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Método Epidemiológico e suas aplicações SST VELAME, K. T. Método Epidemiológico e suas aplicações / Kamila Tessarolo Velame Ano: 2020 11 p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 Aplicação do método epidemiológico e seus delineamentos Apresentação Nesta unidade, será apresentado o delineamento epidemiológico, tipos de estudos e os principais indicadores epidemiológicos bem como seus agrupamentos. Delineamentos epidemiológicos A aplicação do método epidemiológico pode ser realizada a partir de três delineamentos epidemiológicos, que são: a epidemiologia descritiva, a analítica e a experimental. Vamos aprofundar nosso conhecimento acerca destas na sequência. Epidemiologia descritiva: está subdivida em estudos ecológicos ou de correlação; relatos de casos ou de séries de casos e estudos seccionais ou de corte transversal. Ela é considerada a primeira etapa do método epidemiológico, pois tem como objetivo compreender o comportamento de um agravo à saúde em uma determinada população (PEREIRA, 2008). Mas, antes de explorar cada uma dessas subdivisões, vamos conhecer um pouco mais sobre a epidemiologia descritiva. A epidemiologia descritiva responde a algumas perguntas inerentes ao método epidemiológico, que são: como, quem, quando e onde, dentre outros questionamentos que permitirão descrever os caracteres epidemiológicos das doenças e agravos (PEREIRA, 2008). Esses caracteres são também denominados variáveis e, neste caso, em relação às pessoas, podemos citar: gênero, idade, escolaridade, nível socioeconômico, etnia, ocupação profissional e situação conjugal. Essas são apenas algumas variáveis utilizadas nesses tipos específicos de estudo. Após a coleta dos dados nos estudos descritivos, há uma organização e apresentação deles em forma de tabelas e gráficos que englobam frequências e médias segundo as variáveis analisadas. Essa exposição dos dados não tem como objetivo estabelecer associações ou inferências. 4 A epidemiologia é subdividida em: Estudos ecológicos ou de correlação Analisa os dados de forma global, ou seja, avalia populações inteiras. Esse estudo compara a frequência de uma determinada doença entre os diferentes grupos populacionais. É importante ressaltar que é avaliado em um período de tempo determinado (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Estudos de casos ou de série de casos Consistem em relatos detalhados de um caso elaborado por um ou mais pesquisadores. Esse tipo de estudo tem como característica específica avaliar variáveis pouco frequentes de uma determinada doença já conhecida, formulando novas hipóteses para o problema exposto (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Estudos seccionais ou de corte transversal Nesse tipo de estudo, a exposição e o efeito de uma determinada situação em um indivíduo são mensurados em um ponto único. É preestabelecido um intervalo para o tempo de estudo. Esses estudos, quando efetuados em população bem definida, permitem a obtenção de medidas de prevalência; por isso, são também conhecidos por estudos de prevalência (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Observe, a seguir, um exemplo de tabela de frequência utilizada em um estudo transversal. 5 Tabela de frequência de um estudo transversal Características sociodemográficas e clínicas de uma amostra de 120 indivíduos com idade entre 13 e 59 anos, em acompanhamento no Centro de Referência em DST/AIDS de Vitória (ES), no período de 2007 a 2014. Variáveis Adesão Não adesão Total n (%) Valor de p Sexo n (%) Feminino 22 (53,2) 19 (46,3) 41 (34,2) Masculino 46 (58,2) 33 (41,8) 79 (65,8) 0,63a Idade (anos) média (DP) 38,2 35,3 (9,3) 0, 14b 11,7) Cor da pele n (%) Pardo 45 (58,4) 32 (41,6) 77 (64,2) Branco 15 (68,2) 7 (31,8) 22 (18,3) Negro 8 (38,1) 13 (61,9) 21 (17,5) 0,12a Estado civil n (%) Solteiro (a) 51 (63,0) 30 (37,0) 81 (67,5) Casado (a) 11 (45,8) 13 (54,2) 24 (20,0) Divorciado (a) / Separado (a) 5 (55,6) 4 (44,4) 9 (7,5) Viúvo (a) 1 (50,0) 1 (50,0) 2 (1,7) 0,4a União estável 0 (0,0) 1 (100,0) 1 (0,8) Legenda: aTeste Qui-quadrado. b Teste t de Student. As frequências foram obtidas dos itens dos prontuários que continham dados válidos. DP = desvio padrão. Fonte: VELAME, 2017, p. 42. 6 Epidemiologia analítica Os estudos analíticos constituem alternativas do método epidemiológico para testar hipóteses elaboradas, geralmente, durante estudos descritivos. Temos, portanto, dois tipos de estudos analíticos: os estudos de coorte e os estudos de caso- controle. Em suma, os estudos analíticos são utilizados para verificar se o risco de desenvolvimento de um agravo e/ou evento adverso é maior entre os indivíduos expostos ou entre os indivíduos não expostos (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Os estudos de coorte têm por objetivo analisar as associações de exposição e efeito. Essa análise é realizada por meio da comparação da ocorrência de doenças entre os indivíduos expostos e entre os indivíduos não expostos ao fator de risco a ser estudado (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Nos estudos tipo caso-controle, as exposições passadas são comparadas entre pessoas atingidas e pessoas não atingidas pela doença que está sendo estudada. Por exemplo, pessoas com enfisema pulmonar e pessoas sem enfisema pulmonar. Elas serão avaliadas por um período e, desta forma, poderão ser observados os fatores que podem estar levando essas pessoas a serem atingidas por tal doença (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). Epidemiologia experimental A epidemiologia experimental é também conhecida como estudos de intervenção. Isso porque ela apresenta como principal característica o controle das condições do experimento por parte do pesquisador. Além disso, eles são considerados estudos prospectivos, ou seja, avaliam o objeto de estudo por meio de um instrumento/ protocolo, selecionando dois grupos (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2013). 7 É importante reforçar a diferença entre alguns tipos de estudos. Estudo retrospectivo Caso-controle - estudo no tempo para trás; investiga-se para trás a presença ou ausência do fator suspeito; são frequentemente utilizados. Estudo prospectivo Coortes (expostos e não expostos) - estudo no tempo para a frente; o ponto de partida para o futuro é a exposição ao fator em estudo; informam a incidência; permitem calcular o risco relativo; os indivíduos são observados com critérios diagnósticos uniformes. Estudo transversal Estudo de prevalência - estuda a situação de exposição e efeito de uma população em um único momento; permite conhecer a prevalência associada aos agentes suspeitos; permite a descrição da população (FRANCO; PASSOS, 2011). Atenção Indicadores epidemiológicos O Brasil passou por uma “transição epidemiológica” nos últimos anos. Esse termo foi proposto por Omram (2001) e refere-se às mudanças ocorridas, de forma linear, nos padrões de morbimortalidade e invalidez ao longo do tempo, em determinadas populações de diversos países desenvolvidos, estando relacionadas a outras mudanças, como as demográficas, sociais e econômicas. Portanto, a necessidade de uma medida que pudesse avaliar o padrão de vida populacional, até mesmo pela ocorrência da transição epidemiológica, foi essencial para a aplicação de decisões que visassem à qualidade de vida da população. No ano de 1952, a Organização das Nações Unidas (ONU) convocou um grupo de trabalho para o nível de vida das coletividades humanas. Isso ocorreu pelo fato da impossibilidade, na prática, do uso de apenas um tipo de indicador global (OMRAM, 2001). 8 Indicadores são medidas que refletem uma característica ou particularidade, tendo como propósito elucidar a situação de saúde de um indivíduo/população. Um indicador é calculado a partir de dados referenciados no tempo e espaço, o que dá maior significância à realidade. Os indicadores de saúde mais utilizados no Brasil são: • Proporção: é a relação entre frequências atribuídas a um determinado even- to. Por exemplo,o número de óbitos por câncer de pulmão em relação ao número de óbitos em geral (MEDRONHO; BLOCH, 2011). • Razão: é uma medida de frequência de um determinado grupo relativa à fre- quência de outro grupo. Como exemplo, temos a razão entre o número de casos de doenças cardiovasculares em pessoas do sexo masculino e o nú- mero de casos de doenças cardiovasculares em pessoas do sexo feminino (MEDRONHO; BLOCH, 2011). • Coeficiente ou taxa: é a medida de frequência entre o número de casos de um evento em uma determinada população, considerando o local e a época dos fa- tos ocorridos, informando o risco de acontecimentos de um evento específico. Exemplo: número de trabalhadores intoxicados por determinada substância em relação aos trabalhadores da mesma indústria (MEDRONHO; BLOCH, 2011). • Morbidade: é uma variável que demonstra o comportamento das doenças e agravos de uma determinada população. Ela está ligada ao conjunto de indi- víduos que adquirem a enfermidade num dado intervalo de tempo. Os indica- dores de morbidade são: incidência, prevalência, taxa de ataque e mortalidade. » A incidência é o número de casos novos da doença em um determinado local e período. » A prevalência é o número total de casos da doença existentes num de- terminado local e período. » A taxa de ataque é a taxa de incidência de uma determinada doença para um grupo de pessoas expostas ao mesmo risco. A diferença é que a taxa de ataque é calculada em uma área bem definida. É muito utiliza- da para avaliar surtos. » Mortalidade consiste em um conjunto de indivíduos que morreram em um determinado período, num dado intervalo de tempo (MEDRONHO; BLOCH, 2011). 9 Existem, ainda, outros indicadores utilizados no território brasileiro. Indicadores de saúde em seus agrupamentos Indicadores que traduzem diretamen- te a saúde Razão de mortalidade proporcional, coeficiente geral de mortalidade, esperança de vida ao nascer, coeficiente de mortalidade infantil e coeficiente de mortalidade por doenças transmissíveis. Indicadores que se referem às condições do meio Índice de abastecimento de água, rede de esgotos, contaminações ambientais por poluentes. Indicadores que medem os recursos materiais e humanos Índices relativos à rede de unidades de saúde para a atenção básica, profissionais de saúde e leitos hospitalares. Fonte: Adaptado de FRANCO; PASSOS (2011). 10 Fechamento Nesta unidade estudamos os delineamentos epidemiológicos, exemplos de tipos de estudos e indicadores epidemiológicos utilizados no território brasileiro. 11 Referências FRANCO, L. J.; PASSOS, A. D. C. P. Fundamentos de epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2011. MEDRONHO, R. A; BLOCH, K. V. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2011. OMRAM, A. R. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change, 1971. Bulletin of the World Health Organization, v. 79, n. 2, p. 161-170, 2001. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC2566347/. Acesso em: 9 jul. 2020. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. de. Epidemiologia e saúde. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. VELAME, K. T. Fatores relacionados à adesão ao tratamento antirretroviral em serviço de atendimento especializado. 2017. 72 f. Dissertação (Mestrado em Doenças Infecciosas). Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas do Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. 2017. Disponível em http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_11015_ Disserta%E7%E3o%20005%20-%20Kamila%20Tessarolo.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2566347/ https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2566347/ http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_11015_Disserta%E7%E3o%20005%20-%20Kamila%20Tessarolo.pdf http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_11015_Disserta%E7%E3o%20005%20-%20Kamila%20Tessarolo.pdf
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