Sala de Aula 8_ Estacio FILOSOFIA DO DIREITO

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13/08/2023, 19:08 Disciplina Portal
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Filoso�a do Direito
Aula 8 - Liberais versus comunitarianos
INTRODUÇÃO
Nesta aula, analisaremos o debate contemporâneo entre as teorias liberais e comunitarista sobre as questões do
“justo” e as concepções de “bem”.
OBJETIVOS
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Identi�car as teses mais importantes da teoria liberal;
Identi�car as teses mais importantes da teoria comunitarista;
Analisar o debate entre as duas teorias sobre as questões do justo e do bem viver.
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A preocupação fundamental dos Antigos era saber qual é o
desejável supremo, o Soberano Bem que cada um poderia
desejar para si mesmo a �m de atingir a eudaimonia, a
felicidade, a plenitude da realização. (...) Os Modernos, em
compensação, realizaram um deslocamento da questão do
bem em direção à questão do justo (FARAGO, France. A
justiça. p. 233).
Grupos que apresentavam particularidades eram tratados como minorias e �cavam limitados a partir das imposições
de grupos dominantes (LUCAS, 2009).
Nas sociedades contemporâneas, percebemos e desejamos que a aproximação seja cada vez maior. Logo, o encontro
é inevitável, graças ao movimento da globalização, aos ideais do liberalismo e das concepções democráticas que
passaram a valorizar os seres humanos como livres e iguais.
Há ainda, segundo alguns autores, a re�exão sobre os malefícios que visões dogmáticas causaram ao longo da
história e o reconhecimento do papel da cultura como o lugar da diversidade. As relações econômicas, culturais e
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tecnológicas atuais também contribuíram e contribuem para um intenso intercâmbio entre diferentes grupos sociais
(LUCAS, 2009).
O multiculturalismo, assim, nos oportuniza o cenário da luta pelo reconhecimento de diferenças culturais no interior de
uma mesma comunidade para que se con�gure um espaço público de aceitação e convivência harmônica (LUCAS,
2009). É neste cenário que vamos observar o debate entre os liberais e os comunitaristas sobre o justo e o bem.
O debate entre os liberais e comunitaristas acontece neste contexto multicultural do século XX e busca problematizar a
relação entre o particular e o universal, entre concepções de bem e princípios de justiça.
O ponto de partida está na constatação que não existe mais um modelo a ser seguido por todos, não há mais
possibilidade de um consenso sobre as maneiras de viver, mas in�nitas concepções de bem igualmente válidas e
valoradas por diferentes pessoas que possuem a mesma dignidade (FARAGO, 2004).
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Fonte da Imagem: sumkinn / Shutterstock
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Existem milhares de religiões no mundo. Podemos buscar uma visão ortodoxa, em uma linha fundamentalista que
poderá usar a coerção para impor valores ou podemos sustentar que tudo é relativo e, portanto, tudo será permitido
(FARAGO, 2004). Quem tem a razão?
LIBERAIS E COMUNITARISTAS
As teorias liberais e comunitaristas concordam em
um ponto fundamental: vivemos em sociedade e, portanto,
o ponto de partida para essa convivência comum é o acordo.
Por quê?
Porque é o acordo que assinala
minha relação com a comunidade.
Esse acordo poderá ser racional ou
estar baseado na tradição herdada.
LIBERALISMO
O liberalismo é uma tradição de pensamento político que nos remonta aos séculos XVIII, XIX e XX. Concepções como as de
Locke, Montesquieu, Kant, Mill, Adam Smith, Benjamin Constant e outros, por exemplo, que buscaram uma visão política racional
em defesa das liberdades individuais — a liberdade negativa, sobretudo.
Assim, podemos a�rmar, segundo alguns autores, que o liberalismo foi um projeto para se buscar limites ao Estado, ou seja, o
poder soberano deve ser limitado permitindo-se aos indivíduos desfrutar de sua liberdade e propriedade em busca da felicidade
individual, em sintonia com as novas condições econômicas e sociais das sociedades modernas (KYMLICKA, 2013).
COMUNITARISMO
O comunitarismo, por outro lado, surgiu também a partir das ideologias do séc. XVIII e XIX, em certas concepções sobre o ideal de
comunidade. Todavia, ocorreu o predomínio das teorias liberais, sobretudo a partir do pensamento �losó�co de John Rawls (vide
Notas) na obra Teoria da Justiça, de 1971, que reinterpretou as categorias liberdade e igualdade.
, O debate entre liberais e comunitaristas teve o seu início no séc. XX, a partir da publicação da obra O liberalismo e os limites da
justiça de Michael Sandel em 1982. Temos, portanto, a tradição liberal com expoentes como John Rawls, Ronald Dworkin, Thomas
Nagel e Charles Larmore (vide Notas), por exemplo, e a tradição comunitarista com Michael Sandel, Michael Walzer, Charles Taylor
e Alasdair MacIntyre (vide Notas), dentre outros (KYMLICKA, 2013). , , É importante sublinhar que cada autor apresenta
especi�cidades o que nos permite dizer que há variações em ambas as teorias. Existem liberais radicais, liberais moderados e há
comunitarianos radicais e outros moderados., , Para ler mais sobre o assunto, clique aqui
(galeria/aula8/docs/liberais_comunitaristas.pdf).
https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/GON830/galeria/aula8/docs/liberais_comunitaristas.pdf
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Sobre esta tese os liberais observam que corremos o risco de legitimarmos situações equivocadas. Se uma sociedade
considera justa a escravidão, ela estaria legitimada?
E se uma comunidade apresentar muitas concepções de justiça e algumas con�itantes entre si, outras pertencentes a
grupos marginalizados, como �caria?
Então, o ponto de vista universal dos liberais poderia provocar uma re�exão crítica sobre nossas crenças e buscar um
ponto universal, ou seja, a prioridade do justo sobre as questões do bem viver particulares (KYMLICKA, 2013).
JUSTIÇA OU BEM COMUM?
A oposição entre o sentido do justo ou justiça e concepções de bem con�gura um dos temas mais empolgantes dos
debates entre liberais e comunitarianos.
A a�rmação da prioridade do justo sobre o bem nos permite separar a concepção dos antigos e dos modernos, na
forma em que estudamos a colocação de Benjamin Constant, no ensaio A liberdade dos antigos comparada às
liberdades dos Modernos.
Para os antigos, há a prevalência do bem, de concepções de bem e a Ética aristotélica nos fornece um bom exemplo
para essa ideia. Para os modernos, ao contrário, há a impossibilidade de uma convergência sobre o bem, logo temos a
prioridade de questões de justiça sobre questões do bem viver. Segundo Gonçalves (1998):
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ATIVIDADES
Os comunitaristas acreditam que o mal do liberalismo está no valor que conferem ao individualismo (KYMLICKA,
2013). Por quê?
Resposta Correta
E o que seria o bem comum
para os comunitaristas?
Segundo Kymlicka (2013, p.195), os comunitaristas concebem “o bem comum como uma concepção do bem, dotada
de um conteúdo que de�ne o modo de vida da comunidade”. E, neste olhar, o Estado, na visão comunitarista, deve
incentivar certas concepções de bem e desestimular outras.
Como de�nir a concepção certa e a errada?
Como seria feita esta avaliação pública?
Para os liberais a neutralidade do Estado é importante para se respeitar a autonomia de cada um de seus membros
(KYMLICKA, 2013). Esse debate nos leva a questionar qual seria a concepção de bem adequada em uma sociedade
contemporânea pluralista.
Como o Estado faria suas escolhas
para estimular maneiras de bem viver?
Corre-se o riscode uma cultura de massa?
E como seria o Estado na visão liberal?
O Estado, na visão dos liberais, focalizaria as liberdades individuais compatibilizadas entre si. Universalista e formal. O
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Estado impede que o uso inadequado das liberdades cause danos à liberdade de todos os demais. O bem comum é
pensado pelos liberais, só que de maneira diversa da forma comunitarista.
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Imagine-se que o Estado, ao tributar, restringe a liberdade de alguns e os tributos retornam para Saúde, Educação e
Transportes coletivos. O que, este Estado, não poderá fazer é se envolver nos méritos das escolhas pessoais de seus
membros em seus diferentes modos de vida, em suas diferentes concepções de bem viver (KYMLICKA, 2013).
O que signi�car dizer que o Estado deve ser neutro, segundo os liberais?
Resposta Correta
O Estado liberal não pode
hierarquizar modos de vida particulares.
Se o �zer, qual será o critério?
Então, neste debate entre o justo e o bem, podemos
assinalar que os liberais entendem que sob o ponto
de vista moral, as questões de justiça, envolvendo
todos os indivíduos, devem sempre prevalecer sobre
concepções de bem, porque estas expressam
visões subjetivas pessoais ou de grupos
particulares e não podem ser impostas ao todo. Sob
o ponto de vista epistemológico, signi�ca dizer que
questões de justiça, em razão de sua generalidade,
não podem ser escolhidas a partir de visões de
mundo particulares, percepções subjetivas.
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Sociedade ou indivíduo?
Outra oposição interessante no debate entre os liberais e comunitaristas é a relação sociedade-indivíduo. Para os
comunitaristas, o sujeito está inserido de tal modo em sua vida social que não será possível tomar distância do lugar
que ocupa em sociedade. Não escolhemos, mas estamos mergulhados em um contexto social comum que forma a
nossa identidade. Podemos apenas compreender nosso lugar, porque estamos profundamente enraizados em nossa
cultura.
Valorizam, assim, o grupo social, a comunidade, não o indivíduo isolado. Segundo Gonçalves (1998), para os
comunitaristas:
Aquilo que dá sentido à existência, são os conteúdos substanciais (...) que tecem a história própria de cada
um. Estes conteúdos já estão inscritos na cultura, precedem o indivíduo, por isso ele é predeterminado na
forma de de�nir a sua identidade e exercer a sua liberdade.
Já os liberais, herdeiros da �loso�a política moderna do contratualismo, preconizam o indivíduo e não o grupo social,
que desde o estado de natureza já era portador de direitos. Para Gonçalves (1998):
Segundo os liberais, os indivíduos não são de�nidos pelas suas interdependências — econômicas, sociais,
éticas, sexuais, culturais, políticas ou religiosas. Os indivíduos são livres de colocar em questão e de
rejeitar qualquer forma de participação em grupos, instituições ou atividades particulares. São livres de
questionar as suas convicções, mesmo as mais profundas.
A re�exão comunitarista sobre o problema do individualismo, valorizado pelos liberais, recebe uma crítica interessante
que chama atenção para os movimentos sociais que romperam paradigmas como, por exemplo, o movimento de
emancipação da mulher e tantos outros que ampliaram a cidadania — provando assim que os sujeitos não estariam
tão enraizados em suas culturas.
Talvez não exista essa dependência tão intensa em razão do enraizamento social, somos capazes de re�exão crítica e
de recusa de valores que herdamos (KYMLICKA, 2013). Nem um desprendimento radical que possibilite uma rejeição
constante de todas as tradições.
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VOCÊ SABIA?
De certo modo, os comunitaristas acreditam que tudo o que é social poderia estar sob o domínio político, sob o
domínio do Estado, sem considerar a advertência liberal “de que a autoridade invasiva e os meios coercitivos que
caracterizam o Estado façam dele um fórum particularmente inadequado” (KYMLICKA, 2013, p. 197).
Para sintetizarmos algumas ideias das duas teorias podemos organizar o seguinte quadro:
Com essas observações sobre as duas teorias e que apresentam muitas variações internas, percebemos o
deslocamento de sentido que os modernos realizaram sobre a questão do bem. E Kant foi importante nesse
deslocamento quando observou, na Crítica da razão prática, a prioridade do justo sobre o bem. A prioridade do que
poderá ser aceito por todos independente de suas inclinações — aquilo que passará no critério da universalidade do
imperativo categórico.
Nas sociedades contemporâneas, na esfera pública, importa como devo agir para ser feliz, mas salvaguardar “a
autonomia moral e a liberdade individual” de cada um de seus membros para buscar a felicidade pela via que lhe
parecer boa (FARAGO, 2004, p. 233). Há uma distinção entre a esfera da moral pessoal e a esfera do político.
Os teóricos liberais, diferentemente dos comunitaristas, aceitaram essa ideia como símbolo de progresso. E, Rawls
como liberal, observa, na sua obra, Liberalismo político, que as sociedades contemporâneas estão em constante
desacordo sobre concepções de bem e, na impossibilidade de convergência, resta razoável pensar em termos de
princípios de justiça (FARAGO, 2004).
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ATIVIDADES
A oposição �losó�ca entre as concepções liberais que defendem o justo e as teorias comunitaristas que preconizam o
bem ocupam lugar central nos debates sobre a unidade social nas democracias contemporâneas.
Considerando esse embate, o que podemos entender pela tese da “prioridade do justo sobre o bem”?
Resposta Correta
QUESTÃO 1:
A corrente de pensamento que desenvolveu uma visão política racional, em defesa das liberdades individuais e da
limitação do poder do Estado, foi:
Socialismo
Liberalismo
Comunitarismo
Puritanismo
Marxismo
Justi�cativa
QUESTÃO 2:
“Uma sociedade é justa se ela age de acordo com as compreensões partilhadas por seus membros” (KYMLICKA, 2013,
p. 195). Esta citação expressa a tese da teoria:
Liberal
Marxista
Kantiana
Comunitarista
Rawlsiana
Justi�cativa
QUESTÃO 3:
Para os comunitaristas, o sujeito está inserido de tal modo em sua vida social que não será possível tomar distância do
lugar que ocupa em sociedade. Para os liberais:
Os indivíduos não são de�nidos pelas suas relações culturais.
Os indivíduos estão enraizados na cultura.
Os indivíduos não preexistem ao social.
Os indivíduos são identi�cados pelas práticas sociais.
Os indivíduos não existem independente da sociedade em que se situam.
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