordar os fenômenos relacionados às popula-
ções a partir de diferentes teorias e dinâmicas complexas e contraditórias, as quais 
serão abordadas no decorrer dos capítulos deste livro.
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População10
1.1 Os indicadores da população
Para conhecer as características de determinada população, alguns conceitos são im-
prescindíveis: trata-se de seus indicadores. Tendo como referência o Dicionário Online de 
Português, o termo indicador significa “Que indica; que dá a conhecer” (DICIO, 2017). Neste 
capítulo, explicita-se a importância dos indicadores e de seus significados para o entendi-
mento das especificidades dos fenômenos que envolvem a população que habita uma loca-
lidade – considerando o espaço e o tempo em que se situam e o nível de criticidade que se 
pretende adotar na análise.
1.1.1 População absoluta
O número total de habitantes de determinado país, região, estado ou munícipio refere-
-se à população absoluta. De acordo com Andrade (1998), é comum as pessoas se impres-
sionarem com o grande número de habitantes de países como a Rússia (143.456.918 hab.1), 
o Brasil (204.450.649 hab.) e os Estados Unidos (321.773.631 hab.). Porém, considerando a 
extensão de territórios como esses, detectam-se nessas localidades vastas áreas subocupa-
das. No mapa da Figura 1, evidencia-se como exemplo a distribuição da população pelo 
território brasileiro.
Figura 1 – Distribuição da população absoluta sobre o território brasileiro em 2010.
Fonte: IBGE, 2010.
1 Dados atualizados de acordo com IBGE Países (2016). Disponível em: <http://paises.ibge.gov.br/>. Acesso 
em: 2 jun. 2017.
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
1
11
Observando-se esse mapa, é possível constatar que a maior parte da população brasi-
leira se concentra na porção leste do país. Segundo Andrade (1998), países como a Bélgica, 
Alemanha e os Países Baixos (Holanda), apesar de possuírem números populacionais infe-
riores aos de população elevada, são superpovoados, devido à sua relativa pequena exten-
são territorial.
1.1.2 Densidade demográfica
A análise da distribuição da população sobre a área de determinado território requer 
considerar o conceito de densidade demográfica. Segundo Andrade (1998), obtém-se esse 
indicador a partir da divisão do número total de habitantes pela área do território em aná-
lise. Desse modo, é possível identificar o número de habitantes por quilômetro quadrado. 
Considere as informações da tabela a seguir:
Tabela 1 – Dados sobre a extensão territorial e a população brasileira em 2010.
Área total 8.515.767,049 km2
População total 190.755.799 habitantes
 Fonte: IBGE, 2017b.
Dividindo-se o número total de habitantes do território brasileiro (dados de 2010) pela sua 
área total, obtém-se a densidade demográfica de 22,4 habitantes/km². Esse conceito precisa ser 
usado com cautela,já que, na maioria das vezes, de acordo com Andrade (1998, p. 47), “países 
que possuem baixa densidade demográfica estão superpovoados, pois há em seu território áreas 
anecumênicas, isto é, desfavoráveis à ocupação humana”. O autor cita como exemplo o Brasil, 
cuja distribuição da população pelo território ocorre de forma irregular, como é possível consta-
tar no mapa da Figura 1, apresentado anteriormente.
1.1.3 Crescimento natural ou vegetativo
O conceito de crescimento natural ou vegetativo é resultante da diferença entre o número 
de nascimentos e de óbitos na população de um país, região, estado ou município. Portanto, 
a análise desse indicador requer comparar as taxas de natalidade e mortalidade locais.
A taxa de natalidade é obtida pela divisão do número de nascidos no período de um 
ano pelo número de habitantes do país, região, estado ou município. Com o fim de evitar o 
excesso de decimais, esse número é multiplicado por 1.000. Esse indicador é expresso pelo 
símbolo: ‰ (lê-se “por mil”). Assim, tendo-se como referência, por exemplo, a taxa de nata-
lidade do ano de 2013, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 
foi de 15 ‰, isso significa que para cada grupo de mil habitantes, houve 15 nascimentos 
(IBGE, 2017c).
Por sua vez, para a obtenção da taxa de mortalidade, divide-se o número de óbitos 
ocorridos no período de um ano, em determinado país, região, estado ou município, pelo 
número de habitantes, multiplicando-se, depois, o resultado por 1.000 (ANDRADE, 1998).
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População12
Essas taxas são obtidas por meio de levantamentos de dados realizados em cartórios de 
registro civil, que são obrigatórios na maioria dos países do mundo. Esses dados também 
são obtidos por meio de recenseamentos, que, no caso do Brasil, são realizados pelo IBGE.
1.1.4 Taxa de fecundidade
O número médio de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher ao final do seu perío-
do reprodutivo é denominado taxa de fecundidade. De forma geral, há uma associação entre a 
redução das taxas de fecundidade e a modernização das sociedades advindas da Revolução 
Industrial. Entretanto, Alves (1994) adverte que nos países subdesenvolvidos há um proces-
so de modernização excludente. Portanto, essa associação não corresponde à realidade total 
desses países.
Para Vasconcelos e Gomes (2012, p. 546), no Brasil “a escolarização das mulheres e a 
inserção no mercado de trabalho, especialmente na área urbana, são fatores associados à rá-
pida redução” nas taxas de fecundidade. Esse processo, segundo Alves (1994), acentuou-se 
no país a partir da segunda metade da década de 1960, período que foi o “divisor de águas” 
entre a economia de subsistência, de base familiar, e a expansão da economia industrial.
Nessa perspectiva, a queda das taxas de fecundidade começou nas zonas urbanas da 
região Sudeste, a mais industrializada, e se expandiu para as demais regiões do país, atin-
gindo também as zonas rurais. Conforme Alves (1994, p. 265), antes do início do “declínio, 
as mulheres brasileiras tinham em média 6,3 filhos, passando para 5,8 filhos em 1970, 4,3 
filhos em 1980 e já apresentavam uma média de 3,6 filhos em 1984”. No gráfico a seguir, é 
possível identificar a tendência das taxas de fecundidade no Brasil.
Figura 2 – Brasil: taxa de fecundidade total – 2000 a 2015.
Fonte: IBGE, 2017c.
A análise do gráfico evidencia a tendência de redução das taxas de fecundidade na 
população brasileira. De acordo com Alves (1994), com a redução do tamanho das famílias, 
modificações significativas podem ocorrer também na estrutura etária da população.
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
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1.1.5 Expectativa de vida
O número médio de anos que uma pessoa pode viver em determinado país, região, es-
tado ou município é definido como expectativa de vida. Consiste, portanto, numa estimativa 
do número de anos que se espera que uma pessoa possa viver.
Esse indicador está associado às condições médico-sanitárias e de bem-estar dos indi-
víduos na sociedade em que estão inseridos. Dessa forma, a expectativa de vida tende a ser 
menor entre os indivíduos submetidos a aspectos como poluição ambiental, elevadas taxas 
de criminalidade e violência, acidentes, condições econômicas insuficientes e precariedade 
de serviços como saúde e educação. Assim, melhorias nas condições médico-sanitárias au-
mentam a expectativa de vida.
Segundo Camarano, Kanso e Mello (2004), no Brasil, sobretudo a partir da década de 1980, 
as melhorias das condições médico-sanitárias permitiram a redução das taxas de mortalidade 
infantil e óbitos provocados por doenças infectocontagiosas e parasitárias. Tal redução, ainda 
segundo os autores, foi acompanhada por uma queda significativa da mortalidade de pessoas 
na idade adulta, atingindo mais intensamente, a partir dos anos 1990, a população idosa. Esses 
fatores resultaram em um aumento significativo da expectativa de vida.
1.2 Distribuição da população
Tendo por base os conceitos básicos sobre a população, pode-se passar a uma análise de 
fenômenos como o crescimento, a distribuição geográfica e condições em que se inserem as po-
pulações em escala local, regional ou mundial.
1.2.1 O crescimento da população mundial
Uma das inquietações ao se estudar o tema população, segundo Andrade (1998), é a pro-
blemática do atual crescimento acelerado do número de habitantes no planeta. Segundo o 
autor, esse crescimento ocorreu de forma relativamente lenta até 1850, quando a população 
mundial atingiu 1 bilhão de pessoas.
Em 1950, de acordo com dados das Organização das Nações Unidas (ONU, 2016), a 
população mundial chegou a 2,6 bilhões de habitantes. Alves (2014, p. 224) afirma que “o 
século XX apresentou o maior crescimento demográfico de toda a história da humanidade”. 
A estimativa para 2050, ainda segundo a ONU (2016), é de 9,6 bilhões de habitantes.
Para Andrade (1998, p. 49), esse crescimento “não se processa da mesma forma em 
toda a superfície da Terra; ao contrário, ele é mais lento nos países ricos, desenvolvidos, do 
que nos países pobres, subdesenvolvidos”. Desse modo, a tendência é de que nos países 
ricos predomine a população de pessoas mais velhas, enquanto nos países pobres a maioria 
dos habitantes seja de jovens.
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População14
Como exemplo do crescimento populacional, Andrade (1998, p. 49), cita países como 
Brasil e México, onde “observa-se uma elevada taxa de natalidade e uma baixa taxa de mor-
talidade, o que explica o grande crescimento destes dois importantes países”. Assim, em-
bora a medicina preventiva tenha provocado queda considerável da taxa de mortalidade, 
como ocorre nos países desenvolvidos, a taxa de natalidade mundial continua elevada.
Nessa perspectiva, mesmo admitindo uma tendência ao envelhecimento da popu-
lação de países como Brasil e México, há um grande contingente de população jovem. 
Conforme Damiani (2004, p. 72), “essa população crescente tende a diminuir o ritmo do 
crescimento econômico, pois parte dos investimentos é desviada para manter a população 
jovem dependente”.
Ao se referir ao acelerado crescimento da população e à elevada porcentagem de jovens, 
Andrade (1998, p. 51) afirma que “provocam uma série de problemas a vários países, pois 
torna indispensável a ampliação constante da infraestrutura de assistência médica e escolar, 
além de outros serviços”.
Desse modo, a problemática que envolve o crescimento da população mundial é com-
plexa e permeada por diferentes abordagens e teorias.
1.2.2 A distribuição da população mundial
Outra problemática que causa inquietações ao se estudar o tema população, segundo 
Andrade (1998), é a distribuição dos habitantes sobre a superfície terrestre. A tabela a seguir 
apresenta algumas informações referentes à população mundial (dados de 2016).
Tabela 2 – Distribuição geográfica da população mundial – 2016.
Continente
Superfície 
(km2)População
Europa 10.000.000 738.849.000
Ásia 42.000.000 4.436.224.000
América 
do Norte 23.000.000 489.093.000
África 29.900.000 1.216.129.000
América do Sul 18.000.000 422.534.000
Oceania 11.000.000 39.901.000
Antártida 8.000.000 0
Fonte: PIRÂMIDES..., 2016.
A análise da distribuição dos habitantes pela área territorial requer considerar que, com 
exceção da Antártida, embora a população seja numerosa, a densidade demográfica é desi-
gual. Nessa perspectiva, Andrade (1998) adverte que não se pode generalizar tal análise, já 
que existem áreas com elevada concentração populacional e áreas que se caracterizam como 
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
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verdadeiros vazios demográficos. Como exemplo, pode-se destacar a distribuição da popu-
lação na Ásia, que apresenta cerca de 50% dos habitantes concentrados na porção oriental 
do continente, compreendendo países como a China, cuja população passa de um bilhão.
No mapa a seguir, é possível identificar as áreas de elevada concentração populacional:
Figura 3 – Distribuição da população mundial – 2010.
Fonte: IBGE, 2010.
Em relação à desigual distribuição da população mundial sobre a superfície terrestre, 
pode-se destacar três porções de elevada concentração: a) Ásia, cuja população chega a cerca 
de 4,6 bilhões de habitantes, com áreas cujas densidades demográficas chegam a mais de 
7.100 hab./km2, como em Pequim, na China; b) Europa, cujos países como Inglaterra, França, 
Bélgica, Países Baixos (Holanda), Alemanha e Polônia apresentam densidade demográfica 
superior a 210 hab./km2; c) o Nordeste dos Estados Unidos, estendendo-se para a região dos 
Grandes Lagos, onde se situam cidades americanas em que a densidade chega a cerca de 
250 hab./km2.
Ainda sobre a distribuição da população mundial, Andrade (1998) destaca as já citadas 
áreas anecumênicas (desfavoráveis à ocupação humana). São elas:
• As regiões polares ártica e antártica, onde, na primeira, a população é inci-
piente e remanescente dos povos nômades e, na segunda, ela é formada so-
mente por cientistas.
• As regiões desérticas, que ocupam cerca de 20% da superfície terrestre, onde, de-
vido à falta de umidade, a cobertura vegetal é praticamente inexistente. Mesmo 
com o desenvolvimento das técnicas modernas e o recuo dos limites dos desertos 
com a irrigação, essas áreas apresentam baixas densidades demográficas se com-
paradas às áreas ecúmenas (favoráveis à ocupação humana).
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População16
• As altas montanhas, como o Himalaia, que ultrapassa os oito mil metros de altitu-
de. Devido à altitude, as temperaturas permanecem baixas na maior parte do ano 
e há baixa concentração de oxigênio, dificultando a ação humana sobre a natureza. 
Por esse motivo, as mais elevadas habitações humanas estão abaixo de 4.500 me-
tros de altitude.
• As florestas equatoriais, cujo clima quente e úmido favorece o desenvolvimento 
da vegetação, mas cujos solos são rapidamente desgastados, o que também desfa-
vorece a ação humana. Por esse motivo, as densidades demográficas são baixas, 
como ocorre nas bacias do Amazonas e do Congo. Somente em Java, onde os solos, 
por terem origem vulcânica, são férteis, as densidades demográficas são elevadas.
A distribuição da população brasileira sobre o território, conforme mencionado ante-
riormente, também ocorre de forma desigual. Evidencia-se tal desigualdade ao se comparar 
a densidade demográfica da cidade de São Paulo (SP), por exemplo, que era de 7.387,69 hab./
km² em 2016, segundo o IBGE, com a densidade demográfica do município de Canutama, 
no Estado do Amazonas, com 0,43 hab./km² (IBGE, 2017b).
Referindo à distribuição da população mundial como um todo, Andrade (1998) des-
taca que as populações são mais ou menos densas, segundo uma série de fatores, como a 
maior ou menor quantidade de recursos naturais disponíveis e o maior ou menor nível de 
desenvolvimento econômico. Na concepção do autor, esses fatores não determinam as den-
sidades demográficas, mas influenciam o povoamento, principalmente quando se trata da 
capacidade de acesso aos mercados consumidores.
1.3 População e desenvolvimento
Na análise do grau de desenvolvimento de um país, região, estado ou município, de 
acordo com Andrade (1998), não se pode afirmar que esse processo ocorre devido ao eleva-
do ou baixo número de habitantes. Porém, é possível relacionar as características da popu-
lação aos condicionantes econômicos, tecnológicos e sociais.
1.3.1 Densidade demográfica e desenvolvimento
Na concepção de Andrade (1998), ao relacionar densidade demográfica e desenvolvi-
mento, existem países com elevada população absoluta (ou populosos) que são desenvolvi-
dos e subdesenvolvidos, da mesma forma que há países com baixas densidades demográ-
ficas ou pouco populosos, que também apresentam distintos níveis de desenvolvimento.
Essa relação entre densidade demográfica e desenvolvimento se insere numa temática 
mais ampla, ou seja, no debate sobre população e desenvolvimento, que, segundo Alves 
(2014), teve início antes dos escritos de Thomas Malthus (1766-1834), um dos teóricos mais 
otimistas sobre a tese do progresso – ou, nos termos atuais, do desenvolvimento.
Segundo Malthus, na relação entre população e desenvolvimento, a primeira seria uma 
variável independente, pois tendia a crescer sempre acima da disponibilidade de recursos 
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
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17
de subsistência. Isso tornaria inviável historicamente o desenvolvimento de qualquer socie-
dade e, logo, de qualquer tipo de progresso social (ALVES, 2014).
Contrapondo-se às ideias de Malthus, ainda de acordo com Alves (2014), o pensamento 
de Karl Marx (1818-1883), ao relacionar população e desenvolvimento, considera que o capi-
talismo sempre é capaz de produzir bens e serviços de acordo com as demandas requeridas. 
Logo, o aumento da população não representaria prejuízos ao desenvolvimento de um país.
Ao pensar as relações em questão, Andrade (1998) esclarece que o desenvolvimento 
e o subdesenvolvimento não dependem exclusivamente da maior ou menor população 
absoluta ou densidade demográfica, mas das características de cada população. Assim, 
conforme o autor, “os países que possuem grande porcentagem de jovens criam uma so-
brecarga para a população adulta, que tem de prover as suas necessidades e manter e 
educar esses jovens” (ANDRADE, 1998, p. 62).
Ainda se referindo às populações com alta porcentagem de jovens, Andrade (1998) afir-
ma que, no futuro, quando esses jovens se integrarem ao mercado de trabalho, constituirão 
uma força que participará da produção, contribuindo, consequentemente, para a elevação do 
Produto Interno Bruto (PIB)2 e para o desenvolvimento do país. Por outro lado, “uma popu-
lação de velhos terá um ônus a corrigir, de vez que grande número de aposentados e pensio-
nistas se constituirá numa séria carga para a população ativa”, ou seja, a população que está 
inserida no mercado de trabalho (ANDRADE, 1998, p. 63).
O autor destaca que a restrição de natalidade, ou planejamento familiar, recomendada 
por muitos cientistas sociais como estratégia de desenvolvimento para os países subdesen-
volvidos, precisa ser vista com cautela. Isso porque a elevada densidade demográfica ou a 
superpopulação não é empecilho ao desenvolvimento, devido à futura integração dos jo-
vens ao mercado de trabalho.
1.3.2 As conferências sobre população e desenvolvimento
Após os acertos políticos ocorridos no final da Segunda Guerra Mundial, segundo Alves 
(2014), houve uma reconfiguração do arcabouço da governança mundial, com a criação de 
instituições nas áreas: política, como a Organização das Nações Unidas (ONU); financeira, 
como o Fundo Monetário Internacional (FMI); econômica, como o Banco Mundial; e comer-
cial, como o General Agreement on Tariffs and Trade – GATT (em português, Acordo Geral 
de Tarifas e Comércio).
Nesse contexto de novas instituições e decrescimento econômico, tomaram impulso as 
inquietações sobre a população e o desenvolvimento, e, assim, ocorreram conferências para 
debater essa problemática, incluindo também questões sobre população e meio ambiente.
As duas primeiras conferências internacionais sobre o tema população aconteceram 
em Roma, no ano de 1954, e em Belgrado, em 1965, em caráter acadêmico e extraoficial 
(ALVES, 2014). A primeira conferência oficial sobre o tema foi organizada pela ONU em 
2 Produto Interno Bruto (PIB) é o total, em valores monetários, de todos os bens e serviços produzidos 
em uma região durante um período de tempo específico.
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População18
1974, em Bucareste, Romênia, e contou com a presença de delegações de vários países. Os 
embates e as concepções já debatidos nos encontros anteriores fizeram parte dessa con-
ferência oficial. A Conferência de 1974, segundo Alves (2014, p. 222), ficou dividida entre 
os “controlistas” e os “desenvolvimentistas”, porque ela ocorreu em plena Guerra Fria. 
Assim, os países mais ricos, tendo como líder os Estados Unidos, defenderam a concepção 
de Malthus, segundo a qual é necessário reduzir a fecundidade para promover o desen-
volvimento e a erradicação da pobreza (controlistas). Já os países então subdesenvolvidos, 
como a China e a Índia, defendiam a “prioridade do fortalecimento das políticas de apoio 
ao desenvolvimento em contraposição ao controle da natalidade e ao planejamento fami-
liar” (desenvolvimentistas). No embate dessa conferência, teve-se como ponto de vista 
predominante o dos “controlistas”, com o bordão símbolo de Bucareste: “O desenvolvi-
mento é o melhor contraceptivo” (ALVES, 2014, p. 222).
Uma nova Conferência Internacional sobre População ocorreu em 1984, no México, na 
qual se enfatizou a necessidade de estabilização da população mundial, ou seja, o “cresci-
mento zero” no mais curto período de tempo possível (BERQUÓ, 1999). Tal estabilização, 
segundo a autora, tornaria menos difícil aos países em desenvolvimento melhorar seus pa-
drões de vida. Essas conferências, segundo Alves (2014, p. 223), mostram “que a questão 
demográfica foi objeto de disputa e as posições ideológicas variaram bastante no espaço de 
dez anos, com alternância de visões: se a população seria uma variável dependente, inde-
pendente ou neutra”.
Em 1994, ocorreu a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento do 
Cairo (1994), que, segundo Berquó (1999, p. 74), “beneficiando-se da Conferência de Direitos 
Humanos de Viena (1993), reafirmou a aplicação dos direitos humanos a todos os aspectos 
das questões populacionais”. A conferência do Cairo, conforme Alves (2014, p. 223), apon-
tou “a necessidade da estabilização do crescimento da população mundial”, já que não é 
possível “haver crescimento infinito em um mundo finito”. No entanto, a conferência não 
criou nenhum projeto, nem criou meios para evitar o supercrescimento da população.
Após essas conferências, os debates sobre população e desenvolvimento sustentável 
continuaram sendo feitos em outros eventos. Tais temas são amplos, contraditórios e envol-
vem interesses diversos, como será visto nos próximos capítulos.
 Ampliando seus conhecimentos
A evolução do índice de envelhecimento 
no Brasil, nas suas regiões e unidades 
federativas no período de 1970 a 2010
(CLOSS; SCHWANKE, 2012, p. 444-457)
A população mundial encontra-se em um processo de reestruturação 
demográfica que se caracteriza pela redução das taxas de fecundidade, 
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
1
19
diminuição da mortalidade e consequente aumento da expectativa de 
vida. A transição demográfica vem acontecendo de forma heterogênea na 
população mundial e encontra-se em diferentes fases ao redor do mundo. 
Iniciou-se na Europa, e o primeiro fenômeno observado foi a diminuição 
da fecundidade na Revolução Industrial, fato este anterior ao apareci-
mento da pílula anticoncepcional. Por outro lado, o aumento na expecta-
tiva de vida ocorreu de forma lenta, devido a melhores condições sociais e 
de saneamento, com o advento do uso de antibióticos e de vacinas.
Muitos países, entre eles o Brasil, vêm passando por uma mudança em suas 
estruturas etárias, que se reflete em uma diminuição relativa na proporção 
de crianças e jovens e um aumento na proporção de adultos e idosos no 
conjunto da população.
A população brasileira, até os anos 60, revelava-se quase estável e sua 
distribuição etária caracterizava-se por uma quase constância. Tratava-se 
de uma população jovem, sendo que, no censo de 1970, 42% da população 
tinham menos de 15 anos e 5% tinham mais de 60 anos. Entre os anos 1940 
e 1960, o Brasil experimentou um significativo declínio da mortalidade, 
mantendo a fecundidade em níveis bastante altos, o que gerou uma popu-
lação jovem quase estável e com rápido crescimento. A esperança de vida 
ao nascer passou de aproximadamente 41 anos, na década de 30, para 55,7 
anos, na década de 60, e a taxa de fecundidade total teria passado de 6,2 
filhos por mulher, nos anos 40, para 5,8, em 1970.
Ao final da década de 60, os níveis de fecundidade passaram a apresentar 
trajetória descendente, inicialmente nos grupos populacionais mais privi-
legiados e nos polos mais desenvolvidos, estendendo-se rapidamente às 
demais regiões. A participação relativa do grupo etário jovem declinou 
de 41,8%, em 1950, para 28,6% em 2000, tendendo depois a estabilizar-se 
numericamente. Em contraposição, a população idosa (acima de 65 anos) 
mais do que duplicou sua importância relativa, passando de 2,4%, em 
1950, para 5,4%, em 2000.
Assim, o grupo de idosos é, hoje, um contingente populacional expres-
sivo em termos absolutos e de crescente importância relativa no conjunto 
da sociedade brasileira, daí decorrendo uma série de novas exigências e 
demandas em termos de políticas públicas de saúde e inserção ativa dos 
idosos na vida social. Este processo, denominado de envelhecimento popu-
lacional, vem sendo informado à sociedade, com base em pesquisas e estu-
dos populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População20
por meio de indicadores sociais e demográficos, ferramentas necessárias 
para entender a dinâmica da sociedade em um determinado período de tempo.
Dentre as várias alternativas para a observação do envelhecimento de 
uma determinada população, o Índice de Envelhecimento (IE) apresenta 
vantagens por ser analiticamente simples, apresentar alta sensibilidade 
às variações na distribuição etária, contabilizar os dois grupos etários 
que definem o processo de envelhecimento populacional e ser de fácil 
interpretação.
O IE é definido como o número de pessoas de 60 e mais anos de idade, 
para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade, na população resi-
dente em determinado espaço geográfico, no ano considerado, e avalia o 
processo de ampliação do segmento idoso na população total em relação 
à variação relativa no grupo etário jovem. Quando há um aumento do 
grupo jovem maior do que o aumento dos idosos, o índice acusa o reju-
venescimento da população, a despeito de a ampliada participação dos 
idosos sugerir o envelhecimento da população. Por outro lado, se os dois 
grupos etários observarem variações de mesmo sentido e intensidade, o 
IE não varia, apresentando estabilidade no envelhecimento, apesar de 
a proporção de idosos indicar aumento ou redução do envelhecimento, 
conforme a direção da mudança.
[...]
As condições de saúde de determinada população podem ser estimadas por 
meio de indicadores demográficos. O conhecimento de aspectos demográ-
ficos permite avaliar, além das necessidades, as demandas presentes e futu-
ras de recursos de toda natureza. O conjunto de informações e indicadores 
gerado pelos estudos demográficos tem especial relevância para a análise 
das condições de vida da população, acompanhamento e apoio à decisão 
com relaçãoàs políticas públicas, investimentos em saúde e intervenções 
específicas em áreas críticas. A escolha dos indicadores depende dos obje-
tivos da avaliação, dos aspectos metodológicos, éticos e operacionais da 
questão em estudo. O Índice de Envelhecimento (IE) permite observar a 
evolução do ritmo de envelhecimento da população, comparativamente 
entre áreas geográficas e grupos sociais.
O processo de envelhecimento populacional é uma realidade no Brasil 
e no mundo, representando um importante fenômeno demográfico da 
atualidade e que modificou a perspectiva de vida dos indivíduos. Uma 
vez que o século XXI testemunhará um envelhecimento mais rápido do 
Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
1
21
que o ocorrido no século passado, o desafio para o futuro é garantir que os 
indivíduos possam envelhecer com segurança e dignidade, mantendo sua 
participação ativa na sociedade, como cidadãos e com todos seus direitos 
assegurados, sempre compatíveis com aqueles de outras faixas etárias e 
que as relações entre as gerações sejam constantemente estimuladas.
 Atividades
1. No site <http://www.cidades.ibge.gov.br>, é possível ter acesso a diversas informa-
ções sobre cada município brasileiro. Acesse e busque os seguintes dados sobre o 
seu município:
• área total;
• população absoluta;
• densidade demográfica.
 Com base nas informações obtidas, elabore um texto abordando os fatores que ex-
plicam as características desses dados e como é a distribuição da população pelo 
território do município. Se necessário, faça pesquisas adicionais.
2. Analise o gráfico a seguir:
Distribuição percentual da população por grandes grupos de idade: Brasil – 1980 a 2010
Fonte: IBGE, 2017b.
 Com base no que analisou, responda:
a. Quais as principais diferenças da distribuição da porcentagem da população entre 
1980 e 2010?
b. Indique duas causas das mudanças representadas no gráfico.
Conceitos fundamentais sobre população1
Geografia da População22
3. No site <http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>, pode-se visualizar, 
por meio de gráficos, as projeções para a população de cada estado brasileiro. Aces-
se-o e analise os seguintes gráficos sobre o estado onde você mora:
• Taxas Brutas de Natalidade (TBN) e Mortalidade (TBM) 2000-2030.
• Expectativa de Vida ao Nascer 2000-2030.
 Elabore um texto explicando as informações representadas nesses gráficos e as cau-
sas das projeções para a população do seu estado.
 Referências
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Conceitos fundamentais sobre população
Geografia da População
1
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br/pdf/ess/v21n4/v21n4a03.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.
 Resolução
1. Você pode citar os motivos pelos quais o município onde mora se caracteriza como 
de baixa ou elevada população absoluta e, ainda, a forma como ocorre a distribuição 
da população pelo território, destacando, por exemplo, os fatores que fazem com que 
ocorram maiores densidades demográficas num determinado ponto do município.
2. Observe que, entre 1980 e 2010, a população entre 0-14 anos diminuiu e que as por-
centagens da população entre 15-64 anos e da população com mais de 65 anos au-
mentaram. Além disso, explique que as mudanças representadas nos gráficos se re-
lacionam às melhorias nas condições médico-sanitárias, o que permite diminuir as 
taxas de natalidade, mas, também, diminuir as taxas de mortalidade, traduzindo-se 
num aumento da população e no seu “envelhecimento”.
3. Identifique que as taxas de natalidade e mortalidade diminuirão no período proje-
tado. A explicação deve relacionar a baixa taxa de natalidade à baixa taxa de fecun-
didade e às melhorias nas condições médico-sanitárias. Esses fatores permitem a 
prevenção de doenças e a diminuição das taxas de mortalidade, fatores que explicam 
a projeção da população absoluta para o estado ou para o país.
Geografia da População 25
2
Concepções sobre 
população na 
geografia clássica
Introdução
O conhecimento científico se caracteriza pela dinamicidade advinda da influência 
das transformações econômicas, sociais e tecnológicas da sociedade e suas repercus-
sões nas reflexões e formulações de pensamentos. A abordagem da população na geo-
grafia é reflexo dos movimentos da ciência, pois envolve a análise dos fatores políticos, 
econômicos e sociais que interferem nos fenômenos populacionais.
Assim, os estudos sobre população no contexto da geografia são marcados pela 
evolução do pensamento geográfico sobre os fenômenos populacionais. Nessa pers-
pectiva, são apresentados a seguir os diferentes momentos da evolução da Geografiada População e as reflexões que os acompanham.
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População26
2.1 Evolução do pensamento 
geográfico sobre população
A análise da evolução do pensamento geográfico sobre população requer considerar as 
diferentes abordagens teóricas sobre o assunto. Desse modo, serão abordados, na sequência, 
autores clássicos da geografia, destacando suas concepções e abordagens teórico-metodoló-
gicas sobre os conceitos populacionais, bem como os autores contemporâneos e seus pres-
supostos sobre a temática em questão.
2.1.1 Os estudos sobre população na geografia clássica
Os estudos sobre população, tendo como referência as bases teóricas da geografia, são 
marcados por momentos de permanências, transformações, rupturas, limites e contradições 
(MORMUL, 2013). Para entender esse processo, faz-se necessário analisar aspectos da pró-
pria evolução do pensamento geográfico e do estabelecimento da geografia como ciência, 
que traz em sua gênese a busca pela superação da fragmentação de seus estudos entre fenô-
menos físicos e humanos. Os estudos populacionais, se forem realizados de forma fragmen-
tada, podem se limitar a explicações generalistas (MORMUL, 2013).
Além disso, ainda conforme Mormul (2013), é necessária a abordagem da relação en-
tre a geografia e o capitalismo, como forma de situá-la no contexto histórico da produção 
humana. Nessa perspectiva, os estudos populacionais são intrínsecos à geografia, pois não 
há como analisar o espaço geográfico sem a população que a ele dá dinamismo, da mesma 
forma que não há como entender a população sem seu respectivo espaço.
Tendo como referência a evolução do pensamento geográfico e suas relações com a 
abordagem da população, Rodrigues (2008) destaca a sistematização, no século XIX, de sa-
beres acumulados, atribuindo a eles métodos próprios de construção de conhecimento. Esse 
fato deu origem a várias ciências, entre elas, a geografia, inicialmente considerada uma ciên-
cia social que trabalha com fenômenos naturais (clima, vegetação, relevo, hidrografia etc.). 
Conforme Rodrigues (2008, p. 13), o “estudo do conjunto desses fenômenos causou muita 
discussão na história do pensamento geográfico, gerando uma divisão em Geografia Física 
e Geografia Humana”. Essa divisão, na concepção de Mormul (2013, p. 29), “colaborou para 
que as pesquisas na Geografia ocorressem de modo independente, retirando o homem da 
natureza”. Os estudos sobre população trabalhados nessa perspectiva dicotômica, segundo 
Mormul (2013, p. 33), caracterizaram-se “ora dando maior ênfase aos dados empíricos1, ora 
se reportando aos estudos mais técnicos e científicos”.
1 Dado empírico – Que se baseia na observação da realidade ou na experiência, sem considerar os 
métodos científicos; conhecimento adquirido na prática.
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
27
Como a característica marcante dos estudos da geografia clássica é a descrição exausti-
va dos fenômenos, os trabalhos sobre população eram marcados pelas descrições, sobretudo 
quantitativas, desse tema. Essa perspectiva de trabalho, na qual, segundo Mormul (2013), os 
dados sobre população e suas variáveis são interpretados numa visão empirista, tornam os 
estudos isolados e distantes da realidade. Desse modo, a população era tomada como um 
elemento do âmbito geográfico sistematizado e estudado isoladamente. Segundo Andrade 
(1998), essa abordagem da geografia encontra-se:
[...] ultrapassada, de vez que, em relação à produção do espaço geográfico, temos 
de estudar a ação do homem apropriando-se dos recursos existentes, de acordo 
com as estruturas econômicas, sociais e políticas como estão organizadas. Daí a 
influência do modo de produção e das formações econômicas e sociais dominan-
tes no espaço e no tempo e concluirmos que existe apenas uma Geografia que é 
chamada de uma ou outra maneira, conforme o enfoque que se dá à mesma nos 
estudos em realização. (ANDRADE, 1998, p. 23)
Assim, os estudos sobre a população em nossos dias consideram que não se trata de 
um conceito meramente numérico, pois requer análises que envolvam aspectos econômicos, 
sociais e ambientais.
2.1.2 Os estudos sobre população numa perspectiva crítica
Considera-se que os métodos, técnicas e fundamentos da geografia clássica e das abor-
dagens quantitativas da geografia teórico-quantitativa, segundo Rodrigues (2008), são insu-
ficientes para apreender a complexidade do espaço geográfico e os fenômenos a ele ineren-
tes. Entre esses métodos, estão aqueles referentes à dinâmica populacional, pois a simples 
descrição e elaboração de explicações por meio de modelos, utilizando-se de elementos da 
matemática e da estatística, que marcaram os estudos geográficos na perspectiva da geogra-
fia teórico-quantitativa, não são suficientes para a análise desses fenômenos.
Tendo em vista a superação dessas abordagens, surge, na década de 1970, a geografia 
crítica. Segundo Robaina (2015), os estudiosos dessa corrente, baseando-se no referencial 
marxista, destacam as contradições entre o capital de trabalho e as desigualdades socioes-
paciais. Destaca-se, também, a geografia humanista, que contribuiu “sensivelmente para 
a valorização das experiências, sentimentos e das percepções de determinados grupos e 
segmentos sociais frente a diferentes configurações socioespaciais” (ROBAINA, 2015, p. 53).
Numa busca por abordagens mais críticas relacionadas aos fenômenos populacio-
nais, surgem trabalhos sobre população envolvendo, como cita Robaina (2015), as po-
pulações em situação de risco e os moradores de rua, como, por exemplo, na situação 
retratada na Figura 1.
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População28
Figura 1 – Na Bulgária, o país mais pobre da União Europeia, uma mulher coberta por pombos 
mendiga em uma rua de Sofia.
Fonte: Cylonphoto/iStockphoto.
No entanto, conforme Mormul (2013), ainda é possível encontrar trabalhos descriti-
vos sobre a temática população de forma geral. Desse modo, faz-se necessária a superação 
de abordagens dos conceitos populacionais baseados no senso comum, as quais “acabam 
explicitando os fenômenos por eles mesmos, isto é, não explicam a realidade do fenômeno. 
Na maior parte das vezes descreve-os, e descrever a realidade apenas não significa produzir 
conhecimento científico” (MORMUL, 2013, p. 33). Assim, até hoje há resquícios das aborda-
gens clássicas nos estudos geográficos.
Ao se referir às contribuições da geografia para os estudos populacionais na atualida-
de, Mormul (2013, p. 32) destaca que essa ciência pode “contribuir para que as informações 
sobre população na Geografia avancem para além dos dados quantitativos” e que isso pode 
melhorar a compreensão sobre a dinâmica populacional.
Tem-se como desafio contemporâneo em relação aos estudos sobre população, confor-
me apresenta a autora, fazer uso de diferentes metodologias ou, até, reescrever uma história 
diferente sobre a abordagem da população na perspectiva da geografia. Além disso, Mormul 
(2013) destaca a necessidade de se mergulhar na essência dos fenômenos populacionais, em 
suas contradições, seus determinantes, suas implicações. Assim, pode-se, a partir da com-
preensão de tais fenômenos, buscar a superação das suas contradições e a sua transformação.
2.2 A demografia na análise da população
Considera-se que os estudos geográficos sobre a população vão além de números, esta-
tísticas e conceitos, pois há a necessidade de interpretar e analisar os fenômenos populacio-
nais em sua complexidade. Nesse sentido, os estudos populacionais recebem a contribuição 
da demografia.
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
29
2.2.1 O conceito de demografia
Em 1855, Achille Guillard empregou pela primeira vez o termo demografia (dêmos = po-
pulação, graphein = estudo). Segundo Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998, p. 6), demografia 
“refere-se ao estudo das populações humanas e suaevolução temporal no tocante a seu ta-
manho, sua distribuição espacial, sua composição e suas características gerais”. Já Mormul 
(2013, p. 33) conceitua a demografia como “a ciência que estuda a dinâmica populacional, por 
meio de estatísticas que utilizam como critérios a religiosidade, educação, etnia, entre outros, 
influenciados por fatores como taxa de natalidade, mortalidade, fecundidade, entre outros”.
Carvalho, Sawyer e Rodrigues (2013, p. 7) afirmam que a demografia “trata dos aspec-
tos estáticos de uma população num determinado momento – tamanho e composição –, as-
sim como também da sua evolução no tempo e da inter-relação dinâmica entre as variáveis 
demográficas”.
Considerada um ramo das ciências sociais, sua importância se evidencia “no fato de 
a população ser um elemento político que caracteriza uma sociedade e, logo, tornar-se-ia 
necessário compreendê-la a fim de tornar possível o planejamento econômico, social ou po-
lítico” (MORMUL, 2013, p. 33).
Referindo-se às especificidades da demografia, Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998) di-
ferenciam a concepção do termo população para a estatística e para os propósitos de estudos 
dos habitantes de determinado espaço geográfico. Assim, na estatística, população se refere 
a um conjunto de elementos, por exemplo, um conjunto de parafusos. Já para a demografia, 
o termo se trata de um conjunto de seres humanos com características específicas inseridos 
num contexto dinâmico.
Ainda segundo Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998), na caracterização da população 
em demografia, questiona-se: Qual o seu tamanho? Quantas pessoas existem numa localida-
de, num determinado momento? Também se pensa sobre sua composição: quantas pessoas 
são do sexo feminino? Quantas são do sexo masculino? Quantas pessoas são maiores de 50 
anos? Quantos indivíduos são economicamente ativos?
Sobretudo, além dessas informações, os autores destacam a importância de compreen-
der as dinâmicas que se estabelecem com base nesses fenômenos populacionais. Assim, afir-
mam que “uma questão importante que surge seria: como é que as mudanças em um ou mais 
destes componentes poderiam afetar os demais?” (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES 
1998, p. 7). Como possíveis respostas para evidenciar a amplitude da demografia, os autores 
listam algumas variáveis demográficas, como: a distribuição da população por sexo, idade, 
estado civil; a distribuição da população pelo território; e a residência de nascimento atual 
ou anterior.
Evidencia-se, assim, que a demografia vai além do levantamento de informações esta-
tísticas e descritivas sobre a população de determinado espaço geográfico, pois busca expli-
car as dinâmicas que influenciam seus indicadores. Além disso, faz estimativas que são úteis 
ao planejamento econômico e social e que alertam para dinâmicas populacionais que podem 
interferir na qualidade de vida e bem-estar dos seus habitantes.
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População30
2.2.2 Geografia e demografia
Considera-se haver uma aproximação significativa entre geografia e demografia, pois 
ambas demonstram abordagens semelhantes que podem mutuamente se enriquecer.
De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2005), os geógrafos entendem de modo mais 
simbiótico a relação entre sociedade e natureza. Os demógrafos, por sua vez, conferem a essa 
relação um forte componente socioeconômico. Conforme Mormul (2013), os economistas, 
diante do progresso tecnológico, da produtividade crescente e da elevação do nível de vida 
nos países desenvolvidos no início do século XX, passaram a ter menos preocupações com os 
problemas populacionais. Nesse contexto, a demografia, embora ganhe maior destaque como 
ciência, teve como foco os recenseamentos, incluindo técnicas matemáticas e estatísticas mais 
consistentes. Outros especialistas, como sociólogos e antropólogos, também se envolveram 
nos debates de questões mais teóricas sobre os fenômenos populacionais (MORMUL, 2013).
Nos dias de hoje, o diálogo entre geógrafos e demógrafos têm convergido, segundo 
Marandola Jr. e Hogan (2005), para preocupações envolvendo fatores sociais e ambientais, como, 
por exemplo, as situações em que o ambiente, conjugado a fatores socioeconômicos, expõe as 
populações a riscos. Desse modo, conforme Mormul (2013), as análises detalhadas, consideran-
do os dados estatísticos com a estrutura teórica da geografia, são benquistas pela demografia.
Nessa perspectiva, os estudos populacionais com base no aporte da geografia e de ou-
tras ciências como a economia política e a sociologia, segundo Silva (2004, p. 30), podem “ex-
plicar o porquê do lugar de pessoas nas classes sociais, a perda dos indivíduos na coisidade2 
da força de trabalho do homem genérico, ao mesmo tempo submetido na sociedade, não por 
obra do acaso, mas das leis sociais dominantes”. Ou, ainda, sob o ponto de vista geográfico, 
como afirma Mormul (2013, p. 68), “entender as forças políticas, econômicas e culturais que 
influenciaram o modo como as pessoas se organizam e vivem socialmente”.
Referindo-se à contribuição da demografia para as análises populacionais sob o enfoque 
da geografia, Marandola Jr. e Hogan (2005, p. 31) destacam os “estudos empíricos e preocu-
pações confluentes em um universo teórico distinto dos geógrafos e ainda por ser [melhor] 
desenhado”. Como uma tendência dos trabalhos relacionados a essa perspectiva, os autores 
chamam atenção para estudos que vêm contribuindo com a ampliação de abordagens mais 
integradas dos aspectos físicos e humanos e suas correlações com a dinâmica demográfica. 
Esses trabalhos estão relacionados à “discussão das desigualdades sociodemográficas, vin-
culadas à pobreza e à problemática da exclusão social” (2005, p. 41).
Conforme destaca Mormul (2013, p. 35), “na constituição da ciência geográfica a questão 
da população sempre esteve presente, contudo, não de modo explícito, muitas vezes subjuga-
do nos discursos dominantes”. Tendo em vista a aproximação entre geografia e demografia, é 
imprescindível considerar a forma como os seres humanos se relacionam com a natureza para 
assegurar sua sobrevivência, considerando as dimensões social e ambiental. Nesse sentido, a 
2 O termo coisidade é usado nesse contexto para sugerir que a força de trabalho coisifica o homem, 
ou seja, transforma-o em uma coisa, na medida em que não o individualiza e não faz com que ele se 
reconheça como indivíduo, mas como um mecanismo dentro de uma máquina social sobre a qual ele 
não pode interferir.
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
31
aproximação entre esses campos do conhecimento passa também pela temática do desenvol-
vimento econômico desigual entre os países, que, segundo Mormul (2013, p. 100), envolvem 
“questionamentos a respeito de como as ações humanas sobre o meio podem ser mitigadas. Para 
que possamos manter a vida e a sustentabilidade do planeta Terra”.
Segundo Sathler (2012), a demografia demorou a considerar a dimensão ambiental na 
análise dos fenômenos populacionais. Isso porque somente na década de 1990 surgiram 
alguns trabalhos que buscavam explicar as dificuldades dessa ciência em estabelecer uma 
linha sólida para debater as relações entre meio ambiente e população.
De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2005), a geografia caracteriza-se por um históri-
co em abordagens da dimensão ambiental, com larga experiência em focar simultaneamente 
as dinâmicas naturais e sociais. Já a demografia, ainda segundo esses autores (2005, p. 29), 
“enfrenta maiores dificuldades, por ter incorporado a dimensão ambiental a seu escopo 
científico bem mais recentemente”.
Em relação ao diálogo entre essas duas ciências, aos geógrafos interessa o próprio es-
paço que, numa perspectiva integrada dos aspectos físicos e humanos, inclui a população. 
Para os demógrafos, o foco parte da importância do ambiente na delimitação das condições 
de vida da população (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2005).
Nesse contexto, tem se destacado a abordagemdas questões ambientais, buscando, con-
forme Sathler (2012), reflexões sobre envelhecimento populacional, estrutura etária e distri-
buição espacial dos habitantes, levando em consideração a relação existente entre homem e 
meio ambiente. Esse debate inclui também a relação entre população e disponibilidade de 
recursos naturais, como a qualidade da água, o consumo, os habitantes em situação de risco 
ambiental e os problemas sociais em diferentes escalas.
2.3 População e produção do espaço
Considera-se que as características de determinado espaço habitado são influenciadas, 
em boa parte, pelos dinamismos populacionais que nele se estabelecem. Como resultado, 
ocorre a produção do espaço, que é marcada pela apropriação desigual dos recursos envol-
vidos nesse processo.
2.3.1 O espaço na geografia
Ao estabelecer relações entre produção do espaço e população, faz-se necessário ter 
como referência o debate sobre o conceito de espaço na geografia. Admite-se que a palavra 
espaço adquire diversos significados, de acordo com o contexto em que é empregada. Na 
geografia, o conceito de espaço tem uma especificidade, sendo concebido, segundo Carlos 
e Rossini (1983, p. 7), como aquele que é “fruto das relações que se estabelecem entre a so-
ciedade e o meio circundante, num determinado momento do desenvolvimento das forças 
produtivas”. Nessa perspectiva, a sociedade ao mesmo tempo em que produz sua existên-
cia, produz o espaço geográfico.
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População32
Na concepção de Andrade (1998, p. 32), “o homem transforma sempre o espaço em 
que vive e, ao transformá-lo, transforma a própria natureza, fazendo com que os desafios 
naturais à sua ação sejam diversos dos desafios da própria natureza não modificada”. Dessa 
forma, a gênese do espaço geográfico é o trabalho, que, conforme Carlos e Rossini (1983, p. 
7), “nada mais é do que a resposta do homem a uma série de necessidade a que ele deve sa-
tisfazer para sobreviver”. Nesse processo, por meio de ações conscientes os seres humanos 
transformam o meio natural em espaço geográfico.
Andrade (1998, p. 33) afirma que “a ação do homem não ocorre de forma uniforme no espa-
ço e no tempo. Ele faz de forma mais intensa em determinados momentos históricos e nas áreas 
onde pode empregar uma tecnologia mais avançada”. O entendimento da dinâmica originária 
desse processo, de acordo Carlos e Rossini (1983), requer a inclusão do papel da população, que 
é seu elemento produtor. A população “não é uma simples abstração, mas é sinônimo de so-
ciedade, de uma sociedade histórica, da qual os elementos participam de maneira diferenciada 
pelo lugar que ocupam dentro do sistema de produção” (1983, p. 9).
Nessa relação entre espaço e população, as autoras destacam que se trata de um espaço 
humanizado, devido ao fato de a sociedade produzi-lo e dele se apropriar de acordo com 
as diferenças de acesso aos meios de existência, e não pelo fato de habitá-lo. Para Carlos e 
Rossini (1983), pode-se separar a população entre a parcela que constrói objetivamente o 
espaço, que é a força do trabalho social, e a parcela que não o produz diretamente.
Sendo a produção do espaço determinada pela formação econômica da sociedade capi-
talista, o acesso dos membros da população aos meios de existência é desigual. Esse fato se 
manifesta no próprio espaço geográfico, por exemplo, nos contrastes no acesso à moradia 
no Brasil, como demonstra a Figura 2.
Figura 2 – O Morro do Papagaio, em Belo Horizonte (MG), revela os contrastes sociais da cidade.
Fonte: fredcardoso/iStockphoto.
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
33
2.3.2 População e espaço geográfico
Conforme mencionado, ao produzir o espaço, a sociedade produz também as desigual-
dades sociais, uma vez que há diferenças no acesso aos recursos existentes. Isso porque, do 
ponto de vista da população, o processo de produção capitalista exige a expropriação dos 
meios de produção da maioria das pessoas. Assim, como destacam Carlos e Rossini (1983, p. 
14), “essa parcela majoritária constitui uma classe que tem como condição única de sobrevi-
vência a venda de sua força de trabalho”.
Nesse sentido, a forma de apropriação do espaço será, segundo Carlos e Rossini (1983, p. 
14), estabelecida “pelo lugar que o indivíduo terá na classe social e, consequentemente, pelo 
lugar que esta ocupa na sociedade”. Conforme Maricato (2002), a produção do espaço pela 
população não somente materializa as desigualdades sociais, como também as reproduz.
Ao se referir à relação entre população e espaço geográfico, Andrade (1998) enfatiza 
que, no atual estágio de desenvolvimento da sociedade, o território vem sendo organizado 
de forma diversificada e com uma especialização de porções do espaço em ramos de ativi-
dades cada vez mais dinâmicos. Essa especialização “provoca a concentração populacional 
nas áreas mais favoráveis e, naturalmente, desenvolve a implantação de uma infraestrutu-
ra dos serviços necessários ao atendimento das necessidades da população” (ANDRADE, 
1998, p. 42). O acesso a esses serviços e essa infraestrutura é diferenciado de acordo com as 
condições sociais e financeiras de seus habitantes. Tais diferenças se manifestam no espaço 
geográfico na forma de contrastes entre pobreza e riqueza: a população, portanto, materia-
liza no espaço as desigualdades sociais.
 Ampliando seus conhecimentos
População, espaço e ambiente: rumo à 
consolidação de uma Demografia ambiental
(MELLO; SATHLER, 2015, p. 359-361)
Atualmente, um novo campo dentro da Demografia e dos estudos de 
população, que Daniel Hogan denominou, no Brasil, de demografia 
ambiental, está dedicando mais atenção às relações entre população e 
ambiente. Paralelamente ao aumento significativo do consumo no pla-
neta, os componentes da dinâmica demográfica se comportaram com bas-
tante dinamismo durante o último século em diversas partes do globo. 
Estas transformações demográficas foram acompanhadas de mudanças 
ambientais gravíssimas e ainda existe muito para entender sobre as rela-
ções entre as variáveis populacionais e o ambiente. A partir dos anos 
1980, a difusão global de casos de contaminação ambiental e suas conse-
quências para a saúde e a vida humana motivaram o desenvolvimento de 
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População34
estudos sobre população e ambiente (HOGAN et al., 2010). Já na década 
de 1990, os estudos passaram a incorporar, sobretudo, as preocupações 
ambientais com o crescente aumento da emissão de gases de efeito estufa 
e a poluição do ar (BONGAARTS, 1992; BIRDSALL, 1992; O’NEILL et 
al., 2001), as mudanças na cobertura e no uso do solo e o desmatamento 
(BILSBORROW; DELARGY, 1991; BILSBORROW; STUPP, 1997) e as rela-
ções entre desastres ambientais e a migração (ANDERTON et al. 1994; 
HUNTER, 1998). No entanto, a Demografia demorou a incorporar as 
questões ambientais e apenas recentemente este campo de pesquisa tem 
se tornado mais abrangente. Na década de 1990, alguns estudos oferece-
ram evidências que buscaram explicar as dificuldades da Demografia no 
estabelecimento de uma linha de pesquisa sólida para tratar as questões 
ambientais (DAVIS, 1991; KEYFITZ, 1992; PEBLEY, 1998).
Davis (1991) argumenta que muitos pesquisadores investiram elevado 
tempo em pesquisas voltadas para a criação de mecanismos para frear 
o crescimento populacional, visto como fator que exerce grande pressão 
sobre os recursos naturais. Paradoxalmente, também existe o argumento 
de que as causas centrais dos problemas ambientais não são demográfi-
cas, ressaltando a importância das instituições sociais, da eficiência dos 
mercados, do nível tecnológico e da distribuição de renda. Por outro lado, 
Keyfitz (1992) ressalta que o excesso de peso dado a estes temas pode levar 
muitos cientistas sociais à interpretação errônea de que as questões popu-
lacionais têm pouco ou nenhum impacto nas transformações ambientais. 
Outroelemento que distancia a Demografia dos estudos ambientais é a 
dificuldade de diálogo dos estudiosos da população com outras áreas, a 
exemplo da Biologia, Bioquímica, Agronomia e Climatologia. Como res-
salta Pebley (1998), na década de 1990, a carência de dados longitudinais 
locais para o estudo dos impactos ambientais também agravou esta situa-
ção. As abordagens mais recentes sobre população e ambiente têm incor-
porado novos aspectos, buscando refletir sobre as relações entre as trans-
formações demográficas (envelhecimento populacional, estrutura etária 
e distribuição espacial) e questões como qualidade e disponibilidade de 
água, geração de lixo, biodiversidade, paisagem, desastres naturais, entre 
outras (RCEP, 2011). [...]
A comunidade científica não pode cessar os esforços em busca do forta-
lecimento dos estudos sobre população, espaço e ambiente, já que ainda 
existe muito espaço a conquistar. Diante disso, cabe o seguinte questio-
namento: quais são os caminhos ainda não percorridos para a consoli-
dação da demografia ambiental? Existem várias possíveis respostas para 
esta pergunta, embora a maior parte delas aponte para a necessidade de 
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
35
aprofundamento e consolidação de iniciativas já percebidas na comu-
nidade científica, mesmo que de maneira tímida, por demógrafos e não 
demógrafos.
Para que a demografia ambiental se torne mais influente e robusta, 
deve-se, em primeiro lugar, garantir o seu crescimento dentro da pró-
pria Demografia, com a ampliação de abordagens interdisciplinares que 
envolvam, cada vez mais, a participação de profissionais também de 
outras áreas do conhecimento. Além disso, espera-se que a demografia 
ambiental se valorizará quando mais e mais pesquisadores não demógra-
fos identificarem na Demografia ferramentas importantes para a comple-
mentação de suas abordagens, devendo, portanto, ser estimulada dentro e 
fora do campo tradicional da Demografia. Este não é um caminho fácil de 
ser percorrido, embora existam algumas estratégias que mereçam ser dis-
cutidas. Cabe aos demógrafos e às associações (Iussp, Alap, Abep, PAA, 
entre outras) trabalhar em prol de uma maior incorporação de análises 
demográficas nos grandes relatórios sobre mudanças ambientais, sobre-
tudo aqueles realizados pelo IPCC, ONU e Banco Mundial. Isso traria 
maiores possibilidades de crescimento da demografia ambiental, tendo 
em vista que estes estudos, de certa forma, servem de referência para toda 
a comunidade científica internacional, balizando abordagens e indicando 
campos de pesquisa promissores. Outra possibilidade é a ampliação do 
levantamento de dados e informações com base em recortes geográficos 
mais favoráveis aos estudos sobre população e ambiente, a exemplo de 
bacias hidrográficas, biomas, domínio morfoclimáticos e áreas de vulne-
rabilidade socioambiental. [...]
Se os problemas ambientais contemporâneos passam por um entendi-
mento multiescalar, a demografia ambiental também deverá criar novas 
possibilidades analíticas em sintonia com a natureza destes problemas. 
Estas iniciativas devem ser multiplicadas em prol de uma demografia 
ambiental mais influente e participativa, que ofereça alternativas mais 
acuradas para a mitigação e adaptação aos principais problemas ambien-
tais nas suas diversas escalas. Segundo Hogan et al. (2010, p. 96), “já está 
na hora de assumirmos uma demografia ambiental, que contribua de 
forma sistemática para a compreensão e construção de um mundo susten-
tável”. Segundo os autores, “esse é um esforço coletivo para o futuro que 
agrega à reflexão ambiental um olhar propriamente demográfico”. Nesse 
sentido, as repercussões negativas do consumo estarão presentes nesse 
esforço constante em busca da consolidação de uma demografia ambien-
tal. [...]
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População36
 Atividades
1. Considerando a abordagem dos estudos populacionais numa perspectiva clássica, 
na qual predominam a apresentação descritiva de informações sobre a população de 
determinado espaço geográfico, e os estudos numa abordagem crítica, busque três 
reportagens de jornais ou revistas que abordem o tema envelhecimento da população 
brasileira. De posse das reportagens, verifique se o enfoque dos textos se alinha a uma 
perspectiva clássica ou crítica. Depois, elabore um texto de oito a dez linhas sobre as 
conclusões a que chegou.
2. Analise a afirmação a seguir:
	 Segundo	Mormul	(2013),	a	demografia	pode	trazer	contribuições	significativas	aos	estudos	
geográficos	sobre	população,	permitindo	que	se	vá	além	dos	dados	quantitativos	e	a	uma	me-
lhor compreensão sobre as dinâmicas populacionais.
 Aponte três contribuições da demografia para os estudos geográficos sobre população.
3. Considere a citação a seguir:
A pobreza resulta das desigualdades sociais, agravando mais a situação desta, 
que por consequência ocasiona a exclusão social, e que para uma equidade desse 
sistema são necessárias as políticas públicas sociais. Já se foi o tempo em que a 
pobreza era justificada como uma incapacidade da classe inferior em sair desse 
estado. O mito da “cultura da pobreza”, segundo a qual os pobres não melhoram 
suas condições de vida porque não querem, desfaz-se, sempre na dura frieza das 
evidências, empíricas e históricas. (ABRANCHES, 1998, p. 16)
 Tendo como referência o que estudou sobre população e produção do espaço geo-
gráfico, elabore uma síntese explicando as causas da pobreza na produção do espaço 
geográfico.
 Referências
ABRANCHES, S. H. Política social e combate à pobreza: a teoria da prática, In: ABRANCHES, S. H.; 
SANTOS, W. G. dos; COIMBRA, M. A. Política social e combate à pobreza. 4. ed. Rio de Janeiro: J. 
Zahar, 1998.
ANDRADE, M. C. Geografia econômica. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
CARLOS, A. F. A.; ROSSINI, R. E. População e o processo de estruturação do espaço geográfico. Revista 
do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, São Paulo v. 2, 1983. Disponível em: 
<http://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/47074>. Acesso em: 13 jan. 2017.
Concepções sobre população na geografia clássica
Geografia da População
2
37
CARVALHO, J. A. M.; SAWYER, D. O.; RODRIGUES, R. N. Introdução a alguns conceitos básicos em 
medidas em demografia. 2. ed. São Paulo, ABEP, 1998. Disponível em: <http://www.ess.inpe.br/cou-
rses/lib/exe/fetch.php?media=cst-310-popea:refs:zealberto_et_al_introducaodemografia_1998.pdf>. 
Acesso em: 15 jan. 2017.
MARANDOLA JR.; E.; HOGAN, D. J. Vulnerabilidade e riscos: entre Geografia e Demografia. Revista 
Brasileira de Estudos sobre População, São Paulo, n. 1, p. 29-53, jan./jun. 2005. Disponível em: <http://
www.abep.nepo.unicamp.br/docs/rev_inf/vol22_n1_2005/vol22_n1_2005_4artigo_p29a54.pdf>. 
Acesso em: 16 jan. 2017.
MELLO, L. F. de; SATHLER, D. A demografia ambiental e a emergência dos estudos sobre população 
e consumo. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, v. 32, n. 2, p. 357-380, maio/
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Acesso em: 13 jan. 2017.
MORMUL, N. M. As abordagens sobre população na Geografia brasileira (1934-2010): permanên-
cias, transformações e rupturas. 2013. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual de 
Maringá, Maringá, 2013. Disponível em: <http://sites.uem.br/pge/documentos-para-publicacao/teses/
teses-2013-pdfs/Najla%20MehhannaMormul.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2017.
ROBAINA, I. M. Entre mobilidade e permanências: uma análise das espacialidades cotidianas da 
população em situação de rua na área central da cidade do Rio de Janeiro. 2015. Tese (Doutorado em 
Geografia) –Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: < http://obj-
dig.ufrj.br/16/teses/830370.pdf f>. Acesso em: 15 jan. 2017.
RODRIGUES, A. de J. Introdução à ciência geográfica. São Paulo: Avercamp, 2008.
SATHLER, D. População, consumo e ambiente:contribuições da Demografia para a questão am-
biental. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 18, 2012, Águas de Lindóia. Anais... 
Águas de Lindóia: ABEP, 2012. Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/xviii/anais/files/
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SILVA, Lenyra Rique da. Do senso comum à geografia científica. São Paulo: Contexto, 2004.
 Resolução
1. A abordagem sobre população apenas descreve os dados sobre o tema “envelheci-
mento dos habitantes” (abordagem clássica) ou se apresenta, além da descrição, as 
explicações sobre os fenômenos populacionais retratados (abordagem crítica). Nessa 
perspectiva crítica, deve verificar se aborda, por exemplo, fatores relacionados às 
desigualdades de acesso às condições médico-sanitárias, a bens de consumo e a as-
pectos que garantem a qualidade de vida.
2. Aponte, como contribuições da demografia para os trabalhos de cunho geográfico 
sobre a população, os indicadores sociais e econômicos dos habitantes em questão, 
especificando as condições em que se encontram, bem como os fatores que influen-
ciam tais indicadores. A partir desses indicadores, o arcabouço teórico da geografia 
pode contribuir para análises críticas dos fenômenos apresentados, como, exemplo, 
sobre as questões referentes à população e meio ambiente.
Concepções sobre população na geografia clássica2
Geografia da População38
3. Faça referência à forma como ocorre a produção do espaço geográfico associando 
esse processo ao capitalismo. Nesse sentido, essa produção ocorre de forma desigual 
devido à divisão, de forma geral, em duas classes sociais: os proprietários dos meios 
de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho. Como o capitalismo exige 
a expropriação, da maioria da população, dos meios de produção, resta a essa maio-
ria vender sua força de trabalho. Ocorre, nesse processo, que nem todos conseguem 
se inserir produtivamente na sociedade, logo não conseguem garantir as condições 
básicas de sobrevivência. Desse processo resultam as grandes desigualdades sociais 
que se manifestam nas paisagens, como contraste entre pobreza e riqueza.
Geografia da População 39
3
As teorias 
sobre população
Introdução
A relação entre as características da população, o espaço geográfico no qual ela se 
insere e os fatores que nela interferem já era motivo de debate antes mesmo das publi-
cações das obras de Thomas Malthus no fim do século XIX. 
Esses debates começaram de forma otimista pelas promessas de progresso e desen-
volvimento que atingiram a população do início da era moderna (ALVES, 2014). No 
entanto, diferentes interesses marcaram o cenário político e econômico do desenvolvi-
mento do capitalismo. Assim, no mundo acadêmico, diferentes linhas de pensamento 
se voltaram para os estudos sobre as dinâmicas populacionais, com previsões, formu-
lações, inquietações e contestações sobre o assunto.
As teorias sobre população3
Geografia da População40
3.1 As ideias de Malthus
3.1.1 Breve biografia
O economista inglês Thomas Robert Malthus nasceu no dia 14 de fevereiro de 1766, 
nas proximidades de Guildford, no condado de Surrey, e morreu no dia 23 de dezembro de 
1834, em Bath (Inglaterra). De família próspera, seu pai, um culto proprietário de terras, era 
amigo de importantes personagens da época, como o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778), o filósofo escocês David Hume (1711-1776) e o filósofo político Willian Godwin 
(1756-1836). Malthus terminou seus estudos em Cambridge e formou-se pastor anglicano 
em 1797. Passados dois anos, viajou por longa data aperfeiçoando seus estudos pela Europa. 
Aos 39 anos de idade, em 1804, Malthus casou-se com sua prima Harriet Eckersall e com ela 
teve três filhos. Em 1805, foi nomeado como o primeiro professor de Economia Política no 
East India College (Colégio Oriental da Índia) (GALVÊAS, 1996). 
Malthus ficou famoso como o demógrafo e economista que marcou o pensamento eco-
nômico a partir dos lançamentos de dois livros essencialmente polêmicos, conhecidos como 
Primeiro Ensaio – “O princípio da população na medida em que afeta o melhoramento do 
futuro da sociedade” –, em 1798, e Segundo Ensaio – “O princípio da população ou uma visão 
de seus efeitos passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nos-
sas expectativas quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona”, em 1803 
(GALVÊAS, 1996). Esses ensaios, segundo Deters e Gullo (2013), apresentam perspectivas 
pessimistas sobre o crescimento da população. 
Os ensaios estão permeados de conceitos cristãos, como o bem e o mal, castidade, sal-
vação e condenação (GALVÊAS, 1996). Além deles, Malthus escreveu as obras Princípios de 
Economia Política, em 1820, e Definições	de	Economia	Política, em 1827.
Ainda de acordo com Galvêas (1996), as obras de Malthus forneceram a chave para o 
evolucionismo de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace e influenciaram vários campos 
do pensamento. Na economia clássica, sobretudo mediante os trabalhos de David Ricardo 
(século XIX), os princípios da população foram incorporados às teorias econômicas, defen-
dendo que a oferta e mão de obra eram inexauríveis e que poderiam ser limitadas apenas 
pelos fundos de salários.
As ideias de Malthus sobre população, segundo Deters e Gullo (2013), tornaram-se um 
dos pilares mais importantes da economia clássica. Fundamentando-se em Malthus, vários 
economistas posteriores esclareceram uma das regras fundamentais para a melhoria da con-
dição humana: o crescimento da produção em ritmo superior ao da população.
3.1.2 A polêmica de suas obras
Dois postulados podem ser elaborados adequadamente sobre a relação entre população 
e alimentos, segundo Malthus (1996, p. 246): “Primeiro: Que o alimento é necessário para a 
As teorias sobre população
Geografia da População
3
41
existência do homem. Segundo: Que a paixão entre os sexos é necessária e que permanecerá 
aproximadamente em seu atual estágio.” A partir desses dois postulados, Malthus afirma que:
[...] o poder de crescimento da população é indefinidamente maior do que o 
poder que tem a terra de produzir meios de subsistência para o homem. A po-
pulação, quando não controlada, cresce numa progressão geométrica. Os meios 
de subsistência crescem apenas numa progressão aritmética. Um pequeno co-
nhecimento de números demonstrará a enormidade do primeiro poder em com-
paração com o segundo. Por aquela lei da nossa natureza que torna o alimento 
necessário para a vida humana, os efeitos desses dois poderes desiguais devem 
ser mantidos iguais. Isso implica um obstáculo que atua de modo firme e cons-
tante sobre a população, a partir da dificuldade da subsistência. Esta dificuldade 
deve diminuir em algum lugar e deve, necessariamente, ser duramente sentida 
por uma grande parcela da humanidade. (MALTHUS, 1996, p. 246)
Nessa perspectiva, a resposta mais evidente e imediata, conforme Deters e Gullo (2013), 
foi a de que a população de qualquer território era limitada pela quantidade de alimentos, 
sendo estes a condição necessária para a existência dos seres humanos. Apesar de Malthus 
considerar que com maior quantidade de trabalho e melhores métodos de produção os seres 
humanos poderiam aumentar o volume de alimentos produzidos, chegaria um momento 
que, em determinados territórios, essa produção seria cada vez menor. 
Para Malthus (1996 p. 251), “tomando a população do mundo como qualquer número, 
1 bilhão, por exemplo, a espécie humana cresceria na progressão de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 
256, 512 etc. e os meios de subsistência na progressão de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 etc.”. Nessas 
progressões, em pouco mais de dois séculos a população estaria, considerando os meios de 
subsistência, em uma proporção de 512 para 10, e, em três séculos, de 4.096 para 13. Desse 
modo, para Malthus, em seu Ensaio sobre a população, de 1798 (MALTHUS, 1996), ainda que 
o poder da população fosse de ordem superior, o aumento do número de habitantes do 
planetasó poderia ser mantido proporcionalmente à ampliação da produção de alimentos. 
Considerando que a produção de alimentos pudesse aumentar em progressão aritmé-
tica, Malthus quer dizer que cada geração só pode aumentar essa produção em quantida-
de aproximadamente equivalente ao aumento conseguido pela geração anterior (DETERS; 
GULLO, 2013). Nesse contexto, Malthus aponta dois tipos de obstáculos ao crescimento da 
população: 
[...] [a] previsão das dificuldades em atender ao sustento de uma família atua 
como um obstáculo preventivo; e a miséria efetiva de algumas das classes mais 
pobres, em razão da qual estas não são capazes de dar o alimento e os cuida-
dos adequados para seus filhos, atua como um obstáculo positivo, impedindo o 
crescimento natural da população. (MALTHUS, 1996, p. 263-264, grifos nossos)
Malthus admitia que a fome e a miséria que atingiria as classes mais pobres acabaria 
sendo um fator de controle de natalidade. Porém, esse seria o destino da maioria das pes-
soas, pois os futuros insucessos nas condições de sobrevivência atingiriam uma parte signi-
ficativa da população. Na visão de Malthus (1996, p. 247), haveria uma lei natural que “se 
As teorias sobre população3
Geografia da População42
mostra decisiva contra a possível existência de uma sociedade em que todos os membros 
viveriam em tranquilidade, prosperidade e num relativo ócio, e não sentiriam nenhuma 
angústia para providenciar os meios de subsistência para si e para os filhos”. Desse modo, 
considera inevitável e natural a diferença entre classes sociais. Para ele, “a pobreza depen-
dente deve continuar sendo uma ignomínia [desonra], por mais duro que isso possa parecer 
em termos individuais” (p. 271).
A esses dois grandes obstáculos ao crescimento da população, ou seja, ao preventivo e 
ao positivo, Malthus (1996, p. 275) afirma que “podem ser acrescidos os costumes corruptos 
em relação às mulheres, as grandes cidades, as manufaturas insalubres, a intemperança, a 
peste e a guerra”. Assim, juntamente com a fome, as epidemias, as catástrofes naturais e as 
guerras possibilitariam o crescimento da taxa de mortalidade. 
Como forma de reduzir as altas taxas de natalidade, o economista pregava suas ideias 
morais defendendo, sobretudo, o casamento. Segundo ele, “o amor à variedade é uma in-
clinação viciosa, corrupta e antinatural e não predomina, em grau maior, num estágio puro 
e perfeito da sociedade.” (MALTHUS, 1996, p. 304). Evidencia-se a defesa do controle de 
natalidade pelo casamento na seguinte afirmação:
O caráter irreversível do casamento, como ele se constitui hoje, sem dúvida im-
pede muitos de chegar àquele estágio. Relações sexuais livres, ao contrário, se-
riam um poderoso incentivo a uniões prematuras, e como estamos admitindo 
não existir nenhuma angústia acerca do sustento futuro dos filhos, não conce-
bo que houvesse uma única mulher entre cem, de 23 anos, sem uma família”. 
(MALTHUS, 1996, p. 304)
Assim, se as dificuldades de prover famílias fossem totalmente eliminadas, poucos(as) 
jovens permaneceriam solteiros(as). Então, a manutenção das dificuldades de sustentar uma 
família constituía-se numa forma de reduzir os casamentos e as taxas de fecundidade por 
meio de práticas anticoncepcionais que partissem dos próprios casais. Desse modo, se os 
homens se casam, de acordo com Malthus (1996, p. 271), “com pouca ou nenhuma possi-
bilidade de manter com independência suas famílias, eles não somente são injustamente 
induzidos a trazer infelicidade e dependência a si próprios e a seus filhos, mas são levados 
sem o saber a prejudicar a todos da mesma classe que eles”. 
Malthus (1996) se posicionou contra a chamada Leis dos Pobres, uma lei aprovada pelo 
Parlamento inglês que consistia em enviar um pobre a uma “casa de trabalho”, onde desen-
volveria atividades e receberia o indispensável para não morrer de fome. Também apregoa-
va essa lei que nenhuma pessoa pobre poderia ser enviada a um posto de trabalho fora da 
localidade onde vivia.
Em linhas gerais, os propósitos da teoria de Malthus sobre população visavam subs-
tituir os obstáculos positivos pelos preventivos ligados à redução das taxas de natalidade 
pelo viés moral. Isso ocorreria sobretudo por meio da abstinência sexual, pois os casamentos 
deveriam ser mais tardios, o que seria garantido pelo tempo que os jovens levariam para 
alcançar as condições econômicas para o sustento de uma família.
As teorias sobre população
Geografia da População
3
43
Dessa forma, estaria garantida a riqueza da classe dominante da Inglaterra. Afinal, 
Malthus, como pastor da Igreja Anglicana, “representava os interesses dos proprietários de 
terra contra os interesses dos trabalhadores e da burguesia nascente” (ALVES, 2014, p. 220). 
Converge para essa afirmação a citação de Abramovay (2010, p. 38), segundo o qual Malthus 
“defendia os interesses dos latifundiários britânicos de sua época e elaborou uma lei cientí-
fica cujo resultado apocalíptico mostrou-se felizmente errado”. Isso porque em nossos dias, 
ainda conforme Abramovay (2010), a fome é provocada muito mais pela falta de recursos 
financeiros para adquirir alimento do que pela escassez absoluta na oferta. 
No entanto, como afirma Abramovay (2010), 
Malthus errou menos do que se supunha e, sobretudo, acertou em cheio num 
problema central que a ciência econômica posterior a ele insiste em ignorar: a 
elevação da produção material e da oferta de serviços encontra um claro limite 
no esgotamento da capacidade de os ecossistemas continuarem prestando os ser-
viços de que depende a sobrevivência das sociedades humanas. (ABRAMOVAY, 
2010, p. 38)
Embora controversas, as ideias de Malthus sobre população, conforme Galvêas (1996), 
são da mesma natureza daquelas que hoje impulsionam debates sobre as relações entre po-
pulação, política, ambiente e bem-estar.
3.2 O neomalthusianismo
No período Pós-Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o crescimento popula-
cional acelerado nos países subdesenvolvidos levou os estudiosos a retomar as ideias de 
Malthus. Esses pesquisadores, conforme Deters e Gullo (2013), passaram a ser chamados de 
neomalthusianos.
3.2.1 Crescimento populacional como gerador de pobreza
Os neomalthusianos defendem que a pobreza e o subdesenvolvimento são gerados 
pelo elevado crescimento populacional. Nessa perspectiva, segundo Alves (2014, p. 221), 
“os países de baixa renda ainda estavam atrasados no processo de desenvolvimento e na 
mudança da estrutura social, tendendo a prevalecer as ‘escoras culturais pró-natalistas’, que 
sustentam um maior tamanho de família”. Assim, os países pobres estariam no círculo vicio-
so chamado armadilha	da	pobreza e suas altas taxas de crescimento populacional explicariam 
o nível de atraso econômico. 
Esse cenário, de acordo com Deters e Gullo (2013), justificaria a adoção de drásticas 
políticas de controle de natalidade, sobretudo por meio do planejamento familiar. Os adep-
tos do neomalthusianismo, segundo Alves (2014, p. 221), ao “contrário de Malthus, defen-
diam a estabilidade populacional não pelo aumento das taxas de mortalidade, mas sim pela 
As teorias sobre população3
Geografia da População44
redução das taxas de fecundidade”. Se para Malthus o controle de natalidade se dava por 
meio das “Leis Naturais”, para os neomalthusianos esse controle exige políticas de conscien-
tização sobre a necessidade de redução da população. Pautados nessas bases teóricas, vários 
países adotaram políticas antinatalistas (DETERS; GULLO, 2013).
Para os neomalthusianos, a redução do ritmo de crescimento populacional representa 
uma decolagem do desenvolvimento, pois, de acordo com Alves (2014, p. 221), “não poderia 
haver incremento da renda per capita sem a redução do ritmo de crescimento do denomina-
dor da equação e sem a diminuição do ônus da razão de dependência dos jovens”.
Na Conferência Internacional sobre População, realizada na cidade de Bucareste, em 
agosto de 1974, durante o período da Guerra Fria, os paísesricos, liderados pelos Estados 
Unidos, defendiam, segundo Alves (2014, p. 222), a “concepção neomalthusiana de reduzir 
a fecundidade para promover o desenvolvimento e a erradicação da pobreza”. A China e 
a Índia defendiam o fortalecimento das políticas de apoio ao desenvolvimento com o bor-
dão: “o desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. No entanto, houve uma surpreendente 
reconfiguração de forças políticas, e a China, em 1979, passou a adotar a política do filho 
único1, que, conforme Alves (2014), é uma política neomalthusiana. Essa política trouxe con-
sequências sociais e demográficas que vêm sendo observadas com pessimismo. 
A politização excessiva da problemática do crescimento demográfico, segundo Carvalho 
e Brito (2005), levou os neomalthusianos a supervalorizar a eficiência das políticas de con-
trole de natalidade e os efeitos positivos da desaceleração do aumento da população. Ainda 
conforme os autores, essas abordagens neomalthusianas, assim como as ideias do próprio 
Malthus, são marcadas por questões ideológicas, que já foram superadas pela história. Isso 
porque as abordagens críticas e os direitos sociais possibilitam pensar estratégias de distri-
buição de renda e de desenvolvimento dos países pobres.
Ao se referir às teorias neomalthusianas, Singer (1976) destaca que elas correspondem 
às ideologias dominantes no mundo capitalista e aos interesses dos países ricos. Segundo 
Deters e Gullo (2013), a própria denominação neomalthusiano se deve, principalmente, ao 
apoio recebido pelo Clube de Roma, um grupo de personalidades ilustres advindos de co-
munidades científicas, acadêmicas, políticas, empresariais e financeiras que debatem sobre 
temas políticos, econômicos e de meio ambiente. Essas comunidades estão ligadas a interes-
ses, sobretudo, capitalistas.
3.2.2 Crescimento populacional e recursos naturais
Além de os neomalthusianos defenderem que a pobreza e o subdesenvolvimento são 
gerados pelo elevado crescimento populacional, também sustentam, segundo Deters e Gullo 
(2013), a ideia de que o crescimento acelerado da população pressiona a demanda de recur-
sos naturais, o que geraria uma escassez sem precedentes.
1 Em 2015, depois de mais de 30 anos da política do filho único, o Partido Comunista anuncia o fim 
dessa política, permitindo aos casais ter até dois filhos.
As teorias sobre população
Geografia da População
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45
Essa escassez, ainda conforme Deters e Gullo (2013), estaria sendo provocada pelas 
mudanças climáticas e pela degradação ambiental, o que, por consequência, representaria 
riscos futuros para o ambiente. Nessa perspectiva, os neomalthusianos defendem que o am-
biente é produto das dimensões do aumento da população, determinando uma relação di-
reta com a demanda de recursos naturais, evidenciando-se, assim, a necessidade de controle 
desse crescimento populacional. 
Conforme Deters e Gullo (2013), é praticamente impossível negar que o crescimento 
populacional seja um problema; a questão central está na escolha do modelo de desenvolvi-
mento e dos tipos de tecnologias adotadas para atender às demandas por recursos naturais. 
Entretanto, o debate envolvendo o tema população e ambiente, de acordo com Lima (2013, 
p. 576), “abriga diversos entendimentos e éticas, [e] o seu amplo espectro de ação ajuda a 
proposição de múltiplos enfoques, muitas vezes harmônicos e complementares, conquanto 
existam abordagens conservadoras e dissidentes”. Ainda conforme o autor, o principal alvo 
das críticas às abordagens neomalthusianas seria a simplificação da questão ambiental no 
contexto do desenvolvimento capitalista. 
Nessa perspectiva, Deters e Gullo (2013), apontam que a solução dada pelos neomal-
thusianos para o dilema ambiental se apresenta de forma simples e aparentemente eficaz, 
tendo como base a ideia de que, reduzindo-se o crescimento da população, automaticamen-
te os impactos ambientais e sociais reduziriam.
Damiani (2004) afirma que Malthus não só ainda vive por meio dessas abordagens 
neomalthusianas, em pleno século XXI, mas que recuperou seus ensinamentos, os quais se 
tornaram comuns, orientando a elaboração da demografia e conferindo importância socioe-
conômica aos problemas populacionais. Na concepção da autora, a demografia formal acaba 
por superestimar as técnicas quantitativas em suas abordagens. 
3.3 As teorias críticas sobre população
Considerando as polêmicas presentes nas teorias populacionais baseadas nas ideias de 
Malthus, outras abordagens procuram analisar aspectos relevantes para a análise das rela-
ções entre capitalismo e população. Nesse sentido, destaca-se o pensamento de Karl Marx 
sobre as relações entre capital, trabalho, população e acesso aos meios de subsistência.
3.3.1 As críticas de Marx a Malthus
Karl Marx nasceu em 1818, em Trier, no sul da Alemanha, e morreu no ano de 1849, 
em Londres, onde estava exilado. Marx pertencia a uma família de classe média judaica. 
Formou-se em Direito em Berlim, num ambiente de elevada vivacidade cultural e política. 
Casou-se em 1843, com Jenny Von Westphalen, cujo ambiente confortável da casa dos pais 
foi substituído pelas vicissitudes na companhia de um líder revolucionário. 
As teorias sobre população3
Geografia da População46
Marx se posicionou contra os postulados de Malthus (1996) de que a pobreza resultaria 
do elevado crescimento da população. Para o filósofo alemão, em seu O processo de produção 
do capital (1867) (MARX, 1996a), a pobreza é decorrente da exploração do trabalhador e da 
divisão da sociedade em classes: a dos proprietários dos meios de produção (a terra, as má-
quinas, o capital) e a dos não proprietários, que, por não possuírem esses meios, vendem 
sua força de trabalho. Nessa perspectiva, ao se produzir mercadorias e buscar o lucro máxi-
mo, ocorre a exploração da classe trabalhadora e o aumento da pobreza.
Seus escritos tiveram como base de análise, segundo Gorender (1996, p. 42), a “Revolução 
Industrial recém-concluída na Inglaterra e em curso nos demais países da Europa ociden-
tal, quando, com efeito, os salários reais foram rebaixados”. Marx analisa os impactos da 
mecanização do trabalho, a exploração e as péssimas condições de trabalho às quais os tra-
balhadores, incluindo muitas crianças, submetiam-se. Marx faz a seguinte afirmação sobre 
essa situação:
Onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produção, produz 
miséria crônica nas camadas de trabalhadores que concorrem com ela. Onde a 
transição é rápida, seus efeitos são maciços e agudos. A história mundial não 
oferece nenhum espetáculo mais horrendo do que a progressiva extinção dos 
tecelões manuais de algodão ingleses, arrastando-se por décadas e consumando-
-se finalmente em 1838. Muitos deles morreram de fome, muitos vegetaram com 
suas famílias a 2 1/2 pence por dia. (MARX, 1996b, p. 62)
Nessa perspectiva, a pobreza é consequência da busca incessante pela acumulação capi-
talista a partir da exploração intensa do trabalhador ou, ainda, da expropriação de sua força 
laboral, com a mecanização da produção. Contrapondo-se às ideias de Malthus, segundo o 
qual a pobreza seria um obstáculo ao crescimento econômico, Marx busca, nas contradições 
entre capital e trabalho, as explicações para os motivos da pobreza e das desigualdades no 
acesso aos meios de subsistência.
3.3.2 As ideias de Marx sobre população
Marx (1996b) destaca a necessidade de se analisar os fenômenos em sua totalidade his-
tórica e concreta. Assim, para a análise da dinâmica populacional, é preciso considerar as 
relações sociais e produtivas na qual se insere. 
Relacionando o exposto ao crescimento populacional, segundo Alves (2014, p. 220), 
Marx considera que “o excesso de população não seria nada mais do que uma estratégia 
criada (pela mudança da composição orgânica do capital) para produzir uma ‘superpopu-
lação relativa’ ou um ‘exército industrial de reserva’”. Ainda de acordo com o autor, esse 
exército de mão de obra consiste em manter um “estoque” de trabalhadores destituídosde 
seus meios de produção à disposição dos interesses capitalistas, o que se converte em dimi-
nuição de salários e no consequente aumento da pobreza.
As teorias sobre população
Geografia da População
3
47
Para Marx (1996b, p. 262), há “uma lei populacional peculiar ao modo de produção 
capitalista”. Tal lei se impõe pela acumulação do capital produzido, em volume crescente, 
pela população trabalhadora, a favor dos proprietários dos meios de produção. Assim, o 
acúmulo de capital permite novos investimentos e novas demandas de trabalho podem sur-
gir. Desse modo, como afirma Marx, 
Uma lei populacional abstrata só existe para planta e animal, à medida que o ser 
humano não interfere historicamente. Mas, se uma população trabalhadora ex-
cedente é produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza 
com base no capitalismo, essa superpopulação torna-se, por sua vez, a alavanca 
da acumulação capitalista, até uma condição de existência do modo de produção 
capitalista. (MARX, 1996b, p. 262)
O aumento populacional, além de prover o exército de mão de obra, se constitui na con-
dição de existência do capitalismo, pelo consumo das mercadorias produzidas, e também 
passíveis de serem consumidas, pela classe trabalhadora. Segundo Marx (1996b, p. 246), “as 
circunstâncias mais ou menos favoráveis em que os assalariados se mantêm e se multipli-
cam em nada modificam, no entanto, o caráter básico da produção capitalista”. Esse caráter 
é o consumo de mercadorias produzidas e que precisam, para garantir a acumulação de 
capital, serem vendidas. Isso evidencia, conforme Marx (1996b, p. 246), que a “acumulação 
do capital é, portanto, multiplicação do proletariado”.
Nessa perspectiva, à produção capitalista, em específico, segundo Damiani (2004, p. 17), 
“não basta a quantidade de força de trabalho disponível, fornecida pelo incremento natural 
da população. Para poder se desenvolver livremente, a produção capitalista ultrapassa esses 
limites”. Evidencia-se, assim, a importância da superpopulação, ou seja, do exército de mão 
de obra, que tem a seguinte utilidade para a produção capitalista: 
O trabalhador desocupado, ou semi ocupado, isto é, ocupado em atividades 
intermitentes, irregulares, de baixíssimos salários, transforma-se numa pressão 
viva para rebaixar ou manter baixos os salários daqueles efetivamente ocupados; 
já que, estes últimos, podem ser substituídos pelo primeiro. (DAMIANI, 2004, 
p. 18)
Nesse contexto, o trabalhador, diante da concorrência, é pressionado a se submeter a 
formas de exploração do seu trabalho intensamente mais lesivas e sob remuneração cada vez 
mais irrisória e a jornadas de trabalhos mais extensas. Com base em Marx (1996b), Damiani 
(2004, p. 19) afirma que “a acumulação de riqueza, nos termos em que se dá, é ao mesmo 
tempo acumulação da miséria”. 
Considerando o pensamento de Marx, não se pode desprezar a problemática do cresci-
mento da população e as dinâmicas dele decorrentes. Entretanto, é preciso evitar os limites 
da compreensão das dinâmicas populacionais com base em teorias e leis abstratas. Nessa 
perspectiva, faz-se necessário valorizar os condicionantes históricos e sociais e os interesses 
econômicos que interferem no acesso da população aos meios de subsistência.
As teorias sobre população3
Geografia da População48
Contexto: as políticas populacionais
(PEDRO, 2003, p. 241-243) 
[...]
No Brasil – assim como nos países do terceiro mundo –, a divulgação dos 
métodos contraceptivos modernos, entre estes o das pílulas anticoncep-
cionais, fez parte de políticas internacionais voltadas para a redução da 
população. Isto foi muito diferente do que ocorreu com mulheres de paí-
ses europeus, cujas políticas natalistas tinham adquirido muita força após 
as guerras mundiais. Assim, enquanto em lugares como a França a pílula 
somente foi liberada para consumo em 1967, no Brasil a pílula anticon-
cepcional e o DIU foram comercializados sem entraves desde o início da 
década de 60. 
As notícias sobre o novo contraceptivo – considerado mais eficaz que os 
anteriores – vieram acompanhadas, no Brasil, de dados alarmantes sobre 
o perigo de superpopulação no mundo. Assim, em abril de 1960, a revista 
Seleções, num artigo intitulado “Gente Demais! Que Fazer?”, informava 
que dali a 40 anos, ou seja, no ano 2000, o mundo teria 8 bilhões de pes-
soas e, dessas, 70% seriam afro-asiáticas. A razão disso, informavam, era 
a redução da mortalidade infantil, bem como o aumento da longevidade. 
No mesmo artigo eram anunciadas as experiências dos doutores Gregory 
Pincus e John Rock, os quais desde 1956 estavam experimentando os con-
traceptivos hormonais em mulheres do Haiti e de Porto Rico, chamados 
no artigo da revista de “campos de prova”. Dizia também que o medi-
camento era muito recente para se poder assegurar qualquer promessa 
de eficácia; que ainda era muito caro e que se registraram, nas mulheres 
que o experimentaram, queixas de “efeitos secundários desagradáveis 
como náusea, dor de cabeça e tonturas”. Entretanto – afirmava o autor 
–, diante do perigo do crescimento demográfico, “até mesmo um recurso 
anticoncepcional que não seja infalível poderá ter virtualmente importân-
cia nos países que mais crescem demograficamente”. O Brasil foi, nesse 
contexto, classificado entre os que estavam ameaçando a superpopulação 
do mundo. Como explicar este tipo de argumento demográfico no Brasil? 
O investimento no controle da natalidade no Brasil, e em outros países 
da América Latina, teve relação direta com a Revolução Cubana de 1959. 
 Ampliando seus conhecimentos
As teorias sobre população
Geografia da População
3
49
A partir daí, a política norte-americana passou a considerar a América 
Latina como um “continente explosivo”, um campo fértil para a agitação 
comunista. Começaram a ser criadas, então, organizações de ajuda aos 
latino-americanos. Estas ajudas traziam como exigência a adoção de pro-
gramas e estratégias de redução do crescimento populacional. Em 1961, 
por exemplo, a Conferência da OEA, que criou a Aliança para o Progresso, 
foi a mesma que expulsou Cuba daquele organismo. O entendimento era 
de que o crescimento rápido da população latino-americana, e sua con-
sequente pobreza, seriam fortes aliados da revolução comunista. Deste 
modo, o perigo representado por uma questão política foi transformado 
no da “bomba demográfica”. 
Nas décadas de sessenta e setenta, em vez de revoluções comunistas, o 
Brasil e diversos países da América Latina tiveram a implantação de várias 
ditaduras militares. Estas impediram manifestações, definiram um per-
curso histórico na direção da sociedade capitalista, e receberam pressões 
de organismos internacionais para a adoção de políticas antinatalistas.
Entretanto a política internacional, voltada para a redução da população 
– principalmente dos países pobres –, encontrou no governo brasileiro 
durante a vigência do regime militar, além de ambiguidade, um debate que 
não conheceu consenso. De um lado havia os “antinatalistas”; de outro, 
os “anticontrolistas”. Os primeiros reivindicavam um projeto de desen-
volvimento para o País, dentre cujas exigências encontrava-se a redução 
da natalidade como parâmetro de país desenvolvido. Além disso, havia 
o argumento de que, com o crescimento demográfico então observado, a 
economia teria dificuldades em manter altas taxas de crescimento capazes 
de darem conta da demanda exigida. Por outro lado, os anticontrolistas, 
com a teoria geopolítica de “ocupação de espaços vazios”, encontravam 
entre os militares nacionalistas fortes aliados. Estes argumentavam que 
a soberania nacional dependia da presença de brasileiros em todas as 
regiões do País. Aos anticontrolistas no Brasil, muitas vezes aliaram-se 
vários setores da Igreja Católica, e até mesmo grupos feministas. [...]
O comércio da pílula anticoncepcional teve início no Brasil em 1962, dois 
anos após ter sido aprovada nos Estados Unidos pelo FDA – Food and 
Drug Administration – a pílulachamada ENOVID, produzida pelo labo-
ratório Searle. Convém destacar que foi em instituições estrangeiras que 
os médicos buscaram, já na década de 50, conhecimentos sobre a contra-
cepção, a qual até a década de 60 não era ensinada nas faculdades de 
medicina brasileiras. Foi, entretanto, a partir de 1966, que as revistas 
As teorias sobre população3
Geografia da População50
médicas brasileiras começaram a difundir, para os ginecologistas e obs-
tetras, as pesquisas e estudos já realizados por médicos tanto brasileiros 
quanto estrangeiros. [...]
As mulheres de camadas médias brasileiras aderiram ao consumo da 
pílula, representando um mercado em crescimento acelerado. Em 1970, 
6,8 milhões de cartelas de pílulas anticoncepcionais foram vendidas e, em 
1980, este número subiu para 40,9 milhões. Muito deste consumo foi cer-
tamente de mulheres das camadas médias, já que as das camadas popu-
lares poderiam obtê-las, de forma gratuita, através de organismos como a 
BEMFAM – Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil. 
Convém lembrar que os argumentos que acompanharam a entrada das 
pílulas anticoncepcionais no mercado francês não foram os mesmos 
usados no Brasil. No Brasil, este momento foi vivido como expansão de 
“campo de prova”, como preocupação com a expansão da população 
pobre, e também com o perigo subversivo que esta pobreza poderia tra-
zer. [...]
 Atividades
1. As reflexões de Malthus sobre população tiveram como referência a situação dos 
pobres na Inglaterra na passagem do século XVIII para o XIX. Malthus (1996) 
afirma que:
As leis dos pobres foram instituídas na Inglaterra para remediar a frequente mi-
séria do povo, mas é para se recear que, embora elas possam ter aliviado um 
pouco a intensidade da miséria individual, provocaram um dano geral numa 
parcela muito maior. É um assunto frequentemente suscitado em conversas e 
mencionado sempre como causa de grande admiração que, não obstante a enor-
me quantia que é anualmente arrecadada para os pobres na Inglaterra, ainda 
exista tanta miséria no meio deles. (MALTHUS, 1996, p. 268)
 Analisando a citação, destaque a concepção de Malthus sobre pobreza e suas rela-
ções com o crescimento da população.
2. Crie dois mapas conceituais, um sobre as ideias de Malthus e outro sobre as ideais 
de Marx, referentes ao tema população. Depois, elabore um texto de oito a dez linhas 
sobre as principais diferenças de pensamento entre os dois autores. 
As teorias sobre população
Geografia da População
3
51
3. Com base no que estudou sobre neomalthusianismo, cite as principais ideias dessa 
abordagem sobre população e explique os motivos das críticas lançadas a essa linha 
de pensamento.
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As teorias sobre população3
Geografia da População52
 Resolução
1. Para Malthus, a pobreza é proveniente de uma lei natural, que seria decisiva contra a 
existência de uma sociedade que assegurasse tranquilidade e bem-estar, ócio e pros-
peridade e ausência de angústia para garantir os meios de subsistência a todos os 
seus membros. Nesse contexto, as diferenças entre classes sociais seria algo natural e 
a pobreza deveria ser encarada como uma estratégia para garantir a apropriação de 
riqueza pela elite. Somam-se a essa estratégia as epidemias e as guerras como forma 
de se evitar o crescimento populacional.
2. No mapa conceitual é importante destacar os seguintes conceitos de Malthus: cresci-
mento da população na proporção aritmética; produção de alimentos na proporção 
geométrica; pobreza como alvo de controle de natalidade; obstáculos preventivos; 
obstáculos positivos; lei natural da população; concentração de riquezas. Quanto aos 
conceitos de Marx não podem faltar: modo de produção capitalista; sociedade divi-
dida em classes; proprietários dos meios de produção; venda da força de trabalho; 
desigualdades sociais; exército de mão de obra. Quanto às principais diferenças, é 
preciso abordar que, enquanto Malthus via as desigualdades socais como naturais, 
Marx defendia que a divisão da sociedade em classes é produto da produção capita-
lista, que gera as desigualdades, sendo esse mecanismo mantido em favor das elites. 
Desse modo, com o aumento da produção, pode-se prover a classe trabalhadora de 
meios de subsistência e elevar as demandas do próprio capitalismo por meio do con-
sumo de mercadorias. Para Malthus, a pobreza seria algo a ser mantido como forma 
de conter o crescimento populacional. 
3. É preciso citar, como temas principais na abordagem neomalthusiana, a pobreza e o 
subdesenvolvimento e, como decorrência, o aumento da população e o esgotamento 
dos recursos naturais. Como crítica, pode-se citar que a pobreza e o subdesenvolvi-
mento são resultados das grandes desigualdades sociais na distribuição das rique-
zas, e que o esgotamento dos recursos naturais não é causado pela produção de ali-
mentos, mas sim pela exploração desenfreada que atende aos interesses capitalistas 
de grandes corporações.
Geografia da População 53
4
Os movimentos 
da população
Introdução
Desde os primórdiosda civilização, os movimentos populacionais marcam a 
humanidade. Incialmente, eles ocorriam devido à necessidade de se encontrar alimen-
tos e lugares seguros para habitar. Ao longo do tempo outros fatores, como a fome, as 
guerras e as epidemias, foram se somando às razões que estimulam a população a se 
movimentar de um lugar para outro.
Com o advento do capitalismo, os movimentos da população passaram a sofrer 
influência também de fatores econômicos, políticos, sociais e culturais, o que trouxe 
um dinamismo ainda maior a esse fenômeno. Tendo isso em vista, no presente capí-
tulo serão abordadas as maneiras como esses diferentes fatores interferem nos deslo-
camentos realizados pelas populações.
Os movimentos da população4
Geografia da População54
4.1 A mobilidade da população
4.1.1 Fenômeno migratório: conceitos básicos
Uma das características que marcam a espécie humana é sua capacidade e dispo-
sição para se deslocar pela superfície do planeta, ou seja, sua significativa mobilidade. 
Esse fenômeno vem apresentando transformações significativas na forma em que ocorre, 
em todo o mundo, principalmente desde as últimas décadas do século XX (OLIVEIRA; 
OLIVEIRA, 2011).
A análise da mobilidade da população, segundo Resstel (2015, p. 38), é complexa, “em 
razão do aumento vertiginoso das diferentes formas de mobilidade e de trânsito entre uma 
localidade e outra, entre regiões geograficamente distantes, entre países, continentes e en-
tre povos e culturas marcadamente diferentes”. A compreensão dessa complexidade tem 
demandando um esforço de busca de explicações teóricas para esse processo, que envolve 
a dimensão interna, os deslocamentos de curta duração e distâncias menores, o redireciona-
mento dos fluxos migratórios, os movimentos pendulares e as estratégias de sobrevivência 
(OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2011). No contexto das migrações internacionais, ela envolve, ain-
da, as manifestações de xenofobia, isto é, aversão ou rejeição a pessoas ou coisas estrangeiras.
No estudo do fenômeno da mobilidade da população, é necessário o domínio de alguns 
conceitos, como migração, emigração e imigração. De acordo com Resstel (2015, p. 37), “o 
conceito de migração não é simples e tampouco existe consenso em torno dele”. Conforme a 
autora, de modo geral, migração se refere aos deslocamentos da população de um lugar para 
o outro, imbuídos do objetivo de se fixar ou residir em outro território.
Esses deslocamentos, ainda segundo Resstel (2015), dão origem a fluxos de trânsito de 
pessoas de uma região a outra. Quando esses fluxos ocorrem dentro do próprio país, são 
denominados de migrações	internas, cujas características serão abordadas mais adiante. Ao 
ter como objetivo o deslocamento entre diferentes países ou continentes, esses movimentos 
são chamados de migrações	 internacionais, e quem os realiza são designados de imigrantes. 
Segundo Resstel (2015, p. 38), “os fluxos de partida foram nomeados ‘emigração’ e os de 
chegada ao destino, ‘imigração’. Paralelamente, surgiram os conceitos de ‘emissão’ e ‘recep-
ção’ para caracterizar regiões ou países de onde partiam ou aonde chegavam os migrantes”. 
Para ilustrar esses fluxos, Andrade (1998, p. 56) afirma que “se um italiano se transfere para 
o Brasil, ele é emigrante em relação à Itália e imigrante em relação ao Brasil”.
A forma como esses processos vêm ocorrendo, sobretudo a partir da década de 1980, se-
gundo Oliveira (2011), sofreu transformações importantes, tanto nos países desenvolvidos, 
como nos países em desenvolvimento. Conforme o autor, em relação às migrações internas, 
os movimentos que tinham como característica básica a direção do fluxo para os grandes 
Os movimentos da população
Geografia da População
4
55
centros passaram a ter como tendência de destino as cidades médias, o que dá importância 
aos deslocamentos pendulares. Esses deslocamentos, conforme Moura, Branco e Firkowski 
(2005, p. 124), “caracterizam-se por deslocamentos entre o município de residência e ou-
tros municípios, com finalidade específica”, o que deixa de ser um fenômeno meramente 
metropolitano. Assim, cenas de “multidões” esperando o transporte público, por exemplo, 
são comuns nas grandes metrópoles em que populações residentes em cidades próximas 
deslocam-se para trabalhar nestes centros urbanos.
Em relação às migrações internacionais, Oliveira (2011) destaca que mudanças re-
levantes também são observadas. É o caso, por exemplo, de países europeus como Itália, 
Espanha e Alemanha, nos quais, considerando-se o início e meados do século XX, predo-
minavam as emigrações e que, atualmente, tornaram-se nações que atraem imigrantes. 
Ainda, países que, tradicionalmente, recebiam imigrantes, agora criam sérias restrições 
quanto à entrada de novos habitantes, como os Estados Unidos da América e alguns paí-
ses da Europa Ocidental.
Resstel (2015) destaca como fatores que envolvem a mobilidade da população no mun-
do atual: o aumento vertiginoso das diferentes formas de trânsito, que diminuem o tempo 
do deslocamento entre uma localidade e outra; e a maior comunicação entre regiões, países, 
continentes e povos com culturas notadamente diferentes. A autora aponta, ainda, que hoje, 
diferentemente de outras épocas, os intercâmbios culturais e científicos e as viagens turísti-
cas com durações variáveis são comuns.
Desse modo, é possível “permanecer em um lugar longínquo por alguns dias ou por 
uma longa temporada ou, ainda, ter domicílios em diferentes países” (RESSTEL, 2015, p. 
38). Na concepção da autora, é frequente o imigrante “carregar consigo” uma imagem que 
o retrata como intruso, perigoso e como um ser inferior, mas ele pode também ser visto de 
forma positiva.
Considerando ainda a complexidade que envolve a problemática, vários pesquisadores 
buscam bases teóricas para analisar as causas e consequências da mobilidade da população.
4.1.2 Fenômeno migratório: conceitos e 
abordagens teóricas
O debate sobre o tema migração, segundo Sasaki e Assis (2000), não era relevante para 
os estudos populacionais na virada do século XIX para o XX. Conforme os autores, teóricos 
clássicos como Malthus e Marx analisaram o tema como consequência do capitalismo e do 
processo de industrialização e urbanização.
Nessa perspectiva de análise, o declínio das comunidades rurais e a migração dos imi-
grantes em busca de emprego e sobrevivência nas cidades deu origem a culturas heterogê-
neas (SASAKI; ASSIS, 2000). Como evidência, os autores citam que, para Malthus, nesse 
Os movimentos da população4
Geografia da População56
contexto a migração seria uma consequência inevitável, devido à superpopulação. Dessa 
forma, o Novo Mundo seria o destino dos imigrantes temporários que fugiam do ciclo de 
pobreza e miséria. Esse pensamento de Malthus (1996) deriva da ideia de que a população 
cresceria em ordem geométrica, enquanto a produção de alimentos, em ordem aritmética.
Marx (1996a) se posiciona contra as ideias de Malthus, defendendo que os problemas 
populacionais, sobretudo a fome e a miséria, são decorrentes do modo de produção capi-
talista que forma verdadeiros exércitos de mão de obra e causa baixas nos salários. Marx, 
ao examinar as mudanças trazidas pelo capitalismo na França, Irlanda e Escócia, ressaltou 
a cumplicidade dos governos e militares com os movimentos de cerceamentos (enclosures), 
que, segundo Gorender (1996, p. 36), “expulsaram os camponeses de suas terras e as con-
verteram em campos de pastagem de ovelhas, enquanto dos camponeses expropriados e 
despossuídos emergiria o moderno proletariado”. Marx (1996b) destaca, também, o confisco 
das terras da Igreja Católica e sua distribuição aos burgueses, o crescimento da dívida pú-
blica, que concentrou as riquezas nas mãos de poucos privilegiados, e o protecionismo, que 
garantiu à nascente burguesia industrial a exclusividade de produção, resultando na ruína 
dos artesãos, os quais foram obrigados a se tornar trabalhadores assalariados. Todos esses 
foram fatores causadores de migrações.Já no início do século XX, os debates sobre o tema migração passaram a ocorrer de forma 
mais acentuada, pois, de acordo com Sasaki e Assis (2000, p. 3), “os sociólogos americanos 
foram levados a colocar a migração como um problema, dada a crescente mobilidade po-
pulacional da Europa para os países do Novo Mundo, particularmente os Estados Unidos”. 
Segundo os autores, tal mobilidade foi devida ao crescimento populacional e às crises eco-
nômicas nesses países, o que gerou um intenso debate político nos Estados Unidos, por cau-
sa da preocupação com a constituição da sociedade e a presença de imigrantes, problemática 
essa que ainda em nossos dias é polêmica.
A obra pioneira sobre essa abordagem foi publicada por Florian Znaniecki e William 
I. Thomas, em 1918, com o título O	camponês	polonês	na	Europa	e	na	América. Essa obra, 
conforme Sasaki e Assis (2000), teve forte influência sobre os estudos posteriores a res-
peito da migração. Embora tratasse de um tema específico – a chegada de cerca dois mi-
lhões de poloneses à América entre 1880 e 1910 –, demonstrou, também, a maneira como 
o processo de migração quebra os laços de solidariedade e as relações familiares. Nessa 
perspectiva, as análises enfatizavam o processo de adaptação, assimilação e aculturação 
dos imigrantes na sociedade americana. Esses teóricos defendiam que, embora esse pro-
cesso fosse observado, não implicava em total abandono, por parte do imigrante, de seus 
valores e de seu modo de vida.
No entanto, críticas foram lançadas a essa abordagem, pois, segundo Sasaki e Assis 
(2000, p. 4), “não reconhecia as diferenças resultantes dos processos de colonialismo e impe-
rialismo, que configuravam os vários fluxos migratórios”. Uma das evidências da limitação 
da abordagem de adaptação está no fato de esses imigrantes se constituírem em grupos 
étnicos nos países para onde se dirigiram. A Figura 1 retrata aspectos da cultura polonesa 
em Curitiba, no Estado do Paraná, fruto da imigração e formação do grupo étnico polonês 
na região.
Os movimentos da população
Geografia da População
4
57
Figura 1 – Representação do grupo étnico polonês em Curitiba, PR.
Fonte: Marcus Bezerra/Wikimedia Commons.
Com as mudanças no cenário político e econômico no Pós-Segunda Guerra Mundial, 
houve uma reconfiguração dos fluxos migratórios internacionais, trazendo novos fatores 
a serem considerados no debate sobre a problemática. Oliveira (2011) afirma que as abor-
dagens teóricas sobre o fenômeno estiveram durante tempo significativo divididas entre o 
aporte neoclássico – por exemplo, a abordagem de Everett Lee (1980), em seu clássico artigo 
“Uma teoria sobre a migração” – e o aporte estruturalista – como no clássico artigo de Paul 
Singer (1980), “Migrações internas: considerações teóricas sobre seu estudo”.
A abordagem neoclássica tem como pressuposto básico o exame dos motivos que le-
vam os indivíduos a migrarem. De acordo com Santos et al. (2010), a explicação para os fenô-
menos migratórios seria dada com base nas diferenças geográficas de oferta de trabalho, ou 
seja, o mercado de trabalho induz os movimentos migratórios. Na perspectiva de Lee (1980), 
há o indivíduo que, analisando de forma racional o custo-benefício de migrar, decide se rea-
liza ou não a migração (OLIVEIRA, 2011). Ainda conforme Oliveira, Lee defende que a base 
dos deslocamentos populacionais seria o desenvolvimento econômico, não se considerando, 
por exemplo, a natureza voluntária ou involuntária do ato. Assim, Lee (1980) “propõe um 
esquema analítico que ele denominou de ‘fatores do ato migratório’, onde aparecem os fato-
res associados aos locais de origem e de destino, os obstáculos intervenientes e, por último, 
fatores pessoais” (OLIVEIRA, 2011).
Ainda segundo o autor, os fatores locais de origem e de destino seriam aqueles associa-
dos à decisão de emigrar, os quais podem ser positivos, negativos ou nulos. O saldo desses 
fatores, mediados pelos obstáculos entre a origem e o destino, determinariam o ato de mi-
grar e o sentido do fluxo. Oliveira (2011) ratifica “que na raiz da questão central, norteadora 
da proposição de Lee, encontra-se o binômio modernização-desenvolvimento econômico. 
Para o autor, esta seria uma construção de fácil compreensão e aceitação”. Conforme destaca 
Os movimentos da população4
Geografia da População58
Oliveira (2011), embora funcionalista, a abordagem de Lee (1980) não é restrita temporal-
mente, ou seja, poderia acontecer em qualquer tempo.
Para Singer (1980), o fenômeno migratório se caracteriza como social e assume a di-
mensão de classe social. Dessa forma, a migração seria consequência de processos sociais, 
econômicos e políticos, já que, na perspectiva de Singer, a migrações internas são condicio-
nadas historicamente e resultam de um processo global de mudanças, da qual não podem 
ser separadas (OLIVEIRA, 2011).
Na visão de Singer (1980), a problemática principal estaria relacionada às desigualda-
des regionais de território, que seriam as causadoras das migrações internas (OLIVEIRA, 
2011). Segundo Oliveira (2011), Singer defende que no lugar de origem surgiriam fatores 
que causariam expulsão de população, os quais se manifestam basicamente de duas for-
mas: a introdução de técnicas inovadoras de produção, a qual aumenta a produtividade do 
trabalho, mas gera uma redução do nível do emprego, e, com isso, camponeses e pequenos 
proprietários, por exemplo, seriam expulsos do campo; e fatores de estagnação, associados 
à incapacidade dos agricultores, em economia de subsistência, de aumentar a produtividade 
da terra, resultando daí a migração da população.
Referindo-se às abordagens neoclássica e estruturalista, Vainer (1998, p. 828) diz que 
“neoclássicos e estruturalistas mostram-se incapazes de identificar o lugar e o papel da coer-
ção na produção e reprodução dos deslocamentos e localizações do trabalho no movimento 
normal do desenvolvimento capitalista”. Essas análises acabariam omitindo, portanto, a di-
mensão da dinâmica que determina os fluxos e localizações de população. De acordo com 
Oliveira (2011), “as teorias produzidas sobre migração estiveram influenciadas pelo mundo 
industrial e pelo desenvolvimento econômico, tanto aquelas ancoradas na teoria da moder-
nização quanto as baseadas no enfoque estruturalista”.
Nessa perspectiva, aponta-se, com base em Oliveira (2011), que, quanto às abordagens 
teóricas sobre os fenômenos migratórios, há a necessidade do aprimoramento de teorias que 
deem conta de explicar os fatores econômicos, sociais, tecnológicos e políticos que envolvem 
a mobilidade da população.
4.2 As migrações internacionais
Os estudos das migrações internacionais recentes exigem que se repense as categorias 
de análise dos fenômenos migratórios. Nesse contexto, faz-se necessário considerar os as-
pectos sociais, econômicos, culturais e políticos que os envolvem.
4.2.1 As migrações no cenário mundial
A crescente importância das migrações internacionais envolve uma diversidade de sig-
nificados e implicações. Tal importância, segundo Patarra (2010), requer considerar, em sua 
análise, as transformações sociais, econômicas, políticas, culturais e demográficas em anda-
mento no âmbito internacional, sobretudo a partir dos anos de 1980.
Os movimentos da população
Geografia da População
4
59
Nessa perspectiva, essas mudanças são advindas do processo de reestruturação da pro-
dução capitalista, que traz novas modalidades de mobilidade do capital e da população em 
diferentes países do mundo (PATARRA, 2010). Segundo a autora, isso evidencia visões de 
mundo e posturas ideológicas que entram em confronto na tentativa de enfrentar a crise e 
as contradições de ordem capitalista na atual fase da ordem política e econômica global, que 
traz consigo grandes desigualdades sociais e exclusão, o que acaba por estimular a transpo-
sição de fronteiras.
Para a compreensão desse processo, Martine (2005) destaca que é preciso entender 
como esses condicionantes políticos, econômicose culturais afetam o deslocamento espacial 
da população. Nas palavras do autor, “nos dias de hoje, o horizonte do migrante não se res-
tringe à cidade mais próxima, nem à capital do estado ou do país. Seu horizonte é o mundo – 
vislumbrado no cinema, na televisão, na comunicação entre parentes e amigos” (MARTINE, 
2005, p. 3). Ainda conforme o autor, muitos países crescem pouco ou praticamente nada, e, 
enquanto isso, as desigualdades aumentam e contribuem para o desejo, ou mesmo a neces-
sidade, de migrar para outros países.
As migrações internacionais atuais, de acordo com Patarra (2010), vêm exibindo um 
crescimento contínuo desde a década de 1960. A maior parte dos fluxos ocorre em direção 
aos países classificados como desenvolvidos. Referindo-se a esse crescimento das migrações, 
Martine (2005) destaca a necessidade de formulação de políticas migratórias que consistam 
na revalorização dos aspectos positivos da migração e na busca de redução progressiva dos 
seus efeitos negativos. No entanto, para serem eficazes, essas políticas precisam considerar o 
“deslocamento espacial como parte das estratégias de sobrevivência e de mobilidade social 
da população” (MARTINE, 2005, p. 4). A Figura 2 retrata vários refugiados sírios vagando 
em direção à Alemanha para pedido de asilo.
Figura 2 – Refugiados sírios.
Fonte: iStockphoto/djenkaphoto.
Os movimentos da população4
Geografia da População60
Nesse contexto, destaca-se a importância de se considerar a conjuntura de lutas e com-
promissos internacionais assumidos em favor da ampliação e da efetivação dos direitos 
humanos dos migrantes (PATARRA, 2010). Patarra destaca como necessário, ainda, o debate 
sobre quais grupos sociais são contemplados nas políticas oficiais, tendo como base os direi-
tos humanos, pois é preciso reconhecer que os movimentos migratórios internacionais são 
marcados por contradições e conflitos de classes sociais.
Assim, é preciso “considerar que os movimentos migratórios internacionais constituem 
a contrapartida da reestruturação territorial planetária intrinsecamente relacionada à rees-
truturação econômico-produtiva em escala global” (PATARRA, 2006, p. 8). De acordo com 
a autora, as migrações internacionais refletem a desigualdade internacional entre países 
desenvolvidos e em desenvolvimento e evidenciam os interesses em conflito envolvendo a 
necessidade de mão de obra dos países desenvolvidos, com crescimento populacional zero 
ou negativo, e as políticas migratórias restritivas. Tais restrições se referem ao temor do ter-
rorismo internacional, o que acaba por envolver xenofobia, desigualdade e racismo.
Em contrapartida, Martine (2005, p. 5) destaca que a migração internacional “tem o po-
tencial de ser bastante positiva para o desenvolvimento e a redução da pobreza”. Partindo 
desse princípio, as políticas oficiais de controle da migração, segundo o autor, terão mais êxi-
to do que aquelas que tentam se opor intransigentemente ao deslocamento populacional no 
espaço internacional. No entanto, dependendo da ótica, do momento e da situação, a maio-
ria das consequências sociais e econômicas das migrações internacionais é contraditória.
4.2.2 O Brasil no contexto das migrações internacionais 
contemporâneas
Ao se referir às migrações internacionais e à forma como ela ocorre no Brasil, sobretudo 
a partir de 1980, Campos (2011) destaca que, embora esse seja um tema de relevância sig-
nificativa, ainda existem desafios consideráveis quanto a seus estudos, como, por exemplo, 
obter o número exato de migrantes que deixam e que ingressam no país a cada ano.
Segundo Carvalho e Campos (2006, p. 55), “parte significativa dos fluxos migratórios 
internacionais do Brasil, tanto de imigrantes quanto de emigrantes, é constituída pelo que se 
convencionou chamar de ‘ilegais’ ou ‘clandestinos’”. Esse fato impede registros administra-
tivos com a apuração exata da informação sobre o fluxo de imigrantes e emigrantes, sendo 
necessário ter como referência os dados censitários e a realização de estimativas (CAMPOS, 
2011). Ainda segundo os autores, por esse motivo os censos vêm buscando aprimorar a 
obtenção de informações e a precisão das estimativas de migração internacional. Novos 
quesitos sobre o tema foram inclusos no Censo de 2010, realizado por Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), que é a principal fonte dos dados censitários no país.
Referindo-se aos brasileiros que emigram, Patarra (2010) destaca que, principalmente a 
partir de 1980, a imagem do Brasil como um país tradicionalmente receptor de imigrantes 
passa a ser modificada para a de uma sociedade expulsória de habitantes. Segundo a autora, 
Os movimentos da população
Geografia da População
4
61
em meados da década de 1990, cerca de 1,5 milhão de brasileiros estava vivendo em outros 
países, o que evidenciou uma importante questão demográfica a ser debatida nos estudos 
sobre a população brasileira. Entre 1950 e 1980, a população brasileira havia sido conside-
rada como fechada, ou seja, seria resultado apenas do crescimento natural ou vegetativo. 
Nessa perspectiva, do ponto de vista quantitativo, seria irrelevante o reduzido número de 
estrangeiros que adentraram no Brasil no Pós-Segunda Guerra Mundial, bem como o núme-
ro de brasileiros que se dirigiram a outros países (PATARRA, 2010).
A partir da década de 1980, os fluxos dos movimentos internacionais, tendo como 
destino o Brasil, passaram a ter características distintas daqueles que ocorriam anterior-
mente, quanto aos países de origem. De acordo com Patarra (2010), cresceu o número 
absoluto de imigrantes chineses, angolanos, bolivianos, paraguaios, coreanos, entre ou-
tras nacionalidades, sobretudo os haitianos. Soma-se também a esses fluxos o retorno de 
brasileiros que emigraram.
Destaca-se, nesse contexto, a importância de se compreender a política migratória, se-
gundo Siciliano (2013, p. 9), como “o conjunto de ações de governo para regular a entrada, 
a permanência e a saída de estrangeiros de território nacional, bem como as ações desti-
nadas a regular a manutenção dos laços entre o Estado e os seus nacionais que residam 
no exterior”. Em 1980, foi promulgada a Lei n. 6.815, que criou o Conselho Nacional de 
Imigração, com o fim de orientar as políticas migratórias. Esse conselho é presidido pelo 
Ministério do Trabalho, com representantes de outros ministérios. Segundo Patarra (2010), 
desde o início de sua vigência essa lei é alvo de críticas, principalmente por privilegiar a 
imigração sob o ponto de vista da assimilação de tecnologias e investimentos de capital 
estrangeiro. A autora destaca, ainda, a criação do Comitê Nacional para os Refugiados 
(Conare), também vinculado ao Ministério do Trabalho, o qual estabelece diretrizes no 
que concerne à autorização de trabalho ao estrangeiro e define juridicamente sua situação. 
O Brasil se caracteriza como um dos países mais restritivos quanto à imigração.
Em 2015, foi lançado o Projeto de Lei n. 2.516, para a criação de uma nova Lei de 
Migração, tendo como propósito garantir ao imigrante a condição de igualdade com os na-
cionais, com direito à liberdade, à segurança, à inviolabilidade do direito à vida, à proprie-
dade e ao acesso aos serviços públicos e ao exercício de funções públicas (BRASIL, 2015).
4.3 As causas e consequências da 
mobilidade da população
Fenômeno comum nas sociedades, a mobilidade da população pode ser influenciada 
por vários fatores. A análise desses fatores precisa considerar aqueles que são internos à 
determinada sociedade e também os externos, que influenciam as dinâmicas da população, 
como por exemplo os movimentos populacionais. Andrade (1998), ao se referir à mobilidade 
da população, destaca dois enfoques diferentes quanto ao tempo e ao espaço: as migrações 
externas e as internas.
Os movimentos da população4
Geografia da População62
4.3.1 Migrações externas e internas
Praticamente toda sociedade é marcada por movimentos migratórios, ainda que 
de forma diferente, dadaa intensidade e a quantidade de fluxos que ocorrem. Segundo 
Andrade (1998, p. 56), “desde a mais remota antiguidade, os homens transferem-se de 
um lugar para outro, ora para fixar residência, ora em caráter temporário, procurando 
voltar ao lugar de origem”.
Nesse sentido, as migrações externas são aquelas que estimulam fluxos populacionais 
entre países. Andrade (1998) cita como exemplo desse tipo de migração a oferta permanente 
de oportunidade de emprego aos habitantes e às pessoas vindas de países subdesenvolvi-
dos, com excesso de mão de obra. Essas oportunidades eram oferecidas pelos países de-
senvolvidos e industrializados da Europa Ocidental e Central (França, Alemanha, Bélgica, 
Países Baixos, Luxemburgo e outros), no Pós-Segunda Guerra Mundial.
Evidencia-se assim, conforme Martins (2001), que os fatores econômicos são os que ge-
ram maior número de migrações em todo o mundo, pois o ser humano, devido às dificul-
dades encontradas em determinado lugar, busca em outra localidade uma possível solução 
para garantir seu sustento e melhoria de vida. Na mesma perspectiva, ressalta Andrade 
(1998), esses fluxos estão sujeitos a oscilações da economia mundial, que podem levar ao 
desaceleramento da produção e à consequente diminuição dos postos de trabalho, o que, 
por sua vez, influencia novos fluxos migratórios externos.
As migrações internas, por sua vez, são aquelas realizadas dentro de um mesmo país. 
Andrade (1998) destaca que no Brasil, por exemplo, existem áreas superpovoadas, as quais 
se caracterizam por atrair migrantes, e áreas subpovoadas, com tendência a expulsar cada 
vez mais habitantes, embora novos fluxos migratórios sejam observados em sentidos opos-
tos a essas situações. Conforme Andrade (1998), no século XVII o Nordeste passou a ser uma 
área de dispersão de população, naquele momento, em direção ao Estado de Minas Gerais, 
buscando encontrar a “riqueza” na extração de ouro.
Depois, a partir do século XX, essa região vem fornecendo migrantes que se fixam em 
outras áreas do país. Ainda conforme o autor, as causas desse tipo de migração se devem a 
profundas modificações na economia brasileira. Segundo Portela e Vesentini (1998), quando 
se acelerou o desenvolvimento do capitalismo nos países, esse processo foi acompanhado 
de intensa industrialização e urbanização. Essa dinâmica também pode ser constatada em 
outras regiões brasileiras, sempre motivada pelo mesmo fator, ou seja, “sempre que em uma 
área qualquer do país surgia uma fase economicamente atrativa”, um fluxo migratório para 
ela era direcionado (ANDRADE, 1998, p. 57).
Como consequência desse processo, nas grandes cidades, por exemplo, houve cresci-
mento acelerado e falta de infraestrutura, o que ocasionou desigualdades de acesso aos bens 
necessários para a subsistência de parte significativa da população.
Os movimentos da população
Geografia da População
4
63
4.3.2 Tipos de migração: êxodo rural e 
migrações temporárias
Para uma análise mais efetiva das causas e consequência da mobilidade da população, 
faz-se necessário conhecer as características de dois tipos específicos de migração: êxodo 
rural e migrações temporárias.
O êxodo rural se caracteriza, segundo Andrade (1998, p. 57), pela “transferência do 
habitante do campo para a cidade – é uma das formas de migração interna mais importante 
nos dias atuais”. Esse tipo de migração ocorre em quase todo o mundo, pois, conforme o 
autor, com a industrialização, a facilidade de transportes e de comunicações, as cidades 
estão crescendo de forma extraordinária. Com isso, indivíduos de todas as classes sociais se 
deslocam, atraídos pelo desejo de melhores salários, pela necessidade, por exemplo, de com-
pletar sua educação. Outro fator de expulsão do homem do campo é a intensa mecanização, 
ou seja, os postos de trabalho passam a ser extintos devido ao uso de máquinas agrícolas.
Nos países desenvolvidos, o êxodo rural não se constitui num problema, dadas as es-
truturas capazes de absorver mão de obra e produzir no campo com intenso uso de tecno-
logia. Já nos países subdesenvolvidos, como afirma Andrade (1998, p. 57), “ocorrem proble-
mas sérios: as cidades não têm condições de oferecer empregos estáveis”, o que leva parte 
significativa dos migrantes a viver de serviços eventuais ou, até mesmo, pedir esmolas e 
vasculhar restos de comida no lixo. Ainda segundo o autor, a dificuldade de acesso à mora-
dia dá origem a grandes favelas.
As migrações temporárias se caracterizam por ocorrerem num dado período de tempo, 
relativamente curto. Andrade (1998) classifica esse tipo de migração em três grandes grupos: 
migrações por tempo indeterminado; migrações sazonais; e migrações diárias.
Migrações por tempo indeterminado “são aquelas feitas por pessoas que se transferem 
para um outro país ou região, com intenção de regressar após atingir determinados objeti-
vos” (ANDRADE, 1998, p. 57). Ainda segundo o autor, as migrações sazonais se caracte-
rizam quando as pessoas se deslocam de uma área para a outra quando há oportunidade 
de trabalho. Estão ligadas ao período das várias culturas agrícolas, que, influenciadas pelo 
regime de chuvas, não têm a mesma época de plantio e colheita. Um exemplo é o constante 
movimento de trabalhadores do Agreste brasileiro, região de transição entre a Zona da Mata 
e o Sertão no Nordeste do país. Nessa região, durante a estação das chuvas, ocorre o cultivo 
de milho, feijão e algodão, o que garante o trabalho de março a setembro. No período entre 
outubro a abril, entretanto, os trabalhadores migram para a Zona da Mata, para o trabalho 
nas lavouras de cana de açúcar (ANDRADE, 1998).
Nas grandes cidades, são observadas as migrações diárias ou pendulares, caracteriza-
das pelo deslocamento de trabalhadores que, de acordo com Andrade (1998), recebem bai-
xos salários e conseguem acesso a moradias apenas em subúrbios distantes do seu trabalho.
Os movimentos da população4
Geografia da População64
 Ampliando seus conhecimentos
Políticas públicas e imigração
(ROSO; BERVIAN, 2013, p. 232-234)
A definição do que sejam políticas públicas ainda está em discussão. De 
modo geral, política pública pode ser definida como tudo aquilo que o 
governo (municipal, estadual ou federal) faz no que diz respeito às leis, 
medidas reguladoras, decisões e ações (HEILBORN; ARAUJO; BARRETO, 
2010). Por isso, Souza (2006, p. 26) afirma que as políticas públicas podem 
ser pensadas como:
[...] o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar 
o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) 
e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas 
ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas 
constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem 
seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que 
produzirão resultados ou mudanças no mundo real.
Nesse sentido, salientam Heilborn, Araújo e Barreto (2010, p. 20) que “é 
fundamental, em uma política pública, pensarmos em quem ganha o quê, 
por que e que diferença faz. Isso nos remete diretamente ao coração da 
formulação das políticas públicas e às relações entre sociedade e governo 
para a definição das ações que serão tomadas”.
Nos últimos anos, após a entrada oficial do Brasil na rota dos grandes 
deslocamentos internacionais, as leis, os programas, os dispositivos, 
os decretos e outras medidas relativas à entrada de imigrantes no país 
têm sido repensados e revisados. Isso implica, segundo a Organização 
Internacional para as Migrações (OIM, 2009), tanto uma reorganização 
institucional, para atender às novas funções do governo frente às novas 
tendências e características do movimento migratório, quanto uma 
ampliação do papel de instituições oficiais já existentes para corroborar 
essa situação.
Percebe-se, especialmente nas últimas décadas, uma série de tentativas de 
posicionar o Brasil como um país aberto aos imigrantes. Na Constituição 
de 1988, encontram-se, entre os princípios que regem asrelações interna-
cionais do Brasil, a prevalência dos direitos humanos, a autodetermina-
ção dos povos, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz, a solução 
pacífica dos conflitos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo, a cooperação 
Os movimentos da população
Geografia da População
4
65
entre os povos para o progresso da humanidade e a concessão do asilo 
político. Entende-se que o respeito a esses princípios pode promover rela-
ções pacíficas e integradoras entre os países e, ainda, contribuir para a 
inserção de um imigrante no país (BRASIL, 1988).
Relativamente a direitos fundamentais, no art. 5º, a Constituição prevê 
que todos são iguais perante a lei, sem distinção alguma. Assim, sendo 
um estrangeiro igual a um brasileiro perante a lei, aquele tem o direito à 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade. Já no tocante aos direitos políticos, os imigrantes não são 
tão livres assim, pois não podem se alistar como eleitores, por exemplo, 
cabendo ao Estado legislar sobre emigração e imigração, entrada, extradi-
ção e expulsão de estrangeiros, conforme o art. 22º.
A Lei de Estrangeiros em vigor no Brasil é a 6.815/80, de 19 de agosto de 
1980, produzida no contexto da ditadura militar e marcada pela preocu-
pação com a defesa nacional e com a regulamentação jurídica do estran-
geiro (BRASIL, 1980). Essa lei criou o Conselho Nacional de Imigração 
(CNIg), que funciona junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, o qual 
coordena as políticas imigratórias no campo do trabalho.
A Lei n. 6.815/80 constitui o principal instrumento regulador da situação 
jurídica do estrangeiro no Brasil, inclusive das situações motivadas por 
razões de trabalho. Conforme Sant’Ana,
[...] o ato lista os aspectos determinantes à concessão de vistos tem-
porários ou permanentes, dispondo no art. 2º: “Na aplicação desta 
Lei atender-se-á precipuamente à segurança nacional, à organiza-
ção institucional, aos interesses políticos, socioeconômicos e cul-
turais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional”. E 
complementa, no artigo subsequente: “A concessão do visto, a sua 
prorrogação ou transformação ficarão sempre condicionadas aos 
interesses nacionais” (2001, p. 76).
Nesse contexto, acredita-se que, uma vez que essa lei diz mais da preo-
cupação com a segurança nacional, característica típica do período 
ditatorial, e que a mesma continua sendo aplicada nos dias de hoje, é 
urgente ampliar os efeitos dessa lei a fim de redemocratizar o processo 
de circulação de pessoas, atentando especialmente para o processo de 
integração. Se a globalização é inevitável, também deve ser inevitável 
a mudança da legislação, de modo que esta contemple as demandas 
contemporâneas.
Os movimentos da população4
Geografia da População66
Dessa maneira, a desatualização da Lei n. 6.815/80 levou o governo brasi-
leiro a preparar uma nova proposta de lei de migrações, totalmente vin-
culada à questão dos direitos humanos. Enviada ao Congresso Nacional 
(Projeto de Lei 5655/2009), a nova lei dispõe sobre ingresso, permanên-
cia e saída de estrangeiros no território nacional e transforma o Conselho 
Nacional de Imigração em Conselho Nacional de Migração – que passará 
a tratar tanto das imigrações quanto das emigrações –, apresentando um 
caráter muito mais flexível e expansivo (OIM, 2009).
Esse Projeto de Lei traz mecanismos que simplificam o procedimento 
migratório para investidores, pesquisadores, professores, artistas e des-
portistas, o que atrai capital externo de investimento, permitindo, por 
exemplo, que qualquer pessoa que esteja como turista no Brasil também 
realize negócios. Ao mesmo tempo, sinaliza que os imigrantes tenham os 
mesmos Direitos Humanos e Sociais protegidos no país. Assim, essa nova 
lei poderá aliar aspectos que fomentem o crescimento econômico do país 
à garantia dos direitos humanos dos imigrantes.
O imigrante ainda tem a possibilidade de nacionalizar-se brasileiro e, 
assim, obter os direitos decorrentes da qualidade de nacional, com exce-
ção do direito reservado aos brasileiros natos, disposto no art. 12, § 3º, 
da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que é o de assumir 
determinados cargos públicos. O Brasil adota somente a naturalização 
como forma de aquisição da nacionalidade, sendo que esta é definida por 
Dolinger (2000) como o vínculo de ordem jurídico-político que conecta o 
indivíduo ao Estado, ou seja, o meio de fazer nacional o estrangeiro. [...]
O Brasil tem assinado, ainda, tratados muito importantes na área migrató-
ria, que buscam promover, além de condições de trabalho justas e huma-
nizadoras, o direito à saúde e à educação e a proteção dos direitos huma-
nos. [...]
 Atividades
1. Considerando os conceitos estudados sobre as migrações, entreviste uma pessoa 
adulta, com o fim de identificar os tipos de movimentos migratórios por ela reali-
zados atualmente ou em anos anteriores. Com base na entrevista, escreva uma his-
tória da pessoa e destaque as denominações e as características dos movimentos 
realizados. Aborde também, no seu texto, os fatores políticos, econômicos, sociais e 
culturais que estimularam os movimentos migratórios realizados pelo entrevistado.
Os movimentos da população
Geografia da População
4
67
2. Conforme abordou-se, em 2015 foi lançado o projeto de Lei n. 2.516, que cria uma 
nova Lei das Migrações, com o propósito de garantir direitos ao imigrante (BRASIL, 
2015). Busque informações sobre o projeto, tendo como referência as seguintes ques-
tões: Foi aprovado no Senado? Quais direitos essa nova lei garante ao imigrante? Em 
que aspectos essa lei se diferencia da Lei n. 6.815, de 1980?
3. Considere os tipos de migrações internas abordados por Andrade (1998): êxodo ru-
ral, migrações temporárias, sazonais, definitivas e diárias. Que fatores motivaram (e 
continuando motivando) essas migrações no Brasil?
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Os movimentos da população4
Geografia da População68
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SINGER, P. I. Dinâmica populacional e desenvolvimento: o papel do crescimento populacional no 
desenvolvimento econômico. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1976.
 Resolução
1. Identifique alguns dos tipos de migrações abordados por Andrade (1998), como 
mudanças de um lugar para outro dentro do próprio país. Quanto aos fatores 
que as estimularam, aborde os motivos econômicos que envolvem esses movi-
mentos. Caso o entrevistado seja estrangeiro, identifique as circunstâncias em 
que o imigrante chegou ao país, o que estimulou o movimento e os desafios aqui 
encontrados para se estabelecer.
2. Busque informações sobre os debates que envolvem essa lei. Quanto à compara-
ção entre as leis, conclua que a Lei n. 6.815, de 1980, embora traga diretrizes para o 
estabelecimento dos imigrantes no país, é limitada quanto aos direitos humanos e 
bem-estar destes.
3. A análise dos movimentos realizados poderá ampliar o reconhecimento dos fatores 
que os motivaram, envolvendo questões econômicas como a busca de melhores sa-
lários e condições de vida, bem como os impactos sociais que esses movimentos po-
dem gerar. Especificamente no Brasil, podemos citar a exploração do ouro no século 
XVII, em Minas Gerais, que atraiu pessoas de todo o país, e os problemas da seca no 
sertão que fizeram com que milhares de nordestinos seguissem em direção ao Sul do 
país, situação que se mantém até os dias de hoje.
Geografia da População 69
5
Os efeitos da globalização 
sobre a população
Introdução
Como resultado de um processo que passou por várias fases, os especialistas 
divergem se a globalização representa ou não um novo fenômeno. Fato é que, na atua-
lidade, esse processo apresenta características distintas das fases anteriores, devido ao 
grau de desenvolvimento técnico e científico.
De forma geral, não se pode negar que a globalização traz mudanças políticas, 
econômicas, sociais e culturais significativas para as sociedades capitalistas, as quais 
acabam influenciando também os fenômenos populacionais e suas relações com a pro-
dução e o consumo.
Nessa perspectiva, as vertentes de análise sobre o processo de globalização tam-
bém são diversas em relação a suas consequências. No entanto, a maioria dos estudio-
sos sobre esse assunto destaca pontos de vista não otimistas sobre esses efeitos, como 
as contradições capitalistas e o acirramento das desigualdades sociais, aspectos que 
interferem nas dinâmicas da população.
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População70
5.1 Globalização e população
Nas últimas décadas, mudanças significativas têm ocorrido no cenário político e eco-
nômico internacional. Essas transformações são estimuladas por um processo complexo, 
denominado globalização, que também influencia as dinâmicas populacionais.
5.1.1 O conceito de globalização
A análise da relação entre dinâmica populacional e globalização requer uma reflexão 
sobre a complexidade que envolve esses dois conceitos. Segundo Martine (2005, p. 13), a 
“globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capi-
talista”. Nesse sentido, é importante diferenciar	internacionalização e globalização. Ao se refe-
rir à internacionalização, Santos (2012) afirma que:
Decerto, o que estamos vivendo agora foi longamente preparado, e o processo 
de internacionalização não data de hoje. O projeto de mundializar as relações 
econômicas, sociais e políticas começa com a extensão das fronteiras do comércio 
no princípio do século XVI, avança por saltos através dos séculos de expansão 
capitalista para finalmente ganhar corpo no momento em que uma nova relação 
científica e técnica se impõe e em que as formas de vida no planeta sofrem repen-
tina transformação. (SANTOS, 2012, p. 16)
Evidencia-se, assim, que a internacionalização se refere ao processo que teve início com 
as Grandes Navegações e que se diferencia do momento presente devido aos significativos 
avanços técnicos e científicos, os quais provocam transformações em diversos campos da 
sociedade. Uma sistematização das fases anteriores que culminaram com o processo hoje 
denominado globalização é apresentada no Quadro 1:
Quadro 1 – Períodos da internacionalização do capital.
Período Fases Características
1450-1850 Primeira Expansionismo mercantilista
1850-1950 Segunda Industrial – imperialista – colonialista
1950-1989 Terceira Descolonização – Guerra Fria – Reestruturação produtiva
Pós-1989 Globalização Declínio do Estado-Nação – Reestruturação do sistema interestatal
Fonte: ALCOFORADO, 2006, p. 19. Adaptado.
Ao se referir à época atual, Milton Santos (2001a, p. 34) destaca que, “como período 
e como crise, a época atual mostra-se, aliás, como coisa nova. Como período, as suas 
variáveis características instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indi-
retamente. Daí a denominação de globalização”. Sobre a crise, Santos (2001a) diz que as 
variáveis que constroem o sistema capitalista chocam-se continuamente, exigindo novos 
arranjos e definições, e isso se constitui numa situação persistente, mas que mantém 
resquícios das características anteriores.
Os efeitos da globalização sobre a população
Geografia da População
5
71
Sobre o processo de globalização, segundo Martine (2005, p. 22), há “muitas interpre-
tações da história a partir das técnicas”. Nessa perspectiva, as técnicas são oferecidas como 
um sistema e realizadas combinadamente [por meio] do trabalho e das formas de escolha 
dos momentos e dos lugares de seu uso. Ainda se referindo à relação entre globalização e 
técnicas, Martine afirma que
no fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema 
de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um 
papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico 
uma presença planetária. (MARTINE, 2005, p. 22)
Também destacando essa mesma relação, Santos (2001a, p. 24) diz que “a globalização 
não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é também o resultado das ações 
que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos 
processos políticos atualmente eficazes”. Ao se referir ao fator mercado no mundo global, 
Martine (2005, p. 4) assinala que a “globalização caracteriza-se por aumentos significativos 
no intercâmbio comercial e financeiro, dentro de uma economia internacional crescente-
mente aberta, integrada e sem fronteiras”.
Nesse sentido, Santos (2001a, p. 24) enfatiza que “os fatores que contribuem para ex-
plicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos 
momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história, re-
presentado pela mais-valia globalizada”. Nesse contexto, surge um mercado global que, por 
meio de um sistema de técnicas avançadas, resulta numa globalização que, nas palavras de 
Santos (2001a, p. 24), é “perversa”. O autor destaca que esse processo poderia ser diferente 
se tivesse outro uso político, ou seja, o debate central, o qual traz a possibilidade de utilizar 
o sistema técnico contemporâneo a partir de outras formas de ação.
Conforme afirma Martine (2005, p. 4), “a globalização é uma força poderosa no novo 
sistema mundial, e continuarásendo determinante no curso da história futura da humani-
dade. Sem dúvida, ela nos coloca tanto desafios como oportunidades”. Entretanto, segundo 
Santos (2001a, p. 17), “globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à 
condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz 
as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”. Desse modo, a globalização 
que se estabelece, na visão deste autor, não estaria a serviço da humanidade.
Ainda destacando os aspectos sociais da globalização, Santos (2005, p. 19) afirma que 
o “mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta 
quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas”. Outros aspectos da globaliza-
ção destacados pelo autor são: o culto ao estímulo do consumo; uma busca de uniformidade 
ao serviço dos atores hegemônicos; e o mundo tornando-se menos unido, distanciando-se 
do sonho de uma cidadania verdadeiramente universal (SANTOS, 2001a).
Nessa perspectiva, Martine (2005, p. 4) explica que “praticamente todos os países foram ins-
tados a adotar as mesmas regras do jogo e a submeter-se aos fiscais internacionais, propiciando 
a expansão do mercado global”. Desse modo, ainda conforme o autor, a globalização continua 
sendo uma realidade inacabada, pois enquanto os países ricos levarem vantagens sobre os paí-
ses pobres, haverá dificuldades a esses últimos para trilharem o desenvolvimento econômico.
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População72
Numa análise crítica do processo de globalização, Santos (2001a, p. 173-174) afirma que
Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, 
acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a de-
sejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades 
e possibilidades serão aproveitadas pela política.
Para o autor, o processo de globalização não é irreversível, pois pode alcançar outra 
significação, diferente da atual que aprofunda as desigualdades entre países e, consequen-
temente, as desigualdades sociais, resultando em fluxos migratórios. Um exemplo é o êxodo 
rural, causado pela expansão das áreas monocultoras por grandes empresas multinacionais 
do ramo do agronegócio.
Santos (2001a) também considera a globalização como um processo que pode ser re-
versível e destaca que a mudança histórica em perspectiva deriva de um movimento de 
baixo para cima, tendo como atores principais os habitantes de países subdesenvolvidos: os 
deserdados, os pobres, os excluídos. Sobre essa temática, Kaizeler e Faustino (2012, p. 22) 
ressaltam que
[...] não se deve generalizar a análise dos efeitos de globalização na repartição 
do rendimento, uma vez que cada país tem características próprias, e existem 
outros fatores que influenciam a desigualdade e que devem ser analisados, e são 
realidades diferentes em cada nação.
Nessa perspectiva, evidencia-se a complexidade que envolve o debate sobre a globali-
zação e suas relações com as dinâmicas populacionais.
5.1.2 A relação entre globalização e população
O processo de globalização para a maior parte da humanidade, segundo Santos (2001a, 
p. 142), “acaba tendo, direta ou indiretamente, influência sobre todos os aspectos da existên-
cia: a vida econômica, a vida cultural, as relações interpessoais e a própria subjetividade”. 
Os efeitos da globalização não são homogêneos, principalmente pelo fato de esse processo 
ser o criador da escassez de recursos financeiros e ampliar as desigualdades sociais, fatores 
que se relacionam diretamente com os fenômenos populacionais.
Um exemplo dessa relação se evidencia na afirmação de Martine (2005, p. 3), quando 
destaca que “o migrante vive num mundo onde a globalização dispensa fronteiras, muda 
parâmetros diariamente, ostenta luxos, esbanja informações, estimula consumos, gera so-
nhos e, finalmente, cria expectativas de uma vida melhor”.
Também se referindo aos efeitos da globalização e suas relações com os fenômenos 
populacionais, Tânia dos Santos (2001b) destaca o aprofundamento da crise internacional 
em relação às diferenças entre países ricos e pobres, o que, nas últimas décadas, teve como 
consequência o aumento das desigualdades e a marginalização crescente para a maioria da 
população. Segundo a autora, “milhares de pessoas lutam para sobreviver sob condições 
Os efeitos da globalização sobre a população
Geografia da População
5
73
extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as legiões de perseguidos e de 
refugiados, mas também onde o capitalismo se apresenta como mais próspero” (SANTOS, 
2001b, p. 177).
Nesse contexto, o capitalismo destaca-se como um sistema polarizador e contraditório, 
o que se configura no aumento constante de riquezas em poder de uma minoria, mas tam-
bém expande a pobreza da maior parte da população mundial (SANTOS, 2001b). Considera-
se nessa análise que o termo pobreza é bastante amplo e carece de algumas reflexões sobre a 
complexidade que o envolve.
Ao abordar o conceito de pobreza, Buss (2007, p. 1.578) o aponta como “um conceito 
multidimensional e uma situação real de vida”. Ainda segundo a autor, antes dos trabalhos 
críticos de Amartya Sen (Prêmio Nobel de Economia de 1988), eram considerados pobres os 
indivíduos que viviam com menos de 1 dólar por dia, ajustado pelo poder aquisitivo do país 
ou região. Após os debates de Amartya Sen, esclareceu-se que não é possível estabelecer uma 
linha de pobreza e generalizá-la sem levar em conta as características e circunstâncias pessoais. 
Nessa perspectiva, para Buss (2007, p. 1.578), “a análise da pobreza também deve concentrar-
-se na capacidade da pessoa para aproveitar oportunidades, assim como de fatores como saú-
de, nutrição e educação, que refletem a capacidade básica para funcionar na sociedade”. Esses 
fatores se relacionam diretamente com a qualidade de vida de uma população.
A satisfação das necessidades básicas da população, de acordo com Santos (2001b, p. 
195), requer a “construção de um modelo alternativo de sociedade, no qual formas igualitá-
rias e solidárias possam sobrepor-se aos interesses particulares do capital”. Assim, é impres-
cindível reconhecer, ainda segundo a autora, que a exclusão social só poderá ser superada 
por meio de mecanismos políticos, tendo como objetivo a construção de uma sociedade 
mais justa e que atenda às necessidades básicas de toda a população.
Destaca-se, nessa análise, outro conceito fundamental, a desigualdade internacional, 
que, segundo Kaizeler e Faustino (2012, p. 16), “refere-se à desigualdade entre países devido 
a diferenças do rendimento per capita entre eles”. Evidencia-se também a necessidade de se 
considerar a dimensão política na análise da relação entre globalização e população. Desse 
modo, a principal contradição do capitalismo no contexto da globalização e que precisa ser 
encarada é a crescente concentração de riquezas nas mãos de poucos e o empobrecimento 
cada vez mais intenso da maior parte da população mundial.
5.2 Impactos da globalização sobre 
os indicadores da população
Dadas as relações entre globalização e suas influências em vários campos da sociedade, 
como na economia, na política, no trabalho, na cultura e na educação, seus impactos atin-
gem também os indicadores da população, como, por exemplo, o número de imigrantes, os 
índices de desemprego e os níveis de desigualdade na distribuição de rendas.
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População74
5.2.1 Acesso da população aos meios de subsistência
O impacto da globalização na população, segundo Kaizeler e Faustino (2012, p. 13), 
precisa “ser analisado em todas as suas vertentes, quer econômicas, sociais e políticas, uti-
lizando indicadores que permitam abranger todos os componentes que consideram essen-
ciais para medir a dimensão da globalização”. Essas vertentes mantêm significativas rela-
ções com os fenômenos populacionais, pois influenciam oacesso dos habitantes ao trabalho, 
bem-estar, saúde e educação.
As mudanças advindas do processo de globalização no campo do trabalho, para 
Kaizeler e Faustino (2012), afetam a oferta e procura de emprego, os regimes de trabalho, a 
imigração de mão de obra, os subsídios para o trabalho, os valores dos salários e as próprias 
leis trabalhistas. Esses fatores podem se constituir em dificuldades para encontrar e manter 
o trabalho, que é imprescindível para a subsistência dos cidadãos.
Como consequência da vertente econômica no contexto da globalização, Kaizeler e 
Faustino (2012) citam a inflação, o desenvolvimento financeiro, o grau de urbanização, o 
crescimento da população, a quantidade de população ativa, o grau de industrialização e 
a taxa de desemprego como fatores que interferem na distribuição de renda e determinam 
as diferenças no acesso aos meios de subsistência, o que resulta em desigualdades sociais.
Também destacando a vertente econômica da globalização, Buss (2007, p. 1.576), afirma: 
“o que se tem observado é que as medidas de abertura dos mercados e as considerações de 
ordem financeira e econômica prevalecem sobre as considerações sociais”. Desse modo, por 
privilegiar os interesses econômicos de acumulação capitalista em detrimento dos fatores 
sociais que envolvem, sobretudo, o acesso da população aos meios de subsistência e aos ser-
viços sociais, o processo de globalização influencia de maneira significativa os indicadores 
da população.
Considerando ainda as desigualdades internacionais, Buss (2007, p. 1.578), assinala que 
“são exatamente os pobres que vivem em piores condições sociais, ambientais e sanitárias, 
assim como têm maior dificuldade no acesso aos serviços públicos em geral e de saúde em 
particular”. Ainda de acordo com o autor, os países que têm as piores rendas oferecem as 
piores condições de acesso a políticas públicas, habitações adequadas, saneamento básico, 
água potável, alimentação, educação, transporte, lazer, empregos fixos e condições de segu-
rança no trabalho. Esses fatores são denominados iniquidades	sociais	e	de	saúde.
5.2.2 Influência nos indicadores da população
A vertente social da globalização causa inquietações, no cenário mundial, desde a déca-
da de 1980, o que se expressou no debate sobre políticas públicas para atender as demandas 
advindas desse processo. Segundo Cordeiro (2001, p. 320), “os gastos públicos deveriam ter 
como meta atingir a um determinado conjunto de efeitos demonstráveis por melhoria de in-
dicadores sociais dos segmentos pobres das populações (mortalidade infantil, desnutrição, 
evasão escolar, qualidade da habitação, entre outros)”.
Os efeitos da globalização sobre a população
Geografia da População
5
75
Entretanto, as análises desses indicadores na atualidade revelam que tais políticas não 
se concretizaram. Sobre essas discrepâncias nos indicadores, afirma Buss (2007, p. 1.578) que 
elas “existem entre países e regiões do mundo e entre ricos e pobres no interior dos países”. 
O autor destaca os significativos diferenciais que se verificam entre grupos de países reuni-
dos por nível de desenvolvimento, evidenciando os prejuízos nos indicadores da população 
para as nações mais pobres e menos desenvolvidas, como apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 – Expectativa de vida e taxas de mortalidade, por categoria de desenvolvimento do país.
Categoria de 
desenvol-
vimento
População 
(em 
milhões/ 
2015)
Renda anual 
média (em 
dólares 
americanos)
Expectativa 
de vida 
ao nascer 
(anos)
Mortalidade 
infantil 
(mortes antes 
de 1 ano de 
idade ‰)
Mortalidade 
abaixo de 
cinco (mortes 
antes de 
5 anos de 
idade ‰)
Países menos 
desenvolvidos
745 302 55 98 155
Países de renda 
média-baixa
2.095 1295 72 32 36
Países de renda 
média-alta
582 4.905 73 24 32
Países de 
renda alta
905 25.766 80 4 4
África 
subsaariana
683 550 53 95 148
Fonte: BUSS, 2007, p. 1579; PNUD, 2015. Adaptado.
A análise da tabela releva que a diferença na expectativa de vida ao nascer chega a 25 
anos entre os países de renda alta e os menos desenvolvidos. A taxa de mortalidade infantil 
por nascidos vivos antes de um ano de idade é de apenas 4‰ em países de renda alta e che-
ga a 98‰ nos países menos desenvolvidos.
Quanto à diferença no índice de mortalidade de menores de 5 anos, ela é ainda maior 
entre os países de alta renda, cujo percentual é de apenas 4‰, e os países menos desenvol-
vidos, cujas taxas atingiram 155‰, como apresentado na Tabela 1. Segundo Buss (2007), as 
desigualdades de condições médico-sanitárias e de acesso aos serviços sociais entre pessoas 
pobres e ricas, considerando-se os países pobres, também são acentuadas.
No Brasil, como em várias outras partes do mundo, a “taxa de mortalidade infantil está 
relacionada com a renda das famílias, o nível de educação da mãe, as condições do domicí-
lio, o local em que vive e a situação social da família da criança” (BUSS, 2007, p. 1.579).
Mesmo considerando todos os avanços tecnológicos que possibilitaram melhorias dos 
recursos de saúde, Santana e Krom (2006) destacam que há parte significativa da população, 
sobretudo nos países menos desenvolvidos, sem acesso a esses serviços. Desse modo, os 
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População76
investimentos menores e/ou restritos nos setores de saúde e educação se expressam como 
um decréscimo na qualidade de vida dos cidadãos.
Outro fator destacado por Santana e Krom (2006) é a vulnerabilidade dos indivíduos 
oriunda das formas de se trabalhar e se viver num contexto de constantes pressões do mun-
do globalizado, que traz também o aumento do desemprego, salários reduzidos, piores 
condições de moradia, desinformação, elevação das distâncias entre a casa e o trabalho e 
permanência de precariedade ou inexistência de saneamento básico. Nessa perspectiva, evi-
denciam-se as relações entre o processo de globalização e suas influências nos indicadores 
da população.
5.3 População, produção e consumo
Na análise das relações entre população, produção e consumo, considera-se uma diver-
sidade de conexões que podem ser estabelecidas entre esses conceitos. Sob o ponto de vista 
geográfico, aborda-se tais relações com base nas influências que exercem sobre os fenôme-
nos populacionais.
5.3.1 Relações entre população e produção
A análise das relações entre produção e população pode ser realizada a partir de di-
ferentes enfoques, visto que se trata de uma abordagem que envolve diferentes áreas do 
conhecimento. Dessa forma, pode tratar, por exemplo, da produção de bens de consumo 
destinados a uma determinada faixa etária. Sob o ponto de vista geográfico, considera-se, 
sobretudo, a relação entre produção e atendimento das necessidades básicas e a produção 
do espaço geográfico.
Tendo como referência o exposto, destaca-se, segundo Muteia (2014), o fato de que a 
população mundial quase duplicou nos últimos 50 anos. Tal aumento ocorreu como conse-
quência do advento da geração baby boom (explosão de bebês), expressão que denomina os 
que nasceram entre os anos de 1946 e 1964, imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. 
Desde então a população não parou de crescer, chegando a cerca de 7,5 bilhões de pessoas 
em todo o planeta (dados de 2017).
Segundo Kinkartz (2012), para continuar alimentando toda essa população serão neces-
sários investimentos e desenvolvimento de tecnologias que permitam aumentar a produção 
de alimentos, como, por exemplo, com a melhoria dos solos e da eficiência de cultivo em 
terras agricultáveis.
Conforme o Documento Final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento 
Sustentável, a Rio+20, realizada em 2012, no Rio de Janeiro, não existe deficit de alimentos 
no mundo (ONU, 2012). Porém, os modelos sociais e econômicos são precários e ineficien-
tes. Dessa forma, a fome de milhões de habitantes ainda permanece como resultado das 
desigualdades na distribuição de recursos, tendo como fonte a pobreza e a falta de poder 
Os efeitos da globalizaçãosobre a população
Geografia da População
5
77
aquisitivo, o que impede o acesso a alimentos nutritivos. De acordo com o Documento da 
Rio+20 (ONU, 2012), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
(FAO) estima que as perdas globais de alimentos e desperdícios alcancem 1,3 bilhão de 
toneladas por ano.
Como solução a esse cenário, o Documento da Rio+20 aponta a necessidade de uma 
reforma significativa do sistema de alimentação e de agricultura para garantir a seguran-
ça alimentar das pessoas que sofrem com a fome. Além de garantir a disponibilidade de 
alimentos, o mesmo documento (ONU, 2012) destaca também a importância de garantir o 
acesso a condições de subsistência, como o aumento de postos de trabalho e de rendimentos.
5.3.2 População e consumo
Os bens de consumo, segundo Cortez (2009), funcionam como manifestação concreta 
dos valores e da posição social de quem os possui. Na atividade de consumo desenvolvem-
-se identidades sociais e o sentimento de pertencer a determinados grupos. Nessa perspec-
tiva, o consumo demanda produção e reprodução de valores e se constitui como atividade 
com dimensões políticas, ambientais, urbanas e populacionais. Ao se referir à dimensão 
política do consumo e destacar sua relação com a cidadania, Santos (2007) afirma que:
Quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a moradia, a saúde, o 
lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direitos sociais. Até mesmo 
a política passa a ser uma função do consumo. Essa segunda natureza vai toman-
do lugar sempre maior em cada indivíduo, o lugar do cidadão vai ficando me-
nor, e até mesmo a vontade de se tornar cidadão por inteiro se reduz. (SANTOS, 
2007, p. 155)
Sem a dimensão política, há o risco de associar cidadão a consumidor, ou seja, destituí-
do do seu caráter político. Pode-se esvaziar o sentido de cidadão e reduzi-lo ao de consu-
midor que busca cada vez mais suas conquistas e satisfações individuais. Considerando as 
significativas desigualdades sociais que marcam as sociedades capitalistas, essas conquistas 
também são desiguais ou até inexistentes.
Nessa perspectiva, ao lado de uma parcela de consumidores com um padrão de con-
sumo dispendioso, segundo Cortez (2009), há outra parcela da população que anseia por 
garantir a sobrevivência. Desse modo, ao relacionar população e consumo, fazem-se neces-
sárias políticas que permitam
elevar o piso mínimo de consumo daqueles que vivem abaixo de um padrão de 
consumo que garanta uma vida digna. Ao mesmo tempo, é necessário mudar os 
padrões e níveis de consumo, evitando a concentração de renda, e promover um 
novo estilo de vida mais sustentável. (CORTEZ, 2009, p. 46)
Evidencia-se, assim, a relação entre consumo e sustentabilidade, pois, de acordo com 
Silva, Barbieri e Monte-Mór (2012, p. 422), “alterando-se a quantidade e qualidade dos bens 
consumidos, altera-se também o padrão de geração de resíduos pela população em geral e por 
cada domicílio em particular”. Sobre essa problemática, Martine (2007, p. 182) destaca que a 
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População78
“maioria dos problemas ambientais mais críticos enfrentados pela civilização moderna tem 
suas origens nos padrões de produção e consumo; estes estão claramente centrados nas áreas 
urbanas”. Esse autor aponta ainda uma dimensão importante na relação entre consumo e po-
pulação: a urbanização. Assim, “paradoxalmente, as cidades também apresentam vantagens 
significativas em termos do seu potencial para conciliar as realidades econômicas e demográ-
ficas do século 21 com as exigências da sustentabilidade” (MARTINE, 2007, p. 182).
Considerando a dimensão populacional, quando ocorrem mudanças demográficas, há 
tendência de alterações também na quantidade e qualidade dos bens produzidos, como 
afirmam Silva, Barbieri e Monte-Mór (2012). Ainda de acordo com os autores, as dinâmicas 
demográficas podem afetar diversas características de uma sociedade por meio das formas 
pelas quais uma população se altera em relação à estrutura etária, distribuição espacial, 
estrutura familiar e tamanho absoluto. Desse modo, “a maior ou menor participação percen-
tual de pessoas em tal ou qual grupo etário de uma população terá impacto sobre a curva de 
consumo agregado por idade” (SILVA; BARBIERI; MONTE--MÓR, 2012, p. 425). Destaca-se, 
assim, que o consumo é influenciado também pela renda pessoal ou domiciliar, mantendo 
relações com a estrutura etária e as variáveis demográficas.
 Ampliando seus conhecimentos
Globalização: as 
consequências brasileiras
(SILVA; MOURA, 2014, p. 2-5)
A sociedade brasileira vem enfrentando grandes e irreversíveis trans-
formações a partir do fenômeno da globalização. Este processo, para 
alguns, representa felicidade, mas, para a maioria, vem sendo motivo 
de infelicidade, na medida em que produz efeitos desiguais em diversas 
esferas da vida.
Um efeito imediato pode ser percebido na ruptura da comunicação corpo 
a corpo entre os globais e os locais fazendo com que a comunicação passe 
a ser basicamente realizada através de hardware. Outro efeito da globa-
lização é a extinção dos limites geográficos, em tempos de globalização 
as distancias não importam (BAUMAN, 1999). Por si, as mudanças no 
padrão da comunicação associadas à extinção das distâncias geográficas 
parecem representar um avanço social na medida em que permite a supe-
ração de limites até pouco intransponíveis.
Com efeito, para as elites, que se movimentam na velocidade da men-
sagem eletrônica, os espaços e suas delimitações deixam de importar, a 
distinção entre aqui e lá não significa mais nada. De acordo com Bauman 
Os efeitos da globalização sobre a população
Geografia da População
5
79
“o espaço tornou-se [...] emancipado das restrições naturais do corpo 
humano” (1999, p. 24). As informações que antes respeitavam e acompa-
nhavam a velocidade do corpo, hoje estão instantaneamente disponíveis 
em todo planeta. [...]
A desintegração da vida comunitária também é um fenômeno decorrente 
da globalização. Bauman assevera que, “as elites escolheram o isolamento 
e pagam por ele prodigamente e de boa vontade. O resto da população 
se vê afastado e forçado a pagar o pesado preço cultural, psicológico e 
político do seu novo isolamento” (1999, p. 29). Tal isolamento passa a exi-
gir a constante prática de vigilância que se expressa no aumento sensível 
de câmeras nos grandes condomínios de luxo, que objetivam afastar os 
“vagabundos” de espaços a eles proibidos.
No caso brasileiro, fica evidente esta separação de classes sociais inclusive 
nos espaços públicos, como por exemplo, os horários de frequentar sho-
pping center. Percebe-se uma movimentação durante o dia, em especial 
nos dias de semana, por parte da elite, já nos finais de semana fica mais 
restrito ao “resto” da população, dificilmente ambas as classes frequen-
tam os mesmos horários nos espaços públicos.
Outro exemplo são os espaços de lazer para crianças e jovens; a popula-
ção menos favorecida financeiramente utiliza e explora os espaços públi-
cos (praças e parques da comunidade), já a elite, prefere utilizar clubes 
e áreas de lazer que os próprios shoppings centers disponibilizam. Esta 
prática, muito além de dividir as classes concede certo ar de segurança 
pelos muros e grades que separam os de dentro e os de fora. Ou seja, 
as crianças e os jovens brasileiros já vêm enfrentando, ou melhor, sendo 
moldados/formados para um modelo de sociedade que exclui e separa as 
classes sociais.
Percebe-se a precarização das relações sociais. Para Bauman (2009) um 
espaço é público na medida em que ali se aprendem e, sobretudo, se prati-
cam os costumes de uma vida urbana satisfatória, um espaço que permita 
o livre acesso de homens e mulheres sem restrições. Somente os espaços 
públicos que reconhecem o valor criativo da diversidade e sua capacidade 
de tornar a vida mais intensa conseguem encorajar as pessoas a empe-
nhar-se num diálogo significativo. [...]
O individualismoque a modernidade instaurou traz consigo a insegu-
rança e a ideia de que o medo está em toda parte. Com a supervalorização 
do indivíduo, estes acabam se sentindo frágeis e vulneráveis, o que antes 
Os efeitos da globalização sobre a população5
Geografia da População80
não ocorria, ou ocorria em proporções menores, pois eram/se sentiam 
mais protegidos pelos vínculos sociais existentes. Hoje, o que se percebe 
no Brasil, tomando conta da mente da maioria dos cidadãos, é o medo de 
ser inadequado.
Percebe-se que este medo está batendo na porta das casas dos cidadãos 
brasileiros das mais diferentes classes sociais, principalmente, pelo prisma 
de sentir-se inadequado. Em uma sociedade que valoriza mais o ter do 
que o ser, como é o caso da sociedade brasileira, observa-se um comércio 
fortemente relacionado à vinculação social, ao pertencimento à determi-
nados grupos. Sobretudo, um comércio reforçado pela mídia, que faz com 
que muitos jovens brasileiros “exijam” de seus pais a aquisição de deter-
minado produto (de marca é claro) porque seus colegas têm, esperando 
que, com a posse deste bem se sentirão incluídos no grupo. [...]
 Atividades
1. Considerando-se os efeitos da globalização, analise a maneira como esse processo 
pode ter se manifestado no município em que você reside. Para isso, busque infor-
mações tendo em mente as seguintes questões:
• Há indústrias ou grandes empresas nesse espaço? São nacionais ou multinacio-
nais? Qual a proporção do número de empregados dessas empresas no número 
total de trabalhadores no município?
• Há desigualdades sociais no seu município? Como elas se manifestam nas 
paisagens?
• Quais serviços sociais são disponibilizados no município? Eles são suficientes? 
Todos têm acesso a eles de forma satisfatória?
 De posse desses dados, elabore um texto expressando suas reflexões sobre o assunto, 
relacionando-as às questões populacionais presentes no seu município.
2. É comum haver uma associação entre a globalização dos dias de hoje e os processos 
similares de globalização de séculos passados. No entanto, na fase atual esse pro-
cesso se caracteriza de forma diferente das fases anteriores. Cite as características da 
globalização na atualidade e destaque o motivo de ela se diferenciar dos processos 
de globalização de períodos passados.
3. Ao se referir à dimensão política do consumo e destacar sua relação com a cidadania, 
Santos (2007) afirma que, quando se confundem os termos cidadão e consumidor, a 
moradia, a saúde e o lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direitos 
sociais. Destaque a importância da cidadania no contexto da sociedade de consumo.
Os efeitos da globalização sobre a população
Geografia da População
5
81
 Referências
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 Resolução
1. Nessa atividade você deve verificar a presença ou não de empresas multinacionais 
no município onde vive e a forma como essas organizações influenciam a constru-
ção do espaço e a distribuição da renda. Nesse sentido, pode evidenciar os fatores 
políticos e econômicos que influem nos indicadores sociais e na qualidade de vida 
da população.
2. Destacam-se como característicasda atual fase da expansão capitalista a rapidez com 
que ocorrem os fluxos de capitais, mercadorias e pessoas e a crescente influência do 
processo de globalização nos aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.
3. A cidadania é fundamental para a reflexão crítica sobre produção e consumo. Desse 
modo, é possível colocar em questão os efeitos do consumismo e as dimensões a eles 
relacionados, como o desafio da sustentabilidade, a distribuição de renda e o acesso 
da população aos bens de consumo e à qualidade de vida.
Geografia da População 83
6
Raças, etnias e 
povos do mundo
Introdução
Com a globalização ocorrem diversos contatos entre povos do mundo, seja por 
intermédio dos meios de comunicação, seja por viagens, pelo mercado de trabalho 
ou pela imigração. Nesse contexto, há sociedades ou grupos que apresentam pecu-
liaridades quanto à identidade cultural, pontos de vista, crenças e forma de interação 
com a natureza.
O contato de um indivíduo com aspectos culturais e organizações sociais diferen-
tes pode ser marcado por resistências e conflitos. Por conta disso, diferentes teorias 
sobre as relações internacionais foram sendo lançadas. Algumas já foram superadas, 
outras suscitam intensos debates sobre raça, etnias e suas relações com os movimentos 
da população pelo mundo.
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População84
6.1 Conceitos fundamentais sobre raça e etnias
É comum as pessoas pronunciarem o termo raça em diferentes contextos no cotidiano, 
principalmente relacionando-o aos seres humanos. Mas, afinal, o que é raça? Será que esse 
termo é apropriado para ser referir aos seres humanos? Destaca-se, com esse questionamen-
to, a importância das reflexões sobre raça e etnia.
6.1.1 Raça
O conceito de raça, segundo Santos et al. (2010), engloba as características fenotípicas1, 
como a cor da pele, por exemplo. No entanto, devido à sua ampla utilização, o debate sobre 
o assunto tende a ser mais de cunho social do que científico.
A polêmica que envolve o tema se deve ao fato de que as primeiras teorias que tratavam 
do conceito de raça estavam baseadas no paradigma de raça superior e raça inferior. Nesse 
sentido, o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) pode ser considerado o fundador do 
racismo científico, pois, a partir de suas elaborações, denominadas de evolucionismo social, 
as tipologias e os sistemas classificatórios foram transplantados do mundo biológico para 
o mundo cultural (CHAVES, 2003). As ideias desse cientista reforçavam o pensamento de 
que determinadas características físicas e biológicas poderiam tornar povos e sociedades 
superiores, se comparadas a outras.
Essa perspectiva de Spencer categorizou os povos como superiores, constituídos sobre-
tudo por europeus; e inferiores, cuja maior representatividade seriam os índios. Além disso, 
Spencer classificou as sociedades com base no domínio técnico, considerando as industriais 
como mais civilizadas e evoluídas. Dessa forma, as demais sociedades, como as agrícolas, 
por exemplo, eram tidas como primitivas e atrasadas, devido à incapacidade de seus mem-
bros em melhorar as condições de existência e alcançar um promissor desenvolvimento eco-
nômico (CHAVES, 2003). Para Spencer, no processo de evolução social ocorria uma luta pela 
supremacia, na qual naturalmente os povos superiores, por serem mais fortes e inteligentes, 
pela sua persistência dominavam os povos mais fracos.
Influenciado pelas ideias de Spencer, Charles Darwin (1809-1874) também elaborou 
preceitos evolucionistas baseados na noção de superioridade cultural e racial, reforçando o 
paradigma de raças superiores e raças inferiores (CHAVES, 2003). Em seus preceitos, tam-
bém defendia que as raças superiores naturalmente dominavam as raças inferiores, conside-
rando-se as características biológicas e de seleção natural.
Relacionando o pensamento desses estudiosos à geografia, destaca-se que essa ciência 
se desenvolveu num contexto ideológico e político, em que a ideia de raças superiores e 
inferiores se manifestou nas teorias de produção do espaço pelas sociedades. Nasce, nes-
se contexto, a ideia de determinismo geográfico, tendo como seu principal representante 
Friedrich Ratzel (1844-1904). Nessa perspectiva, o homem é determinado pelo meio no qual 
1 Características morfológicas, fisiológicas e comportamentais de uma espécie ou indivíduo.
Raças, etnias e povos do mundo
Geografia da População
6
85
está inserido e, na luta pela sobrevivência, vencem os mais capazes de se adaptar ao meio 
natural. Sendo assim, o clima europeu, por exemplo, por ser mais ameno, daria origem 
a populações mais valentes e dominadoras, enquanto nas zonas quentes e equatoriais as 
populações seriam mais preguiçosas e pouco dispostas – e, logo, deveriam ser dominadas 
pelas mais fortes (RODRIGUES, 2008).
Ainda sobre as teorias de supremacia das “raças superiores”, destaca-se o trabalho 
do médico e antropólogo brasileiro Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), no fim do 
século XIX e início do século XX, o qual defendia o “branqueamento” da população, que 
se daria devido à mistura de raças oriundas da imigração, a partir do pressuposto de 
que a raça branca era superior às demais. “A ideia de formar um povo mais branco fazia 
parte do pensamento da elite brasileira que acreditava, entre outras coisas, na ‘extinção’ 
dos elementos ‘inferiores’ por meio da mescla progressiva com imigrantes selecionados” 
(NEVES, 2008, p. 243).
Hoje essas ideias são fortemente refutadas, visto que não são as condições naturais do 
meio ou as características biológicas dos povos que determinam superioridade ou inferio-
ridade, e sim o domínio técnico e os interesses na interação entre sociedade e natureza. A 
ciência contemporânea se contrapõe às classificações entre raças ou povos superiores ou 
inferiores e considera que as bases teóricas para a análise das relações sociais no contexto 
do debate sobre a questão racial precisam ser buscadas no contexto social e histórico, que, 
como já citado, passou por transformações significativas ao longo do desenvolvimento 
das sociedades.
Referindo-se especificamente ao termo raça, Santos et al. (2010) enfatizam que ele apre-
senta uma variedade de definições e que geralmente é utilizado para descrever um grupo 
de pessoas que apresentam certas características morfológicas em comum. Os autores des-
tacam, ainda, que a maioria dos estudiosos sobre o assunto admite que o termo raça não é 
científico e só pode ter significado biológico quando o ser se apresenta de forma homogênea 
e estritamente pura, como em algumas espécies de animais domésticos – condições essas 
que não são encontradas em seres humanos (SANTOS et al., 2010).
Sendo o genoma humano composto de cerca de 25 mil genes2, as diferenças mais apa-
rentes, como cor da pele, textura dos cabelos, formato dos olhos e do nariz são determinadas 
por um grupo insignificante de genes. Desse modo, “as diferenças entre um negro africano 
e um branco nórdico compreendem apenas 0,005% do genoma humano” (SANTOS et al., 
2010, p. 122). Assim, há um amplo consenso entre geneticistas e antropólogos de que, sob o 
ponto de vista biológico, raças humanas não existem.
Evidencia-se, portanto, que o conceito de raça envolve uma dimensão social, já que, 
ao longo da evolução das ciências, tentou-se desenvolver bases teóricas para comprovar 
“cientificamente” a superioridade de uma “raça” sobre outras. No entanto, considerando o 
contexto social e histórico que marca as sociedades, não há bases para outro debate que não 
seja pelo viés social e pela busca da superação de preconceitos, sobretudo o racial.
2 Sequência de nucleotídeos no DNA que contém informação genética.
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População86
6.1.2 Etnia
Buscando uma conceituação de etnia a partir do significado dessa palavra, tem-se a 
acepção de “gentio”, que é proveniente do adjetivo grego ethnikos, relacionado à “gente es-
trangeira”. O termo etnia foi concebido pelo antropólogofrancês Georges Vacher de Lapouge 
(1854-1936), com base no paradigma de raças superiores e raças inferiores, e apontava a mis-
cigenação como um fator negativo para o desenvolvimento dos povos.
O emprego do termo etnia ganhou força no início do século XIX, para distinguir as ca-
racterísticas culturais próprias de um grupo, como os costumes e as línguas. Considerando 
que o conceito de raça vem sendo cada vez mais refutado, a concepção de etnia vem ga-
nhando espaço nas ciências sociais, apesar de ser apontado como um conceito que deve ser 
melhor compreendido (SILVA; SILVA, 2006).
Etnia se refere, portanto, ao âmbito cultural de um grupo ou comunidade humana liga-
da por afinidades linguísticas e semelhanças genéticas. Independentemente dos laços con-
sanguíneos, a etnia envolve o sentimento de pertencer a um grupo e compartilhar aspectos 
culturais. Trata-se de um conceito “polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo 
resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da 
aparência física” (SANTOS et al., 2010, p. 122).
Referindo-se ao debate atual sobre o conceito de etnia, Silva e Soares (2011) destacam 
que este envolve a noção de universo cultural que cerca o indivíduo. O fazer parte de um 
grupo étnico não significa necessariamente possuir características físicas semelhantes, mas, 
mais do que isso, avança no sentido de compreender a dimensão sociocultural e as experiên-
cias incomuns que ligam indivíduos ou comunidades num mesmo grupo.
Essa mudança de abordagem do conceito de etnia que valoriza os elementos sociocultu-
rais de um grupo ou comunidade é imprescindível para a análise das trocas, aculturações e 
processos de resistências e transformações que podem ocorrer na interação de determinado 
grupo étnico com aspectos das demais culturas. Com os movimentos migratórios caracterís-
ticos das populações ao longo do tempo, os intercâmbios e o advento da globalização, um 
determinado grupo étnico, ainda que de forma incipiente, pode ter e conhecer aspectos de 
diferentes culturas, origens e identidades.
Destaca-se, ainda, a diferença entre etnia e grupo	étnico. A etnia, segundo Silva e Silva 
(2006), caracteriza-se por abranger um número significativamente extenso de pessoas, o que 
não permitiria uma interação direta entre todas elas. Já o grupo étnico se constitui num 
conjunto de pessoas que mantêm interação entre todos os seus membros, além das caracte-
rísticas que distinguem uma etnia.
A análise da evolução histórica sobre etnia revela que esse conceito não teve caráter es-
tático ao longo do tempo, e diversas ideias, inclusive limitadas e ideológicas, como a questão 
da superioridade de um grupo, por exemplo, foram a ele atribuídas. Desse modo, a ressig-
nificação do conceito de etnia considera as dimensões socioculturais, os debates científicos e 
os embates políticos e sociais entre os diversos grupos humanos.
Raças, etnias e povos do mundo
Geografia da População
6
87
6.2 Os conflitos étnicos
As características culturais e a identidade dão origem a diversos grupos étnicos. No 
entanto, alguns grupos encontram desafios significativos para mantê-las. Assim, destaca-se 
o papel do Estado (como organização política e territorial) em garantir direitos e buscar so-
luções para eventuais conflitos.
6.2.1 Relações entre etnia e Estado
Na análise dos conflitos étnicos, destaca-se o papel do Estado em garantir as condições 
básicas de vida dos seus habitantes. No entanto, diversas são as ações e os interesses do 
Estado em relação aos conflitos étnicos.
Ao se referir às relações entre etnia e Estado, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) destacam 
que o tráfico de escravos dos séculos XVI, XVII e XVIII, as correntes migratórias dos séculos 
XIX e XX, entre outros fatores, deram origem ao um mundo no qual já não existem Estados 
que não sejam constituídos por uma mistura de povos, etnias e culturas. Em diversos desses 
Estados, embora ocorram problemas eventuais, pode-se observar uma convivência pacífica 
entre seus habitantes, como, por exemplo, no Brasil.
Há ainda os Estados nos quais a diversidade étnica é valorizada devido às políticas 
públicas que lhes dão suporte. No entanto, em outros Estados os conflitos étnicos estão esta-
belecidos há longa data com vários focos de tensão. Ao abordar os fatores que desencadeiam 
os focos de conflitos étnicos, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) revelam que a afirmação de 
que os conflitos ocorrem apenas em função do ódio determinado pela diversidade ou pela 
disputa de poder pode deixar de considerar a complexidade que envolve essa problemática.
Nessa perspectiva, aspectos como a ideologia, a coesão de um grupo e o apego às iden-
tidades podem ser direcionados para diferentes interesses. Em relação aos interesses do 
Estado, esses aspectos podem ser usados para o estabelecimento de poder. Como exemplo, 
Vigevani, Lima e Oliveira (2008) citam que nos Estados Unidos os partidos políticos buscam 
apoio em comunidades étnicas, constituindo, portanto, a princípio, uma coalizão multiétnica. 
Desse modo, os candidatos fazem promessas nas campanhas eleitorais e governantes e le-
gisladores tomam certas medidas, visando angariar votos de determinados grupos étnicos.
Destaca-se, ainda, a relação entre Estado e a segregação ou discriminação de grupos 
étnicos. Barata (2009, p. 65) afirma que alguns desses grupos “sofrem vários tipos de des-
vantagens, acumulando-se os efeitos da discriminação econômica, segregação espacial, ex-
clusão social, destituição do poder político e desvalorização cultural”. A autora também 
salienta a restrição de possibilidades de acesso a oportunidades de educação e emprego e a 
ausência de mobilidade social.
No Brasil, apesar de não ter se consolidado um sistema de segregação étnica, segundo 
Barata (2009), a população negra sofre sistematicamente maior desvantagem social e se con-
centra nas regiões mais pobres do país. Além disso, seu nível de desenvolvimento humano 
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População88
(IDH) é menor que o da população geral, assim como seu acesso ao saneamento básico, 
mercado de trabalho e à educação.
Também se referindo à relação entre Estado e etnia, Chiriboga (2006) afirma que
os Estados têm obrigação de proteger e promover a diversidade cultural e adotar 
políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos, para 
que se garanta, assim, a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. 
(CHIRIBOGA, 2006, p. 44)
Evidencia-se, dessa forma, que a resolução dos conflitos e a garantia dos cidadãos à 
vida digna e ao bem-estar passa pelas ações do Estado na promoção de políticas voltadas ao 
respeito às diferenças e ao convívio na diversidade.
6.2.2 Etnias e direitos humanos
No contexto dos conflitos étnicos, perseguições, disputa por territórios, lutas armadas, 
preconceitos religiosos, entre outros fatores, afetam a dignidade e o direito à vida e à liber-
dade. Nesse sentido, destaca-se a importância dos direitos humanos. Para uma melhor com-
preensão dessa temática, faz-se necessária uma reflexão sobre esse conceito e sua evolução.
Abordando o conceito de direitos humanos numa perspectiva histórica, Rabenhorst 
(2008) destaca que os primeiros direitos foram estabelecidos no século XVIII, com a deno-
minação de direitos civis e políticos, tendo como sujeitos de direito os indivíduos sobre os 
quais versam a liberdade de ir e vir, de se expressar, de pensar, de manifestar suas crenças 
religiosas, entre outros.
No século XIX, surgiram os direitos econômicos, sociais e culturais, cujos sujeitos tam-
bém são os indivíduos, mas considerados sob o ponto de vista da coletividade e no plano da 
distribuição dos recursos sociais. De acordo com Rabenhorst (2008, p. 18), “são chamados 
‘direitos-prestação’, posto que exigem uma intervenção por parte do Estado de maneira 
a suprir as necessidades mais básicas dos indivíduos e a propiciar o próprio exercício das 
liberdades individuais” (grifo nosso).O século XX foi o mais significativo em termos de expansão dos direitos humanos. 
Segundo Rabenhorst (2008), foram estabelececidos os “direitos difusos”, os quais não têm 
um sujeito específico de direito, mas sim a humanidade como um todo, e envolvem o di-
reito à paz, ao desenvolvimento, às condições ambientais adequadas, à realização por meio 
do trabalho e ao acesso a meios dignos de subsistência. Ainda no século XX, surgem o que 
Rabenhorst (2008, p. 18) chama de “direitos mais exóticos”, “que tratam dos animais, da 
natureza e dos embriões, por exemplo”. Evidencia-se, desse modo, que os direitos humanos, 
ao longo do tempo, passaram por um processo de expansão e também de especialização.
Assim, o que hoje se convencionou chamar de direitos humanos, segundo Rabenhorst 
(2008), são aqueles correspondentes à dignidade dos seres humanos, não porque o Estado os 
definiu por meio de suas leis ou por acordos da sociedade. São direitos que o sujeito possui 
pelo simples fato de ser humano.
Raças, etnias e povos do mundo
Geografia da População
6
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Relacionando etnias e direitos humanos, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) distinguem 
dois cenários. No primeiro destacam-se as sociedades multiétnicas, onde as relações entre 
indivíduos e grupos ocorrem sem maiores embates. Quando ocorrem, o Estado tem capa-
cidade para equacioná-los e solucioná-los de maneira compatível com a perspectiva dos 
direitos humanos. Em relação à capacidade do Estado nesse contexto, “não significa que 
não ocorram violações desses direitos, já que é improvável que exista um Estado no qual os 
direitos humanos não sejam infringidos de algum modo” (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 
2008, p. 186). Entretanto, a sociedade, nesse cenário, tem certa confiança de que o Estado 
poderá dirimir os conflitos sem, necessariamente, recorrer à violação dos direitos humanos.
No segundo cenário, conforme Vigevani, Lima e Oliveira (2008), o Estado perde ou ne-
gligencia sua capacidade em dirimir e buscar soluções para os conflitos ou, simplesmente, 
não quer solucioná-los, o que constitui uma ausência de resposta às demandas de direitos 
humanos da sociedade ou de parte dela. Assim, “indivíduos e grupos começam a ver uns 
nos outros uma ameaça à sua existência e aos seus interesses; nesse contexto, a eliminação 
dessa ameaça passa a ter caráter prioritário” (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 188).
Essa ausência de resposta do Estado se constituiria em um retorno de indivíduos ou 
grupos sociais às formas primitivas de vida, ou seja, o “fazer justiça com as próprias mãos”. 
Nesse contexto, quanto mais a sociedade recorre à violência para atingir seus propósitos 
políticos, maior é o desgaste da figura do Estado e sua falência na capacidade de solucionar 
conflitos (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008). Desse modo, ainda segundo os autores, há 
um rompimento dos valores e normas essenciais sobre os quais se fundamentam o regime 
internacional de direitos humanos que vem se consolidando desde 1948, com a Declaração 
Universal do Direitos Humanos (ONU, 1998), e complementado pela Declaração de Viena e 
o Programa de Ação de 1993 (ONU, 1993).
Diante da “falência” do Estado, surgem atores não estatais transnacionais que intervêm 
nesses conflitos para a busca de soluções e garantias dos direitos humanos. Vigevani, Lima 
e Oliveira (2008) citam como exemplos dessa intervenção internacional os episódios ocorri-
dos na última década do século XX e na primeira década do século XXI, na Iugoslávia, no 
Afeganistão, no Iraque, em Ruanda, Sudão e Israel-Palestina, nos quais ocorreram ações 
internacionais de caráter humanitário como forma de garantir o bem-estar da população. 
Essas intervenções, no entanto, não estiveram isentas de interesses políticos e econômicos 
por parte das nações que as realizaram.
6.3 A xenofobia e suas causas
As migrações possibilitam o encontro de povos com culturas, pontos de vista, crenças 
e modos de se relacionar diferentes. Nesse contexto, podem surgir resistências ao estabele-
cimento de imigrantes em determinados territórios, com a manifestação de preconceitos e 
exclusão social.
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População90
6.3.1 Xenofobia e preconceito
Para o entendimento da xenofobia é fundamental analisar o significado desse conceito. 
De acordo com o Dicionário Houaiss (2008), xenofobia refere-se à repulsa ou aversão ao que é 
estrangeiro. Conforme Koltai (2008, p. 67), “xenofobia é um termo que vem do grego e que 
quer dizer ‘medo do estrangeiro’ – a palavra xenos remetendo, em grego, tanto ao estrangei-
ro como ao hóspede, aquele que se acolhe e honra”. Também na definição de Amaral (2016), 
de forma literal a xenofobia pode ser traduzida como o medo de estrangeiros. Num sentido 
mais amplo, trata-se da discriminação contra pessoas estrangeiras, que geralmente se mani-
festa em expressões de ódio.
Nesse sentido, o xenófobo assume comportamento de intolerância em relação a pessoas 
que vêm de outros países e culturas, o que desencadeia diversas reações. Entre elas, o pre-
conceito, definido por Dine (1997) como “pré	+	conceito”, o seja, um julgamento antecipado 
sem conhecer ou ouvir o outro. Trata-se, portanto, de uma posição baseada no senso co-
mum, sem uma reflexão ou busca de conhecimento, uma ideia pré-concebida. Ao se referir 
ao preconceito, Silva (2010, p. 562) o destaca como um “sentimento de desconsideração e 
desmerecimento do outro ou da concepção de que esse outro, por algum motivo, possa ser 
alguém de menor valor e possuir menos direitos [...]”.
Entretanto, nem todas as formas de preconceito contra estrangeiros, minorias étnicas, 
diferenças culturais ou crenças podem ser consideradas xenofobia, pois, segundo Vaitsman 
(1998), em vários casos elas são atitudes associadas a ideologias, motivações políticas ou 
choque de culturas. Conforme destaca Amaral (2016), pertencer a uma nação geralmente é 
sinônimo de trazer consigo uma herança étnica com uma cultura distinta das demais nações.
Nessa perspectiva, o estrangeiro é visto com herdeiro de uma cultura diferente e com 
potencial de ameaçar a integridade da própria nação, o que pode gerar sentimento de re-
pulsa em alguns habitantes do país para o qual o migrou. Assim, atitudes discriminatórias 
podem ser enfrentadas pelo estrangeiro no seu cotidiano, como dificuldade de acesso a ser-
viços públicos, emprego e condições de subsistência digna. De acordo com Amaral (2016), 
isso ocorre devido à valorização exaltada da própria nação, ou seja, de um nacionalismo 
excessivo, que acaba por fomentar a xenofobia.
Advindo da xenofobia, o preconceito se expressa em comportamentos que beiram o 
fascismo, com discursos de ódio e repulsa ao estrangeiro. Conforme Santos (2016), esse pre-
conceito dificulta a inserção e permanência de estrangeiros nos países e desvaloriza as ações 
voltadas às demandas sociais dessa população. Dessa forma, “obstaculizam ações que de 
fato reconheçam a liberdade associada à ampliação e consolidação da cidadania” do habi-
tante estrangeiro (SANTOS, 2016, p. 8).
Raças, etnias e povos do mundo
Geografia da População
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Desse modo, evidencia-se a importância do debate e estabelecimento de políticas que 
visem à consolidação da cidadania do estrangeiro e ao combate a preconceitos e todas as 
formas de discriminação. Nesse processo, destaca-se a importância das reflexões sobre os 
motivos que geram o preconceito e da busca de sua superação.
6.3.2 Consequências da xenofobia
Um dos fatores essenciais para garantir aos imigrantes seu estabelecimento e suas con-
dições de subsistência nos países de destino é sua inserção no mercado de trabalho. Mas esse 
mesmo fator pode também se constituir num mecanismo de xenofobia. Conforme Santos 
(2016), o mercado de trabalho para estrangeiros é seletivo e discriminatório, principalmen-
te para as pessoas provenientes dos países pobres e periféricos. Ainda segundo a autora, 
a atual fase do capitalismo, estruturado na circulação de moedas, mercadorias e pessoas, 
inibe alivre circulação da força de trabalho, pois os movimentos sociolaborais são definidos 
a cada momento, conforme as necessidades do mercado “de avançar ou retrair a produção 
nesta ou naquela região, em função de estratégias de dominação” (SANTOS, 2016, p. 13).
Embora a entrada de imigrantes num país apresente uma vantagem sob o ponto de 
vista do mercado, já que amplia o exército de mão de obra à disposição para a exploração, 
os direitos trabalhistas estão sendo cerceados. Nessa perspectiva, “novos limites impostos 
à liberdade de circulação da força de trabalho no mundo desencadeiam, em escala global, a 
volta das concepções do pensamento conservador de que a imigração leva à ‘superpopula-
ção’, causando problemas econômicos e sociais” (SANTOS, 2016, p. 11-12).
Ao se referir à relação entre mercado de trabalho e xenofobia, Vaitsman (1998) desta-
ca o padrão fragmentário na forma como os imigrantes se inserem no mundo produtivo. 
Segundo a autora, há “uma segmentação do mercado em pelo menos dois setores: um pro-
tegido e outro não regulado. E a informalidade tem se ampliado com a implementação de 
políticas de ajuste recessivas que reduzem o nível de emprego formal” (VAITSMAN, 1998, 
p. 564). Tal informalidade reduz as possibilidades do estabelecimento do imigrante de for-
ma a garantir a ele condições financeiras mais promissoras e com qualidade de vida, o que 
pode se converter em situações de exclusão social e discriminação.
A visão do imigrante como um concorrente na busca de inserção no mundo do trabalho 
pode, conforme Santos (2016), inibir os laços de solidariedade. Por esse motivo, em diversos 
casos não “é de estranhar que ‘estrangeiros’ sejam abertamente hostilizados como concor-
rentes na disputa pelos minguados recursos da sociedade” (VAITSMAN, 1998, p. 567).
Evidencia-se, assim, a necessidade de amplos debates e do estabelecimento de políticas 
que possam garantir a subsistência e a integração do imigrante como sujeito de direitos, com 
pleno exercício da cidadania.
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População92
 Ampliando seus conhecimentos
Etnicidade
(VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 189-191)
[...]
Existe entre os estudiosos da etnicidade um grande debate a respeito de 
como defini-la e caracterizá-la. Examinando alguns autores, Szayna (2000) 
entende que há três grandes perspectivas sobre o tema: a primordialista, a 
epifenomenalista e a construtivista.
A perspectiva primordialista baseia-se no argumento de que os grupos 
étnicos são, a priori, “unidades naturais que têm sua coesão derivada de 
inerentes traços biológicos, culturais ou raciais”, que se tornam elementos 
de diferenciação social especificamente pela dicotomia “nós” e “eles” (ibi-
dem:18). De acordo com essa perspectiva, “os grupos étnicos funcionam 
como universos insulares”.
O pertencimento a esses grupos é definido pelo acidente do nascimento e, 
a partir dele, a percepção de que somos distintos uns dos “outros” se con-
solida ao longo da vida. À medida que os indivíduos aprendem e exerci-
tam sua cultura particular e passam a se relacionar socialmente, seja com 
os membros de seu próprio grupo, seja com outros grupos, essa distinção 
vai se afirmando através da comparação das diferenças que existem entre 
uns e outros.
A perspectiva epifenomenalista, de inclinação marxista, “nega que a etni-
cidade, como fenômeno social, tenha qualquer base biológica inerente”. 
Para os epifenomenalista, “são as estruturas de classe e os padrões ins-
titucionalizados de poder na sociedade que são fundamentais para 
explicar eventos políticos, em detrimento de qualquer outra formação 
social baseada na biologia ou na cultura como a ‘etnicidade’” (ibidem). 
Contrariamente à perspectiva primordialista, os epifenomenalistas enten-
dem que as questões étnicas funcionam como uma neblina que encobre 
as lutas políticas e econômicas. A etnicidade sozinha é, “portanto, mera-
mente uma aparência incidental, não é verdadeiramente causa geradora 
de nenhum fenômeno social”.
A terceira perspectiva, denominada construtivista, deriva do pensamento 
weberiano e baseia-se no argumento de que a etnicidade é real, mas cons-
truída. Os grupos étnicos são
Raças, etnias e povos do mundo
Geografia da População
6
93
[...] aqueles grupos humanos que desfrutam de uma crença sub-
jetiva de descendência comum por causa de similaridades físicas, 
culturais ou ambas, ou por causa de memórias da colonização e 
migração. Essa crença deve ser importante para a propagação da 
formação do grupo; não importa se efetivamente há ou não um 
relacionamento de sangue (tradução dos autores).
Combinada com outros fenômenos sociais, a etnicidade pode ser direcio-
nada à ação social. De acordo com Horowitz (1998), na prática raramente 
se trabalha com essas perspectivas de forma rígida, aplicando-se a O con-
ceito [de etnicidade] vincula três componentes cruciais: características 
diferenciadoras (qualquer e/ou todas das seguintes: fé, língua, fenótipos, 
origem ou concentração populacional em uma dada região), um senti-
mento de solidariedade grupal e contato com outro grupo para que se 
estabeleça a ideia de “outro”.
A etnicidade pode ser definida como o sentimento de afinidade que é com-
partilhado pelos membros de um grupo. O pertencimento a esse grupo, 
por sua vez, parte do “mito” da ascendência comum e, ao mesmo tempo, 
da noção de distinção. O grupo étnico deve ser maior do que o familiar, 
embora o sentimento de afinidade compartilhada, que deriva do mito da 
ascendência, possa ser bastante semelhante àquele que caracteriza os laços 
de família – ainda que a ascendência não seja o único fator capaz de gerar 
sentimentos coletivos. Para Moore, o que caracteriza os grupos étnicos são 
as fronteiras linguísticas, culturais, raciais e/ou religiosas. Um indivíduo 
pode ser membro de um grupo étnico “[...] via autoidentificação, por ser 
tratado como tal por não-membros do seu grupo ou em ambos os casos”
Na visão de Hobsbawm, a etnicidade está ligada à origem e à descendên-
cia comuns, de forma que “[...] a base crucial de um grupo étnico, como 
forma de organização social, é cultural e não biológica”.
As várias definições e caracterizações atribuídas à etnicidade mostram a 
complexidade dos temas a ela relacionados. Para nossos objetivos, o que 
importa é captar a realidade das consequências políticas que deles decor-
rem, seja no plano interno dos países, seja pelos efeitos desestabilizadores 
que acarretam nos âmbitos regionais e mundiais. A falta de consenso em 
torno das definições do termo não diminui sua importância no debate 
sobre os grandes problemas vividos pela humanidade ao longo do século 
XXI. Dessa forma, conhecer a estrutura do conflito étnico pode ser útil 
na medida em que ajuda a pensar sobre a perda – ou a negligência – da 
capacidade dos Estados de dirimir os conflitos internos ou sobre sua 
Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População94
disposição de promover os direitos humanos. Constatada sua incapaci-
dade, esses Estados poderiam ser definidos como Estados falidos e, nessa 
condição, possivelmente estaria legitimada a ingerência internacional. [...]
 Atividades
1. De acordo com os conceitos de raça, há uma certa polêmica que envolve o assun-
to e diferentes interpretações sobre essa conceitualização. No entanto, existe amplo 
consenso entre geneticistas e antropólogos de que, sob o ponto de vista biológico, 
raças humanas não existem. Entreviste pelo menos três pessoas para saber o que 
elas definem como raça e se aplicam esse conceito aos seres humanos (por questões 
de ética na pesquisa, garanta o sigilo dos entrevistados; para isso, use somente as 
terminologias entrevistado a; entrevistado b; entrevistado c).
 De posse das informações e tendo como base as reflexões sobre o conceito de raça, 
registre por escrito as conclusões a que chegou.
2. Conforme Barata (2009), é comum a segregação e discriminação de determinados 
grupos étnicos, tendo como consequência a exclusão social e adesvalorização cul-
tural. Busque e apresente informações sobre grupos étnicos excluídos e discrimina-
dos no Brasil. Para isso, tenha como referência questões como: a) características dos 
grupos; b) tipo de exclusão a que são submetidos; c) fatores que geram a exclusão e 
discriminação; d) o papel do poder público em transpor a exclusão/discriminação.
3. Busque reportagens sobre os temas imigração e xenofobia. Analise as situações noticia-
das tendo como referência as questões: a) De quais grupos partiram as ações xenofó-
bicas?; b) Houve intervenção de entidades nacionais ou internacionais?; c) Quais as 
consequências da xenofobia para os alvos dessa prática?
 Elabore um texto expressando as conclusões a que chegou.
 Referências
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Raças, etnias e povos do mundo6
Geografia da População96
 Resolução
1. Nessa questão, espera-se que você detecte nas entrevistas a relação que muitos fa-
zem do conceito de raça com diversos povos, como, por exemplo, “raça de gente tal”. 
No entanto, relacionando as falas dos entrevistados aos conceitos trabalhados no 
texto, você concluirá que, socialmente, não faz sentido falar em raças para se referir 
ao contexto social dos grupos humanos.
2. Nessa atividade, você deve encontrar e relatar informações relacionadas aos grupos 
minoritários, por exemplo, alguns grupos indígenas brasileiros que encontram difi-
culdades em manter suas terras, seus direitos e seus aspectos culturais.
3. Nessa questão você deve encontrar notícias sobre diferentes grupos étnicos que so-
frem perseguições relacionadas à xenofobia ou sobre as dificuldades que imigrantes 
encontram para se estabelecer, sobretudo, nos países europeus. Espera-se que você 
detecte as ações do Estado ou de instituições internacionais na busca de soluções 
para os conflitos ou a garantia dos direitos humanos.
Geografia da População 97
7
População e meio ambiente
Introdução
Desde os primórdios da humanidade, os avanços de domínio técnico vêm permi-
tindo ampliar as formas de interação entre sociedade e natureza. Para atender diferen-
tes necessidades e interesses, sobretudo após a Revolução Industrial, formas preda-
tórias de exploração dos recursos naturais criadas pelo homem têm causado diversos 
impactos ambientais.
Considerando o aumento populacional e a crescente demanda por recursos natu-
rais, vários desafios se colocam na busca de formas de interação com a natureza que 
amenizem tais impactos e promovam a conservação do meio ambiente. Além da 
dimensão ambiental desses impactos, sua análise exige considerar também a forma 
como essa problemática se relaciona com os fenômenos populacionais.
População e meio ambiente7
Geografia da População98
7.1 Os conceitos de meio ambiente e população
Ao pensar sobre meio ambiente, é comum vir à mente florestas, rios, plantas, animais. 
Porém, quando se reflete sobre a relação entre o ser humano e o meio ambiente, este termo ga-
nha uma conotação mais específica, o que envolve considerar também seus aspectos sociais.
7.1.1 O conceito de natureza
Diversos movimentos sociais ganharam impulso significativo na década de 1960, entre 
eles o movimento ecológico, que trouxe ao debate reflexões e ampliação dos conceitos re-
ferentes às questões ambientais. Nessa perspectiva, segundo Gonçalves (2006), abordagens 
críticas envolvendo o modo de produção capitalista, o modo de vida consumista e as ações 
do cotidiano passaram a ser uma importante categoria de análise.
Assim, questões como desmatamento, extinção de espécies, uso de agrotóxicos, explo-
são demográfica, poluição da água e do ar, urbanização desenfreada, diminuição das áreas 
cultiváveis devido à construção de grandes barragens, ameaça nuclear, guerra bacteriológi-
ca, corrida armamentista e tecnologias que possibilitam concentração de poder ganharam 
destaque nos debates ambientais.
No que diz respeito aos conceitos associados aos problemas ambientais, destacam-se 
os debates e a ressignificação de meio ambiente e os paradigmas1que o sustentaram ao longo 
da sua evolução. Assim, meio ambiente, que numa concepção mais tradicional era relacio-
nado apenas aos aspectos físicos e naturais, passou a ter uma conotação mais abrangente, 
envolvendo também uma dimensão social. Mas o entendimento dessa evolução conceitual 
do termo meio ambiente requer reflexões também sobre a evolução de outro conceito, qual 
seja, o de natureza.
A análise dos contextos de aplicação do termo natureza revela que, na maioria das vezes, 
refere-se apenas aos aspectos de flora e fauna, como as florestas, os pássaros, os animais. 
Trata-se, portanto, de ideias preestabelecidas, que retiram do debate e análise a dimensão 
social que envolve esse conceito. É como se o ser humano, como ser social, também não 
fizesse parte da natureza. Nesse sentido, faz-se necessário refletir e (des)construir esse con-
ceito a partir de discussões e reflexões que possibilitem ampliar as perspectivas de modo a 
incorporar a ele os aspectos sociais (LIMA; OLIVEIRA, 2011).
Referindo ao mesmo conceito, Gonçalves (2006, p. 23) afirma que “toda sociedade, toda 
cultura, cria, inventa uma determinada ideia do que seja natureza. Nesse sentido, o con-
ceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens”. Para 
1 De acordo com Kuhn (2011, p. 13), um paradigma pode ser definido, de modo simplificado, como “as 
realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e 
soluções modulares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.
População e meio ambiente
Geografia da População
7
99
evidenciar sua premissa, o autor destaca que as sociedades indígenas tradicionais são evoca-
das como modelos de uma relação harmônica entre ser humano e natureza, já que os indíge-
nas retiram dela apenas o que é necessário para o seu sustento. Essa forma de se relacionar 
com o meio ambiente não provoca modificações significativas como os impactos gerados 
pelas sociedades industriais.
Nessa perspectiva, explicita-se claramente os paradigmas de interação entre ser huma-
no e natureza. Desse modo, na concepção indígena tradicional, o ser humano está para a 
natureza, que é vista como uma “progenitora”, aquela que provê os meios de subsistência 
humana, e, como tal, é respeitada ou reverenciada. Por outro lado, nas sociedades indus-
triais, o conceito de natureza é visto a partir da concepção de que a natureza está para o 
homem. Assim, ela “é um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito embora 
saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza (GONÇALVES, 2006, p. 
26). Gonçalves destaca que a maioria dos seres humanos é considerada também como obje-
tos (no sentido de força de trabalho para a exploração) que podem ser descartados.
Essa separação entre ser humano e natureza, ainda de acordo com o autor, é uma carac-
terística marcante do pensamento do chamado mundo ocidental, cujas origens vêm da Grécia 
e Roma clássicas. Tal distinção, segundo Gonçalves (2006, p. 23), “constitui um dos pilares 
[por meio] do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espi-
ritual, enfim, a sua cultura”. Essa perspectiva de dominação da natureza como se o homem 
dela não fizesse parte cristalizou-se a partir da Revolução Industrial, evidenciando uma 
concepção que desconsidera a dimensão social do meio.
Esse paradigma se manifestou de forma significativa na elaboração das bases científicas 
e do advento das ciências, sendo que as ciências da natureza tiveram sua gênese separadas 
das ciências do homem. Analisando essa separação em nossos dias, Dulley (2004) destaca 
que não se pode dissociar o natural do social, pois, além da degradação do meio ambiente, 
outros temas, como a exploração intensa da força de trabalho com precárias remunerações, 
as desigualdades sociais, o trabalho infantil e o tratamento cruel aos animais, são considera-
dos parte da interação com a natureza.
Deve-se admitir, portanto, que o conceito de natureza é uma construção social, ou seja, 
pensada pelo ser humano, que é capaz de acumular os conhecimentos e refletir sobre eles. 
Dulley (2004) ilustra essa concepção por meio do seguinte esquema (Figura 1):
Figura 1 – Relações entre natureza e ambiente.
Natureza Ambiente
(conjunto de meios ambientes das diversas 
espécies conhecidas pelo homem)
(100% natural) (modificado)
Fonte: DULLEY, 2004, p. 20.
População e meio ambiente7
Geografia da População100
Conforme o autor, a natureza existe independentemente da existência e/ou conheci-
mento dos seres humanos. Desse modo, “engloba não só o que o homem não conhece, mas 
também o que conhece, pode perceber/conhecer, inclusive quanto a sua própria espécie e 
às inter-relações dinâmicas que nela ocorrem” (DULLEY, 2004, p. 20). Nesse contexto, o en-
tendimento sobre a forma como os humanos se relacionam com a natureza requer reflexões 
sobre o conceito de meio ambiente.
7.1.2 O conceito de meio ambiente
Assim como o conceito de natureza, o debate sobre o significado de meio ambiente sus-
cita reflexões baseadas em sua conotação mais tradicional. Em linhas gerais, esse termo é 
entendido como a descrição do quadro natural do planeta, compreendendo relevo, clima, 
vegetação, fauna e flora dissociados do ser humano ou de qualquer sociedade humana 
(MENDONÇA, 2008).
Destaca-se, assim, uma concepção fortemente naturalista, apresentando os seres 
humanos como simples elementos do ambiente. Tal compreensão, segundo Mendonça 
(2001), é observada tanto no senso comum como em alguns debates intra e extra-acadê-
micos, como se o quadro natural fosse mais importante que as ações humanas que nele 
se estabelecem. Desse modo, deixa-se de considerar “os sistemas sociais produtivos hu-
manos, quer trabalhem no sentido favorável, quer desfavorável ao ambiente e natureza” 
(DULLEY, 2004, p. 20).
Os debates buscando a evolução conceitual de meio ambiente tiveram início na 
Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, também cha-
mada de Eco-92 ou Rio-92. Numa perspectiva de ressignificação do conceito e superação de 
uma abordagem parcial, ou seja, considerando apenas a dimensão natural, o termo meio tem 
causado certo desconforto entre os estudiosos sobre o tema. Mendonça (2001), baseando-se 
em Carlos Walter Porto Gonçalves, propõe o abandono desse termo, justamente por signi-
ficar “metade” ou “parte”, o que denota a abordagem limitada dos problemas ambientais, 
sem considerar sua dimensão social.
Um exemplo dessa concepção pode ser identificado na definição de meio ambiente ex-
pressa na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio 
Ambiente no Brasil (PNMA) no seu Art. 3º: “Para os fins previstos nesta Lei, entende-se 
por: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem 
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas [...]” 
(BRASIL, 1981). Isto é, o conceito definido na PNMA não aborda o aspecto social das intera-
ções entre o homem e as demais espécies no planeta.
Na atualidade, o debate sobre o conceito de meio ambiente vem apresentando uma forte 
tendência à utilização do termo socioambiental, já que se tornou insuficiente abordar o tema 
somente com base no quadro natural. Desse modo, segundo Mendonça (2001, p. 117), “o ter-
mo ‘sócio’ aparece, então, atrelado ao termo ‘ambiental’ para enfatizar o necessário envolvi-
mento da sociedade enquanto sujeito, elemento, parte fundamental dos processos relativos 
à problemática ambiental contemporânea”.
População e meio ambiente
Geografia da População
7
101
O termo socioambiental se aplica sobretudo aos países pobres e em desenvolvimento, 
pois neles “as condições de vida da população humana, bem como sua qualidade de vida2, 
encontram-se completamente degradadas” (MENDONÇA, 2008, p. 71). Para saber sobre 
questões ambientais desse grupo de países, o autor destaca que, primeiramente, é preciso no 
mínimo garantir ascondições de sobrevivência e de cidadania das populações, que, em sua 
maioria, ficam à margem de uma minoria hereditariamente no poder. A concepção social 
de meio ambiente apresentada por Mendonça (2008), é de importância fundamental para a 
análise de como esse meio vem sendo tratado pelas populações dos diversos países do mun-
do, considerando seus estágios de desenvolvimento econômico e político.
Outro exemplo do reflexo da evolução conceitual de meio ambiente numa perspecti-
va mais ampla pode ser identificado na Resolução n. 306 do Conselho Nacional de Meio 
Ambiente – Conama, de 5 de julho de 2002, que traz a seguinte definição: “conjunto de 
condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural 
e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 2002).
Evidencia-se, assim, que no Brasil, embora com significativas diferenças entre as con-
cepções teóricas e legislativas, o conceito de meio ambiente vem se ampliando, uma vez 
que a Lei n. 6.938/81 se referia apenas aos aspectos naturais e, em 2002, o Conama destacou, 
em sua definição, os componentes social, cultural e urbanístico em interação com os fatores 
físicos, químicos e biológicos.
Nessa perspectiva, segundo Gonçalves (2006, p. 140), “a complexidade da questão am-
biental decorre do fato de ela se inscrever na interface da sociedade com [...] a natureza”. 
No que se refere à análise das relações entre os temas população e meio ambiente, essa con-
cepção mais abrangente, ou seja, que envolve os aspectos físicos e os componentes sociais 
em interação, é fundamental, uma vez que permite considerar a forma como determinada 
população humana interage com a natureza. A partir dessa análise, é possível destacar os 
diferentes processos decorrentes dessa interação, como a produção, o consumo, a distribui-
ção dos recursos naturais disponíveis, as condições de subsistência e a qualidade de vida.
7.2 O consumismo e os recursos naturais
Uma das características marcantes das sociedades capitalistas é o elevado estímulo ao 
consumo, cuja condição básica de existência são os recursos financeiros. No entanto, dadas 
2 Em relação ao conceito de qualidade	de	vida, Pereira, Teixeira e Santos (2012) esclarecem que ele pode 
ser definido a partir de quatro abordagens gerais: econômica; psicológica; biomédica; e geral ou ho-
lística. “A abordagem socioeconômica tem os indicadores sociais, como instrução, renda e moradia, 
como principal elemento [...]. A abordagem psicológica busca indicadores que tratam das reações sub-
jetivas de um indivíduo às suas vivências, dependendo assim, primeiramente, da experiência direta 
da pessoa cuja qualidade de vida está sendo avaliada e indica como os povos percebem suas próprias 
vidas, felicidade, satisfação [...]. As abordagens médicas tratam, principalmente, da questão de ofere-
cer melhorias nas condições de vida dos enfermos e condições de saúde [...]. As abordagens gerais ou 
holísticas baseiam-se na premissa segundo a qual o conceito de qualidade de vida é multidimensional, 
apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa 
de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar 
[...]” (PEREIRA, TEIXEIRA; SANTOS, 2012, p. 242-243).
População e meio ambiente7
Geografia da População102
as contradições e desigualdades dessas sociedades, nem sempre seus habitantes encontram 
as condições básicas para alcançar uma boa qualidade de vida.
7.2.1 Consumo e qualidade de vida
A produtividade de mercadorias e seu consumo, ao longo de cerca de duzentos anos 
de industrialização do planeta, segundo Mendonça (2008), ocorreu de forma acelerada, po-
rém desigual, em função do desequilíbrio na distribuição de renda, decorrente da intensa 
exploração da força de trabalho. Além disso, como “esse processo de industrialização des-
respeitou a dinâmica dos elementos componentes da natureza, ocorreu uma considerável 
degradação do meio ambiente” (MENDONÇA, 2008, p. 10).
Esse contexto evidencia que o desenvolvimento é o principal responsável pela destrui-
ção da biodiversidade e das fontes naturais, pois o capitalismo, conforme Alves (1994, p. 
226), “não consegue ser ao mesmo tempo socialmente inclusivo, justo e ambientalmente 
sustentável”. Considera-se que esses fatores impactam de forma significativa nas condições 
que garantiriam à população menos favorecida a qualidade de vida.
Essa degradação, segundo Mendonça (2008), vem comprometendo a qualidade de vida 
da população por meio de impactos ambientais e sociais. O autor destaca que as consequên-
cias mais perceptíveis são as alterações na qualidade do ar e da água, os “acidentes” ecoló-
gicos ligados às queimadas, o desmatamento, a extinção de espécies e as poluições marinha, 
fluvial e lacustre. Já no aspecto social, são exemplos de impactos a fome, a miséria, o desem-
prego, a falta de moradia, a falta de saneamento básico e a desigualdade na distribuição de 
renda. Essa “queda da qualidade de vida se acentua onde o homem se aglomera: nos centros 
urbano-industriais. Aqui, os rios, fundos de vale e bairros residenciais periféricos dividem o 
espaço com o lixo e a miséria” (MENDONÇA, 2008, p. 10). Relacionando qualidade de vida 
da população ao ambiente urbano, Martine (2007, p. 185) afirma que
Grande parte da população urbana atual é pobre e vive em condições que amea-
çam a saúde e a própria vida. As cidades congregam a maioria dos problemas 
ambientais gerados pelos padrões de produção e consumo, gastando enormes 
quantidades de energia para a indústria, transporte, calefação, iluminação e ele-
trodomésticos e gerando volumes prodigiosos de lixo e poluição.
Sendo esse cenário estabelecido pelo capitalismo, tendo o estímulo ao consumo, à pro-
dução e à venda de mercadorias como principal estratégia de acumulação de renda, a con-
dição básica para acesso aos bens de consumo é o próprio capital. Desse modo, dadas as 
desigualdades sociais que marcam a sociedade industrial, devido à exploração da força de 
trabalho ou às dificuldades de parte da população para acesso ao capital e às condições bá-
sicas de sobrevivência, acirra-se o comprometimento da qualidade de vida.
Nessa perspectiva, conforme Alves (1994, p. 227), o “modelo atual de desenvolvimento 
é insustentável tanto em termos ambientais quanto sociais. O alto crescimento econômico 
dos últimos 200 anos reduziu a pobreza absoluta, mas não foi capaz de garantir o mínimo 
de justiça na distribuição da riqueza”. Assim, o modelo de desenvolvimento baseado no 
consumo evidencia-se como insustentável por demandar elevada quantidade de recursos 
População e meio ambiente
Geografia da População
7
103
naturais, o que causa impactos ambientais. Além disso, a industrialização e a mecanização 
do campo são fatores que estimulam o elevado crescimento das cidades, os quais, conforme, 
Martine (2007), potencializam-se pelo papel crucial que desenvolvem na atual estrutura de 
desenvolvimento. No entanto, as cidades concentram também significativos problemas que 
envolvem a degradação da vida humana, como a falta de moradia, alimentação, emprego 
e miséria, questões essas que não podem deixar de ser consideradas ao se debater a relação 
entre consumo e qualidade da população.
7.2.2 População, urbanização e meio ambiente
A explosão demográfica é uma contingência que, segundo Mendonça (2008), precisa ser 
abordada ao se debater o caos da qualidade de vida da população. Porém, é preciso com-
preendê-la no contexto socioeconômico e político do fim do século XX e primeiras décadas 
do século XXI.
No Pós-Segunda Guerra Mundial, a teoria neomalthusiana defendeu o controle de na-
talidade como forma de desacelerar o crescimento populacional, tendo em vista a dispo-
nibilidade de recursos. Nessa visão, a redução desse ritmo de crescimento representaria 
uma decolagem para o desenvolvimento, já que o aumento da população levaria a uma 
enorme pressão sobreos recursos naturais, gerando um estresse sobre os recursos da Terra 
(DETERS; GULLO, 2013).
Numa perspectiva de críticas às ideias neomalthusianas, no entanto, o estresse referente 
à demanda de recursos naturais para atender as necessidades da população não seria prove-
niente do crescimento desta, e sim da intensa exploração desses recursos visando aos inte-
resses capitalistas. Como consequência, tem-se um intenso estímulo ao consumo e, ao mes-
mo tempo, a intensa exploração ou expropriação da mão de obra, o que se manifesta numa 
desigual distribuição de renda e no aumento da pobreza (DAMIANI, 2004). Ainda que a 
relação entre população e demanda por recursos naturais possa ser abordada sob diferentes 
pontos de vista, não se pode desprezar a problemática entre população e meio ambiente.
Na análise dessa relação, é preciso considerar o desenvolvimento como principal de-
terminante, tanto das atividades econômicas quanto dos padrões de produção e consumo. 
Desse modo, conforme Martine (2007, p. 184), a “sustentabilidade exige, então, que os es-
forços de desenvolvimento em determinado território ou país atentem não somente para 
padrões de produção e consumo, mas também para alocação espacial da atividade econô-
mica”. No que diz respeito a essa espacialização das atividades econômicas, o autor destaca 
a conexão entre população e crescimento das cidades, ou seja, o processo de urbanização.
Nesse sentido, considera-se urbanização o aumento da população das cidades (todo 
aglomerado permanente de atividades que não se caracterizam como agrícolas) em relação 
à população do campo (SCARLATO, 2005). Em nível global, toda expansão populacional 
ocorrerá a partir da urbanização e, segundo Martine (2007), o crescimento vegetativo se tor-
nará, cada vez mais, o fator dominante dessa ampliação. O autor ressalta que as cidades não 
serão as vilãs do crescimento demográfico, mas, ao contrário, vão se constituir num fator 
significativo de declínio da fecundidade.
População e meio ambiente7
Geografia da População104
Assim, conforme afirma Martine (2007, p. 186), a “fecundidade urbana é sempre mais 
baixa do que a rural. Além disso, os migrantes nas cidades acabam tendo menos filhos do 
que teriam se tivessem permanecido nas áreas rurais”. Esse fator pode ser considerado na 
análise da relação entre crescimento populacional e demanda de recursos naturais, porém, 
é imprescindível levar em conta também os padrões de desenvolvimento, como a produção 
e o consumo insustentáveis, que influenciam o aumento da pobreza e a ameaça à qualidade 
de vida.
Desse modo, as cidades apresentam impactos ambientais significativos, porque, con-
forme Martine (2007, p. 186), “concentram tanto a população quanto a atividade econômica 
e a riqueza, mas tais efeitos estão associados a um determinado padrão de civilização e 
poderiam ser abrandados”. Nesse sentido, na relação entre população, urbanização e meio 
ambiente, faz-se necessário considerar a influência dos interesses capitalistas e dos modelos 
de desenvolvimento econômico.
7.3 Aspectos culturais e interação com o ambiente
Considerando o domínio técnico3, as sociedades apresentam diferentes maneiras de 
interagir com o ambiente. Desse modo, quanto maior o domínio técnico, maior a capacidade 
de interação e de impactos causados nesse processo.
7.3.1 Meio ambiente e cultura
Ao analisar os aspectos culturais e sua interação com o ambiente, faz-se necessária uma 
reflexão sobre o conceito de cultura. Conforme Pfeiffer (2012), esse conceito, surgido entre o 
fim do século XVIII e início do século XIX, sintetiza o vocábulo inglês culture e a expressão 
germânica kultur, empregados para simbolizar os aspectos espirituais de uma comunidade, 
e o termo francês civilization, que se refere às realizações materiais de um povo.
Nessa análise, Pfeiffer (2012) define a cultura como costumes, modos peculiares de 
vida, sistemas de instituições que funcionam conjuntamente, teias de significados sociais e 
o que de melhor foi pensado e produzido por uma sociedade. Admite-se que a palavra cul-
tura é polissêmica, ou seja, pode adquirir diferentes significados. Sachs (2000) a define como 
todo conhecimento humano sobre o meio em que se vive. Ela seria, portanto, um mediador 
entre sociedade e natureza, um conjunto de valores dos usos e tudo aquilo que diz respeito 
à atividade estética no sentido amplo da palavra.
Nessa conceituação, Sachs (2000) destaca a evolução do pensamento sobre a forma de 
conceber o meio ambiente, englobando as dimensões física e social. No entanto, na prática 
ainda há muito a ser feito para garantir, à parte significativa da população dos diversos paí-
ses do mundo, uma boa qualidade de vida.
3 Capacidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento de ferramentas e técnicas que permitem poten-
cializar formas de interação do ser humano com a natureza.
População e meio ambiente
Geografia da População
7
105
Nesse sentido, analisando a mediação entre sociedade e natureza no contexto do ca-
pitalismo, entende-se que o crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento. 
Pode haver um crescimento que comporta custos sociais e ambientais, entendidos por Sachs 
(2000) como “mau desenvolvimento”. Portanto, é preciso distinguir o “crescimento selva-
gem”, no qual existe crescimento, mas maior custo ambiental e menor custo social, do “cres-
cimento socialmente benigno”, que tem um custo social maior (SACHS, 2000).
O foco das preocupações com os impactos do crescimento econômico nas últimas déca-
das, segundo Foladori e Taks (2004), deslocou-se do meio ambiente para as pessoas. Nessa 
perspectiva, há um aumento da tendência de se pensar os incrementos positivos da dimen-
são ambiental e social da produção para promover o desenvolvimento humano. Assim, “a 
relação entre sociedade e meio ambiente vem se afirmando como uma das principais preo-
cupações, tanto no campo das políticas públicas quanto no da produção de conhecimento” 
(FOLADORI; TAKS, 2004, p. 323).
No que diz respeito à relação entre cultura e meio ambiente, Sachs (2000) destaca que é 
preciso prestar atenção à diversidade cultural e à riqueza das formas de aproveitamento dos 
recursos naturais que diversas culturas humanas criaram ao longo dos séculos.
7.3.2 População, meio ambiente e planejamento
A situação do meio ambiente vem se agravando cada vez mais, o que evidencia, se-
gundo Silva e Francischett (2012), a necessidade de se buscar alternativas para melhorar o 
equilíbrio ambiental e social. Nesse sentido, destaca-se o planejamento ambiental, que se 
caracteriza, segundo Santos (2004, p. 24), como
[...] um processo contínuo que envolve a coleta, organização e análise siste-
matizadas das informações, por meio de procedimentos e métodos, para che-
gar a decisões ou escolhas acerca das melhores alternativas para o aprovei-
tamento dos recursos disponíveis. Sua finalidade é atingir metas específicas 
no futuro, levando à melhoria de uma determinada situação e ao desenvolvi-
mento das sociedades.
Ressalta-se que esse planejamento precisa ter um caráter integrador dos aspectos físicos e 
sociais, atuais e potenciais, numa perspectiva que leve em conta o conjunto de elementos que 
compõem o meio ambiente. De acordo com Silva e Francischett (2012, p. 3), “o planejamento 
ambiental voltado ao interesse meramente econômico ainda precisa ser reavaliado”. Ressalta-
se a importância do planejamento como forma de garantir à população de determinado espa-
ço geográfico a manutenção das condições básicas de subsistência e qualidade de vida.
Nesse sentido, o planejamento ambiental é imprescindível para melhorar os fatores que 
interferem nos indicadores da população, como, por exemplo, o acesso à assistência médi-
co-sanitária e ao saneamento básico e serviços de saúde que podem se refletir nas taxas de 
mortalidade e expectativa de vida. No que diz respeito à qualidade de vida, o planejamento 
se destaca por propiciar acesso a condições ambientais satisfatórias e formas de consumo 
sustentáveis.Assim, o planejamento ambiental se torna um elemento fundamental na pro-
moção de estratégias de melhorias sociais e ambientais das sociedades.
População e meio ambiente7
Geografia da População106
 Ampliando seus conhecimentos
O que é qualidade de vida? Rejeitando a 
subjetividade, relatividade e obviedade da 
questão
(HERCULANO, 1998, p. 2-5 )
[...]
O que é exatamente qualidade de vida e qual seria o grau de priori-
dade desta discussão em um país onde milhões de pessoas não têm suas 
necessidades básicas atendidas? À primeira vista, parece uma discussão 
secundária, a ser feita apenas depois de cumpridas certas etapas. Mais ou 
menos como, por exemplo, discutir a qualidade do feijão apenas depois 
de garantir que haja feijão, inda que duro ou queimado. Uma outra pos-
sível reticência com o tema estaria vinculada aos seus aspectos subjeti-
vos e suas variações culturais. Mas seria a qualidade de vida algo mesmo 
por demais subjetivo para que pudesse se constituir em objeto de estudo? 
Seria uma questão puramente adjetiva, de grau, um valor meramente sub-
jetivo, fora, portanto, do campo científico?
Seria um luxo (como o faz supor a publicidade em geral, sempre a vin-
cular qualidade de vida a requinte e sofisticação, ao “detalhe que faz a 
diferença”), e, portanto, algo supérfluo diante de questões mais substan-
tivas, como garantir um “patamar mínimo de dignidade e de condição 
humana”? Mas, qual é este patamar e como defini-lo? Como determi-
nar as “necessidades básicas”? E quem as determina? Pressupor que o 
debate sobre qualidade de vida excede ao debate prioritário sobre o fim 
da miséria não seria mais uma discriminação que perpetuaria a desigual-
dade e injustiça sociais? As carências habitacionais e alimentares da popu-
lação desvalida tendem a ser pontual e parcialmente assistidas através 
de programas mais ou menos modestos e paliativos, a beneficiar apenas 
pequena parcela de amplíssimo contingente populacional que permanece 
desatendido. São intervenções tidas como realistas e viáveis, que projetam 
casas populares de 16 m² para grupos familiares de cerca de 10 pessoas; 
que visam a produção e distribuição de leite de soja de “vacas mecânicas” 
que um presidente brasileiro considerou “intragável”; que produzem 
sopas industriais para crianças pobres subnutridas, feitas com as “xepas” 
(sobras) do mercado hortigranjeiro. São ainda decisões governamentais 
que autorizam a instalação de complexos industriais altamente poluentes 
População e meio ambiente
Geografia da População
7
107
em nome da abertura de um mercado de trabalho que transforma pesca-
dores em desempregados.
A crítica a estas iniciativas pode ser vista como preciosismo romântico: 
como questionar a construção dessas “casas”, quando a alternativa é o 
barraco de papelão sob os viadutos, ou simplesmente as ruas? Não será 
superficialismo discutir o leite da vaca mecânica e a xepa para as crian-
ças pobres, quando a alternativa parece ser a de deixá-las à míngua? Não 
será romantismo defender florestas e águas puras, quando a alternativa 
é a de ter uma população desempregada e miserável? Críticas assim são, 
todavia, importantes, pois abrem espaço para perguntas cabais: por que, 
exatamente, os governos não podem trabalhar com a real possibilidade de 
prover todas as crianças de leite natural, carnes e frutas frescas, prover os 
sem-teto de habitações onde realmente todos caibam e a população, a um 
só tempo, possa ter emprego racional e ambiente ameno e equilibrado?
Mencionamos até aqui a primeira relutância em discutir e examinar o que 
é qualidade de vida, e que se baseia em entender que qualidade de vida 
é algo adjetivo e relativo. Há outras críticas ao tema: a questão do enten-
dimento sobre o que é qualidade de vida também pode ser vista como 
desnecessária, não por ser desimportante ou pouco palpável, mas pela 
sua obviedade. Algo que ninguém saberia definir, mas que, parodiando a 
referência da poeta Cecília Meirelles à liberdade, todos entendem o que é. 
Talvez por isto a ênfase dos estudos sobre qualidade de vida enfoque pre-
dominantemente a sua mensuração, ficando embutido na escolha sobre 
o que mensurar os pressupostos do que se entende venha a compor a 
qualidade de vida.
A avaliação/mensuração sobre a qualidade de vida de uma população 
vem sendo proposta de duas formas:
1) Em primeiro lugar, examinando-se os recursos disponíveis, a capaci-
dade efetiva de um grupo social para satisfazer suas necessidades. Por 
exemplo, podemos analisar as condições de saúde pela quantidade de lei-
tos hospitalares e número de médicos disponíveis, ou o grau de instrução 
pelo número de escolas, jornais publicados, níveis de escolaridade atingi-
dos, etc.; podemos avaliar as condições ambientais pela potabilidade da 
água, coliformes e partículas de substâncias nocivas em suspensão, pela 
emissão aérea de poluentes, pela quantidade de domicílios conectados às 
redes de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, pela dimen-
são per capita de áreas verdes e espaços abertos urbanos disponíveis para 
amenizar a paisagem cinza do concreto e asfalto urbanos.
População e meio ambiente7
Geografia da População108
2) Uma segunda forma de estimar a qualidade de vida é avaliar as neces-
sidades, através dos graus de satisfação e dos patamares desejados. 
Podemos, assim, tentar mensurar a qualidade de vida pela distância entre 
o que se deseja e o que se alcança, ou seja, pelos estágios de consciência 
a respeito dos graus de prazer ou felicidade experimentados (Scanlon, in 
Nusbaum & Sen, 1995: 185); ou a partir de um julgamento que se propõe 
substantivo, feito pelo próprio pesquisador, sobre o que tornaria a vida 
melhor.
No plano individual, a avaliação da qualidade de vida pela distância rela-
tiva entre o que se deseja e o que se alcança pode confundi-la, por um 
lado, com resignação (no caso da pouca distância entre o que se tem e 
o que se quer). No extremo oposto, a percepção queixosa sobre a baixa 
qualidade da própria vida poderia estar relacionada a um consumismo 
desenfreado (tal foi a hipótese de Marcuse nos anos 60, no contexto euro-
peu, para quem o consumismo explicaria porque nos sujeitamos a perma-
necer na infelicidade da exploração, submetendo-nos a esforços de traba-
lho dispensáveis em um mundo que já teria condições tecnológicas para 
nos fazer viver com mais constância as alegrias do não-trabalho em uma 
praia limpa, nos dias ensolarados de verão). Ou seja, escravos do con-
sumo, estaríamos condenados a querer mais, a amealhar mais e, portanto, 
a não gozar a vida pela vida. Este enfoque tende a enxergar na publici-
dade aspectos simplesmente manipulatórios, levando-nos a querer o que 
normalmente não quereríamos. [...]
 Atividades
1. Crie um glossário com suas próprias palavras sobre os conceitos principais 
abordados no capítulo: natureza, sociedade, meio ambiente, cultura e plane-
jamento ambiental.
2. Conforme Gonçalves (2006), toda sociedade, ou toda cultura, cria um conceito de 
natureza. Como exemplo, o autor cita as sociedades indígenas tradicionais que são 
evocadas como modelos de uma relação harmônica entre ser humano e natureza. 
Busque informações sobre uma tribo indígena brasileira, com o propósito de analisar 
a forma como esses indivíduos se relacionam com a natureza. Com os dados obti-
dos, elabore um texto analítico destacando a maneira como essa sociedade concebe 
a natureza.
População e meio ambiente
Geografia da População
7
109
3. O planejamento ambiental se destaca na busca de alternativas para melhorar o equi-
líbrio entre ambiente e sociedade. Para isso, esse planejamento necessita abordar a 
problemática ambiental em questão numa perspectiva do conjunto de elementos que 
a compõem. Pesquise na internet um projeto ambiental, com o fim de analisar os pro-
pósitos dele e detectar se seu desenvolvimento busca uma perspectiva integradora 
dos aspectos ambientais e sociais. Com base em sua análise, registre por escrito as 
conclusões a que chegou.Referências
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lo/3864706.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2017.
 Resolução
1. Em seu glossário, você pode conceituar: a natureza incluindo, além da dimensão na-
tural, o ser humano que dela faz parte; o meio ambiente numa perspectiva de conjunto 
dos aspectos físicos e humanos; a cultura como o conjunto de práticas, conhecimen-
tos, costumes e formas de interação com a natureza; a sociedade como um conjunto de 
seres que mantêm entre si diversas relações sociais; e o planejamento ambiental como 
estratégia para projetos integradores de aspectos físicos e humanos.
2. Para a elaboração do texto, você deve identificar a forma como a sociedade indíge-
na em questão se relaciona com a natureza. Nesse sentido, pode-se destacar uma 
relação mais harmônica, em que os indivíduos retiram da natureza apenas o que é 
preciso para manter a própria subsistência.
3. Na análise do projeto, destaque a forma como se pretende alcançar soluções para 
melhorias dos aspectos sociais envolvidos e se há uma perspectiva que integra estes 
aos aspectos ambientais.
Geografia da População 111
8
A estrutura da 
população brasileira
Introdução
O território brasileiro foi se configurando ao longo do tempo, o que influenciou a 
distribuição da população pelo país e conferiu aos brasileiros uma identidade cultural. 
Assim, diversos fatores marcaram também as características da população brasileira, 
dando origem a uma estrutura populacional diversificada.
A análise dessa estrutura da população do país permite conhecer suas especifi-
cidades, como a distribuição por sexo, as faixas etárias predominantes, as atividades 
econômicas que concentram a população ativa, entre outras.
Essas informações são de importância significativa para o planejamento e o esta-
belecimento de políticas que envolvam investimentos em setores como, por exemplo, 
saúde e educação. Dessa forma, o presente capítulo procura abordar os aspectos rela-
cionados à estruturação da população brasileira.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População112
8.1 As pirâmides etárias
As informações sobre a população são representadas por meio de gráficos de barras 
denominados pirâmides etárias, as quais facilitam a visualização de cada estrutura popula-
cional. Tais pirâmides se constituem num “importante instrumento de análise demográfica, 
pois permite afirmar se a população observada possui uma estrutura jovem ou envelhecida” 
(CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004, p. 32).
8.1.1 Representações da estrutura da população
O estudo da estrutura da população tem como propósito analisar como os habitantes de 
determinada área estão distribuídos no território, considerando critérios como: idade, sexo, 
atividades econômicas e condições socioeconômicas. A obtenção e o tratamento desses da-
dos trazem significativas contribuições para se planejar o atendimento das necessidades da 
população em estudo, como, por exemplo, com a construção de creches, escolas, moradias e 
hospitais, o aumento do número de empregos e de aposentadorias.
O conceito de estrutura etária refere-se à composição dos habitantes de determina-
do espaço geográfico por idade (jovens de 0 a 19 anos, adultos de 20 a 59 anos e idosos 
a partir de 60 anos) e a estrutura por sexo indica a quantidade de habitantes dos sexos 
masculino e feminino.
A Figura 1 demonstra a estrutura da população brasileira, representadapor meio desse 
tipo de gráfico.
Figura 1 – Pirâmide etária da população absoluta do Brasil – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
Numa pirâmide etária, o total de mulheres que vivem no espaço geográfico represen-
tado é indicado numa coluna à direta, e o número de homens, numa coluna à esquerda. A 
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
113
análise da disposição desses dados numa pirâmide pode revelar aspectos das condições de 
vida e importantes indicadores sobre a população nela representada.
A pirâmide a seguir representa a estrutura da população da Etiópia em 2017 (Figura 2).
Figura 2 – Pirâmide etária da Etiópia – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
Tendo como referência as características dessa pirâmide etária, observa-se que ela apre-
senta a base larga, o meio afunilado e topo estreito, uma representação típica da situação 
de países “pobres”. Assim, a base larga indica altas taxas de natalidade, o meio indica que 
as taxas de mortalidade são também altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa 
(CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004).
A pirâmide etária da Figura 3, por sua vez, representa a estrutura da população da 
França em 2017.
Figura 3 – Pirâmide etária da França – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População114
A pirâmide da França apresenta a base relativamente estreita, o meio é pouco afunilado 
e topo é largo, caracterizando uma situação típica de países “ricos”. Assim, a base estreita 
indica baixas taxas de natalidade, o meio indica que as taxas de mortalidade são também 
baixas e o topo indica que a expectativa de vida é alta (CASTRO, 2015).
A seguir, a pirâmide etária da Figura 4 representa a estrutura da população da Coreia 
do Norte em 2017.
Figura 4 – Pirâmide etária da Coreia do Norte – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
A pirâmide da Coreia do Sul apresenta algumas camadas inferiores mais estreitas do 
que as superiores, o meio é pouco afunilado e o topo começa a se alargar, caracterizando 
uma situação típica de países em fase de transição demográfica. Assim, essas camadas infe-
riores mais estreitas que as superiores indicam o início do declínio das taxas de natalidade, 
enquanto as camadas superiores indicam a redução das taxas de mortalidade e o topo indica 
que a expectativa de vida começa a aumentar (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004, p. 32).
Se a base de uma pirâmide etária é estreita, a população idosa é mais significativa. À 
medida que a população envelhece, o país muda; por exemplo, diminui-se a necessidade 
de novas creches e escolas de ensino fundamental, mas aumenta a pressão por vagas nas 
universidades e novos empregos. A diferença de sexo provoca desigualdades na expectativa 
de vida média da população, nas doenças mais frequentes e nas causas de mortalidade. Isso 
porque homens e mulheres apresentam diferentes respostas a certas doenças, em parte por 
suas características biológicas e também por hábitos distintos.
8.1.2 Estrutura da população por atividade econômica
A análise da estrutura da população por atividade econômica tem como referência os 
três setores da economia: primário, secundário e terciário. Para melhor entender a relação 
entre distribuição da população e atividades econômicas, faz-se necessário refletir sobre o 
conceito de setores da economia.
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
115
Segundo Pereira (2012), para facilitar os estudos sobre as atividades econômicas de um 
determinado espaço geográfico, convencionou-se que elas fossem divididas em setores. Tal 
distinção, ainda conforme o autor, teve como base a crítica de economistas clássicos, das 
décadas de 1930 e 1940, sobre a distância entre a produção industrial, da qual provinham 
mercadorias mais sofisticadas, e as atividades mais primárias, como a retirada de produtos 
diretamente da natureza. Por esse motivo, “as atividades como a agricultura recebem o 
termo de atividades primárias, já que têm suas atividades diretamente relacionadas com a 
natureza” (PEREIRA, 2012, p. 25).
Considerando uma maior distância entre a produção e a natureza, as atividades industriais 
são definidas como secundárias. Como terciárias, são considerados os serviços, que “correspon-
dem à classe de trabalho mais distante da natureza, na qual seria uma forma muito especial da 
produção social” (PEREIRA, 2012, p. 25). Sistematizando esses setores, tem-se:
a. Setor primário: abrange as atividades que provêm matéria-prima, como a pecuária, 
a agricultura e o extrativismo (vegetal, animal e mineral).
b. Setor secundário: é composto pelas atividades de transformação de matérias-pri-
mas em bens e consumo (como as indústrias e a construção civil).
c. Setor terciário: composto pelas atividades de comércio e prestação de serviços; é 
muito amplo, já que envolve, entre outros, o trabalho na educação, o transporte, os 
serviços de saúde, os trabalhos com profissionais liberais etc.
Destaca-se, na análise da estrutura da população por atividades econômicas, o conceito 
de População Economicamente Ativa (PEA), representado pela parcela da população que 
realiza atividades remuneradas (CASTRO, 2015). Os desempregados, desde que estejam 
procurando emprego, também fazem parte dela. Destaca-se, ainda, o conceito de População 
Economicamente Inativa (PEI), que corresponde à parcela da população que não exerce ati-
vidades remuneradas, como, por exemplo, os aposentados, os estudantes e as donas de casa.
8.2 A transição demográfica da 
população brasileira
Nas últimas décadas, a população brasileira vem passando por mudanças importantes, 
não só no que diz respeito ao número de habitantes, que vem aumentando, mas, principal-
mente em sua estrutura etária. As mudanças que ocorrem num determinado espaço geográ-
fico, relacionadas à redução nas taxas de natalidade, caracterizam um processo denominado 
de transição demográfica (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004).
8.2.1 Fatores de transição demográfica
Para os estudos sobre esse tema, foi proposta, já nas primeiras décadas do século XX, 
por Thompson W. S. (1929) e Landry A. (1934), a teoria da transição demográfica. Segundo 
Vasconcelos e Gomes (2012), essa teoria foi formulada considerando-se a relação entre o 
crescimento populacional e o desenvolvimento econômico.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População116
Desse modo, tendo como referência os países europeus, o processo de modernização das 
sociedades e o desenvolvimento econômico estariam na origem das taxas de natalidade e 
mortalidade, causando mudanças no ritmo de crescimento da população (VASCONCELOS; 
GOMES, 2012). Assim, segundo as mesmas autoras, essa transformação constitui-se na pas-
sagem de uma sociedade rural e tradicional, com elevadas taxas de natalidade e mortalida-
de, para uma sociedade urbana e industrial, com baixas taxas de natalidade e mortalidade.
No decorrer dessa transição, primeiro as populações passariam por desequilíbrios de-
mográficos caracterizados por um descompasso entre as taxas de natalidade e mortalidade. 
A redução precoce das taxas de mortalidade, acompanhada pela redução das taxas de nata-
lidade, promoveria ritmos acelerados de crescimento populacional. O alcance do equilíbrio 
populacional viria com a redução, em momento posterior, das taxas de natalidade e, con-
sequentemente, do ritmo de crescimento da população (VASCONCELOS; GOMES, 2012).
Uma fase de crescimento acelerado da população mundial ocorreu do fim do século XIX 
até a metade do século XX, pois descobertas de novos recursos na área médica e o desenvolvi-
mento da indústria farmacêutica influenciaram as taxas de natalidade e mortalidade em vários 
países, inclusive no Brasil. A expectativa de vida também aumentou de forma considerável.
Na atualidade, os índices de natalidade vêm caindo em todo o mundo. Nos países eu-
ropeus, para evitar a diminuição da população ea contratação de mão de obra estrangeira, 
são realizadas campanhas para as famílias terem mais filhos. As taxas de natalidade nos 
países subdesenvolvidos também têm diminuído, embora de forma mais lenta. Os fatores 
que provocam essa queda são a diminuição da mortalidade e a urbanização (CERQUEIRA; 
GIVISIEZ, 2004). E provavelmente essas taxas continuarão caindo nas próximas décadas.
8.2.1.1 População brasileira e fatores de transição
Entre as décadas de 1940 e 1960, houve, no Brasil, um declínio expressivo nas taxas de 
mortalidade, com as taxas de natalidade se mantendo em níveis altos. Assim, a população 
apresentou rápido crescimento, com uma população majoritariamente jovem (CARVALHO; 
RODRÍGUEZ-WONG, 2008).
O declínio nas taxas de mortalidade da população brasileira ocorreu devido aos avan-
ços da medicina a partir da década de 1940. Antes disso, o número de óbitos causados por 
doenças como febre amarela, sarampo, tuberculose, peste bubônica e cólera era elevado. A 
falta de esgoto e saneamento básico permitia que essas doenças se alastrassem, vitimando 
um número elevado de habitantes, quadro esse que só foi alterado décadas depois, devido 
ao uso de vacinas e antibióticos.
A transição demográfica da população, segundo Brito (2008), é um dos fenômenos po-
pulacionais mais importantes que tem marcado a economia e a sociedade brasileiras, desde 
a metade do século XX. No país, essa transição apresenta uma originalidade, definida pelas 
particularidades históricas e pelos fortes desequilíbrios regionais e sociais.
A partir da década de 1960, a redução das taxas de fecundidade, segundo Carvalho e 
Rodríguez-Wong (2008), iniciou-se nas regiões brasileiras mais desenvolvidas e nos grupos 
mais privilegiados, porém se generalizou de forma relativamente rápida, desencadeando 
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
117
um processo de transição etária que ainda está em curso. O resultado provável desse proces-
so para as próximas décadas, de acordo com os mesmos autores, será uma população “qua-
se-estável”, com perfil envelhecido e com ritmo de crescimento baixíssimo ou até negativo.
Para Brito (2008), no entanto, ainda se espera um expressivo crescimento da popu-
lação brasileira nas próximas décadas, devido aos efeitos das taxas de fecundidade no 
passado sobre a estrutura etária da população, marcada por expressiva proporção de 
mulheres em idade reprodutiva. Assim, ainda que baixas, as taxas de fecundidade fa-
vorecem o aumento da população do país. Como afirma Brito (2008, p. 7), “as projeções 
indicam para 2050 que o tamanho da população brasileira será de 253 milhões de habi-
tantes, a quinta maior do planeta, inferior apenas às da Índia, China, EUA e Indonésia”. 
O processo de transição demográfica da população do Brasil é evidenciado nas seguintes 
pirâmides etárias (Figura 5):
Figura 5 – Estrutura da população brasileira em 1960, 2010 e projeções para 2020.
Fonte: IBGE, 2013.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População118
A análise da pirâmide etária da década de 1960 revela que o grupo etário de 5 a 9 anos 
declinou consideravelmente nas pirâmides de 2010 e 2020. Observando essa pirâmide, nota-
-se que a proporção de idosos não chegava a 5% e que a população jovem era predominante. 
Já na pirâmide de 2000, verifica-se uma diminuição do número de crianças e um aumento 
da população adulta e idosa. De acordo com as estimativas, a pirâmide de 2020 apresenta 
um número maior de idosos, caracterizando o envelhecimento da população. Esse fato tem 
ocorrido no mundo todo, principalmente em países desenvolvidos e em desenvolvimento, 
como é o caso do Brasil.
Considerando as três pirâmides etárias apresentadas, constata-se, conforme Carvalho e 
Rodríguez-Wong (2008), que o formato extremamente piramidal da década de 1960 começa 
a ter sua base diminuída, anunciando um processo de envelhecimento e uma distribuição 
praticamente retangular da população brasileira no futuro. As autoras destacam que, por se 
tratar de projeções, os pesquisadores mais céticos podem tratá-las como exercício de “futu-
rologia”. No entanto, é fato comprovado que a transição das taxas de mortalidade e fecun-
didade, que estimulam as mudanças demográficas, já avançaram significativamente, sendo 
improvável a reversão dessa tendência.
Além disso, há evidências históricas representadas por países da Europa Ocidental, 
como Itália, Portugal e Espanha, que já vivenciaram esse processo de transição demográfi-
ca, com o envelhecimento da população e um crescimento vegetativo ou natural próximo 
a zero ou negativo. Nesse contexto, segundo Carvalho e Rodríguez-Wong (2008), há a 
necessidade de se definir e implantar políticas que possam aproveitar as oportunidades 
e os desafios impostos por esse processo, como investimentos na educação de crianças e 
jovens e melhorias nas áreas de saúde e previdência social, para garantir a qualidade de 
vida, sobretudo dos idosos.
Desse modo, a temática da transição demográfica precisa mobilizar não apenas os estu-
diosos sobre o assunto, mas também profissionais de diversas áreas relacionadas à educa-
ção, à saúde, ao trabalho e à qualidade de vida e todos os cidadãos que consideram impor-
tante o bem-estar coletivo e das futuras gerações.
8.3 Os movimentos da população brasileira
A configuração do espaço geográfico brasileiro é marcada por diversos ciclos econômi-
cos. Assim, determinadas atividades econômicas representaram fatores de atração de popu-
lação, o que deu origem a movimentos migratórios pelo território brasileiro.
8.3.1 Produção do espaço brasileiro e mobilidade da 
população
Considerando as migrações sob os enfoques espacial e temporal, pode-se afirmar que 
as migrações internas no território brasileiro sempre foram intensas. Conforme Scarlato 
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
119
(2005, p. 391), “a quase totalidade dos movimentos migratórios ocorridos em sua história 
estiveram relacionados com condições socioeconômicas”. Assim, ao longo do tempo, áreas 
economicamente ativas começaram a atrair mais indivíduos e localidades de expressiva di-
namicidade econômica entraram em declínio, passando a dispersar a população, enquanto 
outras áreas sempre se constituíram em verdadeiros vazios demográficos. No Brasil, embo-
ra inúmeros fatores contribuam para a mobilidade da população, a Região Nordeste acaba 
sendo o melhor exemplo, devido à quantidade de pessoas que migram dessa localidade 
para outras regiões do país.
Andrade (1998) destaca o Nordeste brasileiro como exemplo de uma área típica de dis-
persão da população. Os motivos dessa dispersão estão associados, segundo Scarlato (2005), 
à desigualdade na distribuição de renda. Numa perspectiva história dessa mobilidade no 
Brasil, Andrade (1998) afirma que, no século XVII, a exploração do ouro em Minas Gerais 
atraiu uma significativa quantidade de migrantes originários da região Nordeste à procura 
de riqueza ou mesmo de melhores condições de vida e trabalho.
Nas últimas décadas do século XIX, o surto da borracha também levou à migração de 
habitantes da Região Nordeste, que, subindo os afluentes do rio Amazonas, povoaram áreas 
ricas em látex (ou caucho) em terras indígenas. A queda dos preços da borracha e a conse-
quente diminuição da produção ocorridas na primeira década do século XX, no entanto, 
dispersaram parte dessa população, que voltou ao Nordeste ou foi para outras áreas econo-
micamente atrativas, enquanto outra parcela permaneceu na Amazônia, povoando extensos 
trechos de florestas (ANDRADE, 1998).
A partir de 1930, a consolidação física e política do mercado nacional, segundo Oliven 
(2010), estimulou a concentração de atividades industriais no Sudeste. Já São Paulo e Rio de 
Janeiro, com crescimento acelerado, atraíram também muitos migrantes nordestinos, que 
acabaram trabalhando em sua maioria na construção civil e em serviços domésticos. De 
acordo com Andrade (1998), ainda na década de 1930, o norte doParaná, o sul do Mato 
Grosso (atual Mato Grosso do Sul) e Goiás receberam migrantes em busca das oportunida-
des que surgiram com a ampliação das fronteiras agrícolas, áreas nas quais havia a influên-
cia da economia paulista.
Já na segunda metade da década de 1950, com a edificação de Brasília, foi significativo 
o número de migrantes do Nordeste que se transferiram para os campos de obras. Do mes-
mo modo ocorreu intensa migração durante a ampliação da estrada Transamazônica, que 
passou a ligar o Leste e o Oeste do país. Nesse período, muitos desses indivíduos foram 
trabalhar nessa obra e se fixaram às suas margens como colonos (ANDRADE, 1998).
Nos fluxos migratórios na produção do espaço geográfico brasileiro, também se des-
tacou o êxodo rural. Esse processo, segundo Scarlato (2005), foi decorrente das influências 
capitalistas no campo, que desestruturaram as relações tradicionais de trabalho, como a 
parceria e o arrendamento. Desse modo, com a falta de terras para plantar e os postos de 
trabalho cada vez mais escassos, devido à mecanização da agricultura e a substituição das 
lavouras por pastagens, além da especulação imobiliária, foram grandes as levas de traba-
lhadores rurais que migraram, sobretudo, para as grandes cidades.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População120
8.3.2 Tendências atuais de mobilidade da população 
brasileira
A partir da década de 1980, as dinâmicas econômicas, sociais e demográficas brasileiras 
passaram por transformações significativas, que envolveram também a redistribuição espacial 
da população. Destaca-se como tendência “a interrupção da concentração populacional que, 
durante décadas, caracterizou a dinâmica demográfica nacional” (CUNHA, 2003, p. 218).
Verifica-se nesse contexto uma maior interiorização da população no território brasilei-
ro, decorrente, conforme Menezes (2000), da construção de diferentes territorialidades na-
cionais, ou seja, espaços que passam a conter cada vez mais poder em função de fatores eco-
nômicos ou valores agregados, como tecnologia, mão de obra qualificada e infraestrutura.
Ainda na perspectiva das tendências atuais da mobilidade da população, Cunha (2003) 
chama essas territorialidades nacionais de novos espaços regionais, que passam a interferir 
nos padrões locacionais da população dentro e fora dos grandes centros urbanos, o que 
se caracteriza com uma relativa desconcentração demográfica. Tal relatividade se deve ao 
fato de que a desconcentração é circunscrita ao conjunto das regiões metropolitanas, princi-
palmente no Sudeste do país. Evidencia-se, assim, “a força que o fenômeno metropolitano 
ainda tem sobre a dinâmica nacional e a forma como as características deste tipo de assenta-
mento humano se repetem no país” (CUNHA, 2003, p. 218).
Menezes (2000), por sua vez, destaca a tendência de “migrações de curta distância”, 
predominantemente inter-regionais e intermunicipais e que podem ser sazonais, como em 
áreas de modernização agrícola, e de “migrações de retorno”, que estão associadas a uma 
gama de contextos variados, sendo o mais significativo o retorno ao Nordeste brasileiro.
Destacam-se, também, segundo Cunha (2005), as migrações: “entre-estaduais”, sobretu-
do entre as áreas metropolitas e o interior; “intrametropolitanas”, que ocorrem de forma se-
melhante em praticamente todas as áreas metropolitanas do país; e “urbano-rurais”, ligadas 
em boa parte à expansão das áreas urbanas onde o habitante, embora more no espaço rural, 
realize atividades, por exemplo, de trabalho. O autor distingue, ainda, como tendência os mo-
vimentos migratórios internacionais, que, devido à intensidade com que vêm ocorrendo, le-
varam os demógrafos a desconsiderar a tese de que o Brasil teria uma população “fechada”.
 Ampliando seus conhecimentos
Movimentos migratórios: um novo olhar para 
o século XXI
(BAENINGER, 2015, p. 13-14)
[...]
No início do século XXI, as migrações internas tornaram-se ainda mais 
complexas, sem a definição – que anteriormente poderia se visualizar – dos 
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
121
rumos da migração no país, considerando o comportamento verificado 
em décadas anteriores. As análises recentes acerca dos processos migra-
tórios permitem apontar a redefinição da relação migração-industrializa-
ção (Singer, 1973), migração-fronteira agrícola (Martine e Camargo, 1984), 
migração-desconcentração industrial (Matos, 2000; Baeninger, 1999), 
migração-emprego e migração-mobilidade social (Faria, 1991).
O contexto atual da economia e da reestruturação produtiva, em anos 
recentes, induz um novo dinamismo às migrações no Brasil, onde os flu-
xos mais volumosos são compostos de idas-e-vindas, refluxos, reemigra-
ção, outras etapas – que pode ser mesmo o próprio local de origem antes 
do próximo refluxo para o último destino. Assim, as migrações assumem 
um caráter mais reversível (Domenach e Picouet, 1990) do que nas expli-
cações que nos pautávamos até o final do século XX. Essa reversibilidade 
diz respeito, tanto às áreas de origem, com um crescente vai-e-vem como 
às de destino, com o incremento da migração de retorno.
É nesse contexto, que a migração interestadual, para o conjunto do país, 
continuou em patamares expressivos: 9.587.459 pessoas entre 1970-
1980, 10.614.223 pessoas entre 1980- 1991, 12.478.790 entre 1991-2000, e, 
11.407.076 pessoas entre 2000-2010. Esse decréscimo da virada do século 
XX para o XXI, não significa, contudo, uma tendência à estagnação das 
migrações; ao contrário, denota outros arranjos da própria migração 
interna, bem como seus atuais desdobramentos, com novas modalidades 
de deslocamentos populacionais em âmbitos locais e regionais. São Paulo 
passou, por exemplo, a ter saldo migratório negativo com diferentes esta-
dos do Nordeste e com demais regiões do país; o Nordeste apresenta 
intensas migrações com o Centro-Oeste; e Santa Catarina concentra pro-
cessos migratórios regionais.
 Nesse contexto de redefinição de áreas de retenção, perdas e rotatividade 
migratórias (entram migrantes e saem migrantes), redesenha-se a mobi-
lidade espacial da população no Brasil, com processos migratórios que 
resultam na expansão dos espaços de rotatividade migratória. A tendên-
cia de perda migratória do Sudeste revela a consolidação dos espaços da 
migração no país, onde a complementaridade migratória – historicamente 
existente entre Nordeste-Sudeste – se redefine num cenário de rotativi-
dade migratória.
Desse modo, o cenário migratório do século XXI apresenta dois grandes 
vetores redistributivos nacionais. O primeiro é caracterizado pela “dis-
persão migratória metropolitana”, que em nível nacional é marcado pelos 
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População122
significativos volumes de migrantes de retorno interestaduais, em espe-
cial que partem das metrópoles brasileiras para outros estados. O segundo 
vetor se verifica no âmbito intra-estadual que também sai das metrópoles, 
com a conformação de importantes fluxos migratórios metrópole-interior. 
Indica, portanto, a “interiorização migratória”, onde trajetórias migrató-
rias de mais curtas distâncias envolvem aglomerações urbanas e espaços 
não-metropolitanos, expressos na maior retenção de população migrante 
nos estados e nas regiões demográficas.
Pode-se caracterizar os espaços da migração no Brasil nos últimos anos 
da seguinte maneira: i) área de retenção migratória nacional e regio-
nal, ou seja, o novo polo das migrações, o Estado de Goiás, situado na 
região Centro-Oeste e área de expansão do complexo grãos-carne no 
país; ii) áreas de retenção migratória regional, estados do Mato Grosso 
(Região Centro-Oeste), Pará (Região Norte), Rio Grande do Norte (Região 
Nordeste), Espírito Santo (Região Sudeste) e Santa Catarina (Região Sul); 
iii) área de rotatividade migratória nacional: São Paulo e Rio de Janeiro, 
em especial suas metrópoles – expressões territoriais do fordismo nos 
anos 1970/1980 no Brasil.
Assim, observa-senas migrações internas no Brasil da primeira década 
do século XXI, três vertentes: 1) localizada na faixa que se estende do 
Mato Grosso passando por Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí até o Pará, 
caracterizada pelas maiores áreas de retenção migratória; 2) o outro cor-
redor da migração nacional é historicamente conformado pelos fluxos 
Nordeste-Sudeste, e agora pelos seus refluxos Sudeste-Nordeste, onde 
transitam os volumes mais elevados da migração do país, com intensas 
áreas de rotatividade migratória; 3) reconfiguração de espacialidades 
migratórias em âmbito sub-regional, como são os casos de Minas Gerais, 
Bahia e São Paulo.
Essas espacialidades sub-regionais também são observadas na Região Sul, 
com o estado de Santa Catarina como área de forte absorção migratória 
regional. Já no extremo norte do país, antiga área de fronteira agrícola, 
há baixa mobilidade populacional de longa distância, mas centralidade 
migratória do Amazonas na recepção dos fluxos migratórios do Pará e da 
atual retenção migratória de Roraima. [...]
A estrutura da população brasileira
Geografia da População
8
123
 Atividades
1. Analise as pirâmides etárias a seguir:
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
 Indique as principais diferenças entre as populações representadas nas pirâmides 
quanto às taxas de natalidade e mortalidade.
2. De acordo com Brito (2008, p. 6), a “transição demográfica é um dos fenômenos 
estruturais mais importantes que tem marcado a economia e a sociedade brasileiras 
desde a segunda metade do século passado”. Explique os fatores que estimularam a 
transição demográfica no Brasil.
A estrutura da população brasileira8
Geografia da População124
3. Busque informações sobre a história do município onde você vive, com a finalidade 
de analisar os movimentos populacionais que nele ocorreram ou que ainda ocorrem. 
Para isso, tenha como roteiro as seguintes questões:
• Quais os principais ciclos econômicos que ocorreram no município?
• De que forma esses ciclos atraíram ou dispersaram migrantes?
 Com base nas informações encontradas, elabore um texto com as conclusões a que 
chegou.
 Referências
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BAENINGER, Rosana. Migrações internas no Brasil: tendências para o século XXI. Revista Necat, ano 
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Geografia da População
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 Resolução
1. Espera-se que você explique que a pirâmide da Finlândia apresenta o meio pouco 
afunilado e o topo mais largo, evidenciando baixas taxas de natalidade e de morta-
lidade e uma expectativa de vida elevada. Em relação à pirâmide do Níger, a base 
larga indica elevadas taxas de natalidade, o meio indica que as taxas de mortalidade 
são também altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa.
2. Espera-se que você aponte fatores como as melhorias nas condições médico-sanitá-
rias que permitiram a queda nas taxas de mortalidade. Isso se deve principalmente 
ao acesso da população a vacinas, saneamento básico e diagnósticos de doença e tra-
tamentos adequados. Esses fatores permitiram, também, a elevação da expectativa 
de vida e a diminuição das taxas de fecundidade.
3. Considerando a especificidade da história do município do acadêmico, espera-se 
que você identifique fatores que, em determinados momentos, atraíram indivíduos 
para a localidade em questão ou os dispersaram, como os tipos de movimentos po-
pulacionais, como, por exemplo, o êxodo rural.
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